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8/10/2019 Anne Eames - Enigma de um Amor (MI Novo 02).doc

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Enigma de Um Amor(You're What?)

Anne Eames

QUEM ERA O PAI DAQUELA CRIANÇA?

Tudo que Michelle Purdue queria na vida era um bebê. Agora, para suafelicidade, descobriu que estava grávida. Mas havia um problema: ela não sabiaquem era o pai !eria "evin !ingleton, o atraente m#dico por quem Michelle se

apai$onara durante um cru%eiro no &aribe' (u um desconhecido doador dobanco de esperma ao qual ela recorrera antes daquela fantástica viagem'

Michelle tinha nove meses para decifrar o enigma e revelar a verdade a "evin...

Digitalização: Vicky BR!"i#ão: A$%&'ia (



Anne Eames ENIGMA DE UM AMOR (MI

02)

Querida leitora,Uma grande e repentina paixão, uma gravidez... Maravilhoso? Em parte. Sim,

Michelle deveria estar super feliz, se não fosse um detalhe: ela não tinha certeza quantoao pai ! partir desse fato e com seu ha"itual talento, !nne Eames, a autora, constr#i

este "el$ssimo romance % Enigma de um !mor — , uma hist#ria delicada e sensual que

& um verdadeiro "'lsamo para o nosso cora(ão

Roberto Pellegrino Editor

Romances Nova Cultural

Copyright © 1996 by Creative Business Services, nc!

"riginal#ente publicado e# 1996 pela Silhouette Boo$s,divis%o da &arle'uin Enterprises (i#ited!

)odos os direitos reservados, inclusive o direito de

reprodu*%o total ou parcial, sob 'ual'uer +or#a!

Esta edi*%o publicada atravs de contrato co# a &arle'uin Enterprises (i#ited, )oronto, Canad-!

Silhouette, Silhouette .esire e colo+%o s%o #arcas registradas da &arle'uin Enterprises B!/!

)odos os personagens desta obra s%o +ict0cios! ual'uer se#elhan*a co# pessoas vivas ou #ortas ter-

sido #era coincid2ncia!

Título original: You're What?!

)radu*%o3 .orothea .e (oren4i 5rinberg 5arcia

E.)"R 7"/ C8()8R(

u#a divis%o do C0rculo do (ivro (tda!

la#eda inistro Rocha 4evedo, :;6 < ll= andarCEP3 >1;1><9>1 < S%o Paulo ? Brasil!

Copyright para a l0ngua portuguesa3 199@

CRC8(" ." (/R" ().

Aotoco#posi*%o3 C0rculo do (ivro

#press%o e acaba#ento3 5r-+ica C0rculo!

2




02)

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02)

CAP)*ULO UM

) *anco de esperma

Michelle balan+ou a cabe+a sem poder acreditar.

) uem diria que chegaria a este ponto.

Trinta e seis anos, divorciada, e nenhum homem na sua vida. ue escolha tivera'

(lhou para o rel-gio de pulso, pela mil#sima ve%. *em que tentara os meiostradicionais. urante os três anos em que retornara / vida de solteira, tivera váriosencontros, suficientes para fa%ê0la duvidar sobre a e$istência do Pr1ncipe 2ncantado. Al#mdisso, quanto mais tempo ficava so%inha, mais gostava.

Paredes brancas e$ibiam fotografias emolduradas de bebês bochechudos, cada umdeles parecendo sorrir para ela, fa%endo lágrimas brotarem em seus olhos. ese3ava umbebê mais do que tudo na vida. !e, pelo menos, houvesse outro meio de...

Ap-s uma forte batida, a porta ao lado se abriu. Michelle virou0se, assustada. 4mm#dico alto, em seu 3aleco branco, assomou / porta.

&erimoniosamente, ele colocou um instrumento parecido com uma enorme seringa

sobre uma bande3a de metal, e e$aminou o hist-rico de Michelle, que aproveitou paraobservar0lhe a cabeleira espessa e ondulada. 2nfim, ele esbo+ou um sorriso largo, e$pondodentes grandes e brancos.

) Michelle Purdue &omo vai você'

5timo (utro cavalheiro gentil. (diava quando falavam com ela naquele tom meloso.

) 2stou bem... acho.

) 6ocê "acha"? 2stá mudando de ideia'

) 7ão. e 3eito nenhum.

Aquele era um homem estranho. Mas que tipo de m#dico faria carreira em um lugar

como aquele, afinal'( homem bai$ou a folha do hist-rico e esfregou as mãos.

) 5timo. 2ntão, ho3e # o dia, certo' Alguma pergunta' Michelle hesitou, mas fe% umaceno negativo.

) 2ntão, a enfermeira 3á vem para prepará0la. Michelle sorriu quando ele saiu, maslogo parou quando uma mulher de meia0idade entrou na sala.

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02)

) Meu nome # 2ilen. !e dese3ar alguma coisa, pode pedir. 2nquanto falava, iacolocando os p#s de Michelle sobre os suportes frios de metal. Aquilo não era bem o que elaqueria.

Michelle se me$eu sobre a mesa dura. !eus dentes come+aram a bater, e a pele searrepiou.

) Posso ter um cobertor em ve% deste len+ol de papel'

) &laro 8á volto. ) 2ilen sorriu com meiguice.

A enfermeira voltou logo, cobrindo0a com um cobertor, apresentando0lhe fones deouvido e algumas fitas cassete.

) 9ostaria de ouvir msica'

Michelle e$aminou as fitas e apontou para uma de msica orquestrada. 2ilen colocoua fita e entregou0lhe os fones.

) Mais alguma coisa, querida'

) 9ostaria de ler uma revista.2ilen dirigiu0se a um canto da sala e trou$e o que ela pedira. 2m seguida, apertou

uma campainha.

) ( doutor vem logo.

6oltou para a mesa de e$ame e colocou a mão quente no ombro de Michelle.

) Tente rela$ar, querida. Aumentará as chances de tudo dar certo, creia0me.

Michelle olhou para o longo tubo sobre a bande3a de metal e tremeu.

) !ei que parece assustador, mas tenho certe%a de que o r. Adam e$plicou. Precisaser comprido para passar pela parte inferior do tero e alcan+ar os ovários. Poderá sentir umcerto desconforto, mas vai ser rápido.

!orrindo, 2ilen voltou para seu lugar de observa+ão, ao p# da mesa.

Michelle fechou os olhos e ficou ouvindo a msica, ignorando a revista sobre o peito.Perguntou a si mesma se conseguiria cochilar. Teria vinte minutos para ficar deitada ali,depois que o m#dico acabasse o trabalho.

Por#m, ao sentir as mãos enluvadas do r. Adam levantando o cobertor, Michellesoube que nunca conseguiria dormir ali.

( m#dico avisou0lhe que iria sofrer uma certa pressão. Michelle sentiu um instrumentofrio e duro, e uma dor que não esperava. 4m gemido abafado saiu de seus lábios. &om um

pu$ão, o m#dico ergueu seus p#s dos apoiadores e 3untou0lhe suas pernas. 2ntão, sorriupara ela e dei$ou a sala, com 2ilen logo atrás.

Michelle ficou olhando para a porta, surpresa com a rapide% e fria eficiência de tudoaquilo. Mas, pensando bem, o que esperara' ;omance' (lhou para o teto e piscou,evitando chorar. !e ia ser uma mãe solteira, era bom acostumar0se com um mundo frio.

) "evin

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02)

( r. "evin !ingleton parou no final do corredor e olhou por cima do ombro,aborrecido.

( chefe da equipe, Paul <esterfield, alcan+ou0o.

) Tem um minuto'

) 7a verdade, não, Paul. 2stou com uma paciente no p-s0operat-rio e tenho de dar alta para um outro em meia hora.

Paul colocou a mão no ombro de "evin e condu%iu0o de volta ao seu escrit-rio.

) !erei breve.

2m ve% de sentar0se ao lado de "evin como costumava fa%er, Paul desabou nacadeira atrás da escrivaninha, dei$ando claro que a conversa seria oficial.

) (bservei seus horários ) Paul come+ou. ) !abe que teve mais compromissos doque qualquer outro m#dico da equipe, neste ltimo ano'

"evin deu de ombros. ual era o problema'

) 2 que este ano você está mais ocupado do que no ano passado' "evin esperou.Por fim, disse:

) 2 da1, Paul'

) 6ocê está se esfor+ando demais, meu amigo... e esqueceu uma coisa.

) ( quê'

) Para come+ar, seu senso de humor.

"evin bateu com as mãos nos 3oelhos, encerrando a conversa.

) Tentarei contar mais piadas. !e isso # tudo, o trabalho me espera.

6irou0se para sair, mas Paul o interrompeu, apontando para a cadeira va%ia.

) !ente0se. 7ão terminamos, ainda. !em disfar+ar a irrita+ão, "evin obedeceu. &omvo% mais branda, Paul continuou:

) !omos amigos de longa data, meu velho. 6ocê está procurando problemas. !-trabalho e nada de diversão. uando foi a ltima ve% que...

"evin semicerrou os olhos.

) 2sta conversa # pessoal ou profissional' !e # pessoal...

) 6ê o que digo' 7ada de senso de humor. =a perguntar, antes de sua interrup+ãobrusca, quando foi a ltima ve% que dormiu oito horas. Mas, se quiser me dar outro tipo deinforma+ão, fa+a.

"evin ponderou que talve% Paul estivesse certo. =ria fa%er um pausa nas atividades.

) 7ão vou di%er que sei como se sente, "evin. !e meu casamento tivesse terminadocomo o seu... >a% quase quatro anos, "evin. !ei que não # por causa de dinheiro. 6ocê dámais do que recebe e a nova ala de cardiologia que doou ao hospital está em plenofuncionamento. 7ão pode mais usar esse pro3eto como desculpa para se esfalfar.

) &erto, certo. Andarei mais devagar.

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02)

) 6ou fa%er mais do que obrigá0lo a isso. Marquei duas semanas de f#rias para você,come+ando em quin%e de abril.

"evin ergueu a cabe+a.

) 7ão posso. Tenho cirurgias marcadas...

) ;emarque.) 7ão # assim tão fácil, e...

) !e você não fi%er, eu fa+o.

"evin podia ver a determina+ão no olhar de seu chefe.

) 2stá certo.

A e$pressão de Paul rela$ou.

) Mais uma coisa: nada de seminários ou atividades relacionadas com trabalho.>#rias de verdade. Algum lugar quente, com mulheres de biqu1ni.

) 6erei o que posso fa%er ) respondeu "evin, sorrindo a contragosto.&ontinuou seu percurso pelo corredor, tentando ficar aborrecido com Paul, em vão. 7a

verdade, umas f#rias não seriam ruins. Algum lugar quente' A >l-rida em abril estava fora decogita+ão. Muita gente. 7ão. Algo mais tranquilo, mais para o sul.

Prometeu a si mesmo fa%er duas coisas no sábado: cortar os cabelos e ir a umaagência de viagens.

Tentou manter as ideias no trabalho, mas seus pensamentos voltaram para aconversa com Paul. etestava receber ordens. Mas a ideia não era desagradável. uandodescansara de verdade pela ltima ve%' &om certe%a, antes de 8#ssica...

&om as mãos esterili%adas apontando para o teto, empurrou a porta da sala deopera+?es com as costas. Mais tarde pensaria em Paul. 7o momento, olhando de perto paraa 3ovem mãe de dois filhos na mesa / sua frente, fe% uma prece silenciosa e afastou todo equalquer pensamento, concentrando0se na 3ovem paciente cu3a vida tinha em suas mãos.

urante as duas semanas seguintes, Michelle trabalhou como louca, recusando0se aolhar para o calendário e para a import@ncia que cada dia a menos representava.

2ra domingo de Páscoa e pretendia ir / missa, por#m, ao olhar pela 3anela de seuapartamento na %ona portuária e ver o tempo lá fora, mudou de ideia. (s rios etroit e<indsor estavam encobertos pela neve.

!entou0se na poltrona reclinável em frente / 3anela, cobriu as pernas com a manta epegou um romance na mesa ao lado. eu dois cap1tulos e depois olhou para a nevasca láfora.

!entiu uma cãibra na região do ventre. >oi at# o banheiro, %angada consigo mesmapor estar adiando o inevitável. 4ma rápida verifica+ão diria se o medo tinha fundamento.

2 tinha. 2stava menstruada.

esapontada, foi / co%inha.

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02)

) &hega Purdue ) falou para si mesma.

2n$ugou uma lágrima com as costas da mão e colocou um filtro na cafeteira.2nquanto o l1quido escuro escorria devagar, pegou um bloquinho e um lápis. !erviu0se evoltou para a sala.

>a%er listas sempre a distra1a. ava0lhe uma sensa+ão de cumprimento do dever.

urante uma hora, Michelle elaborou sua agenda, escrevendo: Bigar para a cl1nica,marcar outra visita, continuar medindo a temperatura, anotar resultados, terminar trabalhosurgentes nas pr-$imas duas semanas, cancelar compromissos para semanas seguintes,ligar para agência de viagens, fa%er reservas para algum lugar quente...C.

Mordeu a ponta do lápis e parou no ltimo item. Ap-s a primeira insemina+ão,enterrara0se no trabalho. Talve% a correria e tensão tivessem estragado os resultados. essave%, daria um descanso para a mente e o corpo, um descanso merecido. Mas para onde iria'

!em grande interesse, Michelle ficou olhando para os carros ao longo do rio etroit,do lado canadense. !eu apartamento era pequeno, o aluguel e$orbitante, mas ela adorava

aquela vista.4m navio cargueiro dirigiu0se rio abai$o. Michelle ficou olhando, dese3ando que fosse

quente e que ela estivesse a bordo, sentindo o sol e o vento no rosto.

2ra isso 7ão um navio cargueiro, mas faria um cru%eiro mar1timo. Pensara nisso em 3aneiro e chegara a ler alguma coisa a respeito.

&orreu at# o quarto. Abrindo uma gaveta, pegou um monte de revistas e brochuras,at# encontrar o que dese3ava: inhas Mar1timas 7oruega.

>echando os olhos, apertou as páginas coloridas contra o peito. Pensou naquele anoque se findara, sempre controlando a temperatura. Por sorte, tinha uma ovula+ão regular.

Michelle pegou o calendário e fe% um cálculo rápido. epois, e$aminou o horário departidas do navio. ( Noruega partia no sábado, quin%e de abril, que deveria ser o terceiro diade seu ciclo f#rtil.

Animada, resolveu marcar as passagens no dia seguinte. Telefonaria para a cl1nica ediria que voltaria lá entre tre%e e quin%e de abril, dependendo de sua temperatura.

!entiu um forte mal0estar. Apesar dos vários meses em contato com o banco deesperma, ainda se preocupava com o anonimato do doador. !egundo onna, a funcionáriada cl1nica, muitas mulheres fi$avam0se no visual de homens bonitos e simpáticos, eimaginavam que esses eram os pais de seus filhos.

2 se Michelle encontrasse algu#m interessante no navio' 7ão para ter um

relacionamento duradouro. Apenas um romance passageiro com um completo estranho... umrosto para lembrar quando chegasse o tempo certo.

4m grande plano. e repente, aquele cru%eiro come+ou a adquirir outro significado e,ao pensar nele, tremeu. 7o pr-$imo mês, tudo daria certo, e ela se esqueceria da decep+ãode agora.

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02)

CAP)*ULO DOI+

Ds seis horas da manhã do sábado, quin%e de abril, Michelle abriu um olho e fi$ou otermEmetro que parecia aguardá0la, na mesinha0de0cabeceira. !e não estivesse f#rtilnaquele dia, teria de cancelar a viagem ou perder uma nova oportunidade de engravidar.

A temperatura estava alterada, mas não o quanto esperava. Michelle ficou olhandopara o termEmetro, na dvida, e acabou anotando o resultado. Tentando ficar calma econfiante, ligou para a cl1nica e disse que estava a caminho. á chegando, iriam fa%er ostestes e anunciar que estava tudo bem. Fo3e era o grande dia.

Michelle olhou para o rel-gio no painel do carro. Tinha tempo de sobra para chegar ao

aeroporto. !eu voo para Miami s- sairia dentro de duas horas. Ainda teria algumas horas para descansar em sua cabine, antes de %arpar. >or+ou0se

a afastar a ansiedade e permanecer calma.

Mal se passara uma hora desde que fi%era os testes, e as palavras do m#dicocontinuavam a assombrá0la: "Ainda não está ovulando... Talvez amanhã... Seria melhor esperar...”.

Mas, no final, ele concordara que o esperma poderia sobreviver alguns dias e,contanto que ela ovulasse logo, as chances eram boas.

Michelle ligou o rádio e respirou fundo. 7o dia seguinte, /quela hora, estaria noNoruega, a meio caminho de !t. Martin e outros portos. 4m cru%eiro de uma semana cheia

de sol, ar puro e, melhor do que tudo, nada de telefones. !erá que ainda teria clientes aovoltar' ;iu, achando que se preocupava demais...

Trabalhava como uma escrava havia três anos e tinha muitos clientes. 7a verdade,uma das providências que teria de tomar quando o bebê viesse seria redu%ir as horas detrabalho. 2stava bem financeiramente, devido ao trabalho duro e ao seguro de vida de seuspais.

!entia0se aborrecida consigo mesma por estar tão ansiosa sobre a ovula+ão. !edese3ava que os minsculos espermato%oides sobrevivessem at# o dia seguinte echegassem ao seu destino, era melhor rela$ar e esquecer o assunto.

Ds duas da tarde, Michelle subiu ao navio, sorrindo. Tomara a decisão certa. Tinha umbom pressentimento a respeito daquela viagem. &om sorte, uma nova vida poderia 3á estar se formando dentro dela e, entre tantos passageiros que subiam a bordo, deveria haver umestranho simpático para preencher suas fantasias.

!empre acompanhada do carregador, chegou / sua cabine. &om um suspirosatisfeito, olhou ao seu redor. ( espa+o era pequeno, mas decorado com muito bom gosto.7a verdade, Michelle s- precisava de limpe%a e privacidade.

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02)

&om o estEmago roncando, consultou o rel-gio de pulso. 2scolhera o ltimo horáriopara as refei+?es a bordo, o que significava que s- iria 3antar as oito e meia, e faltavam aindaseis horas. evia haver uma lanchonete perto da piscina, que ficava no n1vel superior, aofinal do deque.

Michelle colocou a chave no bolso e desceu o corredor. uase come+ou a rir so%inha.

A ideia de cru%ar o navio procurando pelo homem de seus sonhos 3á a estava divertindomuito.

Agora, o 3ogo poderia come+ar, de fato.

ecidira que ele teria olhos a%uis, cabelos negros, quase um metro e noventa dealturaG seria másculo, bron%eado e atl#tico. Talve% levasse toda a semana procurando por talesp#cime, mas metade da diversão estava mesmo na busca.

Passageiros animados iam e vinham, carregando copos plásticos e pratos de papel.Michelle abriu caminho, serviu0se de atum, salsão e chá gelado, e procurou um lugar va%iopara se sentar. 7ão encontrando, voltou para as escadas e subiu mais um andar.

A estibordo encontrou uma confortável espregui+adeira. !entou0se, colocando o pratoe o copo em uma mesinha ao seu lado.

&om um peda+o de salsão entre os lábios, fitou o hori%onte a%ul e infinito, sentindo0se,de repente, muito pequena, com problemas insignificantes.

Terminou seu lanche, sem desviar os olhos do mar sereno.

2ra tão hipn-tico que foi sentindo as pálpebras cada ve% mais pesadas, at# que serecostou e fechou os olhos.

A brisa marinha era fresca. As ondas se espatifavam no casco do navio lá em bai$o,afastando a tensão, dei$ando todos os seus membros rela$ados. ( ltimo pensamento queMichelle teve foi de que nunca dese3aria dei$ar aquele lugar.

!eguindo um burburinho do outro lado do navio, Michelle 3untou0se / multidão, queatirava confetes e serpentinas.

(lhou / volta at# encontrar a nica pessoa que, al#m dela, estava indiferente /quelaeuforia. Apoiava0se / mureta, parecendo um gato soberbo olhando para os ratos que corriamde um lado para o outro. &ontrastando com os demais passageiros e seus tra3esespalhafatosos de turistas, o estranho usava uma camisa a%ul clara e cal+a a%ul0marinho. (scabelos espessos e castanhos eram curtos.

Michelle observou o casal idoso / direita do estranho, acenando para o cais, sorrindo

e conversando. ( casal 3ovem, / sua esquerda, abra+ava0se. 7o meio daquela cena, ohomem parecia ilhado em si mesmo, olhando firme / sua frente, uma postura que não en0cora3ava a entabular conversa. 2le não se enquadrava no perfil do estranho de seus sonhos,mas, de qualquer modo, alguma coisa naquele homem despertava a curiosidade de Michelle.

2streitando os olhos, ela tentou en$ergar melhor. 4ma covinha surgiu no meio de suassobrancelhas, e ele cru%ou os bra+os sobre o peito.

eus 2stava olhando bem na dire+ão de Michelle 2la fora pega em flagrante,encarando0o como uma mulher oferecida &orando, tratou de se afastar.

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02)

Precisava ser mais discreta no futuro, pensou, dirigindo0se para as escadas. Por hora,desistiria do seu 3oguinho particular e iria desfa%er as malas, tomar banho e vestir0se para o

3antar. epois, daria um passeio e voltaria / brincadeira de procurar seu homem ideal.

"evin ficou ali parado, olhando. (bservou o sol lan+ar refle$os acobreados no rabo0de0cavalo que a mo+a usava.

2ra aquilo que ele pretendia naquela viagem de uma semana' Mulheres solteiras embusca de homens descomprometidos' (u talve% aquela mulher, em particular, se tratasse deuma sentimental, em busca de romance. >osse o que fosse, era bom tomar cuidado e medir as palavras. e um coisa tinha certe%a: não iria di%er que era m#dico. 7ão sabia por que, asmulheres achavam aquela profissão muito atraente. Afinal, quantas ve%es tivera de dei$ar uma festa, um concerto, um 3antar, para atender um paciente'

(lhou para a água batendo no casco do navio, lá em bai$o. Pensara que 8#ssicaentendia as longas ausências e as constantes interrup+?es, mas, sem dvida, ela nãoentendera.

8#ssica... !empre dese3ara fa%er um cru%eiro mar1timo, mas "evin sempre estiveramuito ocupado. roga uando pararia de se atormentar com o passado'

&aminhava, olhando, distra1do, para os pr-prios sapatos. Talve% aquela viagemtivesse sido um erro.

( ;estaurante Barlavento ficava na parte central do navio, dois andares abai$o.Michelle avan+ou pelos corredores e escadas, admirando o esplendor arquitetEnico / suavolta: mosaicos, estátuas de mármore, murais. 7a entrada do restaurante, retirou seu cartãode reserva do bolso da cal+a e entregou ao maitre.

!eguiu0o, abrindo caminho em meio /s de%enas de animadas pessoas, chegando auma mesa retangular para seis. A sua frente, um casal 3ovem, que, pelo olhar, estava em lua0de0mel. Ao lado do casal, sentava0se uma senhora de mais ou menos setenta anos, oscabelos tingidos em tom a%ulado e, / frente dela, uma senhora, de costas para Michelle,mais ou menos da mesma idade da outra. Ao lado dessa senhora, um homem que Michellenão conseguiu distinguir bem.

Mal havia se sentado, quando o rapa% / frente estendeu a mão, di%endo:

) *em0vinda a bordo. 2u sou MarH, ! esta # minha linda mulher, "athI.

) 7-s nos casamos ontem / noite ) e$plicou "athI, encabulada.

) Parab#ns 2u sou Michelle. ) Apertou as mãos estendidas. 4ma das senhorasidosas comentou:

) 7ão # rom@ntico' ) 2, virando0se para Michelle: 0 Meu nome # Millie, ! esta #minha irmã Fa%el.

A cabe+a de Millie balan+ava sem parar, ! Michelle reconheceu o mal de ParHinson.

evido / dist@ncia, ambas as senhoras apenas acenaram para Michelle com mãossardentas e cobertas de an#is.

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02)

) Pra%er em conhecê0las ) respondeu, notando o olhar travesso nos olhos dasirmãs, incerta sobre o que estariam pensando, mas simpati%ando com ambas / primeiravista.

Millie entrela+ou os dedos sobre o peito, e sorriu.

) Michelle, dei$e0me apresentá0la ao nosso novo amigo sentado ao seu lado.

Michelle virou0se e encarou o estranho / sua direta. 2le voltou a cabe+a, devagar, oquei$o quadrado e os olhos cin%entos a poucos cent1metros de dist@ncia.

Michelle sabia que devia estar vermelha como um camarão, mas nada podia fa%er.utando contra o dese3o de se levantar e sair correndo, estendeu a mão, enquanto Milliecontinuava:

) !eu nome # "evin. !empre gostei desse nome. 2 agora, com "evin &ostner e tudoo mais... bem...

=lustrando o que sentia, Milhe se abanou com o leque, e todos riram. Todos, menos"evin, que ficou olhando para Michelle.

) "evin' ) perguntou Michelle.

7ão dese3ara que a palavra soasse tão curiosa, mas assim foi.

) Michelle' ) respondeu ele, no mesmo tom, com ironia. 2la 3á ia abai$ar a mão,quando "evin a apertou, di%endo:

) 2ntão, nos encontramos de novo.

) 8á se conhecem' ) perguntou Millie. Michelle empertigou0se na cadeira.

) 7ão. Apenas nos... vimos no deque, ho3e / tarde.

) 7ão tivemos ainda muito tempo para nos conhecer ) Millie continuou ), mas

"evin 3á nos disse que não # casado. 6ocê # Michelle'Fa%el debru+ou0se sobre mesa, batendo na mão da irmã.

) >rancamente, Millie 6ocê # muito indiscreta. Michelle percebeu que teria de passar uma semana inteira compartilhando as refei+?es com aquele homem. &omo iria e$plicar suaatitude no deque'

( gar+om veio perguntar se dese3avam drinques, mas Michelle resolveu recusar. Afinal, poderia estar grávida...

Todos fi%eram seus pedidos e, entre garfadas, Millie e Fa%el contaram a hist-ria donavio.

) Primeiro, seu nome foi !. S. rance. !abem que tem o comprimento da Torre 2iffeldeitada'

Michelle não ousava olhar para o lado de "evin. 7a hora da sobremesa, empurrou acadeira e levantou0se, di%endo:

) >oi muito bom conhecê0los, mas 3á vou me retirar.

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02)

) &reio que n-s tamb#m. ) MarH olhava dentro dos olhos de "athI, que se encostoua ele.

Michelle for+ou um sorriso, mas evitou olhar para "evin. ;e%ou para parecer calma,mas, por dentro, dese3ava gritar e sair correndo.

Por que ele tinha de estar na sua mesa'

&om passo apressado, dirigiu0se / sua cabine, tirou os sapatos e sentou0se na cama.

>echando os olhos, Michelle tentou lembrar0se da cena no deque. ( que vira naquelebreve instante em que seus olhos se cru%aram' esd#m' Arrog@ncia' &uriosidade' >oratão rápido e inesperado...

eitou0se de costas e olhou para o teto, tentando rela$ar.

Tudo bem. >ora embara+oso. 2 da1'

Poderia pedir para trocar de mesa, mas seria descortês para com as irmãs e ocasal%inho. 7a certa, Millie iria procurar por ela e pedir e$plica+?es. Al#m do mais,simpati%ara com aquelas pessoas.

Tirou a roupa, decidindo que tomaria o caf# da manhã no deque, e não norestaurante. Pegou seu livro e, nua, debai$o dos len+-is, come+ou a ler: "!la olhou dentrodos olhos cinzentos e rios como a#o e, na$uele e%ato momento, sou&e $ue ele era seuhomem...”.

>echou o livro, depressa, e apagou a lu%.

CAP)*ULO *R,+

2ram sete horas da manhã. ( balan+o do navio fi%era Michelle dormir como haviamuito tempo não dormia. 2stava louca para tomar caf#.

es3e3um no deque parecia maravilhoso e significava, tamb#m, adiar um encontro

com "evin. *oa comida e um bom livro. Mais tarde, voltaria a procurar o pai fantasia, dessave% com mais discri+ão.

Tomou banho, fe% um rabo0de0cavalo e vestiu short e camiseta brancos. &om um livrodebai$o do bra+o, desceu o corredor, o odor da brisa marinha cada ve% mais forte.

!urpreendeu0se ao ver muita gente tamb#m 3á de p# e em fila, no bufê perto dapiscina. !entiu a pele arrepiar e dese3ou ter vestido algo mais quente.

6islumbrou uma mesa va%ia ao sol. !erviu0se de caf# e suco, levou tudo / mesa evoltou, sem tirar os olhos do mar a%ul.

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02)

Aquela fila, apesar de seguir a passo de tartaruga, não a irritava, pois não condu%ia atrabalho. Michelle sorriu para um casal apai$onado que passava e, sem querer, pisou napessoa da frente.

) esculpe0me ) gague3ou, dando um passo atrás. "evin voltou0se, abrupto.

) 6ocê

Michelle não gostou do tom irEnico e ficou na defensiva, rebatendo:

) Por acaso está me seguindo'

) J você quem está atrás de mim, Michelle. !eria bom dei$armos claro, de uma ve%por todas: não estou interessado.

6oltou0se para frente, e Michelle agarrou seu bra+o, furiosa.

) Por que acha que eu estou interessada' !e se refere ao incidente da partida, nãose iluda. 2u estava olhando para algo al'm de você. !- reparei na sua presen+a quandoficou me encarando.

) &erto ) disse "evin, colocando um bolinho no prato. ue homem arroganteMichelle mal conseguia respirar com tanta raiva, o rosto corado.

2ncheu o prato, sem mesmo prestar aten+ão / escolha. &ada qual dirigiu0se nadire+ão oposta ao outro. Michelle sentou0se, de frente para o mar. Fomens

Mordeu um peda+o de pão, enquanto ia aos poucos se acalmando, a respira+ãovoltando ao normal. ( que acontecia com ela' 2ra um dia lindo e estava a caminho de umailha tropical. Favia cerca de duas mil pessoas naquele navio. 7ão podia permitir que umsu3eito insolente arruinasse seu passeio. e uma coisa tinha certe%a: ia almo+ar ao ar livre ecertificar0se de que "evin não estava por perto, quando voltasse ao bufê. !- ao 3antar teriade enfrentar aquela "maravilha".

Michelle tentou se concentrar no livro, mas acabou fechando os olhos e erguendo orosto para o sol. Talve% o convencimento de "evin se desse pelo fato de ser muito bonito.

4m lento sorriso surgiu nos lábios de Michelle. Talve% "evin merecesse uma li+ão. Por que não' !e não gostasse, ele poderia procurar outra mesa.

) As senhoras estão elegant1ssimas ) "evin elogiou Millie e Fa%el, no restaurante.) &reio que não me vesti / altura.

) 6ocê está lindo, "evin ) asseguraram as duas irmãs. ) &onte0nos como foi seudia.

Mas o olhar de Millie fi$ou0se al#m do ombro de "evin, e ela abriu a boca, admirada.&urioso, "evin voltou0se. A primeira coisa que viu foi o brilho de um vestido prateado

sem al+as. epois, de quei$o ca1do, encontrou os olhos verdes mais bonitos que 3á vira.

) Michelle' ) sua vo% soou insegura, como a de um adolescente.

) "evin' ) 2la estendeu0lhe a mão.

"evin percebeu a ironia, mas estava muito surpreso para tentar revidar. !eu olhar nãodei$ava Michelle.

14




02)

Por fim, levantou0se e pu$ou a cadeira para que ela se sentasse.

) (brigada, "evin. inda noite, não' ivertiu0se no seu primeiro dia ao sol'

7a verdade, não. Passara o tempo todo evitando encontrar0se com ela. Por#m,vendo0a agora, não entendia por que fi%era aquilo. Fa%el inclinou0se para frente,perguntando:

) Adorei seu penteado, querida. >oi você mesma quem se fe%'

"evin observou os cabelos castanhos presos no alto da cabe+a, com alguns fioscaindo na testa, e no lindo pesco+o. 4ma imagem de Michelle com aquele penteado dentrode uma banheira de espuma surgiu ante dele, e "evin desviou o olhar.

) 7ão, Fa%el ) respondeu Michelle. ) Fo3e fi% tratamento profissional completo debele%a: cabelos, unhas, at# massagem. >oi divino

) Massagista homem ou mulher'

) Mulher, Millie.

"evin sentiu al1vio, embora não atinasse por quê. Millie mudou de assunto,entusiasmada:

) 7-s ganhamos cento e cinquenta d-lares nas cartas do cassino. epois, perdemostudo na roleta. 2u e Fa%el estamos pensando em ir at# o &abar# &hecHers para unsdrinques. á eles têm uma pista de dan+a...

) Acho que vou apenas dar uma volta pelo deque e depois dormir ) adiantou0seMichelle. ) Talve% outra noite.

2mpurrou a cadeira para trás, e o corte na saia mostrou uma parte da co$a bemtorneada, coberta pela meia fina. "evin tentou não olhar, mas Michelle pegou0o em flagrante.

) 6ocê vai para !t. Martin na ter+a0feira, não vai querida' ) Fa%el perguntou aMichelle.

) 7ão creio. A menos que mude de ideia, pretendo ficar a bordo. 8á estive em !t.Martin, e este # meu primeiro cru%eiro mar1timoG portanto, prefiro e$plorar o navio enquantoestiver mais va%io.

"evin sentiu o olhar de Millie, mas ficou impass1vel. 7ão ia se comprometer parater+a0feira, quando nem sabia o que iria fa%er nos pr-$imos de% minutos. Aliás, um passeiocom Michelle não seria má ideia.

) !abe dan+ar, "evin' ) perguntou Fa%el.

7o instante seguinte, as duas irmãs, cobertas de 3oias, carregaram "evin para fora do

restaurante. 2le resolveu dan+ar uma msica com cada uma e depois tentar achar Michelle. Mas s- quarenta minutos depois conseguiu desculpar0se e sair / procura dela no

deque superior. 7enhuma mulher magra de cabelos castanhos foi encontrada passeando."evin foi para sua cabine, desapontado e aliviado ao mesmo tempo. Afinal, quem era aquela

3ovem' 2, pior ainda, por que ele se incomodava em descobrir'

15




02)

7a ter+a0feira, quase ao meio0dia, Michelle encontrava0se no deque superior vendo ospassageiros serem transportados para terra. &hegara a se preocupar pensando se tomara adecisão errada, mas agora, sob o sol e serena, sentiu0se contente.

(bservou os iates que singravam o mar. 4m deles chamou sua aten+ão. 2stavaancorado longe da praia e era enorme. A3ustando os bin-culos, percorreu a embarca+ão at#

se deter em uma pessoa solitária / proa. 4m homem de barba, vestindo um saiote escocês,come+ou a tocar uma gaita de foles.

Aos primeiros sons, Michelle ficou tomada pela emo+ão, lembrando0se de suainf@ncia. Parecia que o homem tocava s- para ela. 2ra uma mensagem divina, nãoconseguia decifrá0la, mas a for+a e pai$ão daqueles sons eram inconfund1veis.

(uviu passos /s suas costas e re%ou para que a pessoa que se apro$imara tivessesensibilidade suficiente para não interromper aquele momento mágico. ágrimas desciampelas faces de Michelle, e ela nada fa%ia para detê0las, com medo de quebrar o encanto.

&om uma leve pausa, o gaiteiro voltou a entoar sua melodia. Michelle fechou os olhos,e então, ao seu lado, uma vo% de tenor se elevou, a mais bela que ela 3á ouvira, entoando a

letra da can+ão escocesa.2la levantou0se, segurando0se nas grades do tombadilho, tremendo de emo+ão e,

quando a ltima nota morreu, sentiu0se, ao mesmo tempo, triste e aliviada, ap-s aintensidade daquela e$periência que 3amais poderia e$plicar a algu#m. A não ser, talve%,para aquele homem ao seu lado.

Minutos se passaram em total silêncio. Michelle continuou im-vel, olhando para frente.>ora pega desprevenida, e$pondo uma parte muito 1ntima de sua nature%a.

2nfim, munindo0se de coragem, virou0se para o homem. (s olhos dele brilhavam.>itava Michelle como uma visão celestial.

) "evin...

2le apertou sua mão, em uma mensagem muda de entendimento.

Pessoas come+aram a aparecer, atra1das pela can+ão que acabara de soar. "evincondu%iu Michelle para longe. esceram as escadas em silêncio e come+aram a passear,devagar, pelo deque inferior, va%io /quela hora, o que agradou Michelle, que dese3avameditar sobre as fortes emo+?es que acabara de sentir.

Teria mesmo sido uma mensagem de eus di%endo0lhe como seria feli% secompartilhasse a vida com a pessoa certa'

7aquele momento, s- conseguia sentir carinho por "evin com quem dividira tantaemo+ão. !eria ele o homem certo'

A realidade come+ava a sobrepor0se sobre os momentos de encantamento.

) 6ocê canta no coro da igre3a, "evin'

) 7ão. *em que gostaria, mas costumo trabalhar aos domingos de manhã.Participava do coro masculino da faculdade. Agora, quando tenho tempo de cantar nochuveiro, 3á me dou por satisfeito.

16




02)

) ue tipo de trabalho o mant#m ocupado aos domingos'

) perguntou Michelle.

"evin parou de andar e olhou para ela.

) ( que você acha' Adivinhe.

Michelle ergueu a mão de "evin entre as suas e estudou0a.) Tão limpa e macia, sem calosidades... &om certe%a, # um colarinho branco.

) Por enquanto, está indo bem. Pode ser mais espec1fica' ) brincou. ) Pode di%er.Parece divertido.

) &heguei a pensar que você fosse advogado.

"evin riu, entre os dentes.

) 2 agora, o que acha'

) Tenho certe%a de que não #.

) Por quê') Porque... porque...

"evin não parecia muito interessado na sua resposta. !eus lábios colaram0se na testade Michelle e as palavras desapareceram, envolvidas pela emo+ão. >e% com que Michelle seapro$imasse, at# encostar em seu ombro.

) 7ão sei quais foram seus motivos, mas vim para este cru%eiro a fim de escapar dotrabalho. Precisamos falar disso'

( que come+ara como uma e$periência espiritual transformara0se, bem depressa, emalgo sensual, despertando o corpo de Michelle para sensa+?es esquecidas.

2la deu um passo atrás, for+ando um sorriso.

) Por que não fantasiamos sobre quem somos e de onde viemos'

) Por que não' Pode ser engra+ado. !empre gostei de !an >rancisco.

) 2u tamb#m. ue tal sermos do mesmo lugar'

) inda coincidência. 2ntão, o que fa% em !an >rancisco, Michelle'

"evin voltou a passear, e Michelle acompanhou seu passo, pensou um pouco erespondeu:

) 2stou na área m#dica.

) >a%endo o quê') 2u... sou enfermeira em um hospital.

Michelle gostou da ideia, e resolveu ampliar a fantasia.

) Trabalho muito 3unto a bebês no ber+ário. Algumas ve%es, na pediatria.

"evin parou de andar e apoiou0se na balaustrada, olhando para o mar. Michellepensou se tinha dito algo errado. e repente, parecia que "evin estava a milhares dequilEmetros de dist@ncia. &omo permanecesse calado, Michelle perguntou:

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02)

) 2 você' ( que fa%'

&om um suspiro, evitando olhá0la, "evin disse:

) 6e3amos. !ou um construtor. ;estauro casas antigas. !e Michelle não soubesseque aquilo era uma brincadeira, teria acreditado. Favia algo de tradicional e antiquado nasmaneiras de "evin. 2stava gostando daquela conversa, mas precisava esclarecer certascoisas.

) !obre aquilo que aconteceu quando embarcamos... 2le a deteve, encarando0a.

) Tirei conclus?es apressadas, não'

) 7a verdade, não estava tentando flertar...

) >ui indelicado com você na manhã seguinte, na hora do caf#...

) Achei que você era... era...

) 4m completo idiota' Michelle sorriu.

) Talve% menos do que você pensou que eu fosse. "evin riu, descontra1do. Michelleresmungou, em vo% alta:

) 2 pensar que eu quase...

) ...Trocou de mesa' ) "evin terminou por ela. ) 2u tamb#m. ue tal come+armostudo de novo'

2stendeu a mão, com gesto e$agerado.

) Meu nome # "evin.

) !ou Michelle. Pra%er em conhecê0lo, "evin.

) Aceita almo+ar comigo'

) &om pra%er.

CAP)*ULO QUA*RO

Ao chegarem / mesa, Michelle e "evin sentaram0se frente a frente, prestando aten+ãoao cardápio e evitando se entreolhar. epois que fi%eram seus pedidos, Michelle ergueu oolhar, o cora+ão aos pulos. Tinha esquecido quando tivera aquela sensa+ão pela ltima ve%.7ão fa%ia parte do seu plano. >a%er as pa%es com aquele estanho era uma coisaG sentir0seatra1da por ele era outra.

) 6ocê nada, Michelle'

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02)

) !im. 7ão muito bem, mas consigo dar umas bra+adas.

) 6i que estava com um livro, dias atrás. Por que não vestimos roupas de banho evamos ler 3unto / piscina, depois do almo+o'

Michelle pensou no novo biqu1ni que comprara para a viagem.

) A não ser que tenha outros planos... ) continuou "evin.) 7ão. !ua ideia # -tima.

urante o almo+o, Michelle dividiu sua aten+ão entre a salada de frango e a fatia demelão, com a conversa agradável de "evin sobre o navio e o tempo. 2le era, de fato, umhomem gentil e interessante.

2 muito bonito, tamb#m.

(s olhos cin%entos como a+o pareciam ler seus pensamentos. Michelle precisavareassumir sua postura um pouco c1nica, senão "evin voltaria a pensar que ela queria flertar com ele.

Ap-s o almo+o, Michelle voltou / cabine e, enquanto se mirava no espelho, vestindo obiqu1ni novo, dese3ou poder chegar at# o final da tarde mantendo a pose de inacess1vel.6estiu uma sa1da de praia de algodão branco e cal+ou sandálias. A meio caminho lembrou0sedo livro e voltou para buscá0lo. !uspirando fundo, dirigiu0se / piscina.

Michelle leu a mesma página pela terceira ve% seguida, tentando se concentrar.esistindo, pEs o romance de lado. A3eitou a sa1da de praia, certificando0se de que nadamuito provocante estava / mostra, e então viu "evin se apro$imando. 2nquanto eleavan+ava, confiante, em sua dire+ão, a postura de comando e o f1sico delgado fi%eram maisuma ve% com que Michelle sentisse um frio na espinha.

!entando0se ao seu lado, "evin comentou:

) Pelo visto, você ainda não caiu na água.

) 7ão. 7ão está tão quente assim.

esculpa boba e falsa, tamb#m. A temperatura poderia estar abai$o de %ero e, mesmoassim, Michelle continuaria sentindo calor estando perto de "evin.

Por#m, a ideia de despir sua sa1da de praia e e$ibir o corpo não a tentava.

( silêncio come+ou a ficar insuportável. Por fim, Michelle desistiu de fingir, e dirigiu0separa a piscina. Ainda vestindo a sa1da de praia, sentou0se na beirada e balan+ou as pernassobre a água, que estava morna, mas refrescante. "evin sentou0se ao seu lado, as longaspernas entrando na água. Michelle e$pirou lentamente, tentando rela$ar.

&ontinuaram em silêncio, at# que "evin perguntou, com um sorriso malicioso:

) ( que está escondendo debai$o dessa roupa branca' Alguma cicatri%'

Michelle aprumou0se:

) 2u... não queria me bron%ear mais.

) !ei...

19




02)

Michelle não suportava desafios, impl1citos ou e$pl1citos. evantou0se, desamarrou ocinto, dei$ou a sa1da desli%ar para o chão e entrou na água t#pida. Atravessou a piscina evoltou at# "evin.

) *elas bra+adas, Michelle.

) uer apostar uma corrida' "evin sorriu.

) 7ão sei. &om certe%a, você vencerá. 7ão estou no melhor da forma f1sica.

) 2ntendi. ) Michelle sorriu tamb#m, mergulhando e reaparecendo quase do outrolado da piscina.

uando emergiu, afastou os cabelos molhados do rosto e viu que "evin estava apoucos cent1metros de dist@ncia, nadandoG passou por ela e foi at# a beira da piscina.

&om os cotovelos na borda, "evin perguntou:

) ual o percurso'

Michelle pensou que seria muito fácil vencê0lo. 2$aminou a piscina e voltou a encarar

o sorriso %ombeteiro de "evin, di%endo:) ue tal cinco ve%es, ida e volta'

) uando você quiser.

Tomando posi+ão, Michelle olhou para "evin e gritou:

) 8á

!a1ram a toda. "evin logo tomou / dianteira.

Tudo bem. 2le era um corredor, mas Michelle era mais resistente.

e prop-sito, Michelle dei$ou0o continuar na sua carreira desabalada, ficando para

trás e poupando energias. "evin não conseguiria manter aquele ritmo por muito tempo. Assim, chegaram / ltima etapa, com "evin dando vis1veis sinais de cansa+o.

Mantendo seu ritmo compassado, Michelle passou / frente.

Apesar de ambos estarem e$austos, ela se esfor+ou. !- mais meia volta !uas pernaspesavam como chumbo. Três bra+adas mais. uas bra+adas. &om um impulso final, tocou aborda da piscina.

4m segundo atrás de "evin.

Michelle en$ugou os olhos e deparou0se com o rosto cansado, mas vitorioso de "evin.

) 6ocê fe% parte do coral da faculdade e do time de nata+ão tamb#m' ) perguntouMichelle.

) urante os primeiros anos, apenas. epois, fiquei ocupado demais.

Michelle pressentia que "evin tinha muito fogo escondido por bai$o daquela aparênciadistante, o que a atra1a e alarmava ao mesmo tempo.

2 ainda era ter+a0feira. &omo chegar ao pr-$imo domingo sem sucumbir ao fasc1niodele'

20




02)

"evin observou a leve sa1da de praia colando0se ao corpo molhado de Michelle.!entia0se atra1do por Michelle, e tamb#m simpati%ava muito com ela. 9ostaria muito dedescobrir o que os homens haviam feito a Michelle para dei$á0la tão arredia, competitiva edesconfiada.

) ue faremos agora' ) "evin sorriu.

) 7ão sei sobre você, mas eu pretendo sair do sol, tomar banho e ir fa%er algumascompras.

) ue tal se eu a encontrar na sua cabine, /s sete horas, para darmos uma voltaantes do 3antar'

) &omo sabe o nmero da minha cabine'

) Pensei em levá0la at# sua cabine agora, se não se importa.

) Tudo bem ) ela concordou, surpreendendo "evin. !eguiram ambos pelo navio, at#chegarem / cabine de Michelle.

) ( gaiteiro escocês no iate... foi...

) Muito especial ) concluiu Michelle, tão nervosa quanto "evin, devido /pro$imidade de ambos.

(s olhos dele pousaram sobre os lábios entreabertos de Michelle. &omo um 1mã,suas bocas se apro$imaram em um bei3o. e repente, "evin se afastou, a vo% entrecortada:

) Michelle, não sei o que aconteceu comigo... eu...

) 6e3o você /s sete. ) 2 fechou a porta.

Michelle encostou0se contra a porta, prendendo a respira+ão, enquanto ouvia "evin se

afastando. !uspirou. >ora apenas um bei3o, mas suas pernas tremiam como as de umacolegial.

2stava perdendo o controle sobre aquela sua brincadeira do rosto imaginário, dohomem ideal.

6estiu short e camiseta e saiu apressada, encontrando uma lo3a de conveniências nonavio. isfar+ou, embara+ada, olhando a sessão de livros, e então, viu o que procurava.

(lhou ao redor, certificando0se de que ningu#m a observava.

Pretendia mesmo ter uma rela+ão 1ntima com "evin' Talve%. 2ra bom se prevenir. Apanhou um pacote com três preservativos e correu para o cai$a da lo3a. uando 3á estava

com sua compra dentro da bolsa, virou0se para sair.) Michelle

"evin a alcan+ou em três rápidas passadas. eus do &#u !erá que ele vira o quecomprara'

) 2u... queria comprar um livro ) gague3ou "evin, olhando para a bolsa dela. ) 6e3oque você não perdeu tempo em sair para fa%er compras.

) Apenas creme dental. escobri que não tinha tra%ido. 6e3o você /s sete.

21




02)

uando Michelle desapareceu, "evin olhou ao redor, encontrando o que procurava.

;elanceando os olhos / direita e / esquerda, pegou alguns pacotes de preservativos,um e$emplar de um &est(seller, pagou ! saiu da lo3a, correndo.

CAP)*ULO CINCO

A leve batida / porta sobressaltou Michelle. (lhou para o rel-gio: sete horas em

ponto.) Muito bem, Purdue. Acalme0se. A3a com naturalidade ) ela murmurou, entre os

dentes.

2ndireitou os ombros, ergueu o quei$o e abriu a porta, dando passagem para "evinentrar. 7a mesma hora, perguntou0se por que fi%era aquilo. Por que não sa1ra para ocorredor' 2 agora' ( que fa%er'

"evin foi at# a escotilha e olhou para fora. Michelle postou0se atrás dele, admirando ocaimento da cal+a que moldava seu f1sico muito bem. "evin voltou0se para ela. Ambosestavam muito pr-$imos. (s olhos cin%entos perscrutaram Michelle de cima a bai$o. Asmãos dele pousaram sobre seus ombros, e ela estremeceu. "evin olhava fi$o para a suaboca. !em querer, Michelle passou a l1ngua pelos lábios, percebendo que acabara de fa%er um convite.

!uas bocas se encontraram, e Michelle esqueceu0se de tudo. (s bra+os de "evin aenla+aram, provocando0lhe um forte calor. ( bei3o aprofundou0se, as l1nguas se tocando,midas e possessivas. Michelle evocou o som da gaita de foles e a vo% de "evin e, mais umave%, suas pernas come+aram a fraque3ar, os 3oelhos trêmulos.

&om um gesto rápido, "evin a tomou nos bra+os e colocou0a sobre a cama de casal,deitando0se ao seu lado, bei3ando seu pesco+o e ombros. Michelle estava fora de si. uandoa mão de "evin desli%ou do ombro para o seio, ela gemeu em vo% alta, muito e$citada.

!entiu0se agradecida por "evin nada di%er. 7ão dese3ava discutir aquele assunto. 7ãoqueria que palavras fi%essem0na mudar de ideia.

&om paciência, "evin a despiu, admirando cada parte do corpo feminino, que iaficando / mostra, como se fosse uma obra de arte. Para sua pr-pria surpresa, Michelle nãosentia nem vergonha nem pudor. 2, quando ficou completamente nua, passou a tirar asroupas de "evin, com a mesma lentidão er-tica.

uando ele tamb#m ficou nu, deitou0se sobre Michelle, olhando0a dentro dos olhos,uma e$pressão que transcendia a pai$ão, cheia de carinho, e que trou$e lágrimas aos olhosdela e um n- em sua garganta. essa ve%, quando seus lábios se encontraram, o bei3o foi

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02)

mais urgente. A respira+ão de Michelle tornou0se entrecortada, quando pressentiu que "evinestava prestes a possu10la. 2m breve, ele penetraria em seu corpo, como havia muito temponão acontecia em sua vida. 2m breve...

eus do &#u 2m breve estariam tendo rela+?es se$uais sem prote#ão)

(s preservativos que ela comprara estavam na mesinha0de0cabeceira. Ainda bei3ando"evin, Michelle estendeu o bra+o o má$imo que pEde. 7ão conseguiu tatear a mesa. Tentououtra ve%, movendo0se sob o peso dele, que abandonou sua boca, bei3ando seu seio,fa%endo pressão entre suas pernas.

Michelle tinha de alcan+ar a mesa0de0cabeceira. Mas como e$plicar a "evin aapari+ão de preservativos sem demonstrar que estivera se preparando' 7aquela mesmatarde, dei$ara transparecer que não estava pensando naquilo.

A verdade era que, mais do que tudo no mundo, Michelle dese3ava entregar0se a"evin, naquele momento.

e sbito, "evin falou, entre os dentes:

) 7ão... se me$a. A respira+ão dele estava entrecortada, como a de Michelle. "evin relanceou os olhos

para a cal+a 3ogada no chão, mas era tarde demais. !eu corpo teve um espasmo.

Michelle soube que "evin chegara ao cl1ma$.

) esculpe0me, Michelle. >a% tanto tempo que...

) Psiu ... ) sussurrou ela, bei3ando sua face e apertando os bra+os ao seu redor.

"evin rolou para o lado da cama, olhando0a, humilde, acariciando seu bra+o.

) &reio que perdi a prática.

Michelle virou0se para ele, fi$ando os olhos cin%entos:) Tudo bem. 7ão tem import@ncia.

4m silêncio muito longo tomou conta da cabine. e repente, Michelle sentiu que "evina encarava. (lhando para ele, viu que sorria. &om um riso sufocado, "evin brincou:

) 6ocê gostou'

Michelle entendeu a brincadeira e, fingindo euforia, e$clamou:

) (h, foi maravilhoso

epois, parou e observou a rea+ão de "evin. 2le não mais sorria. everia estar pensando que ela falava s#rio, at# que Michelle come+ou a soltar gargalhadas. "evintamb#m come+ou a rir, abra+ando0a.

) embra0se de quando nos encontramos pela primeira ve%, Michelle'

) &omo poderia esquecer'

) *em... não foi um in1cio muito promissor. Mas o segundo encontro foi especial. 7ãoconcorda'

23




02)

Michelle nada disse. !eu sorriso respondeu por ela, fa%endo0o ver que entendera aindireta. !im, haveria uma segunda ve% e, com certe%a, uma terceira e quarta, e, quem sabe,muitas mais. &omo se lesse seus pensamentos, "evin mordiscou sua orelha.

Michelle empurrou0o com mais for+a do que dese3ava, gritando:

) 2spere

"evin sentou0se na cama, espantado.

) uero di%er...

Michelle tamb#m se sentou, envergonhada, pu$ando o len+ol at# o pesco+o econtinuando:

) Precisamos conversar primeiro.

( olhar dela foi do len+ol / mesinha0de0cabeceira e voltou. 2sse era o tipo de amor dos anos noventa. &omo algu#m podia manter o clima de romantismo discutindo sobre se$oseguro'

"evin se esticou na cama e alcan+ou a cal+a no chão. !erá que iria embora' !eráque Michelle conseguira espantá0lo' Por#m ele não fe% nenhum gesto para vestir0se. 2m ve%disso, segurou0a, procurando escolher as palavras certas.

Michelle respirou fundo e, então, e$plodiu:

) >ui casada por quase de% anos e estou divorciada há três. 7ão tive rela+?es commais ningu#m depois de meu marido.

Pronto issera tudo. Agora era a ve% de "evin.

) 8#ssica e eu fomos casados por quase do%e anos. 7-s... estamos divorciados háquase quatro. Tamb#m não tive mais ningu#m depois disso.

Michelle gostaria de obter mais detalhes, mas algo a advertiu para dei$ar "evin empa%. ( seu pr-prio div-rcio não fora amigável, mas um se$to sentido a advertia de que para"evin fora muito mais doloroso. !erá que ainda amava 8#ssica' 4m inesperado cimetomou conta de Michelle.

"evin pegou0lhe a mão, e ela sobressaltou0se. (lhando no fundo de seus olhos, "evindisse:

) 7ão tive mais vontade at#... agora.

) 7em eu.

Ambos sorriram. 2ntão, Michelle lembrou0se do que tinha de fa%er. 6irou0se para a

mesinha0de0cabeceira e, enquanto isso ouviu "evin reme$endo nos bolsos da cal+a. !emencará0lo, come+ou:

) Fo3e, quando você me encontrou na lo3a... 6oltou0se para "evin e parou de falar.

2le segurava uma cai$a de preservativos e completou a frase para ela:

) &omprei alguns destes.

Por um momento, ambos e$aminaram a compra um do outro, e então, come+aram arir.

24




02)

"evin 3ogou sua cai$a no colo de Michelle, que atirou a sua no colo de "evin.

7ão conseguiam parar de rir, mas o riso foi ficando mais constrangido. Michelle olhoupara o rel-gio e soltou um suspiro. Passava das oito. ( 3antar seria servido /s oito e meia.

) 6ocê ouviu meu estEmago roncar, Michelle'

) Ah 2ntão foi isso ) ela e$clamou, brincando.) 7ossa &omo você # mandão

Michelle fa%ia gra+a, mas no fundo estava envergonhada.

) !e preferir, pode ficar aqui se vestindo, e eu assistirei.

) 6ire0se ) ela comandou, enquanto se levantava e ia para o banheiro.

2staria mesmo vivenciando cena tão 1ntima com aquele homem presun+oso comquem quase se desentendera dias atrás'

Michelle retocou o batom e mirou0se no espelho. Favia um novo brilho em seu olhar. Aquela noite prometia ser especial.

As irmãs 3á estavam em conversa animada com MarH e "athI quando "evin eMichelle chegaram / mesa.

Millie parou no meio de uma frase e observou os rec#m0chegados, com curiosidade."evin engoliu em seco. 8amais conseguira ser dissimulado, e, se tivesse raciocinado melhor,teria dei$ado Michelle ir na frente, chegando um pouco depois dela. Mas, afinal, o queimportava' As duas vivas tinham brincado de casamenteiras desde o primeiro dia daviagem. Por que não lhes dar um pouco de alegria'

;elanceou os olhos para Michelle. 9ostaria que tivessem tra+ado um plano antes devir para o 3antar.

!orrindo, muito animado, "evin falou:) Tivemos um dia maravilhoso. 2 vocês'

&om o canto do olho, viu que Michelle erguia a cabe+a, surpresa. Fa%el e Millieficaram de boca aberta, mas logo disfar+aram.

) epois falamos sobre !t. Martin. &onte0nos sobre o seu dia, "evin. ) Millie piscouo olho para a irmã, que sorriu.

"evin olhou para Michelle, pedindo a3uda, mas ela não lhe deu apoio.

) *em, nadamos um pouco, lemos, fomos fa%er compras... "evin voltou a fitar Michelle, que parecia muito absorvida com a comida. 2ntão, ela ergueu o olhar e disse

inocente:) &onte0lhes sobre a melhor parte.

"evin ergueu as sobrancelhas, sentindo uma canelada por bai$o da mesa.

&omo ele permanecesse em silêncio, Michelle abriu muito os olhos, com ar ingênuo, ee$plicou:

) 6ocê sabe... o gaiteiro.

) Ah, sim ( gaiteiro...

25




02)

"evin pressionou a co$a contra a perna de Michelle, por bai$o da mesa, e virou0separa o grupo, contando a hist-ria. >oi dif1cil concentrar0se nos detalhes com a mão deMichelle em seu 3oelho.

) (h &omo lamento termos perdido isso 0 e$clamou Fa%el. ) Millie e eu sempreadoramos a msica escocesa. 7ão # querida'

) (h, sim 2 muito comovente. !empre que ou+o, tenho vontade de chorar. 2 vocêsdois compartilharam esse momento tão bonito...

) !im ) responderam "evin e Michelle em un1ssono, sem olharem um para o outro.

) =sso e$plica.

) 2$plica o quê, Millie' ) perguntou MarH, levando uma cotovelada de "athI.

) *em, "evin e Michelle parecem mais / vontade um com o outro.

"evin brincou com o pei$e em seu prato, surpreso com a falta de apetite. Michelle

mantinha sua co$a colada / dele. Aquele toque dispensava comentários. Por sorte, "evinnão foi mais solicitado a falar. imitou0se a ficar sorrindo e acenando.

uando os pratos foram retirados, MarH esbo+ou um boce3o, comentando:

) ( ar marinho me dá muito sono. A você tamb#m, querida' ) perguntou, passandoum bra+o pelo ombro de "athI, que bai$ou os olhos, t1mida.

) Acho que estou cansada tamb#m.

MarH levantou0se, segurando sua mulher, rubori%ada.

) 6emos vocês amanhã. *oa noite.

) 6amos dan+ar ho3e / noite, "evin' ) !oltou um gritinho, abai$ando0se paraesfregar a perna dolorida.

) Pobre Fa%el &heia de reumatismo... ) comentou Millie. Fa%el olhou furiosa, paraa irmã, rebatendo:

) 7ão tanto quanto você, meu &em. Millie sorriu, divertida.

) *em, foi um dia cheio. 2speramos vê0los amanhã. "evin ficou observando as duasirmãs saindo do restaurante, dando cotoveladas uma na outra, e come+ou a rir. 6irou0se paraMichelle. !eus olhos se encontraram, em mtuo entendimento.

) Muito cansada'

) ( que você acha' Ainda rindo, sa1ram do restaurante, de mãos dadas.

CAP)*ULO +EI+

26




02)

uarta0feira de manhã, Michelle acordou com o calor do sol em suas faces e o rostode "evin a poucos cent1metros de dist@ncia. As rugas haviam desaparecido da testa dele,assim como o vinco entre as sobrancelhas espessas.

4m sorriso come+ou a se formar nos cantos da boca, e ele abriu os olhos sonolentos.

) *om dia ) murmurou Michelle.

2m resposta, "evin bei3ou seus cabelos e a abra+ou.

) 6iu que horas são' ) ele perguntou, com vo% pastosa. Foras' ( que era otempo' Michelle respondeu que não.

) !e nos apressarmos, ainda poderemos ir ) disse "evin. !ubitamente desperta,

Michelle olhou, assustada, para o rel-gio.) uer desistir' ) perguntou "evin.

) 2stou indecisa.

) !e não formos, poderemos nos arrepender.

) Tem ra%ão. 4m, dois, três

Ambos sa1ram da cama ao mesmo tempo. "evin enfiou a cal+a, rápido, e anunciou:

) 6ou para minha cabine tomar banho e me vestir. 2ncontro0me com você depois.uem chegar primeiro guarda lugar na fila.

) &erto ) gritou Michelle do banheiro. ) 6enha com cal+ão por bai$o da roupa.2nquanto tomava banho, Michelle resmungava. >ora ideia dela descerem do navio

para visitar !t. Thomas. 9rande ideia

2nfiou um biqu1ni e um vestido leve por cima, verde, com uma fai$a na cintura. &al+ousandálias confortáveis e dei$ou os cabelos ainda molhados, pois não tinha tempo para secá0los. Prendeu0os num rabo0de0cavalo no alto da cabe+a, com uma fivela verde. 2m seguida,

3ogou o contedo da bolsa que usara sobre a cama, separou a carteira, o protetor solar euma toalha de mão, e saiu correndo.

2nquanto caminhava, foi colocando os ob3etos na bolsa, e 3ogou0a sobre o ombro.

Avistou "evin no in1cio da fila e suspirou, aliviada. Afinal, não haviam perdido o barcoque os levaria / terra firme. "evin acenou, os cabelos castanho0claros ainda molhadostamb#m, brilhando ao sol. Michelle, então, alegrou0se por ter escolhido ir / ilha. 2ra um lindodia.

2ntraram no barco segundos antes que ativassem o motor em dire+ão a !t. Thomas.

A pitoresca cidade de &harlotte Amalie, com seus pr#dios coloridos, surgiu / frente.

Michelle estava feli%. 4ma ilha hist-rica do &aribe e um belo e carinhoso homem aoseu lado. 7ão poderia dese3ar mais nada.

27




02)

Poderia'

8á em terra, seguiram para o 9rand Fotel, mas, a meio caminho, Michelle oscilou,caindo sobre "evin.

) esculpe0me ) disse ela, sentindo0se um pouco tonta. "evin a sustentou pelacintura.

) Acontece. Mal você se acostuma com o balan+o do navio, tem de andar em terrafirme outra ve%, e isso desequilibra.

Michelle olhou dentro dos olhos cin%entos e sentiu um aperto no cora+ão. !entou0seem um banco para descansar. 4ma coisa era ter um romance de bordo, outra era pensar emalgo mais. !eria muito dif1cil terminar tudo no pr-$imo sábado, quando a viagem acabasse.

"evin parecia preocupado.

) 6ocê está bem' Michelle aprumou0se.

) &laro Ainda quer alugar um carro para e$plorar a ilha'

) !im, se você estiver disposta.) 4m bom caf# da manhã e estarei pronta ) respondeu, for+ando uma alegria que

não estava mais sentindo.

"evin desli%ava a mão em seu 3oelho e, para escapar da perigosa car1cia, Michellesugeriu:

) Acho que vou indo para o 9rand Fotel comprar um mapa enquanto você aluga ocarro. ue tal um 3ipe de capota convers1vel'

evagar, Michelle voltou0se em dire+ão ao hotel e foi caminhando, tentando nãoparecer um marinheiro bêbado.

&om as mãos na cintura, "evin ficou observando Michelle se afastar. 2la estavaestranha naquela manhã. Tinha olhado para ele como se o visse pela primeira ve%, e nãoparecia muito feli%. 2staria arrependida'

Tudo fora tão perfeito nas ltimas do%e horas Talve% perfeito demais. 2ra dif1cilacreditar que conhecera aquela mulher apenas no sábado anterior. 4ma sombra emba+ou aalegria da manhã.

&omo se sentiria quando tivesse de di%er adeus a Michelle'

uin%e minutos depois, "evin tinha alugado um 3ipe vermelho. (cupou o volante,

lembrando0se de que nunca na vida dirigira um 3ipe. Aquele dia ia ser memorável. 2ra melhor parar com os pensamentos tristes.

Percorrendo as ruelas cheias de turistas, "evin dirigiu0se ao 9rand Fotel, antecipandoo reencontro com Michelle.

2stacionou e viu Michelle caminhando em sua dire+ão, toda animada, tra%endo$1caras de papel com caf# e um guia dentro da bolsa.

) 6ocê não vai acreditar em quanta coisa há para se fa%er ) ela e$clamou.

28




02)

"evin pensou que qualquer coisa na companhia de Michelle seria divertida. !econseguisse afastar o olhar dela por segundos, at# poderia admirar a ilha.

Michelle ficou encantada com o 3ipe, como uma menina diante de um presente de7atal.

) >oi o que você encomendou ) disse "evin, abra+ando0a.

) Por onde come+amos' ) Michelle ocupou seu lugar no 3ipe.

) Por qualquer lugar onde vendam sandu1ches.

) 7ão precisa. ) Michelle abriu a bolsa e retirou uma fatia ainda quente de pão debanana. ) =sto # muito melhor, não acha' !erá que conseguiremos encontrar MountainTop'

) 7ão deve ser dif1cil. 2sta ilha # bem pequena. !- me aponte a dire+ão.

Michelle passou a ler o guia.

) (s daiquiris de banana daqui são famosos. !ervem milhares deles durante o ano.

"evin deu partida no 3ipe, perguntando a si mesmo se Michelle quebraria seus hábitosnaquele passeio tomando um daiquiri. Favia notado e estranhado que ela não bebesseabsolutamente nada. As pessoas sempre tinham um motivo para serem abstêmias. ualseria o dela'

Passaram pelo &astelo do *arba0A%ul, e Michelle contou a hist-ria do piratalegendário que lá morara no s#culo K6== e que tivera sete mulheres, uma das quaisenvenenara as outras seis e fora salva da forca pelo marido, no ltimo instante.

"evin bu%inou para um rebanho de cabras no meio da estrada, que pareciam não seimportar nem um pouco com os turistas. Michelle riu, acariciando um dos animais.

Por mais que "evin estivesse gostando da paisagem, apreciava muito mais de ver Michelle contente. 2stava ansioso por saber tudo sobre aquela mulher ao seu lado.

&hegaram ao ponto mais alto da ilha, Mountain Top, e estacionaram o 3ipe.

Michelle o enla+ou pela cintura, di%endo:

) 8á viu algo mais bonito' Aquela ilha deve ser !t. 8ohn. As menores são Tortola e6irgin 9orda e... ) Michelle interrompeu0se, ao encontrar o olhar de "evin.

2le desli%ou as mãos em seus bra+os, a sensa+ão e$citante voltando a tomar contade seu corpo, e olhou para os lábios de Michelle, lembrando0se de como tinham sido docesnaquela madrugada. e sbito, afastou0se dela.

) Tenho uma ideia. Por que não fa%emos um piquenique' Fá uma lanchonete por aqui, e uma das lo3as deve vender toalhas.

Michelle entusiasmou0se.

) 2u compro a comida, e você, a toalha.

Michelle deu0se conta de que vivia um daqueles momentos inesquec1veis na vida. 4mmomento que iria passar. 2ra preciso aproveitá0lo ao má$imo.

29




02)

(cupou0se, separando a comida na sacola, evitando encarar "evin. 2le saberia queela dese3ava mais do que aquele momento, e isso não fa%ia parte do trato.

) uer comer antes ou dese3a um dos famosos daiquiris de banana'

Assim falando, Michelle surgiu com uma caneca descartável selada. Favia outra como r-tulo, onde se lia "sem álcool". 4ma pergunta curiosa surgiu nos olhos de "evin, masMichelle não deu e$plica+?es.

) Prefiro admirar a vista, por enquanto. =sto aqui # magn1fico, não'

2nquanto falava, "evin ergueu o rosto para o sol, e$aminando o hori%onte.

Michelle admirou o perfil bonito e sereno. Por que não tinha um homem como aqueleem casa' !abia que não era s- o cenário que a emocionava assim. 7ão. 2ra o pr-prio "evinquem dei$ava tudo perfeito.

impando a areia das mãos, levantou0se e foi at# a água. 2stava morna, o fundol1mpido e convidativo. Pequenas ondas quebravam 3unto aos seus torno%elos. "*iva omomento". &omo um mantra, Michelle ficou repetindo aquelas palavras para si mesma. "*iva

o momento".

"evin 3untou0se a ela, segurando sua mão. Ambos foram entrando na água, at# queuma onda os cobriu.

>icaram em silêncio, sem necessidade de palavras. Michelle ficava se repetindo quesabia tudo o que precisava saber a respeito de "evin. 2le era carinhoso, gentil e bom.

7a cama e fora dela.

;iu alto e engoliu a água salgada. uando come+ou a tossir, "evin pu$ou0a,apertando seu corpo e batendo em suas costas. Aquela pro$imidade era muito perigosa,ainda mais com a mão de "evin desli%ando por suas costas. Alcan+ando o p# na areia,

Michelle se afastou do abra+o.Por#m sabia que "evin a dese3ava e resolveu provocá0lo, por brincadeira. (lhando

para todos os lados, certificou0se de que estavam so%inhos. !- de bin-culos algu#m poderiavê0los. &om um movimento rápido, Michelle desamarrou a parte de cima do biqu1ni,acenando com ela no ar, como uma bandeira, e di%endo:

) Agora você, "evin.

Mesmo atrav#s do bron%eado que ele adquirira, Michelle pEde ver que estavarubori%ado, e provocou:

) ( que houve' 2stá com medo'

Pondo as mãos debai$o dLágua, "evin tirou o cal+ão e ergueu0o para que Michelle ovisse, di%endo:

) Muito bem, menina esperta. Agora você continua.

Algo no olhar dele disse a Michelle que "evin achava ter vencido a brincadeira. 2la,então, tirou a parte de bai$o do biqu1ni e acenou com as duas pe+as para ele, atirando0as emsua dire+ão. ;ápido, "evin as apanhou no ar e correu para a praia.

) (h, que bandido ) gritou Michelle, atrás dele. >oi a ve% de "evin provocar.

) ( que há' 2stá com medo' Michelle riu com vontade, respondendo:

30




02)

) 7ão há nada para temer. 6ocê 3á me viu sem roupa. A e$pressão de "evin eramaquiav#lica.

) Tem ra%ão. Mas o su3eito atrás de você não viu. i%endo isso, foi para a praiapegando uma toalha e e$ibindo um sorriso divertido.

Michelle não ia se dar por vencida. Assistira a muitos filmes para saber que não havianingu#m apontando uma arma /s suas costas. >icou quieta, tentando ouvir algummovimento vindo de trás. 7ada.

"*iva o momento. *iva o momento."

&om a cabe+a erguida e um sorriso de desafio, foi at# a praia. "evin 3á vestira ocal+ão e entregou0lhe a toalha ensopada.

) 7ão, obrigada, prefiro ficar assim e dei$ar o sol me secar. 7ua, de frente para"evin, Michelle 3ogou o rabo0de0cavalo para a frente, rindo, respingando água nele. >oi entãoque, com a cabe+a abai$ada entre os 3oelhos, viu, /s suas costas, uma 3angada amarela.&om um grito estridente, pulou para trás de "evin, buscando prote+ão. 2le estendeu a

toalha, e Michelle a agarrou.) 7ão diga que não a avisei querida.

2m resposta, Michelle deu0lhe um empurrão por trás, e "evin caiu sobre a areia,arrastando0a com ele. epressa, "evin ficou por cima de Michelle.

) uer continuar dando um espetáculo para o su3eito da 3angada'

Ambos olharam, ao mesmo tempo, para o mar tranquilo. 4m homem sorriu, adist@ncia, e depois voltou a impulsionar a 3angada com o remo.

) !atisfeito' ) perguntou Michelle, tentando parecer derrotada.

"evin ergueu0se e come+ou a rir.

) ( que foi' ) perguntou Michelle, apertando a toalha cheia de areia de encontro aocorpo.

) 7ada. 2stou s- me divertindo.

!e Paul pudesse vê0lo naquele instante... &om um riso abafado, deu um gole nabebida ainda gelada. Tudo o que seu amigo sugerira fora um lugar ensolarado, commulheres de biqu1ni. 8amais acreditaria naquilo.

"evin observou Michelle dirigindo0se /s cabines pblicas que haviam visto ao chegar.!e tivesse ficado ao seu lado por mais cinco minutos, "evin teria contado tudo: o que fa%ia,onde morava. 7a certa, falaria sobre seu div-rcio, tamb#m.

Mas, por um motivo desconhecido, "evin sentia necessidade de contar tudo paraMichelle. &om e$ce+ão de seu advogado e de Paul, "evin 3amais voltara a mencionar onome de 8#ssica a ningu#m, depois que ela partira. Agora, tantos anos depois, descobria0sepensando se 8#ssica não abalara mais o seu ego do que seu cora+ão quando dissera asfamosas palavras: "!stou grávida... o pai ' um dos s+cios da minha irma".

>ora -timo Michelle ter ido se trocar naquela hora. e nada adiantaria despe3ar o li$ode seu passado sobre ela. A troco de quê' Para apro$imá0la dele' "evin tinha opressentimento de que 3á estavam muito pr-$imos um do outro.

31




02)

&omo diria adeus a Michelle'

CAP)*ULO +E*E

uinta0feira pela manhã, Michelle e "evin pararam em frente / farmácia do navio.

) 6ocê entra) disse Michelle, empurrando0o para a porta.

) 2u' Por que eu') Porque aquele # o mesmo vendedor que me atendeu, no outro dia.

) 2 da1'

) ( que ele irá pensar' "evin piscou para ela.

) Pensará que você pratica se$o seguro.

) ratico? 2 isso o que andamos fa%endo'

) At# atingirmos a perfei+ão ) murmurou "evin ao seu ouvido. Michelle cutucou seubra+o.

) 6amos lá, por favor. 6ocê entra. 2 mais fácil para os homens.

) 2m que revista feminista você leu isso'

Michelle inclinou a cabe+a, com uma e$pressão graciosa de splica.

) (H, oH, Michelle, você venceu.

2la deu0lhe um rápido bei3o no rosto e sumiu, antes que "evin pudesse mudar deideia.

) 2ncontro você na piscina ) gritou Michelle, sobre o ombro. !entia0se euf-rica. 7ãoe$perimentava tanta felicidade desde que era crian+a.

Faviam0se passado apenas cinco dias, mas Michelle sentia como se conhecesse

"evin a vida toda. !eus sentimentos transcendiam ao se$o. A seguran+a que tinha ao ladode "evin, a vontade que ele lhe dera de voltar a sorrir, as risadas que davam 3untos, /s ve%esem meio ao ato de amor, tudo era maravilhoso.

"evin tinha o mesmo senso de humor malicioso de Michelle, algo que a surpreendera. Ao mesmo tempo, possu1a outra faceta muito mais profunda e sens1vel, como no dia em quecantara, acompanhando o gaiteiro escocês, ou ao ouvido de Michelle, enquanto dan+avam,na noite anterior, ap-s retornarem de !t. Thomas e, depois, no chuveiro, de manhã.

32




02)

Michelle colocou toalhas nas espregui+adeiras, 3unto / piscina. !entou0se, e$pondo orosto ao sol. epois da insemina+ão artificial, a ideia de sair em um cru%eiro fora a melhor que tivera. 2 pensar que ia contentar0se em fantasiar sobre um homem que seria o pai deseu filho Agora tinha uma pessoa de verdade para recordar.

2stava certa de que, um dia, teria seu filho. !em perceber, passou a palma da mão

sobre a barriga, e então ouviu uma vo%:) 7ão # poss1vel que 3á este3a com fome de novo. epois daquele enorme caf# da

manhã'

) Tem ra%ão, "evin. 2stava pensando em quantos quilos vou engordar at# o fimdesta viagem.

"evin tirou a camiseta e deitou0se ao seu lado.

) uvido que tenha engordado um grama. 2ntre a nata+ão e...

(lhou0a com ternura, sem acabar a frase certa.

) Pretendo rela$ar um pouco, lendo, antes de vencer você de novo, dentro dapiscina. ) Michelle tentou dar um ar fr1volo /s palavras, a fim de afastar a sombra de triste%aque a invadiu:

) Pois sim At# agora você não me venceu. ( que a fa% pensar que ho3e serádiferente' ) "evin abriu seu 3ornal.

Michelle sentiu0se grata por ele enfiar o nari% na leitura, pois assim não pEde ver seusolhos mare3ados de lágrimas.

>icou virando as páginas do livro, sem nada ver. Aquela semana fora um verdadeiromilagre, em dois sentidos. !e tivesse sorte, um deles 3á estaria acontecendo dentro de seucorpo. uanto a "evin... !eus sentimentos para com ele eram mais do que mera fantasia.

7ão sabia o seu sobrenome, qual era sua profissão ou onde vivia. Por#m conhecia o ser humano chamado "evin. Talve% melhor do que conhecera qualquer outra pessoa na vida.

!erá que tudo corria tão bem porque não havia decis?es a tomar nem compromissos'!erá que a ausência daquelas responsabilidades fa%ia tudo parecer natural e fácil'

7o dia seguinte, / tarde, haveria um piquenique de despedida, e no sábado o cru%eiromar1timo terminaria. esceriam a rampa de embarque e sairiam da vida um do outro. J claro,poderia perguntar a "evin qual era seu sobrenome e endere+o. 2le at# poderia concordar emmanter contato com ela. Mas por quanto tempo' Telefonemas e cartas s- fariam aumentar asaudade. Al#m disso, Michelle tinha uma carreira que ocupava muito de seu tempo e, seeus permitisse, um bebê a caminho.

!em olhar para "evin, Michelle levantou0se e dirigiu0se / parte mais funda da piscina. A melhor coisa para a melancolia era o e$erc1cio f1sico. Melhor aproveitar o pouco tempo quelhes restava. As lágrimas teriam de esperar at# "evin desaparecer. Michelle não permitiriaque ele a visse dese3ar mais do que lhe fora oferecido. !e "evin quisesse um compromissomais s#rio, 3á teria dito.

!e repetisse aquilo muitas ve%es, talve% viesse a acreditar.

33




02)

"evin colocou o 3ornal de lado e observou Michelle nadando. !eu peito estavaoprimido. epois de 8#ssica, pensara que nunca mais iria acreditar em uma mulher a pontode se interessar por ela do modo como se interessava por Michelle. 8amais pensaria, noin1cio da semana, que iria se sentir assim. !ufocou o riso, lembrando0se da primeira ve% emque a vira no deque e como tentara evitá0la no dia seguinte. uem diria...

"evin parou de sorrir. ( sábado se apro$imava. &omo as coisas terminariam' 4mbei3o rápido' 4m aceno de mão indiferente' 7ão conseguia imaginar.

Mas precisava. 2 logo.

2ra uma manhã calma e indolente de se$ta0feira quando o navio apro$imou0se de9reat !tirrup &aI, a ilha particular das inhas Mar1timas 7oruega. Michelle observou o rostodas pessoas se preparando para desembarcar. 7ão era a nica passageira com fisionomiatriste. (utros tamb#m tinham aquele ar resignado, como se dissessem: "-igam(nos aonde ir,o $ue azer... Sa&emos $ue está $uase aca&ando e, amanhã, o mundo real vai nos engolir de novo".

"evin desculpara0se, di%endo que tinha um trabalho a adiantar para a volta, e pediuque Michelle fosse so%inha para o piquenique e se divertisse bastante.

8á come+ava a se afastar. ogo cedo, quando a bei3ara se despedindo, evitaraencarar seus olhos. Michelle en$ugou as lágrimas com um len+o de papel.

"res#a urdue. *oc/ sa&ia no $ue estava se metendo."

Michelle parou de falar consigo mesma, quando Millie estendeu0lhe os bra+os,apro$imando0se com Fa%el.

) 2i0la aqui 6ocê e "evin vão ao piquenique' Michelle evitou encará0la,respondendo:

) 2u vou.

) "evin não virá' ) perguntou Fa%el, surpresa e desapontada.

) 7ão. 6ai ficar no navio. Tinha trabalho a fa%er. Posso ficar com vocês duas, ho3e'

) Adorar1amos sua companhia. ) Millie olhava para Fa%el, pedindo confirma+ão.

) !em dvida. Teremos um lindo dia. ) Fa%el meneou a cabe+a a%ulada.

2 tiveram, mesmo. As três passearam, aspirando o perfume dos hibiscos. Millie colheuum, vermelho, e colocou atrás da orelha de Michelle. (bservaram os pássaros e asfolhagens, conversaram sobre tudo e nada, de ve% em quando sentando em um banco, no

meio do caminho. uando se uniram aos outros turistas para o piquenique, ao meio0dia,ficaram as três 3untas, contentes com a companhia mtua.

Michelle observou as duas irmãs mordiscando asas de frango, e um arrepio percorreuseu corpo. 7ão se sentia assim desde a morte de seus pais. 8amais tivera tias, mas se astivesse, imaginou que seriam como Milhe e Fa%el. 2ra uma pena ter de di%er adeus /s boassenhoras no dia seguinte tamb#m.

Mas talve% não precisasse se despedir delas. "evin era outra hist-ria.

Michelle decidiu bisbilhotar um pouco.

34




02)

) 6ão embarcar no aeroporto de Miami amanhã'

Millie respondeu tristonha:

) !im. !empre odiamos quando estes passeios terminam...

) ... di%er adeus a novos amigos ) completou Fa%el. Michelle sorriu, olhando para

as duas senhoras, com muito afeto.) 6ocês duas são terr1veis >oi -timo tê0las conhecido. !into0me feli% por esta

ami%ade ) Assim di%endo, pegou as mãos de Fa%el e Millie entre as suas.

) ( pra%er foi nosso ) respondeu Millie, os olhos mare3ados de lágrimas.

Fa%el assoou o nari% no len+o que sempre carregava, e as três riram.

) 6ocê tamb#m disse que vai partir do aeroporto de Miami, Michelle'

) 7ão, não disse Millie. Mas vou, sim. e lá irei para etroit.

) etroit ) e$clamaram as duas irmãs em un1ssono, entreolhando0se com umsorriso.

) uem diria 2 provável que este3amos no mesmo voo. Michelle soube, então, quevoltaria a vê0las. Talve% aquele cru%eiro s- fosse lhe dei$ar a recorda+ão de um paiimaginário para seu filho, por#m nada a impediria de ganhar um par de tias... ou av-s.

Millie en$ugou a boca com o guardanapo, como se fosse di%er algo muito importante.

) 7ão vivemos em etroit, minha cara. 2 você'

( desapontamento de Michelle foi vis1vel. Tomou um gole de chá gelado, tentandoencobrir seus sentimentos.

) !im, eu moro lá.

) 2 n-s, bem na divisa do 2stado de (hio, em Toledo ) acrescentou Fa%el.) A menos de uma hora de carro. ) Michelle sabia que ambas esperavam que ela

desse o primeiro passo, e não as desapontara.

7o mesmo instante, Fa%el surgiu com papel e caneta, e trocaram seus endere+os.

) 6ocê não imagina o tamanho de nossa lista de cart?es de 7atal, Michelle. ) Fa%elestava radiante.

) 7ão que esperemos at# o 7atal, ve3a bem. 8á que moramos tão perto, talve%possamos nos encontrar em breve. Tiramos muitas fotografias. 6ocê e "evin aparecem emvárias. ) Millie parou de falar, ao ver que Michelle parara de sorrir.

) !erá que eu disse algo errado, meu bem'Michelle procurou ganhar tempo, sem saber como e$plicar. Por fim, decidiu contar a

verdade, mas apenas o essencial:

) 2u e "evin não sabemos nem o sobrenome nem o endere+o um do outro. 7ãopretendemos entrar em contato, quando o cru%eiro acabar.

Millie conteve a enorme vontade de fa%er mais perguntas, respondendo:

) !eu segredo está a salvo conosco, querida.

35




02)

4m silêncio um pouco constrangedor abateu0se sobre as três, mas Millie logo mudoude assunto, comentando sobre a ilha de 9reat !tirrup &aI.

Michelle mal ouvia, pensando na pessoa que não estaria no aeroporto no dia seguinte.(u estaria' (rdenou a si mesma: "Não se martirize assim, urdue".

Tinha sido uma semana maravilhosa e inesquec1vel. >i%era duas novas amigas comquem se encontraria, de ve% em quando. !ua vida se enriquecera com aquela viagem.

2ntão, por que se sentia como se algu#m tivesse arrancado seu cora+ão do peito'

"evin foi fa%er algumas compras no navio. !e parasse para analisar, veria que haviaalgo errado com ele, pois detestava fa%er compras. Por#m o administrador do hospital e Paulmereciam presentes. 7a realidade, fa%iam 3us a eles. 2m especial Paul, que o for+ara ago%ar aquelas f#rias. 7enhum agrado pagaria o favor que o amigo lhe prestara, mas deviatentar.

Passeou por uma lo3a e acabou e$aminando a vitrina de 3oias. 4m pingente de água0

marinha em forma de cora+ão, pendurado em uma corrente de ouro branco, chamou0lhe aaten+ão. 2 claro que aquilo não ficaria bem em Paul. "evin abafou o riso. Tamb#m pareciamuito e$travagante e pessoal para dar ao administrador.

Por#m era perfeito para Michelle.

Fesitou um segundo, antes de pedir que o vendedor embrulhasse a 3oia, com umsorriso no canto da boca, pensando na maneira certa de entregá0la a Michelle, de modo queela não pudesse recusar.

2ncontrar presentes para Paul e o administrador ocupou "evin pelo resto da tarde, oque o dei$ou satisfeitoG assim, a noite chegaria mais depressa e, com ela, Michelle.

eu o n- na gravata. !entaria ao lado de Michelle para 3antar, pela ltima ve%. Talve%fossem dan+ar, mais tarde. 2 então, percorreriam o deque, em dire+ão / cabine dela... e /sua cama. Pela ltima ve%...

eu de ombros e respirou fundo, os msculos do quei$o tensos. ( homem bron%eadocom rugas atenuadas em volta dos olhos que o encarava, refletido no espelho, parecia maistriste do que o habitual. Aquele cru%eiro lhe trou$era uma pa% interior que havia muito temponão sentia, mas o pre+o aumentava a cada momento. Afastou o olhar do espelho e saiu dacabine, com passo determinado. Precisava chegar ao fim daquela noite da melhor maneiraposs1vel.

Mas e o que di%er das noites que se seguiriam /quela'

uando chegou / mesa do restaurante, ouvindo a risada de Michelle com Millie eFa%el, os cabelos castanhos e os ombros / mostra, cobertos de sardas, aquele pensamentocomprimiu seu peito como uma barra de ferro.

36




02)

Michelle ouviu o ltimo chamado para embarcar e olhou / sua volta. !abia que "evinnão estaria lá, mas dei$ou a esperan+a perdurar at# o ltimo instante.

evagar, encaminhou0se ao portão de embarque. &ontinuava sentindo o perfume de"evin quando a segurara para dan+ar. Pior ainda, podia sentir seus corpos unidos, maistarde, na madrugada.

Faviam conversado a respeito e chegado a uma conclusão. uando elaadormecesse, "evin iria embora. !em adeus. !em lágrimas.

Michelle avan+ou pela pista de embarque, e$austa, ap-s uma noite insone, e sentindofalta de "evin mais do que poderia imaginar.

CAP)*ULO OI*O

( trabalho sempre fora o refgio de Michelle. !uas tarefas eram impessoais e frias, ee$igiam retorno imediato.

Afastou0se do computador, massageando a nuca. =sso mesmo. 7ada como algunspro3etos de informática para absorvê0la durante todo o dia e manter sua cabe+a longe docalendário. 2 do cru%eiro mar1timo.

"evin... ( construtor com as mãos macias e seguras.

&onstrutor coisa nenhuma. Michelle tocou o pingente pendurado ao pesco+o, o qualencontrara escondido na sua mala quando a desfi%era, e que usava agora, sem nunca tirar.

7ão 7ão devia voltar ao passado. ( tempo faria com que suas lembran+asacabassem se confundido com os enredos das centenas de novelas que lia. "evin setransformaria em mais um her-i bonito, outro escape da dura realidade.

7otando que a $1cara de caf# estava va%ia, foi / co%inha servir0se de mais. (calendário na parede parecia atra10la como um 1mã, mas Michelle não precisava consulta0lopara saber que era dia seis de 3unho e que sua menstrua+ão falhara pela segunda ve%.

2ntretanto, nada de en3oos matinais ou outros sinais aparentes.( teste de gravide% esperava no armário do banheiro. !eria muito simples descobrir.

Mas estaria preparada para not1cias ruins' 2sperar parecia mais fácil do que se decepcionar.Michelle s- se agarrava / esperan+a e ao seu travesseiro, durante as solitárias noites,quando o rosto de "evin a atormentava, sempre que fechava os olhos, e mesmo quandoestavam abertos.

PEs a $1cara sobre o balcão da co%inha com tanta for+a que o caf# respingou.;espirou fundo e dirigiu0se ao banheiro, antes que mudasse de ideia.

37




02)

!egundos depois, estava em frente / pia, a fita de teste entre os dedos. evagar, foiabrindo os olhos, evitando olhar para o ob3eto em sua mão. Por fim, se decidiu e piscouvárias ve%es.

A%ul.

Apro$imou a fita do rosto, em dvida. 2stava a%ul. ;eleu a bula para certificar0se.

) !im !im !im

&ome+ou a girar pelo banheiro, euf-rica.

!eguiu dan+ando pelo corredor at# o quarto, atirando0se sobre a cama, de bra+osabertos. ágrimas correram suas têmporas, molhando os cabelos, mas o sorriso foi seintensificando, at# que o riso prorrompeu de seus lábios.

) (brigada, meu eus (h, obrigada Prometo que serei uma boa mãe.

Precisava contar a novidade para algu#m. uem'

&orreu de volta / co%inha, agarrou o calendário e fe% seus cálculos. =n1cio de 3aneiro.

&omo chegar at# o 7atal, esperando pelo maior presente de sua vida' Talve% o bebênascesse antes.

Michelle sentia0se uma nova pessoa. ueria rir e chorar ao mesmo tempo.

(lhou para o rel-gio da co%inha: quase meio0dia. ( consult-rio de seu m#dico ficavadentro do hospital e fechava para o almo+o. !eus dedos tremiam quando digitou o nmero. Avo% conhecida atendeu.

) Aqui fala Michelle Purdue. J "ellI'

) uem mais poderia ser' ) respondeu "ellI, bem0humorada.

) "ellI, preciso marcar uma consulta urgente.

) 2stá doente'

) 7ão... sim... quer di%er... bem, acho que estou grávida.

) (h

Aquele som tradu%ia a compreensão e satisfa+ão de "ellI.

) Fá um horário dispon1vel no dia de%enove de 3unho, /s on%e e meia. Pode vir'

) 7ada antes disso'

uas semanas pareciam uma eternidade para Michelle.

) amento, mas os m#dicos estão muito ocupados nesta #poca. Muitos bebêsnascem no verão, você sabe.

7ão, Michelle não sabia. 2m mat#ria de bebês era uma completa ignorante. 2 aquelepensamento a apavorou.

) (H, pode marcar para o dia de%enove.

2m meio a seus pr-prios pensamentos, Michelle ainda ouviu "ellI di%er alguma coisasobre um novo computador, mas não conseguiu prestar muita aten+ão.

38




02)

Ap-s desligar, esva%iou a $1cara e limpou o balcão da co%inha. embrou0se do bancode esperma.

*alan+ou a cabe+a, em negativa. 7ão. Telefonaria depois. Talve% aquele dia fosseideal para fa%er uma limpe%a no seu armário. 2mpacotar ob3etos usados para os pobres,lavar roupa. 2 depois' ( que faria no dia seguinte' 2 nos outros'

6oltou para o quarto e deitou0se na cama, sentindo uma profunda melancolia. !e aomenos sua mãe ainda estivesse viva, poderia telefonar para ela. >icaria tão feli% em ser av-... 4ma lágrima solitária escorreu pela sua face. !eus pais tinham sido filhos nicostamb#m, portanto não havia nem uma tia com quem compartilhar a boa nova. >echando osolhos, passou em revista todos os rostos familiares que conhecia, e então dois delesentraram em foco.

Millie e Fa%el.

!orriu. Podia imaginar os gestos infantis das duas, batendo palmas, soltando gritinhose$citados, abra+ando0a. >icariam maravilhadas.

Por#m estavam a quilEmetros de dist@ncia. A ideia de pegar o carro e ir at# lá foi umatenta+ão. Faviam trocado cartas ap-s o cru%eiro, mas, mesmo assim, Michelle achou quepensariam que era louca, correndo para falar com elas sobre algo tão 1ntimo.

Aquilo não era verdade. Fa%el e Millie entenderiam seu gesto. ( problema # quepensariam que o bebê era de "evin. 7ovas lágrimas. angada com o clima de melancoliaque a dominara de repente, Michelle en$ugou o rosto, saiu da cama e foi para o computador trabalhar.

Michelle plane3ara ter um pai fa%0de0conta e usar o rosto de "evin nessa fantasia, masele era uma pessoa de carne e osso e sua lembran+a a atormentava.

Michelle ficou olhando para a tela em branco do computador. Favia muito a fa%er, se

conseguisse se concentrar. (s rostos sorridentes de Millie e Fa%el desapareceram em uman#voa.

Talve% um dia telefonasse para elas ou fosse visitá0las. Mas não 3á. !- muito maistarde.

!- quando "evin não passasse de um rosto bonito dentro de vagas lembran+as.

uando o m#dico saiu da sala, Michelle sentou0se na cama.

) ois meses 3á passados e sete a enfrentar ) ela disse. 2mbora 3aneiro aindaestivesse muito longe, uma longa lista de preparativos come+ava a esbo+ar0se em sua

cabe+a. 2m primeiro lugar, precisava de um apartamento novo.esli%ou para fora da cama e come+ou a se vestir. Talve% houvesse uma vaga no seu

pr-prio pr#dio, um apartamento de dois dormit-rios. Adorava a vista que tinha e o fato deestar pr-$ima ao centro da cidade. Por outro lado, a ideia de um quintal amplo tamb#m asedu%ia. Poderiam comprar um cachorrinho e um balan+o.

(lhou pela 3anela do consult-rio e riu alto. Teria muito tempo para comprar umbalan+o. 4m ber+o e fraldas eram prioridades, no momento. ei$ou a sala de e$ame edirigiu0se / mesa de "ellI.

39




02)

Parecia que todos tinham sa1do para o almo+o, menos a secretária, com o nari%enfiado no manual de seu novo computador. 6irou0se, assustada, quando Michelle colocou otalão de cheques sobre o balcão.

) (h, desculpe0me, Michelle

) Trabalhando em horário de almo+o, "ellI'

) (u fico agora ou depois do e$pediente, mas tenho planos para ho3e / noite.

Michelle entregou0lhe o cheque.

"ellI estendeu o recibo # perguntou0lhe:

) 6ocê ainda tem uma firma de consultoria em informática' Michelle pegou um cartãode visitas na bolsa, re%ando para que "ellI compreendesse que devia marcar uma visita.7ão dese3ava falar de trabalhoG não naquele instante.

Mas "ellI terminou com seus pro3etos, acenando com o manual do computador epedindo:

) 6ocê se importa' Providenciarei para que o doutor a reembolse pela aula.!uspirando, conformada, Michelle deu a volta no balcão e sentou0se ao lado de "ellI.

) Preciso ver umas coisas na outra sala, Michelle. >ique / vontade, e não se importecom o telefone, pois está com a secretária eletrEnica ligada. 8á volto.

Michelle come+ou a trabalhar no computador. 2m dois minutos, tinha arrumado tudopara "ellI. !e todos os problemas fossem fáceis assim... ;ecostou0se na cadeira, sorrindo, /espera da secretária, quando ouviu duas vo%es masculinas. A medida que se apro$imavam,o cora+ão de Michelle disparou. e onde estava, recostada atrás do balcão, não podia ver nem ser vista.

7ão, não podia ser. !ua imagina+ão estava lhe pregando pe+as."ellI voltou, sorrindo:

) 8á terminou'

(s dois homens pararam a fim de dar passagem / mo+a.

) "ellI, seu chefe não dei$a você sair para o almo+o'

) 2ssa pergunta # do superior ou do colega' ) perguntou, piscando os grandesolhos a%uis e sorrindo, meiga, para o homem de 3aleco branco. Parecia que estavamacostumados /quela troca de brincadeiras. ) ( que o tra% / ala das consultas' 7enhumacirurgia ou emergência no pr#dio principal'

( homem cru%ou os bra+os, suspirando, e debru+ou0se sobre o balcão, brincando:) Precisava ver seu rosto sorridente. 7a realidade, estamos aqui para falar com o

pessoal da ala de cardiologia.

"ellI lembrou0se de Michelle.

) esculpe0me. ue falta de considera+ão a minha 2sta # Michelle Purdue. 2la # omá$imo em computadores e está me a3udando.

( homem estendeu a mão, apresentando0se:

40




02)

) Paul <esterfield. Muito pra%er.

Michelle levantou0se, sentindo o sangue fugir de seu rosto. !egurou a mão de Paul,murmurando qualquer coisa, mas seu olhar estava preso no outro homem.

"ellI apro$imou0se dele e apresentou:

) 2 este # o r. "evin !ingleton. !ingleton. -outor !ingleton.Michelle sentia0se como uma son@mbula, seus membros pesando como chumbo, sua

consciência duvidando do que os olhos viam. 8á tivera esse sonho antes, no qual oreencontrava, mas aquilo era de verdade.

"evin ficou ali, parado, petrificado como Michelle. Por fim, apro$imou0se e estendeu0lhe a mão. 2ngolindo em seco, murmurou:

) Michelle... Purdue'

2la olhou para os dedos tão conhecidos e apertou aquela mão, em um longo ecarinhoso gesto. Podia sentir o olhar curioso de "ellI, assim como o do r. <esterfield, mastodos os seus sentidos estavam concentrados no toque de "evin. uando pensava come+ar a esquecê0lo, "evin ressurgia, enterrando um punhal em seu cora+ão, lan+ando uma novaesperan+a sobre ela.

2m algum lugar distante, Michelle ouviu um apito. &omo se despertasse de um sonho,"evin piscou várias ve%es, soltando a mão de Michelle, lendo a mensagem digitada no seu

pager preso ao cinto. &olocou a mão sobre o ombro de Paul:

) Tenho de ir. iga aos rapa%es que volto outra hora. <esterfield acenou, olhandomais uma ve% para Michelle, antes de seguir caminho.

Michelle caiu sentada na cadeira, ainda presa pela grande como+ão. Precisavaconcentrar0se na tela do computador, a3eitar tudo para "ellI e sair dali, correndo.

) Tudo bem com você' ) perguntou a secretária. Michelle fingiu estar muitoocupada, ganhando tempo at# recuperar a vo%.

) 6ê estes 1cones aqui, "ellI'

uando terminou com as e$plica+?es, encarou "ellI, que continuava com o olhar curioso. Michelle fingiu não perceber. !em mais conversa, estendeu outra ve% seu cartão devisitas.

) !e tiver mais dvidas, telefone0me.

8ogou a bolsa no ombro, sorriu e saiu. Ainda ouviu a vo% de "ellI, agradecendo,atrasada: ) (brigada pela a3uda.

Michelle apenas acenou de volta, numa sbita necessidade de ar fresco. &aminhousem admirar, como sempre fa%ia, as plantas e flores que ladeavam a entrada do hospital.2ntrou no carro e pEs o cinto de seguran+a.

2ntão, colocou os bra+os sobre a dire+ão, abai$ou a cabe+a e chorou. !eu corpocome+ou a tremer com os solu+os convulsivos. Parou um pouco para concluir que aquilo eraum problema hormonal. Afinal, estava grávida. Mas os solu+os voltaram.

"evin deveria ter se transformado em um rosto de sonho. 4ma lembran+a adormecidae distante.

41




02)

) Por quê' Por que ho3e'

2stivera tão feli% com a confirma+ão do m#dico...

Ao dirigir para casa, tentou lembrar0se de seus planos para aquele dia, mas "evinconseguira apagar tudo o mais em sua mente, e apenas uma pergunta ficava remoendo seuspensamentos: agora que ele sabia seu nome completo e que ela morava nas redonde%as,iria tentar fa%er contato'

) Michelle, Michelle, por que está dei$ando que fantasias arru1nem esse dia tãoespecial' 2 por que está re%ando para ter uma complica+ão em sua vida'

CAP)*ULO NOVE

"evin conferiu o nmero do apartamento de Michelle na lista do lado de fora dopr#dio: NO. ( seguran+a apro$imou0se dele, abrindo a porta. "evin pensou em dar meiavolta e ir embora.

) Posso a3udá0lo, senhor' ) perguntou o seguran+a.

) 4ma de minhas pacientes me chamou... acho que está com gripe.

=lustrando suas palavras, "evin levantou a maleta preta, com fingido ar de cansa+o, eapontou para o nome afi$ado no 3aleco branco que 3amais usava fora do hospital. ( guardapareceu acreditar, em parte, e "evin continuou:

) !eu nome # Purdue... apartamento NO. Pensei em ligar direto, pelo interfone, masela me pareceu muito mal, quando me telefonou. *obagem fa%ê0la sair da cama, pelasegunda ve%. Pensei em subir e tocar a campainha.

( velho guarda co+ou o quei$o barbado.

) A !rta. Purdue, hein' ) Abanou a cabe+a, como se estivesse recordando. ) !im.2la não parecia estar bem quando voltou para casa, ho3e / tarde. Mas não posso dei$á0losubir sem avisar antes, pelo interfone.

"evin esfor+ou0se para que o outro não visse como estava suando.

) Tem um cartão de visitas' ) perguntou o guarda. "evin tirou um da maleta.

) Assine aqui no livro e pode subir.

"evin obedeceu, dirigindo0se, então, ao elevador, e apertando o botão do s#timoandar. 2nquanto subia, olhou para si mesmo, achando gra+a. 7ão sabia quanto tempo fa%iaque não usava aquela velha maleta preta. 2 quando fora a ltima ve% que um cardiologistafi%era uma visita em domic1lio'

42




02)

( elevador parou, e a porta abriu0se. 7ingu#m no corredor. 5timo. !e Michellebatesse com a porta no seu rosto, não haveria testemunhas da sua humilha+ão.

&aminhou pelo corredor, procurando o apartamento.

Parou / porta do NO, incerto. !abia que Michelle não bateria com a porta no seurosto, mas será que ficaria feli% em vê0lo' 7ão parecera contente, aquela tarde. 2stavabranca como gi%, e sua mão tremia. "evin sentira0se aliviado quando o pager tocara,permitindo que fosse embora. !e não tivesse tido aquela desculpa, o que poderia ter dito nafrente de Paul e de "ellI' "0ue &om ver voc/ de novo"?

Ainda não era tarde demais para partir. Mas e se, no dia seguinte, o guardamencionasse seu nome para Michelle' ( que ela pensaria'

Por que não telefonara' (u mandara um cartão'

"evin chegou / conclusão de que, no 1ntimo, não tinha querido esclarecer as coisaspor telefone, e estava com pressa de rever Michelle.

Precisava saber se ela dese3ava revê0lo, tamb#m. 2 precisava fa%er isso olhando nos

seus olhos. Al#m do mais, o elemento surpresa era importante para que não tivesse tempode inventar alguma desculpa. ueria a verdade, sem máscaras.

Fesitando mais um pouco, ergueu o punho e bateu duas ve%es, o som ecoando nocorredor silencioso.

(uviu msica vinda do apartamento e seu pulso acelerou. 2 se Michelle não estivesseso%inha' !e houvesse outro homem lá' &omo fora arrogante da sua parte presumir que elaestaria s-...

4ma fresta da porta se abriu. (s conhecidos olhos verdes dilataram0se por trás dacorrentinha de seguran+a. A porta fechou0se, depressa, e "evin ouviu o ru1do da corrente sesoltando. 2ntão, a porta se abriu.

) "evin' ) perguntou Michelle, como se estivesse diante de uma apari+ão.

) Michelle' ) rebateu "evin, sorrindo, ao lembrar0se de que haviam dito as mesmaspalavras no seu primeiro encontro formal.

2la sorriu tamb#m, pensando a mesma coisa. Parecia mais frágil do que "evinrecordava. Por fim, Michelle deu um passo de lado e dei$ou0o entrar.

) &omo passou pelo FarrI, "evin' ) perguntou, apertando o cinto do roupão decetim cin%a.

As suas costas, havia uma 3anela que ia de ponta a ponta da sala, com uma vistadeslumbrante. ( sol poente tremelu%ia na superf1cie do rio. "evin ficou olhando al#m deMichelle, lembrando muita coisa, sem di%er nada. uando voltou a fitá0la, notou que elaachava gra+a das suas vestimentas.

"evin ergueu os bra+os, olhando0se e rindo, tamb#m.

) >oi assim que consegui passar pelo FarrI. 2le acha que você está doente.

43




02)

) >a% muitas visitas em domic1lio, doutor'

) 2sta # a primeira. Por que será que me sinto tão estranho'

) Porque ' estranho. uando dei$amos o navio não esperávamos nos rever.

Michelle tinha ra%ão. "evin 3amais lhe dera motivos para pensar que dese3ava revê0la.

4m erro crasso, que o consumia desde que voltara das f#rias. Procurou algo interessantepara di%er ou fa%er que pudesse quebrar o clima pesado entre os dois.

A maleta. eus, quase se esquecera

irigiu0se / mesa de centro e depositou a maleta preta sobre ela, reme$endo seucontedo como um mágico retirando coelhos da cartola. &om um floreio, surgiu com umramo de violetas um tanto murchas. !egurou0as, convidando Michelle a apro$imar0se.

2la obedeceu, hesitante, o sorriso voltando a brilhar em seu rosto.

) !empre fiquei curiosa de saber o que os m#dicos levavam nessa maleta )comentou, inalando o perfume das violetas.

) Tive o pressentimento de que deveria guardá0la porque, um dia, poderia ser til. Aquela conversa não estava levando a nada. "evin tivera esperan+as de que Michelle

se atirasse em seus bra+os, que se bei3assem com fria, os cora+?es batendo loucamente,enquanto se di%iam o quanto haviam sofrido com a ausência um do outro.

2ntretanto, Michelle limitou0se a dar0lhe as costas e ir buscar um vaso. !eus cabeloscastanhos e brilhantes estavam mais compridos, caindo em tran+a sobre as costas, algumasmechas soltas nas faces. (s quadris, mais arredondados, e as mãos de "evin pareciamatra1das por eles, dese3ando acariciar o corpo 3á seu conhecido.

Michelle voltou0se, di%endo:

) !ão muito bonitas, "evin. (brigada. ) Mais uma ve%, mergulhou o rosto nas florese completou: ) 6ocê sabe, não podemos continuar do ponto em que paramos. A situa+ãoera diferente no navio.

"evin come+ou a ficar %angado, sem saber muito bem por quê. 2le a dei$ara sem dar seu sobrenome nem endere+o, sem esperan+as de que dese3ava revê0la. Mas, afinal decontas, estava ali, agora, provando que $ueria revê0la (u, então, por que estaria ali' Antesmesmo que o avião de Michelle tivesse partido da >l-rida, "evin 3á sentia falta dela e searrependera da decisão de permanecer anEnimo. Tudo o que Michelle precisaria fa%er eraperguntar a Paul como ele andava triste desde que voltara, e teria sua confirma+ão.

( silêncio se prolongava, insuportável. "evin precisava di%er algo, antes que Michelleo convidasse a ir embora. 7ada na atitude dela demonstrava que agiria de forma diferente.

) Michelle... Poder1amos come+ar de novo...

) &om cautela' !em promessas' !em pressão' Michelle fe% as perguntas enquantocolocava o vaso no centro da mesa e cru%ava os bra+os.

"evin percebeu que os olhos dela se emba+aram. !e Michelle chorasse, ele teria dereagir. Precisaria abra+á0la e consolá0la, di%endo que tudo estava bem. "evin viu0sedese3ando que Michelle chorasse. Mas ela não o fe%.

44




02)

) !e # assim que você se sente... ) murmurou "evin. 9ostaria de di%er0lhe quenada mudara desde que tinham se separado. Pelo contrário, seu sentimento era ainda maisforte, agora. Mas pressentiu que estragaria tudo. !eus p#s pareciam pregados ao chão, e"evin ansiava por correr para Michelle e terminar com a dist@ncia entre os dois. 2ntão, derepente, ela come+ou a rir.

) ( que foi' ) perguntou "evin, não vendo gra+a alguma naquela situa+ão.) 2 que... bem, você está parecendo um daqueles velhos atores de seriados m#dicos

para a televisão.

"evin tentou aproveitar aquela tr#gua e tratou de pensar depressa.

) 6ai fa%er alguma coisa se$ta0feira / noite' ) falou, sabendo que soava como umadolescente desa3eitado.

) 2stá me convidando para sair com você'

) !im.

) 7ão.

) 7ão o quê' 7ão quer sair comigo ou não tem compromisso na se$ta0feira'

) 2stou dispon1vel na se$ta0feira / noite, doutor. Mas não estou livre. =sso vai lhecustar caro. Muito caro ) respondeu Michelle, sorrindo, com ar maroto.

"evin aceitou o desafio, di%endo:

) Ds sete horas, está bem' 8antar' an+ar'

) Ds sete está perfeito. ) Michelle encaminhou0se para a porta e abriu0a.

"evin entendeu o recado, embora dese3asse ficar, mas feli% com o final do primeiroencontro.

uando saiu do elevador, momentos depois, FarrI o saudou como se fossem velhosamigos.

) &omo está a !rta. Purdue' 6ai ficar boa'

"evin deu0lhe um tapinha no ombro e seguiu em frente, di%endo:

) !- uma leve gripe, FarrI. ogo voltará a ser a mesma.

) >ico feli% em ouvir isso, doutor.

!e eus quisesse, Michelle voltaria a ser a mesma.

) *onito ) comentou Michelle, passando os olhos pela sala decorada com bomgosto.

As mesas eram separadas em compartimentos em semic1rculo. 2spelhos pendiam damaioria das paredes, refletindo grandes arran3os florais. Apesar de a cor malva dar um toquemoderno ao ambiente, este era antiquado, lembrando antigos filmes rom@nticos onde o her-isempre conseguia conquistar a mocinha.

) >ico feli% por você gostar. ) "evin sorriu, olhando para o rel-gio. ) A orquestracome+ará a tocar logo. Paul disse que são bons. 7ada de msica barulhenta.

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02)

Michelle brincou com o copo, imaginando o quanto "evin contara a seu amigo sobre ocru%eiro mar1timo. 7ão que isso tivesse import@ncia, mas ela estava curiosa. ( "evin que viaagora não era o mesmo das f#rias. 2 Michelle precisava tomar conhecimento de muitascoisas antes de voltar a confiar nos pr-prios sentimentos.

) ( que está tramando por trás desses olhos verdes' ) perguntou "evin, fa%endo

com que Michelle tivesse um sobressalto.2la sorriu nervosa, desviando o olhar e voltando a encará0lo, enquanto respondia:

) !ei tanto sobre você e, ao mesmo tempo, sei tão pouco... "evin recostou0se napoltrona e, com um suspiro, disse:

) Muito bem, estou pronto. Pode come+ar a perguntar. Michelle achou que ele estavatão nervoso quanto ela. ( cru%eiro os dei$ara / vontade, mas aquele encontro elegante davaum novo enfoque ao relacionamento. 2 havia um s#rio motivo para a ansiedade de Michelle.

2stava grávida. 2 o bebê não era de "evin.

7o seu mundo de fantasia, permitia0se imaginar que, talve%, "evin fosse o pai de seu

filho. A insemina+ão artificial poderia ter falhado. Mas as probabilidades eram pequenas, eaquele não era o seu mundo de fantasia. "evin era de carne e osso, e o bebê que cresciadentro dela, tamb#m.

Ao ver que Michelle permanecia calada, "evin insistiu:

) *em' Pergunte qualquer coisa. 7ão tenho segredos inconfessáveis.

&ru%ando os bra+os, Michelle come+ou com uma pergunta importante:

) 6ocê e 8#ssica tiveram filhos'

"evin pousou o copo com vinho sobre a mesa, e Michelle sentiu um n- na garganta.

) 7ão ) respondeu ele, a mand1bula contra1da. 2stava claro que Michelle tocara emuma ferida. A resposta curta de "evin significaria que gostaria de ter tido filhos' !e essefosse o caso, talve% se alegrasse com a novidade de Michelle... quando chegasse a horaapropriada para contar. Agora ainda era cedo demais. Primeiro, precisava saber em que ter0reno estava pisando. Abriu a boca para formular mais uma pergunta, mas "evin a detevecom um gesto de mão.

) ei$e0me economi%ar tempo.

Assim di%endo, inclinou0se para a frente, com os cotovelos sobre a mesa.

) 2u e 8#ssica decidimos que nossas carreiras e$igiam muito de n-s, e que nãohaveria tempo para sermos pais.

"evin tomou o vinho e encarou Michelle, como se avaliasse a import@ncia do que iriadi%er a seguir.

) >oi por isso que fi% uma vasectomia.

Michelle ficou muito quieta. ( sonho acabara. 7em toda a imagina+ão do mundopoderia fa%er com que "evin fosse o pai daquela ou de qualquer outra crian+a que ela viessea gerar.

A orquestra come+ou a tocar uma balada suave que Michelle acharia muito rom@ntica,caso não estivesse prestes a chorar. 2sperara a semana toda por aquela noite, re%ando para

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02)

que voltassem a encontrar a magia do navio Noruega e que aquele mal0estar terminassecom a volta do amor.

"!le não $uer ilhos."

4ma pequena frase terminara com tudo. Michelle olhou para os casais dan+ando, comuma dor no cora+ão, tão verdadeira quanto o fato de seu filho ter sido gerado por um outrohomem.

Por que tinham se encontrado de novo' Por que não pudera ficar relembrando opassado e continuar com seu sonho'

"evin sentou0se ao seu lado. Michelle não queria dan+ar, aspirar o perfume da lo+ãoque "evin usava, sentir seu hálito 3unto ao rosto. ueria di%er a ele que não fa%ia sentidocontinuarem ali, que ela... ela...

"evin pegou0a pela mão e foram para a pista de dan+a. Mergulhou o olhar no deMichelle, com a ternura que demonstrara no deque do navio quando tinham ouvido o gaiteirodo iate.

Michelle encostou o rosto no peito forte e fechou os olhos, relembrando, dese3ando.Poderia ter sido tudo tão perfeito...


( bra+o de "evin apertou0a mais. Parecia tão natural, mas não era. Michelle nãopodia mais fingir.

2la tamb#m o abra+ou forte, sabendo que, quando aquela noite acabasse, nãohaveria outra para eles dois.

"evin desligou o telefone com um repelão, saiu da sala e desceu em dire+ão /

4nidade =ntensiva de &ardiologia.!abia que Michelle dese3ava ir com calma, mas aquilo era rid1culo. epois de uma

semana dei$ando mensagens na secretária, ela não respondera a nenhuma. !e se tratassede outra mulher, havia muito ele teria dado um basta.

Mas não se tratava de qualquer mulher. Tratava0se de Michelle. A mulher que "evin 3ulgava conhecer melhor do que nenhuma outra. A mulher que ele 3ulgava...

7ão conseguia pensar naquela palavra, quanto mais pronunciá0la.

igitou a senha, e as portas automáticas para a 4nidade =ntensiva de &ardiologia seabriram. !entou0se atrás do balcão, e$aminando fichas e evitando conversar com o pessoal

da equipe que passava por ali.( que dera errado' Michelle gostava dele. "evin sabia, ainda mais depois do modo

como se aninhara em seus bra+os na pista de dan+a do restaurante, como se não dese3asseque a noite acabasse. !egurara sua mão durante o percurso de volta para casa. Tinham sebei3ado / entrada do pr#dio de Michelle, sem muitas e$igências, mas ela retribu1ra. epois,entrara so%inha. Por um momento, "evin pensara que Michelle o convidaria para subir.

"evin repassara, em sua mente, todas as palavras proferidas naquela noite. Apenasuma parte poderia ter aborrecido Michelle: a vasectomia. Por#m, se aquilo era importante

47




02)

para ela, por que não dissera' everia saber que o processo podia ser revertido. !e ter filhos era algo tão importante para Michelle, quando estivessem prontos para assumir umrelacionamento estável, ele tomaria providências. 2la não precisaria nem pedir.

Acabou de ler as fichas. Todos os seus pacientes se encontravam em estado cl1nicoestávelG nenhuma emergência. Mas aquele quebra0cabe+a tinha de ser resolvido. 2 logo.

FarrI abriu a porta, fran%indo as sobrancelhas grossas, em sinal de preocupa+ão.

) outor'

"evin passou por ele com um cumprimento distra1do.

) A !rta. Purdue esta doente de novo'

) !im, tenho de vê0la. FarrI o seguiu at# o elevador.

) uer que vá com o senhor'

"evin apertou o botão e olhou para o rosto compungido do bom homem. &olocandouma mão no ombro de FarrI, disse:

) !e precisar de a3uda, FarrI, eu aviso, certo' 2 entrou no elevador.

Assim que a porta se abriu, "evin partiu para o corredor, em dire+ão ao apartamentoNO. *ateu com for+a na porta, sem se importar se iria acordar o pr#dio inteiro.

Michelle atendeu e deparou0se com o olhar irado de "evin. Favia olheiras profundassob os olhos verdes. Al#m de cansada, parecia deprimida. Toda a fria de "evin sumiu. euum passo em dire+ão de Michelle, enquanto um rapa% apro$imava0se no corredor. "evintentou manter as aparências.

) (h

( comentário veio do rapa% bonito, os olhos cheios de surpresa.

(lhou bem para o 3aleco branco e a maleta preta e encarou Michelle.

) 2stá doente, meu bem' "evin encarou o rapa%.

( olhar de Michelle foi de um para o outro.

) 7ão, não estou doente. 6ocê está 8immI' 8immI pareceu confuso.

) 2u não.

"evin achou que entendera tudo. eu um passo atrás, saindo da soleira da porta,tendo palavras ásperas na ponta da l1ngua. 2ntre os dentes, murmurou:

) esculpe0me. &reio que me enganei de apartamento. Michelle correu atrás dele,mas a porta do elevador fechou0se antes que alcan+asse "evin.

8immI terminou o caf# e pegou sua pasta. eu um bei3o no rosto de Michelle e, então,segurou0a pelos ombros.

) (brigada, meu bem.

) Por nada, 8immI. >ico feli% por ter podido a3udar.

48




02)

) Assim que os fundos forem aprovados, comprarei o sistema que você recomendou,e então nos encontraremos.

) 6ou esperar.

) Tem certe%a de que não quer que eu pague ho3e'

) Absoluta.&om um rápido abra+o, 8immI despediu0se, dei$ando Michelle 3unto / 3anela.

2la ficou olhando para o lado canadense, para o novo cassino. !e ao menos fosseuma 3ogadora...

!aiu da 3anela, recusando0se a chorar de novo. 7ão era do seu feitio tratar "evin tãomal, dei$ar suas mensagens sem resposta, fingir não conhecê0lo quando bateu / sua porta.2le merecia uma e$plica+ão, mas Michelle não tinha coragem de di%er o porquê de as coisasentre eles não darem certo. Talve% agora que fi%era 3u1%o errado de 8immI a raiva fi%essecom que "evin a esquecesse e continuasse sua vida sem ela.

A verdade era que Michelle sentia0se uma tremenda covarde, que não confiava em simesma a ponto de telefonar ou ver "evin de novo. 2le poderia di%er que não tinhaimport@ncia se ela estava grávida. Poderia at# tentar convencê0la de que gostaria de ter umafam1lia.

Mas seria verdade' !e dese3asse ter filhos, 3amais teria feito uma vasectomia.


Aquelas palavras ficavam ecoando em seu c#rebro como a letra de uma msicaconhecida. Apesar de sua resolu+ão, uma lágrima teimosa escorreu. angada consigomesma, Michelle a en$ugou, enquanto tirava os pap#is da mesa, levando0os para ocomputador, em seu quarto.

2stava esperando um bebê que, desde muito tempo, dese3ava. 7ada nem ningu#marruinariam seu sonho. 2ssa crian+a seria amada e protegida.

Acariciou o ventre e sorriu. 8á era amada, e nenhum homem, por mais que elaestivesse apai$onada, faria com que se arrependesse de sua decisão.

CAP)*ULO DE-

2ra a se$ta0feira anterior ao ia do Trabalhador, e o restaurante do hospital estavaquase va%io.

49




02)

) amento que você não tenha podido ver o r. <ilson, ho3e de manhã. Aposto queficou aborrecida ) comentou "ellI.

) 2le não tem culpa de ter ido fa%er um parto, mas ho3e seria minha primeiraultrassonografia ) lembrou Michelle.

) esculpe0me por ter feito você vir aqui por nada. &onsegui me comunicar comtodas as pacientes, a não ser você. Pelo menos, terei o pra%er de sua companhia para oalmo+o.

Michelle estava no quarto mês e meio de gravide%. 2m breve, teria de dar e$plica+?esa seus clientes, e alguns deles eram bastante conservadores, e poderiam ficar aborrecidospor ter uma consultora grávida e solteira. A maioria, por#m, não se importaria.

"ellI acenou para algu#m, di%endo:

) embra0se do r. <esterfield'

Michelle aprumou0se na cadeira, esperando que, dessa ve%, Paul estivesse so%inho...

Mas lá estava "evin, olhando para ela com olhos de a+o e ma$ilares cerrados.

Paul <esterfield estendeu0lhe a mão, di%endo:

) Michelle, não #'

Michelle tinha certe%a de que Paul se lembrava dela. >icou pensando o quanto elesabia a seu respeito. 7unca deveria ter vindo almo+ar ali.

!em aviso, "ellI levantou0se, desculpando0se:

) *em, quanto mais rápido terminar meu trabalho, mais cedo come+arei o feriado.

(lhou para Michelle e foi embora.

) Podemos sentar com você' ) disse Paul, pu$ando uma cadeira, sem esperar aresposta.

Michelle fi$ou a aten+ão na fatia de melão / sua frente, evitando olhar para o lado de"evin. 7a certa, Paul sabia o que estava fa%endo. (correu a Michelle que, talve%, ele e "ellItivessem for+ado aquele encontro. "ellI devia saber que "evin era solteiro e Paul, na certa,ouvira cada detalhe da viagem de seu amigo ao &aribe. 4m bip tocou, e Michelle come+ou asentir0se aliviada, mas era para Paul.

) esculpem0me, mas preciso ir ) disse ele.

Michelle teve certe%a de que fora "ellI quem passara a mensagem. !e olhar matasse,Paul estaria fulminado no chão, naquele instante.

Michelle ficou rodando a $1cara de caf# na mão, incapa% de encarar "evin.) uer que eu vá embora' ) ele perguntou, em tom brusco. Michelle não sabia

muito bem o que queria. "evin, então, afastou a cadeira, e ela pediu:

) 7ão 2spere.

(s olhares de ambos se encontraram, enfim. Por trás da raiva e$terior, Michelle pEdever que "evin sofria tanto quanto ela.

( que di%er para tornar as coisas melhores' Pedir para serem amigos não resolveria.

50




02)

) Podemos conversar sem nos %angarmos'

) epende ) respondeu "evin, não facilitando em nada.

) epende do quê'

) o que falarmos.

) &erto, você escolhe.) 8immI ) sussurrou "evin.

) 8immI'

) !im. Acreditei que não havia outro em sua vida. 8immI foi antes ou depois docru%eiro'

Agora que sabia o que "evin pensava, Michelle tinha vontade de rir. !ua acusa+ãopoderia tê0la irritado, se não fosse tão engra+ada. &om um sorriso, respondeu:

) Antes.

) Acha divertido mentir' ) disse "evin, dessa ve% conseguindo aborrecê0la.) 7ão menti para você. 8immI # um cliente e amigo. "evin ergueu as sobrancelhas,

duvidando. Michelle dese3ou dar0lhe uma bofetada, mas, em ve% disso, deu uma respostadesconcertante:

) 8immI # homosse$ual, seu bobo.

"evin ficou sem fala. &ru%ou os bra+os, olhando firme para frente. e improviso,perguntou:

) Tem not1cias de Millie e Fa%el'

Michelle riu de sua manobra para mudar de assunto e respondeu:

) 8á me escreveram duas ve%es.

) 2ntão, elas sabiam seu sobrenome e endere+o. Aquilo soou como umarecrimina+ão.

) &oncordamos que... ) come+ou Michelle.

"evin a interrompeu, estendendo as mãos em sinal de rendi+ão:

) Tem ra%ão. Alguma ve% questionou esse nosso acordo' e que adiantaria Michelledi%er que se questionava a toda hora' ( $is da questão era que ele não queria filhos, e elaestava grávida, sabe eus de quem.

) (lhe, "evin... aquele cru%eiro foi maravilhoso, algo que 3amais esquecerei, mas...

) ... desapare+a. 2 isso o que está tentando me di%er' ) concluiu "evin, com olhostristes.

Michelle pousou a mão sobre a dele e logo se arrependeu. 8amais se livraria daquelehomem.

) Precisamos conversar "evin, mas não aqui.

) Podemos nos ver ho3e / tarde. Por que não fica por aqui' 7ão vou me demorar.6ocê en3oa muito'

51




02)

Michelle levou um susto. !erá que "evin sa&ia' Mas ele logo corrigiu:

) uero di%er: passa mal quando vê sangue' 2la suspirou, aliviada.

) (h, não. 8á vi sangue e isso nunca me abalou.

) 2ntão, vai me acompanhar e, mais tarde, iremos almo+ar. Aquele esp1rito de

improvisa+ão em "evin era uma das qualidades de que Michelle mais gostava.2le sorriu, um sorriso inesquec1vel para Michelle lembrar nas noites insones, e disse:

) !egundo andar, vire / esquerda, final do corredor. ei$arei um passe para você.

Michelle lutou para não vomitar o almo+o havia pouco ingerido, enquanto ouvia o somde serra cortando ossos e via "evin enfiando a mão, e retirando0a, toda vermelha, em se0guida, do corpo anestesiado.

A nature%a prevaleceu, e Michelle fe% o que precisava fa%er, ali mesmo: vomitou.

( paciente devia estar muito melhor do que ela, pensou. Pelo menos, estavainconsciente.

Michelle pegou toalhas de papel e limpou a boca e o rosto. (lhando0se no espelho,viu que o r1mel escorrera, e os cabelos estavam desgrenhados.

Aos trope+?es, saiu para o corredor. 4m an3o, vestido de branco, apareceu:

) Posso a3udá0la'

) Preciso me deitar um pouco ) respondeu, sorrindo para a enfermeira.

) 2stá so%inha'

) ( r. !ingleton...

) 2le está na cirurgia, agora.

isso Michelle sabia e s- aquela palavra 3á embrulhava seu estEmago.

A enfermeira condu%iu Michelle at# um sofá, e ela deitou0se. Minutos depois, foicoberta com um len+ol e sentiu o contato frio e agradável de uma fronha sob seu rosto.

) evo di%er ao r. !ingleton onde procurá0la quando...

) !im, por favor. 6ocê # muito gentil. Posso ficar aqui deitada'

) ( quanto quiser. 6irei mais tarde para ver como está passando.

Michelle permaneceu cochilando, entre o c#u e a terra, sem saber quanto tempo se

passara.!entiu uma mão desli%ando pelo seu bra+o e ouviu uma vo%, perguntando:

) !ente0se melhor'

Michelle sentou0se, de um salto. 6iu que era "evin, ao seu lado, não o an3o branco.

) !into muito, Michelle. 7ão foi uma grande ideia da minha parte levá0la para assistir a uma opera+ão.

52




02)

2la sentiu o perfume de sabonete. (lhou para "evin em seu 3aleco imaculadamentelimpo. 7a certa, 3á tomara banho.

) &omo está seu paciente'

) Parece melhor do que você ) respondeu ele.

) ue horas são') uase seis da tarde.

) 7ão 7ão posso ter dormido tanto tempo

"evin a3eitou uma mecha dos cabelos dela atrás da orelha e perguntou, preocupado:

) Alguma coisa está errada... al#m do que aconteceu' Tem estado doente' 9ripadaou algo assim'

Michelle evitou encará0lo.

) 7ada importante.

) 8á que está no hospital, creio que deveria se consultar.) 7ão

( grito eclodiu ao mesmo tempo que outra onda de náusea a invadia. &omo podiacontinuar en3oada' 7ão havia mais nada em seu estEmago que pudesse sair.

) 2u insisto. !ua aparência não está nada boa ) disse "evin.

) (brigada ) respondeu, mesmo sabendo que ele devia ter ra%ão.

) 6enha. =remos at# o pronto0socorro fa%er uns e$ames ) ordenou, estendendo amão.

) 7ão. uero apenas ir para casa e me deitar ) respondeu Michelle. ) !ei o que

está errado comigo e você nada pode fa%er. ei$e0me ir.

(s olhos cin%entos ficaram preocupados e cheios de suspeita.

) ( que quer di%er' ( que há com você'

Aquele não era o momento nem o lugar apropriado para di%er, mas Michelle nãoaguentou mais.

) 2stou grávida e vou vomitar em cima de você se não se afastar agora.

"evin deu passagem, e Michelle correu para o banheiro mais pr-$imo. Minutosdepois, mais calma, sentiu que precisava encontrar "evin e dar0lhe uma e$plica+ão. ( queele estaria pensando' avou a boca e a3eitou a maquilagem. &omo come+ar' !erá que eleacreditaria' Michelle correu de volta ao corredor. 7em sinal dele.

Michelle despencou sobre uma cadeira. (lhou para o sofá, no outro canto, ondeestivera pouco tempo atrás, e onde "evin a abra+ara, tentando confortá0la.

A enfermeira que tomara conta de Michelle apareceu.

) !ente0se melhor'

) !im, obrigada por tudo.

53




02)

) Precisa de alguma coisa'

"evin. Michelle precisava de "evin.

) Pode locali%ar o r. !ingleton para mim'

) &laro. uando ele responder, o que devo di%er0lhe' ) perguntou a enfermeira.

) iga0lhe para procurar Michelle, em sua casa, dentro de meia hora.) Tem certe%a de que pode ir so%inha'

) Absoluta. (brigada de novo por sua a3uda.

) =rei locali%ar o r. !ingleton. 6á para casa e cuide0se ) disse a enfermeira, comum sorriso, dei$ando Michelle, que lutava por recobrar o equil1brio.

CAP)*ULO ON-E

) &omo vai, FarrI' ) saudou Michelle ansiosa por trocar de roupa e falar com"evin.

) A senhora ainda não está com boa aparência, se me desculpa a intromissão.

) 7ão me sinto muito bem, FarrI. Aliás, o r. !ingleton poderá vir me ver no fim desemana. Pode dei$á0lo subir, a qualquer hora, sem me avisar pelo interfone. &erto, FarrI' )

Abriu a porta do elevador.

) &erto !rta. Purdue. &uide0se.

Michelle sorriu, quando se viu so%inha. Pelo menos, "evin não teria mais de usar aquela roupa rid1cula e a maleta, a fim de passar por FarrI. Mas quando a porta do elevador se abriu no s#timo andar, o sorriso de Michelle desaparecera.

!erá que "evin iria, pelo menos, tentar passar por FarrI'

Ao entrar no apartamento, a primeira coisa que fe% foi e$aminar a secretária

eletrEnica. 7ão havia mensagens.=sso era bom sinal, decidiu. 2staria em casa quando "evin telefonasse. Adoraria tomar

um banho, mas não ouviria a campainha do telefone. 2ntão, foi escovar os dentes. epois,tirou a roupa e, com uma toalha de mão, refrescou0se. 6estiu uma camiseta comprida,sentou0se 3unto / 3anela, olhando sua paisagem favorita, e esperou.

2 esperou.

2 esperou.

54




02)

( sol poente refletia0se no rio etroit, e as lu%es de (ntário pontilhavam a margem nolado canadense.

2m breve, a água do rio tornou0se escura como o c#u, com um t1mido luar que sefiltrava pelas nuvens. ( apartamento de Michelle tamb#m ficou na penumbra, por#m não tãonegro como seus pensamentos. Pensara poder suportar so%inha a carga de suas decis?es.

At# aquela tarde.uando "evin segurara sua mão, com gesto possessivo. uando a abra+ara,

fa%endo0a sentir0se uma pessoa por completo. esde a viagem, sentia0se dividida. 7ãoimportava o quanto mentisse para si mesma, uma parte dela se fora com "evin.

At# aquela tarde.

Agora, "evin partira de ve%. 7as horas que se seguiram, Michelle dei$ou mais duasmensagens para ele, sem obter resposta. Murmurou para si mesma:

) 2ncare a situa+ão, Purdue. essa ve% você estragou tudo.

( sábado se arrastou. Michelle se sentia como um animal en3aulado em um pequenoespa+o. Mais %angada consigo mesma do que com "evin, voltou a dei$ar recado para ele.

) !into muito ) disse uma vo%, do outro lado da linha. ) ( r. !ingleton saiu dacidade at# ter+a0feira pr-$ima. !e for uma emergência, outro m#dico poderá atendê0la.

!im, era uma emergência, mas apenas um certo especialista de cora+ão podiasocorrê0la.

) Tudo bem. Posso esperar at# ter+a0feira ) respondeu, desligando.

Mas não ia esperar. 7ão iria ficar sentada aguardando o telefone tocar. 6estiu umtraining confortável. 8á era tempo de ir fa%er compras. Talve% um sorvete bem grande

a3udasse. uando voltasse para casa, pararia na v1deo locadora e alugaria alguns para o fimde semana prolongado. 7o domingo, iria / missa e re%aria por uma resposta para a confusãoem que se metera.

Mas, naquele momento, fa%er compras e tomar um sorvete de chocolate teria deconsolá0la.

7a quarta0feira, como "evin ainda não tivesse telefonado, Michelle foi at# o hospital.Pretendia almo+ar no restaurante e procurar por ele. !e não o visse lá, iria at# a sala deespera do centro cirrgico. e um modo ou de outro, encontraria com "evin naquele dia. 2lemerecia uma e$plica+ão. epois, se seu orgulho masculino não soubesse conviver com averdade, então poderia desaparecer. Mas Michelle não podia permitir que ele ficassepensando que houvera outro homem. "evin tinha de saber a verdade, embora Michelletemesse que, talve%, não a aceitasse.

2le não apareceu no restauranteG então, Michelle dirigiu0se / sala de espera dacirurgia.

) Poderia me di%er se o r. !ingleton está operando'

55




02)

A mulher de cabelos brancos, na recep+ão, olhou0a por um momento, consultando sualista e perguntando, de repente:

) Por que dese3a saber'

) Preciso saber sobre um de seus pacientes. Pensei em conversar com o doutor, por alguns minutos.

A mulher cerrou os lábios, muito segura de suas fun+?es:

) amento. 7ão posso dar esse tipo de informa+ão. &ontrolando sua raiva, Michelledisse:

) Talve%, então, possa me di%er onde fica o escrit-rio do superintendente da equipem#dica.

A mulher pareceu assustada e tratou de dar a informa+ão.

"evin e Paul eram amigos. Aquilo ficara evidente quando haviam se encontrado norestaurante do hospital. Por#m o que Michelle iria di%er a Paul' !erá que "evin lhe contarasobre o cru%eiro' 2 que ela estava grávida'

Mal chegara / porta do escrit-rio de Paul, quando ouviu as gargalhadas de doishomens lá dentro. A porta se abriu, de repente, e "evin saiu com Paul atrás. Ao ver Michelle,"evin estacou. ( sorriso desapareceu do rosto de ambos os homens.

Paul foi o primeiro a se recobrar.

) Podem usar meu escrit-rio. 2starei em reunião nas pr-$imas horas.

2rgueu as sobrancelhas, indicando a sala para "evin, e foi embora.

) Tenho apenas alguns minutos, Michelle.

2 voltou / sala, seguido por ela, que fechou a porta.

e bra+os cru%ados em frente / escrivaninha de Paul, com ar indiferente, "evinesperou.

Michelle passara todo o longo fim de semana pensando em como contar a verdade a"evin, mas ele não estava facilitando as coisas. Michelle optou pela abordagem direta,esquecendo todo o discurso que preparara:

) >ui inseminada artificialmente na manhã em que o nosso navio %arpou. Tenhodese3ado um bebê fa% muito tempo. Plane3ei isso com enorme antecedência, muito tempoantes de nos conhecermos, e...

) !im. A imaculada concep+ão ) rebateu "evin, olhando, de prop-sito, para o

rel-gio, os olhos cheios de -dio.Michelle levantou0se, sentindo, tamb#m, sua raiva aumentar. ;epeliu as lágrimas que

sempre insistiam em cair quando estava %angada. 7ão queria que "evin sentisse pena deuma mulher chorando. ueria que ele acreditasse em suas palavras.

Michelle dese3ava tocar seu rosto, enquanto olhava dentro dos olhos de "evin,re%ando para que ele lesse a verdade. Por#m "evin a olhou como se fosse algu#mindese3ável e terminou a conversa, com rispide%:

) !e isso # tudo, o trabalho me espera. !em encostar em Michelle, dei$ou a sala.

56




02)

2la ficou ali, parada, muda de triste%a, como quando seus pais haviam morrido. 7adamais podia fa%er. &ontara a verdade. "evin não acreditara. At# aquele momento, tivera umfio de esperan+a, mas, agora, s- a dor restava.

evagar, virou0se e dei$ou a sala.

e volta ao apartamento, Michelle ficou andando de um lado para o outro. Tudo foratão bem plane3ado, desde a insemina+ão at# o cru%eiro mar1timo que iria rela$á0la e facilitar afertili%a+ão.

era certo, na verdade. Tudo dera certo.

2$ceto controlar seus sentimentos por "evin.

2m frente ao aparelho de televisão, viu o filme chegar ao fim sem ter seguido um s-instante a hist-ria. esligou o botão do aparelho. Aquela seria a ltima noite que passava selamentando. 7o dia seguinte, trabalharia como de hábito. !em alegria, # claro, mas a vidatinha de continuar.

4ma leve batida na porta a sobressaltou. Apenas uma pessoa, em todo o tempo quemorava ali, tinha subido sem se fa%er anunciar pelo interfone. &om o cora+ão aos pulos,Michelle respirou fundo e correu para a porta. eu uma olhada no espelho da sala. eus2stava descabelada e sem maquilagem. A camiseta que chegava at# os 3oelhos, todaamassadaG a barriga redonda, come+ado a se pro3etar para a frente, fa%ia com que a roupapendesse mais para trás.

2rguendo os ombros ante sua imagem, Michelle abriu a porta.

A figura de "evin surgiu, vestido de branco, a maleta preta em uma das mãos e umgrande vaso com cris@ntemos na outra. !eu rosto tinha uma e$pressão assustada que, paraMichelle, tanto poderia ser por medo de ser mal recebido, quanto pela dvida: por que estaria

atrás daquela grávida mal vestida e descal+a'Fesitante, Michelle estendeu a mão para pegar o vaso, como se fosse um s1mbolo da

pa%.

4ma tosse nervosa a acometeu, e "evin come+ou a bater em suas costas, sem muitadelicade%a. uando a tosse transformou0se em riso, ela parou.

Tomando fElego, Michelle perguntou:

) uando vai parar de usar essa roupa rid1cula' isse a FarrI que você poderiasubir sem ser anunciado.

Aliviado, "evin inclinou a cabe+a para um lado:

) Tinha tanta certe%a assim de que eu viria' Michelle parou de rir, olhando para osp#s descal+os:

) 7ão.

"evin inclinou0se, apro$imando seu rosto do dela.

) Podemos continuar essa conversa lá dentro'

) &reio que devo vestir outra roupa.

57




02)

) Por mim, está bem assim.

2ntão, Michelle colocou as flores sobre a mesinha e sentou0se em frente a "evin, aspernas encolhidas, pu$ando a camiseta por cima dos 3oelhos.

) ei$e0me e$plicar, "evin...

) 7ão. !ou eu quem precisa se e$plicar. Michelle aguardou.) J sobre 8#ssica ) continuou "evin, olhando para o rio lá fora.

Parecia que falava para uma sala va%ia, a vo% indiferente. Michelle sentiu um frio naespinha.

) uando nos casamos, #ramos ambos estudantes, sem dinheiro para manter umafam1lia. uando nos formamos, assumi que 8#ssica gostaria de ter filhos. ( tempo passou, eela pediu que eu fi%esse uma vasectomia. Alegou que sua carreira não permitia crian+as, quenão achava ser poss1vel pEr o trabalho em segundo lugar. >iquei surpreso. ecidi adiar a va0sectomia, esperando que fosse uma fase e que 8#ssica voltasse atrás. *em, ela não voltou.

"evin ficou olhando para Michelle, que não sabia o que di%er. 2ntão, prosseguiu:

) >i% a vasectomia como 8#ssica dese3ava.

Michelle 3á ouvira aquilo, mas não esperava o que se seguiu.

) ogo ap-s eu me submeter / opera+ão, 8#ssica chegou num belo dia, com suapequena novidade. 2u acabara de perder um paciente e não estava disposto a longasconversas. 2la, então, foi logo ao assunto. Ainda posso ouvir suas palavras, frias,indiferentes, como se estivesse dando a previsão do tempo. isse que estava grávida de ums-cio na firma. ueria o div-rcio o mais rápido poss1vel para se casar com ele, antes que acrian+a nascesse.

"evin fe% uma pausa, olhando ao longe.

) ( mais engra+ado # que, at# aquele momento, não sabia que 8#ssica era infeli%comigo, quanto mais que tinha um romance com outro.

!eguiu0se o silêncio, e Michelle o respeitou. uando, enfim, "evin voltou a encará0la,Michelle esperava ver dor e -dio, mas tudo o que viu foi um pedido mudo de compreensão edesculpas.

) uando você me disse que estava...

2la venceu a dist@ncia entre os dois, pegando as mãos de "evin.

) Tudo bem. 2u compreendo.

Ansiava por abra+á0lo, mas controlou0se. 2ra cedo demais. Agora sabia por que area+ão de "evin fora tão violenta quando dissera que estava grávida.

"evin a observava, uma pergunta nos olhos.

) 7ão sou 8#ssica, "evin. ( que lhe disse # a verdade. 7ão houve outro homem.

Assim falando, Michelle duvidou se haveria outro algum dia. Por#m de que adiantava'Mesmo que "evin dissesse que a amava, coisa que ainda não dissera, haveria futuro para osdois'

58




02)

"evin passou as mãos pelos cabelos de Michelle. A sala estava envolta na escuridão,e nenhum dos dois se me$ia ou falava. Por um acordo tácito, pareciam saber que haviamdito o bastante, por aquele dia.

uando Michelle adormeceu, abra+ada a "evin, ele saiu do sofáG com delicade%a,colocou uma almofada sob sua cabe+a e cobriu0a com a manta. 2screveu um bilhete 3unto

ao telefone e saiu, fechando a porta.

QR

CAP)*ULO DO-E

Michelle acordou por volta da meia0noite, dei$ando sua mente vagar com as imagensde "evin. 7o cru%eiro mar1timo, na praia, no hospital quando ela soubera que ele era m#dico.

4m cirurgião. Adivinhara, no navio, que "evin não era nenhum construtor. !uas mãosnão tinham calosidadesG eram gentis, apesar de audaciosas, algo que Michelle, naqueletempo, não conseguira e$plicar. Abriu os olhos e esperou que se acostumassem com aescuridão.

4m brilho pálido vinha de algum lugar. evantou0se e endireitou as costas, notandoque a lu% do micro0ondas tinha sido ligada. &uriosa, cambaleou at# ele, ainda meioadormecida, mas esperando encontrar um bilhete. 7ão se decepcionou. Atrás da toalha depapel, "evin tinha rabiscado algumas palavras:

" Querida Michelle1

Talvez eu precise de alguns dias para p2r minhas ideias em ordem. Acho $ue voc/

tam&'m.

Não sei aonde tudo isso irá parar. *oc/ sa&e? S+ tenho certeza de $ue dese3o v/(lade novo.

Se estiver de acordo, encontro voc/ sá&ado 4 noite, 4s sete horas. 5oupa esporte. Senão aceitar, avise(me. Tentarei compreender.

Kevin."

59




02)

Michelle leu o bilhete pela segunda ve%, com mais vagar, tentando descobrir algumamensagem nas entrelinhas, mas nada encontrou que pudesse fa%ê0la mudar de ideia. =ria seencontrar com "evin no sábado / noite. 2le tinha ra%ão: tamb#m precisava de um tempopara pensar. &omo "evin, não sabia o que o futuro reservava para eles. !erá que eledese3aria casar0se com Michelle. 2 se um dia a pedisse, ela aceitaria' !e fossem somenteos dois a considerar, Michelle 3á saberia sua resposta. &om a mão, circundou o ventredilatado e sentiu um ligeiro chute. Agora acontecia com cada ve% mais frequência, e Michelleadorava cada um daqueles pequenos movimentos. evou o bilhete de "evin consigo at# aespregui+adeira em frente / 3anela da sala e sentou0se, com os p#s apoiados para bai$o.!orrindo, apertou o papel de encontro ao peito, com uma das mãos, enquanto com a outrasentia o bebê se me$endo.

) ( que você acha, pequenino' Tenho certe%a de que gostaria de ter um papai.

4m chute mais forte pressionou sua mão, e Michelle sorriu.

) evo considerar isso um "sim" ou um "não"?

Por#m o mais importante de tudo: seria "evin aquele papai'

Michelle boce3ou, levantou0se da cadeira e foi para a cama. Talve% at# o sábado suasideias tivessem se aclarado. Meteu0se entre as cobertas, aninhando a barriga entre osbra+os. &aiu, sem esfor+o, em um sono profundo e sem sonhos.

(s dias se sucederam depressa, repletos de clientes, dei$ando Michelle e$austa acada noite. "evin estava sempre em seus pensamentos, mas ela não conseguia organi%ar todas as perguntas que pediam respostas.

7aquela noite, iria vê0lo. Talve%, como por encanto, soubesse o que di%er quandoestivessem 3untos. uanto / parte f1sica do relacionamento, ainda não tinha certe%a se 3á

poderia voltar a fa%er amor com "evin. 4m toque, um bei3o, e ela sabia, estaria louca para ir para a cama com ele.

eitada na mesa de e$ame, Michelle sentia seus mamilos enri 3ecidos, colados / finablusa de algodão que vestira para essa ocasião especial. Mem-rias er-ticas ficaramrondando seus pensamentos, at# que o r. <ilson entrou na sala. 2ntão, toda aconcentra+ão de Michelle direcionou0se para o monitor que o m#dico tra%ia.

) Pronta para assistir a um filme do bebê' ) perguntou o r. <ilson, ligando aaparelhagem.

2mbora houvesse se preparado para aquele dia, Michelle estava muito nervosa,preocupada.

) Michelle' Algo errado'

) 7ão. 2stava pensando no e$ame que fi%.

) 9ostaria de discutir os resultados antes da ultrassonografia'

) Acha conveniente, doutor'

Algo na vo% do m#dico fe% Michelle pensar que ele sabia de alguma coisa importantee que ela deveria tomar conhecimento.

60




02)

( r. <ilson sorriu, dando um tapinha em seu bra+o, tranquili%ando0a.

) 7ão há nada errado, Michelle. Por que não assistimos ao filme'

Mordendo o lábio, ela concordou.

) 2ntão, deite0se e rela$e.

Assim di%endo, o r. <ilson ergueu a blusa de Michelle, e$pondo0lhe a barriga, edestampou um tubo de geleia, e$plicando:

) =sso dá uma sensa+ão gelada na pele.

2 come+ou a esfregar a geleia logo abai$o do umbigo. Michelle estremeceu com ocontato frio. 2ntão, o m#dico pegou um aparelho parecido com um barbeador e come+ou aro+á0lo sobre o ventre redondo como se fosse um mouse de computador. 6irou a tela para si,impedindo a visão de Michelle, seu olhar cravado na imagem, enquanto o mouse não paravade se mover.

Por que ele não a dei$ava ver tamb#m' Algo estava errado. Michelle olhou para om#dico, sua pr-pria barriga e de volta para o m#dico, perscrutando sua e$pressão, que nadadi%ia. ( p@nico e a grande quantidade de água que ingerira antes de se deitar na mesa dee$ame pressionavam sua be$iga. 4ma competi+ão se estabeleceu: quem cederia primeiro'&anal lacrimal ou canal urinário' A mão do m#dico sobre sua barriga parou de se me$er.

) Pronto Agora pode olhar ) disse o r. <ilson, satisfeito, virando o monitor paraMichelle.

!ombras cin%entas e, de ve% em quando, um tremor. Michelle não sabia o que haviaesperado ver, mas, na certa, não era aquilo. ( m#dico apertou um botão, e uma parte da telafoi aumentada.

) (bserve.

Michelle viu algo agitando0se, mas não sabia o quê.) 2sse # o cora+ão ) e$plicou o m#dico.

Michelle observou, com toda aten+ão, tentando se convencer de que via um cora+ão.

( m#dico apontou para outra área, di%endo:

) Agora, olhe aqui.

Michelle obedeceu e viu outra coisa se agitando, igual / primeira.

) &omo pode di%er que se trata disso ou daquilo' 2sse tamb#m parece um cora+ão) comentou Michelle, tentando ver uma diferen+a entre os dois -rgãos que o r. <ilson lhe

mostrava.) Parece com um cora+ão porque ' um cora+ão ) respondeu o m#dico, observando

a e$pressão de Michelle passar da confusão ao choque e, por fim, / compreensão, tudo emquestão de segundos.

) 7ão... não quer di%er... está querendo me di%er... ( r. <ilson deu um amplosorriso, confirmando:

) 9êmeos.

Aquilo foi demais para Michelle. Perguntou:

61




02)

) Posso ir ao banheiro' ( m#dico riu.

) &laro

A a3udou a descer da mesa.

Minutos depois, Michelle voltou a deitar0se na mesa e pediu:

) Posso ver mais') Pois não.

2la mesma levantou a blusa e e$pEs o ventre besuntado de geleia, de modo que om#dico pudesse passar o mouse.

) uer saber o se$o dos gêmeos'

Michelle afastou os olhos do monitor, com medo de que o m#dico apontasse para algoque estragasse a surpresa. !im, estava curiosa, mas, por alguma ra%ão antiquada, preferiaesperar.

) !e eu olhar de novo para a tela vou ficar sabendo, doutor' ( m#dico riu.

) 7ão, a não ser que confunda o cordão umbilical com outro -rgão.

Michelle deu uma olhada, enquanto o r. <ilson e$plicava:

) (s bebês devem estar posicionados de uma certa maneira para você identificar ose$o, o que não # o caso, agora. Mas os resultados dos demais e$ames estão naquela pasta) disse, apontando para um balcão atrás dele.

Michelle não conseguia se desviar da tela. Aqueles pequenos seres acin%entadoseram seus bebês. *ebês ois Teria de encomendar outro ber+o.

) 2ntão, você não quer saber o se$o' ) insistiu o r. <ilson.

) Talve% mude de ideia, mas, por enquanto, prefiro esperar. ) (lhava para a tela,distinguindo duas figuras.

) Ah 2sta imagem está boa. 6ou imprimir para você. Michelle estava tão aturdidacom o que via e com a novidade, que as perguntas que preparara com tanto cuidado nãotinham mais import@ncia. 2$ceto uma.

) outor, os testes...

) 7ão se preocupe. Tudo está correndo bem. Apenas uma coisa...

( r. <ilson olhou para Michelle de modo estranho, e o seu cora+ão disparou.

) ( que # doutor'

) 6ocê tem comido o suficiente'

Michelle prete$tou arrumar as roupas e evitou encarar o m#dico, que continuousevero:

) !e está preocupada com seu f1sico, esque+a, por enquanto. 2sses bebês precisamde muitas frutas, verduras e leite. Amido, tamb#m. 6ocê me disse que nada e caminha muito,portanto recuperará seu peso normal bem depressa depois do parto.

62




02)

Mas Michelle não estava preocupada com seu f1sico. 7ão era por isso que nãoengordava. 2ra a sua vida amorosa, ou a falta dela, que ocasionava a inapetência. Masaquilo não era desculpa. A partir daquele dia, iria alimentar seus pequeninos, quer tivessefome, quer não.

( doutor escreveu algumas linhas na sua ficha m#dica e fechou a pasta, sorrindo:

) 9êmeos podem antecipar seu nascimentoG portanto, temos de nos certificar de queestão sendo bem alimentados, certo'

) &erto.

Michelle corroborou, com um gesto de cabe+a, sentindo0se culpada, enquanto om#dico dei$ava a sala. 2rgueu o negativo da ultrassonografia bem pr-$imo ao rosto, at# queas pequenas formas se embaralharam ante seus olhos. =a ser mãe. 8á sabia havia meses,mas vê0los, ver os dois... Ainda não conseguia acreditar que fossem dois. Mas era verdade.!aiu da mesa, vestiu0se, e foi para o carro.

4ma brisa outonal lan+ava folhas ao redor de seus p#s.

A caminho de casa, lembrou0se do encontro daquela noite com "evin e sorriu. ( quediria quando soubesse que ela esperava gêmeos' Michelle riu alto, imaginando a e$pressãono rosto dele.

) 6ocê o quê'

"evin quase gritou, os olhos muito abertos, o quei$o ca1do. Pensara ter a situa+ão sobcontrole, pensava saber com o que estava lidando, mas, g/meos? 6oltou0se e caminhou at#a 3anela, onde ficou olhando para o rio, sem nada ver. 2ntão, com medo de estragar tudomais uma ve%, voltou at# Michelle e segurou seus ombros.

) &omo # que você se sente a respeito dessa novidade' Michelle estava pálida eparecia e$austa. A preocupa+ão substituiu o choque no olhar de "evin.

) >ale comigo, Michelle. Tudo bem'

>inalmente, ela sorriu.

) Acho que minha rea+ão não foi muito diferente da sua. e in1cio, fiquei em estadode choque, mas agora come+o a ficar mais animada. 2stou -tima, na verdade. Por#m om#dico disse que preciso me alimentar melhor.

"evin deu um suspiro de al1vio e pu$ou0a para seus bra+os.

) =sso # tudo'

Ap-s recuperar o fElego, deu um passo atrás e encarou0a.

) Pelo menos, nessa parte posso a3udar. Pronta para ir 3antar') !im. Mas você não me disse onde.

) Apenas pegue sua bolsa, as chaves e o que precisa levar, e vamos embora. 6aidescobrir logo.

) Acho que ho3e # o dia das surpresas, hein'

) Todas boas.

63




02)

"evin não se importaria nem se Michelle estivesse esperando quadrigêmeos. (s doisiriam se dar bem. Muitas noites insones o haviam convencido de que seu plano era bom. 4mbebê a mais não iria abalar sua decisão.

>i%eram o percurso de carro em um silêncio agradável, olhando0se de ve% em quando.(s ltimos raios do sol dan+avam na superf1cie do lago !t. &lair, enquanto o carro virava /

esquerda, seguindo para a casa de "evin.2le passara a tarde arrumando tudo, indo de aposento em aposento, supervisionando,

tentando adivinhar como Michelle veria sua casa pela primeira ve%. 7ão tinha percebido, at#aquele dia, como era triste e fria a casa onde morava. 7unca passava muito tempo lá, a nãoser para dormir ou ler um pouco, na biblioteca. 7ão havia plantas nem outro sinal depresen+a feminina. Apenas um lugar limpo, espa+oso e til. 2ra tudo que podia di%er arespeito.

Ao chegar / entrada, ficou imaginando se não teria cometido um erro tra%endoMichelle ali. Talve% um restaurante elegante com um piano ao fundo tivesse sido maisrom@ntico, mais apropriado para a ocasião.

2stacionou o carro e virou0se para ela:

) 8á fui / sua casa diversas ve%es. Pensei que gostaria de ver onde moro.

!entia0se como um adolescente. Favia dormido com Michelle, conhecia cadacent1metro de seu lindo corpo. Mesmo assim, agora estava nervoso e inseguro, como sefosse o primeiro encontro. e certa maneira, era.

) 6ou ver por dentro ou s- at# aqui' ) provocou Michelle.

"evin cortou os pr-prios pensamentos, vendo o rosto sorridente de Michelle queobservava sua postura r1gida. !em responder / pergunta, "evin saiu do carro e deu a volta,respirando o ar frio da noite. Abriu a porta e ofereceu a mão a Michelle, que aceitou, sorrindo.

2la observou o bonito caminho de pedras que condu%ia / porta em arco. A chamin# deti3olos estava coberta de hera, no telhado inclinado da entrada em estilo Tudor. A casa seestendia / direita e / esquerda, algumas partes recuadas, outras que avan+avam, tudo muitoharmonioso. !abia que devia estar com uma e$pressão muito admirada, mas não se moveu.

"evin pegou0a pelo bra+o, condu%indo0a pela entrada, abrindo a porta para um amplovest1bulo com o assoalho de madeira escura e muito polida. !em pensar, Michelle limpou osp#s em um felpudo tapete persa e pulou para o lado ao ver o que fi%era. "evin riu.

Michelle olhou ao redor, ainda maravilhada com o tamanho e a bele%a daquela casa.

!oltou um riso nervoso:) 7ão sei por que estou tão surpresa. Afinal, você # um cirurgião. Acho que nunca

tinha pensado como... como você deve estar bem de vida.

Michelle ia di%er "como voc/ ' rico", mas conteve0se, e$aminando o teto de madeiratrabalhada. "evin riu.

) uando visitar o resto da casa, acho que vai perceber que, na verdade, eu nãovivo aqui. 2 apenas um lugar para dormir, de ve% em quando.

64




02)

) &laro. Por que não' At# você acabar de me mostrar a casa, e assistirmos ao filme,o 3antar estará pronto. Posso esperar.

) 7ão prefere sair' ) sugeriu "evin, ligando o forno.

) 2 perder seu 3antar' e 3eito nenhum. 6amos. Mostre0me sua casa.

Assim di%endo, Michelle passou o bra+o pelo de "evin e empurrou0o para fora daco%inha.

A parte dos fundos era maior que a frente. Michelle imaginou duas crian+as pequenasno quintal, um balan+o e uma cai$a de areia sob o enorme salgueiro chorão, 3unto / 3anelada co%inha. 4ma triste%a inesperada interrompeu sua fantasia, enquanto voltavam para ointerior da casa e subiam a escada para o segundo andar. Poderia ser tudo tão perfeito... !e"evin dese3asse filhos.

4ma ve% lá em cima, "evin primeiro mostrou os quartos de h-spedes, parando, então,/ entrada do que deveria ser o dormit-rio principal. Por#m cru%ou os bra+os e disse:

) =sso # tudo.

Michelle esticou o pesco+o para dentro do quarto. Favia uma cama de espaldar altoem frente a uma lareira. uas poltronas de couro ladeavam uma mesa, com uma luminária,cheia de revistas m#dicas. Ao contrário da sala de estar, viu que a lareira estava cheia detoras queimadas e cin%as. e um lado, havia uma televisão e v1deo com fitas colocadas emcima. Michelle conseguiu ler alguns t1tulos: Novidades em arteriosclerose, Novos

procedimentos para en%ertos...

"evin entrou no quarto.

) A qual desses filmes quer assistir'

!eu sorriso envolveu Michelle, que questionou se seria a3ui%ado penetrar em seusdom1nios particulares.

) !erá que você não tem nada menos sangrento' ue tal !ntrevista com o vampiro?

"evin esbo+ou outro sorriso cheio de charme e abriu uma cEmoda, di%endo:

) Aqui temos um que acho muito bom. Mostrou o t1tulo para Michelle: -an#a comlo&os.

2le queria que Michelle visse "evin &ostner' 7o seu quarto' epois de meses deabstinência se$ual'

) 6ocê não gosta'

) Adoro, mas... bem, # que... ) esistiu de lutar. ) Maravilhoso

"evin olhou0a, e Michelle ficou imaginando se ele perceberia como seu cora+ão batiaforte debai$o do su#ter.

) 7ão precisamos assistir aqui, Michelle. Podemos ir lá para bai$o.

Michelle pensou um pouco. A sala de estar tinha uma televisão maior, por#m a lareiranunca fora usada. Pediu:

66




02)

) 6ocê tem mais lenha para a lareira' "evin saiu correndo.

) 7ão se me$a. 8á volto.

CAP)*ULO *RE-E

"evin tentou se concentrar no filme, mas seu olhar insistia em ir para o rosto, os seiosamplos e o ventre protuberante de Michelle. Talve% outros homens não achassem mulheres

grávidas se%ies, mas era um erro. 2le 3á a vira de biqu1ni, com a silhueta perfeita, por#mnada se comparava / sua bele%a agora. 9rávida, Michelle brilhava.

A lareira precisava de mais fogo e, enquanto punha lenha, "evin pensou em comoconseguira viver naquela casa enorme e va%ia sem a presen+a de Michelle. Afligiu0se,pensando no que fa%er.

Michelle dormitava na cadeira. &om delicade%a, "evin a tomou nos bra+os e levou0apara a cama. !eria tão fácil deitar ao lado dela... &om enorme autodom1nio, saiu do quarto,na ponta dos p#s. uando trou$era Michelle para sua casa, sabia o que iria lhe pedir.

!entiu o forte aroma de cebolas, ao entrar na co%inha. As de% horas o 3antar estariapronto. !orriu. 7ão seria um pedido regado a champanhe, luar e rosas. ;iu, de novo.Proposta de casamento a uma namorada grávida, durante um 3antar de carne assada combatatas. evia ser in#dito.

Tudo do que "evin precisava, agora, era um "sim" de Michelle.

Michelle despertou com o aroma de cebolas assadas. "evin colocava carvão nalareira. Pensou que estava no para1so.

Podia ter dormido assistindo ao filme de "evin &ostner, mas a cena real era muitomelhor. &aindo em si, viu que estava na cama e imaginou que "evin a trou$era at# lá. uegrande companhia ela estava sendo ormindo !entia sono o tempo todo. *oce3ou alto, e

"evin virou0se.!eu olhar era doce e apai$onado.

) &onfortável querida'

) Muito.

2ra verdade. Michelle sentia0se em seu lar na casa de "evin.

2le apro$imou0se da cama, devagar, os olhares de ambos unidos, falando por si s-.

67




02)

Michelle esperava que "evin se despisse, mas, para sua frustra+ão, ele apenas tirouos sapatos e deitou0se ao seu lado, sem a tocar, apenas olhando0a de um modo que adei$ou e$citada como nunca.

&om e$trema do+ura, "evin segurou o pingente que Michelle usava.

) 8amais agradeci por ele, "evin. 2u o adoro. 7unca o tiro. "evin passou os dedospelas suas faces, pela boca. Michelle entreabriu os lábios, desli%ando a l1ngua pelos dedosdele, que suspirou, deliciado.

!em perda de tempo, "evin despiu0se e deitou0se entre as cobertas. !em pausa, tirouo su#ter de Michelle, a cal+a e as roupas 1ntimas. !eus corpos se uniram.

) Michelle não tenho parado de pensar em você. "evin bei3ou seus ombros e osseios intumescidos. uando penetrou os dedos dentro do corpo de Michelle, ela emitiu umgrito, sentindo que ca1a em um abismo de emo+?es. (s lábios de ambos estavam quentes esEfregos. "evin penetrou, com for+a, o corpo de Michelle. Ambos gemiam com pai$ão epra%er.

&om um movimento rápido, "evin a fe% rolar na cama, ficando sobre ele, de 3oelhos.&om movimentos ritmados, foram atingindo o cl1ma$. (s espasmos de "evin atravessaramtodo o seu corpo, e Michelle continuou a movimentar0se.

Por fim, ambos ca1ram e$austos, sobre os len+-is.

e olhos fechados, "evin esbo+ou um lento sorriso:

) ue vergonha 4ma grávida =sso não foi nada maternal... Michelle deu um tapinhano ombro de "evin, fingindo0se ofendida, e tratou de sair da cama, perguntando:

) 2ntão, quando vamos comer' 2stou faminta. 6ou a3udá0lo na co%inha. 2spere s-um minuto.

>echou0se no banheiro. (lhando0se no espelho, sorriu. Parecia mesmo uma mulher se$I que acabara de fa%er amor, e não uma grávida com ar maternal.

Por que fi%era aquilo' Agora, teria de se comprometer com "evin. 2 como faria issosem arriscar a felicidade dos bebês'

2ntão, uma ideia brotou em seu c#rebro. 7ão era o ideal, mas era a nica sa1daposs1vel.

) Por que dese3a esperar' ) perguntou "evin.

) &aso se tratasse apenas de n-s dois, casaria com você ho3e / noite, "evin. Mas

como saber o que você vai sentir pelos bebês at# vê0lo convivendo com eles' ui eu,sozinha, que resolvi tra%ê0los ao mundo, que os amava antes mesmo de gerá0los.

) Acha que não vou ser bom para seus filhos' ) perguntou "evin, tentando secontrolar.

) 6ocê será bom para eles. Mas quero que você os ame, como se fossem nossosfilhos. 7ão importa quem foi o pai biol-gico. uero que você dê amor para os bebês, nãoapenas que se3a bom para eles. "evin sei que me ama, e eu te amo de todo o cora+ão. Mascrian+as nunca fi%eram parte de seus pro3etos. 2las são um sonho meu.

68




02)

"evin empurrou o prato para um lado. 7ão era verdade. 7ão quisera filhos porque8#ssica não o dese3ara. !e tivesse casado com Michelle, a essa altura 3á teria uma d%ia.Por que fora fa%er aquela opera+ão'

) 6ocê sabe que posso reverter o processo da vasectomia. Tem sido feito comsucesso e...

) 2staria fa%endo isso por mim...

) J claro que seria por você

) 7ão entende' !eria o motivo errado.

"evin não usara as palavras certas. 0ueria filhos com Michelle. 7ão apenas osgêmeos. !e, ao menos, ela não fosse tão teimosa e determinada a carregar toda aresponsabilidade sobre as costas...

Aquela noite não era a ideal para pedir Michelle em casamento. Mas talve% outraproposta valesse a pena.

) 6ocê poderia morar aqui. Fá lugar para um quarto de crian+as e seu computador.uando os bebês chegarem, você verá se vale a pena continuar.

Por muito tempo, Michelle o encarou, at# "evin achar que aceitaria, mas, por fim, suaresposta veio:

) Poderemos nos encontrar... discretamente. Mas se eu me mudar para cá 3amaisvoltarei a querer morar so%inha.

e sbito, a sala ficou fria. ( pensamento de voltar viver sem Michelle, fe% "evinsentir0se mais so%inho do que nunca. angado, disse:

) ( que quer di%er com nos vermos "discretamente"? Por acaso vamos ter de nosesconder como dois adolescentes fa%endo coisa errada'

) 8á percebi como os boatos e me$ericos correm no hospital, e se souberem que omelhor cardiologista está tendo um romance com uma mulher grávida, sua carreiraterminará.

) 2ntão, case0se comigo ) gritou "evin, erguendo os bra+os. 2m resposta, Michellelevou os pratos para a co%inha.

) >oi uma linda noite, "evin.

) 6ou levá0la para casa agora, se dese3a.

Parecia que o ar tornara0se irrespirável.

!em di%er uma palavra, "evin a levou de carro.) *oa noite, Michelle ) disse, ao chegar, sem acrescentar se telefonaria.

"evin esperou por sete dias agoni%antes, entre o amor e o -dio, at# que, afinal, nosábado / tarde, ligou para Michelle. Ao ouvir a vo% doce e vulnerável, sentiu sua raiva esvair0se.

) !into falta de você, Purdue.

69




02)

) !into falta de você, !ingleton.

) 2ntão, vamos 3antar 3untos. iga aonde quer ir.

) ualquer restaurante italiano. 2stou com vontade de comer lasanha, pi%%a,espaguete...

) 7ossa Tudo isso') 7ão, bobo. 6ocê pede um e eu pe+o os outros dois.

( tom de brincadeira fe% o cora+ão de "evin bater mais forte. Pertenciam um ao outro, 3unto com os gêmeos, mais quatro, mais seis, quantos viessem.

) 2ncontro você na porta do pr#dio, lá pelas seis horas ) disse Michelle.

) 7ão confia em n-s dois no seu apartamento' Michelle riu.

) =sso mesmo. Al#m do mais, 3á estou morta de fome. "evin... eu... estou feli%...

Michelle parou porque ia chorar.

) 2u tamb#m, querida. At# mais tarde.Michelle a3eitou0se entre a cadeira e a mesa, sentindo0se enorme. Acabara com a

travessa de lasanha e metade do espaguete.

) Acho que e$agerei nas ordens do m#dico para me alimentar bem ) disse,apalpando o ventre.

) Acho que você está linda ) sussurrou "evin. Michelle olhou0o. "evin falava comsinceridade, e ela sentiu vontade de chorar.

) 9orda como uma bola'

) !im. ) "evin apertou sua mão e tomou um gole de vinho. ) 7o navio, cheguei a

pensar que você era uma alco-latra reabilitada. 7unca bebia nada. 8amais pensei que esti0vesse grávida... vendo aquele corpo maravilhoso de biqu1ni.

Michelle riu, segurando o guardanapo contra a boca, e "evin aproveitou para di%er:

) Tenho uma festa beneficente no pr-$imo sábado, e... !ei que prometemos não nosver em pblico, mas será uma festa / fantasia, em favor dos aid#ticos.

Michelle ficou pensando. >esta / fantasia. 4ma boa causa. 4ma noite com "evin.2ntão, lembrou0se de algo.

) embra0se de 8immI' ( rapa% que você viu em meu apartamento' 2le meconvidou para essa mesma festa. &omo posso aparecer com você' !e o virem com umamulher grávida, logo pensarão que # o pai.

) 2 da1'

) !e # o pai, por que não casou comigo e me tornou uma mulher honesta'

) Porque você me re3eitou.

) Mas ningu#m vai imaginar isso.

) Paul sabe. 2u contei a ele. 7ão se preocupe, não vai di%er a ningu#m.

70




02)

2m ve% de aborrecer0se, Michelle sentiu0se emocionada por "evin ter confidenciadoalgo tão 1ntimo ao seu amigo.

) =sso não vem ao caso. A questão # que os comentários vão se espalhar com arapide% de um raio. Podem pre3udicar seu trabalho, sua reputa+ão.

) eve haver uma fantasia apropriada para o seu estado, se # isso o que apreocupa.

) ual fantasia'

) 6ocê # criativa. Pensará em algo.

Michelle ficou quieta, animada com uma ideia que come+ava a se esbo+ar em suaimagina+ão.

) 2ntão, Michelle, você vai'

) Talve%. ei$e0me pensar um pouco. Parece que será divertido.

Michelle estava pensando, naquele instante, que ia precisar de arame, velcro e metros

e metros de tecido, assim como um fuso. !erá que fa%iam fusos para gestantes') Posso ver que está tramando alguma coisa, querida. ual o plano'

) esculpe0me, meu bem. 6ai ter de esperar para ver.

CAP)*ULO CA*OR-E

FarrI riu com sua vo% rouca, balan+ando a cabe+a.

) !e não tivesse falado comigo, !rta. Purdue, não a teria reconhecido. &omo vai sesentar usando isso'

2m resposta, Michelle virou0se, apontando para a costura do meio.

) J velcro. Posso virar a fantasia no corpo, abrir e fechar quando quiser.

71




02)

;etirou a máscara de papel machê, imitando um talo de ab-bora, e inalou o ar,longamente.

) 2spero que este3a fresco na festa. 2ste neg-cio está assando minha cabe+a.

) Aposto que está, mesmo. (nde foi encontrar essa ab-bora' Michelle ergueu oquei$o, orgulhosa:

) 2u mesma fi%.

) 7em se di% que a senhora... bem...

) ue estou grávida' ) finali%ou Michelle por FarrI, que acenou embara+ado, comose tivesse e$agerado na intimidade.

Michelle apertou seu bra+o e sorriu para os olhos cansados do senhor idoso.

) Tudo bem, FarrI. 7ão me importo se todo o mundo neste pr#dio souber que vou ter um bebê... 7a verdade, dois.

) 9êmeos' ) e$clamou FarrI, erguendo as sobrancelhas grisalhas.

) !im, senhor, gêmeos. 2 que vou a uma festa beneficente com o r. !ingleton, enão quero que todos tirem conclus?es erradas... fa+am comentários... 6ocê entende.

Michelle deu uma olhada para a rua a tempo de ver o 6olvo cin%a estacionando.

FarrI balan+ou a cabe+a, em sinal de compreensão, e sorriu:

) !e me permite di%er, suas pernas estão bem magras com esse fuso verde.7ingu#m dirá que está grávida.

) (brigada, FarrI.

Michelle recolocou a máscara que cobria toda a cabe+a e ombros e ficou im-vel, aolado de FarrI, enquanto, com o canto do olho, viu a porta do carro se abrir.

) FarrI, não me denuncie. J a 7oite das *ru$as. 6e3amos se ele adivinha.

"evin encaminhou0se direto a FarrI enquanto duas bru$inhas sa1am do elevador epassavam por eles.

) &omo vai, FarrI'

) *em. 2 o senhor, doutor'

) 5timo, a não ser por esta fantasia."evin envergava uma grande capa preta. ebai$o dela usava um su#ter de gola alta e

cal+a tamb#m pretos. !eu rosto estava ao natural.

) esculpe0me por perguntar, mas o senhor está fantasiado do quê'

) o personagem mais fácil que encontrei. ei$ei a máscara de arth 6ader, de6uerra nas !strelas, dentro do carro. 4m pouco dif1cil dirigir com aquilo na cabe+a.

"evin virou0se para a ab-bora parada ao lado de FarrI.

72




02)

) Melhor irmos andando, Michelle. Temos uma festa. 2 dirigiu0se para o carro.

á fora, ela virou a arma+ão de arame revestida com tecido e abriu o velcro, nãodese3ando entortar nenhuma haste quando sentasse no carro. 6oltou a virá0la para trás esentou0se ao lado de "evin, com um sorriso satisfeito, tirando o talo da cabe+a e pondo0o nocolo, ou o que restava do seu colo. 7os ltimos tempos, quando se sentava, parecia haver

cada ve% menos espa+o entre seu ventre e os 3oelhos.) *em... ( que acha, "evin'

) !abia que sua grande imagina+ão iria criar algo interessante. ) Piscou um olho.

) Mas como adivinhou que era eu'

Michelle tivera um trabalho enorme para fa%er a maquiagem de modo que nem ummil1metro do rosto estivesse reconhec1vel, com a máscara. 7ingu#m podia ver seu corpo degestante, nem suas fei+?es.

Michelle viu o sorriso disfar+ado nos lábios de "evin, que e$plicou:

) As pernas. ;econheceria essas pernas em qualquer lugar. Michelle sabia o que"evin queria di%erG ele 3á vira suas pernas nas mais variadas posi+?es e @ngulos. Aquilo adei$ou e$citada. A fantasia 3á era quente o suficiente para, ainda por cima, ter aquele tipo depensamentos er-ticos.

A festa 3á estava muito animada, quando chegaram.

Michelle observou, divertida, espantalhos, bru$as e gárgulas caminhando portaadentro. =nalou ar fresco pela ltima ve% e enfiou seu talo, a3eitando o buraco para os olhos eas ombreiras.

) 2spere, "evin ) pediu, antes de chegarem / porta. ) Pode fechar o velcro nas

minhas costas'( interior e$1guo do carro tolhia seus movimentos, e a máscara tocava o teto,

for+ando0a a se encolher.

"evin pressionou as duas partes do tecido, bem na hora em que o porteiro abria aporta do carro. &om sua máscara de 6ader no lugar, "evin entrou com Michelle no salão debaile. Teias de aranha artificiais pendiam de candelabros com lu% opaca, assim comocobriam todas as áreas dispon1veis, criando uma atmosfera lgubre, mas engra+ada, entreos convidados que se acotovelavam.

Acima do barulho ensurdecedor, ouviam0se gritos de terror, vindos de gravadoresescondidos.

Michelle passou o bra+o pelo de "evin, rindo, sentindo0se como uma garotinha quefosse pedir doces aos vi%inhos na 7oite das *ru$as. 8á não se lembrava da ltima festa /fantasia em que estivera presente. 2ra uma grande e$cita+ão a cada nova entrada de umconvidado mascarado. Alguns davam um "al2", enquanto outros s- acenavam, na certa paramanter o anonimato.

) (h, "evin, isto # tão divertido

) 2, sim.

73




02)

A resposta, que tentou soar entediada, não enganou Michelle. !abia que "evin estavacontente porque o dinheiro arrecadado iria para uma boa causa, e ambos estavam 3untos...em pblico.

"evin deu0lhe uma cotovelada, fa%endo a ab-bora dan+ar na cintura de Michelle.

) Aquela fada não # o seu amigo'

Michelle olhou atrav#s da multidão at# encontrar apenas o rosto de 8immI em meio atantos outros. >uriosa, pEs as mãos nas cadeiras.

) "evin ue coisa horr1vel de di%er sobre 8immI 2le não # apenas um cliente, #meu amigo, e não vou permitir...

Michelle sentiu um tapinha no ombro e virou0se, abruptamente.

) Michelle' J você dentro da ab-bora'

Michelle contara o que iria vestir, de modo que 8immI pudesse encontrá0la na festa,mas ele não contara a Michelle qual seria sua fantasia. 2la riu, discreta, sob a máscara, con0tente por "evin e 8immI não poderem ver que estava corando.

) !ou eu mesma ) respondeu, engolindo o riso. 8immI tocou o alto do talo daab-bora com a estrela dourada de sua longa varinha mágica.

) *om trabalho ) comentou, mirando Michelle de alto a bai$o. 2ntão, fe% umapirueta na sua frente, a saia branca e rodada cheia de babados, volte3ando ao seu redor. (slongos cachos dourados da peruca balan+aram.

) 7ão estou lindo' ) 8immI riu de si mesmo, como se há muito tempo esperassepara usar aquela fantasia. ) Aliás, empresto para você quando quiser. 4m toque aqui, outroali, e pronto 4m vestido de noiva.

Mais uma ve%, Michelle ficou feli% por seu rosto estar coberto.

) embra0se do r. !ingleton' Passou pelo meu apartamento, uma ve%, quando vocêestava lá.

) !im... sim... &laro.

8immI apertou a mão de "evin, com delicade%a. 4ma vo% atrás deles chamou:

) (h, 8immI... posso falar com você um minuto'

) 6e3o vocês depois. ) 8immI piscou e deu o bra+o para um rapa% que vestia umafantasia cor0de0rosa de bailarina.

Michelle sussurrou ao ouvido de "evin:

) esculpe0me...) 2sque+a.

Ambos se olharam, incapa%es de ver a e$pressão um do outro. 2ntão, come+aram arir, as máscaras balan+ando. &ontinuaram rindo, enquanto, de mãos dadas, abriram caminhopela multidão barulhenta.

( r. Paul <esterfield, vestido de ;ei Arthur, acenou, apro$imando0se comdificuldade.

74




02)

) Paul, você está -timo ) e$clamou "evin. ) !ua mulher deve ter arrumado essafantasia.

Ambos riram e trocaram um aperto de mão enquanto Michelle ficava de lado. A ltimave% que vira aquele homem, ela e "evin haviam usado seu escrit-rio para brigar. Aquelanoite, o rosto escondido estava se tornando muito conveniente. Michelle não precisou

disfar+ar a e$pressão de embara+o quando Paul pegou sua mão, cobrindo0a com as suas.) J bom vê0la de novo, Michelle... >ico feli% por você ter tirado esse ermitão da toca.

"evin nunca encontra tempo para se divertir... (u, pelo menos, não encontrava.

!orriu para "evin, com cumplicidade, fa%endo Michelle pensar que os doiscompartilhavam muitas confidências.

) 7a verdade, foi "evin quem me convenceu a vir.

) Mesmo' ) Paul revelou, sem querer, não ser muito bom em fingir surpresa.

Michelle imaginou que eles deviam ter conversado antes. !enão, como Paul teriadescoberto "evin debai$o da máscara de arth 6ader' Mas será que sabia que ela estava

grávida' ue "evin não era o pai' 2ra bastante provável. Mas, sendo "evin muito discreto,se contara a Paul devia saber que o segredo estava bem guardado. Al#m disso, Michellesimpati%ava com Paul. Favia uma aura de calorosa sinceridade envolvendo0o.

) 6amos tomar um ponche' ) sugeriu Paul. á foram os três, com Paul no meio.

) A 3arra da esquerda # de ponche sem álcool ) avisou Paul. *em, uma dasperguntas de Michelle fora respondida. Paul sabia que ela estava grávida.

Paul a serviu, colocando um canudo no copo, para que Michelle pudesse beber usando a máscara.

) (nde está sua companheira' ) perguntou "evin, olhando ao redor.

) D mesa dos donativos. Perto da porta. A ;ainha de &opas... sempre organi%ando.Michelle seguiu seu olhar, dando com uma mulher alta e bonita, vestida de vermelho.

2la sorria, graciosa, aceitando um envelope de um convidado vestido de dragão. Michelle 3áfi%era sua contribui+ão, dando várias horas de seu trabalho para instala+ão e orienta+ãosobre vários programas de computa+ão. Agora, por#m, teria gostado de dar mais e arrepen0deu0se por não ter tra%ido o talão de cheques. 4m chute inesperado interrompeu seuspensamentos. !orriu e ficou im-vel, esperando por novo sinal dos gêmeos. Mas, quando ochute seguinte veio, perdeu o equil1brio, caindo para o lado de "evin, oprimida pelo calor.

"evin parou de falar com Paul, passando um bra+o ao redor de Michelle.

) 6ocê está bem, querida'

Michelle não sabia o que responder. Tentou respirar fundo, atrav#s do buraco estreitoda máscara, e agarrou0se a "evin. A pressão no bai$o ventre crescia a cada segundo.Parecia que carregava um grande saco de batatas, de cabe+a para bai$o, prestes aarrebentar. 4ma dor aguda traspassou seu corpo, e Michelle caiu de 3oelhos, agarrando0se /capa de "evin.

) 7ão... não consigo respirar...

75




02)

"evin tirou o talo da cabe+a de Michelle. Paul mandou que os curiosos se afastassem,para que ela conseguisse respirar melhor. (s olhos dela se entreabriram, com um mudoagradecimento.

) Michelle, fale comigo. 2 s- o calor' 2stá sentindo dores' ) perguntou "evin,segurando seu rosto.

2m resposta, outra fisgada, mais forte que a primeira, atingiu Michelle, que apoiou aspalmas das mãos no assoalho. 2stava de quatro, agora. !abia que a multidão silenciara.Todos os olhos estavam sobre ela, mas não podia se importar com sua aparência, naquelemomento. A nica preocupa+ão de Michelle era a origem daquela dor.

) -i ) murmurou com a respira+ão entrecortada, olhando para "evin, lágrimasescorrendo e impedindo sua visão. ) J muito cedo ainda.

"evin tirava a fantasia de ab-bora e a 3ogava para o lado do talo. Michelle sentou0se,de pernas cru%adas, segurando a enorme barriga, sentindo0se como uma tartaruga gigantesem a casca.

"evin olhou para a mancha escura entre suas pernas.) 2stá sangrando'

Michelle acenou afirmativamente, tentando, sem sucesso, parar de chorar.

Paul agachou0se a seu lado.

) 2stou com a perua a1 fora. 6ocê e "evin irão atrás, e eu diri3o.

"evin apenas acenou, tão apavorado quanto Michelle, não dei$ando dvidas para elasobre o que acontecia: estava em trabalho de parto. Apoiou0se mais em "evin, chorando edi%endo:

) !ão muito pequenos...

"evin afagou seus cabelos, murmurando palavras de incentivo. Paul apontou paradois homens fortes, com roupas de 3ogadores de beisebol.

) 6ocê e você. &ada um segure uma perna. evagar. uando eu contar at# três,levantem a mo+a.

Michelle sentiu como se levitasse, enquanto passava pela porta e entrava na perua.Paul rasgou a capa de "evin e forrou o assento.

) Mantenha sua cabe+a abai$ada e erga os quadris, Michelle. ogo estaremos nohospital.

Paul passou todos os far-is vermelhos, em e$cesso de velocidade. 8á chamara o

obstetra de Michelle pelo celular, alertando0o sobre a situa+ão. Agora, tudo o que podiamfa%er era esperar.

"evin re%ava para que nada de mau acontecesse aos bebês.

"or avor, Senhor. a#a com $ue aguentem mais um pouco. Serei o melhor pai domundo. !u 3uro..."

&hegaram ao hospital.

76




02)

"evin viu Michelle ser colocada sobre uma maca, sentindo0se fraco e impotente. Apesar de todos os anos de treinamento e de luta contra a morte, não se preparara para op@nico que sentia agora.

Pegaram o elevador, foram para a sala de cirurgia onde o m#dico e seus assistentes 3á aguardavam. 2nquanto o obstetra fa%ia perguntas a Michelle, "evin sentia0se como um

intruso. 7ão era nem noivo nem marido, quanto mais o pai. Tratou de sair da sala,tranquili%ando Michelle.

Paul estava no corredor, com uma $1cara de caf#.

) Pelo que você me contou, ela deve estar na vig#sima se$ta semana de gesta+ão.Troquei ideias com isa, da maternidade, que me disse que noventa por cento dos casos,nessa fase, correm bem. &om gêmeos # um pouco diferente, mas não demais.

"evin perguntou:

) 2ssa isa... # m#dica ou enfermeira'

) 2nfermeira. Trata disso há cator%e anos. 2nfermeiras sabem mais do que m#dicos.

"evin olhou para Paul e ambos riram.

) J verdade. Assustador, não' Paul bateu no seu ombro.

) >ico feli% por você estar melhor, papai.

"evin ficou s#rio.

) 7ão conte muito com isso. 8á a pedi em casamento uma ve%, e ela não aceitou.

) !im, mas isso foi antes. Agora, Michelle está mais vulnerável. "evin sorriu.

) esde quando você ficou tão diab-lico'

) esde que vocês dois tiraram as máscaras no salão, ho3e / noite. 2u 3á sabia dosseus sentimentos por ela, e agora sei como Michelle se sente em rela+ão a você.

) =sso não vem ao caso. ( problema são os gêmeos. Michelle acha que eu nãoquero ter filhos.

) ue tal pedir para reverter sua vasectomia'

) 6ou tentar, o mais rápido poss1vel.

( obstetra saiu da sala de parto com o rosto cansado, como todos os obstetrascostumam parecer. Apertou a mão de Paul e "evin, e Paul apresentou:

) arrI <ilson... "evin !ingleton. "evin # cardiologista aqui no hospital.

arrI desabou sobre uma cadeira e disse:) 2stamos com monitores em Michelle e nos bebês. 7ão há sinal de danos nos fetos.

"evin respirou fundo, e arrI prosseguiu:

) Mas ela estava com quase dois cent1metros de dilata+ãoG então interrompi oprocesso de parto. 2stá descansando, agora.

"evin notou, pelo desconforto do r. <ilson, que algo estava errado. <ilsoncontinuou:

77




02)

) escobri insuficiência na parte inferior do tero. Agora # tarde para se pensar emcorre+ão. Michelle pediu que falasse com você, "evin, mas, 3á que não # o marido, nemnoivo ou parente, deve entender minha relut@ncia em discutir detalhes do estado dela.

) Tamb#m sou m#dico aqui e, se você não me contar, tenho meios de descobrir.

Paul interveio:

) &alma "evin. arrI está apenas fa%endo seu trabalho. ) 2 virando0se para oobstetra, continuou: ) (lhe arrI, não precisa fa%er rodeios. 2u e "evin sabemos queMichelle fe% insemina+ão artificialG portanto, sabemos que "evin não # o pai. Mas se Michellequer que discuta o caso com "evin, pode ir em frente. 2la e "evin têm um relacionamentos#rio.

) esculpe0me, arrI. 2squeci que sou m#dico, tamb#m. arrI respirou fundo eprosseguiu:

) A situa+ão # a seguinte: se tivermos sorte, os medicamentos que dei interromperãoo trabalho de parto. Mas para o problema uterino, a nica solu+ão será repouso absoluto.

Michelle não vai gostar muito, mas vai ter de ficar no hospital por uns tempos.) 2la vai querer voltar para casa ) comentou "evin.

) 8á me pediu isso, mas e$pliquei sobre os riscos, e ela concordou em ficar. Michelledese3a muito aqueles bebês.

"evin engoliu em seco, antes de perguntar:

) 2ntão, qual # seu progn-stico, doutor'

) (s bebês parecem bem, e estão bem desenvolvidos para sobreviver fora do tero,por#m nasceriam muito pequenos... o que significaria meses de incuba+ão. Michelle teria deir para casa sem eles. 7enhuma mãe gosta disso. !e você, "evin, puder convencê0la a ficar

aqui no hospital e rela$ar... então, Michelle terá uma probabilidade de cinquenta e cinco por cento de continuar a gesta+ão at# as crian+as chegarem a, no m1nimo, um quilo e oitocentos,significando que, não havendo outras complica+?es, poderão dei$ar o hospital com amamãe... ou logo em seguida.

"evin segurou a mão do obstetra.

) 2la vai ficar, nem que eu tenha de amarrá0la. (brigado, arrI.

) Pode entrar agora, mas Michelle está bastante sonolenta. "evin não esperou por outro convite.

NS

CAP)*ULO QUIN-E

78




02)

urante as três semanas seguintes, "evin dormiu no hospital, indo para casa apenaspara trocar de roupa e checar a correspondência. 2ntre as cirurgias, os cochilos, e quandonão conseguia dormir / noite, estava sempre / cabeceira de Michelle. Algumas ve%es s-ficavam de mãos dadas. (utras, conversavam, contando sobre o que acontecera a cada um"antes do cruzeiro", como agora costumavam di%er.

Mas, naquela tarde, Michelle estava disposta a brigar, aliás, como vinha ocorrendo,com frequência.

) Minha cabe+a está late3ando. 7ão pode pedir para levantarem um pouco a cama'

) 7ão sou seu m#dico, meu bem. 6ocê 3á...

) !im, sim. 8á pedi ao meu m#dico. 7ão adiantou. "evin pousou os lábios na mão de

Michelle, mas ela virou o rosto. epois, arrependida, voltou a encará0lo.) esculpe0me. =sso deve estar sendo um inferno para você, tamb#m. uando foi a

ltima ve% que teve uma noite decente de sono'

) Antes da 7oite das *ru$as, como você. Mas ve3a as coisas por este @ngulo:tivemos tempo de conversar e aprender muito um sobre o outro.

2m ve% de animá0la, aquelas palavras desencadearam as lágrimas de Michelle.

) &omo pode olhar para mim' Meus cabelos estão horr1veis... estou semmaquiagem... vestindo esta camisola feia de hospital. Pare+o uma baleia encalhada, com acabe+a enterrada na areia. =sso não parece em nada com os enredos dos romances que leio.

2 assoprou o nari% no len+o de papel que "evin lhe deu. "evin esperou que ela seacalmasse e tentou mudar de assunto.

) >ui ver um urologista, ho3e.

) Por minha causa'

) 7ão ) respondeu "evin, a3eitando os len+-is da cama, embara+ado.

) "evin, você não está doente, está'

) 7ão. !- queria fa%er algumas perguntas a ele. !obre como reverter minhavasectomia.

) Acho que 3á conversamos a esse respeito. >a%er isso por mim não...essa ve% "evin a interrompeu.

) 2stou fa%endo isso por mim... por n-s dois. epois de tudo pelo que estápassando, talve% não queira mais ter filhos, mas, se quiser, eu tamb#m vou querer... comvocê. 2u te amo, Michelle, e amo esses bebês como se fossem meus. Afinal, estouacompanhando0os desde o primeiro dia, certo'

Michelle mordeu o lábio.

79




02)

) &erto.

) 2ntão, está combinado. 6ou tentar fa%er a reversão na se$ta0feira.

"evin recostou0se em uma cadeira, aliviado por ter falado tudo o que dese3ava, e por Michelle aceitar. Progressos.

=nclinou0se para bei3á0la, e ela entreabriu os lábios, tocando0o com a l1ngua. "evinretraiu0se, deparando com o olhar malicioso de Michelle.

) 7ão está tão mal como parece, !rta. Purdue.

) 6enha mais tarde para averiguar, doutor.

"evin saiu e consultou seu rel-gio. Tinha uma hora livre, antes da pr-$ima cirurgia. >oidireto para a área de urologia, ad3acente ao hospital. Melhor acabar logo com aquilo. 6eria sepodia fa%er a opera+ão na se$ta0feira e descansaria no fim de semana.

( velho m#dico que o atendeu e$aminou sua antiga ficha.

) 6ocê nunca mais voltou, depois da cirurgia.

2ra quase uma acusa+ão. 7a ocasião, "evin achara desnecessário voltar. 2ntão,quando 8#ssica comunicara estar grávida de outro, "evin tivera certe%a de que a vasectomiadera certo.

&alou sobre essa triste hist-ria, e apenas comunicou:

) Pretendo me casar em breve. As coisas mudaram em minha vida, e tenhoesperan+as de que o senhor possa reverter o que decidi, anos trás, um tantoapressadamente.

) 2 como sabemos que há algo a reverter'

"evin olhou para o senhor idoso, de boca aberta, gague3ando:

) Pensei que...

( velho m#dico sorriu, entregando um frasco para "evin.

) 6ocê sabe o procedimento, doutor.

2 preparou0se para sair. "evin o deteve:

) &laro que o senhor não quer di%er que há a possibilidade... ( m#dico sorriu,mostrando uma fileira de dentes perfeitos.

) uero di%er, sim. Tenho de sair, agora. igue0me amanhã e lhe darei o resultado.

Tendo terminado a cirurgia e a ronda, "evin dirigiu0se, a passos lentos, para o quartode Michelle. Parte dele dese3ava contar a ela sobre a consulta daquele dia e a anima+ão quesentira, mas seria muito prematuro. 7ão ter feito o seguimento dos e$ames, anos atrás, erauma coisaG ter ainda espermas vivos agora era outra. Al#m disso, fosse lá qual fosse oresultado do e$ame, isso nada tinha a ver com os gêmeos. "evin e Michelle tinham seprotegido todas as ve%es que haviam tido rela+?es se$uais. 2ra o futuro que lhe davaesperan+as, sem falar que poderia ver0se livre do bisturi na se$ta0feira seguinte.

80




02)

uando entrou no quarto de Michelle, 3á havia decidido não contar nada, por enquanto. Favia outro assunto mais importante. &om energias redobradas, deu um bei3obarulhento no rosto pálido. Michelle, com gestos fracos, fe% sinal para que ele se sentasse.2la assistia a um v1deo. Por fim, apertou o botão de pausa e olhou para "evin.

) A enfermeira me trou$e esta fita do m#todo ama%e, 3á que n-s não poderemos

assistir /s aulas.N+s? =sso era bom sinal.

) !abe como proceder' ) perguntou Michelle, mais animada.

) 7ão fa+o a menor ideia. Mas ainda posso aprender.

) 7em mencionei que dese3ava que você fosse meu treinador ) ponderou Michelle,os olhos bai$os, um pouco embara+ada.

) >icaria muito aborrecido se você convidasse outra pessoa ) "evin ligou outra ve%o v1deo.

Piscou para Michelle, esperando que não come+asse a chorar de novo. eus &omoodiava vê0la chorar. Machucava seu cora+ão e o fa%ia sentir0se intil.

) 8á aprendeu alguma coisa' ) perguntou "evin.

) &laro

Michelle contraiu os lábios, como se fosse soprar uma vela, e respirou, rápido. (lhou,marota, para "evin.

) *em se$I, não #' Tenho tamb#m uma outra fita sobre gêmeos... tudo o que vocêpossa querer saber.

) &onhe+o bem esse assunto. Mais do que você imagina ) respondeu "evin, uma

sensa+ão estranha. 8amais contara certo fato a Michelle.) "evin' Algo errado'

2le continuou olhando0a, sentindo0se distante, uma estranha interroga+ão surgindo.ueria parar de pensar, mas não conseguia. e repente, piscou, voltando / realidade.

) ( que estávamos di%endo, mesmo'

) Aconteceu alguma coisa errada na cirurgia ho3e' ) Michelle apertou a mão de"evin, com um olhar preocupado.

) 7ão, não. 2stava apenas divagando. Acho que estou mais cansado do queimaginava.

) Podemos assistir aos filmes outro dia.) 2stá bem.

"evin sabia que não iria se concentrar na tela.

Procurou prestar aten+ão a Michelle. Mesmo naquele estado, ela estava linda. Abele%a vinha, em grande parte, de seu interior, seu cora+ão e alma. Aquilo fe% com que "evindese3asse di%er as palavras que vinha ensaiando havia semanas. Pegou as mãos dela, oolhar fi$o em seu rosto, a vo% carregada de emo+ão.

81




02)

) uer se casar comigo, Michelle'

(s olhos dela pareciam ler sua alma. Palavras não podiam descrever o que "evinsentia por ela. >icaram sem se mover, sem nada falar.

"evin estava disposto a esperar a noite toda para ouvir a resposta.

ágrimas come+aram a cair dos olhos de Michelle. 2la não sorria. "evin temeu quefosse recusar de novo. ) !im

"evin ergueu o rosto, abrupto, e viu que um sorriso come+ava a se formar nos lábiosde Michelle.

) !im' ) repetiu ele, sem querer acreditar.

) !im.

"evin apro$imou0se mais da cama e passou os bra+os ao redor de Michelle, commuita delicade%a. *ei3ou seus cabelos e acariciou sua barriga, sentindo que o cora+ão iriae$plodir.

) 2spero que isso não aconte+a todas as ve%es em que chega perto da cama deuma paciente, doutor.

) 6ocê não # minha paciente. 6ocê me tira a paciência, algumas ve%es, isso sim.

) 7o que está pensando' ) perguntou Michelle, vendo0o calar0se de repente.

) 7o quanto te amo... como me sinto reali%ado. Michelle bei3ou0o no pesco+o.

) Mais nada'

) ( que poderia ser' ) "evin mirava os olhos muito verdes e brilhantes,determinado a ficar alegre e fa%ê0la alegre.

) Fá pouco, tive a impressão de que você estava pensando em alguma coisa e quenão queria me contar.

Michelle tinha ra%ão. Mas não era o momento para contar. "evin disfar+ou, fitando oteto.

) Agora que você mencionou, lembrei: vou pedir ao arrI para dei$á0la erguer umpouco a cabe+a. 2ssa posi+ão deve ser muito desconfortável.

) Fomens ) resmungou Michelle, cru%ando os bra+os sobre os seios.

"evin andava de um lado para o outro do quarto.

) 2stá me dei$ando tonta. >ique quieto ) brincou Michelle.) Fá tanto a fa%er e tão pouco tempo ...

Tinham combinado que o grande evento seria na quinta0feira seguinte, ia de A+ão de9ra+as. Michelle teria se casado com "evin naquela mesma noite, se poss1vel. Mas tinhamde conseguir uma licen+a de casamento e cumprir os três dias de espera obrigat-ria por lei.

) Podia chamar o capelão do hospital ) disse "evin, parando de andar. ) (u vocêquer que chame outro padre'

82




02)

) ( capelão está -timo ) respondeu Michelle, imaginando qual dos dois estaria maise$citado.

At# aquele momento, pensara que s- as mulheres ficassem tão emocionadas com aperspectiva do casamento. Michelle sorriu, enternecida com "evin.

) Preciso pegar alguns documentos no seu apartamento para conseguir a licen+a. 2melhor eu ir agora. Amanhã tenho de operar.

Michelle deu as instru+?es de onde "evin encontraria o que precisava. 2stava e$austacom tantas emo+?es. Fesitante, pediu:

) Pegue, tamb#m, 3unto ao meu computador, uma pasta que cont#m todos os dadosdo... doador. 7ão sei se vou precisar, mas pode me fa%er esse favor'

) &laro. !em problemas.

) Aproveite, vá para casa e durma. 2staremos bem at# amanhã ) concluiu Michelle,afagando a barriga.

) uer se livrar de mim'

) Acho que n-s dois estamos muito cansados.

) &erto. Amanhã trabalharemos no m#todo ama%e. 7unca se sabe quando nossosbebês vão querer chegar.

*ei3ou0a com do+ura.

Michelle percebeu o uso da e$pressão "nossos &e&/s". Pu$ou o rosto de "evin ebei3ou0o, com amor.

6endo0o partir, Michelle achou que era a mulher mais feli% e afortunada da face daterra.

!e ao menos tivesse com quem compartilhar suas alegrias... !eus pais teriamadorado "evin... e os bebês. =riam mimá0los de todas as maneiras.

>echou os olhos e tentou dormir. A posi+ão na cama estava mais confortável, mas nãoconseguiu conciliar o sono.

( que iria usar para o casamento' !eria bom se algu#m a a3udasse a pentear oscabelos. As enfermeiras a a3udavam a tomar banho e lavar a cabe+a, mas uma cerimEniae$igia mais.

Alian+as. "evin precisava das alian+as.

Michelle olhou para o c#u sem nuvens, pela 3anela do quarto. 2strelas brilhavam.

&ostumava fingir que duas delas eram seu pai e sua mãe, velando por ela. 4m sorriso lentosurgiu em seus lábios.

) !im ) e$clamou, em vo% alta. ) Por que não pensei nelas antes'

"evin dei$ou a sala de recupera+ão, ap-s certificar0se de que seu paciente estavabem. &oncentrou0se, então, em outras coisas. Pensou se encontraria o urologista nalanchonete do hospital ou na ala m#dica.

83




02)

!abia que Michelle esperava pela sua visita da tarde, mas s- iria depois de satisfa%er a pr-pria curiosidade. Antes de voltar a falar com ela, queria que suas dvidas estivessemesclarecidas.

"evin encontrou o velho m#dico na lanchonete, lendo o 3ornal perto da 3anela. uasecorrendo, foi at# ele e sentou0se / sua mesa, sem esperar por convite.

( m#dico acabou de ler o que o interessava e, s- então, bai$ou o 3ornal e encarou"evin por cima dos -culos, um olhar malicioso.

) !im'

) 2stive na cirurgia toda a manhã. Assim que pude, corri para encontrá0lo.

) 2 conseguiu ) respondeu o m#dico idoso, continuando a torturar "evin com o 3ogoda espera.

) 2ntão... devo me submeter / opera+ão amanhã de tarde' &om toda a calma, osenhor tirou os -culos, e come+ou a limpar as lentes. epois de recolocá0los, respondeu:

) 7ão.

) 7ão'

) 7ão, r. !ingleton. 7ão haverá cirurgia na se$ta0feira para o senhor.

) 2 o que isso quer di%er' ) perguntou "evin, sem conseguir esconder a irrita+ão.

( m#dico debru+ou0se sobre a mesa, e murmurou:

) uer di%er que o senhor tem espermas suficientes para inseminar todas asenfermeiras deste hospital.

"evin aprumou0se, tentando compreender o sentido daquelas palavras.

( m#dico tomou um gole dLágua e acrescentou:

) 9rande nmero de espermato%oides... bons corredores, tamb#m. "evin riu,balan+ando a cabe+a.

) (brigado, doutor. ( senhor salvou meu dia.

) 6ocê tamb#m, procurando por mim aqui. Agora posso ir mais cedo para o campo,pescar.

"evin apertou a mão do homem.

&orrendo para o elevador, ia pensando que não importava quem era o pai. 2le haviamantido certas coisas em segredo. Teria Michelle o direito de saber'

&laro."evin entrou no quarto, correndo. !em ao menos um alE, foi di%endo:

) 6ocê aguenta mais emo+?es'

Michelle entrela+ou os dedos por trás da cabe+a e sorriu para "evin.

) &laro. 2 você' Aguenta' Tamb#m tenho novidades.

) 6erdade' 2ntão, conte primeiro.

84




02)

) Telefonei para Millie e Fa%el, ho3e de manhã ) disse Michelle, e esperou pelarea+ão de "evin.

) 7ão 6erdade' &ontou tudo a elas' Michelle evitou seu olhar.

) *em... quase tudo. 2las presumiram que você # o pai, e dei$ei que acreditassemnisso. 7ão vi necessidade de maiores e$plica+?es. >icou aborrecido'

"evin bei3ou os dedos de Michelle.

) 7ão, de 3eito nenhum. Michelle respirou, aliviada.

) 5timo, porque elas virão para cá em poucos dias, e...

) 2las vêm'

"evin ficou feli%. Millie e Fa%el. Podia imaginá0las e$citadas e correndo de um ladopara o outro.

) !im (h, "evin, estou tão feli% isseram que vão me a3udar em tudo: meuscabelos, minhas roupas... tudo. 2stão at# pensando em fa%er reserva em um hotel e ficar at#

os bebês nascerem."evin viu os olhos de Michelle ficarem midos. !e a mãe dela não podia estar

presente, por que não duas av-s como Millie e Fa%el' =sso era muito bom. Agora, era a suave% de contar as novidades. uanto mais Michelle aguentaria' A proposta de casamento nanoite anterior, a vinda de suas amigas, e agora... uem sabe teria sido melhor ter conversado com Paul ou com o obstetra de Michelle, antes.

) !ua ve% ) disse Michelle, radiante como apenas uma mulher grávida pode estar.

Ao ver que "evin hesitava, provocou:

) !uas novidades não superam as minhas, hein'

CAP)*ULO DE-E++EI+

) Você o quê'

) !ou f#rtil, Michelle. 6ocê sabe... capa% de procriar ) repetiu "evin, como see$plicasse para uma crian+a.

) !ei o significado da palavra. ) Michelle olhou, e$asperada, para "evin. ) Mascomo # poss1vel'

85




02)

) Algumas ve%es a vasectomia não tem sucesso, o corpo se reconstitui ) e$plicou"evin, dei$ando de lado a máscara de indiferen+a, e permitindo que sua alegriae$travasasse.

) 7ão perguntei ao r. <ilson se poderei ter outros filhos ) comentou Michelle,pensativa, o grande contentamento inicial dando lugar / dvida.

) 7ão importa se teremos outros ou não.

) emorei a acreditar, mas agora sei que você vai amar os gêmeos como se fossemseu pr-prio sangue. Por#m vai querer ter os seus filhos tamb#m, não vai'

) >alando de sangue... a pasta que você pediu está comigo. 6ou tra%ê0la mais tarde.

) ( que isso tem a ver com sangue'

) !abia que você não iria se importar, portanto chequei o tipo sangu1neo do doador.

) 2'

) J A negativo.

) 2u sei. ( meu tamb#m #. >oi um dos motivos de tê0lo escolhido. Aonde quer chegar, "evin'

Michelle o olhava com e$pressão desconfiada. ) (s gêmeos deverão ser Anegativo... ) !im, sim. 2 da1'

. ...caso se3am filhos do doador.

"evin observou o rosto de Michelle ir da confusão ao entendimento, e de volta /confusão. 2$plicou:

) Meu sangue # * negativo. !e os bebês forem A* negativo, então # imposs1vel quese3am filhos do doador.

Michelle apoiou0se no cotovelo, perguntando:

) Mas, "evin, como # poss1vel' uero di%er... bem, sempre usamos preservativos,durante todo o cru%eiro.

"evin fe% com que ela repousasse na cama, di%endo:

) !im. >oi por isso que fiquei pensando a noite toda. 2ntão, lembrei. ;ecorda0se daprimeira ve%'

) &laro que sim. Mal pod1amos esperar para o 3antar acabar para podermos voltar /

cabine e tirar as nossas roupas.Michelle desli%ou os dedos pelo quei$o de "evin, que os segurou, e$plicando:

) 2stou me referindo a essa noite, em especial... mas, antes do 3antar. 7ão usamosnada, nenhum preservativo, lembra0se'

A lembran+a clareou o rosto de Michelle, mas ainda tinha dvidas.

) "evin, você não... quero di%er... não houve... "evin a3udou Michelle a concatenar asideias:

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02)

) J simples. 7ão # necessário que ha3a penetra+ão. 2spermato%oides fortes podematingir seu destino se estiverem perto de seu alvo. ) !orriu, com ar maroto: ) 2 sabe o quemeu urologista me disse ho3e'

) ue seus espermato%oides são fortes.

) 2 bons corredores.

Michelle não sabia se ria ou chorava. Passou os bra+os pelo pesco+o de "evin.

) (h, "evin !erá que isso pode ser poss1vel'

2le a abra+ou, firme, re%ando para que sua conclusão fosse verdadeira, mas sabendoque, no final, não teria muita import@ncia. 2m seu cora+ão, aqueles bebês eram dele. e ummodo ou de outro, seria o pai.

) iria que há cinquenta por cento de chance de que não perten+am ao doador. 2 háuma outra coisa que você não sabe.

Michelle pediu, ansiosa, continuando a rir e a chorar, ao mesmo tempo:

) >ale logo) Minha mãe tinha uma irmã gêmea ) revelou "evin. A e$clama+ão de surpresa de

Michelle fe% com que uma enfermeira que ia passando no corredor olhasse para dentro doquarto.

) Algo errado'

Por cima do ombro de "evin, Michelle disse:

) 7ada errado. Tudo perfeito.

A enfermeira ficou na porta um instante, parecendo hesitar, e depois continuou seucaminho.

"evin en$ugou os pr-prios olhos mare3ados de lágrimas e entregou a cai$a de len+ospara Michelle.

2la assoou o nari%, rindo. e repente, uma sombra de triste%a apareceu em seusolhos verdes, e o sorriso se desvaneceu. Perguntou, aflita:

) 2 se...

"evin a interrompeu:

) Acha, mesmo, que alguma coisa pode mudar o que sinto pelos bebês'

Michelle hesitou apenas um segundo:

) 7ão.) 9arota esperta.

Ambos ficaram se olhando, em silêncio, absorvendo o sentido de tudo aquilo que lhesacontecia, perdidos no sonho de um milagre que, at# aquele momento, era inimaginável.

"evin observou os olhos de Michelle, semicerrados, movendo0se de um lado para ooutro, enquanto ela pensava, sem parar. 2sperou, paciente, at# que ela falasse:

) 2$iste... e$iste um meio de se descobrir antes que os gêmeos nas+am'

87




02)

2ra a mente da analista de sistemas falando. "evin tratou de responder:

) 7ão. Tirar sangue de um dos bebês, a essa altura, # muito arriscado. !- se fa% issoem casos e$tremos, e nunca com o prop-sito de determinar paternidade.

"evin notou o olhar desapontado de Michelle, mas continuou:

) !e tiv#ssemos suspeitado antes, poder1amos ter feito testes de 7A. Mas agora #tarde. 6amos encarar da seguinte forma: você não quis saber o se$o das crian+as paramanter a surpresa, certo' Agora, temos algo mais para descobrir. 2m menos de seissemanas saberemos tudo. (H'

4m tanto amuada, Michelle respondeu:

) (H. 7ão temos muita escolha.

uando "evin saiu do quarto, Michelle fechou os olhos e dei$ou escapar um longosuspiro.

!e ao menos pudesse trabalhar um pouco para distrair os pensamentos... 8á nãoaguentava mais assistir a novelas e entrevistas na televisão. ( telefone, a seu lado, adesafiava a ligar para os clientes, saber como iam as coisas. 8immI fora muito amigo, ecancelara todos os compromissos de Michelle, avisando sobre seu estado. !erá que aindateria trabalho quando sa1sse do hospital'

2 será que estava interessada'

Aquele pensamento a surpreendeu. !empre se orgulhara de sua independência. Adorava seu trabalho, a3udando as pessoas a limpar as teias de aranha e entrar na nova erada informática. 7unca teria de se preocupar com dinheiro, casando0se com "evin. 2 osgêmeos iriam dei$á0la muito ocupada. Por#m seu c#rebro ficaria atrofiado, se não

continuasse a trabalhar.Pegou o telefone. Telefonemas de cortesia poderiam dei$á0la ocupada por vários dias.

Mais tarde, quando estivesse pronta, na certa teria amigos para indicá0la. !empre haviapessoas precisando de a3uda quando se tratava de computadores.

2ntre cochilos, refei+?es, as visitas de "evin, a fita de v1deo sobre o sistema ama%ee os telefonemas para clientes, o fim de semana passou rápido, dei$ando Michelle e$austa ealiviada, at# o momento em que Millie e Fa%el surgiram na porta do quarto, carregandotoneladas de flores e bichinhos de pelcia. &ada uma postou0se de um lado da cama,sufocando Michelle de bei3os e abra+os, falando ao mesmo tempo e fa%endo0a rir muito.!egurou a mão%inha sardenta de cada uma delas, sorrindo, olhando de uma a outra.

) J tão bom revê0las 7ão sei como agradecer por terem dei$ado tudo para meencontrar.

Millie fe% um sinal para que Michelle se calasse, di%endo:

) ( que poderia ser mais e$citante do que isso'

) (u mais rom@ntico' ) acrescentou Fa%el.

88




02)

Michelle olhou para as duas, cheia de carinho. =ncluir as adoráveis mulheres na suavida fora uma de suas melhores ideias, al#m da de casar com "evin. Aquilo lembrou0lhealgo.

) 2nquanto estamos a s-s, preciso lhes pedir um favor especial.

) ualquer coisa ) disseram as duas, em uma s- vo%.

) Preciso de alian+as, antes de quinta0feira. Posso dar o endere+o de algumas 3oalherias aqui perto, se não se importarem. "evin tem muitos problemas para se lembrar desse detalhe.

) =mportar' Adoraremos fa%er isso. &omprar 3oias # um de nossos passatemposfavoritos.

Para ilustrar o que di%iam, ambas ergueram as mãos, lembrando a Michelle aquantidade de an#is e pulseiras que gostavam de usar sempre.

) &omo vamos saber o tamanho do dedo de "evin' ) perguntou Fa%el, ospequenos olhos claros piscando.

) embram0se de que mencionei seu amigo Paul' Anotei aqui como podemencontrá0lo em seu escrit-rio, no andar t#rreo. Tenho certe%a de que irá a3udar... se vocêsconseguirem falar com ele. A secretária irá chamá0lo. Mas, por enquanto, por que não sesentam e rela$am'

As duas irmãs se sentaram e, pela primeira ve% em muito tempo, Michelle conseguiuolhar para as pessoas sem machucar o pesco+o, 3á que Millie e Fa%el eram de bai$aestatura. Michelle pediu:

) &ontem0me sobre sua mais recente viagem: quem conheceram, o que fi%eram,contem tudo.

) Teremos muito tempo para fa%er isso, querida ) respondeu Millie, apro$imando acadeira e pegando a mão de Michelle.

o outro lado da cama, Fa%el fe% o mesmo.

) 2stamos loucas para saber como será o parto. As coisas são tão diferentes donosso tempo...

) 6ou usar o m#todo ama%e. Tenho assistido a v1deos sobre como respirar corretamente. 7ão sou perita no assunto, mas "evin irá me a3udar, quando chegar omomento.

) uer di%er que estará consciente o tempo todo' &omo você # cora3osa

) 7ão # uma questão de coragem, Fa%el, mas rem#dios e outros procedimentosartificiais não são bons para os bebês. 6ai doer, mas, se eu respirar de maneira correta,conseguirei diminuir a dor. 2, como deverão nascer mais cedo, as crian+as serão menores.=sso irá facilitar o parto, tamb#m.

) Mal podemos esperar para conhecer o amigo de "evin ) disse Millie, mudando deassunto.

) Paul vai ser o padrinho' ) perguntou Fa%el, animada.

7a noite anterior, Michelle e "evin haviam discutido esse assunto.

89




02)

) !im. 2 adivinhe quem serão minhas damas de honra'

) uem' ) perguntou Millie, fingindo0se inocente.

) 6ocês duas ) respondeu Michelle, feli%.

) 7-s duas'

) Por que não, Fa%el' A lei pede duas testemunhas. As duas irmãs se entreolharam, espantadas, e come+aram a rir, nervosas.

) amas de honra uem diria 7a nossa idade' Millie come+ou a se abanar.

) 6amos ter de comprar vestidos novos, irmã%inha. Fa%el apressou0se a perguntar para Michelle:

) evemos combinar as cores' Talve% com um pequeno v#u' ) !em esperar resposta, continuou, olhando para a irmã:

) (h, c#us !apatos 7ão vamos ter tempo de procurar por eles.

Michelle segurou a barriga por bai$o, rindo como não ria desde a viagem de navio.Millie voltou0se para ela:

) 6amos ter que encontrar algo bonito para você, querida.

) (lhou para o enorme ventre de Michelle. ) Fum... ve3amos...

) ue tal um casaquinho branco rendado' ) sugeriu Fa%el, fa%endo Michelle rir ainda mais.

As duas pararam de falar e, como sempre, Millie tomou a lideran+a.

) Talve% se3a melhor irmos procurar Paul e dei$ar você descansar. Acho que tantae$cita+ão não # bom.

Michelle pensou que aquele alarido a a3udava, mas, estava e$austa.

) Acho que um cochilo me faria bem. Millie segurou o bra+o de Fa%el.

) 6amos. Temos muito a fa%er.

Acenaram para Michelle da porta do quarto e reiniciaram seu diálogo, como se não otivessem interrompido um s- minuto.

) >lores ) disse Millie.

) 2 guirlandas ) acrescentou Fa%el.

) Ah, e aqueles sinos brancos de papel... 6ocê sabe... !uas vo%es foram sumindo no

corredor. Michelle fechou os olhos, e$austa, por#m feli%, e contente por ficar um pouco so0%inha. !entiu um chute, o que lembrou0lhe duas coisas: primeiro, que não estava so%inha, deverdade, e, segundo, que era bom chamar a enfermeira, antes que acontecesse um acidentee molhasse toda a cama.

Mais tarde, com a a3uda de dois travesseiros, conseguiu se deitar de lado. =ncr1vel,pensou, como o simples fato de poder se deitar de lado era algo tão maravilhoso. 7a visitadaquele dia, o r. <ilson dissera que poderia come+ar a se movimentar na cama. Tamb#mdisse que os bebês 3á estavam na posi+ão certa, o que significava que nasceriam at# o 7atale que Michelle poderia levá0los para casa consigo.

90




02)

Michelle esfregou a base da espinha. 7aqueles ltimos dias, a intensidade efrequência daquelas dores tinham aumentado.

7a quarta0feira, durante uma das visitas de "evin, Michelle gemeu em vo% alta, o queo dei$ou muito assustado.

) 7ão consigo ficar em posi+ão confortável ) quei$ou0se. ) evo estar pesandouma tonelada. 6irar de lado, para mim, # ginástica aer-bica.

) !erá que não # a ideia da pro$imidade do casamento que a está dei$ando irritada') perguntou "evin, com um sorriso de provoca+ão.

) ( que quer di%er com "irritada"?

) esculpe0me, quis di%er incomodada.

) Tenho certe%a absoluta de que quero casar com você, ter os bebês, sair destacama e ir para casa ) gritou.

) 5timo ) disse "evin, tolerante. ) >ico feli% em ouvir isso. Assim como todas aspessoas neste andar.

) Muito engra+ado ) murmurou Michelle, entre os dentes.

) 7-s tamb#m ouvimos ) disse Millie, entrando no quarto, cambaleante, Fa%el logoatrás, carregadas de cai$as e sacolas.

) 6amos, vamos. 7ão briguem. Amanhã será um dia muito especial e queremos quevocês o aproveitem ao má$imo.

At# Millie e Fa%el estavam me$endo com os nervos de Michelle. !abia que fa%iamtudo com a melhor das inten+?es, mas as guirlandas suspensas no teto do quarto com os

pequenos sinos pendurados a estavam dei$ando maluca. Mesmo assim, deu um bei3o nonari% de "evin, de má vontade, quando ele se inclinou.

) Assim está melhor ) comentou Millie.

Fa%el deu0lhe uma cotovelada.

) Talve% devêssemos voltar para o hotel, Millie. Ainda temos algumas coisas parapreparar.

Millie arqueou as sobrancelhas e quei$ou0se:

) Acabamos de chegar...

Fa%el apertou o bra+o da irmã, insistindo:

) Millie... estou cansada, e esses dois 3ovens não precisam de n-s duas grudadas otempo todo. 6amos.

) (h, está certo. 6e3o0os amanhã. ue maravilhoso ia de A+ão de 9ra+as vai ser esse

Millie 3ogou um bei3o para Michelle e "evin e dei$ou0se arrastar por Fa%el.

) Maravilhoso ) repetiu Michelle, em tom quei$oso, fa%endo uma careta de dor.

"evin levantou0se.

91




02)

) *em, aproveitando que todos estão indo, eu tamb#m vou embora. Amanhã demanhã ligarei para o capelão, na hora que estivermos todos reunidos.

Assim di%endo, ro+ou a testa de Michelle, rápido, como se estivesse bei3ando umacobra prestes a dar o bote.

2la sentia0se culpada. Por que "evin dese3aria se casar com uma mulher chorona emal0humorada' !em saber como se desculpar, olhou para ele, di%endo:

) 2u amo você, bonitão.

4m sorriso fe% desaparecer algumas rugas que haviam surgido no rosto de "evin.

) 2 eu amo você, linde%a ) disse ele, saindo do quarto.

) inde%a coisa nenhuma ) resmungou Michelle, em vo% muito bai$a.

CAP)*ULO DE-E++E*E

Michelle sentia0se p#ssima, ap-s mais uma noite insone. 2normes arran3os florais

pendiam do teto, e dois pedestais brancos, um de cada lado da cama, a dei$aram com oestEmago embrulhado.

Millie enfiou o casaquinho branco em Michelle enquanto Fa%el firmava um pequenov#u de noiva nos cabelos castanhos. &om a permissão do r. <ilson, a cabeceira da camafora erguida em um @ngulo de quarenta e cinco graus. Michelle pensou que aquilo aliviariasuas costas, mas a dor parecia ter piorado.

"evin quase não falara com ela, naquela manhã, andando de um lado para outro docorredor, enquanto as mulheres se aprontavam.

Millie murmurou ao ouvido de Michelle:

) 6ocê está muito tensa, querida. Pode ter certe%a de que "evin # um -timo partido.ue tal um sorriso' Fa%el trou$e a c@mera, e queremos que os bebês ve3am como papai emamãe estavam feli%es no dia do casamento, não queremos'

) esculpe0me. Tem ra%ão ) disse Michelle, dando uma palmadinha na mão deMillie. ) (brigada por tudo o que fi%eram... e por estarem aqui comigo.

Pegou a mão de Fa%el, tamb#m, cheia de carinho.

92




02)

) Adoramos cada minuto desta semana, Michelle ) disse Fa%el. Agora, ve3amos:você está usando algo novo: seu casaquinho e o v#u. Precisamos de algo usado, algoemprestado e algo a%ul, como manda a tradi+ão.

Michelle ergueu sua correntinha com o pingente de água0marinha, di%endo:

) 2is algo a%ul.

) 2 aqui está algo usado e emprestado.

Assim falando, Fa%el pegou do bolso da blusa um lencinho de renda, enfiou0o namanga do casaco de Michelle, deu um passo atrás e mirou a c@mera.

) 6amos tirar umas fotos da noiva, primeiro. &hegue mais perto, Millie.

epois, Millie reve%ou0se com Fa%el.

Pela primeira ve%, Michelle reparou nos con3untos cor de ferrugem que ambasusavam. 2nvergavam pequenos chap#us enfeitados com penas, o que fe% Michelle lembrar0se dos dias de escola quando coloria figuras de perus, e aquilo a fe% sorrir.

epois de algumas fotos, Michelle, com terr1veis dores nas costas, pediu:) Acho que estamos prontas, agora. !e Paul 3á chegou, digam a "evin para chamar

o capelão e come+armos o espetáculo.

As duas irmãs quase entalaram na porta, correndo, ao mesmo tempo, os bra+osgirando como h#lices, entusiasmadas, e a cena fe% Michelle sorrir mais um pouco.

Paul entrou com o r. <ilson, e ambos pararam, surpresos com a roupa da noiva e adecora+ão do quarto, antes de acenarem em aprova+ão.

Paul apro$imou0se da cama e bei3ou Michelle no rosto, o caracter1stico sorrisocarinhoso e sincero estampado.

) "evin # um su3eito de sorte. 2spero que não se importe de ter tra%ido arrI comigo.2ncontrei0o saindo da sala de parto.

Michelle ergueu um pouco o corpo, tentando encontrar uma posi+ão confortável, semsucesso.

) >ico feli% por estar aqui, r. <ilson.

2stendeu a mão para ele, achando estranha aquela situa+ão. Ali o m#dico era oconvidado, apesar de Michelle ser sua paciente. !e não fosse aquele convite, no futuro elepoderia passar por Michelle na rua e não reconhecê0la. Agora, nunca mais a esqueceria.

Aquele pensamento fe% Michelle come+ar a rir, mas logo parou, contorcendo o rosto de dor egemendo.

) Problemas' ) perguntou o r. <ilson, voltando ao papel de obstetra.

) Muita dor nas costas, toda a noite e ho3e de manhã. Talve% a tensão com ocasamento.

As mãos do m#dico tatearam o ventre de Michelle.

) 2ssas dores vêm e vão ou são permanentes'

) 6êm e vão. Fo3e de manhã mais vêm do que vão ) respondeu ficando ansiosa aopressentir algo estranho na vo% do m#dico.

93




02)

) e quanto em quanto tempo vêm as dores' Michelle tentou responder, mas umgemido maior embargou sua vo%. !entiu uma dor mais forte que as anteriores.

) Acho que isso responde a minha pergunta ) disse o r. <ilson.

7essa hora, um "evin muito nervoso entrou no quarto, seguido pelas irmãs. Paul, quesa1ra um instante, voltava com o reverendo Potter.

( capelão apro$imou0se de Michelle com seu livro de ora+?es, di%endo:

) 2stamos prontos para come+ar'

( r. <ilson passeou o olhar por todos os presentes e respondeu:

) Acho que Michelle come+ou sem vocês.

evou um segundo para todos entenderem o que estava acontecendo.

( r. <ilson, os bra+os abertos, foi condu%indo todos para a porta do quarto, di%endo:

) !e esperarem a1 fora um momento, vou e$aminar Michelle. 2la olhou para "evin epediu ao r. <ilson:

) "evin pode ficar'

) !e quiser.

Assim di%endo, o m#dico enfiou luvas de borracha, afastou os len+-is e dobrou os 3oelhos de Michelle. uando come+ou a e$aminá0la, Michelle sentiu uma dor horr1velpercorrer todo o seu corpo. Agarrou as laterais da cama e cerrou os dentes. Por sorte, om#dico terminou logo o e$ame e cobriu0a de novo.

) !e vocês dois pretendem se casar ho3e de manhã, # melhor se apressarem. 2ssesbebês têm seus pr-prios planos para ho3e, tamb#m.

"evin apro$imou0se, pegando as mãos de Michelle, ambos suando muito.

) uanto ela tem de dilata+ão'

) Mais de quatro dedos. 2 continua.

) 7ão # melhor adiarmos o casamento, querida'

A visão de Michelle estava emba+ada de dor e lágrimas, mas ela respondeu:

) 7ão, "evin. Pode parecer bobagem, antiquado... mas gostaria de me casar antesque os bebês nas+am. 6ocê não quer'

) !im, claro.

"evin passou um len+o de papel no r1mel que come+ava a escorrer dos c1lios deMichelle.

) &omo você quiser, meu bem. Podemos come+ar, mas, se dese3ar parar, eucompreenderei.

essa ve%, Michelle come+ou a chorar, solu+ando.

) esculpe0me, "evin. Tenho sido uma antipática, nos ltimos tempos. ) 9emeu dedor outra ve%.

( r. <ilson foi at# a porta, di%endo:

94




02)

) !e quer assim, Michelle, precisamos correr. Posso dei$ar os outros entrar'

Michelle não dese3ava se e$por daquele modo, cheia de dores, chorosa, o rostoborrado de maquiagem, mas não tinha escolha. Precisavam das testemunhas e do capelão.

) !im, sim. 6amos nos apressar.

( r. <ilson fe% o papel de mestre de cerimEnias, posicionando todos nos seuslugares. ( capelão ficou pr-$imo a "evin, de costas para Michelle, que continuava com os 3oelhos dobrados. Millie, Fa%el e Paul ficaram do lado oposto. Todos, com e$ce+ão de Paul,se sentiam apreensivos. 2le, por#m, estava calmo e sorridente. >e% um sinal para "evin,apontando uma enfermeira que entrava no quarto.

Michelle ficou imaginando o que aquilo significaria, mas uma outra forte contra+ão afe% esquecer de tudo.

( r. <ilson falou com a enfermeira:

) Avise a equipe. Talve% tenhamos de fa%er o parto aqui. Pu$ou o len+ol para cimados 3oelhos de Michelle.

( padre come+ou:

) ueridos irmãos, aqui estamos ho3e...

( r. <ilson enfiou quase a mão inteira dentro de Michelle, e ela saltou sobre ocolchão, gemendo.

) 8á está com seis dedos de dilata+ão. Podem ir mais depressa'

( padre pulou diversas páginas, nervoso, dei$ando as preliminares de lado.

) Algum dos presentes conhece algum motivo para impedir este casamento'

Todos sacudiram a cabe+a em negativa, e ele continuou:

) Por favor, deem0se as mãos. "evin, aceita esta mulher, Michelle, como sua esposa,prometendo amá0la, honrá0la e protegê0la enquanto viver'

) (h "evin ) gritou Michelle.

) (lhe nos meus olhos e se concentre, meu bem ) ele pediu.

Michelle come+ou a respirar conforme o m#todo.

) 7ão está funcionado, "evin. -i muito.

) uer parar'

) !im uero sair daqui. uero ir para casa. 2 amea+ou sentar0se.

&om delicade%a, "evin fe% com que Michelle se deitasse.

) 2stou me referindo / cerimEnia. uer que pare o casamento' A dor foi passandoaos poucos.

) 7ão. Apenas se apressem. Por favor. "evin virou0se para o padre, que repetiu:

) Aceita'

) Aceito o quê' (h, sim !im, eu aceito.

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02)

Millie e Fa%el fungaram, e ouviu0se o barulho da c@mera tirando uma foto.

) e quem foi essa ideia de m#todo ama%e' ) gritou Michelle. ) uero tomar anestesia

Atirou sua raiva sobre o pobre padre:

) 6amos lá Pergunte para mim, antes que eu sinta mais dor.) Michelle, aceita este homem, "evin, como seu marido, prometendo amá0lo, honrá0

lo e protegê0lo enquanto viver'

Michelle pensou que não ia durar muito tempo. 4ma dor terr1vel a envolveu, e elagritou. Agora a dor era constante e intensa.

( r. <ilson falou, com toda a calma:

) A bolsa arrebentou.

) (h, eus 6ou morrer' ) perguntou Michelle, olhando dentro de seus olhos eprocurando a verdade.

) A bolsa dLágua rompeu, querida ) e$plicou "evin.

) 2ntão, por que não me disseram isso, em ve% de me dei$arem apavorada'

( r. <ilson ignorou o mau humor de Michelle, que pensava que ia morrer, mesmo.Tinha ouvido di%er que dor de parto era como c-lica menstrual, s- que mais forte. ;id1culo2ra como comparar um oceano a um balde dLágua.

e repente, o r. <ilson pediu que fi%esse for+a. &omo # que aquelas duas bolas defutebol iriam passar por um orif1cio tão pequeno' 2ra anatomicamente imposs1vel, pensouMichelle.

) Posso ver a cabe+a, Michelle ) anunciou o m#dico, calmo. ( capelão inclinou0separa ela:

) 6ocê não respondeu / pergunta.

) ue pergunta'

( padre deu um pulo para trás, pensando, com ra%ão, que ela queria estrangulá0lo.

2m sua cabe+a, naquele instante, Michelle raciocinava que ele era mais um homem.(utro ser imune / dor, um intil do se$o masculino.

) Aceita "evin... ) a3udou o padre, humilde.

( rosto de Michelle ficou vermelho pela for+a que fa%ia. &om um grunhido nadaeducado, disse:

) !im, sim. Aceito.

) Pelo poder a mim investido por eus e pelo 2stado de Michigan...

) Mais um empurrão, Michelle. 2stá quase no final.

) ... eu os declaro marido e mulher.

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02)

&om o rosto congestionado, Michelle esfor+ou0se mais, o bra+o de "evin passadopelo seu ombro, segurando0a.

!entiu um al1vio instant@neo, ao mesmo tempo que ouvia um leve vagido.

) 2sta # uma menina ) anunciou o r. <ilson, sorrindo para Michelle. 2ntão, olhoupara "evin: ) uer cortar o cordão umbilical, papai'

apai. ágrimas de felicidade caiam dos olhos de Michelle. (bservou "evin, seumarido, colocar luvas de borracha, com gesto profissional, e cortar o cordão.

Paul estava ao seu lado, uma seringa cheia de sangue em uma das mãos, quepassou, de imediato, /s mãos da enfermeira, dando instru+?es.

Michelle não teve tempo de perguntar do que se tratava, pois as dores recome+aram.

) Pode bei3ar a noiva ) disse o padre, o tom de vo% demonstrando que gostaria deestar a milhares de quilEmetros de dist@ncia dali.

) Mais tarde, padre ) pediu Michelle.

Agradeceu a eus pela filha saudável e por não ter trigêmeos."evin sussurrou:

) 6ai acabar logo.

Michelle 3á não estava mais %angada com ele e com os homens em geral.

) >a+a for+a, Michelle ) voltou a pedir o r. <ilson.

) Temos uma menina ) disse Michelle a "evin.

) 6ocê está linda, !ra. !ingleton. 2u te amo.

) 2u te amo... Ai... tamb#m.

Michelle fe% for+a como da outra ve%, por#m não foi contemplada com um novo vagidode bebê.

4ma enfermeira entrou no quarto como se tivesse sido atirada de um canhão eentregou um papel a Paul, que leu e passou0o a "evin.

2le leu e acenou com a cabe+a.

Apavorada, Michelle segurou seu bra+o:

) Algo errado com nossa filha'

"evin encarou Michelle, lágrimas escorrendo pelo rosto másculo e bonito, e disse:

) ( tipo sangu1neo # A* negativo, Michelle.&om um ltimo esfor+o sobre0humano, Michelle fe% for+a e ouviu um choro forte.

;ecostou0se nos travesseiros e agradeceu a eus por tudo ter acabado.

) 2 aqui temos um menininho para completar a dupla ) anunciou o r. <ilson,erguendo o bebê para que Michelle o visse.

(utra ve%, "evin cortou o cordão umbilical.

) 2stou orgulhoso, querida. 6ocê conseguiu.

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02)

) Algu#m está com as alian+as'

Ao mesmo tempo, Paul e Millie procuraram em seus bolsos e surgiram com um par dealian+as de ouroG cada qual guardara uma. Ambos riram de seu esquecimento, entregando0as para Michelle e "evin.

( padre Potter disse:

) ;epitam comigo: "om este anel eu te desposo..." ) Terminada aquela parte, oreligioso pediu: ) Agora, bei3em0se e assinem o registro de casamento, para que eu possa ir embora daqui.

( casal riu, agradeceu, e ouviu0se mais um clique da máquina fotográfica.

Assim que o padre saiu, Millie se apro$imou de "evin.

) &omo testemunha deste evento, sinto0me um pouco responsável por estecasamento. 2spero que trate sua mulher como uma rainha, meu 3ovem, ou vai ter de se ver comigo. embrem0se deste dia especial de A+ão de 9ra+as, meus filhos, e se amem semprecomo se amam ho3e.

6irou0se e saiu com Paul. Michelle fungou, di%endo:

) 2nfim, s-s.

"evin sentou0se na beira da cama, abra+ando0a.

) 6amos aproveitar este momento, porque não teremos outros tão tranquilos, daquipor diante.

) 2ncontraremos tempo, meu amor, não se preocupe. >ico repetindo para mimmesma, como um disco quebrado: A*, A*, A*...

) Assim # que devemos chamá0los: A e * ) brincou "evin.

) 8á sei Abbie... Abigail. ue tal' "evin co+ou o quei$o, acrescentando:) 2 Abe... para Abel ou Abraham.

) Abbie e Abe. 9osto disso ) comentou Michelle.

) Abe e Abbie. 2le # maior.

) Abbie # mais velha e, na certa, mais a3ui%ada.

) At#, pelo menos, chegar / adolescência. A1, vamos ver. Ambos se olharam ecome+aram a rir.

) Posso bei3ar a noiva outra ve%' ) sussurrou "evin, pu$ando0a para seus bra+os.

) Muitas e muitas ve%es, meu amor.Fa%el apoiou0se na irmã, enquanto Millie acabava o rolo de filme.

) (s dois nem sabem que n-s e$istimos, neste momento, hein, Millie' ) comentouFa%el, com um sorriso compreensivo.

) Trabalhamos bem com esse casal, não acha'

Fa%el deu um tapinha no bra+o da irmã e suspirou, enquanto seguiam pelo corredor do hospital.

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02)

) 4m de nossos melhores trabalhos, Millie. 4m dos melhores.

>im

ANNE EAMES possui uma e$periência variada, incluindo o gerenciamento de um teatro, umsalão para noivas e uma construtora. 2m ORRO, tornou0se autora com livros publicados, queera o sonho de sua vida. Anne e seu marido engenheiro, *ill, moram no 2stado de Michigan,24A.

anne eames - enigma de um amor (mi novo 02).doc

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