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23 APÍTULO 1 SOBRE A PESQUISA EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA Neste capítulo, discute-se sobre a pesquisa em Educação Matemática no âmbito nacional e internacional. O limite desta discussão está nas abordagens de alguns autores sobre a constituição da pesquisa na área. Considera-se pertinente uma ordem cronológica em termos de sequência lógica de fatos e ideias. Parte-se, portanto, no âmbito nacional, da Sociedade Brasileira de Educação Matemática SBEM, fundada para consolidar pesquisadores, professores e interessados na área com vínculos, interesses e preocupações comuns. A SBEM tem como missão desenvolver a formação matemática de todos os cidadãos de nosso país, além de promover o desenvolvimento da Educação Matemática como conhecimento cientifico, por meio de estimulo ás atividades de pesquisa e estudo acadêmicos. A seguir, apresenta-se, a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação ANPED 1 como um espaço de referência de produção em educação que desenvolve através de produção cientifica discussão teórica da área de Educação. Pontua-se, portanto, o trabalho do Grupo de Trabalho (GT 19) que versa sobre a produção cientifica na área de Educação Matemática que contempla discussões do tema Metodologia de Pesquisa. No âmbito internacional, em 1997 representantes de 16 países europeus estabelecem uma nova sociedade a European Reseach in Mathematics Education ERME, com a fundação desta sociedade, em 1998, aconteceu o primeiro Congress European Research in Mathematics Education CERME. Esta sociedade, a ERME, apoia diferentes pesquisas na Europa, prepara os estudantes de pós-graduação como pesquisadores, e desenvolve atividades que ajudam a alcançar os três C que são os objetivos entre os membros do ERME: Comunicação, Cooperação e Colaboração. O CERME promove justamente os três C que são objetivos do ERME como forma de assumir a necessidade de saber mais sobre a pesquisa e como tem sido feita, e, por este motivo, oferece como oportunidade a discussão sobre os três C entre os investigadores. Uma característica importante é que os membros dos grupos temáticos trabalham em um espaço comum de investigação. Há pelo menos um grupo temático de trabalho que discute sobre as 1 Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação. Disponível em: http://www.anped.org.br/. Acesso em: 25.07.2016 C

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APÍTULO 1

SOBRE A PESQUISA EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

Neste capítulo, discute-se sobre a pesquisa em Educação Matemática no âmbito

nacional e internacional. O limite desta discussão está nas abordagens de alguns autores sobre

a constituição da pesquisa na área. Considera-se pertinente uma ordem cronológica em termos

de sequência lógica de fatos e ideias.

Parte-se, portanto, no âmbito nacional, da Sociedade Brasileira de Educação

Matemática – SBEM, fundada para consolidar pesquisadores, professores e interessados na

área com vínculos, interesses e preocupações comuns. A SBEM tem como missão

desenvolver a formação matemática de todos os cidadãos de nosso país, além de promover o

desenvolvimento da Educação Matemática como conhecimento cientifico, por meio de

estimulo ás atividades de pesquisa e estudo acadêmicos.

A seguir, apresenta-se, a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em

Educação – ANPED1 como um espaço de referência de produção em educação que

desenvolve através de produção cientifica discussão teórica da área de Educação. Pontua-se,

portanto, o trabalho do Grupo de Trabalho (GT 19) que versa sobre a produção cientifica na

área de Educação Matemática que contempla discussões do tema Metodologia de Pesquisa.

No âmbito internacional, em 1997 representantes de 16 países europeus estabelecem

uma nova sociedade a European Reseach in Mathematics Education – ERME, com a

fundação desta sociedade, em 1998, aconteceu o primeiro Congress European Research in

Mathematics Education – CERME. Esta sociedade, a ERME, apoia diferentes pesquisas na

Europa, prepara os estudantes de pós-graduação como pesquisadores, e desenvolve atividades

que ajudam a alcançar os três C que são os objetivos entre os membros do ERME:

Comunicação, Cooperação e Colaboração.

O CERME promove justamente os três C que são objetivos do ERME como forma de

assumir a necessidade de saber mais sobre a pesquisa e como tem sido feita, e, por este

motivo, oferece como oportunidade a discussão sobre os três C entre os investigadores. Uma

característica importante é que os membros dos grupos temáticos trabalham em um espaço

comum de investigação. Há pelo menos um grupo temático de trabalho que discute sobre as

1Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação. Disponível em: http://www.anped.org.br/.

Acesso em: 25.07.2016

C

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diferentes perspectivas teóricas na pesquisa. Neste grupo temático, há discussões cujo tema é

a Metodologia de Pesquisa.

Após dialogar sobre os eventos que englobam a área, trata-se cronologicamente do

trabalho pioneiro do pesquisador Dario Fiorentini que, em 1984, desenvolveu uma tese sobre

o estado da arte da pesquisa brasileira em Educação Matemática sistematizando dissertações e

teses, descrevendo, historicamente, a trajetória da área e as abordagens teórico-metodológicas

de Resolução de Problemas e Modelagem Matemática. Depois, falar-se sobre o programa

desenvolvido por Hans-Georg Steiner (1985;1987) denominado de Teoria da Educação

Matemática – TME, com raiz no Instituto de Pesquisas em Didática da Matemática – IDM,

cuja a preocupação era em sistematizar os fundamentos teóricos e metodológicos para a

pesquisa em Educação Matemática.

Conclui-se, este capítulo, com as ideias de Jeremy Kilpatric (1996; 1996a) para a

constituição da área de Educação Matemática e o trabalho de revisão bibliográfica que

envolve a busca da identidade em Educação Matemática através do domínio de pesquisa com

Anna Sierpinksa e Jeremy Kilpatric (1998).

1.1 Eventos Nacionais e Internacionais sobre Pesquisa em Educação Matemática

A pesquisa é delineada em uma determinada área, como um espaço, um ponto de

encontro, entre as diversas obras, com possibilidade de intersecção com outras áreas, com o

que o pesquisador escolhe trabalhar. Um relacionamento dinâmico e dialético é o que

acontece entre o pesquisador e a pesquisa que desenvolve. O pesquisador sente-se motivado e

envolvido por uma determinada teoria, e sempre questiona como aplicá-la, como interpretá-la,

temperado pela comunidade de Educação Matemática na qual faz parte. Para este fim, a

realização de eventos científicos possibilita o intercambio, o diálogo entre os pesquisadores da

área.

Com a finalidade de trabalhar pela consolidação da Educação Matemática, enquanto

área de conhecimento foi fundada em 1988 a Sociedade Brasileira de Educação Matemática –

SBEM. Atualmente, a SBEM, conta com quatorze (14) grupos de trabalho – GT (conforme

tabela 1 abaixo) que, de modo geral, se preocupam em compreender matemática, como

interpretar matemática, e o fazer matemática, incluindo desde o estudante até o professor.

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TABELA 1 - Grupo de Trabalho Sociedade Brasileira de Educação Matemática

FONTE: SBEM. Disponível em: http://www.sbembrasil.org.br/sbembrasil/. Acesso em: 16.04.2016

A cada três anos pesquisadores que integram os GT, acima mencionados, se reúnem

no Seminário Internacional de Pesquisa em Educação Matemática2 – SIPEM, como forma de

divulgar para a comunidade as pesquisas organizadas pelos Institutos de Ensino Superior –

IES. Neste evento, há maior intercâmbio entre pesquisadores nacionais e internacionais,

formação de parcerias entre os pesquisadores em projetos, além de investir na visibilidade da

produção brasileira sobre pesquisa em Educação Matemática no âmbito nacional e

internacional. Não foi encontrado discussão sobre metodologia de pesquisa nos anais do

SIPEM I até o IV.

Um evento que trata sobre parâmetros balizadores para a pesquisa em Educação

Matemática brasileira começou a partir do I Simpósio sobre Produção Cientifica na Educação

Matemática Paulista – SIPCEMP. Por iniciativa da SBEM – SP reuniram-se os representantes

vinculados às áreas de Educação/Ensino de Ciências e Matemática/Psicologia. Aconteceu o II

2 Seminário Internacional de Pesquisa em Educação Matemática. Disponível em:

http://www.sbembrasil.org.br/sbembrasil/index.php/anais/sipem. Acesso em: 18.03.2016

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SIPECEMP em 2007 na UNESP em Rio Claro para socializar a produção cientifica e

articulações entre as linhas de pesquisas e a formação do professor matemático do Estado de

São Paulo.

Preocupados com a qualidade das pesquisas, em termos teórico-metodológico, e as

condições de produção das pesquisas na área, o Grupo de Estudos e Pesquisas de Formação

de Professores que Ensinam Matemática – GEPFPM, da Universidade Estadual de Campinas

– UNICAMP, em 2011 promove na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”

- UNESP – Rio Claro, São Paulo, junto ao o Programa de Pós Graduação em Educação

Matemática – PPGEM, o “I Fórum de discussões sobre a pesquisa, denominado de

Parâmetros Balizadores da Pesquisa em Educação Matemática” 3.

O II fórum4 aconteceu em 2013 na UNICAMP com o objetivo de promover reflexão

critica sobre os pilares da pesquisa em Educação Matemática no Brasil, em seus entraves,

possibilidades e limitações nas perspectivas epistemológica, histórica, sociocultural,

econômica e acadêmica. Em 2015 o III fórum aconteceu na Pontifícia Universidade Católica

de SP no Campus Consolação com temas que integram Programas das Áreas de Ensino e de

Educação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES5, com

mapeamentos de novas pesquisas, e avaliação dos Mestrados Acadêmicos, Profissionais e a

produção de conhecimento.

A Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação – ANPED,

fundada em 1976, constitui-se em um importante espaço para a discussão sobre o

desenvolvimento de pesquisas na pós-graduação sobre a área de Educação no Brasil. Em 1997

professores da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP decidem propor um

grupo de trabalho em Educação Matemática. Inicialmente, em fase probatória, grupo de

estudos sobre Educação Matemática. Em 1999, na assembleia da ANPED o grupo de estudos

sobre Educação Matemática passou a ser um Grupo de trabalho - GT 19 – Educação

Matemática.

Dario Fiorentini, em 1994, desenvolveu mapeamento de 48 trabalhos aprovados pelo

Comitê Cientifico da ANPED no período de 1998-2001. O objetivo foi descrever analisar e

3 I Fórum de pesquisa. Parâmetros Balizadores da Pesquisa em Educação Matemática.

https://sites.google.com/site/eventodepesquisa/edicao-anterior. Acesso em: 18.03.2016. 4 II Fórum de pesquisa. Parâmetros Balizadores da Pesquisa em Educação Matemática.

https://sites.google.com/site/eventopesquisa2/home. Acesso em: 18.03.2016. 5 CAPES. Disponível em: http://www.capes.gov.br/. Acesso em: 06.09.2016.

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discutir problemas e tendências temáticas, e teórico-metodológicas relativas ao lugar da

pesquisa em Educação Matemática descrevendo e analisando tendências temáticas e

metodológicas dos trabalhos produzidos pelo GT 19. De um ponto de vista do

desenvolvimento de um referencial teórico-metodológico, a existência de temas ou linhas de

pesquisas viáveis e exequíveis do ponto de vista da pesquisa, geralmente já consolidado por

pesquisadores. (FIORENTINI, 1994).

O mapeamento, dos 80 resumos, das pesquisas qualitativas do GT 19, entre 1988 a

2014, foi escrito por Adair Mendes Nacarato, Ana Cristina Ferreira, Celi Espasandi Lopes,

Dario Fiorentini e Regina Celia Grando. O trabalho escrito por estes autores é fruto de uma

mesa-redonda sobre os problemas em metodologia de pesquisa na formação de professores de

matemática. Destaca a incoerência entre os pressupostos teóricos e a metodologia utilizada, a

dificuldade de sintetizar de forma coerente o objetivo do trabalho, bem como a insuficiência

de informação nos resumos. (NACARATO, et al., 2005)

O mapeamento sobre Engenharia Didática na ANPED teve como objetivo tecer

reflexões sobre as pesquisas fundamentadas na Engenharia Didática nos trabalhos

apresentados no período de 1999-2005. Como resultado muito dos trabalhos mapeados não

explicitaram claramente os pressupostos epistemológicos, cognitivos e didáticos da pesquisa

realizada, nem a escolha das variáveis envolvidas (ALMOULOUD, et al. 2008).

No âmbito internacional, como dito anteriormente na introdução, há na CERME o

grupo de trabalho TWG: Theoretical perspectives and approaches in mathematics education

research se dedica justamente a discutir as diferentes abordagens e perspectivas teóricas nas

várias práticas de pesquisa, explorando as possibilidades de como lidar com esta diversidade

para a constituição da área enquanto campo científico. Esta discussão levou os pesquisadores

desse fórum a uma reflexão sobre a natureza, os papeis e funções das teorias em Educação

Matemática, nas suas relações com as metodologias utilizadas nas pesquisas da área.

A discussão sobre trabalhos aceitos para o CERME resultou de pesquisas empíricas,

com base nos seguintes procedimentos:

1. A influência de diferentes teorias na análise dos dados: considerar um determinado

conjunto de dados ou fenômenos por meio de diferentes lentes teóricas e analisar as

diferenças resultantes; analisar as interações de duas ou mais teorias e como elas são

aplicadas à mesma pesquisa empírica;

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2. A relação entre teoria e pesquisa empírica: analisar como um paradigma de pesquisa

específico influencia a pesquisa empírica; exemplificar como estudos empíricos

contribuem para o desenvolvimento e evolução das teorias;

3. A relação entre pesquisa e prática por meio da análise de como a pesquisa influencia

na prática e vice-versa.

Observa-se, portanto, que nos espaços privilegiados de discussão delineados acima,

que a comunidade de Educação Matemática, no âmbito nacional e internacional, ao longo das

últimas décadas, vem se tornando uma área estabelecida de pesquisa. Uma área em

crescimento procurando consolidar quadros teóricos em construção permanente, que

incorpora diversos modos de construir saberes, com numerosos eventos, periódicos, série de

livros, conferências e fóruns.

Nas plenárias do CERME o grupo que pesquisa sobre as “Diferentes abordagens e

perspectivas teóricas na pesquisa em Educação Matemática” busca explicitar seus

pressupostos teóricos, bem como compreender a relação entre as diferentes teorias. Afunila-se

para a seguinte questão: Porque os pesquisadores adotam um método (particular) teórico ao

apresentar os resultados de sua pesquisa? Dentre as respostas possíveis pode-se incluir que

os pesquisadores adotam um método teórico, um modelo específico, por ser “moda” ou

porque o pesquisador trabalha em uma determinada cultura onde um determinado modelo é

aceito, ou pode o modelo abordar questões centrais que os pesquisadores procuram

compreender.

No CERME 5 as discussões apontam para pensar sobre a importância de se ter

diferentes metodologias de pesquisa em Educação Matemática a fim de possibilitar a escolha

por vários métodos. O uso de métodos qualitativos e quantitativos, para a metodologia de

pesquisa, denominada de multi-métodos que é um método de pesquisa que envolve coleta,

análise e integração de dados quantitativos e qualitativos em um único estudo ou em vários

estudos.

A vantagem da abordagem quantitativa são os testes que, geralmente, são

administrados para muitos participantes e onde são produzidos muitos dados em pouco tempo

com o custo baixo. Os dados são obtidos com base em uma amostra representativa, o que

significa que é mais provável generalizar com base nos dados as declarações feitas pelos

participantes. Todavia, a desvantagem desta abordagem é que os dados produzidos podem

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carecer de profundidade sobre o tema a ser pesquisado. Então, a aplicação de multi-métodos,

como por exemplo, a entrevista, pode favorecer a compreensão dos dados estatísticos, a

observação pode auxiliar a leitura dos testes com múltiplas questões fornecendo informações

sobre o conhecimento matemático no contexto onde está ocorrendo á investigação.

(PETROU, 2007)

A utilização de abordagem de estudo de caso nas pesquisas em Educação Matemática,

vem sendo adotada para explorar a relação entre dois aspectos do conhecimento matemático:

conhecimento da matéria - que consiste no conhecimento centrado na organização dos

principais fatos, conceitos sobre os processos pelos quais as teorias e os modelos são

produzidos e estabelecidos como válidos; o conhecimento pedagógico do conteúdo – inclui as

interpretações, exemplos e aplicações que os professores utilizam a fim de tornar

compreensível o assunto para o estudante. (PETROU, 2007)

A escolha de uma determinada metodologia de pesquisa relaciona-se a perspectiva

teórica adotada pelo pesquisador, que comumente é referida como paradigma de pesquisa. Na

literatura sobre pesquisa multi-métodos, existem diferentes posições de como paradigmas de

pesquisas informam o desenho de seu estudo. Ou seja, um tipo de método é mais apropriado

para certo tipo de pesquisa, enquanto outro tipo é mais apropriado para outro tipo de pesquisa.

(PETROU, 2007). No CERME 6 e 7, não houve discussão sobre metodologia de pesquisa.

No CERME 8 a comparação entre “Pesquisa - Baseada em Design “ (PBD)” e

Engenharia Didática “ (ED), foi para identificar as suas características básicas, semelhanças,

diferenças e possíveis complementaridades dos problemas, princípios teóricos e métodos”. A

Pesquisa - Baseada em Design é da família de abordagens metodológicas que estudam a

aprendizagem em contexto. Usa o design e análise sistemática de estratégias e ferramentas de

ensino tentando garantir a independência da pesquisa. A Pesquisa-Baseada em Design pode

auxiliar a criar e ampliar o conhecimento sobre o desenvolvimento e sustentação de

aprendizagem em ambientes inovadores. (GODINO, et al. 2013)

O design é utilizado como método de pesquisa para diferenciar do design de

delineamento experimental clássico: o objetivo central da concepção de ambientes de

aprendizagem e desenvolvimento de prototheories6 de aprendizagem está interligado; o

6 Prototheories ou proto-ciências são ciências em curso, para o qual não há lugar no edifício ensino da ciência

estabelecida, mas pode ser que o que ainda é uma teoria de fora, amanhã pode ser nos livros de ciência ou é

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desenvolvimento e pesquisa têm lugar através de ciclos contínuos de design, promulgação,

análise e redesenho; a pesquisa deve explicar e projetar cenários autênticos, com sucessos,

fracassos, interações que refinam a nossa compreensão de questões cujo aprendizado esteja

envolvido; os desenvolvimentos dos resultados estão baseados em métodos que se conectam

com promulgação de desfechos interessantes. (GODINO, et al.,2013)

Designs de experimentos são para desenvolver teorias e sintonizar com o que funciona

com o que é útil. São três fases: planejamento da experiência; experimentação para apoiar a

aprendizagem; análise retrospectiva dos dados gerados ao longo do experimento. As

experiências de design incorporam dois elementos críticos para guiar a melhoria da prática

educativa: a concepção e a avaliação. Estas experiências são complementadas por métodos de

estudos etnográficos, pesquisa clinica experimental ou quase experimental, para avaliar os

efeitos das variáveis independentes sobre variáveis dependentes, como também representam

desafios que podem ser comuns em outras pesquisas sobre educação, como por exemplo:

dificuldades decorrentes da situação cotidiana e a resistência ao controle experimental;

grandes quantidades de dados decorrentes da necessidade de combinar etnografia e análise

quantitativa. (GODINO, et al.,2013)

A Engenharia Didática é uma metodologia de pesquisa que se baseia na concepção e

avaliação de sequências teoricamente justificados de ensino da matemática, com a intenção de

desencadear a emergência de alguns fenômenos educativos e desenvolver recursos de ensino

cientificamente testados. A validação é essencialmente interna, com base no confronto entre a

priori e a posteriori. Sugere-se que a Engenharia Didática seja mais que uma metodologia de

pesquisa se destina igualmente a uma transposição didática viável no ensino, como um

produto tão importante quanto o método. De acordo com o objetivo da pesquisa a engenharia

pode produzir resultados de pesquisa com divulgação mais ampla de cenários utilizados, e

engenharia para o desenvolvimento e formação com produção de recursos para a formação de

professores. (GODINO, et al.,2013)

descartado como abordagem equivocada. Disponível em: http://www.prototheo.de/index-eng.html. Acesso em:

19.03.2016

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Para Engenharia Didática e Pesquisa-Baseada em Design, segundo o quadro 1 abaixo,

as questões paradigmáticas são um pouco semelhante, embora orientado e especificado à luz

da teoria subjacente. As situações fundamentais são modelos ou representações de

caracterizações de conhecimento matemático através das questões ou problemas para os quais

esse conhecimento é uma resposta. A posição epistemológica construtivista sobre o

conhecimento matemático, apoio da Engenharia Didática, foi destacada pela Teoria do

Antropológico do Didático (TAD) e da Abordagem Ontosemiotica (AOS).

Consequentemente, pode-se ver na PBD uma extensão da ED. A PBD não tem uma estrutura

teórica única ou preferida, enquanto a ED repousa sobre uma teoria a Teoria das Situações

Didáticas que fornece critérios para desenvolver situações fundamentais especificas para a

matemática e para conduzir o ensino-aprendizagem autononoma dos alunos.

Metodologicamente, o estudo preliminar proposto pela ED tem orientação na base da teoria

para a análise epistemológica do conhecimento matemático a ser ensinado. (GODINO, et

al.,2013)

O objetivo da PBD é desenvolver recursos instrucionais para melhorar o ensino e

aprendizagem da matemática com base em pesquisas. A pesquisa sobre intervenções

32

educativas depende criticamente dos referenciais teóricos utilizados que apoiam a concepção

e interpretação dos resultados. Diferente na PBD onde a pesquisa dependerá da teoria de base,

ou a falta da teoria, e, portanto, uma família de metodologias ou abordagens de pesquisas

educacionais. Uma vez que o objetivo é desenvolver um produto com base na pesquisa, pode

ser considerada como uma forma de engenharia. A Engenharia Didática francesa, como

tradição mais ampla, aborda um problema semelhante, embora apoiada por uma teoria

explícita que é a Teoria das Situações Didáticas. Pode-se considerar a ED um antecedente da

PBD e um exemplo particular da mesma. (GODINO, et al.,2013)

Designs de intrução com base em modelos teóricos diferentes a TSD são realizadas

para produzir uma variedade de projetos baseados em pesquisas. Os tipos de engenharia

didática, conforme a figura 1, compartilham problemas semelhantes. Para o pesquisador

apoiar seu trabalho em uma engenharia particular e explicar os resultados obtidos em cada

caso são necessárias novas análises para que esclareça detalhadamente (GODINO, et al.,2013)

os limites e possibilidades de seu uso.

Figura 1 - Variedade de Pesquisa - Baseada em Design (PBD)

Fonte: GODINO, et al. (2013, p.2817)

O CERME 8 traz discussão sobre “rede de métodos”. Considera-se, como método

entrevista com lembranças estimuladas. E, apresenta-se a caneta Livescribe como instrumento

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importante para a pesquisa por capturar in loco as impressões do pesquisado. Descreve

protocolos de pensar em voz alta (T-AP) e a abordagem de tarefas-baseadas em entrevista (T-

BI) para capturar dados na resolução de problemas. Estas abordagens dependem de relatos

verbais dos participantes que permita envolvimento em reflexão “ao vivo” no desempenho

“livre” de resolução de problemas a fim de provocar raciocínio. As abordagens foram

desenvolvidas em Educação Matemática no século XX é relevante para o pensamento do

novo pesquisador (HICKMAN; MONAGHAN, 2013)

Lembrança estimulada é um subconjunto de um conjunto de métodos introspectivos

que significa induzir dados sobre procesos de pensamentos envolvidos na realização de uma

tarefa ou atividade. A lembrança estimulada por entrevista normalmente envolve utilização de

um estimulo, tal como fita de áudio ou vídeos para “ativar o participante para reviver” o

episódio a ponto de ser capaz de fornecer retrospecto verbalizado de processo de pensamento

original. Permite que os investigadores explorem participantes, os conhecimentos, opiniões,

entendimentos, interpretações, experiências, interações, compartilhando principios

ontologicos e epistemológicos. A Livescribe é uma caneta digital com gravador de áudio

digital embutido que pode ser usada como caneta regular, mas registra em tempo real junto

com os sons para ser transferido para um computador e assim reproduzido. Tem sido um

estimulo para entrevista através da lembrança estimulada. (HICKMAN; MONAGHAN, 2013)

Estes métodos incidem sobre os seguintes temas: exemplos de estratégias para

conectar teorias (metodologias); condições para um diálogo produtivo entre teóricos

(metodologia); dificuldades e estratégias ao reunir resultados de diferentes quadros teóricos; o

papel do material empirico (dados de pesquisa) na rede e design de teorias; a interação entre

contextos e abordagens teóricas: a diversidade de abordagens em direção a diferentes culturas

e contextos. De forma especifica, levantou a discussão sobre a metodologia e sua relação com

a teoria, que o artefato Livescribe justamente com a Lembrança Estimulada por Entrevista

pode permitir que as redes de teorias/metodologias, e possivelmente construir uma

metodologia mais forte, pode-se também considerar estas duas posições meta-teorias em rede.

(HICKMAN; MONAGHAN, 2013)

No CERME 9 a discussão sobre metodologia da pesquisa foi um estudo introdutório

sobre o método mineração de dados7 em Educação Matemática. Este método é semelhante à

7 Educational Data Mining. Disponível em: http://www.educationaldatamining.org. Acesso em: 19.03.2016

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obtenção de minério de areia, onde o minério é o conhecimento. Podendo assim, ser

denominada de mineração de conhecimento, mas não é assim denominado porque a ideia é

colocar ênfase na grande quantidade de dados que com este método pode o pesquisador

trabalhar. As definições encontradas na literatura sobre mineração de dados são: metodologia

utilizada para identificar padrões ocultos em grande conjunto de dados; processo que analisa

os dados partindo de diferentes pontos de vista resumindo informações úteis; tecnologia usada

para descrever descoberta de conhecimentos e relacionamentos significativos. (ASKSOY, et

al.,2015)

As técnicas mineração deste método são: Clustering uma técnica que agrupa

automaticamente dados de segunda ordem por semelhança; Classificação e regressão – na

classificação a variável prevista é binária ou categórica, incluem-se dados educacionais

arvores de decisão, regressão logística e máquinas de vetor suporte, são modelos preditivos

que pode comparar o comportamento de estudantes de hoje com os do passado – na regressão

a variável prevista é a contínua, inclui-se dados educacionais como árvores de decisão e redes

Bayesian e pode ser usado para prever comportamento do estudante em um ambiente

educacional; Regras de associação são atributos de dados, regras características de

classificação e previsão para descrever uma situação futura. Em educação pode ser usada para

trazer regras interessantes sobre registros dos estudantes, fatos ocultos na compreensão do

comportamento do estudante em um ambiente de aprendizagem, como o estilo de aprender, o

padrão utilizado, a avaliação, dentre outras questões. Estas regras podem auxiliar o professor

à entender as necessidades do estudante em melhorar as habilidades de aprendizagem.

(ASKSOY, et al.,2015)

Comparando aos métodos estatísticos tradicionais, a mineração de dados pode auxiliar

de forma mais completa os dados encontrando padrões não vistos anteriormente, e prever

modelos que permita tomar melhor decisão, e, portanto, moldar futuros eventos. Uma das

funções da mineração de dados é identificar irregularidades entre os dados, e a outra função é

encontrar relação entre variáveis que irá prever valores desconhecidos ou futuros das

variáveis. Ao contrário da análise descritiva e inferencial que dependem de médias e desvios

padrão, a mineração de dados usa a Estatística determinística, e paramétrica e não

paramétricos para analisar registros de dados. (ASKSOY, et al.,2015)

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Em educação, mineração de dados pode ser usada para: determinar equívocos

encontrados na pesquisa qualitativa (técnicas de classificação ou regras de associação);

determinar equívocos ou erros que ocorrem em conjunto (regras de associação); alguns

fatores determinadamente importantes para formar grupos compatíveis na aprendizagem

colaborativa (técnica de classificação para agrupamento); determinados fatores que afetam a

realização matemática (classificação de técnicas); prever e tomar precauções com o

desempenho do estudante no inicio e no final do ano (técnicas de classificação); determinar

características dos estudantes com necessidades especiais (clustering)8; investigar as relações

entre as diferentes perspectivas teóricas utilizadas em educação e ligá-las (regras de

associação ou técnicas de classificação); descobrir relacionamentos nos padrões de

comportamento dos estudantes (regras de associação). (ASKSOY, et al.,2015)

A complexidade da Educação Matemática reflete nas pesquisas da área, tanto no

âmbito nacional quanto no internacional, nos significados propostos por pesquisadores, e na

relação com outras áreas do conhecimento. As pesquisas têm sido produzidas, em decorrência

dos programas de pós-graduação, consequentemente há discussão sobre a diversidade

metodológica diante desta complexidade. Há também um movimento crescente de realização

de eventos na área como espaço de discussão e difusão das ideias.

A pesquisa em Educação Matemática não é pesquisa em Matemática, e nem é pesquisa

em Educação (BICUDO 1983) mais trata de assuntos tanto da matemática quanto da

educação. Não haverá uma resposta definitiva, uma resolução final, para o que venha a ser a

pesquisa em Educação Matemática. Entretanto, múltiplas respostas, várias análises, em

diferentes países com diferentes culturas, e várias visões para o futuro da pesquisa em

Educação Matemática.

Vê-se, portanto, que a Educação Matemática é um campo de conhecimento aberto, que

incorpora diversos modos de construir saberes adequado ao seu objeto de estudo, é uma área

em crescimento procurando consolidar quadros teóricos em construção permanente.

8 Clustering é uma técnica de Data Mining para fazer agrupamentos automáticos de dados segundo seu grau de

semelhança. Disponível em: http://home.deib.polimi.it/matteucc/Clustering/tutorial_html/. Acesso em:

20.03.2016.

36

1.2 Teoria da Educação Matemática - TME: programa de Hans-Georg Steiner

A Teoria da Educação Matemática nasce da preocupação de Hans-Georg Steiner em

sistematizar os fundamentos de teorias e metodologias para pesquisa em Educação

Matemática. Bem como, da necessidade de compreender o que é a área Educação

Matemática, de problematizar os seus fenômenos, de compreender para onde a área poderia

evoluir, e das relações que podem ser estabelecidas. O trabalho de Hans-Georg Steiner tem

raiz no Instituto de Pesquisas em Didática Matemática – IDM, onde trabalhou com a

fundamentação teórica Didática da Matemática.

No V International Congress on Mathematical Education – ICME, Hans-Georg

Steiner apresentou a TME e os três componentes inter-relacionados que serão discutidos ao

longo desta seção (STEINER, 1987, p.46):

1. A identificação e a elaboração de problemas básicos na orientação, na

fundamentação, na metodologia, e na organização da Educação Matemática

como disciplina;

2. O desenvolvimento de uma abordagem abrangente para a Educação

Matemática em sua totalidade quando visto como um sistema interativo

compreendendo a pesquisa, o seu desenvolvimento e a prática;

3. Investigação auto-referente e a meta-investigação relacionada com a

Educação Matemática fornecem informações sobre o estado da arte, sobre

situações problemas, e as necessidades da disciplina em respeito às

diferenças regionais e nacionais. (Tradução nossa)9

Hans-George Steiner delineou a TME em nove ideias. A primeira ideia é sobre a

Complexidade, as inter-relações, e uma visão sistêmica para a Educação Matemática. A área

da Educação Matemática é caracterizada por extrema complexidade. Explicar a Educação

Matemática como área complexa, perpassa, por certo, ao oposto do significado do que vem a

ser linear, ou do significado de determinismo. Seria admitir a Educação Matemática como

disciplina cientifica e um sistema social que compreende teoria, desenvolvimento e prática.

(STEINER, 1985)

Pode-se dizer que, observado o fenômeno e as circunstâncias, entender a sua

complexidade significa perceber que existe a área Educação Matemática que é o todo,

9 1. The identification and preparation of basic problems in orientation, rationale, methodology, and organization

of mathematics education as a discipline; 2. The development of a comprehensive approach to mathematics

education in its entirety when viewed as an interactive system comprising research, development and practice; 3.

Research self-referential and meta-research related to mathematics education provide information about the state

of the art of problem situations, and the discipline of requirements with respect to regional and national

differences.

37

compreendido aqui como um sistema, e que esta área tem partes que a constituem que são os

subsistemas e suas inter-relações. Pensar sobre uma visão sistêmica para a área possibilitaria

olhar este sistema, ou seja, à área como um todo, e seus subsistemas. Neste caso, seria preciso

levar em consideração a sua complexidade. Os subsistemas nem sempre atuam bem, falta

interconexão e cooperação mútua entre eles.

Portanto, devem-se levar em consideração na pesquisa os vários contextos em que

acontece a aprendizagem matemática e o pensamento matemático. Ambos estão incorporados

no sistema cognitivo do estudante, do tema a ser estudado, e do contexto em questão.

Geralmente, o pesquisador concentra sua pesquisa ou na aprendizagem do estudante ou no

pensamento do estudante e negligencia as interações entre a aprendizagem e o pensamento do

estudante. A Educação Matemática admite uma interpretação dialética como disciplina

cientifica e como sistema social interativo que compreende o desenvolvimento da teoria e

prática. (STEINER, 1985)

Uma abordagem sistêmica com as suas tarefas auto-referentes pode ser

compreendida como um meta-paradigma organizativo para a Educação

Matemática. Parece ser uma necessidade a fim, não só de lidar com a

complexidade geral, mas também porque o caráter sistêmico se revela em

todos os problemas particulares do campo […] (STEINER, 1985, p.11.

Tradução nossa).10

Alguns pesquisadores tratam as interações trabalhando as relações e apresentando em

forma de esquemas, para discutir o lugar que cada subsistema ocupa e quais as contribuições

na constituição destes saberes.

No modelo desenvolvido por Hans-George Steiner a disciplina cientifica Educação

Matemática (EM) se insere em um Sistema de Ensino da Matemática (SEM) – Formação do

Professor de Matemática, desenvolvimento curricular em matemática, materiais didáticos,

avaliação, etc. - que se insere em um sistema social complexo denominado de Educação

Matemática e Ensino (GODINO, 2010).

No diagrama são identificados os subsistemas: formação de professor,

desenvolvimento curricular, materiais didáticos, avaliação, etc., e a própria Educação

10 A systemic approach to their self-related tasks can be understood as an organizational meta-paradigm for

mathematics education. It seems to be a necessity in order not only to deal with the overall complexity, but also

because the systemic character reveals itself in every particular field problems. (STEINER, 1985, p.11)

38

Matemática que faz parte do SEM. Também faz parte do diagrama as ciências referenciais:

Matemática (M), Epistemologia e Filosofia da Matemática (EFM), História da Matemática

(HM), Psicologia (P), Linguística (L), Sociologia (S).

Na parte do entorno Hans-George Steiner relaciona todo o sistema da Educação

Matemática com as Novas Aprendizagens na Sociedade (NAS), para representar o ensino de

ideias fora do contexto escolar, e as inter-relações com Educação em Ciências Experimentais

(ECE). A Teoria em Educação Matemática (TEM) situa-se em um plano interior que

contempla e analisa em sua totalidade um rico sistema global. A TEM seria então, como um

componente da Educação Matemática, que está inserido em um sistema mais amplo

denominado de Sistema de Ensino da Matemática (SEM) que o constitui. (GODINO, 2010)

A visão sistêmica tem relação com a noção interdisciplinar de sistema adotada pelas

ciências sociais. Niklas Luhmann um importante teórico alemão da contemporaneidade,

renova a ideia sobre teoria dos sistemas baseado em uma mudança fundamental quando na

distinção do todo e das partes, para a distinção de sistema e entornos tendo como referência o

conceito de complexidade. (NEVES, 2006)

39

O tema complexidade ganha referência teórica no século XX, construído a partir das

transformações nas ciências naturais e da matemática, operada no início deste século que

colocaram em dúvida o estatuto epistemológico da física newtoniana que se ligavam as ideias

de universo determinista, de reduções a causas últimas, do mecanismo e reversibilidade. Estas

expressões são uteis para entender o conceito anterior de complexidade e o porquê do fascínio

que as matemáticas exerciam naquela época. (NEVES, 2006)

Contribuições recentes à teoria geral dos sistemas enfocam a relação do

sistema/entorno. Os sistemas se definem, criam identidade partindo das suas próprias

operações. Estas operações são dependentes do sistema no qual são produzidos, que por sua

vez, produzem o próprio sistema. Começa com um processo circular de autoprodução de

componentes capaz de dar sentido e informações do entorno, e por isso se distingue do

mesmo. Assim, a ideia de Niklas Luhmann não parte da noção de unidade, mas de diferença,

buscando na complexidade a superação da causa e efeito (NEVES, 2006).

Complexidade significa a totalidade dos acontecimentos e circunstâncias. Quanto

maior a possibilidade de acontecimentos cresce a relação entre os elementos que compõe estas

circunstâncias. A capacidade humana não dá conta de apreender esta complexidade, neste

ponto assumem os sistemas. A visão sistemática intervém entre a complexidade e a

capacidade humana em trabalhar a complexidade. A função da visão sistemática é de reduzir a

complexidade excluindo determinadas possibilidades e selecionando outras. (NEVES, 2006)

O sistema é, portanto, definido por sua diferença em relação ao entorno. Ou seja, o

sistema que contém sua diferença é em si auto-poiético (capaz de se autoproduzir),

autorreferente (que se refere a si mesmo) e operacionalmente fechado por se constitui

reduzido à complexidade do entorno. Se por um lado o sistema reduz a complexidade, por

outro lado constroem a própria complexidade. Precisa fechar produzindo a construção de sua

própria complexidade com seu autopoésis (criação de seu próprio elemento). O entorno é

mais complexo que o sistema por englobar todas as relações, acontecimentos e situações

possíveis (NEVES, 2006).

O sistema se decompõe em subsistemas, elementos e relações. Não existem elementos

sem conexões relacionais nem relações sem elementos. Os elementos são para o sistema que o

utiliza como unidade. Niklas Luhmann define complexidade quando um conjunto inter-

relacionado de elementos já não tem como se relacionar com outros devido a suas limitações e

40

para que ocorra a seleção, é necessária a obrigação da seleção que significa contingência e

contingência significa risco. (NEVES, 2006)

A ideia delineada acima sobre complexidade é necessária sempre que for explicado o

funcionamento de um conjunto de elementos tal como pensou Hans-Georg Steiner na TME:

No que diz respeito a determinadas tarefas e aspectos a Educação

Matemática como disciplina e campo profissional é um subsistema. É um

único campo cientifico que estuda todo o sistema. Uma aproximação

sistêmica com suas tarefas de auto – referência deve considerar-se como

meta-paradigma organizativo para Educação Matemática. Parece ser uma

necessidade de gerir a complexidade da totalidade, mesmo porque o caráter

sistêmico se apresenta em cada problema particular do campo (STEINER,

1985, p,11. “Tradução nossa”)11

Para completar a explicação sobre complexidade Niklas Luhmann introduz a figura do

observador. O observador é aquele que é capaz de decompor a unidade de uma multiplicidade

em elementos e relações. Um observado pode descrever a complexidade de outro observador.

Ou seja, um observador de segundo plano. Para este autor, toda observação é uma visão

sistêmica, mas nem toda visão sistêmica é uma observação. A complexidade é captada

justamente pela observação. (NEVES, 2006).

A observação parece dar o tom de que é possível refutar ideias prontas que

supostamente poderiam dar contar de resolver determinadas questões dentro de um

determinado sistema advindas do fenômeno pesquisado, possibilitando a exploração de

aqueloutros fenômenos subjacentes.

A segunda ideia versa sobre as Diferentes visões da Educação Matemática como

ciência. Diante da complexidade da área de Educação Matemática seria impossível atacar os

problemas cientificamente. A reação para esta pergunta seria ver a Educação Matemática

como um campo subjetivo, pragmático limitado a uma interpretação do ensino da matemática

como arte, e neste sentido, nunca se tornaria uma ciência. Outra reação seria reduzir de forma

sistemática a complexidade da área selecionando um determinado aspecto, como análise de

conteúdo, currículo, métodos de ensino, desenvolvimento de capacidades nas crianças, como

especificidades determinantes da área. Isto acontece, quando as várias disciplinas de

referencia tal como matemática, epistemologia, pedagogia, psicologia, sociologia, ou teorias e

11 With regard to Certain tasks and aspects of mathematics education as a discipline and professional field is a

subsystem. It is a unique scientific field studies que the entire system. The systemic approach to self Their tasks -

reference shouldnt be Regarded meta-organizational paradigm for mathematics education. It seems to be a need

to manage the complexity of all, even the the systemic nature presents itself in each particular field problem

41

métodos em uma destas disciplinas, buscam um papel preferido e dominante para estabilizar

orientações básicas e métodos de pesquisa em Educação Matemática. (STEINER, 1985)

[...] a Educação Matemática como ciência é possível e existe, em uma

variedade de definições diferentes, por exemplo, o estudo das relações entre

a Matemática, o indivíduo e a sociedade; a reconstrução da Matemática atual

a um nível elementar; o desenvolvimento e avaliação de cursos matemáticos;

o estudo do conhecimento matemático [...]. (STEINER, 1985, p.13,

“tradução nossa”).

Educação Matemática, neste sentido, é diferentemente classificada: como um campo

especial da matemática, como um ramo especial da epistemologia, como uma engenharia da

ciência, como um subdomínio da pedagogia ou didática geral, como uma ciência social, como

uma ciência incerta, como uma ciência aplicada, como uma ciência de fundação, dentre outras

ideias. Há uma necessidade de uma base teórica que permita melhor compreensão e

identificação em suas diferentes posições, em seus aspectos e intenções que subjazem as

diferentes definições em uso, para analisá-la. A solução seria além de uma visão sistêmica,

discutida acima, propor conceitos da complementaridade somada à Teoria da Atividade

(STEINER, 1985) desenvolvida por Alexei Leontiev.

[...] cada peça relevante de conhecimentos teóricos, sendo parte de alguma

idéia ou modelo do mundo real, irá de alguma forma ou de outra ter que

levar em conta que a pessoa que tem esse conhecimento é parte do sistema

representada pelo conhecimento. Todo o conhecimento pressupõe um

sujeito, um objeto e as relações entre eles (que são estabelecidas por meio de

atividade do sujeito). Portanto, todo o conhecimento tem uma estrutura

incoerente com conexões metafóricas e estritamente operacionais.

(STEINER, 1987, p. 49. “Tradução nossa”).

Diante as várias visões da Educação Matemática existem determinados problemas

cujas características requerem um nível de análise teórica e apropriada. Diante da extrema

complexidade da área, observa-se uma busca constante de esclarecimento. Hans-Georg

Steiner volta a trabalhar com as ideias de Niklas Luhmann ao propor a ideia de

complementaridade para resolver as diversas visões da Educação Matemática como ciência .

O fenômeno da complementaridade é conhecido, mas não é bem compreendido. Esta ideia

causa movimentos de curta duração, uma falsa dicotomia: habilidade contra compreensão;

estrutura contra resolução de problemas; axiomática contra construção; puro contra aplicado.

Tenta-se endireitar estes paradoxos de uma forma reducionista, ou em uma abordagem de

multi-aspecto onde se diz “fazer as duas coisas”. (STEINER, 1985)

42

Um conceito matemático, por exemplo, é parte de uma teoria e por certo existe uma

complementaridade entre o conceito como um objeto e o conceito como ferramenta. Ou seja,

um processo cíclico durante o qual o conceito pode tomar o papel ora como ferramenta para

resolver um problema, ora como um objeto dentro de um determinado saber. Um exemplo de

complementariedade é encontrado na Dialética Ferramenta-Objeto trabalhada por Régine

Douady onde o conceito assume o papel como uma ferramenta para resolver um determinado

problema e depois funciona para discutir sobre o conceito como objeto de estudo.

O outro domínio é a Teoria da Atividade desenvolvida por Alexei Leontiev psicólogo

russo que está cada vez mais sendo usada como ferramenta conceitual na investigação em

Educação Matemática. A teoria da atividade é um framework destinado a transcender a

dicotomia das ideias sobre macro e micro, mental e material, observação e intervenção em

análise e design de trabalho. O conceito central da teoria da atividade é a atividade. Atividade

são os processos que na relação do homem com o mundo satisfazem uma necessidade

especial correspondente a ele cujo objetivo é estimular o sujeito a executar esta atividade.

(ENGESTROM, 2000)

A aprendizagem é uma atividade humana que acontece em um meio social na relação

entre sujeitos, e entre o sujeito e o objeto de aprendizagem. Ou seja, há um motivo para

aprender, bem como onde o estudante deve chegar com este aprendizado. Atividades

específicas potencializam a internalização dos conceitos e por consequência o

desenvolvimento da aprendizagem. Portanto, através da atividade haverá a interação de

conteúdos matemáticos com outras disciplinas, e o contexto social. (ENGESTROM, 2000)

Cada diferente visão Educação Matemática como ciência tem sua defesa em uma

escola, e estas geralmente possuem as seguintes dimensões: a visão de ciência; a relação entre

o sujeito e o objeto; o critério de verdade; a regularidade da realidade; a neutralidade e a

objetividade; e a construção da ciência. É preciso, portanto, entender se as diferentes

características de diferentes abordagens filosóficas são complementares? Se a pesquisa é a

atividade principal na produção do conhecimento científico no debate sobre metodologia de

pesquisa em Educação Matemática? A ideia da complementariedade das diferentes visões e a

Teoria da Atividade pode enriquecer o debate explorando os possíveis caminhos para a

área?

43

A terceira ideia apresenta a Educação Matemática no caminho para “ciência

normal”. Para entender as ideias de Hans-George Steiner sobre o status da Educação

Matemática que se aproxima da ciência normal tal como Thomas Kuhn apresenta é preciso

compreender a relação entre teoria e a prática, e o problema da interdisciplinaridade em que

um cientista geralmente não distingue ciência de arte.

A impressão com a extensão de desacordos entre os cientistas sociais no que tange a

natureza dos métodos e problemas científicos legítimos dividiu os cientistas naturais que

possuíam respostas mais firmes ou permanentes. A pesquisa eficaz raramente começa antes

que uma comunidade cientifica pese ter adquirido respostas seguras. Na tentativa de entender

esta diferença levou o reconhecimento da pesquisa cientifica ao que denominou de paradigma

que são [...] as realizações cientificas universalmente reconhecidas que, por um tempo,

fornecem problemas e soluções modelo para uma determinada comunidade praticante de uma

ciência. (KUHN, 1998, p.24). Ou seja, o paradigma é aceito a ponto de que se o cientista não

consegue chegar aos resultados esperados, o erro está no cientista e não no paradigma.

Portanto, a vantagem do paradigma é dar eixo a pesquisa, dar sentido aos encaminhamentos, e

progredir de forma consistente.

E, por revoluções cientificas, são os episódios extraordinários onde ocorre a alteração

de compromissos profissionais. Ou pode ser compreendida como complementos

desintegradores da tradição à qual a ciência normal está ligada. A ciência normal, atividade

na qual a maioria dos cientistas emprega inevitavelmente quase todo o seu tempo, é baseado

no pressuposto de que a comunidade cientifica sabe como é o mundo. A posição da ciência

normal significa que a pesquisa está […] “firmemente baseada em uma ou mais realizações

cientificas passadas. Essas realizações são reconhecidas durante algum tempo por alguma

comunidade cientifica especifica proporcionando os fundamentos para sua prática posterior”

(STEINER, 1985, p.15, apud KUHN, 1998, p.24)

Em termos do desenvolvimento do conceito da teoria isto significa dizer que a

Educação Matemática é um campo de pesquisa para ser mensurado por meio de uma escala

que se estende pela (STEINER, 1985):

- atividade pré-paradigmática que representa a pré-história da ciência, onde reina

divergência entre pesquisadores ou um grupo de pesquisadores que trabalha sobre

fenômenos e buscam compreender o que deve ser explicado sobre estes fenômenos, os

44

princípios teóricos contidos nestes fenômenos, as regras, os métodos e os valores que

pode direcionar o desenvolvimento de novas teorias dentro do fenômeno estudado;

- atividade multiparadigmática há possibilidade de dialogo entre os paradigmas

trabalhados na comunidade para que o pesquisador tenha a oportunidade de

compreender os diferentes aspectos da realidade social complexa que envolve o

fenômeno estudado;

- ciência madura que possui um único paradigma tal como na atividade mono-

paradigmática.

Parece equivocado a exigência para que exista uma comunidade de especialistas que

compartilhem com uma rede de ideias sobre problemas e métodos de resolução com um único

paradigma no sentido de Thomas Kuhn. A coexistência de escolas competitivas de

pensamento favorece uma variedade de estratégias de pesquisa. A complexidade dos

fenômenos pode precisar da coexistência de programas de pesquisa distintos, sustentados por

diferentes paradigmas, mesclado com ideias de outras disciplinas. Precisa-se refletir sobre a

possibilidade de construir uma área de conhecimento que explique e sirva de fundamento aos

conteúdos matemáticos. (GODINO, 2010)

A teoria proposta por Thomas Kuhn para explicar o desenvolvimento das ciências da

natureza aplicada à Educação Matemática é controvertida e contestável. Por certo, esta forma

de pensar deve-se ao fato de que, entendendo paradigma como um artefato para solução de

enigmas ou quebra-cabeças seria um manual de instrução para que a resolução do problema

tenha êxito. Neste sentido, a Educação Matemática precisaria seguir determinadas regras, e

padrões advindos de outras áreas, correndo o risco de ser reduzida. Entretanto, isso não

significa dizer que não devam existir diálogos entre as áreas. Mas, para os fenômenos

próprios da área seria preciso constituir um esforço com a pretensa oposição entre a

aproximação entre os métodos da ciência social e das ciências naturais mostrando que as

metodologias de pesquisas não são excludentes ou antagônicas. (MIGUEL, 2003)

A quarta ideia trabalha as tarefas de integração da Educação Matemática: seu papel

como ciência na universidade. Comparar a Educação Matemática com ciência estabilizada e

com desenvolvimento em direção “ciência normal” levantou questionamento quanto ao papel

da educação como ciência dentro da universidade.

45

O argumento, por um lado, para o papel da Educação Matemática dentro na

universidade, em geral, é a proposta de uma universidade que providencia tipos de pesquisas

especializadas. Uma importante tarefa da universidade tem sido ensino, que tem sido

altamente especializada, e cujo objetivo tem sido integrar o conhecimento de diferentes

disciplinas e a compreensão da realidade. A universidade é um lugar de múltiplas funções da

ciência como cultura, formação e reflexão. Portanto, o papel da ciência na sociedade e dentro

da universidade não seria adequadamente descrita somente como campo de pesquisa.

(STEINER, 1985)

Pode-se dizer que, por outro lado, que a Educação Matemática tem desenvolvido uma

sensibilidade considerável com respeito aos objetivos sociais subjacentes. Todavia seria

errado se a Educação Matemática tentasse manter-se como uma ciência estabilizada apenas

em uma perspectiva de pesquisa especializada em vez de provar a sua capacidade sendo um

exemplo e adotando uma função de ligação entre matemática e sociedade. Isto é possível e

necessário especialmente pelo significado desta contribuição para elaboração e atualização de

muitas dimensões negligenciadas da matemática: a filosófica, a histórica, a humana, o social e

a didática. Implica que, a Educação Matemática não deve ser exclusivamente determinada

pelo papel da formação do professor, mas tem uma tarefa didática mais ampla como uma

orientação para ambos: pesquisa e ensino. (STEINER, 1985)

Reconhecendo que a formação do professor é um fenômeno complexo e diverso, seria

impossível o professor acompanhar a evolução da sua especialização, da sua prática, sem

pesquisa. Entretanto, o grande desafio, é determinar como traduzir a matemática para o ensino

em sala de aula. Pois, geralmente a matemática é vista como disciplina estática e sem espaço

para criatividade. Neste sentido, elaborar e atualizar as dimensões negligenciadas, descritas no

paragrafo anterior, pode dar o tom para explorar a gênese do conhecimento matemático.

(D’AMBRÓSIO, 1996) E, para este fim, incorporar o estudo e aprofundamento de

metodologias de pesquisas é uma forma de auxiliar na construção deste conhecimento.

A quinta ideia são os Micro e Macro-modelos. A crítica em relação à orientação

predominante da Educação Matemática em direção a “ciência normal” favorece a necessidade

de uma compreensão abrangente de inter-relação entre os vários aspectos e contextos, e como

consequência, a necessidade de um quadro teórico ou de um meta-paradigma que combine

seletividade e unidade. (STEINER, 1985)

46

A ideia de unidade é trabalhada por Hans-Georg Steiner inspirado em Niklas

Luhmann. Educação Matemática é um sistema que se decompõe em subsistemas, elementos e

relações. Não existem elementos sem conexões relacionais nem relações sem elementos. Os

elementos são para o sistema que o utiliza como unidade. O observador é aquele que é capaz

de decompor a unidade de uma multiplicidade em elementos e relações. (NEVES, 2006). Por

seletividade, compreende-se evitar que partes não faltosas do sistema sejam esquecidas

indevidamente. A ideia de unidade e seletividade liga-se a ideia de micro e macro-modelos

inspirada no educador matemático Richard Skemp. (SKEMP, 1989)

Richard Skemp considerou que para resolver a dificuldade de aprendizagem

matemática do estudante são necessárias investigações que conduzam à micro-modelos que

possam trabalhar pormenores (unidade) da aprendizagem matemática, e macro-modelos onde

os micro-modelos se ajustam e em algum ponto garanta interioridade (seletividade). (SKEMP,

1989)

Neste sentido, pesquisadores devem investigar quais exemplos de macro-modelos que

existem em Educação Matemática, quais os seus propósitos, se existem tipos análogos, se

objetivos similares são condições necessárias quando se opõem as formas dialéticas e

complementarísticas de lidar com modelos aparentemente contraditórios e com posição

controversa, e se os diálogos entre os pesquisadores apontam para uma perspectiva sistêmica.

(STEINER, 1985)

A sexta ideia trabalha As Teorias familiares versus a interdisciplinaridade. Hans

Georg Steiner inspira-se na fala de Jeremy Kilpatrick na conferência do Psychology of

Mathematics Education em 1981 sobre a falta de atenção a teoria nas investigações

desenvolvidas nos EUA, como apropriação de teorias de outras disciplinas, e a falta de teorias

internas.

[...] haverá um perigo de restrições inadequadas, se se insistir no uso de

teorias internas na Educação Matemática. A natureza do assunto e os seus

problemas exigem abordagens interdisciplinares, e seria errado não fazer

uma utilização significativa do conhecimento que outras disciplinas já

produziram sobre aspectos específicos desses problemas, ou da sua

contribuição numa cooperação interdisciplinar. Na realidade,

interdisciplinaridade não significa pedir de empréstimo teorias á feitas

exteriormente e adaptá-las às condições da matemática escolar. Existem

inter-relações muito mais profundas entre as disciplinas (STEINER, 1985,

p.15)

47

Ao trabalhar a ideia sobre a Epistemologia das Relações Interdisciplinares baseada na

filosofia estruturalista de Jean Piaget, a interdisciplinaridade é como pré-requisito do

progresso de investigação, uma vez que a ciência não se desenvolve em um nível apenas, mais

cedo ou mais tarde irá desenvolver sua própria epistemologia. Em Educação Matemática

existem várias disciplinas referenciais que são ou deveriam estar inter-relacionadas. Para

identificar o problema do trabalho interdisciplinar a Educação Matemática possui uma função

reguladora e organizacional essencial denominada por Jean Piaget de transdisciplinaridade.

(STEINER, 1985)

[...] observar um estádio mais elevado que se segue ao estádio das relações

interdisciplinaridade. Este seria a transdisciplinaridade o qual não trataria

apenas das interações ou reciprocidades entre os projetos especializados de

investigação, mas também colocaria estas relações dentro de um sistema

global sem qualquer fronteira rígida entre as disciplinas [...] (STEINER,

1985, p. 15 apud PIAGET, 1972)

Aparentemente, a Educação Matemática não reflete sobre a relação entre as

disciplinas. Neste sentido, a Educação Matemática poderia ao invés de restringir a sua base

teórica própria e interna formularia exigência interna às disciplinas cooperantes. Isso significa

dizer que, a Educação Matemática teria uma função reguladora transdisciplinar uma meta-

competência na relação com estas disciplinas cooperantes. (STEINER, 1985)

A sétima ideia trabalha a Abordagem sistêmica, os valores, e o “management

philosophy of science”. As ideias de Jean Piaget sobre transdisciplinaridade retornam na

adoção por Erich Jantsch que tenta elaborar uma “perspectiva sistêmica integrada da ciência,

educação e inovação”. Utiliza a noção de “criar um mundo antropomórfico” como um valor,

objetivo e base para este sistema dinâmico. Para estes valores e objetivos possam ser

instaurados as ciências e suas relações internas e externas devem ser compreendidas de forma

não independente dos processos sociais de transmissão e decisão.

Esta ideia refere-se a management philosophy de Charles West Churchman como

verdadeiro fundamento da ciência:

Uma abordagem sistêmica [...] teria em consideração a ciência, a educação e

a inovação, acima de tudo como exemplos gerais de atividade humana

deliberada, cujas interações dinâmicas têm vindo a exercer uma influência

dominante no desenvolvimento da sociedade e do seu ambiente. O

conhecimento seria visto aqui como uma forma de proceder, certo modo de

gerir as atividades. (STEINER, 1985 apud JANTSCH, 1972, p.16)

48

O pensamento de Erich Jantsch propõe orientação por valores e objetivos e por este

motivo é um fator importante para uma perspectiva sistêmica da Educação Matemática,

partindo do pressuposto que Matemática, como outras ciências, não é uma atividade humana

independente de valores. O debate sobre valores e objetivos, em particular, os aspectos éticos,

sociais e políticos da Educação Matemática tem sido negligenciado e separado de outros

problemas de pesquisa, como se argumentos racionais não fossem possíveis sobre estes

assuntos. (STEINER, 1985)

A outra questão, é que a management philosophy of science de Charles West

Churchman se aplica a Didática da Matemática como disciplina auto reflexiva que

desempenha função reguladora na pesquisa interdisciplinar e na interação entre a teoria e a

prática. (STEINER, 1985) Charles West Churchman é um pioneiro na área de pesquisa

operacional. Trabalha a ideia de sistema como um todo organizado complexo, um conjunto de

partes para realizar uma determinada finalidade. Enxergar a organização como sendo

processos é trabalhar com o enfoque sistêmico. (OLIVEIRA, 2013)

Charles West Churchman trabalha sistema contando a história de cegos tocam o

elefante em diferentes partes para tentar descrever. Cada cego ao tocar um elefante coloca o

tom das diferentes reflexões e compreensões que se pode ter de captar a realidade

(OLIVEIRA, 2013). Ou seja, das varias reflexões que surgiram dos cegos ao descrever o

elefante, cabe enfatizar que cada um descreve uma parte e por percorrer apenas parte do

elefante sua reflexão é limitada. A sensatez obrigaria a levar em consideração a experiência

do outro.

A obtenção de uma visão integral admite enxergar o sistema como um todo. Então,

pontuada por esta analogia o sistema é eficiente quando os meios investidos produzem

resultados máximos. Indica a importância de se considerar grandes sistemas, e a natureza da

autorreflexão e como isso se relaciona. Autorreflexão só é possível quando alguém regressa a

si mesmo após a mais longa viagem e tem condições de externar com clareza o todo.

(STEINER, 1985)

A oitava ideia diz respeito à Complementariedade, atividade humana, meta-

conhecimento: o papel da prática. Hans-Georg Steiner chega a conclusão que ao contrário do

que espera é trabalhoso a busca de uma síntese integrativa devido aos fenômenos

49

epistemológicos próprios da área. Na segunda ideia acima delineada, a ideia de

complementariedade e teoria de atividade já começaram a ser delineada.

O principio de complementariedade é inspirado em Niels Henrik David Bohr (1885-

1962) um físico que buscou explicar que um fenômeno é a descrição daquilo que deve ser

observado e do equipamento usado para obter a observação. Ou seja, a essência da ideia de

Niels Bohr é que não é possível acomodar as dicotomias, mas descobrir as

complementariedades das representações dos eventos em linguagens tão diferentes.

Complementariedade seria, então, uma estratégia metodológica para [...] enfatizar o conflito

conceptual, como uma preparação necessária para sua resolução. Niels Bohr queria entender a

unidade do conhecimento baseada na complementariedade vista como a realização de

descoberta da inter-relação entre todas as áreas do conhecimento. (HOLTON, 1984, p.21)

A maioria das falsas dicotomias tais como: técnica e compreensão, desenvolvimento

de estruturas e resolução de problemas, axiomática e construtivismo, matemática pura e

aplicada, representam pares de posições aparentemente opostos que podem ser seguidas ao

longo da história da Matemática e da Educação Matemática. A teoria e a prática têm sido

tratadas de forma reducionista, ou atribui-se domínio absoluto para um ou para o outro polo,

ou é adotada uma posição multipolar, sem compreensão da operacionalização das relações

antagônicas subjacentes relacionadas com o problema epistemológico na relação entre

conhecimento e atividade que é o cerne das complementariedades. (STEINER, 1985)

Complementariedade acaba por ser uma adequada ferramenta, que compreende as

diferentes relações entre os diferentes tipos e níveis de conhecimento e atividade, como

aparece na contraposição: “teoria cientifica vs. conhecimento cotidiano”, “meta-conhecimento

vs. conhecimento primário”, “empírica vs. formal”, “o pessoal vs. o social”, “percepção vs.

cognição”, etc., e também como eles regulam e controlam problemas do sistema de teorias. O

conceito de complementariedade tem papel nos fundamentos da Psicologia Cognitiva.

[...]. Não é de forma alguma, um conceito claro e distinto, mas é rico e

sugestivo. O princípio da complementariedade não promove resoluções das

oposições binárias centrais da Psicologia: mente e corpo, estrutura e

processo, sujeito e objeto, determinismo e livre-arbítrio, leis e controlos, etc.

Pelo contrário... o principio da complementariedade requer um uso

simultâneo de modos descritivos que são formalmente incompatíveis. Em

vez de tentar resolver aparentes contradições, a estratégias é aceitá-las como

um aspecto irredutível da realidade. (STEINER, 1985 p.30)

50

A ideia de complementariedade se associa a teoria da atividade por buscar reconstruir

uma forma de compreender a cognição a partir de um conceito de atividade humana do que do

conhecimento. A atividade humana relacionada com o objeto, com a sabedoria prática,

características habituais e a realidade sócio histórica, desempenharia papel estruturante.

Apenas na teoria da atividade a necessidade epistemológica de complementariedade

pode ser produtivamente desenvolvida e aplicada. Por outro lado, um ponto de vista

complementarista evitará que a teoria da atividade caia no reducionismo prejudicial e, ao

mesmo tempo, oferecerá possibilidades para o reducionismo relativo, necessário e inevitável.

No que diz respeito ao problema da cognição, temos que aceitar que não podemos saber, sem

saber que sabemos. Não podemos aprender um conceito teórico particular, sem adquirir

conhecimento sobre conceitos teóricos.

[...]. Não podemos adquirir conhecimento sem adquirir meta-conhecimento.

Mas o meta-conhecimento é, por um lado, o produto da evolução e, por

outro, a sua condição indispensável. Logo, conhecimento e meta-

conhecimento não podem ser completamente expressos ou representados

como um sistema coerente e fechado e numa descrição uniforme.

(STEINER, 1985 p.15)

Posições filosóficas e teorias epistemológicas relacionadas com matemática, como o

logicismo, formalismo, construtivismo, estruturalismo, empirismo dentre outras sempre

influenciaram e influenciarão as ideias principais em Educação Matemática. Esta questão se

refere para todo o desenvolvimento da área de Educação Matemática relacionada ao processo

de ensino e aprendizagem matemática.·.

Na nona ideia propõe a Theory of Mathematics Education - TME como um programa

em desenvolvimento, com três componentes inter-relacionados:

[...] meta-pesquisa e desenvolvimento do meta-conhecimento no que respeita

a Educação Matemática como disciplina. [...] desenvolvimento de uma visão

compreensiva da Educação Matemática envolvendo pesquisa,

desenvolvimento e a pratica por meio de abordagem sistêmica. [...]

desenvolvimento do um papel regulador dinâmico da Educação Matemática

como disciplina com respeita interação teoria-prática e cooperação

interdisciplinar. (STEINER, 1985, p.16)

A meta-pesquisa como componente da TME não foi delineada explicitamente. A

meta-pesquisa seria, portanto, a reflexão sobre a própria pesquisa, ou pode ser entendida

como componente da TEM pode se estender para um contexto que ajude a identificar

51

objetivos, estabelecer prioridades e desenvolver estratégias. A proposta as nove ideias acima

delineada sendo a décima a meta-pesquisa. A proposta é discutir no âmbito nacional e

internacional os dez pontos acima delineados. O objetivo primordial da TME seria

proporcionar a Educação Matemática auto-reflexão e auto-afirmação a fim de promover outra

forma de pensar seus problemas e suas inter-relações. (STEINER, 1985).

O artigo de Hans-George Steiner intitulado “Theory of Mathematics Education

(TME): An introduction” é considerado como a chave para o desenvolvimento de teorias

sobre a aprendizagem da matemática. A abordagem axiomática neste texto, por um lado, pode

significar que Hans-George Steiner subestimou a necessidade de estudos empíricos e crenças.

Entretanto, o texto aponta para o interesse em filosofia. Porém, uma nova filosofia da

matemática, inclui a matemática como atividade. Discute uma perspectiva sistêmica, uma

filosofia complementarística em conjunto com a teoria da atividade como forma de oferecer

para Educação Matemática instrumentos para enfrentar os problemas da área. (TORNER;

SHRIRMAN, 2007)

Essencialmente, Hans-Georg Steiner se dedicou ao desenvolvimento de uma meta-

teoria que considera aspectos filosóficos e epistemológicos da Educação Matemática. E o

papel da epistemologia, como ramo da filosofia, é preocupar-se com o conhecimento

cientifico, buscando respostas para: Qual é a origem do conhecimento cientifico? (empírico?

racional?); Quais são os critérios de validade do conhecimento cientifico? (capaz de prever

eventos? consistência lógica?); Quais as características do processo do conhecimento

científico? (acumulação e continuidade? período da ciência normal, revolução cientifica, e

descontinuidade? mudanças e aperfeiçoamentos em programas científicos?) (SIERPINSKA;

LERMAN, 1996).

A questão que se apresenta é: como, levando em consideração o ensino-aprendizagem

da matemática haveria desenvolvimento da filosofia da matemática, e, por conseguinte,

compatibilidade com Educação Matemática? A resposta é delineada através de cinco teses

(STEINER, 1985):

Na Tese 1 apresenta a ideia cuja a maioria dos pesquisadores elaboram concepções,

epistemologias, metodologias da filosofia da matemática, mesmo que implicitamente para o

ensino e aprendizagem da matemática. Aponta para filosofia e a epistemologia imbricada a

ponto de ser difícil separá-las. Na Tese 2 discute sobre as metas e objetivos de programas de

52

estudos, teorias da aprendizagem, concepções dos professores de matemática e ensino de

matemática como também percepção dos estudantes de matemática carregam frequentemente

de forma explicita determinados pontos de vista filosóficos e epistemológicos da matemática.

(STEINER, 1985)

A não filosofia é também uma posição filosófica. Não existe neutralidade em uma

visão filosófica e epistemológica sobre matemática. Esta ideia está relacionada com a reação

da nova matemática, bem como a critica a visão formalista para a matemática. Atualmente,

discute-se sobre crença dos professores e a sua visão da matemática nas diferentes associações

filosóficas e/ou epistemológicas. (STEINER, 1987)

A Tese 3 avalia a fecundidade das filosofias da matemática para determinados

objetivos e propósitos e desenvolvimento de critérios de avaliação utilizados. Esta tese baseia-

se no aumento relativo da validade da filosofia da matemática como observado na base

epistemológica e filosófica da matemática, assim como, na sociologia do conhecimento e na

sociologia da ciência. (STEINER, 1987)

A Tese 4 para uma Educação Matemática que prefere e elabora uma filosofia da

matemática. A intenção desta tese é possibilitar o pensamento que a Educação Matemática,

especialmente o conhecimento e a prática do professor, deve por um lado ser guiada por uma

adequada filosofia da matemática e por outro lado ser livre de ideias supérfluas. É difícil

interpretar esta tese diretamente, por este motivo pode-se tomar como foco o como ocorre à

aprendizagem e como pode se desenvolver uma filosofia mais oportuna para a Educação

Matemática. Mais ainda, esta tese demonstra que não estava diretamente preocupada com a

Educação Matemática, mas com uma filosofia da matemática que deveria ser provida por uma

meta-teoria. (STEINER, 1987)

Entre 1980 e 1990, o construtivismo radical e o construtivismo social estavam em alta

propondo uma visão instrumental da matemática. Entretanto, cada um destes domínios

filosóficos tinha problemas. O construtivismo radical derrubou o behaviorismo, enalteceu o

estudo qualitativo sobre o processo individual do raciocínio do estudante e discutiu sobre o

processo cognitivo. (TORNER; SHRIRMAN, 2007)

É inoportuno que a “validade objetiva” possa ser reivindicada nas conclusões da

pesquisa. No construtivismo social o contexto social e cultural, os processos em matemática e

Educação Matemática, no pós-modernismo as funções da linguagem e a questão do poder e

53

controle nas instituições sociais são importantes. Porém, a ênfase na sua própria ideia central,

exclui outros fenômenos e outras construções centrais da matemática e outras ciências.

(OLLAIK; ZILLER, 2012)

A Tese 5 propõe a filosofia da matemática como ingrediente indispensável para refletir

o ensino-aprendizagem da matemática a ponto de contribuir para construção de um adequado

meta-conhecimento para professores e estudantes. A Tese 6 reitera que a Educação

Matemática precisa de meta-teorias construídas em um sistema de abordagens baseadas em

atividades humanas e interações sociais. Sendo assim, para este autor, uma adequada filosofia

da matemática deveria ver a própria matemática, como um sistema de atividade. (STEINER,

1987)

A relevância do artigo de Hans-George Steiner “Philosophical and epistemological

aspects of mathematics and their interaction with theory and practice in mathematics

education” é que o foco da pesquisa não deveria se limitar à qualidade acadêmica, mas aos

tópicos e orientações epistemológicas que desempenham papel importante no cotidiano do

ensino e aprendizagem. As seis teses desenvolvidas por Hans-Georg Steiner são uma tentativa

de remediar o mundo matemático trabalhando com o aluno e o professor de matemática

(TORNER; SHRIRMAN, 2007).

A Educação Matemática ainda não conseguiu chegar a qualquer filosofia que se

encaixa bem com o ensino e os processos de aprendizagem. Enquanto campo cientifico, os

resultados das pesquisas da área sobre como se ensina e se aprende matemática, apontam para

a necessidade de dominar teorias especificas e métodos de pesquisa como forma, inclusive de

aprofundar o conhecimento matemático. O desenvolvimento da Educação Matemática, como

campo de pesquisa ou como disciplina acadêmica, está intimamente ligado à existência de

projetos, pesquisas, publicação de jornais, revistas, periódicos, eventos, dentre outros. Para

este desenvolvimento é preciso formar futuros pesquisadores (STEINER, 1987; MATOS,

2010).

Discutir de forma ampla e aprofundada sobre a metodologia de pesquisa em Educação

Matemática é relevante porque contribui para a forma como a pesquisa é conduzida, como

também para a qualidade dos resultados obtidos. Aponta a relevância da discussão sobre o

modo como os pesquisadores refletem, individual e coletivamente, sobre as formas como o

54

conhecimento é produzido, para que se torne aceitável, seja na comunidade de educadores

matemáticos, seja quando circula para outras comunidades.

Considerando-se que uma metodologia pressupõe a utilização coerente de uma série

de elementos conceituais e procedimentais, é preciso buscar critérios e parâmetros que

evidenciem esta coerência de modo minimamente consensual entre os pesquisadores que a

utilizam. Consenso e coerência são bases para a credibilidade do trabalho de pesquisa e dos

seus resultados. (MATOS, 2010)

1. Inquirir representa a busca pelo conhecimento, de compreensão, e

dinamismo para a atividade. A pesquisa deve ser inquérito intencional;

2. Evidência é necessária para manter a pesquisa relacionada com a realidade

da situação da Educação Matemática em estudada;

3. Teoria é o produto essencial da atividade de pesquisa. (MATOS, 2010,

p.38)

Há três tradições: a tradição pedagógica; a tradição do cientista empírico; a tradição do

filosofo escolástico, conforme tabela abaixo. E três componentes para o processo de pesquisa.

Cada uma destas tradições possui preocupações centrais e de certo modo destacam uma visão

de conjunto. A ideia central da tradição pedagógica representada por Emma Castelnuovo12,

Max Beberman 13está na intervenção exemplar sobre o processo educativo, valoriza o

professor reflexivo. Na tradição cientista empírico representado por Ed Begle a ideia central

está no rigor metodológico como forma de obter conhecimento seguro, fiável e reproduzível,

adotando processos semelhantes aos usados nas ciências, físicas e naturais tornando a

Educação Matemática em uma ciência empírica. Por último, na tradição do filosofo

escolástico, seguida por Willy Serais e Hans-Georg Steiner, a ideia central é a ideologia, o

modo rigoroso como suas posições teóricas são argumentadas. (BISHOP, 1987)

12 ICMI. Disponível em: http://www.mathunion.org/icmi/activities/awards/emma-castelnuovo-award/. Acesso

em: 03.10.2016 13 ICTM. Disponível em: http://www.ictm.org/assets/docs/Awards/ictm_posters_beberman.pdf. Acesso em:

03.10.2016

55

TABELA 2 - Tradição de Pesquisa

FONTE: Matos (2010, p.38)

Algumas mudanças alteraram o quadro original de Allan Bishop. Percebe-se a

mudança da tradição pedagógica, com a incorporação da metodologia pesquisa-ação. Esta

metodologia procura as alterações nos processos de ensino, não mais se baseando na

abordagem exemplar do professor, mas através da reflexão sobre sua prática de forma

intencional. Na tradição cientista empírico, houve “cisma” entre as abordagens qualitativas e

quantitativas. Mais do que separar o numérico do descritivo, esta mudança centra-se na

distinção entre as opções filosóficas e éticas. Outra mudança ocorrida foi o surgimento da

perspectiva crítica perante o ato educativo, problematizando as intenções dos trabalhos

produzidos pela tradição pedagógica e questionando, sobretudo a tradição do filosofo

escolástico. (MATOS, 2010). Nesta tese, o termo tradição será compreendido como

transmissão de elementos que fazem parte de uma comunidade que permite a continuidade de

um determinado sistema de pesquisa.

Nas últimas décadas as discussões avançaram em relação à pesquisa, ampliando a

perspectiva metodológica. Entretanto, diante da diversidade da área várias questões precisam

de revisão, como por exemplo: os diversos objetos de pesquisa que se desenvolvem na

56

medida em que a área tenta responder novas perguntas; a fundamentação teórica presente na

comunidade, o framework utilizado na medida em que a área cresce e diversificando o

problema de pesquisa; a metodologia de pesquisa e os conhecimentos trazidos da

Antropologia, Sociologia, Psicologia, História e Filosofia das Ciências, as abordagens

utilizadas, qualitativas, quantitativas, quali-quantitativas, as técnicas utilizadas, e como são

empregadas.

Educação Matemática é uma área jovem em relação às outras áreas. Como uma

disciplina bastante jovem, o seu sistema de objetos, metodologias e critérios para o

conhecimento válido apresenta maior variabilidade e menos consenso.

1.3 O mapeamento de Dario Fiorentini e o delineamento Histórico de Jeremy Kilpatrick

para a pesquisa em Educação Matemática

As pesquisas em Educação Matemática, como área de saber, de modo sistemático e

consistente, investigam ou respondem sobre problemas relativos ao ensino e aprendizagem de

matemática, bem como sobre prática pedagógica na formação de professores. A Educação

Matemática é uma área multifacetada cuja região de inquérito envolve a dimensão didático-

metodológica, histórico-filosófica, sociológica, psicológica, e teleológico-axiológica,

concernente à matemática e aos processos educativos. (BALDINO, 1991)

Pesquisar, portanto, em Educação Matemática, teria como principal função

transformação qualitativa, ainda que não imediata, do ensino da matemática (FIORENTINI,

1994). Dario Fiorentini é um pioneiro ao discutir sobre a pesquisa brasileira delineada através

do estado da arte em mais de 200 teses e dissertações produzidas antes da década de 70, e

década de 80, em duas linhas de pesquisas: Resolução de Problemas e Modelagem

Matemática.

Dario Fiorentini privilegiou analisar as abordagens metodológicas, com o propósito de

construir um inventário que melhor descrevesse a trajetória da Educação Matemática

enquanto estudo/pesquisa situando-a historicamente. Uma tarefa complexa, visto que, naquela

época, internacionalmente a pesquisa em Educação Matemática era ignorada, e no Brasil, não

existia um estudo da área sobre o estado da arte.

Para Dario Fiorentini a finalidade da pesquisa em Educação Matemática é a melhoria

da prática pedagógica. Para este fim, a teoria não deve engessar a prática. Assim, deve ser

possível a pesquisa em Educação Matemática, a relação entre a dimensão especifica e não

57

especifica. A dimensão especifica diz respeito ao processo de ensino-aprendizagem da

matemática compreendendo o conteúdo, o professor, o aluno, o programa, o contexto, os

recursos e suas relações. A dimensão não especifica seria a teoria que auxiliaria a elucidar

questões importantes sobre a dimensão especifica. E, neste sentido o objeto de

estudo/pesquisa é interdisciplinar cuja compreensão perpassa pelo auxilio de outras áreas do

conhecimento. (FIORENTINI, 1994)

O período anterior à década de 70, final dos anos 60, é considerado como a gestação

da Educação Matemática, enquanto campo profissional. Nesta época, não era diferenciado o

estudo de pesquisa, e o olhar era para as tarefas da prática de sala de aula e a produção de

materiais didáticos. A Educação Matemática não possuía uma existência configurada. O

nascimento da Educação Matemática, marcado do inicio da década de 70, com o Movimento

da Matemática Moderna, aos primeiros anos da década de 80, época que surgem os programas

de Pós-graduação stricto sensu em Educação. No inicio da década de 80 já existiam

especialistas em Educação Matemática, mas não havia uma comunidade nacional organizada.

(FIORENTINI, 1994)

A década de 90 marca o surgimento de uma comunidade cientifica de pesquisadores

da área com novas linhas temáticas de pesquisa: Didática da Matemática, história, filosofia,

epistemologia, psicologia da Educação Matemática, programa escolar, resolução de

problemas, ensino de geometria, álgebra e pensamento algébrico, Etnomatemática, dentre

outros. A Sociedade Brasileira de Educação Matemática tem sua fundação entre os anos de

1987 a 1988, aumento de pesquisadores da área, ampliação da pós-graduação, difusão dos

encontros da área. Entretanto, as produções eram isoladas e pouco socializadas.

(FIORENTINI, 1994)

Destacam-se, na década de 90, as pesquisas com o uso do método da experimentação,

o método etnográfico a as abordagens quantitativa como participante ou a pesquisa-ação. Esta

época marca nas pesquisas, as amplas discussões políticas, sociais, e ideológicas, com as

abordagens epistemológicas a fenomenológica-hermenêutica e a histórico-crítica, ou dialética.

Outras linhas temáticas e as relações entre contexto e cognição matemática, Etnomatemática,

programa escolar de matemática, a prática pedagógica e o cotidiano da sala de aula, estudos

analíticos e históricos do ensino de matemática, políticas oficiais sobre o ensino de

58

matemática. As principais áreas temáticas da pesquisa eram estas a seguir: (FIORENTINI,

1994)

- Metodologia/didática do ensino da matemática (Resolução de problemas e

Modelagem Matemática e modelos matemáticos);

- Programa escolar do ensino da matemática;

- Materiais didáticos e meios de ensino;

- Prática pedagógica e/ou escolar;

- Formação do professor de matemática;

- Psicologia, cognição a aprendizagem matemática;

- Etnomatemática;

- Educação de adultos;

- Fundamentos teóricos da Educação Matemática;

- Ideologia e/ou concepções e significados;

- História do ensino da matemática;

- Políticas oficiais sobre o ensino de matemática.

Com relação às tendências teóricas metodológicas identifica a formalista clássica,

socioetnocultural, tecnicista e suas variações, empírico-ativista, formalista moderna,

construtivista, que apontam para modos de ver e conceber o ensino de matemática no Brasil

na década de 70 e 80. Havia pouco aprofundamento teórico-metodológico, nas teses e

dissertações compreendidas nas décadas de 70 e 80. Segundo Dario Fiorentini, estas

tendências influenciam até hoje os currículos de escola básica no Brasil, e cada uma destas

tendências é preciso identificar: a concepção matemática, a concepção do modo como se

processa a produção do conhecimento matemático, as concepções de ensino-aprendizagem, os

fins e os valores atribuídos ao ensino de matemática, a cosmovisão (visão de mundo)

subjacente, relação professor-aluno, perspectiva de estudo/pesquisa para a melhoria do ensino

de matemática.

A marca é dos educadores e matemáticos que tomaram como foco de sua atenção à

matemática que se ensina e a que se aprende na escola, bem como a matemática que deve ser

ensinada e aprendida e como estes processos são realizados. Enquanto campo de pesquisa, a

Educação Matemática começou a se desenvolver no final do século 19, a respeito da

psicologia comportamental, nas universidades, tendo como base uma linha positivista, com o

59

intuito de melhorar a preparar mais professores, e assim ampliar seus programas de formação

de professores. (KILPATRICK, 1996a)

Algumas abordagens contribuíram para a formação da área de Educação Matemática,

nos encontros educacionais. Na abordagem comportamental, mesmo que tomando como

posição epistemológica o positivismo lógico, o pesquisador assumiria uma posição neutra. Na

abordagem interpretativa, o pesquisador se introduz em um encontro educativo com o

propósito de compreender sem julgar. Na abordagem critica, o pesquisador se introduz não

apenas para compreender as mudanças de direção do encontro, mas para ter maior liberdade

de trabalhar. (KILPATRICK, 1996a) ·.

Na América do Norte, até os anos 70, o propósito para realização da pesquisa em

Educação Matemática era o de descrever o ensino-aprendizagem da matemática como um

sistema de variáveis, para descobrir suas inter-relações, e manipulá-la para conseguir outras

relações.

Na Europa e Austrália, utilizavam-se das abordagens fenomenológicas quando se

assemelhava ao trabalho do antropólogo na medida em que busca capturar e compartilhar a

relação entre os professores e alunos têm no seu encontro educacional. Nos Estados Unidos

esta abordagem é conhecida como visão interpretativa. Na abordagem sociológica crítica o

pesquisador em Educação Matemática assumia um papel ativo, possibilitando que o professor

e o aluno alcançassem tanto no colégio como na sociedade, a compreensão do significado do

processo educativo, na Austrália a Nova Zelândia essa abordagem era conhecida como

pesquisa-ação. (KILPATRICK, 1996a)

É razoável que o pesquisador em Educação Matemática discuta como se existisse

apenas um único caminho, mas que uma área utilize apenas um paradigma de pesquisa não é

razoável. É necessário, portanto, a área assegurar a diversidade na maneira como a pesquisa é

feita para mantê-la ativa e em crescimento, para garantir múltiplas perspectivas e diferentes

abordagens teórico-metodológicas. Neste sentido, o choque de diferentes abordagens teóricas

e metodológicas começou a estabelecer o lugar para o debate sobre o qualitativo e o

quantitativo. (KILPATRICK, 1996a)

[...] pesquisadores em Educação Matemática nunca deveriam tornar-se

devotados a uma abordagem epistemologia, paradigma, meios de

representação ou métodos únicos. Todos são parciais e provisórios; nenhum

pode contar a história toda. Em particular, nenhum método único de pesquisa

pode tratar da vasta variedade de questões do interesse de educadores

60

matemáticos. Embora um pesquisador possa individualmente aderir a um

único método, o campo como um todo necessita encorajar métodos

múltiplos. (KILPATRICK, 1996a, p.3)

Como as abordagens metodológicas, epistemológicas, e os paradigmas ao longo da

história são provisórios, parciais, um pesquisador em Educação Matemática, não deve ter

domínio ou compreensão apenas em um meio de representação ou um método em particular.

A área de Educação Matemática, como um todo, necessita de multiplicidade de métodos, deve

olhar para além do valor explícito da pesquisa e perguntar se lograram cumprir com outros

critérios de qualidade investigativa. A multiplicidade de métodos produzirá um corpo de

pesquisa com uma alta qualidade coletiva, mesmo que os estudos individuais sejam

deficientes. (KILPATRICK, 1996a)

A pesquisa individual e de grupo começa a se destacar em alguns países. A tecnologia

computacional se converteu em uma ciência mais empírica, que permitiria os estudantes

trabalhar mais facilmente com grande quantidade de informações relacionadas com

problemas. A ênfase na maioria dos países era o desenvolvimento de habilidades de raciocínio

de resolução de problemas, sobre a memorização de fatos e procedimentos. E, aos poucos,

estes currículos foram atentando para a modelagem matemática. O ponto central da pesquisa e

da teoria em Educação Matemática era o problema epistemológico do ensino de matemática, a

comparação de métodos de ensino, a crença dos professores sobre o seu conhecimento, e a

aprendizagem dos estudantes. (KILPATRICK, 1996a)

A pesquisa sobre o emprego de tecnologia voltava-se para o desenvolvimento de

tecnologia computacional centrado no desenvolvimento de programas de computador para o

ensino, para professores e alunos, mas todos manuseados por um professor e não por um

técnico. Esta pesquisa abriria a oportunidade de utilizar a ferramenta de ensino, computador,

permitindo que os alunos pesquisassem temas tradicionais de outra forma. Havia a ideia

também que o uso de computadores pelo professor melhoria sua prática. Pouco se pesquisava

sobre o uso de calculadoras para explorar as ideias matemáticas em sala de aula e seus efeitos

sobre a aprendizagem. Poderia ser de interesse do pesquisador em Educação Matemática

examinar como a utilização da tecnologia interagia com a crença e capacidade do professor.

(KILPATRICK, 1996a)

Com relação aos efeitos da avaliação na prática docente, os esforços para a mudança

do currículo e do ensino fracassaram porque os caminhos propostos entravam em conflito

61

com delineamento das avaliações externas. Alcançar a frequência da avaliação externa

aumentava devido o interesse do governo pela educação. Alguns países introduziam novos

métodos como projetos, pesquisa em grupo e portfólios. Na avaliação as mudanças eram

adotadas, adaptadas ou rejeitadas de acordo com a crença e, por conseguinte, com a forma

como o professor poderia lidar com a situação em sala de aula. Não havia pesquisa que

enfatizasse a avaliação do ponto de vista da perspectiva do estudante e do professor.

(KILPATRICK, 1996a)

A pesquisa sobre o professor, sobre seu conhecimento matemático, como ele

compreende matemática, bem como, como combina o conhecimento matemático que tem com

o conhecimento pedagógico na forma como ensina, precisava ser aprofundada, para não ficar

na superficialidade do ato de ensinar apenas. Vale dizer que é preciso atentar para as

pesquisas que intentam relacionar ações especificas do professor:

(a) o contraste entre professor novato e professor experiente;

(b) tentativas para melhorar a eficiência do professor;

(c) descrições de como o professor constrói significados e percebe sua vida

profissional.·.

Alguns estudos sobre programas específicos da formação inicial e permanente dos

professores de matemática, mas poucos destes estudos analisavam transversalmente estes

programas e o que estes professores faziam depois que terminavam o programa e entravam

em sua vida profissional (KILPATRICK, 1996a).

Nos anos 70 a pesquisa começou a incorporar os estudos sobre aprendizagem

individual dos alunos levando em conta seu contexto social, e uma matemática determinada

socialmente. O ponto fomenta a discussão sobre o tema construção social do conhecimento

durante o ensino de matemática. Os pesquisadores estavam sendo exortados a perceber a

matemática como fenômeno social. (KILPATRICK, 1996a)

Com relação às pesquisas sobre como a matemática poderia ser utilizada fora da sala

de aula, foram uteis por revelar como a matemática é construída socialmente, e como é a

matemática que é ensinada na escola e determinada pela sociedade. Nos estudos etnográficos

era visível a discrepância de como a matemática era utilizada em várias culturas das aquelas

que se utilizavam na escola e aqueles que se utilizam para resolver problemas quantitativos e

cotidianos. Isso em relação, tanto na praça do mercado como no trabalho quanto em casa. Na

62

literatura, esta questão de pesquisa estaria preocupada com a relação entre cultura da

matemática escolar e a cultura que o menino traz para a escola e a cultura em que o adulto

esta fazendo matemática. (KILPATRICK, 1996a)

Congruente com as ideias acima delineadas, a ênfase na pesquisa em Educação

Matemática é sempre ter claro que a Educação Matemática nasceu da Matemática. Portanto,

torna-se improdutivo para a Educação Matemática distanciar-se da Matemática. Não é um

problema que matemáticos e educadores matemáticos tenham diferentes orientações para

pesquisa. Pelo contrário, pode ser enriquecedor.

A Educação Matemática vem ao longo de mais de cinco décadas fortalecendo-se

enquanto comunidade e tradições de pesquisa, com sua própria agenda de pesquisa, seus

próprios esquemas teóricos. Um número crescente de pesquisadores em Educação

Matemática, em um número crescente de países, cada vez mais se envolve nas pesquisas

sobre o ensino-aprendizagem de matemática com o propósito tanto de compreender o

fenômeno tanto a sua preocupação central que é o modo como se aprende e ensina

matemática.

Entretanto, pode ser que educadores matemáticos, ao incorporar em suas pesquisas o

conhecimento de outras áreas, passem a pensar que é impossível tornar o conhecimento

desenvolvido pela sua área fiável, aceitando o próprio objeto de estudo com o caráter estático.

Neste sentido, a discussão sobre metodologia de pesquisa pode constitui, precisamente, uma

maneira de buscar reflexões sobre como o conhecimento matemático tem sido e pode ser

construído.

1.4 A busca de identidade através do domínio de pesquisa

A pesquisa em Educação Matemática é multidisciplinar, neste sentido, pesquisadores

de diferentes comunidades - psicologia, sociologia, antropologia, matemática, linguística, e

epistemologia - contribuem para as construções teóricas desenvolvidas inicialmente fora do

campo. Como consequência, não é fácil para os pesquisadores em Educação Matemática

delimitar o objeto das suas pesquisas, mesmo que eles próprios o restrinjam no âmbito do

ensino e aprendizagem da matemática, depois de considerar a diversidade dos seus

determinantes.

A escolha de uma metodologia de pesquisa compreende uma série de pressupostos

norteadores, passíveis de reformulação e achados. Portanto, a escolha por uma determinada

63

teoria marca uma afinidade que em larga medida é definida pelo avanço do conhecimento na

área, em que está situada uma dada tradição de pesquisa. Portanto, o pesquisador não inventa

um revestimento teórico ao escolher um determinado objeto de pesquisa, mas já se encontra

impregnado de vestígios de alguma tradição, formatado por olhares precedentes.

A maioria dos trabalhos apresentados acima segue a abordagem qualitativa.

Entretanto, não é possível afirmar que a área como um todo tem este comportamento. Para

este fim, seria preciso analisar os vários eventos, e as diversas produções acadêmicas das

diferentes tradições de pesquisa da área, que versem sobre o tema metodologia de pesquisa.

As ideias delineadas neste capítulo coadunam com a proposta do CERME - Comunicação,

Cooperação e Colaboração - quando trata sobre a importância de delinear e identificar

diferentes pesquisadores em diferentes tradições de pesquisa sobre Metodologia de Pesquisa,

Epistemologia, Teoria e Prática.

O que é pesquisa em Educação Matemática e quais são os seus resultados? Em 19 de

agosto de 1992 no VII International Congress on Mathematical Education em Quebec

membros do comitê discutem na forma de cinco questões: qual o objeto de estudo em

Educação Matemática? Quais são os objetivos da pesquisa em Educação Matemática? Quais

são as questões especificas ou problemáticas de pesquisa em Educação Matemática? Quais

são os resultados de pesquisa em Educação Matemática? E, quais os critérios que são usados

para avaliar os resultados de pesquisa em Educação Matemática? A plenária discutiu:

definição de domínio, problemas de relacionamento entre teoria e prática na pesquisa, o lugar

do ensino no design da pesquisa em Educação Matemática, o treinamento de pesquisadores, e

a visão da pesquisa em Educação Matemática pelos matemáticos. Não houve um veredicto

final, uma resolução do tipo de pesquisa em Educação Matemática, se pode ser deste ou

daquele tipo. Ao invés disso, que existem diferenças que divide teoricamente abordagens,

teorias, visões, filosofias da matemática, e ainda assim constitui uma comunidade e é

necessária pesquisa para que constitua sua identidade. (SIERPINKSA; KILPATRICK, 1998)

Educação Matemática tem se tornado um domínio de pesquisa cientifica e seus

resultados estão se tornando menos claros, e isso demonstra a necessidade de chegar a um

consenso. A despeito desta falta de consenso existe um leque de publicações que descreve o

estado da arte na pesquisa em Educação Matemática. Este trabalho não é um estado da arte no

sentido de apresentar a Metodologia da Pesquisa em Educação Matemática em abordagens

64

qualitativa, quantitativa ou quali-quanti, mas é um estado da arte ou do conhecimento por

buscar uma compreensão do que já foi construído e produzido, em determinado período, de

2005 até 2015 computando 10 anos, com uma tradição de pesquisa a Didática da Matemática,

sobre o que ainda não foi feito. Propõe-se uma opção metodológica de levantamento e de

análise do conhecimento sobre o tema Metodologia de Pesquisa em Educação Matemática.