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Estado e Desenvolvimento Econômico no Brasil Contemporâneo DAESHR005- 13SB/DBESHR005- 13SB/NAESHR005- 13SB (4-0-4) Professor Dr. Demétrio G. C. de Toledo – BRI [email protected] UFABC – 2017.II (Ano 2 do Golpe) Aula 16 3ª-feira, 1 de agosto

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Estado e Desenvolvimento Econômico

no Brasil Contemporâneo DAESHR005- 13SB/DBESHR005- 13SB/NAESHR005- 13SB

(4-0-4)

Professor Dr. Demétrio G. C. de Toledo – BRI

[email protected]

UFABC – 2017.II

(Ano 2 do Golpe)

Aula 16

3ª-feira, 1 de agosto

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Aula 16 (3ª-feira, 1 de agosto): Os anos oitenta - década perdida?

Textos obrigatórios:

PIRES, Marcos Cordeiro (2010), “Capítulo 8: O governo Figueiredo e a crise da dívida (1979-1985)”, p. 219-247, e “Capítulo 9: Os sucessivos e fracassados planos de combate à inflação: Cruzado, Bresser, Arroz com Feijão, Verão e Collor”, p. 249-279.

Textos complementares:

SOUZA, Nilson Araújo de (2008) “Capítulo 7: A adesão ao FMI e as ‘décadas perdidas’”, p. 145-165, e “Capítulo 8: Plano Cruzado ensaia mudança”, p. 167-199.

BAER, Werner (2008) “Capítulo 8: Declínio e queda do Cruzado”, p. 167-194.

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Os anos oitenta: década perdida?

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Os anos oitenta: década perdida?

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• Convencionou-se chamar a década de 1980 de “década perdida”. Será que foi mesmo uma década perdida?

• É preciso perguntar sobre o que se perdeu.

• Afinal, a década foi desperdiçada? Foi inútil? Nada se ganhou na década de 1980?

• Todos perderam? Ou alguns ganharam e outros perderam?

• A quem interessa pensar na década de 1980 como uma “década perdida”?

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• O que se perdeu: economia e política.

• Economia: a década de 1980 foi ruim.

• Política: a década de 1980 foi boa.

• Economia ruim+política boa = década perdida?

• Economia ruim+política boa = década ganha?

• Economia ruim+política boa = década empatada?

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Os anos oitenta: década perdida?

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• Economia na década de 1980: processo inflacionário, planos de estabilização fracassados, desemprego, queda da renda, perda da soberania nacional...

• Política na década de 1980: fim da ditadura, Constituição de 1988, a “constituição cidadã”, eleições diretas para presidente em 1989 (as últimas haviam ocorrido em 1960)...

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Os anos oitenta: década perdida?

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• Como avaliar a década de 1980? Perdida, ganha ou empatada?

• Perdida em alguns aspectos...

• Ganha em outros...

• Empatada em alguns outros...

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• As repercussões da crise que se inicia em 1979 “foram sentidas por, pelo menos, 15 anos. Inflação, desemprego e estagnação foram as heranças mais significativas herdadas do modelo econômico dos governos militares, a despeito de um estoque de empreendimentos de grande porte, que ainda hoje compõe a infraestrutura brasileira, como Itaipu binacional, a Nuclebrás ou a exploração marítima de petróleo”. (Pires 2010: 221).

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• “Em grande parte, a crise foi provocada pela dificuldade de a economia local adaptar-se às exigências da economia mundial, notadamente no que diz respeito ao novo ambiente internacional, influenciado pelo (1) avanço político-ideológico do neoliberalismo, caracterizado pela (2) rápida inovação tecnológica e pelo (3) crescente papel do setor financeiro na determinação de políticas econômicas que pudessem garantir sua reprodução [do setor financeiro, bem entendido]”. (Pires 2010: 221).

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• “Após uma década que apresentou elevados e contínuos índices de crescimento do produto (1970-1980), os anos 1980 foram caracterizados por bruscas oscilações do produto, pelo estancamento da renda per capita e pela explosão das taxas de inflação, que alcançaram patamares inimagináveis”. (Pires 2010: 221).

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• A inflação é mesmo um problema?

• “A inflação elevada provoca uma série de distorções na economia, pois retira renda daqueles segmentos da população que não têm acesso a qualquer mecanismo de proteção, principalmente as famílias de mais baixa renda; acirra a luta de classes; dificulta o cálculo econômico e a gestão financeira das unidades produtivas; distorce o orçamento do setor público; inibe novos investimentos econômicos; e, por fim, leva ``a liquidação do padrão monetário nacional” (Pires 2010: 271).

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Contexto internacional

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• 1979: dois choques: do petróleo e dos juros.

• Revolução Islâmica no Irã (1979) deu origem ao segundo choque do petróleo.

– Dessa vez porém, os petrodólares não foram reciclados na periferia. Os dólares disponíveis foram atraídos pelas altas taxas de juros promovidos pelos Estados Unidos.

• Início da globalização neoliberal (meados da década de 1970).

• Revolução do paradigma tecnoeconômico - TIC (meados da década de 1970).

• Advento do neoliberalismo (eleições de Thatcher, 1979, e Reagan, 1980).

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• Os economistas neoliberais passam a defender medidas como:

– Afastamento do Estado na economia;

– Desregulamentação dos mercados;

– Privatização das empresas públicas;

– Diminuição dos gastos sociais.

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• A onda neoliberal começa de fato com a vitória de Margaret Thatcher na Inglaterra (1979) e Ronald Reagan nos EUA (1980).

• Thatcher ataca a estrutura econômica pública montada no pós guerra mas não consegue desmantelar o estado de bem estar.

• Reagan é mais bem sucedido que Thatcher:

– Ataca o Estado de bem-estar;

– Desregulamenta o setor financeiro.

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• A partir de 1981, a política econômica adotada pelos EUA manteve a linha de combate ao processo inflacionário advindo dos choques do petróleo:

– De um lado, a elevação dos juros contrai a oferta monetária e contém a demanda interna;

– De outro, atrai os capitais externos para rolar a dívida pública, cobrir os déficits em transações correntes, e reverter a desvalorização do dólar perante o marco e o iene.

• Resultado: recessão interna (e externa) e um enorme déficit comercial dos americanos.

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• Para os países em desenvolvimento:

– Vultosos empréstimos para reciclar os petrodólares desde 1973 fizeram dos países da AL tomadores de empréstimos com contratos de juros flutuantes no euromercado de dólares (percentual acima da London Interbank Offered Rate - Libor).

– Empréstimos eram dados com pouco critério de risco, com alta possibilidade de descasar os prazos do ativo e do passivo.

– Segundo choque e elevação da taxa de juros nominais nos EUA sufocaram tomadores, elevaram a dívida externa e sustaram o fluxo de capitais que financiava os déficits em transações correntes.

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• Para os países em desenvolvimento:

– A crise se abateu sobre os países da AL, tanto exportadores de petróleo (México e Venezuela), como importadores (Brasil) ou auto-suficientes (Argentina).

– A elevação dos juros e a crise econômica mundial duplicou a dívida externa desses países.

– México foi o primeiro país a decretar insolvência em agosto de 1982, alastrando a crise da dívida pelo mundo.

– A crise também representou uma série ameaça ao sistema financeiro dos países credores, a reação veio como uma coordenação política para obrigar os devedores a fazer uma série de ajustes.

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• FED, com ajuda do FMI e do BM, renegociou as dívidas impondo ajustes estruturais para fazer frente aos pagamentos. O modelo do FMI preconizava:

– Desvalorização cambial (exportações mais competitivas).

– Controle da oferta monetária (controlar inflação e déficit governamental e estimular investimento privado).

– Arrocho salarial (redução da demanda e incentivo à exportação).

– Alinhamento dos preços internos aos externos.

– Elevação das tarifas públicas para elevar arrecadação.

– Aumento dos impostos para controlar a oferta monetária sem necessidade de emissão.

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• Os credores foram bem sucedidos e garantiram o pagamento das dívidas, agora reescalonadas.

• Os devedores saíram com o maior fardo, já que os principais problemas foram agravados:

– A dívida interna se elevou em demasia;

– O descontrole orçamentário acabou por impedir a adoção de políticas públicas expansionistas;

– A inflação explodiu.

• Resultado: ajuste do balanço de pagamentos inviabilizou o crescimento dos países periféricos nos anos 80 e início dos anos 90.

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• No Brasil, Figueiredo assume em 1979.

• No campo político, Figueiredo visava continuar o processo de democratização iniciado com Geisel;

• No econômico, pretendia acelerar o processo de crescimento econômico com ênfase:

– Modernização da agricultura;

– Aumento real do salário mínimo;

– Ampliar o programa de habitação popular sob responsabilidade do BNH;

– Diversificar as exportações;

– Diminuir a dependência de capitais estrangeiros;

– Conter o processo inflacionário que vinha desde 1975.

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• A crise de 1979, no entanto, barrou o fluxo de capitais para o Brasil, colocando o endividamento em outro patamar, atraindo capitais especulativos de curto prazo, os quais eram “caros”.

• Em agosto de 1982, a fuga em massa desses capitais impôs ao México a moratória de sua dívida, o que logo viria a afetar o Brasil e toda a AL.

• O Brasil não decretou a moratória pois o governo antecipou-se e foi pedir um vultuoso empréstimo ao FMI para pagar os juros da dívida, o que, na prática, foi a mesma coisa. EM 1987 o Brasil decretaria moratória.

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• Impacto da dívida externa foi, portanto, tanto direto (via desequilíbrio externo agudo) quanto indireto (via alta inflação).

• Início de 1980 é ilustrativo do primeiro caso. No começo da gestão de Delfim Netto no Planejamento (agosto de 1979 a março de 1985) a busca do equilíbrio externo se sobrepôs à do equilíbrio interno.

• Estratégia geral da gestão de Delfim: a) incentivo às exportações e à substituição da matriz energética (petróleo e álcool); b) ajuste macro.

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• Do ponto de vista político, a década foi “ganha” pois teve início o processo de redemocratização:

– Eleições indiretas elegeram Tancredo Neves presidente da República, sua morte porém deu posse a José Sarney;

– Os trabalhadores começam a ganhar força, com o fortalecimento do movimento sindical através da CUT;

– A democracia só foi reestabelecida plenamente em 1988, quando a atual Constituição Federal foi promulgada.

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• No plano econômico, a década foi “perdida” pois:

– O governo não conseguiu resolver os problemas da dívida externa de forma soberana e sustentável;

– Não conseguiu controlar o déficit público por conta dos encargos da dívida e dos crescentes gastos impostos pela Constituição de 1988;

– Não conseguiu resolver o problema das altas taxas de inflação brasileira.

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• Debate teórico sobre a inflação:

– Estruturalistas (inflação inercial):

– Congelamento de preços (Francisco Lopes)

– Indexação monetária (Larida = André Lara Resende + Pérsio Arida)

– Não havia necessidade de reduzir a demanda.

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• Debate teórico sobre a inflação:

– Ortodoxos (monetaristas)

– Vêm inflação como excesso de moeda;

– Estado gasta além da receita, assim, advogam:

• Controle dos gastos;

• Controle de poupanças: elevação dos juros e do compulsório;

• Contenção da demanda.

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• Três grandes desafios econômicos após o fim da ditadura militar:

– Dívida externa;

– Déficit público;

– Inflação.

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• Plano Cruzado (fevereiro de 1986), Dílson Funaro:

– Plano heterodoxo;

– Introdução de nova moeda, o cruzado;

– Congelamento de preços e salários.

• Em julho a inflação já havia voltado, levando o MF a propor um conjunto de medidas restritivas que ficaram conhecidas como o “Cruzadinho”.

• “Plano Cruzado foi o principal cabo eleitoral do governo para as eleições gerais” (Pires 2010, 255). PMDB elegeu 22 governadores e 19 prefeitos de capitais.

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• Plano Cruzado II (novembro de 1986):

– Visava controlar o déficit público por meio do aumento das tarifas públicas e dos impostos indiretos;

– Não funcionou, sendo abandonado em fevereiro de 1987;

– Brasil declara moratória em fevereiro de 1987.

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• Plano Bresser (abril de 1987), L. C. Bresser-Pereira:

– Combinou elementos ortodoxos e heterodoxos;

– Objetivos: deter a inflação e evitar a hiperinflação;

– Renegociar dívida externa;

– Promover choque deflacionário.

– Plano fracassa e Bresser pede demissão do MF em dezembro de 1987.

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• “Arroz com feijão” (dezembro de 1987), Maílson da Nóbrega:

– Política ortodoxa;

– Lidar com os problemas conforme se apresentassem.

• Plano Verão (janeiro de 1989):

– Reforma monetária, substituindo o cruzado pelo cruzado novo (NCz$).

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• Plano Collor (março de 1990), Zélia Cardoso de Mello:

– Plano monetarista com elementos de heterodoxia;

– Plano alinhado com o Consenso de Washington;

– Plano não obtém sucesso, sendo sucedido pelo Plano Collor II.

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• Plano Collor II também fracassa; demissão de Zélia Cardoso de Mello, assume Marcílio Marques Moreira (maio de 1991):

– Plano ortodoxo;

– Aproximação com os credores e tentativa de renegociar dívida externa brasileira.

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• “É importante ressaltar que um dos ambientes cruciais para se gestar a hiperinflação é, sem dúvida, a perda da soberania nacional sobre os elementos-chave da economia. (...) De maneira similar [à hiperinflação alemã no entreguerras], se a economia brasileira drenou, na década de 1980, sua capacidade de investimento sob a forma de pagamentos de juros, acrescentando-se a isso o pagamento de importações, de dividendos do capital externo etc., vê-se que o país havia já excluído a hipótese de exercer a soberania nacional. A hiperinflação seria, portanto, um dos resultados decorrentes de inadequadas políticas econômicas.” (Pires 2010: 261)

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• “(...) O período que se estende de 1985 a 1992 foi marcado pela maior crise econômica da história independente do Brasil. Significou, também, o fim de um modelo de desenvolvimento nacional iniciado em 1930, que tinha na industrialização seu carro-chefe. Mesmo durante a ditadura militar (1964-1985), quando ocorreu um forte processo de internacionalização da economia, no qual muitas premissas do período de substituição de importações foram abandonadas, importantes variáveis econômicas continuaram sendo manipuladas de maneira soberana pelas autoridades brasileiras, como a taxa de juros, o gasto público, a tributação, os investimentos produtivos, a criação de empresas estatais, o câmbio etc.” (Pires 2010: 278-279)

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• “Como desdobramento da crise da dívida externa, o país perdeu o controle sobre essas variáveis, e a definição da política econômica doméstica passou a depender da anuência de credores internacionais. O coroamento desse processo foi a adesão incondicional do governo brasileiro, após 1990, aos princípios neoliberais definidos pelo ‘Consenso de Washington’. De lá para cá, os sucessivos governos tiveram bloqueadas importantes decisões econômicas, ficando à mercê das variações de humor de uma esotérica e onipotente entidade, o mercado” (Pires 2010: )

Page 51: Estado e Desenvolvimento Econômico no Brasil Contemporâneo · Feijão, Verão e ollor _, p. 249-279. Textos complementares: SOUZA, Nilson Araújo de (2008) ^ apítulo 7: A adesão

Para pensar...

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1. Segundo (Pires 2010), a crise da economia brasileira da década de 1980 sofreu a influência de fatores internacionais que causaram um novo estrangulamento externo. Quais os principais fatores apontados pelo autor?

2. Afinal, a década de 1980 pode ser considerada uma década completamente perdida?