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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA NATÁLIA SACCOMANI MANFRIM Análise da integração do mercado brasileiro de Etanol Sorocaba - SP 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA

NATÁLIA SACCOMANI MANFRIM

Análise da integração do mercado brasileiro de

Etanol

Sorocaba - SP 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA

NATÁLIA SACCOMANI MANFRIM

Análise da integração do mercado brasileiro de

Etanol

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em Economia da

Universidade Federal de São Carlos, como parte

dos requisitos para obtenção do título de mestre

em Economia.

Área de Concentração: Economia Aplicada.

Orientador: Prof. Dr. Danilo Rolim Dias de

Aguiar.

Sorocaba - SP

2014

Page 3: Análise da integração do mercado brasileiro de Etanol...a integração do mercado brasileiro de etanol nos diferentes estados brasileiros a fim de se fazer inferências sobre seu

RESUMO

Devido à importância do setor sucroenergético, à posição estratégica do Brasil

na produção de etanol e à maneira como se dá sua produção, esta pesquisa analisa

a integração do mercado brasileiro de etanol nos diferentes estados brasileiros a fim

de se fazer inferências sobre seu grau de eficiência. Para tal, analisa-se a integração

sobre os aspectos da extensão, do padrão e do grau, dado que a integração

espacial é um conceito amplo e deve ser tratado de maneira multidimensional.

Através da análise, conclui-se que o mercado central de etanol no Brasil é composto

por doze estados: São Paulo, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Mato Grosso do Sul,

Goiás, Bahia, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso, Ceará e

Alagoas, os quais possuem seus preços movendo-se de forma sincronizada ao

longo do tempo, sendo São Paulo o mercado central exógeno que determina o

comportamento de longo prazo dos preços de todos os demais estados. Conclui-se

ainda que os modelos que levam em consideração os efeitos dos custos de

transação representam melhor os ajustamentos dos preços do produto, mostrando

que há oportunidades de ganhos através da arbitragem espacial.

Palavras-chave: integração espacial; mercado; etanol; transmissão de preços.

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ABSTRACT

The sugarcane industry is very important to Brazil and is distributed throughout the

country. Therefore, this research analyzes the integration of the Brazilian ethanol

market among different Brazilian states in order to identify their degree of efficiency.

In order to do that, there are analyzed the extension, the pattern and the degree of

market integration. The results show that the central market of ethanol in Brazil is

composed by twelve states: Sao Paulo, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Mato

Grosso do Sul, Goias, Bahia, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato

Grosso, Ceará and Alagoas, as they have their prices moving in parallel over time.

Sao Paulo is the exogenous central market that determines the long-term price

behavior of all other states. It is also verified that the models that include transaction

costs adjust better, what is an indication of the opportunities of gains through spatial

arbitrage.

Key words: spatial integration; market; ethanol; price transmission.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Proporção de veículos flexfuel novos licenciados em relação ao total ........ 1

Figura 2. Principais estados produtores de etanol em 2013 ....................................... 3

Figura 3. Principais mercados consumidores de etanol em 2013 ............................... 3

Figura 4. Tributação brasileira do ICMS sobre o etanol .............................................. 5

Figura 5. Resíduos dos preços estaduais no período de 2001 a 2013 ..................... 35

Figura 6. Tendência do comportamento dos preços estaduais de 2001 a 2013 ....... 37

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Índice de autossuficiência para os estados brasileiros (2010-2013) ........ 28

Tabela 2. Comércio interestadual de etanol nos estados brasileiros (2010-2013) ... 30

Tabela 3. Resultado dos testes de seleção do número de defasagens a serem

incluídas nos modelos VEC, para as séries de preços do etanol durante o período de

2001 a 2013 .............................................................................................................. 34

Tabela 4. Teste de Johansen para identificação do número de relações de

cointegração entre os estados .................................................................................. 36

Tabela 5. Relações de equilíbrio entre os pares de mercado de 2001 a 2013 ......... 39

Tabela 6. Coeficientes de ajustamento do modelo VEC ........................................... 39

Tabela 7. Distância entre mercados (1) (Mercado Central: São Paulo) ..................... 41

Tabela 8. Modelo Auto-Regressivo Threshold (TAR), considerando São Paulo como

o mercado central ..................................................................................................... 42

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SUMÁRIO 1- Introdução ............................................................................................................. 1

1.1- O mercado de etanol........................................................................................ 1

1.2- O problema e sua importância ......................................................................... 5

1.3- Hipóteses ......................................................................................................... 9

1.4- Objetivos .......................................................................................................... 9

2- Referencial Teórico ............................................................................................. 10

2.1- Integração espacial de mercados .................................................................. 10

2.2 - Características de mercados integrados: Extensão, Padrão e Grau ............ 13

3- Métodos e dados ................................................................................................. 18

3.1- Determinação da extensão do mercado ........................................................ 18

3.2- Determinação do padrão de integração dos mercados ................................. 21

3.3- Determinação do grau de integração dos mercados ..................................... 24

3.4- Dados e suas fontes ...................................................................................... 26

4- Resultados ........................................................................................................... 27

4.1- Extensão do mercado .................................................................................... 27

4.2 - Identificação do padrão de relacionamento entre os mercados .................... 38

4.3 - Determinação do grau de integração dos mercados .................................... 41

5- Resumo e Conclusões........................................................................................ 44

6- Referências Bibliográfica ................................................................................... 48

Page 8: Análise da integração do mercado brasileiro de Etanol...a integração do mercado brasileiro de etanol nos diferentes estados brasileiros a fim de se fazer inferências sobre seu

ANEXOS ................................................................................................................... 51

ANEXO I ................................................................................................................... 52

Page 9: Análise da integração do mercado brasileiro de Etanol...a integração do mercado brasileiro de etanol nos diferentes estados brasileiros a fim de se fazer inferências sobre seu

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1- Introdução 1.1- O mercado de etanol

O setor sucroalcooleiro tem se destacado na matriz energética brasileira

ao longo de sua história mais recente, a partir do advento do Proálcool, nos

anos 1970. Este se tratava de um programa governamental que tinha como

objetivo a substituição em larga escala dos combustíveis veiculares derivados

de petróleo por etanol, o qual é utilizado como combustível (etanol hidratado) e

também como aditivo da gasolina (etanol anidro).

Além do Proálcool, o marco transformador deste mercado, que

impulsionou a demanda de etanol como combustível no país, foi o lançamento

dos veículos flexfuel em 2003, o que fez com que o etanol se tornasse,

efetivamente, concorrente direto da gasolina C. Estes veículos, que permitem

qualquer mistura de gasolina e etanol, representaram, em 2013, 84% do total

de automóveis novos licenciados no Brasil (Figura 1), e já ultrapassam os 50%

da frota total brasileira de veículos. Como resultado, as vendas de etanol

hidratado cresceram 16,1% a.a. desde 2003, passando de 3,2 milhões de m³

para mais de 10,7 milhões de m³ em 2011, sendo que, em 2009, chegou a

atingir 16,5 milhões de m³ (ANFAVEA, 2014).

Figura 1. Proporção de veículos flexfuel novos licenciados em relação ao total

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do anuário da indústria automobilística publicados por ANFAVEA (2014).

flex

total

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

3% 21% 47% 74% 81% 83% 84% 82% 78% 83% 84%

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Vieira et al (2007) destacam alguns fatores do potencial do setor

sucroenergético brasileiro. Segundo estes autores, o país tem mais de trinta

anos de experiência com programas de biocombustíveis, os quais são modelos

para vários outros países; é o maior produtor e consumidor do mundo; tem

maior capacidade de expansão da produção, já que possui terras disponíveis;

domina a tecnologia da produção, tanto na parte agrícola como na industrial; e

tem os custos de produção mais baixos do mundo, com grande parte do setor

industrial desta cadeia produtiva sendo considerado moderno, com grande

eficiência e baixo impacto ambiental.

Assim, o interesse no avanço e na consolidação desta indústria deve-se à

posição estratégica do Brasil como o maior produtor mundial de cana-de-

açúcar (matéria prima para o etanol) e também como maior produtor de etanol

a partir da cana. Além disso, o setor representa uma alternativa à dependência

exclusiva dos derivados do petróleo e gás natural, já que se trata de uma

indústria menos agressiva ao meio ambiente quando comparada com a

indústria petrolífera (UNICA – Etanol e Bioeletricidade, 2010).

O principal fator de escolha do consumidor entre o abastecimento dos

veículos flexfuel com etanol ou com gasolina se dá pelo diferencial entre os

preços dos dois combustíveis e a relação de desempenho entre os mesmos, o

que se torna uma característica fundamental do tamanho do mercado

consumidor interno brasileiro.

No tocante à distribuição espacial, a produção brasileira de etanol é

realizada principalmente nas regiões Sudeste, Centro-Oeste, Sul e Nordeste,

com destaque para os estados de São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Mato

Grosso do Sul, Paraná, Mato Grosso e Alagoas (Figura 2).

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Figura 2. Principais estados produtores de etanol em 2013

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da ÚNICA, 2014.

Ademais, existem diferenças de custo de produção e de demanda entre

as regiões produtoras dentro do país, o que contribui para os diferenciais nos

preços entre os estados. Em relação ao consumo de etanol, os principais

mercados consumidores do combustível se encontram respectivamente nos

estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Goiás, Rio de Janeiro, Rio

Grande do Sul e Bahia (Figura 3), ou seja, estão localizados nos grandes

centros urbanos, sobretudo na região Centro-Sul do país.

Figura 3. Principais mercados consumidores de etanol em 2013

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da ÚNICA, 2014.

Em termos de formação de preço, até o início dos anos 1990 o governo

definia os preços da cana-de-açúcar e de seus derivados, incluindo o etanol.

São Paulo 51%

Goiás 13%

Minas Gerais 9%

Mato Grosso do

Sul 8%

Paraná 6%

Mato Grosso 4%

Alagoas 2%

Outros 7%

São Paulo 41%

Minas Gerais 9%

Paraná 8%

Goiás 6%

Rio de Janeiro 6%

R.G do Sul 4%

Bahia 3%

Outros 23%

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No entanto, a partir dos anos 1990, o mercado de etanol brasileiro ficou mais

competitivo, pois os preços passaram a ser formados por elementos de oferta e

demanda, através de um processo de desregulamentação do setor, e não mais

por decisões do governo.

Neste contexto de mercado livre, o Relatório Anual de revenda de

combustíveis da Fecombustíveis (2014) mostra que o ICMS (imposto sobre

operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de

serviços de transporte interestadual, intermunicipal e de comunicação) se torna

bastante relevante em termos de seu impacto sobre os custos de transação do

etanol.

O ICMS varia conforme o estado em que o combustível é produzido,

sendo separado em tarifas estaduais e interestaduais, impactando de maneira

direta o fluxo de comércio do etanol, afetando os custos de distribuição da

produção espalhados por vários estados brasileiros e também as demandas

regionais. Mais detalhadamente, a Figura 4 permite visualizar como se dá a

incidência desse imposto dentro de cada estado e também quando o produto é

comercializado de maneira interestadual, onde se tem taxas que variam de

12% a 30% do ICMS estadual e 7% a 12% do ICMS interestadual. Esta política

relativa ao ICMS, que acontece de maneira não uniforme, pode ocasionar

relações de preços muito mais fracas entre os estados, acarretando

ineficiências por elevar e distorcer os custos de distribuição em um país com

grande extensão territorial.

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Figura 4. Tributação brasileira do ICMS sobre o etanol

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do relatório da Fecombustíveis, 2014.

1.2- O problema e sua importância

A distribuição da produção espalhada por vários estados brasileiros e as

diferentes demandas regionais originam diferentes preços para diferentes

localidades e um fluxo de comércio entre os mercados espacialmente

separados.

A dimensão do país gera dificuldades, pois apesar de a produção ser

espalhada nos diversos estados do país, há uma concentração em algumas

regiões como se pode visualizar na Figura 2. Em um país com grande extensão

territorial e baixa qualidade da infraestrutura logística e de distribuição, além da

alta e desigual tributação do ICMS, a eficiência da distribuição do produto se

torna extremamente relevante, já que devido às circunstâncias analisadas, há

aumento nos custos do produto e dificuldades para arbitragem, provocando

problemas para a integração do mercado.

De maneira geral, o processo de integração espacial de mercados

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regionais tem despertado o interesse de inúmeros pesquisadores e instituições

da área econômica, já que se tem que a forma de interação entre os diversos

mercados regionais é um dos principais fatores que promovem a equidade, a

eficiência e a competitividade desses mercados (PEREIRA, 2005).

Segundo Pereira (2005), a maior parte da literatura de integração espacial

entre mercados destaca, principalmente, a questão de os preços em diferentes

localidades serem ou não relacionados uns com os outros. Sendo assim, os

mercados serão espacialmente integrados quando os preços praticados em

cada um deles responderem, direta ou indiretamente, não apenas às ofertas e

demandas locais, mas também às ofertas e demandas de todos os outros

mercados.

A análise da integração de mercados espacialmente separados tem sido

amplamente aplicada ao contexto agrícola, com o propósito de verificar como

os preços das commodities são transmitidos de uma região para outra. De

acordo com Meyer (2004), a integração de mercados pode ser definida como o

grau de transmissão de preços entre mercados espacialmente separados. Por

isso, quanto maior o grau de integração do mercado, maior a transmissão de

preços, encorajando produtores a se especializarem de acordo com as

vantagens comparativas da região.

A maior integração dos mercados é também importante para o

crescimento econômico, já que a integração e a especialização podem

aumentar a renda dos produtores e, ao reduzir a variabilidade dos preços entre

mercados espacialmente separados, podem aumentar o bem-estar dos

consumidores (GONZÁLEZ-RIVERA E HELFAND, 2001).

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Segundo Goletti e Christina-Tsigas (1995, apud PEREIRA, 2005), a

identificação de grupos de mercados integrados e o conhecimento da extensão

da transmissão de preços entre diferentes localidades podem auxiliar o

governo no delineamento de políticas, evitando a duplicação dos gastos

públicos e também aumentando a efetividade dessas políticas, devido ao

monitoramento do movimento dos preços. Argumenta-se que o conhecimento

do relacionamento entre os preços nos mercados vizinhos pode ser utilizado

também na previsão dos níveis de preços do país. Finalmente, tem-se que a

identificação dos fatores estruturais responsáveis pela integração de mercado

pode auxiliar no entendimento de qual infraestrutura de comercialização é mais

relevante para o desenvolvimento dos mercados agrícolas no país,

possibilitando maior eficiência das políticas de investimento em infraestrutura.

Os estudos que têm sido realizados sobre integração de mercados

agrícolas têm se baseado no exame de três conceitos: a extensão, o padrão e

o grau de integração. De forma resumida, a extensão do mercado é o tamanho

efetivo em que há a realização do comércio de determinado produto; o padrão

determina como as informações do preço do produto são transmitidas entre as

localidades que participam do seu comércio; e o grau de integração consiste

em quão fortemente os mercados são integrados.

Embora a questão da integração de mercados seja relevante, apenas

recentemente têm surgido alguns trabalhos sobre a integração do mercado de

etanol no Brasil, sendo que a maioria dos estudos realizados1 se preocupou

com as regras de formação de preços do etanol e suas correlações e relações

de causalidade com diversas outras variáveis do setor sucroalcooleiro e do

1 Ver GAMARRA (2009); RODRIGUES (2009); CAMPOS (2010); DIEHL e BACCHI (2013);

ROSA (2013); etc.

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setor petrolífero.

Especificamente sobre a integração do mercado de etanol, poucos

trabalhos foram feitos. Amaral e Alves (2013) estudaram a integração espacial

do mercado de etanol entre os estados de São Paulo e Alagoas a partir do

referencial teórico sobre Integração de Mercado e Lei do Preço Único,

utilizando a metodologia de séries temporais. Utilizando a mesma metodologia,

Luzardo e Lima (2011) estudaram a transmissão de preços entre os mercados

de etanol no Nordeste do Brasil, enquanto Alves e Lima (2010) analisaram a

integração espacial dos mercados de etanol no Brasil, considerando a

presença de custos de transação baseados na Lei do Preço Único,

comparando as regiões de Alagoas, Araçatuba (SP), Ribeirão Preto (SP),

Paulínia (SP) e Maringá (PR). Ou seja, nenhum desses estudos analisou a

integração entre todos os estados produtores de etanol.

Mais recentemente, Moraes (2014) estudou a integração espacial do

mercado brasileiro de etanol de oito estados pré-estabelecidos: Paraná, São

Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Alagoas e

Pernambuco, utilizando o modelo de cointegração de Johansen, através da

hipótese de que os preços desses mercados podem ser integrados, mesmo

que não perfeitamente, dada a existência de arbitragem. No entanto, esse

autor não utilizou os três conceitos de integração (extensão, padrão e grau) e

tampouco testou a integração de todos os estados do país.

Nota-se, portanto, a carência de estudos que examinam a integração do

mercado brasileiro de etanol, considerando todos os estados produtores e

testando a integração sob suas três dimensões; extensão, padrão e grau. Um

estudo desta natureza permitiria constatar se os preços em diferentes

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localidades estão ou não relacionados, embasando, por meio da identificação

de grupos de mercados integrados e do conhecimento da extensão da

transmissão de preços entre diferentes localidades, o delineamento de políticas

que aumentem a eficiência do setor.

1.3- Hipóteses

A pesquisa testa a hipótese de que o mercado de etanol brasileiro se

estende por todo o território nacional seguindo um padrão de integração

espacial de preços, ou seja, que o mercado brasileiro de etanol é integrado.

1.4- Objetivos

Desta forma, o objetivo do trabalho é analisar a integração entre os

mercados de etanol dos diferentes estados brasileiros a fim de se fazer

inferências sobre seu grau de eficiência.

Especificamente, pretende-se:

a) Identificar se existe integração espacial dos preços do etanol.

b) Determinar a maneira como se dá a integração do mercado de etanol no

Brasil;

c) Verificar a eficiência e o grau de integração do mercado em questão.

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2- Referencial Teórico 2.1- Integração espacial de mercados

Conforme definido no item anterior, a integração de mercados

corresponde ao grau com que os preços de localidades distintas se relacionam

ao longo do tempo. Para que a integração espacial de mercados ocorra,

segundo Amaral e Alves (2013), é necessário que as regiões participem de um

sistema de comércio que envolva troca de mercadorias e de informações. Para

que apresentem alto grau de integração, não é preciso que duas regiões

tenham comércio direto; apenas é necessário que exista uma ligação

comercial, mesmo que indireta, entre elas.

Os choques nos preços podem ser transmitidos, indiretamente, por

meio desta rede de comércio, através das ligações existentes entre as regiões.

Sendo assim, para que um mercado seja integrado é necessário que o

conjunto de localidades comercialize o mesmo produto e possua a mesma

tendência de comportamento ao longo do tempo. Por exemplo, duas regiões A

e B, que fornecem produto para uma região C, podem ser altamente

integradas; é a ligação comercial com C que faria com que A e B fossem

integradas.

A integração de mercados é um conceito multidimensional que não

envolve apenas relações de preços, mas também elementos que caracterizam

os elos dos mercados. A integração de preços é apenas uma das várias

condições necessárias para integração de mercados. Em mercados

competitivos, a integração de preços é resultado do processo de arbitragem

(PEREIRA, 2005).

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A arbitragem consiste no processo de comprar uma mercadoria em um

local, tempo ou forma em que ela é mais barata e vendê-la onde ela é mais

cara, após os custos de transação serem compensados. O processo de

arbitragem espacial garante que os preços de um produto homogêneo, em dois

locais, sejam diferentes, no máximo, pelo custo de transportar a mercadoria do

local de preço mais baixo para o local de preço mais alto.

De acordo com Alves e Lima (2010), diferenças nos preços podem

existir devido à presença de alguns fatores, como é o caso dos custos de

transação, desencorajando os agentes a praticarem a arbitragem, pois afetam

o fluxo de bens e informação entre as regiões. No caso de mercados agrícolas,

esses custos são quase sempre elevados, pois geralmente são produtos com

grandes volumes, perecíveis e com áreas de produção e de consumo

localizadas em regiões diferentes.

Caso não haja comércio entre duas regiões, cada uma delas terá um

preço determinado por suas respectivas curvas de demanda e oferta. Com a

introdução do comércio entre mercados espacialmente separados, o fator

determinante das relações entre os preços passa a ser o custo de transação,

ou seja, o custo de transferir o produto entre as regiões.

Mattos (2008) ressalta que na literatura sobre integração de mercados

não há uma terminologia uniforme para se referir aos custos de transacionar

determinada mercadoria entre diferentes regiões. Alguns trabalhos utilizam

termos como custo de transferência e custo de transporte, no entanto, aqui

serão considerados os custos de transação, pois estes abrangem os custos de

transferência, de transporte e de oportunidade, de acordo com González-

Rivera e Helfand (2001).

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Como as decisões de compra e venda feitas pelos agentes são

baseadas no diferencial de preços entre mercados e no custo real com que se

defrontam, este diferencial de preços tem de ser positivo e suficiente para

garantir o lucro do arbitrador (MALTSOGLOU E TANYERI-ABUR, 2005).

Desta forma, as oportunidades de arbitragem só ocorrem quando as

diferenças nos preços são consideráveis e o lucro potencial excede os custos

de transação. Assim, custos de transação elevados, dentre outras imperfeições

de mercado, frequentemente causam fraca transmissão de preços entre

mercados espacialmente separados e desvios da Lei do Preço Único (LPU).

Esta lei garante que quando se retiram os custos de transação, se os

mercados estiverem ligados por comércio e por arbitragem estas regiões terão

um preço único para o produto homogêneo, o que expressa uma relação de

equilíbrio de longo prazo entre os preços de mercados distintos.

Estes processos ocasionam o aumento de preço nas regiões de preços

menores (onde se está comprando) e a redução nas regiões de preços maiores

(onde se está vendendo), o qual se extinguirá somente quando o diferencial de

preços for exatamente igual ao custo de transação entre as regiões.

Na literatura sobre custos de transação e integração de mercados2, a

relação preestabelecida é de que quanto menor for o custo de transação, mais

integrados serão os mercados espacialmente separados. Além do fator dos

custos de transação, a literatura também considera a velocidade de

ajustamento do preço, ou seja, a velocidade com que os preços se ajustam a

eventuais desequilíbrios (MATTOS, 2008), já que o acesso dos agentes

econômicos às informações provavelmente influencia a velocidade de

2 Gonzáles-Rivera e Helfand (2001), Campenhout (2007), Alves (2009).

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ajustamento ao equilíbrio de longo prazo e, desse modo, uma maior velocidade

de ajustamento do preço implica mercados mais integrados. De acordo com

Mattos (2008), ajustamentos mais lentos devem estar associados à presença

de maiores custos no processo.

Resumindo, para que um mercado seja integrado é necessário que o

processo de arbitragem seja possível devido aos custos de transações serem

baixos (ou por interferência do governo) e também devido à inexistência de

barreiras no comércio e informação de mercado. Além disso, é necessário que

o mercado seja competitivo.

2.2 - Características de mercados integrados: Extensão, Padrão e Grau

De acordo com González-Rivera e Helfand (2001), pelo fato de a

integração espacial ser um conceito amplo, este deve ser tratado de maneira

multidimensional, ou seja, devem ser considerados vários aspectos entre os

mercados diferentes e, desta forma, a integração pode ser analisada sob os

aspectos da extensão, do padrão e do grau.

A extensão do mercado se trata da dimensão e das fronteiras

geográficas do mercado integrado, ou seja, esta definição se baseia na própria

definição de integração de mercado onde se tem o fluxo de bens e informações

no tempo e no espaço. Desta forma, as localidades devem ser conectadas,

direta ou indiretamente, por comércio e informações de longo prazo, o que não

implica que todas as localidades processem, simultaneamente, as informações.

Para isso precisa-se identificar o conjunto de localidades que é conectado,

direta ou indiretamente, por comércio contínuo e determinar os estados que

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compartilham um fator de integração comum.

Segundo González-Rivera e Helfand (2001), um mercado com n

localidades geograficamente distintas será considerado integrado se as duas

condições a seguir forem satisfeitas: 1) deve existir fluxo físico de bens que

conecte todas as n localidades, seja direta ou indiretamente; 2) as n

localidades devem ter um correspondente vetor de preços , que

pode ser decomposto em

, em que é o fator

de integração que caracteriza o componente permanente (longo prazo) do

preço

, o componente transitório (curto prazo) para cada localidade.

O padrão de integração dos mercados regionais é caracterizado pelas

diferentes relações de interdependência das diferentes localidades do

mercado. A ideia básica consiste em determinar como a informação contida

nos preços é transmitida entre as regiões e identificar as localidades que mais

contribuem para as variações nos preços, além disso, consiste também em

identificar se há extrema interdependência das localidades e em verificar a

existência de uma localidade central exógena que determina o comportamento

de longo prazo das outras localidades.

O grau de integração de mercado consiste em saber o quanto os

mercados são integrados, ou seja, em saber como os choques originados em

uma região são transmitidos às outras e com qual intensidade, possibilitando o

conhecimento de quais regiões são mais ou menos integradas. Sendo assim,

essa definição diz respeito ao tempo de reação para que a relação de longo

prazo consiga absorver um choque em todo o sistema. Pela análise conjunta

do impacto desses choques é possível elaborar uma ordenação consistente

dos mercados, com base nos tempos de reação destes.

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Ainda em relação ao grau de integração, seus determinantes são

importantes para o estudo da integração. Portanto, devem-se levar em

consideração os vários fatores que podem afetar a integração espacial de

determinado mercado, os quais afetam os custos de transações, que, por sua

vez, afetam o fluxo de bens e informações entre as localidades. Pressupõe-se

que, quanto menores forem os custos de transação, maior será o grau de

integração entre os mercados, e assim, considera-se que mesmo que uma

região seja integrada ao resto do mercado, o fato de ser mais caro transferir ou

receber bens e informações de outras localidades faz com que os ajustamentos

aos choques de oferta e demanda levem mais tempo para ser absorvidos.

De acordo com Pereira (2005), a quantidade produzida e consumida de

determinado produto numa localidade afeta o fluxo de comercialização desta

com outras localidades, o que, por sua vez, influencia o grau de integração

entre estas. Desta forma, espera-se que um grande volume de comércio inter-

regional aumente o grau de interação desses mercados, uma vez que

possibilita a redução nos custos de transação, pois, quanto maior o volume

transportado de uma vez só, menores são os custos logísticos.

Além disso, políticas públicas também podem influenciar o grau de

integração dos mercados espacialmente separados já que estas são capazes

de aumentar o fluxo de bens e informações entre os mercados de diversas

maneiras.

Alguns trabalhos utilizaram este método para o estudo da integração

espacial do mercado aplicado a diferentes setores da economia, sendo, a título

de exemplo, os principais destes descritos na sequência.

Nogueira (2005) estudou a integração dos mercados internos e externos

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de café através do método da extensão, do padrão e do grau de integração,

utilizando a teoria da cointegração (teste de Raiz Unitária, teste de Johansen,

VEC e a metodologia de GONZALO e GRANGER, 1995) na análise da

extensão e do padrão do mercado brasileiro de café, e empregou a

metodologia de PESARAN e SHIN (1996) para analisar o grau de integração.

Chegou à conclusão de que a extensão da integração do mercado brasileiro de

café é dada por oito estados, de tal forma que essas localidades compartilham

a mesma informação, no longo prazo. Além disso, os coeficientes de

ajustamento do modelo VEC (alfas) tiveram todos os resultados negativos, com

valores entre -0,2743 a -0,1222, o que levou a se constatar que não havia um

padrão para a integração de café, ou seja, que não há um estado dominante no

comércio deste produto; nem mesmo Minas Gerais, o maior produtor de café

do país. Concluiu também que o grau de integração entre o mercado interno e

externo do café é maior do que o grau de integração entre o mercado brasileiro

interno.

Pereira (2005) analisou a integração dos mercados brasileiros de boi

gordo nos diferentes estados brasileiros, considerando aspectos relacionados

com a delimitação espacial dos mercados, forma de relacionamento entre estes

e a determinação dos que são mais ou menos integrados, ou seja,

considerando a extensão, o padrão e o grau de integração do mercado. A

metodologia utilizada na delimitação da extensão do mercado consistiu em

verificar o comportamento de indicadores construídos para captar o

comportamento do potencial de comercialização entre as localidades, e a

aplicação do Procedimento de Johansen, e em identificar o conjunto de

localidades que possuem o mesmo fluxo de informações ao longo do tempo. O

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Modelo de Correção de Erros Vetorial (VEC) foi empregado na análise do

relacionamento entre as localidades integradas e o grau de integração entre as

localidades foi definido pelo tempo requerido para que cada localidade se

ajustasse a choques através do cálculo dos Perfis de Persistência medianos,

que, por sua vez, foram utilizados, como variáveis dependentes, na análise dos

determinantes da intensidade da integração. Verificou-se que os estados do

Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Rio Grande do Sul, Paraná, São

Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia e Rondônia mostraram-se

integrados ao longo do período analisado. Em relação ao padrão de

relacionamento estabelecido entre as localidades integradas, os resultados dos

alfas foram em sua maioria valores negativos ou valores muito baixos e

observou-se que, embora não existisse localidade dominante no

comportamento do mercado, também não havia interação perfeita entre todos

os estados. Constatou-se que a maior velocidade de ajustamento ocorreu entre

São Paulo e Mato Grosso do Sul, estados que reagiram ao maior número de

desequilíbrios transitórios nas relações de equilíbrio de longo prazo, e que os

vetores de cointegração não estiveram relacionados com a forma de inserção

dos estados no mercado. Essas análises reafirmam a necessidade de um

tratamento multidimensional entre as variáveis, ao contrário da tradicional

análise bivariada utilizada em análises de integração entre localidades

distintas. Pela análise do grau de integração entre as localidades, verificou-se

que Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Paraná ajustaram-se mais

rapidamente a desequilíbrios no sistema e apresentaram maior grau de

integração com o mercado.

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3- Métodos e dados

3.1- Determinação da extensão do mercado

Como mencionado anteriormente, uma das características da integração

de mercado se dá pela sua extensão, que requer a determinação de quais são

as regiões interligadas pelo comércio de etanol, a fim de mostrar a dimensão e

as fronteiras geográficas do mercado integrado.

Com base no trabalho de Pereira (2005), para representar esta

característica são utilizados o nível de consumo anual e o nível de produção de

cada estado brasileiro, o que permite calcular o índice de autossuficiência

(IAS), representado da seguinte forma:

(1)

Por meio deste índice, pode-se identificar as localidades que tiveram uma

inversão de comércio, ou seja, exportadores que se tornaram importadores e

vice-versa. Além disso, permite a identificação de estados que estão próximos

à autossuficiência e, portanto, que são candidatos à descontinuação do

comércio nos próximos anos.

Valores do índice IAS superiores a um, indicam que essas regiões são

exportadoras de etanol. Alternativamente, no caso de valores inferiores a um,

interpreta-se que os estados são importadores de etanol. Valores próximos a

um significam que o estado está próximo da autossuficiência.

A fim de representar o potencial de comercialização de um estado,

estima-se o indicador de comércio da seguinte forma:

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(2)

Quando este índice possui valores negativos, significa que o estado não

possui produção suficiente para atender o consumo da população interna e,

portanto, necessita realizar importações de etanol. Quando o índice possui

valores positivos, o estado tem produção excedente ao consumo da população

interna e, portanto, exporta para outras localidades. Tanto valores negativos,

quanto valores positivos indicam que o estado possui potencial para a

realização de comércio e quanto maiores são os valores absolutos desse

índice, maior é a propensão à realização de comércio por parte dessas regiões.

Desta maneira, é possível determinar quais são as localidades que

comercializam etanol e excluir as que não possuem ligações comerciais,

determinando assim a extensão do mercado desta commodity.

Ainda para a determinação da extensão do mercado, é preciso

identificar os estados que compartilham um fator de integração comum.

González-Rivera e Helfand (2001) ressaltam a importância e as implicações da

busca de um único fator integrador comum entre as séries de preços de

diferentes localidades. A procura por apenas um fator integrador comum entre

as séries de preços é equivalente à busca de k-1 vetores de cointegração. A

busca pelo maior conjunto de localidades que compartilhem k-1 vetores de

cointegração deve ser conduzida pelo procedimento de Johansen (1991), que

se baseia na seguinte versão reparametrizada de um vetor de correção de

erros (VEC), com n defasagens:

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(3)

em que é um vetor (kx1) de variáveis estocásticas; , um vetor (kx1) de

erros identicamente e independentemente distribuídos, iid; e , uma matriz

(kxk) de posto r < k, definida por . As matrizes são de ordem (k x

r), sendo r o posto da matriz , que é igual ao número de vetores de

cointegração linearmente independentes. O número de relações (vetores) de

cointegração, r, é igual ao de raízes características, , estatisticamente

diferentes de zero.

Johansen (1991) propôs dois testes de razão de verossimilhança para

identificar o número de vetores de cointegração: o teste do traço ( trace) e o do

máximo autovalor ( max). O primeiro testa a hipótese de que há, no máximo, r

vetores de cointegração, enquanto o segundo testa a hipótese de que há r

vetores de cointegração contra a hipótese de que há r+1 vetores.

O teste do traço ( trace) utiliza a seguinte estatística:

∑ (4)

O teste do máximo autovalor ( max) utiliza a seguinte expressão:

(5)

As distribuições assintóticas dessas estatísticas são dadas de acordo com

a especificação do modelo VAR utilizado.

Ainda de acordo com o teste de Johansen (1991), o número de vetores de

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cointegração, r, pode admitir os seguintes valores:

I. r = 0, se não há nenhuma relação de cointegração entre as séries

analisadas;

II. r = k, sendo k igual ao número de séries analisadas, se todas as

séries analisadas são estacionárias, ou seja, I(0), se não há

necessidade de pensar em cointegração e na determinação de

relações de equilíbrio de longo prazo entre elas;

III. 0 < r < k, se existem r combinações lineares entre as séries

estacionárias, ou seja, há r relações de cointegração entre as

séries.

Segundo González-Rivera e Helfand (2001), a existência de k-1 vetores

de cointegração garante que os vetores possam ser normalizados, de forma

que todas as localidades sejam pares cointegrados. Para determinar as

localidades que pertencem ao mesmo mercado, é necessário iniciar com o

conjunto máximo de localidades, k, e testar a existência de k-1 vetores de

cointegração.

3.2- Determinação do padrão de integração dos mercados

De acordo com Pereira (2005), o padrão de interdependência dos estados

brasileiros é revelado pela análise das estimativas e pelos testes de hipóteses

relacionados com parâmetros do vetor de correção de erros (VEC) já

representado na expressão (3).

A especificação do VEC apresentada na expressão (3) contém

informações sobre os ajustamentos de curto e de longo prazo para mudanças

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em Pt, obtidas por meio de estimativas de i e de , respectivamente

(GONZÁLEZ-RIVERA E HELFAND, 2001).

Assim, a matriz , definida como , contém informações sobre as

relações de longo prazo entre as séries. A matriz fornece informações sobre

a velocidade do ajustamento a dado desequilíbrio, sendo conhecida como

matriz de coeficientes de ajustamento, enquanto a matriz , chamada matriz de

cointegração, caracteriza as relações que devem ser asseguradas entre as

variáveis, quando no equilíbrio de longo prazo. Os elementos de podem ser

considerados como a importância relativa com que o nível de cada variável

cointegrada faz o sistema convergir, após um desequilíbrio, em direção ao

padrão de equilíbrio de longo prazo.

Segundo González-Rivera e Helfand (2001), a matriz contém as

informações necessárias para descobrir a estrutura espacial do mercado. A

estimação dos elementos da matriz e a análise da significância estatística

destes visam identificar diferentes padrões de comportamento dentro de um

VEC.

A magnitude dos elementos da matriz fornece informações sobre

velocidade de ajuste da respectiva variável a ele associada em direção ao

equilíbrio de longo prazo. Um pequeno valor de indica que, em face de uma

situação de desequilíbrio transitório, a respectiva variável-preço ajusta-se,

lentamente, para retornar ao padrão de equilíbrio de longo prazo, enquanto que

um coeficiente elevado, ao contrário, indica que este ajuste se produz

rapidamente. Caso se constate que todos os elementos da matriz são

estatisticamente significativos, tem-se um sistema em que cada localidade

reage a todo desequilíbrio de todas as outras localidades. Essa situação

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demonstra um padrão de comportamento em que há extrema interdependência

dos estados.

Como realizado no trabalho de Pereira (2005), outro padrão a ser testado

é a existência de um estado central exógeno i, que domina o comportamento

de longo prazo de todos os outros estados. De acordo com Gonzaléz-Rivera e

Helfand (2000), a região central exógena domina o comportamento de longo

prazo do sistema, ou seja, é o fator de integração comum do sistema que

geralmente se dá pela região com maior produção e consumo do produto do

mercado que está sendo analisado. Nesse caso, tem-se que, na equação do

VEC para a localidade i, todos os , seriam

estatisticamente nulos. Esse é um teste de exogeneidade fraca com as

seguintes hipóteses nula e alternativa, respectivamente:

:

As hipóteses são testadas por meio da estatística razão de

verossimilhança (LR), definida por:

[ ] (6)

em que refere-se ao logaritmo natural do valor da função de

verossimilhança irrestrita, e ao logaritmo natural da função de

verossimilhança, que obedece às restrições impostas pela hipótese nula.

Os valores da estatística LR são comparados com os valores críticos da

distribuição de qui-quadrado ( ) com m graus de liberdade, em que m se

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refere ao número de restrições impostas na hipótese nula.

Se o valor obtido para LR for superior ao valor , rejeita-se a hipótese

nula, considerando-se que a região i não domina o comportamento dos preços

nos outros estados. Já a aceitação da hipótese nula sugere a existência de

localidades exógenas que por si mesmas seriam o fator integrador do sistema.

3.3- Determinação do grau de integração dos mercados

Os modelos de auto-regressão vetorial (VAR) permitem calcular as

elasticidades de impulso como medida da resposta dinâmica das variáveis

envolvidas no modelo a um choque de um desvio-padrão nas demais. As

elasticidades de impulsos, calculadas a partir dos modelos VAR, têm sido

bastante utilizadas, com o objetivo de representar o grau de integração de

mercados. No entanto, essa utilização tem sido bastante criticada.

Como alternativa, a definição do grau de integração dos mercados pode

ser baseada na metodologia de modelos com threshold (TAR). Trabalhos

recentes sobre integração de mercados3 têm levado em consideração os

custos de transação utilizando modelos de cointegração com threshold, pois

estes modelos possuem a vantagem de que os thresholds estimados

representam os custos de transação entre as regiões e, portanto, são

consistentes com a expectativa de que quanto maior a distância entre os

mercados, maiores são os thresholds.

No contexto de mercados integrados, o modelo TAR descreve o

ajustamento de diferenciais de preço entre dois mercados no tempo. Sendo

3 Meyer (2004), Mattos (2008), Mattos et. al (2009), Alves e Lima (2010).

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que este processo de ajustamento pode sofrer mudança caso o diferencial de

preços esteja abaixo ou acima do threshold. Assim, os efeitos threshold em

séries não-estacionárias de preços pressupõem que exista uma relação não-

linear de equilíbrio de longo prazo entre os preços (AMARAL e ALVES, 2013).

Além de considerar o custo de transação na análise, nos modelos TAR

pode-se também analisar a velocidade de ajustamento aos desvios das

condições de equilíbrio analisando o cálculo da meia-vida (MATTOS, 2008). Os

ajustamentos mais rápidos são esperados para o modelo TAR, pois este

diferencia choques que estão acima e abaixo de certo limite (threshold). Dessa

forma, quando o diferencial de preços (ou o desvio da relação de equilíbrio)

supera os custos de transação, há oportunidade de ganhos no mercado

através da arbitragem espacial. No entanto, quando os choques são inferiores

ao threshold, não há oportunidades lucrativas de arbitragem e assim, o

ajustamento de preços deve ser mais lento, ou pode não ocorrer.

Conforme Enders (2004), uma especificação geral do modelo TAR pode

ser descrita como na equação (7), onde os regimes são separados por um

processo Seja o comportamento da sequência , pelo modelo TAR com

dois regimes:

{

} (7)

Em que: θ é o parâmetro que representa o threshold e descreve regimes

alternativos; os coeficientes “a” representam o grau de persistência auto-

regressivo para cada regime; e são os termos de erro; é a variável

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de threshold; e d é o parâmetro de defasagem (delay parameter) no

ajustamento de .

Se o threshold é conhecido, a estimação do modelo TAR dada por (7) é

relativamente simples, através do método dos Mínimos Quadrados Ordinários

(MQO). No entanto, frequentemente o valor do threshold não é conhecido,

como é o caso desta pesquisa. De acordo com Enders (2004), se o threshold

(θ) é significativo, este deve estar entre os valores mínimos e máximos das

séries de preço.

Conforme a teoria sobre integração de mercado, a distância entre os

mercados é um fator importante a ser considerado, pois, segundo González-

Rivera e Helfand (2001), os determinantes da integração dos mercados

incluem: distância entre as regiões, infra-estrutura, produção e custos de

transação. Além disso, os custos de transação tendem a aumentar com a

distância entre as regiões e o tempo requerido para transferir bens e

informações.

3.4- Dados e suas fontes

Para medir a integração do mercado brasileiro de Etanol são utilizadas as

séries de preços mensais ao consumidor final e de distribuição, entre 2001 e

2013, disponibilizadas pelo site da ANP – Agência Nacional de Petróleo, Gás e

Biocombustíveis, praticados por postos revendedores de combustíveis

automotivos localizados em todos os estados do Brasil.

Além disso, para representar os elementos que caracterizam os elos do

mercado são utilizados os dados da distância entre essas regiões, os dados de

produção de etanol de cada estado e do comércio de etanol definido pelo

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diferencial entre a produção e o consumo deste produto em relação à produção

nacional, disponibilizados pelo site da UNICA – União da Indústria de Cana-de-

Açúcar.

4- Resultados4

4.1 - Extensão do mercado

Considerando os estados brasileiros como os potenciais mercados de

etanol existentes no país, são estimados os indicadores explicitados na seção

3.1 (IAS e comércio) a fim de se identificar a extensão do mercado brasileiro de

etanol. Ou seja, identificar quais estados importam ou exportam o produto

(comercializam etanol) e, consequentemente, fazem parte do mesmo mercado

no período analisado. As Tabelas 1 e 2 trazem os resultados destes índices

para os anos de 2010 a 2013.

4 Todas as análises econométricas foram realizadas utilizando o software Eviews 7.

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Tabela 1. Índice de autossuficiência para os estados brasileiros (2010-2013)

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da ÚNICA, 2014.

Lembrando que valores de IAS acima de um ou índices de comércio

maiores que zero indicam estados que produzem mais do que consomem, a

análise começa com o IAS.

Pode-se perceber (Tabela 1) que os maiores produtores de etanol são

também os estados que exportam o combustível. Dentre eles estão os estados

de São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e

Alagoas, com exceção do Paraná que se mostra como exportador do produto

somente em 2011. É de se destacar também a situação do estado do

Estado 2010 2011 2012 2013

Acre - 0,03 0,10 0,11

Alagoas 4,66 5,74 5,99 4,22

Amapá - - - -

Amazonas 0,03 0,04 0,04 0,02

Bahia 0,15 0,20 0,21 0,22

Ceará 0,03 0,01 0,03 0,01

Espírito Santo 1,00 0,83 1,06 0,72

Goiás 1,98 2,89 2,74 2,60

Maranhão 0,79 0,99 1,02 0,75

Mato Grosso 1,62 1,89 1,72 1,56

Mato Grosso do Sul 4,58 7,83 7,43 6,65

Minas Gerais 1,31 1,66 1,47 1,11

Pará 0,18 0,11 0,18 0,12

Paraíba 2,02 1,67 2,20 1,53

Paraná 1,05 1,17 1,02 0,80

Pernambuco 0,76 0,86 0,85 0,58

Piauí 0,40 0,34 0,35 0,24

Rio de Janeiro 0,10 0,06 0,08 0,03

Rio Grande do Norte 0,70 0,49 0,67 0,38

Rio Grande do Sul 0,00 0,01 0,01 0,00

Rondônia 0,08 0,11 0,13 0,08

Roraima - - - -

Santa Catarina - - - -

São Paulo 1,47 1,76 1,47 1,42

Sergipe 0,76 1,07 1,49 1,04

Tocantins 0,02 0,17 1,27 1,45

Anos

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Tocantins, que inicialmente possui um IAS bem baixo, se mostrando

importador, e a partir do ano de 2012 passa a ser um exportador de etanol, ou

seja, apresenta inversão de comércio. A Paraíba também é um estado que

exporta este combustível, pois apesar de não estar entre os grandes

produtores, possui um mercado consumidor pequeno.

Os estados que apresentam em algum momento o índice próximo a um,

demonstrando alguma autossuficiência durante o período, são os estados que

geralmente apresentam uma inversão de comércio, ou seja, exportadores que

se tornaram importadores e vice-versa. Estes estados são: Espírito Santo, o

qual aparece como autossuficiente em 2010 e 2012 e como importador em

2011 e 2013; Maranhão, que inicialmente é um estado importador de etanol, se

mantém autossuficiente em 2011 e 2012, voltando a ser importador em 2013;

Paraná, que se mostra autossuficiente em 2010 e 2012, exportador em 2011 e

importador em 2013; e, finalmente, Sergipe, que inicialmente importa etanol,

atinge a autossuficiência em 2011 e 2013 e em 2012 se torna exportador do

biocombustível.

As demais regiões, correspondentes à maior parte dos estados

brasileiros, são importadoras de etanol, incluindo estados que se encontram

entre os maiores mercados consumidores deste combustível, como Rio de

Janeiro, Rio Grande do Sul e Bahia. Portanto, a maior parte dos estados

depende da compra do produto de outras regiões do país.

Analisando os resultados dos índices de comércio (Tabela 2), nota-se que

os estados que possuem necessidade de importação de etanol, ou seja, que

possuem valores de índice de comércio negativos e, portanto, não possuem

produção suficiente para atender ao consumo da população interna, são a

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maioria, confirmando o resultado do índice anteriormente calculado.

Tabela 2. Comércio interestadual de etanol nos estados brasileiros (2010-2013)

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da ÚNICA, 2014.

É importante notar que em geral os índices de autossuficiência e de

comércio trazem as mesmas informações. Se o IAS for maior que um, o índice

de comércio será maior que zero, e ambos indicadores estarão mostrando que

o estado é exportador. Se o IAS for menor que um, mas maior que zero, o

índice de comércio será negativo; mais uma vez, ambos indicadores estarão

mostrando a mesma coisa, que o estado é importador líquido. A diferença entre

eles vai aparecer se o IAS for igual à zero; isto pode representar um estado

Estado 2010 2011 2012 2013

Acre 0,00 0,00 0,00 0,00

Alagoas 0,02 0,03 0,02 0,02

Amapá 0,00 0,00 0,00 0,00

Amazonas -0,01 -0,01 -0,01 -0,01

Bahia -0,02 -0,02 -0,02 -0,02

Ceará -0,01 -0,01 -0,01 -0,01

Espírito Santo 0,00 0,00 0,00 0,00

Goiás 0,04 0,08 0,07 0,07

Maranhão 0,00 0,00 0,00 0,00

Mato Grosso 0,01 0,02 0,02 0,01

Mato Grosso do Sul 0,04 0,07 0,06 0,06

Minas Gerais 0,02 0,04 0,03 0,01

Pará -0,01 -0,01 -0,01 -0,01

Paraíba 0,01 0,01 0,01 0,00

Paraná 0,00 0,01 0,00 -0,01

Pernambuco 0,00 0,00 0,00 -0,01

Piauí 0,00 0,00 0,00 0,00

Rio de Janeiro -0,04 -0,04 -0,04 -0,04

Rio Grande do Norte 0,00 0,00 0,00 0,00

Rio Grande do Sul -0,03 -0,04 -0,03 -0,03

Rondônia 0,00 0,00 0,00 0,00

Roraima 0,00 0,00 0,00 0,00

Santa Catarina -0,03 -0,03 -0,02 -0,02

São Paulo 0,17 0,29 0,16 0,13

Sergipe 0,00 0,00 0,00 0,00

Tocantins 0,00 0,00 0,00 0,00

Anos

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que não produz e não consome, com índice de comércio também igual a zero,

ou um estado que não produz, mas é consumidor, o que daria um índice de

comércio negativo.

Vale ressaltar que, no entanto, o mais importante a respeito do índice de

comércio é que tanto valores negativos quanto valores positivos indicam que o

estado possui potencial para a realização de comércio, e quanto maiores são

os valores absolutos desse índice, maior é a propensão à realização de

comércio por parte dessas regiões.

As estimativas do fluxo de comércio possibilitam a exclusão das

localidades que apresentam inversões ou descontinuidades comerciais. Essas

exclusões são justificadas pelo fato de essas situações requererem que as

análises sejam realizadas com base nos modelos do tipo switching regime

(modelos de mudança de regime). Esses modelos estimam de maneira fácil e

inteligente a variância condicional não observada em função da variância

anterior e do regime, levando em conta que uma série econômica possa ter

alguma variação na sua estrutura (Durán, 2014).

Desta forma, tem-se que a extensão do mercado de etanol não se dá por

todo território nacional, não havendo, portanto, participação de todos os

estados brasileiros no comércio deste combustível, pois há estados que

tiveram inversões de comércio. Dentre eles estão os estados do Espírito Santo,

Paraná, Maranhão, Sergipe e Tocantins.

Sendo assim, os Estados participantes do comércio brasileiro de etanol

são: Acre, Alagoas, Amapá, Amazonas, Bahia, Ceará, DF, Goiás, Mato Grosso,

Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio de

Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia, Roraima, Santa

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Catarina e São Paulo.

Vale destacar que, como esperado, o estado de São Paulo é o estado

que possui maior propensão para a realização de comércio, seguido pelo

estado de Minas Gerais. Logo, a região Sudeste possui o maior mercado deste

produto no Brasil. Além disso, os estados que mais comercializam são os

maiores produtores já que precisam exportar para a maioria dos estados do

país, os quais são dependentes de importação de etanol.

Após a identificação de quais localidades estão ligadas pelo comércio de

etanol, para dar continuidade à determinação da extensão do mercado, inicia-

se a busca dos estados que possuem um fator integrador comum, isto é, que

possuem a mesma tendência de preços no longo prazo.

O primeiro procedimento a ser adotado na busca do grupo de estados

que apresentam a mesma tendência de comportamento dos preços consiste na

análise da ordem de integração das séries, uma vez que a metodologia

adotada requer que as séries sejam integradas de ordem um, I(1).

Para a análise ser realizada é necessária a verificação da

estacionariedade da série, já que o trabalho empírico baseado em séries

temporais pressupõe que estas sejam estacionárias (GUJARATI, 2005), ou

seja, que possuam médias e variâncias constantes ao longo do tempo

(BUENO, 2011).

Sendo assim, deve-se realizar os testes para determinação da ordem de

integração das séries de preços de etanol para os estados participantes do

comércio deste combustível. Seis testes são utilizados neste trabalho para

verificar a ordem de integração de uma série temporal: Dickey-Fuller (DF),

Dickey-Fuller Aumentado (ADF), Phillips-Perron (PP), KPSS, ERS e NG

Page 41: Análise da integração do mercado brasileiro de Etanol...a integração do mercado brasileiro de etanol nos diferentes estados brasileiros a fim de se fazer inferências sobre seu

33

Perron. Todos esses testes são realizados em conjunto por sua conhecida

baixa potência individual. Além dos testes anteriores, analisam-se os

correlogramas para os dados do preço de cada estado. Com os testes, conclui-

se que todas as séries são estacionárias em primeira diferença5, ou seja, são

integradas de ordem um [I(1)].

Após a verificação de que as sérias são integradas de primeira ordem

[I(1)], adota-se o procedimento de Johansen, partindo-se do modelo VEC

reparametrizado, com o objetivo de identificar os estados que apresentam a

mesma tendência de comportamento dos preços. Para isso, inicia-se pela

determinação do número de defasagens e pela inclusão de termos

deterministas na análise.

Para a análise do número de defasagens optou-se pela utilização dos

critérios de informação de Akaike (AIC) e Schwartz (SC). A Tabela 3 mostra os

resultados apontados pelos critérios de seleção, além de mostrar o

ajustamento do modelo para cada defasagem. De acordo com os resultados

obtidos no teste, decidiu-se pela utilização de quatro defasagens, já que com

quatro defasagens o modelo se mostra melhor ajustado, ou seja, o resultado do

teste explica 75% do modelo em questão, o maior ajustamento (R2)

encontrado.

5 Os resultados dos testes e os correlogramas estão apresentados no Anexo I.

Page 42: Análise da integração do mercado brasileiro de Etanol...a integração do mercado brasileiro de etanol nos diferentes estados brasileiros a fim de se fazer inferências sobre seu

34

Tabela 3. Resultado dos testes de seleção do número de defasagens a serem

incluídas nos modelos VEC, para as séries de preços do etanol durante o

período de 2001 a 2013

Fonte: Elaboração própria, através do Eviews, com base nos dados da UNICA.

Além disso, realiza-se a inspeção visual dos resíduos (Figura 5), os quais

não indicam presença de tendência determinista no nível da série, o que levou

à opção de inclusão de apenas uma constante no vetor de cointegração

(intercept (no trend) in CE and VAR).

Defasagem Critério AIC Critério SC R²

0 -89,80957 -88,47896 0,275807

1 -89,98624 -78,84795 0,491975

2 -90,21241 -69,17767 0,609144

3 -91,17243 -60,15109 0,679261

4 -95,58745 -54,48799 0,759309

Page 43: Análise da integração do mercado brasileiro de Etanol...a integração do mercado brasileiro de etanol nos diferentes estados brasileiros a fim de se fazer inferências sobre seu

35

Figura 5. Resíduos dos preços estaduais no período de 2001 a 2013

Fonte: Elaboração própria, através do Eviews, com base nos dados da UNICA.

A determinação dos estados pertencentes ao mercado brasileiro de etanol

inicia-se com a análise de cointegração, a partir do procedimento de Johansen,

dos principais estados produtores e consumidores do combustível no país, os

quais foram determinados pelo fato de que neles concentram-se o maior

potencial de comercialização de etanol, conforme revelado nas figuras 2 e 3 e

-.2

-.1

.0

.1

.2

2002 2004 2006 2008 2010 2012

ACRE Residuals

-.2

-.1

.0

.1

.2

.3

2002 2004 2006 2008 2010 2012

ALAGOAS Residuals

-.2

-.1

.0

.1

.2

2002 2004 2006 2008 2010 2012

AMAPA Residuals

-.10

-.05

.00

.05

.10

.15

.20

2002 2004 2006 2008 2010 2012

AMAZONAS Residuals

-.2

-.1

.0

.1

.2

.3

2002 2004 2006 2008 2010 2012

BAHIA Residuals

-.1

.0

.1

.2

.3

2002 2004 2006 2008 2010 2012

CEARA Residuals

-.2

-.1

.0

.1

.2

.3

.4

2002 2004 2006 2008 2010 2012

DISTRITO_FEDERAL Residuals

-.2

-.1

.0

.1

.2

.3

2002 2004 2006 2008 2010 2012

GOIAS Residuals

-.3

-.2

-.1

.0

.1

.2

.3

2002 2004 2006 2008 2010 2012

MATO_GROSSO Residuals

-.2

-.1

.0

.1

.2

2002 2004 2006 2008 2010 2012

MATO_GROSSO_DO_SUL Residuals

-.2

-.1

.0

.1

.2

.3

2002 2004 2006 2008 2010 2012

MINAS_GERAIS Residuals

-.2

-.1

.0

.1

.2

2002 2004 2006 2008 2010 2012

PARA Residuals

-.2

-.1

.0

.1

.2

2002 2004 2006 2008 2010 2012

PERNAMBUCO Residuals

-.08

-.04

.00

.04

.08

.12

.16

.20

2002 2004 2006 2008 2010 2012

PARAIBA Residuals

-.2

-.1

.0

.1

.2

.3

2002 2004 2006 2008 2010 2012

PIAUI Residuals

-.2

-.1

.0

.1

.2

.3

2002 2004 2006 2008 2010 2012

RIO_DE_JANEIRO Residuals

-.2

-.1

.0

.1

.2

.3

.4

2002 2004 2006 2008 2010 2012

RIO_GRANDE_DO_NORTE Residuals

-.2

-.1

.0

.1

.2

.3

2002 2004 2006 2008 2010 2012

RIO_GRANDE_DO_SUL Residuals

-.2

-.1

.0

.1

.2

.3

2002 2004 2006 2008 2010 2012

RONDONIA Residuals

-.2

-.1

.0

.1

.2

2002 2004 2006 2008 2010 2012

RORAIMA Residuals

-.2

-.1

.0

.1

.2

2002 2004 2006 2008 2010 2012

SANTA_CATARINA Residuals

-.2

-.1

.0

.1

.2

.3

2002 2004 2006 2008 2010 2012

SAO_PAULO Residuals

Page 44: Análise da integração do mercado brasileiro de Etanol...a integração do mercado brasileiro de etanol nos diferentes estados brasileiros a fim de se fazer inferências sobre seu

36

no resultados dos índices IAS e de comércio (excluindo-se os estados que

tiveram inversão de comércio, quer dizer, mudança de regime).

A Tabela 4 mostra os resultados dos testes do traço e do máximo

autovalor, os quais indicaram a existência de três e dois vetores de

cointegração entre os doze estados analisados (principais produtores: São

Paulo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Alagoas, Rio

de Janeiro, Bahia, Pernambuco, Ceará, Santa Catarina e Rio Grande do Sul),

ou seja, existem no máximo três raízes características diferentes de zero, o que

garante que os vetores possam ser normalizados, de forma que todas as

localidades sejam pares cointegrados.

Tabela 4. Teste de Johansen para identificação do número de relações de

cointegração entre os estados

Fonte: Elaboração própria, através do Eviews, com base nos dados da ÚNICA, 2014.

As inclusões dos estados foram testadas uma a uma a partir do principal

estado produtor até o menos importante, e chegou-se à conclusão de que

Hipótese Nula τ traceValores

críticos 5%

Valores

críticos 1%τ max

Valores

críticos 5%

Valores

críticos 1%

r = 0 477,8823 334,9837 351,2421 102,6974 76,5784 83,7066

r ≤ 1 375,1849 285,1425 300,2879 88,2778 70,5351 77,4953

r ≤ 2 286,9071 239,2354 253,2348 79,9556 64,5047 71,2606

r ≤ 3 206,9515 197,3709 210,0548 53,8548 58,4335 64,996

r ≤ 4 153,0967 159,5297 171,0905 42,8224 52,3626 58,669

r ≤ 5 110,2742 125,6154 135,9732 34,4068 46,2314 52,3082

r ≤ 6 75,8674 95,7537 104,9615 25,854 40,0776 45,869

r ≤ 7 50,0134 69,8189 77,8188 17,4092 33,8769 39,3701

r ≤ 8 32,6042 47,8561 54,6815 15,4575 27,5843 32,7153

r ≤ 9 17,1467 29,7971 35,4582 10,7605 21,1316 25,8612

r ≤ 10 6,3862 15,4947 19,9371 6,3107 14,2646 18,52

r ≤ 11 0,0755 3,8415 6,6349 0,0755 3,8415 6,6349

Page 45: Análise da integração do mercado brasileiro de Etanol...a integração do mercado brasileiro de etanol nos diferentes estados brasileiros a fim de se fazer inferências sobre seu

37

adicionando-se os preços praticados pelos demais estados, além dos doze

principais produtores (excluindo-se os que tiveram inversão de comércio),

haveria o acréscimo de outras tendências de comportamento, de forma que

esses estados não devem ser incluídos.

Pode-se também identificar a tendência de comportamento similar entre

os estados que fazem parte do mercado brasileiro de etanol através dos

gráficos apresentados na Figura 6.

Figura 6. Tendência do comportamento dos preços estaduais de 2001 a 2013

Fonte: Elaboração própria, através do Eviews, com base nos dados da ÚNICA, 2014.

Portanto, verifica-se que os preços do etanol nesses doze estados

moveram-se de forma sincronizada ao longo do tempo, mantendo um

comportamento similar. Pode-se, desta forma, concluir que nesses estados o

etanol mostra-se substituto entre si e a arbitragem realizada por meio do

comércio contribuiu para integrar os preços nessas diferentes localidades.

0.4

0.8

1.2

1.6

2.0

2.4

2.8

3.2

01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13

SAO PAULO SANTA CATARINA

RIO GRANDE DO SUL RIO DE JANEIRO

PERNAMBUCO MINAS GERAIS

MATO GROSSO DO SUL MATO GROSSO

GOIAS CEARA

BAHIA ALAGOAS

Page 46: Análise da integração do mercado brasileiro de Etanol...a integração do mercado brasileiro de etanol nos diferentes estados brasileiros a fim de se fazer inferências sobre seu

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Dentre os vinte e dois estados que haviam sobrado após a análise de

inversões de comércio, apenas doze deles se mostraram realmente

participantes do mercado principal de etanol brasileiro, são eles: São Paulo,

Rio Grande do Sul, Pernambuco, Mato Grosso do Sul, Goiás, Bahia, Santa

Catarina, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso, Ceará e Alagoas.

4.2 - Identificação do padrão de relacionamento entre os mercados

A análise do padrão de interdependência entre as localidades que

compõem o mercado brasileiro de etanol é feita a partir das análises das

estimativas dos parâmetros do modelo Vetor de Correção de Erros (VEC),

especificado na equação (3).

Escolheu-se o estado de São Paulo como ponto de partida para

normalizar as estimações das relações de cointegração de longo prazo, pois é

o estado com maior produção e consumo do país (maior propensão à

realização de comércio), o que o credencia a ser o mais importante formador

de preços do país. Esta escolha se baseia no argumento apresentado por

González-Rivera e Helfand (2000) de que normalmente a região central

exógena é a com maior propensão à realização de comércio.

A Tabela 5 mostra as 11 relações de equilíbrio, ao longo do tempo, entre

os pares de mercado (São Paulo e Rio Grande do Sul, São Paulo e

Pernambuco, São Paulo e Mato Grosso do Sul, etc.) no período analisado.

Page 47: Análise da integração do mercado brasileiro de Etanol...a integração do mercado brasileiro de etanol nos diferentes estados brasileiros a fim de se fazer inferências sobre seu

39

Tabela 5. Relações de equilíbrio entre os pares de mercado de 2001 a 2013

Nota: os valores entre parênteses referem-se aos desvios padrões dos respectivos parâmetros

e os valores entre colchetes se referem às estatísticas do teste t de Student.

Fonte: Estimações da autora.

Além disso, como mencionado anteriormente, o padrão de

interdependência pode ser revelado também pelos parâmetros do VEC através

da matriz α, que contem as informações necessárias para encontrar a estrutura

espacial do mercado (GONZÁLES-RIVERA e HELFAND, 2001), a qual fornece

informações sobre a velocidade de ajustamento da variável em direção ao

equilíbrio de longo prazo (Tabela 6).

Tabela 6. Coeficientes de ajustamento do modelo VEC

Fonte: Estimações da autora.

Através da análise das duas tabelas pode-se verificar que os estados que

menos são influenciados pelo estado de São Paulo são Goiás, Mato Grosso,

Mato Grosso do Sul e Minas Gerais, pois estes demoram mais para

Estadoi RS PE MS GO BA SC RJ MG MT CE AL

São Paulo -0,814193 -0,908282 -0,997537 -1,258412 -1,090617 -0,795129 -0,819946 -0,962399 -1,846229 -0,960497 -0,790348

(0,0782) (0,05413) (0,12455) (0,08668) (0,08126) (0,02424) (0,03816) (0,07968) (0,41452) (0,07570) (0,05049)

[-10.4111] [-16.7786] [-8,00908] [-14,5178] [-13,4217] [-32,7999] [-21,4873] [-12,0780] [-4,69722] [-12,6875] [-15,6529]

Correção de erros α Adj. R²

RS,SP 0,000766 0,302771

PE,SP 0,011416 0,256513

MS,SP -0,000694 0,262239

GO,SP -0,017201 0,194664

BA,SP 0,00709 0,218435

SC,SP 0,010181 0,329107

RJ,SP 0,004883 0,332804

MG,SP -0,002834 0,383091

MT,SP -0,011278 0,160943

CE,SP 0,011978 0,237856

AL,SP 0,016008 0,285995

Page 48: Análise da integração do mercado brasileiro de Etanol...a integração do mercado brasileiro de etanol nos diferentes estados brasileiros a fim de se fazer inferências sobre seu

40

acompanhar as mudanças nos preços do etanol do estado de São Paulo. Na

tabela 5, podemos visualizar que as menores relações de equilíbrio com São

Paulo se dão pelos estados de Mato Grosso e Goiás, o que é reafirmado pelos

valores da velocidade de ajustamento encontrados na tabela 6, onde os

estados que demoram mais tempo para ter seus preços ajustados em relação

ao preço do estado de São Paulo são Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e

Mato Grosso do Sul, ou seja, são os estados que possuem menos valores para

o . Sendo assim, esses estados são menos integrados ao mercado principal,

apesar de haver integração. Uma possível explicação para tal fato seria a

existência, dentro do mercado principal já definido, de um mercado secundário

que abrangeria a região central do país.

No entanto, ainda assim pode-se definir São Paulo como o estado central

exógeno i, que determina o comportamento de longo prazo de todos os outros

estados, já que os testes de coeficientes de ajustamento do modelo VEC

(Tabela 6) permitem afirmar que o estado de São Paulo influencia os preços de

todos os demais estados, pois os valores dos coeficientes, apesar de serem

baixos, são positivos. Este resultado difere do encontrado na maioria dos

trabalhos de integração que utilizam o mesmo método6, em que não há um

padrão de integração, e nos quais, os valores dos alfas geralmente são

negativos. Sendo assim, mesmo que de maneira um pouco lenta, os preços

dos outros estados ajustam-se às mudanças ocorridas no preço do estado de

São Paulo.

6 Nogueira (2005); Pereira (2005); etc.

Page 49: Análise da integração do mercado brasileiro de Etanol...a integração do mercado brasileiro de etanol nos diferentes estados brasileiros a fim de se fazer inferências sobre seu

41

4.3 - Determinação do grau de integração dos mercados

Para lidar com os custos de transações, a Tabela 7 mostra a distância

(em Km) do mercado central (São Paulo) aos demais mercados analisados, de

modo que se espera que haja maiores custos de transação entre as regiões

com maior distância até São Paulo. Espera-se que o estado do Ceará possua

os maiores custos de transação e o estado de Minas Gerais os menores custos

de transação, pois estes representam a maior e a menor distância até o estado

de São Paulo.

Tabela 7. Distância entre mercados (1) (Mercado Central: São Paulo)

(1) As distâncias se referem à capital de cada estado em relação à capital de São Paulo.

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do Google Maps, 2014.

Os resultados das estimações dos modelos (Tabela 8) mostram que o

threshold (θ) é significativo, pois está entre os valores mínimos e máximos das

séries de preço. Além disso, todos os coeficientes estimados são significativos

(a 1%, 5% e 10%), implicando que, de acordo com Alves e Lima (2010), para

todos os pares de mercado, os choques nas relações de equilíbrio que são

maiores que o threshold sejam eliminados ao longo do tempo.

Mercados Distância

Rio Grande do Sul 1130 km

Santa Catarina 700 km

Pernambuco 2375 km

Minas Gerais 600 km

Mato Grosso do Sul 990 km

Mato Grosso 1530 km

Goiás 920 km

Ceará 2700 km

Bahia 1950 km

Rio de Janeiro 432 km

Alagoas 2400 km

Page 50: Análise da integração do mercado brasileiro de Etanol...a integração do mercado brasileiro de etanol nos diferentes estados brasileiros a fim de se fazer inferências sobre seu

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Tabela 8. Modelo Auto-Regressivo Threshold (TAR), considerando São Paulo

como o mercado central

Fonte: Estimações da autora.

Desta maneira, os mercados com maior grau de integração ao estado de

São Paulo são Pernambuco, Minas Gerais, Goiás e Alagoas, já que possuem

os menores custos de transação, os quais são representados pelos valores do

threshold, pois quanto menor o custo de transação (quanto menor o threshold),

maior é o grau de integração.

Pode-se constatar também que todos os mercados selecionados

possuem algum grau de integração ao mercado central do estado de São

Paulo já que todos os resultados são baixos. O maior threshold estimado foi

referente ao par Bahia – São Paulo (0,171775), significando que apenas os

choques superiores a 17,18% do preço médio do etanol na Bahia serão

transmitidos de São Paulo para a Bahia.

Sendo assim, os mercados com maiores distâncias não são

obrigatoriamente os que possuem maiores thresholds, mostrando que pode

haver outros fatores, além da distância entre os mercados, que influenciam o

Pares de Mercados Modelo AR Modelo TAR Prob

Threshold (θ) 0,050000 -

Ceará - São Paulo 0,285670 0,133073 0,000248

Alagoas - São Paulo 0,052536 0,033431 0,002771

Pernambuco - São Paulo 0,015631 0,006261 0,001922

Bahia - São Paulo 0,272572 0,171775 0,000873

Mato Grosso - São Paulo 0,181291 0,046287 0,001255

Rio Grande do Sul - São Paulo 0,314884 0,077929 0,001570

Mato Grosso do Sul - São Paulo 0,171371 0,103425 0,000935

Goiás - São Paulo 0,053927 0,012847 0,000108

Santa Catarina - São Paulo 0,414020 0,154451 0,001896

Minas Gerais - São Paulo 0,100245 0,008812 0,005371

Rio de Janeiro - São Paulo 0,239481 0,130020 0,004387

Page 51: Análise da integração do mercado brasileiro de Etanol...a integração do mercado brasileiro de etanol nos diferentes estados brasileiros a fim de se fazer inferências sobre seu

43

alto custo de transação, como infra-estratura ou produção. Além disso, deve-se

levar em consideração que foi identificado um mercado secundário dentro do

mercado principal de etanol do Brasil, o que faz com que algumas regiões mais

próximas possuam um grau de integração menor com o mercado central.

Apesar de existirem outros fatores que influenciam o alto custo de

transação, foram detectados significativos efeitos thresholds para todos os

pares de mercados de etanol, indicando que há relevantes custos de transação

influenciando a transmissão de preços entre os mercados espacialmente

separados destes produtos. Assim, no modelo em que se considera a presença

de custos de transação (Modelo TAR), a velocidade é maior para ocorrerem os

ajustamentos aos desvios do equilíbrio de longo prazo, em comparação ao

modelo que não levam em conta tais custos (Modelo AR).

Page 52: Análise da integração do mercado brasileiro de Etanol...a integração do mercado brasileiro de etanol nos diferentes estados brasileiros a fim de se fazer inferências sobre seu

44

5- Resumo e Conclusões

A forma de relacionamento entre os diversos mercados produtores e

consumidores de etanol existentes no país constitui fator fundamental para a

eficiência e a competitividade nos mercados locais.

Tendo como objetivo analisar a integração do mercado brasileiro de

etanol, considerando-se a extensão, o padrão e o grau de integração, foram

realizados alguns testes que permitiram se chegar às conclusões a seguir.

Primeiramente, determinou-se a extensão do mercado através do índice

de autossuficiência e do índice de comércio interestadual, complementando-se

a análise por meio da busca de um fator integrador comum. Chegou-se ao

resultado de que apenas doze estados possuem seus preços movendo-se de

forma sincronizada ao longo do tempo, os quais participam do mercado central

deste combustível. São eles: São Paulo, Rio Grande do Sul, Pernambuco,

Mato Grosso do Sul, Goiás, Bahia, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Minas

Gerais, Mato Grosso, Ceará e Alagoas.

Definida a extensão do mercado de etanol brasileiro, partiu-se para a

determinação do padrão de integração do mesmo. Por meio do cálculo do

índice de autossuficiência e de comércio, foi possível escolher o mercado de

São Paulo como sendo o ponto central para as estimações da relação de

cointegração de longo prazo, pois se constatou que este é o estado com maior

propensão à realização de comércio do etanol, pois é o maior produtor,

exportador e consumidor deste combustível, e desta forma, pode ser

considerado um importante formador de preços do combustível no país.

A partir dos testes realizados constatou-se que alguns estados possuem

seus preços menos integrados ao estado de São Paulo, por haver um mercado

Page 53: Análise da integração do mercado brasileiro de Etanol...a integração do mercado brasileiro de etanol nos diferentes estados brasileiros a fim de se fazer inferências sobre seu

45

secundário na região central do país, dentro do mercado principal definido na

presente pesquisa. No entanto, concluiu-se que o estado de São Paulo é o

mercado central exógeno que determina o comportamento de longo prazo dos

preços de todos os demais estados, pois mesmo que de maneira um pouco

lenta, os valores de são todos positivos, mostrando que há um padrão de

integração do mercado brasileiro de etanol, diferente dos resultados da maioria

dos trabalhos analisados, os quais possuem valores negativos e, portanto, não

é possível a existência de um padrão de integração nestes.

Quanto ao grau de integração dos preços, diferente do esperado, não são

os estados mais próximos a São Paulo que possuem maior grau de integração,

já que de acordo com os resultados dos testes realizados, os estados mais

integrados ao mercado central são: Pernambuco, Minas Gerais, Goiás e

Alagoas, pois possuem os menores custos de transação, os quais foram

representados pelos thresholds, através da aplicação do modelo TAR.

Com a aplicação deste modelo, chegou-se à conclusão de que o

threshold e todos os coeficientes eram significativos, além de os valores

mostrarem que o modelo que considera os custos de transação possui

velocidade de ajustamento maior do que o que não considera e, portanto, como

era esperado, os ajustamentos são mais rápidos para o modelo TAR,

mostrando que há oportunidades de ganhos no mercado através da arbitragem

espacial.

O fato de não serem os estados mais próximos ao estado central os com

maior grau de integração com o mesmo, nos garante que podem haver outros

fatores, além da distância, que influenciam os custos de transação, pois apesar

de levar em consideração o efeito de tais custos e a distância entre os

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46

mercados deste combustível, o modelo analisado não leva em conta outros

fatores que influenciam de maneira direta a integração de preços, tais como

políticas públicas e infraestrutura.

Dessa forma, a adoção de medidas que vise à melhoria da infraestrutura

de transporte e comunicação, bem como à expansão da qualificação da mão-

de-obra, e outros fatores que possam contribuir para o aumento do grau de

relacionamento entre as localidades do mercado e, dessa forma, aumentar a

eficiência e competitividade destas, seria recomendado. Além disso, também

seria recomendada a mudança de decisões políticas, que como comprovadas,

afetam de maneira direta a demanda por etanol, como uma política tributária

mais uniforme.

Essas conclusões vêm do fato de que a dimensão do país gera

dificuldades, pois apesar de a produção ser espalhada nos diversos estados há

uma concentração em algumas regiões que exportam para a maioria dos

estados do Brasil. Em um país com grande extensão territorial e baixa

qualidade da infraestrutura logística e de distribuição, além da alta e desigual

tributação do ICMS, a eficiência da distribuição do produto se torna

extremamente relevante, já que devido às circunstâncias analisadas, há

aumento nos custos do produto e dificuldades para arbitragem, provocando um

menor grau de integração do mercado.

Vale ressaltar que alguns outros fatores influenciam o mercado de etanol.

Apesar do advento do flexfuel e outros eventos que favorecem o setor

sucroalcooleiro, o resultado do setor é de crescimento desordenado, sem

política de estoques reguladores, implicando em elevação dos preços na

entressafra, o que influencia o comportamento dos preços e,

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47

consequentemente, a integração dos mercados.

Ademais, considerando que o presente trabalho utiliza preços mensais ao

consumidor final e de distribuição, ou seja, preços praticados por postos

revendedores de combustíveis automotivos localizados em todos os estados do

Brasil, outro fator que pode explicar a menor integração por parte de alguns

mercados é o poder de mercado dos postos de combustíveis, o que tende a ser

ainda maior em municípios de menor porte (Santos, 2012).

As constantes alterações e a crise que o setor vem passando fazem com

que haja a necessidade de rever os aspectos que influenciam a integração do

mercado de etanol. Sendo assim, espera-se que este trabalho auxilie os

formuladores de políticas e as instituições ligadas ao setor a conhecerem

melhor os principais aspectos relativos aos mercados integrados, bem como

identificar os investimentos necessários para ampliar a interação entre os

diferentes estados da federação e dessa forma, favorecendo o

desenvolvimento de uma produção sucroenergética mais coesa e reduzindo as

disparidades existentes entre as diversas localidades.

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6 - Referências Bibliográficas

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51

ANEXOS

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ANEXO I

1 – Testes para verificar a ordem de integração de uma série temporal

1.1 - Teste Dickey-Fuller e Dickey-Fuller Aumentado

No teste Dickey-Fuller considera-se, inicialmente, o seguinte processo

AR(1):

(1)

em que xt são regressores exógenos opcionais (constante ou constante e

tendência); ρ e λ, parâmetros a serem estimados; e et, um ruído branco (é o

termo de erro que obedece às pressuposições clássicas de média zero,

variância constante e não-autocorrelacionado). A partir daí, testa-se a seguinte

hipótese:

Se ρ for igual a um (ρ = 1), haverá um problema de raiz unitária, ou seja,

uma situação de não-estacionariedade.

Para testar a hipótese nula de que ρ = 1, a estatística t calculada é

conhecida como estatística τ (tau), utilizada nos testes de Dickey-Fuller (DF). O

teste Dickey-Fuller (DF) é feito da seguinte forma:

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53

Se τcalculado > τcrítico: rejeita-se H0: ρ = 1 ⇒ A série será estacionária,

Se τcalculado < τcrítico: não rejeita-se H0: ρ = 1 ⇒ A série será não-

estacionária.

De acordo com BUENO (2011), o problema do teste anterior (DF) é que

se considera o erro como um ruído branco, no entanto, frequentemente o erro é

um processo estacionário qualquer. O teste utilizado para corrigir esse

pormenor é o ADF, o qual estima o modelo com as variáveis autorregressivas

já que esta é uma forma de corrigir o desvio do valor correto da estatística.

Portanto, se o termo de erro for autocorrelacionado, as equações serão

modificadas, acrescentando-se defasagens na variável dependente para

contornar a problemática da autocorrelação serial. Toma-se, por exemplo, a

equação (3A), da seguinte forma:

(2)

em que , etc., ou seja, usam-se

termos diferenciados defasados. O número de termos diferenciados defasados

incluídos no modelo é, muitas vezes, determinado empiricamente, de modo

que o termo de erro da equação (2) se torne um ruído branco. A hipótese nula

é de que , ou , isto é, há uma raiz unitária em Y (Y é não-

estacionário). No teste ADF existem as mesmas distribuições assintóticas do

DF e utilizam-se, portanto, os mesmos valores críticos tabulados.

Page 62: Análise da integração do mercado brasileiro de Etanol...a integração do mercado brasileiro de etanol nos diferentes estados brasileiros a fim de se fazer inferências sobre seu

54

1.2 - Teste Phillips-Pherron

Outro procedimento utilizado para verificar a presença de raiz unitária nas

séries de dados testadas é o de Phillips-Perron, o qual faz uma correção não

paramétrica ao teste DF, permitindo que seja consistente mesmo que haja

variáveis defasadas dependentes e correlação serial nos erros.

Desta forma, o teste Phillips-Perron pode ser realizado, em vez do ADF,

quando os resíduos de (1) apresentarem dependência serial, visto que se

relaxa a hipótese de erros identicamente distribuídos (iid), utilizada no teste DF.

Este teste torna desnecessária, segundo BUENO (2011), a especificação

de um modelo com ordem suficientemente autorregressiva para expurgar a

correlação serial dos resíduos.

A estatística de teste de Phillips-Perron é dada por

[

(

)

] (3)

em que γ0 = (1/T); e et é o resíduo estimado de uma equação do tipo (1),

que apresenta constância e tendência;

∑ *

+

(4)

sendo q o número de autoco-variâncias de et relevantes, e γi, a i-ésima

autocovariância, tal que

(

) ∑

(5)

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Em que é o desvio-padrão de ρ; s, desvio-padrão do resíduo; e t, valor

do teste t para ρ.

No teste Phillips-Perron, assim como no Dickey-Fuller, utilizam-se os

mesmos valores críticos.

1.3 - Teste KPSS

Um dos problemas do teste de raiz unitária desenvolvido por Dickey-Fuller

(1979,1981) é seu baixo poder, particularmente ante a presença de um

componente de médias móveis perto do círculo unitário, ou seja, o teste de raiz

unitária não é capaz de rejeitar a hipótese nula para uma infinidade de séries

econômicas.

No teste KPSS, considera-se apenas a presença do termo constante ou

do termo tendência determinista em Yt. No primeiro caso,

(6)

em que xt é um processo do tipo passeio aleatório, tal que xt = xt-1 + vt,

sendo , um processo estacionário, I(0).

O teste da hipótese nula de estacionariedade de Yt, contra a alternativa

de não-estacionariedade, é equivalente aos testes das seguintes hipóteses

nulas e alternativas:

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Caso a hipótese nula seja aceita, a série Yt será composta por uma

constante e por um processo estacionário zt, sendo, portanto, estacionária.

Segundo LÜTKEPOHL e KRÄTZIG (2004), considerando que Yt seja

composta por uma constante e por um processo estacionário zt, a estatística de

teste será obtida por,

(7)

em que St é uma função residual cumulativa, definida por ∑

com

Yt -

um estimador da variância, no longo prazo, do processo zt,

definido por

∑ (8)

A hipótese nula de estacionariedade será rejeitada quando a estatística

de teste KPSS superar os valores críticos. Caso a série Yt contenha o termo

tendência determinista, a relação (6) será modificada para

(9)

e os termos

serão os resíduos da regressão . A

partir daí, utilizar-se-á o mesmo procedimento anterior para obter a estatística

do teste KPSS, definida em (7).

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1.4 - Teste ERS

O teste ERS é baseado na seguinte regressão diferenciada,

(

) (

)

(10)

Define-se o resíduo de (10) por,

(

) (

)

(11)

e, a partir de (11), obtém-se a soma do quadrado dos resíduos, da

seguinte forma:

. (12)

Pelo teste ERS verifica-se a hipótese α = 1, contra a alternativa α = a. A

estatística de teste é definida por,

(13)

em que f0 é o estimador espectral dos resíduos na frequência zero.

Caso a estatística ERS seja inferior aos valores críticos, rejeita-se a

hipótese de não-estacionariedade da série.

1.5 - Teste NG e Perron

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Além da questão de poder, o teste de raiz unitária sofre do problema de

tamanho do teste quando a raiz do processo de médias móveis é muito alta. O

teste NG e Perron propõe modificações ao teste PP, os quais são

denominados de M testes.

Assim como as demais regras de decisão para raiz unitária, se o valor

calculado dessa estatística for menor que o valor crítico, rejeita-se a hipótese

de raiz unitária.

2 - Resultado da análise de estacionariedade dos preços estaduais de

etanol

Resumo do teste ADF para os preços de venda de etanol nos estados brasileiros de julho de 2001 a dezembro de 2013

Estado Lags Estatística do teste Conclusão

Acre 12 -1,551065 Estacionária

Alagoas 12 -1,240003 Estacionária

Amapá 12 -2,282030 Estacionária

Amazonas 12 -1,747988 Estacionária

Bahia 12 -1,638375 Estacionária

Ceará 12 -1,363291 Estacionária

Distrito Federal 12 -1,860900 Estacionária

Goiás 12 -1,664022 Estacionária

Mato Grosso 12 -3,654124 Estacionária*

Mato Grosso do Sul 12 -1,554613 Estacionária

Minas Gerais 12 -1,838586 Estacionária

Pará 12 -2,121746 Estacionária

Paraíba 12 -1,476733 Estacionária

Pernambuco 12 -1,463707 Estacionária

Piaui 12 -1,838208 Estacionária

Rio de Janeiro 12 -1,533988 Estacionária

Rio Grande do Norte 12 -1,314413 Estacionária

Rio Grande do Sul 12 -2,177292 Estacionária

Rondônia 12 -1,674067 Estacionária

Roraima 12 -1,644216 Estacionária

Santa Catarina 12 -1,773878 Estacionária

São Paulo 12 -1,648111 Estacionária

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59

Fonte: Elaboração própria com base nos dados de preços estaduais de etanol disponível na ANP. *Estacionária somente no nível de 1%.

De acordo com o resumo do teste ADF realizado no Eviews, todas as

séries de preços estaduais são estacionárias. Vale ressaltar a situação do

estado do Mato Grosso que possui estacionariedade dos preços apenas ao

nível de confiança de 1%.

Resumo do teste PP para os preços de venda do etanol nos estados brasileiros de julho de 2001 a dezembro de 2013

Estado Bandwidth Estatística do teste Conclusão

Acre Automatic -1,513143 Estacionária

Alagoas Automatic -1,257447 Estacionária

Amapá Automatic -2,029114 Estacionária

Amazonas Automatic -1,473235 Estacionária

Bahia Automatic -1,686253 Estacionária

Ceará Automatic -1,310615 Estacionária

Distrito Federal Automatic -1,806553 Estacionária

Goiás Automatic -2,357935 Estacionária

Mato Grosso Automatic -2,564671 Estacionária

Mato Grosso do Sul Automatic -1,882225 Estacionária

Minas Gerais Automatic -1,827511 Estacionária

Pará Automatic -2,054871 Estacionária

Paraíba Automatic -1,243556 Estacionária

Pernambuco Automatic -1,257164 Estacionária

Piaui Automatic -1,659399 Estacionária

Rio de Janeiro Automatic -1,563740 Estacionária

Rio Grande do Norte Automatic -1,215282 Estacionária

Rio Grande do Sul Automatic -1,684945 Estacionária

Rondônia Automatic -1,565268 Estacionária

Roraima Automatic -1,437115 Estacionária

Santa Catarina Automatic -1,448870 Estacionária

São Paulo Automatic -1,753982 Estacionária

Fonte: Elaboração própria com base nos dados de preços estaduais de etanol disponível na ANP.

De acordo com o resumo do teste PP realizado no Eviews, todas as

séries de preços estaduais são estacionárias aos níveis de confiança de 10%,

5% e 1%.

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Resumo do teste KPSS para os preços de venda do etanol nos estados brasileiros de julho de 2001 a dezembro de 2013

Estado Bandwidth Automatic

Estatística do teste Conclusão

Acre 10 1,289538 Não Estacionária

Alagoas 10 1,296634 Não Estacionária

Amapá 9 1,185736 Não Estacionária

Amazonas 10 1,197595 Não Estacionária

Bahia 10 1,215621 Não Estacionária

Ceará 10 1,287213 Não Estacionária

Distrito Federal 9 1,431910 Não Estacionária

Goiás 9 1,288214 Não Estacionária

Mato Grosso 9 0,716707 Não Estacionária

Mato Grosso do Sul 10 1,201730 Não Estacionária

Minas Gerais 10 1,186832 Não Estacionária

Pará 10 1,059602 Não Estacionária

Paraíba 10 1,261355 Não Estacionária

Pernambuco 10 1,291868 Não Estacionária

Piaui 10 1,149907 Não Estacionária

Rio de Janeiro 10 1,278485 Não Estacionária

Rio Grande do Norte 10 1,308809 Não Estacionária

Rio Grande do Sul 10 1,130998 Não Estacionária

Rondônia 10 1,191745 Não Estacionária

Roraima 10 1,299970 Não Estacionária

Santa Catarina 10 1,289792 Não Estacionária

São Paulo 9 1,350964 Não Estacionária

Fonte: Elaboração própria com base nos dados de preços estaduais de etanol disponível na ANP.

Os resultados obtidos com o teste KPSS nos mostra que as séries de

preços de etanol de cada estado não são estacionárias. No entanto, o

resultado para as séries em primeira diferença é que os preços de etanol em

todos os estados são estacionários, como pode-se visualizar na tabela a

seguir.

Resumo do teste KPSS em primeira diferença para os preços de venda do etanol nos estados brasileiros de julho de 2001 a dezembro de 2013

Estado Bandwidth Automatic Estatística do teste Conclusão

Acre 4 0,055598 Estacionária

Alagoas 5 0,034465 Estacionária

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Amapá 1 0,056635 Estacionária

Amazonas 5 0,033719 Estacionária

Bahia 4 0,035027 Estacionária

Ceará 4 0,030642 Estacionária

Distrito Federal 8 0,029307 Estacionária

Goiás 6 0,023511 Estacionária

Mato Grosso 4 0,043173 Estacionária

Mato Grosso do Sul 3 0,026146 Estacionária

Minas Gerais 1 0,043106 Estacionária

Pará 4 0,080341 Estacionária

Paraíba 6 0,036229 Estacionária

Pernambuco 5 0,029727 Estacionária

Piaui 4 0,042750 Estacionária

Rio de Janeiro 2 0,026132 Estacionária

Rio Grande do Norte 6 0,026476 Estacionária

Rio Grande do Sul 3 0,026146 Estacionária

Rondônia 4 0,045620 Estacionária

Roraima 3 0,035403 Estacionária

Santa Catarina 2 0,023539 Estacionária

São Paulo 2 0,019690 Estacionária

Fonte: Elaboração própria com base nos dados de preços estaduais de etanol disponível na ANP.

Resumo do teste ERS para os preços de venda do etanol nos estados brasileiros de julho de 2001 a dezembro de 2013

Estado Lags Estatística do teste Conclusão

Acre 12 53,160430 Não Estacionária

Alagoas 12 49,204420 Não Estacionária

Amapá 12 20,215170 Não Estacionária

Amazonas 12 21,445510 Não Estacionária

Bahia 12 26,571840 Não Estacionária

Ceará 12 33,071130 Não Estacionária

Distrito Federal 12 17,093370 Não Estacionária

Goiás 12 22,556890 Não Estacionária

Mato Grosso 12 7,715600 Não Estacionária

Mato Grosso do Sul 12 37,317460 Não Estacionária

Minas Gerais 12 24,158160 Não Estacionária

Pará 12 33,829440 Não Estacionária

Paraíba 12 32,524410 Não Estacionária

Pernambuco 12 28,500320 Não Estacionária

Piaui 12 24,025740 Não Estacionária

Rio de Janeiro 12 26,80985 Não Estacionária

Rio Grande do Norte 12 27,407410 Não Estacionária

Rio Grande do Sul 12 11,679330 Não Estacionária

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62

Rondônia 12 30,306010 Não Estacionária

Roraima 12 32,010770 Não Estacionária

Santa Catarina 12 16,899990 Não Estacionária

São Paulo 12 12,966170 Não Estacionária

Fonte: Elaboração própria com base nos dados de preços estaduais de etanol disponível na ANP.

Resumo do teste ERS em primeira diferença para os preços de venda do etanol nos estados brasileiros de julho de 2001 a dezembro de 2013

Estado Lags Estatística do teste Conclusão

Acre 12 0,353133 Estacionária

Alagoas 12 0,304381 Estacionária

Amapá 12 0,411986 Estacionária

Amazonas 12 0,454771 Estacionária

Bahia 12 0,468781 Estacionária

Ceará 12 0,372050 Estacionária

Distrito Federal 12 0,232710 Estacionária

Goiás 12 0,534343 Estacionária

Mato Grosso 12 0,393463 Estacionária

Mato Grosso do Sul 12 0,174104 Estacionária

Minas Gerais 12 0,112386 Estacionária

Pará 12 0,382185 Estacionária

Paraíba 12 0,423544 Estacionária

Pernambuco 12 0,418099 Estacionária

Piaui 12 0,389686 Estacionária

Rio de Janeiro 12 0,115780 Estacionária

Rio Grande do Norte 12 0,376185 Estacionária

Rio Grande do Sul 12 0,250690 Estacionária

Rondônia 12 0,395137 Estacionária

Roraima 12 0,231057 Estacionária

Santa Catarina 12 0,274535 Estacionária

São Paulo 12 1,394025 Estacionária

Fonte: Elaboração própria com base nos dados de preços estaduais de etanol disponível na ANP.

O mesmo acontece com o teste ERS, no qual as séries de preços são

não-estacionárias, porém, realizando-se o teste em primeira diferença, temos

que as séries são estacionárias em todos os estados.

Resumo do teste NG e Perron para os preços de venda do etanol nos estados brasileiros de julho de 2001 a dezembro de 2013

Estado Lags Conclusão

Acre 12 Estacionária

Page 71: Análise da integração do mercado brasileiro de Etanol...a integração do mercado brasileiro de etanol nos diferentes estados brasileiros a fim de se fazer inferências sobre seu

63

Alagoas 12 Estacionária

Amapá 12 Estacionária

Amazonas 12 Estacionária

Bahia 12 Estacionária

Ceará 12 Estacionária

Distrito Federal 12 Estacionária

Goiás 12 Estacionária

Mato Grosso 12 Estacionária

Mato Grosso do Sul 12 Estacionária

Minas Gerais 12 Estacionária

Pará 12 Estacionária

Paraíba 12 Estacionária

Pernambuco 12 Estacionária

Piaui 12 Estacionária

Rio de Janeiro 12 Estacionária

Rio Grande do Norte 12 Estacionária

Rio Grande do Sul 12 Estacionária

Rondônia 12 Estacionária

Roraima 12 Estacionária

Santa Catarina 12 Estacionária

São Paulo 12 Estacionária

Fonte: Elaboração própria com base nos dados de preços estaduais de etanol disponível na ANP.

De acordo com o teste de NG e Perron, as séries de preços do etanol

para cada estado são estacionárias.

Analisando o correlograma para cada série de preço dos estados

participantes do comércio brasileiro de etanol, temos que todos possuem a

seguinte aparência.

Page 72: Análise da integração do mercado brasileiro de Etanol...a integração do mercado brasileiro de etanol nos diferentes estados brasileiros a fim de se fazer inferências sobre seu

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Fonte: Elaboração própria com base nos dados de preços estaduais de etanol disponível na ANP.

Desta forma, conclui-se que as séries são estacionárias em primeira

diferença, ouse já, são integradas de ordem 1 (I(1)) pois, apesar de dois testes

terem como resultado estacionariedade no nível, os outros testes, mais

confiáveis, resultaram que as séries são estacionárias em primeira diferença,

além disso, a análise gráfica do comportamente das séries, bem como a

análise das funções de autocorrelações (FAC), também corroboraram esse

fato.