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Editor: Instituto Politécnico de Santarém Coordenação: Gabinete coordenador do projecto Ano 6; N.º 229; Periodicidade média semanal; ISSN:2182-5297; [N.55] FOLHA INFORMATIVA Nº04-2013 A Arte-Xávega na Comunidade da Praia de Vieira de Leiria e a sua Patrimonialização Não foram imagens de um filme, esses tempos! Fizeram parte de um cenário onde a realidade de miséria, trabalho, fome, morte e desesperança, foram a companhia desta gente… É importante que não seja esquecida e apagada da memória a lembrança de um povo que viveu quase sempre no limite do impossível. Vicente, 2008: 11

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Editor: Instituto Politécnico de Santarém Coordenação:

Gabinete coordenador do projecto

Ano 6; N.º 229; Periodicidade média semanal; ISSN:2182-5297; [N.55]

FOLHA INFORMATIVA Nº04-2013

A Arte-Xávega na Comunidade da Praia de Vieira de Leiria e a

sua Patrimonialização

Não foram imagens de um filme, esses tempos! Fizeram parte de um cenário onde a realidade de miséria, trabalho, fome, morte e desesperança, foram a companhia desta gente… É importante que não seja esquecida e apagada da memória a lembrança de um povo que viveu quase sempre no limite do impossível.

Vicente, 2008: 11

O LARGAR DA REDE1 NA PRIMEIRA PESSOA

Poder-se-á falar da Arte-Xávega mas não sem antes vivenciar, pelo menos uma vez, o ir ao mar,

passar a rasa (intervalo entre a rebentação das vagas) e largar a rede do barco meia-lua, o Lusitano2.

Que rasa, que tantas ondas tinhas!… E tanta pancada nos deste!... O motorista gritava: - “…está

seguro, está seguro, agarrem-se…” Eu, pequena, estava protegida à direita, à esquerda e atrás pelos

Homens do Mar mas, mesmo assim, o vazio do estômago pairou e nem o coração cheio de uma

vivência, que espero repetir, amainou esse vazio…

Passar a zona de rebentação (a cabeça do

mar) foi uma experiência que me fez sentir

que a Xávega é uma Arte de desafio, que

desperta o “Eu sou capaz”… Passar a crista

da onda e cair no vazio do mar, nas vagas, é

um tumulto de emoções. Ver a proa alta

ainda mais alta lembra o quão pequenos

somos. A Arte-Xávega é uma actividade

qualificada como uma profissão de alto

risco, e leva-nos sem querer a pensar no infortúnio, no que pode vir a acontecer, tendo que pensar

que a coragem e o optimismo são os maiores aliados destes Homens do Mar.

A vivência da incerteza de que vamos ultrapassar a zona de rebentação (a cabeça do mar) e que

vamos entrar na acalmia do mar (contrabanco) é rompida com o meio lago, que nos indica que

temos de esperar por uma nova rasa.

A respiração controlada foi uma aliada, para que tivesse sido superada a expectativa depositada na

ida ao mar. É claro que os Homens Do Mar, com a sua sabedoria, jogam com o seu saber para que a

possibilidade do acaso da sorte das próximas ondas não provoquem o infortúnio.

O barco, o Lusitano, cavalgava as ondas como se as tratasse por tu - por capricho, sorte e sabedoria

do arrais e da tripulação.

Já em alto mar a rede foi lançada com a expectativa de que o peixe estivesse a trabalhar nas águas

que o Lusitano cavalgava com a sua proa, esperando-se aí o surgimento de um golpe de sorte pelo

qual o peixe fosse arrastado até a costa e lá se entregasse ao saco. Um golpe de sorte sim!, pois a

Arte-xávega é apelidada de pesca cega.

Os Homens do Mar transpõem todos os dias o seu destino e o acaso da pesca, ultrapassam a

escassez que vem na rede e/ou a abundância que a mesma pode trazer… No sentido de que esta

1 Léxico local revisto pelo Mestre Lúcio, arrais da companha do Lusitano. 2 No dia 6 de Setembro de 2012 a autora experimentou ir ao mar no barco meia-lua Lusitano, o que importa descrever.

expectativa se confirme, o barco tem que arribar, ou seja, tem que sair do mar e, para isso, terá que

encontrar uma rasa, os motores terão que trabalhar no seu limite máximo para que todos cheguem a

terra, o Lusitano e os seus pescadores.

Em terra ficou uma corda, o recebeiro, com ligação às mangas e ao saco – a chamada rede – que se

encontra dentro do Lusitano. Após lançarem uma parte da corda com as bóias (caneleiros, ou últimas

bóias da corda/cabo de alagem, antes das mangas, com a finalidade de certificar que a rede vem

orientada) e os calões a si presos (indicam o início da manga), lançam as mangas e o saco. A entrada

tem a folha de boca com bóias, com a panda-mestra ao centro, e no fim a calima, ou fim do saco.

Depois da azáfama de largar a rede há que arribar, voltar a terra, levando outra parte da corda –

mão-de-barca – que está presa à manga e ao saco para assim dar início ao puxar (calões ou cabos de

alagem, chamados de reçoeiro e de mão-de-barco), isto é, alar a rede com os aladores que estão

presos ao eixo do motor dos tractores, enquanto os pescadores aducham a corda (puxar e dobrar em

semicírculos) que sai do mar, e voltam a colocar tudo dentro do barco, o que se denomina de

aparelhar o barco, para voltar a dar um lanço.

Presenciar a azáfama dos Homens do Mar

aquando da recolha das redes, os gritos entre

si e a sua tolerância para com os veraneantes

é um arco-íris de emoções, ver nos seus rostos

o alento ou o desalento pela abundância ou

pela escassez de reflexos prateados da

sardinha, da cavala e do desejado carapau – é

uma tela viva!

Em suma, vivenciar esta experiência não deveria ser privilégio de alguns mas sim do máximo possível

de pessoas, integradas num roteiro turístico com um trajecto baseado no passado e no presente da

Arte-Xávega, assim tornada numa marca de extrema importância cultural, económica e identitária,

local, regional e nacional.

INTRODUÇÃO

O presente texto assenta na nossa vivência na safra das companhas (Lusitanos, Viking, Deus de

Salve), na Praia de Vieira de Leiria no verão de 2012.

Da dinâmica do meio ambiente marítimo costeiro resultaram actividades particulares e únicas que

estiveram na base construção da identidade daquela comunidade piscatória, que importa estudar

para melhor compreender os costumes e as mentes do povo dessa zona. A Arte-Xávega é uma dessas

actividades marítimas. Para Alfredo Pinheiro Marques, a Xávega era exclusiva do Algarve tendo-se

extinguido em meados do século passado, no que é corroborado por Mano (1997: 350) que refere a

“Xávega, que era praticada no Algarve, e cuja designação veio a ser abusivamente alargada a todo o

Portugal por via administrativa e burocrática”. Não podemos afirmar ao certo quando e onde

começou a Arte-Xávega3, mas podemos dizer que a comunidade da Praia da Vieira de Leiria tem

contribuído e lutado para que não se extinga. Neste sentido, ao logo da nossa investigação, Arte e

Xávega surgem separadas por um hífen, para designar a mesma realidade cultural, da Arte-Xávega.

Acompanhámos de perto a safra, no corrente ano de 2012 e observámos a ocorrência de problemas

na relação entre os pescadores das diferentes companhas que geraram um comportamento

competitivo entre as mesmas. Em casos pontuais e esporádicos foi mesmo necessária a intervenção

da Polícia Marítima. Este tipo de comportamento é inerente às comunidades piscatórias4, de acordo

com Lopes (1995) e Nunes (2005). As companhas chegaram mesmo a unir-se para barrar a

intervenção fiscalizadora das autoridades, como foi noticiado nos media no dia 29 de Julho de 20125.

Enquanto observadora tentei avaliar de que forma esta actividade piscatória se poderia manter

como memória viva para as gerações futuras, como actividade simbólica de um grupo, tratando de

encontrar uma forma de contribuir para a patrimonialização da Arte-Xávega.

Para que possa ocorrer, as gerações presentes não

podem deixar de lado a herança que lhes foi cedida

pelos seus antepassados, e terão de ter a consciência

de que devem agir para a legar às gerações vindouras.

Entendemos por Arte-Xávega o processo dinâmico em

volta da actividade de pesca de cerco e arrasto para

terra, que envolve o barco, as redes e todos os

utensílios associados à pesca, assim como a forma de

pescar, a gastronomia, o vestuário, as migrações e toda a sua forma de viver, que os autores como

Nunes (1993, 2005, 2008) e Lopes e Lopes (1995) nos expõem.

Lopes e Lopes (1995: 7) referem que “esta gente continua a lutar por um modo de vida

aparentemente condenado pelo progresso e pelas autoridades… Com isto vai-se perdendo uma

tradição que foi a razão de ser de muitas praias.” Da mesma forma, Alfredo Pinheiro Marques refere

que a Arte,

3 “Os primeiros discípulos de Jesus, que eram pescadores da Galileia, conheciam este tipo de pesca. Os fenícios, gregos e romanos também (…) as redes de xávega documentadas em Portugal foram trazidas por espanhóis, franceses e catalães (…).

A estas redes os catalães chamavam-lhes «art» e os da Andaluzia «xábega». Daí que em Portugal viessem a ser conhecidas

por arte-xávega”. (Lopes & Lopes, 1995: 18) 4 Carlos Alberto entrevistado por Lopes e Lopes (1995: 17) refere “Isto é assim. A gente descarrega e discute uns com os outros, mas não ficamos zangados. É como o mar agora está manso, daqui a bocado está ruim.” 5 Ver aos 5 minutos em http://www.tvi.iol.pt/videos/13673273.

está a ser sacrificada no altar de um "progresso" que, afinal, tem sido simplesmente aculturação: estúpido desinteresse (socialmente complexado), e boçal ignorância (doutoral) perante todas as tradições genuínas e todos os saberes antigos. Um “progresso” que, afinal, tem sido, uma vez mais (ainda e sempre, como em tantas outras épocas anteriores da História de Portugal...), sinónimo de desleixo, desprezo e arrogância perante tudo o que cheire a povo

e a sal e a pobreza. (Marques, 2010: 2)

Corroborando o autor, em jeito de diagnóstico, a observação directa realizada por nós na Praia da

Vieira confirma que a mesma corre o risco de se extinguir, por ser uma actividade que o poder local

vai tolerando sem tomar medidas de a promover e defender. Neste sentido, importa promover

primeiramente junto do poder local a Arte-Xávega para que o mesmo poder, democraticamente

sufragado pelo voto popular, posteriormente a possa proteger. Como hipótese de partida, considera-

se que a patrimonialização oferece condições promissoras de preservação deste universo cultural.

Pela observação directa, foi possível notar a

falta de objectos culturais patrimonializados

e de um local que ancore esse mesmo

património cultural da comunidade da Praia

da Vieira como referência para a identidade

da mesma. Nos contactos informais com o

poder autárquico foi visível a importância de

estabelecer uma rota turística que promova

a Arte-Xávega da Praia da Vieira de Leiria

conjugada com a cultura Avieira, promovida

pela Associação para a Promoção da Cultura Avieira e pelo projecto de candidatura da cultura Avieira

a património nacional imaterial.

JUSTIFICAÇÃO

São vários os estudos académicos que abordam a problemática da Arte-Xávega. Citamos dois como

exemplo A Safra, e Hoje por Ti, Amanhã por Mim: A Arte-xávega no Litoral Central Português. No

entanto, a prática desta actividade na Praia da Vieira de Leiria carece de mais estudos aprofundados.

Neste sentido é importante a sistematização e a reflexão sobre a literatura já produzida, assim como

a produção de conhecimento que vá ao encontro da valorização da Arte-Xávega na Praia da Vieira.

Poderemos estar numa época em que a mesma se possa considerar como estando no limiar da

extinção, caso não se encontre um mecanismo de excepção legal, que permita legalizar a lota da

Praia de Vieira de Leiria, onde os pescadores possam directamente vender o seu pescado. Se tal não

for possível poder-se-á afectar o rendimento das famílias dos 100 pescadores que hoje se dedicam a

esta prática, e prejudicar seriamente a economia local, especialmente a do turismo.

A actividade da Arte-Xávega encontra-se legislada pela portaria n.º 488/96 de 13 de Setembro.

Contudo, na Praia da Vieira de Leiria a lota não se encontra legalizada, colocando assim em risco a

actividade piscatória, de todo, ou nos moldes em que é conhecida.

OBJECTIVO

O presente texto tem como objectivo perceber a importância que a Arte-Xávega teve na construção

e na afirmação da identidade da comunidade piscatória da Praia de Vieira de Leiria.

Qual será a consequência para a comunidade da Praia de Vieira de Leiria se a Arte-Xávega se

extinguir da forma como a conhecemos?

Partindo da hipótese que a Arte-

Xávega deu um forte contributo para a

construção da identidade da

comunidade da Praia da Vieira de

Leiria, pode ser considerada como uma

prática cultural inerente àquela

comunidade piscatória.

Por outro lado, estando subjacente ao

objectivo anterior, pretende-se

identificar as condições para defender o património cultural dos pescadores da Praia da Vieira de

Leiria e dos seus ancestrais. Em suma pretende-se atingir três objectivos:

I. Defender os valores da comunidade piscatória da Praia de Vieira de Leiria;

II. Promover uma rota cultural cuja matriz é o património cultural da comunidade piscatória

da Praia da Vieira de Leiria, ligando-a à rota cultural Avieira promovida pelo Instituto

Politécnico Santarém na candidatura da Cultura Avieira a Património Nacional;

III. Gerar condições para a edificação no terreno de um centro de interpretação que

possibilite aos cidadãos conhecer a riqueza do património cultural e da identidade da

comunidade da Praia da Vieira de Leiria.

RAZÃO DESTE TRABALHO

A Praia de Vieira de Leiria é uma localidade da Freguesia da Vieira de Leiria que pertence ao concelho

de Marinha Grande, situada no Litoral Central Português, imediatamente a norte da praia de Nazaré.

A Praia da Vieira de Leiria edificou-se pela conquista dos Homens e Mulheres às revoltas águas do

mar e a sua história é indissociável do ofício da pesca (arte). De acordo com Hermínio Nunes (2008) a

pesca iniciou-se ainda antes do povoamento da Praia da Vieira de Leiria.

Na actualidade, na Praia de Vieira de Leiria, no verão de 2012, encontravam-se a laborar seis

companhas (Lusitanos, Viking, Deus te Salve, Princesa do Lis, Eu Só, e Senhora da Luz) e em cada uma

delas laboram perto de trinta pescadores (oriundos da Praia e da vila de Vieira de Leiria), o que indica

que aproximadamente cem famílias dependem da Arte-Xávega directamente.

A Arte-Xávega tornou-se entretanto uma atracção turística, como é perceptível na fotografia abaixo

com os veraneantes a observar, junto do paredão, a praia e a faina. Ao fundo da fotografia, é visível a

lota e o aglomerado de gente que a vai ver e comprar o peixe acabado de sair das redes,

contribuindo dessa forma para a economia local de uma forma muito positiva.

FOTOGRAFIA 1 – PAREDÃO DA PRAIA DA VIEIRA DE LEIRIA

Fonte: Silva, Leal (2012)

Nestes termos, importa perguntar: Qual a importância que a Arte-Xávega teve na construção da

identidade da comunidade da Praia da Vieira de Leiria? Qual será a consequência para a comunidade

da Praia da Vieira de Leiria se a Arte-Xávega se extinguir da forma como a conhecemos?

Para responder a estas perguntas, definimos como objecto de estudo a própria comunidade da Praia

de Vieira de Leiria, o que se traduz numa perspectiva de representação e de descoberta dos traços

comunitários culturalmente fundantes.

Pierre Bourdieu (1989: 116) refere que a representação é um acto que reconhece e “tenta trazer à

existência a coisa nomeada”. Neste sentido, o objecto de estudo assenta nos elementos da

comunidade da Praia da Vieira que praticam a pesca de cerco e arrasto para terra, pescadores que

sejam em simultâneo gerentes e actores das companhas existentes da Praia da Vieira de Leiria, os

mesmos que mantêm viva a Arte- Xávega.

O ESTUDO DA CULTURA DA ARTE-XÁVEGA

Trata-se por isso de um estudo de caso. Carmo & Ferreira citam Yin (1988: 216) que o define como

“uma abordagem empírica, que investiga um fenómeno actual no seu contexto real, quando os

limites entre determinados fenómenos e o seu contexto não são claramente evidentes, e no qual são

utilizadas muitas fontes de dados.”

O estudo de caso pode ser qualitativo. Merriam

(citado por Carmo e Ferreira, 1988: 217) resume

algumas características deste como um tipo de

abordagem particular, porque se focaliza numa

determinada situação, acontecimento,

programa e/ou fenómeno; descritivo, porque o

produto final é uma descrição “rica” do

fenómeno que está a ser estudado; heurístico,

porque conduz à compreensão do fenómeno

que está a ser estudado; indutivo porque a maioria destes estudos tem como base o raciocínio

indutivo; holístico, porque tem em conta a realidade na sua globalidade.

Num estudo de caso como este, podem ser utilizados diferentes técnicas de recolha de dados, como

a recolha documental, a observação participante e directa, as entrevistas exploratórias – conversas

informais. Serão tidas em conta e aplicadas de acordo com as necessidades do estudo.

A RECOLHA DOCUMENTAL

A selecção documental é fundamental para uma boa construção do texto da investigação. Segundo

Bell (1997), para a elaboração de um documento credível com base em recolha documental é

importante colocar questões de partida, tais como se existem outras fontes que corroboram as

evidências, se é adequada a data do documento, e se a pessoa que escreve possa ser por vezes outra

que não aquela que fez a investigação.

A recolha de informação escrita assenta em diferentes fontes, tais como estudos académicos,

brochuras, folhas informativas, livros, internet e documentos individuais datados, existentes no

arquivo da Sé de Leiria, no Arquivo Distrital de Leiria, nas bibliotecas Municipais de Leiria e Marinha

Grande, na biblioteca da Vieira de Leiria e da Praia da Vieira de Leiria e na Associação para a

Promoção da Cultura Avieira (APCA).

Com esta pesquisa pretende-se recolher a informação contida nas diferentes fontes para, assim, se

conseguir o (re)conhecimento do passado. A informação conseguida pela análise documental visa

provar a conformidade e a sustentação teórica da informação recolhida na observação directa e

participante, nas entrevistas exploratórias e nos diálogos registadas em diário de campo.

A OBSERVAÇÃO DIRECTA

A autora esteve presente na safra na Praia da Vieira de Leiria no ano de 2012 e confrontou-se com a

questão que se coloca a qualquer estudioso das ciências sociais, em conformidade com Carmo e

Ferreira (1998: 94), de uma forma simples, “ver não é só olhar e escutar, não é só ouvir”. Num estudo

de caso importa ter presente as “entrelinhas” das mensagens, porque observar é mais que ver - é

estar atento e preparado para captar o sentido das mensagens.

Na observação directa e participante o

investigador participa e integra o grupo.

Contudo, não poderá esquecer que o seu papel

é o de estudar, observar, narrar e comparar

factos, assumindo uma postura neutra em

relação aos actores e ao desenrolar dos

acontecimentos. Para que não provoque

interferências na acção, é necessário proceder

correctamente para identificar os indícios, para

o que necessita de uma preparação continuada - para adquirir experiência e adquirir habilidade para

fazer evoluir a pesquisa com o que observa e para assim poder firmar conclusões pertinentes.

Importa bastante saber identificar o princípio de que o principal agente de acção para a mudança se

deve estruturar na própria comunidade. Só assim se conseguirá que os elementos da comunidade

cooperem para o sucesso do trabalho de estudo.

Para se conseguir uma participação da comunidade tem sido necessário:

a) Evidenciar as suas necessidades, e os factores que condicionam as mesmas;

b) Habilitá-la a tomar as decisões adequadas para encontrar resposta para as suas necessidades;

c) Conseguir o compromisso na acção transformadora da sua realidade e;

d) Facilitar a autogestão da acção transformadora, para que se realize com independência dos

sistemas de controlo que pretendem manter a ordem estabelecida.

AS ENTREVISTAS EXPLORATÓRIAS

Começámos a utilizar a entrevista exploratória porque se conseguiu promover uma relação de

proximidade entre o estudioso e a comunidade, dado que o tempo e a acção permitiram ter um

melhor conhecimento sobre o problema de partida, restringindo-nos ao menor número de questões

e deixando ao entrevistado a liberdade total sobre o que diz.

A comunidade da Praia da Vieira de Leiria é guardiã “de uma

memória colectiva ímpar no contexto da história nacional,

um arquivo vivo e dinâmico”, o que concorda com Nunes

(2009: 2), e com Véstia (2012) quando considera que os

representantes mais antigos destas populações são

considerados como “porta-vozes da memória” que importa

ouvir para salvaguardar e evitar mais perdas do saber, do

saber fazer e do fazer, garantindo que este conhecimento

possa passar às gerações futuras.

Utilizámos entrevistas exploratórias - conversa informal -,

com critérios pré-determinados e definidos pelo estudioso,

aquando da recolha documental e da observação directa e

participativa, com o objectivo dos entrevistados historiarem parte das suas memórias. Optámos por

entrevistas semiabertas de acordo com um guião, para analisar os conteúdos que corroborem ou não

as hipóteses de partida, bem como a informação alcançada na recolha documental e com a

observação directa e participativa.

Com esta atitude, foi percebido que o estudioso se obrigou a assumir um comportamento e um

compromisso ético perante a comunidade.

FUNDAMENTAÇÃO DO NOSSO TRABALHO

Partimos da hipótese que a Arte-Xávega deu um forte contributo para a construção da identidade da

comunidade da Praia de Vieira de Leiria, podendo ser considerada uma referência fundante da sua

memória cultural.

Neste sentido, consultou-se bibliografia que permitiu fundamentar os conceitos de património

cultural e de identidade, do desenvolvimento humano, cultural e local, estando subjacente a estes os

conceitos de valor de uso dos objectos e de patrimonialização. Conceitos que importa clarificar e

articular entre si para que se fundamente o estudo deste caso e, assim, se obtenha a conexão entre

os dados obtidos no estudo e os princípios da fundamentação teórica.

PATRIMÓNIO CULTURAL E IDENTIDADE

Para Torrico (2006: 21) “falar de património cultural é falar de identidade”. Contudo, este património

tem que ser definido e delimitado pelo seu valor de uso e de pertença ao grupo. Neste sentido

Magalhães (2005: 11) refere “o investimento que a sociedade local faz no que define como seu

património, sendo substancial demonstrar como aquele se tornou basilar na definição de identidade

local, regional, nacional, e, mais recentemente, global”. Para Brito (2006: 44) “património supõe

sujeitos que podem não

ser linearmente

identificados e que se

movimentam e se

substituem em torno

do mesmo bem”. Deste

modo, atribuir a

identidade a um grupo,

passa pela visão que os diferentes actores sociais têm de si mesmos e do grupo de pertença. Essa

identidade nasce do sentimento simultaneamente de diferença e de proximidade que os grupos

sentem entre si.

Assim sendo, pode considerar-se que o património é um guardião das memórias locais. Magalhães

(2005: 11, 83) considera que ele é um referente de

“[M]emórias culturais locais, nacionais, globais e outras. Assim, ora se refere a religião, a gastronomia, os trajes ou tradições orais, subjacentes ao modo como os grupos humanos têm construído as suas vidas, ora se apela para a importância dos vários objectos metamorfoseados em património, que passam a construir metonímias e metáforas das capacidades artísticas mais refinadas das gentes locais…”

Para Peralta e Anico (2006: 1), por sua vez, património é enunciado como sendo “«bom»

e que «perdê-lo» implica também «perder» identidade e que isso é «mau» e, portanto, deve ser evitado”. “Neste sentido, o património, enquanto meio cultural de objectificação da memória permite, assim, negociar a mudança e um subsequente posicionamento do local na estrutura social global, tomando por base a valorização dos componentes tradicionais locais…”

Nesta perspectiva, importa criar condições para preservar os objectos patrimonializados na

edificação de infra-estruturas guardiãs do mesmo, como o são os centros de interpretação.

O VALOR DE USO DOS OBJECTOS E A SUA PATRIMONIALIZAÇÃO

Ao pensarmos no conceito de valor de uso dos objectos referimo-nos à sua utilidade, ou seja, à

satisfação de uma ou mais necessidades humanas. Neste sentido, pensar nos objectos

patrimonializados é pensar no seu valor simbólico ou no uso simbólico dos mesmos. Esses objectos

são aqueles

“que estão fora do circuito ou fluxo da circulação de bens (…). Com eles se catalisa atenção, memórias, eventualmente textos, e se participa da construção de um universo mental de

referência para aquela sociedade”. (Brito, 2006: 45)

Para Elsa Peralta (2006: 75) “os objectos que são hoje considerados património passam a incluir

todos aqueles aspectos, materiais ou imateriais, que se relacionem com uma noção difusa de

passado, estando associados a uma panóplia de representações identitárias”. As comunidades

podem, assim, identificar-se com objectos simbólicos produzidos por si, tais como actividades

laborais, espaços ocupados, vestuário, gastronomia, música, folclore, e memórias transmitidas por

tradição, dentre outras, e apresentá-los num espaço museológico.

Nesse sentido, Letónio Nabais (1994; 1985;

1993, in Magalhães, 2005: 83) define que “no

século XXI, o conceito de museu ultrapassa o

tradicional edifício (…) e alarga-se ao

território culturalmente concebido e

transformado” e que, neste sentido, podem

ser considerados objectos patrimoniais tanto

os edifícios, os centros históricos, as ruas, as

aldeias e as paisagens, como também uma

actividade e as memórias de uma comunidade, dentre outros.

A selecção desses objectos, materiais e imateriais, passa pela capacidade que lhes é atribuída de

despoletar um sentimento de pertença do grupo.

Em simultâneo as comunidades, ao atribuírem valor simbólico aos objectos, transformam o simbólico

em património. De acordo com Magalhães (2005: 24-25),

“(…) toda a construção patrimonial é uma representação simbólica de uma dada versão identitária, de uma identidade “manufacturada” pelo presente que idealiza. Assim sendo, o património cultural compreenderá então todos aqueles elementos que funda, a identidade de

um grupo e que o diferem dos demais.”

Os objectos quando patrimonializados tornam-se em embaixadores e âncoras da identidade local e

histórica da comunidade a que pertencem, podendo por outro lado ser testemunhos de um tempo

diferente do espaço vivenciado, tornando-se símbolos de representação da comunidade.

A ARTE - XÁVEGA COMO PATRIMÓNIO CULTURAL E IDENTITÁRIO

“O Centro de Portugal (…) [povoado por] homens e mulheres «sozinhos com Deus e o Mar» nascidos da expansão setecentista, para sul dos pescadores da Arte, com os seus palheiros palafíticos6 e os seus fabulosos barcos («o mais belo barco do mundo»…) em forma de meia-lua (uns e outros, os palheiros e os barcos, construídos com a mesma madeira da mesma

árvore, o pinheiro marítimo dos litorais atlânticos)”. (Marques, 2012: 2)

Hermínio Nunes (2005: 84) afirma a existência de registos “documentais que atestam a prática da

pesca em diversas localidades da zona da xávega”7, nos séculos XVI e XVII. As zonas de pesca eram

exploradas pelos lavradores das regiões agrícolas que se localizavam nos estuários dos rios, como o

caso do rio Lis. No séc. XV os lavradores desciam o rio Lis para capturar o pescado, existindo menções

a uma embarcação que entrava e saía do mar pelo rio

Lis ou atravessava a praia à força de braços (Nunes,

2008; Nunes, 2004). É deste movimento que resulta o

povoamento da Praia de Vieira de Leira, com inícios

no séc. XVI.

No reinado do Rei D. Dinis, nos finais do séc. XIII e

início do séc. XIV o rio era navegável da foz à

nascente. O Rei D. Dinis reordenou o pinhal e mandou

plantar pinheiros onde não existiam, para travar a

erosão dos ventos da costa e do mar (as subidas das

águas salgadas) (Nunes, 2004). Do pinhal era extraída

a madeira para a construção das caravelas que

realizavam a exportação de produtos agrícolas e peixe

salgado para Inglaterra e França. (Serrão, 1971: 814).

Hermínio Nunes (2008: 15) diz que é “perfeitamente possível que a fixação das primeiras

comunidades (…) [aí se concretizasse] por meados da primeira metade do século XII”.

6 “Na Praia da Vieira o José Carcaça, pouco depois do 25 de Abril, vai buscar as cordas ao barco e ajuda a deitar a baixo os últimos palheiros, tidos como símbolos de miséria” (Lopes & Lopes, 1995: 92-93). Em conversa informal com o arrais do

Lusitano, Mestre Lúcio, ele recorda quando tinha os seus doze treze anos de idade, “isto aqui eram só casas de madeira da

menina Julinha, era como se fosse uma regente, ela dava conselhos, tinha conhecimento, até dava injecções. As casas eram

dela, alugava-as no verão, o areal continuava por aí abaixo mas não era bom para o desenvolvimento da praia. Foi a melhor coisa que fizemos!” (in, Diário de Campo). 7 Zona do litoral Português situada entre Cortegaça e Costa de Caparica.

A importância do povoamento desta região remonta ao mesmo reinado do Rei D. Dinis, que

incentivou o modo de vida a partir da Arte (pesca) e do Pinhal. Como refere Lopes e Lopes (1995: 18)

“o grande areal que vai de Espinho a Vieira de Leiria era praticamente deserto e rodeado de terras

inférteis até ao dia em que chegaram os pescadores da arte-xávega8”.

Estando aí quase extinto o ofício de serrador9 e permanecendo ainda hoje em menor escala o ofício

de agricultor, destaca-se ainda o ofício de pescador que permanece como testemunho de um modo

de vida que levou ao povoamento e ao desenvolvimento local a partir de um recurso endógeno.

Hermínio Nunes (2004: 15) apresenta três períodos com base na organização das companhas da

Arte. O primeiro – o tempo dos senhorios – que vai desde o liberalismo até aos anos 30 do séc. XX é

marcado pela “liberalização progressiva, pela penetração do capitalismo na pesca e pela

proletarização dos pescadores”. As companhas passaram de sociedades constituídas por vários

investidores para um número reduzido

de investidores/patrões. Um outro

período surge após a especulação

capitalista ao tempo das sociedades –

neste tempo desapareceram várias

companhas despontando novas

sociedades que se desagregaram dando

lugar a companhas em menor número.

Este período vai desde o final dos anos

30 até aos anos 50 e 60 do séc. XX,

onde desaparecem as duas últimas grandes companhas, os Raposeiros e os Falcões10. O último

período é considerado o tempo de resistência em que à multiplicação das pequenas sociedades se

sucede a redução das companhas, barcos e redes. Segundo o autor, este tempo abrange as últimas

três ou quatro décadas do séc. XX até aos dias de hoje.

Esta evolução das relações e da dinâmica na Arte-Xávega tem um papel importante no

desenvolvimento da identidade local e regional e na leitura de percursos sazonais a nível nacional.

8 Um outro contributo que corrobora o povoamento da Praia da Vieira de Leiria é “o Facho”, local onde se realizava uma fogueira de grandes dimensões que servia de orientação para os pescadores que se encontravam no mar, pelo anoitecer. A

memoria da sua localização exacta perdeu-se, segundo Nunes (2008). É provável que a mesma se localizasse na foz do rio

Lis na época medieval. 9 “A serração braçal ocupou desde sempre muitos homens desta região e foi coexistente com a serração mecânica, até que a partir da segunda metade do século XIX surgiu a serração a vapor que, pela sua eficácia, fez com que muitos serradores se

vissem obrigados a deixar estas paragens”. (Cruz, 1995: 38) 10 “João Falcão, «essa admirável figura de pescador (…) foi ele que, para que a indústria da pesca aqui não morresse, das

migalhas do pão amealhado em rigorosos invernos, lá pela Borda-d’Água – pão que era o sangue da sua velhice – tirou quinhão para os seus companheiros, que nada tinham, sem pagarem juros, comparticiparem na sua companha de pesca»”

(Botas, 1950. In Nunes, 2004: 57).

No século XIX a comunidade piscatória da Praia da Vieira de Leiria iniciou um processo migratório

para o rio Tejo e Sado, difundindo assim pelo país a cultura Avieira11 com raízes na Arte-Xávega da

Praia de Vieira de Leiria. O processo migratório da população da Praia da Vieira para o rio Tejo e Sado

teve início na segunda metade do século XIX,

após um período desafortunado de epidemias e

de anos seguidos de escassez de peixe, bem

como de águas revoltas do mar, que

dificultaram a pesca. Nesta altura o ofício de

lenhador já não tinha o mesmo préstimo - pois

a extracção da madeira já não tinha a mesma

importância -, levando os pescadores a

procurem outras formas de subsistência principalmente nos meses de inverno. Depois de uma

estadia no Tejo, o seu retorno à Praia da Vieira era acompanhado de incerteza por as companhas

mudarem frequentemente de donos, de tal forma que muitas vezes não só interrompiam a

laboração como acabavam por desaparecer para posteriormente se fixarem de novo nas margens do

rio Tejo e Sado (Nunes, 2004; Nunes, 2008; Véstia & Rafael, 2012).

O DESENVOLVIMENTO HUMANO

O conceito de desenvolvimento humano foi abordado em 1990 no PNUD - Programa das Nações

Unidas para o Desenvolvimento -, e constituiu desde logo um alerta para a problemática do

desenvolvimento assentar até aí no crescimento económico. Nele se refere, de uma forma

inovadora, que a “verdadeira riqueza de uma nação é o seu povo”.

Nestes termos, consideramos que a definição de desenvolvimento humano é dinâmica, tendo-se

registado diversas reformulações desde 1990. Na base, este conceito de desenvolvimento humano

“consiste no alargamento das liberdades e capacidades das pessoas para viverem vidas que

valorizam e que têm motivos para valorizar (…)” (PNUD, 2011: 1).

Para Amartya Sem trata-se de “uma abordagem, lida com o que eu considero a ideia básica do

desenvolvimento, a saber, o aumento da riqueza da vida humana e não a riqueza da economia na

qual os seres humanos vivem, e que é apenas uma parte da própria vida.” ( http://hdr.undp.org )

É notório que as pessoas desfrutam hoje em dia de uma vida mais longa e saudável, por terem

acesso a mais serviços de saúde, educação, cultura... O progresso é visto hoje não apenas na áreas da

11 Em 1807, a zona envolvente à Praia da Vieira era conhecida como “Lugar da Avieira”, observável na Carta Topographica

do Real Pinhal de Leiria. In Nunes, 2004: 27.

saúde, da educação e dos rendimentos, mas também na capacidade das pessoas poderem escolher,

ou optar pela escolha democrática dos seus líderes e da sua forma de viver.

A este respeito, Amaro (2004) refere a importância da melhoria das condições de vida e das várias

dimensões em presença, como a saúde e o bem-estar material e cultural das diversas comunidades.

Neste contexto, Mahbub Ul Haq, autor do Relatório de Desenvolvimento Humano, considera que:

“[O] principal objectivo do desenvolvimento é ampliar as escolhas das pessoas. Em princípio, essas escolhas podem ser infinitas e podem mudar ao longo do tempo (…) [contudo] o objectivo do desenvolvimento é criar um ambiente propício para as pessoas desfrutarem de

uma vida longa, saudável e criativa”. (http:/hdr.undp.org)

O DESENVOLVIMENTO LOCAL BASEADO NO APROVEITAMENTO DOS RECURSOS ENDÓGENOS

O conceito de desenvolvimento local emerge após a crise da noção tradicional de desenvolvimento12,

atrás apresentada, e ocorre na segunda metade século XX.

Nos anos 80 do século XX emergem novas ideias e teorias sobre desenvolvimento local, devido à

evidência dos desequilíbrios regionais serem cada vez mais acentuados. Neste contexto, a teoria

territorialista do desenvolvimento local passa a defender “um plano de desenvolvimento a partir da

mobilidade dos recursos locais endógenos” .

Nesta nova visão, o desenvolvimento local é

impulsionado por uma visão consciente da

comunidade sobre o meio envolvente, ou

seja, sobre o ambiente e o património

assentes em valores de bem-estar e na

salvaguarda dos recursos endógenos das

regiões.

Nesta nova perspectiva, é considerado o

conceito de comunidade, como o de “um

espaço de vida social onde se configuram de forma constante múltiplas e complexas interacções

entre indivíduos e colectivos que vivem e convivem com laços de solidariedade e intercâmbio de

significado específicos e do seu território, da sua língua e cultura e das suas vivências individuais e

comuns”. (Gómez, Freitas e Callejas (2007: 135)).

Assim, para atingir o óptimo do desenvolvimento local, a administração pública, a população e os

recursos comunitários devem ajustar os seus papéis dentro da comunidade para que seja possível

12 Amaro (2004).

um processo de mudança, que equacione o bem-estar e a qualidade de vida da comunidade, e os

coloque no centro das preocupações de desenvolvimento humano.

Para Amaro (1991) o desenvolvimento local não

deve assentar numa visão economicista mas numa

opção de promoção das diversas actividades

possíveis - sociais, ambientais, agrícolas,

artesanais, culturais e patrimoniais, tendo em

conta os recursos endógenos em cada território,

para o que conta um plano de desenvolvimento,

adequado a cada território e que respeite a

diversidade local.

Neste novo enquadramento teórico e conceptual, é vantajoso conceber-se um modelo de

desenvolvimento local na freguesia de Vieira de Leiria, tendo como base de sustentação e de

sustentabilidade, os recursos endógenos aí existentes, dentre os quais se devem sublinhar a sua

história, o seu mar, os seus pescadores e as suas técnicas de captura de pescado – basilares na

economia local e no bem-estar das suas gentes – de que a Arte-Xávega é um emblema

representativo.

Hélia Carla Amado Rodrigues*

* Mestranda em Desenvolvimento,

Diversidades Locais e Desafios Mundiais,

pelo ISCTE

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spot.com/2011/09/mapa-pinhal-de-

leiria.html&h=547&w=395&sz=75&tbnid=xNqy8hoSdv4bxM:&tbnh=84&tbnw=61&zoom=1&usg=__6lRMMmegLQgy_crXs-

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