ans abem xii encontro (2003)

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  • XII ENCONTRO ANUAL DA ABEM I COLQUIO DO NEM

    ASSOCIAO BRASILEIRA DE EDUCAO MUSICAL

    POLTICAS PBLICAS E AES SOCIAIS EM EDUCAO MUSICAL

    21 a 24 de outubro de 2003

    Florianpolis SC

    Promoo: ABEM

    Realizao: UDESC CEART / Departamento de Msica

  • Promoo: ASSOCIAO BRASILEIRA DE EDUCAO MUSICAL ABEM

    DIRETORIA DA ABEM 2001-2003

    Presidente : Profa. Dra. Jusamara Souza (UFRGS) Vice-Presidente : Profa. Dra. Alda de Oliveira (UFBA)

    Membro Honorrio: Profa. Dra. Vanda Lima Bellard Freire (UFRJ) Secretria: Profa. Dra. Margarete Arroyo (UFU)

    Tesoureira: Profa. Dra. Maria Isabel Montandon (UnB)

    DIRETORIAS REGIONAIS

    Norte: Ms. Celson Sousa Gomes (UFPA) Nordeste: Dra. Cristina Tourinho (UFBA)

    Sudeste: Dra. Snia Tereza da Silva Ribeiro (UFU) Sul: Dra. Teresa Mateiro (UDESC)

    Centro-Oeste: Ms. Maria Cristina de Carvalho de Azevedo (UnB)

    CONSELHO EDITORIAL

    Dra. Liane Hentschke (UFRGS) Presidente Dra. Luciana Del Ben (UFRGS) Editora

    Dra. Maura Penna (UFPB) Dra. Regina Mrcia S. Santos (UNI-RIO)

    Dra. Cristina Grossi (UnB)

  • Realizao:

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA UDESC

    CENTRO DE ARTES CEART

    DEPARTAMENTO DE MSICA

  • XII ENCONTRO ANUAL DA ABEM

    Presidente da ABEM:

    Jusamara Souza (UFRGS) Coordenao geral:

    Teresa Mateiro (UDESC) Coordenao cientfica:

    Viviane Beineke (UDESC) Coordenao Artstico-Cultural:

    Luis Cludio Barros (UDESC)

    Coordenao Infra-Estrutura: Carlos Eduardo Titton (UDESC)

    Coordenao Documentao e Comunicao:

    Vnia Mller (UDESC) Comit Cientfico:

    Luciana Del Ben (UFRGS) Cludia Ribeiro Bellochio (UFSM) Beatriz Ilari (UFPR) Ilza Joly (UFSCar) Cssia Vrginia Coelho de Souza (UFMT) Cristina Touinho (UFBA) Vnia Mller (UDESC)

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    TRABALHOS

  • Msicas do celular

    Adriana Bozzetto Fundarte/UERGS

    [email protected]

    Resumo. O presente trabalho trata-se de um relato de experincia com um aluno particular de piano James1, que iniciou comigo seus estudos musicais no ano de 1999. O foco central desse relato apresentar uma possibilidade de ligao entre a educao musical e a era digital, oferecendo ilustraes, questionamentos e, acima de tudo, um olhar atento para o crescente universo tecnolgico que impe novos desafios para o educador que almeja evoluir seu pensamento e sua prtica docente investindo numa educao afinada com o contexto atual. Nesse relato, o aparelho celular visto no como meio de comunicao, mas fundamentalmente como ferramenta pedaggica na aula de piano atravs do repertrio musical contido em sua memria, buscando conectar a vida cotidiana do aluno com a aula de msica. Palavras-chave: telefone celular, aula de piano, repertrio musical.

    CONTEXTUALIZANDO A EXPERINCIA

    Dentre os estudos e debates do grupo Cotidiano e Educao Musical2, constantes

    trocas de informao e opinies so feitas sempre que falamos do imenso aparato miditico,

    digital e tecnolgico que, a cada dia, parecemos estar descobrindo. A partir da nossa

    prpria experincia de vida, novos temas vo surgindo quando analisamos o que estamos

    fazendo, hoje, na nossa prtica como educadores. Filmes, programas de tev, desenhos,

    msicas e programas da mdia e, at mesmo, o telefone celular, tornam-se objetos de estudo

    e tambm possibilidades para gerarmos e produzirmos conhecimento. As msicas que

    aparecem no aparelho celular, de natureza efmera, descartvel, assumem outro papel

    quando deixamos de ver esse fenmeno como algo banal dando um novo olhar ao que

    habita o lugar comum. Tedesco (1999), em seu trabalho sobre os paradigmas do cotidiano e

    sua constituio como campo de anlise social, enfatiza que:

    Por mais que o cotidiano seja expressivo da banalidade, esta no est sempre presente, ou se est, no est no vazio; h significados nisso. Alm do mais, h graus diferenciados de banalidade, bem como h fatos nele que

    1 Pseudnimo escolhido pelo aluno. 2 Grupo de estudos e pesquisa coordenado pela Dra. Jusamara V. Souza (UFRGS).

  • delimitam espaos de resistncias, de confronto entre atividades regulares e tambm entre a dimenso do cotidiano e a sociedade global (Tedesco, 1999, p. 31).

    Trabalhar com fenmenos do cotidiano pode significar, segundo Tedesco (1999, p.

    23), a possibilidade de priorizar o efmero, o contingente, o fragmento, o relativo, o

    mltiplo, o sujeito etc., em vez do permanente (...). Esses materiais dinmicos, embora

    existentes h considervel tempo, parecem tomar outra forma quando os lemos com outro

    olhar. O que era apenas um telefone celular, torna-se referncia para a escolha de repertrio

    musical numa aula de piano. De acordo com Bastos (apud Grinspun, 1999, p. 25):

    A educao no mundo de hoje tende a ser tecnolgica, o que, por sua vez, vai exigir o entendimento e interpretao de tecnologias. Como as tecnologias so complexas e prticas ao mesmo tempo, elas esto a exigir uma nova formao do homem que remeta reflexo e compreenso do meio social em que ele se circunscreve. Esta relao educao e tecnologia est presente em quase todos os estudos que tm se dedicado a analisar o contexto educacional atual, vislumbrando perspectivas para um novo tempo marcado por avanos acelerados.

    Esse olhar aberto, curioso com a realidade que contextualiza o mundo cotidiano dos

    alunos, tem sido o fio condutor de nossos estudos e tambm da nossa prtica como

    educadores. Conforme Giroux (1998, p. 144) afirma, existe pedagogia em qualquer lugar

    em que o conhecimento produzido, em qualquer lugar em que existe a possibilidade de

    traduzir a experincia e construir verdades, mesmo que essas verdades paream

    irremediavelmente redundantes, superficiais e prximas ao lugar-comum.

    Entre tantas discusses sobre as respostas que devemos dar, como educadores, s

    transformaes culturais e sociais e a tantas informaes e conhecimentos de mundo

    trazidos por nossos alunos, Assmann (1998) defende que pedagogia encantar-se e

    seduzir-se reciprocamente com experincias de aprendizagem. Nos docentes deve tornar-se

    visvel o gozo de estar colaborando com essa coisa estupenda que possibilitar e

    incrementar (...) a unio profunda entre processos vitais e processos de conhecimento

    (Assmann, 1998, p. 34).

    No presente trabalho, portanto, no est em questo a qualidade sonora das msicas

    do telefone celular e tambm do repertrio musical contido em sua memria. O que torna-

  • se relevante a funo que esse aparelho digital assumiu como meio de ligao entre

    experincias musicais do aluno com a sua aula semanal de piano.

    O CELULAR MUSICAL

    O ttulo desse trabalho nos remete, primeiramente, a uma breve explicao do que

    vem a ser esse tema. O telefone celular proporciona que as pessoas possam ser localizadas

    em qualquer lugar, no se limitando ao espao fsico da casa ou outro lugar fixo como

    ocorre com os telefones convencionais.

    A telefonia celular vem desenvolvendo aparelhos cada vez mais modernos, com

    vrios tipos de servios. Os aparelhos, alm de cumprir o objetivo de comunicao das

    pessoas entre si assumem, tambm, outras funes. Quem tiver a possibilidade em seu

    aparelho celular pode selecionar o tipo de toque que quer ouvir soar quando o telefone

    tocar; mais especificamente, o usurio pode escolher a msica ou o som que desejar, o

    mesmo podendo ser alterado livremente e a qualquer momento.

    Quando adquiri meu prprio aparelho celular procurei personaliz-lo, colocando o

    volume de toque desejado e o tipo de toque que gostaria de ouvir. Antes de personaliz-lo,

    procurei conhecer todos os tipos de toque existentes, desde temas de obras musicais (o tema

    da Fuga em r menor e o Minueto em sol maior de Bach, Pour Elise, de Beethoven,

    etc.) a sons de mosquito, abelha, rob. Durante essa fase, procurei analisar quais temas

    musicais, entre aqueles que estavam na memria do aparelho, costumava trabalhar com

    meus alunos de piano.

    ONDE O CELULAR VAI, AS MSICAS VO ATRS

    Conhecendo as possibilidades musicais do aparelho celular, procurei encontrar uma

    maneira de valorizar um aspecto da vida cotidiana de meu aluno James com nossa aula de

    piano. Sua me, que geralmente o leva para a aula de piano, no mbito do ensino particular

    de msica, recebia algumas ligaes em seu celular enquanto estavam em minha presena.

    Quando o telefone da me de James tocava era sempre com algum tema musical dito

    erudito. O tipo de toque musical selecionado que por vezes tocava comeou a chamar

    minha ateno e serviu como fonte de informao, revelando gostos musicais de meu aluno

  • quando falvamos sobre as msicas do celular da prpria me. James costumava sorrir

    quando a me recebia alguma ligao no final ou incio das nossas aulas. Fui percebendo

    seu interesse por aqueles temas musicais e a prpria me comentou comigo que eram as

    msicas que ele mais gostava de escutar. Foi ento que uma delas, o tema da Fuga em r

    menor de J. S. Bach, tornou-se a primeira pea a conectar nossa aula de piano com o

    aparelho celular da me de James.

    A verso dessa msica que costumo trabalhar com alunos iniciantes encontra-se no

    livro Palitos Chinos, de autoria de Violeta Hemsy de Gainza, verso proposta pela

    professora Diana Zeoli com nome de Bach em palitos. Quando apresentei a possibilidade

    de o aluno aprender essa msica, tanto ele quanto seus pais ficaram entusiasmados, pois

    um tema bastante conhecido, o aluno aprecia e est na memria do celular da me. Cabe

    salientar que nessa fase do trabalho James j tinha tocado vrias msicas do livro, material

    que o aluno demonstra interesse pelo fato de que muitas msicas so registradas com

    smbolos que costumamos colorir e interpretar musicalmente, alm de apresentar, tambm,

    a verso escrita em partitura tradicional.

    Como a msica de Bach, neste livro, tem apenas a verso escrita na partitura

    convencional, ensinei a pea para o aluno utilizando a tcnica por imitao, tendo em

    vista que James encontrava-se em fase inicial de leitura no tradicional.

    Meu aparelho celular continha as mesmas msicas da me de meu aluno, pois a

    marca de nossos aparelhos era a mesma naquele momento do trabalho. Sendo assim,

    combinei com a me de James que, durante o aprendizado da msica de Bach, ela deixasse

    seu celular personalizado com esse tema no tipo de toque de seu aparelho. Costumvamos

    comentar como era positiva essa experincia pela motivao que James tinha para estudar,

    pois o fato de saber que estava aprendendo a msica que soava quando o celular de sua me

    tocava representava uma ligao de sua vida cotidiana com o que estava aprendendo na

    aula de piano.

    Durante o aprendizado da msica de Bach, que aconteceu no perodo de trs aulas

    de trinta minutos cada, percebi um interesse maior do aluno por tocar piano. Na seqncia

    das msicas do celular, James escolheu o tema da msica Ode alegria de Beethoven e

    Mozart 40, que apresenta o tema de uma Sinfonia do referido compositor.

  • Os temas musicais, seguidamente reforados pelo som do celular, serviam como

    estmulo para James aprender as msicas que tocavam no aparelho. Seus pais, durante o

    aprendizado das mesmas, comentavam comigo que essas eram as peas mais tocadas por

    ele em casa. Quando James visitava a loja de pianos de seu av procurava tocar seu

    repertrio celular enquanto experimentava a sonoridade dos pianos. At o piano de

    brinquedo do irmo menor serviu de estmulo para exercitar as msicas que escutava do

    celular da me. Defendendo a idia de que preciso prazer e ternura na educao,

    Assmann (1998) afirma que:

    (...) Os/as educadores/as deveriam analisar de que forma a vida dos/as alunos/as uma vida concreta que, em seu mais profundo dinamismo vital e cognitivo, sempre gostou de si, ou ao menos tentou e volta a tentar gostar de si. A no ser que a prpria educao cometa o crime de anular essa dinmica vital de desejos de vida, transformando os aprendentes em meros receptculos instrucionais, pensando apenas na transmisso de conhecimentos supostamente j prontos (ASSMANN, 1998, p. 29).

    MOZART 40: UMA OUTRA SINFONIA?

    Tomarei como exemplo uma das peas musicais desenvolvidas com o aluno James,

    originalmente intitulada Sinfonia n. 40, K 550, em sol menor (1788), composta no perodo

    de maturidade do compositor, trs anos antes de seu falecimento em dezembro de 1791.

    Segundo o dicionrio Grove de msica, essa obra de Mozart, de sugestividade trgica,

    juntamente com as sinfonias nmero 39 e 41, compe um pice de sua msica orquestral

    (p. 627). No entanto, a complexidade dessa obra encontra-se resumida, no aparelho celular,

    a Mozart 40, apresentando apenas o tema inicial da sinfonia.

    No presente exemplo, temos um bem cultural transformado em campainha, num

    lembrete automtico utilitrio, que se reduz a um clich toda vez que o celular toca. Nessa

    pea de Mozart - tambm nas outras msicas trabalhadas com James, a msica sai de seu

    ambiente original reduzindo-se aos seus componentes mnimos. Levando em conta esses

    aspectos, poderamos ento nos perguntar: msica o que toca no celular?

    Se formos analisar pela concepo de msica dentro da rea da musicologia,

    certamente o que soa no aparelho celular resultado de uma brutalizao que busca

    simplificar, ao mximo, a obra sinfnica de um dos maiores compositores do perodo

  • clssico. Ao mesmo tempo, a inteno dos fabricantes de celulares, provavelmente, no a

    de reproduzir fielmente a pea original como podemos escutar ao vivo em concertos ou em

    discos e CDs. Uma das finalidades a possibilidade de uma chamada musical toda vez que

    o telefone tocar, personalizando o aparelho ou, simplesmente, sugerindo ao usurio que

    ative seu gosto musical por temas eruditos mais popularizados, como podemos perceber na

    maioria do repertrio contido nesses aparelhos.

    No est em questo a discusso da qualidade musical em si, mas sim v-la como

    uma possibilidade pedaggica para incluir no repertrio do aluno uma pea musical de seu

    interesse. Contudo, aceitar trabalhar com esse tipo de estmulo certamente impe ao

    educador discutir e apresentar para o aluno a existncia da obra original, contextualizando-a

    e devolvendo-a ao seu status inicial. De acordo com documento dos Parmetros

    Curriculares Nacionais (PCNs) na rea de Arte, mais especificamente a disciplina Msica,

    podemos perceber que:

    Atualmente, o desenvolvimento tecnolgico aplicado s comunicaes vem modificando consideravelmente as referncias musicais das sociedades pela possibilidade de uma escuta simultnea de toda produo mundial por meio de discos, fitas, rdios, televiso, computador, jogos eletrnicos, cinema, publicidade, etc. Qualquer proposta de ensino que considere essa diversidade precisa abrir espao para o aluno trazer msica para a sala de aula, acolhendo-a, contextualizando-a e oferecendo acesso a obras que possam ser significativas para o seu desenvolvimento pessoal em atividades de apreciao e produo (Ministrio da Educao, 2000, p. 75).

    CONSIDERAES FINAIS

    Essa experincia, indita pelo fato de eu nunca antes ter utilizado um telefone

    celular como ponto de partida para a escolha do repertrio musical de minhas aulas de

    piano, trouxe valiosas contribuies. Entre elas, a possibilidade de manter a motivao de

    meu aluno de piano para aprender, um dos pontos que mais me traz inquietaes e

    questionamentos: de que forma, na nossa prtica diria, podemos tornar a aula de piano

    interessante e estimulante? Quais os recursos utilizados para envolver alunos iniciantes no

    aprendizado de um instrumento de modo a construir, gradativamente, tanto a compreenso

    da leitura musical quanto o sabor de vivenciar musicalmente o instrumento? Como

    intermediar nossos conhecimentos com aqueles que os alunos recebem de tantas outras

  • fontes e espaos de aprendizagem? De que maneiras podemos responder s questes

    surgidas com a era da eletrnica e de tantos avanos tecnolgicos?

    Como primeira experincia nessa rea, relato que o desafio no foi fcil, pois nem

    todas as msicas de interesse de meu aluno eu tenho a partitura como ponto de partida. A

    verso da msica Mozart 40 - como est na memria do celular, foi elaborada por mim,

    de acordo com o nvel de aprendizagem do aluno. Nessa pea, James estava tocando com

    os cinco dedos de cada mo no teclado, na posio tradicional, inclusive com dedilhado

    marcado. Foi considerada a pea mais difcil de todas as trs pelo fato de o aluno j estar

    aplicando seus conhecimentos de dedilhado, dificuldade essa que foi sendo superada pela

    motivao do aluno em aprender a msica de Mozart.

    Em cada nova aula3 fomos aprendendo uma parte da msica, com a participao dos

    pais no estmulo em casa. O pai de James, que costuma sentar com o filho ao piano para

    estudar, ligou-me uma noite perguntando qual era o tom da msica, e contou-me que James

    estava tocando a seqncia da msica no importando qual nota comeava. Nesse

    momento, pude perceber que o aluno estava experienciando a habilidade da transposio

    musical, o que pode ser um recurso importante para trabalharmos em outras peas musicais.

    O constante retorno dos pais sobre o trabalho, a evoluo musical do aluno atravs

    desse repertrio e sua motivao por toc-lo e aprend-lo superou dificuldades e

    expectativas. Essa experincia revelou uma forma de tornar a longa trajetria no

    aprendizado de um instrumento em um caminho mais estimulante, conectado com o tempo

    em que vivemos. Entre a velocidade da era digital e as transformaes que isso provoca em

    ns, educadores, podemos aceitar o desafio de, ao invs de ficarmos para trs admirando

    (ou temendo) o futuro, pensar idias e estratgias que permitam no perdermos o presente.

    REFERNCIAS

    ASSMANN, Hugo. Reencantar a educao: rumo sociedade aprendente. Petrpolis, RJ: Vozes, 1998.

    BASTIEN, James. Classic themes by the masters. USA: Knos West. GAINZA, Violeta Hemsy de. Palitos chinos. Buenos Aires: Barry Editorial, 1987. GIROUX, Henry A, McLAREN Peter L. Por uma pedagogia crtica da

    representao. In: SILVA, Tomaz Tadeu da, MOREIRA, Antonio Flvio

    3 Nesse perodo do trabalho com uma hora de durao, uma vez por semana, nas aulas particulares de piano.

  • (Orgs.). Territrios contestados: o currculo e os novos mapas polticos e culturais. 2.ed. Petrpolis, RJ: Vozes, 1998. p. 144-158.

    GRINSPUN, Mrian P. S. Zippin (Org.). Educao Tecnolgica: desafios e perspectivas. So Paulo: Cortez, 1999.

    PARMETROS CURRICULARES NACIONAIS: Arte. Secretaria de Educao Fundamental. 2.ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.

    SADIE, Stanley (Ed.). Dicionrio Grove de msica: edio concisa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1994.

    TEDESCO, Joo Carlos. Paradigmas do cotidiano: introduo constituio de um campo de anlise social. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 1999.

  • A educao musical na histria de vida dos professores: o caso Programa Horizontes Culturais

    Adriana Rodrigues Secretaria Municipal de Educao do Rio de Janeiro

    [email protected]

    Resumo. Esta pesquisa visa compreender como se processa a educao musical de professores da rede municipal de ensino construindo sua relao com os espaos culturais da cidade. Tendo em Paulo Freire e Philippe Perrenoud seu referencial terico, os dados empricos foram tomados de professores que fazem parte do Programa Horizontes Culturais, Rio de Janeiro, de 1997 a 2002. Pelos relatos das suas histrias de vida, buscou-se compreender esquemas e estratgias construdas na educao musical realizada no convvio familiar, na organizao escolar e no contexto social mais amplo, contribuindo para representaes na vida adulta. A fronteira entre msica e brincadeira vem marcada por um conjunto de esquemas de pensamento e aes, que coloca de um lado a experincia musical no contexto familiar e de outro lado a experincia musical escolar impedindo esse professor de reconhecer seus saberes, e freqentar sem constrangimentos todos os espaos culturais da sua cidade; estratgias defensivas e protetoras garantem a sobrevivncia no cotidiano destes adultos (camuflagem da sua identidade cultural, negao do espontneo e uso de msicas de comando). Palavras-chave: Educao musical de adultos, Professor da rede municipal de ensino, Representao dos espaos culturais.

    Ao fazer parte como docente convidada de um programa de Formao de Platias

    para Manifestaes Artsticas, denominado Programa Horizontes Culturais (PHC), dos anos

    1997 a 2002, direcionado para professores da rede municipal do Rio de Janeiro, me vi frente a

    questes bastante mobilizantes: a representao da msica para este professor; a relao que

    ele tem com a msica, com a educao musical e com os espaos culturais da sua cidade.

    Esse programa consiste em oferecer ao professor da rede oficinas quinzenais de

    msica, teatro, contador de histrias, dana e ingressos semanais para espetculos em cartaz

    nos teatros da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro.

    Fui convidada a participar do programa, ministrando algumas das oficinas de msica,

    cujo objetivo era proporcionar-lhes condies para a expanso de seus horizontes culturais.

    Esta pesquisa procurou compreender como se processa a educao musical de

    professores da rede municipal de ensino, construindo sua relao com os espaos culturais da

    cidade. O objeto de investigao o professor da rede municipal de ensino: um professor que

    foi aluno h vinte, trinta anos e parece ter sofrido alguns desvalores, desqualificaes e que

  • hoje pode agir da mesma maneira, porque foi dessa forma que ele aprendeu. Suas dificuldades

    como aluno podem ser passadas da mesma forma para os seus prprios alunos.

    Tomou-se como marco terico-conceitual Paulo Freire quanto ao debate sobre

    emancipao de adultos, sobre a possibilidade de um ambiente educacional escolar sob o

    enfoque dialogal, e Phillippe Perrenoud quanto relao professor-aluno, apresentando uma

    sociologia da educao mais centrada na vida cotidiana, nas prticas, nas atividades, nas

    competncias, estratgias dos alunos e dos professores no seio de uma organizao.

    A partir dos relatos espontneos, de relatos coletados em entrevistas, depoimentos e

    avaliaes escritas, consideramos aqui a educao musical no contexto familiar, na instituio

    escolar e no convvio social mais amplo, que se remetem mutuamente e ratificam.

    Como freqentar, participar, entender, apreciar, perceber, principalmente gostar e

    curtir o programa sem se sentir perdido, inferiorizado por no dominar a linguagem, e

    experimentar um mal estar por achar que no pertence ao local da programao, sentindo-se,

    mais uma vez, em situao desconfortvel, como um peixe fora dgua?

    Ao manter contato com os professores do PHC nas oficinas que ministrei, fui percebendo o

    caminho da educao musical em suas vidas. Chamo de educao musical todo contato que

    tiveram com a msica em algum momento da sua infncia e adolescncia e que marcou a sua

    formao musical.

    Onde esto suas experincias agradveis vividas em famlia, onde esto suas vozes que

    cantavam em reunies familiares e sociais? Onde esto suas experincias com brinquedos

    cantados, parlendas, brincadeiras de roda? O que acontece nas suas entradas nas escolas? O

    que acontece com a msica oferecida na escola? Por que s reconhecido o discurso da

    escola? Se existe uma desvalorizao da memria, da histria musical de cada criana que

    entra na escola, se no levada em conta sua experincia anterior, ou, se desqualificada,

    para surgir um outro discurso musical, por que eles repetem com seus alunos a mesma

    atitude?

    Evidncias mostram episdios da histria de vida no primrdio da sua educao escolar

    com msica, parecendo repercutir na sua formao de professor na vida adulta, na sua

    atuao, na sua postura como professor.

    A partir dos relatos dos professores, dos depoimentos deles coletados nas entrevistas, das

    suas histrias de vida, nas suas avaliaes, nas observaes durante cinco anos do programa

    Horizontes Culturais1, fui identificando (com raras excees) que a msica faz parte do

    mundo infantil, de maneira bastante prazerosa. Suas lembranas so agradveis, a experincia

  • de ouvir seus pais ou responsveis cantando, tocando, assobiando, ouvindo ou compondo vem

    em momentos onde a famlia est relaxada, descontrada. Assim como nas festas familiares,

    da rua, do bairro, da igreja, os encontros entre os amigos etc.

    Os depoimentos falam em avs cantando espontaneamente como lembranas prazerosas

    da infncia e juventude. Nos depoimentos que falam dos pais cantando, tocando ouvindo ou

    danando, verificado um grande prazer, orgulho de estar contando esta histria que muitas

    vezes no tiveram outras oportunidades de serem valorizadas. A relao com a msica em

    casa, na rua, fora do ambiente escolar outra, mais livre, improvisada, ldica, mais solta.

    Quando entra o aprendizado na escola ou com professor particular de msica, os

    depoimentos comeam a modificar. Da alegria do fazer msica de maneira descontrada para

    a entrada em cena de um novo momento ligado msica que surge a partir de agora, uma

    tenso ligada cobrana sem que tenha uma relao com uma prtica, uma justificativa, um

    porqu.

    A msica na escola reduz-se ao canto cvico que, se para umas um momento

    desagradvel, para outras a garantia de fazer uma atividade musical: cantar. H o contraste

    entre o cantar fora da organizao escolar (prazer, convivncia, prtica musical em grupos

    soltar a voz em pblico), e cantar na escola (cantar no qualquer coisa, mas os hinos cvicos

    e escolares e cantar como atividade avaliativa).

    Na organizao escolar a brincadeira no tinha muito seu espao, dando conta da

    separao entre a brincadeira e a no brincadeira.

    Quando Perrenoud (1995) fala em estratgias defensivas e protetoras, que vo lhe

    garantir sobrevivncia no cotidiano do ensino, aqui reconheo como uma dessas estratgias,

    h evidncias disso no uso das musiquinhas de comando: msicas para acalmar; msicas

    para roda; msicas para formao de fila; msicas para a entrada; msicas para a sada etc.

    Fuks (1991) pesquisou e analisou essas musiquinhas de comando, mostrando,

    atravs dos depoimentos dos professores o uso e abuso desse tipo de msica. Exige-se de

    quem canta, um comportamento massificado, estereotipado, mecanizado e domesticado, uma

    atitude passiva, submissa e medrosa diante das situaes em que o indivduo no est se

    sentindo a vontade.

    Agindo assim, o professor inscreve por meio do currculo oculto, escondido a

    mesma atitude submissa e domesticada nos seus alunos dos primeiros ciclos do ensino

    fundamental.

    1 E no contato de mais de vinte anos com professores.

  • Parece que na formao de professores do antigo curso normal, no existia uma

    preocupao do professor de msica com a educao musical do normalista, aquele que

    trabalharia com crianas. Na formao do normalista, estava a msica como funo

    disciplinadora, atravs de cantos cvicos, conhecimentos de elementos tericos e de msica de

    comando (repertrio para o cotidiano escolar).

    Partindo do pressuposto que os futuros professores no dominam a linguagem musical,

    prefervel trabalhar apenas o repertrio de msicas de comando e de festas comemorativas

    para que no sintam dificuldade de ensinar msica s crianas.

    Uma ttica, estratgia de sobrevivncia no cotidiano do trabalho a cpia das

    receitas. Copiando as receitas, os professores passam a depender delas e continuam sem

    dar espao trazer sua musicalidade, s suas histrias de vida musical.

    E j que na sua formao do curso normal, no foi lhe oferecido um estudo

    aprofundado, uma relao com a msica alm de uma funo disciplinadora e como uma

    disciplina do currculo, ele obrigado a usar artifcios, como o repertrio festeiro (festas

    comemorativas) e as musiquinhas de comando, que lhe daro a falsa segurana, o falso

    domnio da msica, que no passa de uma relao disciplinadora da msica.

    Estes mesmos professores que durante sua infncia tiveram experincias to felizes em

    relao msica, so os mesmos que do depoimentos como se estivessem muito distantes da

    msica, como se realmente no fizessem parte da vida musical, ainda se sentindo distantes de

    seus mitos, sobre os quais falam como imortais.

    Muitas vezes a experincia e os saberes constitudos na educao familiar no so

    considerados, e o que verdadeiro o conhecimento estabelecido no currculo formalizado

    na organizao escolar.

    Durante minha experincia nas oficinas, percebi em vrios momentos uma inquietao

    dos meus alunos que se apresentavam atravs das perguntas quando nos preparvamos para

    uma ida a um concerto. Na verdade dvidas a princpio bobas, inocentes, demonstravam

    uma preocupao com o novo, e que sempre passaram pela cabea das pessoas, mas que

    ningum tem coragem de levantar, de se expor, fingindo uma preparao ou um conhecimento

    no existente. As mesmas perguntas rondam tambm a classe dita superior, mas desde

    criana, eles aprendem a esconder, escamotear suas dvidas, demonstrando um falso saber.

    elite no interessa dividir seu espao. O que se faz de vez em quando dar um

    agrado s classes menos favorecidas. Escutamos frases soltas que revelam preconceitos,

    desconfianas quanto verdadeira importncia de abrirem seus espaos: para que? No

    entendem nada mesmo! Estragarem os estofados? Fazerem farofada? Falarem alto? melhor

  • fazer num espao aberto e grande, para se esparramarem vontade. Estamos diante de um

    impasse: a falsa generosidade. Esta falsa generosidade pode vir manifesta sob a forma de

    ofertas facilitadoras (repertrio bem fcil) ou de brindes, como o da ida a um espetculo.

    Existem comentrios feitos ao p do ouvido, frases annimas escutadas nas coxias de

    produes de espetculos e consertos como: o pblico leigo no entende nada; preciso

    oferecer um repertrio bem fcil, bem batidinho, bem empapado para que possam engolir

    melhor; no adianta colocar nada difcil porque eles no entendem.

    Muitas vezes, os professores do PHC afirmam que por falta de estmulo, de informao

    ou de dinheiro que no participam da programao cultural do PHC (conforme depoimentos

    espontneos coletados). Dizem enfrentar todo tipo de entrave. Um desses entraves citados o

    alto preo dos ingressos. Outro o transporte e a distncia at o local do evento. Outro ainda

    o problema devido a constrangimento: Eu achava que era uma coisa totalmente diferente da

    minha realidade, ou vergonha por achar que no vo entender nada do que lhes ser

    apresentado, ou mesmo de que no estaro adequadamente vestidos. Sentem que esses

    eventos no foram feitos para eles.

    O professor considerado nesta pesquisa v os espaos que deveriam ser de todos (como

    as salas de concerto, os museus, os centros culturais) e no entra, no tem noo do que

    acontece ali dentro, de que aquele espao dele tambm.

    Conhecer novos locais, novos centros culturais, salas de concerto, referido por eles

    como um movimento que vem de fora, externo, de doao, promovendo uma oportunidade,

    um presente, um privilgio.

    Muitas crianas se tornam adultos submissos talvez por no terem conseguido marcar o

    espao da sua identidade cultural: falar, ser escutado, ver reconhecido seu saber. Muitos,

    como jogadores de futebol, aprendem a levar o professor e a escola como a bola, e, driblam

    maravilhosamente. Aprendem a responder apenas ao que o professor quer, percebe que nada

    daquilo o atrai, no se sente vontade para dar suas opinies, e muitas vezes nem foi

    chamado para isso.

    Para um dito leigo em msica, a partitura e o conhecimento terico da msica, - para

    eles representados atravs das notas pretas e brancas, do smbolo da clave de sol, do

    pentagrama, do binrio etc - exerce um fascnio muito grande. O ato de compor alm de

    exercer no professor o mesmo fascnio gera tambm uma frustrao, uma sensao de

    incapacidade.

    Sua fantasia voa para encarnao de um mito, de um ser inatingvel. Quanto mais

    famoso como, por exemplo, Beethoven e Villa-Lobos, mais inacessvel, fortalecendo um

  • sentimento como: jamais conhecerei algum como ele, gnio, Deus, abenoado por

    Deus, porque no recebi essa graa?, nunca chegarei aos ps dele, me sinto totalmente

    incapaz de fazer isso, no entendo nada de msica, sou meio burro para essas coisas.

    Essas e outras posturas reforam no professor um sentimento de inferioridade que por sua vez

    passado para o aluno.

    Apesar do contexto em que cada professor viveu sua experincia musical, as marcas

    deixadas por estas vivncias sofrem severas alteraes, interrupes, tomando um outro rumo

    por vrios fatores, onde tambm se inclui a educao escolar e as propostas dos Projetos

    Culturais. No contato desse professor com a educao oferecida na escola, sua vivncia

    musical sofre alteraes algumas vezes se tornando irreversveis. Os problemas sociais, a

    discriminao entre as classes sociais contribuem bastante para o reforo desta situao.

    REFERNCIAS BOURDIEU, Pierre. Escritos de Educao. 5. ed. Petrpolis, RJ: Vozes, 2003. CONDE, Ceclia e NEVES, Jos Maria. Msica e educao no formal. Pesquisa e Msica, n 1. Rio de Janeiro: Machado Horta Editora, 1984/85, p.41 -52. FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. 25.ed. Petrpolis: Editora Vozes, 2000. FREIRE, Paulo. Ao cultural para a liberdade. 2.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977. _____________. Pedagogia do oprimido. 5.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978. ______________. Educao como prtica da liberdade. 9.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. ______________. A educao na cidade. 4.ed. So Paulo: Cortez 2000. ______________. GUIMARES, Srgio. Aprendendo com a prpria histria. Vol I Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001. ________________________________. Aprendendo com a prpria histria. Vol II Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000. ________________________________ Sobre educao: dilogos. Vol I. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. ________________________________ Sobre educao: dilogos. Vol II. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986. FUKS, Rosa. O discurso do silncio. Rio de Janeiro: Enelivros, 1991.

  • ___________. A Formao da Identidade do Professor de Msica: do passado ao presente, linhas de continuidade e de descontinuidade. In Anais do III Encontro Anual - Abem. Salvador, Bahia, 1994. ___________. Teoria e prtica: Aparente dicotomia no discurso na educao musical. In: Revista da Abem, N2, Ano 2, 1995. PERRENOUD, Philippe. Ofcio de aluno e sentido do trabalho escolar. Porto: Porto Editora, 1995. ____________________. O trabalho sobre o habitus na formao de professores: anlise das prticas e tomada de conscincia. In: PAQUAY, Leopold; PERRENOUD, P. (Org). Formando Professores Profissionais: Quais Estratgias? Quais Competncias? Porto Alegre: Artmed Editora, 2001. Cap.9. RIO DE JANEIRO, Prefeitura/ Conservatrio Brasileiro de Msica. Msica na escola: o uso da voz. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Educao/ Conservatrio Brasileiro de Msica, 2000. SANTOS, Regina Mrcia Simo. Jacques-Dalcroze, avaliador da instituio escolar: em que se pode reconhecer Dalcroze um sculo depois? Debates n.4. Rio de Janeiro, UNIRIO/PPGM, 2001.P.7-48. ___________________________. A natureza da aprendizagem musical e suas implicaes curriculares: anlise comparativa de quatro mtodos. Fundamentos da Educao Musical, v.2. ABEM, 1994, p 7-112. ___________________________. Uma educao musical face sensibilidade urbana da presente modernidade. Anais do VI Encontro Nacional da Anppom. Rio de Janeiro, 1993, p. 120-127. __________________________. O funcionamento enunciativo de um acontecimento musical urbano e a gerao de sentido (uma anlise scio-semio-musicolgica). Tese (Doutorado em Comunicao). Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 1997. SILVA, Tomaz Tadeu da Silva. Documentos de identidade; uma introduo s teorias do currculo. Belo Horizonte: Autntica, 2002. SWANWICK, Keith. Permanecendo fiel ao ensino da msica. Anais do Encontro Nacional da Abem. Porto Alegre: Abem, 1993, p.19-32. ________________. Teaching Music Musically. New York: Routledge, 2001. VIEIRA, Ricardo. Histrias de vida e identidades. Professores e interculturalidade. Porto: Edies Afrontamento, 1999.

  • Motivaes e aprendizagens no Canto Coral

    Agnes Schmeling Universidade do Vale do Sinos /

    Universidade Federal do Rio Grande do Sul [email protected]

    Lcia Helena Pereira Teixeira Universidade Federal do Rio Grande do Sul

    [email protected]

    Resumo. Esta comunicao prope reflexes sobre o processo de ensino/aprendizagem presente na atividade de canto coral, sobre as motivaes que levam cantores/as de coro a identificarem-se com esse trabalho e sobre as interaes presentes nesse fazer em grupo. Palavras-chave: canto coral, motivaes, identidades, ensino/aprendizagem.

    Contextualizando as experincias

    Atualmente a educao musical ocupa-se em considerar tambm o ensino/aprendizagem de

    msica que ocorre em espaos ditos no formais ou informais. Muitas pesquisas tm demonstrado a

    relevncia desse tema, como por exemplo, no Rio Grande do Sul, os trabalhos de Fialho (2003), Corra

    (2000), Mller (2000), Prass (1998) e Stein (1998).

    A prtica do canto coral tambm pode ser includa nessa classificao. Aqui

    citaremos relatos de experincias com dois coros considerados pelo senso comum como

    amadores, ou seja, formados por cantores/as que, em sua maioria, no lem msica.

    Embora havendo no Brasil grande quantidade de coros, a maior parte da nossa literatura enfoca

    questes relacionadas s tcnicas de canto e regncia. A abordagem das relaes intersubjetivas,

    entendendo o coral como uma atividade de interao social, carece ainda de reflexes mais aprofundadas,

    apoiadas, por exemplo, nas teorias do cotidiano.

    Como escreve Souza,

    ...cotidiano do ponto de vista social das cincias sociais, visto como um lugar social de processos, de crenas, de achar sentido comunicativo e interativo, nos quais os participantes da sociedade constroem suas identidades sociais e em cujas molduras se estabelece um entendimento sobre as normas sociais, realizam-se as interaes sociais e se reconhecem processos intersubjetivos como sua parte essencial (2000, p. 28).

    Este trabalho pretende apresentar algumas questes acerca das possibilidades de

    ensino/aprendizagem que permeiam as atividades do canto coral, das motivaes que levam cantores e

    cantoras de coro a identificarem-se com essa atividade e acerca das interaes presentes nesse fazer em

    grupo. Para tanto, sero apresentados dois relatos que trazem problemas pertinentes ao tema. Tratam-se

    de experincias profissionais vividas por ns frente de um coro juvenil e de um coro feminino adulto.

  • 2

    Mltiplos encontros

    O Coral Juvenil Unisinos, pertencente Universidade do Vale do Rio dos

    Sinos/RS, sob a responsabilidade de Agnes Schmeling, e ao qual iremos nos reportar

    nesta comunicao, composto por 57 jovens, com idades que variam de 13 a 19 anos.

    Esse trabalho tem como objetivo a musicalizao e a performance musical construdas

    atravs da socializao do grupo em um entorno coral. Os ensaios so realizados duas

    vezes por semana e cada encontro tem a durao de duas horas. O repertrio desse

    grupo composto principalmente por arranjos de msica popular brasileira sugeridos,

    em parte, pelos cantores.

    O Coral Juvenil Unisinos recepcionou, no ms de abril de 2003, o Westminster

    Conservatory Youth Chorale1. Este um coro de vozes selecionadas, composto por

    alunos de segundo grau dos estados de New Jersey e Pennsylvania e por bacharelandos

    em educao musical do Westminster Choir College - Universidade Rider, em

    Princeton, EUA.

    Aqui relataremos um momento representativo das motivaes e aprendizagens

    ocorridas durante o encontro destes dois coros.

    Recepcionar um coro juvenil de outro pas, de uma escola de msica de tradio vocal-coral

    representava uma grande motivao e desafio para o grupo. Elaboramos um roteiro para receber os

    convidados: primeiramente cantaramos algumas msicas do nosso repertrio e, em seguida,

    convidaramos o coro estrangeiro a cantar uma cano brasileira conosco. Assim transcorreria a

    integrao.

    Enquanto a regente recepcionava os visitantes no anfiteatro da referida

    Universidade, os coralistas brasileiros organizavam-se posicionando-se para cantar,

    escolhendo a msica, dando o tom, a pulsao e conduzindo a cano.

    Ao finalizarem a msica Sina, de Djavan, os coralistas brasileiros, com um

    aceno de mo, convidaram os visitantes a se aproximarem. Retomamos, ento, a idia

    de cantarmos com eles uma cano nossa brasileira. A msica deveria ser de fcil

    aprendizagem, com ritmo marcante, texto de fcil apreenso e de rpida compreenso

    harmnica e meldica. Escolhemos o terceiro canto dos ndios Kraoh, em ambientao

    de Marcos Leite. Fizemos uma grande roda, onde todos se abraaram, e na qual

    1 No decorrer do texto os corais Juvenil Unisinos e Westminster Conservatory Youth Chorale sero denominados de coral brasileiro e coral americano respectivamente.

  • 3

    deveriam se agrupar um coralista brasileiro e um coralista americano, do mesmo naipe,

    para ento os cantores brasileiros ensinarem a melodia e os passos da dana aos colegas

    americanos. Absorvidos em ensinar e aprender o proposto, realizamos a cano

    indgena.

    Um ensaio

    O Coro Feminino Vila Assuno foi criado h 33 anos e, atualmente, regido por Lcia

    Teixeira. O grupo formado por 24 cantoras com idades que variam de 40 a 80 anos, aproximadamente.

    A maioria das integrantes so aposentadas.

    Os ensaios ocorrem uma vez por semana e iniciam com um relaxamento

    corporal e o aquecimento vocal. Nesta etapa, sugere-se alguns exerccios vocais

    condizentes com as dificuldades rtmicas ou meldicas das peas que se pretende

    trabalhar naquele dia. Por exemplo: msicas com frases muito longas pressupem

    exerccios que demandem maior controle respiratrio; obras que possuam estruturas

    rtmicas mais complexas, ou nas quais o regente supe que seu grupo encontrar maior

    dificuldade, podem ser preparadas com exerccios em que estes ritmos estejam

    presentes. Qualquer dificuldade harmnica, como por exemplo um encontro de

    segundas, stimas ou trtono entre duas vozes, ou ainda um acorde dissonante tambm

    pode ser trabalhada atravs de exerccios vocais especialmente criados para esse fim,

    durante o aquecimento.

    Depois disso, inicia-se o ensaio propriamente dito. A primeira obra a ser

    ensaiada , quase sempre, uma msica nova ou outra pea cuja leitura ainda est em

    andamento. Esse processo de apreenso musical ocorre especialmente atravs da

    imitao das frases musicais de cada uma das vozes cantadas pela regente e imitadas

    pelas cantoras, j que a maioria delas no l msica. Cada frase aprendida de um naipe

    j , simultaneamente, cantada com outra frase de outro naipe, e assim por diante. Ao

    mesmo tempo, durante esse processo, existe a preocupao em se trabalhar aspectos

    musicais tais como fraseado, ritmo, texto, articulao, afinao, entendimento

    harmnico e colocao vocal. A maior dificuldade praticamente reside em fazer com

    que o naipe que possui algum tipo de acompanhamento, como por exemplo, em ah,

    dum, etc, aprenda com preciso rtmica e meldica suas frases musicais. Isso

    acontece, em parte, em razo da ausncia de um texto, e demonstra que muito da

    compreenso e at mesmo do interesse musical reside no fato de a letra da msica

  • 4

    lhes fazer algum sentido para a memorizao da parte meldica. A fim de trabalhar

    estes trechos musicais, prope-se um modelo que possa ser imitado, enfatizando-se o

    fraseado musical e a colocao vocal, de forma que o foco de ateno seja deslocado

    para estas questes, ficando menos centrado na preocupao em acertar ritmos e notas.

    A maior parte do repertrio do Coro Feminino Vila Assuno composto por

    arranjos de msicas em sua maioria brasileiras populares com as quais h algum tipo

    de identificao das cantoras. So exemplos de peas do repertrio: Se todos fossem

    iguais a voc, Manh de carnaval, As rosas no falam, Plaisir dAmour, Modinha,

    Cano da guitarra e outras, dentre algumas peas sacras. As cantoras participam da

    escolha deste repertrio na medida em que tambm sugerem msicas que gostariam de

    cantar. Vale ressaltar que as coristas preocupam-se tambm com a qualidade vocal e do

    repertrio em razo de muitas delas terem estudado canto e/ou cantado como solistas

    durante muitos anos e/ou de pertencerem ao coro desde a sua fundao, h 33 anos. Por

    essas peculiaridades, grande parte destes arranjos so escritos especialmente para esse

    grupo, contemplando a heterogeneidade de caractersticas vocais do mesmo e o

    interesse musical das cantoras.

    Traando alguns paralelos

    No trabalho coral, o processo de aprendizagem est diretamente relacionado com a identificao

    dos cantores com aquilo que realizam o cantar, e com os desafios propostos por esse trabalho. Dessa

    forma, para o coro juvenil, recepcionar um grupo com tradio musical representava um grande desafio

    em razo do coro estrangeiro ser formado por cantores de vozes selecionadas e de seu repertrio

    apresentar elevado nvel tcnico. Essa foi a motivao para o coro brasileiro empenhar-se nos ensaios e na

    elaborao das msicas a serem apresentadas ao coro americano.

    Nos coros juvenil e feminino, o aprender depende da motivao individual de cada cantor com o

    trabalho do coro e, mais especificamente, com o repertrio desenvolvido. A motivao para aprender est

    associada identificao do adolescente e das senhoras com o seu repertrio. As msicas preferidas -

    aquelas com as quais h maior identificao dos/as cantores/as - geralmente provocam maior

    envolvimento dos/as mesmos/as. Por outro lado, no coro feminino, apesar de se tratarem de msicas com

    as quais se identificam, a dificuldade de algumas cantoras em aprender as partes de acompanhamento

    ocorre, em parte, em razo da falta de motivao provocada pela ausncia de texto. Nesse caso, e

    conforme j mencionado, o foco de interesse das cantoras desviado para as questes de colocao vocal,

    fraseado, dinmica, entre outras, a fim de que as vrias repeties dessas partes no se tornem

    enfadonhas para coristas e regente e lhes possam conferir um sentido musical.

  • 5

    Ao escolher apresentar obras brasileiras como Sina e o Canto dos ndios Kraoh, o Coral Juvenil

    Unisinos assinala frente ao coro americano a diferena de suas razes musicais. Contudo, no se trata

    apenas de demarcar diferenas. Os jovens parecem utilizar-se desse repertrio para se aproximarem do

    outro grupo atravs da linguagem que os une: a msica. Como comenta Wickel,

    A msica parece ser o elemento que une os jovens entre si da maneira mais estreita. Ao lado do amor e da amizade, um dos poucos temas pelo qual a maioria se interessa. Cada um define-se pela sua msica e, com isto, se diferencia. Por sua vez, sobre a base de um gosto musical comum, surge o sentimento de pertencimento e amizade (Wickel, 1998, p.41).

    O coro feminino, por sua vez, traz presente a questo da identidade de grupo e musical. As

    cantoras identificam-se enquanto grupo por compartilharem interesses comuns como o prazer de cantar e,

    no caso da maioria delas, por terem estreitado laos de amizade em razo de integrarem o coro h muitos

    anos. J a identidade musical reflete-se atravs de um repertrio que busca vir ao encontro dos interesses

    musicais das cantoras.

    Na atividade coral, cada participante traz suas vivncias e experincias, trabalhando habilidades

    musicais e relaes de grupo. Esta atividade permite que os participantes possam se engajar no processo

    criativo trabalhando a expresso individual, pessoal, afirmando-se como cidados, como agentes do

    processo, e no como meros receptores e repetidores de informaes, pois, segundo Assmann:

    Educar fazer emergir vivncias do processo de conhecimento. O produto da educao deve levar o nome de experincias de aprendizagem, e no simplesmente aquisio de conhecimentos supostamente j prontos e disponveis para o ensino concebido como simplesmente transmisso (Assmann,1998, p.32).

    Atravs da escolha das msicas, o grupo juvenil denota conscincia de

    elementos musicais como tonalidade, pulsao, ritmo, percepo meldica e harmnica.

    Os jovens interagem objetivando a realizao musical e, nesse processo de interao,

    como mencionado por Assmann (1998), o produto musical a prpria experincia de

    aprendizagem. No entanto, para que esta torne-se possvel, necessrio que se

    proporcione o desenvolvimento de habilidades musicais no decorrer dos ensaios. Nesse

    sentido, exerccios que desenvolvam a percepo musical como os mencionados no

    relato do ensaio do coro feminino propiciam a complementao do processo de ensino e

    aprendizagem.

    Estimuladas por nossas prprias experincias aqui relatadas e por pesquisas sobre temas afins

    dentro da rea de Educao Musical, seguem-se algumas questes que poderiam tornar-se objetos de

    reflexo e de uma investigao mais aprofundada por parte dos profissionais da rea de canto coral. Entre

    elas: a que fatores est condicionada a busca de identidade dos grupos? (Fatores culturais, tnicos, etrios,

    de gnero, entre outros); que tipo de aprendizagem ocorre nesse contexto de educao musical?

  • 6

    Acreditamos que as respostas a essas perguntas poderiam ajudar a compreender os outros

    significados que a msica representa para os atores sociais alm daquele exclusivamente esttico.

    Se considerarmos aprendizagem no sentido amplo do termo, ento interagir socialmente

    aprender. O canto em grupo, enquanto atividade coletiva, compreende a interao social e o fazer

    artstico. Dessa forma, as experincias de aprendizagem no canto coral vo alm da percepo, execuo

    e apreciao musicais. Cantar em coro significa encontrar o outro, partilhar experincias, idias,

    costumes, valores. Essas interaes sociais permeiam o fazer musical de um grupo. Por essa razo, a fim

    de compreendermos melhor as diversas realidades que caracterizam esse fazer, fundamental

    considerarmos tambm os fatores tnicos, culturais, etrios, de gnero, entre outros, do objeto observado.

    Referncias bibliogrficas:

    ASSMANN, H.: Reencantar a Educao: Rumo Sociedade aparente. Petrpolis. Vozes 1998.

    SOUZA, J. (Org): Msica, Cotidiano e Educao. Porto Alegre: Programa de Ps-Graduao em

    Msica. UFRGS, 2000.

    WICKEL, H. H.: Musikpdadogik in der sozialen Arbeit. Mnster: Waxmann Verlag Gmbh,1998.

  • Quem canta um canto avana um ponto: o ensino da msica como mediador do desenvolvimento e aprendizagem de crianas com Sndrome de Down

    Alessandra Mara Gazel dos Reis Universidade do Estado do Par

    [email protected] Antonio de Pdua Sales Costa

    Universidade do Estado do Par [email protected]

    Thaynah Patrcia Borges Conceio Universidade do Estado do Par

    [email protected] Resumo. Trata-se de uma pesquisa em andamento. Um projeto de extenso da Universidade do Estado do Par, realizado na APAE Associao de Pais e Amigos dos Excepcionais de Belm-PA, desenvolvendo suas atividades com crianas de 07 a 11 anos com sndrome de Down. Com intuito de desenvolver a sensibilidade musical, bem como o aprimoramento da audio, dico, coordenao motora e percepo, este projeto visa despertar o gosto pela expresso artstica, o senso musical, alm de fortalecer o desenvolvimento sociocultural, psicomotor, afetivo e o processo de integrao global. Aderindo a concepo construtivista, o referencial adotado para o planejamento das atividades de cada aula o material sonoro-musical que os alunos adquirem no seu cotidiano, sempre elaborados de acordo com as caractersticas particulares de cada criana. Sumariamente, este trabalho tem apresentado resultados relevantes no mbito da educao musical especial e pretende contribuir com a real democratizao desta arte. Palavras-chave: Aprendizagem; desenvolvimento; msica.

    JUSTIFICATIVA

    Hoje, na maioria dos meios de comunicao, a msica est presente, nos

    proporcionando sentimentos de relaxamento e prazer. Quem executa ou absorve tais

    sensaes, torna-se uma pessoa sensvel s artes e com maior capacidade de lidar com

    situaes de aprendizagem, visto que a msica estimula o desenvolvimento fsico,

    cognitivo e emocional.

    Uricoechea (1993), destaca a importncia da educao musical no processo de

    aquisio de habilidades bsicas para o aprendizado de toda e qualquer criana destacando,

    sobretudo, aquelas que possuem sndrome Down, pois favorece a percepo, a

    sensibilidade, organizao motora, o desenvolvimento das funes intelectuais e a

  • socializao. Olhando por este prisma percebe-se que a educao musical pode ser uma

    ferramenta no processo de incluso e no desenvolvimento das potencialidades dessas

    crianas.

    A Sndrome de Down uma anomalia cromossmica que implica em perturbaes

    de vrias ordens, tais como problemas cerebrais, no desenvolvimento fsico, fisiolgico e

    de sade. Com o avano da cincia e o resultado de inmeras pesquisas e projetos

    desenvolvidos com crianas e adolescentes que apresentam esta alterao cromossmica,

    percebeu-se que estas pessoas apresentam grandes perspectivas de desenvolvimento e

    participao social o que acabou por derrubar mitos e crenas que denegriam e

    desfavoreciam o desenvolvimento de seu potencial (Bonfim, 2002).

    Crianas com esta sndrome possuem um ritmo prprio (mais lento) no processo de

    aprendizagem, visto que, diante de uma tarefa apresentam dificuldades de concentrao e

    dispersam facilmente. A educao musical, por sua vez, norteia o aprimoramento da

    audio, dico, coordenao motora e percepo o que termina por contribuir com a

    concentrao e, portanto, favorecendo grandes avanos, no s no aspecto intelectual, mas

    tambm nas reas sociais e afetivas, atingindo assim, desenvolvimento suficiente para

    terem autonomia e serem inseridas no mercado de trabalho, no esporte e nas artes

    (Martins,2002).

    Sendo a arte eficiente e democrtica, qualquer pessoa pode desenvolver

    componentes intuitivos, sensoriais, perceptivo-auditivos e espaciais. Acreditamos, no

    entanto, que apesar das vastas possibilidades que a msica traz aos seus ouvintes e do seu

    carter democrtico quando se trata de fazer um aprofundamento no estudo da msica so

    poucos os espaos encontrados para este fim, ficando estes, restritos a escolas

    especializadas o que termina por limitar o pblico atendido. Apesar destes limites, o

    interesse e a utilidade da educao musical persiste, o que abre espao para produo de

    projetos que pretendam contribuir com a real democratizao desta arte.

    OBJETIVO GERAL

    - Promover o desenvolvimento e aprendizagem de crianas portadoras de

    necessidades educativas especiais por meio de atividades musicais.

  • OBJETIVOS ESPECFICOS

    - Fortalecer o gosto pela expresso artstica, assim como o senso musical.

    - Divulgar junto a pais, tcnicos e educadores os conhecimentos elaborados no campo

    da educao musical com crianas portadoras de sndrome de Down;

    - Fortalecer o desenvolvimento sociocultural, psicomotor e afetivo, assim como o

    processo de integrao global;

    - Desenvolver por meio da msica a coordenao motora;

    - Estimular a percepo auditiva;

    - Explorar suas potencialidades no mbito da expresso musical.

    POPULAO ALVO

    Crianas com Sndrome de Down, na faixa etria de 07 a 11 anos que so atendidas

    pela APAE de Belm.

    METODOLOGIA

    As atividades deste projeto subdividem-se em 5 momentos: estudo e observao,

    oficinas, avaliao, oficinas e avaliao final.

    No primeiro momento- Estudo e Observao- a equipe do projeto esteve em contato

    com a instituio e decidiu junto mesma os grupos que iriam participar do projeto.

    Posteriormente, foram desenvolvidas palestras com pais, tcnicos educadores onde foram

    apresentados os objetivos e as atividades que seriam desenvolvidas nas oficinas, buscando

    assim, o consentimento e a colaborao dos mesmos. Concomitante a esta atividade foi

    desenvolvido um perodo de estudo e aprofundamento dos contedos tericos que iriam

    fundamentar a atuao do grupo, bem como a elaborao das atividades a serem

    desenvolvidas.

    Atualmente est sendo executada a primeira seqncia de oficinas que ocorrem uma

    vez por semana com cada grupo. Nas oficinas so utilizadas as seguintes tcnicas: Bits de

    informaes e mtodos Orff e Dalcroze.

    Nos Bits de informaes so apresentadas visualmente as informaes que forem

    consideradas importantes para o desenvolvimento musical. A representao se d por meio

    de imagens coladas sobre cartes brancos com medida padro de 28 x 28 ou 30 x 30 (que

  • a medida ideal do campo visual), esta estratgia til para que a criana identifique os

    elementos da aprendizagem.

    Permeando estas estratgias so utilizados os mtodos Orff e Dalcroze onde os

    trabalhos desenvolvidos exigem uma participao ativa e efetiva das crianas partindo

    sempre da vivncia para a teoria, levando em considerao a criao e a improvisao

    como formas de participao do aluno, assim como contando com a expresso de estruturas

    que j foram apreendidas.

    Terminado este perodo ser feito uma avaliao das atividades e as modificaes

    cabveis de acordo com as caractersticas particulares de cada criana para a segunda

    seqncia de oficinas.

    BIBLIOGRAFIA

    BONFIM, R. V. Educao fsica adaptada: a educao fsica e a criana portadora de

    Sndrome de Down. Revista Integrao. Braslia-DF. n. 1.p.60-65, 2002.

    BRANDALISE, Andr. Approach brandalise de musicoterapia. Revista brasileira de

    musicoterapia. Rio de Janeiro. n. 4, p 02-20, 1998.

    DANIELSKI, Vanderlei. Sndrome de Down. So Paulo: Ave Maria, 2001.

    MANNONI, M. A criana retardada e a me. So Paulo: Martins Fontes, 1995.

    MARTINS, L. de A. R. Educao integrada do portador de deficincia mental: alguns

    pontos para reflexo. Revista Integrao. Braslia-DF, n. 1,p.27-34, 2002.

    URICOECHEA, Ana Sheila M. de. Musicoterapia e deficincia mental: teorias e tcnicas.

    Revista Boletim Sociedade Pestalozzi do Brasil. So Paulo - SP. n. 59/60. p.20-28, 1993.

  • O ensino da msica na escola fundamental: um estudo exploratrio

    Alcia Maria Almeida Loureiro [email protected]

    Resumo. O trabalho em foco pretende refletir sobre o entendimento do atual processo e da dinmica do fenmeno musical dentro das instituies escolares de ensino fundamental. A abordagem do tema atravs da confluncia de dois caminhos: o da pesquisa bibliogrfica e o da pesquisa de campo, possibilitou-nos o entendimento de uma prtica educativa musical praticamente inexistente dentro do contexto escolar. A reflexo terica, a partir do material escrito sobre Educao Musical, revelou-nos uma acentuada desarticulao entre o falar sobre msica e o fazer musical, o que acabaria por apontar, sob a tica de atores envolvidos no trabalho de campo, para o uso e funes inadequados da prtica musical, em desarmonia com a realidade do aluno e dissonante com o contexto sociocultural brasileiro. Palavras-chave: Ensino de Msica, Ensino Fundamental, Currculo

    Este estudo teve por objetivo analisar o ensino da msica na escola

    fundamental. Para compreendermos melhor as razes que levaram a msica a se distanciar

    do cotidiano escolar brasileiro buscamos o apoio da literatura atual em Educao Musical

    confrontando-a com a fala de especialistas da rea e de professores incumbidos de seu

    ensino numa escola pblica estadual de Belo Horizonte.

    No que diz respeito aos tericos da Msica, especialmente os que tratam da

    Educao Musical, h o consenso de que a funo e o significado do ensino de msica na

    escola fundamental esto aqum dos que hoje lhe so atribudos.

    A literatura veio contribuir para o esclarecimento das questes iniciais

    apontadas neste trabalho, tornando evidente que, embora ausente dos currculos, a educao

    musical est em busca de novos caminhos.

    Vimos ao longo deste estudo, que o ensino da msica no Brasil passou por

    perodos de grande efervescncia sonora interrompidos, entretanto, por momentos de

    angustiante silncio. medida que nos aprofundvamos em nossa reflexo sobre o ensino

    da msica como prtica escolar, esses momentos tornavam-se esclarecedores para o

    entendimento da funo atribuda msica como disciplina escolar.

    Nas ltimas dcadas, o ensino da msica vem sendo praticamente excludo do

    currculo escolar do ensino fundamental das escolas brasileiras. Sua prtica no vem sendo

    trabalhada sistematicamente, decorrendo da estar condenada a permanecer fora do

    contexto das propostas pedaggicas de prticas educacionais.

  • O quadro bastante desolador do ensino da msica na escola fundamental, com

    pouqussimos professores de msica atuando de forma efetiva e educativa, e com milhares

    de alunos distantes do contexto prazeroso e relevante do fazer musical, levou-nos a refletir

    sobre esta prtica e sua complexidade dentro do cotidiano escolar.

    Este trabalho, que busca compreender o sentido e o significado da educao

    musical no ensino fundamental, traz como objetivo central detectar e analisar o silncio

    musical nas escolas e suas implicaes no processo de trabalho escolar.

    Nesta perspectiva, realizamos um estudo histrico buscando elementos que

    pudessem ajudar a entender este processo de esvaziamento pelo qual passou o ensino da

    msica que, como j foi mencionado, terminou por afast-la de nossas escolas, fazendo

    com que nelas no se cante mais.

    A pesquisa teve como marco histrico o perodo compreendido entre 1930 e

    1980. A escolha deste marco se justifica pela importncia que a msica ocupou na

    educao brasileira no contexto da Era Vargas e pela crise em que j se encontra no incio

    da dcada de 80 do sculo passado, em virtude das mudanas introduzidas no ensino desta

    disciplina pela Lei n 5692/71.

    O estudo realizado evidenciou as premissas reguladoras dos fundamentos do

    ensino da msica no Brasil neste perodo. Nelas podem-se observar diferentes perspectivas

    que acabaram por gerar propostas curriculares diferenciadas.

    O ensino da msica atravs do Canto Orfenico e da Iniciao Musical (dcada

    de 30) absorveu, respectivamente, o mesmo discurso modernista de musicalizar a todos,

    embora por caminhos diferentes: o primeiro, por intermdio da educao de massa,

    buscando musicalizar os alunos da escola pblica; o segundo, a partir do iderio

    escolanovista, voltava-se para o atendimento individualizado da criana.

    Mais tarde, nos anos 70, dentro da tendncia tecnicista, surge uma proposta

    curricular com a integrao das artes e um professor que tecnicamente deveria estar

    preparado em vrias linguagens artsticas, proposta esta influenciada pelo movimento arte-

    educao em efervescncia no pas, neste perodo.

    De acordo com a nova poltica alteraes so realizadas no currculo das

    escolas. Entre estas modificaes, a disciplina Msica passa a integrar, juntamente com as

    Artes Plsticas e o Teatro, a disciplina Educao Artstica, estabelecida pela Lei n

    5692/71.

  • Embora acreditassem na possibilidade de desenvolver a sensibilidade pelas artes

    e o gosto pelas manifestaes artstico-estticas, na prtica, o que ocorreu foi uma

    interpretao equivocada dos termos integrao e polivalncia, que terminou por diluir os

    contedos especficos de cada rea ou por exclu-los da escola. A partir deste momento, o

    ensino da msica na escola de ensino regular vem sendo sistematicamente desvalorizado no

    mbito educacional brasileiro.

    A presente comunicao se prope a explorar os discursos que orientaram a

    trajetria do ensino da msica na escola fundamental brasileira, analisando sua gnese, sua

    natureza scio-pedaggica e suas conseqncias para o ensino desta disciplina.

    Atravs desta anlise foi possvel compreender que o ensino da msica hoje

    requer uma proposta curricular que considere as diferenas culturais, o respeito

    individualidade e s experincias de cada aluno e, principalmente, as vivncias musicais

    que eles trazem para dentro do espao escolar.

    Nessa trajetria, marcada por transformaes culturais, sociais e polticas, o

    ensino da msica refletiu a influncia de diversas concepes pedaggicas das

    concepes tradicional, progressista e, mais recentemente, da concepo interacionista.

    Entretanto, pudemos constatar a predominncia da abordagem tradicional nas prticas

    educativas musicais. Esse fato se evidenciou na escola pesquisada, mesmo apesar de as

    professoras entrevistadas terem participado do Projeto Msica na Escola, da Secretaria de

    Educao de Minas Gerais, no perodo de 1997/98. Atravs da anlise de seus depoimentos,

    observamos que a msica foi utilizada, inicialmente, como suporte didtico no processo de

    alfabetizao e como apoio para a manuteno da disciplina escolar: A msica pode

    ajudar na disciplina. O ritmo ajuda na alfabetizao, na multiplicao. (Professora D);

    Esse ano eu no coloquei a msica ainda. A sala est mais tranqila. O ano passado eu

    estava com uma turma muito difcil. A eu colocava muita msica. (Professora C). Hoje,

    sua prtica est restrita a festividades do calendrio escolar: O jeito que eu dou desta

    forma. com musiquinha no dia que a gente pode, no dia que o som est liberado. E,

    tambm, essas questes de homenagens do Dia das Mes, Dia dos Pais. A, a gente

    introduz a msica. (Professora B); No h atividades com msica com freqncia. S em

    festas, danas, festas comemorativas. S em festinhas, assim que eu uso. (Professora C).

    Alm disso, verificamos que a vivncia musical cotidiana das professoras e as

    orientaes recebidas durante o desenvolvimento do Projeto Msica na escola, no foram

    suficientes para afinar o canto dessa escola com a realidade musical do seu aluno.

  • Apesar de existir um consenso entre a produo cientfica, as educadoras

    musicais e as professoras de ensino fundamental sobre a importncia da msica na

    educao da criana e do jovem, como mostra a pesquisa, sua implementao na escola,

    quando ocorre, est muito distante de seu verdadeiro significado priorizando, como j foi

    mencionado, aspectos disciplinares e atividades festivas.

    O fato que se h msica como disciplina escolar, pouco tempo reservado

    para a sua prtica, a no ser como recreao ou como recurso didtico, auxlio imediato

    para a promoo de festas escolares ou para minimizar as dificuldades no processo de

    ensino e de aprendizagem. Os professores continuam reduzindo essa disciplina realizao

    de atividades ldicas, com aspectos agradveis, em que o produto final mais importante

    do que o processo de aprendizagem que busca, como objetivo, a aquisio de um novo

    conhecimento.

    A msica como atividade educativa, quando inserida no contexto escolar

    encontra ainda uma srie de limitaes, tais como carncia de material msico-pedaggico,

    salas adequadas, tempo disponvel reduzido, alm de turmas numerosas e heterogneas.

    Outro limite que se impe educao musical escolar diz respeito ausncia de

    um mtodo atrativo e realista que, em concordncia com o desenvolvimento psicossocial do

    aluno, lhe possibilite um aprendizado prazeroso, acessvel e voltado para o seu crescimento

    pessoal. So raras as escolas que dispem de um trabalho musical bem orientado e

    metodologicamente estruturado, com possibilidades de garantir a sua continuidade. O

    processo de ensino-aprendizagem requer constante adequao e renovao de atividades e

    de materiais msico-pedaggicos, conhecimento e disponibilizao de recursos

    metodolgicos que possam promover as condies necessrias como forma de assegurar a

    apreenso do conhecimento musical, o constante interesse do aluno e que, assim, possa

    devolver a alegria musical.

    O espao acadmico, nesse sentido, pode ser um produtor de msica. Isto

    significa que a escola pode abrir caminhos para um fluxo amplo de idias, de fantasias,

    estreitando laos nas relaes sociais, estimulando a criatividade nos indivduos e nos

    grupos. Contudo, preciso dar educao musical um carter progressivo, que deve

    acompanhar a criana ao longo de seu processo de desenvolvimento escolar. Momentos

    devem ser adaptados s suas capacidades e interesses especficos. preciso ter conscincia

    e clareza para introduzir o aluno no domnio do conhecimento musical. Isso significa que

    fundamental o papel da escola no estudo da cultura musical, pois nela, como terreno de

  • mediao, podero ocorrer as trocas de experincias pessoais, intuitivas e diferenciadas.

    Da a necessidade de no perdermos de vista as prticas musicais que respondem a

    movimentos sociais e culturais que vo alm dos muros da escola mas refletem, mais cedo

    ou mais tarde, no interior da sala de aula.

    Desacertos so cometidos no ensino da msica em decorrncia do

    desconhecimento da natureza dos elementos fundamentais como o som, o ritmo, a melodia,

    o ouvido musical, a harmonia e a inspirao no momento do fazer musical. Para isso,

    necessrio considerar bases novas, mais amplas, que nos possibilitem transcender e

    libertarmo-nos das idias preconcebidas que entraram no decurso do ensino de msica. No

    necessrio rejeitar os valores tradicionais. O que importa entender que existe hoje uma

    diversidade de formas de pensar, de lidar e de gostar de msica revelados no cotidiano

    escolar que devem ser considerados na articulao e no entrelaamento da construo do

    conhecimento musical.

    Entendemos que preciso romper com os mecanismos que fazem com que a

    escola simplesmente tome para si a postura de reafirmar a familiaridade musical dada a

    alguns por seu meio sociocultural. O objetivo principal est na grande massa escolar, em

    milhares de alunos de escolas pblicas e privadas que, na ausncia de uma poltica

    educacional coerente com a formao plena do aluno, encontram-se desprovidos de uma

    educao musical que os acompanhe no percurso da escolaridade bsica.

    O silenciamento das escolas foi conseqncia de um processo em que pesaram

    fatores de ordem poltica, cultural e pedaggica. Dessa forma, no basta apenas reintroduzir

    a msica no currculo escolar das escolas. Sua insero no universo escolar depende, antes

    de mais nada, de uma reflexo mais profunda da atual realidade educacional brasileira para

    que nela a msica possa ser vista e entendida como um componente curricular importante

    para a formao do indivduo como um todo.

    Depende, ainda, de uma vontade poltica e de investimentos, sobretudo na

    formao do professor. Se, atualmente, so raras as escolas que se propem a realizar um

    trabalho bem orientado e metodologicamente estruturado para o ensino da msica, no

    menos rara a presena do professor especializado para dispor-se a um trabalho dinmico e

    de qualidade.

    Dessa forma, as indicaes nos Parmetros Curriculares no so suficientes

    para romper esse silncio que ecoa no interior das escolas. Fruto de uma poltica

    educacional equivocada, esse silncio que calou as vozes de milhares de crianas e jovens,

  • deve se constituir num ponto de partida para um novo caminho para a msica na escola.

    Caminho esse pautado pelo seu entendimento como uma linguagem com possibilidades de

    transformar, modificar e estabelecer uma nova concepo de homem, de sociedade e de

    mundo.

    Esses parecem ser, no mago da situao, os maiores obstculos para a incluso

    da msica na escola de ensino fundamental do pas.

    preciso, em nome do resgate da alegria escolar (Snyders, 1992), tomarmos

    conscincia das verdadeiras carncias pedaggicas no domnio do ensino musical e projetar

    um plano estratgico, transparente e inovador, que tenha objetivos claros e bem definidos

    que possam ser efetivados no cotidiano da vida escolar.

    A escola, como espao de construo e reconstruo do conhecimento, pode

    surgir como possibilidade de realizar um ensino de msica que esteja ao alcance de todos.

    A ousadia ficaria por conta de tentativas de democratizar o acesso arte, de se projetar

    nesta tarefa de renovao, reconstruo e, mais ainda, de apoiar as atividades pedaggicas

    musicais, considerando-as qualitativamente significativas.

    Se o verdadeiro objetivo aproximar o aluno da msica, levando-o a gostar de

    ouvi-la, apreci-la e compreend-la, preciso, com urgncia, preencher o vazio musical no

    cotidiano escolar o qual, ao mesmo tempo, como num acellerando, deixa-se escapar aos

    nossos olhos, e como um allargando, deixa-se escapar aos nossos ouvidos.

    Nessa perspectiva, ao buscar elementos para compreender a atual situao do

    ensino da msica na escola fundamental brasileira, acreditamos estar contribuindo para o

    debate e o dilogo necessrios reintroduo da msica no universo escolar, certos de que,

    para isso, h um longo caminho a ser percorrido.

    No podemos permitir que a msica se cale nas escolas brasileiras.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    LOUREIRO, Alcia M. Almeida. O ensino da msica na escola fundamental: um estudo exploratrio. 2001. Dissertao (Mestrado) Universidade Catlica de Minas Gerais. SNYDERS, George. A escola pode ensinar as alegrias da msica? So Paulo: Cortez,

    1992.

  • Projeto Msica na Escola - Mdulo I - Proposta de Prestao de Servios, Belo

    Horizonte, fev. 1997. Projeto Msica da Escola A msica das Escolas Pblicas do Estado de Minas Gerais,

    1998. Projeto Msica na Escola Mdulo II Proposta de Prestao de Servios, Belo

    Horizonte, 1998. Legislao BRASIL. Lei n. 5692, de 11 ago. 1971. Reforma do ensino de 1 e 2 graus , 1971. BRASIL. Ministrio da Educao e do Desporto. Parmetros Curriculares Nacionais:

    Arte. Ensino de primeira quarta sries, 1997. BRASIL. Ministrio da Educao e do Desporto. Parmetros Curriculares Nacionais:

    Arte. Ensino de quinta oitava sries, 1998.

  • Banco de dados: arte-educao e educao musical em Uberlndia (1970-2002)

    Aline da Silva Alves Universidade Federal de Uberlndia

    [email protected] Resumo. A presente comunicao se insere no campo da documentao em Educao Musical.O estudo em andamento, iniciado em agosto de 2002 e com previso de trmino em julho de 2003, tem como objetivo geral organizar um banco de dados sobre a Arte-Educao e, em especial, Educao Musical, no mbito da Secretaria Municipal de Educao de Uberlndia (SME), para disponibiliz-lo comunidade interessada no assunto. Metodologicamente faz uso da pesquisa bibliogrfica e documental. At o momento foram catalogados 63 documentos coletados na biblioteca do Centro Municipal de Estudos e Projetos Educacionais (CEMEPE), na biblioteca da Universidade Federal de Uberlndia (UFU), nas bibliotecas das escolas estaduais e municipais atravs de consulta ao trabalho de Marilda das Dores Vieira Nascimento (2002) e no jornal O Correio de Uberlndia. Esses documentos foram organizados por autor, ttulo data e assunto. Palavras-chave: educao musical; arte-educao; banco de dados

    Introduo

    Esta comunicao tem por finalidade apresentar os resultados parciais do plano de

    trabalho Arte-Educao e Educao Musical na cidade de Uberlndia MG entre 1970

    2002: criao de um banco de dados, apoiada pelo programa PIBIC CNPq UFU1, e

    vinculado ao projeto de pesquisa Arte-educao e Educao Musical nas polticas

    educacionais da Secretaria Municipal de Educao de Uberlndia (SME) entre 1970-2002

    proposto por Margarete Arroyo.

    A pesquisa documental de Educao Musical no Brasil merece mais ateno do que

    vem tendo. Poucos trabalhos tm sido desenvolvidos nesta modalidade de investigao que

    em si, tanto fonte bsica de novas investigaes quanto registro da histria da rea.

    No mbito dos estudos documentais de Educao Musical no Brasil podemos citar o

    trabalho organizado por Jusamara Souza em que foram catalogados livros didticos de

    msica em bibliotecas de Porto Alegre (Souza, 1997). Tambm tendo como foco a

    catalogao de livros didticos, est a pesquisa de Llia Neves Gonalves e Maria Cristina

    1 O trabalho orientado pela professora Margarete Arroyo.

  • Souza Costa, desta vez localizada na cidade de Uberlndia, M. G. (Gonalves; Costa,

    1998).

    Rosa Fuks (1995) tem se dedicado ao estudo do acervo do SEMA

    Superintendncia de Educao Musical e Artstica, criada em 1932 no mbito do

    movimento da Educao Musical liderado por Villa Lobos.

    Objetivos, justificativa e metodologia

    Nossa investigao tem por objetivo geral organizar um banco de dados sobre a Arte-

    educao e, em especial, a Educao Musical no mbito da SME de Uberlndia, para

    disponibiliz-lo comunidade interessada no assunto. Seus objetivos especficos so:

    levantar documentos produzidos pelos governos municipais de 1970 a 2002 (projetos,

    programas, folhetos, etc.); levantar nas escolas municipais documentos que registram aes

    relativas s polticas de arte-educao ou educao musical (projetos, fotos, relatrios, etc.);

    levantar materiais nos jornais da cidade e em outros meios de informao e comunicao

    (emissoras de TV locais, etc.); levantar pesquisas j realizadas sobre o ensino de Arte e

    Msica na cidade; estudar bibliografia sobre pesquisa documental em educao musical no

    Brasil e estudar bibliografia sobre arte-educao e educao musical no Brasil.

    Este estudo justifica-se como possibilidade de levantar documentos sobre a Arte-

    educao e Educao musical na cidade de Uberlndia, organizando este material em um

    banco de dados para disponibiliz-lo a pesquisas futuras. Desta maneira, estaremos no

    apenas reunindo e organizando dados sobre o ensino de artes e msica na cidade, mas

    tambm preservando suas histrias. Metodologicamente, a pesquisa faz uso dos mtodos

    bibliogrfico e documental.

    Nosso foco nessa comunicao apresentar o levantamento da documentao

    relativa arte-educao e educao musical no contexto das polticas educacionais da SME

    de Uberlndia, coletada entre agosto e dezembro de 2002 e fevereiro de 2003.

    Foram localizados 63 documentos nos seguintes locais: biblioteca do CEMEPE

    (Centro Municipal de Estudos e Projetos Educacionais), - dando continuidade ao trabalho

    realizado por Mirian Carmen Machado (2002)-; biblioteca da UFU; biblioteca Municipal;

    bibliotecas das escolas estaduais e municipais atravs de consulta ao trabalho de Marilda

  • das Dores Vieira Nascimento (2002) e imprensa da cidade, Jornal Correio. Paralelamente a

    este levantamento, iniciamos a catalogao desses 63 documentos, bem como a indexao

    dos mesmos, organizada segundo autor, ttulo, data e assunto.

    Tendo em vista que o material vinculado SME de Uberlndia relativo a arte-

    educao e educao musical escasso, resolvemos incluir todo documento que

    mencionasse os assuntos foco de nosso interesse. Assim, os documentos catalogados

    incluem materiais vinculados SME de Uberlndia e oriundos de outras fontes.

    Dados Coletados

    A catalogao consta dos dados bibliogrficos de cada documento seguidos de um

    comentrio tambm bibliogrfico. Como exemplo, trazemos o documento n. 18 que vem

    catalogado do seguinte modo:

    18- PREFEITURA MUNICIPAL DE UBERLNDIA, SME. Projeto de Arte Educao para as escolas da rede Municipal. Uberlndia, dezembro de 1990. O projeto Arte Educao foi elaborado por uma equipe de arte-educadores e outros profissionais tcnicos administrativos com o objetivo de implantar o ensino da arte, oficinas de Arte-Educao, Ao Cultural e projetos integrados na rede municipal de educao. O objetivo geral consta de recuperar a arte como elemento fundamental na educao, para que, expressando suas vivncias o educando possa chegar a compreend-las e a emprestar significados sua condio no contexto cultural.

    O ndice de autores e ttulos permite localizar os documentos por essas entradas e o de

    datas permite uma viso por perodos. Este ltimo apresentado a seguir e nele possvel

    identificar tambm autores e ttulos. (Tabela 1)

    Tabela 1

    1970 40 Universidade Federal de Minas Gerais

    Programa de enriquecimento de currculo para alunos bem-dotados da 4. srie do 1. grau: educao artstica.

  • 1980 14 Ministrio da Educao e Cultura MEC. A ao cultural vale tudo em banda rtmica.

    15 SANCHEZ, M. M. Msica para os pequeninos.

    1982 16 CARVALHO, V. L. O. A importncia da msica na educao do deficiente

    auditivo.

    20 SANTOS, F. S. M. Um contrato na primavera: quando as rvores falam.

    1983 22 SOARES, M. I. B. Ensine seu aluno a ouvir.

    1984 13 OLIVEIRA, D. E. Vem andar comigo.

    21 FURTADO, M. C. X. Educao atravs da arte.

    19892 1 Prefeitura Municipal de Uberlndia Secretaria Municipal de Educao

    Educao pelas diferenas. Ensino fundamental no seriado.

    2 Prefeitura Municipal de Uberlndia Secretaria Municipal de Educao

    Departamento de projetos especiais.

    1990 27 WEIGEL, A. M. G. Msica: Ih! De novo? Ou: Ah! Que bom!

    18 Prefeitura Municipal de Uberlndia Secretaria Municipal de Educao

    Projeto de arte-educao para as escolas da rede municipal 1991.

    1991 11 COSTA, J. C. RIBEIRO C. R.

    Ensino e criatividade.

    4 Prefeitura Municipal de Uberlndia Secretaria Municipal de Educao

    Mdulo de educao infantil. Escola de tempo integral Educao de 0 a 6 anos.

    8 Secretaria Municipal de Educao O projeto de arte-educao j realidade nas escolas

    2 Os documentos citados neste ano no trazem data de publicao. Foram indicados em 1989 por terem sido elaborados no governo Galassi, 1989-1991.

  • municipais.

    36 A MATEMTICA do crescimento Uberlndia somos ns. Educao nota dez.

    39 Prefeitura do Municpio de So Paulo Secretaria Municipal de Educao

    Reorientao do ensino noturno: diretrizes para elaborao de projetos pelas escolas.

    1992 3 SILVA, C. A. M.

    A importncia da arte na educao escolar

    41 SILVA, R. S. O ensino de educao artstica nas escolas de 1. grau de Uberlndia/MG.

    1993 33 Prefeitura Municipal de Uberlndia

    Uberlndia tem educao

    12 Prefeitura Municipal de Uberlndia Secretaria Municipal de Educao

    2. Congresso dos Educadores de Minas.

    1994 24 ARAJO, M. C. M. Projeto da Pr-escola.

    37 Prefeitura Municipal de Uberlndia Secretaria de Planejamento

    Plano Diretor de Uberlndia.

    1995 5 Secretaria de Estado da Educao MG Programa de educao pr-escolar.

    1996 28 Prefeitura Municipal de Uberlndia

    Secretaria Municipal de Educao I Encontro sobre o ensino de Arte.

    32 PROJETO BEM TI VERDE Projeto Bem Ti Verde O meio ambiente em questo.

    38 Prefeitura Municipal de Uberlndia Secretaria Municipal de Educao

    Proposta Curricular de 1 4 srie. Educao de Jovens e Adultos.

    42 Prefeitura Municipal de Uberlndia Teatro de fantoche na Pr Escola.

    45 DUARTE, M. L. B. Consideraes sobre a proposta curricular para o ensino de Artes Plsticas e Visuais da Rede Municipal de Uberlndia.

    1998

  • 7 SECRETARIA anuncia mudana na Oficina Cultural.

    Secretaria anuncia mudana na Oficina Cultural.

    9 Secretaria Municipal de Educao Uma proposta curricular Educao Infantil e Ensino Fundamental.

    10 Secretaria Municipal de Educao Ensino infantil e fundamental

    30 Prefeitura Municipal de Uberlndia Secretaria Municipal de Educao

    O futuro do Brasil est na educao.

    35 Prefeitura Municipal de Uberlndia Secretaria Municipal de Educao

    Relao das unidades escolares/98.

    1999 6 TALENTO na msica.

    Talento na msica.

    26 FONSECA, P. Msica desenvolve educao e cidadania.

    29 Prefeitura Municipal de Uberlndia Secretaria Municipal de Educao

    111 anos. Parabns Uberlndia!

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    Uberlndia Portal do Cerrado: relatrio de atividades.

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    Quadro informativo de nmero de turmas e nmeros de alunos/2000.

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    servidores.

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