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Maristela Franco O sistema silvipastoril – que consorcia árvores, capim e gado – começa literalmente a fincar raí- zes em território brasilei- ro. Nunca houve tanta proposta de pesquisa nessa área, nem condições tão favoráveis à adoção do sistema. A pecuária convencional está em baixa e o marketing da sustentabilidade em alta. Muitos produtores buscam, ao mesmo tempo, diversificar fontes de renda e adotar modelos de explora- ção ecologicamente corretos. O siste- ma silvipastoril cai-lhes como uma luva, comprovando que o boi, fre- quentemente acusado de ser um “destruidor implacável de árvores”, pode muito bem conviver com elas. Projetos conduzidos no Paraná, São Paulo e Minas Gerais mostram que essa convivência, além de pacífi- ca, é bastante lucrativa. Ela garante receita extra para o fazendeiro (com a venda de toras, lenha, óleo, etc), fornece sombra para os animais e constitui excelente alternativa para recuperação de pastagens degrada- das. Além disso, traz benefícios incal- culáveis para o meio ambiente, como o controle da erosão, descompacta- 48 DBO FEVEREIRO/2007 REPORTAGEM DE CAPA Boi casado O consórcio de árvores lenhosas com pastagens está ganhando espaço no Brasil. Ele melhora a renda do produtor, fornece sombra para o gado e contribui para o meio ambiente. Gado de cria em pasto de grevílea, na fazenda de Dionísio Penasso, em Tapejara, um dos pioneiros do sistema silvipastoril no Paraná. FOTOS: MARCO FUTATA Aumento na taxa de lotação. Menor necessidade de reforma de pasto. Produção simultânea de madeira e carne. Melhoria na saúde dos animais. Controle da erosão do solo. Incremento da renda do produtor. Proteção das pastagens contra geadas. Eficiência no uso da água. Conforto térmico dos animais. Benefícios para o meio ambiente. Vantagens do sistema silvipastoril ção do solo, melhor ciclagem de nu- trientes, redução da emissão dos ga- ses de efeito-estufa, uso mais eficien- te da água e aumento da biodiversi- dade local. Trata-se de um casamento per- feito, que favorece tanto os bovinos quanto as árvores. Pode ser indisso- lúvel ou não, dependendo dos obje- tivos do produtor. Grandes empre- sas, como o Grupo Votorantim, têm optado por consórcios temporários, onde o boi funciona como “roçador natural” do capim, introduzido entre as linhas de eucalipto para controlar invasoras. Já em fazendas de gado, es- se casamento costuma ser mais dura- douro. “Vencidos os desafios iniciais, o produtor não abandona mais a tec- nologia, que pode lhe garantir incre- mento de 30% na receita total por área, sem considerar o corte das árvores”, explica o zootecnista João Batista Barbi, técnico da Emater de Tapejara, no noroeste do Paraná. PIONEIRISMO – Esse Estado está se tor- nando um centro difusor do sistema silvipastoril. Estima-se que, apenas na região noroeste (mais conhecida como Arenito Caiuá), 133 pequenas pro- priedades, localizadas em 45 muni- cípios dos pólos de Umuarama e Pa- ranavaí, já possuam pastos consorci-

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Page 1: APA Boi casado · mesmo tempo, diversificar fontes de renda e adotar modelos de explora- ... zar parte do dinheiro na eliminação de uma enorme voçoroca que assola-

Maristela Franco

Osistema silvipastoril –que consorcia árvores,capim e gado – começaliteralmente a fincar raí-zes em território brasilei-ro. Nunca houve tanta

proposta de pesquisa nessa área,nem condições tão favoráveis àadoção do sistema. A pecuáriaconvencional está em baixa e omarketing da sustentabilidade emalta. Muitos produtores buscam, aomesmo tempo, diversificar fontes derenda e adotar modelos de explora-ção ecologicamente corretos. O siste-ma silvipastoril cai-lhes como umaluva, comprovando que o boi, fre-quentemente acusado de ser um“destruidor implacável de árvores”,pode muito bem conviver com elas.

Projetos conduzidos no Paraná,São Paulo e Minas Gerais mostramque essa convivência, além de pacífi-ca, é bastante lucrativa. Ela garantereceita extra para o fazendeiro (coma venda de toras, lenha, óleo, etc),fornece sombra para os animais econstitui excelente alternativa pararecuperação de pastagens degrada-das. Além disso, traz benefícios incal-culáveis para o meio ambiente, comoo controle da erosão, descompacta-

48 DBO FEVEREIRO/2007

REPORTAGEM DE CAPA

Boi casadoO consórcio de árvores lenhosas com

pastagens está ganhando espaço noBrasil. Ele melhora a renda do produtor,fornece sombra para o gado e contribui

para o meio ambiente.

❑ Gado de cria em

pasto de grevílea,

na fazenda de

Dionísio Penasso,

em Tapejara, um

dos pioneiros do

sistema

silvipastoril

no Paraná.

FOTO

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CO

FUTA

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✔ Aumento na taxa de lotação.✔ Menor necessidade de

reforma de pasto.✔ Produção simultânea de

madeira e carne.✔ Melhoria na saúde dos animais.✔ Controle da erosão do solo.

✔ Incremento da renda doprodutor.

✔ Proteção das pastagens contra geadas.

✔ Eficiência no uso da água.✔ Conforto térmico dos animais.✔ Benefícios para o meio ambiente.

Vantagens do sistema silvipastoril

ção do solo, melhor ciclagem de nu-trientes, redução da emissão dos ga-ses de efeito-estufa, uso mais eficien-te da água e aumento da biodiversi-dade local.

Trata-se de um casamento per-feito, que favorece tanto os bovinosquanto as árvores. Pode ser indisso-lúvel ou não, dependendo dos obje-tivos do produtor. Grandes empre-sas, como o Grupo Votorantim, têmoptado por consórcios temporários,onde o boi funciona como “roçadornatural” do capim, introduzido entreas linhas de eucalipto para controlarinvasoras. Já em fazendas de gado, es-se casamento costuma ser mais dura-douro. “Vencidos os desafios iniciais,o produtor não abandona mais a tec-nologia, que pode lhe garantir incre-mento de 30% na receita total porárea, sem considerar o corte dasárvores”, explica o zootecnista JoãoBatista Barbi, técnico da Emater deTapejara, no noroeste do Paraná.

PIONEIRISMO – Esse Estado está se tor-nando um centro difusor do sistemasilvipastoril. Estima-se que, apenas naregião noroeste (mais conhecida comoArenito Caiuá), 133 pequenas pro-priedades, localizadas em 45 muni-cípios dos pólos de Umuarama e Pa-ranavaí, já possuam pastos consorci-

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REPORTAGEM DE CAPA

ados, totalizando 6.943 ha. A estrutu-ra agrária pulverizada da região favo-rece a diversificação de culturas.Além disso, o Instituto Paranaense deAssistência Técnica e Extensão Rural(Emater) tem feito um trabalho con-sistente de difusão das técnicas silvi-pastoris, consolidadas na prática, en-tre erros e acertos.

O projeto mais antigo do Arenito– montado no Sítio Primavera, em Ta-pejara – nasceu quase por acaso. Em1979, seu antigo proprietário, ValdirLunardelli, obteve recursos junto aoextinto Instituto Brasileiro do Café(IBC) para formar um pequeno cafe-zal (7 ha), comprometendo-se a utili-zar parte do dinheiro na eliminaçãode uma enorme voçoroca que assola-va a área e na instalação de quebra-ventos para proteger a lavoura. Eleinstalou tubulações subterrâneas pa-ra canalizar a água da chuva vinda darodovia e optou por formar os que-bra-ventos com grevíleas, plantando-as nos terraços em curva de nível, nosentido leste-oeste. Dois anos de-pois, uma forte geada dizimou o ca-fezal. Seu Lunardelli decidiu, então,introduzir grama estrela entre os ren-ques de árvores para criar gado.

O consórcio deu tão certo quechamou a atenção dos técnicos daEmater. Impressionou-os principal-mente a solidez dos terraços, agorasustentados pela rede de raízes entre-laçadas das árvores, e o vigor do ca-pim, que recebia sombra na medidacerta, devido ao plantio das grevíleasnas curvas de nível. Entre 1987-1989,

novos projetos foram montados emTapejara, dessa vez utilizando recursosdo extinto Programa de Manejo e Con-servação de Solos e Águas (Paraná-Ru-ral), que visava combater a erosão. Asáreas foram consorciadas durante a re-forma de pasto, utilizando-se mudasdoadas pelo governo e orientação téc-nica da Emater, que recomendou plan-tá-las nos terraços em nível.

POTENCIAL ECONÔMICO – “Mesmoapós a desativação do Paraná-Rural,há 10 anos, os produtores continua-ram a consorciar novas áreas, basica-mente com grevílea e eucalipto, utili-zando recursos próprios”, conta JoãoBarbi, grande incentivador do siste-ma. Hoje, esses pioneiros colhem osfrutos de seus investimentos, nãoapenas pela melhoria na produtivida-

de do rebanho, mas porque as árvo-res comerciais se valorizaram muitonos últimos anos, devido à instalaçãode diversas indústrias de madeira naregião, além da proximidade de Ta-pejara com o pólo moveleiro de Ara-pongas, segundo maior do País.“Quem tem árvores para tora conse-gue vendê-las por R$ 70-100 a unida-de”, informa o técnico.

Marcos César Rodrigues, dono daindústria de mourões Madefort, loca-lizada em Cianorte, município vizi-nho de Tapejara, lembra que o Para-ná é altamente dependente de ma-deira plantada. No começo do séculoXX, cerca de 80% do território do Es-tado eram cobertos por florestas; ho-je, restam apenas 5%. “Quase já nãotemos matas nativas e as que resta-ram são intocáveis. Os produtoresprecisam plantar árvores para fazercercas e outras instalações ou adqui-rir materiais já prontos no mercado”,explica o empresário.

Aliás, essa não é uma realidadeexclusiva do Paraná. Estimativas daOrganização das Nações Unidas paraa Agricultura e Alimentação (FAO) in-dicam que, até 2030, a demandamundial por toras crescerá 60%, che-gando a 2,4 bilhões de m3, e pelo me-nos 800 milhões virão de florestas plan-tadas, contra os 400 milhões atuais.Cresce também a demanda por ma-deira para produção de papel. O Bra-sil já é o sexto maior produtor mun-dial de celulose, faturando US$ 4bilhões em exportações no ano pas-sado, 77% a mais do que em 2005.Muitas das grandes empresas dessesegmento já produzem madeira comcertificação ambiental e possuem

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Contribuições das árvores para o sistema

❑ Os irmãos Nelson

e Dionísio Penasso

(à esq), com João

Batista Barbi,

técnico da Emater e

grande incentivador

do sistema.

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REPORTAGEM DE CAPA

programas de fomento dirigidos aoprodutor (veja matéria à pág 55).

INTENSIFICAÇÃO – O fato de uma tec-nologia ter potencial econômico,contudo, não a torna necessariamen-te viável. Segundo Moacyr Dias-Fi-lho, da Embrapa Amazônia Oriental,o sistema silvipastoril é altamentevantajoso, mas enfrenta barreiraseconômicas (falta de recursos parainvestimento inicial, retorno demora-do), operacionais (dificuldades demanejar o consórcio) e culturais, tal-vez as mais difíceis de romper. Mui-tos pecuaristas ainda pensam que asárvores afetam a produtividade docapim e, por tabela, do rebanho,quando é perfeitamente possível tra-balhar com pecuária intensiva nasáreas consorciadas.

“Foi o que fizemos no noroestedo Paraná. Vários produtores dessaregião já estavam desistindo de criargado, em meados de 90, porque aatividade não lhes garantia o susten-to. Algumas famílias chegaram a ven-der suas terras, indo tentar a sorte nacidade. O Programa Pecuária de Cur-ta Duração, lançado em 98, veio re-verter esse quadro. Os produtorespassaram a fazer ciclo completo,confinando os bezerros logo após adesmama, para obtenção de novi-lhos precoces, e rotacionando ospastos, inclusive os arborizados comgrevílea. Assim, liberaram área paraalojar um maior número de matrizese melhoraram sua taxa de desfrute”,conta Barbi.

A rotação das pastagens consor-ciadas foi possível graças à cerca elé-trica, cujos fios são presos nos tron-cos das árvores e isolados com peda-ços de mangueira de PVC. MarcosSanches Penasso, proprietário do Sí-tio Água Bonita, diz que o consórcionão atrapalha o manejo do gado. “Aocontrário, os animais ficam mais cal-mos e pastejam mais à vontade, devi-do ao conforto térmico”, salienta.Dos 48 ha do sítio, 8,5 ha são forma-dos com mombaça mais grevílea esubdivididos em 16 piquetes, quepassam por três dias de pastejo e 30de descanso. O jovem produtor de 33anos assumiu a propriedade em2006, após a morte do pai, e hojepossui um rebanho de 110 bovinos,dos quais 70 destinam-se à produçãode carne e 40 à produção de leite.

As matrizes de corte são todas in-

seminadas. “Usamos sêmen de tou-ros Nelore nas fêmeas 1/2 sangueNelore-Angus e retornamos com tou-ros britânicos nas 3/4, sempre procu-rando obter produtos precoces, quepossam ser abatidos aos 14-16 me-ses”, explica Marcos Penasso. Eleconsegue 275 kg de carcaça comer-cializada porha/ano, resul-tado bem supe-rior ao da pe-cuária tradicio-nal local, esti-mada em 75 kgha/ano. Os be-zerros são su-plementados apasto dos trêsaos oito meses, via creep feeding.Depois ficam confinados até o aba-te, recebendo ração à base de sila-gem de sorgo, farelos de milho e so-ja, caroço de algodão e minerais. Naseca, as vacas também são suple-

mentadas com cana mais uréia.

RESULTADO ECONÔMICO – A pecuáriade ciclo curto, associada à silvicultu-ra, trouxe novo alento para os pe-quenos produtores do noroeste doParaná. “Nossa renda anual é deaproximadamente R$ 47.000 (corte eleite somados). Antes da atual criseda pecuária, faturávamos mais. Aindaassim, esse dinheiro nos permite vi-ver melhor do que se eu trabalhassena cidade”, explica o jovem produtor.Priorizando o bem-estar dos animais,Marcos Penasso nunca cortou suasgrevíleas, mas, se decidisse comercia-lizá-las, obteria hoje uma receita deR$ 14.000/ha, considerando-se 200árvores/ha ao preço de R$ 70 por ár-vore. Como ele possui 8,5 ha consor-ciados, embolsaria R$ 119.000, que,divididos por 15 anos, daria receitaextra anual de R$ 933/ha.

Marcos já está sombreando mais8,5 ha de pasto, dessa vez plantandomudas de grevíleas alternadas comeucalipto. “A idéia é cortar o eucalip-to com cinco-seis anos e deixar a gre-vílea para fornecer sombra aos ani-mais”, explica o pecuarista, que pro-tegeu as mudas com cerca elétrica,dos dois lados, para não ter de tirar ogado da pastagem. Esse é um sistemarelativamente novo, pois a maioriados produtores da região costumaimplantar as árvores durante a refor-ma de pasto, utilizando a área paracultivo agrícola nos dois primeirosanos, enquanto as mudas ainda estãosuscetíveis a danos.

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❑ Detalhe de pasto rotacionado com cerca elétrica presa às árvores

Dá paraproduzirmadeira dequalidadeem pastosintensivos

❑ Porfírio, da

Embrapa: de olho

no meio ambiente.

❑ Anísio Menarim,

da Emater: pelo

profissionalismo.

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REPORTAGEM DE CAPA

Foi dessa forma que os tios deMarcos – Nelson e Dionísio Penasso– introduziram o sistema silvipasto-ril na fazenda que exploravam emsociedade. No final dos anos 80, elesconsorciaram 21,8 ha, plantandogrevíleas nas curvas de nível e apro-veitando as entrelinhas para cultivode mandioca, aveia preta e milhomais mucuna. No terceiro ano, seme-aram grama estrela e braquiária nasentrelinhas. Conforme avaliaçõesfeitas por João Barbi, da Emater, oconsórcio gerou renda suficiente pa-ra cobrir os custos de implantaçãodas árvores.

Hoje, os irmãos Penasso têm fa-zendas separadas. Dionísio herdouas grevíleas, mas, infelizmente, nãopode comercializá-las, porque o Iba-ma condiciona o corte das árvores àrecomposição da reserva legal, ine-xistente na propriedade. “Não é jus-to, pois fomos nós que as planta-mos. Mas tudo bem, o que interessaé o bem-estar dos animais”, diz Nel-son, que já começou a plantar greví-leas na área que lhe coube na parti-lha. Essa visão é muito comum entreos pecuaristas da região: primeiro ogado, depois as árvores. “Falta-lhesuma concepção mais empresarial doconsórcio, domínio das técnicas demanejo silvicultural e preparo paranegociar a madeira. Hoje, quemcompra é que escolhe e dá preço”,explica Anísio Menarim, técnico daEmater de Cianorte especializadoem silvicultura.

Pelo histórico dos projetos de Ta-pejara, pode-se dizer que os pastosconsorciados suportam lotação 50%superior à média regional (2 UA/hacontra 1,4). Projetos mais recentes, co-mo o de Domingos Vela, em Cianorte,

confirmam isso. Em 1998, ele consor-ciou 44 ha, primeiro plantando man-dioca entre as linhas de grevílea (ren-da de R$ 2.108/ha) e depois o pasto,usado para recria de garrotes. Duran-te bom tempo, essa área sustentou3,6 UA/ha/ano. Em 2006, ele cortouas grevíleas, que forneceram 351,3toneladas de tora (vendidas R$ 55 a

tonelada) e 350 toneladas de lenha (aR$ 10 a tonelada). “Se tivesse planta-do mais árvores por hectare e as ma-nejado corretamente poderia ter obti-do receita maior. Ou seja, há grandeespaço para aperfeiçoamento do sis-tema”, diz Menarim.

ATIVO AMBIENTAL – A atratividade donegócio silvipastoril não está apenasna receita que propicia, mas tambémno fato de gerarem ativos ambientais,hoje extremamente valorizados. Háforte pressão no mundo pela adoçãode boas práticas agropecuárias nas fa-zendas, capazes de evitar a depreda-ção dos recursos naturais e o desflo-restamento. “Essa pressão transforma-se, pouco a pouco, em barreira não-tarifária. Para enfrentá-la, a pecuáriabrasileira precisa investir em sistemassustentáveis, como o silvipastoril”,acrescenta Vanderley Porfírio da Sil-va, pesquisador da Embrapa Flores-tas, que também já foi técnico daEmater em Cianorte e acompanha osprojetos do Arenito Caiuá desde 1992.

Segundo ele, tanto a carne quan-to a madeira obtidas no consórciopodem auferir certificação mais facil-mente, “pois são produzidas compreocupações ambientais”. Isso lhesconfere maior valor agregado, princi-palmente quando se contabiliza seupotencial para mitigação dos gasesde efeito-estufa e sua contribuiçãopara o bem-estar animal. Sabe-se queo calor excessivo afeta o desempe-nho dos bovinos, reduzindo em até10% o consumo de matéria seca. Ten-tando manter-se em conforto térmi-co, eles desperdiçam energia que de-veria ser utilizada para fins produti-vos, ficam estressados, perdem pesoe têm a fertilidade comprometida, emgraus diferentes conforme a raça.

“Constatamos melhor desenvolvi-mento dos bezerros Charolês PO nospastos arborizados. A pleno sol, elesficavam ofegantes, principalmenteaqueles de genética menos adaptada.Alguns acabavam apresentando pro-blemas de diarréia e forte estresse, de-vido ao calor”, conta o comercianteLuiz Carlos Pereira, que administrou oSítio Primavera após seu pai comprá-lo de Valdir Lunardelli, em 1989, àépoca com um estoque de 1.415 gre-víleas. Ano passado, a família vendeua propriedade para outro produtor,mas antes decidiu cortar as 383 árvo-res remanescentes (60% delas já com

DBO FEVEREIRO/2007 51

❑ O consórcio pode

produzir diversos tipos

de madeira, como postes

para cerca (na foto

maior) e lenha.

Produção de mudasO plantio de árvores nos pastos tornou-se mais fácil e rápido, devido àprodução de mudas em tubetes, quepodem ser enrolados em filme plástico,formando um rocambole. No campo, ésó colocar esse rocambole numa bolsae ir retirando as mudas para deposiçãonas covas. Antes, elas eram produzidasem saquinhos de meio quilo, o quedificultava seu transporte e onerava oplantio. Eram necessários três homenspara plantar 2.000 mudas, hoje umapessoa faz esse serviço.

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REPORTAGEM DE CAPA

45-58 cm de diâmetro), obtendo recei-ta de R$ 23.000. “Já havíamos feito trêscortes anteriores”, complementa o co-merciante.

Observações realizadas nessa pro-priedade, em 1997, mostraram que,no verão, a temperatura sob as copasdas grevíleas chegava a ser até 8°Cmenor do que na área não-sombrea-da. Já no inverno, as árvores funciona-vam como uma barreira de proteçãocontra o vento e as geadas tão comunsna região, minimizando ou mesmoevitando a queima do capim. “Nessaestação, sob as copas, a temperaturaficava 2-3 °C acima da registrada nospastos não-consorciados”, ressaltaVanderley Porfírio, lembrando que asárvores também são utilizadas pelosbovinos para se coçar e, com isso, de-fender-se de ectoparasitas.

MAIS PROTEÍNA – O pasto não é preju-dicado pelo sombreamento, desdeque ele seja moderado (30% da áreatotal). A produção forrageira man-tém-se estável, com incremento noteor de proteína. Isso se deve , possi-velmente, à maior quantidade de ma-téria orgânica e água incorporada aosolo, cujo perfil torna-se mais estru-turado e poroso. O sistema radicularprofundo das árvores e a coberturasuperficial garantida pelas gramíneasfuncionam co-mo um duplosistema de pro-teção, possibili-tando a capta-ção de nutrien-tes em diferen-tes estratos doterreno. Sob acopa das árvo-res, os teoresde fósforo e potássio são geralmentemais altos (15 a 30%).

Outra contribuição das árvores éo aumento da biodiversidade. Umestudo realizado na fazenda dos ir-mãos Penasso, em 2002, constatounúmero bem maior de espécies dife-rentes de besouros coprógafos (rola-bosta) no pasto arborizado em com-paração com o convencional. Issoindica que o complexo silvipastorilproporciona habitat e recursos ali-mentares para uma grande variedadede animais, além de possibilitar co-nexões com fragmentos florestais,formando corredores ecológicos pa-ra a fauna local.

O sistema silvipastoril exige plane-jamento criterioso e avaliação de todasas variáveis econômicas envolvidas. Éfundamental conhecer o mercado ma-deireiro local, antes de decidir se as ár-vores vão destinar-se à serraria, lamina-ção, carvão, palanques, etc. “O pecua-rista deve informar-se sobre o valor pa-go por cada produto, seu custo de pro-dução, investimento inicial, velocidadede retorno, solidez das indústrias insta-ladas, suas exigências de escala e pa-drões de qualidade. Somente após defi-nida a destinação da madeira, é que seescolhe a espécie lenhosa para plantio,tendo o cuidado de verificar sua adap-tabilidade às condições edafoclimáticasda região e sua vocação para o consór-cio”, explica Vanderley Porfírio daEmbrapa Florestal.

As árvores para sistemas silvipasto-ris, especialmente quando plantadasem renques (fileiras), devem ter cresci-mento monopodial (reto, sem ramifica-ções) e copas pouco densas, para quenão impeçam a chegada de luz até apastagem. Também devem possuir raí-zes profundas, que lhes confiram resis-tência contra ventos fortes e evitemcompetição com a forrageira por água enutrientes. É importante verificar aindase a espécie arbórea exerce influêncianegativa sobre a pastagem (alelopatia)e os bovinos (toxidez).

ESPAÇAMENTO – Se a relação largu-ra/profundidade da copa for baixa e o

fuste (caule) alto, pode-se trabalharcom espaçamentos menores, que ga-rantem maior produção de madeirapor área. A produção de toras é possí-vel tanto com espaçamentos largosquanto estreitos, mas no segundo casoé preciso fazer mais desbastes. Deve-seusar gramíneas tolerantes ao sombrea-mento, como as dos gêneros Brachia-ria, Panicum e Cynodon. “Na Embra-pa Florestas, estamos testando o poten-cial de 18 forrageiras (cinco delas nati-vas de regiões frias) para consórciocom capim”, informa Porfírio.

Nos projetos de Tapejara, ondepredominam grevíleas plantadas nascurvas de nível, o espaçamento maisutilizado tem sido de 7-9 metros entreárvores e 20-30 metros entre renques,pois essa espécie possui copa mais fe-chada e destina-se à produção de toras.

Já os eucaliptos podem ser planta-dos com espaçamento de 14 x 2 me-tros, que, após desbastes, evoluirá para14 x 4 ou 14 x 8, chegando ao final de12-15 anos a 28 x 4 metros. As árvorescortadas durante os desbastes servempara lenha e as do corte final para to-ra. Alguns produtores plantam essa es-pécie em linhas duplas (1 x 1 m entreárvores e 3 m entre linhas), deixando25 m entre os renques, também insta-lados nas curvas de nível. O arranjocom “ruas largas” é fundamental para obom estabelecimento das forrageiras,além de permitir tratos culturais meca-nizados (adubação, por exemplo).

52 DBO FEVEREIRO/2007

❑ O eucalipto é ótimo parceiro do boi, devido à sua versatilidade.

Como implantar um sistema silvipastoril?

Temperaturano verão é até8°C menorsob a sombrado que apleno sol.

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REPORTAGEM DE CAPA

IMPLANTAÇÃO – Pode-se introdu-zir o sistema aos poucos na fa-zenda, para evitar grandes de-sembolsos de capital. Se o pastoestiver em boas condições, bas-ta eliminar o capim na faixa de 2metros ao longo da linha deplantio, fazer as covas e plantaras mudas no espaçamento esco-lhido, caprichando na adubação. O ga-do pode ser mantido na área, se as mu-das forem protegidas com cerca elétri-ca, eliminando-se os ramos que atin-gem os fios eletrificados para evitar per-da de energia. É fundamental combateras formigas e manter a faixa de plantiolivre de invasoras, até que as árvoresatinjam 1,5 metro de altura.

Se o pasto estiver em processo dedegradação, recomenda-se retirar o ga-do, implantar as árvores e adotar osprocedimentos normais para recupera-ção da forrageira, como controle de in-vasoras, adubação e veda. O piquetea-mento para pastejo rotacionado sem-pre ajuda nesse processo. Porém, se opasto estiver muito degradado, o idealé reformá-lo, aproveitando esse mo-mento para plantio das mudas de árvo-res, processo hoje bem mais simples(veja foto à pág. 51). Nas entrelinhas,pode-se fazer cultivo mínimo (caso aárea não esteja muito suja, nem comgrandes problemas de fertilidade) oupreparo convencional, com aração egradagem, introduzindo-se culturas

agrícolas nos dois primeiros anos (man-dioca, milho, milheto, sorgo etc).

MANEJO – A poda ou desrama é funda-mental para levantar a copa das árvo-res, permitindo que a luz entre obliqua-mente na área e a sombra se mova pa-ra as entrelinhas, de forma que o solpossa banhar o capim próximo ao tron-co. Além disso, garante madeira de me-lhor qualidade (toras sem nós mortos,

provenientes degalhos secos). Apoda deve serfeita quando aplanta estivercom 6 cm de di-âmetro a 1,3 me-tro do solo. Des-se ponto parabaixo, deve-seeliminar todos

os galhos. No eucalipto, a primeira des-rama acontece com aproximadamente1,5 ano de idade. O procedimento é re-petido, nos anos seguintes, até a alturade 6 metros do chão.

Muita gente não faz desrama e, porisso, produz madeira de baixa qualida-de, que vale menos no mercado. “Opecuarista tem de entender que estátrabalhando com um sistema consorci-ado e prestar atenção as árvores”, sali-enta Porfírio. O desbaste ou raleamen-to também visa melhor qualidade demadeira. Não se pode ter a copa deuma árvore competindo com a de ou-tra. “Isso vai estragar as toras e prejudi-car a pastagem”, diz ele. O desbastepermite colher parte da madeira maiscedo, o que é interessante para o pro-dutor. Deve-se avaliar as árvores anual-mente, observando se sua taxa de cres-cimento está diminuindo ou estabili-zando, devido à competição entre indi-víduos. Caso isso esteja ocorrendo, éhora de desbastar.

54 DBO FEVEREIRO/2007

❑ Ao lado, mandioca nas

entrelinhas. Abaixo, linha dupla

de eucalipto para lenha.

Espaçamentodepende dadestinação damadeira e dosobjetivos doprodutor

Escolha da espécieexige cuidados

Há grande variedade de espécieslenhosas que podem ser consorcia-das com gramíneas forrageiras. Cadauma delas tem vantagens e desvanta-gens, conforme a região e a destina-ção da madeira. Veja alguns exem-plos abaixo:

Grevílea (Grevillea robusta) – Espécieexótica, originária da Austrália. Apre-senta porte ereto (geralmente com fus-te único), altura média de 25 metros,boa tolerância a solos de baixa fertili-dade e sistema radicular profundo(concentração de raízes abaixo de 40cm). A madeira fornecida pelas varie-dades plantadas no País nem sempreé de boa qualidade, apresentando grã

torcida (aspecto arrepiado), o que éruim para a fabricação de móveis. Re-centemente, a Embrapa Florestas lan-çou um material genético melhoradodessa espécie, que apresenta melhorprodutividade e fornece madeira comótimo acabamento, além de garantirsombra de qualidade para os animais.

Eucalipto (Eucalipytus spp) – Uma dasalternativas mais interessantes paraconsórcio com pastagens, devido a seurápido crescimento, copa estreita e ver-satilidade produtiva. Há grande varie-dade de material genético adaptado àsdiferentes regiões do País. No Paraná,por exemplo, planta-se principalmenteo E. camaldulensis para produção delenha e o E. grandis para tora. Uma dasespécies mais usadas para cerca conti-nua sendo o Corymbia citrodora, queaté pouco tempo era classificada comoeucalipro (E. citrodora).

Pinus (Pinus spp) – Vai bem com o pasto,mas demora mais a crescer do que o eu-calipto. Fornece madeira clara, de ótimaqualidade, e também resina. Não é muitoresistente a geadas e, no Paraná, sofre oataque de lebres silvestres, que comem asmudas. As espécies mais plantadas são aP. taeda, para celulose, e a P. elliottii, paraserraria e extração de resina.

Canafístula (Peltophorum dubium) – Es-pécie nativa de crescimento rápido. Bas-tante usada no Sul como quebra-ventos,também presta-se ao consórcio com pas-tagens. É tolerante a geadas.

Teca (Tectona grandis) – Espécie exóticaoriginária da Ásia. Tem crescimento retilí-neo e é muito valorizada pela indústrianaval. Não se desenvolve bem em áreassujeitas a geadas. Existem grandes proje-tos no Mato Grosso, alguns consorciadoscom braquiária.

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REPORTAGEM DE CAPA

DBO FEVEREIRO/2007 55

Os projetos silvipastoris hoje nas-cem em planilhas Excel, com crono-grama de execução detalhado. Porforça da necessidade, os produtoresestão aprendendo a utilizar ferramen-tas modernas de planejamento e tervisão de longo prazo (horizonte de nomínimo 20 anos). É o caso de Leonar-do de Oliveira Resende, que adminis-tra a Fazenda Triqueda, pertencente asua mãe, Regina Maria Gama Oliveira.

A propriedade tem 381 hectares eestá localizada em Coronel Pacheco,município da Zona da Mata Mineira.Após muita análise, ele resolveu di-versificar suas atividades, investindoem dois novos negócios: o plantiosolteiro de eucalipto para carvão e oconsórcio de boi com eucalipto paralenha/serraria. O primeiro projeto foimontado em dezembro de 2004, emparceria com a Belgo Mineira, e o se-gundo nasceu em 2006/2007, com oplantio das mudas no pasto de bra-quiarão.

A Fazenda Triqueda sempre viveuda pecuária de corte, fazendo recria-engorda. Mas, nos últimos anos, essaatividade mostrou-se pouco rentável.“Decidi buscar alternativas de melhorretorno”, explica Leonardo Resende.Antes de decidir-se por esse ou aqueleinvestimento, ele fez uma série de pro-jeções comparativas, concluindo que oconsórcio silvipastoril tem grande po-

tencial econômico. Ainda assim, prefe-riu não colocar “todos os ovos na mes-ma cesta”. Sua intenção é destinar 105dos 250 ha agricultáveis da fazenda àprodução de madeira para carvão, 100ha ao consórcio e 50 ha à pecuária sol-teira. Cada etapa de execução foi des-crita detalhamente e cronometrada.

PARCERIA INTERESSANTE – O projeto deeucalipto para carvão está sendo con-duzido em parceria com a CAF SantaBárbara, empresa florestal da Compa-nhia Siderúrgica Belgo Mineira (GrupoArcelor). Leonardo inscreveu-se noPrograma Produtor Florestal CAF, quevisa fomentar o plantio de eucaliptoem 30.000 hectares da Zona da Mata,Sul e Centro-Oeste de Minas até 2012,produzindo um adicional de 500.000m3 de madei-ra/ano.

O programagarante financia-mento para oprodutor, pormeio do Prop-flora, linha decrédito do Minis-tério da Agricul-tura gerenciadapelo BNDES. Osjuros de 8,75%ao ano são pa-gos pela CAF,

que também fornece as mudas, in-sumos agrícolas e empresas presta-

doras de serviços para plantio/manu-tenção da floresta até os 12 meses deidade. O financiamento é pago naépoca da colheita, em madeira, todaela comprada pela CAF a preço demercado. Leonardo já formou 45 ha edeve plantar mais 15 ha/ano até 2010.“O plantio escalonado permite cortesanuais, o que é bom para o bolso doprodutor”, diz ele.

CONSÓRCIO LUCRATIVO – Já o projetosilvipastoril foi elaborado com ajudado pesquisador Vanderley Porfírio, daEmbrapa Florestas, e está sendo con-duzido com recursos próprios. Eleprevê o plantio de 555 mudas/ha daespécie E. hurograndis clone, utilizan-do espaçamento de 3 x 2 metros den-tro do renque (formado por linhas du-plas) e 15 metros entre renques. Cercade 50% da madeira vai ser destinada àenergia e 50% à serraria. As planilhaselaboradas pelo produtor e publicadaspor DBO indicam receita bruta de R$28.274/ha com madeira e carne ou R$2,827 milhões nos 100 ha do consór-cio, ao final de 19 anos. Isso significauma receita média de R$ 157.077/anoou R$ 13.089/mês.

“É um resultado muito superior aoda pecuária solteira, principalmenteconsiderando-se que o preço pago pe-la madeira é conservador e não foi pre-vista valorização nos próximos anos”,explica ele. A maior parte da receita doconsórcio virá do eucalipto. Estão pre-vistos quatro cortes. O primeiro, paralenha/carvão, será feito no 6º ano e to-talizará 278 árvores.que irão rebrotar,permitindo um segundo corte tambémpara lenha/carvão no 12º ano. Leonar-do acredita que pelos menos 200 das272 árvores poupadas no primeiro cor-te fornecerão madeira própria para ser-raria, no 15º ano, gerando a maior re-ceita do projeto (R$ 20.000/ha). Final-mente, será feito um último corte no18º ano também para energia. O pro-dutor considerou perda de 13,78% (77árvores) ao longo do projeto.

PARTICIPAÇÃO DO BOI – A participaçãodo boi na receita total do consórcio

❑ Faixas já tratadas com herbicida

visando plantio de eucalipto

sobre o pasto de braquiarão.

Projeto mineiro apostana diversificação

❑ Leonardo

Resende:

“planejamento”.

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56 DBO FEVEREIRO/2007

REPORTAGEM DE CAPA

é relativamente pequena, mas Leo-nardo não quis abrir mão da ativida-de, porque já tem gado na fazenda.Além disso, os animais contribuempara o bom funcionamento do sis-tema, estercando a área e manten-do-a limpa. Da receita bruta de R$28.274 a ser obtida por hectare aofinal dos 18 anos do projeto, R$23.534 virão da madeira, cuja im-plantação exigerá investimento deR$ 1.231/ha, mais R$ 400 de manu-tenção. Ou seja, o eucalipto garan-tirá receita líquida de R$ 21.903/hano período.

Já o faturamento bruto da pecuá-ria seria de R$ 4.740 em 18 anos, cal-culados com base nos seguintes pa-râmetros: ganho de 5,4@/cab/ano,que multiplicadas por 1,33 UA/ha,dariam 7,18 @/ha/ano. Se essas arro-

bas forem, vendidas a R$ 55 a unida-de (valor de hoje), dariam receitabruta de R$ 395/ha/ano. Como o ga-do ficará na área apenas 12 dos 18anos previstos para o projeto, chega-seao faturamento bruto de R$ 4.740/hano período. Desse valor, é precisodeduzir R$ 1.901/ha de custos fixos evariáveis, difíceis de diluir em fazen-das de médio porte como a deLeonardo. A receita líquida previstacom gado, no final do projeto, seria,portanto, de R$ 2.839/ha.

Os bovinos serão introduzidos naárea a partir do terceiro ano, tempo su-ficiente para que o braquiarão, hoje su-perpastejado, se recupere totalmente.Durante dois anos, por ocasião do pri-meiro e segundo cortes, a área tambémficará sem animais, para garantir a re-brota do eucalipto (veja tabela). Leo-nardo admite que a produção de arro-bas/ha pode estar substimada (afinal, opasto será vedado periodicamente,acumulando maior quantidade de for-ragem), mas, de qualquer forma, elenão pensa em elevar muito a lotação,nem fazer terminação em confinamen-to, porque os custos com alimentaçãosubiriam bastante.

Nas simulações que fez, a pecuáriasolteira tradicional (considerando osmesmos dados acima) daria receita deR$ 7.110/ha em 18 anos. Isso provaque a tecnificação da atividade, visan-do elevar a produçao de carne por ani-mal e por hectare, é fundamental paratorná-la mais rentável. Quanto ao pro-jeto para carvão, ele prevê o plantio de1.300 árvores/ha, com custo de im-plantação de R$ 3.000. Serão feitos trêscortes anuais, o que garantirá receitabruta de R$ 16.400 (veja tabela).�

❑ Plantação de

eucalipto para

carvão, em

parceria com a

Belgo Mineira.

As árvores já

estão com dois

anos de idade.

Ano Operações Gado (UA/ha) Receita Bruta/ha1º 2006 Plantio de 555 mudas Sem gado X2º 2007 X Sem gado X3º 2008 1º desrama/entrada gado 1,33 R$ 3954º 2009 X 1,33 R$ 3955º 2010 X 1,33 R$ 3956º 2011 1º corte: lenha/carvão Sem gado R$ 1.2407º 2012 2º desrama Sem gado X8º 2013 X 1,33 R$ 3959º 2014 X 1,33 R$ 39510º 2015 X 1,33 R$ 39511º 2016 X 1,33 R$ 39512º 2017 2º corte: lenha/carvão Sem gado R$ 1.17813º 2018 X Sem gado X14º 2019 X 1,33 R$ 39515º 2020 3º corte: serraria 1,33 R$ 20.39516º 2021 X 1,33 R$ 39517º 2022 X 1,33 R$ 39518º 2023 4º corte: lenha/carvão 1,33 R$ 1.511Total Receita/ha ao final de 18 anos R$ 28.274

FATURAMENTO PREVISTO COM O SISTEMA SILVIPASTORIL

Atividades Faturamento Bruto/ha Investimento + custo/ha Ganho/haMadeira + gado R$ 28.274 R$ 4.054* R$ 24.220Gado solteiro R$ 7.110 R$ 1.901 R$ 5.209Carvão solteiro R$ 16.400 R$ 3.000 R$ 13.400

* OBS: Não foi contabilizado o custo da desrama. Os dados são indicativos, já que não é possível avaliar a valorizaçãodos produtos ao longo dos anos, nem interferências externas.

ANÁLISE ECONÔMICA DOS PROJETOS AO FINAL DE 18 ANOS

Ano Lotação (UA/ha) Receita Bruta1º 2006 1,33 R$ 3952º 2007 1,33 R$ 3953º 2008 1,33 R$ 3954º 2009 1,33 R$ 3955º 2010 1,33 R$ 3956º 2011 1,33 R$ 3957º 2012 1,33 R$ 3958º 2013 1,33 R$ 3959º 2014 1,33 R$ 39510º 2015 1,33 R$ 39511º 2015 1,33 R$ 39512º 2016 1,33 R$ 39513º 2017 1,33 R$ 39514º 2018 1,33 R$ 39515º 2019 1,33 R$ 39516º 2020 1,33 R$ 39517º 2021 1,33 R$ 39518º 2022 1,33 R$ 395Total/ha em 18 anos R$ 7.110

PECUÁRIA SOLTEIRAAno Operações Receita Bruta

1º 2006 Plantio X2º 2007 X X3º 2008 X X4º 2009 X X5º 2010 X X6º 2011 1º Corte R$ 6.0007º 2012 X X8º 2013 X X9º 2014 X X10º 2015 X X11º 2016 X X12º 2017 2º Corte R$ 5.40013º 2018 X X14º 2019 X X15º 2020 X X16º 2021 X X 17º 2022 X X18º 2023 3º Corte R$ 5.000Total por há ao final de 18 anos R$ 16.400

EUCALIPTO SOLTEIRO PARA CARVÃO