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1 o ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICACÕES ALTERNATIVAS 1

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1o ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICACÕES ALTERNATIVAS 1

UGRA PRESS - 20112 1o ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICACÕES ALTERNATIVAS 3

Um belo dia, no QG da Ugra Press...

e na mansao de peter framer...

e assim, apos lancar uma

convocatoria, os primeiros

zines logo foram recebidos...

eles vinham de todo o pais, de

todos os formatos e temas...

o tempo passava, e eles nao

paravam de chegar!

Rapaz, acho que

tive uma ideia!

que tal fazermos um

anuario de fanzines?

maneiro!!!!

MANDA!

zines! zines!

advinhe O QUE

EU TROUXE!?

e o peter framer,

aquele almofadinha.

esta nos convidando

para tomar um vinho

na casa dele!

credo, que aparencia

horrivel! o que voces

tem feito da vida?

estamos trabalhando

duro num anuario de

fanzines!

vamos la...

eu preciso mesmo

descansar um pouco!

fanzine?

e alguem ainda

faz essa merda?

oh!

ja sei... zines,

zines, zines!

perai, eu atendo!

EU TE MATO, SEU

FILHO DA PUTA!!

FIM

?

REALIZACÃO:

Ugra Press: www.ugrapress.wordpress.com

APOIO:Fanzinoteca Mutação: www.fanzinotecamutacao.blogspot.comZinescópio: www.zinescopio.wordpress.com

Para a versão impressa deste Anuário, contate a Ugra Press.Apóie a mídia impressa alternativa. Compre zines!

UGRA PRESS - 20114 1o ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICACÕES ALTERNATIVAS 5

Você tem em suas mãos o 1º Anuário de Fanzines, Zines e Publicações Alternativas, um projeto da Ugra Press que busca mapear a atual produção zinística brasileira. O projeto nasceu em 14 de julho de 2010. Nessa data, lançamos um convite em

nosso blog para que nos enviassem seus trabalhos. Cada publicação recebida seria resenhada, as resenhas reunidas em uma publicação impressa e a publicação lançada em um evento dedicado à cultura zinística, o Ugra Zine Fest.

Lançamos a convocatória sem a mínima noção do que aconteceria. Inconseqüência, loucura, perda de tempo: o princípio da realidade socava nossas mentes. Tínhamos feito fanzines nos anos 90; mas hoje, após o boom da Internet, será que ainda teria alguém fazendo zine? Que tipos de zine seriam feitos? Os zineiros iriam acreditar no projeto? Um batalhão de gigantescas incertezas - e mesmo assim, com a insensatez dos zineiros, a empreitada nos instigava na exata medida de seus desconhecidos desdobramentos.

A acolhida surpreendeu nossas expectativas. Os e-mails começaram a chegar, os zines entupiram a caixa postal, os comentários no blog foram se multiplicando, apareceu gente querendo saber mais sobre o projeto, feliz com a proposta e nos apoiando de inú-meras maneiras. E o Anuário, nascido no seio da diminuta Ugra Press, começou a tomar corpo como um projeto envolvendo centenas de pessoas espalhadas por todo o Brasil.

Dores de cabeça? Sim, claro que tivemos. E não foram poucas. A vida é sempre assim: doçura e amargura convivendo juntas. No balanço difícil de se equilibrar entre uma e outra se dá o caminho de qualquer coisa que façamos. E no desenvolvimento desse Anuário dedicado ao universo dos fanzines, os torrões de açúcar que adoçaram a vida foram os e-mails legais,os tweets espontâneos de gente que nunca tínhamos visto, os zines cheios de criatividade que recebíamos, as ideias novas surgidas após horas de esforço coletivo. As amarguras, para sempre na memória, formam o aprendizado para o futuro, e contraponto necessário para melhor apreciar as coisas boas saboreadas ao longo dos últimos meses.

E uma das melhores coisas, sem dúvida, é saber que você está lendo isso. Aprecie sem moderação as páginas seguintes. Compartilhe com quem e como quiser. Fale para nós o que você achou. Porque zine é isso: partilha, criatividade, sentimento, inovação.

Boa leitura!

Ugradecimentos: Todos os faneditores e faneditoras que acreditaram em nós e enviaram seus trabalhos para o Anuário: sem esse voto de confiança nada disso seria possível. Foram vocês que somaram forças conosco e ajudaram a produzir essa obra que agora é realização de muitas mãos. Força, rebeldia e criatividade para todos vocês!

Ugrismos especiais para: os encantadores descivilizados do Espaço Impróprio pelo apoio irrestrito ao projeto desde seu início; Cristiane e Caru da Concreto pelo espaço e força com a exposição dos fanzines; Pandora e Rodrigo Okuyama pelas oficinas (aprendemos muito com vocês!); Gazy Andraus e Olga Defavari pelas palestras que muito acrescentaram ao evento; Renato Donisete e Fernanda Meireles por aceitarem participar do debate; ao Law Tissot e o espetacular vídeo que abriu o ciclo de debates; ao Marcio Sno que aceitou exibir o documentário “Fanzineiros do Século Passado” ; ao coletivo Você Tem Que Desistir que contou sobre a experiência de realizar uma turnê de fanzines; aos roqueiros do Elma, Test e Sleepwalkers Maladies por soltarem seus decibéis na festa de lançamento; ao Peter Framer pelo talento no uso de tintas, edição de vídeos e fotonovelas; Jacob Crisis pela dedicada revisão dos originais; ao Paulo pelas filmagens de todo o processo; Rubens Herbst e jornal A Notícia de Joinville pela entrevista; a Emanuela e Interrogacao.org; Vakka e Intervalo Banger; a todos os outros que em seus blogs, sites, zines ou revistas ajudaram a difundir o Anuário.

Editores:Douglas Utescher e Leandro MárcioProjeto gráfico e diagramação:Douglas UtescherPesquisa, redação e edição de textos:Douglas Utescher e Leandro MárcioFotografia:Dani CantuáriaDireção da Fotonovela:Ugra Press & Peter FramerRevisão:Jakob Crisis

Ilustração da capa:Law TissotColaboradores:Peter, Dani e Gazy Andraus

Anuário de Fanzines, Zines e Publicações Alternativas é uma publicação da Ugra Press. Versão eletrônica disponível para download gratuito em www.ugrapress.wordpress.com

É permitida (e incentivada) a reprodução deste material desde que citada a fonte.

Contatos:c/o Douglas Utescher

Caixa Postal 777 - São Paulo / SPCEP: 01031-970 - [email protected] www.ugrapress.com.br

A FORCA DOS INDEPENDENTES

O vibrante panorama da imprensa underground brasileira

em mais de 120 resenhas

4

O ANUÁRIOEM NÚMEROS

Quem faz? Como faz? Onde faz?Dissecamos a produção zineira

contemporânea e fizemos algumas descobertas inusitadas.

31

ACERVODE ZINES

Conheça as iniciativas espalhadas pelo Brasil que estão

preservando e divulgando a memória da nossa fanedição.

32

O FANZINE NA SALA DE AULADescubra o potencial educativo

destas folhas xerocadas que tanto amamos!

34

O FUTURODOS ZINES

Papel? Pixel? O mestre Gazy Andraus analisa

o futuro (paratópico) dos fanzines.

36

FEVEREIRO DE 2011

UGRA PRESS - 20116 1o ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICACÕES ALTERNATIVAS 7

19:59#0 / A5 / 6 pags. / xerox / 2008Zine de quadrinhos e colagens realizado por seis pessoas. Apenas uma folha A4 dobrada em três partes, muitas colagens de jornais e revistas convivendo caótica e charmosamente com os desenhos que ilustram os questionamentos de uma garota em crise com o seu peso. Traços propositadamente sujos, captando o processo de criação dessa experiência zinística coletiva. (LM)

[email protected]

100% ZINE – FESTIVAL DIA Dn.u. / A6 / 16 pags. / offset / 2001Em julho de 2001 rolou a 3ª edição do Festival Dia D, em Vitória / ES. Dentre uma série de atividades, o evento contou com a primeira Exposição de Fanzines realizada no Estado, e esta edição do 100% Zine nada mais é do que o catálogo da exposição, com endereços e comentários sobre as publicações participantes. Se você se interessa por arqueologia zinística, escreva para o Saulo e peça o seu. (DU)

[email protected]

100% ZINE –MANIFESTO CONTRA O TRABALHOn.u. / A6 / 64 pags. / offset / 2002Entre o final do século XX e o início do século XXI, um grupo de intelectuais europeus encabeçado pelo alemão Robert Kurz ganhou notoriedade por suas pesquisas e seus textos contundentes, expondo sempre a contradições, des-mandos e patifarias do capitalismo.Um de seus textos mais famosos, “O Ma-nifesto Contra o Trabalho”, foi inicialmente publicado em nossa terrinha pela Revista Labur, do departamento de Geografia da Universidade de São Paulo, e posterior-mente relançado à moda zineira pela trupe do 100% Zine.O que se faz aqui não é o elogio da inér-cia nem hippismo raulseixista, mas sim a denúncia de um sistema que se colocou em um beco sem saída e que tenta agora, de forma desesperada, opressora

e frequentemente absurda, sobreviver. No final das contas, o que esse texto tem de mais chocante é o quanto são óbvias algumas de suas conclusões: está tudo aí para todo mundo ver, mas, por alguma razão, seguimos dando de ombros.Vão-se quase 10 anos desde a publica-ção desta edição, mas vale a pena entrar em contato com o editor e ver se ele ainda tem algum desse. (DU)

[email protected]

A MURIÇOCA#1 ao 7 / A5 / 12 pags. / xerox / 2009 - 2010Fanzine editado pelo cursinho pré-vesti-bular Educamais, de Osasco/SP, que des-de abril de 2009 vem sendo distribuído entre os alunos (que também cooperam com a produção de algumas matérias). É um zine muito completo para quem está na batalha dos estudos em busca de uma vaga na universidade: de questões práti-cas como documentos necessários para o Enem e dicas de redação até outros assuntos mais gerais, como aquecimento global, orientação profissional, etc. Cada edição também conta com a resenha de um filme, notícias sobre o cursinho Educamais, poesias e uma interessante seção chamada Confronto, onde são entrevistadas duas pessoas com opiniões contrárias sobre o mesmo assunto. Uma forma interessante de exercer o pensa-mento crítico e mostrar aos vestibulandos o valor da pluralidade de ideias. Longa vida ao Muriçoca e que outras escolas e cursinhos sigam o exemplo! (LM)

[email protected]

A VIDA É MESMO UMA MARAVILHA n.u. / A6 / 24 pags. / offset / 2009Márcio Jr. é um notório cidadão goia-niense cuja lista de benfeitorias à cidade inclui os vocais na banda Mechanics, participação no selo Monstro Discos (e tudo o que o envolve, como os festivais Bananada e Goiânia Noise) e a criação de alguns dos quadrinhos mais bagacei-ros e toscos deste país.Em “A vida é Mesmo uma Maravilha”

3 perguntas para

WAGNER TEIXEIRA

É séria essa história de que o Anormal Zine é distribuído nos ônibus de Belo Horizonte? Há outras formas de distri-buição além dessa?O Anormal tem de fazer jus ao nome, rsrsrs, então não espere encontrá-lo em bancas ou livrarias. Na verdade, a técnica de distribuição que algumas edições do Anormal tiveram foi o esquecimento proposital. Assim, o zine era “esquecido” em locais públicos dos mais diversos, principalmente naqueles onde costumam transitar pessoas dos mais variados tipos. Por exemplo, era deixado em um banco de ônibus. É uma forma de obri-gar o cidadão comum, aquele que nunca viu uma publicação alternativa na vida, a tomar conhecimento da existência do Anormal. Se ele quiser sentar no banco do ônibus, vai ter que pegar o Anormal. E é curioso ver a reação das pessoas. Algumas não dão a mínima, mas outras ficam bem intrigadas, olham pra ele como se estivessem diante de um ET. “De que planeta terá vindo isso?” rsrsrs.

De onde vem a inspiração na hora de fazer um zine?A inspiração vem de muita coisa dife-rente, no mundo artístico me inspiram desde os contos do Conan escritos por Robert E. Howard até Os Simpsons, passando pela obra de Rubem Fonseca e pelo som do Metal anos 80, entre outros. Cada pequena absorção feita no dia-a-dia é uma inspiração para produzir. Vários outros zineiros me influenciam bastante. E também o mundo não-ficcional, as coisas que vejo, as pessoas com quem interajo. Produzir um zine, ou qualquer outra obra artística, é condensar e recriar um pouco de todas essas percepções.

Zineiro só tem prejuízo?Depende. Se estiver falando em termos financeiros, aí o prejuízo é certo. Mas em termos de crescimento e evolu-ção pessoal, editar zines é altamente lucrativo. As amizades que se faz nesse meio não tem preço. A satisfação obtida ao conhecer trabalhos interessantes, conhecer pessoas interessantes, partici-par de eventos ou projetos alternativos é bastante recompensadora. Primeiro, a liberdade criativa que o zine proporciona permite que o editor se realize enquanto criador, e depois, a troca de informações com outros leitores e autores o faz evoluir e se renovar constantemente. Pra mim o balanço final da atividade zinística é altamente positivo.

Siglas e medidas:

n.u. = número únicoe.e. = edição especialn.i. = não informouA4 = 21 x 29,7 cmA5 = 15 x 21 cmA6 = 10,5 x 15 cmA7 = 7,5 x 10,5 cm

Almanaque Contos da Madrugada

N as próximas páginas, você encontrará mais de uma centena de resenhas de publicações alternativas e independentes de todo o Brasil. Desde o início,

nós imaginamos este Anuário como um espaço de reflexão e crítica, além de, obviamente, um espaço de divulgação, e por isso optamos por comentar cada um dos fanzines, zines e revistas que nos foram enviados. De qualquer maneira, por mais que tenhamos buscado o bom senso e a ponderação, as opiniões expressas são exatamente isso: opiniões. É normal – e até mesmo desejado – que surjam divergências. Nesse caso, sinta-se à vontade para entrar em contato conosco! As resenhas estão assinadas com as seguintes siglas:DU = Douglas Utescher ([email protected]) e LM = Leandro Márcio ([email protected])

RESENHAS

UGRA PRESS - 20118 1o ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICACÕES ALTERNATIVAS 9

(auto-proclamada “a maior micro graphic novel da história”), Márcio narra a doentia saga de um jovem em busca de um baseado e todos os infortúnios por ele sofridos antes do desfecho surpreenden-te e edificante.Tanto o formato pocket quanto o desenho despojado e o estilo insano da HQ lem-bram muito a saudosa coleção Mini Tonto, editada pelo Fábio Zimbres. Ou seja: diversão garantida. (DU)

[email protected]

A ZICA#0 / A5 / 40 pags. / offset / 2010Esse é um zine muito louco só com ilustrações cujos temas são morte, ma-cumba, espiritualidade, política e classe média. Pelos diferentes traços dá para perceber que são muitas as mãos envol-vidas na parada, e o eclético resultado obtido é bem legal. Gostei bastante da série de cartas de baralho com temática caveirística, altamente tatuáveis, diga-se de passagem... A ilustração que ocupa as páginas cen-trais é um soco bem dado (e fica patente porquê diabos o editor declara a classe média como um tema): um homem e uma mulher sebosamente gordos deitados no chão da sala soterrados por sofás, televisores e hambúrgueres. Quem tiver que olhos que veja. Saravá! (LM)

[email protected]/azica

ACID FARTED #5 / A5 / 8 pags. / xerox / 2005#7 / A5 / 8 pags. / xerox / 2005#8 / A5 / 8 pags. / xerox / 2006#10 / A5 / 12 pags. / xerox / 2008Em atividade desde 1994, esta veterana publicação do Distrito Federal preserva

muitas das características dos fanzines musicais daquela época. É o tipo de trabalho apaixonado e idealista, que se orgulha por divulgar o underground musical em “todas suas tendências” (majoritariamente death / thrash metal, crossover, grind e hardcore). Além das tradicionais entrevistas e resenhas, há também espaço garantido para os textos de protesto tratando de política, religião e do próprio underground.Julgando pelos números recebidos, que compreendem a produção entre os anos de 2005 e 2008, é possível notar um constante aprimoramento na redação, que ficou mais coesa e fluida. A essência do Acid Farted, no entanto, manteve-se praticamente intacta com o passar do tempo – para o bem dos leitores. (DU)

[email protected]

ALEXYUS CRUZ #1 e 2 / A5 / 20 pags. / offset / 2010“Lemuria” e “Borboletas Envenenadas”, as duas aventuras do demônio Alexyus Cruz lançadas até o fechamento deste Anuário, estão entre as publicações mais peculiares que recebemos. Buscando unir quadrinhos e teatro, as histórias se passam num palco e os personagens agem como se fossem atores. É difícil precisar o momento histórico em que os episódios se passam, mas certamente não é na atualidade. O texto é prolixo e os personagens se vestem como se fossem integrantes da banda Lacrimosa. No meio de tudo isso, ainda há espaço para crítica social: Alexyus Cruz, o protagonista, é uma figura que vaga solitariamente, sendo constantemente repudiada e tida como demoníaca apenas por ter a pele escura. Confuso? Sim! O fato é que, para dar conta da ambição do autor, ainda há muita coisa aqui que carece de amadurecimento. A primeira delas é o texto: considerando o estilo pomposo e rebuscado que foi adotado, é indesejável que haja tantos erros gramaticais. Um perfil mais definido para Alexyus também ajudaria, pois não raro tem-se a impressão de que nem o criador sabe exatamente quem é sua cria.É admirável que um autor busque originalidade e seja ambicioso com suas obras. Nesse sentido, Marcelo Andrade, a mente criativa por trás desta série, merece todo respeito e apoio. Mas, ao estabelecer patamares elevados, deve-se ter o cuidado de não tentar dar um passo maior do que a própria perna. (DU)

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ALMANAQUE CONTOSDA MADRUGADA#1 / 18 x 26 cm / 32 pags. / offset / 2010Enquanto não sai uma nova edição da

moral do personagem são questionados e revistos em uma trama que envolve drogas, sexo, feitiçaria, intrigas políticas e moscas tsé-tsé. Tudo com o traço torto e os closes característicos do autor.Ah, sim! Ano do Bumerangue saiu pelo selo Prego Publicações, o que por si só deveria ser motivo de sobra para você correr atrás do seu. (DU)

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ANORMAL ZINE#10 / A6 / 56 pags. / digital / 2010O número 10 do Anormal foi o que chegou em nossas mãos e essa edição é uma espécie de coletânea das outras edições do fanzine, além de conter outros conteúdos inéditos. Capa e algumas páginas coloridas, colagens abusada-mente doentes, quadrinhos politicamente incorretos, desenhos toscos e podres e por isso legais pra caralho, poemas satânicos e textos cheios de humor corrosivo: misture tudo isso e você terá o excelente Anormal zine. Meus textos preferidos são “O julgamento de Deus” e “O fim”. Nota especial para o processo de distribuição do zine: o editor deixa cópias em bancos vazios dos ônibus de BH. Um soco de criatividade e pensamento crítico mostrando que “a vida é bela, e o belo é podre”. (LM)

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ÁREA 71#1 / 17 x 26 cm / 48 pags. / offset / 2010Área 71 é uma revista que se propõe a compilar, semestralmente, trabalhos de quadrinistas cujo único ponto comum é o fato de serem baianos. Eclética, reúne no-vatos e veteranos e abrange as HQs de herói, de humor, de aventura e de terror.Como portfolio do que está sendo produzido no quadrinho contemporâneo daquele Estado, a revista é, portanto, muito bem sucedida. Porém, a exemplo da maior parte das coletâneas, Área 71 tem seus altos e baixos. Os roteiros são o elemento que mais carece de aprimora-mento: algumas histórias dão a impressão de existirem apenas como pretexto para o artista ter o que desenhar. Os desenhos são em sua maioria muito bons, mas ainda há bastante espaço para a ousadia e a experimentação. Destaco especial-mente os trabalhos de Hélcio Rogério e André Leal. Apesar de irregular, Área 71 é uma boa revista, pronta para revelar novos e sur-preendentes talentos. Mais do que isso, é uma iniciativa que comprova a força e o poder de articulação dos quadrinis-tas baianos. Que venham as próximas edições! (DU)

[email protected]

ARLEQUIM#19 / A5 / 24 pags. / xerox / 2010Eu já havia ouvido falar de Arlequim, mas, por alguma razão, nunca corri atrás. Editado desde 1997, eis que agora, por conta deste Anuário, chega às minhas mãos o número 19 do fanzine.Não há como fugir da sensação de ter perdido algo: basta uma breve folhe-ada para perceber que é um trabalho especial, complexo e rico em idéias. Mas, por se tratar de uma história que vem se desenrolando desde o primeiro número, é impossível ao leitor iniciante ter compreensão total de suas minúcias, das singularidades dos personagens e das relações entre eles.Resumidamente, trata-se de uma ousada aventura em que personagens de dife-rentes obras literárias se vêem reunidos em um reino paralelo ao nosso. Eventu-almente, sob determinadas circunstân-cias, porém, esses personagens podem passar para o lado de cá. Criado por Roberto Hollanda, Arlequim recebeu em 1998 o Prêmio Especial Nova, da SBAF (Sociedade Brasileira de Arte Fantástica) e teve seus três primei-ros capítulos compilados em um álbum lançado pela Marca de Fantasia.Para quem se interessar, é possível fazer download de várias edições antigas atra-vés do blog do autor. (DU)

[email protected]

ARTLECTOS E PÓS-HUMANOS#3 / 14 x 20 cm / 32 pags. / digital + offset / 2009Amem-no ou odeiem-no, ninguém pode dizer que os quadrinhos de Edgar Franco carecem de personalidade. Seu desenho detalhista e cheio de curvas dá vida a personagens excêntricas de mundos

Qual o segredo para manter um fanzine por 20 anos? Alguma vez lhe passou pela cabeça que o Aviso Final duraria tanto?O segredo é não criar expectativas. Edito sempre que tenho vontade e assunto. Olha, não imaginava essa longevidade, não. Quando me dei conta estava completando 20 anos.

Nessas duas décadas de fanzinagem, o que mudou na cena underground e como isso afetou seu zine?Não sei se podemos chamar de cena, pois não vejo as coisas muito articuladas. Mas mudou muita coisa, surgiu muita moda e o que realmente tinha verdade e consistência

no discurso ficou. Desta forma, não afetou em nada.

Você chegou a migrar o Aviso Final para a internet e depois voltou ao papel. O que aconteceu?Primeiro vi que minha motivação vinha do fanzine impresso e na sua elaboração. Curto trabalhar com recortes, montagens manuais, etc. Na net dependia de webdesig-ner, necessitava uma atualização constante, etc. Depois recebi muita carta de gente que me pedia para voltar a edição física. Acho que o toner está em minhas veias! Por incrível que pareça, uso a net para divul-gar o zine impresso através de um fotolog.

3 perguntas para RENATO DONISETE

desconhecidos. Os textos apontam para um futuro em que religião, tecnologia e a própria Humanidade terão estabelecido uma estranha intimidade, em um conceito muitas vezes apresentado de forma um pouco hermética. O editorial desta edi-ção, por exemplo, diz: “Raios catódicos como rituais canônicos / Gnose algorítmi-ca, telecinésia telemática / Mitos vindos de modems, vírus com nomes de moças / Sabá dos Elétrons, meditação telemítica / Novos cultos imateriais, velhos orgasmos virtuais”. Não é à toa que Edgar Franco, ao lado de autores como Gazy Andraus e Flávio Calazans, representa um estilo que ficou conhecido como “poético-filosófico”.Nesta terceira edição de Artlectos e Pós-Humanos, Edgard prossegue investigan-do e expandindo o curioso universo que ele inventou, e ainda que o leitor não se sinta atraído pelos textos, valem as intri-gantes imagens que os acompanham. O único “porém” fica por conta do uso insis-tente de gradientes e sombras projetadas pelo Photoshop. Entendo que, conceitu-almente, a relação manual x computador seja pertinente aqui, mas no resultado final esses efeitos estão mais distraindo

Artlectos e Pós-Humanos

revista Contos da Madrugada, seus editores resolveram compilar as melhores histórias dos números anteriores e lançar este Almanaque. A começar pela capa, que faz uma paródia das famosas capas da Cripta do Terror, a publicação assume um humor escrachado e repleto de referências à cultura pop(ular). Por trás da bagunça, alguns nomes conhecidos dos quadrinhos independentes, como Mario Cau, Laudo Ferreira e Will. É gibi rápido e divertido, para ler numa sentada. Destaque para a HQ “Cosmogonia”, com excelente texto de Cadu Simões e dese-nho de Jozz. (DU)

[email protected]

AMOR ESCRIT@S EXPERIMENTAL n.u. / A4 / 20 pags. / xerox / 2010Zine de poesias que reúne os trabalhos de quatro jovens autores que, até então, só publicavam seus versos em blogues. O zine é parte do Viva Literatura Viva 2010, mais uma trabalho dos incansáveis idealizadores do Projeto Oficinativa.E como o título do zine já deixa claro, são poemas de amor. E nos versos aqui reunidos, há amor em abundantes formas: daquele mais etéreo que guarda lembranças em pedaços de papéis até aquele que só se contenta com o calor do outro na epiderme suada. (LM)

[email protected]

ANJOS DA MATAn.u. / A5 / 68 pags. / digital / 2009Um jovem estudante da cidade grande, uma autêntica cowgirl e uma garota com capacidade de ouvir o grito das árvores se unem para lutar contra madeireiros inescrupulosos e salvar a Mata Atlântica. Esse é o argumento de Anjos da Mata, o mangá politicamente correto criado por Wilson Kohama. Apesar de cercada de boas intenções, a história é demasiada-mente inverossímil e apresenta algumas sequências muito forçadas, além de um desfecho previsível. De qualquer forma, a arte é competente e deve agradar os fãs do estilo. (DU)

[email protected] www.editoracras.com.br

ANO DO BUMERANGUE#1 / A4 / 32 pags. / offset / 2010Ano do Bumerangue é sem dúvidas uma das HQs mais estranhas que eu já li. A começar pela capa, que apresenta a foto de um velho vestido de Fantasma (ele mesmo, o personagem criado por Lee Falk) e a sigla A.D.B., nada além. Quando você começa a ler a história percebe de cara que se trata, de fato, de uma espé-cie de homenagem do quadrinista Diego Gerlach ao famoso “espírito que anda”. Só que aqui o heroísmo e a integridade Café Espacial

UGRA PRESS - 201110 1o ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICACÕES ALTERNATIVAS 11

do que acrescentando. Já estaria bom o suficiente sem eles. (DU)

[email protected]

AVISO FINAL #24 ao 26 / A5 / 12 pags. / xerox / 2009-2010Resenhar um dos zines mais antigos e produtivos do país não é uma tarefa fácil. Afinal, o Aviso Final está há mais de 20 anos apoiando a cena musical punk/hardcore. Atravessou crises financei-ras, o boom da Internet e ainda está na ativa com o mesmo espírito de sempre. Entrevistas muito bem conduzidas e resenhas de zines, discos, livros e vídeos compõe as suas edições que, embora sem periodicidade definida, sempre estão circulando por aí. Um verdadeiro monu-mento vivo de resistência (contra)cultural que, se você ainda não conhece, deveria morrer de vergonha. (LM)

[email protected]/aviso_final

AVISO FINAL - EDIÇÃO ESPECIALe.e. / A5 / 24 pags. / xerox / 2010Se manter ativa uma publicação por 20 anos é um feito raro até no mercado edi-torial profissional, o que dizer então sobre um fanzine com essa idade? Aviso Final, editado por Renato Donisete, é um dos poucos que conseguiram essa façanha.Como parte das comemorações deste aniversário, foi lançada essa simpática edição especial do Aviso Final. Nela, o leitor encontrará uma sucinta biografia do zine seguida de reproduções das capas dos 27 números já lançados, onde se torna evidente a compreensão ampla que Renato possui da cena punk/hardcore, foco de sua publicação. Livre

das panelas e subdivisões comuns a este meio, Aviso Final consolidou-se como um espaço democrático em que tendências diferentes (e frequentemente divergentes) do punk são apresentadas. Contemplar estas capas, portanto, é contemplar uma parte significativa do que foi o punk brasi-leiro nas últimas duas décadas. (DU)

[email protected]/aviso_final

BACANA PEOPLE#1 / A5 / xx pags. / digital / 2010Fanzine de quadrinhos que cativa pelo bom humor e nonsense de suas histórias. A mais longa é “O que tem no bosque?”, que fala sobre a bebedeira de Amador, um tipo que se embrenha no bosque para pegar as cachaças de uma macumba e volta em companhia de um cara bem esquisito que faz a noite ficar ainda mais louca. O humor fica por conta das tirinhas “Quase engenheiros”, uma boa sátira com esse pessoal das calculadoras e fórmulas incompreensíveis. Importante comentar também sobre o editorial, que é um guia divertido sobre como apreciar um fanzine independente. (LM)

[email protected]

CAFÉ ESPACIAL#1 / 14 x 21 cm / 48 pags. / offset / 2007#2 ao 7 / 14 x 21 cm / 60 pags. / offset / 2008 - 2010Café Espacial é uma revista independente que ganhou merecido reconhecimento e notoriedade ao longo das 7 edições lançadas até o fechamento deste Anuário. Idealizada por Sergio Chaves após alguns anos de fanzinagem, surgiu com o objetivo ambicioso de propagar arte “na total amplitude da palavra”, de

do Lourenço Mutarelli. Dos veteranos, saliento “Dia de Pedir Demissão”, de Bira Dantas, com a crítica social mordaz característica do autor. Gazy Andraus e Edgard Franco, legítimos representantes dos quadrinhos poético-filosóficos, tam-bém marcam presença de maneira muito interessante: além das HQs propriamente ditas, ambos detalham em textos o pro-cesso de criação de suas histórias e as referências utilizadas.Boa revista que, se mantiver o fôlego, certamente surpreenderá nas próximas edições. (DU)

[email protected]

CANCRO#1 ao 5 / A6 / 16 pags. / xerox / 2010Um zine literário que aposta em contos, poesias e alguns quadrinhos, com parti-cipação de autores variados. O que mais me chamou a atenção nesse zine foram os contos: curtos, retos e, por vezes, sur-preendentes. Alguns deles conseguiram alcançar aquele grau de tensão que Julio Cortázar, um dos grandes contistas da literatura mundial, acreditava ser o núcleo diferenciador do conto como gênero literário: é o caso de “Simão”, que lemos impacientes e ao chegar ao final somos surpreendidos por um fato completamen-te inesperado. “Manicômios juvenis” fala sobre um tipo que faz uma visita a um centro de recuperação para drogados e saí de lá consciente de que droga pode ser muita coisa: “Não é só o crack ou a pasta, mas os sites de relacionamento, a masturbação, as novelas, as igrejas, as lojas de roupa, as universidades, as pizzarias (...) Toda essa merda que nos ajuda a escapar da outra merda na qual chafurdamos.” Mas foi “Angústia noturna” o conto que mais me chamou a aten-ção, por conseguir captar um pouco da complexa sensibilidade feminina (o autor é um homem, vale dizer) e pelas belas metáforas envolvendo o cair da chuva, suor e esperma que transformam a cena da morte ao final em algo muito belo. Que o Cancro se espalhe! (LM)

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CARA DE PAU#1 / A5 / 12 pags. / digital / 2010Zine de quadrinhos editado por Murilo Souza e Morgana Mastrianni. Metade deste número é reservado à HQ “100 Passos”, com desenhos da Morgana e texto de Julio de Castro. Boa história sobre adolescência, com desenhos simples, soluções gráficas interessantes e um humor meio melancólico. O restante é dividido entre duas tiras da Família Cruz (criação de Murilo sobre uma família de vampiros), dois cartuns da Morgana e biografia dos autores. Curto e promissor.

3 perguntas para

RIC RAMOS

Por que o nome Janela Poderosa?O nome partiu de duas idéias. A primeira, mais simples, quando você abre uma revista ou um livro, você vê uma paisagem de ideias. É como se abrisse uma janela. Uma “Janela Poderosa”! A segunda idéia que reforça o nome vem do álbum intitulado “Power Windows” (Janela de Força) da banda canadense de rock progressivo, Rush.

Como você define os temas das edições do fanzine?Os zines são definidos por assuntos de meu interesse, mas que são deinteresse pra muita gente também. Escolho um tema “X” e faço umapequena pesquisa criando um pequeno conteúdo como introdução. Pra ficar mais divertido, eu procuro por algo que tenha alguma relação comeste tema como ciência, história, comportamento, cultura... Daí eu osconecto formando um mosaico interessante.

Fazer zines de papel em um mundo dominado pela Internet. Qual o sentido?O sentido é passional pra quem é zineiro. Nunca fui contra os ditos “e-zines”, mas receber pelo correio os zines de papel é muito mais legal. A internet ainda mantém um contato frio entre as pessoas.

Tem tudo para crescer e virar um zine bacana. (DU)

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CARTUM#57 e 58 / A5 / 28 pags. / offset / 2010Vem da cidade de Brusque, no interior catarinense, essa peculiar publicação humorística. Idealizada e produzida pelo prolífico Aldo Maes, Cartum é recheada com os quadrinhos, tiras e passatempos do autor, mantendo sempre um nível “humor para toda a família”. Chama atenção a quantidade de peque-nos anúncios veiculados aqui: todos os espaços (até mesmo a capa!) são ocupa-dos pelas extravagantes mensagens do comércio local. Imagino que seja assim que Aldo consiga manter a periodicida-de mensal e a impressão inteiramente colorida de sua revista. O lado negativo é

acordo com o editorial de sua edição de estréia. Assim, Café Espacial é uma publicação que oferece HQ, música, cinema, fotografia e literatura.O grande destaque da Café Espacial são as HQs. Colaboradores como Mário Cau, Laudo Ferreira, D.W., Sueli Mendes e, especialmente, Allan Ledo, garantem um excelente nível para a revista que, por si só, justificariam sua aquisição. A parte textual é mais cheia de altos e baixos. As entrevistas com as bandas poderiam ter perguntas mais consistentes, fugirem mais dos clichês. A entrevista com a Banda Gentileza (#7), em formato foto-novela, por exemplo, foi uma grande sacada. Também foram muito boas a entrevista com Daniel Galera (#2) e as matérias “Esse Mundo É Nosso” (#7) e “No Coração do Cinema, a Sala de Projeção”(#6). Por outro lado, eu não vejo o ponto em dedicar matérias para diretores como Quentin Tarantino (#5), Tim Burton (#4) ou Woody Allen (#3). São escolhas meio óbvias e, excetuando o caso de uma entrevista exclusiva ou de uma análise diferenciada de suas obras, toda informação sobre as biografias e filmografias desses senhores pode ser “googleada” sem esforço algum.Algo interessante em ter a oportunidade de ler os 7 números da revista é acom-panhar seu evidente amadurecimento. Cada edição parece mais coesa e bem resolvida que a anterior. Conquistar uma identidade é algo difícil para uma publicação com proposta tão eclética, e sem dúvidas eles estão caminhando na direção certa. (DU)

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CAMIÑO DI RATO#1 ao 3 / 21 x 28 cm / 48 pags. / offset / 2008 - 2010Camiño Di Rato resgata um tipo de publi-cação que gozou de certa popularidade nos anos 90 e que revelou ao mundo alguns artistas que viriam a ser “meda-lhões” da nona arte: revistas com HQs de autores de diferentes estilos, com miolo preto e branco em papel jornal e capa colorida. Mil Perigos, Tralha, Megazine, Porrada Especial... Marcas de um tempo em que as prateleiras de quadrinhos nas bancas de revistas ainda não haviam sido divididas exclusivamente entre os enla-tados americanos e os japoneses. Mas deixemos de lado o saudosismo por ora. Nas três edições já lançadas da Camiño di Rato, nomes consagrados convivem lado a lado com novos talentos e a miríade de temas vai do humor político aos questionamentos existenciais, com resultados na maioria das vezes bem positivos. Dos autores que me eram desconhecidos, destaco o Al Greco, com um trabalho que remete às antigas HQs

que as páginas ficam poluídas demais e a atenção do leitor acaba dividida entre a algazarra publicitária e o bom desenho do autor.A edição de número 57 trazia uma história longa com o personagem Dagoberto, além de algumas tiras e piadas quadrini-zadas. Já o número 58, lançado em meio às eleições presidenciais, foi praticamen-te um especial do personagem Omar Ajá, um político tipicamente brasileiro. (DU)

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CGZINEe.e. / A5 / 4 pags. / xerox / 2009Esse zine já é editado há mais de 10 anos. Nessa edição especial bem simples (uma folha A4 dobrada em dois) temos como principal texto o “Guerra do Paraguai Zombie”, seguindo a tendência de certa literatura em revisitar certos livros/eventos e reescrevê-los em uma tônica fantástica. Nesse caso, o texto mostra muito bem o que foi a carnificina dessa guerra covarde, onde o Brasil teve um papel preponderante. Afinal, por que você acha que o Paraguai é tão pobre assim? Há também poesias de inspiração gore e crítica social, além de uma lista de links para páginas de bandas, distros e zines. (LM)

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CHRISTA COREe.e. / A5 / 12 pags. / xerox / 2008Esse zine tem a proposta de falar de hardcore/punk e cristianismo através de quadrinhos. Fazer essa resenha não é algo fácil, visto que essa aproximação entre algo que, pelo menos em teoria, é contestador e antidogmático com a podri-dão ideológica cristã sempre soou para mim como algo suspeito, uma tentativa de conquistar novos fiéis através de um cristianismo superficial e tolerante –e que garante fiéis para lotar os templos e, claro, pagar dízimos. Voltando ao zine: o personagem principal é o Seu Madruga (isso mesmo, o eterno devedor de nove meses de aluguel) que luta contra o seu próprio reflexo do es-pelho. O roteiro é a letra de uma música do Rodox, banda cristã fundada pelo ex-vocalista do Raimundos. Difícil dizer qualquer outra coisa, já que para mim as coisas não se encaixam. (LM)

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COISAS QUE SE CONTAM#1 ao 5 / 10,5 x 10 cm / 12 pags. / xerox / 2008Zine literário que reúne contos e poesias do escritor/editor Márcio Araújo, que edita também um blog. Os contos, brevíssi-mos, compõe a maior parte das edições do zine, e muitas vezes com desfechos Cancro

UGRA PRESS - 201112 1o ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICACÕES ALTERNATIVAS 13

surpreendentes –como o excelente “Pe-cado”, que versa sobre a reação de um padre ao ouvir a confissão dos excessos sexuais de uma linda jovem adepta dos jogos de Safo. (LM)

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CONSEQUÊNCIASn.u. /15 x 23 cm / 20 pags. / offset / 2008Consequências é uma HQ de Caio Majado originalmente concebida em 2006 para o projeto Front, da Editora Via Lette-ra. Vetada da revista por sua extensão e por ter sido ilustrada com um traço “muito mainstream”, ela foi finalmente editada em volume próprio com o apoio da ABRA (Academia Brasileira de Arte), escola onde Caio é professor.De fato, o traço - e também o enredo, por sinal - têm um jeitão bem americano e mainstream. É aquela coisa de supera-ção e vingança que todos conhecemos. Mas é uma história muito bem contada, de qualquer maneira. E, goste ou não do estilo, Caio está desenhando muito. As últimas páginas, dedicadas aos sketches realizados pelo autor, onde é possível ver a evolução e a estrutura das persona-gens, formam um interessante comple-mento para a publicação. (DU)

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CONTRA ARTE ARTE CONTRA #1 / A5 / 40 pags. / xerox / 2010Zine de imagens, algumas muito abstra-tas e outras mais figurativas. A capa, no tradicional papel marrom do coletivo, tem o nome do zine marcado sobre pince-ladas de tinta guache negra. As ilustra-ções, variadíssimas, apresentam traços diversos, denunciando que se trata de uma obra coletiva. Há espaço para histó-rias em quadrinhos e algumas colagens. Não há textos, mas isso não impede que seja possível ler nessas uma grande pro-ximidade com o discurso anticivilização. Ótima opção para presentear amigos designers ;-) (LM)

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CONTRA MÃO #1 / A4 / 24 pags. / xerox / 2010Projeto coletivo idealizado durante o Primeiro Encontro de Zineiros, ocorrido em janeiro de 2010 na cidade de São Paulo. Reúne textos de vários autores /editores com foco no universo zinístico e na cultura punk, dos quais se destacam o depoimento de Renato Donisete sobre os 20 anos do Aviso Final e a entrevista com a banda inglesa Inca Babies. Projeto gráfico assinado por Katz (também editor do Kaderno Bomba Zino), com seu estilo inconfundível. (DU)

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CONVERSAS PARALELAS#1 / A5 / 8 pags. / xerox / 2009#2 / A5 / 8 pags. / xerox / 2009#4 / A5 / 12 pags. / xerox / 2010#5 / A5 / 16 pags. / xerox / 2010Colagens, letras datilografadas, fotos e rabiscos feitos a mão: a essência mais clássica da fanzinagem é a tônica desse zine que especialmente em sua edição de outubro de 2010 (a mais recente até a data de composição dessa resenha) mistura português e espanhol em seus textos ora diretos, ora introspectivos. De certa forma, esse último número é o regis-tro das impressões do editor sobre uma temporada na Argentina, em contato com a cena hardcore da província de Buenos Aires. Há também a genial HQ “Politikis-to”, assinada por Insekto, um nome muito conhecido no circuito punk/hardcore de Porto Alegre. (LM)

[email protected]/setuabossafossenova

CORDEL COMIXn.u. / A5 / 132 pags. / offset / 2009Há mais de 20 anos, o caruaruense Sill desenha seus cartuns e HQs de uma pá-gina carregados de referências à cultura nordestina e de críticas à sempre contur-bada situação político-social brasileira. Parte deste trabalho, que ao longo dos anos foi publicado em diversos jornais locais e no fanzine Cordel Comix, está agora reunido em um caprichadíssimo livro editado com incentivo do governo de Pernambuco.Simplicidade é a palavra chave no traba-lho de Sill – o que não é demérito algum, como nos lembra o depoimento de Henry Jaepelt na contracapa do livro. O traço é econômico e estilizado. As piadas são diretas e debochadas, por vezes até ingênuas, típico humor de botequim. Mas o conjunto, no final, funciona muito bem: é divertido e cumpre exemplarmente seu papel de retratar sem firulas a realidade do país e do povo.Cordel Comix, o livro, é um justo reco-nhecimento ao trabalho de um artista peculiar. Esperamos que outros autores

pelo Brasil também sejam contemplados com iniciativas deste tipo. (DU)

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CURTO CIRCUITO GRANDES INTERAÇÕES#1 / A4 / 13 pags. / digital / 2010Interações Estéticas é um prêmio da Fu-narte que contemplou artistas residentes de Pontos de Cultura em vários lugares do Brasil. Este fanzine, por sua vez, é o resultado das intervenções de 3 artistas convidados a participar da etapa paulis-tana do Circuito Interações Estéticas, um evento que percorreu algumas cidades do país levando os artistas contemplados pelo prêmio. Colaboram nesta edição a Carol Ribeiro com seus haicais, o Wendell Sacramento com suas HQs e nosso querido Law Tissot, que coordenou a publicação e colaborou com algumas ilustrações. O zine foi feito meio de sope-tão e em condições não muito favoráveis, mas passa o recado. (DU)

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DANDO PALA #1 / A5 / 8 pags. / xerox / 2010Colagens, desenhos rabiscados, recor-tes, manuscritos: o Dando Pala aposta na sujeira visual em breves oito páginas que destilam inconformismo e questiona-mento. “Notas de um hedonista maldito” abre o zine com o estilo gráfico bastante comum nos zines anos 90, onde se recortava um texto linha a linha que, em seguida, eram anarquicamente coladas pela página. Completa o zine um trecho de Schopenhauer de “A arte de escrever” e a adaptação de um conto de Rubem Alves. As informações manuscritas às vezes são ininteligíveis - o que pode ser até mesmo proposital, mas no caso de informações de contato do editor pode ser melhor deixar mais claro. (LM)

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DELINQUÊNCIA ACADÊMICAn.u. / A5 / 16 pags. / xerox / n.i.D.A. é um zine emputecido, rebelde e subversivo. O foco é a crítica à universidade e ao mundo acadêmico, enfatizando o quanto este meio abandonou seu papel de disseminador de cultura e saber para tornar-se um ambiente conformista e conivente com as outras esferas do poder.Felizmente, o que esta publicação oferece não é desabafo juvenil, mas dois textos bem construídos e provocativos. O primeiro deles, aliás, escrito por Maurício Tragtenberg em 1978, impressiona por manter-se amargamente atual mais de 30 anos após sua apresentação no I Semanário de Educação Brasileira. Na quarta capa,

uma frase sintetiza a mensagem: “Se você gostou da escola, vai amar o trabalho”. Tão real que até dói. (DU)

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DEUSES & METRALHADORASn.u. / 13,5 x 18,5 cm / 68 pags. / digital / 2009Zine-livro que reúne as reflexões do feiticeiro-filósofo Asmodeus, persona-gem criado pelo editor. Este “manual para hereges” possui capa colorida e uma diagramação bem similar a de um livro, com fontes bem grandes. Há um apêndice de imagens (bastante inspira-das em mangás), além de mapas e uma carta manuscrita, todos feitos pelo editor. Tais imagens mesclam-se com o texto, um misto de ensaio e narrativa, onde o objeto da crítica é bem claro: a crença em qualquer tipo de divindade como algo que diminui os homens. Sobram críticas não apenas para as religiões, mas tam-bém para outras “divindades” de nosso universo pop, como as sub-celebridades de reality shows e até mesmo o consumo do “deus-cerveja”. (LM)

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DISCURSO ANTI-CONFORMISTAe.e. / A5 / 16 pags. / xerox / 2007Zine punk cristão com matérias sobre o CBGB, Gang of Four, resenha dos docu-mentários Botinada e Punks are alright e uma reprodução da coluna do Mario Tos-cano, do extinto (e ótimo) zine Contraven-ção, abordando certas neuroses típicas da cena punk/hardcore (acho apenas que deveria ser citada a fonte, pois muita gente não saberia identificar isso...).Há também uma matéria sobre o Rodox,

É cada vez mais fácil e barato para um editor independente lançar publicações com aspecto profissional, chegando a re-sultados muito próximos aos das revistas comerciais. Por que a decisão de apostar em edições com acabamento artesanal e tiragens limitadíssimas?Creio que as edições independentes possam ser pensadas de maneira diferente das edi-ções com grande tiragem: existe a possibili-dade nos zines de encadernações diferentes, usar papéis diversos, pensar em outro tipo de impressão (que fuja do off-set), etc; pois busca um público que não está interessado na publicação tradicional. A baixa tiragem é reflexo deste público diferenciado, mas de menor número.

Você já disse algumas vezes que criar histórias em quadrinhos é, para você, um processo penoso. Ainda assim, o resultado apresentado aos leitores é sempre muito bom. O que acontece? Você já chegou a pensar em abandonar as HQs?Fazer o fanzine me força a desenhar histórias em quadrinhos: tenho dificuldade pois tento mudar meu traço em cada nova história. Por um lado acho que cada história precisa de uma abordagem única (e o visual conta muito) e, por outro, tenho medo de me prender a um estilo de desenho.O correto para um desenhista é se prender a um estilo e buscar um aprimora-mento pela prática. Por este motivo nem me considero um “desenhista”; não tenho uma postura de um profissional.Talvez o próximo número do “La Permura” seja o último, ou eu fique um bom tempo sem produzir quadrinhos e fanzines. Apesar de ter algumas ideias para os próximos números,

quero trabalhar com ilustração editorial e de livros infantis; pretendo desenhar umas histórias que havia pensado e agora está amadurecida para compor alguns livros.

Em 2010, o La Permura esteve presente em uma exposição na Turquia. Como surgiu essa oportunidade? Houve algum retorno?A oportunidade de participar da exposição “Even My Mum Can Make a Book” veio do convite do Gamze Özer, um dos organiza-dores. Ele conheceu meu trabalho no Flickr e me contactou por e-mail perguntando se não queria enviar uns trabalhos. Os organizadores colocaram num site (http://evenmymumcanmakeabook.tumblr.com/) videos e fotos da exposição. É legal ter esse registro de edições inde-pendentes diferentes de tudo que é lugar do mundo e um público interessado em vê-las.

a banda do ex-vocalista dos Raimundos que virou crente, e a reprodução de uma matéria da Veja chamada “Rebeldes, mas nem tanto”, que mostra uma visão completamente tendenciosa do punk brasileiro. Ora, galera, Veja é a revista mais podre desse país, não merece ser reproduzida em zine não! (LM)

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DOUJINSHI TATSU #9 / A5 / 24 pags. / xerox / 2010Fato: a produção de fanzines de mangá é uma das mais organizadas e numerosas dentre o montante de fanzines editados no Brasil. Os admiradores dos quadrinhos e animações nipônicos constituem mes-mo uma subcultura: têm suas publica-ções, seus próprios eventos e até mesmo seu próprio linguajar.Dentre os zines de mangá que rece-bemos, Doujinshi Tatsu, do capixaba Adriano Takamura, é o que mais traz à tona o lado “fã” da coisa. Aliás, “fã” não: otaku. Além de publicar sua própria história, Angel´s Dimension (que, por ser continuação de episódios iniciados em edições anteriores, não consegui acom-panhar direito), o autor incluiu também uma entrevista com a mangaká Monique, uma matéria sobre o anime Shoujo Kaku-mei Utena, um artigo sobre o quanto a internet torna fria a relação entre os tomo-dachis, uma biografia do astro do j-rock Hyde e uma seção de tegamis. E se você não entendeu nada, relaxa: nas últimas páginas tem um providencial “vocabulário otaku”. Arigatô, Adriano! (DU)

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3 perguntas para

RODRIGO OKUYAMA

Dr. Sexta-Feira

Consequências

UGRA PRESS - 201114 1o ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICACÕES ALTERNATIVAS 15

DR. SEXTA-FEIRA #3 / A6 / 40 pags. / offset / 2010No editorial, os editores de Dr. Sexta-Feira anunciam enfaticamente que a publica-ção não é um zine. Alegam estar velhos e sérios demais para continuar fazendo isso. Páginas adiante, um dos editores re-toma o assunto dizendo que não poderia chamar Dr. Sexta-Feira de zine porque ele foi “planejado demais, pensado demais, bem impresso demais”. Qual é, afinal, o limite para um zine? Deixando de lado a crise de identidade, Dr. Sexta-Feira é um simpático e diversifi-cado zine (Z-I-N-E, ouviram?) em formato de bolso. Traz várias ilustrações e HQs de diferentes colaboradores, alguns trechos de textos (Roberto Arlt e J. D. Salinger, para citar alguns), poesia e até fotografia. Leitura breve e bastante agradável. (DU)

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a linguagem das HQs, mas sem dúvidas entretém e é muito divertido.Outra coisa que é perceptível comparan-do este trabalho com outros do mesmo autor (leiam a resenha de Rafe, neste mesmo Anuário) é que as histórias de Spyked têm a lógica de um vídeo game: os personagens são submetidos a uma série de desafios que se sucedem em um grau crescente de dificuldade, até a grande vitória e o final feliz. Neste “Em Busca das Estrelas”, Marty e seus amigos partem em busca de 10 estrelas mantenedoras da paz espalhadas mundo afora, antes que elas sejam capturadas por um dos 10 reis super-poderosos que planejam destruir o planeta. Haja imaginação! (DU)

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EM DEFESA DO ANARQUISMOANTI-CIVILIZAÇÃOn.u. / A5 / 36 pags. / xerox / 2009Outra produção do coletivo Hurrah!. Desta vez, a proposta do zine é desmisti-ficar as costumeiras críticas endereçadas ao pensamento anticivilização. Em geral, esta linha radical do anarquismo defende algo bem polêmico: os males atuais que afligem nosso planeta tiveram sua origem na invenção da agricultura, entendida como domesticação da natureza. Foi só a partir daí que se deram as bases para dominação do homem pelo homem: na diferenciação entre espaço comum e privado, na especialização do trabalho e no incremento da comunicação simbólica entre os indivíduos humanos. Logo, a base de nossos problemas é, justamente, a civilização –que deve ser destruída se quisermos a continuidade da existência do planeta. Justamente por isso pesam sobre o pensamento anticivilização críticas de que “desejam voltar ao pas-sado”, “destruir os avanços humanos”,

“alienados da realidade social”, etc. Ao interessado em conhecer quais são as respostas que os anarquistas anticiviliza-ção oferecem para essas críticas, esse zine é essencial. (LM)

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ENQUANTO ISSO...e.u. / A6 / 20 pags. / offset / 2010Will é um nome freqüente nas publica-ções brasileiras de quadrinhos indepen-dentes, particularmente conhecido por seus heróis Sideralman e Demétrius Dan-te e suas histórias bem equilibradas entre a aventura e o humor. É também um dos quadrinistas brasileiros que faz bom uso da computação gráfica em seu trabalho, dominando a máquina como ferramenta, sem se render aos efeitos fáceis.Enquanto Isso é uma compilação de tra-balhos feitos pelo Will entre as edições de alguma das revistas com a qual colabora. Esses trabalhos (ilustrações, cartuns, HQs curtas), segundo ele, estavam soltos por aí, alguns ainda inéditos – daí a ne-cessidade de agrupá-los em um volume.O resultado é uma revista/zine em formato pocket, descompromissada e divertida, que deve agradar tanto a quem já acom-panha o trabalho do autor quanto a quem estiver conhecendo-o. (DU)

[email protected]/gazetadenovaluz

ENSAIOS DE GEOGRAFIADO ESPETÁCULOn.u. / A5 / 32 pags. / xerox / 2010Com uma clara afiliação ao pensamento de Guy Debord (autor do contundente A sociedade do espetáculo, o livro que melhor captou o espírito do Maio de 68), este interessantíssimo zine busca mostrar como o espetáculo – entendido, segundo Debord, como o capital em estado de imagem e a vida não como vivência, e sim representação – se configura na organização do espaço da cidade. O shopping center é elegido como a melhor realização do espetáculo: inserido no cotidiano da cidade, espaço de compra que se usufrui como lazer, experimentado pelas pessoas como algo público (quando na verdade é privado) o shopping center é o espetáculo puro, deslumbrante e higienizado de tudo aquilo que a sociedade não quer ver. Leitura instigante que proporciona o necessário grau de estranhamento para observar, para além das imagens, a podridão reinante no espaço espetacular. (LM)

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ESTE CORPO É MEU#1 / A5 /48 pags. / xerox, serigrafia, colagem, pintura / 2010 “Corpo é o espaço e o tempo desde o qual refletimos politicamente nosso

cotidiano” – de certa forma esse trecho reflete a proposta do Este Corpo é Meu, zine sobre sexualidade e saúde feminina que tem o mérito de transformar assuntos tediosamente abordados em livros de medicina em um texto bem escrito, envolvente e – nisso reside toda a diferença- comprometido com uma visão de mundo libertária. O aspecto gráfico merece destaque: capa e contracapa em um tipo de papelão envolvendo as páginas xerocadas com um barbante grosso. Serigrafia, colagens, fontes do tipo datilografadas (recortadas e coladas no melhor estilo punk) e muitas ilustrações. Há um texto retirado do mítico zine Água, dos anos 90, dicas de como fazer um auto-exame vaginal, como conhecer os ciclos menstruais, etc. Vale dizer também que há um paninho que envolve a contracapa do zine, cujo objetivo não é puramente estético: faz parte do Este Corpo é Meu um projeto de oficinas de como fazer um absorvente ecológico. Conhecimento prático, militante e radicalmente feminista e feminino, muito além das bandeiras de luta espetaculares. (LM)

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ÉTICA DA SABOTAGEM #1 / A5 / 32 pags. / serigrafia + xerox / 2010O zine é uma extensa e muito bem argumentada reflexão bioética a respeito das ações da Animal Liberation Front, grupo nascido na Inglaterra nos anos 1970 com o objetivo de libertar animais não-humanos de laboratórios, fazendas, matadouros, etc. A prática da ALF sempre foi cercada de bastante polêmica e acusada de ser violenta e até mesmo terrorista. Ética da Sabotagem é uma tentativa de desmistificar essa aura da ALF e propor um debate que visa se contrapor ao que o autor denomina “moral canônica civilizatória”, que enxerga a natureza em geral e os animais em particular não como agentes morais com necessidades específicas, mas simplesmente como recursos ou coisas que estão a serviço dos humanos. Tal moral – a base da civilização atual - produz sofrimentos imensos para os animais não-humanos; perante isso, destruir um laboratório que utiliza animais como cobaias não é uma violência, mas a interrupção de um ciclo de opressão secular.Com uma charmosa capa silkada, costurada a mão pelos editores (marca registrada dessa galera do Rio) Ética da Sabotagem consegue dar ao tema da liberação animal uma abordagem consistente e comprometida. (LM)

trê[email protected]ês.noblogs.org

Como nasceu a ideia de fazer um fanzine sobre luciferianismo?A ideia surgiu por volta de 2006, mas foi trazida à luz somente em 2008.Em nosso idioma praticamente não existiam publicações similares (e ainda não existem), então resolvi fazer a minha própria. O “luci-ferianismo” era um dos temas principais nas primeiras edições, graças às minhas “ori-gens” e a outras influências, mas não é mais o escopo da publicação. Atualmente faço algo mais diversificado, mas absolutamente dentro do que chamamos Caminho da Mão Esquerda. Também tenho uma preocupação ímpar em trabalhar com artistas marginais, música experimental e ritualística, teatro,

FIQUE RUDE#4 / A4 / 18 pags. / xerox / 2010A cultura Oi! sempre foi alvo de polêmica e controvérsia no Brasil. Mal interpretada por muitos (tanto os “de fora” quanto alguns de “dentro”), frequentemente foi tida como sinônimo de violência, ganguis-mo, racismo e outros adjetivos pouco lou-váveis. Felizmente, Fique Rude apresenta um lado bem diferente desta história.Das interessantes entrevistas com a banda pernambucana Brigada dos Lobos e com o proprietário do selo Radiola à esclarecedora matéria sobre o Primeiro de Maio, escrita pelo professor Rafael Huguenin, o que vemos é um desfile de idéias coesas e bem articuladas, com espaço assegurado para uma saudável diversidade. Não que eu concorde com tudo – mas desde quando concordar com tudo é necessariamente algo positivo?Devo frisar também que escrevo essa resenha pela perspectiva de um outsider, de alguém que tem um conhecimento superficial sobre a cultura Oi!. Tenho certeza que skinheads e rude boys, aos quais o fanzine realmente é dirigido, absorverão muito mais desta leitura. Ponto também para a capa, desenhada pelo grande Law Tissot. (DU)

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poesia obscura, contracultura, misticismo e religiões não tradicionais e humor negro.No início dos anos 90 eu trabalhava com um fanzine chamado Nocturnal Emperor que teve só uma edição. A “aura” daqueles anos e das centenas de cartas que eu recebia e enviava semanalmente também me ajudaram a impul-sionar a publicação atual, mesmo nessa era de (des-) informação.

Em geral, fãs de heavy metal possuem simpatia pelos temas abordados pelo Lucifer Luciferax. Eles também são leitores do zine?Sem dúvida, especialmente os fãs de Black Metal e Dark Ambient, mas acredito que a maioria dos verdadeiros leitores é constituída

por pessoas que tem alguma relação com o Caminho da Mão Esquerda. Um fato curioso é que temos leitores em vários países, mes-mo escrevendo quase que exclusivamente em língua portuguesa. Como é a distribuição do zine?Todas as edições podem ser baixadas pela Internet em formato PDF. Os principais locais para baixar são o site do Projeto Morte Súbita Inc e o 4 Shared. Também envio por e-mail.Para os aficionados por edições “físicas” eu faço cópias impressas e envio pelo correio, mas há pouquíssimos interessados em pagar para receber a publicação.

EM BUSCA DAS ESTRELAS#1 ao 9 / A5 / 52 pags. / digital / 2004 - 2010Ler “Em Busca das Estrelas” foi particu-larmente interessante pela oportunidade de acompanhar a evolução de um autor. Do primeiro número, lançado em 2004, ao nono, lançado em 2010, Thiago Spyked progrediu assustadoramente em todos os quesitos: o roteiro tornou-se mais fluido e envolvente, os diálogos estão mais bem escritos e o desenho deixou para trás o aspecto amador e ganhou uma cara realmente profissional.Verdade seja dita: o trabalho de Spyked é bem comercial. “Em Busca das Estre-las”, por exemplo, tem um ritmo muito semelhante ao de uma HQ do Maurício de Souza ou dos estúdios Disney. E eu digo isso, aqui, como um grande elogio. Certamente não é um trabalho essencial-mente inovador, algo que irá revolucionar

3 perguntas para PHARZHUPH

Homem-Camaleão

Sacro-Conquistador

UGRA PRESS - 201116 1o ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICACÕES ALTERNATIVAS 17

FOI À FEIRA #1 / A5 / 40 pags. / offset / 2010Por todo o país, pipocam ambiciosos coletivos de jovens artistas. Foi à Feira é um coletivo do Espírito Santo, terra que tem rendido gratas surpresas no design gráfico, nos quadrinhos e nas artes em geral. Contemplado por um edital, o grupo lançou esta bela publicação, sua primeira manifestação impressa.A revista toda apetece aos olhos. Inteira colorida, bem editada, com solu-ções gráficas interessantes. Os textos também são bem escritos e gostosos de ler. Sem dúvidas esse povo é talentoso. Peca apenas por querer abra-çar o mundo, na minha opinião. Há uma tendência forte entre os novos artistas e editores (e artistas-editores) em querer falar de tudo um pouco, sem limitações. Parece nobre, na teoria, mas o produto final geralmente carece de aprofunda-mento. Mas isso não é culpa do Foi à Feira: é tão somente o reflexo de uma era de informações excessivas e fragmenta-das. (DU)

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GAMBIARRA #1 / A5 / 12 pags. / xerox / 2010Dá gosto de ver zines que, mesmo com as peripécias tecnológicas disponíveis, investem nos caminhos mais orgânicos de expressão. É o caso do Gambiarra,

zine com TODOS os textos e ilustrações feitos à mão, mostrando que bons zines podem ser feitos de qualquer modo. Ini-ciativa de um pessoal ligado ao Impresso das Comunidades, um jornal distribuído gratuitamente nas comunidades pobres do Rio de Janeiro, o Gambiarra tem mais do que clara seu comprometimento com as causas sociais. Mas não espere um tom panfletário: a maioria dos textos são como crônicas que exalam a dura reali-dade das ruas e favelas, sem sentimenta-lismo, sem o belicismo classista que em geral é aplicado como a única “solução” possível. Poema do Glauco Mattoso e uma HQ sanguinária complementam esse fanzine que possui o curioso fato de, en-tre seus editores, contar com um menino de onze anos (o que você fazia com essa idade, hein?). (LM)

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GAZY ANDRAUSQuebrando um pouco o padrão deste Anuário, serão comentados os fanzines enviados pelo Gazy Andraus em um só texto. Porque isso? Simples: apesar de te-rem suas peculiaridades, as publicações deste autor formam uma unidade, per-tencem a um trajeto maior, a um mesmo projeto artístico (e, quiçá, espiritual). O trabalho de Gazy não é para qualquer um. Em um primeiro contato, é difícil evitar a sensação de estranhamento.

acompanhadas, logicamente, de astutas frases de efeito. Tudo retratado pelo traço esmerado e preciso de Riccelle Sullivan, criador da série. E verdade seja dita: dentro do estilo escolhido, o cara desenha muito bem. Sem dúvidas tem potencial para encarar o mercado profissional logo mais. (DU)

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HQ “FREE” EXPRESS #07 / A5 / 12 pags. / xerox / 2010Fanzine dedicado à análise das adapta-ções cinematográficas dos quadrinhos. Neste número, os filmes abordados são Hulk, O Procurado, The Spirit, X-Men Origens: Wolverine, Terror na Antártida e Substitutos. A diagramação é simples e os textos passam o recado. Uma publicação do ANDFStudio. (DU)

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ICFIRE #70 / A5 / 40 pags. / digital + xerox / 20102010 foi um ano histórico para alguns fanzineiros do Brasil. Edgar Guimarães, por exemplo, lançou a centésima edição de seu Q.I., enquanto o Aviso Final, de Renato Donisete completou 20 anos de existência. Chagas Lima, por sua vez, foi autor de duas proezas: chegou ao 70º número de sua publicação ao mesmo tempo em que o herói Icfire, sua mais

famosa cria, apagou 20 velinhas.Como não poderia deixar de ser, a presente edição é um número comemo-rativo. Contém algumas capas históricas do fanzine, devidamente comentadas pelo autor, além de cartas recebidas e algumas HQs.Confesso que não estou familiarizado com o universo deste fanzine, mas o que temos aqui é uma série de super-heróis sobre um jovem benfeitor capaz de controlar o fogo e o gelo, com todos os elementos comuns a este gênero (a luta do bem contra o mal, super poderes, ação e pancadaria). Nota para o traço estilizado de Chagas Lima, que confere personalidade ao gibi. As experiências do autor de se colocar como personagem também são interessantes. (DU)

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INSTROSPECÇÃO#1 ao 5 / A6 / 20 pags. / xerox / 2007 - 2010Instrospecção é uma série em quadrinhos criada e editada pela Sarau Comics Edition, uma turma empenhada em disseminar a mensagem de Cristo valendo-se de uma abordagem pop e “alternativa”. Deixando de lado minhas divergências pessoais com essa tendência, a série narra a vida de um garoto confuso e seus problemas com auto-estima, com as garotas e com as más companhias da escola. Visualmente,

No número 0 da Macaco, você reuniu diversos autores que vieram da cena de fanzines dos anos 90. Essa escolha tem a ver com amizade ou você acredita que aquela geração tinha algo especial?As duas colocações estão corretas e a existência deste Anuário nos ajuda a problematizar a questão de o que representa ter um fanzine em 2010. Essa geração dos anos 90 foi a última a ter uma volumosa produção em papel, por meio dos fanzines. É impressionante percebermos a mudança radical ocorrida nas últimas duas décadas! A internet ainda engatinhava e o acesso a ela era muito restrito. A comunicação se dava por cartas e o fanzine xerocado era o grande veículo de expressão, o grande laboratório. Daí que uma parcela daquela turma se profissionalizou e hoje ocupa posições de destaque no cenário das artes gráficas brasileiras, como o genial Guazzelli. Outros, como Lauro Roberto e Alberto Monteiro, não deram sequência efetiva à suas carreiras artísticas e acabaram meio

desconhecidos para as novas gerações de leitores. Só que o trabalho deles é tão original e incrível que me sinto compelido a apresentá-lo. E os caras são meus amigos.

Seus quadrinhos são bem soltos, têm um jeitão de sketch. Como é o processo de criação das suas histórias?Fazer quadrinhos é um trabalho hercúleo, difícil e demorado. O próprio Lourenço Mutarelli tem abandonado as HQs pela literatura em virtude desta ser bem mais simples e rápida de se produzir. Meus interesses e áreas de atuação são bem diversos e dispersos (tem a música, o cinema, a escrita, a política, etc.) e eu não conseguiria me dedicar exclusivamente às HQs, então acabei desenvolvendo esse meu estilo tosco, telegráfico e rápido. A VIDA É MESMO UMA MARAVILHA nasceu direto no papel, sem roteiro nem nada pré-definido. Andava com um sketchbook debaixo do braço e em toda fila, aeoroporto, viagem e chá de cadeira eu ia desenhando direto à tinta. A história se revelava à medida em que era produzida, incorporando o erro e a sujeira ao processo criativo. As histórias curtas que aparecem na

MACACO seguem a mesma lógica. Só que elas são ainda mais abertas, menos lineares, mais imprevisíveis. É uma abordagem, de certa forma, pós-moderna. Uma escrita do inconsciente.

Em 2005, você publicou pelo selo Livros Voodoo a excelente revista Voodoo!, que infelizmente não passou da primeira edição. Agora você lançou a Macaco pela Monstro Comics. Qual é a diferença entre os dois projetos e quais são seus planos para a nova empreitada?A Livros Voodoo representou a minha retomada ao campo da edição. Era uma tentativa de fazer algo fora da Monstro, com outros parceiros. O projeto, infelizmente, não conseguiu ir adiante pela distância entre os sócios. Daí que me toquei que meu negócio é mesmo a Monstro e desenvolvi o conceito da Monstro Comics. O desafio para 2011 é tentar estruturar de forma minimamente adequada esse trabalho. O quadrinho vive um grande momento no Brasil e quero dar a minha contribuição através da Monstro Comics.

De imediato, isso deveria ser um estímulo para qualquer pessoa que busque na arte algo mais do que simples mimese: só nos é estranho o que não nos é familiar, o que foge ao nosso repertório – o que é novo, enfim. Em seus quadrinhos, Gazy pretende explorar as faculdades do lado direito do cérebro, responsável pela criatividade e pelo pensamento simbólico. Para tanto, suas histórias são realizadas com um mínimo de planejamento e cedem amplo espaço à intuição, para o casual e para o gestual, num procedimento semelhante ao da escrita automática surrealista. Suas páginas não respeitam uma diagramação rígida e os desenhos apresentam formas soltas, muitas vezes apenas sugeridas, combinadas a uma caligrafia marcante. Também os temas não são corriqueiros. Gazy, ao lado de artistas como Edgar Franco, Flávio Calazans e Henry Jaepelt, pratica aquilo que ficou conhecido como quadrinho poético-filosófico (ou fantás-tico-filosófico). No lugar de vampiros, vilões ardilosos e heróis super-poderosos, são abordadas questões existenciais, elucubrações metafísicas e divagações sobre o homem. Não existe um persona-gem fixo – até uma pedra pode protago-nizar uma HQ! Apesar de ter colaborado em publi-cações diversas, chama atenção a produção auto-editada por este artista singular. São dezenas de fanzines e revis-tas independentes que desde o início da década de 90 circulam pelo underground e pelo mundo acadêmico (Gazy é doutor em Ciências da Comunicação). Dessa extensa produção, ele nos enviou Homo Eternus (1991), Irmãos Siameses (1994), Convergência (1996), Sacro-Conquista-dor (1997), Alma HQ (2004), HQMente II (2006) e Nefelibantes Pareidólicos (2009). Não sei ao certo quais desses títulos es-tão disponíveis, mas eu recomendo enfa-ticamente que os interessados entrem em contato com o autor e se informem. (DU)

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HOMEM CAMALEÃO#1 ao 5 / A5 / 20 pags. / xerox / 2010Sawane Sullivan é a identidade secreta do Homem-Camaleão, um vigilante fortão, prodígio das artes marciais, determinado a vingar a morte de seu pai e a varrer a criminalidade das ruas. Se o enredo lhe parece familiar, não se assuste: 90% das HQs de heróis partem de premissas semelhantes. Talvez os fãs do gênero simplesmente não se importem com isso, desde que as páginas estejam recheadas de lutas espetaculares, explosões e tiroteios. Se for esse o critério, Homem-Camaleão não irá decepcionar leitor algum. Sobram bordoadas e sopapos nas fuças dos bandidos - sempre

o estilo adotado tem uma certa influência de mangá e muitas semelhanças com o imaginário neo-gótico do diretor Tim Burton. (DU)

[email protected]/introspeccao

ISTO NÃO É UM FANZINE #0 / A6 / 8 pags. / digital / 2009Fanzine pequenino, uma folha A4 dobra-da em quatro partes. Textos com breves informações sobre arte postal, seus ante-cedentes internacionais e as realizações desse movimento na América do Sul. Há também informações sobre o projeto M-city que, segundo o zine, é “uma brincadeira com a forma e o espaço da cidade”, percorrendo o mundo através de outdoors e cartazes, além da divulgação através de um site. (LM)

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3 perguntas para

MÁRCIO JR.

Icfire

La Permura

UGRA PRESS - 201118 1o ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICACÕES ALTERNATIVAS 19

JANELA PODEROSA #5 e 6 / A6 / 8 pags. / digital + laser / n.i.Esse “zine expresso desdobrável”, como diz na capa, é uma feliz mistura de qua-drinhos, entrevistas e formidáveis textos sobre música e cinema. E na paisagem de informações que vislumbramos no Ja-nela Poderosa encontra-se ufologia, uma teoria genial sobre a série japonesa Spec-treman, a equação que mede a probabi-lidade de uma civilização extraterrestre fazer contato com a Terra (?) e a origem da palavra “gari”. Você não sabe? Mais um motivo para conhecer esse excelente zine. Editor: faça novas edições, e dessa vez com mais páginas! (LM)

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KADERNO BOMBA ZINO #0 / 12,5 x 12 cm / 24 pags. / digital + xerox + serigrafia / 2010

Este é um daqueles zines que exala pai-xão e dedicação: do formato escolhido ao projeto gráfico, dos textos aos papéis uti-lizados na impressão – todos os detalhes foram pensados. A grande sacada aqui é fazer algo diferente e chamativo com soluções simples e baratas. O zine foi feito em um formato pequeno, quase um quadrado, e vem encartado em um enve-lope. Tanto no envelope quanto na capa do zine, vemos o logo do Kaderno Bomba Zino serigrafado. Para a capa foi utilizado um papel verde e o miolo foi impresso em papel reciclado. Muito bonito.Felizmente, o conteúdo faz jus aos cuida-dos com a produção gráfica. É um zine de textos, com foco na divulgação e aná-lise das artes urbanas e da cultura punk. Neste número, são abordados o fanzine-que-virou-livro “Fodido e Xerocado”, o trabalho da Gee Vaucher, o documentário Rota ABC e um episódio do programa

a publicação apresenta produção gráfica caprichada e promete ser anual. (DU)

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LA PERMURA#1 e 2 / A5 / 26 pags. / digital + stêncil / 2009 - 2010Num momento em que boa parte dos editores de HQs independentes adere maciçamente a modernos métodos de impressão a fim de conferir um aspecto mais profissional às suas publicações, La Permura se destaca pelo minucioso trabalho artesanal que apresenta. Nas duas edições que recebemos, as capas foram impressas uma a uma com estêncil em papel cartão. Para ser fixado à capa, o miolo do número 1 foi costura-do manualmente com uma espécie de lã bem fina. No número 2, além da capa, há uma sobrecapa em papel vegetal, tam-bém com um belo trabalho de estêncil. Inevitavelmente, a primeira impressão que se tem ao ver este zine é a de estar diante de algo muito especial.Nada disso faria sentido, porém, se o conteúdo deixasse a desejar. Felizmente, não é o caso. Nas páginas internas do La Permura, Rodrigo Okuyama e Bruno de Castro nos presenteiam com histórias ora bizarras, ora engraçadas, frequentemente estranhas e sempre muito boas. Os dois têm traços e narrativas bem peculiares, muito distantes dos habituais clichês do mangá ou dos quadrinhos americanos.Graças a todo o esforço envolvido para que cada exemplar do La Permura fique pronto, a tiragem é limitadíssima: varia entre 35 e 45 exemplares por edição. Se você curte quadrinhos diferentes, po-rém, vale a pena ficar esperto e garantir sua cópia. (DU)

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LAST CALL #0 / A5 / 4 pags. / digital / 2008#1 / 10 x 21 cm / 6 pags. / digital / 2008#2 / 10 x 21 cm / 6 pags. / digital / 2008#3 / A5 / 8 pags. / digital / 2009Muitos foram os que enviaram para nós todos os números de seus zines. Isso significou mais trabalho na hora de fazer a resenha mas, também, nos deu a chance de observar a evolução do editor ao longo do tempo. É o caso do Last Call. Em suas quatro edições (número zero + outros três números) percebe-se o cuidado cada vez maior com a diagramação e a escritura dos textos mas, desde o começo, mantendo firme a proposta de falar sobre música e cultura punk/hardcore no geral.O terceiro número, porém, representa um passo maior na história do Last Call: com formato A3 dobrado em quatro partes e papel de gramatura mais caprichada,

temos uma entrevista com a banda Sangue x Ódio x Hardcore, resenhas de CDs, matéria sobre a Gee Vauchers do Crass, textos políticos e até uma HQ. Esperamos novas edições do zine! (LM)

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LIÇÕES FERAISn.u. / A5 / 32 pags. / xerox / 2009Trabalho acadêmico que virou zine, trata-se de um detalhado estudo geo-histórico sobre as sociedades de caçadores-coletores e os conceitos que dinamizam o debate antropológico mais recente a respeito da relação entre natureza e sociedade. Há, como o autor do texto explica, uma série de mitos no discurso oficial a respeito dos “selvagens”, ou me-lhor dizendo, das comunidades humanas que são alheias ao desenvolvimento da civilização. Por séculos taxados como “preguiçosos”, “incultos” e “primitivos”, este zine mostra que estudos mais recen-tes estão tratando de oferecer uma visão renovada a respeito dessas sociedades –que em contraste com o nosso modo de vida civilizado faz pensar se estamos realmente em um bom caminho... (LM)

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LUCAS DA VILA DE SANT´ANNA DA FEIRAn.u. / A4 / 48 pags. / offset / 2010A Bahia continua rendendo bons frutos à HQ brasileira. Mantendo o nível de iniciativas recentes como as revistas Área 71 e Kuei, Lucas da Vila de Sant´Anna da Feira reitera a constatação de um período produtivo por aquelas bandas.A presente edição, um álbum de com-petente produção gráfica, tem como tema a História do município de Feira de Santana, mais especificamente a violenta trajetória do escravo rebelado Lucas da Feira, que aterrorizou a região no ínício do século XIX. Partindo de uma pesquisa minuciosa realizada em fontes diversas, os roteiristas Marcos Franco e Marcelo Lima criaram um enredo envolvente muito bem ilustrado por Hélcio Rogério.O glossário com os termos regionais utilizados na HQ e a lista de indicações de leitura encontrados nas últimas páginas do álbum formam um complemento interessante e atestam a seriedade dos autores.Inteligente e orgulhosamente brasileira, Lucas da Vila de Sant´Anna da Feira prova que é possível fazer HQ “profissio-nal” sem se render a fórmulas fáceis e desgastadas. (DU)

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LUCIFER LUCIFERAX#7 / A4 / 60 pags. / digital / 2010Publicação Pan-Daemon-Aeônica para

Em Manufatura, você criou uma série de ilustrações de escadas antropomorfizadas. Como surgiu a ideia? Há alguma mensa-gem por trás do conceito? Sim, há uma mensagem! Na verdade, a primeira imagem desta série (a da capa do fanzine) surgiu há uns quatro anos enquanto fazia uns desenhos sem muita pretensão. Depois de algum tempo percebi que este desenho carregava uma forte carga ima-gética que poderia ser melhor explorada e assim retornei ao tema. Resumidamente as escadas nesta série representam duas metáforas. A primeira metáfora é a das escolhas de ca-minhos pessoais. Acredito que como seres humanos e parte de um coletivo que cha-mamos humanidade, através de nossas es-colhas e dos nossos relacionamentos (com outros seres e com o ambiente) podemos evoluir ou regredir enquanto consciências, subindo ou descendo em uma escala (ou

uma era francamente vulgar: lemos isso logo na capa desse primor editorial satanista. Com textos excelentes, Lucifer Luciferax foi, sem sombra de dúvida, um dos zines com mais personalidade que recebemos. Não há espaço para superfi-cialidades em suas páginas: as matérias, escritas por especialistas, são ricas em conhecimentos sobre gnose luciferiana, goetia, cabala de mão esquerda, O.N.A. e outros temas de caráter sinistro. Pontos a se destacar: a seção de resenhas de livros e a longa entrevista com Mark Alan Smith, autor de Queen of Hell, livro lança-do pela Ixaxaar, casa editorial finlandesa dedicada às artes negras tradicionalmen-te conhecida por suas edições luxuosas. Um magnus opus luciferiano para cora-ções negros e mentes livres. (LM)

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escada) imaginária de valores éticos. A segunda metáfora – a que “antropomorfiza” as escadas - parte do princípio que as ferra-mentas para nos superarmos (escadas) estão dentro de nós mesmos, embora muitas vezes não tenhamos tal percepção. A capa do Manufatura indica “#1”. Há planos para o segundo número do zine? Sim, na realidade o Manufatura # 2 está pronto e só não xeroquei ainda porque estou envolvido na distribuição e produção de outros fanzines. Com o Manufatura me propus a trabalhar idéias ou conceitos através de sequências de dese-nhos feitas com a linguagem mais básica do desenho, o preto e branco.

No Zinismo - seja no blog ou na versão im-pressa - você colabora com textos, não com desenhos. O que lhe dá mais prazer? Como você se divide entre o traço e a palavra? Para mim há uma diferença de objetivos quan-

do opto pelo traço ou pela palavra. De modo geral, costumo dizer que quando escrevo, não há muita diferença entre o que pensei na hora em que escrevo e o que o leitor entenderá, principalmente no texto em prosa. Já com os desenhos, acredito que há uma margem maior para a interpretação de quem vê as imagens, podendo até surgir idéias opostas das que concebi inicialmente. E acho isso incrível. Atualmente o desenho me dá mais prazer, mas já houve momentos em que o texto ocupou este espaço. Recentemente experimentei uma nova sensação quando um texto meu virou curta-metragem! Vou dizer que foi muito prazero-so poder assisti-lo em uma sala de cinema, acompanhar a alteração do humor das pes-soas em função do filme, suas risadas, seus comentários. Foi uma sensação viciante!

“Rede Jovem e Cidadania” que abordou o universo das intervenções urbanas. Para finalizar, comentários de zines e livros. Excelente iniciativa! (DU)

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KUEI E A SENHORA DE SÁRVAR#01 / A5 / 48 pags. / offset / 2010Kuei, um vampiro de outra dimensão, perambula pelo planeta Terra em uma era pós-apocalíptica a fim de resgatar a memória dos vampiros de cá. Em sua peregrinação, tem de enfrentar uma série de obstáculos.Com um argumento imaginativo e traço refinado, a dupla baiana Marcelo Lima e Joel Santos desenvolveu um trabalho, segundo eles mesmos, “criado especial-mente para os que gostam de histórias de vampiros produzidas em todos os tipos de mídias possíveis”. Financiada por órgãos governamentais,

Macaco

Manufatura

3 perguntas para FLÁVIO GRÃO

UGRA PRESS - 201120 1o ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICACÕES ALTERNATIVAS 21

MACACO#0 / A4 / 36 pags. / offset / 2009Capitaneada pelo editor / quadrinista / fanzineiro / músico / agitador Márcio Jr., Macaco é a primeira publicação da Monstro Comics, a divisão de quadrinhos da Monstro Discos, um dos maiores selos musicais independentes do Brasil. Nessa edição inaugural,reuniram-se alguns dos maiores expoentes do quadrinho alter-nativo nacional da década de 90. Assim, estão presentes sujeitos como Guazzelli, Lauro Roberto, MZK, Alberto Monteiro e Caballero, além do próprio Márcio Jr..Quem está familiarizado com esse povo sabe exatamente o que irá encontrar aqui: nada é muito limpo e proporcional, nenhum traço almeja a perfeição, nenhum desenho foi refinado em programas veto-riais. Pelo contrário, é tudo muito orgânico e gestual e as páginas são impregnadas de urgência e espontaneidade. É o tipo de material que deve deixar em pânico os fãs da Marvel. Azar o deles.Além dos quadrinhos, completa esta edi-ção uma boa entrevista com Joe Sacco, o premiado criador de álbuns como “Pales-tina: na Faixa de Gaza” e “Gorazde: área de segurança”. Longa vida à Monstro Comics! (DU)

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MACACO SEM DEUS#3 / A4 / 4 pags. / digital / 2007#5 / A5 / 8 pags. / xerox / 2009#6 / A5 / 8 pags. / xerox / 2009#7 / A5 / 8 pags. / xerox / 2009#5 / A5 / 4 pags. / xerox / 2010Esse zine começou como um jornalzinho e desde a sua segunda edição adotou o formato A4 dobrado em dois. Mudanças de formato, mas não de proposta, que é a cobertura da cena roqueira sul-flumi-nense, com entrevistas e alguns textos de caráter mais político.

Pelo teor dos textos dá para sacar que o envolvimento dos editores com a cena local é total: o número 7 tem um longo e raivoso desabafo denominado “O rock morreu!”, a respeito daqueles tipos que vão aos shows arrumar confusão, fazer baderna, reclamar que “o ingresso tá caro” e pedir pra entrar de graça. Parece que isso é, infelizmente, uma constante em qualquer porcaria de lugar... Interes-sante também o resgate que eles fazem de uma matéria do suplemento RioFan-zine do Jornal O Globo, que foi editado até 2004, onde se fala a respeito do surgimento do MP3: na época o autor da matéria chega a dizer que “o MP3 não re-presenta uma ameaça assim tão grande e imediata”. E pensar que poucos anos depois esse tipo de arquivinho faria a for-ma das pessoas se relacionarem com a música mudar drasticamente! Ponto posi-tivo para os editores do zine pelo trabalho “arqueológico” nessa matéria. (LM)

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MANUFATURA #1 / A6 / 32 pags. / xerox / 2010Flávio Grão é um homem de muitos ta-lentos: escreve, desenha, toca, pinta. Já emprestou seu traço para diversas capas de CDs da cena hardcore brasileira, editou um punhado de zines e é uma das cabeças por trás do excelente blog Zinismo. Manufatura é o primeiro zine de Flávio dedicado a suas ilustrações.Os desenhos aqui reunidos estão dividi-dos em duas séries: “Escadas” e “Ego-Harakiri”. É um trabalho rico em detalhes e texturas, que deve ser apreciado com calma e atenção. Pelas cenas intrigantes e minuciosas que cria, Flávio tem sido algumas vezes comparado ao lendário ilustrador M.C. Escher, muito embora o trabalho do brasileiro seja muito mais solto e não apresente tanto do rigor mate-mático que fez a fama do holandês.Impresso em papel diferenciado e com tiragem limitada a 100 cópias numeradas à mão, Manufatura serve não somente como registro do trabalho de Flávio, mas também como lembrete de que a ética do faça-você-mesmo pode também ser aplicada às publicações de arte. (DU)

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MAREMBOLÉ #0 / A4 / xx pags. / xerox / 2007Zine intercontinental que reúne em suas páginas editores do Brasil, Espanha e Moçambique e deliciosamente escrito em espanhol. A iniciativa nasceu na passa-gem do grupo musical brasileiro Ka-Hum-Kah por Córdoba, em 2006, e em 2008 tivemos o parto desse trabalho.Há uma texto sobre as experiências de um cordobês no sétimo Fórum Social

no papel (talvez eu que seja um velho nostálgico, mas ler quadrinhos na tela será sempre uma segunda opção para mim).Uma pena que os criadores não te-nham explorado melhor as possibilidades do impresso. O “zine”, no final, se resume a uma folha A4 impressa de um só lado, sem dobra, apresentando uma HQ do personagem e o endereço do blog. Essa HQ, de qualquer maneira, é muito boa e mantém o padrão do material pu-blicado no blog. Vale um pouco mais de capricho nas próximas edições, caso elas venham a existir. (DU)

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MICROFONIA #1 / 24 x 33 cm / 4 pags. / offset / 2010Recebemos o número 1 desse jornal, que em seu editorial defende apaixonada-mente as publicações impressas. Isso já me deixou feliz pra caramba, o texto me pegou com a ferocidade de um murro bem colocado no rim, e só deixou a leitura do Microfonia mais prazerosa. Em suas páginas temos música, filmes, HQs, resenhas e shows em apenas 4 páginas. Mas como é o primeiro número é possível supor que os editores foram cautelosos com o tamanho... veremos. Eles conseguiram uma entrevista com o enigmático Tommy Keene, um músico americano desconhecido mas que esteve sempre presente no lado mais obscuro do pop ianque (e o mérito da entrevista é conseguir despertar o interesse em baixar algum disco do monossilábico senhor de 53 anos), uma breve porém consistente análise crítica do HQ Kiki de Montparnas-se, resenhas de CDs (em sua maioria de bandas nacionais, mais um ponto positivo para o Microfonia!) e até mesmo uma resenha do filme pornô Histórias Arrepian-tes, inspirado em histórias de terror B. Sem dúvida alguma um começo não com um, mas com os dois pés direitos. (LM)

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MIZZ LIBIDO#1 / A5 / 44 pags. / xerox / 2010Zine com “Z” maiúsculo, esse é o Miss Libido. Uma ebulição de idéias, opiniões, provocações e sarcasmo – tudo o que um zine pode oferecer de melhor. O foco aqui é a cena psycho/rockabilly, mas há espaço para outras coisas. Se você tem a mente aberta e se interessa por cultura alternativa, certamente encontrará algo interessante aqui.O zine apresenta entrevistas com a banda Damn Laser Vampires e com o organizador do evento RioBilly, um diver-tido artigo sobre o pênis na arte, matérias sobre grupos femininos holandeses da década de 60 e sobre a cena psycho russa, além de 3 HQs: uma boa piratea-ção da canadense Julie Doucet, a bizarra

saga de um “nazi billy” contada pelo sempre provocativo Zé Colméia e mais uma pequena história de um autor que esqueceu de assinar sua obra. Com textos bem escritos, bom humor e a típica diagramação zinesca, Miss Libido fez uma grande estréia. Que venham os próximos números! (DU)

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MIZÉRA #1 / A5 / 12 pags. / xerox / 2010Um zine cuja proposta é falar de música, literatura e um pouco de política. Nessa primeira edição o recado foi passado com abuso de colagens, textos recortados e anarquicamente distribuídos pelas páginas. Há duas entrevistas: com o selo/distribuidora Terröten que desde 2001 aposta no lado mais bruto do punk/hardcore, e com a banda Sanitarium, da zona leste de São Paulo. Há ainda breves resenhas de discos e zines, uma tradução de uma matéria falando sobre copyleft (senti falta de uma apreciação do editor a respeito do tema) e dois textos que merecem atenção, falando sobre as bandas Ulster e Infect e suas relações com a literatura marginal. Principalmente o texto sobre o Ulster merece destaque, já que na discografia da banda os escritores Charles Bukowsky e John Fante (nomes fundamentais para a literatura marginal contemporânea) comparecem com força, apesar de suas obras não possuírem uma clara vocação política (o que facilitaria sua absorção pelo típico discurso punk). Explorar as intersecções entre música

A revista Prego se tornou uma referência para os quadrinhos alternativos no Brasil. Na sua opinião, a que se deve essa boa safra de artistas brasileiros explorando os aspectos menos comerciais das HQs?Acho que o alcance da revista ainda é bem pequeno, não acho que é uma referência de quadrinhos adultos no Brasil, apesar de algumas pessoas se sentirem influenciadas pelos nossos trabalhos. Existem inúmeros artistas que ainda não publicamos, muita gente boa ainda vai passar pela Prego. O sonho de qualquer quadrinhista é poder vi-ver do que faz, enquanto isso não acontece publicamos na mídia alternativa, que não gera grana, mas abre portas. Não que eu considere isso tudo apenas um trampolim

para o trabalho comercial, mas é possível estar nos dois, um lado que te sustenta e outro onde vc se expressa.

O que infuencia seu trabalho com os qua-drinhos? Você se interessa também por mangás e/ou quadrinhos de heróis?Eu me interesso por todas as áreas dos quadrinhos, mas os mangás e heróis acom-panho bem menos.

Além do seu próprio trabalho artístico, você também tem atuado bastante como editor, caso de “Vulgar Manual” e “Ano do Bumerangue”. O que podemos esperar neste sentido para 2011?Tenho apoiado alguns artistas que tem um trabalho autoral em desenvolvimento. Não sei ainda quais serão os lançamentos pararelos à Revista Prego em 2011, mas já estamos fervilhando de idéias para as próximas edições da Prego.

3 perguntas para

ALEX VIEIRA

Mundial, que ocorreu no Quênia, em 2007, onde colocou-se em choque a visão estereotipada que um europeu tem sobre a África como um continente assolado pela miséria. Há também uma cobertura sobre o teatro em Moçambi-que, os piqueteiros na Argentina e muito mais. E como diz a poesia “Enlazando mundos”, lá pelas últimas páginas do zine: “La vida es un laberinto... piérdete para encontrarte!” (LM)

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MARIA SOGNA TUTTE LE NOTTI#1 ao 3 / A4 / 16 pags. / xerox + digital / 2005-2006Zine que em suas resenhas de CDs, livros e outros textos deixa patente sua orientação anarcofeminista. Em suas páginas já passaram bandas como Lava, Bonsai Kittens e Cria Cuervos. Importante destacar a original seção Punk Parenting, que são entrevistas com mulheres ligadas ao universo punk/hardcore e suas experi-ências com a maternidade. Recebemos 3 edições do zine, sendo a última de 2006. Não sabemos se ainda permanece na ativa. Em eventuais novas edições, seria legal explorar mais a diagramação.Suja mais essas páginas aê! ;-) (LM)

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MARTY E A GRANDE FEIRADE CIÊNCIAS #2 / 14 x 9,5 cm / 20 pags. / digital / 2010São bem simpáticos esses livrinhos de tiras lançados pela Editora Crás. Pequenos, breves, divertidos e custam um mísero real!“Marty e a Grande Feira de Ciências” apresenta tiras com os mesmos persona-gens da série “Em Busca das Estrelas”, só que aqui a turma não está em uma perigosa aventura internacional tentando salvar o planeta, mas apenas apresen-tando trabalhos na feira de ciências da escola. A cada novo lançamento, Marty & amigos ganham mais personalidade e definição. Thiago Spyked, que não é bobo, faz muito bem em apostar nestes personagens. (DU)

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METOUS #1 / A4 / 1 pags. / xerox / 2010Metous é uma série em quadrinhos criada por Cebola Pessoa e Tiago Oliveira publicada virtualmente no blogdometous.blogspot.com , que ganha agora uma versão impressa.A série em si é ótima. O traço é despo-jado mas talentoso, e o roteiro adota um humor inteligente e bem escrito, com um forte aspecto de crítica social e de mili-tância maconheira. Funciona muito bem no blog e poderia funcionar ainda melhor Mono

Mizz Libido

UGRA PRESS - 201122 1o ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICACÕES ALTERNATIVAS 23

e literatura é algo que amiúde vemos por aí, e foi legal ver o Mizéra se lançar na empreitada de explorar isso entre as bandas nacionais. (LM)

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MONO#29 / A7 / 16 pags. / xerox / 2007#36 / A7 / 32 pags. / xerox / 2010Criação do prolífico fanzineiro e incorri-gível agitador carioca Zé Colméia, Mono é um fanzine sujo, caótico e minúsculo. Dentro dele você encontrará fotos, ilustra-ções e cartuns com temas que transitam entre a crítica sócio-política, o submundo roqueiro e uma boa dose de fetiche e pornografia. Tudo sem muito requinte, mantendo uma espontaneidade brutal e um grande sentido de urgência. Diversão politicamente incorreta da melhor espécie! (DU)

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MOSH PIT OF JUVENILE CRIME#1 / A4 / 4 pags. / digital / n.i.#2 / A4 / 2 pags. / digital / n.i.#37 / A4 / 6 pags. / digital / n.i.#38 / A4 / 1 pag. / digital / n.i.Fanzine sobre música que combina entre-vistas, biografia de bandas, letras traduzi-das, etc. A diagramação é bem simples e ordenada, sem capa, apenas texto e aqui e acolá uma foto ou ilustração. Recebe-mos muitas edições deste fanzine, cujo nome legal foi retirado de um CD do Lard (projeto do Jello Biafra com o Ministry). Entrevista com os cariocas do Frontal e uma edição inteira dedicada ao Logical Nonsense me chamaram mais a atenção. Poderia caprichar mais nas traduções dos textos em inglês, que em alguns mo-mentos não fazem muito sentido. (LM)

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MULHERES DO ROCKn.u. / A5 / 160 pags. / offset / 2010Mulheres do Rock não é um fanzine, mas um livro lançado pelo mesmo pessoal responsável pelo Zine Oficial, de Brasília. E apesar desse ser um anuário de

fanzines, para nós é um prazer resenhá-lo aqui, pois é um livro cujo DNA tem a marca da fanzinagem.Com o objetivo de mostrar a influência das mulheres na cena rockeira do DF e cidades próximas, os editores reuniram os relatos de seis mulheres que contam suas experiências com bandas, shows e outras atividades relacionadas ao under-ground candango. A tônica pessoal buscada pelos editores funciona. Longe de ser uma análise teórica sobre o papel que as garotas desempenham na música, vemos o relato direto de mulheres envolvidas com o rock; de como se deram os primeiros contatos com o universo rockeiro; de que forma a rebeldia desse universo se chocou com os valores do núcleo familiar; as rupturas, os pontos de tensão, as crises daí originadas; e os aprendizados que a vivência musical proporcionou. A vantagem do relato pessoal é dupla: colo-ca o protagonismo do texto na voz de seu personagem mais importante e cria uma atmosfera simpática para que ocorra uma identificação com que é dito. Uma louvá-vel iniciativa que mostra o lado feminino do rock do Distrito Federal e Entorno em toda a sua grandeza. Leitura obrigatória para todos os sexos. (LM)

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NÁUSEA #1 / A5 / 84 pags. / offset / 2010Para falar deste zine, seremos obrigados a retroceder uns 25 anos. A famigerada década de 80 mal havia passado de sua metade e o jovem Marcelo Batista estava editando o United Forces, um fanzine dedicado às vertentes mais extremas do punk e do metal. Algum tempo passou e ele se tornou vocalista de uma das maiores referências do grindcore mundial, o lendário ROT, com o qual esteve por cerca de 2 décadas. Nesse ínterim, criou um informativo de caráter niilista/herege chamado Única Chance, que teve curta existência, mas marcou a vida de muita gente; além da Absurd Records, um selo dedicado – logicamente – a toda sorte de

NO MAKE UP TIPS #2 / A5 / 16 pags. / xerox / 2010Focado em música e artigos de caráter feminista, o No Make Up Tips adota a estética do “recorta-e-cola” com muitos textos e algumas poucas imagens, es-trategicamente posicionadas para dar o típico toque de “caos controlado” .Nesta edição há entrevistas com o Dead Fish (com interessantes apreciações do Rodrigo sobre as diferenças entre a cena HC de hoje e a dos anos 90) e com Todos Contra Um. Ambas bem dirigidas e com perguntas bacanas, mostram que é possível SIM fazer boas entrevistas com bandas e fugir dos caminhos batidos de sempre. Texto sobre queercore, a lógica dos padrões de beleza e uma interes-sante seção de resenhas de fanzines complementam o zine dessas senhoritas do Sul. (LM)

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NOUVELLE MAGIQUE #1 / A5 / 8 pags. / xerox / 2005#2 / A5 / 16 pags. / xerox / 2010Novo fanzine de Roberto de Hollanda Cavalcanti, mesmo autor de Arlequim.Partindo de uma pesquisa minuciosa, Roberto rende aqui sua homenagem aos quadrinhos do início do século XX. A história se passa neste mesmo período, no Estado do Rio de Janeiro, e tem como personagem central Lívia, uma jovem amante das HQs envolvida em aconteci-mentos mágicos. Vale ressaltar a atenção que o autor dispensa a alguns detalhes. Os diálogos, por exemplo, são escritos com a gramá-tica vigente na época. Da mesma forma, os estilos do desenho e dos enquadra-mentos também fazem referência à pro-dução quadrinística daquele momento. Com apenas duas edições lançadas, ainda é cedo para formar opinião sobre a série, mas confesso que estou curioso pelo que está por vir. (DU)

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NUMB STRIPS#1 ao 5 / 14 x 9,5 cm / 20 pags. / digital / 2008 - 2010Velhos hippies são naturalmente engra-çados, como bem percebeu Angeli ao criar a dupla Wood & Stock há cerca de 20 anos. Em Numb Strips, o quadrinista Thales Gaspari retoma o tema com sua própria abordagem.As tiras giram em torno de um velho casal supostamente riponga, sua filha Monica e seu neto Júnior. Digo “supostamente” porque, apesar de apresentado como “um dos poucos sobreviventes da era de aquário”, o protagonista e sua esposa agem mais como aqueles roqueiros desinformados, confusos e genéricos (os

tipos que gostam de Beatles, Pink Floyd e Nirvana, sabe?) do que como legítimos hippies. Não que ser um hippie autêntico seja mérito para alguém, mas há uma diferença significativa na postura e no discurso entre os dois estereótipos. De qualquer maneira, como vemos aqui, roqueiros genéricos também são cômicos e podem render boas tiras. Os persona-gens de Gaspari têm carisma, as tiras têm um bom timing e o desenho é limpo e divertido. No todo, Numb Strips é uma boa série. Se for intenção do autor que os personagens realmente se pareçam hippies, porém, vale uma pesquisa mais aprofundada sobre o tema. (DU)

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NUVEM NEGRA#x / A4 / XX pags. / xerox / 2010Fanzine totalmente anos 90, me lembrou o Punto de Vista Positivo mais musical (e isso é um elogio, já que o Punto era uma dos meus preferidos e quem conheceu sabe do que estou falando).O zine contém uma longa matéria traduzi-da da Maximum RocknRoll sobre a cena finlandesa, originalmente publicada em 1984, e complementada por uma série de biografias bem legais sobre as bandas da época. Tem de tudo: das mais conhe-cidas como Tervet Kadet e Rattus até outras como Tuomittujen Juhla e nomes ainda mais impronunciáveis. Há ainda entrevistas com War Cry (EUA), Hijos Del Pueblo (Croácia) e os brasileiros vete-ranos do grind Subcut. Para completar e mostrar que o Nuvem Negra também sabe abordar outros temas além de músi-ca, uma matéria investigativa sobre a mãe de um jovem assassinado pela polícia do Rio de Janeiro (com uma abordagem que certamente a grande mídia não mostraria, e isso atesta a vocação subversiva do

A edição de número 106 do QI marca um ano desde as mudanças implemen-tadas após o histórico número 100. Qual o balanço desta nova fase até o momento?O resultado foi melhor do que o espera-do. Um número significativo de leitores fez a assinatura anual, justificando a continuação do fanzine. Na parte do conteúdo, consegui aumentar a parte de artigos e análises, que eram minha inten-ção. Há ainda muito texto interessante que pretendo colocar no fanzine, mas há a limitação de 28 páginas da publicação. Pelo que entendo, o QI mantém espaço aberto para toda a produção indepen-dente de quadrinho nacional. Por que a opção por uma cobertura irrestrita ao invés de uma cobertura qualitativa ou que reflita o seu gosto pessoal?Esta é uma opção que fiz lá em 1982, quando lancei meu primeiro fanzine, o PSIU. Há duas razões: a primeira é que acho que o fanzine é um espaço para fazer amizades e a publicação de toda colaboração recebida é a demonstra-ção clara dessa intenção; a segunda é que esses 30 anos de fanzinagem me mostraram que meu gosto pessoal não é bom indicativo de qualidade. Muitas ve-zes, trabalhos que eu publiquei com um certo receio foram muito bem recebidos pelos leitores. Você tem publicado edições especiais pelo selo EGO. Poderia nos explicar como ele funciona e o que está plane-jado para 2011?O selo EGO não tem maiores preten-sões, é apenas uma maneira de publicar alguns trabalhos que eu tenho e que acho que mereceriam um registro mais perene na forma de livro. No entanto, tem tiragens baixíssimas, é apenas uma forma de deixar disponível para algum leitor interessado alguns trabalhos que fiz. Dois dos livros que estavam na fila para saírem pelo selo EGO já mudaram de casa, estão saindo pela Editora Marca de Fantasia, que tem um esquema de produção bem melhor. Em dezembro saiu meu livro Estudo sobre Histórias em Quadrinhos, de forma virtual, devido ao volume do livro. E nesse começo de 2011 deve sair meu primeiro romance gráfico, o MUNDO FELIZ, que já saiu seriado no QI. Mas tenho pelo menos dois volumes sendo preparados para o selo EGO.

música barulhenta e contestadora com raízes punks. Também abriu uma das melhores lojas de disco de São Paulo, a Extreme Noise Discos. Um currículo e tanto, mas o cara não descansa. E assim chegamos, finalmente, ao Náusea, sua mais recente empreitada.Talvez algumas pessoas contestem a alcunha de fanzine para esta publicação por ser impressa profissionalmente, com capa colorida e o formato e o acaba-mento de um livro. Acontece que Náusea é, literalmente, uma revista de fã, e não são questões técnicas relativas à sua produção gráfica que mudarão esse fato. O foco aqui não poderia ser outro: punk, hardcore, crustcore, grindcore, thrash e metal old school, tudo escrito com pro-priedade e profundo conhecimento.Compõem esta edição entrevistas com Extreme Noise Terror, 7 Minutes of Nausea, Speed Kills, Inepsy, Apocalyptic Raids, Rattus e Doom, além de resenhas de discos e uma matéria especial dissecando os bastidores do primeiro clássico do crossover brasileiro, o polêmico “Descanse em Paz”, do Ratos de Porão. Como se não bastasse, acompanha o fanzine um CD com gravações inéditas do Rattus e do Doom. Indispensável. (DU)

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NEGRO UNIVERSO #1 / A4 / 10 pags. / xerox / 2010Dedicando-se a temas de cultura afrodes-cendente, logo no editorial apresenta-se como “revista Negro Universo”, mas dadas as suas características gráficas (xerox, páginas coladas uma a uma) pode muito bem ser considerado um zine. Isso mostra a riqueza do conceito zine, que permite que desde uma simples folha de papel até um calhamaço de duzentas páginas possa ser chamado de zine.Esse número inaugural conta com textos sobre afrostickers e afrograffiti (mani-festação urbana que mescla grafismo a símbolos africanos e afrobrasileiros), a importância de uma afroescola que ressignifique a educação em bases mais humanas e includentes, a situação dos afrodescentes no mundo pós-Obama, poesias e outros textos de temática semelhante. A argumentação em geral é válida, contudo senti a necessidade de um olhar mais crítico em relação a um fato importantíssimo: no estágio atual do capitalismo “minorias” também são lucrativas. Produtos, espaços e serviços específicos para afrodescentes significam novos negócios e não exatamente uma dissolução de preconceitos. Estão aceitando novos colaboradores. Se lhe interessar, entre em contato. (LM)

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O Robô Nunca Faz Greve

O Bravo Brado de um Bardo

3 perguntas para

EDGARD GUIMARÃES

UGRA PRESS - 201124 1o ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICACÕES ALTERNATIVAS 25

zine) e a coluna do Josimas, figura que já passou por bandas importantes do cenário punk paulista e que hoje continua sua saga com o Você Tem Que Desistir e outros projetos. Um zine completo: bem escrito, bem diagramado e que merece toda a sua atenção. (LM)

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O BANHERO SELVAGEM#2 e 3 / 12,5 x 15 cm / 8 pags. / offset / 2006-2007Vem de Londrina este mini-zine bagaceiro. Trata-se de uma folha de papel jornal com duas dobras, repleta de quadrinhos obscenos, violentos, de gosto duvidoso e... divertidíssimos! Pietro Luigi, seu criador, é também colaborador da excelente Revista Prego e publica regularmente suas tiras no blog Rivotril (veja os contatos).O humor sem firulas, aliado ao traço com-petente do criador, faz você devorar cada edição em menos de 3 minutos, deixando aquele “gostinho de quero mais”. Infe-lizmente, o último número saiu em 2007. Mancada, Luigi! (DU)

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O BRAVO BRADO DE UM BARDOn.u. / A5 / 68 pags. / digital / 2005Livro lançado pelo editor da Soacaos Pu-blicações. Reúne poesias em verso livre com forte inspiração política e anarquista, verborragicamente abordando temas como cidadania, sentimentos, desobedi-ência civil e diversos outros.(LM)

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O GRITO FERAL #1 / A5 / 28 pags. / digital + xerox / 2009Periódico semestral da Hurrah! Célular Anarquista Anticivilização, o zine apre-senta textos de diversos autores influen-ciados por esta linha relativamente nova e polêmica do pensamento anarquista.Projeto gráfico bem simples (xerox e capa impressa digitalmente em papel verde) com muito texto e raras imagens. Quase todo o conteúdo é composto por traduções de fontes inglesas e estaduni-denses, como “Biorregionalismo”, texto que propõe uma interessante crítica ao conceito de fronteira política – que é uma abstração – contrapondo um conceito de região fundado na diversidade biológica da paisagem. Seria interessante trazer textos que refletissem mais diretamente sobre a realidade brasileira e latinoameri-cana no geral. (LM)

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O ROBÔ NUNCA FAZ GREVEn.u. / A5 / 16 pags. / xerox / 2010Bela iniciativa do Studio 13 ao compilar neste zine as tiras do personagem Robô, criadas pelo Silva no final da década de 90 e originalmente publicadas em panfle-tos de greve, zines e até mesmo jornais partidários. Com alto teor político, as histórias narram os conflitos de um robô lutando pelos seus direitos na fábrica onde trabalha, além de seus momentos de lazer tomando porre de gasolina adul-terada, paquerando o caixa eletrônico ou agitando num show punk. A xerox é de excelente qualidade e o formato horizontal utilizado foi uma solução bastante adequada para abrigar as tiras. Considerando que, segundo nos conta o editorial do zine, após um período inativo o autor recentemente retomou o hábito de desenhar, fica a esperança de que em breve o Studio 13 lance mais uma coletânea de tiras deste carismático personagem. (DU)

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O TERRITÓRIO DAS IMAGINAÇÕESn.u. / A5 / 84 pags. / digital / 2010Este zine reúne os poemas editados no livro “O bravo brado de um bardo” com alguns outros do mesmo autor, acrescidos de ilustrações especialmente realizadas para esse trabalho. Com capa

amores platônicos, falta de comunicação, timidez, solidão, paixões repentinas. Ao invés de preocupar-se em resolver os causos ou em oferecer respostas a questões tão conhecidas, o autor detém-se precisamente nos momentos em que surgem as perguntas. E este é, aliás, o grande mérito da série, é o ingrediente que permite Cau enveredar sem grandes arranhões por um assunto situado no espinhoso limite entre o belo e o piegas. Com periodicidade anual e produção gráfica caprichada, foram lançadas até o momento duas edições de Pieces, ambas pelo coletivo Quarto Mundo. (DU)

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POESIA MELÔ#1 / 11 x 15,5 cm / 28 pags. / xerox / 2010Zine de poesias em verso livre com interessante capa feita com colagens e revestida de fita adesiva. Logo na introdução é preciso bater palmas para o poeta-editor, que com uma sinceridade fanfarrona pede que as pessoas paguem os dois reais pelo zine porque “no momento preciso de um spray, um aparelho de MP3 e mais nove conto”. Os poemas mesclam desilusão e irreverência, onde se destacam “Você não precisa ser um personagem do Almodovar ou um X-Men para ser um contraculturalista”, “Domingão” e o genial “Meus votos”, que dedica o Unabomber ao Eduardo Canuto. Poesia também pode ser algo mais que uma sensibilidade acadêmica e deslumbrada e esse zine mostra isso, unindo-se às fileiras da literatura marginal. (LM)

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PREGO#4 / A4 / 56 pags. / offset / 2010Sem rodeios: Prego é a melhor publi-cação de quadrinhos em atividade no Brasil. Um verdadeiro oásis de ousadia gráfica e narrativa. Ok, não é a única a comprar esta briga, mas está certamente na vanguarda deste território pela serie-dade com que encara sua missão. Prego é anual e reúne a nata do qua-drinho experimental/alternativo/adulto brasileiro, além de novatos talentosos. Ilustram suas páginas gente como Alex Vieira, Chico Felix, Guido Imbroisi, Gabriel Góes, Pietro Luigi e tantos outros. Órfãos de revistas como Animal e DumDum, regozijem-se! (DU)

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[email protected]. / A4 / 16 pags. / xerox / 2010Poesias de temática afro que estabele-cem curiosas relações entre entidades do candomblé e críticas sociais na busca de um revisionismo a respeito da marcante influência africana na cultura atual. O editorial desse zine mostra com propriedade a necessidade premente de se ir além das diretrizes do mercado editorial como a única forma de vencer as limitações e preconceitos vigentes. A diagramação que sobrepõe textos a ima-gens por vezes me pareceu confusa em demasia, com fontes que não facilitam tanto assim a leitura; isso não chega a comprometer mas poderia ser repensado. Outra iniciativa do Projeto Oficinativa que nos enviou uma série de trabalhos. (LM)

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Um zine sobre caronas: por que fazê-lo?A ideia de juntar informações sobre isso surgiu de uma história que ouvi indo de Santos pra São Paulo. O cara que deu carona pra gente era mochileiro, e contou de uma viagem que fez com um amigo judeu. Segundo ele, o cara parou numa vendinha e perguntou se o livro tava la. O livro, afinal, era um monte de cadernos cheios de ano-tações de viajantes que passaram por ali, e que foram muito úteis para ele e o amigo. Fiquei pensando nisso com relação a carona também. Muitas vezes não sabemos como saímos de uma determinada cidade pra pegar carona, se tem algum posto melhor ou não etc. É muito bom quando encon-tramos alguém que nos dá uma dica boa,

que facilita a viagem. Pensei em expandir essa ajuda, juntar informações num blog, em que outras pessoas pudessem acrescentar também suas próprias dicas valiosas. Concretizei o blog, mas por falta de habilidade e paciência com computadores e internet o blog anda a passo de tartaruga, e fica a dúvida se estou mesmo con-seguindo divulgá-lo pra quem precisa. Aí sim surge a ideia do zine, um material escrito, um guia de bolso, para levar nas viagens, mostrar pros amigos e amigas, junto a isso algumas palavras que eu mesma queria dizer sobre o assunto, relatos, traduções e letras de música para dar a inspiração e o ânimo na estrada.

A capa do zine é serigrafada. Alguma razão especial para isso?A capa serigrafada foi uma escolha estética, junto à vontade de praticar uma coisa que aca-bávamos de aprender. Ganhamos uma mesa, chamamos um amigo pra dar uma oficina.

Faço os desenhos à mão, passo com nanquim pra folha vegetal, fazemos a tela e queimamos em casa. Gostamos desse carinho e atenção com os materiais que fazemos.

Como está sendo a reação dos leitores?A reação está sendo melhor do que eu esperava. Algumas pessoas comenta-ram, passaram adiante, se utilizaram das informações e responderam. Era esta troca mesmo que eu desejava e fico feliz em estar conseguindo. Inclusive, essa reação me ani-mou a fazer o mesmo com outros temas e ações que me inspiram, juntar informações e mais adiante transformá-las em material escrito. Esta semana começou a turnê de zines que estamos fazendo, e foi muito bom também apresentar o Quem Tem Dedo Vai a Antares, responder e fazer perguntas, e trocar histórias de viagem.

colorida em um papel de gramatura especial, neste zine encontramos poemas de cunho político e social, ricamente in-fluenciados pelo pensamento anarquista. Nas ilustrações, uma para cada poema, percebe-se a influência do traço de Lourenço Mutarelli, presente nas formas humanas grotescas e deformadas. (LM)

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OS RANCOROSOS#3 / 10 x 14 cm / 20 pags. / digital / 2008#4 / 10 x 14 cm / 20 pags. / digital / 2009#5 / 14 x 9,5 cm / 20 pags. / digital / 2010Despretensiosa série publicada pela editora Crás apresentando uma turma de desajeitados estudantes adolescentes e seus causos com as garotas. Entre um fora e outro, os amigos Jaerds, Petrônio, Letisgo e Prestes vão afiando seu sarcas-mo e bom-humor.Até o número 4, a produção das tiras estava dividida entre Roe Mesquita (arte) e Thiago Spyked (roteiro). No número 5, porém, Spyked assumiu também a arte, com resultados bem positivos. (DU)

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PENÇÁ#1 e 2 / A5 / 12 pags. / xerox / 2010Um zine “desaconselhável para conservadores, cardíacos e hipertensos” é como o Pençá se intitula. Uma avalanche de textos críticos que tem o mérito de conseguir uma alta dosagem de sentimento “das ruas” em suas linhas. Em poucas palavras: textos comprometidos, vivos e questionadores. Ao lado de textos mais teóricos, há também pequenas crônicas cujos personagens são o viciados em crack, o cara que pega o ônibus lotado, o playboy que busca travestis pela orla de Copacabana. Nessas criações mais literárias reside o grande trunfo do Pençá, que consegue trazer para a fanzinagem uma dimensão cotidiana que raramente vemos explorado. (LM)

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PIECES#1 e 2 / A5 / 36 pags. / offset / 2009Pieces é uma série em quadrinhos curio-sa. Não possui personagens fixos e não há continuidade entre as histórias, ainda que haja uma inegável coesão entre elas – graças, especialmente, a uma onipre-sente atmosfera melancólica. Mario Cau, o autor, diz que o objetivo é “mostrar pequenos momentos poéticos da vida: pedaços da vida urbana, melan-cólica, divertida, solitária e apaixonada”. E assim caminham as páginas, narrando instantes de personagens anônimos em situações que todos nós já vivemos:

Q.I.#100 / A5 / 24 pags. / offset / 2009#104 / A5 / 24 pags. / digital / 2010Chega a ser embaraçoso falar do Q.I.. Além de ser um dos mais longevos fanzines brasileiros, ele é de uma impor-tância ímpar no cenário dos quadrinhos nacionais – não por acaso, já abocanhou 11 troféus Angelo Agostini na categoria “fanzine”. Nada disso é surpreendente, porém, quando sabemos que o homem por trás da lenda é o roteirista, desenhis-ta, pesquisador, editor e professor Edgard Guimarães. Culto e bem articulado, Gui-marães fez do Q.I. um pólo de informação e de apoio ao quadrinho independente made in Brazil.A paixão pelos quadrinhos impregna cada centímetro das 24 páginas da

3 perguntas para

CARINA RUIZ

Q.I.

Rafe - Resolvendo uma História

Prego

UGRA PRESS - 201126 1o ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICACÕES ALTERNATIVAS 27

publicação. É caso mesmo de amor in-condicional: apesar da atenção especial direcionada sempre à HQ independente brasileira, há espaço para, literalmente, todos os tipos de quadrinhos. Neste nú-mero 100, por exemplo, uma homenagem aos 50 anos de carreira de Maurício de Souza, um levantamento sobre quadri-nhos institucionais e uma HQ do veterano fanzineiro Laérçon se acomodam tranqui-lamente lado a lado. Além deles, há bas-tante informação sobre os novos projetos de Edgard para o Q.I., uma concorrida seção de cartas, o delicioso encarte “A Saga de um Fanzineiro”, divulgação de publicações independentes e, na quarta capa, o último episódio da genial série “Entendendo a Linguagem das HQs”, escrita e desenhada pelo próprio Edgard. Outros diferenciais do Q.I. são a perio-dicidade (bimestral, sem atrasos) e um eficiente sistema de assinaturas.Q.I. é fanzine no sentido literal da palavra: revista de fã. E se você é fã de quadri-nhos, essa será a sua bíblia. (DU)

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QUADRANTE SUL #4 / A5 / 40 pags. / digital / 2009No final da década de 80, três fanzineiros de Porto Alegre se uniram para um proje-to ambicioso: criar uma publicação que agrupasse o trabalho do trio e de outros autores, com impressão em offset, capa colorida e anunciantes. O fanzine (ou prozine, ou revista independente, como queira) resultante durou três números e atendia pelo nome de Quadrante Sul. Cerca de vinte anos depois, os caras retomam o projeto, convocam novos parceiros e lançam uma surpreendente quarta edição.As páginas deste número 4 da Quadrante Sul são recheadas de homens musculo-sos armados, tiroteios, intrigas e aventu-ras que ganham vida em traços realistas bastante influenciados pelos quadrinhos norte-americanos de super-heróis. É interessante notar, no entanto, que as histórias todas se passam no Brasil, confrontando esse tipo de narrativa com a nossa realidade. Pelo visto o grupo voltou com a corda toda e creio que podemos esperar outras edições em breve. Para quem curte esse

estilo de HQ, um prato cheio! (DU)[email protected]

QUEM TEM DEDO VAI A ANTARES#1 / A5 / 52 pags. / serigrafia + xerox / 2010Já pensou em pegar tua mochila, um mapa e cair na estrada pegando carona? Coisa de louco? Não se você for um dos editores de “Quem tem dedo vai a Antares”, um fantástico zine que relata experiências e dá dicas sobre viagens de carona pelo Brasil.O zine é um guia completo: o que levar na mochila, onde é melhor pegar carona (com indicações dos melhores pontos das principais estradas brasileiras), que cuidados tomar, como descolar comida grátis, etc. Além dessas questões mais práticas, os editores elaboram ao longo do zine um verdadeiro ensaio crítico a respeito da carona como uma forma de viajar não apenas barata, mas que coloca o caroneiro em contato com o caos e o imprevisto que governa a vida de todos nós, apesar de nossa insistência em que-rer regras, horários e segurança. Capa em papel marrom devidamente silkada, costurada com linha e um lindo encarte central feito com papel vegetal e lápis de cor. (LM)

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RAFE – RESOLVENDO UMA HISTÓRIAn.u. / A5 / 44 pags. / offset / 2008O enredo parece improvável: um bichinho não-identificável chamado Rafe recebe de seu criador/desenhista a missão de matar 3 monstros em 35 páginas, a fim de provar uma teoria que diz que “ao se criar uma problemática sob determinadas con-dições, é possível solucioná-la de forma interessante e bem sucedida”. Munido de 7 vidas e com o auxílio constante de Thiago, seu onipotente criador, Rafe parte para sua insólita epopéia.A julgar por este gibi, a teoria está cor-reta. Com um traço leve e limpo, Thiago (o criador também na vida real) fez uma idéia esdrúxula se tornar uma história coesa e divertidíssima. Mais do que isso, “Rafe – Resolvendo uma História” é um instigante exercício de metalinguagem e

“mix” , mas elege como foco os quadri-nhos de aventura, terror e ficção. O cast de colaboradores é de primeira e bem equilibrado entre veteranos e novatos. Todas as histórias são boas, mas Between the Shadows (com argumento de Nando Alves e arte de Eduardo Cardenas) e Kavan (de E.C. Nickel) ganham destaque por seus roteiros envolventes e criativos.Tanto pelos temas quanto pelo padrão elevado de suas HQs, A3 parece uma versão atualizada e 100% nacional da saudosa “Aventura e Ficção”, publicada pela Editora Abril nos idos dos anos 80. Parece que o número 2 já está circulando por aí. Vida longa à A3! (DU)

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SAGRADO BRUTAL#5 / A5 / 20 pags. / xerox / 2009Se você folhear Sagrado Brutal encontra-rá um zine com aquela típica diagrama-ção caótica “recorta-e-cola”, entrevistas com bandas, letras de músicas, logotipos ilegíveis e tudo o que em geral caracte-riza um fanzine musical de rock pesado. Porém, você de repente se depara com a imagem de Jesus Cristo dando uma de... DJ? Pode ser que seja uma paródia como no site Jesus Manero (recomenda-díssimo!) mas quando você começa a ler percebe que não é bem assim e então descobre: trata-se de um zine que reúne bandas de hardcore e metal dedicadas ao cristianismo. Não necessariamente bandas underground: nomes conhecidos como As I Lay Dying e Killswitch Engage comparecem nas páginas com breves biografias, ao lado de informações sobre outras associações punks cristãs e textos mais doutrinários. Pelo visto, há uma fecunda movimentação underground voltada para o cristianismo em atividade e, também, fazendo fanzines. Isso é um fato, quer você concorde ou não com as idéias por eles defendidas. (LM)

[email protected]/saraucomics

SALOMÃO VENTURA – CAÇADOR DE LENDAS#01 / 16,5 x 24 cm / 24 pags. / offset / 2010As HQs de terror já foram bem popu-lares no Brasil, com diversas revistas e um punhado de artistas que marcaram época. Hoje em dia, no entanto, pouca coisa é produzida neste campo. Giorgio Galli Neto é um desses raros defensores do estilo, e cumpre seu papel com louvor. Com o personagem Salomão Ventura, Giorgio explora o lado macabro do folclo-re popular, tendo como referência a obra do folclorista Luís da Câmara Cascudo. Neste número de estréia, por exemplo, o protagonista enfrenta um Saci Pererê

bem diferente daquele que costumáva-mos ver no Sítio do Pica-Pau Amarelo, em uma história que começa no século XIX e chega à atualidade. A arte também merece nota: com um traço expressivo e cheio de contrastes, faz lembrar alguma coisa do Sandman e dos clássicos da E.C. Comics. Resumindo: potencial a revista tem. Esperamos que o público responda bem a esta iniciativa e que outros números venham em breve. (DU)

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SAMURAI TCHÊ#1, 3 e 4 / 14 x 19,5 cm / 32 pags. / offset / 2007 - 2009Um mangá ambientado na região Sul do Brasil da década de 1950: esse é o improvável ponto de partida de Samurai Tchê, a série criada pelos irmãos Cézar e Luciano Luíz dos Santos.Mescla de ficção e História, os “causos” (como são chamados os episódios em cada edição) narram a vida dos Garibal-di, uma família recém-chegada do Rio Grande do Sul a uma região até então inexplorada do Estado do Paraná.Após uma estréia desajeitada, com roteiro confuso e arte irregular, os caras foram aos poucos acertando a mão até conse-guirem, finalmente, transformar Samurai Tchê em uma publicação interessante e divertida. (DU)

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A última edição do Spellwork foi de 1000 exemplares. Um volume e tanto. Como é o processo de distribuição?É, na verdade a intenção sempre foi divulgar bastante, mas a verba não deixa! Mas nas últimas 2 edições consegui um apoio de amigos e perdemos o controle. É distri-buido muito ainda através de cartas, nos encontros de zines, em shows de bandas de amigos, em encontros de literatura (um dos principais o Fantasticon), em lojas na galeria (Combat Rock) em pontos de cultura: CEU, bibliotecas etc...

Fale um pouco sobre como é ser editora de um fanzine que conta com diversos colaboradores.Poxa, eu acho fantástico, gosto muito dessa miscelânea que o S.W. se tornou, de várias pessoas participarem, por outro lado os leitores, bandas e projetos e pessoas que curtem a cena sempre me cobram isso ou aquilo... Mas eu tento manter o máximo de cara de zine, mas com um conteúdo que abranja mais pessoas, sem perder a riqueza

uma bem sacada reflexão sobre as HQs. Não perca. (DU)

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RAFE – RESOLVENDO O LAYOUTn.u. / A5 / 72 pags. / offset / 2010Com a boa repercussão da primeira aparição do personagem Rafe, Thiago Spyked resolveu investir em uma nova história, desta vez explorando os aspec-tos visuais das HQs. A estrutura desta nova aventura é bem semelhante à da primeira: para testar as teorias que o criador pretende comprovar, Rafe é submetido a uma série de desafios que devem ser resolvidos com as regras dadas no início da jornada. Cada desafio corresponde a um capítulo e o último deles é reservado à maior das batalhas, devidamente seguida de um final feliz. Ao seguir à risca a estrutura do volume ante-rior, portanto, este novo episódio tornou-se previsível e perdeu bastante de seu impacto. Por outro lado, o enredo é muito rico em detalhes e mantém um bom ritmo, garantindo que “Resolvendo o Layout” seja uma leitura divertida e estimulante. O desenho também está muito bom, satisfazendo plenamente a premissa da trama. Guardadas as devidas propor-ções, é como ler Asterix: todo mundo sabe que na última página a aldeia estará em festa e Chatotorix estará isolado em algum canto entoando suas desafinadas canções, mas isso não faz com que as aventuras dos intrépidos gauleses sejam menos geniais. (DU)

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REBOCO CAÍDO#1 / A5 / 12 pags. / xerox / 2010Reunindo textos de caráter político-social, Reboco Caído dá seu recado em poucas páginas e textos diagramados no estilo recorta-e-cola. A qualidade da xerox não é das melhores, pelo menos na cópia que recebemos, e aí está um ponto que os editores poderiam melhorar (pois hoje felizmente há opções, e baratas). A crítica dos editores tem a sua melhor realização no texto “A Bizarra Fauna Humana”, categorizações impagáveis dos malditos seres que nos rodeiam. Também lançaram um livro, o “Um ano de Berro”, compilação de outro zine editado por eles. (LM)

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REVISTA A3#1 / 15,5 x 22 cm / 110 pags. / offset / 2010Mais uma iniciativa de Matheus Moura, também editor e idealizador da revista Camiño di Rato. A exemplo desta última, A3 mantém a proposta de ser uma revista

de ser alternativo. Me sinto muito feliz e satisfeita com essa minha publicação.

Existe uma cena gótica brasileira? Como essa cena está hoje em relação a bandas, espaços, etc?Sim, na verdade existem muitas bandas, projetos, DJs, escritores e por aí vai gravan-do, lançando trabalho fora e a maioria aqui nem sabe devido à coisa ser meio restrita. Existe um grande interesse do público, em especial europeu, pela cena nacional.A cena está mais ampla, creio que é natural. Ano passado várias bandas se apresentaram no Sesc, Fnac; temos o Woodgothic, um festival em São Tomé que trouxe várias atrações internacionais pra tocarem ao lado dos nossos, enfim existe espaço, existe cena, mas falta mais investimento pra apoio das bandas e projetos, e divulgação!Houve recentemente no Pelourinho, em Salvador, um evento com bandas góticas e EBM, financiado por um edital da prefeitura. Eu achei o máximo! O lugar do axé dando espaço pra algo antes inimaginável!!!

3 perguntas para THINA CURTIS

Sideralman

Salomão Ventura - O Caçador de Lendas

UGRA PRESS - 201128 1o ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICACÕES ALTERNATIVAS 29

SANGUE NOS OLHOS#5 e 6 / A5 / 28 pags. / Xerox / 2009-2010Zine anarco straight-edge de Maceió que reúne entrevistas com bandas, textos de caráter político e sobre consumismo/vegetarianismo. Em sua mais recente edição de dezembro de 2010 os caras fizeram uma capa hiper caprichada, com texturas vazadas e um papel celofane verde atrás, reproduzindo o verde de uma árvore. Isso deve ter dado um trabalhão para esses meninos, que nesse número entrevistam as bandas Te Pego Lá Fora

(Pará) e Cães de Rua (Rio de Janeiro). Muitas colagens e quadrinhos comple-mentam as páginas do zine, alguns chu-pinhados e bastante conhecidos (como a Mafalda) e outros são obra do Gil, um dos editores. A inovação deste zine é uma sessão de piadas dignas do Ari Toledo. Enfim, um zine variado e de agradável leitura. (LM)

[email protected]/sanguenosolhos

SEJA VOCÊ MESMO#0 ao 2 / A5 / 12 pags. / xerox / 2009Você pega esse zine na mão e já acha legal a capa: uma apropriação irônica do logo da revista Veja. E a intertextualidade não fica somente nisso: a diagramação lembra bastante a da revista, com seções bem determinadas (resenhas de discos, agenda de shows, culinária), uma grande

SIDERALMAN#1 / A5 / 28 pags. / offset / 2007#2 / A5 / 24 pags. / offset / 2009Aventuras intergalácticas, ferozes mons-tros imbatíveis, poderes sobrenaturais e um herói musculoso com uniforme de lycra. Clichê? Sim! Mas, pelo menos nesse caso, não há nada errado com isso. Will, o criador, fez de todos estes lugares-comuns a matéria-prima para uma divertida série em quadrinhos que vem rapidamente ganhando reconhe-cimento entre as HQs independentes brasileiras. Como bem definiu Manoel de Souza, editor da revista Mundo dos Super-Heróis, “Sideralman poderia ser o primo bombado do Dexter ou um filho adotado pela Supermãe do Ziraldo”.O primeiro número da publicação é dedi-cado à elucidação das origens do herói, assim como à introdução dos outros per-sonagens de seu universo. Já o número dois é marcado por diversas parcerias de Will com outros roteiristas e desenhistas, com resultados bem interessantes. Desta-que para a arte da HQ “Sideralman Con-tra o Monstro Horripilante Gigante Cheio de Tentáculos Vindo de Outra Dimensão”, que ficou muito boa. (DU)

[email protected]

SIGMA PI#1 e 2 / A5 / 40 pags. / digital / 2010Shoujo é um mangá para meninas. Eu nunca havia lido um shoujo. Para ser sincero, nem sabia que eles existiam, até receber estes fanzines da mangaká Yumi Moony (nome artístico da Adriana Iwata). Graças à minha ignorância, não

sei dizer também se todos shoujos são assim, se são melhores ou piores. Só sei que Sigma Pi é delicado e incrivelmente fofo. Tão fofo que alguns quadrinhos são laureados de flores e folhas, mesmo quando a personagem está em um ambiente em que ramos de flores e folhas são impossíveis. Também não preciso ser nenhum grande conhecedor de shoujos para perceber a dedicação e o amor com que a autora elaborou estas edições, o que prova que os ingredientes para se fazer um bom fanzine independem dos temas abordados. (DU)

[email protected] sigmapi-project.blogspot.com

SINDROMINA#1 / 14 x 18 cm / 28 pags. / offset / 2007#2 / 13 x 17 cm / 32 pags. / offset / 2008#3 / A6 / 36 pags. / offset / 2009#4 / A6 / 40 pags. / offset / 2010Zine muito diversificado oriundo da cidade paranaense de Pato Branco que em suas páginas apresenta quadrinhos, música, literatura, fotografia e uma certa dose de cultura regional. A evolução ao longo de suas quatro edições, sendo a última de outubro de 2010, mostra que a equipe do Sindromina não brinca em serviço quando o assunto é fanzinagem – e o resultado é ótimo! Destacam-se a HQ de Manco, o pistoleiro, que é legal pra caramba, e um interessante relato de um baiano sobre suas experiências na gélida Rússia. Um promissor zine. (LM)

[email protected] www.zinesindromina.com

São mais de 94 mil exemplares do Zine Oficial espalhados em cerca de 4 anos. Como você avalia esse singular percurso? O Zine Oficial poderia não ter passado do número 1, não fosse pela resposta calorosa dos leitores e, principalmente, pelo apoio de alguns amigos, que se tornaram colabo-radores. Na primeira edição, apenas meu irmão Ricardo Kábula e o Maurício Júnior, antigo zineiro e amigo, ajudaram na publica-ção. A idéia era somente divulgar o Festival Quaresmada, organizado pela primeira vez em 2006, em Brasília. O interesse demons-trado pelo Fábio Marreco, organizador do Marreco´s Fest, o maior festival de metal da Região Centro-Oeste, e o engajamento do

Fellipe CDC, do festival Headbanger´s Attack, foram decisivos para que o Zine Oficial deixasse de ser apenas um veículo de divulgação do Quaresmada, transformando-se em canal aber-to para divulgação de várias produções locais. Nossa decisão de cobrir importantes festivais como o Ferrock, o mais antigo festival de rock de todo DF, realizado na cidade de Ceilândia, e o Rock Cerrado do Gama, o maior e mais importante festival do DF na Região do Entorno Sul, foram importantíssimos para alavancar a circulação do Zine Oficial em diferentes locais. Também fizemos uma edição do Zine Oficial para o Porão do Rock, a convite do Marcos Pinheiro, responsável pela comunicação social do evento. No entanto, acredito que os festivais menores aproximaram o Zine Oficial do público de várias das cidades do DF e Entorno, pois expandiu o perímetro de nossa circulação, indo ao encontro de uma galera muitas vezes relegada. Minha análise é muito positiva em

relação à continuidade do Zine Oficial, que surgiu com o Quaresmada, festival que se con-solidou junto com a revistinha, e já deu outras crias, como o Retina Rock Festival e o Projeto Letra de Música. Esse último, aliás, tem como principal objetivo intercalar shows de rock com exposições de fanzines, percorrendo cidades do DF e do Entorno (o que inclui municípios de Goiás e Minas Gerais). Apesar do Z.O. ter 99% de suas páginas dedi-cadas à música, é comum ver textos críticos/políticos em suas páginas. Já teve alguma resposta dos leitores em relação a isso? O Zine Oficial fala muito sobre música porque as edições regulares são vinculadas a um ou mais eventos, ajudando na divulgação e servindo como roteiro dos shows, com resenhas das bandas participantes. No entanto, temos a preocupação de falar sobre cultura underground em geral, do modo de

organização e produção de eventos, no melhor estilo “faça você mesmo”. Tudo isso passa por uma postura política. Nossa visão é crítica, mas construtiva. Não defendemos uma verdade absoluta, queremos provocar a percepção das coisas. Usamos textos e quadrinhos para chamar a atenção do público, que reage de forma participativa, opinando, discordando ou ratificando alguns pontos de vistas nossos. O Zine Oficial sempre foi aberto a essa participação. Em algumas edições, mesmo sendo o editor geral, eu nem escrevo. Já aconteceu, inclusive, de não fazer sequer a arte de certos números do Zine Oficial, deixando a incumbência a cargo do Pardal, antigo parceiro dos tempos de outro zine, O Espírito de Porco, que era de quadrinhos, contos e poesias. Aliás, eu queria reunir alguns poetas e quadrinhistas e fazer um Zine Oficial no estilo do Espírito de Porco, com HQs bem ácidas. Acho que os leitores iriam adorar!

Recentemente você lançou o livro “Mulhe-res do Rock”. Fale um pouco sobre e se há planos de mais livros para o futuro.Pois é. O livro “Mulheres do Rock” encaixou-se como uma luva no Projeto Letra de Música. O lema desse projeto é “Literatura e rock para não enferrujar a mente”. Em princípio, o Fellipe CDC teve a idéia de lançar o livro sem muita ligação com o que veio a se tornar todo o projeto, mas eu puxei o mote de divulgação do trabalho para os Cem Anos do Dia Internacional da Mulher e para os Cinqüenta Anos de Brasília, que coincidiram em 2010. Dessa forma nós conseguimos abrir um debate muito mais amplo: a participação das mulheres na política, discriminação sexual, exploração de classes. O livro foi escrito por seis protagonistas femininas da cena roqueira local. Através de depoimentos pessoais de Alice (Gulag), Andréa (ex-Valhalla), Bianca (Ex-Bulimia), Ludmila (Estamira), Márcia (Headbanger´s Attack) e

Zanny (Flammea), a história do rock do DF e do Entorno ganhou uma análise do ponto de vista de mulheres. O livro despertou um interesse impressionante, tanto no público, quanto em outros fanzines e também na grande imprensa. Temos a intenção de continuar com esse trabalho em paralelo ao Zine Oficial, seja lançando outros livros, seja apoiando o lançamento de obras independentes, levando essas obras para as exposições de fanzines que acompanham os shows do Projeto Letra de Música. O tema em destaque de 2011 é o Ano Internacional de Pessoas de Ascendência Africana, que já começou acalorado por causa das manifestações contrárias à adoção dos livros de Monteiro Lobato nas escolas públicas e particulares do Brasil, sob a alegação de estimular a discriminação racial.

entrevista (e com páginas amarelas!), matérias sobre atualidades e colunas de opinião, tudo muito relacionado com a região sul do país. O zine era mensal e recebemos suas três primeiras edições, mas como o editor esclarece no terceiro número, o Seja Você Mesmo agora é um zine aperiódico. (LM)

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SELVAGE#1 / A5 / 40 pags. / digital + xerox / 2010Este zine, lançado pelo coletivo Você Tem Que Desistir, reúne fragmentos de um de seus membros fundadores, Catari-na Disangelista, abordando assuntos como anarquismo, massificação cultural, sutentabilidade e outros temas polêmi-cos. Com uma xerox de boa qualidade, o zine tem muito texto disposto no melhor estilo corta-e-cola. As poucas ilustrações conseguem dar uma alternância de páginas leves e outras mais carregadas. Há ainda algumas charmosas incursões manuais, como a capa, desenhada à mão mostrando uma cidade literalmente indo para o buraco. A simplicidade está em todos os aspectos gráficos do zine e isso está em franca harmonia com as ideias radicais nele apresentadas, fortemente influenciadas pelo pensamento anticivili-zação que, desde fins dos anos 90, tem tomado corpo e provocado indignação em alguns, risos em outros e descrença em tantos muitos. Pela pluralidade de reações que as ideias presentes nesse zine em geral despertam já vale à pena a leitura. (LM)

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SOACAOS#2 / A4 / 18 pags. / digital / 2000Abordando temas anarquistas e teorias da conspiração, o Soacaos apresenta texto sobre as relações entre ciências ocultas e a nova ordem mundial estaduni-dense, a tradução de um texto sobre o teórico anarquista Bakunin e uma seção de resenhas sobre publicações anarquis-tas. Há ainda poemas do editor e refle-xões pessoais sobre a fanzinagem. (LM)

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SONETO#1 / A5 / 28 pags. / digital / 2010Um tema recorrente nas publicações de quadrinhos que recebemos para este Anuário são as dimensões paralelas à que vivemos e os eventuais intercâm-bios entre ambas. Essa é a premissa de Arlequim, de Kuei e também de Soneto, a saga criada por Diego Luís. Felizmente, cada autor encontrou uma maneira bem diferente para abordar a idéia.Este número inaugural de Soneto é dividido em dois capítulos. O primeiro trata de questões relativas à El Dora, a tal dimensão paralela povoada por fadas, magos e duendes. O segundo capítulo se passa na Terra e apresenta o drama da jovem Júlia, uma criança de 11 anos que, de alguma forma, perdeu a visão.Como em todo início de série, pouca coisa se explica neste número e é difícil ao leitor ter uma opinião conclusiva. Mas é notório que Diego é um bom roteirista e trabalha muito bem o ritmo de suas his-tórias. A arte também merece destaque: apesar da grande influência de mangá, o

3 perguntas para

TOMAZ ANDRÉ

Sindromina

UGRA PRESS - 201130 1o ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICACÕES ALTERNATIVAS 31

autor não abre mão de seu próprio estilo e escapa ileso do superlotado limbo dos “mangaseiros genéricos”. Em tempo: Diego também faz interessan-tíssimos trabalhos com animação. Confira em youtube.com/swiansincliar (DU)

[email protected] www.primantecipada.blogspot.com

SPELL WORK#5 / A5 / 32 pags. / xerox / 2007#6 / A5 / 40 pags. / xerox / 2009#7 / A5 / 18 pags. / xerox / 2010Zine voltado para o que se convencionou chamar de cultura gótica, aborda música, literatura, cinema, artes plásticas, etc com textos bem escritos e diversificados.O que mais agrada no Spell Works é a capacidade de ser intensamente gótico mas não se prender a um certo culto de bandas que estão na gênese do estilo (The Cure, Sisters of Mercy, etc). Pelo contrário: em suas páginas há espaço para muitas bandas novas desta cena. Escritores como Maiakóvski, Sidonie Gabrielle Collette e outros já foram alvo de boas matérias no Spell Work, que também abriga contos e poesias de autores menos conhecidos – e são ótimos

escritos, como o conto “Solstício de primavera”, de Edson F. Quadrinhos de Edgar Franco, uma exce-lente entrevista com Glauco Mattoso e a ótima seção Turismo também podem ser encontradas no Spell Work. Um verda-deiro megalito de informações e cultura gótica contemporânea. (LM)

[email protected]/spellwork

SUBSOLO – RUAS DO ABC#1 / 15 x 13 cm / 56 pags. / offset / 2009Outra excelente iniciativa do Studio 13 (vide “O Robô Nunca Faz Greve”). Temos aqui um zine de fotos que retratam o gra-fite e a pixação nas ruas do ABC Paulista, terra de operários e tradicional foco de agitação política. Com edição capricha-da (capa serigrafada, miolo em papel couchê), Subsolo – Ruas do ABC traça o panorama destas manifestações em toda sua amplitude: das composições mais politizadas às meramente decorativas, dos grafites mais elaborados à pixação mais suja. Algumas imagens mostram o trabalho já finalizado, enquanto outras focam na ação em andamento. De uma forma ou de outra, somos sempre convi-dados a compreender o espaço em que estas obras são feitas e a observar a rela-ção destas com o restante da paisagem. Num tempo em que luxuosas galerias e renomados museus elevaram o grafite e a pixação a fetiche burguês, minimizando (se não anulando) sua veia transgressora, Subsolo – Ruas do ABC faz um excelente trabalho ao valorizar a arte de rua em seu habitat natural. (DU)

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TOP! TOP! #26 / A5 / 52 pags. / digital + offset / 2010Henrique Magalhães é uma verdadeira instituição do fanzinato brasileiro. Além de cartunista e editor veterano, investigou os fanzines em suas teses de mestrado e doutorado e publicou, pela Editora Marca de Fantasia (também um projeto seu), quatro livros fundamentais sobre o tema. Destes livros, três são de sua autoria e o quarto foi escrito por Edgard Guimarães – outra referência no assunto.Top! Top! é um fanzine sobre HQs editado

TUBARÃO MARTELO #1 / A5 / 36 pags. / digital / 2009Com a proposta de falar de música punk/harcore, cinema, política e HQ, o Tubarão Martelo cumpre com propriedade o que diz. Na apresentação, já sabemos que os editores são amantes dos vinis, e convidam o leitor a percorrer as páginas entre trocas de lado A para B. Seguem com uma seção de resenhas de discos que são muito bem escritas, e nisso é preciso ainda ser mais enfático e dizer: não basta saber descrever um disco, mas tornar vivos os sentimentos experimentados em sua audição, coisa que os editores conseguiram fazer muito bem (até já baixei um disco resenhado por eles!). Ainda tem entrevistas com Velho de Câncer e Os Estudantes, matéria sobre o programa de rádio Independência ou Marte e tour report do Mahatma Gangue. (LM)

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TUPANZINE#71 / A5 / 16 pags. / xerox / 2010O Tupanzine já tem uns 17 anos de estra-da na fanzinagem. No coquetel de rock, futebol e baixarias que o zine se propõe a fazer, são perceptíveis as referências ao Distrito Federal e adjacências, por assim dizer a “sede” do Tupanzine. Muitas pessoas diferentes escrevem em suas páginas, e não há nada muito rígido em se tratando de temas ou colunas, alter-nando-se anarquicamente textos sobre festivais de música candangos, entrevis-tas com jogadores de futebol esquecidos, mulheres nuas e montagens com fotos que parecem ser do arquivo pessoal do editor. E nessa diversidade toda, os textos do Tupanzine conseguem ser, ao mesmo tempo, irreverentes, informativos e bem escritos –o que é bem difícil de conseguir. Destaco uma seção chamada “Contra ataque”: é como aquela seção de cartas típica das revistas, mas nesse caso boa parte das mensagens exibidas estão comentando acidamente textos de edições anteriores. Acidez pouca é bobagem. (LM)

[email protected] VENDETTAn.u. / A5 / 44 pags. / digital / 2009Thales Gaspari é um autor versátil. Cada um de seus três títulos lançados pela Editora Crás explora um estilo diferente de HQ: tiras adultas em Numb Strips, quadrinhos “reflexivos” em Zumi & Lumi e, finalmente, western em Vendetta.Talvez por ser uma história longa e o enredo exigir mais em termos de cenário e ação, é em Vendetta que o talento de Gaspari enquanto desenhista melhor se revela. Seu traço fino e detalhado, sem nunca ser excessivo, é certamente o

ponto alto deste gibi.Por outro lado, o enredo não traz muitas novidades: é a história de Major Drake, um homem soli-tário, corajoso e durão peregrinando pelo oeste americano em busca de vingança pelo assassinato de sua família. Sim, pa-rece previsível, mas provavelmente isso seja mais uma limitação do próprio estilo do que uma falha do autor. De qualquer maneira, Vendetta diverte e entretém. Vale a aquisição, nem que seja só pela elegäncia de sua arte. (DU)

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VERDUGO, O INACREDITÁVEL#1 / 13 x 20 cm / 24 pags. / digital / 2007#2 / 13 x 20 cm / 24 pags. / digital / 2007#3 / 13 x 20 cm / 36 pags. / digital / 2007#4 / 13 x 20 cm / 36 pags. / digital / 2008#5 / 13 x 20 cm / 36 pags. / digital / 2009Criação de Verônica Saiki para o público infanto-juvenil, Verdugo é um bichinho de bem com a vida (“bichinhos” parecem estar em alta, vide Rafe e Zumi & Lumi), artista plástico profissional e detentor de um pincel encantado. Em histórias ora fantásticas, ora inspiradas em situações cotidianas, o gentil e bem educado pro-tagonista tem de confrontar o mau-humor e a falta de caráter do bichinho Silueta – a quem, obviamente, sempre dá boas lições de moral. Cada edição apresenta também um novo capítulo da história “Em busca do objeto dourado”, que, como o nome sugere, narra as aventuras de Verdugo por mundos desconhecidos em busca de um objeto dourado (as razões da busca, pelo menos até a quinta edição, ainda permanecem desconhecidas). (DU)

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VITRÍOLO #1 e 3 / A4 / 10 pags. / xerox / 2010Auto denominado “Fanzine Cultural sem fins lucrativos”, Vitríolo é uma publicação de Tiago Siqueira (também editor do zine Abstract Funeral, voltado ao metal extre-mo) dedicada aos assuntos da cidade de Planaltina, em Goiás. Espalhadas pelas duas edições recebidas estão informa-ções sobre a Academia Planaltinense de Letras e Cultura, biografias de escritores e bandas locais, além de uma seção cha-mada “Coisas que vi (e ouvi) por aí”, com comentários breves sobre acontecimen-tos da cidade. Há espaço também para conteúdo de interesse geral, como textos de protesto (“Existe Natal para todos?”) e matérias de temas variados (“Livro narra trajetória feminina no Rock do DF e Entor-no” e “Aleister Crowley, o Grande Mestre Therion”). (DU)

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pelo Sr. Magalhães com a nobre missão de “resgate da obra dos mestres, apre-sentação dos jovens autores e análise das publicações, em particular do meio independente”. Cada edição do Top! Top! disseca a obra de algum autor em entre-vistas longas e detalhadas que nunca se tornam cansativas ou enfadonhas. Neste número 26, Henrique põe em foco justamente a obra de Edgard Guimarães, e o resultado não poderia ser mais satis-fatório. As perguntas são muito interes-santes e as respostas não ficam atrás. Os assuntos estão bem balanceados, expondo a trajetória de Edgard enquanto quadrinista, roteirista, autor e editor, além de trazer à tona suas opiniões pessoais. Complementam a edição diversas ilus-trações do entrevistado e uma análise da centésima edição do Q.I., fanzine editado pelo próprio Guimarães. Obrigatório. (DU)

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TRALALA#24 / 15 x 7 cm / 2 pags. / xerox / 2010Esse é um zine de Desterro, a conhecida cidade de Santa Catarina. Ops! Você nunca ouviu falar de Desterro? Isso é o que você aprende ao ler o Tralala, feito/divulgado em Florianópolis, o nome pelo qual 99,99% das pessoas conhecem a cidade cujo patronímico é uma homena-gem a Floriano Peixoto, o primeiro general golpista do Brasil. Revisionismos históricos à parte, o zine é uma folha A4 dobrada em 3 partes, assumindo o típico formato de um folder. É curiosa a intitulação do zine como “xe-rocrático”, nomenclatura justificada como o xerox sendo um elemento contestador em si, uma forma crítica e avessa à pro-dução editorial em massa. E isso é muito bem resolvido nesse zine que abusa (no bom sentido) de colagens caotica-mente sujas, denominadas pelo autor de “discurso ressignificador de signos”. É legal ver zines que apostam nessa “imundície visual” e não compactuam com certa estética limpinha que alguns zines literalmente plagiam das revistas de grande circulação. Os textos, alguns do próprio editor, outros citações de fontes diversas, alinham-se com a temática anarcoprimitivista. Há também trechos do DVT (Discurso Viabilizador do Tralala), que pelo que entendi é o seguinte: o editor vai até uma certa região central de Floripa e fica falando sobre os temas do zine com os transeuntes, distribuindo o zine e pedindo contribuições. No final das contas isso não tem diferença nenhuma com a tática dos testemunhas de Jeová que ficam gritando a palavra da salvação por aí. De qualquer maneira é uma forma heterodoxa de distribuição. (LM)

[email protected]://zinetralala.blogspot.com

Vendetta

Vulgar Manual Tubarão Martelo

Zé Buceta

UGRA PRESS - 201132 1o ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICACÕES ALTERNATIVAS 33

VULGAR MANUALn.u. / 17 x 24 cm / 36 pags. / offset / 2010Em Vulgar Manual, Guido Imbroisi nos oferece uma seleção de HQs antigas e recentes de sua autoria, todas inéditas. São trabalhos que estavam guardados, sem esperança de publicação, e que foram heroicamente reunidos pelo selo Prego Publicações neste belo volume.Estamos falando aqui de uma obra expe-rimental e extremamente pessoal, apesar da inegável influência da velha guarda do quadrinho underground norte-americano. Goste ou não, é impossível ficar indife-rente diante de histórias como “Sanguis” ou “Gastronomia Amazônica”, com seus roteiros bizarros e soluções gráficas intrigantes.Demência. Non sense. Pessoas defor-madas. Cenários deformados. Tracinhos, texturas e detalhes explorados ao nível da obsessão doentia. Eu li isso aqui e fiquei com uma tremenda dor de cabeça. Sim, precisamos de mais autores como Guido Imbroisi. (DU)

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ZÉ BUCETA – MARIA PIROCA#01 / A5 / 32 pags. / xerox / 2010Zé Buceta é a infame criação do quadri-nista, pixador, grafiteiro e agitador Desali. O personagem já aterrorizou as ruas do interior mineiro em cartazes e pixações pautadas por aquilo que o próprio autor define como “agressividade visual primá-ria e antiestética”, forçando o transeunte a “engolir, absorver e, consequentemente, se irritar com o que está vendo”.Nas 32 páginas bem xerocadas deste primeiro volume inteiramente dedicado à família do nosso querido Zé (composta também pela mãe Maria Piroca e pelo filho Zé Maria), Desali apresenta, em uma longa HQ, o mesmo desconforto e insa-nidade que levou ao ambiente urbano. Não há diálogos entre os personagens e a história segue em um ritmo alucinado, com um roteiro digno de uma bad trip, totalmente livre de estruturas tradicionais. Com seu traço sujo e personagens defor-mados, o autor nos remete diretamente a autores clássicos do underground ameri-cano como Gilbert Shelton e Clay Wilson, sem abrir mão de sua personalidade. Certamente um dos acontecimentos mais interessantes entre os fanzines brasileiros de 2010. (DU)

[email protected]/odesali

ZINE DEATH METAL#9 / A4 / 24 pags. / digital / 2010Precisa realmente dizer alguma coisa de um zine cujo nome é Death Metal? Sim, precisa: essa publicação de Santa Cata-rina é um artefato que exala underground e nenhum compromisso com modismos

comerciais. A pura essência do grind/death/black metal em suas materializa-ções mais brutais e obscuras. Recebemos a edição 9, comemorativa aos dois anos de existência do zine. E nesse número especial temos muitas entrevistas (19 no total), sendo que 6 são com bandas de outros países. Isso mos-tra o compromisso do zine em ser um fomentador do intercâmbio undergound, vital para a existência das bandas que trilham esse caminho. Outra coisa: com os blogs de MP3 fica cada vez mais fácil ouvir música, mas ler a respeito disso é algo que antes era bem comum e que hoje tornou-se secundário, e zines como o Death Metal são como desbravadores corajosos contra esse tendência imbe-cilizante. Destaco as entrevistas com os nacionais Carrasco e Old Throne. Entre em contato com eles para adquirir o seu exemplar e conheça também a gravado-ra do editor, a Desgraça Records. (LM)

[email protected]/fanzinedeathmetal

ZINE OFICIAL vários números / A6 / 20 pags. / 2006 - 2010Apoiando irrestritamente o underground de Brasília e entorno desde 2006, o Zine Oficial é uma publicação incansável e, apesar da relativa curta trajetória, já tem seu lugar no panteão zinístico nacional. Afinal, já são (até agora) 32 edições e impressionantes 93 mil exemplares distribuídos (isso mesmo, você não leu errado, 93 mil exemplares!).Feito em gráfica, em formato de bolso e com páginas coloridas, a tônica do Zine Oficial é simples: são lançadas novas edições em conjunto com festivais musi-cais independentes que rolam na região de Brasília. Cada número do zine oficial traz uma pequeno release das bandas participantes, além de algumas entrevis-tas. O primeiro lançamento ocorreu no festival Quaresmada, que reuniu bandas para “espantar de vez as lantejoulas carnavalescas e celebrar uma grande ritual do rock antes da semana santa”. Desde então não mais parou, lançan-do novos números em outros festivais como Headbanger´s Attack, Ferrock e o impagável Marrecos Fest, que em sua divulgação realizou paródias com capas de discos famosos (a do Judas Priest é a melhor). Importante destacar na trajetória do Zine Oficial o fórum de discussões que eles lançaram em 2008 chamado “200 anos de fanzine no Brasil?” (uma referência ao bicentenário da imprensa nacional) e à Quaresmada de 2010 dedicada às bandas de rock femininas, cuja repercussão foi tão alta que gerou o livro “Mulheres do rock”, também resenhado aqui. Enfim, um trabalho coeso e importantíssimo para

o underground brasiliense, verdadeiro canal de comunicação entre bandas e público locais e, também, ponte para levar à capital do país atrações nacionais e internacionais. (LM)

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ZINISMO#1 / A5 / 28 pags. / digital / 2010Zine que virou blog todo mundo já viu. Foi moda por um tempo, quando estavam todos eufóricos com as possibilidades da internet e a “morte do impresso” era anunciada por todos os cantos. Ao com-pletar dois anos de atividades virtuais, porém, o blog Zinismo fez o caminho inverso: lançou sua primeira edição impressa. Mais do que um movimento de anulação ou superação, trata-se de reconhecer as vantagens e o potencial que cada mídia pode oferecer. Como nos explica o editorial, “se a Internet é barata e rápida, por outro lado peca pela efeme-ridade das informações nela publicadas”.Agrupando textos inéditos com outros que já foram publicados virtualmente, esta primeira incursão do Zinismo pelo mundo do papel apresenta as mesmas qualidades que habitualmente encon-tramos no blog - a temática variada e a excelente redação, por exemplo - e torna evidente o que todos já deveriam saber: ler no papel é muito mais prazeroso, es-pecialmente no caso de textos longos. O conteúdo todo é de alto nível, mas os destaques ficam por conta da entrevista com Lacarmélio Alfeo de Araújo (criador do lendário herói Celton) e do hilário “Danilo e a Máquina de Xerox”, um conto do Flávio Grão. Só nos resta torcer para que os editores não levem mais dois anos para lançar uma nova edição. (DU)

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ZUMI E LUMIn.u. / A5 / 28 pags. / digital / 2009Dois bichinhos (esquilos? preguiças?) refletem sobre a existência e a humanida-de enquanto observam tudo do alto das árvores em que residem. Essa é, basica-mente, a premissa destas tiras criadas por Thales Gaspari, o mesmo autor de Numb Strips.Por trás do traço infantil e da aparente leveza dos diálogos, escondem-se con-clusões não muito infantis, impregnadas de uma certa desilusão. Assim como nos Peanuts ou na Mafalda, a ingenuidade e a pureza dos protagonistas são confron-tadas pela realidade cruel e frequente-mente absurda dos adultos e do mundo capitalista. Uma boa série, especialmente quando não cede à tentação de parecer edificante. (DU)

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Recebemos para o Anuário trabalhos variadíssimos de todas as partes do Brasil: agora, é hora de termos uma visão de conjunto de todo esse material.

O Sudeste lidera na quantidade: mais de 60% dos fanzines recebidos são provenientes dessa região. O Sul e o Nordeste ficam empatados nesse quesito (13,58%), seguidos pelo Centro Oeste (8,64%) e Norte (1,23%).

Os temas apresentam bastante variação quando quantificados: expressivos 33,6% do que recebemos são fanzines de histórias em quadrinhos. Já música e política, temas importantes e recorrentes nas publicações dos anos 80 e 90, representaram cerca de 8% do total. Um percentual pequeno, que arriscamos explicar: fácil acesso a música via Internet e a popularização dos blogs como ferramentas de crítica e mobilização.

Nas tiragens, a maior fatia fica entre 101 e 500 edições (25,39%). Também é signifi-cativa a quantidade de zines com tiragem entre 50 e 100 cópias (cabalísticos 22,22%). Publicações com mais de 1000 exemplares não ultrapassam os 5%.

Mas foi com relação ao método de impressão que tivemos a maior surpresa: se nas décadas passadas o xérox era a única maneira de fazer as cópias de um fanzine, nas edições que recebemos apenas 42,8% o utilizam como método de impressão. Retrato de um momento onde os custos de gráficas e afins se tornam mais baixos e acessíveis para faneditores com poucos recursos.

NÚMEROS

Sudeste 62,96% Nordeste 13,58% Sul 13,58% Centro Oeste 8,64% Norte 1,23%

RANKING DAS REGIÕES

xerox 42,8% offset 27,7% digital 18,25% outros 11,11%

MÉTODOS DE IMPRESSÃO

RANKING DOS TEMAS

Quadrinhos 33,6% Variedades 29,6% Outros 15,2% Política 8,8% Música 8% Literatura 4,8%

RANKING DAS TIRAGENS

101 - 500 25,39% 51 - 100 22,22% 501 - 1000 19,04% não informou 18,25% 01 - 50 10,31% 1001 - 4,76%

xerox

Sudeste

Nordeste

Sul

CentroOeste

offset

digital

outros

Quadrinhos 101 - 500

51 - 100

501 - 1000

não informou

01 - 50

1001-

Variedades

Política

Música

Literatura

Outros

UGRA PRESS - 201134 1o ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICACÕES ALTERNATIVAS 35

Espaços públicos onde qualquer um pode entrar, escolher um bom

zine e entregar-se à leitura desses artefatos culturais: estamos falando das fanzinotecas, locais que reunem e catalogam a produção de zines e outras publicações alternativas.

Operando em espaços paralelos às tradicionais bibliotecas ou em locais próprios, a equipe da Ugra conseguiu descobrir que no Brasil há, pelo menos, sete endereços que se dedicam a reunir fanzines. Alguns maiores, outros com menos recursos, um fato é inegável: a paixão de seus idealizadores por essas manifestações culturais.

É o caso de Law Tissot, o idealizador da Fanzinoteca Mutação, localizada na cidade gaúcha de Rio Grande, a 300Km

de Porto Alegre. Envolvido com fanzines desde os anos 80, Law sempre tinha so-nhado em criar um espaço que reunisse trabalhos de zineiros de todas as partes do Brasil. Após a participação de um edi-tal público em inícios de 2009 conseguiu recursos para, enfim, dar início ao projeto.

“Inicialmente eu comecei com os fanzi-nes que tinha em minhas mãos, algo em torno de 500 títulos”, disse. Através de contatos via blog e redes sociais conse-guiram mais e mais doações de fanzines. Hoje, em pouco mais de um ano de atividades, a Fanzinoteca Mutação conta com mais de 3.000 títulos. disponíveis para consulta e pesquisa. “Exemplares de diferentes formatos, gêneros, épocas e origens”, assegura Law.

Além do rico manancial de pesquisa,

a Fanzinoteca Mutação promove todos os sábados oficinas livres e gratuitas de fanzines –o que está atraindo novos inte-ressados para o mundo das publicações alternativas. “Basicamente quem frequen-ta nosso espaço é a nova geração do graffiti e alguns amigos da cena artística de Rio Grande”.

Nos idos de 2004, a cidade de Santos, no litoral de São Paulo, foi palco de uma iniciativa pioneira, capitaneada por Fábio Tatsubo. Numa parceria com a Gibiteca Marcel Rodrigues Paes, Tatsubo concebeu um projeto que ficou conhe-cido como sendo a primeira fanzinoteca brasileira. Apesar de não ter sede inde-pendente – atualmente, a Gibiteca acolhe seu acervo - , a fanzinoteca da Baixada Santista ganhou notoriedade país afora graças, especialmente, à Mostra Nacional de Fanzines, evento que se encontra já em sua 4ª edição. “O projeto tem o obje-tivo de preservar a produção autoral de HQs independentes, realizamos debates para integrar editores e personalidades das HQs com os editores independen-tes”, diz Fábio Tatsubo, que destaca tam-bém a diversidade do crescente acervo, contando com edições atuais e fanzines das décadas de 80 e 90. Segundo ele, esses zines mostram que as ferramentas dos antigos zineiros eram a máquina de escrever, papel, caneta, tesoura, cola e copiadora, oferecendo um rico panorama da produção da época.

A mesma paixão pelo zines também motiva a cearense Fernanda Meireles, que está criando uma fanzinoteca em Fortaleza. Com uma larga experiência envolvendo zines e educação, Fernanda teve a oportunidade de ganhar uma bolsa de intercâmbio pelo MinC (Ministério da Cultura) para pesquisar a Fanzinoteca de Poitiers, na França. Conhecer in loco sua história de 21 anos e os mais de 50.000 fanzines do acervo da fanzinoteca fran-cesa tornou-se decisivo para Fernanda: “Foi iluminador estudar a Fanzinothèque desde seus primeiros passos até hoje, pensar no que dessa história podemos aproveitar dentro da nossa realidade, que boas idéias podem funcionar, quais erros podemos evitar”.

O acervo da futura fanzinoteca já conta com uma boa quantidade de publicações e seus idealizadores agora buscam um espaço físico para disponibilizá-lo. “Uma fanzinoteca é uma ilha aberta e acessível que vai refletir o multifacetado panorama criativo que temos ao nosso redor atual-mente”, diz Fernanda. A aposta é que, tal como nos exemplos da Fanzinoteca Mutação e da Fanzinoteca de Santos, se consiga o apoio de políticas públicas para viabilizar o projeto.

ACERVOS

MINAS GERAIS

Gibiteca LeopoldinaEscola Municipal Judith Lintz Guedes Machado, s/n - Jardim Bela Vista,Leopoldina - MG - Cep. [email protected] www. gibitecacom.blogspot.com

SÃO PAULO

Gibiteca Sesi Vila LeopoldinaR. Carlos Weber, 835 - São Paulo/SPCEP: [email protected]

Gibiteca HenfilCentro Cultural São PauloR. Vergueiro, 1000São Paulo / SP - CEP: 01504-000gibiteca@prefeitura.sp.gov.brwww.centrocultural.sp.gov.br

Gibiteca de SantosAv. Costa Machado, 487Praia Grande / SP – CEP: [email protected]

Gibiteca de Santo AndréPraça IV Centenário, s/nºSanto André / SP - CEP: 09015-080. [email protected]

PARANÁ

Gibiteca de CuritibaRua Pres. Carlos Cavalcanti, 533Curitiba / PR – CEP: 80020-280 magarcia@fcc.curitiba.pr.gov.brwww.gibitecadecuritiba.blogspot.com

RIO GRANDE DO SUL

Fanzinoteca MutaçãoAv. Itália 2111, bloco 19B - apto 103Rio Grande / RS - CEP: [email protected]

ENDERECOS ÚTEISAlém de proporcionarem bons momentos de leitura, os acervos de zines são fun-damentais para a consolidação da memória e da prática fanzineira. Você, faneditor, pode fazer parte desta história enviando suas publicações para estes locais. A seguir, uma relação de endereços para onde você pode enviar seus trabalhos.

Nesta página, da esquerda para a direita:

Law Tissot, da Fanzinoteca Mutação; Fabio Tatsubo,

da Fanzinoteca de Santos e Fernanda Meireles, da aguardada

Fanzinoteca de Fortaleza

O jovem Anael, frequentador assíduo da Fanzinoteca Mutação

UGRA PRESS - 201136 1o ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICACÕES ALTERNATIVAS 37

OUVIR ATENTAMENTE (e em completo silêncio) o pro-fessor monologar por uma ou mais horas, decorar inu-

meráveis informações que não parecem fazer sentido algum, submeter-se a provas que nada mais são que testes de memó-

ria: por muito tempo a educação foi considerada um amálgama de tudo isso. Em seu altar de supremo conhecimento e mediante

técnicas pedagógicas de sabor duvidoso, o professor ministrava aulas que exigiam do aluno nada muito além do que sua capacidade

de repetir o que foi lido e/ou ouvido. Decorava-se a tabuada na aula de matemática, desenhavam-se deze-

nas de mapas em geografia, sabatinavam-se pequenas crianças a res-peito das propriedades atômicas do zinco –e tudo isso para quê?

Em um mundo onde o conhecimento se multiplica em escala exponencial, decorar informações não é mais uma habilidade imprescindível. Frente ao

bombardeio de informações a que estamos submetidos, é necessária uma “nova” habilidade: a capacidade de relacionar todas as informações ao nosso

alcance com rapidez, clareza e objetividade. O desafio nas salas de aula de hoje é formar alunos com senso crítico e independência de pensamento.

Comprometidos com essa visão pedagógica renovada, vários educadores realizam experiências em suas classes, na tentativa de “despertar” os alunos para novas e

excitantes maneiras de aprender. Dentro dessas experiências, alguns apresentaram aos seus discípulos o maravilhoso mundo dos fanzines. É sobre isso que falaremos

brevemente a seguir em três experiências envolvendo educação e fanzines.

Fanzinagem filosóficaRafael Huguenin é professor de filosofia no Ensino Médio da rede pública estadual do Rio de Janeiro. No início de 2010, de uma forma um pouco experimental, o professor resolveu trabalhar com fanzines em duas turmas.

O resultado foi excelente: “Foi um pro-cesso caótico. Eles discutiam muito, sem-pre de maneira apaixonada (...) Tornou-se possível realizar um verdadeiro trabalho de grupo, no qual alunos com interesses e habilidades diversas se envolveram.” Segundo Rafael a experiência será repe-tida agora em 2011, com mais turmas. O saldo principal foi mostrar, na prática, algo essencial para a filosofia: a liberdade para expressar e criticar ideias. O fanzi-ne, produto de um desejo de expressão pessoal/coletiva, tem profundas relações com o fazer filosófico: “Tentei mostrar que os zines, por estarem imbuídos daquele espírito do ´faça você mesmo´ e também pela sua facilidade de produção, repro-dução e distribuição, seriam uma espécie de análogo contemporâneo do bom e velho discurso em praça pública”.

Menores detentos também fanzinamZé Colméia não é só o urso que atormen-ta a vida do guarda Belo, é também o apelido de um dos fanzineiros mais ativos do Rio de Janeiro. E ativo também na militância fanzinística educacional: por três anos desenvolveu junto a uma ONG internacional uma oficina de fanzines com menores detentos do Complexo Bangu I, no Rio de Janeiro.

Apesar da curta duração dos encon-tros com os menores (pouco mais do que duas horas por turma) Zé Colméia testemunha que as realizações dos me-ninos eram muito interessantes: “Sempre conseguia extrair deles em forma de quadrinhos pensamentos textos algum registro desses encontros.”

A possibilidade de se expressar livre-mente através de cola, papel e tinta deve ter sido algo inédito para muitos daqueles garotos. Oferecendo-lhes a experiência da autoria, da produção de uma narrativa, quebra-se o privilégio da escrita como poder e democratiza-se a produção textual através do fanzine. E nisso Zé Colméia vê a melhor herança de sua formação punk: “Pude trabalhar com uma linguagem que você acredita ter potencial estético e que vem do desdobramento de uma cultura marginal, e usar isso como ferramenta pedagógica”.

Os fanzines invadem a universidadeExperiências com fanzines também foram feitas na formação de novos educadores. É o caso de Elydio dos Santos Neto, coor-denador do programa de pós-graduação em Educação da Universidade Metodista de São Paulo. Em seus cursos de mes-

trado, ministrou oficinas de produção de fanzines em conjunto com Gazy Andraus, doutor em Ciências da Informação pela ECA-USP e criador das histórias em qua-drinhos fantástico-filosóficas, gênero de HQ genuinamente brasileiro que pode ser resumido como uma gnose de si através da experiência da criação de quadrinhos.

Em artigo recente Elydio e Gazy sustentam que “a construção do conhe-cimento se faz na relação, no encontro e, portanto, além do conhecimento inte-lectual crítico, exige também afetividade, diálogo e escuta sensível”. Com a oficina de criação de zines tinham por objetivo exercitar essa premissa, propondo aos mestrando a construção de um biografi-czine, ou zine autobiográfico onde cada mestrando refletiria criticamente sobre sua trajetória.

Como foi a minha vida até agora? Que escolhas me levaram a ser um educador? Que experiências mais me marcaram? – estas e outras perguntas deveriam

NOVOS RUMOS

os zines, por estarem imbuídos daquele espírito do ´faca você mesmo e também pela sua facilidade de producão, reproducão e distribuicão, seriam uma espécie de análogo contemporâneo do bom e velho discurso em praca pública

ser contempladas no ato de criação do biograficzine, onde os mestrandos colocariam “a mão na massa”: papel, cola, canetas, tesouras e asas livres para a criativade. Ao final, os trabalhos seriam compartilhados com os colegas de turma, na tentativa de que todos se conheces-sem melhor.

Elydio conseguiu apresentar o universo dos fanzines como ferramenta pedagó-gica para futuros professores. Talvez, em suas trajetórias profissionais, eles empreendam experiências como as que foram realizadas pelo Rafael e Zé Col-méia e, claro, muitos outros que estão por aí educando com base em novos valores: mais democráticos, mais ousados e mais criativos, onde a produção e leitura de fanzines têm se mostrado bastante enriquecedoras.

“Dos zines aos biograficzines: compar-tilhar narrativas de vida e formação com imagens, criatividade de autoria” IN Fan-zines: Autoria, Subjetividade e Invenção de Si. /Celina Rodrigues Muniz [organiza-dora] – Fortaleza: Edições UFC, 2010.

Duas edições do Biograficzine editado pelo professor Elydio dos Santos

Neto nos cursos de pós-graduação em Educação.

Desenho de Pedro Luiz Nascimento publicado no zine AfroArteKomix após oficina ministrada por Ramón de Castro, o Zé Colméia.

UGRA PRESS - 201138 1o ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICACÕES ALTERNATIVAS 39

FANZINES NãO EXISTEM! E são paratópicos! Quer dizer que estão...

e não estão! Como na física dos quanta, em que as micropartículas podem existir como matéria...ou como onda probabilís-tica! O colapso se dá quando a consciên-cia do observador depreende de tal fato e possibilita a “materialização” da onda. Na vida social que construímos, o mesmo se dá, já que estipulamos e aplicamos valores. Assim, por exemplo, um escritor se torna tal profissional quando uma criação sua escoa pela editoração oficial num rebento chamado livro! E eis que existe a literatura e o autor! A sociedade se embrenha em consumar o fato, consu-mindo sua idéia de cabo a rabo. E assim seu livro é vendido...em forma de papel, e agora pela Internet como um e-book ou então sendo baixado nos atuais I-Pads (o futuro “material” dos livros).Porém, não existe apenas aquele autor...outros de nós poderiam nos tornarmos tais e quais, autores! Mas como, se a sagração do profissional depende de números, editoras, classificações (e um pouco de sorte)?A paratopia na literatura quer trazer uma localização em paralelo (do grego para = ao lado de e topos = lugar) de uma “escritura” que não existe...oficialmente! Mas que está lá apesar disso.Todos nós temos cérebros, formatados por uma mente que pensa, intui e cria. Será que isso não nos dá direito de, paratopica-mente, sermos também autores? É o que o fanzinato faz...os fanzines são criações independentes, libertárias, paratópicas, imagético-literárias, anárquicas, vivas, bidimensionais (e até tri- ou quadridimen-sionais), e que se refletem atualmente na forma de blogs (mescla de zine com diários) na Internet. Os fanzines, cujo título vem do neologismo inglês “fan + magazine”, desde os boletins da década de 1930, até os libelos criativos de HQ e literatura da década de 1960 e 70, para a ampliação punk inglesa e americana dos anos 1970, e a expansão e possibilidade

de publicação dos quadrinhos nacionais (que à década de 1980 eram também paratópicos – pois aqui no Brasil só se editavam mais os quadrinhos gringos), sobreviveram e se recriaram nas décadas de 80 e 90, ultrapassando incólumes os anos 2000. Assim, já completando mais uma década, aparecem finalmente na educação formal escolar, em mestra-dos e teses de doutorado e pós-docs, bem como em aulas de pós-graduação, despontando até em livros de língua portuguesa na escola e filmes docu-mentários (vide o filme “Pro dia nascer feliz”), mesclando-se na Internet com os sites e blogs, dando mostra de seu vigor sempre renovado, paratopizado, e quântico: está e não está na sociedade, ainda que a maior parte dela desavisada não o saiba (como as micropartículas que paradoxalmente também são ondas de probabilidade). De uns tempos para cá, os zines foram utilizados em livros escolares (Cadernos de Apoio e Aprendi-zagem de Língua Portuguesa, produzido pela Fundação Padre Anchieta) como uma linguagem potencial a ser usada...incluindo os novos e inéditos “biografic-zines”, criados pelo educador e filósofo Elydio dos Santos Neto, como recurso criativo e metodológico aplicados nas aulas de pós-graduação no mestrado

para Pedagogia, como forma inusitada e vanguardista de auto-desenvolvimento e metodologia educacional! Na vanguarda, como sempre o foram os zines!Eis que esses fanzines subsistem na trincheira zineira, com zinismos eston-teantes e em fanzinotecas espalhadas pelo mundo, zinamente indo onde livros e revistas comuns jamais foram, forjando novos paratópicos escritores/ilustradores/fazedores/criadores e zineiros. Resistem assim, confraternizam, expandem suas concepções e idéias, e ao se renovarem, arregimentam mais autores, coautores, lei-tores, educadores e amigos fieis da cria-tividade e liberdade: os únicos motivos reais para nossa existência, e para esse 1º Anuário de fanzines brasileiro elabora-do pela Ugra Press, que veio no momento propício, cultural, existencial, paratópico e quântico! Pois embora os fanzines não sejam largamente conhecidos popular-mente, sua influência (que começa a se embrenhar até nas escolas) sempre se faz presente, trazendo novas incursões ao futuro: é possível que os zines jamais de-sapareçam, embora possam conviver e/ou “mutar” hibridamente de suportes (do papel à Internet, I-Pads, blogs etc)...no vindouro, o que se reserva a eles depen-derá exclusivamente das ideias libertárias do ser humano: se este as perder, então o fanzine deixará de existir! Ou seja, da mente humana é que depende a manu-tenção – seja ela qual for – dos criativos, essenciais e paratópicos zines!

São Vicente/SP, janeiro de 2011

Gazy Andraus é Pesquisador do Obser-vatório de Quadrinhos da Escola de Co-municações e Artes da USP (ECA-USP), Doutor em Ciências da Comunicação da ECA-USP (melhor tese de 2006 pelo HQMIX em 2007), Mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da UNESP, e autor de histórias em quadrinhos autorais adul-tas, de temática fantástico-filosófica.Contato: [email protected]

OPINIÃO

no vindouro, o que se reserva a eles dependerá exclusivamente das ideias libertárias do ser humano: se este as perder, então o fanzine deixará de existir!

UGRA PRESS - 201140