enigma mundo interdito 15

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Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em ENIGMA, mas então veremos face a face; agora conheço, em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o AMOR. Bíblia Sagrada, Novo Testamento, livro de Primeiro Coríntios 13

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São Paulo 2014

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Copyright © 2014 by Editora Baraúna SE Ltda

Capa MMDC Estúdio ([email protected])

Diagramação Jacilene Moraes

Revisão Priscila Loiola

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________P698e

Pinheiro, Rita Enigma: mundo interdito / Rita Pinheiro. - 1. ed. - São Paulo: Baraúna, 2014.

ISBN 978-85-437-0244-5

1. Romance brasileiro. I. Título.

14-16896 CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3________________________________________________________________15/10/2014 16/10/2014

Impresso no BrasilPrinted in Brazil

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTAEDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br

Rua da Quitanda, 139 – 3º andarCEP 01012-010 – Centro – São Paulo - SPTel.: 11 3167.4261www.EditoraBarauna.com.br

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DEDICATÓRIA

Para minha família, pela sua colaboração nesta história.Meu marido HaroldoMeus filhos Haretom e Haroldo JúniorUma fonte inesgotável de ideias.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente ao meu marido, Haroldo, por me apoiar enquanto eu viajava para meu mundo de Enigma.

Obrigada por me deixarem usar seus nomes:Meus filhos, Haretom e Haroldo Júnior.Minha mãe, Alda.Irmãos: Geisa, Geraldo, Gilmar, Moisés, Solange e

Tânia.Sobrinhos: Diego, Gleidison, Guilherme, Iara, Je-

ferson, Johnny, Michele, Monaliza e Tiago.Cunhados: Ademir, Agnaldo, Edvaldo, Marinalva,

e Roberto.Sogra, Maria Eustáquia, e sogro, Hildebrando.Amigas, Cleide e Rejane.Homenagem ao meu pai, Joaquim, meu tio, Bino, e

à minha amiga, Sandra, que já partiram.

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1 - A Viagem

Quando Johnny Silva foi embora da cidade de Fran-ca, interior do Estado de São Paulo, não se despediu de ninguém. Não se apegava às pessoas, nem mesmo às ga-rotas, que eram apaixonadas por ele, e não eram poucas. Era o rapaz mais cobiçado da região, pela fama de mais bonito das redondezas, com seus cabelos e olhos pretos e corpo musculoso. Para manter essa fama, todas as tardes, fazia exercícios nos aparelhos de uma pracinha perto do prédio em que morava. Preocupava-se em estar sempre bonito e em se divertir, principalmente nas festas que or-ganizava no apartamento que herdara da avó paterna, já que ele passava mais tempo com ela, pois seus pais traba-lhavam vendendo calçados e viajavam muito.

Johnny tinha dezessete anos quando a avó morreu. Depois disso, seus pais o deixaram morar sozinho. Ti-nham esperança de que, sendo independente, tomasse juí-zo, mas as coisas só pioraram. Ele se tornava cada vez mais rebelde e dependente, inclusive financeiramente, pois o

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salário que ganhava trabalhando como atendente na lan-chonete do Senhor Gilmar não dava para pagar todos os gastos com roupas e tênis de marcas famosas e nem para sair com seus amigos, amigos dos amigos e muitas garotas.

Por causa dessas ocupações, não lhe sobrava tempo para estudar, mesmo porque nunca havia gostado de es-cola. Quando concluiu o último ano do ensino médio, parou de estudar alegando que não aprendera nada na escola e nem poderia pagar uma faculdade.

Nos finais de semana, promovia festas regadas à bebida e música alta, incomodando a vizinhança, quase sempre causando briga e confusão. Depois da bagun-ça, o pai precisava ir até lá para acalmar os vizinhos e conversar com o rapaz, conversa que na maioria das vezes virava uma desagradável discussão da qual os dois saíam magoados.

Política ou assuntos intelectuais não interessavam a Jo-hnny. Ele não gostava de assuntos que não fossem diversão.

Apesar de todas as dificuldades, Johnny sonhava em viajar para bem longe e conhecer o mundo todo. De tanto falar nisso, seus amigos sempre o convidavam para viajar, mas nem sempre conseguia e, na maioria das vezes, era por falta de dinheiro. As poucas viagens que fez com os amigos foram na sua moto seminova que ganhara de seus pais no aniversário de dezoito anos.

Na última festa promovida pelo rapaz, numa noite de sábado do mês de agosto, alguns jovens, entre dezesse-te e vinte anos, conversavam sobre as loucuras que já ha-viam feito, como invadir algum lugar de entrada proibida ou pegar o carro do pai. Mas o que chamou a atenção de

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Johnny foi quando Diego disse que um colega da turma ganhara de um concurso de televisão uma viagem para passar uma semana na Flórida, só que seus pais não o deixaram ir. Enquanto os rapazes riam da desgraça do co-lega, Johnny só pensava numa maneira de conseguir essa viagem, e fingindo que também achava graça, perguntou:

— Mas quem é esse cara tão sortudo e tão sem sorte ao mesmo tempo?

— É o Geraldo, meu vizinho, ele já veio em uma de suas festas, mas seus pais descobriram e proibiram o cara de voltar — respondeu Diego, ajeitando o cabelo espetado.

Diego era um dos melhores amigos de Johnny, tinha dezoito anos e era um dos mais altos da turma, morava em um bairro próximo e não perdia uma festa na casa do amigo.

Pensando em conseguir essa viagem, Johnny tentou saber mais sobre o assunto, mas quando abriu a boca para perguntar a Diego, uma garota de cabelos loiros chegou perto da turma fazendo com que todos se calassem para ouvi-la. Ela colocou a mão no ombro de Johnny e o con-vidou para dançar. Mal a garota acabou de falar, ele a olhou de cima a baixo, depois passou o braço pela sua cintura e foi saindo aos risos enquanto olhava para trás.

— Minha conversa contigo não acabou — ele apontou o dedo para Diego. — Quero falar com você no final da festa para saber mais sobre essa viagem.

Quando a festa acabou já era manhã de domingo. Johnny se despediu dos últimos a saírem. Diego ainda o esperava, cochilando no sofá da sala. O sol já estava alto no céu quando os dois seguiram de moto para a casa de Geraldo.

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Alguns quarteirões adiante, Diego mandou Johnny parar a moto em frente a uma casa grande com muros al-tos, cercas elétricas e câmeras na fachada. Amedrontado, ele disse:

— Esta é a casa do Geraldo, mas eu não vou po-der ir até lá com você, os pais dele são muito severos e não gostam dos seus colegas, ainda mais sendo manhã de domingo.

— Tranquilo, cara — Johnny bateu de leve no ombro do colega. — Pode ir, valeu! Daqui em diante, eu me viro.

Diego voltou para casa enquanto Johnny descia da moto. Tocou o interfone, e uma voz de mulher pergun-tou quem era, mas sabendo como eram os pais do garoto, disse que precisava pagar um dinheiro que Geraldo lhe havia emprestado. Alguns minutos depois, o portão foi aberto e apareceu um garoto acima do peso e com cara de sono se esforçando para reconhecer Johnny.

— Oi, você é o Johnny das festas, o que faz aqui? Não emprestei nenhum dinheiro a você — afirmou o ga-roto bocejando.

— Sou eu sim, não te devo nada, mas preciso falar com você sobre a viagem que ganhou. Eu sei que não vai nessa viagem e estou interessado em negociá-la — disse Johnny indo direto ao assunto.

Geraldo certificando-se de que ninguém ouvia a conversa, fechou o portão e fez sinal de silêncio pedindo a Johnny que falasse baixo para que a família não ouvisse.

— Como assim, negociar? — ele continuou a conversa, cochichando, sem entender onde o festeiro queria chegar.

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— Ouça com atenção — Johnny falou abrindo as mãos na frente do rosto do garoto. — Você tem a viagem, mas não pode ir, se você me vender a passagem, vai sair no lucro e seus pais nem precisam saber de nada.

— E onde você vai conseguir dinheiro para me pa-gar pelas passagens? — o garoto questionou incrédulo, pois sabia que Johnny era um “pé-rapado”.

— É verdade — disse baixando a cabeça. — Eu não tenho dinheiro, mas... — levantou a cabeça e olhou para a moto estacionada. — Tenho uma moto novinha e sei que você quer comprar uma, eu a troco pela viagem — concluiu com brilho nos olhos, esperando, ansioso, a reação do colega.

Geraldo jogou para trás o cabelo em forma de tige-la e chegou perto da moto, observando atentamente de todos os lados e mexendo no guidão, depois concordou que era um bom negócio, já que ia perder a viagem de qualquer jeito. Sem perder tempo, buscou as passagens e as entregou para Johnny, que já havia colocado a moto para dentro do portão, mas quando ia saindo, Geraldo o chamou de volta.

— Eu tenho uma condição — Geraldo falou baixi-nho, chamando Johnny para pertinho dele, fazendo sinal com o dedo.

— E só agora você fala? — ele voltou tenso. — O que é?

— Preciso que você confirme para meus pais que não tinha dinheiro para me pagar e por isso me entregou a moto, e pode acreditar que eles vão perguntar, mais cedo ou mais tarde.

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Johnny concordou sem pestanejar, balançando a ca-beça e abrindo o bilhete de passagem para verificar, mas, ao ver a foto de Geraldo na passagem, ficou pensativo.

— A passagem é intransferível, você vai ter que se passar por mim, Geraldo da Silva — explicou o garoto com medo de que Johnny voltasse atrás.

— Não somos muito diferentes, você também tem cabelos pretos e pelo menos nessa foto está curto — respondeu Johnny colocando as passagens no bolso e saindo apressado.

— Obrigado, foi ótimo fazer negócio com você — Geraldo agradeceu fechando o portão.

Johnny voltou para casa e enquanto andava, pensa-va em tudo que precisava fazer em apenas uma semana, pois a viagem estava marcada para o dia 20 de Agosto. Ao chegar, o rapaz encontrou o pai conversando com a síndica do prédio na porta do apartamento. Ele passou por eles e entrou com a cara emburrada. Alguns minutos depois, Ademir entrou e chamou Johnny para conversar, mas o garoto se recusou a ter mais uma das conversas de-sagradáveis com o pai. Sem saber o que fazer, o homem se virou para ir embora e enquanto abria a porta, apenas deu um aviso ao filho:

— A síndica avisou que vai chamar a polícia para acabar com a próxima festa, Johnny. Só estou transmitin-do o recado.

Com tristeza no olhar, Ademir saiu e bateu a porta.Na segunda-feira, bem cedo, Johnny foi até um co-

lega que fazia documentos falsos e conseguiu pegar sua carteira de identidade com o nome de Geraldo Silva no

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mesmo dia, e o rapaz não cobrou nada de Johnny, alegan-do que só as festas que ele proporcionava já o pagavam. Mais tarde, ele foi ao cabeleireiro e mandou cortar seus cabelos iguais aos da foto de Geraldo.

Johnny não comentou com mais ninguém sobre o que estava fazendo, seus pais nem precisavam saber. Afi-nal, a viagem duraria apenas uma semana, eles nem no-tariam sua falta. O difícil para ele foi manter o segredo por uma semana, tinha vontade de contar para todos os amigos, mas ficou calado.

No dia anterior ao da viagem, Johnny saiu de casa à tarde puxando sua mala de rodinhas e levando no bolso seu celular, conectado a um fone de ouvidos. Fazia 28 graus em Franca, um lindo dia de sábado, sem nenhuma nuvem no céu. Usava uma camiseta preta cavada, bem justinha ao corpo, exibindo braços fortes, e vestia uma calça jeans azul-marinho. Mas não estava tudo pronto ainda, o rapaz teria que passar na lanchonete onde tra-balhava e pedir ao patrão o pagamento dos dias traba-lhados. Usaria o dinheiro para pagar a viagem de ônibus até São Paulo, de onde sairia o voo, mas não seria nada fácil convencer o senhor Gilmar a fazer o pagamento, porque o homem era mal-humorado e carrancudo, torcia o longo bigode escuro sempre que era contrariado, mas Johnny tinha que tentar.

Vendo o garoto chegar ao trabalho, no final do dia, ar-rastando a mala, o patrão já torceu os bigodes que cobriam a boca toda e com sua voz de trovoada foi logo interrogando:

— Aonde vai assim, garoto? — ele olhou para a mala. — Já percebi que trabalhar não é.