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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2012.0000373757

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 0000076-91.2009.8.26.0201, da Comarca de Garça, em que é apelante LEANDRO APARECIDO VIEIRA, é apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO.

ACORDAM, em 14ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores WILSON BARREIRA (Presidente), HERMANN HERSCHANDER E WALTER DA SILVA.

São Paulo, 2 de agosto de 2012.

Wilson BarreiraRELATOR

Assinatura Eletrônica

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PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA

14ª Câmara de Direito Criminal

0000076-91.2009.8.26.0201 - Garça 2

VOTO 25.745

Apelação nº 0000076-91-2009 - Garça

Apelante: LEANDRO APARECIDO VIEIRA

Apelado: MINISTÉRIO PÚBLICO

Adulteração de sinal identificador de veículo automotor Absolvição Necessidade.A conduta praticada pelo réu constitui mera infração administrativa, vez que o artigo 311 do Código Penal visa punir quem adultera ou remarca sinal que individualize o veículo, alterando a sua identidade, como o número do chassi ou do motor.

Vistos.

Pela r. sentença de fls. 186/191, prolatada pelo

MM. Juiz Rafael Rauch, cujo relatório se adota, LEANDRO

APARECIDO VIEIRA foi condenado às penas de 03 anos de

reclusão, em regime aberto, e 10 dias-multa, de valor unitário

mínimo, substituída a pena corporal por duas restritivas de

direitos, como incurso no art. 311, do Código Penal.

Inconformado, apela o réu, em busca de

absolvição, por atipicidade da conduta, em razão da ausência de

dolo.

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Processado o recurso, contra-arrazoado, a

Douta Procuradoria de Justiça manifestou-se pelo seu

provimento.

É o Relatório.

O apelo comporta provimento, ainda que por

motivo diverso daquele sustentado pela i. Defesa.

Segundo restou apurado nos autos, o acusado

foi abordado em patrulhamento de rotina na condução de uma

motocicleta Yamaha, ”YBR 125”, cor preta, chassi

9C6KE013020027758, constatando-se que a placa instalada no

veículo BJU-4246 Garça/SP não condizia com os dados

verificados no sistema da PRODESP. Segundo tais dados,

referida placa pertencia à outra moto.

Indagado sobre os fatos, o réu confessou que

a placa não pertencia ao veículo que conduzia. Alegou que

adquiriu a moto na oficina “Zica Motos”, pelo valor de R$ 650,00,

ciente de que ela era proveniente de leilão de sucata e, portanto,

não poderia ser utilizada como veículo.

Quanto à placa de identificação, alegou que a

encontrou jogada numa estrada de terra próxima à “Corredeira” e

instalou-a em sua motocicleta uma semana antes da abordagem

policial (fls. 06 na fase judicial, foi declarado revel cf. fls. 146).

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Suas declarações extrajudiciais foram

corroboradas pelas testemunhas de acusação arroladas durante

a instrução criminal (fls. 147/149, 157/160 e 172).

Confirmado está nos autos, portanto, que

houve a efetiva substituição das placas da moto. Todavia, a

simples troca de placas originais não se presta a adulterar sinal

identificador de veículo, sendo efetivada apenas para burlar a

identificação visual e não a identificação pericial, já que pela

numeração do chassi, é possível a identificação do veículo.

Embora reprovável, a conduta praticada pelo

réu constitui mera infração administrativa, vez que o artigo 311 do

Código Penal visa punir quem adultera ou remarca sinal que

individualize o veículo, alterando a sua identidade, como o

número do chassi ou do motor.

Dessa forma, não comprovada a adulteração

de sinal identificador obrigatório do veículo, mas tão-só

adulteração de mero sinal externo, permanece a motocicleta em

condições de ser identificada de forma individualizada, bastando

para tanto conferir-se a presença dos sinais identificadores

essenciais.

Conforme lição constante do “Código Penal

Comentado”, de Celso Delmanto e outros, “não se está alterando

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sinal identificador obrigatório do veículo, mas mero sinal externo

(placas), de forma que o veículo permanece sendo perfeitamente

individualizado, bastando conferir o número do chassi não

adulterado” (7ª edição, p. 775).

Nesse sentido, é a jurisprudência deste E.

Tribunal:

“ADULTERAÇÃO DE SINAL

IDENTIFICADOR DE VEÍCULO AUTOMOTOR —

Artigo 311 do Código Penal — Pretendida

absolvição — Admissibilidade. Adulteração das

letras das placas do veículo por meio de fita

adesiva — Prática transitória sem alterar

permanentemente a identificação do automóvel.

Conduta que não traz a intensidade criminosa que

lhe empresta o tipo penal. Falso, ademais,

absolutamente grosseiro e inócuo. Artigo 386, III,

do Código de Processo Penal. Recurso Provido”

(Apelação Criminal nº 295.579-3 – 2ª Câmara

Criminal – Relator Desembargador Canguçu de

Almeida j. 26.05.2003).

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Tratando-se de mera infração administrativa,

portanto, imperiosa a absolvição quanto ao delito previsto no

artigo 311 do Código Penal.

Ante o exposto, dá-se provimento à apelação

para absolver LEANDRO APARECIDO VIEIRA da imputação de

infração ao art. 311, do Código Penal, o que se faz com

fundamento no art. 386, III, do Código de Processo Penal.

WILSON BARREIRA

RELATOR