aplicação da simulação numérica na indústria de ... · relatório apresentado com vista à...
TRANSCRIPT
Aplicação da Simulação Numérica na Indústria de Componentes
Estampados
Mestrado Integrado em Engenharia Mecânica
Relatório apresentado com vista à obtenção do grau de Mestre em Engenharia Mecânica
Marco Luís Leal Azevedo
Orientador na Gestamp Portugal: Eng.º Ricardo Ribeiro
Orientador na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto: Prof. Abel Santos
Janeiro 2013
i
Resumo
Os processos de conformação plástica são de grande importância para a obtenção de
componentes, sobretudo na indústria automóvel. No entanto nem sempre é fácil prever o
comportamento que determinadas peças terão aquando da sua fabricação, e qualquer erro no
projeto do processo de uma peça estampada normalmente resulta em reparações demasiado
caras e morosas, levando a que a peça deixe de se tornar rentável ou ainda a atrasos no cliente
que poriam em causa a reputação da empresa de estampagem e também a relação com os
seus clientes.
Num mundo em que há uma constante inovação dos materiais e em que as exigências
sobre a qualidade e tempo de colocação do mercado crescem quase exponencialmente, é
necessário que, no projeto de obtenção de peças estampadas, os erros sejam minimizados
logo no arranque do projeto.
As ferramentas de simulação numérica têm tido um papel fundamental na
minimização desses erros e na diminuição do tempo que as peças estampadas levam a chegar
ao mercado, uma vez que, com um projeto mais acertado logo à partida, os tempos de ensaio
e de arranjo de ferramentas serão minimizados.
Neste trabalho são expostos três casos de estudo da aplicação da simulação numérica
na indústria de componentes estampados que foram analisados dentro da empresa Gestamp
Portugal LDA, uma empresa dedicada ao fabrico de componentes estampados e soldados para
a indústria automóvel.
Como primeiro caso de estudo, foi usada a simulação numérica para a obtenção da
área mínima necessária para a realização de um componente e qual a sua orientação na banda
de chapa usada na ferramenta progressiva.
No segundo caso de estudo foi analisada a capacidade de realização de um
componente num só passo de embutidura.
Por fim, no terceiro caso de estudo, foi analisada uma linha de ferramentas usadas
numa linha de prensas e foram também testadas soluções para os problemas que foram
surgindo nas simulações numéricas.
ii
Abstract
Metal forming processes are of great importance to obtaining parts, especially in the
automotive industry. However it is not always easy to predict the material behavior during
forming, which may result in defective parts or repairs, too expensive and time-consuming. As
a consequence such parts will have the possibility of becoming non-profitable and its delays
will affect the company's reputation as well as the relationship with customers.
In a world where a constant innovation in materials and processes exist, the demands
on quality and time-to-market is growing almost exponentially, being of major importance that
project and design of stampings will have any errors minimized at the very start of the design
stage.
The numerical simulation tools have played a key role in minimizing these errors and
decreasing the time it takes the stampings to hit the market, since accurate design will
minimize developing time and testing, as well as arrangement of tools.
This work exposed three case studies of the application of numerical simulation in the
industry of stamped components that were studied within the company Gestamp Portugal
LDA, a company dedicated to the manufacture of stamped and welded components for the
automotive industry.
As the first case study, the numerical simulation was used to obtain the minimum area
necessary for the manufacturing of a component and its orientation in the band of sheet used
in the progressive tool.
In the second case study we analyzed the ability of realization of a component in one
single stamping step.
Finally, in the third case study, we analyzed a line of tools used in press line and were
also tested solutions to problems that arose in the numerical simulations.
iii
Agradecimentos
À Gestamp Portugal por permitir que esta dissertação fosse desenvolvida nas suas
instalações e por disponibilizar todos os meios técnicos e económicos necessários;
Ao Departamento de Projetos por disponibilizar a ajuda necessária sempre que
surgiam dúvidas e ao seu diretor, Eng.º José Tiago Rocha, por me incluir nos projetos e nas
reuniões do departamento;
Ao pessoal do Departamento de Recursos Humanos pela simpatia e companheirismo;
A todos os colaboradores da Gestamp Portugal que participaram ativamente na minha
formação dentro da empresa pela sua dedicação e por tudo que aprendi;
Ao Prof. Abel Santos pela disponibilidade e empenho para que esta dissertação se
realizasse;
À minha família por fazerem de mim quem eu hoje sou;
Aos amigos e namorada por me suportarem ao longo desta caminhada.
iv
Índice
1 – Introdução ............................................................................................................................... 1
1.1 - Apresentação da Gestamp Portugal LDA .......................................................................... 1
1.2 - Simulação Numérica de Operações de Embutidura ......................................................... 3
1.3 - Objetivos ........................................................................................................................... 4
1.4 - Estrutura ............................................................................................................................ 5
2 - Fundamentos de Conformação Plástica de Chapa .................................................................. 6
2.1 - Introdução ......................................................................................................................... 6
2.2 - Puncionamento ou corte de chapa ................................................................................... 8
2.3 - Dobragem .......................................................................................................................... 8
2.4 - Embutidura ........................................................................................................................ 9
2.4.1 - Modos de Deformação ............................................................................................. 10
2.5 – Prensas ........................................................................................................................... 11
2.5.1 – Natureza de acionamento ....................................................................................... 11
2.5.2 – Forma da Estrutura .................................................................................................. 13
2.5.3 - Tipo/número de corrediças ou carros ...................................................................... 14
2.6 – Ferramentas ................................................................................................................... 15
2.6.1 - Ferramentas para Trabalho Peça a Peça .................................................................. 15
2.6.2 - Ferramentas Progressivas ........................................................................................ 16
2.6.3 - Ferramentas Transfer ............................................................................................... 16
3 – Materiais usados na Indústria Automóvel ............................................................................ 18
3.1 – História da chapa de aço na indústria automóvel. ......................................................... 18
3.2 - Impacto Energético e Ambiental ..................................................................................... 23
4 – Casos de estudo de componentes de indústria automóvel obtidos por conformação plástica
e seus processos. ......................................................................................................................... 27
4.1 – Determinação do Esboço Ótimo para a Realização de Componentes. .......................... 28
4.1.1 – Componente a estudar. ........................................................................................... 28
4.1.2 – Cálculo da área mínima de chapa consumida. ........................................................ 29
4.1.3 – Resultados ............................................................................................................... 34
4.2 – Análise de Capacidade de Realização de um Componente Embutido. .......................... 35
4.2.1 – Componente a estudar. ........................................................................................... 35
4.2.2 – Modelo inicial de embutidura. ................................................................................ 36
4.2.3 – Alterações na geometria das ferramentas. ............................................................. 39
v
4.2.4 – Embutidura do componente em duas etapas. ........................................................ 40
4.2.5 – Resultados finais. ..................................................................................................... 42
4.3 – Estudo das Ferramentas de um Processo de Embutidura. ............................................ 44
4.3.1 – Componente em estudo. ......................................................................................... 44
4.3.2 – Simulação do processo. ........................................................................................... 45
4.3.3 - Resultados da simulação .......................................................................................... 50
4.3.4 - Alterações ao Processo Original ............................................................................... 55
4.3.5 – Resultados Finais Obtidos ....................................................................................... 55
5 - Conclusões e Trabalhos Futuros ............................................................................................ 59
Referências .................................................................................................................................. 60
Anexos ......................................................................................................................................... 61
Anexo A – Realização de expositor para componentes fabricados na Gestamp Portugal LDA.
................................................................................................................................................. 61
1
1 – Introdução
Esta dissertação foi desenvolvida em ambiente empresarial na Gestamp Portugal. Nas
secções seguintes, para além da apresentação da empresa serão introduzidos os temas aqui
abordados.
1.1 - Apresentação da Gestamp Portugal LDA
A Gestamp Portugal Lda. Faz parte da Corporación Gestamp, uma multinacional da
União Europeia, líder nos sectores do aço, componentes de automóvel, armazenamento e
logística.
Figura 1 - Instalações da Gestamp Portugal LDA.
A Corporación Gestamp centra a sua atividade industrial em três linhas de negócio:
Componentes Automóveis (Gestamp Automoción)
Centros de Serviço de Aço (Gonvarri)
Energias Renováveis (Gestamp Solar e Gestamp Eólica)
2
A Gestamp Portugal faz parte do grupo Gestamp Automoción, que se de dica ao
desenho, desenvolvimento e fabrico de componentes e conjuntos metálicos para o sector
automóvel, tendo atualmente uma forte presença mundial (América, Europa e Ásia).
A Gestamp Portugal LDA está intimamente ligada à Gestamp Vigo, uma vez que foi a
partir desta empresa que foi criada a Gestamp Portugal LDA. Foi no ano de 1995 que, devido
ao número crescente de pedidos, que a Gestamp Vigo sentiu a necessidade de ampliar as suas
instalações fabris, e, num ato estratégico assente na grande proximidade geográfica e no bom
relacionamento entre Portugal e Espanha, foi fundada a Gestamp Portugal (na altura com a
designação Gestamp Lap Portugal que viria a mudar para a designação atual em 1999) em Vila
Nova de Cerveira.
A fábrica encontra-se dividida em 8 UAP’s (Unidades Autónomas de Produção), em que
3 encontram-se dedicadas a operações de estampagem, 2 a operações de soldadura manual
por resistência (pedestal), 2 onde se encontram as células de soldadura por resistência e
MIG/MAG e uma dedicada à montagem de pedaleiras.
Figura 2 - Layout das instalações fabris da Gestamp Portugal LDA.
Com isto podemos concluir que o grosso do que é produzido na Gestamp Portugal é
obtido a partir de processos de estampagem e de soldadura.
Para processos de estampagem, as tecnologias presentes na
Gestamp Portugal são:
Uma linha robotizada constituída por 6 prensas de 300 t
12 prensas automáticas de 630/400/250 t
Uma prensa transfer de 630 t
4 prensas manuais de 300/125/80 t
Uma prensa automática e transfer de 1250 t Figura 3 - Algumas das prensas
presentes na Gestamp Portugal LDA.
3
Para os processos de soldadura as tecnologias presentes
são:
9 células de soldadura MIG/MAG
8 células de soldadura por resistência
3 máquinas de soldadura por resistência
25 máquinas manuais de soldadura por resistência
(pedestal)
É também de salientar a constante melhoria de processos já existentes e a sua
conjugação de modo a reduzir os tempos de fabricação das peças e, por consequência, os seus
custos, como é o caso do encastrado, da roscagem e da soldadura em prensa; e ainda a
introdução de processos inovadores, tais como a estampagem de peças com formatos ou
bobines de espessura vaiável, a partir de Tailor Welded Blanks (formatos soldados com duas
espessuras distintas) ou de Tailor Rolled Blanks (formatos que, aquando da sua laminagem,
lhes é dada uma espessura variada), a soldadura Laser à distância (Laser Remote Welding) e a
Soldadura Híbrida.
1.2 - Simulação Numérica de Operações de Embutidura
Atualmente o método dos elementos finitos é aplicado à análise e ao estudo de
fenómenos e problemas muito diversos. Estes vão desde: estudo de sistemas vibratórios;
análise do comportamento de materiais; resolução de problemas de condução de calor e de
mecânica dos fluidos; eletricidade e magnetismo; impacto; conformação plástica de materiais;
estruturas metálicas e/ou não metálicas; dimensionamento de grandes estruturas (barragens,
pontes, etc.); hidrodinâmica e aerodinâmica; etc.
Na modelação do comportamento de materiais, o método dos elementos finitos
permite considerar uma grande diversidade de comportamentos e modelos constitutivos, tais
como, por exemplo, elasticidade linear (lei de Hooke), plasticidade, viscoplasticidade,
hiperelasticidade, termoelasticidade, superfícies de cedência, modelos de dano, etc.
Um sistema que envolva muitos componentes e materiais com comportamentos
distintos é um exemplo de um sistema complexo cuja análise beneficia da utilização de
métodos numéricos como o método de elementos finitos. A simulação de impacto em
automóveis ou outros meios de transporte é um desses casos. Tomemos, como exemplo, um
modelo de uma porta de automóvel utilizado para simular numericamente um choque lateral
e estudar a capacidade quer de absorção de energia quer de proteção dos passageiros de
diversos sistemas de proteção inseridos na porta.
Figura 4 - As duas tecnologias de soldadura predominantes na Gestamp Portugal, por resistência e MIG/MAG.
4
Figura 5 - Modelo geométrico de uma porta de automóvel (modelo tridimensional, modelo em elementos finitos e porta deformada após impacto) [Dias 2010].
Na área dos processos tecnológicos, o método dos elementos finitos constitui uma
abordagem de uso alargado e de extrema eficiência no auxilio ao projeto de ferramentas, na
previsão de defeitos de peças finais a obter e no ajuste de parâmetros de fabrico de peças
metálicas, de entre outras aplicações, em processos convencionais de transformação, tais
como a estampagem e a extrusão, ou em processos com implementação em larga escala mais
recente, tal como a hidroformagem, por exemplo [Dias 2010].
Figura 6 - Resultado da simulação numérica do embutido de um copo cónico (malha de elementos finitos do componente final e representação dos valores de deformação plástica equivalente) [Dias 2010].
1.3 - Objetivos
Esta dissertação tem como principal objetivo estudar as aplicações e os
desenvolvimentos que a simulação numérica permite dentro de uma empresa dedicada à
estampagem de componentes para a indústria automóvel e avaliar a importância deste tipo de
simulações para a qualidade e rentabilidade final dos componentes embutidos.
5
1.4 - Estrutura
Este documento encontra-se organizado da seguinte maneira:
No primeiro capítulo é apresentada a empresa em que foi desenvolvida a dissertação,
referindo a sua história e as tecnologias nela existentes. Além disto, é ainda introduzido o
tema da simulação numérica de operações de embutidura.
No segundo capítulo são explicados os fundamentos por detrás das operações de
conformação plástica. Nele são referenciadas as operações principais de conformação plástica,
bem como as ferramentas que as tornam possíveis.
No terceiro capítulo é apresentada a evolução da utilização da chapa de aço na
indústria automóvel e como esta enfrentou os desafios que se foram apresentando ao longo
do tempo, bem como uma perspetiva do futuro destes materiais.
No quarto capítulo são abordadas as aplicações e o estudo feito sobre a utilização de
software de simulação numérica para a resolução de diferentes problemas que surgem na
indústria de estampagem de componentes.
No quinto capítulo são apresentadas as conclusões desta dissertação e algumas
sugestões para trabalhos futuros.
6
2 - Fundamentos de Conformação Plástica de Chapa
2.1 - Introdução
É definido com o termo embutido o conjunto de operações com as quais, evitando o
surgimento de rugas, uma chapa plana é submetida a uma ou mais transformações a fim de se
obter uma peça que possua uma forma geométrica própria, seja esta plana ou com volume;
por outros termos, a chapa é submetida a uma deformação plástica. A realização prática
destas operações é conseguida através do uso de dispositivos especiais denominados Matrizes
ou Punções e aplicados, segundo a sua finalidade, em máquinas denominadas Prensas.
As operações de embutidura de chapa estão geralmente subdivididos em:
Corte
Dobragem
Embutidura
As primeiras duas são efetuadas geralmente a frio, enquanto que o embutido pode ser
feito a frio ou a quente, segundo as necessidades técnicas requeridas.
As peças em que a realização é possível através do estampado a frio são obtidas a
partir de um dos seguintes:
Formatos de chapa com dimensões normalizadas;
Formatos de chapa obtidas através do corte em cisalha a partir de formatos de
dimensões normalizadas;
Bobines de largura fixa, segundo medidas e tolerâncias normalizadas.
Enquanto que os formatos são usados em prensas denominadas Transfer (o formato é
transportado manualmente ou com recurso a robôs de uma prensa para a outra ou de uma
operação para a seguinte) as bobines são usadas nas chamadas prensas Progressivas (a chapa
é movida automaticamente com recurso a alimentadores de uma operação para a seguinte
segundo um determinado passo).
As prensas Transfer são usadas para produções de pequenas e médias séries, já as
Progressivas são indicadas para a produção de grandes séries.
Foram referidas três operações como sendo as principais (corte, dobragem e
embutido), e para se obter uma peça acabada às vezes basta recorrer a uma só destas
operações, de um modo particular a operação de corte. No entanto nem sempre é possível
alcançar a geometria final pretendida com uma só fase de trabalho, porque, geralmente e
consoante os casos, impõe-se a necessidade de recorrer a pelo menos duas das operações
referidas:
Cortar → Dobrar
Cortar → Embutir
7
Estes pares de fases podem ser apenas aparentes, uma vez que qualquer um deles
pode ser subdividido num determinado número de operações auxiliares e semelhantes, de
modo a definir todo o processo operação por operação.
O ciclo de estampado, composto de uma sucessão ordenada de operações que
transformam parte de uma chapa plana numa peça de forma definida, depende de diversos
fatores:
A forma da peça final obtida: esta impõe, de um modo fundamental, um certo
número de operações diretamente proporcional á complexidade da mesma; ou
seja, quanto mais simples é uma peça oca tanto mais pequeno será o número
necessário de operações para obtê-la. Por exemplo, para se produzir uma taça
simples podem ser suficientes apenas duas operações: o corte do disco de chapa
e a sua embutidura.
As dimensões da peça: influenciam igualmente na determinação do número de
operações necessárias; por exemplo, para produzir uma taça bastante profunda
em relação ao seu diâmetro, são necessárias, além da operação de corte do disco
de chapa, duas ou mais operações de embutido.
A qualidade do material que constitui a chapa trabalhada: influencia também o
número de operações necessárias para se obter a peça, uma vez que um disco de
chapa muito plástica, ou seja que permite grande deformação, permite um
embutido profundo, enquanto que outro disco com igual diâmetro e espessura
mas constituído de chapa menos macia admite um embutido menos profundo; ou
seja para ser obtida a mesma peça é necessário um maior número de operações.
Para a determinação do ciclo de embutidura todos estes fatores são considerados
simultaneamente, ainda que não haja uma relação direta entre eles.
A escolha da máquina (prensa) com a qual se deve efetuar determinado trabalho faz-
se de acordo com a forma e dimensões da peça a produzir e também com o número de
operações para esta ser realizada.
No momento de estudar a fases de trabalho, também devem ser previstas as suas
condições térmicas, ou seja, se este se realizará a frio ou a quente. Regra geral, só se efetuam
trabalhos a quente em casos em que a peça, ao mudar de forma, sofre uma transformação
considerável, na qual deve ser tida em conta a espessura da chapa. Em outras palavras, nem
sempre é possível obter a frio e numa só fase de transformação uma peça aceitável. A
capacidade de realização e o bom resultado de uma transformação plástica a frio de uma
chapa está diretamente relacionado com a forma final da peça e a espessura da chapa que a
constitui. Uma chapa grossa (> 7 mm) de aço semiduro e duro requer um estampado a quente.
Durante o projeto do ciclo de trabalho de um determinado elemento é bom prever a
possibilidade e o modo de construir as matrizes, uma vez que, adotando métodos de trabalho
simples e eficazes, pode obter-se o máximo de rendimento com o mínimo de operações [Rossi
1971].
8
2.2 - Puncionamento ou corte de chapa
O corte é uma operação mecânica, na qual, mediante ferramentas aptas para o corte,
se separa uma parte metálica de outra, obtendo-se uma figura específica.
É uma operação que se encontra relacionada com os fenómenos de conformação
plástica. Numa primeira fase o punção, no movimento de encontro à matriz, exerce pressão
sobre a chapa, originando mesmo uma forma côncava. De seguida o punção, não encontrando
resistência por parte da matriz, continua o seu movimento levando a uma expansão lateral do
meio plástico. Então o esforço de compressão converte-se num instante num valor igual ao da
resistência de corte; o que provoca uma separação brusca entre o material que se encontra
sob o punção e o resto da chapa. Seguidamente o material separado cai para o fundo da
matriz, concluindo assim o trabalho de corte [Rossi 1971].
Figura 7 - Esquema de uma operação de puncionamento [Rossi 1971].
2.3 - Dobragem
É a operação mais simples a seguir à de corte e ocupa um lugar importante no ciclo
produtivo, uma vez que muitos objetos, depois de terem sofrido uma primeira operação de
corte, são normalmente submetidos a uma ou mais fases de dobragem.
Durante este tipo de operações torna-se necessário evitar que a chapa sofra um
alargamento, uma vez que isto levaria a uma variação da espessura da chapa. Assim esta
operação consiste em variar a forma de um objeto de chapa sem que a espessura do material
que o constitui seja alterada, de forma a que todas as secções se mantenham constantes.
Para que não se originem variações de espessura torna-se necessário um estudo das
ferramentas e uma afinação exata do curso que estas vão ter.
Para a generalidade das operações de dobragem é necessário ter em conta os
seguintes fatores: o comprimento da dobra e se esta é obtida numa quinadora ou se é possível
que esta seja realizada através de ferramentas montadas em prensa (para elementos
relativamente curtos). A ser possível que a dobra se realize em prensa devem evitar-se as
9
esquinas vivas; para tal é aconselhável que se fixe os raios de curvatura interiores para um
valor igual ou superior ao da espessura da chapa a ser dobrada, de modo ao evitar que se
estire excessivamente a fibra exterior e garantir que se obtém uma dobra sem roturas.
Uma vez concluída a operação de dobragem, a peça tende a regressar à sua forma
inicial, e tanto maior será esse efeito quanto mais duro for o material que constitui a chapa.
Este fenómeno deve-se à elasticidade presente nos materiais. Por este motivo, ao
construírem-se as ferramentas, é fixado um ângulo de dobragem mais acentuado para que,
quando se cessa a pressão sobre a peça, esta possua o ângulo de dobragem desejado [Rossi
1971].
Por vezes, antes de concluir a execução da peça, é necessário efetuar mais fases de
dobragem, que podem realizar-se com várias ferramentas ou com apenas uma; tal depende:
Da forma da peça, ou das possibilidades de execução que esta permite
Da quantidade de peças que pretendemos obter.
Figura 8 - Exemplo de uma operação de dobragem [Rossi 1971].
2.4 - Embutidura
A embutidura é um processo tecnológico de obtenção de peças ocas por deformação
plástica de chapas planas. De um modo geral, as peças obtidas por embutidura são
caracterizadas por possuírem superfícies não planificáveis. É esta característica que distingue a
embutidura de outros processos de conformação plástica.
Nestas operações a chapa plana é obrigada a tomar a forma da matriz por meio de um
punção, não se devendo, teoricamente, modificar a sua espessura. Disto resulta que a
superfície da peça produzida tem de ser equivalente à da chapa plana utilizada, o que não se
verifica com exatidão na prática.
Numa primeira análise podemos classificar as ferramentas básicas de um processo de
embutidura em dois tipos:
10
Ferramentas de simples efeito: ferramenta em que a chapa simplesmente é
forçada pelo punção a entrar e tomar a forma da matriz;
Ferramentas de duplo efeito: ferramentas em, que durante o embutido, a chapa
se encontra restringida por um cerra-chapas.
A diferença fundamental entre a ferramenta de simples efeito e duplo efeito reside
pois na existência de cerra-chapas na ferramenta de duplo efeito, que é sem dúvida a mais
corrente [Santos 2005].
2.4.1 - Modos de Deformação
Existem dois tipos fundamentais de modos de deformação em embutidura:
Embutidura por extensão - neste modo de deformação a chapa sofre um
alongamento positivo (tração e aumento de comprimento) numa direção do
plano da chapa e um alongamento negativo (compressão e diminuição de
comprimento) na direção perpendicular à anterior.
Embutidura por expansão - neste modo de deformação a chapa sofre
alongamentos positivos (tração e aumento de comprimento) em todas as direções
do plano da chapa.
Os dois modos principais de deformação em embutidura dependem diretamente da
ação do cerra-chapas. Assim, se não existir cerra-chapas ou a pressão deste for insuficiente, o
modo de deformação é, fundamentalmente, por extensão. Se a pressão do cerra-chapas for
suficientemente elevada de modo a impedir o deslizamento da chapa entre a matriz e o cerra-
chapas, o modo de deformação é, fundamentalmente, por expansão. Para conseguir o efeito
de bloqueamento, é vulgar utilizar-se, para além de uma pressão do cerra-chapas, saliências na
matriz ou no cerra-chapas, designados freios, que podem restringir ou impedir o deslizamento
da chapa
Figura 9 - Modos de deformação em embutidura, por extensão e por expansão [Santos 2005].
11
Os dois modos de deformação em embutidura descritos anteriormente têm uma
influência determinante na espessura final do produto obtido. Assim, na deformação em
expansão a espessura final da peça é, necessariamente, inferior à da chapa que lhe deu
origem.
Figura 10 - Exemplo de aplicação de um freio.
Na deformação por extensão, como geralmente é o caso das paredes laterais e do
fundo do embutido cilíndrico, a espessura destas zonas é igual à espessura inicial da chapa,
enquanto que na gola, devido às tensões de compressão existentes na zona, a espessura da
chapa tende a aumentar.
2.5 – Prensas
Denomina-se de prensa uma máquina-ferramenta que fornece a energia necessária
para as operações de conformação plástica de chapa metálica de modo a se obter uma peça
final com uma geometria característica.
Estas prensas são caracterizadas principalmente por uma força nominal que determina
a sua rigidez estrutural; ou seja, esta força nominal é a máxima que uma dada prensa
consegue realizar sem que haja o risco de esta se danificar ou deformar a sua estrutura. Este é
um dos fatores que determina qual o tipo de peças que serão executadas em determinada
prensa [ASM 1988].
As prensas podem ser classificadas segundo:
A natureza do acionamento
A forma da estrutura
O tipo/número de corrediças ou carros
2.5.1 – Natureza de acionamento
As prensas para conformação plástica de chapa podem ser acionadas ou mecânica ou
hidraulicamente.
12
Tabela 1 - Comparação entre prensas hidráulicas e mecânicas [ASM].
Força Capacidade Comprimento do curso
Velocidade do Carro
Controlo Usos preferenciais
Mecânica Varia dependendo da posição do carro
Máximo praticável ~54MN (6000 tf)
Limitado Mais elevada que nas prensas hidráulicas pode variar. Máxima a meio do curso.
Normalmente é necessário percorrer todo o curso antes do recuo.
Operações em que é requerida máxima pressão perto do fim do curso. Operações de corte como o corte de formatos e para embutidos relativamente pouco profundos. Bom para altos níveis de produção e para operações com ferramentas transfer e progressivas
Hidráulica Relativamente constante (não depende da posição do carro)
445 MN (50 000 tf) ou mais
Capaz de cursos longos (2.5 m)
Baixas velocidades de trabalho com avanços e recuos rápidos. Velocidade constante ao longo do curso.
Ajustável: o carro pode recuar em qualquer posição.
Operações que requerem uma pressão uniforme ao longo do curso. Operações de embutido profundo, ensaio de ferramentas, embutidos de peças com geometria irregular, operações que requerem forças elevadas e variadas e operações que requerem cursos variáveis ou parciais.
2.5.1.1 - Prensas Mecânicas
Na grande maioria das prensas a energia provem de um volante de inércia e é depois
aplicada ao carro por meio de alavancas, engrenagens ou excêntricos durante o curso de
trabalho do carro. O volante gira continuamente e é solicitado, por meio de uma embraiagem,
unicamente quando é necessário uma batida da prensa.
Em algumas prensas mecânicas de muito grande porte, o motor está diretamente
ligado ao veio da prensa, eliminando a necessidade de um volante de inércia e de uma
embraiagem [ASM].
2.5.1.2 - Prensas Hidráulicas
Pressão hidrostática exercida sobre um ou mais pistões fornece a energia necessária
para uma prensa hidráulica. A grande maioria das prensas hidráulicas possui uma bomba de
volume e pressão variáveis de modo a permitir que estas tenham um rápido movimento de
subida e descida. Também permite uma velocidade de trabalho baixa mas a elevadas pressões
de trabalho.
A capacidade de uma prensa hidráulica depende do diâmetro dos pistões hidráulicos e
na máxima pressão hidráulica que lhe foi classificada, sendo esta ultima em função da pressão
da bomba e dos mecanismos relacionados. No entanto uma bomba de elevada pressão
executa um trabalho a uma menor velocidade. Por norma todas as corrediças são controladas
por um só sistema de bombeamento.
13
Devido à sua construção, as prensas hidráulicas podem ser construídas segundo as
exigências do cliente a um custo relativamente baixo. Podem ser concebidas com um variado
número de corrediças e de movimentos, ou podem até incluir circuitos hidráulicos
independentes para variadas ações independentes. Pode-se ainda executar ações auxiliares
dentro da estrutura da prensa através de cilindros independentes. Para ser possível ter tais
ações auxiliares numa prensa mecânica seria necessário recorrer a excêntricos, que são caros e
complexos.
As prensas hidráulicas têm por norma um curso de trabalho maior do que o existente
nas prensas mecânicas, e a força pode ser constante ao longo de todo esse mesmo curso.
Possuem um curso, que pode ser ajustado, para uma ou mais corrediças, podendo ainda existir
a presença de acumuladores de modo a permitir uma abertura ou fecho da corrediça a uma
velocidade superior [ASM].
Figura 11 – Exemplos de uma prensa mecânica (à esquerda) e de uma prensa hidráulica (à direita).
2.5.2 – Forma da Estrutura
Quanto à forma da sua estrutura, as prensas encontram-se classificadas, de uma
maneira global, dentro de dois grandes grupos: prensas de colo de cisne e prensas de duplo
montante.
Dentro destes dois tipos os detalhes de construção podem ser muito variados [ASM].
2.5.2.1 - Prensas de Colo de Cisne
A forma característica destas prensas (em C) permite que o acesso à área de
ferramenta seja muito facilitado de qualquer um dos lados da prensa, tal como da frente, de
modo a facilitar a mudança de ferramentas ou a colocação de uma nova bobine/formato de
chapa.
As peças são normalmente expelidas por uma abertura existente na mesa de prensa
ou pela parte traseira da prensa caso, esta seja aberta.
14
A construção da prensa em colo de cisne tem uma grande desvantagem: a abertura
frontal torna-se mais aberta com a carga de trabalho causando um deslocamento angular
entre as duas superfícies da ferramenta, o que irá provocar um desalinhamento entre punções
e matrizes resultando num desgaste prematuro das ferramentas.
Podem ser usados tirantes de modo a minimizar este problema. Apesar de limitar o
acesso quando a ferramenta se encontra a trabalhar (para alimentação de formatos ou troca
de posto), estes tirantes podem ser removidos temporariamente para a troca de ferramentas;
ainda assim é uma solução que não resolve o problema na totalidade [ASM].
2.5.2.2 - Prensas de Duplo Montante
As prensas de duplo montante possuem uma rigidez muito superior à permitida pelas
prensas de colo de cisne, no entanto esta configuração vai dificultar o acesso à messa de
prensa e, consequentemente, os trabalhos que tenham de ser feitos nesta.
A configuração das prensas de duplo montante permite que sejam usados uma grade
variedade de tamanhos de mesas e carros na prensa. Estas prensas vão de valores capacidade
de 180 kN (20 tf) e dimensão de 510x380 mm até valores de 36 MN (4000 tf) de capacidade e
915x455 de dimensão [ASM].
Figura 12 - Prensa hidráulica em colo de cisne e prensa mecânica de duplo montante.
2.5.3 - Tipo/número de corrediças ou carros
As prensas mecânicas e hidráulicas podem ter um, dois ou três corrediças e são
denominadas de simples, duplo ou triplo-efeito, respetivamente. Cada uma das corrediças
pode mover-se e ser controlada separadamente.
A maior parte das prensas que se utilizam atualmente, sejam hidráulicas ou mecânicas,
utilizam uma corrediça de simples efeito, uma vez que o efeito de cerra-chapas obtido com as
15
corrediças de duplo efeito, é conseguido com a utilização de ferramentas que usam molas
e/ou cilindros a gás para o mesmo efeito. As prensas com corrediça de triplo efeito são de uso
exclusivo para peças que necessitem de contra embutidos pouco profundos [ASM].
2.6 – Ferramentas
As ferramentas usadas nas operações de conformação plástica apresentam as mais
variadas configurações, tendo, no entanto, sempre como finalidade a obtenção de uma peça
embutida com a máxima qualidade e ao menor custo. Na procura de produzir uma peça quase
no seu estado final utilizam-se conjuntamente as tecnologias de embutidura, de dobragem e
de corte. Estas ferramentas, na maioria dos casos muito complexas, aumentam a dificuldade
da realização de classificação simples das ferramentas [Santos 2005].
Apesar de haver muitos critérios para a classificação das ferramentas para as operações
de conformação plástica de chapa metálica, vamos focar-nos na sua caracterização quanto às
operações que estas realizam. Segundo este critério as ferramentas podem dividir-se em três
grandes grupos:
Ferramentas para Trabalho Peça a Peça
Ferramentas Progressivas
Ferramentas Transfer
2.6.1 - Ferramentas para Trabalho Peça a Peça
Nestas ferramentas é efetuada uma única operação em cada golpe da prensa, sendo
necessária uma ferramenta para cada operação de uma dada peça. Assim, para que uma peça
em que seja necessário mais do que uma operação, as peças terão de ser deslocadas de prensa
em prensa, ou então será necessária a troca de ferramenta de cada vez que se deseje efetuar
uma nova operação até que seja concluída a produção.
Figura 13 - Linha de prensas, em que em cada prensa se realiza uma só operação, presente na Gestamp Portugal.
16
2.6.2 - Ferramentas Progressivas
Este tipo de ferramenta executa várias operações de embutidura, de corte, de
puncionagem, etc., numa determinada sequencia e apenas numa única ferramenta. Quando a
peça que pretendemos obter exige várias operações é habitual utilizarem-se ferramentas
progressivas. Neste tipo de ferramenta as operações são sequenciais, à medida que a chapa
(em banda ou em formato) vai entrando na prensa. Entre cada descida da corrediça, dá-se um
deslocamento da banda, que é designado por “passo ou avanço da ferramenta”. Nesta
sequência de operações, a peça vai-se mantendo agarrada à banda (esqueleto) até à última
operação da ferramenta onde se executa a separação da dita peça, ficando esta com o seu
contorno final [Santos 2005].
Figura 14 - Exemplo de uma ferramenta progressiva e a banda de chapa representativa das operações nela realizadas existente na Gestamp Portugal.
2.6.3 - Ferramentas Transfer
O termo transfer designa uma sucessão de operações diferentes em várias ferramentas
colocadas numa mesma prensa, em que:
17
1. A matéria-prima entra a partir de bobines e no 1º posto dá-se o corte da chapa
podendo ainda conjuntamente executar uma outra operação (a chapa pode
também já vir cortada quando entra no 1º posto da ferramenta).
2. A chapa ou embutido intermedio passa de posto para posto por meio de pinças
ou braços de robot para ser submetida às diferentes operações de conformação.
As prensas utilizadas para estas ferramentas são geralmente concebidas especialmente
para este tipo de utilização e podem também ser designadas de transfer. São geralmente em
arcada e dispõem de uma mesa longa (o que obriga geralmente á existência de duas bielas) e
de um dispositivo de avanço. O custo do conjunto é bastante elevado, pelo que é empregue
principalmente em grandes produções [Santos 2005].
Figura 15 - Pinças CNC usadas para deslocar uma peça de um posto de operação para o seguinte dentro da ferramenta transfer.
18
3 – Materiais usados na Indústria Automóvel
3.1 – História da chapa de aço na indústria automóvel.
A indústria automóvel é o mercado mais importante para a chapa de aço e tem
proporcionado o maior estímulo e desafio para o desenvolvimento de novos produtos, novas
formas de usá-los e uma maior consistência do produto. Apesar da concorrência das ligas de
alumínio e dos plásticos, o aço manteve-se como o material predominante para a carroçaria do
automóvel e componentes estruturais, devido à sua boa formabilidade, alto módulo de
elasticidade, facilidade de soldadura e custo relativamente baixo. Vários tipos de aço já
compreendem 50-60% do peso dos veículos.
No entanto, desde os anos 1970, ocorreram alterações significativas na seleção de
aços para a construção automóvel:
1. A necessidade de reduzir o consumo de combustível e as emissões de fumos,
mantendo o desempenho estrutural.
2. A necessidade de melhorar o desempenho de corrosão para ser capaz de
proporcionar aos clientes melhores garantias contra a deterioração estrutural e
cosmética.
3. A necessidade de melhorar a segurança dos passageiros.
Um menor consumo de combustível pode claramente ser conseguido por uma
eficiência do motor melhorada, mas também tem sido conseguida através da redução
do peso do veículo. Figura 15 mostra, para os 30 melhores carros europeus registados,
como os quilômetros percorridos por litro aumentam com a diminuição do peso, mas
também mostra que, para um determinado peso, houve um aumento geral na
distância percorrida no período 1982-1992 devido a outras razões. Claramente, um
carro com um peso reduzido e, portanto, um consumo de combustível baixo, será
atrativo de um ponto de vista económico, mas também irá conduzir a uma redução na
formação dos denominados gases de efeito de estufa, como o CO2, que podem levar
ao aquecimento global.
Figura 16 - Variação de consumos em km por litro de combustível com o peso do veículo [Llewellyn 2000].
Quilómetros por litro de combustível
Peso (kg)
19
Durante os anos 1970, aços com valores de resistência mais elevados foram
introduzidos nos Estados Unidos para os elementos estruturais ou relacionados com a
segurança, tais como reforços para para-choques, vigas laterais da porta e âncoras do cinto de
segurança. Estes componentes foram fabricados principalmente a partir de aços laminados a
quente, tratados com nióbio e micro-ligados que proporcionaram uma relação custo /
resistência / peso favorável em comparação com a menor resistência do aço não ligado ou de
qualquer outra tira de aço disponível no momento. Além disso, seu uso exigia apenas
pequenas alterações nos métodos de fabricação e nas instalações. Infelizmente, uma vez que
estes eram componentes novos, a sua utilização inevitavelmente levou a um aumento no peso
do veículo. Mais recentemente aços com maior resistência e de menor calibre têm sido
utilizados para alguns destes componentes para remover algum do peso adicional que tinha
sido introduzido. Estes têm incluído os aços de muito alta resistência, com uma resistência à
tração superior a 1000 MPa, reforçado por uma elevada taxa de produto de transformação, e
aços que desenvolvem a sua muito alta resistência, por tratamento térmico e de têmpera após
a formação. As crises do petróleo de 1973 e 1979 provocaram os estímulos iniciais para a
redução de peso em si. A carroçaria é montada a partir de grandes painéis e constitui cerca de
25-30% do peso total de um carro de tamanho médio, logo este é o componente mais pesado
do veículo. Era assim evidente que a redução do peso do corpo pode ter um impacto
significativo sobre o peso total do carro acabado. Foi percebido que isto pode ser feito através
da substituição do aço pelo alumínio ou pelo plástico, mas a penalização seria ao aumento do
custo. Foi geralmente aceite que a utilização de aço de alta resistência, que permitiria manter
o desempenho dos componentes com uma espessura reduzida, era a única maneira de obter
uma redução tanto do peso como dos custos.
Os aços micro-ligados mencionados anteriormente foram adequados para o uso em
partes estruturais relativamente simples, mas a sua formabilidade reduzida e aumento retorno
elástico (springback) quando comparados com aços macios de menor resistência impediu a
sua utilização para os painéis de grande porte, que em geral envolviam operações difíceis de
conformação. Além disso, a deformabilidade de qualquer aço diminui com a redução da
espessura. Qualquer diminuição da espessura, por conseguinte, só agrava a perda de
maleabilidade que surge a partir do aumento de força.
A reação da indústria automóvel em todo o mundo foi solicitar aços com um aumento
relativamente pequeno na força sobre o aço macio, com a perda de formabilidade reduzida a
um mínimo, mantendo os valores de r elevado. O primeiro desses aços eram os aços
refosforados que, como indicado anteriormente, mantinham os maiores valores de r e os
valores mais elevados de alongamento do que teria sido obtido a partir de qualquer micro-liga
de aço de resistência similar. Aços com resistência mínima de 180, 220, 260 e 300 N/mm2
estão disponíveis na Europa, embora as referências com a resistência mais baixa são as que
têm sido mais comummente usadas. Os aços refosforados iniciais foram recozidos e baseados
numa composição calmada a alumínio, mas uma tendência mais recente tem sido a de
recozimento de diferentes tipos de aço de forma contínua, quer por uma linha de recozimento
contínuo, ou numa linha de galvanização a quente. Os aços revestidos com imersão a quente,
geralmente com um revestimento galvanneal (galvanizado a quente combinado com recozido)
para a indústria automóvel, tendem a basear-se numa composição do tipo IF para ser mais
20
compatível com um ciclo de recozimento contínuo. Esses aços, como mencionado
anteriormente, podem também ser uma solução sólida reforçada com boro, manganês e
silício, bem como uma pequena adição de fósforo para reduzir os problemas que de outra
forma seriam associados a níveis elevados de fósforo.
Os aços reforçados por solução-sólida criados ao ligar uma composição calmada a
alumínio ou de base num IF, são suficientemente moldáveis para permitir painéis difíceis de
serem produzidos sem estiramentos ou roturas locais, mas ainda têm sido sujeitos a um maior
retorno elástico do que o existente num aço macio de menor resistência. A tendência,
portanto, tem sido a utilização de aços endurecidos por envelhecimento. Estes aços têm
geralmente um índice mínimo de endurecimento de 40 N/mm2. Logo, é possível, com um aço
endurecido por envelhecimento, atingir valores de formabilidade e retorno elástico
equivalentes aos de um aço não envelhecido, mas com o desempenho em serviço de um aço
de grau mais elevado.
Muitas aplicações de aços endurecidos por envelhecimento visam proporcionar uma
resistência plástica melhorada a mossas, principalmente em peças ligeiramente deformadas
com baixa curvatura, como capôs e tampos de bagageira. Drewes e Engl apresentaram uma
relação entre o limite de elasticidade, espessura da chapa e a carga necessária para dar a
mesma profundidade residual de 0,2 mm de mossa, tal como ilustrado na Figura 16. Isto pode
ser usado para calcular que redução na espessura pode ser obtida para a mesma resistência a
mossas recorrendo a um maior limite de elasticidade. As curvas para aços refosforados, micro-
ligados e endurecidos por envelhecimento produzem efeitos semelhantes para a mesma
espessura da chapa de aço, mas no aço de dupla fase dá-se um efeito diferente, devido à
elevada taxa de encruamento.
Figura 17 - Efeito do limite de elasticidade e da espessura de chapa na resistência a mossas (F0.2 = carga que produz uma mossa de 0.2 mm de profundidade remanescente) [Llewellyn 2000].
21
Figura 17 dá um resumo do desenvolvimento histórico da utilização de aço de alta
resistência em carros a partir de um ponto de vista europeu.
Figura 18 - Evolução dos aços de alta resistência laminados a frio para aplicação em carroçarias de automóveis até ao ano 2000 [Llewellyn 2000].
A redução de peso, até agora, tem sido feita principalmente pela substituição de aços
mais grossos para mais finos, sem qualquer mudança importante no conceito de design.
Recentemente, um grande projeto foi iniciado, com a fase 1 patrocinada por 32 grandes
empresas siderúrgicas de todo o mundo, para maximizar a redução de peso utilizando os
processos de fabricação existentes e tipos de aço que estão disponíveis. O projeto conhecido
como o projeto ULSAB (ultra light steel auto body), tem como objetivo conceber um body-in-
white [BIW - componentes de chapa metálica da carroçaria de um carro que foram soldadas
mas antes de partes móveis (portas, capôs guarda-lamas), do motor, subconjuntos do chassis,
ou acabamento (vidros, cadeiras, estofados, eletrônicos, etc.) serem adicionados e antes de
pintar] com as mesmas características de desempenho ou superiores às de projetos existentes,
mas com um peso reduzido. A fase 1 do projeto foi concluída e o progresso foi revisado.
Uma marca de um referência de projetos existentes foi obtida tomando-se os valores
médios ao longo de vários projetos existentes, adequados e de médio porte, e normalizando-
se os números tendo em conta a diferença de tamanho do veículo. As principais características
de desempenho a ser considerados são a rigidez estática à torção, a rigidez à flexão estática e
o primeiro modo BIW. Esta última é a frequência de ressonância de vibração do corpo e deve
ser tão elevada quanto possível, para o conforto dos passageiros. Tabela 1.14 dá as
propriedades esperadas para um corpo de tamanho médio típico, no período pós-2000, após
serem feitas razoáveis novas melhorias dos tipos existentes de desenho. Ela compara-as com
as metas para o projeto ULSAB e os números que foram alcançados. Vê-se que o principal
objetivo foi o de obter uma redução de 20% de peso de 250 para 200 kg, enquanto mantém ou
melhora a performance do corpo. É evidente que os objetivos de desempenho tenham sido
22
alcançados confortavelmente, mas o objetivo da redução de peso não foi completamente
conseguida.
Tabela 2 - Resultados do progresso do projeto ULSAB no fim da fase 1 [Llewellyn 2000].
Valores representativos para período após 2000
Valores de performance alvo
Valores obtidos
Massa 250 kg 200 kg 205 kg Rigidez torsional estática
13 000 N.m/O >13 000 N.m/O 19 056 N.m/O
Rigidez à flexão estática
12 200 N/mm >12 200 N/mm 12 529 N/mm
Primeiro modo BIW 40 Hz >40 Hz 51 Hz
A abordagem para o design tem sido uma holística. Assim, as partes da carroçaria
foram aumentadas em peso para serem feitas maiores reduções em outro lugar. A
hidroconformação tem vindo a ser usada para fazer secções do tejadilho, que não poderiam
ser facilmente feitas utilizando técnicas convencionais de conformação. A rigidez à torção e à
flexão da estrutura tem sido melhorada por ligações soldadas, mas algumas das juntas
contínuas também têm sido realizadas por meio de soldadura laser. A redução da
complexidade da estrutura tem sido conseguida pela utilização de Laser Welded Blanks,
evitando assim a necessidade de membros de reforço adicionais. O custo estimado da
produção foi dado como 154 dólares menos do que para um típica BIW de medio porte e
representa uma economia de 14%. Já foi dito, por conseguinte, que haveria um caso para a
fabricação de um corpo ULSAB mesmo que não fosse prevista nenhuma economia em peso.
É interessante notar que os aços com um limite de elasticidade acima de 210 MPa
foram especificados para dois terços das partes no desenho ULSAB e uma proporção elevada
do aço utilizado também é revestida com um ou outro dos revestimentos de proteção de
corrosão disponíveis. É evidente, portanto, que a proteção contra a corrosão, bem como o
desempenho mecânico, tem sido um aspeto importante do desenho. Vários corpos de aço
estão a ser construídos para confirmar e demonstrar o design e desempenho da fase 1. Estes
foram exibidos em todo o mundo em 1998 [Llewellyn 2000].
Figura 19 - Aços aplicados na indústria automóvel (realçados os mais usados atualmente) [Autosteel].
23
No entanto já estão previstas ainda mais inovações para os aços a aplicar na indústria
automóvel, uma vez qua as exigências de segurança são ainda maiores (sendo necessários
mais sistemas de segurança quer ativos quer passivos), que vão aumentar o número de
componentes e o peso global da viatura, mas também as exigências ambientais têm nos dias
de hoje um enorme peso (um veiculo mais pesado tende a consumir mais combustível, como
referido anteriormente). Com esta pressão sobre a redução do peso total dos veículos e com a
contínua pesquisa existente sobre os aços, prevê-se que, entre 2017 e 2025 suja uma nova
geração de aços de alta resistência para a indústria automóvel, com mais altas resistências
mecânicas e maiores taxas de deformação [Autosteel].
Figura 20 - Aços previstos para utilização na indústria automóvel [Autosteel].
3.2 - Impacto Energético e Ambiental
À medida que as grandes potências começam a aplicar as novas fontes de energia
verde, torna-se necessário que as indústrias siderúrgicas se adaptem para novos métodos de
produção que tirem proveito dessas mesmas fontes de energia limpas.
A indústria siderúrgica tem continuamente reduzido a sua necessidade de energia,
minimizando assim a pegada no meio ambiente. Desde 1990, a intensidade de energia para
fazer uma tonelada de aço foi reduzida em 27 por cento.
Devido a esses avanços, os processos siderúrgicos que usamos hoje estão a aproximar-
se dos limites definidos pelas leis da física. Para fazer novas reduções no consumo de energia e
emissões de CO2, novos processos são obrigatórios.
Entre 1990 e 2009, a indústria siderúrgica norte-americana reduziu a intensidade de
CO2 por tonelada de aço produzido em 35% e 30% a intensidade energética como resultado de
investimentos voluntários em P & D e nova tecnologia consequente.
Hoje, a indústria siderúrgica norte-americana opera com o menor consumo de energia
por tonelada de aço produzido no mundo.
24
Figura 21 – Consumo de energia por tonelada de aço produzido na indústria siderúrgica Norte Americana (fonte: American Iron and Steel Institute)
Entre 1990 e 2009, a indústria siderúrgica norte-americana reduziu a intensidade de
CO2 por tonelada de aço produzido em 35% e 30% a intensidade energética como resultado de
investimentos voluntários em P & D e nova tecnologia consequente.
Hoje, a indústria siderúrgica norte-americana opera com o menor consumo de energia
por tonelada de aço produzido no mundo.
Os esforços para alcançar melhorias incrementais no uso de energia e redução de
emissões de CO2 continuarão, no entanto, a fim de fazer grandes reduções em futuras
reduções energia/CO2, novos métodos de produção de aço irão requer um pensamento
completamente novo e inovador.
Figura 22 - Intensidade de resíduos de CO2 na produção de aço Norte-Americana.
O aço é parte integrante de uma sociedade moderna que tem uma alta qualidade de
vida. Desde os carros que conduzimos, às pontes que cruzamos, as embalagens dos alimentos
que comemos, os dipositivos que utilizamos nos edifícios que vivemos e trabalhamos. Todos
25
estes aços serão reciclados e voltam a aparecer como produtos ainda melhores assegurando
um futuro seguro.
Reciclagem é a conexão de sustentabilidade do aço. O aço é infinitamente reciclável, o
que significa que pode ser reciclado várias vezes sem perda de desempenho.
Tabela 3 - Comparação de valores energéticos e de caris ambiental do aço e do alumínio.
Energia GJ/t Potencial para
Aquecimento Global t-CO2 eq/t
SO2 eq kg/t
Alumínio 155 11,06 50,43
Aço 21,6 2,01 5,118
Como, mais e mais atenção está a ser dada ao impacto do ciclo de vida dos materiais
há um foco renovado sobre a Avaliação do Ciclo de Vida para bens de consumo. Sejam as latas
das quais comemos ou dos carros que conduzimos, o impacto de questões de produção de
materiais interessa.
O aço é o material mais reciclado do planeta, mais do que todos os outros materiais
combinados. O gráfico abaixo revela uma taxa de reciclagem global de aço extremamente alta,
que, em 2008, situou-se em mais de 83%.
Figura 23 - Taxa anual de reciclagem do aço.
As propriedades metalúrgicas surpreendentes do aço permitem que seja reciclado
continuamente, sem degradação do desempenho, de um produto para o outro.
26
As fontes para sucata de aço são abundantes, mas são classificados em três categorias
principais: sucata caseira, sucata rápida e sucata obsoleta.
Sucata caseira é a sucata que é produzida a partir de dentro da própria fábrica e está
disponível em algumas semanas. Sucata rápida é sucata que é produzida a partir de fabricação
de produtos de aço, e está disponível em poucos meses. Sucata obsoleta é produzida a partir
de produtos de aço no final de suas vidas e podem passar décadas antes que esta sucata esteja
disponível (exemplo: A Ponte Golden Gate).
Mesmo quando dois de cada três toneladas de aço novo são produzidas a partir de aço
velho, ainda é necessário continuar a usar algumas quantidades de materiais virgens. Isso é
verdade porque para muitos produtos de aço permanecem em serviço, como bens duráveis
por décadas e a demanda por aço em todo o mundo continua a crescer.
Além da sucata de aço em si, a indústria siderúrgica há muito tempo recicla os seus
subprodutos: carepa, escórias siderúrgicas, água e outros líquidos de processamento. Do
mesmo modo, as poeiras e lamas do fabrico de aço são processadas de modo a que os outros
metais, tais como o zinco, possam ser recuperados e reutilizados.
O aço é o motor que impulsiona a reciclagem de muitos bens de consumo, como pode
ser visto pela taxa de reciclagem de cerca de 100 por cento dos automóveis, a mais de 80 por
cento da taxa de reciclagem de aparelhos e a mais de 60 por cento da taxa de reciclagem de
embalagens de aço [Autosteel].
27
4 – Casos de estudo de componentes de indústria automóvel
obtidos por conformação plástica e seus processos.
A utilização de técnicas de simulação numérica na conceção de processos de fabrico
tem experimentado uma aceitação crescente na indústria nas últimas décadas. A aplicação de
métodos computacionais continua, porém, ainda muito limitado nas etapas mais tardias de
ensaio e produção do processo de desenvolvimento. Isto é principalmente devido ao fato de as
técnicas de simulação atualmente aplicadas ainda se baseiam em simplificações importantes
dos sistemas de produção reais.
Estender a aplicação de técnicas de simulação para as fases posteriores do processo de
desenvolvimento é uma tarefa desafiadora e exige uma melhoria substancial dos modelos
usados atualmente. Mesmo pequenas modificações feitas nas superfícies ativas da ferramenta
durante ensaio são conhecidas por terem um grande impacto sobre a qualidade e robustez do
processo. Uma descrição muito precisa da condição de contacto entre as ferramentas e o
formato, incluindo o comportamento elástico das ferramentas, é, portanto, necessária. Além
disso, o comportamento dependente da temperatura dos materiais do formato, bem como de
lubrificantes, têm de ser modelados com precisão, de modo a aproximar às condições de
produção real.
Uma outra área de investigação nova é a melhoria da robustez do processo, durante a
produção através do uso de sistemas de controlo de adaptação. Sistemas não destrutivos de
medição podem ser combinados em algoritmos de controlo especialmente concebidos para
detetar e evitar falhas durante a produção. Além dos métodos baseados no método de
elementos finitos, as abordagens mais computacionalmente eficientes baseadas em
metamodelos, estão atualmente a ser investigados. A modelagem precisa das condições reais
de produção também é decisiva para o sucesso da implementação de tais sistemas.
Os requisitos mencionados nas áreas de ensaio e de controlo do processo adaptativo
colocam nos frente a frente com novos desafios [IDDRG].
Figura 24 - Soluções de software para simulação numérica que acompanham todas as etapas de desenvolvimento do produto.
28
Nesta dissertação foi procurado expor quais os casos em que a simulação numérica se
tornou uma ferramenta que permitiu de maneira fácil e rápida uma resolução que, de outra
maneira, seria demasiado morosa ou demasiado empírica.
4.1 – Determinação do Esboço Ótimo para a Realização de
Componentes.
Uma vez que a matéria-prima representa cerca de 60% do preço final de uma peça, é
muito importante que o desperdício seja minimizado de modo a que nos tornemos mais
competitivos quando estas peças forem orçamentadas.
Também será importante obtermos as dimensões que o esboço terá na banda de
chapa para podermos determinar o preço da ferramenta que permitirá o fabrico de uma
determinada peça.
4.1.1 – Componente a estudar.
A peça a estudar trata-se de uma peça simples dobrada com um pequeno embutido no
centro, quatro furos no plano horizontal e um num plano vertical. O material que a constitui é
um aço JSH270C, semelhante ao aço EN DD11, e tem uma espessura de 2,3 mm.
Figura 25 - Peça a estudar vista nos dois softwares usados, Catia e AutoForm.
Tabela 4 - Composição química do aço JSH270C [Keytometals].
Elemento Máximo
C 0,1500
Mn 0,6000
P 0,0500
S 0,0500
Si 0,0500
Ti 0,1000
B 0,1000
Al 0,1000
Nb 0,1000
29
Tabela 5 - Propriedades mecânicas do aço JSH270C [Keytometals].
Min. Max.
Espessura de chapa: 1,2 ≤ t < 1,6 (t=espessura)
Limite de escoamento Rp0,2 (MPa) 205 325
Resist. à tração Rm (MPa) 270 -
Alongamento A (%) 35,0 49,0
Espessura de chapa: 1,6 ≤ t < 2,0 (t=espessura)
Limite de escoamento Rp0,2 (MPa) 195 315
Resist. à tração Rm (MPa) 270 -
Alongamento A (%) 36,0 50,0
Espessura de chapa: 2,0 ≤ t < 2,5 (t=espessura)
Limite de escoamento Rp0,2 (MPa) 185 305
Resist. à tração Rm (MPa) 270 -
Alongamento A (%) 37,0 51,0
Espessura de chapa: 2,5 ≤ t < 3,2 (t=espessura)
Limite de escoamento Rp0,2 (MPa) 185 305
Resist. à tração Rm (MPa) 270 -
Alongamento A (%) 37,0 51,0
Espessura de chapa: 3,2 ≤ t < 4,0 (t=espessura)
Limite de escoamento Rp0,2 (MPa) 175 295
Resist. à tração Rm (MPa) 270 -
Alongamento A (%) 38,0 52,0
4.1.2 – Cálculo da área mínima de chapa consumida.
Para calcularmos a área mínima de chapa necessária para a realização da peça em
estudo, recorremos a uma das ferramentas do software AutoForm, denominada Blank
Generator. Com este software apenas necessitamos de importar uma superfície que
caracterize a peça na totalidade, fazer com que o AutoForm reconheça as suas fronteiras e
furos, tapar esses mesmos furos (uma vez que a peça só será furada depois de conformada) e
posicionar a peça de maneira correta (a direção de trabalho no AutoForm é sempre no eixo
dos ZZ e no sentido negativo, é essencial que a peça esteja colocada em relação aos eixos de
30
prensa consoante o que aconteceria na realidade) para que este nos calcule um formato
representativo da área necessária para que uma dada peça seja realizada.
Figura 26 - Tratamento da superfície da peça no AutoForm.
Figura 27 - Ferramenta Blank Generator antes e depois do cálculo do planificado.
Após todos os dados introduzidos, estamos em condições para iniciar o cálculo de
área. Como podemos ver pala figura, a área resultante é de 20.6x103 mm2.
Falta agora perceber como este formato se irá posicionar na banda de chapa que irá
ser alimentada na ferramenta de maneira a que seja obtida uma ótima utilização de chapa, ou
seja, de modo a minimizar o desperdício. Para tal podemos também usar o AutoForm,
bastando para isso escolhermos o separador “Embed Nest”.
31
Neste separador foi pedido que fossem organizados os formatos para uma peça por
golpe. O AutoForm forneceu uma solução que ele próprio calculou, automaticamente, como
sendo aquela em que o desperdício seria minimizado; no entanto este software não reconhece
por onde se deseja levar a peça a ser conformada, e nem sempre nos fornece uma solução
factível. Quando tal acontece, como foi o caso, devemos recorrer ao modo semiautomático,
que nos permite ajustar o angulo das peças de maneira a que estas deixem livre a zona pela
qual as pretendemos agarrar.
Na Figura 27 está apresentada uma solução após ajustamento dos ângulos de
posicionamento do formato. Esta solução permite um aproveitamento de chapa muito
aceitável (≈67%), no entanto tem um valor de passo muito elevado (cerca de 241 mm).
Figura 28 - Janela e opções do separador "Embed Nest".
32
Figura 29 - Resultado para o posicionamento dos formatos obtido automaticamente.
Figura 30 - Nova solução que liberta a zona pela qual queremos levar a peça.
Este valor de passo dever ser tido em conta, uma vez que este vai influenciar
diretamente o comprimento final da ferramenta que será criada para a realização da peça.
Para se obter uma estimativa do comprimento de ferramenta basta multiplicarmos o valor de
passo obtido (241 mm) pelo número de operações necessárias para realizar a peça (neste
casso, e prevendo que o processo se vai realizar numa ferramenta progressiva, o mínimo seria
de 13 operações); com estes valores podemos estimar que, posicionando a peça desta
maneira, seria necessária uma ferramenta de 3133 mm de comprimento. Este valor de
33
comprimento de ferramenta, quando muito elevado, conduz a um preço de ferramenta,
também ele, bastante alto (uma vez que o comprimento da ferramenta influencia mais o seu
custo final do que a largura) e pode mesmo não haver prensas nas instalações fabris que
consigam albergar uma ferramenta tão comprida.
Com isto em mente, teremos então de procurar uma solução que consiga satisfazer
estas duas necessidades, garantir que podemos levar a peça amarrada ao esqueleto por onde
pretendemos e também tornar o passo o mais pequeno possível sem que isto interfira
demasiado com a utilização de chapa.
Após novas tentativas chegamos à solução apresentada na Figura 30. Nesta nova
solução houve uma redução na utilização de chapa (passou para cerca de 56%) e houve um
aumento de cerca de 100 mm na largura de banda, no então valor de passo foi reduzido em 76
mm, o que leva a uma redução no comprimento da ferramenta de cerca de 988 mm.
Falta agora acrescentar ao desenho da banda as folgas mínimas para os punções de
corte, de dobra e também para a grade à qual se vão agarrar as peças até à separação no
último passo da ferramenta progressiva.
Figura 31 - Resultado que permite levar a peça e não provoca um passo demasiado longo.
Teoricamente deve ser garantida uma margem mínima de 8 mm para os punções de
corte, de 20 mm para os punções de dobra, de modo a que estes tenham um mínimo de
robustez e não sejam danificados, ou mesmo partidos, durante o trabalho em prensa, e uma
largura mínima de grade de 18 mm.
34
Figura 32 - Folgas que devem ser aplicadas de modo a garantir a robustez dos punções e a presença da grade.
4.1.3 – Resultados
Após todos os cálculos efetuados e após terem sido em conta todas as condições
mínimas para que seja possível obter a peça com a máxima qualidade e robustez, chegamos a
uma banda que terá de largura 265 mm e de passo 180 mm, que resultaria numa ferramenta
com um mínimo de 988 mm de comprimento.
Figura 33 - Aspeto final da banda de chapa representativa do passo e da largura.
Assim foi possível prever o consumo de chapa que esta peça irá necessitar e qual a
messa de prensa mínima para que esta se realize de uma maneira rápida e eficiente. Com
estes dados mais certos logo no momento da primeira orçamentação, vamos fazer com que
esta se torne mais competitiva.
Apos termos obtido o formato mínimo da chapa, poderemos partir para simulações do
processo idealizado, de modo a garantir com certeza que o processo idealizado permite que as
peças saiam com a qualidade requerida; tal como será feito na etapa seguinte.
35
4.2 – Análise de Capacidade de Realização de um Componente
Embutido.
Em algumas peças, sobretudo componentes embutidos, não é possível afirmar com
certeza que a sua realização é possível com um só passo, ou mesmo que seja possível realizar
de todo. E mesmo naquelas que se podem realizar, por vezes podemos deixar ao cliente
sugestões que permitiram que estas peças se realizem mais facilmente e dando uma maior
robustez a todo o processo.
Por estes motivos torna-se essencial, em alguns casos, prever o comportamento do
material e verificar a capacidade de sucesso na realização do componente. Assim a proposta
apresentada será não só competitiva, mas também a mais robusta possível.
4.2.1 – Componente a estudar.
A peça em estudo é constituída pelo material HX300LAD com um revestimento
zincado.
Para realização desta peça (foram definidas as seguintes etapas de processamento) foi
idealizado o seguinte processo:
1. Embutidura
2. Corte procurado
3. Dobragem da aba
4. Realizar os furos
5. Rebordar o furo da face superior
O que pretendemos descobrir é se o embutido, de 44,5 mm de profundidade, será
possível tem possibilidades de ser realizado) realizar num (única etapa) só passo. Esta dúvida
surgiu por se tratar de um material relativamente resistência / capacidade de deformação para
um embutido relativamente grande.
Figura 34 - Peça em estudo para verificação da capacidade de realização.
36
Tabela 6 - Composição química do material HX300LAD [Keytometals].
Elemento Mínimo Máximo
C 0,1100
Mn 1,0000
P 0,0250
S 0,0250
Si 0,5000
Ti 0,1500
Al 0,0150
Nb 0,0900
Tabela 7 - Propriedades mecânicas do material HX300LAD [Keytometals].
Min. Max.
Espessura de chapa: t ≤ 0,5 mm (t=espessura)
Limite de escoamento Rp0,2 (MPa) 300 380
Resist. à tração Rm (MPa) 380 480
Alongamento A (%) (L0 = 80 mm) 19,0 -
Espessura de chapa: 0,5 < t ≤ 0,7 mm (t=espessura)
Limite de escoamento Rp0,2 (MPa) 300 380
Resist. à tração Rm (MPa) 380 480
Alongamento A (%) (L0 = 80 mm) 21,0 -
Espessura de chapa: 0,7 < t ≤ 3 mm (t=espessura)
Limite de escoamento Rp0,2 (MPa) 300 380
Resist. à tração Rm (MPa) 380 480
Alongamento A (%) (L0 = 80 mm) 23,0 -
4.2.2 – Modelo inicial de embutidura.
Para iniciarmos a simulação vamos ter de tratar a geometria da peça como foi feito no
caso do estudo da área mínima de chapa consumida. Como queremos apenas avaliar a
capacidade de realização do estampado, foi eliminado o rebordado superior e tapado o furo,
uma vez que esta operação só seria executada após o estampado.
37
Figura 35 - Superfícies da peça no AutoForm, antes e após tratamento.
Uma vez tratada a superfície, foi necessário criar uma nova estação geométrica para
que possamos criar a geometria na qual o AutoForm se vai basear para criar as ferramentas
necessárias para a realização da simulação.
Nesta nova estação geométrica vamos definir a superfície do cerra-chapas
(denominado “binder” no AutoForm) e como este se vai ligar à peça (esta superfície de
transição denomina-se “addendum” no AutoForm).
Com estas superfícies totalmente definidas teremos então a geometria na qual o
software se irá basear para a criação das ferramentas para a operação de embutidura.
Figura 36 - Geometria resultante e as superfícies que a constituem.
Após a criação da geometria das ferramentas, passamos agora à definição do processo
de embutido. Nesta fase definimos o formato de chapa que vaio ser usado na simulação
(forma, espessura e material), atribuímos as geometrias às ferramentas (matriz, punção e
cerra-chapas) e definimos também os movimentos e forças das diferentes ferramentas.
38
Figura 37 - Ferramentas e formato de chapa usados na simulação criados a partir da geometria da peça.
Em termos de modelo numérico os parâmetros referidos correspondem aos dados
fundamentais para realizar a simulação numérica do processo de realização do componente
estampado.
4.2.2.1 - Resultados
Como podemos ver pela figura seguinte não é possível que este embutido se realize
nestas condições. Tal deve-se ao facto do material ser relativamente duro, como referido
anteriormente, mas também ao facto do raio de entrada na matriz ser pequeno, 5 mm.
Teremos então de realizar um embutido prévio antes que seja dada a forma final da peça
Figura 38 - Resultado da simulação (posição dos elementos finitos no diagrama FLD, à esquerda, e a sua localização no componente, à direita).
39
4.2.3 – Alterações na geometria das ferramentas.
Nesta segunda simulação tentar-se-á obter a peça sem roturas recorrendo apenas ao
aumento do raio de entrada na matriz. Este raio passará de 5 para 10 mm. Nesta nova
geometria consideramos que, após o embutido, será necessária uma outra operação de modo
a calibrar o raio para 5 mm.
Figura 39 - Nova geometria para a segunda simulação.
4.2.3.1 – Resultados
Após a realização da simulação, em que foi dada a nova geometria às ferramentas, os
resultados obtidos foram os apresentados a seguir.
Figura 40 - Resultado da simulação (posição dos elementos finitos no diagrama FLD, à esquerda, e a sua localização no componente, à direita) após aumento do raio de entrada na matriz.
40
Como podemos observar, ainda não nos é possível realizar este embutido mesmo após
o raio de entrada na matriz ter sido aumentado.
Assim sendo teremos de realizar uma operação prévia de embutido, menos agressiva,
de modo a termos a chapa já conformada antes de realizarmos o segundo embutido.
4.2.4 – Embutidura do componente em duas etapas.
Para esta nova simulação terão de ser criadas as ferramentas para a primeira estação
de embutido. Para isto teremos de criar uma nova estação geométrica e desenvolver a
geometria na qual se irão basear as ferramentas para o primeiro embutido.
Na primeira operação iremos fazer um embutido de uma forma praticamente cilíndrica
com uma profundidade de embutido de 35 mm.
Foi ainda adicionada uma almofada para o segundo embutido, de maneira a garantir o
posicionamento da chapa quando a matriz desce sobre esta.
Coma as ferramentas totalmente definidas, podemos então dar inicio à simulação do
processo.
Figura 41 - Ferramentas da primeira e segunda operação de embutidura.
4.2.4.1 – Resultados
Após decorrida a simulação os resultados obtidos estão demonstrados a seguir.
41
Figura 42 - Resultado da simulação (posição dos elementos finitos no diagrama FLD, à esquerda, e a sua localização no componente, à direita).
Como podemos ver foi finalmente obtida uma peça sem roturas. No entanto há uma
grande zona em que a espessura do material aumentou (zona a roxo). Isto indica que há uma
possibilidade de haver formação de rugas nestas zonas. Para abordarmos melhor este tema
vamos visionar a peça resultante mas agora os resultados são os referentes aos critérios de
formação de rugas.
Figura 43 - Resultados em critérios de formação de rugas da terceira simulação.
Para evitar este problema de enrugamento podemos recorrer a freios de modo a que a
chapa seja alimentada de forma mais controlada para o interior da matriz.
No entanto, com a colocação dos freios, voltamos a ter problemas de rotura.
42
Figura 44 - Resultado da aplicação dos freios e linha representativa dos mesmos freios.
4.2.5 – Resultados finais.
Aqui vamos considerar a solução que, apesar de estar sujeita ao surgimento de rugas,
nos permite obter uma peça sem rico de roturas.
Além da análise de rotura e de possibilidade de surgimento de rugas, podemos
também fazer uma análise do esforço das ferramentas para executar estas duas operações.
Figura 45 - Gráfico da força executada pelas ferramentas ao longo do tempo.
Freios
43
Do gráfico tira-se que o esforço necessário para realizar a primeira operação de
embutido é de cerca de 280 kN, e na segunda é de cerca de 320 kN, resultando numa força
total de 500 kN.
No entanto o que pretendíamos saber era se era possível obter o embutido necessário
para a realização da peça numa só operação, e a resposta é que a peça em estudo demonstrou
que existe uma dificuldade muito grande em ser executada numa só etapa no entanto a
realização em duas etapas, com base nas geometrias usadas e na simulação realizada permite
prever que esta seja possível de realizar usando o seguinte método de operações:
1. 1ª Embutidura
2. 2ª Embutidura
3. Corte
4. Dobragem e Calibrar
5. Furação
6. Rebordado do furo na face superior
Com o auxilio das simulações numéricas podemos então evitar erros ao se afirmar que
um dado processo poderá ser realizado em menos etapas do que aquelas realmente
necessárias para se obter um componente com a qualidade requerida. Evitando estes erros
logo à partida, a orçamentações efetuada será mais próxima da realidade, logo será mais
competitiva.
44
4.3 – Estudo das Ferramentas de um Processo de Embutidura.
Por vezes é favorável analisar uma ferramenta, ou linha de ferramentas, antes que
estas sejam montadas nas prensas, pois se forem detetados problemas durante a fase de
projeto, será poupado o tempo de ensaios de ferramentas em prensas e pode também prever-
se os efeitos que as alterações que deverão ser feitas às ferramentas.
No caso apresentado foi estudada uma linha de ferramentas que são montadas numa
linha de prensas mecânicas transfer de Gestamp Portugal.
4.3.1 – Componente em estudo.
A peça que se pretende obter é realizada a partir de um formato de 280 por 970 mm,
de espessura 0,77 mm e constituído pelo aço DC04, e será realizada numa linha de prensas em
que as peças são deslocadas de uma operação de uma prensa para a seguinte recorrendo a
braços robóticos.
Para que se realize esta peça são necessárias 6 operações:
Uma de Embutido
Duas de Corte
Uma de Dobragem
Uma para Corte dos Furos
Uma para Realização dos Rebordados
Figura 46 - Peça em estudo e pormenores dos rebordados a executar.
45
4.3.2 – Simulação do processo.
Uma vez que se trata de um processo para ser realizado numa linha de prensas, as
ferramentas são independentes, logo as suas geometrias também se encontram em ficheiros
separados. Uma vez que queremos reproduzir a linha de processo teremos de retirar as
geometrias pretendidas aos diferentes ficheiros.
No entanto é necessário ter o cuidado de garantir que estas se encontram
corretamente posicionadas em relação aos eixos ortogonais XYZ, uma vez que as geometrias
das diferentes ferramentas podem não estar desenhadas de modo a que tal aconteça. Assim
teremos primeiro de organizar as ferramentas de modo a que as possamos trabalhar
devidamente no AutoForm
Figura 47 - Posição original das ferramentas.
Figura 48 - Posição das ferramentas depois de arranjada.
46
Após as ferramentas estarem devidamente alinhadas, podemos então dar inicio à
extração das superfícies para seguidamente as importarmos para o AutoForm. Para cada um
dos componentes (matrizes, punções e cerra-chapas) de cada uma das ferramentas foi retirada
uma superfície representativa desses mesmos componentes.
4.3.2.1 – Geometrias
Na primeira operação realiza-se um embutido do formato de modo a dar a forma que
o componente terá. Para simular esta operação foram retiradas as geometrias dos
componentes da ferramenta necessários para a simulação desta operação, que são a matriz, o
punção e o cerra-chapas.
Figura 49 - Superfícies da ferramenta da primeira operação extraídas para o AutoForm.
As segunda e terceira operações tratam-se de operações de corte para que seja
definido o limite exterior do componente. Para estas operações são necessárias superfícies
que garantam que o componente se encontra devidamente posicionado, de modo a que os
cortes não sejam feitos fora do sítio, e nas quais se encontrem as linhas que definem os cortes
que serão executados.
As superfícies retiradas garantem ambas uma vez que o componente, já deformado,
ao cair sobre as superfícies irá posicionar-se corretamente por ação do seu próprio peso.
47
Figura 50 - Superfícies da ferramenta da segunda operação extraídas para o AutoForm.
Figura 51 - Superfícies da ferramenta da terceira operação extraídas para o AutoForm.
Na quarta operação dão-se as dobras das abas. Para que esta operação seja
representada na simulação de forma correta será necessário extrair da ferramenta deste posto
as superfícies do punção e da matriz de dobra e também da almofada que irá garantir o
correto posicionamento do componente enquanto decorre esta operação.
48
Figura 52 - Superfícies da ferramenta da quarta operação extraídas para o AutoForm.
Para ser representada a quinta operação, onde ocorre a furação, também só é
necessária uma superfície em que estejam representadas as linhas de corte dos furos; no
entanto também foram adicionadas as almofadas de maneira a garantir um correto
posicionamento da peça a ser furada.
Figura 53 - Superfícies da ferramenta da quinta operação extraídas para o AutoForm.
Na sexta operação vão ser realizados os rebordados dos furos. Para que esta seja
realizada na simulação numérica extraímos as superfícies dos punções e da matriz de dobra e
também das almofadas.
49
Figura 54 - Superfícies da ferramenta da sexta operação extraídas para o AutoForm.
Após extraídas e importadas as superfícies correspondentes às ferramentas que vão
ser usadas na simulação de todas as etapas do processo de obtenção da peça, resta-nos criar
as operações no simulador, associar as ferramentas às devidas operações e certificarmo-nos
de que as suas posições e movimentos se encontram corretos e que estes descrevem o mais
fielmente o processo.
Figura 55 - Geometrias já importadas para o AutoForm, nas suas devidas posições e com os devidos sentidos de movimento.
50
4.3.3 - Resultados da simulação
Após realizada a simulação das ferramentas, estes foram os resultados obtidos.
4.3.3.1 - Resultados da primeira operação
Figura 56 - Movimento das ferramentas na primeira operação.
Figura 57 - Resultados para a primeira simulação em vista de formabilidade.
Na primeira operação do processo, obtemos um embutido sem roturas dentro dos
limites da peça, no entanto, como se pode ver pela imagem seguinte, existe uma grande área
da chapa em que o material sofre tensões de compressão, havendo uma grande possibilidade
de formação de rugas. Este e um dos problemas a resolver nas etapas de desenvolvimento
mais à frente.
51
Figura 58 - Detalhe da ruga criada no primeiro embutido.
4.3.3.2 - Resultados da Segunda e Terceira Operações
Figura 59 - Resultado ao fim das duas operações de corte.
52
As operações de corte neste software de simulação numérica, quando bem
representadas, raramente colocam problemas na simulação. Este caso não fugiu à norma,
sendo que os cortes seguiram a linha esperada.
4.3.3.3 - Resultados da Quarta Operação
Figura 60 - Movimentos das ferramentas e resultados de formabilidade da quarta operação.
Esta operação foi particularmente interessante de simular uma vez que o software
usado para a simulação numérica não contém uma operação em que os movimentos das
ferramentas sejam iguais aos que acontecem na ferramenta simulada.
Após decorrida a simulação foi verificado que todos os movimentos esperados pela
ferramenta na realidade foram replicados na simulação numérica de forma correta. Também a
própria chapa foi deformada da maneira desejada.
53
4.3.3.4 - Resultados da Quinta Operação
Figura 61 - - Movimentos das ferramentas e resultado em vista de formabilidade da quinta operação.
Como já foi referido, nesta operação, para além das linhas de corte foram também
importadas as geometrias dos cerra-chapas da ferramenta, de modo a garantirmos o correto
posicionamento da peça quando fossem realizadas as operações de corte.
Como já também foi referido, as operações de corte raramente colocam problemas
nos resultados da simulação, para este software; e também aqui os cortes foram realizados
sem qualquer problema.
54
4.3.3.5 - Resultados da Sexta Operação
Figura 62 - - Movimentos das ferramentas e resultado em vista de formabilidade da sexta operação.
Ao fim da sexta operação deveríamos ficar com a geometria final pretendida, no
entanto o surgimento de rugas logo na primeira operação de embutido faz com que tenhamos
de apresentar soluções de maneira a que este componente possa ser obtido sem defeitos.
55
4.3.4 - Alterações ao Processo Original
O surgimento de rugas é originado por uma entrada para a matriz de material de uma
forma descontrolada. É esse material que entrou em excesso que dá origem a rugas ou a
pontos duros dentro das ferramentas.
Uma maneira simples e viável de corrigir essa entrada descontrolada de material, é
recorrendo à aplicação de freios nas ferramentas de embutido.
Estes freios vão reter o material de forma a que este escoe para dentro da matriz de
forma controlada e de maneira a que não surjam sobreposições de material.
Figura 63 - Freios adicionados às ferramentas da primeira operação.
4.3.5 – Resultados Finais Obtidos
Após a aplicação dos freios foi feita nova simulação e os resultados finais foram mais
satisfatórios, uma vez que as rugas que antes surgiam no fim da primeira operação foram
eliminadas e também os resultados obtidos nesta nova simulação em relação à formabilidade
são melhores do que aqueles que foram obtidos na primeira simulação.
56
Figura 64 - Resultado da simulação após colocação de freios em vista de formabilidade.
Figura 65 - Resultados em vista de probabilidade de formação de rugas.
No entanto, no fim da última operação, nos rebordados obtidos há o risco de rotura do
material.
57
Figura 66 - Detalhes dos resultados obtidos nos três furos rebordados.
Para tentar resolver este problema, foi selecionada, no software de simulação, uma
lubrificação especial para esta última operação de rebordado dos furos. Após decorrida uma
nova simulação os resultados obtidos são os demonstrados.
Figura 67 - Resultados da simulação numérica do processo após a alteração na lubrificação.
58
Figura 68 - Comparação de formabilidade do rebordo dos furos antes (à esquerda) e após (à direita) a mudança efetuada na lubrificação.
Podemos então ver que houve uma melhoria significativa na formabilidade do
rebordado ao variar apenas as condições de lubrificação no processo de rebordar os furos
Isto prova a utilidade da simulação das ferramentas de embutidura, recorrendo à
simulação numérica, antes de estas entrarem em fase de ensaios, pois tal permite prever quais
os defeitos que o componente irá ter aquando da sua realização na ferramenta, propor
soluções para a resolução desse mesmo problema e analisar os efeitos das soluções propostas
de uma maneira fácil e menos demorada do que se a ferramenta fosse ensaiada de cada vez
que fosse efetuada uma alteração.
59
5 - Conclusões e Trabalhos Futuros
A simulação numérica é uma ferramenta poderosa para melhor pensar e realizar os
processos de obtenção de componentes a partir de operações de conformação plástica. O uso
deste tipo de software permite, a partir das geometrias dos componentes e de uma maneira
rápida e simples, idealizar um processo inteiro, desde o tipo de formato ou banda a utilizar, até
à análise da formabilidade e qualidade superficial do componente final obtido, passando pelas
geometrias das ferramentas para a realização do processo.
A partir deste trabalho é possível perceber o quão fácil é obter um esboço de chapa
ótimo e colocá-lo na banda de chapa de maneira a que seja ocupada a maior área de chapa
possível, minimizando o desperdício, e de maneira a que o esboço obtido se ligue ao esqueleto
de uma forma exequível. Com um desenho de como a peça se encontra na banda, podemos
então partir para uma orçamentação que, para além de rápida, é a mais acertada e
competitiva possível.
Também podemos observar como poderá ser eficiente prever a possibilidade de
realização de uma peça e quantos passos serão necessários para que determinado processo
resulte numa geometria sem erros. Isto permite que seja feita uma estimativa de todo o
processo de fabrico de um determinado componente da maneira mais segura, sem perder
competitividade.
Foi ainda demonstrada a possibilidade de análise da geometria de uma ferramenta, ou
conjunto de ferramentas, de modo a prever quais as operações em que ocorrerão os defeitos
presentes na peça embutida final e, além disso, analisar o efeito de eventuais correções que
sejam feitas às ferramentas para eliminar esses mesmos erros. Com isto poupamos tempo de
ensaios de ferramenta em prensa e também tempo de reparação da ferramenta na
ferramentaria.
Como trabalhos futuros seria importante a validação dos resultados obtidos na
simulação numérica, através da oportunidade de realização de ensaios experimentais que
permitam comparar os valores obtidos nos ensaios com os valores obtidos nas simulações
numéricas.
60
Referências
[ASM 1988] American Society for Metals; “Metals Handbook Ninth Edition – Vol 14, Forming
and Forging”, ASM International, 1988;
[AutoForm 2010] AutoForm 4.1 Workshop Manual, AutoForm Engineering GmbH, 2010
[AutoForm 2011] AutoForm Plus R4 Start-up Training Process Engineering, AutoForm
Engineering GmbH, 2011
[AutoForm 2012] http://www.autoform.com/en/ acedido em Novembro de 2012
[Autosteel] www.autosteel.org, acedido em Dezembro de 2012
[Dias 2010] F. Teixeira-Dias, J. Pinho-da-Cruz, R. A. Fontes Valente, R. J. Alves de Sousa,
“Método dos Elementos Finitos”, ETEP - Edições Técnicas e Profissionais, 2010;
[Estampagem 2011] Caderno de encargos de pequena e média estampagem, Gestamp
Portugal, 2011;
[Fragoso 2011] João Bruno Rodrigues Fragoso, "Desenvolvimento e Concepção de
Ferramentas de Estampar", Dissertação de Mestrado, Faculdade de Engenharia, Universidade
do Porto, Janeiro 2011.
[Gestamp 2013] www.gestamp.com acedido em Novembro de 2012
[IDDRG] http://www.iddrg2013.ethz.ch/cms/, acedido em Janeiro de 2013
[Keytometals] www.keytometals.com, acedido em Dezembro de 2012
[Llewellyn 2000] D. Llewellyn, R.C. Hudd, “Steels: metallurgy and applications”, Butterworth-
Heinemann, 2000.
[Malheiro 2012] Luís Norberto Teixeira Malheiro, "Caracterização Mecânica de Materiais em
Chapa Metálica e Problemas de Formabilidade em Componentes para Automóveis",
Dissertação de Mestrado, Faculdade de Engenharia, Universidade do Porto, Junho de 2012.
[Manual 2012] Manual do trabalhador da Gestamp Portugal, Gestamp Portugal, 2012;
[Ribeiro 2011] Ricardo Manuel Pinto Ribeiro, "Análise Operacional de Rupturas em
Ferramentas de Estampagem Progressiva", Dissertação de Mestrado, Faculdade de
Engenharia, Universidade do Porto, Fevereiro 2011.
[Rodrigues 2010] Jorge Rodrigues, Paulo Martins, “Tecnologia Mecânica – 2ª Edição”, Escolar
Editora, 2010;
[Rossi 1971] Mario Rossi, “Estampado en frio de la chapa – 9ª Edición”, Hoepli Editorial
Científico Médica; 1971
[Santos 2005] A.Dias dos Santos, J.Ferreira Duarte, A.Barata da Rocha, “Tecnologia da
Embutidura”, Edição INEGI, 2005;
61
Anexos
Anexo A – Realização de expositor para componentes fabricados na
Gestamp Portugal LDA.
Durante o tempo de estágio na empresa Gestamp Portugal surgiu a oportunidade de
realizar um projeto para se expor grande parte dos componentes que são fabricados nas suas
instalações fabris.
Foi então sugerido que ser realiza-se uma estrutura em tubos de aço inox, com a forma
de um automóvel, de maneira a que, além das peças estarem expostas, também se desse uma
ideia de onde estas se encontrariam nas viaturas das quais fazem parte.
Como primeiro passo foram reunidas as peças de cinco projetos de veículos num só
ficheiro 3D para termos a ideia da forma que a estrutura tubular teria de ter de modo a que
cada peça ficasse no seu lugar e também que fosse dada a ideia da forma de um automóvel.
Uma vez reunidas as peças, foi idealizada uma estrutura e adicionada ao ficheiro 3D
com o conjunto das peças.
Figura 69 - Conjunto de peças e estrutura tubular idealizada.
62
Depois de realizado e aprovado o desenho, passou-se à sua construção. Para tal foram
usados tubos e esquinas de aço inoxidável que foram unidos recorrendo ao processo de
soldadura TIG.
Figura 70 - Primeiros passos da realização da estrutura.
63
Figura 71 - Estrutura em bruto com algumas peças colocadas.
64
Figura 72 - Estrutura em bruto com algumas peças colocadas.
Figura 73 - Estrutura já finalizada e polida.
65
Figura 74 - Estrutura final com as peças já colocadas.
Este projeto foi especialmente interessante uma vez que permitiu conhecer melhor
todos os componentes e projetos que são realizados neta empresa e também as tecnologias
usadas para a sua realização.