ano 129 • nº 2.184 • março 2011

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R$ 5,00 ISSN 1413 - 1749 FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA Ano 129 • Nº 2.184 • Março 2011 D EUS , C RISTO E C ARIDADE

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Page 1: Ano 129 • Nº 2.184 • Março 2011

R$ 5,00

ISSN 1

413

- 1

749

F E D E R A Ç Ã O E S P Í R I T A B R A S I L E I R A

Ano 129 • Nº 2.184 • Março 2011D EUS , CR I S TO E CAR I D ADE

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Fundada em 21 de janeiro de 1883

Fundador: AUGUSTO ELIAS DA SILVA

Revista de Espiritismo Cristão

Ano 129 / Março, 2011 / N o 2.184

ISSN 1413-1749Propriedade e orientação daFEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRADiretor: NESTOR JOÃO MASOTTI

Editor: ALTIVO FERREIRA

Redatores: AFFONSO BORGES GALLEGO SOARES, ANTONIO

CESAR PERRI DE CARVALHO, EVANDRO NOLETO

BEZERRA, GERALDO CAMPETTI SOBRINHO,MARTA ANTUNES DE OLIVEIRA DE MOURA E

SADY GUILHERME SCHMIDT

Secretário: PAULO DE TARSO DOS REIS LYRA

Gerente: ILCIO BIANCHI

Gerente de Produção: GILBERTO ANDRADE

Equipe de Diagramação: SARAÍ AYRES TORRES, AGADYR

TORRES PEREIRA E CLAUDIO CARVALHO

Equipe de Revisão: MÔNICA DOS SANTOS E WAGNA

CARVALHO

REFORMADOR: Registro de publicação no 121.P.209/73 (DCDP do Departamento de Polícia Federal do Ministério da Justiça)CNPJ 33.644.857/0002-84 • I. E. 81.600.503

Direção e Redação:

SGAN 603 – Conjunto F – L2 Norte 70830-030 • Brasília (DF)Tel.: (61) 2101-6150FAX: (61) 3322-0523Home page: http://www.febnet.org.brE-mail: [email protected]

Departamento Editorial e Gráfico:

Rua Sousa Valente, 17 • 20941-040Rio de Janeiro (RJ) • BrasilTel.: (21) 2187-8282 • FAX: (21) 2187-8298E-mails: [email protected]

[email protected]

Projeto gráfico da revista: JULIO MOREIRA

Capa: AGADYR TORRES PEREIRA

SumárioExpediente

PARA O BRASILAssinatura anual R$ 39,00

Número avulso R$ 5,00

PARA O EXTERIORAssinatura anual US$ 35,00

Assinatura de Reformador: Tel.: (21) 2187-8264 • 2187-8274

E-mail: [email protected]

Editorial

A paz que Jesus deixou

Entrevista: André Luiz Peixinho

A contribuição para a renovação social

Presença de Chico Xavier

No reino das borboletas – Irmão X

Esflorando o Evangelho

Firmeza e constância – Emmanuel

A FEB e o Esperanto

Charles Richet e o esperanto – Affonso Soares

Seara Espírita

O Livro dos Médiuns – Método

Exaltando O Livro dos Médiuns – Vianna de Carvalho

Eu sei – Mário Frigéri

O velho e o novo – Richard Simonetti

Da guerra à paz (Capa) – Christiano Torchi

A conquista da felicidade como obra de educação –

Clara Lila Gonzalez de Araújo

Raízes da violência – Licurgo Soares de Lacerda Filho

Em dia com o Espiritismo – Método e metodologia –

Marta Antunes Moura

Esboço do Sistema Pestalozziano

Diretrizes espirituais – Geraldo Campetti Sobrinho

A simplicidade de Francisco de Assis –

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Reconhece-se o verdadeiro espírita –

Marlene Maria Goiabeira Rosa

Mãos fortes e limpas – André Luiz

“Eduquemo-nos para discernir” – Lucy Dias Ramos

Retorno à Pátria Espiritual –

Aristóteles Damasceno Peixinho

Novos tempos – Francisco Valjuan

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Editorial

A paz queJesus deixou

omo se lê no Evangelho de João, nas conversações que estabeleceu com

seus discípulos, antes do Calvário, Jesus observou: “Deixo-vos a paz, a minha

paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá” (João, 14:27).

Todos nós, normalmente, buscamos a paz. Mas a buscamos de conformidade

com os nossos mais variados interesses, nem sempre caracterizados pelas nobres

virtudes.

Deixando para a posteridade a afirmação acima, endereçada aos seus discípulos,

Jesus torna claro que existe uma paz diferente, que decorre da vivência dos seus

ensinos, mais duradoura, mais autêntica e mais profunda.

O Novo Testamento registra todos os ensinamentos propagados por Jesus bem

como todos os exemplos por Ele vivenciados, especialmente quando observa que

toda a Lei e os profetas estão sintetizados no “amarás o Senhor teu Deus de todo o

teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito [...]. Amarás o teu próximo,

como a ti mesmo”,1 e quando também observa – “Novo mandamento vos dou: que

vos ameis uns aos outros, como eu vos amei” (João, 13:34). Demonstra o ensino

evangélico, que o Mestre não apenas esclareceu, mas principalmente vivenciou

essas leis.

Esses registros expressam as leis divinas, posteriormente explicitadas nas obras

de Allan Kardec, que constituem a Codificação Espírita. E é em O Livro dos Espíritos

que aprendemos que a Lei de Deus está escrita em nossa consciência (questão 621).

E como não há paz autêntica e permanente a não ser a que está vinculada à nossa

consciência, passamos a entender que a paz que Jesus nos deixou é a que provém da

vivência das Leis Morais emanadas da Providência Divina, que tem por foco prin-

cipal a prática da Lei de Amor, em toda a sua plenitude, incondicionalmente. É a

paz que decorre do dever retamente cumprido.

C

4 Reformador • Março 201182

1KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1. reimp. Rio deJaneiro: FEB, 2010. Cap. 11, it. 1.

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onstam em O Livro dos Mé-

diuns, capítulo três, pri-meira parte, orientações de

como realizar o ensino/estudo doEspiritismo. Encontra-se aí, tam-bém, uma classificação dos oposi-

tores da Doutrina Espírita e, ou-tra, a dos adeptos do Espiritismo,ambas fundamentadas no nível deentendimento de cada um.

O ensino espírita, segundo AllanKardec, deve ter o suporte de umabase metodológica que priorize oaprendizado e objetive a forma-ção de adeptos esclarecidos. As-sim, a partir de minucioso estudodos ensinos transmitidos pelosEspíritos superiores, Kardec defi-niu métodos de observação, aná-lise e dedução dos fatos espíritas.

[...] Apliquei, a essa nova ciên-

cia, como o fizera até então, o

método experimental; nunca ela-

borei teorias preconcebidas; ob-

servava cuidadosamente, com-

parava, deduzia consequências;

dos efeitos procurava remontar

às causas, por dedução e pelo

encadeamento lógico dos fatos,

não admitindo por válida uma

explicação, senão quando podia

resolver todas as dificuldades

da questão. [...]1

Com o auxílio das ferramentasdo método experimental, foi pos-sível a Kardec visualizar o escopodoutrinário do Espiritismo, útilà organização de suas partes cons-tituintes, com base no encadea-mento lógico das ideias, recebi-das por mais de mil médiuns,de diversas procedências. Com es-sa perspectiva, compreendeu, deimediato, que

Todo ensino metódico deve

partir do conhecido para o des-

conhecido. Para o materialista,

o conhecido é a matéria [...].

Numa palavra, antes que o tor-

neis ESPÍRITA, cuidai de torná-

-lo ESPIRITUALISTA. Mas, para

isso, é necessária outra ordem

de fatos, um ensino muito es-

pecial que deve ser dado por

outros processos. Falar-lhe dos

Espíritos, antes que esteja con-

vencido de que tem uma alma,

é começar por onde se deve

acabar [...].2

Sabemos que o método experi-mental tem como plataforma osfatos e as evidências, os quais de-vem ser utilizados corretamentepelo experimentador, no momen-to oportuno. Nesse aspecto, assi-nala Kardec:

Acredita-se geralmente que, pa-

ra convencer, basta apresentar

os fatos. Esse, com efeito, pare-

ce ser o caminho mais lógico. A

experiência, porém, mostra que

nem sempre é o melhor, pois

muitas vezes se encontram pes-

soas que não se deixam conven-

cer nem mesmo pelos fatos

mais patentes.[...]3

O Codificador destaca outroponto, nem sempre observado pe-los espíritas que atuam na área deensino:

No Espiritismo, a questão dos

Espíritos é secundária, não cons-

tituindo o seu ponto de partida.

É exatamente este o erro em

que caem muitos adeptos e que

leva certas pessoas ao insucesso.

Não sendo os Espíritos senão as

CMétodo

5Março 2011 • Reformador 83

O Livrodos Médiuns

Page 6: Ano 129 • Nº 2.184 • Março 2011

almas dos homens, o verdadei-

ro ponto de partida é a existên-

cia da alma. [...]3

Por compreender “que o Espi-ritismo é toda uma ciência, todauma filosofia”,4 demonstrou Kar-dec que para formar adeptos es-clarecidos é necessário, “como pri-meira condição, dispor-se a um es-tudo sério e convencer-se de queele não pode, como nenhuma ou-tra ciência, ser aprendido como se

estivéssemos brincando”. 4 Conclui,então, que

A crença nos Espíritos consti-

tui sem dúvida a sua base, mas

essa crença não basta para fa-

zer de alguém um espírita es-

clarecido, como a crença em Deus

não é suficiente para fazer um

teólogo.4

Allan Kardec não se manteveprisioneiro do método racional(ou experimental), por reconhe-cer os seus limites. Recorria sem-pre à intuição e à meditação pa-ra obter esclarecimentos comple-

mentares. Tal condição permi-tiu-lhe tratar cada assunto comsabedoria, bom senso, equilí-

brio emocional e maturidadeintelectual: “Da compara-

ção e da fusão de todas as

respostas, coordenadas, classifica-das e muitas vezes retocadas nosilêncio da meditação, foi que ela-borei a primeira edição de O Livro

dos Espíritos [...]”,5 e demais obrasespíritas de sua autoria, acrescen-tamos.

As consequências morais doconhecimento espírita foram en-fática e continuamente destacadaspor Kardec. A sua exemplar for-mação humanista servia-lhe de re-ferência para pesar os valores éti-cos e morais das ideias transmiti-das pelos Espíritos:

[...] O verdadeiro espírita ja-

mais deixará de fazer o bem.

Há corações aflitos a aliviar, con-

solações a dispensar, desesperos

a acalmar, reformas morais a

operar. Essa é a sua missão e aí

ele encontrará a verdadeira sa-

tisfação. [...]6

A classificação dos opositores ea dos adeptos do Espiritismo foiconsiderada como um princípiometodológico porque, segundo oCodificador, “os meios de convic-ção variam extremamente, con-forme os indivíduos. O que con-vence a uns nada produz em ou-tros [...]”.7 Esclarece, ainda, que osprincipais opositores da DoutrinaEspírita integram duas classes dematerialistas:

[...] colocamos na primeira os

materialistas por sistema. Nes-

ses, sem dúvida, há a negação

absoluta, raciocinada a seu mo-

do. Para eles, o homem é sim-

ples máquina, que funciona

6 Reformador • Março 201184

Page 7: Ano 129 • Nº 2.184 • Março 2011

enquanto está bem aparelha-

da, mas que se desarranja e da

qual, após a morte, só resta a

carcaça. [...]8

Estes são, portanto, materialis-tas radicais e, ainda que não sejamtão numerosos, são “[...] os quenegam a existência de qualquerforça e de qualquer princípio in-teligente fora da matéria”.8 Na se-gunda classe encontramos os in-divíduos que duvidam da sobrevi-vência e da manifestação dos Es-píritos. As suas dúvidas decorremde vários fatores (educação, reli-gião, superstição etc.). Essas pes-soas não são materialistas

[...] deliberadamente e o que

mais desejam é crer, pois a in-

certeza os atormenta. Há neles

uma vaga aspiração pelo futuro

[vida após a morte]; mas esse

futuro lhes foi apresentado com

cores tais, que a razão deles se

recusa a aceitá-lo. Daí a dúvida

e, como consequência, a incre-

dulidade. [...]9

Quanto aos adeptos do Espi-ritismo, Kardec apresenta estaclassificação:10

1o) Espíritas experimentadores:“os que creem pura e simples-mente nas manifestações. Pa-ra eles, o Espiritismo é apenasuma ciência de observação,umasérie de fatos mais ou menoscuriosos. [...]”

2o) Espíritas imperfeitos: “osque veem no Espiritismomais do que fatos; compreen-

dem sua parte filosófica, admi-ram a moral daí decorrente,mas não a praticam. A influên-cia da Doutrina sobre o cará-ter deles é insignificante ounula. [...] Consideram a cari-dade cristã apenas uma belamáxima. [...]”

3o) Espíritas cristãos: “os quenão se contentam em admi-rar a moral espírita, mas apraticam e aceitam todas assuas consequências. Conven-cidos de que a existência ter-restre é uma prova passagei-ra, tratam de aproveitar osseus breves instantes paraavançar pela senda do pro-gresso, única que os pode ele-var na hierarquia do mundodos Espíritos, esforçando-sepor fazer o bem e reprimirseus maus pendores. Suas re-lações são sempre seguras,porque a convicção que nu-trem os afasta de todo pensa-mento do mal. A caridade é,em tudo, a sua regra de con-duta. São os verdadeiros espí-

ritas [...]”4o Espíritas exaltados: represen-

tam o tipo de espírita que“[...] incute confiança dema-siado cega e frequentementepueril, no tocante aos fenôme-nos do mundo invisível, levan-do a aceitar, com muita facili-dade e sem verificação, aquiloque a reflexão e o exame de-monstrariam ser absurdo emesmo impossível. [...] Estaespécie de adeptos é maisnociva do que útil à causa doEspiritismo. [...]”

Como fechamento deste estu-do, destacamos dois outros escla-recimentos de Kardec, registra-dos em O Livro dos Médiuns: umespecifica o melhor método deensino:

Falamos, portanto, por expe-

riência, e por isso afirmamos

que o melhor método de ensino

espírita é o que se dirige à razão

e não aos olhos. [...].11

O outro destaca a necessidadede estudo teórico do Espiritismo,capaz “de mostrar imediatamentea grandeza do objetivo e alcancedesta ciência”.12

Referências:1KARDEC, Allan. Obras póstumas. Trad.

Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro:

FEB, 2009. P. 2, A minha iniciação no

espiritismo, p. 349-350.2______. O livro dos médiuns. Trad.

Evandro Noleto Bezerra. 1. reimp. Rio de

Janeiro: FEB, 2009. P. 1, cap. 3, it. 19,

p. 47.3______. ______. p. 46.

4______. ______. It. 18, p. 45-46.

5KARDEC, Allan. Obras póstumas. Trad.

Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro:

FEB, 2009. P. 2, A minha iniciação no

espiritismo, p. 353.6______. O livro dos médiuns. Trad.

Evandro Noleto Bezerra. 1. reimp. Rio

de Janeiro: FEB, 2009. P. 1, it. 30,

p. 54.7______. ______. It. 29, p. 53.

8______. ______. It. 20, p. 47-48.

9______. ______. It. 21, p. 48.

10______. ______. It. 28, p. 52.

11______. ______. It. 31, p. 56.

12______. ______. It. 32, p. 56.

7Março 2011 • Reformador 85

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llan Kardec, o missionárioda Era Nova, havia anun-ciado na Revista Espírita

de janeiro de 1861 que, entre osdias 5 e 10 de janeiro do novo ano,seria apresentado ao conhecimen-to público O Livro dos Médiuns,pelos editores srs. Didier & Cia., oque viria a concretizar, logo de-pois, no dia 15.

A obra monumental era aguar-dada com grande curiosidade e in-teresse, porquanto já vinha sendoanunciada desde algum tempo.

Em razão do êxito retumbanteda publicação de O Livro dos Espí-

ritos, quatro anos antes, o ilustremestre preocupava-se com a com-plexidade da fenomenologia me-diúnica, os seus desafios, as dife-rentes expressões da mediunidade,a interferência dos Espíritos frí-volos e obsessores nas práticasespíritas e, para minimizar ou evi-tar as consequências, podendoser algumas desastrosas, ele pu-blicara anteriormente uma Ins-

trução Prática, oferecendo umguia de segurança para as expe-rimentações. Especialmente cui-dava de oferecer um roteiro escla-

recedor que servisse de seguradiretriz de condutas experimen-tais para os médiuns.

Esgotando-se com grande rapi-dez, o nobre Codificador reco-nheceu que uma nova edição daobra iria exigir um trabalho cui-dadoso de aprimoramento e delapidação, sendo necessária umaampliação de conteúdos comnovas observações resultantesdos estudos a que se afervorava,havendo conseguido fazê-lo naque estava sendo apresentada.

Teve o zelo de retirar algumasinformações que já se encontra-vam em O Livro dos Espíritos,especializando o vocabulário eaprofundando as questões per-tinentes aos médiuns, àquelesque se dedicam às experimenta-ções e à imensa gama de fenô-menos por ele observados.

Convencido da seriedade doEspiritismo, e depois da ampladivulgação da sua filosofia, torna-va-se indispensável a contribuiçãode um tratado de alta magnitudecom caráter científico para pre-venir os incautos e bem conduziros pesquisadores sérios.

Iniciando o notável livro pelasnoções preliminares,1 depois da bemcuidada introdução, recorreu às qua-lidades de educador para apresen-tar com lógica a palpitante ques-tão há Espíritos?, e, através de umaanálise bem realizada, demonstrarfilosoficamente a existência da

alma e a de Deus, consequência

uma da outra, constituindo a base

de todo o edifício, que é a própriaDoutrina Espírita.

Bem se lhe entende essa preo-cupação, porquanto somente se-rá possível a crença nos Espíritose nas suas comunicações, acredi-tando-se nesses fundamentos es-senciais, sem os quais, nenhumatécnica ou demonstração poderáconduzir o observador à aceita-ção da fenomenologia probanteda imortalidade.

A seguir, o sábio investigadorque foi Kardec, penetrou o bisturidas suas análises nas questões domaravilhoso e do sobrenatural,

A

ExaltandoO Livro dos Médiuns

1As palavras e frases em itálico são de au-toria de Allan Kardec. O livro dos médiuns.80. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009.(Nota do autor espiritual.)

8 Reformador • Março 2011 86

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demonstrando de maneira racio-nal que para produzirem os movi-mentos e ruídos, o erguimento dasmesas, por exemplo, os Espíritosnecessitaram de instrumentosque lhes fornecessem os recursospara a sua execução, que são osmédiuns. Dessa maneira, tornam--se fenômenos naturais, nada haven-do portanto, que se deva conside-rar como de natureza miraculosaviolentando as leis naturais.

De imediato, propôs os recursosdo método exigido na condição deciência e de filosofia, que é o Espi-ritismo, para que pudesse subme-ter-se a um estudo sério e persua-

dir-se de que ele não pode, como

nenhuma outra ciência, ser apren-

dido a brincar.Desnecessário informar-se que

O Livro dos Médiuns tem os seusfundamentos em O Livro dos Espí-

ritos, sendo, portanto, um desdo-bramento muito bem elaborado dequestões que são apresentadas emsíntese e que se tornaram inevitá-veis para mais graves elucubrações,o que então é cuidadosamentetratado na obra magistral.

A questão pertinente aos mé-diuns e aos experimentadores éfundamental, a fim de que am-bos se equipem com os recursosvaliosos para a boa condução dosfenômenos.

Prevenir, orientar e oferecer se-gurança aos incautos, assim comoaos estudiosos sérios do Espiritis-mo, sempre foi a preocupação deAllan Kardec, por entender a gran-diosidade da Doutrina que tem aver com todos os ramos do conhe-cimento humano.

Dedicando grande parte à ava-liação e às reflexões em torno dasmanifestações espíritas, classificou--as de físicas e inteligentes, deten-do-se na sua imensa variedade,apresentando capítulos especiaisreferentes a cada uma delas, comonunca dantes se houvera feito.

Preocupado com o charlatanis-mo e a mistificação, muito co-muns entre as criaturas humanas,advertiu os leitores para teremcuidado com os médiuns interes-seiros e desonestos, abordando ostemas da suspensão e perda damediunidade, que invariavelmen-

te chocam os seus portadores e osseus acompanhantes...

Por outro lado, analisou os pe-rigos da prática mediúnica irres-ponsável, demonstrando que osperíodos de curiosidade e de frivo-lidade estavam ultrapassados, ha-vendo dado lugar à gravidade dasrevelações, confirmando a existên-

cia, a sobrevivência e a individuali-

dade dos denominados mortos,

que retornam ou permanecem emcontínuas comunicações com oschamados vivos.

Buscando libertar os curiosos dohábito de considerar os Espíritos eos seus fenômenos como prodi-giosos, esclareceu quais as pergun-tas que aos primeiros se podemfazer, evitando que a irresponsabi-lidade e os interesses mesquinhos,em atraindo seres equivalentes, en-sejem as mistificações e as pertur-bações a que dão lugar, quandonão vigem a seriedade moral nema elevação espiritual.

Percuciente pesquisador, hones-tamente declarou que o livro nãoera de sua lavra intelectual e que,ao colocar os nomes de alguns Espí-

9Março 2011 • Reformador 87

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ritos nos textos publicados, tinhapor meta assinalar-lhes a respon-sabilidade, mas que, embora essaausência em outras páginas, quasetodas eram de autoria dos mesmos,havendo sido o seu, o trabalho deselecionar as mensagens, de com-pará-las, de confrontar os ensina-mentos em busca da universalida-de dos ensinos.

Os seus estudos resultavam daleitura do imenso volume de pá-ginas que lhe eram enviadas de di-ferentes pontos da Europa, assimcomo das Américas, demonstran-do não haver qualquer forma decontato entre os médiuns, o quelhes impedia a fraude...

Preocupou-se também em de-monstrar a influência do meio, deigual maneira a influência do mé-

dium, cuidando das evocações, as-sim como das contradições.

Igualmente apresentou as con-siderações cabíveis nos estudos damediunidade nos animais e nas

crianças, libertando os curiosos dassuperstições em torno dos primei-ros e apresentando os cuidados quese devem ter em relação aos fenô-menos produzidos na infância,quando as suas reservas moraisnão são suficientes para o discer-nimento nem a conduta corretaexigida pela faculdade.

Foi, no entanto, na análise emtorno da saúde física, emocional emental, que aprofundou as inves-tigações no extraordinário capítu-lo da obsessão, conhecida em to-dos os períodos da História daHumanidade e confundida com aloucura e outros distúrbios de na-tureza psíquica e degenerativa.

Pensando na criação de novascélulas espíritas, publicou o Regu-

lamento da Sociedade Parisiense

de Estudos Espíritas como ummodelo que poderia ser adotadoou adaptado pelos novos nú-cleos de acordo com os objetivosprogramados.

É compreensível que toda dou-trina nova sofra o descalabro dosseus profitentes, em particulardos presunçosos que se conside-ram superiores aos demais e bus-cam sempre ser originais... Kardecdemonstrou que o Espiritismonão corre esse perigo, por ser dou-trina dos Espíritos elevados que,sempre vigilantes, cuidarão de es-coimá-lo das interpretações falsasou interesseiras, assim como dequaisquer apêndices que os astu-tos lhe desejem aplicar.

Também informou que os Espí-ritos são as almas dos homens quehabitam a Terra, não lhes conce-dendo dons ou atributos advinha-tórios nem celestiais, esclarecendoque cada qual, após a morte, con-tinua o mesmo, conduzindo osvalores que o assinalavam antesdo decesso tumular.

Selecionando diversas comuni-cações espirituais no tema sobredissertações espíritas, apresentouaquelas que são autênticas e aque-loutras que não resistem a umaanálise profunda, demonstrandoa falsidade de algumas delas atra-vés da comparação entre o queproduziram os escritores quandoencarnados e o pobre conteúdode que então se revestiam...

Teve o zelo de propor as condi-ções exigíveis para uma reunião

mediúnica séria, na qual se po-dem obter comunicações valiosasem razão do caráter moral dosseus membros.

Por fim, para facilitar o enten-dimento da linguagem dos Espíri-tos, assim como alguns dos verbe-tes por ele utilizados, colocou, naetapa final, um vocabulário espíri-

ta cuidadoso e oportuno.Em trinta e dois capítulos enri-

quecidos de sabedoria, O Livro

dos Médiuns é o mais completotratado de estudos sobre a para-normalidade humana, jamais ul-trapassado, e tão atual hoje comonaquele já distante e memoráveldia 15 de janeiro de 1861, quandofoi apresentado em Paris.

Guia seguro e eficiente para oconhecimento da prática espíritae sua aplicação diária, é obra paraser estudada com seriedade e cadavez mais atualizada, relacionan-do-a com O Livro dos Espíritos,que a precedeu e é o alicerce vigo-roso do Espiritismo.

Por ocasião da celebração doseu sesquicentenário de publica-ção, saudamos esse grandiosobrado de alerta e de orientaçãodos benfeitores da Humanidade,de que Allan Kardec fez-se o após-tolo, inscrevendo-o entre as obrasmarcantes e mais valiosas da cul-tura terrestre.

Vianna de Carvalho

(Página psicografada pelo médium Dival-

do Pereira Franco, na sessão mediúnica

da noite de 3 de janeiro de 2011, no Cen-

tro Espírita Caminho da Redenção, em

Salvador, Bahia.)

10 Reformador • Março 201188

Page 11: Ano 129 • Nº 2.184 • Março 2011

Reformador: Como se desenvolve o

trabalho federativo na Bahia?

Peixinho: As instituições espíritasestão agregadas por critérios geo-gráficos, afetivos e de acessibilidadeem regiões, formando os Conse-lhos Regionais. Em Salvador, por

possuir maior densidade de cen-tros espíritas, estes são agrupadosem Conselhos Distritais. Os repre-sentantes institucionais reúnem-seanualmente em assembleia doConselho Federativo Estadual e de-liberam sobre as linhas diretrizesde atuação da Federação. Nos últi-mos anos, ficou estabelecido umfluxograma de atividades estaduaisque começa com visitas a todas ascasas espíritas do Estado da Bahia,adesas e não adesas, hoje, ultrapas-sando seis centenas, de fevereiro amaio. Este movimento é intituladoCaravana Baiana da Fraternidade eé realizado por membros da direto-ria da FEEB, pelos integrantes dosconselhos e por espíritas interessa-

dos na Unificação. Baseia-se nasedimentação de laços de

afeto e desenvolvimentoinicial de um tema deinteresse anual. Nomês de julho, organi-zamos nove encon-tros macrorregio-nais, em cidades-

-polo, para aperfeiçoamento e qua-lificação doutrinária e administra-tiva dos trabalhadores, em conso-nância com as ações federativas daComissão Regional Nordeste. Emnovembro, realizamos o EncontroEstadual de Espiritismo, quandofacultamos a permuta de experiên-cias, a atualização doutrinária e oplanejamento do calendário fede-rativo para o ano subsequente. Sãotambém realizados encontros esta-duais descentralizados para algu-mas atividades, denominados diasestaduais. Em 2011 teremos even-tos dessa natureza para o ESDE, aEvangelização Infantojuvenil, oAtendimento Fraterno, a Promo-ção Social, o Trabalhador da ÁreaMediúnica e da Ação Doutrinária.A cada dois anos, realizamos umaconfraternização de juventudes,e a cada três anos fazemos umcongresso espírita. Os conselhos,como extensões da FEEB, têm umaprogramação específica, confor-me suas demandas e capacidades.Também trabalhamos com equipes

11Março 2011 • Reformador 89

AN D R É LU I Z PE I X I N H OEntrevista

A contribuição para a

renovação socialAndré Luiz Peixinho, presidente da Federação Espírita do Estado da Bahia, discorre sobre o desenvolvimento do Movimento Espírita em seu Estado e destaca que o Movimento Espírita deve contribuir para a renovação social

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especializadas em treinamentos, apedido, em todas as áreas de atua-ção do Centro Espírita.

Reformador: Quais as principais

linhas de atuação da FEEB?

Peixinho: Definimos como linhasde atuação nesta gestão: a atualiza-ção dos espíritas, o apoio adminis-trativo e doutrinário às institui-ções, a qualificação das sedes daFEEB, a construção de uma memó-ria histórica do Movimento Espíri-ta, e a criação de ações sociais vol-tadas para os espíritas na juventudee na velhice. Para a atualização dosespíritas estamos incentivando acriação de núcleos de estudos te-máticos que revisem a literatura es-pírita e estabeleçam consensos so-bre os principais tópicos de cadatema. Posteriormente, estes nú-cleos deverão organizar estudos epesquisas sobre os pontos não con-vergentes e outras questões daatualidade. Também deverão expe-rimentar tais conhecimentos emsuas próprias realidades cotidianas.Anualmente o andamento destetrabalho será apresentado no En-contro Estadual. O apoio adminis-trativo está sendo realizado atravésde capacitações específicas e a exis-tência de uma rede jurídica consti-tuída com profissionais voluntá-rios. Estamos propondo para 2011a organização do Projeto Institui-ções Espíritas Irmãs, sob a égide daFEEB, que aproximará as grandesinstituições daquelas de menorporte, auxiliando-as no seu desen-volvimento, à medida que foremsolicitadas. O auxílio doutrináriose realiza através dos eventos regio-

nais e pela programação da rádioWeb FEEB. No próximo ano, esta-remos também organizando umgrupo de palestrantes espíritas, quepreviamente se encontrarão e defi-nirão temas e conteúdos de pales-tras, para as quais se disponibiliza-rão,a fim de atender aos pedidos doscentros espíritas, representando aFEEB. A qualificação da sede histó-rica da FEEB está praticamenteconcluída com sua integral restau-ração e adaptação aos requisitos ar-quitetônicos atuais. Isto só foi pos-sível graças à ação da FundaçãoJosé Petitinga, criada por espíritasatuantes no federativismo, que cap-tou recursos do BNDES para tal fi-nalidade. A sede central está sendoobjeto de estudos para ser concluí-da e inaugurada no centenário daFEEB, em 2015. A memória histó-rica do Movimento Espírita estásendo construída em parceria coma Fundação José Petitinga, que fazum resgate de documentos desde aépoca de Luiz Olímpio Teles deMenezes, em meados do séculoXIX. As ações sociais para os espíri-tas deverão ser iniciadas em 2011com o projeto de Educação para aVida Plena, tendo como público--alvo jovens espíritas economica-mente carentes cursando o segun-do grau, e o Projeto Longevus, reu-nindo periodicamente espíritasacima de 65 anos, em atividadesconfraternativas, doutrinárias eculturais.

Reformador: Como atuam os cen-

tros espíritas do Interior?

Peixinho: Através do modelo ado-tado na FEEB, temos três contatos

anuais diretos e nos mantemosinformados pelos conselhos re-gionais. Constatamos existir umagrande variedade de formas deatuação de um modo geral, assen-tadas na busca do esclarecimentoespírita, no exercício da mediuni-dade e na prática da caridade. Sãoinstituições de portes distintos e,por isso mesmo, com trabalhos deenvergadura e qualidade diferen-tes. Isto nos motivou a criar umeixo evolucionário institucional parafacilitar a definição de estímulosem complexidades crescentes, ob-servando o princípio da equidade.A memória histórica em resgate,também sob a responsabilidade daFundação José Petitinga, dirigidapor Edinólia Peixinho, o censo ins-titucional e as estatísticas dos eventosnos proporcionam uma visão pa-norâmica do desenvolvimento his-tórico-geográfico do MovimentoEspírita. É possível perceber os avan-ços qualiquantitativos ao longodas décadas, e também as necessida-des de investimento. Atualmente,em termos de demanda, nos con-centramos no fato de possuirmoscerca de 40% de municípios naBahia sem uma Instituição Espírita.

Reformador: Há algum planeja-

mento para comemoração do

Sesquicentenário de O Livro dosMédiuns?

Peixinho: Sim. Iniciamos comuma reunião comemorativa naSede Central da FEEB no dia 15 dejaneiro. A seguir, começaremosum curso no mesmo local sobreMediunidade e Evolução. No dia1o de abril, faremos um evento em

12 Reformador • Março 201190

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local público sobre a efeméride,com a participação de DivaldoFranco. Encerraremos as come-morações no XIV Congresso Espí-rita da Bahia, com o tema centralo Primado do Espírito. Em todosos encontros espíritas, como a ca-ravana e as macrorregionais, oSesquicentenário de O Livro dos

Médiuns também estará sendolembrado. Além disso, estimula-mos os companheiros de ideal a

fazerem atividades locais e regio-nais relativas à efeméride.

Reformador: Algum recado ao lei-

tor de Reformador.Peixinho: Primeiro, queremos pa-rabenizar a revista pelo empenhode renovação e conteúdos semprepautados nos princípios doutriná-rios. Depois, relembrar que o Mo-vimento Espírita, para realizar a su-peração do paradigma materialista

vigente na sociedade contemporâ-nea e realmente contribuir para arenovação social, conforme o seupotencial doutrinário, necessita deEspíritos pioneiros e resolutos, queconsolidem o ideal espírita atravésda pesquisa, da vivência e da divul-gação. E que muitos de nós temosnos refolhos d’alma este compro-misso evolutivo à espera de açõesmais ousadas e efetivas num mun-do em transição espiritual.

13Março 2011 • Reformador 91

Eu sei

Fonte de consulta: KARDEC, Allan. O espiritismo é uma religião? In: Revista espírita: jornal de estudos psicológicos, ano 11,

p. 494-495, dez. 1868. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Epígrafe: XAVIER, Francisco C.

O consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. 3. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Q. 354.

“Conseguir a fé é alcançar a possibilidade de não mais dizer: ‘eu creio’, mas afirmar: ‘eu sei’, com todos os valores da razão tocados pela luz do sentimento.” – Emmanuel

Mário Frigéri

Eu sei que Deus é Todo-Poderoso,Único, Eterno, Justiceiro e Bom,E como Pai criou, sempre amoroso,O ser humano e lhe imprimiu seu dom.

Eu sei que a Alma é ser preexistenteE sobrevive à desencarnação;Para que o homem cresça e siga em frente,Eu sei da Lei da Reencarnação.

Eu sei também que o ser mais imperfeitoPode atingir um dia a perfeição,E tão depressa quanto houver eleitoJesus por guia de seu coração.

Eu sei que a dor e o sofrimento humanosSão só processos de reeducação,E a expiação, mesmo que dure anos,Não durará além da imperfeição.

Eu sei que a Lei Divina, sem favores,É igualitária em toda a Criação:A cada um segundo seus laboresÉ sua justa retribuição.

Eu sei que a vida humana é transitória,Uma das fases da Vida Real,E que o Homem conduz sua história,Livre na escolha entre o bem e o mal.

Eu sei que o mundo humano é interagente,Unido ao mundo espiritual,E de um futuro gentil, florescente,Mais invejável que o tempo atual.

Eu sei que o Bem, se vivido e se feitoCom a alma acesa em sagrado ideal,Transforma o homem num ser mais perfeito,E no futuro – num Ser Integral.

Eu sei que toda crença é respeitável,Quando sincera, livre, racional,E que a Ciência, de forma louvável,Revela o mundo da Lei Natural.

Eu sei, por fim, à luz do Espiritismo,Que os corações, de igual para igual,Hão de se unir, um dia, em sincronismo,Sob o pendão do Amor Universal.

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m o Velho Testamento, naBíblia, que é, essencialmente,a história do povo judeu,

há 613 mandamentos, distribuí-dos nos cinco primeiros livros:Gênesis, Êxodo, Levítico, Númerose Deuteronômio.

248 são positivos – o que fazer.365 são negativos – o que não

fazer.Embora atribuídos a Moisés, em

grande parte foram registrados aolongo dos séculos, em princípio natradição oral, depois por escrito,com uma particularidade: ao seremredigidos, os escribas neles aplica-vam uma espécie de selo divino,como se fosse o próprio Jeová, odeus judeu, a ditar as normas.

Havia orientações inteligentes,outras ingênuas; fantasiosas e racio-nais; bem e mal-intencionadas,refletindo os interesses de cadaépoca e os humores daqueles queas redigiam.

Surpreendente observar religio-sos defendendo com veemência aideia de que nesses textos estariama palavra de Deus e os primórdiosda Criação.

Temos a impressão de que nãoleram ou esqueceram-se de passá-

-los pelo crivo da razão, aceitandoa fantasia como realidade, o mito-lógico como histórico.

Começa com a suposição de quea Terra teria sido criada há pertode quatro mil anos, segundo acronologia bíblica.

Semelhante revelação contrariaa tese científica, suficientementecomprovada: a Terra tem pertode quatro bilhões e quinhentosmilhões de anos.

O próprio Homem, conformedemonstram os estudos antropo-lógicos, surgiu a cerca de um mi-lhão de anos.

O mesmo ocorre em relação aos613 mandamentos, muitos decidi-damente humanos, nada divinos.

Os que veem ali a palavra de

Deus certamente não os analisa-ram à luz da razão.

As proibições eram numero-sas. Terríveis as sanções. Senten-ciavam com prodigalidade, semnenhum constrangimento, a penade morte, a contradizer o não ma-

tarás, preceito básico que o pró-prio Moisés psicografou no MonteSinai, ao compor a Revelação daJustiça, contida nos Dez Manda-mentos. Estes, sim, de inspiração

divina, mostram ao Homem oque não deve fazer.

Alguns exemplos:O descanso no sábado, o dia

consagrado ao Senhor, é obrigató-rio. Quem se atrever a realizarqualquer tarefa será condenado àmorte. Há o episódio de um ho-mem condenado ao apedreja-mento porque estava cometendoo crime de apanhar lenha num sá-bado (Números, 15:32-36).

Havia rigorosa orientação quantoao sangue dos animais:

Também, qualquer homem dos

filhos de Israel, ou dos estrangeiros

que peregrinam entre eles, que ca-

çar um animal selvagem ou uma ave

própria para comer, derramará o seu

sangue, e o cobrirá com pó, porque a

vida de toda criatura é o seu sangue.

Por isso eu disse aos filhos de Israel:

Não comereis o sangue de nenhuma

carne, porque a vida de toda carne é

o seu sangue. Qualquer que o comer

será eliminado (Levítico, 17:13-14).

Essa orientação, tomada ao péda letra, induz religiosos a rejeita-rem transfusões de sangue, mesmopara salvar uma vida.

ER I C H A R D S I M O N E T T I

O velhoe o novo

14 Reformador • Março 2011 92

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Quando um homem amaldiçoar

a seu pai ou a sua mãe, certamente

será morto (Levítico, 20:9).

Se um homem cometer adultério

com a mulher de seu próximo, ambos,

o adúltero e a adúltera, certamente

serão mortos (Levítico, 20:10).

Se também um homem dormir

com outro homem, como se fosse

com mulher, ambos fizeram abo-

minação. Certamente serão mortos,

e o seu sangue será sobre eles (Leví-tico, 20:13).

Se um homem desposar ao mes-

mo tempo uma mulher e a mãe dela,

é maldade. A ele e a elas queimarão

com fogo, para que não haja malda-

de no meio de vós (Levítico, 20:14).

Aquele que blasfemar o nome

do Senhor, certamente será morto.

Toda a congregação o apedrejará.

Quer seja estrangeiro, quer natural,

blasfemando o nome do Senhor,

será morto (Levítico, 24:16).

O filho rebelde será morto por

apedrejamento (Deuteronômio,21:18-21).

Quando, pois, algum homem ou

mulher em si tiver um espírito de

necromancia ou espírito de advi-

nhação, certamente morrerão; serão

apedrejados; o seu sangue será so-

bre eles. (Levítico, 20:27).

Espiritismo, naquele tempo, nempensar!

Pessoas com defeitos físicos, co-

xo, desfigurado ou deformado,

pé quebrado ou mão quebrada,

corcunda, anão, defeito nos olhos,

sarna, impinges, testículos esma-

gados, não poderão aproximar-se

do santuário, no culto, a fim denão profaná-lo (Levítico, 21:18--24).

Os judeus envolviam-se tantocom esses mandamentos, sob rigo-roso controle dos sacerdotes, que avida ficava complicada, cheia de si-tuações de impureza, com múlti-plos rituais de purificação.

Imaginemos o trabalho até mes-mo para saber o que se podia ounão fazer.

Em suas pregações, Jesus aboliumuitos desses mandamentos, porabsurdos, com o que entrava cons-tantemente em atrito com as clas-ses religiosas dominantes.

A principal razão pela qual foicondenado à cruz foi exatamenteo desassombro com que enfrenta-va os senhores do Templo nesseparticular.

É exemplar a mudança de ati-tude que Ele orienta em o Sermãoda Montanha, quando fala sobre apena de talião:

Ouvistes o que foi dito aos anti-

gos: olho por olho, dente por dente.

Eu, porém, vos digo: não resistais ao

homem mau. Se alguém te bater na fa-

ce direita, oferece-lhe também a outra.

E se alguém quiser demandar

contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe

também a capa.

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15Março 2011 • Reformador 93

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Se alguém te obrigar a caminhar

uma milha, vai com ele duas.

Dá a quem te pedir e não te desvies

daquele que quiser que lhe emprestes

(Mateus, 5:38-42).

Simplesmente estava explicandoque não devemos reagir ao mal como mal, o que tenderá a perpetuá-lo.Só o bem elimina o mal.

Aos sábados o Mestre viajava,curava, ensinava, atendia o povo.Aos fariseus que o criticavam,explicava:

O sábado foi feito para o ho-

mem, não o homem para o sábado

(Marcos, 2:27).

Diga-se de passagem, na civiliza-ção ocidental o sábado foi substi-tuído pelo domingo, quando secomemora a suposta ressurreiçãode Jesus.

A intenção era boa, dar descansoao trabalhador, um princípio delegislação trabalhista, mas se nessedia não pudermos fazer absolu-tamente nada, melhor não tê-lo.Como explica Jesus, o descansosemanal é para nos ajudar, nãopara atrapalhar, impondo restri-ções absurdas.

Reclamavam sacerdotes e fariseusque seus discípulos não se subme-tiam a rituais de purificação antesdas refeições. Jesus replicava, coma sabedoria de sempre:

O que contamina o homem

não é o que entra na boca,

mas o que sai da boca, isso

é o que contamina o ho-

mem (Mateus 15:11).

Explicaria em seguidaaos discípulos:

Mas o que sai da boca pro-

cede do coração, e isso conta-

mina o homem.

Porque do coração procedem

os maus pensamentos, mortes,

adultérios, prostituição, furtos,

falsos testemunhos e blasfêmias

(Mateus, 15:18-19).

Mais longe foi Jesus,certa feita em que um doutor

da Lei perguntou-lhe:

– Mestre, qual o grande manda-

mento da lei?

Jesus lhe respondeu:

– Amarás o Senhor teu Deus, de

todo o teu coração, de toda a tua alma,

de todo o teu espírito. Este o maior

e o primeiro mandamento.

E aqui está o segundo, que é seme-

lhante ao primeiro: amarás o teu

próximo como a ti mesmo.

Toda a lei e os profetas se acham

contidos nesses dois mandamentos

(Mateus, 22:36-40).

Jesus reportava-se a dois manda-mentos, dos 613 contidos no VelhoTestamento:

Amarás o Senhor teu Deus de

todo o teu coração, de toda a tua

alma, e de toda a tua força (Deute-ronômio, 6:5).

[...] amarás o teu próximo como

a ti mesmo (Levítico, 19:18).

Deixa bem claro que esses doismandamentos sintetizam o que háde melhor na Lei e nos Profetas,ou no Velho Testamento.

Quase toda a legislação mosaica,usando um termo atual, era datada,isto é, servia para aqueles temposrecuados.

De caráter universal e eterno é aorientação de que nossa estabili-dade íntima, nosso equilíbrio, a ca-pacidade de sermos felizes, depen-dem de nosso empenho por amar-mos a Deus acima de todas as coisase ao próximo como a nós mesmos.

Neles sintetiza-se o que Deusespera de nós.

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17Março 2011 • Reformador 95

Presença de Chico Xavier

beira de um charco, formosa borboleta, ful-gurando ao crepúsculo, pousou sobre umninho de larvas e falou para as pequeninas

lagartas, atônitas:– Não temais! Sou eu... uma vossa irmã de raça!...

Venho para comunicar-vos esperança. Nem semprepermanecereis coladas à erva do pântano! Tende cal-ma, fortaleza, paciência!... Esforçai-vos por nãosucumbir aos golpes da ventania que, de quando emquando, varre a paisagem. Esperai! Depois do sonoque vos aguarda, acordareis com asas de puro armi-nho, refletindo o esplendor solar... Então, não maisvos arrastareis, presas ao solo úmido e triste.Adquirireis preciosa visão da vida! Subireis muitoalto e vosso alimento será o néctar das flores... Via-jareis deslumbradas, contemplando o mundo, sobnovo prisma!... Observareis o sapo que nos persegue,castigado pela serpente que o destrói, e vereis a ser-pente que fascina o sapo, fustigada pelas armas dohomem!...

Enquanto a mensageira se entregava a ligeirapausa de repouso, ouviam-se exclamaçõesadmirativas:

– Ah! não posso crer no que vejo!– Que misteriosa e bela criatura!...– Será uma fada milagrosa?– Nada possui de comum conosco...Irradiando o suave aroma do jardim em que se

demorara, a linda visitante sorriu e continuou:– Não vos confieis à incredulidade! Não sou uma

fada celeste! Minhas asas são parte integrante danova forma que a Natureza vos reserva. Ontem, viviaconvosco; amanhã, vivereis comigo! Equilibrar-vos--eis no imenso espaço, desferindo voos sublimes àplena luz! Libertadas do chavascal, elevar-vos-eis,felizes! Conhecereis a beleza das copas floridas e osaboroso licor das pétalas perfumadas, a delícia daaltura e a largueza do firmamento!...

Logo após, lançando carinhoso olhar à famíliaalvoroçada, distendeu o corpo colorido e, volitando,graciosa, desapareceu.

Nisso chega ao ninho a lagarta mais velha dogrupo, que andava ausente, e, ouvindo as entusiásti-cas referências das companheiras mais jovens, orde-nou, irritada:

– Calem-se e escutem! Tudo isso é insensatez...Mentiras, divagações... Fujamos aos sonhos e aosdesvarios. Nunca teremos asas. Ninguém deve filoso-far... Somos lagartas, nada mais que lagartas. Seja-mos práticas, no imediatismo da própria vida. Es-queçam-se de pretensos seres alados que não exis-tem. Desçam do delírio da imaginação para as reali-dades do ventre! Abandonaremos este lugar, amanhã.Encontrei a horta que procurávamos... Será nossapropriedade. Nossa fortuna está no pé de couve quepassaremos a habitar. Devorar-lhe-emos todas as fo-lhas... Precisamos simplesmente comer, porque, de-pois, será o sono, a morte e o nada... nada mais...

Calaram-se as larvas, desencantadas.Caiu a noite e, em meio à sombra, a lagarta-chefe

adormeceu, sem despertar no outro dia. Estava elacompletamente imóvel.

As irmãs, preocupadas, observavam curiosas ofenômeno e puseram-se na expectativa.

Findo algum tempo, com infinito assombro, repa-raram que a orgulhosa e descrente orientadora se me-tamorfoseara numa veludosa falena, voejante e leve...

Anotando a lição breve e simples, creio que hámuitos pontos de contato entre o reino dos homense o reino das borboletas.

Fonte: XAVIER, Francisco C. Contos e apólogos. 13. ed. 1. reimp.

Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 29.

No reino das borboletasÀ

Pelo Espírito Irmão X

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uitas teses sociológicas eantropológicas já foramelaboradas para detectar

as causas da violência. Uns atri-buem a violência à miséria ou àpobreza; outros, à falta de instru-ção, à mídia, às drogas, ao fanatis-mo, à superlotação dos presídiosetc. Mas onde estaria, realmente, acausa deste mal que ultimamenteapresenta sintomas de pandemia?

Detectadas as origens do pro-blema, existiria solução para ele?A instituição de medidas radicais,para conter a violência, ou o en-durecimento das leis, seria o bas-tante, como defendem alguns especialistas?

Dentre todas, uma das facetasmais cruéis da violência é a guer-ra. Etimologicamente, a palavra“guerra” sempre esteve ligada adiscórdia, a luta. Derivada do la-tim bellum, deu origem ao adjeti-vo “belicoso” ou “beligerante”, istoé, o estado de ânimo daquele quehabitualmente é hostil para com osemelhante.

No sentido trivial, a guerra ge-ralmente é definida como “qual-quer combate, com ou sem ar-mas”, ou ainda a “luta armada en-

tre nações, ou entre partidos deuma mesma nacionalidade ou de etnias diferentes”.1

E o que desejam os que fazem a guerra? O objetivo da guerra é aimposição da vontade de um dosadversários, por meio da força.Ou, ainda, é “impor supremaciaou salvaguardar interesses mate-riais ou ideológicos”.2

Os Espíritos superiores, ao tra-tarem da lei moral de destruição,3

projetaram luz sobre esta tormen-tosa questão: a guerra é o resulta-do das paixões exacerbadas dohomem, em virtude da predomi-nância da natureza animal sobre anatureza espiritual.

A História relata que, nosprimórdios, a guerra era umestado normal para o homembárbaro, que procurava impor-seao seu semelhante por intermé-dio da força bruta. Ante a ausênciade normas para regular as rela-

ções sociais, prevalecia a vontadedo mais forte. Apesar do admi-rável progresso humano em todosos setores, inclusive com o ad-vento do estado de direito, daslegislações democráticas, aindapersistem as guerras, a violência,embora apresentando caracte-rísticas diferenciadas.

Há aqueles que defendem a exis-tência das guerras como elementoindispensável ao progresso huma-no. Só a esse custo poderemos noslibertar do atraso intelecto-moral?

Não há dúvida de que as guerrasinterferem na História e produ-zem repercussões importantes so-bre a organização política, econô-mica e social dos povos e das na-ções. Talvez por isso os mentoresda Codificação tenham alertadoque o objetivo da Providência aopermitir a guerra é a conquista daliberdade e do progresso. Ocorreque muitas vezes o vencedor sub-mete o vencido. Nesse caso, os men-tores esclarecem que tal submis-são é momentânea, pois induz ospovos a progredir mais depressa.É quando nos deparamos com a leide causa e efeito, que traduz a in-falível Justiça Divina.

18 Reformador • Março 2011 96

MCH R I S T I A N O TO RC H I

Da guerraàpaz

1Dicionário eletrônico Houaiss da língua

portuguesa – 3. 0.

2Idem, ibidem.

3KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Riode Janeiro: FEB, 2010. Q. 742 a 745.

Capa

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Enquanto o homem persistirnos seus vícios, continuará pagan-do pesado tributo moral, que lhegranjeará o aprendizado mediantea dor e o sofrimento. Por isso, nãoestão isentos de culpa aqueles quelançam a Humanidade em com-bates sangrentos, por ambição. Osflagelos destruidores provocadospelo ser humano representam gra-ve infração às leis morais. Nestecaso, muitas existências lhe serãonecessárias para expiar todos oscrimes de que haja dado causa.

Se, por um lado, a guerra trazseus benefícios, os efeitos colateraisdela, sobretudo aqueles de longoprazo, são tantos e tão rigorososque não se pode dizer que hajavencidos ou vencedores. Muitosdos responsáveis pelas guerras e osque delas abusam vinculam-se alaços cármicos até que se quitemperante as leis eternas, por meiodos sábios mecanismos instituídospelo Criador, entre eles o da reen-carnação, que reúne os adversáriosde ontem nos sagrados laços daspátrias e das famílias de hoje.

Agora que Jesus nos enviou oConsolador, que é o Espiritismoredivivo, para restabelecer todasas coisas, prescindimos da divisãoe da espada, como exarado na pa-rábola da estranha moral: “Àguerra sucederá a paz; ao ódio dospartidos, a fraternidade universal;

às trevas do fanatismo, a luz da féesclarecida”.4 Por isso, os Espíritossuperiores esclarecem que a guer-ra desaparecerá da face da Terra,quando os homens compreende-rem a justiça e praticarem as leisde Deus. Ora, se ainda há tantaviolência na Terra, exacerbadanestes tempos de transição, é por-que ainda não estamos vivencian-do o suficiente esses princípios.

Pondere-se, de outro lado, que oindivíduo não é culpado pelos as-sassínios que comete durante aguerra, quando constrangido a lu-tar, a conservar a própria vida, masé culpado pelas crueldades e pelosabusos em que incidir. Em com-pensação, é-lhe contado a favor osentimento humanitário com queage em tais circunstâncias.

Espíritos de ordem inferior rece-bem a oportunidade de encarnar ereencarnar entre homens adianta-dos, para que também progridam, oque explica a existência, no seio dacivilização mais evoluída, de cria-turas selvagens e de criminososendurecidos, fatores que igual-mente induzem ao aperfeiçoamen-to das instituições humanas.

Convém ressalvar, contudo,que a guerra, por extensão de sen-tido, não é apenas aquela em queas nações disputam os chamadosinteresses da soberania, mas sãotambém os conflitos particularesentre os indivíduos na convivên-cia em sociedade:

[...] os males mais numerosos são

os que o homem cria pelos seus

vícios, os que provêm do seu or-

gulho, do seu egoísmo, da sua

ambição, da sua cupidez, de seus

excessos em tudo. Aí a causa das

guerras e das calamidades que es-

tas acarretam, das dissensões, das

injustiças, da opressão do fraco

pelo forte, da maior parte, afinal,

das enfermidades.5

4KARDEC, Allan. O evange-

lho segundo o espiritismo.Trad. Evandro Noleto Be-zerra. 1. reimp. (atualiza-da). Rio de Janeiro: FEB,2010. Cap. 23, it. 16.

5Idem. A gênese. Trad. Guillon Ribeiro. 52.ed. 3. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010.Cap. 3, it. 6.

19Março 2011 • Reformador 97

Capa

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No início da década de 90, emvisita ao campo de concentração etrabalhos forçados em Mauthausen,na Áustria, onde foram ceifadasquase 130 mil vidas, dentre osmilhões de pessoas que padece-ram durante a Segunda GuerraMundial (1938-1945), o médiumDivaldo Pereira Franco sentiu apsicosfera ambiente depressiva eumbralina, como se a dor, o la-mento e o desespero se perpe-tuassem ali, no plano invisível,assinalado por sombras indizíveis.Foi nesse momento que ecoou naconsciência do médium a seguintepergunta, que é a mesma de todosnós: “Por que será que o homemé tão impiedoso, e explodem essasguerras?”. E a resposta veio semdemora:

Porque ainda não tivemos a cora-

gem de lutar contra as nossas

paixões; porque ainda cultiva-

mos as pequenas guerras; por-

que ainda mantemos as

nossas pequenas violên-

cias, não nos dulcificamos

interiormente, não deixamos

que o amor nos tranquilize.

[...] De alguma forma, a guerra

que acabou lá fora necessita

de acabar dentro de nós, pois

que só há uma guerra exterior,

porque vivemos em conflito

íntimo constante, e esses cri-

mes somente são cometidos

quando há uma adesão enor-

me de criminosos.

Um Ayatolá Komeini, um Hitler,

um Stalin e outros somente logra-

ram seus tentames porque havia

mínis Komeinis, Hítleres, Stalins

que, ao grito para o crime, ade-

riram em massa e cometeram

atrocidades, esperando apenas

a voz de comando.

Para que esses crimes saiam da

Terra é necessário que comece-

mos em nós o trabalho de insta-

lação do reino de Deus, da pie-

dade fraternal, da tolerância, da

benignidade e do amor, para que

crueldades como essas que aí

estão na TV, em todo o instante,

nunca mais [aconteçam].6

Conclui-se, portanto, que oestado íntimo das pessoas, asguerras individuais, consistentesem duelos de pensamentos, depalavras e de ações, por mais in-significantes pareçam, contri-

buem para o agravamento daviolência, que é retroalimentadapela ação obsessiva recíproca deEspíritos, encarnados e desencar-nados, em permanente conúbio,que se encontram na mesma sin-tonia. A tecnologia, as medidaslegislativas, administrativas e so-ciais, isoladamente, não solucio-narão, por si, esses graves pro-blemas que afligem a civilização,enquanto o ser humano não secara fonte da violência e da igno-rância que reside em si próprio.Por isso, nunca foi tão urgente arevisão da nossa conduta ética,em todos os sentidos:

Quando a caridade regular a

conduta dos homens, eles con-

formarão seus atos e palavras a

esta máxima: “Não façais aos

outros o que não gostaríeis que

vos fizessem”. Então, desapare-

cerão todas as causas de dissen-

sões e, com elas, as dos duelos e

das guerras, que são os duelos

de povo a povo.7

São válidos os movimentos so-ciais, por meio dos quais rogamosprovidências às autoridades emfavor da paz. Entretanto, eles sozi-nhos são insuficientes. A constru-ção da paz começa em nossos lares,no trabalho preventivo de educa-ção de nossos filhos e da nossaprópria, que tem no ensino reli-gioso um grande aliado.

20 Reformador • Março 201198

6FRANCO, Divaldo P.; SCHUBERT, SuelyC. Ante os tempos novos. Salvador: LEAL,1994. Cap. 5, Mauthausen, p. 77-78.

7KARDEC, Allan. O evangelho segundo o

espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezerra.1. reimp. (atualizada). Rio de Janeiro:FEB, 2010. Cap. 12, it. 14.

Capa

Page 21: Ano 129 • Nº 2.184 • Março 2011

21Março 2011 • Reformador 99

Esf lorando o EvangelhoPelo Espírito Emmanuel

“Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão.”

– PAULO. (I CORÍNTIOS, 15:58.)

Firmeza e constância

Fonte: XAVIER, Francisco C. Fonte viva. ed. esp. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 69.

uita gente acredita que abraçar a fé será confiar-se ao êxtase improdutivo.

A pretexto de garantir a iluminação da alma, muitos corações fogem à

luta, trancando-se entre as quatro paredes do santuário doméstico, entre

vigílias de adoração e pensamentos profundos acerca dos mistérios divinos, esque-

cendo-se de que todo o conjunto da vida é Criação Universal de Deus.

Fé representa visão.

Visão é conhecimento e capacidade de auxiliar.

Quem penetrou a “terra espiritual da verdade”, encontrou o trabalho por graça

maior.

O Senhor e os discípulos não viveram apenas na contemplação.

Oravam, sim, porque ninguém pode sustentar-se sem o banho interior de silên-

cio, restaurando as próprias forças nas correntes superiores de energia sublime que

fluem dos Mananciais Celestes.

A prece e a reflexão constituem o lubrificante sutil em nossa máquina de expe-

riências cotidianas.

Importa reconhecer, porém, que o Mestre e os aprendizes lutaram, serviram e

sofreram na lavoura ativa do bem e que o Evangelho estabelece incessante trabalho

para quantos lhe esposam os princípios salvadores.

Aceitar o Cristianismo é renovar-se para as Alturas e só o clima do serviço con-

segue reestruturar o espírito e santificar-lhe o destino.

Paulo de Tarso, invariavelmente peremptório nas advertências e avisos, escre-

vendo aos coríntios, encareceu a necessidade de nossa firmeza e constância nas

tarefas de elevação, para que sejamos abundantes em ações nobres com o Senhor.

Agir ajudando, criar alegria, concórdia e esperanças, abrir novos horizontes ao

conhecimento superior e melhorar a vida, onde estivermos, é o apostolado de

quantos se devotaram à Boa Nova.

Procuremos as águas vivas da prece para lenir o coração, mas não nos esqueça-

mos de acionar os nossos sentimentos, raciocínios e braços, no progresso e aperfei-

çoamento de nós mesmos, de todos e de tudo, compreendendo que Jesus reclama

obreiros diligentes para a edificação de seu Reino em toda a Terra.

M

Page 22: Ano 129 • Nº 2.184 • Março 2011

capítulo V, de O Evange-

lho segundo o Espiritis-

mo, traz fulgente mensa-gem do cardeal Morlot, recebidaem Paris, no ano de 1863, sobre afelicidade, que é almejada comocondição de satisfação plena detodo ser humano.

O preclaro Espírito chama aten-ção para a possibilidade de nuncapodermos alcançá-la, pois “o ho-mem absolutamente feliz jamaisfoi encontrado”.1

Afirma ele que

O em que consiste a felicidade

na Terra é coisa tão efêmera

para aquele que não tem a

guiá-lo a ponderação, que,

por um ano, um mês, uma se-

mana de satisfação completa,

todo o resto da existência é

uma série de amarguras e de-

cepções. [...]1

Diante dessa constatação, o an-seio de felicidade seria puramentequimérico para as almas aqui reen-carnadas? Eis um velho e compli-cado mistério filosófico sem soluçãoracional, pois enquanto o homemresumir a felicidade na utilização debens materiais, na deplorável ilusãode que o legítimo contentamentoestá condicionado aos tesourosperecíveis, não conseguirá atingira paz e o bem-estar que tanto al-meja. Emmanuel, Benfeitor espi-ritual, em uma de suas luminosasobras, ao analisar de que modopode-se conceber a felicidade naTerra, faz a seguinte ponderação:

– Se todo espírito tem consigo a

noção de felicidade, é sinal que

ela existe e espera as almas em

alguma parte.

Tal como sonhada pelo homem

do mundo, porém, a felicidade

não pode existir, por enquanto,

na face do orbe, porque, em sua

generalidade, as criaturas huma-

nas se encontram intoxicadas e

não sabem contemplar a gran-

deza das paisagens exteriores que

as cercam no planeta. Contudo,

importa observar que é no globo

terrestre que a criatura edifica

as bases da sua ventura real,

pelo trabalho e pelo sacrifício, a

caminho das mais sublimes

aquisições para o mundo divi-

no de sua consciência.2

Ao longo da história da Huma-nidade o homem buscou respostaspara as suas inquietações, como ne-cessidade imperiosa de superaçãodas suas dores, originadas, princi-palmente, das frustradas conquistasde melhoria existencial. Entre osgregos, a felicidade seria alcançadapela procura do bem supremo e da

O

“Ele disse: Bem-aventurados, antes, os que ouvem a palavra de Deus e a guardam.” (Lucas,11:28.)

CL A R A L I L A GO N Z A L E Z D E AR A Ú J O

A conquista da felicidadecomo obra de educação

22 Reformador • Março 2011100

Page 23: Ano 129 • Nº 2.184 • Março 2011

virtude. Sócrates (470-399 a.C.),“considerado o pai da ciência mo-ral, que a exemplificou em si mes-mo, em caráter apostolar”, tornou--se o “verdadeiro pioneiro das ideiascristãs e espíritas” e contribuiu paraconceituar a felicidade através do“seu legado ético [...] de relevantevalor moral e espiritual, rescenden-do o sutil aroma da sua filosofia devida”.3 Aristóteles (384-322 a.C.) fazda felicidade “a atividade da almadirigida pela virtude”.4 No séculoXVIII, Immanuel Kant (1724-1804)critica as correntes de pensamentoque sugerem a obtenção da felici-dade por meio dos sentidos ou quefazem dela um objeto da razãopura. Para o filósofo, “a felicidadeé sempre uma coisa agradável paraaquele que a possui”, mas deve con-siderar, “como condição, a condutamoral conforme a lei”.4 A felicidade,pois, tem sido aspiração de todos ospovos, através dos tempos, mesmoque o desapontamento de muitos,com relação a ela, tenha resultadoem pessimismo e desesperança,mormente na fase atual em que ohomem moderno experimenta vi-cissitudes jamais imaginadas, dei-xando-se envolver pelo imediatis-mo ditado, sobretudo, pelas paixõesdeprimentes e desordenadas comonovas “formas de amor” para seatingir a decantada satisfação deviver plenamente.

Essa importante questão tem sidocuidadosamente analisada pelosEspíritos superiores, tratando-sede problema a ser solucionado pelaeducação moral das massas huma-nas, sabedores de que o enigma da

felicidade é de natureza espiritual.

Em comentário da resposta à per-gunta 933, de O Livro dos Espíritos,Allan Kardec tece valiosos esclare-cimentos a esse respeito:

De ordinário, o homem só é in-

feliz pela importância que liga às

coisas deste mundo. Fazem-lhe a

infelicidade a vaidade, a ambição

e a cobiça desiludidas. [...]

Aquele que só vê felicidade na

satisfação do orgulho e dos ape-

tites grosseiros é infeliz, desde

que não os pode satisfazer, ao

passo que aquele que nada pede

ao supérfluo é feliz com o que os

outros consideram calamidades.

[...] Como civilizado, o homem

raciocina sobre a sua infelicidade

e a analisa. Por isso é que esta o

fere. Mas, também, lhe é facul-

tado raciocinar sobre os meios

de obter consolação e de analisá-

-los. Essa consolação ele a encon-

tra no sentimento cristão, que lhe

dá a esperança de melhor futuro,

e no Espiritismo que lhe dá a cer-

teza desse futuro.5

A Doutrina Espírita traça paranós um roteiro de vida capaz deproporcionar a felicidade almejada,ainda que venhamos a sofrer, deacordo com o nosso estágio evolu-tivo.A felicidade é resultante de mui-tas conquistas, conforme ressaltao autor espírita Juvanir Borges deSouza (1916-2010), entre elas:

A “fé no futuro”, a que se refe-

rem os Instrutores Espirituais

da Terceira Revelação, deixa de

ser apenas esperança vaga para

se tornar certeza plena adqui-

rida pelo conhecimento das

realidades eternas. [...] dando

ao adepto sincero segurança e

autoconfiança.6

Para termos otimismo, precisa-mos ter fé. “[...] Sem fé ninguémpode ser feliz. Sem fé e sem amornão há felicidade”.7

A felicidade, assim, depende dasqualidades conquistadas e não domeio material no qual os seres hu-manos se encontram. Esse alcance,entretanto, exigirá grande esfor-ço de nossa parte; sendo ela con-sequência de muitas vitórias deordem moral, é obra de autoedu-

cação e intensa luta será travadapara granjear a reforma íntimaque ansiamos.

Ao analisar as aflições humanas,Kardec adverte-nos quanto à ori-

gem dos males terrestres, reconhe-cendo que o homem, na maioriados casos, “é o causador de seuspróprios infortúnios; mas, emvez de reconhecê-lo, acha maissimples, menos humilhante paraa sua vaidade acusar a sorte, aProvidência, a má fortuna, a máestrela, ao passo que [...] é ape-nas a sua incúria”.8

Alerta-nos ele:

Interroguem friamente suas cons-

ciências todos os que são feridos

no coração pelas vicissitudes e

decepções da vida; remontem

passo a passo à origem dos males

que os torturam e verifiquem se,

as mais das vezes, não poderão

dizer: Se eu houvesse feito, ou dei-

xado de fazer tal coisa, não estaria

em semelhante condição.

23Março 2011 • Reformador 101

Page 24: Ano 129 • Nº 2.184 • Março 2011

24 Reformador • Março 2011 102

A quem, então, há de o homem

responsabilizar por todas essas

aflições, senão a si mesmo?

[...]8

Só seremos felizes quando com-preendermos o valor das oportu-nidades que nos chegam do Alto, acada reencarnação, sabendo apro-veitar as experiências necessáriasao nosso progresso intelectual emoral, por meio das ações mate-riais, cuja execução Deus nos con-fia. Quanto mais difícil a existência,maior será a satisfação de superar,com resignação e denodo, as provase as privações inúmeras que nosatingem. Geralmente, a felicidadesurge da própria dor e da satisfaçãode tê-la vencido. Sobre isso, sábio

conselho é transmitido pelos Espí-ritos reveladores:

Os males deste mundo estão

na razão das necessidades fac-

tícias que vos criais. A muitos

desenganos se poupa nesta vida

aquele que sabe restringir seus

desejos e olha sem inveja para

o que esteja acima de si. O que

menos necessidades tem, esse o

mais rico.9

E eles complementam:

[...] Quando um justo é infeliz,

isso representa uma prova que

lhe será levada em conta, se a su-

portar com coragem. Lembrai-

-vos destas palavras de Jesus:

Bem-aventurados os que sofrem,

pois que serão consolados.9

Saber e virtude serão adquiridosapós longo aprendizado na semen-teira do amor e da caridade. É im-prescindível a prática da fraternida-de, da bondade e da justiça para quesejamos cooperadores da obra edu-cativa do Espiritismo, tal como en-sinou Jesus, e fruiremos, paulatina-mente, de autêntica felicidade!

Referências:1KARDEC, Allan. O evangelho segundo o

espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 129. ed.

e 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap.

5, it. 20, p. 123.2XAVIER, Francisco C. O consolador. Pelo

Espírito Emmanuel. 28. ed. 3. reimp. Rio

de Janeiro: FEB, 2010. Q. 240.3FRANCO, Divaldo P. Estudos espíritas. Pelo

Espírito Joanna de Ângelis. 8. ed. 2. reimp.

Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 17, p. 130.4APIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo.

Dicionário básico de filosofia. 5. ed. Rio de

Janeiro: ZAHAR EDITORA, 2008. p. 104.5KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad.

Guillon Ribeiro. 91. ed. 2. reimp. Rio de

Janeiro: FEB, 2010. Nota de Kardec à ques-

tão 933, p. 485.6SOUZA, Juvanir Borges de. Tempo de

transição. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002.

Cap. 28, p. 233.7VINÍCIUS. Em torno do mestre. 9. ed. 1.

reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap.

“Felicidade”, p. 33.8KARDEC, Allan. O evangelho segundo o

espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 129. ed.

1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap.

5, it. 4, p. 108.9______. O livro dos espíritos. Trad. Guillon

Ribeiro. 91. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro:

FEB, 2010. Q. 926.

Page 25: Ano 129 • Nº 2.184 • Março 2011

o Afeganistão, um atenta-do destrói veículos e ceifaa vida de soldados e civis.

Em Israel, um homem-bomba des-pedaça seu corpo, levando consigopessoas que antes nunca vira. NoBrasil, o confronto entre a políciae facções de traficantes vitimacrianças, atingidas pela estupidezdas balas perdidas.

Como se não bastasse tamanhoquadro de violência, noticiários naTV falam de arrastões em condo-mínios residenciais.Câmeras de vigi-lância urbana filmam a vulgarizaçãodo crime, mostrando assassinatospor conta de motivos frívolos. Blogs

exibem atropelamentos nas viaspúblicas, seguidos pela tentativade linchamento de motoristas.

Assustados diante da situação,perguntamo-nos: Afinal, qual a ori-gem da violência? De onde surgeesse mal, que por vezes nos conso-me, ultrapassando limites e frontei-ras, desrespeitando idades, gêneros,etnias ou condição social?

Graças aos esclarecimentos dosEspíritos superiores, hoje sabemosque a violência existe porque sig-nificativa parcela da Humanidade– seja em sua porção visível ou invi-sível – ainda tem o coração tomado

por sentimentos inferiores, em quea animosidade e a agressividade seencontram em estado latente,aflorando ao defrontar o ultraje ea humilhação.

Diante do quadro que se nos afi-gura, é conveniente lembrar a men-sagem de Jesus: “Bem-aventuradosos que são brandos, porque possui-rão a Terra”.1 As palavras do Mestrenos exortam a cultivar a esperança,esclarecendo que, embora o mundode hoje esteja tomado por almas

que ainda se deixam levar porseus desatinos, no futuro, quandoa Terra se houver tornado ummundo regenerado, será habitadae conduzida por aqueles que con-seguiram sublimar seus instintos,transformando os ímpetos de vio-lência em efetivas ações pela paz epela harmonia.

Ante o providencial aviso, e en-quanto não se instala esse novotempo, é imprescindível viven-ciar a paz à nossa volta, evitandosomar ao ódio já existente aqueleque porventura ainda se encontreoculto em nosso âmago, apenas aespera de uma oportunidade parase revelar.

NL I C U RG O SOA R E S D E LAC E R DA F I L H O

Raízes da

violência

1KARDEC, Allan. O evangelho segundo o

espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 129. ed.1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap.9, it. 1.

25Março 2011 • Reformador 103 25

Page 26: Ano 129 • Nº 2.184 • Março 2011

egundo o dicionário,método(do grego,méthodos = “cami-nho para chegar a um fim”)

é procedimento, técnica ou meiode se fazer alguma coisa, de acordocom um plano previamente defi-nido. É também considerado pro-cesso organizado, lógico e siste-mático de pesquisa, instrução ouinvestigação.1 Para a Filosofia é omodo de obter conhecimento, en-quanto para a Ciência significaorientação ou técnica particular depesquisa.2 Metodologia é o con-junto de métodos, regras, ou etapasque integram um processo, pesqui-sa, estudo ou investigação. Comodisciplina acadêmica, a metodo-logia é “ramo da Lógica que seocupa dos métodos das diferentesciências”.1 O objetivo da metodo-logia, enquanto disciplina escolar,é analisar conceitos, ideias e carac-terísticas dos diferentes métodos,comparando criticamente os seusdiversos enfoques.3

A metodologia filosófica é essen-cialmente dialética e se fundamentana experiência. Em sentido amplo,

dialética é a arte de discutir, de argu-mentar. Pelos métodos filosóficosaprendemos a desenvolver a artede argumentar e de indagar o que,

o como e o por quê das coisas. Osmétodos filosóficos focalizam o es-tudo dos problemas fundamentaisrelacionados à existência, ao conhe-cimento, aos valores morais, à ver-dade, à ética, à estética, à mente eà linguagem. O grande mestre daargumentação dialética foi Sócrates,cujo método foi utilizado por AllanKardec em suas relações com osEspíritos da Codificação.

A metodologia científica abrangeo conjunto de métodos racionais,usados para investigar fatos e fenô-menos da Natureza, úteis à observa-ção empírica e à formulação de leiscientíficas. Basicamente, os métodoscientíficos são de três tipos: a) dedu-tivo = raciocínio lógico que partedo geral (da causa) para se chegarao particular (efeito); b) indutivo =

raciocínio que considera questõesparticulares para se chegar a conclu-sões gerais, ou pelos efeitos conheceras causas; c) hipotético-dedutivo =

consiste na formulação de hipótesesque devem ser testadas, a fim delhes garantir validade.

A metodologia educacional (maisespecificamente, de ensino) é, talvez,a mais complexa de todas, umavez que a educação é conceituadacomo arte, ciência e processo. As-sim, vários métodos são utilizadospara equacionar aspectos decisi-vos do ensino-aprendizagem e dasrelações que ocorrem entre pro-fessor–aluno e aluno–aluno.

A prática educativa atual tem serevelado especialmente desafiantequando se consideram as deman-das impostas pela nova geração deEspíritos que estão renascendo noPlaneta. A reforma educacional,ora em curso, desconsidera inú-meros aspectos da educação tra-dicional e requisita melhor quali-ficação dos educadores.

A prática educativa familiar eescolar do passado “eram lugaresonde as crianças deveriam ouvir ecalar. [...] Acreditava-se que, apren-dendo a ouvir, a criança estavapronta para obedecer e isso já era

S

Em dia com o Espiritismo

MA RTA AN T U N E S MO U R A

Método emetodologia

26 Reformador • Março 2011 104

Page 27: Ano 129 • Nº 2.184 • Março 2011

o bastante”.4 Na escola, o ensino eracentrado na cognição e na figurado professor, dando-se ênfase aosextensos conteúdos que deveriamser decorados (memorizados), nun-ca reflexionados ou debatidos pelosalunos. Eram ministrados dentrode um sistema fechado, rígido, ca-racterizado pela adoção de medidasdisciplinares com o lema “seguiras regras”. Neste cenário, o alunonão podia expressarcriatividade, opinião,ou, mesmo, dúvidas,mas apenas executarprescrições fixadaspor autoridades su-periores (professo-res). Era, portanto,um modelo fadadoao insucesso.

Com o progresso,surgiram reações con-trárias à forma tra-dicional de ensinar,algumas radicais equestionáveis. Gene-ricamente, porém,tais reações se reve-laram positivas, so-bretudo com as con-tribuições da psi-copedagogia, as deHoward Gardner (inteligênciasmúltiplas) e as da UNESCO, Re-latório Delors (Os Quatro Pilares

da Educação).A metodologia educacional espí-

rita, evidenciada por Allan Kardec,revela uma riqueza sem precedente,infelizmente nem sempre conhe-cida ou bem utilizada pelos espíritasem suas práticas de ensino na CasaEspírita. A metodologia kardequiana

de educação encontra-se resumidaem seis princípios, em seguida re-lacionados, os quais, por sua vez,estão fundamentados nas 12 orien-tações de Johann Heinrich Pesta-lozzi (1746-1827) que, merecida-mente, foi cognominado “O Educa-dor da Humanidade”.

Princípios Orientadores doEnsino, por Allan Kardec:

1o – Cultivar o espírito natural

de observação das crianças, di-

rigindo-lhes a atenção para os

objetos que as cercam.

2o – Cultivar a inteligência, ob-

servando um comportamento

que habilite o aluno a descobrir

por si mesmo as regras.

3o – Proceder sempre do conhe-

cido para o desconhecido, do

simples para o composto.

4o – Evitar toda atitude mecâni-

ca (mécanisme), levando o alu-

no a conhecer o fim e a razão de

tudo o que faz.

5o – Conduzi-lo a apalpar com

os dedos e com os olhos todas

as verdades. Este princípio for-

ma, de algum modo, a base ma-

terial deste curso de aritmética.

6o – Só confiar à memória aqui-

lo que já tenha sido apreendido

pela inteligência.5

São regras sim-ples, de fácil execu-ção, admiráveis pelaatualidade das ideiase que podem, per-feitamente, definir oplano pedagógico dequalquer curso re-gular de Espiritismopara crianças, jovense adultos. A práticados princípios orien-

tadores do ensino na

Casa Espírita nãoexige, a rigor, que apessoa que ensinaEspiritismo seja es-pecialista em educa-ção. É desejável queela tenha bom co-

nhecimento doutrinário, bomsenso e certo grau de maturidadeespiritual.

A prática educativa ensinada epraticada por Kardec demonstraexcepcional habilidade de associarmétodos filosóficos e científicos aprocessos intuitivos, sem jamaisdesconsiderar os valores morais.Para Kardec não era suficiente aoeducando adquirir conhecimento,

27Março 2011 • Reformador 105

Johann Heinrich Pestalozzi, cognominado “O Educador da Humanidade”

Page 28: Ano 129 • Nº 2.184 • Março 2011

era preciso que ele se transfor-masse em pessoa de bem. E, porentender que o educando é um serinserido na dimensão do antes, du-

rante e após a encarnação, o Codi-ficador percebe, de imediato, quea metodologia educacional devepriorizar as conquistas do Espíritoimortal, sem prejuízo de certas im-posições reencarnatórias (forma-ção profissional, por exemplo).Daí os seus métodos educacionaisenglobarem instruções cognitivase, necessariamente, consideraçõesde ordem social e moral, permi-tindo ao educando melhor utilizaro seu livre-arbítrio e saber fazerescolhas mais sensatas, determi-nantes do seu estado de felicidadeou infelicidade.

Allan Kardec se entregou às ob-

servações perseverantes sobre

os fenômenos e se dedicou prin-

cipalmente a deduzir deles as

consequências filosóficas. Neles

entreviu antes de tudo o princí-

pio de novas leis naturais: aquelas

que regem as relações do mun-

do visível e do mundo invisível;

reconheceu na ação deste últi-

mo uma das forças da Natureza,

e seu conhecimento deveria

lançar luz sobre uma multidão

de problemas reputados insolú-

veis, e compreendeu o alcance

disso do ponto de vista científi-

co, social e religioso.6

A prática educacional espíritadestaca, em suma, a urgente necessi-dade de moralização do ser huma-no, que, conforme Kardec,“consistena arte de formar os caracteres”.7

Referências:1HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de S.

Dicionário Houaiss da língua portuguesa.

Rio de Janeiro: Objetiva, 2009. p. 1284.2ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filo-

sofia. Trad. Alfredo Bosi e Ivone Castilho

Benedetti. 4. ed. São Paulo: Martins Fon-

tes, 2000. p. 668.3METODOLOGIA. Disponível em: <http://pt.

wikipedia.org/wiki/Metodologia>. Acesso em:

29/12/2010.4ANTUNES, Celso. Como desenvolver compe-

tências em sala de aula. Petrópolis, RJ: Edi-

tora Vozes, 2001. Fascículo 8, cap. 5, p. 24.

5WANTUIL, Zêus; THIESEN, Francisco. Allan

Kardec: o educador e o codificador. 3. ed.

Rio de Janeiro: FEB, 2007. V. 1, cap. 16, p.

107.6LACHÂTRE, Maurice. Em torno de Rivail.

Diversos autores. Bragança Paulista, SP:

Lachâtre, 2004. It. Allan Kardec (Hippolyte-

-Léon-Denizard Rivail) – texto traduzido

por José Antonio Carvalho, extraído da

obra Noveau dictionnaire universel. Paris,

1867, p. 306.7KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.

Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio

de Janeiro: FEB, 2010. Comentário de

Kardec à q. 685a, p. 433.

I. A intuição é o fundamento da instrução.II. A linguagem deve estar ligada à intuição.III. A época de ensinar não é a de julgar e criticar.IV. Em cada matéria, o ensino deve começar pelos elementos mais

simples, e daí continuar gradualmente de acordo com odesenvolvimento da criança, isto é, por séries psicologica-mente encadeadas.

V. Deve-se insistir bastante tempo em cada ponto da lição, a fimde que a criança adquira sobre ela o completo domínio e alivre disposição.

VI. O ensino deve seguir a via do desenvolvimento e jamais a daexposição dogmática.

VII. A individualidade do aluno deve ser sagrada para o educador.VIII. O principal fim do ensino elementar não é sobrecarregar a

criança de conhecimentos e talentos, mas desenvolver e inten-sificar as forças de sua inteligência.

IX. Ao saber é preciso aliar a ação; aos conhecimentos, o savoir-faire [saber fazer].

X. As relações entre mestre e aluno, sobretudo no que concerneà disciplina, devem ser fundadas no amor e por ele governadas.

XI. A instrução deve constituir o escopo superior da educação.

1WANTUIL, Zêus; THIESEN, Francisco. Allan Kardec: o educador e o codificador.3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. V. 1, cap. 15, p. 105-106.

Esboço do Sistema Pestalozziano1

28 Reformador • Março 2011 106

Page 29: Ano 129 • Nº 2.184 • Março 2011

visão de futuro que a Espi-ritualidade tem reveladogradativamente aos homens

da Terra é de longo alcance. Pode-mos observar essa amplitude quan-do estudamos atentamente os pre-ciosos conteúdos disponibilizadosnas obras A Caminho da Luz e Bra-

sil, Coração do Mundo, Pátria do

Evangelho, ambas recebidas pelocândido Chico Xavier e ditadaspelos Espíritos Emmanuele Humberto de Campos,respectivamente, ainda nofinal da década de 1930.

Em páginas instrutivase consoladoras, a explicaçãodidática e reveladora dosautores espirituais, publica-das pela editora da Federa-ção Espírita Brasileira, repre-senta verdadeiro roteiro,que nos enseja relativa se-renidade, quando conjun-turas políticas, sociais e es-pirituais de difíceis soluçõesmostram-se, com veemência,aos nossos olhos.

A Caminho da Luz é uma síntesehistórica da evolução da Humani-dade, enquanto Brasil, Coração do

Mundo, Pátria do Evangelho apre-senta a missão espiritual destinadaao nosso país. Os dois livros deixamtransparecer a assistência espiritualem todos os momentos decisivos

da jornada evolutiva, demonstrandoque o Cristo de Deus conduz, comindiscutível competência, o lemeda embarcação terrestre.

É preciso perseverar no caminho,com segurança e determinação,convictos de que não estamos sósnessa longa jornada. A orientaçãoespiritual nunca falta, e sempretemos sido estimulados com men-

sagens que traçam estratégias ade-quadas ao comportamento ético emoral que deve pautar nossa vida,na condição de Espíritos encarna-dos em rumo ascensional gradativo,mas constante.

Assim, temos recebido anual-mente,no encerramento da ReuniãoOrdinária do Conselho Federativo

Nacional, a presença consoladorado Benfeitor Bezerra de Menezes,coordenador espiritual das açõesdo Movimento Espírita brasileiro.

Para verificarmos a relevantecontribuição desse apoio superior,relacionamos a seguir o ano, o títuloe breve descrição do conteúdo dasmensagens ditadas por Bezerra deMenezes a Divaldo Franco, na

última década, no encerra-mento do CFN, no 4o Con-gresso Espírita Mundialem Paris (2004) e no 3o

Congresso Espírita Brasi-leiro (2010):

2001 – Fidelidade a Jesus ea Kardec

Fidelidade a Jesus e a Allan Kar-

dec é a proposta de sempre

nestes 144 anos de divulgação

da abençoada Doutrina Espírita.

Fiéis aos postulados da Codifica-

ção, demos direito aos outros de

se movimentarem nos níveis de

consciência em que se encon-

tram sem nos perturbarmos com

qualquer expressão aguerrida de

combate ou de destruição.

O Senhor não deseja a morte do

pecador, mas o desaparecimento

do pecado. Vós – como nós ou-

tros – que amais a Jesus, esculpi-o

em vosso Espírito, avançando

AGE R A L D O CA M P E T T I SO B R I N H O

Diretrizes espirituais

29Março 2011 • Reformador 107

Page 30: Ano 129 • Nº 2.184 • Março 2011

com segurança para os dias

de amanhã e apreendendo com

as experiências do cotidiano a não

repetir equívocos, e quando esses

ocorram, a vos levantardes se-

guindo confiantes porque se o

hoje é o nosso dia, amanhã é

o momento da nossa paz.

2002 – Compromisso com a FéEspírita

[...] Aprendemos com Jesus, que

muitas vezes é necessário perder

em determinado momento para

poder estar em paz a partir daí e

de triunfar na glória desenhada

pela verdade. A nossa preocupa-

ção de mudar o mundo não pode

abandonar o compromisso da

nossa mudança interior. O nosso

compromisso com a fé espírita

é de urgência e todos os esforços

devem ser envidados para conse-

guirmos esta meta.

2003 – Brilhe a vossa luz

Mantende o espírito de paz, pre-

servando os objetivos abraçados

e, caso necessário selar vosso

compromisso com testemunho,

não titubeeis.

Cristo ou Mamon? É fácil eleger

aquele que deu a sua pela nossa

vida, ensinando-nos mansuetude,

retidão e paz.

Meus filhos, é necessário que os

atos confirmem as palavras e

que o Espírito do Cristo, habi-

tando em nós, seja a nossa res-

posta aos desafios do momento,

trabalhando em favor do meio-

-dia da madrugada que começa.

2004 – Jesus, Sol de primeira gran-deza (4o Congresso Espírita Mun-dial, Paris)

Espíritas do mundo, aqui reuni-

dos: tende como templo o Uni-

verso, como nos disse Léon

Denis, o Apóstolo do Espiritismo

francês, mas conduzi Jesus em

vossos corações, em vossas pala-

vras, em vossos atos.

Semeai a claridade inapagável da

Doutrina Espírita onde fordes.

2004 – Prosseguimento na luta

Não podemos negar que este é o

grande momento de transição do

Mundo de Provas e de Expiações

para o Mundo de Regeneração.

Trava-se em todos os segmentos

da sociedade, nos mais diferen-

ciados níveis do comportamento

físico, mental e emocional, a

grande batalha.

O Espiritismo veio para estes

momentos, oferecendo os no-

bres instrumentos do amor, da

concórdia, do perdão e da com-

paixão.

Iluminou o conhecimento ter-

restre com as diretrizes próprias

para o encaminhamento seguro

na direção da verdade.

2005 – O Sal da Terra

Vivemos o momento da reno-

vação social prevista pelo emé-

rito Codificador, como sendo a

etapa última que o Espiritismo

vivenciaria na Terra, inaugurando

o Mundo de Regeneração.

[...]

A vós, que sois o sal da Terra,

cabe a tarefa de desenvolver este

postulado doutrinário de reno-

vação do mundo, iniciando essa

renovação em vós próprios, tra-

balhando os metais do mundo

íntimo para que se tornem ma-

leáveis ao amor e nele insculpam

a promessa de Jesus de que a feli-

cidade, não sendo deste mundo,

pode ser alcançada através dele.

2006 – Vivência do Amor

Embora pareça que a sociedade

marcha para o caos, o Grande

Nauta conduz com segurança a

barca da Terra e sabe que esses

acidentes na lei do progresso

não conseguem impedir o desen-

volvimento intelecto-moral das

suas criaturas.

Iluminai as vossas consciências,

portanto, e amai até sentirdes

plenamente a presença do Amor

não amado...

2007 – O Médio-dia da Era Nova(Reunião Extraordinária do CFN,12 de abril)

No momento da grande transi-

ção por que passa o planeta ter-

restre, marchando para mundo

de regeneração, a palavra de Jesus

restaurada pelos Espíritos imor-

tais alcança as mentes e os co-

rações, inaugurando o período

da legítima fraternidade entre

as criaturas.

[...]

A luta prossegue sem quartel,

convidando os discípulos fiéis

do Mestre incomparável à vigi-

30 Reformador • Março 2011 108

Page 31: Ano 129 • Nº 2.184 • Março 2011

lância, à ação, ao devotamento

integral à causa da verdade.

2007 – Sem adiamentos

Os desafios que se multiplicam

constituem a grande prova atra-

vés da qual nos recuperamos dos

delitos graves contra nós mesmos,

o nosso próximo, a sociedade,

quando pervertemos a mensagem

de amor inspirados pelos inte-

resses vis a que nos afeiçoávamos.

Agora é o grande instante da

decisão. Não há mais lugar para

titubeios, para postergarmos a

realização do ideal.

2008 – Construtores do amanhã

Permanecei devotados, esquecei

as diferenças e recordai-vos da

identidade dos conceitos, dei-

xando à margem os espículos,

os desvios de opinião, para, uni-

dos, pensarmos juntos, na cons-

trução do amor por definitivo

em nosso amado planeta.

Vossos guias espirituais assistem-

-vos e Ismael, em nome de Jesus,

guia-vos.

2009 – Era Nova de divulgação doReino de Deus

Os Espíritos, encarregados de

dirigir a nacionalidade brasi-

leira, acompanham o momento

político e social da Pátria do

Evangelho e Jesus está no leme

da barca terrestre. Não duvideis,

mesmo quando tudo parece

conspirar contra a ordem, a lega-

lidade, o dever. As Vozes dos Céus

proclamam a Ordem Superior

e mandam que desçam, às som-

bras terrestres, os Emissários

da Verdade para a grande res-

tauração.

Sois os abridores dos caminhos

do porvir, como outros o fize-

ram para vós.

2010 – Momento da gloriosa transi-ção (3o Congresso Espírita Brasileiro)

...Estamos agora em um novo

período.

Estes dias assinalam uma data

muito especial, a data da mudança

do mundo de provas e expiações

para mundo de regeneração.

A grande noite que se abatia so-

bre a Terra lentamente deu lugar

ao amanhecer de bênçãos.

Retroceder não mais é possível.

2010 – Rumos para o Futuro

São estes os momentos graves

definidores de rumos para o

futuro. Não é mais possível retro-

ceder! O que está planejado pelo

Senhor e em plena execução

seguirá o seu processo de mate-

rialização na Terra.

No entanto, é necessário pru-

dência. Que o entusiasmo não se

faça exagerado diante das con-

quistas logradas. O êxito de qual-

quer empreendimento somente

pode ser considerado após con-

cluído. E, enquanto estamos na

sua execução, rondam-nos peri-

gos, ameaças e armadilhas.

Viveis o momento significativo

que precede a madrugada da

Era Nova.

A leitura sobre o valioso conteúdoapresentado nos extratos das mensa-gens desperta-nos algumas reflexões:

• a esperança em dias melhores e asegurança do comando de Jesus;

• o compromisso com a fideli-dade e a divulgação espírita;

• a vivência dos postuladosdoutrinários;

• a participação no processo desa-fiador da transição planetária; e

• a inadiável necessidade de re-novação íntima e testemunhopessoal.

São oportunas diretrizes espiri-tuais...

Cumpre-nos fazer a nossa parte,com dedicação e zelo, conscientizan-do-nos de que Jesus e Ismael confiamno desempenho individual e cole-tivo para a definitiva implantação doReino de Deus no coração de cadaum de nós e, por consequência, naabençoada embarcação terrestre quenos conduzirá a um futuro feliz.

Referências:

XAVIER, Francisco C. Brasil, coração do

mundo, pátria do evangelho. Pelo Espírito

Humberto de Campos. 33. ed. 2. reimp.

Rio de Janeiro: FEB, 2010.

______. A caminho da luz. Pelo Espírito

Emmanuel. 37. ed. 3. reimp. Rio de Janeiro:

FEB, 2010.

Reformador: dez. 2001, p. 10(360)-11(361);

dez. 2002, p. 8(358)-9(359); dez. 2003,

8(446)-9(447); dez. 2004, 17(455); jan. 2005,

p. 8(10)-9(11); dez. 2005, 8(446)-9(447);

dez. 2006, p. 8(446)-9(447); jun. 2007,

p. 8(214)-9(215); jan. 2008, 8(6)-9(7);

jan. 2009, 8(6)-9(7); jan. 2010, 8(6)-9(7);

jun. 2010, 8(222); jan. 2011, p. 8(6)-9(7).

31Março 2011 • Reformador 109

Page 32: Ano 129 • Nº 2.184 • Março 2011

Samuel Nunes Magalhães, operoso e rica-mente qualificado trabalhador do MovimentoEspírita brasileiro, devemos uma obra de

pesquisa de que sempre careceu a literatura do Espi-ritismo: apresentar, na devida luz, o vulto de CharlesRichet, sobre quem justa-mente a difícil disponibilidadede dados biobibliográficos, asso-ciada à exclusiva divulgaçãode algumas de suas hesitaçõesdiante das verdades espíritas,contribuiu para a formaçãode um juízo ligeiro, injustomesmo, a respeito do grandecientista.

Em seu livro Charles Richet:o Apóstolo da Ciência e o Espi-ritismo, editado pela FederaçãoEspírita Brasileira (FEB), 2a

edição de 2007, o autor o apre-senta inteiro, em todo o ful-gor de um intelecto brilhantefecundado pelos mais belossentimentos que ornam os ca-racteres bem formados, assimensejando ao adepto estudio-so haurir naquela vida, riquíssima de experiênciasnobres, os melhores estímulos ao crescimento in-telecto-moral.

Mas, se poucos, em nossos círculos, algo sabiamsobre Richet, certamente se contam a dedo os que

o conheciam como esperantista entusiasmado,fervoroso, ativo.

Samuel Nunes Magalhães, ante o brilho dessafaceta do criador da Metapsíquica, dedica todo umcapítulo de sua obra (Primeira parte, cap. VI) a con-

siderações sobre a Língua In-ternacional Neutra, argumen-tando, ele próprio, com base eclareza, sobre as virtudes e ex-celências do idioma, sua ori-gem, seu criador, sua genial esimples estrutura gramatical,bem como sobre o fato de quesó ele pode desempenhar, emplenitude, o papel de instru-mento linguístico para a comu-nicação internacional.

E, como bom e conscienteespírita, evidencia o apreçodedicado pelos nobres Espíri-tos que dirigem o Movimen-to Espírita brasileiro ao espe-ranto, dentre os quais avultaa veneranda personalidadede Emmanuel, de quem citatrechos significativos da fa-

mosa mensagem “A Missão do Esperanto”, ditadaao Chico Xavier em janeiro de 1940, publicada emReformador de fevereiro do mesmo ano.

Prestando um excelente serviço ao MovimentoEsperantista, o autor recupera, dando-lhes longa

Charles Richet eo esperanto

A

32 Reformador • Março 2011 110

A FEB e o Esperanto

AF F O N S O SOA R E S

Page 33: Ano 129 • Nº 2.184 • Março 2011

vida, substanciosos textos de Richet a respeito doidioma.

Neste citado capítulo VI, item “Richet, Emmanuele o Esperanto” é apresentada, em admirável sínte-se, a visão grandiosa de Richet sobre o esperanto:

O Esperanto é um idioma preciso como o francês;

harmonioso, como o italiano; capaz, como o grego.

Senhores, tende o valor de não cerrar os olhos

diante da luz e tereis o espírito científico. Pois bem,

é a primeira vez que uma língua científica, interna-

cional, existe no mundo. Não deixeis obscurecer-se

vosso pensamento por temer a inovação, essa atitu-

de é inimiga de todo o progresso. Animai-vos a dar

esse grandioso passo à frente. Em poucos dias, se o

quiserdes, vos convertereis, vós mesmos, em após-

tolos do Esperanto. O advento de uma língua inter-

nacional acessível a todos os homens será, desde a

destruição da Torre de Babel, o maior aconteci-

mento da História, fértil de bens imensuráveis.

O progresso está diante de vós e não atrás. Tende a

coragem de compreender o porvir. (p. 100-101.)

E, no capítulo VIII da segunda parte, Samueltranscreve, em tradução, um longo texto, intitulado“Em defesa do Esperanto”, extraído da obra L´âge

d´or et l´âge de l´or (A idade de ouro e a idade do ou-

ro), texto em que Richet argumenta de modo irrefu-tável em favor da adoção generalizada do esperantocomo segunda língua de todos os povos, a única quereúne todas as condições para cumprir a função deinstrumento internacional de comunicação.

É com trechos dessa monumental peça de Richetque finalizaremos nosso artiguete:

Quando se fala de uma língua internacional, uni-

versal e única, do Esperanto, a gente séria se dana

toda – estou empregando a gíria moderna para fi-

car no nível deles – e fazem uma objeção formi-

dável: Ah! Ah! O Esperanto!

Aí fica toda a força de sua argumentação.

Em vão se lhes diz que é uma língua simples, fle-

xível, fácil de aprender-se e mais fácil ainda de

compreender-se.

— Ah! Ah! O Esperanto!

Uma língua que todas as pessoas cultas e incultas,

da Europa, poderiam compreender, ler, falar, es-

crever, após três meses de estudo.

— Ah! Ah! O Esperanto! – E nada melhor sabem

dizer. (p. 293-294.)

[...]

E que é preciso para que essa suposta quimera se

torne realidade?

Primeiramente é preciso uma propaganda pes-

soal ativa, endiabrada. Essa propaganda será di-

vertida, será, sob zombarias, um dos apostolados

que torna a vida digna de ser vivida. Para os ho-

mens fortes é uma alegria ser remoque de idiotas.

(p. 297.)

[...]

Certamente, num futuro talvez próximo, haverá

uma língua auxiliar internacional. Conquanto o

Esperanto, que foi edificado pelo gênio de Zame-

nhof, seja admiravelmente constituído, pode

ocorrer que outro homem de gênio crie outra lín-

gua mais perfeita. Isso pouco importa, haverá

uma língua universal, fácil, justaposta às belas

línguas maternas. (p. 300.)

Prezado leitor, aproveite o belo ensejo que lheproporciona a FEB Editora, com o publicar obratão profunda, de tão largo alcance. Não deixe deler Charles Richet: o Apóstolo da Ciência e o Espi-ritismo, seja para enriquecer ainda mais seus conhe-cimentos no campo das ciências psíquicas, sejapara reflexionar a respeito da necessidade de umalíngua verdadeiramente internacional que, comoo afirmou Emmanuel em sua mensagem “A Missãodo Esperanto”

[...] não vem destruir as línguas utilizadas no

mundo, para o intercâmbio dos pensamentos. A

sua missão é superior, é da união e da fraternida-

de rumo à unidade universalista. Seus princípios

são os de concórdia e seus apóstolos são igual-

mente companheiros de quantos se sacrificam

pelo ideal divino da solidariedade humana, nes-

sas ou naquelas circunstâncias.

33Março 2011 • Reformador 111

Page 34: Ano 129 • Nº 2.184 • Março 2011

epopeia da vida do mensa-geiro do Cristianismo, Fran-cisco de Assis, foi um mar-

co para a história da Humanidadee, especificamente, para a religião.Emmanuel destaca o fato em A

Caminho da Luz:

[...] um dos maiores apóstolos

de Jesus desceu à carne com o

nome de Francisco de Assis.1

Ao visitarmos – no intervalo decompromissos doutrinários na Itá-lia –, a histórica Assis, terra natal esede das ações do nobre vulto, lem-bramos do citado autor espiritual:

“[...] Seu grande e lumi-noso espírito res-

plandeceu pró-ximo de Roma,

nas regiões da Úmbria desolada”,1 esentimos o impacto de sua roma-gem inovadora e da bela paisagemlocal. É cativante a beleza da regiãomontanhosa do Eremo delle Carceri,

onde se localiza a gruta de suas me-ditações e o local de alguns de seusêxtases, visões e inspirações juntoaos companheiros. Esse esplendorda Natureza é exaltado tambémna poesia do “Cântico das Criatu-ras” (ou “Cântico do Irmão Sol”).2

A simplicidade do primeiro tem-plo, reerguido por Francisco eseus amigos, contrasta com os ou-tros, erigidos a posteriori para ho-menagear o missionário e seus

seguidores, evidenciando-se afalta de sintonia com a exem-

plificação e a mensagem deFrancisco de Assis.

A propósito, anotouEmmanuel:

[...] A Igreja [...] não

entendeu que a lição

lhe dizia respeito

e, ainda uma vez, não aceitou as

dádivas de Jesus.1

O esforço poderoso do missio-

nário, todavia, se não conseguiu

mudar a torrente de ambições

dos papas romanos, deixou tra-

ços fulgurantes da sua passa-

gem pelo planeta.3

Entendemos que deve vibrarmais intensamente na acústica denossas almas os exemplos do grandevulto da Idade Média. Entre os “tra-ços fulgurantes” de sua ação, desta-camos: renúncia, simplicidade, co-ragem, determinação, persistência,disciplina, dedicação ao próximo,exemplificação do amor, fidelidadeao Cristo, divulgação da mensagemevangélica sem polemizar, com ên-fase no consolo e no esclarecimento,busca contínua de intercâmbio como mundo espiritual para inspiração,exemplificações e até curas. O jácitado autor espiritual faz umaoportuna consideração:

[...] Sua atividade reformista veri-

ficou-se sem os atritos próprios

da palavra, porque o seu sacer-

dócio foi o exemplo na

pobreza e na mais abso-

luta humildade.[...]1

AA N TO N I O CE S A R PE R R I D E CA RVA L H O

A simplicidade de

Francisco de Assis

34 Reformador • Março 2011112

Page 35: Ano 129 • Nº 2.184 • Março 2011

Num repositório tão abran-gente e profundo de lições de Espi-ritualidade, entendemos que, salvomelhor juízo, as linhas mestrasda missão de Francisco de Assispodem ser adequadas como ins-piradoras para o cenário daatualidade.

Dentro do contexto atual de-vem ser renovadas as oportuni-dades para profundas reflexõessobre os dois milênios de traje-tória do Cristianismo. A avalia-ção sobre alguns enganos come-tidos ao longo desse tempo é in-dispensável, mas sem ideias derecriminações, procurando-se acompreensão dos fatos nos cená-rios da época, mesmo porquenão é adequada qualquer ideiade julgamento do passado, abs-traindo-se dos contextos pretéri-tos, e se utilizando apenas de pa-râmetros do conhecimento daatualidade.

Em plena Idade Média e noauge das Cruzadas, Francisco deAssis precisava provocar impactode fortíssima intensidade para es-timular algumas correções de ru-mos, sem dúvida, de retorno à sim-plicidade e de reacender a chamado Cristianismo primitivo. Ultra-passados os tempos e as situaçõesem que o missionário procurouinterferir, evitar ou amenizarmaiores desatinos, ainda perma-necem vivas suas exemplifica-ções marcantes.

Na obra que analisa o processocivilizatório de nosso orbe sob aótica espiritual, Emmanuel refere--se aos reflexos da missão de Fran-cisco de Assis:

Seu exemplo de simplicidade e

de amor, de singeleza e de fé,

contagiou numerosas criaturas,

que se entregaram ao santo mis-

ter de regenerar almas para Jesus.3

Na atualidade, vivenciamos umanova oportunidade para se reacen-der a mensagem do Cristo:

[...] o Consolador, que é o Santo

Espírito, que meu Pai enviará em

meu nome, vos ensinará todas

as coisas e vos fará recordar tudo

o que vos tenho dito.4

Como depositários da mensagemda Doutrina Espírita compete-nosa concretização do delineamentoda “Missão dos Espíritas”:

Ide, pois, e levai a palavra divina:

aos grandes que a despreza-

rão, aos eruditos que exigirão

provas, aos pequenos e simples

que a aceitarão [...].5

Entendemos que a adequaçãoaos momentos atuais dos exem-plos de vivência da paz, do bem eda simplicidade devem inspirar

as realizações do Movimento Espí-rita, até mesmo nas possibilidadespara a revisão de algumas estra-tégias, posturas, e para ampliar o acolhimento dos simples.6 Ésugestivo o encerramento do“Cântico das Criaturas”: “Louvaie bendizei a meu Senhor, eagradecei e servi-o com grandehumildade”.2

Referências:1XAVIER, Francisco C. A caminho da luz.

Pelo Espírito Emmanuel. 37. ed. 3. reimp.

Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 18, it.

Francisco de Assis, p. 190-191.2Cântico das Criaturas. Disponível em:

<http://www.fratefrancesco.org/escr/canti

co/port.htm>. Acesso em: 27/12/2010.3XAVIER, Francisco C. A caminho da luz.

Pelo Espírito Emmanuel. 37. ed. 3. reimp.

Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 18, it. Os

franciscanos, p. 191.4JOÃO, 14:26.5KARDEC, Allan. O evangelho segundo o

espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezer-

ra. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010.

Cap. 20, it. 4, p. 387.6CARVALHO, Antonio Cesar Perri de. Acolhi-

mento dos simples. In: Reformador, ano

129, n. 2.183, p. 22(60)-24(62), fev. 2011.

35Março 2011 • Reformador 113

Eremo delle Carceri, gruta onde realizava suas meditações

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Page 36: Ano 129 • Nº 2.184 • Março 2011

crescente número de espí-ritas que se espalha pelomundo é, sem dúvida al-

guma, motivo de alegria e entu-siasmo para muitos seguidores eestudiosos do Espiritismo.

Entretanto, ao destacar comoverdadeiro espírita aquele que aisto anseia, Allan Kardec eviden-cia um único ingrediente, mas deinquestionável e comprovada efi-cácia: o emprego de esforços no

domínio das inclinações más. E aísurgem questionamentos: quaisesforços? Como?

O fato de nos autocognominar-mos espíritas por si só já exigeum prerrequisito: conhecer o Espi-ritismo. Mas esse conhecimentonão deve ser equivalente àquelaformal apresentação entre pes-soas desconhecidas, que as regrassociais sugerem: um aperto demão, um sorriso, troca de olha-res, poucas palavras e pronto. Afim de se conhecer o Espiritismo,faz-se mister ir muito além deuma leitura superficial das obras

básicas ou marcar presença roti-neira nas casas espíritas.

Recomenda-nos o Codifica-dor, de forma profunda e mar-cante: bem compreender e bem

sentir o Espiritismo, para que noscapacitemos a assimilar e prati-car a moral do Cristo, viga mes-tra do grande edifício da fé ina-balável e esclarecida.

Para tanto, é necessário desper-tarmos desse sono, dessa preguiça

mental, dessa comodidade de me-ros espectadores e ouvintes das li-ções evangélicas e dos fenômenosespíritas; é preciso sairmos do ostra-cismo de ser apenas presenças físi-cas nas reuniões mediúnicas, inde-pendentemente de acreditarmosnos fenômenos que lá ocorrem; épreciso superarmos o estudo super-ficial e repetitivo, ano após ano,pois a clareza e a simplicidade dafabulosa estrutura didático-peda-

OMA R L E N E MA R I A GO I A B E I R A RO S A

“Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços queemprega para domar suas inclinações más.” 1

Reconhece-se o

verdadeiro espírita

36 Reformador • Março 2011114

Page 37: Ano 129 • Nº 2.184 • Março 2011

gógica organizada por Allan Kardec– na qual está assentada a Doutri-na Espírita –, estão ao alcance detodas as inteligências humanas,perfeitamente aptas a apreender oefeito moral das lições do Cristo,à luz do Espiritismo. Este é o gran-de incentivo de Kardec àquelesque desejam dar um salto de qua-lidade em suas vidas.

Todavia, para isso, é essencial“[...] um certo grau de sensibili-dade, a que se pode chamar ma-

turidade do senso moral”.1 O espí-rita, letrado ou não, desde queesteja em plena fase do desabro-char íntimo da sensibilidade, algodiretamente ligado ao gradativodesprendimento da matéria econsequente valorização do espí-rito, percebe que o seu tempo derenovação interior é chegado, poiscomeça a adentrar, consciente econvictamente, nos campos infi-nitos da percepção dos valoresespirituais.

Então, seu convencimento o fazvibrar de satisfação ao constatarque “há, para todas as coisas umtempo determinado por Deus”.2

Assim, o seu tempo de assumir umaboa conduta, de distinguir entre obem e o mal, sempre com obser-vação da Lei de Deus, chegou.

Precisamente nessa fase, em queo espírita se encontra consigo mes-mo, têm início os esforços refe-renciados por Kardec, pois trans-

formação moral exige a contrapar-tida da incorporação dos princí-pios da Doutrina Espírita em suavida.3 Estabelece-se, aí, verdadei-ro duelo entre o homem velho e ohomem novo,4 que despertou dis-

posto a fortalecer sua inteligên-cia, a educar seus pensamentos,a purificar seus sentimentos, aponto de obedecer, com rigor, avoz da consciência, principal-mente naqueles momentos do eu

quero, eu posso, mas não devo!

Esses são os esforços a seremempregados para se vencer as in-

clinações más!Esses são os momentos, sim,

da humildade, da indulgência, dacaridade, do perdão, pois para serverdadeiro e transformado mo-ralmente, o espírita terá que seconduzir pelo bem, tudo fazendovisando o bem e para o bem detodos!5 Esta é a moral do Cristo e

do Espiritismo! Compete, pois,aos trabalhadores da seara bendi-ta a responsabilidade de incorpo-rá-la e vivê-la, intensamente!

Referências:1KARDEC, Allan. O evangelho segundo o

espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 129. ed.

Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 17, it. 4.2ECLESIASTES, 3.3KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.

Trad. Guillon Ribeiro. 91. ed. 2. reimp. Rio

de Janeiro: FEB, 2010. Introdução, it. 6.4______. ______. Q. 629.5PEREIRA, Yvonne A. Memórias de um sui-

cida. Pelo Espírito Camilo Cândido Bote-

lho. 7. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB,

2010. P. 3, O “homem velho”.

37Março 2011 • Reformador 115

André Luiz

lumina o coração para que o amor seja o laço do céu, a irmanar--te com todas as criaturas.

Purifica teus olhos para que os males da peregrinação terrestrenão te perturbem a mente.

Defende os ouvidos contra as sugestões da ignorância e da som-bra, a fim de que a paz interior não te abandone.

Clareia e adoça tua palavra para que o teu verbo não acuse e nemfira, ainda mesmo na hora da consagração da verdade.

Conduze teu pensamento à grande compreensão do próximo,ajudando os que te cercam, tanto quanto desejes ser por elesauxiliado.

Equilibra teus pés no caminho reto sem te precipitares aos abis-mos que tantas vezes surgem à margem de nossa vida, induzindo- -nos à queda e ao desespero.

E, desse modo, terás contigo o tesouro das mãos fortes e limpaspara abençoar e servir, conduzir e curar em nome do Senhor.

Fonte: XAVIER, Francisco C. Correio fraterno. Por Diversos Espíritos. 6. ed. Rio deJaneiro: FEB, 2004. Cap. 51.

I

Mãos fortes e limpas

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omos herdeiros de nossosatos e das conquistas rea-lizadas na luta pela sobre-

vivência, com aquisições elevadasou inferiores, na romagem das vi-das sucessivas...

Nem sempre conseguimos emnossos relacionamentos ser transpa-rentes e sinceros. Criamos barreirase dificuldades para o grupo socialou familiar no qual estamos inse-ridos, sempre que somos contra-riados ou chamados à aferição denossos valores reais.

Entretanto, quando agimos emconstante discordância e agres-sões para com os companheirosdas atividades comuns, sentimo--nos infelizes e sem a harmoniaíntima tão importante na vidade relação.

É de grande significado paranossa evolução, como seres huma-nos, um relacionamento saudávele equilibrado.

Joanna de Ângelis nos lecionaque:

Na convivência com o próximo,

o ser humano lima as arestas

interiores e ajusta-se ao grupo,

aprendendo que a sua perfeita

sintonia com os demais resulta

em produção e aperfeiçoamen-

to para todos. O seu crescimento

é conquista geral, o seu fracasso é

desastre coletivo. Nesse mister,

portanto, descobre a beleza da

harmonia, que resulta da per-

feita identificação com os com-

ponentes do conjunto.1

Todos nós, seres gregários quesomos, temos necessidade de viverem harmonia com os que estãoligados a nós por laços familia-res, sociais, ou mesmo integra-dos no mesmo trabalho na sea-ra espírita. Quando não agimoscom fraternidade e compreen-são, as coisas não funcionambem para nós nem para o nossopróximo.

Sem renúncia pessoal e enten-dimento maior em torno das limi-tações e necessidades dos que ca-minham conosco, evidenciamos oegoísmo e a insensibilidade diante

dos problemas que surgem. Muitasvezes faltamos com a caridade ea compreensão fraterna, dificul-tando as tarefas empenhadas.

Os estímulos humanos funcio-

nam de acordo com os propó-

sitos agasalhados, porque a

mente, trabalhando os neurô-

nios cerebrais, estimula a pro-

dução de enzimas próprias aos

sentimentos de solidariedade

ou às reações belicosas. Assim,

portanto aspirar e manter

idéias de teor elevado constitui

meio seguro de conseguir-se

relacionamentos saudáveis.2

Nosso comportamento na vidade relação será sempre o reflexo denosso mundo interior. Exteriori-zamos o que realmente somos enem sempre agimos de má-fé, mastemos dificuldades por não estar-mos habituados às reflexões maisdemoradas acerca de nossas defi-ciências e erros, desculpando-nossempre, justificando atitudes im-pensadas e prejudiciais ao grupo

“Eduquemo-nospara discernir”

SLU C Y D I A S RA M O S

1FRANCO, Divaldo P. Vida: desafios e so-luções. Pelo Espírito Joanna de Ângelis.Salvador: LEAL. p. 119 e 120. 2Idem, ibidem. p. 120.

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social, sem a humildade de anali-sar mais profundamente o quesomos, sem o autoconhecimentopara discernir onde falhamos, semconhecer realmente as nossasnecessidades.

Sem a análise de nosso mundointerior, dificilmente entendere-mos nosso companheiro de jor-nada terrena. Agimos com pre-cipitação e preconceito sem dartempo ao outro de apresentarsuas justificativas ante as acusa-ções que lhe são endereçadas pormentes enfermiças, incapazes demanter em harmonia seu mundoíntimo. Exteriorizamos reaçõesperturbadoras diante de quais-quer problemas.

Emmanuel tem uma frase pe-quena, mas de grande significadomoral quando diz:“Eduquemo-nospara discernir”.3

É essencial buscarmos a educa-ção moral e psíquica para umbom relacionamento. Não apenasa busca do conhecimento atravésda instrução, mas principalmentea educação dos sentimentos e oequilíbrio das emoções que nosfarão mais serenos e felizes, man-tendo a harmonia íntima e favo-recendo o discernimento quandovivenciarmos situações adversas.

O Benfeitor espiritual, sempreatento às nossas necessidades deaprimoramento moral, chamanossa atenção quando comenta acitação de Pedro (I Pedro, 4:8):“Mas, sobretudo, tende ardentecaridade uns para com os outros”.4

Busquemos, portanto, atravésdeste sentimento sublime – a cari-dade – manter atitudes mais hu-manas e coerentes com nossastarefas no bem, com o conheci-mento maior sobre a vida e nossadestinação espiritual, não ape-

nas amando formalmente comoirmãos e companheiros das li-des espíritas, mas com a “arden-te caridade” que o apóstolo nospropõe.

Eis a recomendação de Emmanuelpara todos nós:

Quando pudermos distribuir o

estímulo do nosso entendimen-

to e de nossa colaboração com

todos, respeitando a importân-

cia do nosso trabalho e a exce-

lência do serviço dos outros, re-

novar-se-á a face da Terra, no

rumo da felicidade perfeita.

Para isso, porém, é necessário

nos devotemos à assistência

recíproca, com ardente amor

fraterno...5

Ardente – veemente e intenso –qualificando de forma mais apro-priada o que está faltando emnossas atitudes fraternas, mesmo

4Idem, ibidem. Cap. 122, p. 279.

3XAVIER, Francisco C. Fonte viva. PeloEspírito Emmanuel. 2. reimp. Rio de Ja-neiro: FEB, 2010. Cap. 91, p. 212. 5Idem, ibidem. p. 280.

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quando as colocamos ao lado doamor que sentimos uns para comos outros!

Analisando a citação acima, sen-timos quanto estamos distantes,ainda, desta fraternidade real; toda-via já podemos elucidar com maiordiscernimento a causa de estarmossintonizados com o lado inferiorde nossas emoções, deixando queo orgulho e a vaidade ensombremnossos sentimentos e nossas aspi-rações enobrecedoras.

Não existem tarefas maiores oumenores na seara de Jesus. Todassão importantes quando nos pro-pomos a ajudar ao próximo e di-vulgar os ensinamentos espíritas,nesta hora em que a Humanidadesofre diante da violência e da degra-dação moral. Por isso, todos somoschamados a servir nesta fase difí-cil da transição planetária. Muitoserá pedido a cada um de nósporque muito temos recebido embênçãos de conhecimentos e pro-teção espiritual.

Coloquemo-nos como fiéis se-guidores de Jesus, com boa vontadee compreensão ante as dificuldadesdo caminho.

Vejamos o lado bom das pessoasque conosco convivem e elas iden-tificarão nossas melhores intenções.

Busquemos ajudar desinteres-sadamente a todos, estendendonossas mãos, e eles responderãocom apreço e nos soerguerãonos momentos infelizes...

Todavia, para nos manter-mos em paz é necessário culti-vá-la em nosso mundo íntimo.Procuremos compreender e ser-vir em todos os momentos emque formos chamados a cola-borar, dando o melhor dentrode nossas possibilidades.

Se já conhecemos as lições edi-ficantes do Espiritismo, à luzdos ensinamentos do Cristo,clarificando nossas consciências,

“o cultivo sistemático da compreen-são e da bondade tem força de leiem nossos destinos...”.6

6XAVIER, Francisco C. Fonte viva. PeloEspírito Emmanuel. 2. reimp. Rio de Ja-neiro: FEB, 2010. Cap. 126, p. 288.

Desencarnou no dia 12 de ja-neiro de 2011, aos 91 anos,Aristóteles Damasceno Peixi-nho, às 22h30, no municípiode Serrinha (BA).

Aristóteles nasceu no dia 1o

de novembro de 1920, em Uauá(BA), mas fez sua carreira espí-rita em Serrinha, na Região Sisa-leira do Estado da Bahia. Foipresidente, durante muitos anos,do Centro Espírita Deus, Cristo e

Caridade e um dos fundadoresdo asilo beneficente AssociaçãoMansão Marco Antonio, ambosdaquela cidade.

No decorrer de 64 anos detrabalho dedicados à DoutrinaEspírita fundou 19 centros espí-ritas no sertão baiano.

Ao nosso confrade Aristóte-les, em seu retorno à Pátria Espiritual, rogamos as bênçãosde Jesus!

Aristóteles Damasceno Peixinho

Retorno à Pátria Espiritual

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uando grandes aflições seavolumam sobre a Terra,quando a desesperança

castiga o coração humano, quan-do multidões ficam reféns de pas-sageiros consolos materiais, semque a luz possa fazer-se em suasmentes enegrecidas de pensamentosnegativistas, perguntamo-nos: on-de há de chegar a soma das maze-las deste mundo? O caos, que apa-rentemente possa estar triunfan-do em todas as esquinas e praçaspúblicas, nada mais é que o mal sedebatendo contra a força magnâ-

nima das leis universais que trazsempre e irrevogavelmente o pro-gresso retificador.

Não deixemos o pavor baterem nossas portas, neste momen-to tão delicado e grave para a his-tória da sociedade humana e denossas histórias individualizadas.Todos aqueles que sentiram, aoouvir a voz e as palavras encoraja-doras de Jesus, o Cristo, exortan-do-nos à prática do amor em to-das as circunstâncias, buscam ho-je, com tanto maior empenho e fé,quanto nos tempos do martírio,

trabalhar por um mundo renova-do; portanto, nada de temermosem nos alistar no fronte de bata-lha, onde esses irmãos nos convi-dam a seguir sua marcha.

Tomemos de nossas armas: fé,esperança e caridade, com a cons-ciência esclarecida de que há ain-da muito suor e lágrima a se der-ramar, mas não tenhamos dúvidade que é chegado o tempo de ha-bitar novos céus e nova Terra, on-de junto do nosso coração redi-mido há de habitar a justiça plenade Deus, nosso Pai.

41Março 2011 • Reformador 119

QFR A N C I S C O VA L J UA N

Novostempos

“Aguardamos novos céus e nova Terra, em que habita a justiça.”(2 Pedro, 3:13.)

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Mato Grosso: Centenário de Centro EspíritaO Centro Espírita Cuiabá, na capital de Mato Gros-so, comemorou no dia 24 de fevereiro 100 anos defundação com conferência de Nestor João Masot-ti, presidente da Federação Espírita Brasileira. Naoportunidade, também foi lançado o livro Centro

Espírita Cuiabá: 1911-2011– Cem Anos IluminandoConsciências, da jornalista Maria Cristina de Carva-lho Sousa Lima Piloni. Informações: <[email protected]>.

Santa Catarina: Inauguração da Sede da Federação

A Federação Espírita Catarinense inaugurou suanova sede, em Florianópolis, no dia 12 de feve-reiro, durante reunião do Conselho Federativoda mesma. O evento contou com a participação,como convidado, do diretor da FEB Antonio Ce-sar Perri de Carvalho. Informações: <www.fec.org.br>.

Rio de Janeiro (RJ): “Espiritismo, Arte e Divulgação”

O Conselho Espírita do Estado do Rio de Janeiro(CEERJ) promoveu, no dia 12 de dezembro, o semi-nário “Espiritismo, Arte e Divulgação”, que contoucom música, dança, mesa-redonda, poesia e teatro.O evento foi transmitido ao vivo pela TVCEI e pelaTVCEERJ. Informações: <www.ceerj.org.br>; <www.tvcei.com>.

Goiás: Encontro de Monitores e Coordenadores do ESDE/EADE

A Federação Espírita do Estado de Goiás realizou,nos dias 4 e 5 de dezembro, o I Encontro Estadualde Monitores e Coordenadores do ESDE/EADE.Da programação constou exposição de temascomo “A influência da relação monitor/aluno noprocesso de aprendizagem da Doutrina Espírita:iniciativas e ações” e “Fraternidade e afetividadenas salas de estudos”. Informações: <[email protected]>.

São Paulo: Espiritismo nas RuasCom o objetivo de ampliar a divulgação da men-sagem espírita, o Centro Espírita Gabriel Ferreira,integrante da USE-SP, implantou o projeto “Espi-ritismo nas Ruas”. A finalidade do projeto é ampliaro acesso à leitura de obras espíritas. Em outubro,lançou nas ruas paulistanas 60 clássicos do Espi-ritismo (livros de Allan Kardec, Léon Denis, AndréLuiz, Emmanuel, Hermínio Miranda, entre ou-tros), de variados gêneros literários e destinadosao público de todas as idades. Informações: (11)9765-1881.

Vitória (ES): Curso de CapacitaçãoTécnico-pedagógica em fevereiro

A Comunidade Espírita Esperança realizou durantetodos os sábados do mês de fevereiro um curso vol-tado para os evangelizadores. O Curso de Capacita-ção Técnico-pedagógica foi uma oportunidade paraos que já atuam na Evangelização e para os inician-tes. O evento contou com apoio da Federação Espí-rita do Estado do Espírito Santo. Informações:<www.feees.org.br>.

Pernambuco: Aspectos Jurídicos no CentroEspírita

Nos dias 22 e 23 de janeiro, a Federação EspíritaPernambucana promoveu na sua sede, em Recife, osimpósio “Aspectos Jurídicos no Centro Espírita”,com Ricardo Silva, integrante da equipe da Secreta-ria-Geral do CFN da Federação Espírita Brasileira.Informações: <www.federacaoespiritape.org>.

Paraíba: FEPB comemora 95 anosAs comemorações dos 95 anos de fundação daFederação Espírita Paraibana foram iniciadas no dia21 de janeiro com o seminário “Em busca da ver-dade”, ministrado por Divaldo Pereira Franco. Oevento, que contou com cerca de mil pessoas, rece-beu a presença do governador da Paraíba, RicardoCoutinho, e do arcebispo do Estado, Dom AldoPagotto. Informações: <www.fepb.org.br>.

Seara Espírita

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