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RELATÓRIOS DE PESQUISA EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO v.14, n. A15, p.188-212. Artigo submetido em 4/7/2014. Versão final recebida em 13/8/2014. Publicado em 25/8/2014. MERCADO BRASILEIRO DE ETANOL: VISÃO PROSPECTIVA DE CENÁRIOS Carolina Vieira Universidade Federal Fluminense (UFF) [email protected] Pedro Maffia da Silva Universidade Federal Fluminense (UFF) [email protected] Ludgy Loiola Universidade Federal Fluminense (UFF) [email protected] Liana Franco Universidade Federal Fluminense (UFF) [email protected] Carlos Francisco Simões Gomes Universidade Federal Fluminense (UFF) [email protected] Resumo O objetivo deste Artigo consiste em realizar um estudo prospectivo de curto prazo, de 2014 a 2018, sobre o Combustível Etanol no Brasil. Ao adotar o enfoque prospectivo, o estudo não pretende prever o futuro, mas exercitar a reflexão sobre possibilidades de futuro e a influencia das escolhas presentes. O Artigo inicia-se com a contextualização do setor objeto de estudo e apresentação das metodologias de construção de cenários prospectivos. Em seguida essa metodologia é aplicada ao objeto de estudo. O estudo é concebido como um desdobramento da Visão de Futuro de uma empresa fictícia produtora de Etanol. Incertezas são mapeadas e desdobradas em Variáveis, que uma vez priorizadas, são analisadas frente ao histórico. Componentes são agrupados e os Cenários caracterizados. Analises quanto ao monitoramento da materialização do Cenário Desejável e possíveis impactos decorrentes de Efeitos Canônicos são também abrangidos pelo estudo. Palavras-chave: Etanol, Cenários Prospectivos, Planejamento Estratégico. Abstract The purpose of this article is to conduct a prospective short-term study, from 2014 to 2018, on Ethanol Fuel in Brazil. By adopting the prospective approach, the study does not aim to predict the future, but to reflect upon the future possibilities and influences of present choices. The article begins with a contextualization of the sector object of study and submission methodologies for construction of prospective scenarios. Then this methodology is applied to the object of study. The study is designed from the Future Vision of a fictitious producer of ethanol. Uncertainties are mapped and deployed in Variables, once prioritized, are analyzed against the respective historical figures. Components are grouped and Scenarios characterized. Analyzes regarding the monitoring of the materialization of the Desirable Scenario and possible impacts of Canonical Effects are also covered by the study. Keywords: Ethanol, Prospective Scenarios , Strategic Planning.

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RELATÓRIOS DE PESQUISA EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO v.14, n. A15, p.188-212.

Artigo submetido em 4/7/2014. Versão final recebida em 13/8/2014. Publicado em 25/8/2014.

MERCADO BRASILEIRO DE ETANOL: VISÃO PROSPECTIVA DE CENÁRIOS

Carolina Vieira Universidade Federal Fluminense (UFF)

[email protected]

Pedro Maffia da Silva Universidade Federal Fluminense (UFF)

[email protected]

Ludgy Loiola Universidade Federal Fluminense (UFF)

[email protected]

Liana Franco Universidade Federal Fluminense (UFF)

[email protected]

Carlos Francisco Simões Gomes Universidade Federal Fluminense (UFF)

[email protected]

Resumo

O objetivo deste Artigo consiste em realizar um estudo prospectivo de curto prazo, de 2014 a 2018, sobre o Combustível Etanol no Brasil. Ao adotar o enfoque prospectivo, o estudo não pretende prever o futuro, mas exercitar a reflexão sobre possibilidades de futuro e a influencia das escolhas presentes. O Artigo inicia-se com a contextualização do setor objeto de estudo e apresentação das metodologias de construção de cenários prospectivos. Em seguida essa metodologia é aplicada ao objeto de estudo. O estudo é concebido como um desdobramento da Visão de Futuro de uma empresa fictícia produtora de Etanol. Incertezas são mapeadas e desdobradas em Variáveis, que uma vez priorizadas, são analisadas frente ao histórico. Componentes são agrupados e os Cenários caracterizados. Analises quanto ao monitoramento da materialização do Cenário Desejável e possíveis impactos decorrentes de Efeitos Canônicos são também abrangidos pelo estudo. Palavras-chave: Etanol, Cenários Prospectivos, Planejamento Estratégico.

Abstract

The purpose of this article is to conduct a prospective short-term study, from 2014 to 2018, on Ethanol Fuel in Brazil. By adopting the prospective approach, the study does not aim to predict the future, but to reflect upon the future possibilities and influences of present choices. The article begins with a contextualization of the sector object of study and submission methodologies for construction of prospective scenarios. Then this methodology is applied to the object of study. The study is designed from the Future Vision of a fictitious producer of ethanol. Uncertainties are mapped and deployed in Variables, once prioritized, are analyzed against the respective historical figures. Components are grouped and Scenarios characterized. Analyzes regarding the monitoring of the materialization of the Desirable Scenario and possible impacts of Canonical Effects are also covered by the study.

Keywords: Ethanol, Prospective Scenarios , Strategic Planning.

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1. INTRODUÇÃO

A sociedade exerce diversos tipos de pressão em diferentes canais de comunicação para que sejam adotados hábitos sustentáveis. Esta pressão impacta diversos mercados, incluindo os de energia. Combustíveis fósseis são fontes finitas, não renováveis e responsáveis por emissões consideráveis de CO2 na atmosfera. Sobre essa ótica, o etanol é apresentado como uma das principais alternativas de fornecimento de energia limpa e renovável.

De acordo com Da Silva et al. (2013), o Brasil possui liderança tecnológica no setor devido ao lançamento do Proálcool na década de 1970. Nos anos 2000, o País despontou novamente na produção do biocombustível, passando a enfrentar concorrência maior de grupos norte-americanos e da União Europeia.

Vem sendo percebido um aumento significativo do preço do etanol em diversos estados brasileiros. Segundo Corrêa (2011), a alta dos preços do etanol, levou o consumidor a dar preferência à gasolina nas bombas, desencadeou uma discussão sobre a razão pela qual o etanol da cana de açúcar, produto essencialmente brasileiro, está apresentando preços não mais competitivos em relação à gasolina.

De acordo com Corrêa (2011), as razões, muito mais relacionadas às questões de mercado, como custo de produção, demanda e oferta tem origem no cenário atual do setor: dois produtos, açúcar (base da indústria alimentícia) e etanol (combustível e fonte energética), que competem entre si por seu espaço nas safras, custos e nos investimentos dos produtores. Corrêa (2011) afirma que, se não houver investimentos no setor, o preço do açúcar deverá elevar-se mercado internacional, considerando o aumento de demanda em outras frentes, como no consumo interno de etanol e açúcar. Esse pode ser o gatilho para a liberação do mercado de combustíveis internamente. Afinal, esse é o principal entrave para que o etanol se torne, de fato, uma commodity, pois no Brasil não existe um mercado livre de combustíveis, já que o preço da gasolina é determinado pelo governo e, por sua vez, serve de referência para o do etanol. Isso impede a transparência e a segurança ao produtor e, sobretudo, a visibilidade de preço ao investidor.

Portanto, os preços elevados do açúcar no mercado internacional incentivam as usinas a produzir o máximo que puderem. Enquanto isso, o etanol entra na disputa com um limite de remuneração, baseado na paridade com a gasolina, cujo preço é controlado indiretamente pelo governo. O usineiro deve dar prioridade ao produto que melhor lhe remunera. (Corrêa, 2011).

O futuro poderá apresentar diversas incertezas para o etanol. A prospecção baseada em cenários é uma forma de modelar tais incertezas e auxiliar o desenvolvimento de estratégias mais robustas para as empresas que pretendem investir no setor.

Alguns métodos que auxiliam na construção de cenários prospectivos podem ser encontrados na literatura; é importante destacar que os métodos têm semelhança na atitude prospectiva, elaboração de múltiplos cenários e ênfase nos atores. Alguns desses autores que exercem forte influência nos estudos prospectivos são:

� Porter (Porter, 1986, 1992);

� Godet (Godet, 1993);

� Schoemaker (Schoemaker, 1995).

Embora a nomenclatura, a ênfase e a ordem das etapas de elaboração de cenários variem, em termos gerais a metodologia percorre os seguintes passos (Carvalho, 2009):

• Definição dos objetivos;

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• Levantamento, análise e descrição do relacionamento das variáveis; • Preenchimento dos estados das variáveis e verificação de sua consistência; • Definição do tema principal de cada cenário baseado nas principais variações

identificadas; e • Construção da narrativa de pelo menos dois cenários: um de referência e um

contrastado.

Carvalho (2009) destaca que a metodologia de cenários gera uma gama de opções, baseando-se nas tendências atuais e na quantidade de eventos incertos com os quais a organização precisa lidar ao contrário dos métodos extrapolativos, que apontam apenas uma alternativa para o futuro, com base em tendências históricas.

Sob essa ótica, Oliveira e Forte (2010) afirmam que a utilização de cenários prospectivos mostra-se adequada para a definição de estratégias em ambientes turbulentos e incertos, uma vez que permite às empresas explorar, sistematicamente, as possíveis consequências dessas incertezas para suas opções estratégicas.

Marcial e Costa (2001) apontam que a unificação de linguagem, o auxílio no desenvolvimento da criatividade, a criação de redes de informação, o aprendizado organizacional, o melhor entendimento do ambiente que as cerca e sua atuação em ambiente de grande incerteza são benefícios indiretos que os estudos de cenários podem proporcionar às empresas.

No Brasil, Johnson, Wright e Guimarães (1986) relatam casos de estudos prospectivos sobre produção de petróleo em águas profundas; Johnson e Marcovitch (1994) apresentam a experiência em planejamento tecnológico setorial e Wright e Spears (2006) apresentam a aplicação da metodologia aplicada pelo Programa de Estudos do Futuro da USP em temas diversos, como de política industrial.

O objetivo neste trabalho foi desenvolver três cenários para comercialização de etanol em 2018 para uma empresa produtora no Brasil. O artigo está organizado da seguinte forma: a seção 2 é apresentado o referencial teórico relacionado a prospectiva de cenários, necessário para o desenvolvimento e entendimento do estudo; na seção 3 é apresentado o contexto e aspectos do mercado brasileiro de etanol; a seção 4 apresenta a construção dos cenários em 2018 para o mercado de etanol e; por fim, na seção 5, são apresentas algumas conclusões e considerações finais.

2. ANÁLISE PROSPECTIVA DE CENÁRIOS

O uso de cenários, inserido na cultura organizacional, proporciona aos gestores um diferencial estratégico que, além de reduzir os riscos na tomada de decisão e elevar a probabilidade de acerto considerando essas mudanças inevitáveis, permite conduzir a empresa com maior assertividade na manutenção do seu negócio, pois oferece melhores condições de competitividade e de adaptação (SCHOMAKER, 1995).

2.1 Antecedentes

Para Berger (1957) o conceito de prospectiva baseia-se na capacidade de se olhar amplamente, tomando cuidado com as interações; olhar longe, preocupando-se com o longo prazo e, principalmente, levando-se em conta o gênero humano, dispositivo capaz de modificar o futuro.

Heidjen (2000) enfatiza que, nos anos 1970, o elevado crescimento econômico abalou as reservas de gás natural, provocando instabilidade de preços no mercado mundial. A situação foi

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percebida pelos planejadores da Shell que, liderados por Pierre Wack, analisaram os fatores determinantes e as possíveis repercussões futuras para a empresa.

O trabalho da Shell trouxe uma nova dimensão à abordagem de cenários prospectivos, tornando-se uma referência, haja vista ter sido capaz de antecipar as crises energéticas daquela década (OLIVEIRA; FORTE, 2010).

Segundo Schwartz (2003) o estudo de cenários foi impulsionado durante a Segunda Guerra Mundial como um método de planejamento militar (e.g., a Força Aérea Americana adotou os cenários como estratégia bélica, tentando antever o que os adversários fariam e, a partir dessa visão, preparou estratégias alternativas).

Godet (1993) defende que a prospectiva de cenários surgiu na França, em 1970, em um estudo de prospectiva geográfica, elaborado com o objetivo de planejar o desenvolvimento regional do país.

No Brasil, embora a elaboração de cenários estratégicos militares remonte ao começo da Guerra Fria, no ambiente corporativo a prática é mais recente. Na década de 1980, a Eletrobrás (1987) e a Petrobras (1989) despontam como empresas pioneiras na elaboração de estudos de cenários, em razão de operarem projetos com longo período de maturação.

Buarque (2003) relaciona várias tentativas de estudos prospectivos conduzidos no Brasil, como o caso da Eletrobrás em 1987 e a Petrobras em 1989 que despontaram como empresas pioneiras durante as décadas de 1980 e 1990. Atualmente, a construção de cenários passou a fazer parte das ferramentas de planejamento estratégico, comumente aplicadas por consultorias e organizações de formas distintas.

2.2 Conceitos de Cenário

Para Schwartz (1991) ao trabalhar em um mundo de incertezas, as pessoas precisavam ter a capacidade de reconsiderar e questionar seus pressupostos sobre a maneira como o mundo funciona, de modo a vê-lo mais claramente. A finalidade dos cenários é ajudar você mesmo a mudar sua visão da realidade – para aproximá-la da realidade como ela é, e como será. O resultado final, entretanto, não é um quadro preciso do amanhã, mas as melhores decisões sobre o futuro.

Para Van Der Heijden (2006), o planejamento de cenários utiliza as melhores práticas de cada escola de pensamento em estratégia, assim chamadas para revelar uma visão mais clara e abrangente do futuro, pois não considera apenas riscos e previsões, pois o planejamento de cenários também assume a existência de incertezas.

A metodologia de cenários torna-se uma alternativa interessante porque não estuda a situação de forma tendenciosa, partindo do pressuposto de que tudo vai continuar como está nos próximos anos (CARVALHO, 2009).

A problemática, quando se fala em cenários, circunda a respeito da própria informação, na complexidade de estabelecer relação entre informações e contextualizá-las de forma ordenada, organizada e consistente, lidar com riscos e incertezas, identificar quais informações são imprescindíveis ou relevantes e quais oferecem maior impacto, observar o correto registro de informações históricas das forças motrizes e variáveis primordiais dentro da empresa para viabilizar o acompanhamento histórico em análises futuras (SUTTER, ESTIMA, WRIGHT, 2012).

O estudo de cenários consiste em uma forma de lidar com situações que podem ocorrer no futuro a partir de uma lista limitada, porém estruturada, de opções de acontecimentos. Esta metodologia permite que a organização analise como o ambiente se comporta e desenvolve ao

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longo do tempo, e prepare-se antecipadamente para um cenário que está se tornando real (CARVALHO, 2009).

Os cenários são, portanto, “plataforma para conversações estratégicas que levam à aprendizagem organizacional contínua a respeito de decisões-chave e prioridades” (SCHWARTZ, 2000). Deve-se escolher de três a cinco futuros mais representativos e levar a organização a refletir sobre eles, construindo as condições necessárias para que ela aprenda sobre o futuro e suas múltiplas possibilidades. Isto por que um único cenário imobiliza a organização em torno de solução única, tornando-a incapaz de reagir caso o “previsto” não aconteça, enquanto dezenas de opções dispersariam a capacidade gerencial em torno de detalhes e nuanças de menor impacto (SCHWARTZ, 2003).

Elaborar cenários não é um exercício de predição, mas sim um esforço de fazer descrições plausíveis e consistentes de situações futuras possíveis, apresentando os condicionantes do caminho entre a situação atual e cada cenário futuro, destacando os fatores relevantes às decisões que precisam ser tomadas (PORTER et al., 1991).

Ao contrário de modelos extrapolativos que indicam somente uma aposta de como será o futuro, muitas vezes baseado no passado, a metodologia de cenários cria um leque de opções baseadas nas tendências atuais e na quantidade de eventos incertos com os quais a organização precisa lidar (CARVALHO, 2009).

Porter (1986) define um cenário como uma visão internamente consistente do que o futuro poderá vir a ser, e tem como principais funções a avaliação explícita de premissas de planejamento, o apoio à formulação de objetivos e estratégias, a avaliação de alternativas, o estímulo à criatividade, a homogeneização de linguagens a preparação para enfrentar descontinuidades.

Porter et al. (1991) afirmam que cenários são esboços parciais de alguns aspectos do mundo futuro, e a estruturação de um cenário pode variar desde formas puramente narrativas até modelos detalhados com dados quantitativos. Além disso, afirmam que o futuro é desconhecido e impossível de ser conhecido, uma vez que não existe uma bola de cristal perfeita. Dessa forma, as decisões que são feitas hoje, e que moldam o futuro, são baseadas na extensão dos conhecimentos atuais, que são incertos.

Segundo Godet (1993), cenário é um conjunto formado pela descrição detalhada de uma situação futura, incluindo a ação dos principais atores e a probabilidade estimada de eventos incertos, articulados de modo a descrever a passagem da situação de origem para uma situação futura de forma coerente. Adicionalmente, o autor afirma que um cenário não é a realidade futura, mas um meio de representá-la, com o objetivo de nortear a ação presente, à luz dos futuros possíveis e desejáveis.

Mason (1994) e Schoemaker (1995) relatam em seus trabalhos a importância de um bom planejamento para que erros comuns não sejam cometidos, como subestimar ou superestimar o impacto de mudanças. Para Schoemaker (1995), o planejamento por cenários é um método disciplinado para imaginar futuros possíveis, que se destaca por simplificar a avalanche de dados em um número limitado de possíveis estados, uma vez que cada cenário conta a estória de como vários elementos podem interagir diante de certas condições.

Mason (1994) afirma que o planejamento é um olhar para frente de forma criativa e aberta, em busca de padrões que podem emergir e que devem levar a um processo de aprendizagem sobre o futuro. Vê-se também que os cenários alternativos permitem mapear caminhos distintos, considerando tendências passadas e eventos incertos.

Schoemaker (1995) afirma que o planejamento de cenários busca capturar, com riqueza, uma série de possibilidades, estimulando os tomadores de decisão a considerar mudanças que seriam ignoradas com a utilização de outros métodos e apesar de seus efeitos mais benéficos estarem associados ao planejamento estratégico corporativo e à construção de uma visão comum, os

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cenários podem ser utilizados tanto na tomada de decisão individual como para antecipar mudanças.

Para Schoemaker (1995), os efeitos positivos do planejamento de cenários se estendem e podem ser empregados para traçar os rumos políticos, socioeconômicos ou de defesa de um país. A técnica pode ser aplicada sempre que o tomador de decisão deseje imaginar possíveis desdobramentos futuros.

Wright e Spers (2006) defendem que estudar de cenários permite mapear caminhos distintos, considerando aquilo que os indivíduos acreditam saber sobre o futuro, bem como fatos considerados como incertos em uma projeção de tempo específica.

Embora a metodologia possa ser empregada em qualquer situação de incerteza, para Schoemaker (1995), o uso é recomendável, especialmente, em organizações enfrentando as seguintes condições:

• Há alto grau de incerteza com relação à capacidade de predizer o futuro ou corrigir rumos;

• Viveu-se um histórico marcado por surpresas desagradáveis e onerosas; • O pensamento estratégico tem sido de baixa qualidade; • Mudanças significativas no contexto foram vivenciadas ou estão prestes a ocorrer; • Há necessidade de uma nova perspectiva e linguagem comuns, sem perder de vista a

diversidade; • Coexistem fortes diferenças de opinião, e muitas delas têm mérito.

Para Turner (2008), o processo de planejamento por cenários é criativo, colaborativo e desafia as percepções sobre o futuro. Deve envolver diversos colaboradores da empresa e agentes externos com diversificada experiência e pontos de vista. Para Ribeiro (1997) as seguintes características são essenciais em um trabalho de cenários:

• Construir pelo menos dois cenários, para refletir o mínimo da incerteza; • Plausíveis, o que significa que devem surgir de modo lógico (num encadeado de causas

e efeitos) do passado e do presente; • Internamente consistente o que significa que os acontecimentos no interior de cada

cenário devem ser construídos segundo linhas de raciocínio corretas; • Relevantes para as preocupações do utilizador, permitindo gerar ideias compreensivas e

inovadoras e fornecendo meios adequados de teste de futuros planos, estratégias ou orientações das organizações;

• Visão nova e original dos temas e questões selecionadas na agenda da organização; • Transparentes, facilitando a apreensão da sua lógica.

3. MERCADO BRASILEIRO DE ETANOL

O setor sucroalcooleiro tem passado por várias transformações nos últimos anos. Houve verticalização, entrada de capitais estrangeiros, diversificação da produção. Neste aspecto, Greghi (2012) elaborou um estudo de competitividade do mercado de etanol no Brasil baseado no modelo de cinco forças do professor de economia de Harvard, Michael Porter.

Segundo Greghi (2012), sob a ótica dos novos entrantes, as petroleiras e as tradings tradicionais presentes no mercado de açúcar devem ampliar sua participação na produção a fim de consolidar seus negócios com a commodity.

Em relação à ameaça de produtos substitutos no setor, Greghi (2012) afirma que, o etanol da cana-de-açúcar compete diretamente com o etanol de milho norte-americano, com a gasolina e o com o açúcar. A competição do etanol de milho com o produto brasileiro se dá nos âmbitos internacional e americano, mas também no mercado brasileiro. A quebra da safra brasileira ocasionou a importação de 1,45 bilhão de litros em 2011/2 dos Estados Unidos, e em 2012/3 o

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volume 302 milhões (abril de 2012 a março de 2013); 2013/14 256 milhões, para 2014/5 nos meses de março e abril foram importados 92 milhões de litros (http://www.unicadata.com.br/listagem.php?idMn=52).

Sob a esfera do poder de barganha dos fornecedores, Greghi (2012), esclarece que o principal fornecedor das usinas são os produtores de cana, os quais são responsáveis por mais de 30% do montante processado no país. Na indústria sucroalcooleira, as plantas são formadoras de preço diante dos fornecedores. Uma forma de enfraquecer os produtores de cana-de-açúcar independentes seria as próprias usinas serem responsáveis pelo plantio dessa matéria prima. Mesmo quando a cana-de-açúcar é produzida pela própria usina, há o risco de falta de matéria-prima por conta de problemas climáticos.

Greghi (2012) reporta que com a verticalização, todo o mercado de combustíveis acaba se tornando um oligopólio, pois as grandes distribuidoras são poucas, e estas têm o controle sobre mais de 30 mil postos de combustíveis no Brasil. Além disso, as distribuidoras no Brasil recebem o etanol bem mais caro. Por isso, o poder de barganha dos clientes também é limitado. Assim, os postos têm dificuldades em repassar esse avanço, já que sofrem restrições impostas pelo mercado e por órgãos de defesa do consumidor e do Ministério Público.

Analisando esse mercado, buscando entender a rivalidade entre os concorrentes, Greghi (2012) reporta que apesar de o setor ainda ser majoritariamente nacional, a rivalidade entre os concorrentes começou com os novos entrantes. Nesse sentido, as pequenas empresas, para aumentarem sua participação no negócio, tendem a se associarem entre si ou contratarem corretoras para comercializar sua produção.

Greghi (2012) afirma que existe outro problema e este está na forma com que os grandes grupos defendem seus objetivos. Mesmo na hora de defender os interesses setoriais, não ocorre unanimidade entre os grupos. A entrada de petroleiras, que controlam também a distribuição de combustíveis fósseis, cria um empecilho à livre negociação de preços do etanol, já que o setor se torna verticalizado.

4. CENÁRIOS PROSPECTIVOS DO ETANOL EM 2018

4.1. Atores Envolvidos

Atores podem ser definidos como organizações ou entidades que influem ou podem influir significativamente em um dado sistema ou campo de atuação. Classes sociais, governo, instituições políticas ou particulares, grupamentos, instâncias de decisão são exemplos de atores que podem exercer influência sobre ambientes como empresas, partidos políticos, consumidores, grupos técnicos e seus respectivos processos (GOMES, COSTA, 2013). Os principais atores envolvidos nos processos de exploração da cana e produção de etanol identificados, na pesquisa, para este artigo, foram:

• Produtores de cana-de-açúcar – o Brasil conta com aproximadamente 50 unidades produtoras, concentradas em sua maioria no centro-sul e nordeste do país. A safra anual é de aproximadamente 600.000 toneladas. Cada vez mais, recebem maiores investimentos em inovação e incentivo comercial, visando a otimização da produção, maximização de lucros, desenvolvimento de técnicas de melhoramento da qualidade da matéria-prima e seus processos internos;

• Usinas e fábricas de açúcar, distribuidoras e comercializadoras – situadas próximas aos produtores (às vezes juntas), as fábricas recebem praticamente a metade da produção das safras de cana para produção de açúcar. Já as comercializadoras são as grandes empresas, mundialmente presentes, exercendo não só o papel de distribuir internamente o produto, mas também com forte atuação de exportação de açúcar;

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A influência desses atores está relacionada ao mix de produção e distribuição que é adotado pelos produtores de cana de açúcar, ou seja, dependendo do que for mais lucrativo no momento, os produtores devem selecionar para qual fim enviam sua produção. A singela mudança nesse mix reflete diretamente no preço do etanol comercializados nos postos de combustíveis.

• Usinas de produção, distribuidoras e comercializadoras de etanol – dezenas de empresas responsáveis pela produção do etanol. Os produtores de açúcar estão diretamente relacionados aos preços e ao desenvolvimento desse combustível no país. Sua demanda é dependente não só do preço da matéria prima, mas também as necessidades dos consumidores e veículos com disponibilidade de utilização deste combustível. Neste contexto, destaca-se no Brasil a Petrobras como uma importante empresa brasileira no segmento de distribuição e comercialização do etanol no país;

• Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – responsável, entre outras atribuições, pelas políticas de desenvolvimento da indústria, do comércio exterior e do Brasil, e dos serviços de registro e negociações, este Ministério foi destacado neste estudo por estar intimamente relacionado, ao desenvolvimento das indústrias de automotivos, no que tange os seus mecanismos de qualidade e volume industrial, defesa comercial e estabilidade econômica no escoamento de sua produção. Isso se deve ao fato de que, uma vez que os preços dos combustíveis estão relacionados à produção dessas indústrias, o governo exerce sua influência nesse meio através deste Ministério;

• Indústrias de automóvel e motocicletas – são influenciadas diretamente não só pelo comportamento da produção do etanol, mas também pelo preço que o mesmo é comercializado, pois devem guiar sua produção de frotas de motocicletas e carros flex (ou etanol) de modo a atender as demandas da sociedade;

• Consumidores de combustíveis – influenciam diretamente não só a produção de automóveis e motocicletas, mas também o consumo e, os preços do etanol. Caso o valor da média de reais por quilômetro não seja economicamente viável – quando comparada essa média a de outros combustíveis – os consumidores passarão a não mais utilizar o etanol, reduzindo a demanda;

• Sociedade – assim como os consumidores de combustíveis, está diretamente relacionada não só ao consumo de etanol, mas também ao de açúcar. O aumento na quantidade de seus membros ou a preferência por um combustível mais econômico pode exercer influência direta no consumo e consequentemente, nos preços deste combustível. Do mesmo modo este aumento está diretamente relacionado ao aumento da demanda por açúcar, exercendo influência sobre o mix de produção de açúcar versus etanol;

• Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) – este órgão regulador das atividades do setor de petróleo e gás natural e de biocombustíveis no Brasil é um importante ator no meio estudado.

• Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) - empresa pública federal, com principal objetivo de realizar financiamentos de longo prazo para a realização de investimentos em diversos segmentos da economia. Um dos braços de atuação deste banco é o fomento ao desenvolvimento não só de volume e técnicas de produção, mas também de pesquisas da exploração da cana-de-açúcar. Seus financiamentos também podem estar presentes na continuidade da cadeia de produção, como por exemplo, nas empresas de produção e comercialização do etanol;

• Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) – vinculada ao Ministério de Ciência, Tecnologia Inovação, esse ator é uma empresa pública brasileira de fomento à ciência, tecnologia e inovação instituições privadas ou públicas como empresas, universidades, institutos tecnológicos. Seus projetos, assim como citado acima no BNDES, podem atender a diversas fases da produção do etanol ou da exploração de cana-de-açúcar,

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através de investimentos em tecnologia e inovação, desde o fomenta a técnicas de melhoramento da qualidade de exploração nos campos até estudos de P&D no próprio combustível;

• Ministério de Ciência e Tecnologia e Inovação – importante no processo de exploração da cana e produção de etanol, é responsável pelo patrimônio científico e tecnológico do país e elaboração de políticas setoriais de pesquisa, desenvolvimento, produção e aplicação de novos materiais e serviços de alta tecnologia;

• Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – terceiro e último ator de caráter político governamental destacado neste trabalho, este ator tem a competência para formular e implementar as políticas para o desenvolvimento do agronegócio, integrando os aspectos de mercado, tecnológicos, organizacionais e ambientais. A atuação e comportamento das safras, bem como seu desenvolvimento, estão diretamente relacionados às políticas sancionadas por este órgão, seja qual for a finalidade da utilização da cana (etanol ou açúcar);

• Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) - instituição pública de pesquisa vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento cujo objetivo é o desenvolvimento de tecnologias, conhecimentos e informações técnico-científicas voltadas para a agricultura e a pecuária brasileira. Sua atuação está diretamente relacionada ao progresso e desenvolvimento dos produtores de cana-de-açúcar que, através dos fomentos providos podem otimizar sua produção, melhorar a qualidade da matéria-prima, inovar em processos e desenvolvimentos sociais e ambientais;

• Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) – Assim como o ator acima, porém em menor proporção e exclusivamente dedicado ao mercado canavieiro, este ator tem o objetivo de desenvolver a indústria sucro-energética através de projetos de inovação de usinas, melhoramento genético, processos de produção de biomassa e melhorias de sistemas de plantio;

• União da Indústria da Cana-de-açúcar (ÚNICA) – instituição responsável por auxiliar diversos atores envolvidos no processo produtivo da cana-de-açúcar, através da concentração de informações socioeconômicas e ambientais do setor, dados estatísticos e relatórios, promovendo a importância desta matéria-prima. Além disso, fomenta a produção, auxiliando empresas, governos, ONGs, consumidores e mídia com suas informações sobre o ramo.

A Figura 1 mostra a influência desses atores sobre todo o processo do etanol, desde a exploração da cana-de-açúcar, até sua comercialização e consumo. Foram destacados alguns exemplos de atores (tais como Petrobras, Cargill e outras empresas atuantes no setor) e suas respectivas funções ao longo do processo produtivo.

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MERCADO BRASILEIRO D

Figura 1: Atores do Mercado de Etanol

4.2. Incertezas e Variáveis

Foram definidas as principais incertezas que são relevantes nos cenários prospectivos do etanol em 2018. São elas: Incerteza do Incerteza Regulatória; Incerteza

MERCADO BRASILEIRO DE ETANOL: VISÃO PROSPECTIVA DE CENÁRIOS

197

Figura 1: Atores do Mercado de Etanol

Foram definidas as principais incertezas que são relevantes nos cenários prospectivos do etanol Incerteza do Consumo; Incerteza de Produção; Incerteza Ambiental;Incerteza Políticas- Econômicas (figura 2).

Figura 2: Incertezas

PECTIVA DE CENÁRIOS

Foram definidas as principais incertezas que são relevantes nos cenários prospectivos do etanol Incerteza Ambiental;

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MERCADO BRASILEIRO DE ETANOL: VISÃO PROSPECTIVA DE CENÁRIOS

198

As incertezas levantadas foram desdobradas em variáveis, de forma a viabilizar a geração de um modelo capaz de quantificar os cenários prospectivos para o etanol. A subdivisão das incertezas em variáveis que impactam o mercado de etanol está descrita na tabela 1:

Tabela 1: Incertezas x Variáveis

4.3. Análise de Dependência e Impacto entre as Variáveis

Com o objetivo de entender as relações entre as variáveis selecionadas, foi comparado aos pares, utilizando a escala de 1 a 7 para definir o grau de impacto entre as variáveis sendo 0 uma relação de impacto nula e 7 uma relação de impacto ou dependência muito expressiva. O valor é positivo se o impacto de uma variável acarreta um aumento na outra variavel, e o valor é negativo, se acarreta uma diminuição na outra variável. A gradação foi feita conforme descrito na tabela 2. O decisor pode colocar um valor intermediário entre as descrições. Isto facilita a busca de consenso no grupo.

Tabela 2: Grau Dependência / Impacto

Grau Descrição

0 Não há impacto

1 Impacto pouco relevante

3 Impacto médio

5 Impacto expressivo

7 Impacto muito expressivo

A tabela 3 apresenta a gradação, aos pares, das variáveis selecionadas no estudo. A partir desta tabela é possível ver o quanto cada variável impacta no conjunto total e quanto ela é impactada

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MERCADO BRASILEIRO DE ETANOL: VISÃO PROSPECTIVA DE CENÁRIOS

199

pelo conjunto das demais variáveis. Os Valores 1 a 19 nos títulos das linhas e colunas se referem às variáveis descritas na Tabela 1.

Tabela 3: Impacto versus Dependência

A última linha da Tabela 3 (Matriz de impacto) representa o grau de dependência de uma variável em relação às demais, enquanto, a coluna mais a direita, da Tabela 3, representa a motricidade (grau de impacto) da variável.

A dependência representa o impacto que a variável recebe das demais. Verificou-se o somatório dos impactos e dependências de cada variável, ou o grau de dependência e impacto desta variável (Tabela 4). Calculou-se a média e o desvio padrão dos graus de impacto e dependência a fim de facilitar a posterior priorização e classificação das variáveis.

Tabela 4: Grau de Dependência e Impacto Consolidado

Am

ien

tal

Re

gu

lató

ria

s

# 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 ∑∑∑∑

1 7 5 6 6 2 2 2 3 3 2 5 2 2 7 2 3 6 2 67

2 7 3 7 6 2 2 2 5 2 2 5 2 2 6 2 3 6 2 66

3 7 7 6 7 2 2 2 4 4 2 6 2 2 7 2 2 2 2 68

4 6 3 7 7 2 2 2 2 2 3 7 2 3 7 2 2 2 6 67

5 2 6 7 7 5 5 5 6 6 2 4 2 2 2 2 2 2 6 73

6 2 6 7 7 4 5 5 7 7 2 2 2 2 2 2 2 2 7 73

7 3 7 7 4 5 6 4 7 7 2 6 2 2 2 2 2 4 4 76

8 3 7 7 3 5 6 4 7 7 2 6 2 2 2 2 2 4 4 75

9 2 4 4 3 3 4 2 2 5 2 5 2 2 2 2 5 2 4 55

10 2 4 4 2 3 4 2 2 5 2 5 2 2 2 2 5 2 4 54

11 7 7 4 7 7 2 2 2 4 4 4 7 4 6 2 4 6 6 85

12 4 7 6 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 4 2 7 3 3 56

13 7 7 6 7 7 4 2 2 5 5 7 5 4 6 2 5 6 5 92

14 7 5 2 2 2 2 2 2 2 2 7 4 3 4 2 2 2 2 54

15 5 7 6 4 4 2 2 2 2 2 2 4 4 6 2 5 3 2 64

Ambiental 16 7 7 6 7 6 2 3 3 7 7 7 4 7 4 5 6 6 6 100

Regulatórias 17 6 7 7 7 7 7 5 5 7 7 2 7 2 5 6 2 4 2 95

18 2 5 3 2 3 4 5 5 5 5 2 2 2 2 2 2 3 7 61

19 3 5 4 5 4 7 6 6 2 2 2 3 2 3 3 2 2 6 67

∑∑∑∑ 82 108 95 88 88 65 55 55 82 79 52 84 49 51 75 36 62 68 74

Consumo

Politico / Econômicas

Co

nsu

mo

Po

litico

/

Eco

mic

as

Pro

du

çã

o

Produção

Variável Dependência Impacto

1 82 67

2 108 66

3 95 68

4 88 67

5 88 73

6 65 73

7 55 76

8 55 75

9 82 55

10 79 54

11 52 85

12 84 56

13 49 92

14 51 54

15 75 64

16 36 100

17 62 95

18 68 61

19 74 67

Média 70,95 70,95

σ 18,46 13,73

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MERCADO BRASILEIRO DE ETANOL: VISÃO PROSPECTIVA DE CENÁRIOS

200

4.5. Priorização de Variáveis

Foi traçada uma reta de 135º, partindo das retas vertical e horizontal que cortam o eixo x e y nas médias do grau de impacto/dependência de todas as variáveis. Em um segundo momento, desloca-se esta reta para esquerda e para baixo em aproximadamente 0,33 desvios padrão, de forma a permitir que mais variáveis sejam selecionadas para o estudo final.

Após análise de dependência das variáveis criou-se um gráfico de Impacto (também denominado de motricidade) versus Dependência. Traçaram-se retas na média dos graus de dependência e impacto. O critério para seleção das variáveis foi selecionar as variáveis que obtiveram relação de impacto versus dependência superior a reta que secciona o gráfico a 45 graus do eixo das médias. Como poucas variáveis estavam sendo consideradas, a reta foi deslocada para baixo em 1/3 do maior desvio padrão (impacto versus dependência) de forma a ser mais benevolente na seleção das variáveis (gráfico 1).

Gráfico 1: Impacto versus Dependência

Desta forma, somente as variáveis mais relevantes para a formação dos cenários foram consideradas. No gráfico 2 foram envoltas na área azul as variáveis selecionadas.

Gráfico 2: Priorização de variáveis

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MERCADO BRASILEIRO DE ETANOL: VISÃO PROSPECTIVA DE CENÁRIOS

201

Com a priorização das variáveis, a lista inicial de 19 variáveis se reduziu à lista abaixo com 13 variáveis, conforme podem ser vistas na tabela 5.

Tabela 5: Variáveis Selecionadas e Priorizadas

4.5. Reclassificação da Variável Clima como Efeito Canônico

Ao serem analisadas análises de Impacto e Dependência da Variável Clima foi observado que a mesma Impacta todas as Variáveis e não é Impactada diretamente por nenhuma outra variável.

Dada a Intensidade e Abrangência do Impacto gerado pelo Clima os avaliadores decidiram caracterizar esta variável como Efeito Canônico, podendo influenciar consideravelmente qualquer um dos Cenários a serem caracterizados.

Como Clima, para fins do estudo em questão, considera-se Estiagem, Alagamentos, Seca, Temperaturas extremas nos canaviais. Como ilustração do comportamento histórico do Clima é apresentado abaixo o gráfico 3 com a média de precipitação na área produtora de cana-de-açúcar na região Centro Sul do Brasil.

Gráfico 3 - Precipitação na região Centro-Sul produtora de cana-de-açúcar (mm)

Fonte: Unicadata (2014)

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MERCADO BRASILEIRO DE ETANOL: VISÃO PROSPECTIVA DE CENÁRIOS

202

4.6. Histórico das Variáveis Priorizadas

Diante dos resultados apresentados no gráfico 2, foram priorizadas as variáveis conforme a tabela 5. A seguir são apresentados alguns dados sobre essas variáveis nos gráficos 4 até 12 e, na tabela 6, as evoluções históricas nos últimos 5 anos e o percentual de variação entre esses anos.

Gráfico 4: Exportação de Etanol

Fonte: Unicadata, 2014

Os dados apresentados no gráfico 4 mostram com um comportamento instável desta variável nos últimos anos devido ao surgimento e aumento da produção de combustíveis substitutos (como por exemplo o etanol de milho) em diversas partes do mundo. As importações (gráfico 5) tiveram grande aumento no ano de 2011, porém, com o aumento do preço, comparado aos dos combustíveis substitutos, sofreu forte queda. Além disso, novas tecnologias no setor fizeram com que a produção interna crescesse e o país dependesse menos do etanol importado.

Gráfico 5: Importação de Etanol – Variação (Var) corresponde a comparação do ano com o ano anterior.

Gráfico 6: Consumo Interno de Etanol

Fonte: Unicadata, 2014

Fonte: Unicadata, 2014

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203

Em relação ao consumo interno, esta variável vem se mantendo estável devido aos últimos comportamentos do setor consumidor, ou seja, o etanol teve grande consumo, mas vem perdendo competitividade em relação a outros combustíveis, que, às vezes podem ser mais economicamente viáveis.

Gráfico 7: Preço do Etanol (Produtores) Gráfico 8: Preço do Etanol (Consumidor)

Fonte: Unicadata, 2014

Fonte: Unicadata, 2014

O grande problema no aumento do preço final (gráfico 8) é que o produto se torna pouco competitivo diante dos combustíveis substitutos, enquanto que, o grande problema em reduzir o preço inicial, é a perda na batalha contra o preço pago pelas indústrias produtoras de açúcar aos produtores de cana, que tem preços mais atraentes.

Gráfico 9: Preço da gasolina Gráfico 10: Preço GNV

Fonte: Unicadata, 2014

Fonte: Unicadata, 2014

As variáveis apresentadas no gráfico 9 e 10 são as que podem guiar o consumo do etanol. Caso o GNV e a gasolina mantenham-se mais viáveis economicamente para o consumidor, menor é o consumo e demanda do etanol.

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204

Gráfico 11: Produção de açúcar vs etanol Gráfico 12: Produção de açúcar vs etanol

Fonte: Unicadata, 2014

Fonte: Unicadata, 2014

O crescimento da produção do açúcar (com consequente redução do etanol) no último ano pode ser explicado pelo aumento do preço do açúcar ocorrido no comercio internacional, tornando este produto mais lucrativo para o produtor da cana.

Para esta variável que relaciona o preço do açúcar com o etanol, aponta-se uma especial atenção para o histórico do mix de produção de açúcar versus etanol, na região centro-sul nas últimas 10 safras. Isso mostra a interessante paridade entre esses dois produtos que, oriundos da mesma matéria-prima, representam demandas que podem influenciar diretamente no preço final do combustível.

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205

Tabela 6: Histórico das Variáveis

Fonte: unicadata, http://www.unicadata.com.br/ - acessado em 11/06/14.

4.7. Definição dos Componentes

Após o levantamento dos registros apresentados pelas variáveis no período estudado, calculou-se a média o máximo e o mínimo para cada variável, apresentados na tabela 7:

Tabela 7: Componentes

Inc # Variáveis Indicador 2013 2012 2011 2010 2009

milhões USD 1.641 2.309 1.348 961 1.206

Var % -29% 71% 40% -20% -40%

158.140 82.671 1.000.411

91% -92%

15 16 14 15

-6% 14% -7%

1,21 1,12 1,18 0,96

8% -5% 23%

2,34 2,26

4%

2,97 2,84

5%

1,91 1,78

7%

133,33 135,57 137,54

-2% -1%

50,5 51,6 55,1 57,2 60,3

-2% -6% -4% -5%

46,92 51,81 62,27 60,51

-9% -17% 3%

79 74,1 67,9 82,3 91,1

7% 9% -17% -10%

52 42 54 50 32

24% -22% 8% 56%

5,911 5,839 6,502 5,909 4,312

1% -10% 10% 37%

Cons

1 Exportação Etanol

3 Consumo Interno

5

4 Preço do Etanol recebido pelos produtores

Preço do Etanol para os consumidores finais

cons relativo etanol hid %

2 Importação Etanol mil L

R$/L

6

Preço dos combustíveis substitutos (Gasolina)

Preço dos combustíveis substitutos (GNV)

Produção de açúcar vs etanol

R$/L

Produção de açúcar vs etanol (Preço do açúcar)

Qualidade da matéria prima

Pol /

Ec19 Inflação

13 Produtividade

15 Número de unidades produtoras

Prod

11

12

%

ATR/T

R$/sc de 50kg

Unid

R$/L

R$/m³

% etanol

T/ha

Inc # Variáveis Indicador Media Max Min

Cons

1 Exportação Etanol 1.533

3 Consumo Interno 15

5

4 Preço do Etanol recebido pelos produtores 1,12

Preço do Etanol para os consumidores finais 2,30

1,18 0,96

cons relativo etanol hid %

2.309 961

2 Importação Etanol 413.741 1.000.411 82.671

milhões USD

mil L

R$/L

2,34 2,26

6

Preço dos combustíveis substitutos (Gasolina) 2,91 2,97 2,84

Preço dos combustíveis substitutos (GNV)

Produção de açúcar vs etanol 54,9 60,3 50,5

R$/L

Produção de açúcar vs etanol (Preço do açúcar) 55,38 62,27 46,92

1,85 1,91 1,78

Qualidade da matéria prima 135,48 137,54 133,33

Pol / Ec 19 Inflação 5,6946 6,5020 4,3120

13 Produtividade 78,9 91,1 67,9

15 Número de unidades produtoras 46 54 32

Prod

11

12

%

ATR/T

R$/sc de 50kg

16 14

Unid

R$/L

R$/m³

% etanol

T/ha

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206

Os valores obtidos foram tomados como base para a estratificação das variáveis em quatro segmentos distintos (Tabela 8).

Tabela 8: Componentes Estratificados

A Tabela 8 apresenta as segmentações (configurações) vislumbradas para as variáveis. As configurações que melhor atendem aos anseios da empresa irão compor o cenário Desejável, as configurações que mais se contrapões aos anseios da empresa irão criar o cenário Indesejável. E o cenário de Tendência do mercado de etanol terá os componentes julgados com mais possibilidade de ocorrência. A Tabela 9 apresenta a composição dos cenários.

Inc # Variáveis Indicador S 1 S 2 S 3 S 4

< 40

< 70

< 35

< 4.5

< 960

< 100,000

< 13

< 1.00

< 2.20

< 2.80

< 1.80

< 120

< 45

100,000 -

500,000

500,000 -

1,000,000 > 1,000,000

1.00 - 1.30 1.30 - 1.60 > 1.60

2.80 - 3.00 3.00 - 3.20 > 3.20

2.30 - 2.60 > 2.60

2.10 - 2.30 > 2.30

45 - 50 50 - 60 > 60

70 - 80 80 - 90 > 90

4.5 - 5.5 5.5 - 6.5 > 6.5

120 - 130 130 - 140 > 140

40 - 50 50 - 60 > 60

35 - 45 45 - 55 > 55

1.80 - 2.00

Cons

1 Exportação Etanol

3 Consumo Interno

5

4 Preço do Etanol recebido pelos produtores

Preço do Etanol para os consumidores finais

cons relativo

etanol hid %

2 Importação Etanol

milhões USD

mil L

R$/L

6

Preço dos combustíveis substitutos (Gasolina)

Preço dos combustíveis substitutos (GNV)

Produção de açúcar vs etanol

R$/L

Produção de açúcar vs etanol (Preço do açúcar)

Qualidade da matéria prima

Pol / Ec 19 Inflação

13 Produtividade

15 Número de unidades produtoras

Prod

11

12

%

ATR/T

R$/sc de 50kg

Unid

R$/L

R$/m³

% etanol

T/ha

960 - 1,300 1,300 - 2,300 > 2,300

14 - 18 18 - 25 > 25

2.20 - 2.30

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207

Tabela 9: Cenários

Após a análise das tabelas 8 e 9 e a seleção dos intervalos para as variáveis em cada cenário, foram sintetizados os valores a serem assumidos por variável em cada cenário conforme apresentado na tabela 10.

Tabela 10: Cenários - Síntese

# Variáveis Indicador S 1 S 2 S 3 S 4

Desejável

Tendência

Indesejável

< 4.5 4.5 - 5.5 5.5 - 6.5 > 6.5 19 Inflação %

> 55 15 Número de unidades produtoras Unid < 35 35 - 45 45 - 55

< 70 70 - 80 80 - 90 > 90 13 Produtividade T/ha

40 - 50 50 - 60 > 60

> 60

Produção de açúcar vs etanol (Preço do açúcar) R$/sc de 50kg < 40

12

Produção de açúcar vs etanol % etanol < 45 45 - 50 50 - 60

< 120 120 - 130 130 - 140 > 140 11 Qualidade da matéria prima ATR/T

Preço dos combustíveis substitutos (GNV) R$/m³ < 1.80 1.80 - 2.00 2.10 - 2.30 > 2.30

< 2.80 2.80 - 3.00 3.00 - 3.20 > 3.20

> 2.60

6

Preço dos combustíveis substitutos (Gasolina) R$/L

5 Preço do Etanol para os consumidores finais R$/L < 2.20 2.20 - 2.30 2.30 - 2.60

< 1.00 1.00 - 1.30 1.30 - 1.60 > 1.60

> 25

4 Preço do Etanol recebido pelos produtores R$/L

3 Consumo Internocons relativo

etanol hid % < 13 14 - 18 18 - 25

< 100,000 100,000 -

500,000

500,000 -

1,000,000 > 1,000,000

> 2,300

2 Importação Etanol mil L

< 960 960 - 1,300 1,300 -

2,300 1 Exportação Etanol milhões USD

# Variáveis Indicador Tend Desej Indesej

4.5 - 5.5 > 6.5 5.5 - 6.5 19 Inflação %

45 - 55 < 35 > 55

< 70

15 Número de unidades produtoras Unid

70 - 80 > 90 13 Produtividade T/ha

40 - 50 40 - 50 50 - 60

45 - 50 50 - 60 45 - 50

Produção de açúcar vs etanol (Preço do açúcar) R$/sc de 50kg

< 120

12

Produção de açúcar vs etanol % etanol

120 - 130 > 140

1.80 - 2.00 > 2.30 < 1.80

11 Qualidade da matéria prima ATR/T

< 2.80

Preço dos combustíveis substitutos (GNV) R$/m³

3.00 - 3.20 > 3.20

2.30 - 2.60 2.30 - 2.60 < 2.20

6

Preço dos combustíveis substitutos (Gasolina) R$/L

< 1.00

5 Preço do Etanol para os consumidores finais R$/L

1.00 - 1.30 > 1.60

14 - 18 > 25 < 13

4 Preço do Etanol recebido pelos produtores R$/L

> 1,000,000

3 Consumo Internocons relativo

etanol hid %

100,000 -

500,000 < 100,000

1,300 - 2,300 > 2,300 < 960

2 Importação Etanol mil L

1 Exportação Etanol milhões USD

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208

4.8. Caracterização dos Cenários

Com base nos Componentes definidos acima são caracterizados os cenários prospectivos. Convém que sejam observados os objetivos que levaram à utilização da Metodologia em questão para que sejam definidas a quantidade e a qualidade dos cenários a serem construídos.

Para fins deste estudo foram construídos três cenários das seguintes qualidades: Cenário-Desejável, ou seja, o que é favorável ao alcance da Visão definida no inicio deste estudo; Cenário-Indesejável, o mais desfavorável ao alcance da Visão da Empresa; e o Cenário de Tendência, o qual, na analise dos avaliadores consiste no de maior probabilidade de materialização.

É usual na metodologia de construção de cenários a atribuição de Nomes Próprios para se referenciar a cada um dos cenários construídos. Para fins deste estudo foi feito uso deste recurso. Os cenários prospectivos foram caracterizados pelos avaliadores conforme a seguir:

Cenário Desejável – Etanol: Orgulho Nacional

• Reajuste (real) no Preço da Gasolina e do GNV;

• Ampliação da demanda por etanol (PE > 70% PG);

• Melhora na Qualidade da Matéria Prima;

• Melhora na Produtividade dos Canaviais;

• Redução do Número de Empresas Produtoras;

• Fusões e Aquisições, Concentração do mercado produtor de etanol.

Cenário Indesejável – Sem Eira Nem Beira

• Aumento da Inflação;

• Redução na Produtividade e na Qualidade da Matéria Prima;

• Redução do Consumo Interno;

• Ampliação da Importação e Redução da Exportação de etanol;

• Aumento do Número de Empresas Produtoras.

Cenário de Tendência – Tudo De Novo De Novo

• Aumento da Inflação;

• Manutenção (reajuste mínimo) do Preço da Gasolina e do GNV;

• Redução da demanda por etanol (PE > 70% PG);

• Manutenção do Número de Empresas Produtoras.

Na metodologia adotada os cenários são inicialmente obtidos através do agrupamento dos componentes para cada uma das variáveis selecionadas.

Na caracterização dos cenários é imprescindível que seja verificada a razoabilidade na ocorrência dos componentes agregados. No estudo em questão foram destacados alguns fatores que o grupo de avaliadores considerou como improváveis na composição de um mesmo cenário.

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Cenário Desejável: Os componentes indicados acima foram subgrupados para a performance (neologismo!! Preferível usar o desempenho) da analise descrita acima.

Grupo A): Reajuste (real) no Preço da Gasolina e do GNV & Ampliação da demanda por etanol (PE > 70% PG) & Melhora na Qualidade da Matéria Prima & Melhora na Produtividade dos Canaviais.

Grupo B): Redução do Número de Empresas Produtoras & Fusões e Aquisições, Concentração do mercado produtor de etanol.

Na ocorrência dos componentes do Grupo A, os avaliadores definiram como improvável a ocorrência dos componentes e os componentes do Grupo B, uma vez que o Grupo A sugere atratividade para o setor e possível entrada de novos players, o que contraria o componente de concentração do mercado produtor de etanol e fusões e aquisições.

Desta forma, o cenário desejável foi re-caracterizado com relação ao componente em questão, através da seguinte substituição: De: Redução do Número de Empresas Produtoras & Fusões e Aquisições, Concentração do mercado produtor de etanol; Para: Manutenção do Número de Empresas Produtoras.

A mesma analise foi aplicada para os demais cenários, obtendo-se a seguinte caracterização:

Cenário Desejável – Etanol: Orgulho Nacional

• Reajuste (real) no Preço da Gasolina e do GNV;

• Ampliação da demanda por etanol (PE > 70% PG);

• Melhora na Qualidade da Matéria Prima;

• Melhora na Produtividade dos Canaviais;

• Manutenção do Número de Empresas Produtoras.

Cenario Indesejável – Sem Eira Nem Beira

• Aumento da Inflação;

• Redução na Produtividade e na Qualidade da Matéria Prima;

• Redução do Consumo Interno;

• Ampliação da Importação e Redução da Exportação de etanol;

• Redução do Número de Empresas Produtoras.

Cenário de Tendência – Tudo De Novo De Novo

• Aumento da Inflação;

• Manutenção (reajuste mínimo) do Preço da Gasolina e do GNV;

• Redução da demanda por etanol (PE > 70% PG);

• Manutenção do Número de Empresas Produtoras.

4.9. Estratégias para Geração dos Cenários Desejáveis

Uma vez definidos e caracterizados os cenários integrantes do estudo é importante que sejam traçadas estratégias para a geração do cenário desejável.

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MERCADO BRASILEIRO DE ETANOL: VISÃO PROSPECTIVA DE CENÁRIOS

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Para a geração do cenário Etanol – Orgulho Nacional os avaliadores traçaram as diretrizes estratégicas relacionadas aos três fatores críticos de sucesso: (1) Aumento do Preço do Etanol, (2) Aumento do Consumo do Etanol e (3) Melhora na Qualidade e Quantidade da Matéria-Prima.

• (1) PREÇO – governo(s) com plano político voltado para a redução da inflação real com impacto no reajuste do preço dos combustíveis;

• (2) CONSUMO - Articulação através dos agentes indicados no item 4.2 deste estudo para aprovação de incentivos ao consumidor final para a priorização do consumo do etanol (sistema de pontos pela utilização do Etanol vinculado a descontos progressivos no IPVA, redução da carga tributaria, entre outros) em detrimento dos outros combustíveis;

• (3) MATERIA-PRIMA - Programa de Incentivo aos Fornecedores com Investimentos em aumento da produtividade dos canaviais e principalmente para o aumento da qualidade da matéria prima;

• (3) MATERIA-PRIMA - Estabelecer parcerias com fornecedores que apresentem níveis históricos elevados na qualidade da matéria prima.

4.10. Monitoramento da Materialização do Cenário-Desejável

Para o Monitoramento da Materialização do Cenário Desejável foram estabelecidos pelos avaliadores Nove Indicadores. O Monitoramento consiste por sua vez na avaliação dos resultados obtidos ao longo do tempo contra os resultados esperados para o Cenário Desejável.

Desta forma, com base nos componentes do Cenário Desejável foram estabelecidas Metas para cada um dos Indicadores de Monitoramento de Materialização do Cenário Desejável. Os Indicadores e suas respectivas Metas são listados na Tabela 11:

Tabela 11: Indicadores e Metas de Materialização do Cenário Desejável.

O indicador 1 caracteriza uma necessidade de ter-se deputados/senadores, com interesse na área de etanol, e assim voltados a apoiar o setor. A existência destas pessoas facilitaria que o indicador 2 possa ocorrer. E desta forma os indicadores devem ser acompanhados.

4.13. Efeito Canônico e Plano de Contenção

Como apresentado no item 4.8, Clima foi caracterizado como efeito canônico, uma vez que Impactava todas as Variáveis e não era Impactado diretamente por nenhuma outra variável. Como Clima, para fins do estudo em questão, considera-se Estiagem, Alagamentos, Seca, Temperaturas extremas nos canaviais. Além do Clima outro efeito canônico mapeado foi mapeado pelos avaliadores: Pragas nos canaviais. Para ambos os efeitos canônicos foi definido o seguinte Plano de Contenção:

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Plano de Contenção:

• Formação de Fundo Mútuo para gestão de catástrofe. • Incentivar Contratação de Seguro Agrícola pelos fornecedores. • Aumento na tecnologia de estocagem de matéria prima. • Cálculo de produção reserva.

5. CONCLUSÕES

O presente artigo vem acrescentar a aplicabilidade do conceito da prospecção de cenários para o setor nacional sucroalcooleiro.

Mais abrangente que os resultados obtidos no estudo em questão, o artigo propõe a reflexão quanto as diferentes possibilidades de futuro, e, por sua vez, o quanto o presente pode influenciar o futuro.

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