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contr mão a EDIÇÃO ESPECIAL JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO MULTIMÍDIA - UNA Ano 4 -Novembro/Dezembro 2011 Distribuição Gratuira nº 18

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Page 1: Ano 4 -Novembro/Dezembro 2011 JORNAL …...2013/01/18  · contramão 3 O lançamento do livro em homenagem aos 80 anos de Pe. Geraldo Magela, Ministé-rios e Magistérios – testemu-nhos

contr mãoaEDIÇÃO ESPECIAL

JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO

MULTIMÍDIA - UNA

Ano 4 -Novembro/Dezembro 2011 Distribuição Gratuira

nº 18

Page 2: Ano 4 -Novembro/Dezembro 2011 JORNAL …...2013/01/18  · contramão 3 O lançamento do livro em homenagem aos 80 anos de Pe. Geraldo Magela, Ministé-rios e Magistérios – testemu-nhos

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EXPEDIENTE

Jornal laboratório do curso de Jornalismo Multimídia do - Instituto de Comunicação e Artes - Centro Universitário UNA Reitor: Prof. Pe. Geraldo Magela Teixeira (in memoriam). Vice-reitor: Átila Simões. Diretor do ICA/UNA: Prof. Lélio Fabiano dos Santos. Coordenadora do curso de Jornalismo Multimídia: Profª Piedra Magnani da Cunha. Contramão. Coordenação: Reinaldo Maximiano Pereira (MTb 06489), Tatiana Alves Carvalho Costa e Cândida Emília B. Lemos. Diagramação: Débora Gomes. Revisor: Roberto Alves Reis. Estagiários: Anelisa R. Santos, Bárbara de Andrade, Bruno Coelho, Bruno Maia, Duda Gonzalez, Felipe Bueno, Henrique Muzzi, Jéssica Moreira, Marina Costa, Natália Alvarenga, Vanessa C.O.G e Vinícius Calijorne. Tiragem: 2.000 exemplares. Impressão: Sempre Editora.

Foto da capa

Editorial

Edição Anterior

Foto: Isabela Carrari

Reinaldo Maximiano Pereira - professor

Foto: Felipe Bueno

2012: um ano para literatura

O ano de 2012 se apro xima ostentando o emblema do fim de toda existência na Terra. Será? Bem, algumas aspectos são interessantes: o ano será bis-sexto, começará num domingo e, em 21 de dezembro, terminará uma era do calendário Maia para que outra possa começar. Vamos ouvir falar muito disso. Em todo caso, jornalis-ticamente, alguns eventos, em 2012, serão importantes e po-dem nos render boas pautas, pois celebram grandes nomes da nossa literatura. Atenção alunos, somadas a esses even-tos, estão as sugestões de leitu-ras que vocês tanto pedem. Dez de agosto marca as homenagens aos Cem Anos de

Jorge Amado, autor de gemas preciosas da literatura brasilei-ra como Gabriela, cravo e canela e Dona Flor e seus dois maridos. Além dessas, permito-me regis-trar, a obra que marcou a minha adolescência, Capitães da Areia, história dos mosqueteiros da beira do cais, Pedro Bala, Profes-sor, Gato e Sem Pernas, menores infratores unidos pelos ideais de honra, lealdade e amizade. Já, em 23 de agosto, te- remos o Centenário de Nelson Rodrigues, considerado nosso maior dramaturgo. Jornalista, romancista, cronista esportivo, autor de peças teatrais e de fo-lhetins que, ainda, povoam o nosso imaginário: A vida como ela é (crônicas), Vestido de noiva e

Meu destino é pecar. Para os alu-nos interessados em conhecer esse universo, além das obras de Nelson Rodrigues, vale ler a biografia O anjo pornográfico, es-crita por Ruy Castro, em 1992. Para fechar, em 1º de outubro, temos os 50 anos da Turma do Pererê, criada pelo cartunista Ziraldo. Pererê, Ti-ninim e Galileu saíram das tirinhas dos jornais, foram para as revistas, para os livros e para a televisão. Umas das criações pioneiras no campo da defesa da ecologia com per-sonagens que fazem parte da fauna e das lendas brasileiras. A julgar por esses fa-tos, teremos um excelente ano, todo dedicado à literatura!

Foto: Felipe Bueno

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O lançamento do livro em homenagem aos 80 anos de Pe. Geraldo Magela, Ministé-rios e Magistérios – testemu-nhos de uma paixão, organizado por Lúcio Flávio Machado, reuniu na Casa UNA de Cultura, no mês de novembro amigos, fa-miliares e admiradores. A obra apresenta 80 depoimentos de diversas pessoas próximas ao falecido reitor e estabelecem uma panorama para se com-preender a história do Pe. Mage-la que transita entre a vida reli-giosa (ministério) e a vida como educador (magistério). Num depoimento emo-cionado o vice-reitor Átila Simões disse que participou da idéia do livro desde o iní-

cio e ajudou a reunir e sele-cionar junto ao padre os de-poimentos pouco antes de seu falecimento. “Padre Mage-la viu essa obra”, declarou. Entre os presentes es-tavam os diretores do grupo Ânima, Daniel Castanho e Mar-celo Bueno; o diretor do Insti-tuto de Comunicação e Artes, Lélio Fabiano dos Santos e, re-presentando o prefeito de Belo Horizonte Márcio Lacerda, a se-cretária municipal da regional leste, Rita Margarete Rabelo. “O Pe. Geraldo Magela foi um ícone na história da cidade de Belo Horizonte. Eu o conheço desde o ano de 73, eu era cri-ança ainda e fui aluna dele”, disse. “Todos da universidade

Por Bárbara Andrade e Natália Alvarenga - 2º e 3º período

Foto

: Isa

bela

Car

rari

Organizado por Lúcio Fávio Machado, o livro “Ministérios e Magistérios” foi

idealizado como uma homenagem aos 80 anos do reitor, falecido em setembro

Oitenta testemunhas de uma história

Veja a cobertura do lança-mento do livro e da inau-guração da Biblioteca Pe. Geraldo Magela Teixeira em: contramao.una.br

católica tem muito a agradecer. Na UNA, a mesma coisa. Tenho certeza que todos da UNA, que tiveram a oportunidade de con-viver com ele, aprenderam mui-to. A cidade de Belo Horizonte, na área da educação ganhou muito com ele”, conclui Rabelo. Ainda na cerimônia, foi inaugurada uma placa em homenagem ao reitor na bi-blioteca Pe. Geraldo Magela Teixeira, no Campus Aimorés. Lá, também, é possível encon-trar o acervo pessoal de livros do padre, com as estantes e prateleiras originais, que serão preservadas por um vidro. O acervo ficará a disposição do público e sob o controle dos responsáveis pela biblioteca.

De capítulos também é escrita a nossa história,

e confesso que não pude conter a emoção ao ver tantos trechos

de minha vida, carinhosamente

relatados ao longo destes oitenta depoimentos.

Pe. Geraldo Magela Teixeira

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A conversa com Elke Maravilha prossegue. Agora, o assunto é televisão, meio que a consagrou no imaginário cole-tivo de jovens e adultos desde os anos 1970 e 1980. Uma per-gunta surge da platéia da Casa UNA, naquela noite de setem-bro: “Conta como era a sua re-lação com o Chacrinha e com o Silvio Santos?”. Elke foi jurada das apresentações de calouros dos antigos programas Cassino do Chacrinha (TV Globo) e Show de calouros (SBT). Ela bebe água e começa a relatar. – O Haroldo Costa [produtor e diretor], me ligou convidando para ser júri do Chacrinha. Eu aceitei, mas eu nunca havia visto o Chacrinha. Eu já tinha lido sobre ele, mas não o conhecia. Um amigo me falou que não era para eu me

preocupar, que o programa não era sério, que ele tocava uma buzina para os calouros, que era colorido, parecia comigo. Quando o Chacrinha falou meu nome, eu entrei no palco buzi-nando. O Chacrinha achou a-quilo muito bom, ele buzinava de um lado e eu buzinava do outro. Foi amor à primeira vis-ta! Outro “amor à primeira vista” foi o ator e comediante Pedro de Lara, morto em 2007. Lara ficou famoso na TV como jurado do Show de Calouros do Sílvio Santos, mas também tra-balhou com Chacrinha nos anos 1970. Sempre carregava flores enormes nas mãos e fazia a linha turrão. – Quando um amigo ou uma pessoa muito querida vi-aja, eu bordo. Eu bordo muito!

Este arranjo de cabeça que es-tou usando, hoje, eu fiz no dia que o Pedro de Lara morreu... Neste instante, ela faz uma longa pausa e concluiu. – Eu fiquei o dia todo bordando. A passagem de Elke Maravilha pela TV também proporcionou situações de em-bate, foi o caso de Sílvio Santos. – O Silvio Santos era o patrão. Ele era o esquema de trabalho mesmo. O opressor. Uma vez ele disse que eu atra-palhava o programa porque eu só dava notas altas para os candidatos, até para os ruins, e isso comprometia a credibili-dade. Respondi: “Se você colo-car o Orestes Quércia em cima do palco eu dou zero pra ele! Eu não chuto cachorro morto!”. Elke Maravilha se de-clara como apolítica, mas ela re-conhece que faz da sua de vida um ato político com causa e efeito. Naquela noite, ela decla-mou Drummond:

Amas a noite pelo poder de aniqui-lamento que encerrae sabes que, dormindo, os pro- blemas te dispensam de morrer.

Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquinae te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras. [...] Aceitas a chuva, a guerra, o desem-prego e a injusta distribuiçãoporque não podes, sozinho, dinami-tar a ilha de Manhattan.

Ao término da declama-ção, Elke Maravilha, de forma provocativa, repetia os últimos versos do poema “Elegia 1938”: – Porque não podes sozinho dinamitar a ilha de Manhattan... porque não podes sozinho dinami-tar a ilha de Manhattan... Então, em tom de eureca, ela grita: – É Bin! Bin! É Bin! Bin! ...ele dinamitou! Ele foi lá e fez! Conversar com Elke é uma tarefa libertadora, e singu-lar para o aprendizado da vida, já que tudo a que se dispõe dizer é carregado de intenções claras, rodeios, sem escusas. – Aprender sempre. Esse é o seu lema. Todos os dias eu aprendo um pouco mais, todo dia é dia de aprender. Hoje, eu aprendi muito com vocês. Aprendemos todos.

eu sou de banda!Por Hudson Freitas - 3º período

Fotos: Natália Alvarenga

Parte 2

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A “pretinha” de SabaráO Festival da Jabuticaba de Sabará movimenta a região metropolitana de Belo Horizonte, há 25 anos, com criatividade e ousadia em cada edição

Nem a chuva, comum nas primeiras semanas de dezembro, atrapalhou os pre-parativos do Festival da Jabu-ticaba de Sabará, na Região Metropolitana de Belo Hori-zonte. Neste período, a cidade recebe, anualmente, milhares de visitantes atraídos tanto pela fruta quanto pelas iguarias que são preparadas a partir dela. Em 2011, o festival comemorou as “bodas de pra-ta” e 31 estandes foram mon-tados, dez para expor a fruta in natura e 21 para expor os produtos dela derivados. No espaço gourmet, além das tra-cionais receitas de geleia, licor e vinho, o destaque foi o estande “Pretinha Melosa” que pro-punha a degustação da batida de jabuticaba. Em menos de cinco minutos, Dona Eva Cirilo vendeu seis garrafas de batida. “Teve um casal que veio aqui comprar batida, dizendo que no ano passado beberam tudo em

duas horas, hoje, eles levaram mais de uma garrafa”, disse. A bebida que mais chama a atenção do público é o “whis-ky” do estande Flor de Jabuti-caba. “Foram anos fazendo, até chegar ao sabor do whisky”, revela o casal Dirléia Neves e Marcílio Peixoto idealizadores da bebida. “A ideia veio para obter um produto diferenciado dos demais”, completou Dirlé-ia. O estande dispunha de uma variedade de bebidas feitas com a jabuticaba, dentre elas es-tão o vinho, o rosé e a cachaça. Os doces são uma atra-ção a parte. No estande Delícias da Pretinha o prato principal é a empada de frango com jabutica-ba. O expositor, Heraldo Silva, acompanhado da esposa, Maria da Gloria, afirma que o sucesso é tanto que eles lançarão, em janeiro de 2012, um site para apresentar ao mundo o que in-ventaram e outras receitas que estão por vir. “Os clientes apre-

ciam a empada e ainda usam e abusam do molho agridoce feito de jabuticaba e pimenta malagueta”, revela o expositor. No estande da Vovó Bia iguaria mais procurada era o bolo e a cocada de jabuticaba. Sandra Camponês é uma do-ceira de mão cheia, mas é di-abética, por isso resolveu criar um bolo diet, em especial para o “Coisas da Vovó”. Dentre os doces mais vendidos estão o pastel folhado, bala de goma, bala delícia, pudim, cocada, canudinho, bombocado e bom-bom de jabuticaba. Fugindo dos doces há também, a mussarela temperada com jabuticaba e a conserva de pimenta com cas-ca de jabuticaba e mussarela. O verão está chegando e o calor aumentando, e por esse motivo a barraca de D. Neuza Marinho, chamada Fruto En-cantado lançou para crianças e adultos o suco e o frozen de jabuticaba, além do picolé e do

sorvete da fruta. Já o estande Novidades da Maria, da exposi-tora Dona Maria José trouxe o ketchup de jabuticaba que tam-bém caiu no gosto dos fregueses. A jabuticaba in natura atrai os turistas. “As pessoas de Sabará já estão acostuma-das, quase todas as casas têm pelo menos um pé de Jabu-ticaba, então, quem compra a fruta, são os visitantes de outras cidades”, informa a ex-positora, Adriana da Silva. De acordo com os nu-tricionistas a jabuticaba con-tém uma substância nutritiva chamada antocianina que pro-tege o corpo humano de doen-ças vasculares e infecções, combate os radicais livres, afastando as possibilidades de tumores, age contra a obesi-dade e diminui a probabilidade de problemas cardíacos, as-sim como o vinho feito de uva. Mas a uva possui uma concen-tração menor de antocianina.

Por Ana Paula Motta - 3º período

Fotos: Ana Paula M

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CONTRAMÃO: Como e como surgiu o Camisa Doze?FAEL LIMA: Em 2009. Eu mora-va no interior e não podia ir à BH ver os jogos e percebia que não havia nada na internet voltado para um torcedor. Eu via, nas redes sociais, os torcedores co-mentando os acontecimentos nos estádios que não ganha-vam destaque algum na mídia ou, quando ganhavam, não passava dos 30 segundos. Pen-sei, então, na possibilidade de registrar esses acontecimentos.

CONTRAMÃO: Então, você encara o Camisa Doze como o seu trabalho profissional? FAEL LIMA: Eu tenho a melhor profissão do mundo. Faço o que gosto, relacionado aquilo que amo e de uma forma prazerosa.

Trabalho em casa, e tenho a o-brigação de me dedicar ao blog os sete dias da semana. Muitas vezes, no estádio, eu deixo de comemorar os gols porque es-tou concentrado na cobertura.

CONTRAMÃO: O Camisa Doze está entre os finalis-tas do Top Blog Prêmio. Qual a importância desta nomea-ção neste momento do blog?FAEL LIMA: O Top Blog é a maior disputa de blogs do Brasil com 150 mil inscritos em 2011. A inscrição foi feita sem muita expectativa. O blog foi passan-do pelas etapas e aparecendo no Top100, no Top30. Até que saiu o nome do “Camisa Doze” no Top3. No dia 17 de dezembro, em São Paulo, será anunciada a posição que fiquei, mas mesmo

no terceiro lugar já estou feliz, pois foi o público que trouxe o blog até aqui. É um incentivo para continuar no caminho do Jornalismo. Dá um certo conforto essa sensação de que não escolhi a profissão errada.

CONTRAMÃO: Você, agora, parte para busca por patrocina-dores para “viver do dinheiro do blog”. Como é essa busca?FAEL LIMA: Um empresário atleticano paga 90% da minha faculdade. Ele diz que a minha ideia era semelhante a que ele e o pai, que já faleceu, sonha-vam em fazer, mas nunca pu-deram. Ele ainda contribui com uma quantia em dinheiro para gastos do dia a dia em BH. Es-tou negociando outros patroci-nadores para 2012 e incluí um programa de divulgação de produtos no blog e no Twit-ter, o que aumenta a renda.

CONTRAMÃO: Como o traba-lho no Camisa Doze contribui pa-ra sua formação como jornalista?FAEL LIMA: Na prática diária, ao escrever os textos, editar os vídeos, registrar as fotos. O blog permite colocar em prática as ações que antes da faculdade eu não tinha conhecimento, como a simples publicação dos créditos nas imagens. É preciso conhecer outras áreas como a

TV, o rádio e a mídia impres-sa. Fiz estágio num programa policial, da TV Bandeirantes, e levei aquela experiência de produção para o blog. É im-portante, também, ouvir a ex-periência daqueles que já vi-veram e vivem o Jornalismo.

CONTRAMÃO: Como você avalia a possibilidade de di-vulgação de notícias e co-mentários esportivos por meio das redes sociais?FAEL LIMA: Abriu novas por-tas e até a imprensa precisou passar por uma transformação para adaptar-se. A velocidade é impressionante, principal-mente, nessa fase de transfe-rências. Uma declaração de um jogador pode “ditar a pauta” de uma rede social durante todo o dia. Existe, também, o lado negativo, onde muitos deixam a responsabilidade e a ética de fora. Eu creio que todos têm o direito de ter um espaço na web para registrar suas opiniões, desde que haja o respeito à ver-dade e ao outro. Para o jornalis-ta, ou estudante de Jornalismo, a atenção deve ser redobrada, pois a internet pode causar cicatrizes eternas na carreira. Como publicador de informa-ção, eu creio que, em breve, será necessário uma reformulação nas leis para fiscalizar e punir.

Com a avalanche tecnológica e a facilidade de acesso à in-ternet, a divulgação de notícias deixou de ser tão exclusiva dos profissionais do jornalismo. Em um momento em que, virtual-mente, todos publicam de tudo, algumas iniciativas revelam as potencialidades de ferramentas como os blogs e as redes sociais para a prática jornalística. Este é o tema da entrevista com o estudante de Jorna-lismo, Rafael Lima, 26, o Fael, natural de Raul Soares (MG), apaixonado por futebol e pelo Clube Atlético Mineiro (CAM). Fael Lima criou, em 13 de maio de 2009, o Camisa Doze (camisadoze.net) dedicado a publicar informações para os torcedores do Galo e tem uma média de 1200 acessos diários. O blog é um dos três finalistas do TOP BLOG PRÊMIO, sistema interativo de incentivo cultural realizado, anualmente, em São Paulo, que reconhece e premia, mediante votação de internau-tas e acadêmica, os blogs brasileiros mais populares.

ENTREVISTA Rafael Lima - blogueiroPor Leide Botelho - 3º período

Foto: Eli Levy Rios Neto

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Domingo, cinco de dezembro, 5h. Enquanto boa parte da população ainda dor-me, elas estão de pé, percorren-do cada barraca da Feira Hippie à procura de bolsas, roupas e sapatos de boa qualidade e com preço acessível para atender uma clientela fiel. “Esta é a prin-cipal fonte de renda da minha família. Da última vez que es-tive aqui gastei R$ 4.500 e meu faturamento chegou a 110%”, revela a sacoleira Michelli Bet-tine, 32, moradora do município de Serra, no Espírito Santo. Sacoleira, há quatro anos, Michelli Bettine explica que suas vendas chegam a R$ 21 mil, mas com os altos custos e despesas da viagem, ela fatura livremente R$ 6 mil. A possibi-lidade de gerir o próprio negó-cio fez Michelli Bettine aban-donar Jornalismo e se dedicar apenas a compra e revenda de mercadorias. “Faço isso porque gosto, sempre gostei de atuar na área de vendas”, pontua. “Venho aqui de mês em mês e, desde outubro, venho repondo meu estoque. Espero vender 80% das mercadorias”, estima sobre as vendas de Na-tal. “Levo bolsas, calçados e bijuterias. Lá [na cidade de Serra], eu revendo na minha loja. Minhas clientes adoram os modelos e a qualidade dos produtos mineiros”, afirma. A servidora pública, Fer-nanda Carla, 30, também mora-dora de Serra, é sacoleira, há seis anos. Para ela ser sacoleira é uma opção de tra-balho para aumen-tar renda doméstica. “Minha renda como sacoleira chega R$ 4.500 por mês. Levo as merca-dorias de porta em porta e apos-to na variação de produtos para ganhar meus clientes. Ser saco-

leira é um bom negócio”, avalia. Para a servidora, Minas Gerais é referência em moda e qualidade dos produtos no sudeste. “Aqui é o point. Ve-nho de mês em mês para com-prar e, para este natal, vou tra-balhar dobrado para vender minhas mercadorias”, pontua.

Guias Em Belo Horizonte, a Feira Hippie é o ponto de con-vergência das sacoleiras de di-versos cantos do estado e do país. Nos finais de semana, as ruas próximas à avenida Afon-so Pena, ficam cheias de ônibus estacionados com os bagageiros repletos de mercadorias. Es-ses ônibus, geralmente, são fretados por uma guia que é a responsável por transportar as sacoleiras, com segurança. “São as guias que agen-dam o dia e o horário da via-gem e até auxiliam as sacoleiras nas compras e como se ori-entar na cidade” explica, Zé-lia Squarcio, guia, há 15 anos. “Saímos no sábado, às 9 horas do estado de origem [ES], va-mos fazendo as paradas nas cidades e, somente às 19 horas, chegamos à feira”, finaliza. De acordo com a sacolei-ra Marilda Reis, 43, moradora de Ubá, na Zona da Mata, o maior problema das viagens são os roubos nas estradas. Marilda Reis é filha de sacolei-ra e garante que deixa a pro-fissão. “Sou sacoleira porque gosto e, enquanto tiver saúde, vou trabalhar assim”, afirma. “Em Ubá tenho minha loja e é de lá que pago a faculdade dos meus filhos. E chegando o Natal, as vendas crescem. Não posso perder essa oportuni-dade de fazer a renda crescer”.

Ser sacoleira é um bom negócioEstimuladas pelas festas de fim de ano, as sacoleiras chegam à BH vindas de diversas cidades de Minas e de outros Estados

As sacoleiras: Michelli Bettine (esq.) e Marilda Reis: oportunidade de aumentar a renda com as vendas de fim de ano.

A Feira Hippie é o ponto de convergência das sacoleiras de diver-sos cantos do estado e do país.

Por Felipe Weykman e Mara Prata - 3º período

Fotos: Felipe Weykman

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O mercado de livros voltados às crianças negras está em expansão! Em Belo Hori-zonte, por exemplo, as edito-ras já perceberam a demanda em função da Lei 10.639 (que determina a obrigatoriedade do ensino da História da Áfri-ca e das populações negras do Brasil nas escolas), e também de pais e educadores estarem cada vez mais interessados em trabalhar a autoestima das crianças. Mas não é apenas isso. Atualmente, o estímulo à leitura tem levado as crian-ças a escolherem o que de fato querem ler. Essa escolha, para elas, tem de refletir a própria origem e a identidade, por meio de protagonistas negros.

A diversidade de obras que retratam a cultura negra é enorme. Os personagens des-sas histórias são príncipes, princesas, aventureiros e super-heróis que mexem com a imagi-nação dos pequenos sem, no entanto, apresentar os já con-hecidos estereótipos que distor-cem a imagem (e a realidade) da população negra brasileira. Até pouco tempo, era difícil encontrar nos livros infantis um personagem negro que não tivesse características pejora-tivas, fato que comprometia a construção da identidade e do orgulho negro, elementos formados ainda na infância no campo das semelhanças e dife-renças e, principalmente, pelas

diversas maneiras que o as-sunto é tratado pela sociedade. Há 30 anos, Maria Maz-zarello Rodrigues, conhecida como Mazza, busca inserir a parcela negra da sociedade como protagonista na litera-tura brasileira. Fundadora da editora que leva seu apelido, lo-calizada na região Leste de Belo Horizonte, Mazza se encantou com a diversidade de publica-ções voltadas para a etnia negra na Europa, durante o período que fez Mestrado em editora-ção na Universidade de Paris. Quando voltou ao Bra-sil, em 1981, lançou a editora. “Foram 24 anos de muito sufo-co. Apenas em 2003 a literatura passou a ser obrigatória, quan-

do a situação começou a melho-rar. Somente depois da Lei, as grandes editoras lançaram um selo negro”, explica Mazza. Ela, como toda negra, sentiu na pele o que é ser uma criança e não se identificar com nenhum per-sonagem de literatura infantil. A falta de referências foi o que a impulsionou a entrar no mer-cado. “Nós entramos pelas por-tas dos fundos, mas há, ainda, muito a ser feito, pois apenas dez estados brasileiros cum-prem a Lei 10.639”, informa. O cumprimento da lei, no entanto, é visto também como uma grande oportuni-dade. “Todo aparato que, até há pouco tempo, tínhamos vinha com a predominância branca e

Príncipes, princesas,

Lei que prevê o ensino da História da África e das populações africanas no Brasil aquece o mercado de livros dedicado às crianças negras

Por Etiene Martins - 7º período

aventureiros e super-heróis

Corajoso como um leão: Chico Juba é um grande inventor de xampus que quer solucionar as incríveis reviravoltas de suas mechas.

Fotos: Etiene Martins

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com traços europeus. Não vejo a Lei 10.639 como obrigatorie-dade, mas como uma oportuni-dade para as crianças negras que, hoje, podem interagir mui-to mais. Paralela à obrigatorie-dade, está a oportunidade de quebrar esse preconceito”, de-fende a educadora Iris Amâncio.

Educação Chico Juba é um me-nino corajoso como um leão. Ele é um grande inventor de xampus que pretende solucio-nar as incríveis reviravoltas de suas mechas. Seus esforços mostram para as crianças a in-crível descoberta que podemos ter, sendo quem somos. A obra é de Gustavo Gaivota, que con-seguiu transformar experiên-

cias negativas vividas por cri-anças de cabelos crespos em uma grande aventura. “Todas as minhas obras abordam as questões das diferenças, é o que me move”, revela o escritor. Os livros são adotados por profissionais como o pro-fessor Leandro Duarte, de 28 anos, que compra publicações que apresentam a questão ra-cial. Para ele, trabalhar a diver-sidade com os alunos é essen-cial para o ensino. “O professor tem que fortalecer essas infor-mações junto aos alunos. Na in-fância, o olhar lançado sobre o negro e sua cultura, tanto pode valorizar identidades e dife-renças quanto estigmatizá-las, discriminá-las, segregá-las e, até mesmo, negá-las”, explica.

Para o escritor Ander-son Feliciano, autor de A ver-dadeira estória do Saci, é fun-damental repassar às crianças que elas podem, sim, contar sua própria história. “Eu que-ro que elas se identifiquem com os personagens e não se sintam excluídas como me sentia na infância”, admite. Para o ilustrador e escritor de livros infantis étnico-raciais, Rubem Filho, é necessário extinguir dos li-vros infantis o complexo de senhor e escravo. Ele parte do principio da igualdade e quer mostrar para as crianças que elas têm todos os motivos para se orgulhar de serem negras. O médico André Luis, 52 anos, busca compartilhar

com o filho adotivo Fernando, de seis anos, a literatura e a cultura afros. “É importantís-simo a valorização, não quero que meu filho se veja de forma massacrada, mas, sim, valori-zada. Faço questão de inserir em sua cultura publicações que o valorizem”, defende. A mesma postura é defendida por Andréia Apa-recida, de 37 anos, e Celso Augusto, de 32, ambos técni-cos em enfermagem e pais de Vitória, de 8 anos, Guilherme, de 5, e o recém-nascido, João. O casal tem procu-rado inserir a literatura na vida dos filhos desde cedo. “É bom que eles criem gosto pela leitura de bons livros”, avalia Andréia Aparecida.

Maria Mazzrello: investir em obras que retratam cultura negra O pai, André Luis, e o filho, Fernando: compartilhar a cultura afro

O casal Andréia Aparecida e Celso Augusto e os filhos Vitória, Guil-herme e João: inserir a literatura na vida dos filhos desde cedo

O professor Leandro Duarte: trabalhar a diversidade com os alu-nos é essencial valorizar identidades

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Moradores remanejados para um Conjunto Habitacional, na RMBH, falam dos impactos e das mudanças após as obras nas avenidas Tancredo Neves e Pedro II

Aos poucos a gente vai ajeitando a vida

A costureira Leonilda da Silva, 69, é conhecida como Dona Dalva. Natural de Salinas (MG), Dona Dalva veio para Belo Horizonte, há 40 anos. O rosto ostenta um sorriso alegre, mas Dona Dalva fica tímida quando começa a falar. “Não gosto de ser fotografada”, afirma justificando a timidez. O que Dona Dalva mais gosta de fazer é cuidar dos seus animais de estimação. Ela cria galinhas e tem muito apreço com as cadelas Rosinha e Pitchu-linha. A paixão pelos animais a

Na chuva: operários uniformizados passam no local onde, antes, era o campo de futebol da Vila S. José e o novo Conjunto Habitacional, ao fundo. Dona Dalva, ex-moradora da Vila, em frente à nova casa, em terreno invadido, e as duas cadelas Pitchulinha e Rosinha

colocou em conflito com a pre-feitura. Dona Dalva morava na Vila São José, região noroeste da capital, justamente no trecho onde foi projetada uma ave-nida. “Eles me propuseram um apartamento novinho em troca da casa, mas em apartamento não sobra espaço para os bi-chos”, estava criado o impasse. Orientada por um advo-gado, Dona Dalva optou pela indenização e aceitou uma con-traproposta. Ela juntou seus bichos e se mudou para outra Vila, dessa vez a Ressaquinha,

em Contagem, onde investiu o dinheiro recebido. A casa não tem documentação, pois o ter-reno é invadido, mas Dona Dal-va não se importa. “Vila é assim mesmo. Só quero um lugar pros meus bichinhos. Aqui é aberto, corre mais vento”, explica. Aos poucos, sem pressa, a costureira vai ajeitando a vida. “Enquanto não faço o galin-heiro, as galinhas ficam den-tro de casa junto às cadelas”, afirma. Dona Dalva sabe que se mudou para uma região que abriga outra obra interrompida

que deve ser retomada em 2012. A costureira foi a última moradora a deixar a Vila São José, depois as obras acele-raram. Das 2.176 famílias be-neficiadas, 1408 optaram por receber Unidades Habitacio-nais, 888 de dois quartos e 520 de três quartos. Outras 768 famílias foram indenizadas, ou indicaram imóveis para compra, ou estão no Pro-grama de aluguel temporário. O impacto na vida dos ex-moradores da Vila São José, hoje, remanejados num Con-

Por Osvaldo Afonso - 4º período

Fotos: Osvaldo Afonso

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Cercados: o futebol dos meninos do Conjuto Habitacional S. José

junto Habitacional, na região, é sentido nas coisas mais trivi-ais. “Melhorou na casa e pi-orou na nossa diversão”, afir-ma Mateus Henrique, 13 anos, estudante da Escola Estadual Ursulina de Andrade Melo. “Aqui não temos onde jogar bola em paz, sempre tem carros no pátio, se a bola bate em al-gum, lá vem bronca do dono!”. “Estamos esperando a quadra prometida pela prefei-tura. Quando o Prefeito Már-cio Lacerda vier inaugurar a obra, alguém tem que cobrar a nossa quadra e tem que ser coberta, para o tempo das chu-vas. Eu não cobro porque não deixam criança pegar o mi-crofone”, declara. Já Cristian Henrique, 12 anos, colega de escola do Mateus, reclama da

conta de água. “Ela vem muito cara, era oito reais na Vila e, agora, é mais de cem reais!”. O carroceiro aposen-tado João Barbosa Pereira, 66, morou 36 na Vila São José, não reclama. “Graças a Deus, melhor não tem jeito. Quem reclamar duma moradia des-sas, não tem coração”. “Aqui é muito melhor, sem comparação. Morei na Vila São José, buscando água e la-vando roupa longe, na mina, que nem na roça, em Almen-ara, antes de vir pra capital, há 29 anos”, afirma a dona de casa Onorina Moreira da Silva, 73. Dona Maria Carvalho Garajal, 72, mais conhecida no bairro como Dona Marica, é viúva e pensionista, ela recebe a pensão deixada pelo marido

que era bombeiro hidráulico. Dona Marica é natural de Itaé (BA), mas mudou-se para o Paraná, de onde veio, há 45 anos, para morar na Vila São José. “Na Vila não tinha confor-to, eu também lavava roupa e buscava água na mina da Vila”. Onde antes era a Vila, hoje, abriga as obras de canali-zação do córrego São José e já foram construídas toda a Aveni-da João XXIII (1 KM) e mais 1820 metros das avenidas Tancredo Neves e Pedro II. O término das obras está previsto para fe-vereiro de 2012. O projeto está orçado em R$115 milhões pro-venientes do Programa de Acel-eração do Crescimento (PAC). Com a conclusão dessa obra, a capital terá 25 vias lo-cais interligadas à avenida

Tancredo Neves e cria-se a tão esperada alternativa para se evitar a Praça São Vicente. A expectativa é a de que o trân-sito da região noroeste seja beneficiado, bem como o de ci-dades da Região Metropolitana. Quanto à trincheira da Praça São Vicente, obra mais votada no orçamento partici-pativo em 2010, a SUDECAP informa que foi incorporada às obras do anel rodoviário. A urbanização do bair-ro exibe contrastes. Na parte concluída da pista, há várias caçambas para deposito de lixo. Porém muitos carroceiros despejam entulho por toda a pista. As crianças transitam entre ratos, baratas, galhos de árvores e restos de comida. O mau cheiro parece ser ignorado.

“Bota fora”: um lixão à margem da nova avenida,em frente ao Conjunto Habitacional ocupado pelos remanejados da Vila S. José

D. Onorina (sentada) e D. Marica: água na mina para lavar roupas

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“Eu quero, eu posso, eu sou capaz, eu consigo”. É com esse grito de guerra, ou melhor, de paz que Dora Alves começa sua semana, incentivando pre-sidiárias em um complexo pe-nitenciário feminino a ter uma profissão e a embelezar o ser humano por dentro e por fora. Dora Alves, 57, começou a trabalhar aos oito anos de idade e há 43 é cabeleireira e voluntária. Mas não é só mais uma cabeleireira. Dora é re-conhecida no mercado min-eiro por ser especialista em cabelos afro. Ela faz trabalhos de visagismo em produções cinematográficas e teatrais.

Ressocialização Dora, além de lutar pelo sustento da família, não pensa apenas em si. “Desde sempre,

eu buscava ajudar quem estava por perto, comecei com a famí-lia, depois os vizinhos e por aí foi”. Dora divide o que tem: a casa, o salão e a própria vida. As segundas e terças-feiras ela dá aulas para 15 alunas, no Complexo Penitenciário Femi-nino Estevão Pinto. Ela leva es-perança a mulheres que estão privadas do convívio diário com amigos, família e namorados. Em um ambiente como o de uma penitenciária, é sur-preendente ver a alegria com que Dora é recebida pelas de-tentas. O sucesso do trabalho é visível. Mulheres que vivem em um mundo paralelo ao nosso, atrás de um enorme muro rosa que tenta transmitir uma seren-idade que, às vezes, parece não existir lá dentro. A proposta de Dora para as detentas é cruzar

a barreira do preconceito e aju-dar quem está fora do convívio social. “A ressocialização deve ter um caráter educativo para as pessoas voltarem melhores para a sociedade, para que não haja apenas uma punição, para que essas mulheres voltem para a sociedade como cidadãs e pessoas de bem”, declara. As alunas levam a sério o que aprendem e se esforçam para corresponder à expecta-tiva da professora que de forma carinhosa ensina o ofício a to-das. Dora exalta as qualidades de cada uma. Ensina que não há limitações para os sonhos. Silmara de Oliveira, 26, con-denada por tráfico de drogas, ficou muito chateada quando não conseguiu realizar a etapa de tranças do curso e saiu da sala chorando, mas Dora a con-

venceu a continuar tentando “Dora, com suas palavras de incentivo, consegue me mostrar que eu sou capaz. Aí consigo ir mais além e acreditar que eu tenho um belo futuro lá fora”, diz depois de ter persistido e conseguido fazer a trança.

Vitórias A história de Dora com o terceiro setor extrapola o muro rosa do presídio. A cabeleireira participou de um projeto social que envolvia o atendimento a um grupo de crianças portado-ras de necessidades especiais, juntamente com o dançarino afro Evandro Passos. Sempre realiza trabalhos em escolas públicas, maquiando com seu próprio material, adolescen-tes e jovens negras, ajudando equipes de professores a re-

Além do muro rosa do presídioTrabalho social da cabelereira Dora Alves ressocializa detentas da Estevão Pinto, outro projeto profissionaliza jovens em BH

De uniforme vermelho, as detentas ao lado de e Dora (ao centro e foto à direita): a ressocialização deve ter um caráter educativo

O grupo “Meninas de Dora” profissionaliza 30 jovens (de ambos os sexos), divididos em turmas pela manhã e tarde

Por Etiene Martins - 7º períodoFotos: Etiene Martins

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alizar desfiles afros durante eventos e festas escolares. Ela também realiza palestras em colégios e faculdades, onde ela fala da sua trajetória e da valo-rização da autoestima do negro. Em 2004, Dora assumiu a formação de jovens cabeleireiros da Escola Profissionalizante Raimunda da Silva Soares, no Conglomerado Pedreira Pra-do Lopes, onde formou cen-tenas de jovens. “Já perdi as contas de quantos eu acolhi nesses 40 anos de profissão, e que acabaram conquistando aqui o primeiro emprego”. Dora diz que muitos jovens chegam a ela achando que já não podem mais nada e a maioria consegue abrir seu próprio negócio. O obje-tivo é dar a eles condições de, ao menos, comprar o próprio alimento. Assim, passarão a reconhecer suas capacidades de realização. “Neste contato diário, eu trabalho com eles coisas que trabalhei em mim

mesma, como a autoestima. Tento mostrar que a gente pode mudar os rumos da história”. Atualmente, além das quinze alunas do complexo penitenciário, Dora também preside um projeto de sua auto-ria, o “Meninas de Dora”, que possui os títulos de utilidade pública municipal e estadu-al. O projeto funciona em sua residência, na região Nordeste da cidade, desde sua criação em 2007. Profissionaliza 30 jovens, nos turnos da manhã e tarde. O projeto é ofertado às jovens em situação de risco “A minha maior vitória é quando vejo os meninos andando de avião com o recursos de seu próprio trabalho adquirindo sua casa própria, seu carro, real-izando seus so-nhos”. Quando perguntados se estão gostando do curso, a resposta dos jovens é unânime: sim. Para Jucelma Carolina de 25 anos, essa é a oportunidade de realizar o son-ho de ter uma profissão “É mui-

to bom, vou ter uma profissão e ficar perto das minhas filhas, já que o trabalho pode ser exer-cido em casa” declara Jucelma. Ana Luíza, de 16 anos, está dec-idida: “Vou montar meu salão”.

Sonhos possíveis Dora também dá opor-tunidade do primeiro emprego em seu salão. Laisla Brígida, de 18 anos, e Adriana Barbosa, de 26, são ex-meninas de Dora. A-tualmente, trabalham no salão da cabeleireira “Ela é minha super-heroína. Ela fez um res-gate em minha vida antes mes-mo que pudesse me acontecer alguma coisa”, declara Laisla. “Ninguém acreditava no meu potencia. Todo mundo achava que iria sair de lá morta e a Dora abriu as portas para eu ser o que sou hoje”, conta Adri-ana, que foi mãe aos 14 anos e cuida da filha e do marido, sa-tisfeita com a vida que adquiriu. Dora luta contra um in-imigo presente em nossa so-

ciedade, ao qual ela denomina como assassino de sonhos “Eu já tive meus sonhos assassinados várias vezes. Agora, não deixo ele se aproximar e mostro para todas as meninas a importância de se acreditar em seus sonhos.” O trabalho social de-senvolvido por Dora já foi tema de monografias e tes-es na área de educação, pela USP, UFMG, PUC, den-tre outras universidades. Em 2010, Dora foi ent-revistada pelo professor Hen-ry Louis Gates, da Univer-sidade de Harvard, Estados Unidos, sobre políticas raci-ais. A reportagem foi exibida nos Estados Unidos pela PBS. Dora já foi agraciada com os prêmios Valores femi-ninos, em 2002, Bom Exemplo, Prêmio Zumbi de cultura, em 2010, Troféu Reggae Favela, e cidadã do mundo em 2011. “Sucesso é ver essas me-ninas trocando um 38 por um pincel e um pente”, garante.

“Dora, com suas palavras de incentivo, consegue me mostrar que eu sou capaz.”

Silmara de Oliveira

“Sucesso é ver essas meninas trocando um 38 por um pincel e um pente”.

Dora Alves

“Comecei com a família”: Ana Flávia, filha de Dora, a primeira das “meninas

Silmara de Iliveira, uma das das quinze alunas de dora no complexo penitenciário

Fotos: Etiene Martins

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Diferente do samba tradicional cadenciado pelos instrumentos de percussão, como tambores e tamborins, e de corda, como violão e cavaco. O samba, consagrado na poe-sia e nas vozes de Bezzerra da Silva, Adoniran Barbosa, Dona Ivone Lara, Jorge Aragão, Leci Brandão, dentre outros, encon-tra-se mais jovem do que nunca. Os novos sambistas reno-vam o ritmo harmonizando-o com o pop, o rock, o eletrônico, e escolheram o samba para can-tar o presente e relembrar o pas-sado. “É o resgate de gerações através da música, o resgate da história de uma época que não vivemos”, declara Soraya Vei-ga, vocalista do Grupo Teresa. O Grupo Teresa é in-tegrado por três garotas apai-xonadas por samba: a violo-nista Luiza Leandro, de 20 anos, a percussionista Fernanda Pedaço, de 23 anos e a vocalista Soraya Veiga, de 25 anos. Além do samba, o grupo usa influên-cias da MPB, criando o que as integrantes chamam de sam-bossa. “O que amamos fazer é misturar músicas antigas às no-vas composições, assim agrada-mos a um público de todas as idades”, declara Soraya Veiga. A música de gerações

Músicos com essas raí-zes são frequentes nos bares de Belo Horizonte. Grupos como a banda Odilara, Samba de Co-madre, Samba de Luiz, a cario-ca residente na capital mineira

Aline Calixto e o Camarão de Rama representam essa nova geração da música popular brasileira, sobretudo, mineira. O grupo Camarão de Rama, formado em 2007, é composto por pai, filhos e ami-gos. Essa união, demonstra que para se fazer samba, não é pre-ciso ter uma idade específica. “A sensação de compartilhar a música com meus filhos é mui-to boa, a gente adapta o som tradicional com a nossa pegada e, assim, misturamos o sam-ba de raiz com outros ritmos musicais”, explica Gilvan Mi-guez, 52 anos, pai dos cantores Aline Miguez e Daniel Miguez. Para Aline Miguez, 26 anos, o samba atrai a juventude por causa dos seus batuques e do seu gingado, isso faz com que os jovens busquem no ritmo uma forma de poder ex-pressar a arte. “Os jovens que-rem se divertir, querem dançar e o samba tem essa batida. O samba é contagiante. Entra nos ouvidos e sai no pé”, completa. A banda Odilara que o diga. Muito antes do sam-ba bater à sua porta, os inte-grantes do grupo tinham uma banda de pop rock, o Alarido (Odilara ao contrário), em que a principal intenção era mis-turar o rock com os ritmos brasileiros, dentre eles, o samba. O samba, de acordo o Odilara, tem a liberdade de brin-car com estilos e sonoridades distintas, podendo assim, criar uma vertente mais elétrica, com guitarra, bateria, baixo e sem

uma ligação direta com o pan-deiro e o violão. A banda Odila-ra cria um samba contemporâ-neo, que dá voz à juventude. “A gente busca fugir do comum, do convencional. Buscamos dar uma cara mais jovem e mo-derna às músicas”, afirma o vo-calista Eurípedes Neto, 32 anos.

De acordo com Eurí-pedes, a nova geração flerta com batidas eletrônicas e não se prendem somente ao pan-deiro e ao tamborim. Os jo-vens sambistas buscam rein-ventar a música e mesclá-la a diferentes ritmos. Renovar o samba é dar asas a imaginação.

O samba é popJovens músicos conferem cara nova ao ritmo com batidas eletrônicas e influências da música contemporânea.

Por Januária Vargas - 7º período

Ilustração: Débora Gomes

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HIPERLOCAL iluminação de Natal

Sempre movimentada, a Praça da Liberdade é um lugar de encontro de amigos, namo-rados, família e é lugar até para aqueles que querem ficar so-zinhos. Na tarde de segunda-feira, 5 de dezembro, algo a mais movimentava o local. Os últimos ajustes para a inaugu-ração das luzes de Natal atraia as pessoas, que já tiravam fotos e observavam a decoração. Enquanto algumas pes-soas liam e outras conversavam, um homem, que trabalhava nos últimos preparativos para a ina-uguração colocava placas nos postes de iluminação com os dizeres “Energia para você so-

Por Bárbara de Andrade - 2º período

nhar” e “Iluminação da Praça da Liberdade, um presente da Cemig para você”. Embaixo da escada, um outro homem dor-mia profundamente. Após ter-minar um poste, o homem das placas desceu, pegou a escada e foi para outro continuar seu tra-balho. Mais a frente, algu-mas luzes já estavam acesas, em fase de teste. Na frente do coreto, um grande papai Noel chamava atenção das pessoas que passavam, e algumas até tiravam fotos. Luzes nos tron-cos, bolas penduradas nas ga-lhas, assim estão as árvores da Praça. De acordo com o site da

Cemig mais de 2,6 milhões de microlâmpadas foram instala-das em Minas Gerais, com in-vestimento da ordem de R$ 2,3 milhões. Só em Belo Horizonte R$ 1,5 milhão para a iluminação de Natal, que privilegiam as três cores tradicionais do Natal: branco, verde e vermelho. A iluminação foi inaugu-rada no dia 6 de dezembro, às 19h e ficará ligada até o dia 6 de janeiro. As luzes são acesas dia-riamente das 19h às 6h.

Expectativas A estudante Paula Dani-elle Ferreira afirma não ter cos-tume de ir à Praça para ver a

decoração. “Nunca parei para tirar fotos, mas acho que vai ficar legal”. Já a funcionária pública Lilian de Oliveira Fer-nandes sempre vai para con-ferir os enfeites. “Sempre venho com a família e vizinhos. Agora está mais difícil, porque estou morando em Contagem. Mais próximo do Natal venho con-ferir a decoração deste ano”, destaca Lilian Fernandes. “Sempre é bacana. É sempre bonito. Tenho dois caminhos para voltar do tra-balho e sempre escolho passar perto da Praça para ver a de-coração”, conta o comerciante João Augusto Costa Moreira.

Fotos: Felipe Bueno

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Coral da Cemig emocionou o público, na Praça da Liberdade, durante a inauguração das luzes de Natal na noite de 6 de dezemebro

Público saúda o Papai Noel que chegou à Praça da Liberdade em um caminhão do Corpo de Bombeiros

contramao.una.br