anlise do dano por impacto de projtil magnum 44 em vidros blindados de 21 mm de … · 2015. 3....

12
ANÁLISE DO DANO POR IMPACTO DE PROJÉTIL CALIBRE 7,62 mm (308 WINCHESTER) EM VIDROS BLINDADOS PARA VEÍCULOS DE TRANSPORTE DE VALORES G.C.P. Branco 1 ; E.G. Basile 1 ; R.G. Morrone 1 ; H.F. Viana 1 ; G. Divino 1 ; H.N. Yoshimura 2 Av. Prof. Almeida Prado, 532, São Paulo, SP, 05508-901, [email protected] 1 – Gepco Indústria e Comércio Ltda. 2 – Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo S.A. – IPT RESUMO Neste trabalho investigou-se o comportamento balístico de vidros blindados utilizados em veículos de transporte de valores. Os parâmetros investigados foram energia do projétil e seqüência das lâminas de vidro. Foram preparadas amostras com quatro lâminas de vidro (uma de 5 mm e três de 8 mm) e duas lâminas de policarbonato (uma de 6 mm e outra de 3 mm). Foram preparadas amostras com diferentes seqüências de vidro, onde se variou a ordem de posição da lâmina de 5 mm. Os conjuntos foram laminados com filmes de PVB e PU em uma autoclave. Os laminados (50x50 cm 2 ) foram submetidos ao ensaio balístico utilizando projétil calibre 7,62 mm (308 Winchester, nível III da norma NIJ 0108.01). As imagens digitalizadas das amostras ensaiadas foram analisadas em um programa de análise de imagens para quantificação dos danos (área esbranquiçada e diâmetro da cratera do vidro), cujos resultados foram correlacionados com os parâmetros estudados. Palavras-chave: Vidro blindado, compósito laminado, impacto, balística INTRODUÇÃO A crescente onda de violência tem aumentado a demanda por estruturas blindadas para proteção do indivíduo e para transporte de valores. A blindagem, no entanto, causa um aumento no peso do veículo, o que acarreta, entre outros fatores, em aumento do consumo de combustível, que tem o agravante de aumentar a Anais do 48º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 48 th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society 28 de junho a 1º de julho de 2004 – Curitiba-PR 1

Upload: others

Post on 24-Jan-2021

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • ANÁLISE DO DANO POR IMPACTO DE PROJÉTIL CALIBRE 7,62 mm (308 WINCHESTER) EM VIDROS BLINDADOS PARA VEÍCULOS DE TRANSPORTE

    DE VALORES

    G.C.P. Branco1; E.G. Basile1; R.G. Morrone1; H.F. Viana1; G. Divino1; H.N. Yoshimura2

    Av. Prof. Almeida Prado, 532, São Paulo, SP, 05508-901, [email protected] 1 – Gepco Indústria e Comércio Ltda.

    2 – Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo S.A. – IPT

    RESUMO

    Neste trabalho investigou-se o comportamento balístico de vidros blindados

    utilizados em veículos de transporte de valores. Os parâmetros investigados foram

    energia do projétil e seqüência das lâminas de vidro. Foram preparadas amostras

    com quatro lâminas de vidro (uma de 5 mm e três de 8 mm) e duas lâminas de

    policarbonato (uma de 6 mm e outra de 3 mm). Foram preparadas amostras com

    diferentes seqüências de vidro, onde se variou a ordem de posição da lâmina de 5

    mm. Os conjuntos foram laminados com filmes de PVB e PU em uma autoclave. Os

    laminados (50x50 cm2) foram submetidos ao ensaio balístico utilizando projétil

    calibre 7,62 mm (308 Winchester, nível III da norma NIJ 0108.01). As imagens

    digitalizadas das amostras ensaiadas foram analisadas em um programa de análise

    de imagens para quantificação dos danos (área esbranquiçada e diâmetro da cratera

    do vidro), cujos resultados foram correlacionados com os parâmetros estudados.

    Palavras-chave: Vidro blindado, compósito laminado, impacto, balística

    INTRODUÇÃO

    A crescente onda de violência tem aumentado a demanda por estruturas

    blindadas para proteção do indivíduo e para transporte de valores. A blindagem, no

    entanto, causa um aumento no peso do veículo, o que acarreta, entre outros fatores,

    em aumento do consumo de combustível, que tem o agravante de aumentar a

    Anais do 48º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 48th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society

    28 de junho a 1º de julho de 2004 – Curitiba-PR

    1

  • emissão de poluentes na atmosfera. Esforços têm sido empenhados no sentido de

    se diminuir o peso da blindagem por meio do desenvolvimento de materiais e

    sistemas de montagem (1-3).

    O vidro blindado para automóveis e veículos de transporte de valores consiste

    basicamente de um conjunto laminado de lâminas de vidros com uma lâmina ou

    mais de policarbonato (PC) no lado interno, em referência ao veículo. Este

    compósito combina uma camada externa dura com uma camada interna mais

    flexível e tenaz, conjugando sinergisticamente as suas propriedades e obtendo um

    desempenho balístico superior ao de seus componentes isolados. De um modo

    geral, a face de impacto (primeira lâmina de vidro) têm a função de achatar o projétil

    e eliminar a sua conicidade e o seu movimento rotatório, para diminuir a sua

    capacidade de perfuração. As lâminas intermediárias de vidro atuam no sentido de

    absorver a energia cinética do projétil e diminuir a sua velocidade. A(s) lâmina(s) de

    PC atua(m) no sentido de impedir a perfuração do projétil e o lançamento de

    perigosos estilhaços de vidro para dentro do veículo. O principal mecanismo de

    absorção de energia cinética do projétil pelas lâminas de vidro é a geração de

    superfícies de fratura frágil, enquanto pela(s) lâmina(s) de PC é a deformação

    plástica. Outro mecanismo importante do compósito pode ser a delaminação entre

    as lâminas, que depende das características dos filmes poliméricos adesivos

    utilizados para a união das lâminas de vidro e de PC, sendo os mais utilizados o

    polivinil butiral (PVB) e o poliuretano (PU) (4).

    A compreensão dos mecanismos de dano envolvidos no impacto de projéteis

    de armas de fogo em proteções balísticas é fundamental para o avanço no

    desenvolvimento de estruturas blindadas mais leves. Este trabalho tem como

    objetivo avançar na compreensão do comportamento balístico de vidros blindados

    por meio da análise dos danos causados pelo impacto de projétil de arma de fogo.

    Os parâmetros investigados foram a energia do projétil, a seqüência de tiros e a

    seqüência de montagem das lâminas de vidro.

    METODOLOGIA

    A preparação das amostras de vidro blindado envolveu a utilização de lâminas

    de vidro plano de 5 e 8 mm de espessura (Cebrace vidro Float), placas de

    policarbonato (PC) de 3 e 6 mm de espessura (GE Lexan) e filmes de polivinil butiral

    (PVB) e de poliuretano (PU) de 0,38 mm de espessura. Foram preparadas amostras

    Anais do 48º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 48th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society

    28 de junho a 1º de julho de 2004 – Curitiba-PR

    2

  • com montagem de quatro lâminas de vidro e duas placas de PC na face oposta à

    direção de impacto do projétil, sendo que entre as lâminas de vidro foi utilizado um

    filme de PVB e entre o vidro e o PC e entre as lâminas de PC um filme de PU. Os

    conjuntos foram montados manualmente, colocados dentro de bolsas de vácuo e

    submetidos a ciclo de vácuo, pressão e temperatura em uma autoclave. Os

    laminados foram preparados com área de 50 x 50 cm2.

    As amostras foram submetidas ao ensaio balístico com base na norma

    americana NIJ 0108.01 (1985) (5), utilizando como sistema de disparo uma estativa

    fixa com mira laser. A amostra foi fixada em um suporte metálico com vão de ~40 x

    40 cm2 com os apoios revestidos de borracha e posicionada frontal e

    perpendicularmente à estativa, a uma distância de 15 m. A velocidade do projétil foi

    determinada em todos os tiros por meio de um cronógrafo (Crony F-1), com distância

    entre sensores de 0,305 m, posicionada à frente e a 2,0 m da estativa. A cada

    disparo, montava-se a bala com uma determinada massa de pólvora (CBC ref. 102),

    pesada em uma balança digital semi-analítica (Gehaka BG 200), que era inserida

    em um estojo com espoleta e fechada com um projétil calibre 7,62mm (308

    Winchester); na seqüência este conjunto era calibrado em um dispositivo apropriado.

    O comprimento do cartucho fechado (bala) foi de cerca de 51 mm. Os disparos

    foram realizados dentro de um túnel balístico com sistema de segurança para

    acionamento.

    A primeira série de estudo envolveu laminados com um vidro de 5 mm na face

    de impacto, seguido de três vidros de 8 mm de espessura, uma placa de PC de 6

    mm e uma placa de PC de 3 mm (amostra 5888-63). Nesta série verificou-se o efeito

    da energia cinética (E = mv2/2) do projétil na evolução do dano da estrutura

    blindada, variando-se a velocidade v do projétil. A massa m de cada projétil também

    foi medida por meio da balança digital semi-analítica (a massa média do projétil foi

    de (9,6 ± 0,2) g, próxima ao valor nominal especificado de 9,7 g (5)). Em cada

    amostra foi realizado um disparo no seu centro.

    Na segunda série foram preparadas amostras similares às da primeira série,

    mas variando-se a posição do vidro de 5 mm na seqüência de lâminas de vidro.

    Foram preparadas as amostras 5888-63, 8588-63, 8858-63 e 8885-63. Realizou-se

    o ensaio balístico tipo III da NIJ 0108.01 (1985) (5), onde foram disparados cinco tiros

    em cada laminado, sendo que as posições de impacto dos quatro primeiros

    Anais do 48º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 48th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society

    28 de junho a 1º de julho de 2004 – Curitiba-PR

    3

  • formavam um quadrado de lado 200 mm centrado na amostra e o último tiro foi dado

    no centro desta figura.

    Após cada disparo, registrou-se com uma câmara digital as imagens frontal e

    de trás da amostra. As imagens digitalizadas ou copiadas foram analisadas em um

    analisador de imagens (Leica QWin) para quantificação dos danos. Nas amostras da

    primeira série os padrões de trinca gerados por cada uma das lâminas de vidro

    foram copiados separadamente em folhas de acetato. Em cada padrão de fratura

    foram traçados círculos com raios de 10, 15 e 20 cm centrados na posição de

    impacto e contadas o número de trincas radiais e a quantidade bifurcação (ou

    ramificação) destas trincas. As amostras da primeira série foram seccionadas ao

    meio em uma cortadeira com disco diamantado para análise do seu perfil.

    RESULTADOS E DISCUSSÃO

    A espessura média dos vidros blindados preparados foi de (39,2 ± 0,2) mm e a

    massa média de (20,72 ± 0,06) kg. Uma característica importante de blindagens

    balísticas é a densidade superficial (areal density), razão entre a massa e a área do

    laminado, que possibilita comparar blindagens com diferentes materiais e

    montagens. A densidade superficial média dos vidros blindados preparados foi de

    (82,9 ± 0,3) kg/m2.

    A Fig. 1 apresenta os resultados de velocidade e de energia cinética do projétil

    calibre 7,62 mm (308 Winchester) em função da massa de pólvora utilizada.

    v = 265x + 119

    Ec = 158x2 + 990x - 511

    0

    200

    400

    600

    800

    1000

    0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5

    Massa de pólvora (g)

    Velo

    cida

    de (m

    /s)

    0

    1000

    2000

    3000

    4000

    5000

    Ener

    gia

    ciné

    tica

    (J)

    VelocidadeEnergia cinética

    Fig. 1 – Velocidade e energia cinética do projétil calibre 7,62 mm (308 Winchester)

    em função da massa de pólvora.

    Anais do 48º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 48th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society

    28 de junho a 1º de julho de 2004 – Curitiba-PR

    4

  • Observou-se relação linear entre a velocidade do projétil e a massa de pólvora

    e, em conseqüência, relação parabólica da energia cinética. Na segunda série, a

    velocidade do projétil foi mantida constante em (840 ± 20) m/s, próximo da faixa

    especificada para o ensaio balístico tipo III da NIJ 0108.01 (1985) (5) de

    (838 ± 15) m/s. A energia cinética média do projétil desta série foi de

    (3,4 ± 0,2)x103 J.

    1a Série: Efeito da energia cinética (velocidade) do projétil calibre 7,62 mm

    A Fig. 2 apresenta imagens da região próxima ao ponto de impacto, onde

    ocorreu intenso dano, ilustrando os diversos defeitos observados. As trincas cônicas

    se formam a partir da região de impacto e são aproximadamente concêntricas ao

    eixo de impacto, sendo que a base maior destas trincas define a área

    esbranquiçada. Esta área é parte opaca e parte translúcida em decorrência do

    espalhamento de luz causado pela região intensamente danificada do vidro. Nesta

    região observam-se muitas trincas radiais, laterais, circunferenciais e cônicas. O

    encontro destas trincas formam pedaços de vidro soltos, que se destacam

    facilmente na primeira lâmina de vidro na região próxima à posição de impacto.

    (a) frontal (b) verso (c) seção transversal

    Fig. 2 – Imagens da região próxima ao ponto de impacto da amostra 5888-63

    submetida à velocidade do projétil de 906 m/s (3903 J). CR - cratera, AE - área

    esbranquiçada, PC – plug cônico, TR - trinca radial, TL - trinca lateral, TCi -

    trinca circunferencial e TC - trinca cônica.

    Na menor velocidade (348 m/s, 568 J), o dano causado pelo impacto do projétil

    foi superficial, causando uma marca na posição de impacto e a formação de duas

    trincas radiais na primeira lâmina de vidro (5 mm de espessura). Na velocidade de

    463 m/s (1052 J), o dano ficou restrito nas duas primeiras lâminas de vidro, onde se

    Anais do 48º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 48th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society

    28 de junho a 1º de julho de 2004 – Curitiba-PR

    5

  • observou trincas radiais, laterais, circunferenciais e cônicas. Observou-se também

    cominuição parcial e lascamento da primeira lâmina de vidro na região próxima ao

    impacto. Com o aumento da velocidade do projétil, a área e a profundidade do dano

    se intensificaram e as quantidades das trincas aumentaram. A partir da velocidade

    de 529 m/s (1305 J), o dano foi observado nas quatro lâminas de vidro. Até a

    velocidade de 657 m/s (2117 J) não se observou perfuração da primeira lâmina de

    vidro (Fig. 3a), que se iniciou a partir de 740 m/s (2544 J) (Fig. 3b), com a formação

    da cratera (Fig. 2a). Exceto na menor velocidade, o impacto do projétil causou a

    formação do plug cônico (ou conoid (6)) em cada lâmina de vidro danificada, com o

    seu centro alinhado ao eixo de impacto. Este plug cônico tem geometria de domo

    com superfície esférica constituído de partículas de vidro com formato colunar

    aderidas ao filme de PVB voltado para o lado do impacto (4). Em velocidade

    suficientemente alta, o plug cônico é cominuído no impacto. Na Fig. 2c, observa-se

    que os plugs cônicos das duas primeiras lâminas de vidro foram cominuídos,

    restando os plugs das duas últimas lâminas de vidro. A formação do plug cônico

    também é observada em materiais cerâmicos e decorre de tensão de tração similar

    ao dano por contato de Hertz (7). Note que a região cominuída ao redor dos plugs

    forma um perfil de cone com a base menor sendo a cratera e a base maior a área

    esbranquiçada (Fig. 2c).

    (a) (b)

    Fig. 3 – Imagens da amostra 5888-63 submetida às velocidades do projétil de (a)

    586 m/s (1681 J) e (b) 740 m/s (2544 J).

    As trincas circunferenciais, que ficaram restritas à região delimitada pela área

    esbranquiçada, e as trincas radiais foram perpendiculares à superfície do vidro. A

    Anais do 48º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 48th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society

    28 de junho a 1º de julho de 2004 – Curitiba-PR

    6

  • formação de trincas radiais na região fora da área esbranquiçada indica que estas

    se propagaram mais rapidamente (e provavelmente se formaram antes) do que as

    trincas circunferenciais (observou-se também que as trincas circunferenciais eram

    descontínuas na interseção com as trincas radiais). Na Fig. 3a, observam-se trincas

    com padrão aproximadamente circulares concêntricas à posição de impacto,

    defletidas ou bifurcadas a partir de trincas radiais, fora da área esbranquiçada, e que

    aparentam serem “largas” em decorrência de estarem inclinada em relação ao plano

    do vidro. Estas trincas têm sido denominadas de wing cracks, com inclinação de 45o

    em relação à superfície do vidro, e aparentam ser uma forma de trinca de

    cisalhamento resultante da reação com as ondas de tensão refletidas nas bordas

    das lâminas de vidro (8). As wing cracks foram observadas principalmente na

    segunda lâmina de vidro das amostras ensaiadas com velocidades de 529 a 657 m/s

    (1305 a 2117 J), que correspondem às amostras que sofreram danos nas quatro

    lâminas de vidro sem a perfuração da primeira lâmina.

    Em todas as amostras ensaiadas, não se observou deformação plástica das

    placas de PC (Fig. 2c). A máxima velocidade que se alcançou nesta série (906 m/s,

    3903 J) correspondeu à carga máxima de pólvora que se conseguiu colocar no

    estojo do cartucho. A Fig. 4 apresenta os resultados de área esbranquiçada e área

    da cratera em função da energia do projétil.

    0

    100

    200

    300

    400

    500

    0 1000 2000 3000 4000 5000

    Energia cinética (J)

    Área

    esb

    ranq

    uiça

    da (c

    m²)

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    Área

    da

    crat

    era

    (cm

    ²)

    Área esbranquiçadaÁrea da cratera

    PC CR

    Fig. 4 – Resultados de área esbranquiçada e área da cratera (CR) da amostra 5888-

    63 em função da energia cinética do projétil. (Na faixa indicada com PC, é

    apresentada a área do plug cônico da primeira lâmina de vidro.)

    Observou-se que a área esbranquiçada inicialmente aumentou rapidamente

    com o aumento da energia cinética até um valor máximo em 3287 J (841 m/s) e

    Anais do 48º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 48th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society

    28 de junho a 1º de julho de 2004 – Curitiba-PR

    7

  • acima deste valor apresentou tendência de saturação (Fig. 4). Entre as energias de

    1305 e 2117 J (529 e 657 m/s), a área do plug cônico apresentou ligeira tendência

    de aumento com o aumento da energia cinética. A partir de 2544 J (740 m/s)

    observou-se que a área da cratera aumentou rapidamente com o aumento da

    energia cinética. A continuidade dos resultados nas faixas de área do plug cônico e

    da cratera (Fig. 4) sugere que o plug cônico é precursor de formação da cratera.

    A Fig. 5 apresenta os padrões de trinca de cada um das quatro lâminas de

    vidro da amostra 5888-63 submetida a diferentes velocidades de impacto do projétil.

    1o vidro (5 mm) 2o vidro (8 mm) 3o vidro (8 mm) 4o vidro (8 mm)

    (a) 529 m/s – 1305 J

    (b) 740 m/s – 2544 J

    (c) 906 m/s – 3903 J Fig. 5 – Padrões de trincas das quatro lâminas de vidro da amostra 5888-63

    submetida a diferentes velocidades de impacto do projétil. O 1o vidro é a face

    de impacto. (Não foi possível copiar as trincas próximas da região de impacto

    principalmente nos 3os e 4os vidros devido ao intenso dano nesta região.)

    Anais do 48º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 48th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society

    28 de junho a 1º de julho de 2004 – Curitiba-PR

    8

  • Observaram-se basicamente dois tipos de padrões de trincas nas amostras

    que apresentaram danos nos quatro vidros. Na faixa de velocidade de 529 a 657 m/s

    (1305 a 2117 J), que corresponde às amostras que não apresentaram perfuração da

    primeira lâmina de vidro, a quantidade de trincas radiais aumentou gradativamente

    do primeiro vidro (face de impacto) ao quarto vidro (Fig. 5a). A partir da velocidade

    de 740 m/s (2544 J), que corresponde ao início da formação da cratera,

    praticamente não houve diferenças das quantidades de trincas entre as quatro

    lâminas de vidro (Fig. 5b). As quantidades de trincas radiais total (soma dos quatro

    vidros) na circunferência de raio de 15 cm e de bifurcações/ramificações

    aumentaram rapidamente com o aumento da energia cinética do projétil (Fig. 6). A

    partir da velocidade de 841 m/s (3287 J) observou-se deflexão da parte das trincas

    radiais e a formação de trincas circunferenciais entre as trincas radiais, fora da

    região esbranquiçada (Fig. 5c). Algumas trincas defletidas eram ligeiramente

    inclinadas, mas a maioria era perpendicular à superfície do vidro. As trincas

    circunferenciais também eram perpendiculares à superfície. Estas trincas não

    parecem ser de mesma natureza que as wing cracks, e parecem ter sido formadas

    em decorrência da deflexão do vidro, quando o laminado é impactado com elevada

    energia cinética do projétil (4). A presença de trincas radiais defletidas e não

    defletidas indica que estas trincas podem ter diferentes velocidades de propagação

    ou que passaram em tempos diferentes no momento da deflexão.

    020406080

    100120140160

    0 1000 2000 3000 4000 5000

    Energia do projétil (J)

    No. R

    amifi

    caçõ

    es

    (a) (b)

    0

    100

    200

    300

    400

    500

    0 1000 2000 3000 4000 5000

    Energia do projétil (J)

    No. T

    rinca

    s Ra

    diai

    s

    Fig. 6 – Quantidades de trincas radiais, que cruzaram o círculo de raio 15 cm, e de

    ramificações destas trincas, na seção circular entre os raios de 10 e 20 cm, da

    amostra 5888-63 em função da energia cinética do projétil.

    Anais do 48º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 48th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society

    28 de junho a 1º de julho de 2004 – Curitiba-PR

    9

  • 2a Série: Efeito da seqüência de montagem das lâminas de vidro

    Nesta série, a posição da lâmina de vidro de 5 mm foi variada no conjunto

    laminado e o ensaio foi realizado na velocidade constante de (840 ± 20) m/s com

    cinco tiros. Todas as amostras ensaiadas (5888-63, 8588-63, 8858-63 e 8885-63)

    passaram no ensaio balístico nível III da NIJ 0108.01 (5), pois nenhuma apresentou

    perfuração e nem mesmo deformação das placas de PC. A Fig. 7 apresenta a

    seqüência de tiros na amostra 8588-63. Também não se observou diferenças

    significativas de desempenho entre estas amostras (Fig. 11), resultado diferente do

    trabalho anterior (4), onde se observou influência da seqüência de vidros no

    desempenho balístico de nível III-A.

    Fig. 10 – Seqüência de tiros da amostra 8588-63.

    0

    300

    600

    900

    1200

    1500

    1800

    1 2 3 4 5

    Sequência de tiro

    Área

    esb

    ranq

    uiça

    da

    acum

    ulad

    a (c

    m2 )

    0

    3

    6

    9

    12

    15

    18

    1 2 3 4 5

    Sequência de tiro

    Área

    da

    crat

    era

    (cm

    2 )

    5888-638588-638858-638885-63

    (a) (b)

    Fig. 11 – Área da cratera individual (a) e área esbranquiçada acumulada (b) das

    amostras com diferentes seqüências de lâminas de vidro.

    Anais do 48º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 48th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society

    28 de junho a 1º de julho de 2004 – Curitiba-PR

    10

  • CONCLUSÕES

    Nas condições deste trabalho, observou-se que :

    1) Na série de variação de energia cinética Ec do projétil calibre 7,62 mm (308

    Winchester), onde se variou a velocidade de 348 a 906 m/s (568 a 3903 J), na

    montagem do vidro blindado 5888-63:

    dano no PC (área esbranquiçada) iniciou em ~1000 J e aumentou rapidamente

    com a Ec até um máximo a ~3000 J.

    A formação da cratera nas lâminas de vidro foi observada a partir de ~1300 J. A

    área da cratera aumentou rapidamente a partir de ~2000 J.

    Não se observou penetração (deformação plástica) do PC.

    A quantidade de trinca radial e suas ramificações aumentaram rapidamente com

    a energia cinética do projétil.

    2) Na série com diferentes seqüências de lâminas de vidro, nas montagens do vidro

    blindado 5888-63, 8588-63, 8858-63 e 8885-63:

    Não se observou diferenças significativas de desempenho balístico, segundo

    nível III da NIJ, quando se variou a posição do vidro de 5 mm.

    AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a G.R. Siqueira, A.A. Siqueira, E.E. Cunha e G. Gomes pelo

    auxílio na análise de imagens.

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. C.A. Smith, Patente US 5.567.529, 1996.

    2. H. Charrue, F. Rifqi, R. Crepet, C. Guillement, Patente US 5.773.148, 1998.

    3. J.R. Manheim, Patente US 4.879.183, 1989.

    4. G.C.P. Branco, E.G. Basile, R.G. Morrone, H.F. Viana, A.V.D. Cardoso, F.B.

    Furtado, H.N. Yoshimura, Anais do 47° Congresso Brasileiro de Cerâmica, São

    Paulo, SP, junho de 2003, ref. 13-01, p. 2003.

    5. NIJ 0108.01 (1985), Ballistic Resistant Protective Materials.

    6. V.D. Frechette, C.F. Cline, Ceramic Bulletin 49, 11 (1970) 994.

    7. D. Sherman, D.G. Brandon, J. Mater. Res. 12, 5 (1997) 1335.

    8. R.C. Bradt, M.E. Barkey, S.E. Jones, M.E. Stevenson, The Glass Researcher, 11,

    2 (2002) 20.

    Anais do 48º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 48th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society

    28 de junho a 1º de julho de 2004 – Curitiba-PR

    11

  • ANALYSIS OF 44 MAGNUM PROJECTILE IMPACT DAMAGE ON THE

    BULLETPROOF GLASS WITH 21 mm THICKNESS

    ABSTRACT

    In this work, the ballistic behavior of bulletproof glasses used in armored vehicle was

    investigated. The parameters investigated were the kinetic energy of projectile and

    the sequence of glass laminae. Samples with four glass laminae (one of 5 mm and

    three of 8 mm) and two PC laminae (one of 6 mm and another of 3 mm) were

    prepared. Samples with different glass sequence, varying the position of the 5 mm

    lamina, were prepared. The assembles were laminated with PVB and PU films in an

    autoclave. The prepared laminates (50x50cm²) were subjected to a ballistic test

    using the 7.62 mm projectile (308 Winchester, level III of NIJ 0108.01 standard). The

    digitized images of tested samples were analyzed with an appropriated software to

    evaluate their damage. The results were correlated to the parameters investigated.

    Key-words: Bulletproof glass, laminated composite, impact, ballistic

    Anais do 48º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 48th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society

    28 de junho a 1º de julho de 2004 – Curitiba-PR

    12