antropologia - unidade_2_2 rev1

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4.1 INTRODUÇÃO O O intento da unidade 4 é conceituar e estudar as características e propostas teórico- metodológicas da Escola Antropológica Culturalista e da Escola Antropológica Interpretativa. É destacada, primeiramente, a importância dos trabalhos dos culturalistas influenciados por Franz Boas: Edward Sapir, Ruth Benedict e Margareth Mead. Num segundo momento, são debatidas as concepções da antropologia interpretativa de Clifford Geertz, que é considerado herdeiro do culturalismo norte-americano. Na unidade em questão, foram abordados as seguintes temáticas: » Culturalismo norte- americano; » A Cultura como texto. Ao final da unidade, o/a estudante será capaz de: » Definir e Refletir sobre os procedimentos teórico- metodológicos da Escola Antropológica do Culturalismo norte-americano; » Compreender e entender as propostas epistemológicas da Escola Antropológica Interpretativa e suas concepções da cultura como texto. AULA 4 A Antropologia Culturalista e Interpretativa Autor: Prof. Dr. Marcelo Flório ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA 50 4.2 CULTURALISMO NORTE-AMERICANO No século XX, a partir dos anos 20, foi desenvolvida a escola antropológica, que ficou conhecida pelo nome de “Culturalismo Norte-Americano”. O Culturalismo teve origem nos estudos de Franz Boas, nos Estados Unidos, e, influenciou os trabalhos antropológicos de Edward Sapir, Ruth Benedict e Margareth Mead, dentre outros importantes expoentes (ROCHA; TOSTA, 2009, p. 102-104). O Culturalismo apresenta as seguintes características, de acordo com Rocha (2004, p. 108): 1) “Ênfase no estudo das especificidades culturais locais em termos de totalidade coerente e integrada, mas não necessariamente funcional”. O Culturalismo tem como foco o estudo de características da cultura de um determinado lugar e tempo. Exemplo: o estudo dos índios Nhambiquara (o estudo da especificidade cultural local), no Mato Grosso. 2) “Ênfase na estratégia metodológica de comparação de sistemas culturais diferentes”. O Culturalismo parte da premissa de que a comparação pode ser realizada entre as culturas, porém não pode ser produzida caso seja permeada por estudos preconceituosos, tais como as tipologias evolucionistas: cultura superior e cultura inferior. 3) “Ênfase na interdisciplinaridade, sobretudo com a psicologia, sem desprezar a importância da história e da sociologia’”. O Culturalismo demonstra preocupação em desenvolver análises das culturas específicas com base no conhecimento da interdisciplinaridade: o diálogo da antropologia com a sociologia e a história e, principalmente, com a área da psicologia. 4) “Ênfase na relação indivíduo/sociedade transporta para os termos da cultura e personalidade resultando na caracterização de configurações culturais e tipos psicológicos”. O Culturalismo apresenta,

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Antropologia - UnidadeDiscutiu-se na unidade 4que, no século XX, a partirdos anos 20, foidesenvolvida a escolaantropológica,que ficou conhecida pelonome de “CulturalismoNorte-Americano”. OCulturalismo teve origemnosestudos de Franz Boas, nosEstados Unidos, e,influenciou os trabalhosantropológicos de EdwardSapir, Ruth Benedict eMargareth Mead, dentreoutros importantesexpoentes (ROCHA; TOSTA,2009,p. 102-104).Primeiramente, foi debatidoque o antropólogoculturalista Edward Sapir éum dos principais estudiososinfluenciados por FranzBoas. ocidental e os seus ritmosdeindustrialização ameaçammuitos modos de viver, agire pensar nas sociedades.Analisou-se, em seguida,que um dos grandesobjetivos da antropólogaculturalista Ruth Benedictfoi o de compreender atotalidade de umadeterminada cultura echegou à conclusão de quehádeterminados aspectos dacultura que são assimiladospelos indivíduos e queexpressam um tipo depersonalidade idealizadapela cultura. Nessa acepção,grande parte dosintegrantes de uma culturareflete a personalidadeadotada como padrãocultural.Margarth Mead foi a últimaculturalista analisada naunidade. Margareth Meadteve como fococentral de seus estudos, ointeresse em pesquisarcomo os grupos sociaiscriam suas crianças edemonstra, em seusmétodos científicos, comoocorrem as práticas desocialização de um grupo ecomo estas socializaçõesestão relacionadas à culturae à personalidade. Nessadimensão de análise, aantropóloga desenvolveestudos comparativos depersonalidades entre asculturas analisadas e entreas personalidades masculinae feminina nas culturas.Nesse sentido, aantropóloga Meadcompreendeque cada grupo socialelabora maneirasdiferenciadas de agir epensar, a partir do quedenomina de“novelos” (modelos)universais.Em seguida, foi discutida aproposta antropológica deClifford Geertz (ROCHA;TOSTA, 2009, p. 108),que a partir da década de60, do século XX, éconsiderado o maisimportante representanteda áreada escola antropológicainterpretativa(hermenêutica). É conhecidocomo herdeiro doculturalismo deBoas, Benedict e Mead econcebe a cultura como oconjunto de textos, sobre osquais o antropólogofará leituras sobre o vivercotidiano dos nativos (os“nativos” são os indivíduospertencentes de umadeterminada cultura).Na acepção da antropologiainterpretativa, a cultura écomo um texto a ser lido einterpretado, quese realiza em todos os locaise, está sempre acessível àinterpretação. Cada textocarrega consigoos significados subjetivosque orientam as ações e asrelações dos indivíduos.Nessa perspectiva, acultura, concebida comotexto, é o mesmo queconsiderá-la comolinguagem. Dessa feita, osseresANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA62humanos constroem teiasde significados tecidas poreles próprios. Então, acultura é empreendidapor teias e as suasinterpretações.

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  • 4.1 INTRODUO

    O O intento da unidade 4 conceituar e estudar as caractersticas e propostas terico-metodolgicas da Escola Antropolgica Culturalista e da Escola Antropolgica Interpretativa. destacada, primeiramente, a importncia dos trabalhos dos culturalistas influenciados por Franz Boas: Edward Sapir, Ruth Benedict e Margareth Mead. Num segundo momento, so debatidas as concepes da antropologia interpretativa de Clifford Geertz, que considerado herdeiro do culturalismo norte-americano. Na unidade em questo, foram abordados as seguintes temticas: Culturalismo norte-americano; A Cultura como texto. Ao final da unidade, o/a estudante ser capaz de:

    Definir e Refletir sobre os procedimentos terico-metodolgicos da Escola Antropolgica do Culturalismo norte-americano; Compreender e entender as propostas epistemolgicas da Escola Antropolgica Interpretativa e suas concepes da cultura como texto.

    AULA 4 A Antropologia Culturalista e Interpretativa Autor: Prof. Dr. Marcelo Flrio ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA

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    4.2 CULTURALISMO NORTE-AMERICANO No sculo XX, a partir dos anos 20, foi desenvolvida a escola antropolgica, que ficou conhecida pelo nome de Culturalismo Norte-Americano. O Culturalismo teve origem nos estudos de Franz Boas, nos

    Estados Unidos, e, influenciou os trabalhos antropolgicos de Edward Sapir, Ruth Benedict e Margareth Mead, dentre outros importantes expoentes (ROCHA; TOSTA, 2009, p. 102-104). O Culturalismo apresenta as seguintes caractersticas, de acordo com Rocha (2004, p. 108): 1) nfase no estudo das especificidades culturais locais em termos de totalidade coerente e integrada, mas no necessariamente funcional. O Culturalismo tem como foco o estudo de caractersticas da cultura de um determinado lugar e tempo. Exemplo: o estudo dos ndios Nhambiquara (o estudo da especificidade cultural local), no Mato Grosso. 2) nfase na estratgia metodolgica de comparao de sistemas culturais diferentes. O Culturalismo parte da premissa de que a

    comparao pode ser realizada entre as culturas, porm no pode ser produzida caso seja permeada por estudos preconceituosos, tais como as tipologias evolucionistas: cultura superior e cultura inferior. 3) nfase na interdisciplinaridade, sobretudo com a psicologia, sem desprezar a importncia da histria e da sociologia. O Culturalismo demonstra preocupao em desenvolver anlises das culturas especficas com base no conhecimento da interdisciplinaridade: o dilogo da antropologia com a sociologia e a histria e, principalmente, com a rea da psicologia. 4) nfase na relao indivduo/sociedade transporta para os termos da cultura e personalidade resultando na caracterizao de configuraes culturais e tipos psicolgicos. O Culturalismo apresenta,

  • dentre suas vertentes de anlise antropolgica uma que concepo denominada: configuracionismo, que tem como objetivo o estudo da integrao e da singularidade de uma determinada cultura. Nessa viso, a cultura seria a integrao entre diversos elementos da cultura num determinado tempo e espao (MARCONI; PRESOTTO, 2011, p. 259). 5) nfase nos processos de socializao, em particular, a educao infantil. O Culturalismo apresenta uma perspectiva analtica que preconiza o estudo das relaes entre educao e infncia. 6) nfase no trabalho de campo como metfora de laboratrio natural do antroplogo. O Culturalismo concebe que a etnografia um trabalho vital para a constituio dos estudos da rea de antropologia. AULA 4 - A ANTROPOLOGIA CULTURALISTA E INTERPRETATIVA

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    Caractersticas da Escola Culturalista 1. nfase no estudo das especificidades culturais locais em termos de totalidade coerente e integrada, mas no necessariamente funcional; 2. nfase na estratgia metodolgica de comparao de sistemas culturais diferentes; 3. nfase na interdisciplinaridade, sobretudo com a psicologia, sem desprezar a importncia da histria e da sociologia; 4. nfase na relao indivduo/sociedade transporta para os termos da cultura e personalidade resultando na caracterizao de configuraes culturais e tipos psicolgicos; 5. nfase nos processos de socializao, em particular, a educao infantil; 6. nfase no trabalho de campo como metfora de

    laboratrio natural do antroplogo. Excerto de autoria de: ROCHA, G. Culturas e personalidades: as experincias etnogrficas de Ruth Benedict e Margareth Mead nos anos 20-40. Cadernos de Estudos Sociais, v. 20, n. 1, p. 107-128, 2004. O antroplogo culturalista Edward Sapir um dos principais estudiosos influenciados por Franz Boas. Suas anlises sinalizaram que a civilizao ocidental e os seus ritmos de industrializao ameaam muitos modos de viver, agir e pensar nas sociedades. Segundo o antroplogo, a telefonista (como outros profissionais), por exemplo, manipulada por uma sociedade que prioriza as tcnicas e processos industrializados e, desse modo, no valoriza os seus modos de ser e viver em culturas modernas e ocidentais. De acordo com Sapir (apud

    Rocha; Tosta, 2009, p. 105): A telefonista (...) empresta a sua capacidade, durante a maior parte de cada dia de sua existncia, manipulao de uma rotina tcnica que tem afinal valor de eficincia, mas que no corresponde a nenhuma necessidade espiritual dela mesma, representa um espantoso sacrifcio civilizao.

    De acordo com Sapir (MARCONI; PRESOTTO, 2011, p. 260), todo comportamento humano apresenta uma configurao inconsciente, e nem sempre comunicada mente do indivduo. A base dessa vertente culturalista a compreenso de que as culturas no so entidades objetivas, mas configuraes abstratas de ideias e padres de ao, que apresentam significados diferenciados para os indivduos de um determinado grupo social. ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA

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    Edward Sapir: Configurao Inconsciente

  • Para Edward Sapir, todo comportamento humano apresenta uma configurao inconsciente, e nem sempre comunicada mente do indivduo. A base dessa vertente culturalista a compreenso de que as culturas no so entidades objetivas, mas configuraes abstratas de ideias e padres de ao, que apresentam significados diferenciados para os indivduos de um determinado grupo social. Referncia Bibliogrfica: MARCONI, Marina de A; PRESOTTO, Zlia M. N. Antropologia: uma introduo. So Paulo: Editora Atlas, 2011. A antroploga Ruth Benedict outra expoente significativa do culturalismo norte-americano, que tambm realizou em seus estudos a vertente de estudo configuracional da cultura (configuracionismo). Seu objetivo foi o de compreender a totalidade de uma determinada cultura

    e chegou concluso de que h determinados aspectos da cultura que so assimilados pelos indivduos e que expressam um tipo de personalidade idealizada pela cultura. Nessa acepo, grande parte dos integrantes de uma cultura reflete a personalidade adotada como padro cultural (idem, 2011, p. 193). Ruth Benedict: A Terminologia dos Padres Culturais e Personalidade O objetivo de Ruth Benedict foi o de compreender a totalidade de uma determinada cultura e chegou concluso de que h determinados aspectos da cultura que so assimilados pelos indivduos e que expressam um tipo de personalidade idealizada pela cultura. Nessa acepo, grande parte dos integrantes de uma cultura reflete a personalidade adotada como padro cultural (idem, 2011, p. 193). Marconi e Presotto (2001, p. 260) exemplificam a postura

    antropolgica de Benedict: Uma regio, por exemplo, deve ser observada como uma configurao de instituies, costumes, tradies, meios de transporte etc., dentro de certa rea geogrfica, com um carter prprio. Nessa vertente, cada cultura possui propsitos prprios ou molas mestras emocionais e intelectuais que esto inseridas nos comportamentos de uma determinada sociedade. Referncia Bibliogrfica: MARCONI, Marina de A; PRESOTTO, Zlia M. N. Antropologia: uma introduo. So Paulo: Editora Atlas, 2011. Marconi e Presotto (2001, p. 260) exemplificam a postura antropolgica de Benedict: Uma regio, por exemplo, deve ser observada como uma configurao de instituies, costumes, tradies, meios AULA 4 - A ANTROPOLOGIA CULTURALISTA E INTERPRETATIVA

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    de transporte etc., dentro de certa rea geogrfica, com um carter prprio. Nessa vertente, cada cultura possui propsitos prprios ou molas mestras emocionais e intelectuais que esto inseridas nos comportamentos de uma determinada sociedade. Benedict compreende a cultura como um grande arco, sob o qual esto alocados os interesses e possibilidades da vida humana (Rocha; Tosta, 2009, p.106). Est presente nessa postura terica a noo de padres culturais, que segundo a antroploga, faz referncia cultura como modelo do pensamento e da ao dos indivduos (apud MARCONI; PRESOTTO, 2011, p.260): Uma cultura, como um indivduo, um modelo mais ou menos consistente de pensamento e ao. Dentro de cada cultura surgem objetivos caractersticos no necessariamente partilhados por outros tipos de sociedade. Em obedincia a

  • esses objetivos, cada povo consolida cada vez mais a sua experincia, leva os heterogneos aspectos de comportamento a assumirem formas cada vez mais congruentes.

    Os padres culturais, na concepo de Benedict, so preestabelecidos por uma determinada sociedade. Essa viso compreende que a maioria dos integrantes de um grupo social moldada pela cultura, de modo a adotar o comportamento configurado pelo contexto da sociedade - que o orientador das condutas humanas no grupo social - e est relacionada com psicologia do indivduo. Nessa viso, pode-se afirmar que (idem, 2011, p.185): Padres de cultura preestabelecidos, orientadores da conduta, acham-se intimamente relacionados com a psicologia dinmica do indivduo. Contudo, no se pode admitir, dada a diferena de temperamento das pessoas, uma aceitao compulsria do comportamento ditado pela sua sociedade.

    Entretanto, a maioria dos seus membros moldada pela prpria cultura, adotando espontaneamente o comportamento configurado pelo contexto em que vive.

    Para a antroploga, o comportamento de um grupo tem razes no comportamento individual. Desse modo, pode-se dizer que a sociedade e o indivduo so interdependentes e no separados (ibidem, 2011,p. 185): O comportamento grupal tem suas razes no comportamento individual, no havendo antagonismo, mas inter-relao entre o grupo social e os membros que o compem. A sociedade no pode ser separada dos indivduos e, por sua vez, nenhum indivduo alcanar suas potencialidades sem uma cultura em que participe.

    Benedict tambm postula que as culturas expressam diferentes comportamentos e padres emocionais, o que ela denominou de configurao dionisaca e apolnea. Essas referncias

    foram tomadas de emprstimo do filsofo Nietzsche, que construiu a noo dionisaca e apolnea, a partir de metforas advindas da mitologia grega, dos mitos de Dionsio e Apolo. Uma sociedade com configurao dionisaca aquela que caracterizada por reaes emocionais violentas e uma sociedade com configurao apolnea a que tem reaes emocionais equilibradas. Pode-se exemplificar a configurao dionisaca e apolnea com os ndios Bororo, grupo do Mato Grosso: No Brasil, os Bororo, grupo tribal de Mato Grosso, constituem-se em um exemplo dessas manifestaes, durante a realizao de um funeral, face molstia ou morte. Nesses casos, torna-se possvel reconhecer para o homem Bororo um padro apolneo de comportamento, ou seja, conduta emocionalmente equilibrada, justa e tradicional. A mulher Bororo, por sua vez, reage dentro de

    experincias opostas, de carter violento, reao emocional dionisaca, onde as emoes so exploradas ao mximo: escarificaes, verdadeiras autotorturas, ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA

    54 so praticadas por elas. a tenso emocional feminina ante a ameaa constante do sobrenatural. (Segundo o dicionrio Houaiss: escarificao uma srie de arranhes ou pequenas incises praticadas sobre uma superfcie)

    Na viso de Benedict, a cultura de um povo no envolve apenas costumes e tradies, mas, tambm, pensamentos, aes e emoes. E, nesse sentido, enfatiza se o que nos interessa so os processos na cultura, a nica forma de podermos conhecer o significado do pormenor de comportamento escolhido v-lo contra o fundo de motivos e emoes e valores institucionalizados nessa cultura (apud ROCHA; TOSTA, 2009, p. 106).

  • As contribuies da antropologia culturalista e configuracionista, de Ruth Benedic, podem ser identificadas a partir de quatro critrios (MARCONI; PRESOTTO, 2011, p. 261): 1) Vrios conceitos so empregados em sua vertente antropolgica: configuraes, padres de cultura, propsitos, molas mestras, entre outros. 2) Todo comportamento humano simblico. 3) As culturas so investigadas a partir de procedimentos etnogrficos. 4) Emprego de conceitos psicolgicos advindos de Nietzsche e Spengler, ao classificar a cultura como: apolnea ou cultura invertida e dionisaca ou cultura extrovertida. INTEGRAO CULTURA/INDIVDUO Uma cultura, como um indivduo, um modelo mais ou menos consistente de pensamento e ao. Dentro de cada cultura surgem objetivos caractersticos no necessariamente partilhados

    por outros tipos de sociedade. Em obedincia a esses objetivos, cada povo consolida cada vez mais a sua experincia, leva os heterogneos aspectos de comportamento a assumirem formas cada vez mais congruentes. Padres de cultura preestabelecidos, orientadores da conduta, acham- -se intimamente relacionados com a psicologia dinmica do indivduo. Contudo, no se pode admitir, dada a diferena de temperamento das pessoas, uma aceitao compulsria do comportamento ditado pela sua sociedade. Entretanto, a maioria dos seus membros moldada pela prpria cultura, adotando espontaneamente o comportamento configurado pelo contexto em que vive. (RUTH BENEDICT apud MARCONI; PRESOTTO, 2011, p.260).

    Referncia Bibliogrfica: MARCONI, MARINA de A; PRESOTTO, Zlia M. N. Antropologia: uma introduo. So Paulo: Editora Atlas, 2011. AULA 4 - A ANTROPOLOGIA CULTURALISTA E INTERPRETATIVA

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    Ruth Benedict: Configurao Dionisaca e Apolnea Pode-se exemplificar a configurao dionisaca e apolnea com os ndios Bororo, grupo do Mato Grosso: No Brasil, os Bororo, grupo tribal de Mato Grosso, constituem-se em um exemplo dessas manifestaes, durante a realizao de um funeral, face molstia ou morte. Nesses casos, torna-se possvel reconhecer para o homem Bororo um padro apolneo de comportamento, ou seja, conduta emocionalmente equilibrada, justa e tradicional. A mulher Bororo, por sua vez, reage dentro de

    experincias opostas, de carter violento, reao emocional dionisaca, onde as emoes so exploradas ao mximo: escarificaes, verdadeiras autotorturas, so praticadas por elas. a tenso emocional feminina ante a ameaa constante do sobrenatural. MARCONI, MARINA de A; PRESOTTO, Zlia M. N. Antropologia: uma introduo. So Paulo: Editora Atlas, 2011. Margareth Mead outra antroploga de destaque da escola culturalista. Mead teve como preocupao o estudo de como os grupos sociais criam suas crianas e demonstra como os mtodos de socializao de um grupo esto relacionados cultura e personalidade. Nessa dimenso de anlise, a antroploga desenvolve estudos comparativos de personalidades entre as culturas analisadas e entre as personalidades masculina e feminina nas culturas

  • (idem, 2011, p. 191): Investigando outras trs tribos da Nova Guin, os Arapesh, os Mundugumor e os Tchambuli, desenvolve um estudo comparativo de personalidades nessas diferentes culturas. Entre os primeiros verificou que homens e mulheres atuam de forma evidentemente feminina: ambos so maternais, passivos, carinhosos e gentis. Entre os Mundugumor, tanto os homens como as mulheres agem de forma predominantemente masculina: so violentos, agressivos, competitivos e hostis. Entre os Tchambuli, observou uma inverso de papis masculinos e femininos, ou seja, as mulheres dirigem e dominam, enquanto os homens so submissos, passivos e dependentes emocionalmente das mulheres. So diferenas fundamentais que contrastam com as personalidades masculina e feminina encontradas nas sociedades em geral, como acontece no mundo ocidental.

    A antroploga Mead (1976, p. 19-20) analisa que cada grupo social elabora maneiras diferenciadas

    de agir e pensar, a partir do que denomina de novelos (modelos) universais. Nessa viso, o ser humano em cada sociedade elabora uma trama cultural: Trabalhando com novelos to universais e to simples como esses, o homem construiu para si mesmo uma trama de cultura em cujo interior cada vida humana foi dignificada pela forma e pelo significado. O homem no se tornou simplesmente mais um dos animais que se acasalavam, lutavam por seu alimento e morriam, mas um ser humano, com um nome, uma posio e um deus.

    Na trama cultural tecida pelos seres humanos, em cada grupo social, alguns novelos so escolhidos, j outros so ignorados, o que atribui a cada cultura um carter singular: (...) Cada povo constri (essa) tessitura de maneira diferente, escolhe alguns novelos e ignora outro, acentua um setor diferente ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA

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    da gama total das potencialidades humanas. Onde uma cultura emprega, por trama principal, o ego vulnervel, pronto a sentir-se insultado ou a sucumbir de vergonha, outra escolhe a coragem inflexvel (...) (idem, 1976, p. 19-20). Margarth Mead: Estudos Comparativos de Personalidades Entre as Culturas Margareth Mead teve como preocupao o estudo de como os grupos sociais criam suas crianas e demonstra como os mtodos de socializa- o de um grupo esto relacionados cultura e personalidade. Nessa dimenso de anlise, a antroploga desenvolve estudos comparativos de personalidades entre as culturas analisadas e entre as personalidades masculina e feminina nas culturas (idem, 2011, p. 191): Investigando outras trs tribos da Nova Guin, os Arapesh, os Mundugumor e os Tchambuli, desenvolve

    um estudo comparativo de personalidades nessas diferentes culturas. Entre os primeiros verificou que homens e mulheres atuam de forma evidentemente feminina: ambos so maternais, passivos, carinhosos e gentis. Entre os Mundugumor, tanto os homens como as mulheres agem de forma predominantemente masculina: so violentos, agressivos, competitivos e hostis. Entre os Tchambuli, observou uma inverso de papis masculinos e femininos, ou seja, as mulheres dirigem e dominam, enquanto os homens so submissos, passivos e dependentes emocionalmente das mulheres. So diferenas fundamentais que contrastam com as personalidades masculina e feminina encontradas nas sociedades em geral, como acontece no mundo ocidental.

  • Referncia Bibliogrfica: MARCONI, MARINA de A; PRESOTTO, Zlia M. N. Antropologia: uma introduo. So Paulo: Editora Atlas, 2011. Margareth Mead estabeleceu trs tipos de cultura, demonstrando que h tipos diferenciados de organizao cultural: culturas ps-figurativas; culturas co-figurativas e culturas pr-figurativas. De acordo com a antroploga, esses trs tipos de culturas podem coexistir nas culturas modernas da atualidade (FORQUIN, 2003, p. 6-8). 1) As culturas ps-figurativas As culturas ps-figurativas so sociedades em que prevalecem as autoridades dos mais velhos, as marcas do passado e a tradio, ao mesmo tempo, em que as mudanas so mais lentas e imperceptveis: As culturas ps-figurativas ocuparam o maior espao na histria humana. So as das sociedades (ditas) primitivas

    e daquilo que a autora chama de pequenos enclaves religiosos ou ideolgicos, em todos os lugares onde predominam a tradio, a autoridade dos ancies, as marcas do passado. Uma cultura psfigurativa uma cultura na qual a mudana to lenta e to imperceptvel que os avs, segurando os seus netos recm-nascidos no colo, no so capazes de AULA 4 - A ANTROPOLOGIA CULTURALISTA E INTERPRETATIVA

    57 imaginar para eles um futuro diferente do que foi o seu prprio passado (idem, 2003, p. 6-8).

    2) As culturas co-figurativas As culturas co-figurativas so sociedades que os pares substituem os pais como modelos de comportamentos e aprendizados. Mead exemplifica que os filhos de imigrantes podem aprender mais com os colegas (pares) do que com seus pais. (...) numa cultura co-figurativa, a influncia dominante no provm dos ancies, e sim dos pares, dos contemporneos, daqueles que, sejam eles crianas ou adultos, pertencem a uma mesma

    classe ou categoria de idade. As grandes civilizaes, que desenvolveram necessariamente tcnicas para assimilar a inovao, tm como caracterstica de utilizar algumas formas de educao cofigurativa entre pares, entre parceiros de jogos, de estudos e de aprendizagem (idem, 2003, p. 6-8).

    3) Culturas pr-figurativas As culturas pr-figurativas so as sociedades em que os adultos aprendem com os jovens. Pode-se exemplificar essa questo com as novas tecnologias que fazem com que as geraes mais jovens ensinem as mais velhas. No passado, sempre havia adultos que sabiam muito mais coisas do que qualquer criana, pelo fato de terem crescido no interior de um sistema cultural. Hoje no existe mais nenhum. No s porque os pais deixaram de ser guias, mas tambm porque no existem mais guias, por mais que se procure por eles no seu prprio pas ou no exterior. Nenhum adulto de hoje sabe do nosso mundo o que dele sabem as crianas (...) (idem, 2003, p. 6-8)

    Margareth Mead: Conceito de Trama Cultural A antroploga Margareth Mead analisa que cada grupo social elabora maneiras diferenciadas de agir e pensar, a partir do que denomina de novelos (modelos) universais. Nessa viso, o ser humano em cada sociedade elabora uma trama cultural: Trabalhando com novelos to universais e to simples como esses, o homem construiu para si mesmo uma trama de cultura em cujo interior cada vida humana foi dignificada pela forma e pelo significado. O homem no se tornou simplesmente mais um dos animais que se acasalavam, lutavam por seu alimento e morriam, mas um ser humano, com um nome, uma posio e um deus. Referncia Bibliogrfica: MEAD, Margareth. Sexo e temperamento. So Paulo: Perspectiva,

  • 1976, p. 19-20. ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA

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    4.3 A CULTURA COMO TEXTO O estudioso Clifford Geertz (ROCHA; TOSTA, 2009, p. 108), a partir da dcada de 60, do sculo XX, considerado o mais importante representante da rea da escola antropolgica interpretativa (hermenutica). O antroplogo conhecido como herdeiro do culturalismo de Boas, Benedict e Mead e concebe a cultura como o conjunto de textos, sobre os quais o antroplogo far leituras sobre o viver cotidiano dos nativos (os nativos so os indivduos pertencentes de uma determinada cultura). De acordo com o prprio Geertz (1989, p. 15), a cultura, concebida como texto, o mesmo que consider-la linguagem. Dessa feita, os seres humanos constroem teias de significados tecidas por

    eles prprios. Ento, a cultura empreendida por teias e as suas interpretaes: O conceito de cultura que eu defendo, e cuja utilidade os ensaios (...) tentam demonstrar, essencialmente semitico. Acreditando, como (o filsofo) Max Weber, que o homem um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias e a sua anlise; portanto, no como uma cincia experimental em busca de leis, mas como uma cincia interpretativa, procura do significado

    A cultura como um texto a ser lido e interpretado, que se realiza em todos os locais e, est sempre acessvel interpretao. Cada texto carrega consigo os significados subjetivos que orientam as aes e as relaes dos indivduos. De acordo com Rocha e Tosta, os significados da cultura so linguagens constitutivas da vida social: Os significados esto agarrados linguagem como

    representaes sobre homens e coisas, subvertendo os signos por serem carregados de sentido subjetivo, ainda que submetidos a um sistema de ideias e valores de uma cultura (2009, p. 108). Para Geertz (2009, p. 20), a elaborao da etnografia no um dado da natureza e nem definida por tcnicas e tambm no somente estabelecer relaes, informantes, manter dirios e elaborar genealogias e mapeamentos do campo a ser estudado. Em sua acepo, o mais importante e o que define a etnografia a realizao do que denomina de descrio densa, e que deve ser conduzida a ponto de produzir mergulhos sobre a vida cotidiana de uma determinada cultura e, para tanto, tem que ser atividade microscpica, a ser empreendida em detalhes e profundidade. Com base nas reflexes do prprio

    antroplogo, a etnografia : (...) uma descrio densa. O que o etngrafo enfrenta, de fato - a no ser quando (como deve fazer, naturalmente) est seguindo as rotinas mais automatizadas de coletar dados - uma multiplicidade de estruturas conceituais complexas, muitas delas sobrepostas ou amarradas umas s outras, que so simultaneamente estranhas, irregulares e inexplcitas, e que ele tem que, de alguma forma, primeiro aprender e depois apresentar. AULA 4 - A ANTROPOLOGIA CULTURALISTA E INTERPRETATIVA

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    A Etnografia Interpretativa de Geertz: Descrio Densa Para Geertz (2009, p. 20), a elaborao da etnografia no um dado da natureza e nem definida por tcnicas e tambm no somente estabelecer relaes, informantes, manter dirios e elaborar genealogias e mapeamentos do campo a ser estudado. Em sua acepo, o mais importante e o que define a etnografia a

  • realizao do que denomina de descrio densa, e que deve ser conduzida a ponto de produzir mergulhos sobre a vida cotidiana de uma determinada cultura e, para tanto, tem que ser atividade microscpica, a ser empreendida em detalhes. Referncia Bibliogrfica: ROCHA, Gilmar; TOSTA, Sandra P. Antropologia & Educao. Belo Horizonte: Autntica Editora, 2009. O antroplogo enfatiza que fazer etnografia a construo de uma leitura de realidades culturais que esto perpassadas por incoerncias e estranhezas (idem, 1989, p. 20): Fazer etnografia como tentar ler (no sentido de construir uma leitura de) um manuscrito estranho, desbotado, cheio de elipses, incoerncias, emendas suspeitas e comentrios tendenciosos, escrito no com os sinais convencionais do som, mas com exemplos transitrios de comportamento modelado.

    Nessa dimenso analtica, a antropologia interpretativa de Geertz preconiza que ver apreender os sentidos provenientes de diversas leituras da cultura como texto. O etngrafo, desse modo, mobiliza a interpretao de sentidos, o narrador de uma cultura. Nessa viso, nunca sero produzidas uma mesma descrio cultural idnticas. De acordo com Laplantine (2004, p. 110), a descrio etnogrfica de Geertz apresenta pluralidades de interpretaes da cultura: Assim a descrio etnogrfica enquanto narrao de uma cultura, longe de resolver-se necessariamente enquanto narrao de uma cultura, longe de resolver-se necessariamente na estrutura, uma questo que tambm pode ser colocada em relao com a cultura. Do mesmo fenmeno social, no existe apenas uma, mas sim uma pluralidade de descries possveis - a etnografia podendo nesse caso ser considerada uma poligrafia

    assim como uma srie de leituras possveis dessa mesma descrio.

    A partir das reflexes desenvolvidas por Geertz, Laplantine (2009, p. 111-112) entende que toda etnografia no resulta em uma descrio neutra da cultura, medida que considera que uma descrio pura da cultura no existe. Nessa postura antropolgica, toda produo etnogrfica a produo de autores/leitores, pois a descrio de um autor e uma descrio para leitores: Toda a descrio se situa em relao a uma histria, uma memria e um patrimnio sendo construdo atravs do imaginrio. Os significados culturais so subjetivos e pblicos, pois so atribudos pelos sujeitos sociais aos modos de ser e viver o cotidiano e se realizam nas praas, nos mercados, nas ruas, casas, escolas entre

    outras. As anlises dos significados culturais colaboram em desvelar as representaes, ou seja, o que os seres humanos pensam sobre si mesmos e sobre os outros: O sentido subjetivo inscrito no significado de uma ao representa a maneira como os homens experimentam de maneira individual, portanto, de maneira especfica e singular, a sua cultura (ibidem, 2009, p. 108). ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA

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    O que importa para Geertz no o acontecimento, mas o significado do acontecimento, o que o ser humano falou. Desse modo, o importante dar voz aos sujeitos sociais (ROCHA; TOSTA, 2009, p. 110). Um exemplo de sua escrita etnogrfica a pesquisa que realizou sobre a cultura balinense (de Bali) e, por meio dessa interpretao, desvenda que no so os galos que brigam,

  • mas os homens atravs de seus smbolos (GEERTZ, 1989, p. 315-316): (...) como quase todos ns, os balinenses esto muito mais interessados em compreender os homens do que em compreender os galos. O que coloca a briga de galos parte no curso ordinrio (comum) da vida, que a ergue do reino dos assuntos prticos cotidianos e a cerca com uma aura de importncia comum, no , como poderia pensar a sociologia funcionalista, o fato de ela reforar a discriminao do status, mas o fato de ela fornecer um comentrio metassocial sobre todo o tema de distribuir a maior parte da existncia coletiva em torno dessa distribuio. Sua funo, se assim podemos cham-la, interpretativa: uma leitura balinesa da experincia balinesa, uma estria sobre eles que eles contam a si mesmos.

    O antroplogo Geertz elaborou uma nova viso sobre o trabalho etnogrfico das culturas. O autor compreende que a interpretao de maior destaque sempre a do

    nativo da cultura e a prpria interpretao do etngrafo sempre de segunda e terceira mo. O que significa dizer que o antroplogo realiza a leitura da leitura e realiza interpretaes sobre as diferenas estabelecidas no grupo estudado, identificando o significado inscrito no fluxo do discurso social. Dessa maneira, o estudioso ir discutir os cdigos culturais construdos historicamente em cada grupo: (...) descobrir o acesso s interpretaes de uma cultura como tentar ler as diferenas sensveis entre uma piscadela de olho e a imitao de piscadela de olho (...) (idem, 2009, p. 109) Cultura Para Geertz: Teias de Significados Os significados culturais so subjetivos e pblicos, pois so atribu- dos pelos sujeitos sociais aos modos de ser e viver o cotidiano e se realizam nas praas, nos

    mercados, nas ruas, casas, escolas entre outras. As anlises dos significados culturais colaboram em desvelar as representaes, ou seja, o que os seres humanos pensam sobre si mesmos e sobre os outros: O sentido subjetivo inscrito no significado de uma ao representa a maneira como os homens experimentam de maneira individual, portanto, de maneira especfica e singular, a sua cultura (ibidem, 2009, p. 108). ROCHA, Gilmar; TOSTA, Sandra P. Antropologia & Educao. Belo Horizonte: Autntica Editora, 2009. AULA 4 - A ANTROPOLOGIA CULTURALISTA E INTERPRETATIVA

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    Links de Vdeos do Youtube Tema: Antropologia Cultural Link: http://Www.youtube.com/Watch?V=Pedmujtdjng Tema: Culturalismo Link: http://Www.youtube.com/

    Watch?V=Nwqsm3hwkzw Tema: Clifford Geertz Link: http://Www.youtube.com/Watch?V=Wc-Zozus1w0

    SNTESE Discutiu-se na unidade 4 que, no sculo XX, a partir dos anos 20, foi desenvolvida a escola antropolgica, que ficou conhecida pelo nome de Culturalismo Norte-Americano. O Culturalismo teve origem nos estudos de Franz Boas, nos Estados Unidos, e, influenciou os trabalhos antropolgicos de Edward Sapir, Ruth Benedict e Margareth Mead, dentre outros importantes expoentes (ROCHA; TOSTA, 2009, p. 102-104). Primeiramente, foi debatido que o antroplogo culturalista Edward Sapir um dos principais estudiosos influenciados por Franz Boas. Suas anlises sinalizaram que a civilizao

  • ocidental e os seus ritmos de industrializao ameaam muitos modos de viver, agir e pensar nas sociedades. Analisou-se, em seguida, que um dos grandes objetivos da antroploga culturalista Ruth Benedict foi o de compreender a totalidade de uma determinada cultura e chegou concluso de que h determinados aspectos da cultura que so assimilados pelos indivduos e que expressam um tipo de personalidade idealizada pela cultura. Nessa acepo, grande parte dos integrantes de uma cultura reflete a personalidade adotada como padro cultural. Margarth Mead foi a ltima culturalista analisada na unidade. Margareth Mead teve como foco central de seus estudos, o interesse em pesquisar como os grupos sociais criam suas crianas e demonstra, em seus

    mtodos cientficos, como ocorrem as prticas de socializao de um grupo e como estas socializaes esto relacionadas cultura e personalidade. Nessa dimenso de anlise, a antroploga desenvolve estudos comparativos de personalidades entre as culturas analisadas e entre as personalidades masculina e feminina nas culturas. Nesse sentido, a antroploga Mead compreende que cada grupo social elabora maneiras diferenciadas de agir e pensar, a partir do que denomina de novelos (modelos) universais. Em seguida, foi discutida a proposta antropolgica de Clifford Geertz (ROCHA; TOSTA, 2009, p. 108), que a partir da dcada de 60, do sculo XX, considerado o mais importante representante da rea da escola antropolgica interpretativa

    (hermenutica). conhecido como herdeiro do culturalismo de Boas, Benedict e Mead e concebe a cultura como o conjunto de textos, sobre os quais o antroplogo far leituras sobre o viver cotidiano dos nativos (os nativos so os indivduos pertencentes de uma determinada cultura). Na acepo da antropologia interpretativa, a cultura como um texto a ser lido e interpretado, que se realiza em todos os locais e, est sempre acessvel interpretao. Cada texto carrega consigo os significados subjetivos que orientam as aes e as relaes dos indivduos. Nessa perspectiva, a cultura, concebida como texto, o mesmo que consider-la como linguagem. Dessa feita, os seres ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA

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    humanos constroem teias de significados tecidas por eles prprios. Ento, a

    cultura empreendida por teias e as suas interpretaes.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS BENEDICT, Ruth. Padres de cultura. Lisboa: Livros do Brasil, s/d. FORQUIN, Jean-Claude. Relaes entre geraes e processos educativos: transmisses e transformaes In: Anais do Congresso internacional Co-Educao de Geraes. So Paulo:Sesc So Paulo, 2003, p.1-23. GEERTZ, Clifford. A Interpretao das Culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989. GEERTZ, Clifford. O saber local: novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrpolis: Vozes, 2000. LAPLANTINE, Franois. A Descrio Etnogrfica. So Paulo: Terceira Margem, 2004. MARCONI, MARINA de A; PRESOTTO, Zlia M. N. Antropologia: uma introduo. So Paulo: Editora

  • Atlas, 2011. MEAD, Margareth. Sexo e temperamento. So Paulo: Perspectiva, 1976, p. 19-20. ROCHA, G. Culturas e personalidades: as experincias etnogrficas de Ruth Benedict e Margareth Mead nos anos 20-40. Cadernos de Estudos Sociais, v. 20, n. 1, p. 107-128, 2004. ROCHA, Gilmar; TOSTA, Sandra P. Antropologia & Educao. Belo Horizonte: Autntica Editora, 2009. SAPIR, Edward. Cultura autntica e espria. In: PIERSON, D.(org.). Estudos de organizao social tomo II: leituras de sociologia e antropologia social. So Paulo, Martins, 1946, p. 282-311.