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APLICAÇÃO DA KINESIO® TAPING NA SUBLUXAÇÃO DE OMBRO
EM PACIENTES PORTADORES DE ACIDENTE VASCULAR
CEREBRAL CRÔNICO
Virginia Lopes de Souza Matos1, Thiago Vilela Lemos
2, Felipe Moreira Campos
3, Lorrane
Barbosa Lucas4.
Maryane Leandro Prudente Marçal5.
RESUMO: O presente artigo tem por objetivo comprovar a eficácia da aplicação da
Kinesio® Taping na subluxação de ombro em pacientes portadores de Acidente Vascular
Cerebral e as consequentes melhoras na simetria do ombro e a projeção corporal do centro de
gravidade. Participaram do estudo três sujeitos com subluxação de ombro. Porém, apenas dois
sujeitos cumpriram todo o protocolo da pesquisa. Foram submetidos a uma avaliação inicial
da subluxação de ombro através de exames físicos e pelo programa de Biofotogrametria. Os
três sujeitos receberam a aplicação da Kinesio® Taping no ombro, três tipos de aplicação
foram realizadas, uma aplicação em “Y” e duas em “I”. O tratamento teve duração de 15 dias
e após três aplicações os sujeitos foram reavaliados. Os resultados obtidos mostraram uma
diminuição da subluxação de ombro, em média, de 4,13cm. Melhora do alinhamento
horizontal dos acrômios, em média, de 9,05°. Quanto à simetria horizontal em graus da
escápula em relação à T3, foi obtido em média, 44,2° de melhora. Considerando o plano
frontal, a projeção do centro de gravidade encontrava-se em -26,5% e, ao final, estava em
15,8%. O sujeito (C) iniciou-se com 61,7% e ao final 17,1%. Conclui-se que A Kinesio®
Taping contribui para diminuição da subluxação de ombro, além de promover uma melhor
simetria corporal e uma melhor projeção do centro de gravidade. Podendo ser utilizada de
forma isolada ou em conjunto com outro tipo de tratamento fisioterapêutico.
Palavras-chaves: Kinesio Taping. Acidente Cerebrovascular. Subluxação. Ombro.
Biofotogrametria computadorizada. Fisioterapia.
Citações: Virginia LSM, Maryane LPM. Aplicação da Kinesio® Taping na subluxação de
ombro em pacientes portadores de acidente vascular cerebral crônico.
ABSTRACT: This article aims to demonstrate the effectiveness of the application of
Kinesio® Taping on shoulder subluxation in patients with stroke and the consequent
__________________________________
1. Graduada em Fisioterapia pela UNIFAN-GO e pós-graduando em Fisioterapia Cardiopulmonar no CEAFI-GO. E-mail: [email protected]
2. Graduado em Fisioterapia pela PUC-GO, especialista em Acupuntura e Fisioterapia Esportiva e Mestre em Fisioterapia Traumato-Ortopédica. E-mail: [email protected]
3. Graduado em Fisioterapia pela Universidade Estadual de Goiás – UEG, especialista em Fisioterapia Traumato-Ortopédica. E-mail: [email protected]
4. Graduada em Fisioterapia pela Universidade Estadual de Goiás (UEG). E-mail: [email protected] 5. Graduada em Fisioterapia pela Universidade Estadual de Goiás (UEG), mestre em Ciências Ambientais e Saúde
pela PUC-GO. E-mail: [email protected]
2
improvement in the symmetry of the shoulder and the projection of the body center of
gravity. Participants were three subjects with shoulder subluxation. However, only two
subjects completed the entire study protocol. Underwent an initial assessment of shoulder
subluxation through physical examinations and the program biophotogrammetry. The
subjects received three application of Kinesio Taping shoulder, three application types were
performed, one application "Y" and two "I". The treatment lasted 15 days and after three
applications the subjects were reassessed. The results showed a decrease in shoulder
subluxation averaged 4.13 cm. Improved horizontal alignment of acromions on average 9.05
°. As for horizontal asymmetry in degrees relative to the scapula T3 got an average of 44.2 °
improves. In relation to the projection center of gravity of the subject (B) in relation to the
asymmetry of the frontal plane was initiated with the end -26.5% and 15.8%. The subject (C)
was initiated with 61.7% and 17.1% at the end. We conclude that the Kinesio Taping ®
contributes to decreased shoulder subluxation, and promote a better body symmetry and
better projection of the center of gravity. It can be used alone or in conjunction with other
physical therapy.
Keywords: Kinesio Taping ®. Stroke. Shoulder subluxation. Biophotogrammetry.
Physiotherapy.
Citation: Virginia LSM, Maryane LPM. Application effectiveness of Kinesio Taping ® on
shoulder subluxation in patients with chronic stroke.
1.INTRODUÇÃO
Acidente Vascular Cerebral
O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é uma doença cerebrovascular que pode ser
apresentada como isquêmico ou hemorrágico, além de transitório ou definitivo, possui uma
grande incidência de mortes ocorridas em todo mundo, apesar de que há alguns anos houve
um declínio do mesmo devido a população estar melhor informada e preocupada com a
prevenção. No entanto, o AVC ainda é uma doença que mata grande parte dos brasileiros e
causa grandes consequências físicas e neurológicas, fazendo com que as capacidades
funcionais sejam comprometidas, dificultando a realização das Atividades de Vida Diária
(AVD’s) (SANTOS et al., 2010; BATISTA et al., 2008).
As doenças cardiovasculares compreendem as principais causas de Acidente Vascular
Cerebral Isquêmico (AVCI), tais como o infarto do miocárdio, doença valvular, doenças
cardíacas congênitas, arritmias, diabetes mellitus (DM) e doenças sistêmicas com a produção
de êmbolos. Acidente Vascular Cerebral Hemorrágico (AVCH) em geral, as hemorragias que
ocorrem devido à ruptura de importantes artérias cerebrais em decorrência principalmente de
Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) compreendem a maior incidência do AVCH
(PIASSAROLI et al., 2011; RADANOVIC, 2000).
Entre os sintomas mais característicos destacam-se a perda da consciência, da
3
coordenação, da fala ou compressão da mesma, espasticidade, perda completa ou da metade
do campo visual e alteração da marcha (PIASSAROLI et al., 2011).
No paciente com AVC, a hemiplegia é muito característica, ocasionando
comprometimento do complexo do ombro, o que altera sua biomecânica. E com a
instabilidade da articulação gleno-umeral, as complicações se tornam evidentes, ocorrendo
modificação dos padrões normais do movimento do mesmo. Isso ocorre porque na fase aguda
da hemiplegia, suas estruturas estarão mais propícias a certas patologias por haver flacidez na
musculatura que envolve as estruturas do ombro. Ao movimentar ou até mesmo transferir esse
paciente de forma inadequada facilitará que a subluxação ocorra (SANTOS et al., 2010).
Subluxação de Ombro
A prevalência da subluxação de ombro em pacientes portadores de AVC varia entre
17% a 75%, essa ampla variação ocorre devido aos métodos que são aplicados para
diagnosticar o mesmo, como exames clínicos ou por imagem (SILVA; RIBEIRO;
BATISTELLA, 2000).
Dor, lesões do plexo braquial, capsulite adesiva e lesões dos músculos
supraespinhoso, infraespinhoso, redondo menor e subescapular (bainha rotatória) e limitação
da amplitude do movimento podem ocasionar uma subluxação do ombro (CORRÊA et al.,
2009). Através da manifestação clínica é possível diagnosticar, porém não há nenhuma forma
para se quantificar o grau da subluxação (SANTOS et al., 2010).
É preciso restaurar o mecanismo de travamento do ombro, corrigir a escápula e a
fossa glenóide em relação a suas posições, não se esquecendo que a atividade ou o tônus
muscular precisam ser estimulados, além de manter a amplitude de movimento sem gerar dor
ou trauma nas articulações envolvidas (SANTOS et al., 2010)
Para uma avaliação fidedigna e com parâmetros, a Biofotogrametria
Computadorizada é um recurso que pode ser usado para diagnósticos e avaliação funcional
pelos fisioterapeutas, em diferentes áreas, vários estudos já foram demonstrados a sua
validade. A Biofotogrametria Computadorizada foi desenvolvida pela aplicação dos
princípios fotogramétricos às imagens fotográficas obtidas em movimentos corporais. A essas
imagens foram aplicadas bases de fotointerpretação, gerando uma nova ferramenta de estudo
da cinemática (BARAÚNA et al., 2006).
Uma variada gama de técnicas podem ser utilizadas no tratamento da subluxação de
ombro em pacientes hemiplégicos, tais como cinesioterapia, hidroterapia, eletroterapia como
4
corrente russa, corrente farádica e a estimulação elétrica funcional (FES), Facilitação
Neuromuscular Proprioceptiva (PNF) e Conceito Neuroevolutivo Bobath. Além dessas
técnicas é preciso de outro instrumento para que a ação dos exercícios sejam mantidos por um
tempo maior. Essa manutenção pode ser adquirida através da Kinesio® Taping (SANTOS et
al., 2010).
Kinesio® Taping
A Kinesio® Taping (KT) foi criada pelo quiropraxista Kenso Kase em 1973, no
Japão. Como Kenso, inicialmente, utilizava o método para aplicação em desportistas, criou-se
então um material que mais se assemelhasse a elasticidade da pele humana (peso e espessura)
(ESPEJO; APOLO, 2011). A Kinesio® é constituída por um tecido fino e poroso, com
ausência de látex, porém adesiva, ativada pela temperatura da pele (KAHANOV, 2007;
ESPEJO; APOLO, 2011). A bandagem elástica possibilita sua aplicação sobre a pele,
esticando-se em até a 140% a mais do seu comprimento original, resultando em um
mecanismo de compressão (FU et al., 2008). A quantidade de tração colocada na bandagem e
a direção que a mesma será aplicada definirá seus efeitos terapêuticos (KAHANOV, 2007).
As propostas para o uso da KT são variadas, incluindo a correção da função
muscular, fortalecimento da musculatura debilitada, diminuição de edemas através da melhora
da circulação sanguínea e linfática, diminuição da dor, correção de desalinhamento articular,
melhora a amplitude de movimento e o aumento da propriocepção por aumentar a excitação
dos mecanoceptores cutâneos, podendo ser aplicada em qualquer musculatura ou articulação
(RIBEIRO et al., 2009; THELEN et al., 2008). Além de todos os benefícios oferecidos pela
KT, o material é impermeável, podendo assim ter contato com a água e pode ser utilizado de 3
a 5 dias, dependendo das necessidades (TSAI et al., 2009).
Nos últimos anos novas pesquisas têm sido realizadas para comprovação da eficácia
da bandagem na neurologia (SAYGI et al., 2010), na pediatria (RIBEIRO et al., 2009;
YASUKAWA; PATEL; SISUNG, 2006) e na reumatologia (ZUK; ORTOWSKA, 2008).
Cabe destacar que ainda não há critérios metodológicos padronizados. Por tais motivos,
considera-se necessário artigos de revisão de literatura para melhor serem analisados
resultados obtidos por pesquisadores (ESPEJO; APOLO, 2011).
5
2.CASUÍSTICA E MÉTODO
Este estudo se tratou de uma pesquisa longitudinal e quantitativa. Participaram do
estudo três sujeitos com diagnóstico de AVC, de ambos os gêneros, com idade entre 45 a 65
anos, apresentando subluxação de ombro. Foram excluídos do estudo os sujeitos apresentando
cognitivo não preservado, utilizando estabilizadores de ombro, apresentando outras doenças
ortopédicas em ombro e/ou neurológicas associadas, além dos sujeitos cadeirantes. Todos os
sujeitos selecionados estavam em atendimento Fisioterapêutico na Associação dos Deficientes
Físicos do Estado de Goiás (ADFEGO), duas vezes por semana com duração de 40 minutos
cada sessão. Após leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), todos
assinaram o Termo de Participação da Pessoa como Sujeito (TPPS).
Foram submetidos a uma avaliação inicial da subluxação de ombro através de
exames físicos. Marcadores foram utilizados em alguns pontos de acordo com o protocolo
elaborado para este estudo (Quadro 1).
Quadro 1. Protocolo de avaliação
Vista anterior
Nível dos acrômios
Comprimento dos membros
superior
Perfil
Distância entre acrômio e tubérculo maior do úmero
Vista anterior /
perfil / posterior
Projeção do centro de gravidade em relação à assimetria do
plano frontal
Fonte: adaptado de SANTOS, 2010.
O tratamento teve duração de 15 dias. Primeiramente foi realizada a avaliação
postural através do programa Biofotogrametria. Para fazer as imagens foi utilizada uma
câmera fotográfica Sony 14.1MP. A máquina digital foi posicionada sobre um tripé nivelado,
com distância de 1,50m e altura de 93cm.
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Após a avaliação, os sujeitos iniciaram o protocolo de aplicação da Kinesio® Taping.
Alguns cuidados foram tomados para a aplicação da bandagem, tais como: a higienização da
pele da região do ombro com álcool 70%, sujeitos sentados com pés apoiados ao solo.
Para a aplicação da Kinesio® Taping, a bandagem foi colocada em três diferentes
formas, segundo a técnica em “Y”, e as demais aplicações foram utilizadas a técnica em “I”,
completando assim, três aplicações. A bandagem em “Y” foi a primeira aplicação a ser
realizada, a mesma foi aplicada no músculo deltóide, com a finalidade de ativar o mesmo,
com uma tensão de aproximadamente 10%. Para a função mecânica, primeiramente foi
aplicada a Kinesio®Taping da musculatura do peitoral direcionando para a escápula do
mesmo lado, com uma tensão de aproximadamente de 50%, em seguida uma outra aplicação
mecânica, iniciando-se do músculo trapézio, passando pelo deltóide e ancorando em bíceps
braquial (Figura 1). As cores utilizadas na bandagem foram preta e azul.
Figura 1. Aplicação da Kinesio® Taping em “Y” no músculo deltóide e as demais
aplicações em “I”.
A aplicação ocorreu da seguinte forma: o paciente permanecia por dois dias com a
bandagem, após era retirada e reaplicada dois dias depois novamente, seguindo assim o
mesmo protocolo até completar as três sessões.
O sujeito (A) recebeu a aplicação da Kinesio® Taping apenas duas vezes, relatou
melhora no quadro álgico, porém desistiu da pesquisa em virtude da dificuldade de acesso ao
local da pesquisa. Os sujeitos (B) e (C) receberam aplicação da Kinesio® Taping em três
sessões.
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A análise das fotos foram feitas através do Software de Avaliação Postural (SAPO),
Posturograma e FisioMeter. Através de uma análise descritiva foram demonstrados os
resultados.
3. RESULTADOS
Na avaliação inicial o sujeito (B) apresentou uma distância em cm entre acrômio e
tuberosidade do úmero 2,31cm e ao final 1,97cm (Gráfico 1). O sujeito (C) apresentou em sua
avaliação inicial uma distância em cm entre acrômio e tuberosidade do úmero -2,07cm e ao
final -1,91cm (Gráfico 2). Os valores positivos são referentes ao ombro direito e os valores
negativos referentes ao ombro esquerdo.
Gráfico 1. Variação da distância em cm entre acrômio e tuberosidade do
úmero direito do sujeito (B)
1,8
1,9
2
2,1
2,2
2,3
2,4
INICIAL
FINAL
8
Gráfico 2. Variação da distância em cm entre acrômio e tuberosidade do úmero esquerdo do
sujeito (C)
No gráfico 3 foi possível observar a melhora do alinhamento horizontal dos
acrômios. O sujeito (B) apresentou em sua avaliação inicial 0,8° e ao final 0°. No gráfico 4 o
sujeito (C) apresentou -13,1° e ao final -4,2°.
Gráfico 3. Alinhamento horizontal em graus dos acrômios do sujeito B
-3
-2,5
-2
-1,5
-1
-0,5
0
INICIAL
FINAL
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
INICIAL
FINAL
9
Gráfico 4. Alinhamento horizontal em graus dos acrômios do sujeito C
Quanto à assimetria horizontal da escápula em relação à T3, também foi possível
observar o melhor alinhamento das mesmas. O sujeito (B) apresentou em sua avaliação inicial
24,2° e ao final 2° (Gráfico 5). O sujeito (C) apresentou -38,8° e ao final -23,4° (Gráfico 6).
Gráfico 5. Assimetria horizontal em graus da escápula em relação à T3 do sujeito (B)
-14
-12
-10
-8
-6
-4
-2
0
INICIAL
FINAL
0
5
10
15
20
25
30
INICIAL
FINAL
10
Gráfico 6. Assimetria horizontal em graus da escápula em relação à T3 do sujeito (C)
Quanto à projeção do centro de gravidade, considerando a simetria do plano frontal
do sujeito (B), observou-se inicialmente a projeção para o lado oposto à lesão, após a
aplicação, a projeção do mesmo foi para o mesmo lado da lesão. O sujeito (B) apresentou, em
sua avaliação inicial, -26,5% (Figura 2) e ao final 15,8% (Figura 3). Quanto ao sujeito (C),
observou-se uma diminuição da projeção para o lado oposto à lesão, inicialmente 67,1%
(Figura 4) e na avaliação final 17,1% (Figura 5).
Figura 2. Projeção do centro de gravidade inicial em relação à assimetria do plano frontal
do sujeito (B)
-45
-40
-35
-30
-25
-20
-15
-10
-5
0
INICIAL
FINAL
11
Figura 3. Projeção do centro de gravidade final em relação à assimetria do plano frontal
do sujeito (B)
Figura 4. Projeção do centro de gravidade inicial em relação à assimetria do plano frontal
do sujeito (C).
12
Figura 5. Projeção do centro de gravidade final em relação à assimetria do plano frontal
do sujeito (C).
4. DISCUSSÃO
A articulação do ombro além de ser a maior é a mais complexa existente no corpo
humano. O tônus do músculo supra-espinhal, o posicionamento correto do úmero na fossa
glenóide, onde o músculo deltóide o auxilia, posicionamento do ângulo da fossa glenóide e o
tônus dos músculos trapézio e serrátil anterior mantêm o ombro em sua posição normal e as
escápulas em seu alinhamento correto. Essas junções fazem com que a articulação do ombro
alcance grandes amplitudes de movimento, 180º na e abdução, fazendo com que gere uma alta
instabilidade na articulação, tornando propenso a subluxação (SILVA; RIBEIRO;
BATISTELLA, 2000).
Em 70 a 84% dos casos de AVC, existem dores relacionadas ao movimento e, nos
casos mais graves, ao repouso. Além de 17 a 66% dos pacientes portadores de AVC
apresentarem a subluxação de ombro (PIASSAROLI et al., 2011). Isso ocorre devido a
interrupção de um ou todos os componentes neurológicos do sistema nervoso central que
mantém a posição correta e dá funcionalidade ao complexo glenoumeral (CAILLET et al.,
2000).
No sujeito (A), a Kinesio® Taping foi aplicada apenas duas vezes, porém apresentou
melhoras consideráveis em relação ao quadro álgico do paciente, sugerindo que a efetividade
da Kinesio® pode ser imediata.
13
A Kinesio® Taping atualmente tem sido utilizada tanto para prevenção quanto para
processo de reabilitação (HALSETH et al., 2004).
Conforme alguns estudos, a bandagem sendo colada na pele permite estímulos
mecânicos constantes e duradouros são percebidos em nível cortical, produzindo assim
resposta motora, além de permitir os estímulos somatossensoriais aferentes. Estes estímulos
no sistema tegumentar podem auxiliar na neuroplasticidade do sistema nervoso (STUPIK et
al., 2007).
Em um estudo realizado por Santos et al. (2010), com 3 pacientes portadores de
AVC, foi verificado a influência da Kinesio® Taping no tratamento de subluxação inferior de
ombro, os sujeitos da pesquisa, receberam a aplicação da Kinesio® Taping no músculo
deltóide, sendo que após 2 meses de tratamento foi realizada uma nova avaliação. Como
resultados, foi verificada uma diminuição da subluxação inferior de ombro, bem como
aumento do movimento de flexão do ombro, uma melhora da simetria postural, além de um
aumento no movimento de extensão e abdução e de adução horizontal, concluindo assim que
a Kinesio® Taping, utilizada como recurso terapêutico, contribui para uma diminuição da
subluxação inferior de ombro, além de promover a melhora na simetria postural e diminuição
de compensações.
Em outro estudo realizado por Murray e Husk, (2001), foi analisado o efeito da
Kinesio® Taping na propriocepção de tornozelo e constataram que a mesma aumenta as
habilidades na amplitude média de movimento, além de aumentar a propriocepção na entorse
lateral em posições sem descarga de peso, na amplitude média de movimento, na qual os
mecanorreceptores ligamentares estão inativos.
Em um terceiro estudo analisado, a aplicação foi realizada nos músculos quadríceps e
ísquiotibiais e o resultado revelou que não ouve diferença significativa na força muscular após
a aplicação da Kinesio® em jovens saudáveis (FU et al., 2008). Já em outro estudo realizado
com vinte e sete pessoas saudáveis, a bandagem foi aplicada no músculo vasto medial, ouve
um aumento significativo de recrutamento de unidades do músculo motor e atividade
bioelétrica muscular, 24 horas após a aplicação, o seu efeito manteve por 48 após a remoção,
um exame realizado 72 horas após a aplicação da Kinesio® também mostrou um aumento
significativo (STUPIK et al., 2007).
Ambos os sujeitos avaliados na pesquisa assumiam uma projeção de gravidade
oposta à lesão antes da bandagem realizada, após a bandagem foi observado em um dos
sujeitos à projeção total para o lado da lesão e no outro sujeito a diminuição da projeção para
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o lado não lesado, é questionável que o estímulo proprioceptivo deve ter ocorrido nesses
pacientes, fazendo com que houvesse o reconhecimento do lado lesado.
A inibição ou ativar a função muscular, diminuir a dor, manter uma posição articular
e gerar a propriocepção pode ser facilitada através da Kinesio® Taping e um conjunto de
outros recursos (ZARACZEWSKA; LONG, 2006). A elevação proprioceptiva pela
estimulação sensorial como resultado da aplicação da Kinesio® gera um reforço ao controle
postural facilitando assim o retorno às atividades realizadas anteriormente pelo indivíduo
(HALSETH et al., 2004).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente pesquisa nos apresentou bons resultados com o uso da Kinesio® Taping,
onde a mesma contribuiu para diminuição da subluxação de ombro em média, 4,13cm, em
relação ao alinhamento horizontal dos acrômios ocorreu uma melhora em média de 9,05°,
quanto à simetria horizontal da escápula em relação à T3, foi obtido em média, 44,2°,
comprovando assim que a bandagem Kinesio® Taping promove uma melhor simetria
corporal. Observado os resultados referentes a projeção do centro de gravidade obtivemos
também resultados positivos, onde, após a bandagem em um dos sujeitos, a projeção foi
totalmente para o lado da lesão, no outro sujeito, ouve a diminuição da projeção do lado
oposto a lesão, concluindo assim que seja questionável o estímulo proprioceptivo, fazendo
com que houvesse o reconhecimento do lado lesado.
Apesar dos resultados positivos apresentados, é necessário que haja pesquisas com
um maior número de participantes, afinal existem pouquíssimos estudos referentes ao assunto
para fazermos comparações.
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