aos confins do trafico de pessoas - talithakum.info · reciclagem de dinheiro proveniente de atos...
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"Aos confins do Trafico de Pessoas" uma aproximação multidimensional de uma realidade complexa
Sr. Gabriella Bottani, smc
www.talithakum.info
Lisboa, 4 de março de 2016
Um crime contra a dignidade, a integridade .... a humanidade
A mercantilizarão da vida humana para fins de lucro
O cerceamento da liberdade
“A escravidão, a
prostituição, a venda de
mulheres e crianças e as condições de trabalho
degradantes onde as
pessoas são tratadas como
instrumento de lucro em vez
de pessoas livres e
responsáveis, são infâmia
que envenenam a
sociedade humana e
constituem uma suprema
desonra ao Criador”. (ano 1965 - GS, 27)
Papa Francisco - Angelus 8 de Fevereiro de 2015
O tráfico de pessoas é uma “intolerável vergonha” (7 de fevereiro de 2016)
Numa civilização paradoxalmente ferida pelo anonimato e,
simultaneamente, obcecada com os detalhes da vida
alheia, descaradamente doente de morbosa curiosidade,
a Igreja tem necessidade de um olhar solidário para
contemplar, comover-se e parar diante do outro, tantas
vezes quantas forem necessárias. Neste mundo, os ministros
ordenados e os outros agentes de pastoral podem tornar
presente a fragrância da presença solidária de Jesus e o
seu olhar pessoal. A Igreja deverá iniciar os seus membros –
sacerdotes, religiosos e leigos – nesta «arte do
acompanhamento», para que todos aprendam a
descalçar sempre as sandálias diante da terra sagrada do
outro (cf. Ex 3,5). Devemos dar ao nosso caminhar o ritmo
salutar da proximidade, com um olhar respeitoso e cheio de
compaixão, mas que ao mesmo tempo cure, liberte e
anime a amadurecer na vida cristã.
Evangelii Gaudium, 169
A filha de Maria, de um povo tradicional da America
Latina, tinha 12 anos quando foi liberada do carcere
privativo para exploração sexual. De uma casa onde ela
estava junto com outras 8 adolescentes.
Depois de um tempo na capital, longe da aldeia, a
menina voltou para casa. Ela não pode ficar com sua
mãe e seus irmãos na aledeia, pois continua sendo vista
como uma "prostituta" e sofreia violência por parte dos
homens do bairro onde mora.
Maria, sua mãe, chorando affirmou: “Os outros vêem em
minha filha uma menina que não presta, que seduz os
homens, que voltou somente para causar problemas e
roubar namorados e maridos daqui. Ela é culpada por
tudo. Eu olho para ela e para mim .
Agar, ao Senhor que falou com ela, deu este nome: «Tu és o
Deus que me vê», pois disse: «Eu vi Aquele que
me vê?»
Deus olhou (Lc. 1,46)
“Eu não tenho vergonha de mostrar meu rosto. Não sou
eu que tenho que me envergonhar, mas aqueles que
abusaram de mim, me estupraram, venderam e usaram
como objeto. Eles deveriam ter vergonha.”
Blessie foi enganada e aliciada na Nigeria. Em busca de
trabalho recebeu um convite para ir à Europa. A viagem
foi horrível: sofreu abuso, violência, foi explorada e
vendida muitas vezes no Niger, na Libia e na Italia.
Blessie conseguiu fugir e reconstruir sua vida.
Atualmente atua como mediadora cultural para outras
jovens nigerianas traficadas, ajudando-as a sairem da
escravidão sexual.
Uma mudança radical de perspectiva:
libertar da vergonha que faz com que a
mulher seja culpada e submissa
porque Deus
fez grandes coisas
por mim (Lc. 1-49)
“O que você se importa com a minha vida?"
Exploração, submissão, violência, todas as formas de violência
destroem a dignidade.
Monalisa, 13 anos, um dia descarregou sua raiva e violência
batendo nas portas, cadeiras e paredes de um centro de
escuta. Usou palavras grossas e pesadas.
“O que acontece com você?” À pergunta ela respondeu: “O
que você se importa com a minha vida?”
A resposta: “Eu me preoccupo contigo. Você é importante!”
Naquele dia Monalisa contou sua historia de exploração,
abuso e desespero.
O nosso compromisso não consiste exclusivamente em acções ou em programas de
promoção e assistência; aquilo que o Espírito põe em movimento não é um excesso
de activismo, mas primariamente uma atenção prestada ao outro «considerando-o
como um só consigo mesmo». Esta atenção amiga é o início duma verdadeira
preocupação pela sua pessoa e, a partir dela, desejo procurar efectivamente o seu
bem. Isto implica apreciar o pobre na sua bondade própria, com o seu modo de ser,
com a sua cultura, com a sua forma de viver a fé. O amor autêntico é sempre
contemplativo, permitindo-nos servir o outro não por necessidade ou vaida-de, mas
porque ele é belo, independentemente da sua aparência: «Do amor, pelo qual uma
pessoa é agradável a outra, depende que lhe dê algo de graça». Quando amado,
o pobre «é estimado como de alto valor», e isto diferencia a autêntica opção pelos
pobres de qualquer ideologia, de qualquer tentativa de utilizar os pobres ao serviço
de interesses pessoais ou políticos. Unicamente a partir desta proximidade real e
cordial é que podemos acompanhá-los adequadamente no seu caminho de
libertação. Sem a opção preferencial pelos pobres, «o anúncio do Evangelho – e
este anúncio é a primeira caridade – corre o risco de não ser compreendido ou de
afogar-se naquele mar de palavras que a actual sociedade da comunicação
diariamente nos apresenta».
Evangelii Gaudium, 199
Diante da cultura globalizada do egoísmo, dominação,
opressão; onde a lei do mais forte parece prevalecer, somos
chamados/as à misericórdia, que é se preocupar para com os
outros com sinceridade!
«Socorre Israel seu servo,
Lembrando-se da sua misericórdia» (Lc. 1,54)
Misericórdia: é o acto último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro.
Misericórdia: é a lei fundamental que mora no coração de cada pessoa, quando vê
com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida.
Misericórdia: é o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do nosso pecado.
(Bolla Misericordiae Voltus 2)
8.7 Tomar medidas imediatas e eficazes para erradicar o
trabalho forçado, acabar com a escravidão moderna e o tráfico
de pessoas, e assegurar a proibição e eliminação das piores
formas de trabalho infantil, incluindo recrutamento e utilização
de crianças-soldado, e até 2025 acabar com o trabalho infantil
em todas as suas formas.
Transformando Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável
Tráfico de Pessoas definição das Nações Unidas
Convenção das Nações Unidas
contra a Criminalidade
Organizada Transnacional
Palermo, 2000
Um preâmbulo A Convenção contra o crime organizado é um instrumento legal
com objetivo de promover a cooperação para prevenir, combater
a criminalidade transnacional organizada de forma mais efetiva.
(art. 1)
A finalidade é a prevenção, investigação e responsabilização da
Criminalização da participação à grupos criminais organizados, a
reciclagem de dinheiro proveniente de atos criminosos, a
corrupção e a obstrução da justiça. (art. 3 (a) par.: 3, 5, 8, 23)
Crime serio com pena de privação de liberdade não inferior à 4
anos (art. 3 (b))
Convenção das Nações Unidas contra o Crime
Transnacional Organizado
Convenção de Palermo, 2000
Protocolo relativo à Prevenção, à Repressão e à
Punição do Tráfico de Pessoas, em especial de
Mulheres e Crianças, 2002
Protocolo contra o Tráfico Ilícito de Migrantes por Via
Terrestre, Marítima e Aérea, 2002
Protocolo contra a Fabricação e o Tráfico
Ilícito de Armas de Fogo, suas Peças, Componentes
e Munições, 2002
166 Países assinaram o
Protocolo de Palermo
(fonte: Relatório dos Estados Unidos sobre tráfico de pessoas - Junho 2015)
84,7% dos países
a) Prevenir e combater o tráfico de pessoas,
prestando uma especial atenção às
mulheres e às crianças;
b) Proteger e ajudar as vítimas desse
tráfico, respeitando plenamente os seus
direitos humanos; e
c) Promover a cooperação entre os Estados
Partes de forma a atingir estes objetivos.
O PdP contra o tráfico de pessoas
tem como objeto - Art. 2
Para efeitos do presente Protocolo:
a) Por “tráfico de pessoas” entende-se o recrutamento, o transporte, a
transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo
à ameaça ou ao uso da força ou a outras formas de coação, ao rapto,
à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou de situação de
vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou
benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tem
autoridade sobre outra, para fins de exploração. A exploração deverá
incluir, pelo menos, a exploração da prostituição de outrem ou outras
formas de exploração sexual, o trabalho ou serviços forçados, a
escravatura ou práticas similares à escravatura, a servidão ou a
extração de órgãos;
Definição de tráfico de pessoas Art. 3
• recrutamento
• transporte
• Transferência
• Acolhimento
• Alojamento
Ato
• Ameaça
• Uso da força
• Outras formas de coação
• Rapto
• Fraude
• Engano
• Abuso de autoridade
• Abuso de uma situação de vulnerabilidade
• Entrega ou aceitação de pagamento ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra
Meio • Exploração da prostituição de outrem
• Outra forma de exploração sexual
• Exploração do trabalho
• Serviços forçados
• Escravidão ou situações análogas à escravidão
• Servidão
• Extração de órgãos.
Finalidade
Adultos Crianças
Idade das vítimas 18 ou maiores Menores de 18
Elemento moral Intenção Intenção
Provas materiais Atos Meios Intenção de exploração
Atos Intenção de exploração
Consentimento Irrelevante quando os meios elencados no art. 3 forem comprovados
Irrelevante sem necessidade de comprovar os meios
Transnacionalidade não necessária não necessária
Envolvimento de um grupo de criminalidade organizada
não necessária
não necessária
Crimes relacionados com o tráfico de
pessoas Falsificação de
documentos Escravidão Corrupção Servidão
forçada
Servidão por divida
Casamento forçado
Interrupção forçada
da gravidez
gravidez forçada
Tortura
Tratamento
Cruel, inumano o
degradante
Estupro Agressão sexual
Lesão Corporal
Homicídio
Rapto
Exploração do
trabalho
Cárcere
privativo
• Agiotagem
• Violência psicológica
a) Prevenir e combater o tráfico de migrantes;
b) Promover a colaboração entre Países para
que este termine, enquanto sejam protegidos
os direitos dos migrantes traficados.
O PdP contra o tráfico de migrantes
Tem como objetivo - Art. 2
Definição de Tráfico de Migrante
A promoção, com o objetivo de obter,
direta ou indiretamente, um beneficio
financeiro ou outro beneficio material,
da entrada ilegal de uma pessoas num
Estado - Parte do qual essa pessoa não
seja nacional ou residente permanente.
Protocolo Adicional Relativo ao Combate ao tráfico de Migrantes
Por Via Terrestre, Marítima e Aérea:
Tráfico de pessoas vs. de migrantes
• Atravessamento dos
confins com e sem
documentos
• Retirada dos
documentos
• Coerção e exploração
continuada
• Restrição da liberdade
de movimento, controlo
• Mercadoria: a pessoa
• Crime contra a PESSOA
• Atravessamento dos
confins com
documentos falsos o
sem documentos
• Voluntário
• A mercadoria: um
serviço, um
movimento
• Crime contra o
ESTADO
Negócio
rentável que
envolve
pessoas
Redes
criminosas
Similitudes e diferenças
Mendicância
Tráfico de pessoas
Migrações
Tráfico de
droga
Exploração sexual
Desaparecimentos
Trabalho
indigno Prostituição Barriga de
aluguel
?
servidão
Áreas de vulnerabilidades
Violação dos direitos
humanos
Exploração
Tráfico de pessoas