antonio picinatto - agricultura familiar com base tecnológica orgânica potencial de expansão no...

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ/CAMPUS DE FRANCISCO BELTRÃO/PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM GEOGRAFIA ANTONIO CARLOS PICINATTO AGRICULTURA FAMILIAR COM BASE TECNOLÓGICA ORGÂNICA: potencial de expansão no Território Sudoeste do Paraná Francisco Beltrão/PR 2010

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A partir de um estudo de caso da APOP – Associação de Produtores Orgânicos de Pérola do Oeste/PR, identificamos dificuldades que a agricultura familiar com base tecnológica orgânica enfrenta para expandir-se no Território Sudoeste do Paraná. Resgatamos informações para entendimento da dinâmica territorial enfatizando, a partir de 1950, quando as familias dos associados à APOP chegaram ao município e adquiriram suas propriedades agrícolas. O estudo contempla a opinião das organizações da agricultura familiar (Sistema Cresol, Sistema Coopafi, Sisclaf, Cooperiguaçu, Assesoar), iniciativa privada (Gebana, Gralha Azul) e governo (Emater). Identificamos experiências locais da agricultura orgânica por municípios para demonstrar a territorialização que ocorre no Sudoeste do Paraná. O potencial de expansão da agricultura orgânica é defendido por todos os entrevistados, ainda que, com divergências de como fazê-lo. As concordâncias estão em torno das atividades que tem maior potencial de se expandir, sendo citadas a horticultura e o leite orgânico. As argumentações defendem que para estas atividades o modelo orgânico não gera mais trabalho que o modelo convencional. As organizações entrevistadas propõem à agricultura familiar investir na produção de alimentos para a população do Território.

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARAN/CAMPUS DE FRANCISCO BELTRO/PROGRAMA DE PS-GRADUAO MESTRADO EM GEOGRAFIA ANTONIO CARLOS PICINATTO AGRICULTURA FAMILIAR COM BASE TECNOLGICA ORGNICA: potencial de expanso no Territrio Sudoeste do Paran Francisco Beltro/PR 2010UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARAN/CAMPUS DE FRANCISCO BELTRO/PROGRAMA DE PS-GRADUAO MESTRADO EM GEOGRAFIA ANTONIO CARLOS PICINATTO AGRICULTURA FAMILIAR COM BASE TECNOLGICA ORGNICA: potencial de expanso no Territrio Sudoeste do Paran Dissertao apresentada como requisito parcial obteno de grau de Mestre/ProgramadePs-Graduao/MestradoemGeografiada Universidade Estadual do Oeste do Paran, Francisco Beltro/PR; rea deconcentrao:produodoespaoemeioambiente;linhade pesquisa: desenvolvimento econmico e dinmicas territoriais. Orientadora: Prof.aDr.a Marli Terezinha Szumilo Schlosser Francisco Beltro/PR 2010 Picinatto, Antonio Carlos P593Agriculturafamiliarcombasetecnolgicaorgnica: potencialdeexpansonoTerritrioSudoestedoParan./ Antonio Carlos Picinatto.Francisco Beltro, 2010. 276 f. Orientadora: Prof.a Dr.a Marli Terezinha Szumilo Schlosser Dissertao(Mestrado)UniversidadeEstadualdoOeste do Paran Campus de Francisco Beltro. 1.AgriculturaFamiliarSudoestedoParan.2.Produtos OrgnicosProladoOesteParan.3.Agricultura Orgnica-Tecnologia.4.Alimentos-Produtos.5. Territorialidade-SudoestedoParan.I.Schlosser,Marli Terezinha Szumilo. II. Ttulo. CDD 338.1098162 Ficha Catalogrfica elaborada pelo Sistema de Bibliotecas da Unioeste (Sandra Regina Mendona CRB 9/1090) O meu Nonno, colono e professor, Joo Vincente Piccinatto, nascido em Monte Belo doSul/RS,em15denovembrode1904,motivou-meparaaleituraapresentando-meo personagemNanetoPipeta.AminhaNonna,MagdalenaFavero,nascidaemBento Gonalves/RS, Linha Santa Brbara, em 27 de outubro de 1908, ensinou-me algumas palavras do dialeto da regio do Veneto, Itlia. OmeuNonnoJoofoialfabetizadonoBrasil,seusantecessoresnascidosnoReino da Itlia, constam como analfabetos e lavradores em documento de habilitao de casamento do Municpio de Monte Belo do Sul/RS. Os meus Bisavs, Luigi Pizzinatto, nascido em Sacile, Provncia de Udine, Reino da Itliaem08dejulhode1880engelaFilippon,nascidaemFrisanco,ProvnciadeUdine, Reino da Itlia, em 05 de maio de 1881, conforme declararam no Brasil, eram lavradores. No constamsuasassinaturasemdocumentos,massimaexpressoArogode,evidenciando quenosabiamescreveroprprionome.Damesmaforma,osmeusTataravsGiovanni Pizzinatto e Domenica Polese, tambm lavradores, provavelmente eram analfabetos, pois no assinaram a declarao de nascimento dos prprios filhos. Todos tm algo em comum: Cultivaram a tradio milenar de colher da terra o sustento da famlia!

Obrigado! s famlias associadas APOP Associao de Produtores Orgnicos de Prola do Oeste/PR,quecontriburamparacomestadissertao,resgatandoacontecimentosdesdea dcadade1950.AcolonizaodoSudoestedoParan,achegadadetecnologiaseseus efeitos,aevoluodossistemasagrcolas,asdinmicasqueparticipamemtornoda AgriculturaOrgnica,AgroecologiaeBiodinmica,suasdificuldades,realizaesedemais temascontemplados,foramcarinhosamenterelatadosparaseremgravadoseutilizadosnesta dissertao.Acreditamosqueosrelatoscontribuiroparaaconstruodeumapropostaque objetivevidasatisfatriaatodososseresvivos.AsfamliasassociadasAPOPcontribuem comestadissertao,desde2001,quandooInstitutoMaytenusiniciouprojetosnaLinha Vitria, municpio de Prola do Oeste/PR. A temtica da formao era agricultura: Orgnica, Agroecolgica,Biodinmica,Ecolgica,Permacultura,Natural,BiolgicaeAlternativa.A dissertao resulta do convvio que vai muito alm do momento das entrevistas. Os familiares que participam da APOP, em vrios momentos ao longo dos anos, contriburam para a minha formaoepropiciaramracionalidadesobreostemaspertinentesdissertao,conforto emocional, segurana alimentar com alimentos de qualidade, principalmente quando estive na Comunidade;apoioexecuodeprojetosehospitalidade.Comportamentodeverdadeiros amigoseamigas!PortantoficamregistradososnomesdosassociadosdaAPOPedemais familiares:

Mario Jos Domanski, esposa Lourdes Maria Bohn e filhos; CludioLeonhardt,esposaIdalinaVegner,osfilhoDlsoneEdson;asnorasTatiane Reisner e Nadir Fabian e os netos Malu Caroline, Luis Guilherme e Larissa Katiana; Jair Mombach, esposa Ins Ely e filha Bruna Emanueli; Eduardo Domanski, esposa Irinir de Graauw, e filhos Edson e Cristiane; WaldomiroGerhard,esposaLciaMombach;filhoSrgio;noraMarliWelterenetos Daniel Fernando e Gabriel Felipe; Alfredo Mombach, esposa Nair Dietrich; filhas Mayara e Marisa; e genro Marcelo; Milton Patzlaff, esposaEva Cardoso; filhos Mauricio Rafael, Wilian MarceloeLeonardo Mateus; Romeu Helfer, esposa Dolores e filho Gilvani; LciaAladesPatzlaff,maridoAlfredoPirinatoPatzlaff-immemoriam-efilhosMauro Vicente, Andr Luis e Ana Cristina; Jorge Patzlaf, esposa Janice e filhos Daniel e Dbora; DlsonCasagrande,esposaNlia;filhosJunior,JulianoeJerson;noraMaikela;netas Raissa e Ina; Tefilo Domanski, esposa Soeli; filhos Fernando e Gabriel Elisandro; Srgio Campra, esposa Neusa e filhas Giovanice, Daniela e Daiane. Durante as visitas s familias da APOP, fortaleci o meu entendimento sobre o quanto importante viver em famlia, por isso, agradeo a minha querida familia, que se tratando de estudo,semprememotivou,eapoiou.Noseriapossveldefenderomodelodeagricultura orgnica,estabelecendouma atitude contrriaa toda uma categoria deAgrnomos, que vive davendadeagrotxicos,semoapoiodosmeuspaisArtemioPicinattoeAdelinaOdorizzi. Obrigadotambmaminhairmpreferida(enica)AnaClaudiaPicinatto,que carinhosamente, encontrou vrios erros na utilizao das normas da ABNT e me orientou para corrig-los. No poderia esquecer do meu irmo de sangue e de ideal o Engenheiro Agrnomo Abner Geraldo Picinatto, que no mede esforos para contribuir na construo da Agricultura FamiliarOrgnica,edesuaesposaCynthiaquetambmmeajudouamelhoraresta dissertao.AgradecemosaindaaProfessoraSueliBaleeirodeLacerdapelacompetente reviso gramatical. RESUMO A partir de um estudo de caso da APOP Associao de Produtores Orgnicos de Prola do Oeste/PR, identificamos dificuldades que a agricultura familiar com base tecnolgica orgnica enfrentaparaexpandir-senoTerritrioSudoestedoParan.Resgatamosinformaespara entendimentodadinmicaterritorialenfatizando,apartirde1950,quandoasfamiliasdos associadosAPOPchegaramaomunicpioeadquiriramsuaspropriedadesagrcolas.O estudo contempla a opinio das organizaes da agricultura familiar (Sistema Cresol, Sistema Coopafi,Sisclaf,Cooperiguau,Assesoar),iniciativaprivada(Gebana,GralhaAzul)e governo(Emater).Identificamosexperinciaslocaisdaagriculturaorgnicapormunicpios parademonstraraterritorializaoqueocorrenoSudoestedoParan.Opotencialde expansodaagriculturaorgnicadefendidoportodososentrevistados,aindaque,com divergncias de como faz-lo. As concordncias esto em torno das atividades que tem maior potencialdeseexpandir,sendocitadasahorticulturaeoleiteorgnico.Asargumentaes defendem que para estas atividades o modelo orgnico no gera mais trabalho que o modelo convencional.Asorganizaesentrevistadaspropemagriculturafamiliarinvestirna produo de alimentos para a populao do Territrio. Palavras-chave: agricultura familiar orgnica, potencial de expanso, territorialidade. SINTESI1

Titolo: Agricoltura Familiare com basatura tecnologica biologica: potenziale di espansione nel Territrio Sud-Ovest del Paran. Partendodaunostudiodicasodell'APOPAssociazionedeiProduttoriOrganicidiProla doOeste/PR,si sonoidentificateledifficoltchel'agricolturafamiliarebasatanella tecnologiaorganicaaffrontaper espandersisulterritorioSudoestedelParan.Sonostate riscattatedelleinformazioniperpotercapire ladinamicaterritorialeconenfasiapartiredal 1950 quando le famiglie dei soci dell' APOP sono arrivate al comune e hanno iniziato le sue proprietagricole.Laricercacontemplal'opinionedelleorganizzazionidell'agricoltura familiare(SistemaCresol,SistemaCoopafi,Sisclaf,Cooperiguau,Assesoar),iniziativa privata (Gebana, Gralha Azul) e governo (Emater). Sono state identificate esperienze locali di agricoltura organica per comuni con lo scopo di dimostrare la territorializzazione che succede nel Sudoeste del Paran. Il potenziale di espanzione dell'agricoltura organica stato difeso da tutti gli intervistati, anche se con discordanza di come fare. Le concordanze sono in torno alle attivit che hanno maggior potenzialit di espandersi , come gli ortaggi e il latte organico. Le argomentazioni difendono che per queste attivit il modello organico non rende pi difficile il lavoro in comparazione al modello convenzionale. Le organizzazioni intervistate propongono all'agricoltura familiare di investire nella produzione di cibi per la popolazione del Territorio.

Parole chiave: Agricoltura Familiare biologica, potenziale per espandersi, territorialita. 1 Traduzido por Antonio Carlos Picinatto e revisado por Denise Moschetta. ABSTRACT2

Title:FamilyAgriculturebasedonorganictechnology:potentialexpansionofTerritory Southwest of Paran. From astudy about APOP Organic Producers Association of Prola do Oeste,Paran state, we identify difficulties that family agriculture based on organic technology faces to expand it selfin theTerritorySouthwestofParan.Werescueinformationforunderstandingthe territorial dynamics emphasizing, since 1950, when APOPs family members came to county andboughttheirfarms.Thestudyexaminestheviewsoffamilyfarmingorganizations (CresolSystem,SystemCoopafi,Sisclaf,Cooperiguau,Assesoar),privateinitiatives (Gebana, Gralha Azul) and government (Emater). We identified local experiences of organic agriculture for municipalities to demonstrate the territorialization that occurs in the Southwest ofParan.Thepotentialexpansionoforganicagricultureisdefendedbyallrespondents,in spiteofdifferencesofhowtodoit.Theconcordancesareaboutactivitiesthathavegreater potential to expand, were mentioned in horticulture and organic milk. The arguments for these activitiesemphasizethattheorganicmodeldoesnotgeneratemoreworkthanthe conventionalmodel.Thedirectorsofthestudiedorganizationssuggestthatfamilyfarms invest in food production for the population of the Territory.

Keywords: family farm organic agriculture, expansion potential, territoriality. 2 Traduzido por Jorge Baleeiro de Lacerda. LISTA DE QUADROS QUADRO 1 APOP, REA DAS PROPRIEDADES E ESTIMATIVA PARA SOJA ORGNICA, SAFRA 2004......................................................................

34 QUADRO 2 USO DO SOLO NO SISTEMA AGRCOLA DE JAIR MOMBACH, 2009.......................................................................................................... 45 QUADRO 3 USO DO SOLO NO SISTEMA AGRCOLA DE CLUDIO LEONHARDT, 2009................................................................................ 48 QUADRO 4 USO DO SOLO NO SISTEMA AGRCOLA DE WALDOMIRO GERHARD, 2009..................................................................................... 52 QUADRO 5 USO DO SOLO NO SISTEMA AGRCOLA DE LCIA ALADES PATZLAFF, 2009..................................................................................... 54 QUADRO 6 INSUMOS UTILIZADOS PELA APOP PARA A PRODUO DE SOJA ORGNICA.................................................................................... 57 QUADRO 7 ENTIDADES QUE COMPEM O GGTESPA, 2009..............................77 QUADRO 8 ORGANIZAES DE ORGNICOS POR MUNICPIOS DO TERRITRIO SUDOESTE DO PARAN............................................. 151 QUADRO 9 SOJA ORGNICA COMERCIALIZADA PARA EMPRESAS INTEGRADORAS, 2001 A 2005............................................................ 157 QUADRO 10 MANDIOCA E TRIGO ORGNICO COMERCIALIZADOS,2005......................................................................................................... 159 QUADRO 11 PRODUTORES INDIVIDUAIS.............................................................161 QUADRO 12 RESUMO DO NCLEO SUDOESTE DA REDE ECOVIDA, 2002/2003............................................................................................... 162 QUADRO 13 RESUMO DO NCLEO SUDOESTE DA REDE ECOVIDA, 2005....162 QUADRO 14 FORNECEDORAS DE INSUMOS PADRO ORGNICO, 2005.......165 QUADRO 15 AGROINDSTRIAS QUE PROCESSAM PRODUTOS ORGNICOS, 2005................................................................................ 167 QUADRO 16 PONTOS DE VENDA DE ORGNICOS COORDENADOS POR AGRICULTORES FAMILIARES......................................................... 169 QUADRO 17 NMERO DE PROPRIEDADES COM MANEJO ORGNICO NOESTADO DO PARAN........................................................................ 170 QUADRO 18 CULTIVOS, REA TOTAL, PROPRIEDADES DOS ASSOCIADOS, APOP PALOTINA, 2003............................................ 172 QUADRO 19 BRASIL, EVOLUO DA REA COM MANEJO ORGNICO E NMERO DE PROPRIEDADES.......................................................... 175 QUADRO 20 USO DE AGRICULTURA ORGNICA, GRANDES REGIES E UF, BRASIL, 2006................................................................................. 177 QUADRO 21 REA E NMERO DE PROPRIEDADES COM MANEJO ORGNICO NA AMRICA LATINA................................................. 180 QUADRO 22 EVOLUO DA REA COM MANEJO ORGNICO POR CONTINENTES, 2000 A 2009.............................................................. 181 QUADRO 23 DESAFIOS AMPLIAO DA PRODUO ORGNICA, SEGUNDO KHATOUNIAN (2001)...................................................... 192 QUADRO 24 LIMITES EXPANSO DA AGRICULTURA ORGNICA, SEGUNDO SAQUET A. A. (2008)....................................................... 194 QUADRO 25 ENTRAVES EXPANSO DA AGRICULTURA ORGNICA, SEGUNDO DAROLT (2002)................................................................ 196 QUADRO 26 DESAFIOS PARA SUPERAR A REVOLUO VERDE, SEGUNDO ARL (2008)................................................................................................ 198 QUADRO 27 DESCRIO DE PROJETOS DA AGRICULTURA ORGNICA, SUDOESTE DO PARAN, 2005.......................................................... 207 QUADRO 28 PROJETOS APRESENTADOS PELO GGTESPA EM 2009................210 QUADRO 29 ORIENTAO TCNICA AOS AGRICULTORES ORGNICOS, SUDOESTE DO PARAN, 2005.......................................................... 239 LISTA DE FOTOGRAFIAS FOTOGRAFIA 1 VISO GERAL SISTEMA AGRCOLA DE JAIR MOMBACH, PROLA DO OESTE/PR.................................................................... 47 FOTOGRAFIA 2 PRODUO DE MUDAS, CLAUDIO LEONHARDT, PROLA DO OESTE/PR.................................................................................... 49 FOTOGRAFIA 3 CULTIVO DE ALFACE ORGNICA, CLAUDIO LEONHARDT, PROLA DO OESTE/PR.................................................................... 51 FOTOGRAFIA 4 PIQUETEAMENTO DE PASTAGEM E MATA-CILIAR DA SANGA BARRO PRETO, LCIA A. PATZLAFF, PROLA DO OESTE/PR............................................................................................ 53 FOTOGRAFIA 5 CULTIVO DE SOJA ORGNICA, LCIA A. PATZLAFF, PROLA DO OESTE/PR..................................................................... 55 FOTOGRAFIA 6 AGROFLORESTA JAIR MOMBACH, PROLA DO OESTE/PR....62 FOTOGRAFIA 7 AGROFLORESTA E MATA-CILIAR DA SANGA BARRO PRETO. LCIA A. PATZLAFF,PROLA DO OESTE/PR............... 63 FOTOGRAFIA 8 NASCENTE DA SANGA BARRO PRETO CERCADA, MARIO JOS DOMANSKI, PROLA DO OESTE/PR................................... 64 FOTOGRAFIA 9 PLANTIO DIRETO DE SOJA ORGNICA COM AZEVM, MARIO J. DOMANSKI, PROLA DO OESTE/PR........................... 65 FOTOGRAFIA 10 SOJA ORGNICA PLANTIO DIRETO COM AVEIA. ROMEU HELFER, PROLA DO OESTE/PR.................................................. 66 FOTOGRAFIA 11 ARMADILHA PARA CAPTURA DE PERCEVEJOS. PROPRIEDADE DE LCIA A. PATZLAFF, PROLA DO OESTE/PR.......................................................................................... 67 FOTOGRAFIA 12 BARREIRA DE PROTEO COM GUANDU, MARIO JOS DOMANSKI, PROLA DOOESTE/PR.......................................... 68 FOTOGRAFIA 13 EROSO DO SOLO EM SOJA ORGNICA SAFRA 2006/2007.JAIR MOMBACH, PROLADO OESTE/PR................................. 69 FOTOGRAFIA 14 PLANTIO DIRETO DA SOJA ORGNICA COM SECANTE SUPOSTAMENTE ORGNICO, JAIR MOMBACH, PROLA DO OESTE/ PR.................................................................................. 71 FOTOGRAFIA 15 COBERTURA MORTA, CLAUDIO LEONHARDT, PROLA DO OESTE/PR................................................................................... 72 FOTOGRAFIA 16 SEMINRIO REGIONAL DE AGROECOLOGIA E PRESERVAO DA MATA ATLNTICA, LINHA VITRIA, PROLA DO OESTE/PR, 05/10/2009.............................................. 206 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 LOCALIZAO, PROLA DO OESTE/PR E MUNICPIOS,TERRITRIO SUDOESTE DO PARAN.................................................... 36 FIGURA 2 LOCALIZAO DO TERRITRIO SUDOESTE DO PARAN................ 75 FIGURA 3 TERRITORIALIZAO DO ASSOCIATIVISMO NA AGRICULTURA ORGNICA.................................................................................................. 153FIGURA 4 APROSUDOESTE, ABRANGNCIA POR MUNICPIOS E FAMLIAS ASSOCIADAS.............................................................................................. 155 FIGURA 5 TERRITORIALIZAO DO CULTIVO DA SOJA ORGNICA SAFRAS 2001 A 2005.................................................................................. 158 FIGURA 6 USO DA AGRICULTURA ORGNICA NO TERRITRIO SUDOESTE DO PARAN, IBGE, 2006.................................................... 164 LISTA DE TABELAS TABELA 1 LOCAIS, VALORES E PERCENTUAL RELATIVO DE PRODUTOS ECOLGICOS COMERCIALIZADOS PELAS ORGANIZAES INTEGRANTES DA REDE ECOVIDA DE AGROECOLOGIA, 2003..... 163 TABELA 2 DISTRIBUIO DOS ESTABELECIMENTOS PRODUTORES DE ORGNICOS NO BRASIL, 2006............................................................... 178 TABELA 3 PERCENTUAL MDIO DE UNIDADES DE PRODUO SEGUNDO AS RAZES QUE INFLUENCIARAM AGRICULTORES NA DECISO DE PRODUZIR ORGANICAMENTE................................ 197 LISTA DE SIGLAS AAOSLAssociao dos Produtores Orgnicos de Salto do Lontra/PR ACAMSOP Associao das Cmaras Municipais do Sudoeste do Paran ACESI/FETRAFAssociao do Centro de Educao Sindical AFASPAssociao das Agroindstrias Familiares do Sudoeste do Paran AMSOP Associao dos Municpios do Sudoeste do Paran AORSAAssociao Orgnica de So Jorge do Oeste/PR APOP Associao de Produtores Orgnicos de Prola do Oeste/PR APROSUDOESTECentral de Associaes de Produtores Orgnicos do Sudoeste do Paran APROVIDA Associao de Produtores Orgnicos de Pato Branco/PR APROPALAssociao de Produtores Orgnicos de Palmas/PR APROSANTOAssociao de Produtores Orgnicos de Santo Antonio do Sudoeste/PR APROCAssociao de Produtores Orgnicos de Clevelndia/PR APROPLANAssociao de Produtores Orgnicos de Planalto/PR APOLAssociao dos Produtores Orgnicos da Regio de Londrina e Cornlio Procpio/PR APOP Palotina Associao dos Produtores Orgnicos de Palotina/PR APOACAssociao de Produtores Orgnicos de Assis Chateaubriand/PR APOMOP Associao dos Produtores Orgnicos do Mdio Oeste do Paran APANPIAssociao dos Produtores Agroecolgicos de Nova Prata do Iguau/PR APEPOAssociao dos Produtores Ecolgicos de Prola do Oeste/PR APROMOVEAssociao dos Produtores do Morro Verde APAVEAssociao de Produtores Agroecolgicos de Ver/PR ARCAFAR SULAssociao das Casas Familiares Rurais da Regio Sul do Brasil ASFRUCIAssociao dos Fruticultores de Cruzeiro do Iguau ASSEC Associao dos Secretrios de Agricultura da Regio de Pato Branco ASSEMAAssociao dos Secretrios de Agricultura e Meio Ambiente da Regio de Francisco Beltro ASSESOARAssociao de Estudos, Orientao e Assistncia Rural AS-PTAAssessoria e Servios a Projetos em agricultura Alternativa ATER Assistncia Tcnica e Extenso Rural BIOPAR Bioenergia do Paran Ltda CAMDULCooperativa Agrcola Mista Duovizinhense CANGOColnia Agrcola Nacional General Osrio CAPA Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor CEAO Conselho Estadual de Agroecologia do Paran CEPAGRICentro de Promoo do Pequeno Agricultor CITLA Clevelndia Industrial Territorial Ltda CNPQ Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico CODAPARCompanhia de Desenvolvimento Agropecurio do Paran CONABCompanhia Nacional de Abastecimento COOPERIGUAU Cooperativa Iguau de Prestao de Servios Ltda COOPAFISistemadeCooperativasdeComercializaodaAgriculturaFamiliar Integrada COOPERSOLCooperativadeProduo,ComercializaoeDesenvolvimento Solidrio dos Agricultores Familiares de Coronel Vivida/PR COOPASULCooperativa de Pequenos Agropecuaristas de Campinas do Sul/RS COPACOLCooperativa Agroindustrial Consolata CREA/PRConselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Paran CRESOL BASERSistema de Cooperativas de Crdito Rural com Interao Solidria DERALDepartamentodeEconomiaRuraldaSecretariadeAgriculturado Paran DNPM Departamento Nacional de Produo Mineral ECOFLOR Associao de Produtores Orgnicos de Flor da Serra do Sul/PR ECOVIDARede Ecovida de Agroecologia E.E.U.U.Estados Unidos EISPAL Escola de Integrao Social de Palmas/PREMATERInstituto Paranaense de Assistncia Tcnica e Extenso Rural EMBRAPAEmpresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria GARVGrupo Agroecolgico Respeito Vida GETSOP Grupo Executivo para as Terras do Sudoeste do Paran GGTESPA Grupo Gestor do Territrio Sudoeste do Paran IAPInstituto Ambiental do Paran IAPAR Instituto Agronmico do Paran IBDInstituto Biodinmico IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica IFOAM International Federation of Organic Agriculture Movements IICAInstituto Interamericano de Cooperao para a AgriculturaIMOInstituto de Mercado EcolgicoINCOFINInvestment Management INCRAInstituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria INFOCOSInstituto de Formao do Cooperativismo Solidrio IPARDES Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econmico e Social IUPACInternation Union of Pure and Applied Chemistry IVVInstituto Verde Vida de Desenvolvimento Rural JASJapan Agricultural Standard MAYTENUS Instituto Maytenus para o Desenvolvimento da Agricultura Sustentvel MAPAMinistrio da Agricultura Pecuria e Abastecimento MABMovimento dos Atingidos por Barragens MEC Ministrio da Educao e Cultura do Brasil MB Mineradora Barreto MDA Ministrio do Desenvolvimento Agrrio MMA Ministrio do Meio Ambiente MSTMovimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra NOPNational Organic Program PDA Projetos Demonstrativos do Ministrio do Meio Ambiente PROAGROPrograma de Garantia da Atividade Agropecuria PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar RURECO Fundao para o Desenvolvimento Econmico Rural da Regio Centro-Oeste do ParanSDT Secretaria de Desenvolvimento Territorial SEABSecretaria de Estado da Agricultura e do abastecimento do Paran SEBRAE Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas SEETSeminrio Estadual de Estudos Territoriais SICREDISistema de Crdito Cooperativo SIF Sistema de Inspeo Federal SISCLAFSistema de Cooperativas de Leite da Agricultura Familiar SISLEG SistemadeManuteno,RecuperaoeProteodaReservaLegale reas de Preservao Permanente. UFVUniversidade Federal de Viosa UNICAFESUnio de Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidria do Paran UNIOESTEUniversidade Estadual do Oeste do Paran UTFPRUniversidade Tecnolgica Federal do Paran USAIDUnited States Agency for International Development SUMRIO

LISTA DE QUADROS................................................................................................... 09 LISTA DE FOTOGRAFIAS.......................................................................................... 11 LISTA DE FIGURAS........................................................................................................ 13 LISTA DE TABELAS..................................................................................................... 13 LISTA DE SIGLAS.......................................................................................................... 14 INTRODUO................................................................................................................. 21 CAPTULO 1 ASSOCIAO DE PRODUTORES ORGNICOS DE PROLA DO OESTE/PR APOP E O TERRITRIO SUDOESTE DO PARAN................ 32 1.1 CONSIDERAES INTRODUTRIAS....................................................................... 32 1.2 A APOP DE PROLA DO OESTE/PR.......................................................................... 33 1.2.1 Localizao dos associados APOP e caractersticas de Prola do Oeste/PR........... 35 1.2.2 Origens dos associados da APOP e da populao do Sudoeste do Paran................. 38 1.2.3 Familiares dos associados da APOP em momentos histricos relevantes...................41 1.2.4 Os sistemas agrcolas e tecnologias nas propriedades dos associados APOP......... 44 1.2.5 A dependncia em insumos externos propriedade e ao Territrio.......................... 56 1.2.6 Soja orgnica: dias trabalhados e resultado financeiro.............................................. 58 1.2.7 Questes ambientais nas propriedades agrcolas dos associados APOP................. 60 1.3 O TERRITRIO SUDOESTE DO PARAN............................................................ 74 1.3.1 Aspectos fsicos influenciando no potencial de expanso da agricultura orgnica.... 78 1.4 CONCLUSES PARCIAIS. ....................................................................................... 82 CAPTULO 2 OS ASSOCIADOS APOP, OS MODELOS AGRCOLAS E AS PROPOSTAS DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL....................................... 862.1 CONSIDERAES INTRODUTRIAS.....................................................................862.2 O CONVVIO COM A CULTURA CABOCLA..........................................................862.3 O LAVRADOR: UM NOVO MODELO AGRCOLA?..............................................872.4 A INDSTRIA DE INSUMOS E MAQUINRIO AGRCOLA................................892.5 EXTENSO RURAL E MODERNIZAO DA AGRICULTURA..........................932.6 A AGRICULTURA FAMILIAR..................................................................................96 2.7 AGRICULTURA FAMILIAR NO MODELO CONVENCIONAL.......................... 100 2.8 MODELOS AGRCOLAS DE OPOSIO AO MODELO CONVENCIONAL....... 110 2.9 A AGRICULTURA FAMILIAR TEM UMA ESTRATGIA AGROECOLGICA?.. 123 2.10 CONCLUSES PARCIAIS....................................................................................... 137 CAPTULO 3 TERRITORIALIZAO DA AGRICULTURA ORGNICA......... 145 3.1 CONSIDERAES INTRODUTRIAS..................................................................... 145 3.2 A TERRITORIALIZAO NO SUDOESTE DO PARAN...................................... 145 3.2.1 Organizaes municipais de agricultores orgnicos................................................... 149 3.2.2 Territorializao da soja orgnica............................................................................... 156 3.2.3 Produtores individuais................................................................................................ 160 3.2.4 Agricultores agroecolgicos....................................................................................... 161 3.2.5 Fornecimento de insumos por empresas e organizaes da agricultura familiar........165 3.2.6 Agroindustrializao de produtos orgnicos.............................................................. 166 3.2.7 Locais de comercializao de alimentos orgnicos................................................... 168 3.3 A TERRITORIALIZAO NO ESTADO DO PARAN.......................................... 170 3.3.1 Quem est adotando o modelo orgnico no Estado do Paran?................................. 171 3.4 A TERRITORIALIZAO NO BRASIL E AMRICA LATINA............................. 174 3.5 A TERRITORIALIZAO POR CONTINENTES..................................................... 181 3.6 CONCLUSES PARCIAIS.......................................................................................... 182 CAPTULO4AGRICULTURAFAMILIARCOMBASETECNOLGICA ORGNICA: POTENCIAL DE EXPANSO NO TERRITRIO SUDOESTE DOPARAN............................................................................................................................ 187 4.1 CONSIDERAES INTRODUTRIAS..................................................................... 187 4.2 DIFICULDADES, DESAFIOS E ENTRAVES REDUZINDO O POTENCIAL DE EXPANSO DA AGRICULTURA ORGNICA....................................................... 187 4.3 FATORES QUE PROPICIAM A EXPANSO........................................................ 199 4.3.1 A territorialidade da APOP e da agricultura orgnica............................................... 199 4.3.2 Projetos relativos agricultura orgnica.................................................................... 207 4.4 A SUPERAO DAS DIFICULDADES, DESAFIOS E ENTRAVES...................... 213 4.4.1 Desafios, dificuldades e entraves de ordem tecnolgica............................................ 213 4.4.2 O desafio dos transgnicos......................................................................................... 218 4.4.3 Ecologia...................................................................................................................... 221 4.4.4 Agroindustrializao e agregao de valor................................................................. 223 4.4.5 Leite orgnico: uma grande possibilidade.................................................................. 226 4.4.6 Certificao................................................................................................................. 231 4.4.7 Horta orgnica............................................................................................................ 232 4.4.8 Crdito rural e seguro agrcola.................................................................................. 233 4.4.9 Orientao tcnica...................................................................................................... 238 4.4.10 A multifuncionalidade da Agricultura Familiar....................................................... 241 4.4.11 Conflitos com vizinhos que utilizam agrotxicos.................................................... 245 4.5 POTENCIAL DE EXPANSO DA AGRICULTURA ORGNICA.......................... 246 4.6 CONCLUSES PARCIAIS.......................................................................................... 260 CONCLUSO.................................................................................................................... 264 REFERNCIAS................................................................................................................. 268 21 INTRODUO Objetivando fundamentar a possibilidade de territorializao da agricultura orgnica noSudoestedoParannestadissertaodenominadaAgriculturaFamiliar3combase tecnolgica orgnica: potencial de expanso no Territrio Sudoeste do Paran, apresentamos a experincia local da APOP Associao de Produtores Orgnicos de Prola do Oeste/PR. Tal associao forneceu-nos informaes quanto histria da colonizao, resultados econmicos do cultivo da soja orgnica, questes ambientais, sistemas agrcolas, tecnologias agrcolas do modeloorgnico,certificao,comercializao,produtividadedotrabalho,dificuldadesque consideramenquantoentravesparaaexpansodesuaexperincialocal,entreoutras.Os relatos dos associados da APOP demonstraram-se indispensveis para avaliarmos o potencial deexpansodomodeloorgnico.Elesfundamentaramasquestesquedebatemoscomas organizaes da agricultura familiar, iniciativa privada e o governo. A APOP est associada APROSUDOESTE4CentraldeAssociaesdeProdutoresOrgnicosdoSudoestedo Paran.EstaCentralformadapelasassociaes:APROSANTO,domunicpiodeSanto Antonio do Sudoeste/PR; ECOFLOR, do municpio de Flor da Serra do Sul/PR; APROVIDA, domunicpiodePatoBranco/PR;APROPAL,domunicpiodePalmas/PReAPROC,do municpio de Clevelndia/PR. O associativismo propicia aos associados da APOP praticarem suaterritorialidadenasdinmicasterritoriaisrelativasagriculturaorgnicaefamiliar, abrangendo principalmente as microrregies de Palmas, Francisco Beltro, Capanema e Pato Branco, todas do estado do Paran. Optamos pela abordagem territorial principalmente porque contempla as relaes de poder, a territorialidade, a territorializao e o associativismo da agricultura orgnica atuando emrede.Comomtodoparavisualizarosrecursosterritoriaisdemonstrou-seeficazenos permitiuidentificarrecursosnaturaisbasalto,guaeproporoseuusoracionalna agriculturaorgnica,tornandopossvelidealizarumterritrioauto-sustentvel5.Os 3Oconceitodeagriculturafamiliarestapresentadonosub-captulo2.6AAGRICULTURAFAMILIAR, todavia para superar as diversas opinies e conceitos distintos, defendemos que agricultura familiar corresponde a aquelas caractersticas por ns constatadas no estudo de caso da APOP e que apresentado no sub-captulo 1.2 A APOP DE PROLA DO OESTE/PR. 4ConformedescritoemEstatutoArtigo1,aCentraldeAssociaesdeProdutoresOrgnicosdoSudoestedo ParanAPROSUDOESTEentidadecivildotadadepersonalidadejurdicadedireitoprivado,semfins lucrativos,comindependnciafinanceiraeadministrativa,sedeeforo,naRuaDonaMariquinhas/n,Centro, municpiodeSantoAntniodoSudoeste/PR,fundadaem14deagostode2.006,comprazodedurao indeterminado. 5Auto-sustentvel:sersustentvelapartirdagestodosrecursosnaturaiscontidosnoTerritrio.Oconceito utilizado para desenvolvimento sustentvel o que foi apresentado pelo relatrio Brundtland e que faz parte da 22 atores/agricultoresorgnicos,esuasrepresentaesexercemseupodernatentativade expandir o modelo agrcola orgnico. A participao dos associados da APOP, influenciando natomadadedecisesdeprojetosgovernamentaiseno-governamentais,promovema territorializao e fortalecem a territorialidade da agricultura orgnica no Sudoeste do Paran. SegundoRaffestin(1993,p.51),naobraPorUmaGeografiadoPoder,a ambiguidade do termo poder est expressa como um Poder do Estado que: [...] marcado por umamaiscula,resumeahistriadenossaequiparaoaumconjuntodeinstituiesede aparelhosquegarantemasujeiodoscidadosaumEstadodeterminado[...],eopoder, com minscula, nasceu com a histria e est presente em cada relao e no algo adquirido, masquepodeserexercidoapartirdeinumerveispontos.Aquesto:osagricultores orgnicosestoexercendooseupoder(comminscula)pormeiodoassociativismoe influenciandonoPoderdoEstado?Consideramosopoderexercidopelosagricultores familiaresorgnicoscomoumapropostaemergente,provenientedasregiesagrcolas, buscandosoluesparaproblemaseconmicos,sociaiseambientaisdaspropriedades agrcolasfamiliares.SegundoSantos(1996,p.68),nasregiesagrcolasocampoque, sobretudo, [...] comanda a vida econmica e social do sistema urbano (sobretudo nos nveis inferioresdaescala),enquantonasregiesurbanassoasatividadessecundriasetercirias que tm esse papel. Paraarealidadedodesenvolvimentoterritorialitaliano,adenominadaagricultura biolgica,similaragriculturaorgnicapraticadanoSudoestedoParan,considerada experinciasignificativaemnvellocal,porseremestratgicasparaquestesambientaise territoriais, uma vez que podem ser referncia para polticas pblicas. As palavras de Dansero (1996) valorizam as experincias locais como fundamentadoras de polticas pblicas:

Aomesmo tempo, o estmulo para elaboraes de polticas globais derivam frequentemente de experincias significativas de nvel local (como exemplo,acoletaereciclagemderefugo,aagriculturabiolgicaeoutrasmais complexasestratgiasdereconversoambientaleterritorial.(DANSERO, 1996, p. 13, traduo e grifo nosso6). Assimcomoosautoresacima,aceitamoscomoprincipalrecursoterritoriala sabedoriarecursoterritorialimaterialdosagricultoresorgnicosquegradativamente

Agenda21:odesenvolvimentoquesatisfazasnecessidadesdageraopresentesemcomprometera capacidadedasgeraesfuturasdesatisfazeremsuasprpriasnecessidades(BRUNDTLAND,1991apud LEAL, 2004).6 Traduo de parte da obra: Allo stesso tempo, gli stimoli allelaborazione di politiche globali derivano spesso da esperienze significative a livello locale (come ad esempio,la raccolta ed il riciclaggio dei rifiuti, lagricoltura biologica e altre pi complesse strategie di riconversione ambientale e territoriale. (DANSERO, 1996, p. 13). 23 reconheceroosrecursosterritoriaismateriaisgua,ar,solo,rochasbaslticasricasem nutrientes, espcies vegetais nativas e fixadoras de nitrognio atmosfrico, plantas medicinais, entreoutroseosutilizarocomoinsumosprodutivos.Avalorizaoeconsequente utilizaoracionaldosrecursosterritoriaisvmaoencontrodaidiadeterritrio autosutentvel,porquepoderreduziranecessidadedeinsumosexternosaoTerritrio. SegundoCorrado(2005,p.17,traduonossa7)oatualquadrointerpretativocolocaem evidenciaaimportnciadetornarclarooconceitoderecursosterritoriaissejaemtermos tericosquantooperativos.Aabordagemderecursosterritoriaiscomoosaberfazer, segundoCorrado(2005,p.16-17,traduonossa),vemaplicadoaumamultiplicidadede fatosterritoriaiseaindamuitodiferentesentreeles,querespeitamopassadonoqualo conceitoderecursoserautilizadoparaindicarelementosexclusivamentenaturais pertencentesaterra,ehojeoconceitoconsideraumavariedadedecoisas,sejammateriais,acordadas como uma pera combinadas homem-natureza, ou sejam imateriais, ou referentes esferadosocialecultural,tantoquantoabelezadeumapaisagem,ostalentoshumanoseo saber fazer. Reafirmandoaimportnciadequeosestudospropostosparaestadissertaono podem ser direcionados a partir de uma abordagem que limite o territrio apenas a uma idia deespao,masquecontempleasabedoriadosatores/agricultoresorgnicos,suacapacidade deorganizarem-seeplanejarematerritorializaodesuaproposta,enfatizamosRaffestin (1993),queelucidaquantoaofatodeespaoeterritrionoseremtermosequivalentes.O espaoanterior,oterritriooresultadodeumatorquerealizaumprograma,eaose apropriardesseespaoconcretamenteouabstratamenteoterritorializa.Apropostade avaliarmos o potencial de expanso de uma nova base tecnolgica e um novo pensamento implicaaceitarmosaexistnciadoatordenominadoagricultorfamiliarorgnico,oqualest territorializando-senoSudoestedoParan.Apresentaremosaterritorializaonoterceiro captulo. Aliteraturaitaliana,comautorescomoGiuseppeDematteis,emsinergismocom autores brasileiros, por exemplo, Marcos Aurlio Saquet, refora o conceito de territrio como espaoondeatoressociaisexercemseupoder.NaspalavrasdeDematteis(2007), apresentando a obra de M. A. Saquet (2007) temos: 7 Traduo de parte da obra: Lattuale quadro interpretativo mette in evidenza lmportanza di fare chiarezza sul concetto di risorsa terrritoriale sia in termini teorici che operativi (CORRADO, 2005, p. 17). 24 Oterritrio,doqualtrataestelivro,noaquelesematoresdequemo reduzaumconjuntodeecossistemasregidosporleisnaturais,nemaquele das cincias sociais e polticas mais abstratas, que compreendem o territrio como um simples espao de interao entre atores, privado de relaes com amaterialidadedoambientenaturaleconstrudo.(DEMATTEIS,2007,p. 7). Opoderdoatoremergente,agricultororgnico,torna-sevisvelnasdinmicasdo associativismo. O ator/agricultor orgnico associado fortalece-se interagindo com agricultores orgnicosindividuais,empresasqueintegramoufazemparceria,organizaesno-governamentais,governo,consumidores,entreoutras.Ofortalecimentodoatorpropicia contrapor-se aquilo que antagnico sua proposta. No caso dos transgnicos, explcito o conflito entre as empresas multinacionais e o ator/agricultor orgnico. A partir de associaes municipaisconstituiu-seoassociativismoregional,doqualexemploaAPROSUDOESTE. OutraorganizaoassociativadeabrangnciaterritorialaRedeEcovida,promotorada agroecologia.Apresentamosasorganizaesassociativasbemcomoasempresasque integramagricultoresorgnicoscomomecanismosdeterritorializaodaagricultura orgnica.Acreditamosqueaidiadepoderinternalizadanosagricultoresfamiliares orgnicos permitir a expanso da agricultura orgnica no Territrio Sudoeste do Paran. ApesquisadecampofoirealizadanomunicpiodeProladoOeste/PR,Linha Vitria onde esto localizadas 12 propriedades dos associados da APOP e no Distrito de Conciolndia onde est localizada a propriedade de 1 associado.Entrevistamos as famlias a partir de um roteiro com 93 perguntas, que nos possibilitaram resgatar histria de vida desde a dcada de 1950 quando as famlias chegaram ao municpio de Prola do Oeste/PR e montaramseussistemasagrcolas.Apsgravarmos8osdepoimentos,ostranscrevemos parcialmenteeoscitamosdemododiretoeparafraseado.Mantivemosossobrenomesdos entrevistados,eabreviamosnasparfrasesecitaesdiretassomenteosnomes,quepodem ser conhecidos nos agradecimentos. Na maioria das entrevistas, ocorreu participao familiar, pormcompredominnciadeopiniespatriarcais.Apesquisadecampoassemelhou-seao tipoestudodecasoeteveporobjetivoaprofundar[...]adescriodedeterminada realidade (TRIVINS, 1987, p. 111). Naapuraoderesultadosfinanceiros,priorizamosaatividadeeconmicasoja orgnica, certificada e comercializada9. Neste caso distribumos planilhas aos agricultores que 8 Gravador Panasonic RR-US450 9 No significa que outras atividades/por exemplo, o leite orgnico no tenham importncia crucial; no entanto, o leitenocomercializadocomoorgnico.Existeapenasumaexceo,avendadeleitedosistemaagrcolade Cludio Leonhardt na feira.25 aspreencheramapartirdesuasanotaes10diastrabalhadosdafamlia,mo-de-obra contratada e de notas fiscais insumos comprados, soja comercializada. Utilizamos GPS11 para determinao das reas totais das propriedades, das atividades agrcolas,dasreservaslegaisepreservaespermanente;eparalocalizarmosashabitaes humanas e as instalaes dos animais. A partir das coordenadas, foram capturadas imagens de satlite do GoogleHearth, nos permitindo visualizao complementar dos sistemas agrcolas estudados. A expresso sistema agrcola busca a concordncia com a proposio holstica dos modelos agrcolas que aceitam [...] que o todo mais do que a simples soma ou justaposio das partes (KHATOUNIAN, 2001, p.61).AspropriedadesagrcolasdosassociadosdaAPOP,pornsapresentadascomo sistemaagrcola,interagemcomaabordagemTerritorial,porqueapropriedadeespao geogrfico concedido por lei a determinado indivduo d o poder ao proprietrio de exercer suaterritorialidade.Assim,osistemaagrcolaestorganizadoapartirdapropostado proprietrio,agricultorfamiliar.Emboranosejaobjetivoaprofundar,vriossistemas agrcolasformamumsistemamaiorquepoderiaserdenominadoSistemaTerritrio,que interage como rede, trocando informaes e materiais.O resgate documental tambm contribuiu para a visualizao dos sistemas agrcolas. OdocumentoprincipalfoioLivrodeControleInternodoProjetodeCertificaoda APROSUDOESTEcomaCertificadoraEcocert.ParaTrivins(1987,p.111),aanlise documental [...] outro tipo de estudo descritivo que fornece ao investigador a possibilidade de reunir uma grande quantidade de informao [...]. Paradialogarsobreasquestesambientaisrealizamosreuniodeplanejamento estratgicoparticipativoapartirdomtodoF.O.D.A.SegundoCordioli(2001),omtodoordenaquatrofocosdeanlise,considerandoFortalezas(objetivosalcanados,aspectos fortes,benefcios,satisfao);Debilidades(dificuldades,fracassos,aspectosfracos, descontentamento);Oportunidades(capacidadessemexplorar,idiasdemelhoramento)e Ameaas (contexto adverso, oposio,resistncia mudana).Aps estudarmos a legislao ambientalemreuniocomosassociadosdaAPOP,visitamoscadaumadaspropriedadese juntamentecomoproprietrioe/oumembrosdasfamliasidentificamosasirregularidades (Debilidades).OmtododeCordioli(2001)demonstrou-seeficazparaorganizaros acontecimentos.AchegadadostransgnicosfacilmentefoiclassificadacomoAmeaa,por 10 Anotaes relativas a aplicaes de insumos, manejos de solo, entre outros procedimentos relativos a produo fazem parte do sistema de certificao por auditoria.11 Etrex VISTA HCxGARMIN.26 ser fator externo e de difcil controle. Afalta devegetao noentorno de algumas nascentes foiapontadacomoumaDebilidadeporserumfatorinterno,modificvelpeloproprietrio. Paraentendimentodadinmicaterritorialquetratoudotemalegislaoambiental, participamosdeduasaudinciaspblicasedoSeminrioRegionaldeAgroecologiae Preservao da Mata Atlntica, coordenado pela APROSUDOESTE e realizado, no dia 05 de outubro de 2009, na Linha Vitria, Prola do Oeste/PR. Determinamososfatoresqueinfluenciamnaexpansodaagriculturaorgnica atravsdeopiniesdosagricultoresorgnicosassociadosAPOPerevisobibliogrficade quatroautoresque,aolongodosanosparticiparamdedinmicasrelativasagricultura orgnicanoTerritrioSudoestedoParan.Soeles:Khatounian(2001)queatuouna formaodeprofissionais,principalmenteapresentandoateoriadesistemasagrcolase metodologia de processo de converso da base tecnolgica convencionalpara a orgnica; A. A. Saquet (2008), que durante o evento denominado II SEET Desenvolvimento Territorial e AgroecologiadaUNIOESTE,FranciscoBeltro/PR,apresentou:Reflexessobrea AgroecologianoBrasil;Darolt(2002),comexperinciadeorganizaodeconsumidorese conhecimentonasquestesambientais.SeudoutoradoemMeioAmbientee Desenvolvimento,pelaUniversidadeFederaldoParan;eArl(2008),queparticipouno TerritrioSudoestedoParancomoMembrodaRededeConsultoresColaboradoresdo MDA/SDT.Apuramososprojetosexecutadose/ouemexecuodasorganizaesda agriculturafamiliareoutrospormeiodematerialsecundriodoGGTESPAGrupoGestor doTerritrioSudoestedoParan,Picinatto(2005),PicinattoA.G.(2010)eentrevistas. Determinamosonmerodeestabelecimentosagropecuriosquefazemusodaagricultura orgnica com dados do IBGE (2006). Aps entrevistarmos os associados da APOP, revisar a bibliografia, apurar os fatores queinfluenciamnopotencialdeexpansoelevantarosprincipaisprojetosque ocorreram/ocorremouqueestoencaminhados,iniciamosentrevistascomorganizaesda agriculturafamiliar,empresasqueatuamnoramodaagriculturaorgnicaeinstituioque representa o governo Emater.Entrevistamos e gravamos as opinies de representantes das organizaesdaagriculturafamiliar,comoPresidentedoSistemaCresol,VanderleiZiger; PresidenteeassessoresdaASSESSOAR,AriSilvestro,ValdirDuarteeFabiaTonini12; PresidentedoSistemaCOOPAFI,CarlosFarias;PresidentedoSISCLAF,JairFrancisco 12FabiaToninidesignadapelaASSESOARparacoordenarasatividadesdaRedeEcovidadeAgroecologia. Assim sendo consideramos que o pensamento da Rede Ecovida de Agroecologia est representado na entrevista.27 Sbicigo;ePresidenteeoDiretordaCOOPERIGUAU,LindomarSchimitzeCristophede Lannoy. Das empresas, entrevistamos o scio-gerente da Gebana, Aldenir Csar Colussi; e o Diretor da Gralha Azul Avcola Ltda, Alexandre Pecits. Do governo entrevistamos o Diretor RegionaldaEmaterFranciscoBeltro/PRNiltonFritz;eoCoordenadordaCmara Temtica de Agroecologia do Territrio Sudoeste do Paran, vinculado Emater de So Jorge doOeste/PR,JairKlein.Elaboramosasperguntasespecificamenteparacadainstituioe alguns temas como potencial de expanso e existncia de estratgia territorial para agricultura orgnica/agroecologicaforamrespondidosportodos.Transcrevemosasopiniesgravadas parcialmenteeascitamosnoscaptulos.Asorganizaesdaagriculturafamiliarpriorizadas soasque,historicamente,representamosagricultoresfamiliareseatualmentecompemo GGTESPA Grupo Gestor do Territrio Sudoeste do Paran. Sua caracterstica comum que interagemefomentaram/fomentamosmodelosdaagriculturaorgnica,principalmentenas denominaesalternativaeagroecolgica.Outrofatordeterminantenapriorizaoqueos associadosdaAPOPatuam/atuaramcomoassociadosedirigentesdasorganizaesda agricultura familiar entrevistadas.Segundo Ferraz (2008, p. 9), uma caracterstica que refora o processo organizativo naregioquedototaldeassociadossCOOPAFIs,emtornode95%dasfamliasso tambm associadas ao Sistema Cresol e 85% as CLAFs [...]. Aceitamos tais organizaes da agriculturafamiliarcomovitaisparapromoveraterritorializaodaagriculturaorgnica. DestacamosaASSESOARcomogestoradadinmicaterritorial,queprovocaosurgimento dasdemaisorganizaesafinsporquetratadotematecnologiasalternativas,desdeoanode 1967,comcapacitaotcnica.Noanode1976,realizouexperimentaoagrcolae,noano de1977,formaodemonitoresagrcolasemonitorasdomsticas.Obancodesementes nativas,estratgiafundamentalparaaautonomiadosagricultoresfamiliares,teveincioem 1984.Apartirdodilogocomosassociados,noanode1987,aASSESOARcriouo ProgramadeAgriculturaAlternativaquepropunhaabranger13municpiosebeneficiar450 famliasorganizadasem22gruposdebase.Foramrealizadasexperinciasconcretasde produo de sementes, conservao de solos, fabricao de rao e sal mineral caseiro, plantio direto,adubaoverdedeveroeinvernoeadaptaodeimplementosagrcolas.Outros temasdeinteressegeraltambmforamcontemplados,comopolticaagrcola,reforma agrria,sindicalismo,cooperativismoeassociativismo.OsbonsresultadosdoProgramade AgriculturaAlternativapropiciaram,noanode1989,aexistnciade55gruposde agricultoresquesetornaramasassociaesparticipantesdoProjetoFundodeCrdito RotativoiniciadorasdoSistemaCresol.Esteformadoporcooperativasdecrditoquese 28 organizamemrede,combinandoosprincpiosdaverticalidadeedahorizontalidadenas relaesestabelecidasentreosnsdessarede,osparceiroseoutrosagentesexternos (SCHRDER,2005,p.122).Oatendimentoexclusivoparaagricultoresquedesenvolvem atividadesconformeoconceitodeagriculturafamiliardescritonalegislaobrasileira. Segundo dados do Sistema Cresol, mais de 80% dos associados tm menos de 20 hectares de terra.AsuaabrangncianoTerritrioSudoestedoParande40municpios,tendo9 cooperativassingularesnaBaseFronteirae18cooperativassingularesnaBaseSudoeste. Apenas no abrange Barraco/PR e Palmas/PR. Consideramos o Sistema Cresol, devido sua origememgruposdeagricultoresquequestionavamaRevoluoVerde,comoagente financeiroqueaceitaadenominadaagriculturaorgnicaeapropostadaagroecologia. Segundo Schrder (2005, p. 122) os financiamentos so concedidos s atividades produtivas consolidadas na regio, mas tambm a novas atividades, com nfase na adoo de tecnologias alternativas de produo agrcola, como a agricultura ecolgica. Segundo sua constatao os dirigentesdoCresolbuscamampliaraatuaodosistema,extrapolaraofertadecrdito, incentivar a organizao da produo e da comercializao, e a mudana da base tecnolgica dossistemasprodutivos.AscooperativasCresolsingularesinstaladasem40municpios apiamaconversoparasistemasorgnicos.Aposturafavorveldealgunsdirigentespode ser explicada em parte: [...]porqueparceladosdirigentesseoriginadeoutrosespaosdeatuao, comoomovimentosindical,ondeh,naturalmente,umapreocupao abrangentequantoformulaoeexecuodeumprojetodepermanncia dos agricultores familiares. Mas, especialmente, porque h um entendimento entreosdirigentesqueocrdito,deformaisolada,noampliaarendado agricultorepode,maisqueisso,tornarsua permanncia eadacooperativa insustentvel. (SCHRDER, 2005, p.171). As primeiras cooperativas do leite da agricultura familiar, as CLAFs, foram criadas, no ano de 1998, nos municpios de Renascena, Marmeleiro, Dois Vizinhos e Nova Prata do Iguau. Segundo Rckert (2007), no ano de 2003, as CLAFs criaram o SISCLAF utilizando o modeloorganizativodoSistemaCresol.Talorganizaofortaleceaagriculturafamiliara partir da cadeia/leite atuando na organizao dos agricultores, e na produo, comercializao etransformaodoleite.OSISCLAFcompostoporvinteetrscooperativassingulares. AbrangevinteetrsmunicpiosdoSudoestedoParan.formadopormaisde3.750 famlias, produzindo cerca de quatro milhes de litros de leite ao ms (RCKERT, 2007, p. 8).29 SegundoFerraz(2008),aCOOPAFICooperativadeComercializaoda AgriculturaFamiliarIntegradaeraconstitudapor15cooperativasquecontavamcom aproximadamente 150 agricultores associados para cada cooperativa; sua abrangncia alcana 25municpiosdoSudoestedoParan.Conformeentrevista13doPresidentedoSistema COOPAFI,CarlosFarias,[]umsistemadepequenascooperativasdaagricultura familiar no Sudoeste. Hoje so 17 cooperativas [...] j temos 3 filiais [...] estamos discutindo conformeaatividade[...](FARIAS,2010).SegundoodepoimentodeFarias(2010)esto [...] separando os processos, se alimento uma instituio, cereais so outras, produo de alimentoainda[esto]numafaseinicial[...].ACOOPAFIpossuiestruturafsicapara comercializaonosmunicpiosdeCapanema,Planalto,SantoAntniodoSudoeste, Marmeleiro,DoisVizinhos,CoronelVivida,Realeza,Chopinzinho,NovaPratadoIguaue Curitiba14.AatuaodaCOOPAFI,atravsdavendadiretaaoconsumidoreprocessosde comercializaocomogovernofederal15,propiciaacomercializaodosprodutosda agriculturafamiliar.SegundoFerraz(2008,p.2),Todooprocessodeformaoeatuao dascooperativaspautadopelosprincpiosdademocracia,cooperaoeparticipaodos agricultoresemtodooprocessodecisrio,almdeincentivaraadoodoenfoque agroecolgico. Avalorizaodosprodutosagroecolgicos,apartirdeumprocessoparticipativoe organizado,comapoiodaAssesoaredasoutrasentidades,contribuiusobremaneiraparaa construodaRedeEcovidadeCertificaoSolidria,apartirde1999,quemudou completamente a relao de certificao no Brasil (FERRAZ, 2008, p. 4). Esta dissertao est organizada em quatro captulos. O primeiro apresenta a APOP AssociaodeProdutoresOrgnicosdeProladoOeste/PReoTerritrioSudoestedo Paran. As informaes ilustram as atividades agrcolas orgnicas praticadas pelos associados da APOP e estimulam o leitor a pensar se possvel expandi-las no Territrio.OsegundocaptuloresgataahistriadosassociadosefamiliaresdaAPOPque vivenciaram e praticaram diversos modelos agrcolas, desde a chegada ao municpio de Prola doOeste/PR.Aexperincialocaldeagricultoresorgnicosfundamentadaemmodelos agrcolas de oposio ao modelo tecnolgico convencional. Apresentamos as vrias propostas demodelostecnolgicosimportadosequeconstituemaexperincialocaleaindaneste 13 Entrevista no dia 22/01/2010. 14EmCuritiba/PR,aCOOPAFImantmfuncionrioemlojaexclusivadealimentosorgnicos,juntoao Mercado Municipal.15GovernoFederal:destacamososprojetosviaConabemqueassociaesdeagricultoresorgnicosfornecem alimentos s escolas municipais. A quantidade de alimentos a serem fornecidos e os valores so predeterminados na legislao do Programa e em projeto. As Secretarias de Agricultura dos municpios coordenam estes projetos.30 captulo,problematizamos:Asexperinciaslocaisresultaramemumaestratgia agroecolgicaterritorial?Ousoexperinciaslocaisdesarticulados,quenocaracterizam estratgia?No terceiro captulo utilizamos dados de Picinatto (2003, 2005) do IBGE (2006) e da IFOAMInternationalFederationofOrganicAgricultureMovements(Federao InternacionaldeMovimentosdaAgriculturaOrgnica),perodode199716a2009,e ilustramos a territorializao da agricultura orgnica em vrias escalas.O quarto captulo denominado Agricultura Familiar com Base Tecnolgica Orgnica: potencial de expanso no Territrio Sudoeste do Paran, engloba a maior parte dos resultados dapesquisacomainiciativaprivada,organizaesdaagriculturafamiliaregoverno.Nele esto explicitadas as dificuldades dos associados da APOP e que, possivelmente, influenciam demodonegativoouimpedemaexpansodaagriculturaorgnica.Aexpressopotencial, essnciadetodaapesquisaetituloprincipaldoquartocaptulo,consideradacomo possibilidade de realizao, de intensificao da dinmica territorial, culminando com muitas famlias de agricultores adotando o modelo tecnolgico orgnico.Aexpressoagriculturaorgnica,conformealegislaobrasileiracontemplaos modelosecolgico,biolgico,biodinmico,agroecolgico,natural,sustentvel17, regenerativoepermacultura,comotecnologiasdeproduo.Aspropriedadesagrcolas investigadas so o resultado de tecnologias de vrios modelos agrcolas, no correspondendo aumnicomodelotecnolgicoproposto.Nosvrioscaptulos,utilizaremosaexpresso agricultura orgnica abrangendo todos os modelos, porm, admitimos a existncia de distintas propostas.Emalgunscasosexplicitaremosapropostaagroecologicacomsuas particularidades.Aceitamosaexpressoagroecologiacomoumaestratgiade desenvolvimento em construo e no apenas como mtodos e tcnicas de produo.A expresso Agricultura Orgnica utilizada no Territrio Sudoeste do Paran, com vriossentidos,emalgunscasospuramentecomoaproduodasojaorgnicapara exportao,oqueentendemosserequivocado;emoutroscasostratando-sedetecnologiade produogeneralizandoeabrangendoasdemaiscorrentes,oqueaceitamoscomomais prximodarealidadeobservadanossistemasagrcolas.Paraestadissertaoquando utilizarmosasexpressesbasetecnolgicaorgnica,agriculturaorgnica,oumodelo 16 1997 o ano que a IFOAM coletou os dados publicados no ano de 2000. 17 Para Leff (2002), os desafios do desenvolvimento sustentvel implicam a necessidade de formar capacidades paraorientarumdesenvolvimentofundadoembasesecolgicas,deequidadesocial,diversidadeculturale democracia participativa (LEFF, 2003, p. 246). 31 orgnico,nosreferimosaoconjuntodetecnologiasapresentadasnosub-captulo2.8 MODELOSAGRCOLASDEOPOSIOAOMODELOCONVENCIONAL.Quandose tratardepropostasfaremosdistinoentrepropostaagroecolgicaeadasempresas exportadoras.Asassociaescomdenominaoorgnico(s)nonecessariamenteesto vinculadasaempresasexportadoras;vriasassociaescomadenominaoorgnico(s) comercializamlocalmente.Distinguirpropostaseresultados,atribuindomritosdiversas associaesdeagricultoresesuasorganizaesderepresentao,iniciativaprivadaeao governoograndedesafio.OestudodecasodaAPOPlevaacrerque,emumaassociao denominadaorgnicaasdiferentespropostas,agroecolgicaeorgnica;easdistintas tecnologias convivem, resultando em benefcios ao ambiental, ao econmico e ao social.Aceitamosarelaohomem-natureza,praticadapelosassociadosdaAPOP,como tentativadeconvvioharmoniosocomanaturezaaoinvsdatentativadedomin-la; contrape-seaopensamentodaquelesqueargumentam:[...]todavia,arealidadeda dominao social sobre a natureza incontestvel [...] (SMITH, 1988, p. 27). A proposta de desenvolvimentoeconmicoapartirdaagriculturaorgnicageradoradeumadinmica territorial.Osdiversosatoressociais,gradativamente,estointensificandoaarticulao territorialpormeiodoassociativismoecooperativismo,iniciativaempresarialegoverno,o que contribui para a expanso da agricultura orgnica.A questo principal que nos orientou nasinvestigaeseserdiscutidanasconclusesparciaisefinal:Qualopotencialde expanso da agricultura orgnica no Territrio Sudoeste do Paran? 32 CAPTULO 1 ASSOCIAO DE PRODUTORES ORGNICOS DE PROLA DO OESTE/PR APOP E O TERRITRIO SUDOESTE DO PARAN 1.1 CONSIDERAES INTRODUTRIAS Neste captulo apresentamos as caractersticas dos sistemas agrcolas dos associados da APOP e do Territrio Sudoeste do Paran. Priorizamos as caractersticas importantes para avaliarmos uma possvel territorializao da agricultura orgnica a partir da experincia local. ApresentandoaAPOPcomoexperincialocal,descrevemosseusurgimento,alocalizao das propriedades, a agricultura do municpio de Prola do Oeste/PR, a origem dos associados, aparticipaonaRevoltadosColonos,ossistemasagrcolaseastecnologias. Problematizamos a dependncia em insumos externos ao sistema agrcola e ao Territrio, e as questesambientaislevantadasnaspropriedadesdosassociados.Detalhamosastecnologias deproduoorgnicadealgunssistemasagrcolasedemonstramosousodaterracomas principais atividades agrcolas orgnicas; apresentamos o tempo de trabalho necessrio para o cultivo da soja orgnica e os resultados financeiros dessa atividade devido ao grande destaque que os associados deram aos temas durante as entrevistas. Da instncia Territrio Sudoeste do ParanMDA/SDTapresentamosohistricodaconstituio,entidadesqueparticipam, localizaoequantidadedeestabelecimentosagropecuriosfamiliarespormicrorregio.As caractersticasfsicastambmforampriorizadas,porqueconsideramosqueascondies fsicassofavorveisapropostaagroecolgicadedistribuiodealimentosnoTerritrio. ApresentamosoTerritrio,comodinmicapraticadapelosatores/agricultoresfamiliares orgnicos e citamos as instituies governamentais e no-governamentais que fazem parte do GGTESPAGrupoGestordoTerritrioSudoestedoParan.Asopiniesdosatoresque poderoinfluenciarnaterritorializaodaagriculturaorgnicaseroapresentadasnos captulos seguintes. 33 1.2 A APOP DE PROLA DO OESTE/PR OprincipalfatomotivadorparaosagricultoresorgnicosfundaremaAPOPfoio curso de agricultura orgnica, elaborado e executado pelo Instituto Maytenus no ano de 2002. EraumadasaesdoProgramadeAgriculturaOrgnicadoSebraedePatoBranco/PR.O cursofoiexecutadoem12mdulosquinzenaisecomopartedemetodologia18,quepreviu: curso,visitasdeorientaotcnica,intercmbios,palestraseassessoriasrelativas certificao, entre outras aes. Encontros sistemticos geraram a associao no ano de 2003. Algunsassociadosjeramprodutoresdesojaorgnicadesde1991eoutrosconverteram-se para o modelo orgnico, como resultado das aes do programa. Embora a soja orgnica seja importanteparaasfamliasdevidoasuacomercializaocomoprodutoorgnicode exportao, constatamos que outras atividades agrcolas, gradativamente foram incorporando princpiosetecnologiasdevriosmodelos:agroecolgico,natural,biodinmico,ecolgico, orgnico,homeoptico,permacultura,sistemavoisin,entreoutros.Autilizaoda homeopatia,piqueteamentoVoisin(1978)paracontroledeectoeendoparasitaseirrigao noturnadospiquetes,horticulturaorgnica,produodeuvaevinhobiodinmicoso destaquesquenosrevelaramsinergiacomaquestoambiental.Observamosqueocorre recuperao de nascentes e sangas, implantao de agroflorestas, biodigestores e aquecedores solares.AparticipaodaAPOPnoassociativismoterritorialocorrepormeioda APROSUDOESTECentraldeAssociaesdeProdutoresOrgnicosdoSudoestedo Paran.DestacamostambmaparticipaodeassociadosemorganizaesAssesoar, SistemaCresol,Sisclaf,CoopafideabrangnciaTerritorial,tornandoaAPOPambiente propcioparaentendermosasdinmicasqueocorrememtornodaagriculturaorgnica.O quadro 1 mostra o tamanho da rea das propriedades e a produo de soja orgnica na safra de 2001/2002dedozeassociadosquecomercializaramemconjunto.Tallevantamentotevea funo de apresentar estimativa de produo para compradores presentes na feira BioFach em 2004,noBrasil.Osassociadosobjetivaramavaliarapossibilidadedavendadiretaparaa indstria, reduzindo as intermediaes. 18 O mtodo Mandala est descrito em PICINATTO, A. C.; CAVALET, L. E. Avaliao de metodologia para a conversodesistemasagrcolasconvencionaisparaorgnicos.ScientiaAgrriaParanaensis,v.4,p.05-20, 2006.OmtodoMandalatambmestapresentadoemOLIVEIRA,L.C.;PICINATTO,A.C.Avaliaode metodologiaparaaconversodesistemasagrcolasconvencionaisparaorgnicos.In:IIJornadaCientficado Centro-Oeste de Economia e Administrao, 2002, Campo Grande MS, p. 70. 34 Os sistemas agrcolas das propriedades sofrem modificaes constantes uso do solo emodelostecnolgicosparasuperardificuldadesimpostas.Adescriodossistemas agrcolas,pornsconceituado,comoterritrioadministradopelosagricultoresfamiliares, daropanoramadasatividadesagrcolasnadatacitadanafonte.Aseguiroquadro demonstrativo de rea total, principais produtos e estimativa da soja orgnica na safra 2004. QUADRO 1 APOP,REA DAS PROPRIEDADESEESTIMATIVAPARASOJAORGNICA, SAFRA 2004. NOME REA TOTAL ha PRINCIPAIS PRODUTOS SOJA** C2*** SOJA** ORG Alfredo Mombach16,3Soja, milho, leite, aveia, carne suna*400 Jair Mombach10,2Soja, milho, leite, aveia, sorgo280 Milton Patzlaff21,0Soja,milho,leite,aveia,sorgo,carne suna* 395 Lcia A. Patzlaff18,2Soja,milho,leite,aveia,sorgo,carne suna* 500 Sergio Campra13,5Soja, milho, leite, aveia180 Tefilo Domanski18,2Soja, milho, leite, aveia80186 Mario Domanski26,3Soja, milho, leite, aveia250425 Eduardo Domanski25,2Soja, milho, leite, aveia545 Claudio Leonhardt 8,4Soja, hortalias, milho, leite, aveia150 Waldomiro Gerhardt10,2Soja, milho, leite, aveia300 Romeu Helfer5,2Soja, milho, leite, aveia190 Jorge Patzlaff11,7Soja, milho, leite, aveia, carne suna*230 TOTAIS EM SACAS5203.591 TOTAIS EM KG31.200215.460 FONTE: PICINATTO A. C., 2003.NOTA:*Atividadenoorgnica,conformetecnologiadaempresaSadia,comodiferencialdequeosanimais so parcialmente tratados com milho orgnico da propriedade. NOTA: **O detalhamento para o produto soja por ser o principal produto de exportao da APOP. NOTA: *** C2 a atividade em processo de converso que ainda no alcanou o padro para exportao.

35 1.2.1 Localizao dos associados APOP e caractersticas de Prola do Oeste/PR Os associados da APOP tm suas propriedades agrcolas localizadas no municpio de Prola do Oeste/PR, sendo 12 na Linha Vitria e uma no Distrito de Conciolndia. Todas as famliasresidemnaspropriedades.ALinhaVitrialocaliza-seentreacidadedeProlado Oeste/PR e Planalto/PR e tem como acesso principal a PRT 163. O Distrito de Conciolndia localiza-seentreacidadedeProladoOeste/PRePranchita/PRetambmcomacesso principalpelaPRT163.AsfamliaslocalizadasnaLinhaVitriaestoprximas,so6 famliasvizinhasCludioLeonhardt,MarioJosDomanski,EduardoDomanski,Lcia AladesPatzlaff,RomeuErmindoHelfereJairMombachformandoumapequenailha orgnica. A figura 1 localiza o municpio de Prola do Oeste/PR e os demais 42 municpios que compem o Territrio Sudoeste do Paran. 36 37 OmunicpiodeProladoOeste/PR,segundooCensoAgropecurio,IBGE(2006) conta com 1.472 estabelecimentos agropecurios. As lavouras temporrias esto presentes em 1.169 estabelecimentos, ocupam uma rea agrcola de 8.422 ha e destacam-se pelo cultivo do milho, constatado em 827 estabelecimentos. A produo comercializada de gros de milho foi de26.178toneladas;asojaemgrostotalizou18.026toneladasefoicultivadaem716 estabelecimentos;amandiocafoiidentificadaem460estabelecimentos,sendo comercializadas6.176toneladas;aproduodetrigotambmatividadedomunicpioeo IBGE(2006)registrouocultivoem134estabelecimentoseacomercializaode3.240 toneladasdetrigoemgro;ofeijodecor,cultivadoem42estabelecimentos,totalizou287 toneladas comercializadas; a cana-de-acar tambm aparece no censo agropecurio de IBGE (2006) em 69 estabelecimentos que produziram 479 toneladas. Em lavouras temporrias, cabe ainda ressaltar a existncia da produo do fumo.OsagricultoresassociadosAPOPforamconvidadosnovembrode2009para reuniesemqueaempresaSouzaCruzfomentouocultivodefumocombasetecnolgica orgnica.OsistemadepreparodosolonomunicpiodeProladoOeste/PR,nagrande maioria,plantiodiretonapalhacomusodeherbicidaseestavapresenteem797 estabelecimentos.Odenominadocultivoconvencional,comrevolvimentodosolopormeio dearaoegradagem,foiconstatadoem2006em413estabelecimentoseocultivo mnimo,comsomenteumagradagem,em55estabelecimentos.Aproduodeleiteconta com15.724cabeasdebovinosem1.034estabelecimentos.Outrosanimaistambmso criados;destacam-seossunos,vistoque,em832estabelecimentos,foramapurados16.751 cabeas.Acriaodesunos,emgeral,comintegraoempresaSadia.Aatividadecom avescontavaem2006com147.782cabeasprincipalmentedefrangosem1.007 estabelecimentos.Outrosanimaissocriadosempequenaquantidade:caprinosem22 estabelecimentoscom98cabeas;eovinosem25estabelecimentoscom254cabeas.O IBGE(2006)tambmidentificouaproduodeovosdegalinhaem642estabelecimentose produo de 74 mil dzias/ano.Outrasatividadesagrcolascomolavouraspermanentesforamapuradasem129 estabelecimentosagropecuriosecontamcom136ha;ocultivodebananaocorriaem4 estabelecimentoscomproduode3toneladas.Atividadesagroflorestaiscultivadacom espciesflorestaisetambmutilizadaparalavourasepastejodeanimaisforamidentificadasem37estabelecimentoseocupavam111ha.Asatividadesrelativas horticulturacomercialsoraras,constituindoumexemploahorticulturaorgnicada propriedadedeCludioLeonhardt,associadoAPOP.OCensoAgropecurioIBGE(2006) 38 constatou,emProladoOeste/PR,36estabelecimentosagropecuriosquefazemusoda agriculturaorgnica;19certificadosporentidadecredenciadae17quefazemuso,contudo no so certificados. O controle biolgico, tambm pesquisado pelo IBGE (2006) apresentou 12 estabelecimentos agropecurios quefazem uso para controle de pragas e/ou doenas e 45 estabelecimentos que fazem uso dealternativascomo iscas, caldas erepelentes. Acontagem dapopulao,domunicpiodeProladoOeste/PR,segundooIBGE(2007),diagnosticou 7.046 habitantes. O pessoal ocupado em estabelecimentos agropecurios de 2.070 homens e 1.450 mulheres. 1.2.2 Origens dos associados da APOP e da populao do Sudoeste do Paran Apartirdedadosdoperodode1900a1975,Wachowicz(1987)constatouquea populaodoSudoestedoParan,oriundadosestadosdoParan,SantaCatarinaeRio Grande do Sul e a presena de indivduos de outros estados pequena. Do incio do sculo at os primeiros anos da dcada de 1950, a populao predominante era formada por caboclos de origemparanaense,compequenaparticipaoderiograndenses.Ocorreramdoisfluxos migratriosderiograndensesnafaseemquepredominavaapopulaocabocla:oprimeiro em 1914-1915 e o segundo em 1940-1941. Um segundo perodo da colonizao caracterizou-seporumgrandeafluxodemigrantesprocedentesdosestadosdoRioGrandedoSul,Santa Catarina e Paran, a partir de 1954-1955; eram descendentes principalmente de imigrantes de paseseuropeus.Conformeentrevistas,osagricultoresassociadosAPOPchegaramao municpiodeProladoOeste/PR,apartirde1954,esooriundosprincipalmentedoRio Grande do Sul 12 famlias e de Santa Catarina 1 famlia.Anteriormente desenvolviam atividades agrcolas em municpios do Rio Grande do Sul: Alecrim, Trs Passos, Guarani das Misses,TenentePortelaeSantaRosa.Sofamliasdescendentesdeimigranteseuropeus provenientesprincipalmentedaPolnia,Domanski19;daAlemanha,Gerhard,Patzlaff, Mombach,Helfer,Erhart,Dietrich,Bohn,Graauw;eItlia,Casagrande,Campra.Omotivo que impulsionou a migrao para Prola do Oeste/PR foi a busca por terras frteis, o que foi explicitadoporM.J.Domanski(2009)respondendo-nossperguntas:Quandochegarama ProladoOeste/PR,em1954,jtinhamobjetivodeproduzirparavender?Aintenoera, 19ExisteapossibilidadedafamliacomosobrenomeDomanskiseroriginriadaUcrnia,todaviano aprofundamos pesquisa para este caso. 39 porque o pai veio de l de Guarani, [que] era campo, no produzia nada, era s formiga!O teu pai lidava com gado? Opai[lidava]era[na]agricultura;nolidavacomgado,mastinhagado, mas no era pra comrcio, era s pro gasto, era agricultura mesmo! Ele veio pracporqueera[s]roarenoprecisavadeadubao,notinhaa formiga como tinha l, que cortava a planta e tudo! E a terra l no produzia, aquidizquederrubavaomato,queimavaeplantava.Porquelaterrano produzia sem nada, no tinha o que fazer. Aqui a terra era diferente. L era campo, hoje granja, planta melhor do que aqui, recuperaram porque veio o adubo, da comeou a produzir l tambm. (M. J. DOMANSKI, 2009). Os novos habitantes da populao sudoestina eram conhecidos pelos caboclos como gringoseasrelaessociaisforamtantoconflituosasquantosinrgicas.Arelao conflituosa estabelecia-se principalmente porque os colonos descendentes de europeus vieram comaintenodesetornaremproprietriosdaterra.Oscaboclospraticavamacriaode porcossoltosecolhiamaerva-matenativa.Embuscadeentendimentosobreasrelaes sociais das famlias dos associados da APOP nos primeiros anos aps sua chegada com os caboclossudoestinos,perguntamos:Afamliateveconflitocomoscaboclosdaregio?As respostas daqueles cuja famlia chegou na dcada de 1950 so ilustrativas quanto ao domnio da terra, por meio da posse: Euachoqueno,euachoqueoscabocloficarammaispreocupadocom medo que iam perde tudo, s que tambm esses que entraram por a do Rio Grande do Sul, no pagaram quase nada pros caboclo. Isso a vendia por um preo de banana, s uma cachaa e uma vaca. (R. E. HELFER, 2009). Quantocontribuiodocaboclonaimplantaodacriaodeporcos, diagnosticamos que, emalguns casos, produziam milho, o que garantia parte daalimentao dos porcos dos gringos: Ah, tinha! O pai no tinha problema, nis no tinha problema com eles, mas tinhagentequetinha.Eramgrileirosdaterra.Cadaumtinhasuareae ficavam revendendo, e plantavam roa de milho. O pai comprava deles roa demilho,compravaroademilhoverdequandotava,tipo,pertode embonec. Embonecando, j tavam vendendo. O pai ia l e comprava; tinha bastante porco, nis no vencia planta tudo o miio pra trat os porco. O pai no comprou, mas tinha outros que comprava at roa de feijo verde. (M. J. DOMANSKI, 2009). 40 As famlias que chegaram na dcada de 1970 j encontraraminstalada a agricultura, os solos desgastados e o incio da Revoluo Verde: Quando chegaram era tudo colonizado, pois chegaram na dcada de 70 (M. F. PATZLAFF, 2009).Apresenadoindgena,nopassadodoSudoestedoParan,podeserconfirmada pelonomedealgunsmunicpioscomoVereVitorino,oriundosdosnomesdelderes indgenas como Vitrio Cond e Viri. Parte da sua cultura persiste nas reservas indgenas. A populaoindgenaCaingangues,GuaraniseXetsdoSudoestedoParanestnas reservasdeMangueirinha/PR,comumareade16.376hectareseemoutrareserva,em Palmas/PR, com rea de 2.944 hectares (FERREIRA, 1999). As famlias associadas APOP nosrelataramnotercontatocomosindgenas,oquelhesteriapossibilitaaadoode variedadesdemilho,mandiocaeoutrasespciesvegetaisdecultivoagrcola,oque caracterizaria resgate de variedades da cultura agrcola indgena. Segundo Andrade (1995), no SuldoBrasil,opovoamentolitorneofoiinexpressivo,aopassoque,nointerior,naporo ocidental,desenvolveu-seumEstadoTeocrticoindgenaeorganizadopelosjesutas.As denominadas Misses foram destrudas pelas Coroas Portuguesa e Espanhola bem como pela cobiadosbandeirantes.Possivelmente,oscaboclosquehabitavamaregiodeProlado Oeste/PRtinhamumpassadorelacionadocomaculturajesuta.Sehaviaconhecimento indgena e/ou caboclo e materiais genticos sementes de variedades resistentes a doenas importantesparaapoiaraagriculturaorgnica20,noevidenciamosnasentrevistasa transferncia desses conhecimentos e/ou sementes para os familiares dos associados a APOP, oquereforaaagriculturaorgnicaenquantomodeloimportadoenodesenvolvido localmente, e que busca se sobrepor aos demais modelos.Wachowicz(1987)apresentafatoshistricosimportantessobreaformaodo SudoestedoParan.OmunicpiodePalmas/PReraregiodecriatriosprincipalmentede bovinos.Apopulaonoproprietriavivianasfazendascomfunodedomador,peo, agregado,boiadeiro,entreoutrasatividadesnecessriassfazendasdecriaoextensivade gadobovino.Nessasregiesdecriatrios,denominadoCamposGerais,desenvolveu-se, desdeoinciodosculoXVIII,opreconceitocontraaagricultura,poiseramaisfcilede maiorestatussocialtrabalharnasfazendastocandotropasdebovinosoumuaresdoque trabalhar na agricultura capinando e lavrando a terra. Tal preconceito restringiu severamente o desenvolvimentodemunicpioscomoPalmas/PReClevelndia/PR,poisosalimentose 20Nestecaso,consideramosagriculturaorgnicaapropostaagroecolgica,queenfatizaoresgatedacultura agrcola tradicional, as variedades de plantas e espcies animais que, supostamente, poderiam fazer parte de uma nova base tecnolgica. 41 demais matrias primas eram escassos e a populao dependia de outras regies. Os migrantes que colonizaram os municpios do Sudoeste do Paran, desde a fronteira com a Argentina at aproximadamenteomunicpiodePatoBranco/PReCoronelVivida/PR,culturalmente estavam habituados ao cultivo do solo. O seu hbito principal era a formao de propriedades agrcolaseocultivodaterracomtrabalhofamiliar.Segundoosrelatosdosassociadosda APOP,asprimeirasatividadesagrcolasdosfamiliaresquechegaramLinhaVitria, municpio de Prola do Oeste/PR, foram: Ah! isso era miio, feijo, arroz. Isso era pro gasto (R.E.HELFER,2009).AfamliaHelferchegouem1957ecomeouacriaodeporcos aproximadamente15anosdepois.AfamliaDomanskipriorizouacriaodeporcos: Naqueletempo,criavaporco,porcopreto,nochiqueiro;tinhasolto,masnoeramuito. Tratavaamilho,urtigo,mandioca,abbora,fumero-brabonovo,traziadecarroada,fazia lavage.Atquetinhauns20anos,colhiapastoparaosporcosnaroanova(M.J. DOMANSKI,2009).NapropriedadedosPatzlaff,quechegaramnadcadade70,era produzido: Aquela poca, nis era suno, milho e da o soja plantado no meio do milho, era colhido manual (M. F. PATZLAFF, 2009).No incio do sculo XX, o Sudoeste do Paran desde o municpio de Maripolis/PR atafronteiracomaArgentina,eraumimensovaziodemogrfico,comumapopulaode 3.000habitantes.OsfazendeirosdePalmas/PRnoseinteressavameminvestirna colonizao de terras que no fossem campos criatrios. A populao do Territrio Sudoeste doParan,conformeIBGE(2007),de557.732habitantes.Paraosmigrantesdescendentes deeuropeus,provenientesdosEstadosdoRioGrandedoSuleSantaCatarina,osolo demonstrou-se ideal, garantindo a produo sem adubos de nenhuma espcie durante mais de uma dcada. 1.2.3 Familiares dos associados da APOP em momentos histricos relevantes As principais turbulncias que afligiram a populao do Sudoeste do Paran foram as disputasterritoriaisentreArgentinaeBrasil,EstadodoParaneEstadodeSantaCatarina, EstadodoParaneCiadeEstradasdeFerroSoPaulo-RioGrandedoSul,governodo Estado do Paran e Governo Federal e CITLA Clevelndia Industrial Territorial Ltda com o Governo Federal.42 Segundo Wachowicz (1987), o Sudoeste do Paran estava em litgio fronteirio, em terrasreclamadaspelaArgentina.OpresidentedosEstadosUnidosdaAmrica,Grover Cleveland,foiescolhidoparaarbitrar.Paradecidirareferidadisputa,osdoispases escolheram,em1889,oPresidentedosE.E.U.U.para,comorbitro,decidiroproblema (ZANELLA, LENOCH, 1997, p. 19). AdecisoafavordoBrasil,fundamentadanaUtiPossidetisocorreuem6de fevereirode1895.OCensode1890mostrouque,noterritriocontestado,amaioriados habitanteserambrasileiros.Dos5.793habitantes,5.763erambrasileirose30estrangeiros; no havia nenhum cidado registrado como argentino. A presena desses brasileiros resultava da expanso da frente pastoril iniciada pelos pioneiros dos campos de Palmas/PR a partir de 1839. Segundo Battisti (2006, p. 66): AhistriadoSudoestedoParanestintimamentevinculadalutapela terra, concebida pela elite como fonte de poder (poltico/econmico) e pelos camponesescomoespaodetrabalhoederelaes,orientadoparaa produo e reproduo da vida biolgica e social.

Houve uma fase em que o Sudoeste do Paran foi disputado pelos Estados do Paran eSantaCatarina,influenciadospelacriaodaProvnciadoParan.ApsaGuerrado Contestado,amaiorpartedareacontestadaficouparaoEstadodeSantaCatarina,acordo que aconteceu no ano de 1916. A disputa entre o Estado do Paran e a Companhia de Estradas de Ferro So Paulo-RioGrandedoSulaconteceuapsaRevoluode1930,quandooGeneralMrioTourinho revogoualgumasconcessesfeitasem1920,porocasiodocontratodeconstruode estradasdeferro.AsconcessesaestacompanhiaeramrelativasaosttulosdasGlebas Chopim e Misses. A disputa entre o governo do Estado do Paran e o Governo Federal iniciou quando o Presidente Getlio Vargas incorporou Unio os bens da empresa Brasil Railway Company,proprietriadaCompanhiadeEstradasdeFerroSoPaulo-RioGrandedoSul,incluindoas Glebas Misses e Chopim.AcriaodaCANGOColniaAgrcolaNacionalGeneralOsrioaconteceua partirdainiciativadereservistasdoExrcitoNacionalque,apoiadospeloDecreto-Lei nmero1968,de17dejaneirode1940,solicitaramdoaodelotesdeterranafaixade fronteira.EstasolicitaolevaaDivisodeTerraseColonizaoaproporacriaodeum Ncleo Colonial no Sudoeste do Paran. Em 12 de maio de 1943, o Presidente Getlio Vargas 43 baixouoDecreto12.417quecriavaaColniaAgrcolaNacionalGeneralOsrio, considerandoafaixade60quilmetrosdafronteiranaregioBarracoaSantoAntoniodo SudoesteemterrasaseremdemarcadaspelaDivisodeTerraseColonizaodo Departamento Nacional de Produo Vegetal do Ministrio da Agricultura. Com a criao da CANGO,muitoscolonosvieramcolonizaroSudoestedoParanereceberamdelasomente umprotocolo,sendoconsideradosposseiros.Haviatambmoutrosposseirosquevieram regio sem serem protocolados pela CANGO. Segundo LAZIER (1986), a CITLA Clevelndia Industrial Territorial Ltda foi uma dasempresasquemaistumultuouodesenvolvimentodoSudoestedoParan.Apartirde 1950,aCITLAmanifestou-secomoproprietriadasGlebasMisseseChopimepassoua venderareferidareaemlotesaosposseiros.Vriasfamliasque,hoje,constituemaAPOP participaramdaRevoltadosColonos.Opaiparticipou.Levavabiadecarroaparaeles. TinhaumacampamentoaquinaProla(M.J.DOMANSKI,2009).Amaioriadas propriedadesorgnicasdosassociadosdaAPOPresultadosttulosdeterraquefamiliares receberamdoGETSOPGrupoExecutivoparaasTerrasdoSudoestedoParan,devidoa vitria dos colonos. Os tios da Eva21 e o pai vieram no tempo da revolta, chegaram em 1954, participaram da revolta e conquistaram ttulo de terra (M. F. PATZLAFF, 2009).OsabusoscometidospelaCITLA,comviolnciaedesrespeitoaoscolonosque habitavamoSudoestedoParan,provocaramaRevoltadosColonos.Nosdias10e11de outubrode1957,centenasdecolonosarmadossereuniramemFranciscoBeltro/PR,local dosescritrioscentraisdasempresasCITLAeComercial,expulsandoosjagunos contratadosparaatemorizaroscolonos.Arevoltacomeouemsetembrode1957,no municpio de Capanema/PR, e em 09 de outubro, no municpio de Pato Branco/PR, resultando no fechamento dos escritrios das empresas.Parasolucionaroproblemadasterrasedosposseiros,enquantoopoderjudicirio nodavaoseuveredictodefinitivo,oGovernoFederaldesapropriouedeclaroudeutilidade pblica a Gleba Misses e parte da Gleba Chopim. Em19demarode1962,oDecretonmero51.431,assinadopeloPresidenteJoo Goulart,criouoGETSOPGrupoExecutivoparaasTerrasdoSudoestedoParancoma finalidadedeprogramareexecutarostrabalhosnecessriosefetivaodadesapropriao. Comisso,maisde40milttulosdeterrasforamfornecidoseosposseirostornaram-se proprietrios das terras do Sudoeste do Paran, porm: 21 Eva Cardoso esposa do Milton F. Patzlaff.44 [...]resolvidasasquestesdapossedaterraatravsdeconflitoaberto, inclusivearmado,entreagricultoreseempresascolonizadoras,iniciou-seo processodemodernizaodaagriculturaqueseconstituiu,basicamente,na mudanadabasetecnolgicaorientadapelocapitalindustrial.(BATTISTI, 2006, p. 66). ParaIanni(2004),ocapitalindustrialabsorveerecriaocampocomoutros significados,transformandoaproduoagrcolaemumsetordaproduoindustrial subordinada aos seus imperativos e submetida as suas exigncias (IANNI, 2004, p. 48 apud BATTISTI, 2006, p. 66). Para os associados da APOP e demais agricultores familiares orgnicos que buscam continuamenteumabasetecnolgicaadequadaparapermaneceremcomoagricultores,a conquistadaterraapenasumaetapavencida,porm,insuficienteparaasatisfaoplena. Aindalhesfalta,seremreconhecidoserespeitadossocialmentecomoagricultoresorgnicos, comideaisecolgicos,quecuidamdaqualidadedagua,quenocontaminamoarcom agrotxicos, que no prejudicam seus vizinhos com derivas22 de agrotxicos e que, produzem alimentoscomqualidadesuperioraosdomodeloconvencionalcontaminados23por agrotxicos. A participao dos associados da APOP, em dinmicas territoriais da agricultura orgnica, busca suprir anseios e objetiva uma vitria to importante quanto de 1957. 1.2.4 Os sistemas agrcolas e tecnologias nas propriedades dos associados APOP Descrevemos a seguir, quatro sistemas agrcolas e tecnologias, os insumos utilizados, manejodosolo,sistemasdeplantioetc.Aexpressosistemaagrcolasignificaconjuntode atividades agrcolas que se complementam. A expresso propriedade agrcola significa que a famliaresidenteconquistouaterraeestdocumentadaconformealegislaobrasileira.A abordagem territorial considera esta famlia como a gestora das atividades do sistema agrcola e com poder de tomar as decises quanto permanncia oualterao dosistema agrcola. O poder de deciso quanto a utilizar ou no o modelo tecnolgico orgnico atribudo famlia 22Aderivadeagrotxicoscausadapeloventoquetrsdelavourasvizinhasvriosagrotxicos,quecausam desconfortopelocheiro,matamplantasfrutferas,contaminamoar,agua,osolo,osanimaiseoseres humanos. 23AANVISAAgnciaNacionaldeVigilnciaSanitria,concluiunorelatriodeatividadesdoProgramade AnlisedeResduosemAlimentosde2009 quedeumtotalde3.130amostrasde20culturascoletadasem26 estados,907amostrasestavaminsatisfatriasporqueapresentaramagrotxicosemnveisacimadolimite mximo de resduos e tambm porque utilizaram agrotxicos no autorizados para a cultura (ANVISA, 2010). 45 proprietria,poisoseuterritrio.Aseguirdescrevemosossistemasagrcolasdasfamlias de Jair Mombach, Cludio Leonhardt, Waldomiro Gerhard e Lcia Alades Patzlaff. A Sistema Agrcola Jair Mombach: A famlia constituda pelo Jair, Ins e a pequena Bruna, almdegarantiraproduoparaexportao,produzamaiorpartedosalimentosparaoseu consumo.Aatividadededestaqueasojaorgnicaparaexportao;osorgo,milhoearroz so cultivados em rotao de cultura nos vrios talhes delimitados por curvas de nvel. Est inclusonosistemaumaagroflorestacomaproximadamente5anos.Umapequenarea, ocupadapeloprojeto24daAssesoar,estpiqueteadaecultivadacomcapinseobjetivaa produodegalosdaraaRhode.Atendnciadessesistemaagrcolaevoluirparaa atividade/leite,comampliaodareadepastagemesistemadepiqueteamentoirrigado.O uso do solo apresentado no quadro seguinte: QUADRO 2 USO DO SOLO NO SISTEMA AGRCOLA DE JAIR MOMBACH, 2009 USO DO SOLO REA (ha) ORGNICA OBSERVAES Culturas anuais5,9820Predomina soja orgnica Agrofloresta/capoeira0,8600 Piquetes0,9449 Reserva Legal RL0,8364 rea de Pres. Perm. Preservada APPP0,3184A lavoura ocupa parte da APP Outros 0,3583 REA TOTAL9,3000 FONTE: PICINATTO (2009). 24Melhoramentogenticodegalinhascaipirasapartirderaaspuras.Oprogramacontrape-seaomodeloda monocultura,fortalecendoaautonomiaalimentardaspopulaesdocampo,oferecendoalimentosdemelhor qualidade aos consumidores urbanos e melhorando a biodiversidade animal na agricultura familiar. O programa iniciou com a distribuio de ovos, pintos e aves adultas de 6 raas puras, trazidas de fora da regio, atravs da compra e intercmbio com parceiros como a UNIOESTE Campus de Marechal Cndido Rondon e o Centro de Apoio aos Pequenos Agricultores CAPA Rondon.46 Namaiorpartedareadelavoura,nosltimos3anos,foiimplantadoosistemade plantiodireto,comexcelenteresultadonocontroledeerosodosolo.Ocultivoconsisteem manter o solo coberto com aveia e azevm no perodo de inverno, evitando o pastejo do gado. O objetivo acumular o mximo possvel de palhada para que sirva de cobertura, protegendo osolodaschuvas,dosoledovento.Outroobjetivodeacumularaspalhadascobertura morta reduzir o desenvolvimento de plantas espontneas que, regra geral, provocam muito trabalho. No sistema de plantio direto, as plantas indesejveis so manualmente arrancadase capinadas.Noanode2004,JairMombachiniciouaagroflorestaapartirdeumprojetoda ASSESOAR.Osoloestavainiciandopouso,porestardesgastadopeloscultivosanuais sucessivos.Orelevofavorvelerosoqueseintensificacomrevolvimentodosolo.O sistemaagrcolacortadoporcanaldeguaque,possivelmente,muitoantesdeJairter adquiridoapropriedadeeraumpequenocrregoquedesaguavanaSangaBarroPreto.Na partecentraldapropriedadehumanascenteparcialmenteprotegida,oquedificultaa legalizao da propriedade. Somente na nascente, ao repor a vegetao nativa, no raio de 50 m,perder-se-0,8haderea.Seconsiderarocanaldeguaumcrregoaserrecuperado perder-se- aproximadamente, mais 1 ha. Almdasatividadesrelativasaosistemaagrcola,JairMombachexerceatividades organizativas.FoipresidentedaAPOPAssociaodeProdutoresOrgnicosdeProlado Oeste/PR,edirigentedaAPROSUDOESTECentraldeAssociaesdeAgricultores Orgnicos do Sudoeste do Paran. Em 2009, era dirigente da Assesoar com cargo de suplente. Tambmdesempenhafunesrelativascolheitadelavouras,comosciodeuma colheitadeira. 47 FOTOGRAFIA 1 VISO GERAL DO SISTEMAAGRCOLADEJAIR MOMBACH,PROLADOOESTE/PR. FONTE: PICINATTO A. C 23-05-2008 NOTA:Damaioraltitudeparaamenor,temosreservalegal,agroflorestaepousoarbustivo,lavoura, preservao permanente (nascente e canal de gua) e lavoura. Nomsdenovembrode2009,estafamliafoinovamentevisitadaeexplicouque possivelmentenosemanternomodeloorgnicodevidoaoexcessodetrabalho.Tambm foifatordesanimadoranoaceitaoporpartedecompradoreseuropeusdautilizaode secantessupostamentedeorigemorgnica.Estesecante,atento,jan.2010noera certificado como insumo orgnico e no era registrado pelo Ministrio da Agricultura. BSistemaAgrcolaCludioLeonhardt:Afamliaconstitudaportrscasais:ospaise doisfilhoscasados,duascrianaseumaadolescente.Osistemaagrcolaestfundamentado principalmente na horta orgnica, que ocupa a maior parte da mo-de-obra da famlia. A rea deproduodecereaisestavacedidaemarrendamentoparacultivodesojaorgnicaat 48 2008devidofaltademo-de-obraparamanteraatividade.Avendadashortalias aconteceprincipalmentenafeiradeProladoOeste/PR.Osistema100%orgnicoeseu histrico revela certificao pelo IBD - Instituto Biodinmico e Rede Ecovida. Atualmente abril de 2010 , est certificado pela Ecocert. O quadro a seguir demonstra o uso do solo: QUADRO 3 USODO SOLO NO SISTEMA AGRCOLA DE CLUDIO LEONHARDT, 2009. USO DO SOLO REA (ha) ORGNICA OBSERVAES Culturas anuais4,7105Cedida em arrendamento at 2008 (soja orgnica). Mandioca e milho no final de 2009 Piquetes0,5000ArborizadoReserva Legal RL1,6800Averbada na matricula rea de Pres. Permanente APP 0,9200APP a restaurar = 0,26 ha Horta orgnica0,1780Horta a atividade de destaque Outros0,4176Sede, frutas, reflorestamento REA TOTAL8,4061 FONTE: PICINATTO (2009). Areaondecultivadaasojaorgnicageralmentepassaoinvernocomaveia.Em algunsanos,aaveiacortadaparaalimentaoanimal.Nomsdeoutubro,atmetadede novembro acontece o plantio da soja; a aveia geralmente gradeada, seguindo-se o plantio da soja com adubao orgnica da empresa Ecossuper, adquirida via APOP. A adubao tambm complementadacombiofertilizantes,supermagro25efarinhaderochaMB-426.Ocontrole de lagartas somente foi necessrio uma vez em dez anos, quando foi utilizado Dipel (Bacillus thurigiensis) e baculovirus. Para o controle de percevejos so feitas armadilhas com garrafas 25Osupermagroumbiofertilizanteelaboradoapartirde micronutrientesque,apsfermentadoscomesterco de gado bovino, acar e soro de leite, tornam-se adubo foliar. O nome uma homenagem ao Delvino Magro. 26AfarinhaderochaMB-4ricaemmicronutrientes.umprodutoquenosofreprocessosqumicose extrado de minas e passa por moagem. Pode ser aplicado diretamente no solo na forma de p, e sobre as folhas na forma de biofertilizantes. Seu uso objetiva nutrir as plantas e alimentar a vida biolgica do solo. 49 plsticaseurinadebovinos,recolhidadasvacasduranteaordenha.Possveisdoenas fngicas so controladas com calda sulfoclcica27; a ferrugem asitica est presente na regio eafetou,nosltimos3anos,aslavourasorgnicas;ocontrolepropostoabasedecalda sulfoclcica, leo de Nin (Azadiracta indica)28, entre outros, no se demonstrou eficaz. Osmtodosutilizadosnocultivodehortaliassoexemplares,culminandocom plantassaudveisnasdiversasfasesdedesenvolvimento.Emanlisedesolorealizadaem 2008, os valores de potssio estavam elevados, logo reduziram os materiais ricos em potssio. FOTOGRAFIA 2 PRODUODE MUDAS,CLAUDIO LEONHARDT, PROLADOOESTE/PR FONTE: PICINATTO A. C. 07-11-2007. NOTA: O substrato hmus de minhoca misturado com terra. 27A calda sulfoclcica a mistura de enxofre com cal no hidratado. Aps o cozimento a mistura torna-se uma calda para controle de doenas e ataque de insetos em plantas. 28AAzadiractaindica,cujoprincipioativoaazadiractina,umaespciearbreadeorigemindiana.Na agricultura orgnica, o seu leo essencial utilizado para o controle de insetos e doenas nas plantas. Tambm utilizado nos animais para controle de ectoparasitas. 50 Astcnicasutilizadasnahortaso:compostagem,hmusdeminhocaepalhadas sobreosolo;adubaesverdes,mucuna,feijo-de-porcoetc;adubaofoliarcom biofertilizantesricosemmicronutrientesutilizandofarinhaderochaMB-4;adubao potssica com cinzas, sulfato de pots