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CAPÍTULO 19
“UM LUGAR AO SOL”
DE RICARDO NASCIMENTO
REVISADO EM 20/10/2012
PERSONAGENS DESTE CAPÍTULO
ALICE
ÁLVARO
ANDRÉA
BEATRIZ
BIRA
BRUNO
CARLOS
CLARICE
DIVA
FÁTIMA
FERNANDA
HEITOR
INGRIND
JULIANO
JÚLIO
JURANDIR
LEINHA
LINDALVA
LÚCIA
RAFAELA
REGINA
RUTE
SHEYLA
SILVIA
SIMONE
PARTICIPAÇÃO ESPECIAL DESTE CAPÍTULO:
Recepcionista Hospital, Traficantes.
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CENA 01. HOSPITAL. INTERIOR. DIA.
Carlos encara Bruno. Closes alternados.
CARLOS: - Eu que pergunto quem é você?
BRUNO: - Eu sou pai da Maria Luiza e marida
da Fernanda. O que você esta fazendo
aqui?
CARLOS: - Eu não te devo satisfação.
BRUNO: - (a recepcionista) Você esta proibida
de passar qualquer tipo de informação
a respeito da minha filha pra esse
individuo. Ouviu bem? Ou eu a coloco
no olho da rua.
CARLOS: - Bem a sua cara mesmo. Mau caráter.
BRUNO: - Eu achei que você tivesse sumido,
morrido, preso ou coisa do tipo, mas
você resolveu surgir do nada pra se
meter de novo na vida da minha
família.
CARLOS: - Quem se meteu na minha vida foi
você, ou esqueceu que eu conheci a
Fernanda primeiro? Eu era o namorado
dela.
BRUNO: - Você era o namorado, eu sou o
marido. Sentiu a diferença? Agora você
vai dar o fora desse hospital e das
nossas vidas, antes que eu chame o
segurança pra te escorraçar daqui.
CARLOS: - Eu se fosse você não tinha tanta
certeza disso. Fica na tua, que eu
fico na minha, seu almofadinha.
Enquanto vão falando, tanto Carlos, quanto Bruno vão de
alterando. Gradativamente. Até o momento que estão
falando alto, chamando atenção de todos ao redor.
BRUNO: - Você é muito burro mesmo. O que você
quer agora? Veio correr atrás da minha
mulher? A Fernanda não te quis há
vinte anos atrás, você acha que ela
vai te querer agora? Some. Desaparece.
CARLOS: - Isso é uma pergunta que você tem que
fazer pra ela. Não pra mim. Agora sai
da minha frente, antes que eu esqueça
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que eu to num hospital e faça o eu
devia ter feito há muito tempo:
quebrado essa tua cara de pau.
BRUNO: - Bem típico de você. Um grosseirão,
troglodita, xucro. Quer resolver a
base da porrada? Então vamos resolver
a base da porrada. Se acha que eu vou
fugir? Não vou não.
CARLOS: - Se eu fosse você não me arriscava.
Com essa cara de almofadinha, de quem
nunca brigou na vida, sequer amassou
esse seu colarinho engomadinho. Vai se
arrepender.
RECEPCIONISTA:- Senhores, por favor. Vocês estão num
hospital. Desse jeito eu vou ser
obrigada a chamar a segurança.
A cam vai buscar Fernanda que ouviu a confusão.
FERNANDA: - (surpresa) Carlos?
Close em Fernanda. CORTE CONTINUIDADE.
CENA 02. HOSPITAL. UTI. INTERIOR. DIA.
Long shot da UTI deste hospital, muito bem equipada,
equipamentos modernos, a CAM vai revelando aos poucos
Marcelo em um leito, entubado com um respirador,
aparelhos de monitoramento de batimentos cardíacos, uma
enfermeira ao seu lado verifica o equipamento. Trilha
sonora instrumental triste, aos poucos vai revelando
fora da sala, vendo esta cena por uma parede de vidro,
Silvia e Heitor, com roupas de hospital, usando toucas,
tudo apropriado. Os dois estão abraçados, contidos,
Silvia com os olhos cheio de lágrimas, Heitor também
muito abalado. Tempo neles. Muita emoção.
CONTINUAÇÃO CENA 01. HOSPITAL. RECEPÇÃO.
FERNANDA: - Eu não acredito que vocês estão
discutindo feito dois moleques aqui no
hospital.
CARLOS: - O seu maridinho que começou.
BRUNO: - Eu quero saber o que esse homem veio
fazer aqui? Voltou da terra dos mortos
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pra nos perturbar. Aliás, você deve
ter uma boa explicação pra isso, né
Fernanda?
CARLOS: - Vai contar ou quer que eu conte?
Fernanda acuada. Close. CORTE CONTINUIDADE.
CENA 03. PARIS. AEROPORTO CHARLES DE GAULLE. DIA.
Long shot do aeroporto. Rapidíssimo a cam vai buscar
Ingrid, muito bem vestida, trazendo apenas uma mala e
uma bolsa, anda apressadamente pelo saguão. Seu
semblante esta preocupado, em determinado momento uma
lágrima vai escorrer pelo seu rosto, close, muito sutil.
Ela chega ao balcão de atendimento de uma companhia
aérea.
INGRID: - (aflita) S'il vous plaît, j'ai
besoin d'un billet pour le Brésil
rapidi que possible le premier vol,
sans escale.
Já cortou.
CONTINUAÇÃO CENA 01. HOSPITAL. RECEPÇÃO.
FERNANDA: - Pelo amor de Deus. Calma vocês dois.
BRUNO: - Você chamou esse homem pra vir aqui,
Fernanda?
FERNANDA: - Não!
CARLOS: - Não, né? Nem a coragem de retornar a
minha ligação você teve.
BRUNO: - Como é que é? Retornar ligação? Que
história é essa? Vocês continuam se
falando pelas minhas costas?
FERNANDA: - Não! Calma Bruno. Carlos, por favor,
não piora a situação.
CARLOS: - Piorar a situação? Eu quero ver a
Luiza. Como ela esta?
BRUNO: - Que Mané ver Luiza. Você ficou
louco? Perdeu o pouco de juízo que
ainda resta? Você não vai ver a minha
filha!
CARLOS: - Ah vou.
FERNANDA: - Calma.
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A cam vai buscar Diva que chega a recepção.
DIVA: - O que esta acontecendo aqui? Dá pra
ouvir essa discussão lá do corredor.
(surpresa) Carlos?
FERNANDA: - Mãe tira o Carlos daqui. Eu preciso
conversar com o Bruno.
CARLOS: - Eu não vou embora. Eu armo um
escândalo aqui nesse hospital, eu
quebro tudo, mas eu só saio daqui
depois de ter notícias da Luiza. Poxa,
é pedir demais? Eu tenho o direito.
BRUNO: - Direito? Do que ele esta falando,
Fernanda? Direito de ver a minha
filha?
FERNANDA: - Calma Bruno. Mãe leva o Carlos.
Carlos vai com ela, eu vou conversar
com o Bruno e já falo com você, só um
tempo, só isso que eu te peço.
BRUNO: - Conversar com ele? O que esta
acontecendo aqui? Eu sou o último a
saber?
DIVA: - Vem Carlos. Não dificulta as coisas.
Diva sai com Carlos. Close no rosto insatisfeito de
Bruno. Ele esta irritadíssimo. Já cortou.
CENA 04. APARTAMENTO DE ÁLVARO. INTERIOR. DIA.
Geral do apartamento recém-reformado, vemos algumas
caixas, móveis ainda embalados. O apartamento é amplo,
bem iluminado, mas ainda não esta “pronto”. A cam vai
buscar Álvaro e Andréa que acabaram de chegar.
ÁLVARO: - Perfeito. Eles cumpriram o
cronograma da obra certinho.
ANDRÉA: - Mas ainda falta muita coisa, Álvaro.
ÁLVARO: - Só a decoração. Mas isso agora é por
sua conta. Eu nem vou me meter.
ANDRÉA: - Você acha que é fácil? Eu vou
precisar de ajuda pra decorar esse
apartamento todo.
ÁLVARO: - A Fernanda seria a pessoa ideal. Ela
tem um ateliê de decoração ótimo,
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inclusive presta serviço pra gente lá
na Construtora.
ANDRÉA: - Pois é. Mas ela com essa história da
filha internada.
ÁLVARO: - Verdade. Mas pensa, quanto mais
tempo você demorar pra decorar esse
apartamento, mais tempo a gente fica
na casa do meu pai.
ANDRÉA: - Ai não. Deus me livre. (para, pensa,
envergonha-se) Não por causa do seu
pai, nem da Rafaela. Mas quem casa
quer casa, né meu amor? E eu to doida
pra começar a nossa vida juntos, de
verdade, no nosso apartamento.
ÁLVARO: - Eu também. Não vejo a hora.
ANDRÉA: - Eu te amo, viu?
Os dois se beijam. Andréa interrompe o beijo fazendo
intenção em vomitar.
ÁLVARO: - O que foi meu amor?
ANDRÉA: - Não sei, fiquei enjoada, acho que é
cheiro de tinta fresca, misturou com o
seu perfume.
ÁLVARO: - Ai meu Deus. Pode ser fome. Vamos
almoçar?
ANDRÉA: - Vamos, mas vamos naquele restaurante
do Leblon? Me deu uma vontade de comer
aquela salada verde com polvo e lula
grelhada.
ÁLVARO: - Desejo?
ANDRÉA: - Não pode?
ÁLVARO: - Claro que pode, vamos que eu ainda
tenho que voltar pra construtora.
Depois eu te deixo em casa.
Já cortou.
CENA 05. HOSPITAL. SALA DE ESPERA. INTERIOR. DIA.
Vemos uma sala de espera, mais reservada. Bruno sentado
com a cabeça baixa. Fernanda entra em cena com um copo
de água. Ela a olha com raiva.
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FERNANDA: - Eu trouxe uma água pra você se
acalmar.
BRUNO: - Eu não quero água. Eu quero uma
explicação.
FERNANDA: - Bruno, eu preciso que você me
entenda.
BRUNO: - Eu quero entender, então não faça
rodeios. Vá direto ao assunto. Porque
aquele homem chegou aqui com toda
aquela autoridade querendo ver a minha
filha?
FERNANDA: - O Carlos sabe que é pai da Maria
Luiza.
BRUNO: - Como é que é?
FERNANDA: - No dia da festa em Petrópolis, ele
apareceu e acabou desc/
BRUNO: - Você tinha me prometido que nunca
ninguém ia saber disso! Eu sou o pai
da Maria Luiza.
FERNANDA: - Eu sei. Eu também não queria estar
tendo essa conversa agora. Eu não
queria/
BRUNO: - (vocifera) Você não tinha esse
direito. Você não podia.
FERNANDA: - Mas agora já foi feito, Bruno. Nós
temos que aprender a lhe dar com isso.
Somos adultos.
BRUNO: - Pra você é fácil falar. E agora? Eu
não vou permitir que esse homem se
aproxime da minha filha, (brada) minha
filha, ouviu bem?
FERNANDA: - Bruno, eu não posso tirar o direito
do Carlos de conhecer a própria filha.
BRUNO: - Que direito? Esse homem te abandou
grávida. Ele não pode voltar do nada e
querer assumir uma filha que ele
renegou.
FERNANDA: - Nós sabemos que não foi desse jeito,
Bruno. Não adianta querer se enganar.
BRUNO: - Você vai defendê-lo? Eu não
acredito.
FERNANDA: - Eu não vou defender ninguém. Só que
a verdade tem que ser dita. Quando o
Carlos foi embora ele não sabia que eu
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estava grávida e ainda achava que eu
tinha um caso com você.
BRUNO: - Que seja. Mas fui eu quem criou,
quem deu amor, quem deu carinho a ela.
Ele não pode simplesmente querer
interpretar o papel de pai preocupado,
dedicado agora.
FERNANDA: - Eu concordo plenamente com você. Pai
é quem cria e você é e sempre vai ser
o pai da Maria Luiza. Mas temos que
aceitar, a verdade tinha que ser dita.
O Carlos precisava saber.
BRUNO: - Você me traiu. Você quebrou o nosso
pacto, o nosso acordo.
FERNANDA: - Não, não fala isso.
BRUNO: - Você me prometeu. (para, pensa) Você
não esta pensando/ A Luiza não pode
saber dessa história!
FERNANDA: - Bruno a Luiza precisa saber.
BRUNO: - (brada) Ela precisa saber que tem
que tem um pai que a abandonou por
vinte anos? Que nem sequer sabia que
ela existia. Que nunca fez questão em
ter uma filha.
FERNANDA: - Não dificulta a situação. O Carlos
só quer ver a menina. Ele não vai
tirá-la de você. Nunca.
BRUNO: - Não vai tirar mesmo. Porque se ele
tentar fazer eu mato aquele
desgraçado.
Close em Bruno. Já cortou.
CENA 06. HOSPITAL. SALA DE ESPERA. INTERIOR. DIA.
Em outra sala de espera, vemos Diva conversando com
Carlos num canto afastado. Em segundo plano vemos,
Silvia e Heitor, Julio, Bia e Sheyla.
SILVIA: - Será que esse é o Carlos?
HEITOR: - Que Carlos?
SILVIA: - Nada Heitor. Assunto da sua irmã.
HEITOR: - Vocês duas cheias de segredinhos.
Já cortou para Diva e Carlos.
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CARLOS: - Se esse almofadinha do Bruno pensa
que vai me proibir de ver a minha
filha ele esta muito enganado.
DIVA: - Carlos, meu filho, calma. Também não
é assim. Você tem que entender o lado
do Bruno. Todos nós estamos muito
fragilizados com esse acidente, e
agora essa outra bomba estoura na
cabeça do coitado.
A cam vai buscar Fernanda que se aproxima.
FERNANDA: - Eu falei com o médico, ele autorizou
as vizitas pra Luiza. Mas ela esta
dormindo. Vai ter que ser uma coisa
rápida.
Já cortou.
CENA 07. HOSPITAL. QUARTO DE LUIZA. INTERIOR. DIA.
Vemos o quarto individual. Luiza dorme, muito machucada,
já com os curativos, talvez com uma tipoia sinalizando o
ferimento no braço, algo condizente com o acidente que
ela acabara de sofrer. Vai abrindo a geral do quarto,
nesse momento Carlos entra acompanhado de Fernanda. Ele
esta emocionadíssimo e Fernanda por sua vez também. Ele
vai se aproximando de Luiza, comedidamente, parece ter
medo de cometer algum movimento brusco e fazer barulho.
Quando chegar à beira da cama, ficará por um tempo
contemplado a menina. Trilha sonora triste instrumental.
CARLOS: - Ela esta bem?
FERNANDA: - O médico disse que sim, ele achou
melhor sedá-la porque estava muito
agitada. Mas graças a Deus nada de
mais grave aconteceu.
CARLOS: - Graças a Deus. Quando eu vi a
reportagem eu tive certeza que era
ela, fiquei com o coração apertado,
sabe? (T) Ela é tão linda, parece uma
princesa. Puxou a mãe. (T) Porque você
fez isso comigo, Fernanda? Eu não sei
o que é ser pai, o que é ter o amor de
um filho. Eu não vi quando ela falou,
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andou pela primeira vez. Essas coisas
que todo mundo gosta de lembrar,
festinha do colégio, quinze anos. Nada
disso.
FERNANDA: - Me perdoa?!
CARLOS: - Eu não posso te perdoar. Pelo menos
agora não. A ferida ta aberta. Ta
doendo muito ainda.
FERNANDA: - Carlos eu só vou te pedir um pouco
de paciência. O Bruno não aceitou nada
bem essa notícia.
CARLOS: - Ele não tem que aceitar nada. Eu sou
o pai dela.
FERNANDA: - Não é assim. O Bruno criou a Luiza,
ele a ama e ninguém pode contestar
isso. E a sua aproximação com a Luiza
tem que ser devagar, com calma, pra
ninguém sair machucado. Me promete que
vai ter paciência?
Close em Carlos. Já cortou.
CENA 08. HOSPITAL. SALA DE ESPERA. INTERIOR. DIA.
Diva, Sheyla, Silvia, Heitor, Júlio e Bia sentados.
Vemos em segundo plano Bruno passando apressadamente,
Diva percebe.
DIVA: - Bruno, meu filho, pra onde você vai?
BRUNO: - Me deixa!
Bruno já saiu. Cortou.
CENA 09. LINDA’S COIFEUR. INTERIOR. DIA.
Geral do salão. Muito movimento. Várias clientes.
Jurandir na recepção. Fátima e Leinha atendem, cada uma
em seus postos. Num canto não muito afastado, Linda e
Clarice conversam em tom de segredo. Em determinado
momento Leinha vai ouvir toda a conversa. Diálogo já
iniciado.
LINDA: - “Mulé” mas que quiprocó é esse?!
Quer dizer que o Carlos tem uma filha
de vinte anos e essa tal de Fernanda
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escondeu isso do pobre coitado esse
tempo todo?
Vemos ao fundo, Leinha que escuta a toda a conversa.
Close.
LEINHA: - Pois é Linda. Eu to que não me
aguento de raiva dessa vadia. A minha
vontade é de esfregar a cara dela num
muro chapiscado. Fazer um (não
pronuncia direito) “peeling” natural.
LINDA: - Oxi, se acalme. Num adianta. Vai
acabar criando uma ulcera no estomago.
E o Carlos?
CLARICE: - Foi correndo atrás dela. Feito um
boboca. Eu não sei se to com mais
raiva dela ou dele.
LINDA: - Se acalme que tem uma cliente te
esperando. Bora trabalhar.
Corta para Jurandir que conversa com Fatima que atende
uma cliente.
JURA: - Menina, tu viu o desastre que teve
na estrada esse final de semana?
FATIMA: - E num vim, Jura. O filho daquele
médico ta entre a vida e a morte no
hospital.
JURA: - Que desperdício. Tem uma foto do boy
na capa do jornal, e num é que é
magia.
FATIMA: - Também, já viu o pai. Todo bonitão.
Eu pegava fácil. Mas vê se um cara
rico, bonito e médico vai olhar pra
essa cabeleireira pobre que vos fala?
JURA: - Não tá fácil pra ninguém. Hashtag
chatiado.
FÁTIMA: - Que frescura é essa, Jura?
JURA: - É “tuirer”, você não entende.
Corta para Clarice que começa a fazer a unha de uma
cliente. Frisar Leinha a seu lado.
LEINHA: - Deu ruim “pa” tu, hein Clarice.
CLARICE: - O que tu ta falando ai Leinha?
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LEINHA: - É que agora com essa filha ai do teu
homem, as coisas vão ficar cada vez
mais “precativas” “pa” tu.
CLARICE: - Tu “tarra” “ouvinu” a minha conversa
com a Linda?
LEINHA: - “Tarra” “ouvinu” nada. Escutei sem
querer querendo. Mas tu sabe que num
tem segredos entre a gente, né “nem”?
Somos uma grande família. E eu to
ficando com pena de tu.
CLARICE: - Pena?
LEINHA: - É! Quando o Carlos te botar “pa”
fora, tu num vai nem poder pedir
pensão, já que o Caio num é filho
dele, né?
Clarice irritadíssima levanta-se e pega Leinha pelos
cabelos.
CLARICE: - Engole o que tu disse, sua
vagabunda.
LEINHA: - Me solta sua desgraçada.
Uma enorme confusão se arma.
LINDA: - Que parangolé é esse?
Clarice e Leinha iniciam uma briga, com vários gritos,
puxões de cabelo, rolam pelo chão. Vamos deixar claro
que esta levando a melhor é Clarice. Leinha apanha
bastante.
CLARICE: - (a Leinha) Eu vou te ensinar a nunca
mais se meter comigo.
JURA: - Ah meu Deus, essas duas amapôs
brigando no meio do salão.
FATIMA: - Alguém separa. Gente, a Clarice
perdeu a cabeça. A Leinha tava
querendo era isso. Perdeu a razão.
JURA: - Joga milho que acaba.
Continua a confusão, as duas rolando no chão. As
clientes todas assustadas, muita gritaria. Tempo nelas.
Corta.
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CENA 10. AP. REGINA. INTERIOR. DIA.
Geral do apartamento vazio, silencioso, clima
melancólico. A cam vai revelando aos poucos Regina,
sentada numa poltrona na sala. Ela olha para os lados
como se procurasse algo ou alguém. Seu olhar é triste,
esta solitária. Ela levanta-se. Corta imediatamente.
CENA 11. AP. REGINA. QUARTO ANDRÉA. INTERIOR. DIA.
A porta se abre e revela Regina. Inicia trilha sonora
“Onde Andarás – Adriana Calcanhoto”. Regina olha
emocionada para cada canto do quarto, toca nos móveis,
chora. Senta-se na cama e cheira o travesseiro de
Andréa, se agarra fortemente a ele e continua seu choro
de solidão, contido, emocionado. Ela deita-se na cama,
encolhida. Tempo nela. O clima é quebrado, a cam vai
buscar Rute que esta à porta do quarto e assiste a tudo.
RUTE: - Dona Regina a senhora ta bem?
Close em Regina. Corte Continuidade.
CENA 12. HOSPITAL. SALA DE ESPERA. INTERIOR. DIA.
Fernanda chega a sala de espera. Diva se aproxima.
DIVA: - E então minha filha?
FERNANDA: - O Carlos acabou de sair. Cadê o
Bruno?
DIVA: - Também saiu com uma cara nada boa,
não disse pra onde ia.
FERNANDA: - Ai meu Deus.
Close em Fernanda. Já cortou rapidíssimo.
CENA 13. RUAS CARIOCAS. EXTERIOR. DIA.
Bruno dirige irritado e pára em frente a um bar.
Já cortou rapidíssimo.
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CENA 14. BAR. INTERIOR. DIA.
É um bar estilo pé sujo, muito simples. Alguns homens
bebem no balcão. Bruno já entrou, encostou no balcão.
BRUNO: - Me vê uma branquinha.
O garçom serve um copo de cachaça.
BRUNO: - Pode deixar a garrafa.
Bruno bebe numa talagada só. Já se serviu de novo. Fala
aos homens que também bebem ao seu lado.
BRUNO: - Minha filha! Minha filha! Pra vocês
veem como é a mulher. Vinte anos
casado, vinte anos criando uma filha
pra agora chegar outro e querer levar
tudo embora.
HOMEM: - É assim mesmo, meu parceiro. Todo
mundo um dia vai levar um corno na
testa.
BRUNO: - Eu não sou corno.
HOMEM: - Ah, mas vai ser. E eu to vendo que
tu é o corno abelha, vai pra rua fazer
cera e volta pra casa cheio de “mé”.
Já cortou.
CONTINUAÇÃO CENA 11. QUARTO ANDRÉA.
Regina levanta-se.
REGINA: - Você estava ai me espiando Rute?
RUTE: - Tava não, dona Regina. Eu voltei do
sacolão e chamei pela senhora, vi a
porta do quarto da Andréa aberta e
achei que a senhora tivesse vindo pra
cá.
REGINA: - Eu estava aqui arrumando as
coisinhas delas, acabei pegando no
sono.
RUTE: - A senhora tá cheia de saudades dela,
né?
REGINA: - Claro Rute. Minha filha.
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RUTE: - Eu sei. A senhora é ligadona na
Déia, né?
REGINA: - Nada mais natural. A Andréa é minha
filha, a primeira, casou há pouco
tempo, sempre viveu comigo. Vai ser
difícil me acostumar que ela cresceu,
que não vai estar mais aqui, no
quartinho dela.
RUTE: - Eu acho tão bonito esse carinho que
a senhora tem com a Déia. Todo mundo
aqui no prédio comenta que ela é sua
preferida/
REGINA: - Preferida?
RUTE: - Desculpa dona Regina. É o que o povo
comenta ai.
REGINA: - O que mais que o povo comenta?
RUTE: - Nada não, dona Regina.
REGINA: - Fala Rute!
RUTE: - O povo diz que a senhora prefere a
Déia/ A senhora não vai ficar chateada
comigo se eu disser?
REGINA: - Anda, fala logo!
RUTE: - Eu também acho. A senhora até parece
que não gosta da coitada da Alice. Às
vezes trata a pobrezinha tão mal. Eu
fico morrendo de dó.
REGINA: - Pois a senhora e esse povo estão
redondamente enganados. Eu trato as
duas absolutamente igual. Só que a
Andréa é a primeira, mais parecida
comigo, temos mais afinidades, nos
entendemos melhor. E a Alice, Alice
puxou ao pai. O mesmo gênio, a mesma
teimosia. E ela se dá muito melhor com
Otávio do que comigo. Sempre teve
ciúmes da Andréa. E pra que eu to te
falando isso. Não te interessa. Anda
vai trabalha. Já guardou as compras?
Regina fala e já vai saindo de cena. Close em Rute.
RUTE: - (fala pra si) Eu hein. Até parece.
Quem não te conhece que te compre,
dona Regina. Trata a pobre coitada da
Alice mal sim. Às vezes até parece que
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num é filha. Será que a Alice foi
adotada?
Já cortou.
CENA 15. CASA DE RAFAELA. INTERIOR. DIA.
Rafaela sentada em seu sofá enquanto folheia uma
revista. A cam vai buscar Gládis que entra em cena.
GLADIS: - Dona Andréa esta chegando.
RAFAELA: - (irônica) Que foi? Deixa ela entrar.
GLADIS: - É que a senhora não goste que
ninguém entre sem ser anunciado.
RAFAELA: - O que/que foi? Vai querer colocar um
gongo chinês aqui no meio da minha
sala? Pra bater toda vez que alguém
chegar? Ta bom, já anunciou, agora
pode se retirar.
Gladis faz intenção em sair.
RAFAELA: - Perai Gladis. Aproveita e serve um
chá da tarde, pra mim e pra dona
Andréa. Lá fora. Ta fazendo um dia tão
bonito, né? Anda, com tudo que nós
temos direito. Um legitimo chá das
cinco. Eu to feliz. Quero comemorar.
Andréa entra em cena.
RAFAELA: - Andréa, minha querida, que bom que
você chegou. Acabei de pedir pra tirar
um chá pra gente. Vamos tomar um chá
das cinco, lá no jardim.
Já cortou.
CENA 16. CASA DE RAFAELA. EXTERIOR. DIA.
Long shot do jardim. Vemos uma bela mesa posta para um
chá das cinco, com vários pães, bolos, sucos e é claro,
chás. Andréa e Rafaela se servem. Gladis de pé, ao lado
da mesa.
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ANDRÉA: - Que exagero, Rafaela. Somos só nós
duas e essa mesa pra um batalhão.
RAFAELA: - Minha querida, merecemos toda a
pompa e circunstância. Vamos nos
sentir na Europa, só por alguns
instantes, mesmo com esse clima
infernal que o Brasil tem. E além do
mais, vamos beliscar alguma coisinha e
no final não comer nada.
ANDRÉA: - Claro. Se eu comer metade do que
esta nessa mesa eu viro uma pipa de
gorda.
RAFAELA: - E já vem você com essa mania de
dieta. Engana-se o homem que pensa que
o sonho de toda mulher é encontrar o
príncipe encantado. O sonho de toda
mulher é comer sem engordar! (T) Mas
me fala. Vocês foram ver o
apartamento?
ANDRÉA: - Sim. Ta lindo. As obras terminaram,
mas toda a parte da decoração ainda
esta por fazer. Vou ter um trabalhão.
Mas eu estou louca pra ir pro nosso
cantinho, curtir meu maridinho, minha
vida de casada.
RAFAELA: - Eu imagino a sua ansiedade.
Rafaela repara em Gladis.
RAFAELA: - O que/que foi Gládis? Vai ficar ai
de pé, feito um dois de paus? Anda, já
nos serviu agora pode voltar pra sua
cozinha.
GLADIS: - A senhora não vai precisar de mais
nada?
RAFAELA: - Se eu precisar eu te chamo. Agora eu
vou confabular com a dona Andréa.
Minha mãe que costumava dizer que a
amizade entre duas mulheres é
inegavelmente a conspiração contra uma
terceira. E não é que é verdade mesmo?
Já cortou.
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CENA 17. LINDA’S COIFEUS. INTERIOR. DIA.
CONTINUAÇÃO CENA 09.
Confusão terminada. Tudo esta de volta ao normal no
salão. Vemos Clarice e Leinha, todas descabeladas,
alguns hematomas, roupa ragada, sentadas lado a lado e
Linda a frente das duas.
LINDA: - “Bunito” isso? Ces duas tão achando
que meu salão é bagunça? Onde já se
viu? Brigar, rolando no chão feito
duas cangaceiras.
CLARICE: - (falam juntas) Foi ela que começou.
LEINHA: - (falam juntas) Foi ela que começou.
LINDA: - Eu não quero saber quem começou,
quem continuou. E só sei que eu to
terminando, aqui e agora. Eu devia
“butá” vocês duas pra correr do meu
estabelecimento. Mas eu não vou não.
Vô dar uma suspensão pra cada uma de
vocês. Vão pra casa, “butá” a cabeça
no lugar e pensar no que vocês
fizeram, no mafuá que transformaram o
Linda’s Coifeur. Agora zunindo. Eu não
quero ver a fuça de vocês aqui no meu
salão. Ouviram bem?
Close no olhar de Clarice, com todo ódio do mundo, ela
olha de canto de olhos para Leinha. Fala baixo, apenas
Leinha escuta.
CLARICE: - (sussurra) Você vai me pagar,
Leinha. Eu vou acabar com você.
Já cortou.
CENA 18. TRANSIÇÃO DE TEMPO.
Anoitecer. Belas paisagens do Rio de Janeiro e o pôr-do-
sol.
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CENA 19. HOSPITAL. SALA ESPERA. INTERIOR. NOITE.
Silvia muito abatida, amparado por Heitor. Fernanda se
aproxima.
FERNANDA: - Silvia você não quer em ir em casa,
tomar um banho, descansar um pouco e
depois você volta pra cá.
HEITOR: - Eu já insisti com ela, minha irmã.
SILVIA: - Não. Eu vou ficar aqui. O Marcelo
pode acordar. Eu quero estar ao lado
dele.
FERNANDA: - Meu bem, se ele acordar eu serei a
primeira a ligar pra você voltar
correndo. Mas pensa bem, você ficou
aqui o dia inteiro, não comeu nada,
vai acabar adoecendo. O Marcelo
precisa da mãe forte ao dele pra
quando acordar.
HEITOR: - A Fernanda esta certa, Silvia.
SILVIA: - Tudo bem, eu vou em casa, tomo um
banho e descanso um pouco, mas eu
volto na primeira hora.
FERNANDA: - Ótimo. Aproveita e leva a mamãe com
vocês. Ela esta precisando também. Eu
fico aqui. Depois a gente reveza. Não
adianta nada montar acampamento no
hospital e ficar de plantão esperando
por noticias. O importante é que
nossos filhos estão sendo muito bem
cuidados.
SILVIA: - Obrigada minha cunhada.
Fernanda se afasta e Diva se aproxima.
DIVA: - E o Bruno deu notícias?
FERNANDA: - Nada. Não atende o celular, liguei
pra casa a Vera disse que ele nem deu
as caras. Eu to começando a ficar
preocupada.
DIVA: - Temos que ter paciência. É muito
informação pra cabeça dele. Primeiro o
acidente, agora o Carlos reaparece. Se
arrependimento matasse eu não teria
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contado pro Carlos toda a verdade, não
agora.
FERNANDA: - Ninguém podia imaginar, mãe.
Já cortou.
CENA 20. CRUZEIRO. NOITE.
Panorâmica do luxuoso navio. Trilha sonora “Adele –
Lovesong”. Belos takes do navio completamente iluminado,
uma bela noite de lua cheia. Vemos a área da piscina,
poucas pessoas circulando pelo local. A cam vai buscar
Vicenzo, muito charmoso, sentado em uma espreguiçadeira,
acompanhado de uma taça de champagne, enquanto fuma um
cigarro. Em segundo plano, vemos Márcia se aproximando,
vestida lindamente, muito sensual, ela carrega uma taça
e uma garrafa de champagne. Ele ainda não a viu. Márcia
chega bem próximo e fala ao ouvido de Vicenzo.
MÁRCIA: - Atrapalho?
Agora Vicenzo a olha e abre o sorriso. Diálogo cheio de
sedução, das duas partes, muito envolvimento.
VICENZO: - Você nunca atrapalha.
MÁRCIA: - Que bom.
VICENZO: - Hoje sou eu quem pergunta. Você
estava me procurando?
MÁRCIA: - Estava. Eu te vi ai sozinho, tomando
o seu champagne, apreciando o luar,
imaginei que poderia fazer companhia.
Fiz bem?
VICENZO: - Muitíssimo.
MÁRCIA: - Trouxe mais uma taça para
brindarmos.
VICENZO: - E o que nós vamos brindar hoje?
Márcia já abriu a garrafa, serviu-se e completou a taça
de Vicenzo.
MÁRCIA: - Podemos escolher. Tem tanta coisa a
ser brindada. Esse cruzeiro, a noite
linda de lua cheia ou simplesmente nós
dois.
VICENZO: - Que progresso. Nós dois?
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MÁRCIA: - Sim. O começo de uma amizade ou/
VICENZO: - Ou?
MÁRCIA: - Por enquanto vamos ficar com a
amizade. O que você acha?
VICENZO: - Eu acho ótimo. (T)(repara) Eu já te
disse que você é linda?
MÁRCIA: - Não. Mas esse é um ótimo momento pra
dizer.
VICENZO: - Você é linda. Tem uma beleza
diferente. Forte, mas ao mesmo tempo
doce. Uma das poucas mulheres que
conheço com esse perfil, se não a
única.
MÁRCIA: - Eu prefiro acreditar que seja a
única. Mentiras sinceras me
interessam.
VICENZO: - Não é uma mentira.
MÁRCIA: - Nem uma verdade completa. Você é um
sedutor nato, cheio de frases de
impacto, sabe como conquistar uma
mulher.
VICENZO: - Conquistei?
MÁRCIA: - Essa é uma resposta que não se dá,
se sente. Mas eu vou direta, ainda não
conquistou, mas deixou muito
interessada.
Closes alternados. Os dois se aproximam e se beijam com
muito envolvimento. Aumenta trilha sonora. Tempo neles.
Já cortou.
CENA 21. AP. REGINA. QUARTO ALICE. INTERIOR. NOITE.
Vemos Alice sentada em sua cama, seu notebook no colo.
Ela esta séria, compenetrada. Trilha sonora “De Janeiro
a Janeiro – Roberta Campos”. A cam focaliza a tela do
note, vemos uma foto de Juliano. Ela fica por um tempo
admirando o moço.
ATENÇÃO SONOPLASTIA: Inserir aqui, em off, a primeira
fala da próxima cena.
LUCIA: - Juliano, meu filho, você esta lindo!
Fundir com a próxima cena.
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CENA 22. SÃO PAULO. AUDITÓRIO FACULDADE. INTERIOR. NOITE.
Long shot de um grande auditório onde será realizado o
cerimonial da formatura da turma de administração. Vemos
Juliano, já com a beca, se prepara para se juntar ao
restante dos alunos. Vemos Lúcia, emocionadíssima, ao
seu lado.
LUCIA: - Nem acredito que chegou o grande
dia. Vou ver meu filho formado. Que
alegria.
Já cortou.
A cena reinicia com o paraninfo realizando o discurso de
formatura (sem áudio – improviso). Trilha sonora. A cam
vai buscar Lúcia, Gilson, Rita e Gilsinho na plateia,
assistindo a tudo. Lúcia esta emocionadíssima. Em
determinado momento ela levanta-se e bate palma
empolgadíssima. Tempo nela. Corta.
CENA 23. SÃO PAULO. CASA SIMONE. INTERIOR. NOITE.
A casa já esta completamente escura, todos já deitados.
Vemos Simone em seu quarto, a cam vai buscar Bira que
dorme no sofá da sala. O silêncio vai ser quebrado pelo
som (em off) de batidas muito forte na porta da sala.
Close imediato em Bira, que pula do sofá. Corta
imediatamente para Simone que também desperta
assustadíssimA. Bira já entrou afobadíssimo no quarto
de Simone.
HOMEM: - (brada, off) Bira.
Close em Simone que olha assustada para Bira.
SIMONE: - Quem são eles? O que eles querem com
você?
HOMEM: - (brada, off) Abre essa porra agora,
Bira. A gente “sabemos” que você ta ai
entocado.
BIRA: - (sussurra) São aqueles caras que eu
falei pra você.
SIMONE: - E agora o que a gente vai fazer?
Eles vão entrar aqui e vão te pegar.
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BIRA: - Eles não podem me pegar, se eles me
pegarem eu to frito. Eu tenho que dar
o fora daqui.
SIMONE: - Do que você esta falando? Você disse
que não tava devendo nada pra eles.
BIRA: - Eu menti. Eu to devendo sim pra
eles. Mas agora eu não posso explicar.
Eu tenho que dar o fora. Segura as
pontas ai.
SIMONE: - Você vai fugir e me deixar aqui
sozinha?
Bira já pulou a janela e se embrenhou pelo mato ou pelos
becos da favela (Critério do diretor). Nesse momento
três homens arrombam a porta da casa e já invadem o
local. Simone esta assustadíssima e grita.
HOMEM: - Cadê ele? Cadê o mano? Ele ta aqui!
Onde ta o seu padrasto?
SIMONE: - (assustadíssima) Ele não esta aqui.
Eu to sozinha. Pelo amor de Deus, vai
embora.
HOMEM 2: - (malicioso) Sozinha é?
Este homem se aproxima de Simone, faz um carinho em seu
rosto e logo depois segura violentamente.
HOMEM 2: - Sabia que você é muito da
gostosinha?
HOMEM: - Vamo dar um corretivo nela em lição
pro babaca do Bira.
HOMEM 2: - Vamo. Pra ele aprender a não dever a
marginal.
HOMEM: - Mas antes vamos aproveitar essa
gostosa. Não é todo dia que um peixão
desses cai na nossa rede.
SIMONE: - Não, pelo amor de Deus não!
Simone completamente desesperada. Close.
CORTE CONTINUIDADE.
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CENA 24. HOSPITAL. RECEPÇÃO. INTERIOR. NOITE.
Cam focaliza apenas pés femininos, trajando salto alto,
andando apressadamente pelos corredores do hospital,
puxando uma mala de rodinhas até a recepção. Agora
revela Ingrid, muito aflita. Ela vai falar a
recepcionista, muito altiva, arrogante.
RECEPCIONISTA: - Boa noite senhora. Pois não.
INGRID: - Minha filha. Elisa Azevedo.
RECEPCIONISTA: - Só um momento enquanto
verifico.
INGRID: - Rápido. (fala pra si) Não me
acostumo com essa incompetência
brasileira.
A CAM vai buscar Fernanda que chega à recepção. PV
Ingrid. Agora Fernanda vê Ingrid.
FERNANDA: - (surpresa) Ingrid?
INGRID: - (agressiva) O que você fez com
a minha filha?
FERNANDA: - Ela já esta bem, terminou a
cirurgia agora há pouco, já foi
pro quarto.
INGRID: - Se acontecer alguma coisa com a
minha filha eu acabo com você
Fernanda!
Fernanda muito surpresa. Ingrid irritadíssima. Closes
alternados. Corta.
FIM DO CAPÍTULO