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Brasília -Fevereiro de 2016 - Ano V- N° 43 Angola: a terra mãe do coração Pra começo de conversa (pág. 2)) (pág. 4-5-6) (pág. 7) Missionária morre em Moçambique ( pág. 3) 63 jovens visitaram os mais pobres Jovens em férias no Pará: experiência missionária Pe. Marcos relata a difícil situação da mulher naquele país Aquele que escutou o chamado do Mestre para pregar o Evangelho a todos os povos, não pode ficar acomodado. Um modelo é a religiosa Ir. Amelia Marcon falecida em Moçambique no ano passado. Ainda em 2012 escreveu ao jornal Par- ceiros das Missões: “quem opta pela Missão e pelo Reino não consegue acomodar-se”. Deus escolhe pessoas especiais para se dedicarem à pregação da boa nova. E estas pessoas simplesmente disse- ram sim e se entregaram à paixão pela vida de total doação. Este é o perfil de um legítimo missi- onário, exemplo para os novos discípulos de Cris- to, neste século 21. Nesta edição, retratamos a difícil vida dos missionários e missionárias em países distantes bem como em terras do Mato Grosso e Amazonas e homenageamos os que doaram sua vidas pela Causa. Novas amelias e bernardetes surgirão ca- minhando pela trilha por elas deixadas em novos caminhos missionários. Vale a pena ser missioná- rio ou missionária! O editor Ir. Bernardete

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Brasília -Fevereiro de 2016 - Ano V- N° 43

Angola: a terra mãe do coração

Pra começo de conversa

(pág. 2))

(pág. 4-5-6)

(pág. 7)

Missionária morre em Moçambique ( pág. 3)

63 jovens visitaram os mais pobres

Jovens em férias no Pará: experiência missionária

Pe. Marcos relata a difícil situação da mulher naquele país

Aquele que escutou o chamado do Mestrepara pregar o Evangelho a todos os povos, não podeficar acomodado. Um modelo é a religiosa Ir.Amelia Marcon falecida em Moçambique no anopassado. Ainda em 2012 escreveu ao jornal Par-ceiros das Missões: “quem opta pela Missão e peloReino não consegue acomodar-se”. Deus escolhepessoas especiais para se dedicarem à pregaçãoda boa nova. E estas pessoas simplesmente disse-ram sim e se entregaram à paixão pela vida detotal doação. Este é o perfil de um legítimo missi-onário, exemplo para os novos discípulos de Cris-to, neste século 21.

Nesta edição, retratamos a difícil vida dosmissionários e missionárias em países distantesbem como em terras do Mato Grosso e Amazonase homenageamos os que doaram sua vidas pelaCausa. Novas amelias e bernardetes surgirão ca-minhando pela trilha por elas deixadas em novoscaminhos missionários. Vale a pena ser missioná-rio ou missionária!

O editor

Ir. Bernardete

TESTEMUNHO2

Jornal Digital das Pontifícias Obras Missionárias do Brasil

Brasília -Fevereiro de 2016 - Ano V - N° 43

Diretor: Pe. Camilo Pauletti

Edição: Jorn. Camilo Simon ( Reg. Prof. n° 3248)

SGAN 905 - 70790-050 Brasília - DF Fone 3340.4494E-mail: [email protected]

63 jovens realizam experiência missionária no Pará

Os 63 jovens participantes da primeira Expe-riência Missionária das Pontifícias ObrasMissionárias, que aconteceu em Ananindeua, regiãometropolitana de Belém (PA), de 5 a 15 de janeiro,realizaram, além de visitas às casas, atividades re-creativas que promoveram a dignidade humana e ocuidado com a natureza. A partir de oficinas sobremeio ambiente, direitos humanos e saúde comuni-tária, os jovens prestaram serviços missionários apartir de suas formações profissionais.

As temáticas trabalhadas pelos jovens foramescolhidas após um mapeamento das necessidadesfeito pela equipe local. “Não estamos ensinando,mas despertando o sentido de que é possível mu-dar, melhorar, nos cuidarmos mais”, comentaLeidiane dos Santos, integrante da equipe de orga-nização da Missão. “Temos a esperança de que quan-do acabarmos a experiência, tanto as famílias visi-tadas, quanto as pessoas atendidas nas ações, con-tinuem a promover a mudança, contribuindo paraa vida comunitária”, observa.

Saúde comunitária“Trabalhamos para ajudar na conscientização

da comunidade de que a saúde é um direito. A mis-são é fazer com que esses direitos sejam respeita-dos e a saúde comunitária é pensar o bem comumde um povo”, ressalta Camila Fernandes, coorde-nadora da Juventude Missionária (JM) do Piauí e umadas facilitadoras da oficina sobre saúde comunitá-ria. “Fazemos as visitas pela manhã. Nelas conse-guimos partilhar a vida com as pessoas e assimmapeamos as maiores deficiências nas três áreas.Durante a tarde, no salão das comunidades, orien-tamos ações a partir do que vimos”, ressalta.

Meio ambiente“Desejamos mostrar às comunidades que é

possível, através das alternativas apresentadas,buscar um novo estilo de vida que se torna maiscoerente com uma cultura que gere menos impactoao meio ambiente”, ressalta Solivan Altoé, coorde-nador da Juventude Missionária do Espírito Santo eum dos facilitadores da oficina sobre meio ambien-te. “Há alternativas sustentáveis, como a coletaseletiva e a reciclagem, a compostagem, o trata-mento da água com sementes de moringa. Essastecnologias sociais, que se adaptam a realidade,são alternativas de baixo custo que promovem be-

nefícios ambientais e econômicos às famílias queaderem”, lembra.

Direitos humanos“Tornar conhecido os direitos nas comunida-

des onde estamos, que são localidades pobres. Apartir desta oficina relembramos a sacralidade davida, a partir do Evangelho, dos documentos da Igre-ja, como a Encíclica, de São João XXIII, Pacem inTerris, um tratado sobre a paz entre todos os povos,a justiça, o amor e a liberdade”, ressalta MarcianoPereira. “Nas reflexões buscamos ajudar as pessoasque garantam sua dignidade. É preciso lembrar quetodos somos filhos e filhas de Deus e que a vidadeve ser respeitada”. (Guilherme Cavalli, secretá-rio da Juventude, das POM))

TESTEMUNHO 3

Missionária gaúcha morre em acidente de carro em Moçambique

Ir. Bernardete pertencia à comunidade deJécua composta por cinco irmãs. (Ir.Bernardete é a segunda da esquerda para adireita)

Ir. Bernardete

As Pontifícias Obras Missionárias (POM)prestam uma homenagem póstuma à missionáriagaúcha Ir. Bernardete Fengler, da CongregaçãoNotre Dame, que faleceu no dia 20 de janeiro, nacidade de Chimoio, Moçambique, onde exercia suaatividade em Jécua. Foi vítima de um acidenteautomobilístico.

Ir. Bernardete era natural de Carazinho esua vida foi marcada pela adesão total ao Mestre,a ponto de partir para a missão da Congregaçãoem Moçambique, depois de exercer inúmerasatividades no Brasil. Ainda no dia 5 de janeiro de2016 esteve visitando sua família e participandodo Capítulo da Congregação. No dia 7 de janeirovoltou a Chimoio, onde sofreu um acidente que alevou ao hospital, vindo a falecer.

Há mais de vinte anos que a Congregaçãoexerce missão além-fronteiras em Moçambique.Em 1994, a Congregação Notre Dame assumiu umtrabalho de formação de lideranças a nível dediocese e trabalhos sociais, tais como: organizaçãoe construção de escolas comunitárias, latrinas efuros para água, saúde preventiva, alfabetizaçãode mulheres, grupos de mulheres para produçãode pão. No ano de 2000 foi a vez do Lar Femininocom 84 internas de 8ª à 12ª classe na Missão deJécua. E continuou com o trabalho de pastoral dasaúde, grupos de mulheres, pastoral paroquial esaúde preventiva.

A comunidade informa que as vilas de Maia Murungu de Jécua atualmente está com asseguintes atividades: educação de meninasadolescentes e jovens no Lar Cristo Rei, medicinanatural, direção da Escola Secundária ComunitáriaCristo Rei de Jécua, projetos pastorais, Comissãode Justiça e Paz a fim de ajudarmos na emergentereconstrução do país, assistência aos pobres,viúvas, desenvolvimento das comunidades,elaboração de material para as pequenascomunidades cristãs da Paróquia. Colaboramos nas

pastorais da Paróquia como catequese, jovens,famílias, Infância Missionária, Justiça e Paz,evangelização, nas comissões diocesanas e naUniversidade Católica de Moçambique. Ir.Bernardete esteve envolvida em todas estasiniciativas.

Comunidade Júria Munatsi - ChimoioNo ano de 2001 formamos nova comunidade

no bairro Sete de Abril, na cidade de Chimoio, capitalda Província de Manica. Temos uma casa deformação para nossas vocacionadas à vida religiosa.

Nesta localidade percebemos a grandenecessidade de uma escolinha informal para ascrianças que ali vivem, pois estas passam grandeparte do dia a brincar nas ruas. Em janeiro de 2010,iniciamos a construção de um alpendre para atendercrianças de 3 a 5 anos. Em julho de 2010 iniciamosas atividades com 50 crianças de 3 a 5 anos. No dia02 de maio de 2011, abrimos a escola, com 60 alunosdivididos em três turmas conforme a idade de 3, 4e 5 anos. Em 2012 tivemos 105 crianças de 3 a 5anos, divididas em quatro turmas. Em 2013 inicioucom a 1ª classe. E assim, gradativamente, com aEscola Básica, de 1ª a 7ª classe.

Além da Escola temos as seguintes atividades:- Casa de formação de Aspirantes ND.- Comunidade Cristã local: Pequenas comunidadescristãs e pastorais diversas.- Paróquia: catequese, vocações, pastoral do dízimo,Legião de Maria, Infância e Adolescência Missionária,formação de lideranças, ministros da Eucaristia.- Diocese: Secretariado e participação nas comissõesdiocesanas.

As POM solidariza-se com a CongregaçãoNotre Dame, que perdeu uma de suas missionárias.Certamente esta morte será semente de novasvocações missionárias para a Igreja.

TESTEMUNHO4

Angola terra da Mama Muxima (mãe do coração)

São muitos os testemunhos demissionários brasileiros em terrasdistantes. Aqui o Pe. Marcos Gumieiro,da Congregação da Missão (Vicentinos) nosrerata seus sentimentos na Missão deLombre, Malanje, em Angola e a situaçãoda mulher naquele povo. “Hoje, dia 30 de julho completo meusprimeiros seis meses na Missão de Lombe – Malanje- Angola, e partilho um pouco da experiência destepouco tempo nesta realidade onde a cada dia quepassa tenho a oportunidade de acompanhar eentender um pouco mais a vida do povo que lutadia a dia para não morrer tão rápido. Em Lombe,muitas vezes me sinto como médico em seuconsultório, as pessoas chegam e apresentam ossintomas de suas enfermidades ¡Que me dói acabeça! ¡Que me dói o peito! ¡Que me dói a colunae os pés! ¡Que não consigo caminhar! ¡Que nãoconsigo trabalhar! ¡Que não consigo comer nembeber! E despois de tudo isso: ¡Que não tenhoremédio! ¡Que não tenho dinheiro! ¡Que não tenhoquem me de algo! ¡Que já tentei de tudo! E ao final¡Que só se entregou a Deus! ou ¡Que já morreu! Aspessoas temem dramaticamente estar doentes, poissabem por experiência que dificilmente sairão comvida. No entanto, o melhor da vida é ter saúde.Isto eles manifestam na maneira de cumprimentarno início do dia: Como dormiste? Como passou anoite? Como está o corpo? Como está a vida? Saudardesta maneira é um rito que seguem pequenos egrandes, seja em português ou em kimbundo, eaponta diretamente ao tema de maior interessedesta gente: a saúde e a esperança de se recuperarlogo. A melhor resposta e pela qual vale a pena dargraças é: “dormi bem” (ngansequele kyambote),mas quando têm um pouco mais de confiança aresposta é “não estou nada bem” (Kingansequelekyambote). Como não sou médico, nem psicólogo, nemsociólogo, não pretendo analisar os traumas físicos,psíquicos e sociais das enfermidades desta gente(ainda que seria conveniente fazer), senão oqueme detêm no que encontro como maior contradiçãoa vontade de Deus para todos seus filhos e filhas domundo inteiro: que tenham vida e a tenham emabundância ! Creio que em Angola, ou mesmo emLombe, não posso dizer que esta gente tem vidaem abundância, pois se acaba rápido, melhordizendo, muito rápido. E como a causa da morte,fora da nossa fragilidade, sempre é o pecado, amorte de os angolanos encontra sua raiz última nainjustiça. O que ocorre é que esta gente depois de

tantas injustiças vividas diante do que lhes restaantes de morrer são precisamente as enfermidades.Disto sofrem todos os angolanos e angolanas pobres,é dizer, aqueles que não pertencem a classe político-militar (e hoje pode-se agregar, empresarial), massofrem de uma maneira mais profunda e aceleradaas mulheres pobres e os filhos e filhas destasmulheres. É deles que quero lhes falar, pois são, aomeu modo de ver Jesus cruxificado em Angola, tãohumilhados e tão vulneráveis como antes na colinado Gólgota. A imagem que coloco logo abaixo, é deuma senhora da aldeia Talahari(em Kimbundosignifica sofrimento), que acaba de regressar daroça e carrega a sua filha às costas.

1. As mulheres Angolanas-camponesas nascem,crescem, se reproduzem e morrem quase comoescravas.

A Constituição da República de Angola (2010)afirma que este país “é uma república soberana eindependente baseada na dignidade da pessoahumana. O objetivo fundamental é construir umasociedade livre, mais livre de verdade. Como emmuitos de nossos países latino americanos, a mulhersegue sendo submetida pelo homem e recebe umadupla ou tripla marginalização: ser pobre, sercamponesa e ser mulher. Não posso negar que

TESTEMUNHO5

professor, ao soba (rei da aldeia), etc. Com tantainferioridade ela está exposta a todo tipo dehumilhações e abusos e os recebe como “normais”e até “justos”. ( Continua na pág.6)

existem alguns sinais de mudanças(mulheres em cargos públicos,mulheres estudando nasuniversidades, inclusive no exterior,mulheres apoiadas e amadas por seusesposos, mulheres que vivem emliberdade e respeito), mas ainda faltamuito por fazer, sobretudo tratando-se de uma comunidades rural comoLombe.

Quando caminho pelos bairrose comunidades de nossa missão, nofinal da tarde, encontro o homemsentado na cadeira ou no banco e amulher sentada no chão. Quandoentro nas pequenas capelas da nossaparóquia encontro os homenssentados nas cadeiras ou bancos e asmulheres sentadas na esteira. Nacasa a mulher é a responsável decozinhar, buscar água no poço ou norio trazendo a vasilha sobre a cabeça,lavando a roupa, carregando o filho amarrado nascostas. No entanto, o marido e os filhos homensmaiores, sentados esperando a comida ou a águapara beber, também ficam incomodados com o chorodas crianças mais pequenas e se sentem comautoridade para chamar a atenção da mulher paraque acalme a criança.; as vezes estão bêbados.

Quando vou de uma comunidade para outra,muito cedo, pois saímos as 06 hs da manhã, encontromuitas mulheres com seus cestos, bacias ou algumaoutra vasilha de água na cabeça. Caminham rumo aroça, quase sempre vão sozinhas ou em grupos desenhoras com as filhas mais velhas. Se acaso omarido estiver junto, quem leva a carga é a mulher.

Quando pergunto às mulheres se sabem ler, aresposta geralmente é a mesma: “não”. Quando lhespergunto se desejariam aprender a ler a resposta –não verbal –geralmente é a mesma: um sorriso, umbaixar a cabeça e um olhar perdido. Nisto não sedistinguem muitos os homens, mas o número maiorde analfabetos são as mulheres.Amulher camponesa é a analfabetaque trabalha a terra caminhandolongas distancias debaixo do sol ouda chuva, tossindo, descalças e comos pés rachados, resistindo dores, epreocupadas com os filhos que deixouem casa, com a preocupação por nãochegar noite em casa e atrasar apreparação da comida, geralmentepreparada num fogareiro a carvão nopátio da casa. A mulher é a que lavaa roupa, cuida das crianças, busca aágua, corta a lenha, etc. Ela é aresponsável por tudo e é inferior aseu marido, ao catequista, ao

Buscando água

Pe. Marcos na missão ao lado e embaixo

TESTEMUNHO6

2. Os filhos são lançados ao mundo e somentealguns se salvam

Ser filho de uma mulher tão pobre, tãovulnerável, tão “nada” é o pior que possa ocorrera alguém em Angola. E assim é, os filhos destasmulheres são os mais expostos à morte e sem medode me equivocar me atrevo a dizer que, morrempelo menos a metade dos que nascem.

A mulher ignorante permite que assassinemseu filho quando o acusam de feiticeiro. A mulheralcoólatra mata a seu próprio filho que carrega nascostas, quando deita em cima da criança ou aodeixar a criança cair no chão. A mulher que não éatendida no posto médico edeixa que seu filho doenteseja tratado com ervas, raízese alguns amuletos que muitasvezes não dão os resultadosesperados. A mulher sozinhaque necessita ser protegidapor um homem, se ajunta comum e logo com outro, se oprimeiro lhe repudia, cada umdeles lhe dá filhos, mas comotodos estão sob seus cuidados,muitos escapam de sua vista,comem terra, recebem golpesna cabeça e em outras partesdo corpo pelas constantesbrigas com outros meninos,por acidentes de carro oumoto, caindo de árvores,queimaduras com água quenteou óleo quente. A mulherlavradora, se consagra à suaterra como se fosse umcasamento. Todos os dias,durante o tempo de sua vidasempre vai para a roça, quasesempre deixa em casa os seus filhos para que vão àescola e cuidem dos mais pequenos (Já presencieisituações onde a criança mais velha tinha somente7 anos e ficava cuidando dos irmãos menores),então as possibilidades de morte destas criançascresce espontaneamente, pois os pequeninos ficamaos cuidados de outro pequeno.

Os acusados de feticeiros, os desnutridos edesidratados nas costas de suas próprias mães, osque vão á escola sem comer, os que não esperamum almoço, os que só comem a noite quando amãe tem vontade de cozinhar, os abandonados, osatropelados nas ruas, os que brincam de uma casaa outra quando morrem seus responsáveis, os quenão voltam a ver a seus irmãos, os que não estudam,os que têm dez anos e ainda estão na primeira sérieda escola, os que não recebem roupas novas nemrecebem presentes nem nenhum tipo de carinho,os que têm malária e não são atendidos nos postos

médicos, os que não entendem nada e aguentamtudo no silêncio, os sempre sujos e com os olhos ecabelos cheios de pó, com barrigas grandes equeimaduras na pele, os que sempre pedemdinheiro e passam fome, os que ainda sendomeninas se convertem em mães… Eis realidade dasmulheres pobres e de seus filhos. Não é toda arealidade, pois também se encontram exceçõesagradáveis. Existem famílias exemplares, paisresponsáveis, mães conscientes e filhos bemcuidados, mais são precisamente isso, exceções. Agrande maioria dos que participam na Igreja são asmulheres e as crianças. As mulheres com suas roupascoloridas, com seus panos envoltos nos ombros e

amarrados à cintura, com estampas do sagradoCoração de Jesus, Coração de Maria, Nossa Senhoradas Graças, de Fátima, de Lourdes, São José, etc.,parecendo uma ladainha viva.

Ao olharmos para o Evangelho vemos queNosso Senhor Jesus também viveu num ambientemuito parecido, cheio de doentes físicos e mentais,de mulheres repudiadas e crianças considerados osúltimos da sociedade, mas pensou e fez as coisasde uma maneira diferente, pois as incluiu em seumovimento, pois também eram discípulas e recebeuàs crianças pedindo com insistência “deixem queeles venham a mim, não os impeçam”.Peço ao Senhor que não permita que eu passe semcontemplar estes feridos pelos caminhos de Angola.Um grande abraço a todosUnidos na oração e na missão

Pe. Marcos Gumieiro, CM

As mulheres com vestes de festas

TESTEMUNHO 7

Segundo informou o Padre Guido Boufleur dadiocese de Santo Ângelo, no seu relato sobre suaviagem a Guiné-Bissau, “este projeto envia profes-sores de filosofia, e teologia para as dioceses deBissau e Bafafá, durante o período de férias escola-res no Brasil. No decorrer destes últimos anos jáatuaram neste projeto diversos professores/as. Nomês de janeiro de 2013, quem veio pelo projetopara lecionar na área bíblica foi Padre Décio Walker,padre da diocese de Santo Ângelo, RS. Em 2014 fuiconvidado para ministrar a cadeira de História daFilosofia Antiga e Medieval. Agora, no mês de ja-neiro de 2016 repetiu-se o convite. Os alunos sãodóceis, atentos e bem interessados quanto à expla-nação da temática própria à disciplina da Históriado Pensamento pela forma como ele se desdobrouno Ocidente desde o tempo dos gregos.

Quanto à atividades pastorais, aos sábados edomingos em paróquias das dioceses de Bissau eBafatá, o que dava para dizer é que estas quatrosemanas passaram muito rápido. Fazer parte de umamissão como esta, que não ultrapassa, a bem dizer,a um período de férias dos padres no Brasil, é claro,vale como uma experiência expressiva em ordem atoda uma visão de Igreja e definitiva relativa às ati-vidades pastorais que tenho pela frente na diocesede Santo Ângelo, RS, diocese na qual me cabe exer-cer o ministério presbiteral.

Projeto missionário da CNBB envia professores a Guiné-Bissau

Realidade de Guiné-BissauA Guiné-Bissau, país lusófono, ou seja, país

de língua portuguesa está situado acima da linhado equador, na costa ocidental da África, aproxi-madamente na mesma altura como o Estado daBahia, no Brasil. Quanto ao clima, o ano se divideem dois períodos: a estação das chuvas,correspondendo aos meses maio a outubro aproxi-madamente e o período em que não chove,correspondendo aos demais meses. O mês de janei-

ro corresponde, então, em cheio ao período em quenão chove, com clima ameno. Mesmo quecorresponda à estação do inverno no hemisférionorte, não chega a fazer frio, nem calor.

A Diocese de Bissau foi criada em 1977, comsede na capital, sendo que no ano de 2001 foi cria-da, na região leste do país, ainda a diocese de Bafatáe que desde então está aos cuidados do bispo DomPedro Zilli, brasileiro, natural de São Paulo e que jáatuava no país desde o ano de 1984, como missio-nário da congregação do PIME. As duas dioceses cri-aram recentemente, além do já existente seminá-rio para cursos de nível médio, um semináriointerdiocesano para os cursos propedêutico, filoso-fia e teologia, contando com a participação de se-minaristas da Ordem dos Franciscanos e da Congre-gação do Preciosíssimo Sangue, somando ao todo25 estudantes. As aulas, desde língua portuguesa,latim, história geral e matérias diversas da área doscursos de filosofia e teologia são ministradas porpadres da casa e padres das diversas paróquias daregião, além de professores que provêm do Brasil ePortugal.

O seminário conta com dois prédios. Um pri-meiro prédio, com dois pisos, destinado para aloja-mentos e outro prédio, para salas de aula, bibliote-ca, refeitório e demais dependências da cozinha. Apreparação dos alimentos está aos cuidados de umaequipe de senhoras que, a cada dia, vem prestareste e demais serviços para a casa. No pátio do se-minário há uma torneira onde seguidamente se reú-nem senhoras e crianças da vizinhança para buscarágua fornecida pelo poço artesiano da casa.

Quanto à comunicação entre os padres e es-tudantes considerem-se três idiomas, a saber: o por-tuguês como língua oficial; o kriol, como língua na-cional e as línguas étnicas próprias a cada grupohumano ou região do país, passando de 30 idiomasdiferentes. Boa parte dos estudantes são iniciantesna prática da língua portuguesa. Por isso o seminá-rio oferece também aulas de português ministradaspor um padre missionário da congregação do

Dioceses de Guiné-Bissau

Padre Guido com os alunos

TESTEMUNHO8

Preciosíssimo Sangue, natural de Portugal. No currí-culo do curso propedêutico e do curso de filosofiaconstam também aulas de latim e grego bíblico.Para a biblioteca da casa, Dom Pedro Zilli realizou,noutro ano, junto a padres em diversas dioceses deSão Paulo e do norte do Paraná uma campanha paraa arrecadação de livros da área de filosofia e teolo-gia. A campanha resultou em uma quantia grande decaixas de livros, mas que nem todas ainda foramdesencaixotadas pela simples falta de estantes paracomportar todo o material.

Para a matéria de História da Filosofia antigae medieval, que está aos meus cuidados no curso defilosofia, o material disponível na biblioteca está bema contento. Se eu tivesse trazido comigo ao menosum mínimo de material referente à língua grega, opadre Marcos, o responsável pelo currículo de aulasjá tinha até programado algumas aulas de grego paraeu ministrar no curso propedêutico.

Arquipélago de BijagósO Arquipélago dos Bijagós faz parte da Guiné-

Bissau e é constituído por 88 ilhas situadas ao largoda costa africana, classificadas pela UNESCO em 1996como reserva da biosfera. Esta reserva conta comuma diversificada fauna na qual se contam, entreoutras espécies macacos, hipopótamos, crocodilos,aves pernaltas, tartarugas marinhas e lontras.

O arquipélago tem uma área total de 2.624km2 e uma população orçada em cerca de 30.000habitantes. Apenas 20 das ilhas têm populações sig-nificativas, já que a maioria ou são desabitadas outêm populações muito reduzidas.

A maior parte da população do arquipélagopertence à etnia bijagó e dedica cerca de cem diaspor ano a rituais religiosos.

Os bijagós constituem um povo africano quehabita o arquipélago dos Bijagós, na região da Guiné-Bissau. Não constituem um povo homogêneo, massim um conjunto de grupos sociais, conscientes deuma unidade étnica fundamental, com idiomas ecostumes variados, que divergem de ilha para ilha,e até dentro da mesma ilha.

Os bijagós terão chegado a estas ilhas depoisde terem sido derrotados por outros povos do conti-

nente e construído as suas aldeias no centro dasilhas, em plena floresta, para melhor se defende-rem. Contudo, existem outros grupos étnicosguineenses que coabitam com os bijagós nestemeio insular.

O bijagó autóctone é tradicionalmente li-gado às atividades agrícolas, pois a economia doarquipélago repousa essencialmente na agricul-tura. Quanto à pesca, essa constitui uma ativida-de complementar e de subsistência. As mulheresdedicam-se igualmente à apanha do marisco ebivalves, principal fonte de proteína animal dapopulação bijagó. Em comparação com outros gru-pos étnicos da região, os Bijagós são de pele mui-to mais escura, sendo um dos grupos mais con-servadores do país na preservação da sua cultu-ra.

A ilha de Orango tem uma sociedadematriarcal onde as mulheres escolhem os mari-dos ao lhes cozinhar um prato (tradicionalmentepeixe) que, sendo aceito e comido pelo pretendi-do, se torna o selo da união.

A ilha de Bubaque é a ilha principal do Ar-quipélago dos Bijagós na Guiné-Bissau e tambémé o nome da sua principal cidade. A ilha é conhe-cida por sua vida selvagem e tem uma área flo-restal muito grande. É ligada por balsa a Bissau etem um aeroporto.

A ilha de Bubaque, com uma área de 48km2, dezoito dos quais são pântanos alagados pelooceano durante a maré alta, está situada no can-to sudeste do arquipélago. É a ilha mais afetadapela presença dos europeus, escolhida pelos co-lonizadores alemães antes da I Guerra Mundial epelo Governo Português depois de 1920, como ocentro principal das suas atividades no arquipé-lago. Os alemães construíram ali uma fábrica paraa extração do óleo de palma ou óleo de dendê,um porto para navios de pequena e média tone-lagem na parte setentrional e uma quinta experi-mental em Etimbato, uma tabanca (aldeia) nointerior da ilha. ( Padre Guido Boufleur)

Missão em Bubaque

Missa junto à comunidade

TESTEMUNHO 9

Três missionários salesianos recebem título Honoris Causa no Mato Grosso

As Pontifícias Obras Missionárias(POM) unem-se à homenagem presta-da a três missionários salesianos, quedoaram suas vidas em prol das mis-sões ente os índios Bororo e Xavante,no Mato Grosso: Ir. Adalbert Hide, Pa-dre Bartolomeu Giaccaria e Padre Gon-çalo Ochoa. Como parte das comemo-rações pelo bicentenário do nascimen-to de Dom Bosco, a Universidade Ca-tólica Dom Bosco (UCDB), da Inspeto-ria Salesiana de Campo Grande, con-cedeu o título “Doctor Honoris Causa"a estes três missionários. A Congregação salesianaestá há 121 anos, junto a estes índios.

Os homenageados são os seguintes:

Irmão Adalbert HeidSistemático, disciplinado, organizado e com

grande curiosidade científica, o irmão (ou Mestre –como os coadjutores são conhecidos no Brasil)Adalbert Heide é um alemão apaixonado pela cul-tura indígena. Nasceu em 1934, em Ratibor, cidadeque pertencia à Alemanha e que, depois da guerra,passou a pertencer à Polônia. Logo após a sua pro-fissão religiosa assumiu a sua vocação missionáriano Brasil. Aos 23 anos realizou o seu sonho de en-trar em uma missão indígena. Foi em Sangradouro,em meio ao povo Xavante que ele passou a fazer oque realmente sonhava.

O mestre se adaptou rápido à cultura, inclu-sive no domínio total do idioma xavante. Tanto éque entre as atribuições assumidas por ele estavamas de intérprete, professor da língua Xavante e decultura religiosa, assessor de jovens índios, escritore tradutor em Xavante da missa e de muitos textosda bíblia. Um dos trabalhos mais reconhecidos é aautoria da escrita e numeração xavante e a coautoriados livros “Xavante povo autêntico”, “JerônimoXavante sonha: contos e sonhos”, publicados em1972 e 1975.

Padre Bartolomeo GiaccariaAos 82 anos, o sacerdote salesiano

Bartolomeo Giaccaria, natural de Chiusa Pesio(Cúneo) – Itália, continua a percorrer as missõessalesianas em estradas precárias para anunciar oevangelho.

Desde 1961, ele leva o amor a Jesus Cristo ea devoção a Dom Bosco aos Bororos e Xavantes pormeio da itinerância missionária. Ali, o sacerdote pas-sou a coletar elementos linguísticos e gramaticaisda língua Xavante para redigir um dicionárioxavante-português. A edição provisória e reduzida

da obra foi publicada com mais de mil verbetes,em 1957. A partir do ano seguinte, seguiu com aspublicações da cartilha bilíngue e o catecismobilíngue (xavante – português). Duas de suas obrasliterárias foram reconhecidas internacionalmente:os livros: “AuweUptabi – UominiVeri: Vita Xavante”e “Jerônimo Xavante Conta e Jerônimo Xavante So-nha” – traduzidos em espanhol e inglês – e publica-dos pela Universidade de Quito e da Califórnia.

Padre Gonçalo OchoaPadre Gonçalo Alberto Ochoa Camargo tem

85 anos e há 48 anos trabalha na Aldeia Meruri, daetnia bororo. É autor de vários livros, entre elesuma das partes da Enciclopédia Bororo, “A HistóriaMítica Bororo”, “Lendas Bororo”, “Novo Testamen-to em Língua Bororo” e de leituras bíblicas usadasem missas e sacramentos. Sempre teve seriedadede seu trabalho em pesquisas antropológicas, a per-severança para enfrentar as dificuldades do idio-ma e o aprendizado da nova cultura foramtranspassadas pela sua força de vontade em con-quistar um sonho: de ser missionário entre os indí-genas.

Padre Ochoa sempre viveu a mística do estu-do e da ação, do rezar a práxis, de ser caminheirocom o povo bororo, de respeitar a cultura ecompreendê-la e amá-la para então evangelizar.

A Missão Salesiana de Mato Grosso mantémquatro presenças missionárias entre as etnias Bororoe Xavante, em Mato Grosso, MT. São as comunida-des salesianas Sagrado Coração de Meruri, São Joséde Sangradouro, São Marcos e a Casa Filipi Rinaldi,em Nova Xavantina. Atualmente 15 salesianos en-tre padres e irmãos (chamados carinhosamente pormestres) desenvolvem atividades de cidadania,educação, evangelização e de sustentabilidade, emsintonia com essas culturas. Muitas delas assumi-ram o cristianismo em suas histórias e a devoçãomariana foi incorporada com muito fervor. (Textocondensado)

Fládima Christofar

Os três homenageados

Ir. Amelia: 30 anos de doação missionária em Moçambique

TESTEMUNHO

Uma das primeiras missionárias brasileiras emsolo moçambicano, Irmã Amelia Marcon, 77 anos,faleceu na terça-feira, 1º de dezembro, emNampula, Moçambique, onde estava há 30 anos.Religiosa da Congregação das Irmãs do ImaculadoCoração de Maria, doou-se incansavelmente, na açãoevangelizadora junto aos irmãos moçambicanos. Emtestamento, pediu para ser sepultada junto ao povo“que lhe deu uma nova família”.

Amelia Marcon nasceu no dia 10 de julho de1938 em Turvo/SC. Em 1954, ingressou na Congre-gação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria,em Gravataí/RS. Professou votos religiosos em 1962.Em 1983, depois de pedido da igreja de Moçambiqueà Igreja brasileira, por especial solicitação do en-tão presidente da CNBB, Dom Ivo Lorscheider, a Con-gregação decidiu enviar as Irmãs Lady Ribeiro, IrmaToniolo, Lidia Maria Viera e Amelia Marcon para amissão evangelizadora, em Moçambique. As Irmãschegaram ao país, em 1985.

Em solo africano, Irmã Amelia e suas compa-nheiras atuaram na missão evangelizadora, espe-cialmente em comunidades onde não havia padres.Trabalharam na catequese, formação de lideran-ças, saúde alternativa, hospital, animaçãovocacional, educação formal e popular. As Irmãstambém vivenciaram, junto com o povo, o sofri-mento da guerra civil, encerrada somente em 1992.

Sobre sua morte, a religiosa pediu, em testa-mento: “No que diz respeito à minha vida após amorte, bem consciente, digo que podem deixar omeu corpo onde dediquei minha vida. Se estiver emMoçambique, deixar-me lá, junto ao povo, que meensinou amar e se deixou amar, e que hoje consti-

tui para mim uma família”.Em comunicado, a Província Maria Mãe de

Deus, responsável pela missão congregacional emMoçambique, destacou: “No final de sua históriaterrena, fica plantada para sempre no solomoçambicano, e de lá ressurgirá gloriosa e triun-fante pela força da fé e da doação de sua bela eprendada vida. Misturam-se, em nós, tristeza e ale-gria. Tristeza pelo falecimento de Irmã Amelia. Fi-caremos para sempre na saudade. Alegria, pela suaressurreição! Ressurreição que vem de solo missio-nário e bem distante de nós. Com o povomoçambicano que viveu, trabalhou, sofreu e pro-moveu, ficará para sempre plantada, junto dele quetanto amou e se doou por ele.”

Irmã Marlise Hendges, Diretora Geral das Ir-mãs do Imaculado Coração de Maria, enviou men-sagem de condolências às comunidades ICM emMoçambique e destacou a vida doada da Irmã AmeliaMarcon, uma vida de entrega e fidelidade até o fim:“O seu corpo sepultado em terras moçambicanasserá semente que fará germinar mais vocações parao Reino de Deus.” e continuou: “Sigam em frente,queridas Irmãs, Noviças, Postulantes e Aspirantes,com coragem e alegria, porque mais umaintercessora alcançará graças em favor do queridoe sofrido povo moçambicano e por toda a Congre-gação”, disse.

Após celebração de exéquias, o corpo da IrmãAmelia Marcon foi sepultado em Nampula.

Ir. Amelia

Ir. Amelia (ao meio) na celebração litúrgica