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ANGELA OAL'VESCO A TRANSFERENCIA E 0 OESEJO DO ANALlSTA:INOAGACOES SOBRE A PRATICA ANALiTICA Monografia apresentada como conclusao do Curso de P6s-Graduag8o em Psicologia Clinica do Centro de Pesquisa, Extensao e P6s-Graduagao da Universidade Tuiuti do Parana, sob a orientac;ao da Professora Angela M.S. Valore. f,0f J OeG,! .sU4P--VV, r!L;. O.f/01-3GI d}~C4 I!JAVU?4- cr" 2JIII/20,.> /t?vJ CURITIBA 2005 fjco\o.. ~,(\G.e.LA tv\t\~ p. Sll-\/-I\ VA.Lo~G- ~C-a. :;)5/41/0.5 \\.<Ao. .10 ,D \l:fl-1l ') ~ .-rfo_b.0~

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ANGELA OAL'VESCO

A TRANSFERENCIA E 0 OESEJO DO ANALlSTA:INOAGACOES SOBRE A

PRATICA ANALiTICA

Monografia apresentada como conclusaodo Curso de P6s-Graduag8o em PsicologiaClinica do Centro de Pesquisa, Extensao eP6s-Graduagao da Universidade Tuiuti doParana, sob a orientac;ao da ProfessoraAngela M.S. Valore.

f,0f· J OeG,! .sU4P--VV, r!L;. O.f/01-3GI

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RESUMO

o presente trabalho visa estabelecer urna relar:;:;3o entre os conceitos

psicanaliticos de transferencia e~ desejo do analista, assim como as possiveis

relagoes entre eles. Apesar de em seu corpo nao canter casas clinicos, 0 estudo

destes temas decorre de questionamentos provindos diretamente da pratica

psicanalitica e dos impasses que ela nos calcca no decorrer de seu exercfcio. 0 seu

desenvolvimento foi fundamentado na teoria Freud~ lacaniana e em autores que

seguem 0 seu pensamento.

ABSTRACT

The objective of this matter is to establish a relationship between transference

psychoanalysis concepts and analyst desire, or possible relationship among them.

Even in his body there isn't clinic cases, study of this subject is coming from practical

exercises. The development was based in Freud and Lacan"s theory and authors

that follow his way of thinking.

SUMARIO

INTRODU<;:AO ....

DESENVOLVIMENTO ...

A MODO DE CONCLUSAO ...

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ..

ANEXOS ...

. 01

. 07

. 20

. 22

. 24

A TRANSFERENCIA EO DESEJO DO ANALISTA: INDAGAt;OES SOBRE A

PRATICA ANALiTICA

INTRODUCAO

Abordar a transferencia como assunto de pesquisa implica realizar uma

retomada de grande quantidade de concertos pSicanaliticos que se entrelac;am, assim

como manter urn dialogo con stante com diversos autores da area. Os pensamentos de

Freud e Lacan a respeito deste tema apresentam a sua evoluc;ao na medida em que

podem se servif de elementos que eles mesmas VaG desenvolvendo.

Freud em sua cHniea foi surpreendido pelos mars diversos sentimentos que the

eram endereyados, sem que, aparentemente, 0 trabalho os justificasse. Anna 0., que

fora atendida por Breuer, traz a tona esta questao, posteriormente atualizada e

teorizada por Freud. Freud entao descobriu que esses sentimentos dirigidos aD medico

nao diziam respeito a sua pessoa e sim provinham de relayees anteriores, geralmente

oriundas de experiencias infantis vivenciadas pela paciente e par ele repetidas no

processo analitico. A estes fenomenos denominou transferencia.

Muito mais do que uma questao te6rica, este conceito foi elaborado por Freud a

partir de sua pratica, fazendo desta uma clinica, na medida em que pode falar sobre ela

e teorizi3-la. Com 0 caso Dora, por exemplo, Freud teve a oportunidade de avanyar

percebendo que 0 analista tem a sua parte no contexto transferencial:

~Desse modo, a transferencia apanhou-me desprevenido, e, devido ao que haviade desconhecido em mim que a fazia lembrar-se de Herr K., ela vingou-se emmim como desejara vingar-se dele, abandonando-me do mesmo modo como sesentira abandon ada e enganada porele." (FREUD, 1969, p.11S-116).

Lacan, em 1961, realiza um seminario dedicado a transferencia \ no qual aborda

o tema a luz do amor, a partir 0 Banquete de Platao, enfatizando a relagao entre

S6crates e Alcebiades. Em 1964', Lacan lan9a mao do conceito Sujeito suposto Saber,

que passa a ser uma das pe~s chave no desenvolvimento da transferencia, e, nesse

momenta, e colocado como um dos quatro conceitos fundamentais da psicanalise, junto

ao inconsciente, a pulsao e a repeti,ao.

Na proposi,ao de 9 de outubr03, Lacan estabelece a f6rmula do Sujeilo suposto

Saber e, dais anos mais tarde, em "0 Avesso da Psicanalise,,4, prop5e quatro discursos

ou maneiras de estabelecimento de lago social. Sao eles: 0 discurso do mestre, 0 do

universitario, 0 da histerica e 0 do analista (em anexo). Estes discursos estabelecem

todo urn "movimento'" na analise, considerando que em cada um deles se estabelece

uma relac;ao do sujeito ao Outro. Entao, atraves deles, podemos extrair as nuances

transferenciais, ja que durante a processo analitico estes discursos circulam. Neste

caso, contudo, a analista deve estar a par destas outras possibilidades discursivas e

atento quanta a sua posic;ao, uma vez que as conseqOencias do tratamento diferem

con forme 0 analista ocupe 0 lugar do agente como Amo, saber, histerica ou plus-de-

gozar. No entanto 0 unico discurso especifrco de uma analise e 0 discurso analitico, e e

1 LACAN, Jaques. 0 Seminario, livro 8: a Iransferlmcja 1960·1961. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 1992.2 LACAN, Jacques. 0 Semjnario Livro 11: AS qualro conceitos fundamentais da psicanalise 1964. Rio de

Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998.3 LACAN , Jacques. Oulros escritos: proposiyao de 9 de outubro de 1967 sobre 0 psicanalista da escola

- 1967. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003." LACAN, Jacques. 0 Seminario Livre 17: 0 avesso da psicanalise 1969 - 1970. Rio de Janeiro: Jorge

Zahar Editor, 1992.

este que esperamos que predomine. Em rela9iio a este aspecto, pode-se dizer que s6

ha analise na medida em que aquele esteja operando. A "intrusiio" dos outros discursos

ocorre exatamente pela dificuldade do analista em sustenta-Io em todos os momentos,

ja que e impossivel estar durante tempo integral em condi9iio de causa de desejo para

o analisante. "Freud sabia que 0 analista, par ser tao humano quanta as seus

analisantes ( ..j", tem os seus proprios conflitos, que

"( ...) devem ser analisados e elaborados ate onde seja possivel, ou seja, elenunca acreditou na possiblidade do analista perfeitamente analisado, ideal, quese posiciona frente ao analisante como uma tela em branco." (TELLES DASILVA, 1989, pA7).

Deve-s8 considerar, que 0 analista tambem tern sua quota a pagar: paga com

suas palavras, com sua pessoa e com 0 que he de essencial em seu juizo mais intima.

Isso quer dizer que aquilo que diz respeito ao ser do analista deve ficar de fora, pois de

outra maneira pode vir a interferir na analise de seu paciente. No texto "A Dire9iio da

Cura e os Principios de seu Poder"', Lacan salienta que, para os sentimentos do

analista enquanto pessoa, 56 ha um lugar no jogo analitico: 0 do marta. Caso contra rio,

estariam operando 0 eu de cada integrante desse jogo, a que de acordo com 0 mesma

autar resultaria em urn duelo entre eles. ~ esta abstinfmcia que viabiliza que S8 aeeda

aD que foi nomeado como desejo do analista.

Durante 0 seu percurso, Lacan foi constantemente interrogado por este tema e,

no seminario onze, relacionou-o com a transferencia como send a a seu piv6:

, LACAN, Jacques. A dire~aoda Cura e os principios de seu poder em Escritos. Rio de Janeiro; JorgeZahar Editor, 1998.

kE por isso que eu digo (...) que 0 desejo e 0 eixo, 0 piv6, 0 cabo, 0 martelo,gra9as ao qual se aplica 0 elemento for9a, a inercia, que ha por tras do que seformulaprimeiro, no discursodo paciente, como demand a, isto e, a transferencia.o eixo, 0 ponto comum deste duplo machado, e 0 desejo do analista, que eudesigno aqui como uma fun9ao essencial." (LACAN, 1964, p.222).

Deste modo, 0 desejo do analista, enquanto tal, seria 0 que dol suporte a

transferimcia. E um desejo mais forte que qualquer outro pelo qual 0 analista possa ser

tornado. Para exemplificar 0 que entendemos por esta "forya a mais· que caracteriza 0

desejo do analista, emprestamos da filosofia uma passagem de UHsses, que tornado

pela sua curiosidade estava decidido a escutar 0 canto das sereias. No entanto, este

canto exercia urntal encantamento que fazra com que as pessoas que 0 escutassem se

atirassem ao mar e desaparecessem. Ulisses, entao, fez com que todos os homens que

o acompanhavam colocassem tampoes em seus ouvidos, e ele se amarrou fortemente

ao mastro, 0 que 0 impediu de ser levado pelo canto e 0 possibilitou atingir 0 que

pretendia. Julgamos que a analise pessoal, levando em considera9ao que e somente

por essa via que se constitui 0 desejo do analista, opera como as cordas: amarra 0

analista ao mastro, impedindo que ele se deixe levar por qualquer outro desejo que

possa ter em rela9ao ao paciente. oesde ja, leva-se em consideracao este canMer de

vazio concernente aquele desejo que permite 0 desenrolar da transfen3ncia. oesta

forma, ao mesmo tempo em que permanece encantado, "entendendo tudo ao

contrario", nao se deixa influenciar e pode escutar 0 que realmente importa, sem se

deixar perder pel a melodia do discurso.

Acreditamos, entao, que 0 ponto de vista sob 0 qual se aborda a transferencia,

seus efeitos e fonmas de maneja-Ia, determinam toda a dire9ao do tratamento. "Este

conceito e determinado pela fun9ao que tem numa praxis. Este conceito dirige 0 modo

de tratar os pacientes. Inversamente, 0 modo de trata-Ios comanda 0 conceito~ (LACAN,

1964, p.20).

lodos os psicanalistas, em algum momenta de seu percurso, senao

constantemente, se dedicam a estudar e teorizar este assunto, e, apesar de produzirem

elaboracoes que muitas vezes nao coincldem, atribuem a ele fundamental importancia.

Vale salientar que a maneira como a psicanalise aborda esta questao tem a sua

especificidade, pais fen6menos deste tipo es180 presentes constantemente em nossas

relacoes pessoais:

~Mesmo que devemos considerar a transferencia como urn produto da situac;aoanalftlca, podemos dlzer que esta sltuac;ao nao poderia criar 0 fen6rneno todo, eque, para produzi-Io, e preciso que haja, fora dela, possibilidades ja presentes asquais ela dara composi9iio, talvez unica." (LACAN, 1964, p.120).

Em urna de suas conferencias lntrodut6rias, dedicada a transferencia, Freud diz

o seguinte:

~Sei que esperam eu inlcia-Ios na tecnica, com a qual a analise, para finsterapeuticos havera de ser efetuada. Os senhores apenas desejam conhecer, demodo muito generico, 0 metodo que opera 0 tratamento psicanalftico e, em linhasgerais, 0 que este realiza. E tern 0 inquestionavel dire ito de conhecer esteaspecto. Todavia nao 0 direi aos senhores, mas insistirei que descubram por simesmos: (FREUD, 1917, p.503).

Seguir 0 seu pr6prio curso e descobrir a psicanalise por si mesmos. E esta a

indicacao de Freud. Certamente se deve ao fato de que a psicanalise nao pode ser

ensinada com um manual de regras tecnicas, mas sim deve ser extra ida da experiencia

de cada um no que se refere fundamentalmente a analise pessoal e ao que podera se

seguir no atendimento de pacientes. Da mesma forma, e somente atraves de um

percursoanalitico que se pode designar textualmente em que consiste a transferencia.

As questaes abordadas neste trabalho provern de urna tentativa de articular a

teoria a pratica psicanalitica, nos pontos onde esta se impoe como questeo.

DESENVOLVIMENTO

o inicio de uma analise e precedido par entrevistas cujo papel e fundamental. E

nesse periodo que sera construida a base para 0 decorrer do processo analitico.

Geralmente as pessoas que chegam a primeira entrevista nos trazem urn sofrimento do

qual nao encontram mais saida e a partir disso nos endere9am urn pedido, no sentido

de livra-Ias do que as atormenta. Este pedido, de acordo com Lacan, pode ser

traduzido por urn pedido de felicidade6. Ao analista e atribuido 0 saber sobre os males

que acometem as S8US pacientes e 0 caminho que devem percorrer para serem fetizes.

o que geralmente ocorre e que a sintoma que 0 mantinha em uma certa

-harmon ian ja naD executa mais a sua fun~aosem causar atli!;ao. Muitas vezes 0 pedido

Feitoao analista e 0 de restabelecer a ordem para que ele volte a funcionar como meio

de gozo. Durante a analise, aD contrario, ocorre perda de gozo, e cabe ao analista, ao

inves de responder a este pedido, transformar 0 discurso do sintoma em enigma.

Mesma assim, durante muito tempo, e atribuido ao analista 0 saber referente a solU980

dos problemas e das questoes que surgem.

Em se tratando de transferimcia, podemos considerar 0 que foi descrito acima,

como sendo 0 vies imaginario do conceito de Sujeito suposto Saber desenvolvido por

Lacan em que se considera que aquilo que e suposto e 0 Saber imputado ao analista.

Sem duvida necessario para 0 estabelecimento de uma transferemcia, mas insuficiente.

6 No seminano"A etica da psicanalise~,Lacan atirma 0 seguinte: ·0 que nos demandam, e precisochama-Io par palavras muito simples, e a felicidade. Com isso nao digo nada de novo - uma demanda defelicidade, de happiness, como escrevem os aulores ingleses na lingua deles, e justamente disso que seIrat.: (LACAN, 1960, p.350).

o analista neste momento e colocado em posic;aode semelhante, mas na verdade 0

dizer do paciente esta sempre direcionado ao grande Outro:

"f: necessario inicialmente encontrar este semelhante para 0 qual um trecho dafala e atirado ao acaso. Sao estas palavras atiradas como perdidas, voltadaspara 0 nao conhecido, vocabulos mais ou mesmos firmemente atados que seestendem, se dobram na medida, se desenredam, fazem novelo, n6, enredam-senovamente, que famo particularidade na transferencia." (POMIER, 1998,p.120).

A partir de entao, 0 pedido que era endere~ado ao analista pode se transformar

em demanda. Uma das diferen~as entre estes dois lermos reside no fato de que,

quando pedimos algo a alguem, nos excluimos do que deve ser feito e a

responsabilidadefica inteiramente com 0 outro. Em uma demanda, ja esta em evidencia

uma falta pela qual 0 sujeito tern que se responsabilizar.

Neste ponto, se taz necessario abordar um outro vies do conceito de sujeito

supostosaber, 0 simb6llco, em que, a um saber inconsciente, e suposto 0 sujeito que

emerge entre dois significantes. Sujeito barrado, cindldo, sujeito do inconsciente.

Entretanto, para que haja 0 aparecimento deste Sujeito, 0 analista nao podera

responder desde 0 lugar de semelhante, mas desde Outro lugar, lugar do inccnsciente,

do tesouro significante, onde os significantes sao passiveis de combinac6es,

substituic6ese articulac;Oes.Desta forma, a mensagem retornara de maneira invertida,

instalando a barra sobre 0 sujeito. Este movimento e ilustrado pelo ~esquema Lit

proposto por Lacan. Sen do que: S:Sujeito; a: "eu'; a" outro, semelhante em posi9iio de

objeto; A: 0 grande Outro, lugar dos significantes.

Para Marck Darmon, "0 Esquema Lea inscricao topol6gica do circuito do

significante" (DARMON, 1994, p.38). 0 Outro oj 0 lugar dos significantes, para quem

qualquer sujeito se dirige, utilizando somente como anteparo seu semelhante. Oeste

lugar e que os significantes podem retornar para 0 sujeito. Observando 0 esquema mais

detalhadamente, percebemos que a fiecha que sai de A e se dirige a S nao chega ao

seu destino sem antes ser passar par uma "quebra"I na travessia da flecha at - a. Isto

quer dizer que 0 discurso do Outro, 0 inconsciente, 56 chega ao sujeito cortado,

pontilhado, atraves da grade imaginaria. A linha imaginaria exprime 0 fato de que 0

sujeito nao constitui uma imagem para si de seu eu, a nao ser atraves da imagem de

seu semelhante, constituindo uma relac;ao especular, imaginaria, que vern mascarar a

relayao simb6lica:

"0 Esquema L mostra que 0 sujeito e atravessado pelo discurso do Outro, e queseu "eu" e ao mesmo tempo determinado por esse Outro e pela imagem de seusemelhante. 0 analista tira partido de um apagamento do p610 analista a' narelacao de transferencia; 0 analista como outro se apaga, torna-se objeto, e 0p610 a' tende a se confundir com A ( ...r (DARMON, 1994, p.38).

10

AvanlYClndoaeerca da transferencia, Lacan desenvolve urna f6rmula destinada ao

Sujeito suposto Saber, onde este saber inconsciente esti sob a barra do recalque, mas

passlvel de aeeder esta barreira par meio da transferemcia. Eis a formula:

S Sq

S (S1, S2, ... So)

No seminario intitulado uO avesso da Psicanalise", Lacan salienta que 0 saber

est'; do lado do analisante, e ele a revela quando associa livremente, nos trope<;os da

linguagem:

UOa analise, hi! urna coisa que deve prevalecer, e que ha. urn saber que se retirado pr6prio sujeito ... E do tropeco, da acao fracassada, do sonho, do trabalho doanalisante que esse saber resulta. Esse saber que naa e suposto, ele e saber,saber caduco, migalhas de saber, sobremigalhas de saber. Eo isso ainconsciente." (LACAN, 1971-72, p.71).

E e a atualizaCao deste saber que define a que e a transferencia. Em seu livroUFadiga Cr6nica: Neurastenia, a doen\4 do seculo", Pura Cancina aborda esta questaoa partir de uma ideia de Roberto Harari, em particular as desenvolvidos na sua obra "0que aconteee no ato analitico? A experiencia da psicanalise~. A autora segue dizendo:

"Partindo do aforismo lacaniano segundo 0 qual "a transferencia e a colocacaoem ate da realidade inconsciente" deduz que "a sujeito do inconsciente e postaem afc na situa~ao analitica", mas essa coloca~o em ato nao deve serentendida como uma exteriorizac;ao, mas como uma renovac;ao novadora."(CANCINA, 2004, p248)-' I

Isto quer dizer que a transferencia proporciona que aquilo que estava recalcado

retorne sob a prisma da condicao atual do sujeito em questao:

7 A frase e destacada em italico pela autora.

II

"Tratar-se-ia de um pOr em alo.(...) Toda renovagao, aD ser novadora, tem umcarater atuai. Como podemos ver, ja nao se trata de sustentar 0 atual as custasda hist6ria, ja que nao hi! atualidade sem hist6ria, trata-se, entao, de seinterrogarmelhor sobre 0 que e que se atualiza." (CANCINA, 2004, p.248)8

Podemos dizer, entaD, que atraves da transferencia este saber inconsciente eatualizado durante uma analise. Havia uma epoca em que Freud comunicava aos seus

pacientes 0 que descobria do material inconsciente, mas posteriormente descobriu que

este procedimento naD surtia efeitos pois "0 nossa conhecimento acerca do material

inconsciente nae e equivalente ao conhecimento dele; se lhe comunicamos 0 nosse

conhecimento, ele naD 0 reeebera em lugar de seu material inconsciente, mas ao lado

do mesma". (FREUD, 1917, p.509)' Ista oeorre devido ao tato de que 0 que e

transterido ao analista e exatamente uma parte deste saber que e inaceitavel pelo Eu,

ou seja, 0 que esta recaleado. A presenga do analista possibilita que isto ocorra na

medida em que privilegia a fala de seu paciente e oferece uma escuta diferenciada para

alem do enunciado, a saber, visando a enunciacao.

Este saber inconsciente que Freud poe em cena e particular a cada analisante e

surge na singularidade de seu discurso. Neste sentido, Freud aconselha a escutar cada

urn daqueles como se fosse 0 primeiro e, com cada nova analise. reinventar a

psicanalise. Isto quer dizer que nao ha urn saber pre-determinado da ordem do

conhecimento. 0 analista, a princlpio, nao sabe nada daquele que tala, mas tem a

possibilidade de apostar em um sujeita do incanseiente naquele, a partir do que pode

8 A frase e destacada em italico pela autora.\I Neste momento, percebemos a descoberta de Freud quanto a ineficacia do discurso do universitano quepredominava quando fazra determinados comunicados aos seus pacientes na tentativa de instrui·Jos quanto a suacondiyao.

12

aferir de sua propria analise, ou seja, de sua pr6pria experiencia em relac;ao ao

inconsciente. Pode~sedizer que quem S8 submete au se submeteu a uma neurose de

transferencia tern uma relat;ao privilegiada com 0 inconsciente e urna confianc;a

especial no significante.

Esta confianc;a,de alguma maneira, e vislumbrada no paciente, pais e precise

que ele se deixe cindir pela palavra, considerando que 0 que ele diz nao se determine

em si, mas que no seu dito esta contido urn saber que incide sabre ele e sabre 0 qual

nao tern dominic. Se considerarmos a regra fundamental estabelecida par Freud, que

determina que 0 paciente diga qualquer coisa que Ihe ac~rra, e porque na medida em

que ele tala, algo do que ele padece podera ser resolvido. Neste caso, contamos que

este esteja disposto a supor urn Sujeito ao seu saber inconsciente e que contie

minimamente que hi:! urn Dutro que escute 0 que ele tem a dizer. 0 ate anaHtico

proporciona este eteito Sujeito e revela aquele que tala uma intencionalidade em seu

discurso,mas, al6m disso, 6 necessaria que a paciente se far;a sujeito deste discurso,

se apropriando da responsabilidade de dar conta e de contar-se no que diz, isto e, nas

formac6es do incansciente.

o que 6 instituida na experi€meia analitiea e a histerizacao do diseurso,

possibilitandoque, durante a analise, 0 sujeito produza os seus proprios significantes

associando·os livremente. E 0 que permite que 0 sintoma passe de resposta a

pergunta, que 0 paciente e instigado a decitrar, 0 que implica em uma mudanea de

posieao e abre a possibilidade para um questionamento. Este processo contribui para 0

inieio do que se denomina neurose de transfereneia, que estabelece a propria entrada

em analise. Pode·se dizer que este tipo de transferencia ocorre espeeifieamente em

uma psicanalise. "Em conseqOencia nao e incorreto dizer que ja nao mais nos

13

ocupamos da doenc;;a anterior do paciente, e sim de urna neurose recentemente criada

e transformada, que assumiu 0 lugar da anterior." (FREUD,1917, p. 517). Foi tambem

Freud quem inaugurou 0 discurse a partir do qual issa se faz passlvel, a saber, 0

discurso do analista. Ele fez istS! respond end a de maneira inusitada ao sofrimento das

histericas, possibilitando que elas mesmas falassem de seus males.

Lacan, par sua vez, formaliza 0 discurso do analista, destacando 0 objeto a com

sendo seu agente." Eo este lugar de semblante de objeto que 0 analista dever. ocupar

para que a experiemcia analftica seja fundada. Islo implica em orientar a sua escuta a

partir do desejo do analista, deixando de fora a sua subjetividade e dando lugar a um

vazia. Isto quer dizer que para 0 seu ser enquanto pessoa nao ha lugar. Ai 8sm a

questao desenvolvida em relat;ao ao des-ser do analista:

" ...Se, sem duvida, 0 analista se acha implicado na produ,ao da transferencia deseu analisante, isso nao acontece em virtude da upersona" que acredita ser. Pelocantraria, sera par suster seu lugar no dispositivo anaHtico - lugar transido pelofugaz, pelo perecivel, por seu continuo desfalecimento - que se tornara factivel 0desenvolvimento da transferencia" (HARARI, 1987, p.78).

Ocupar 0 lugar de semblante de a como causa de desejo Ii exatamente 0 oposto

ao de se colocar como Ideal, lugar no qual 0 analista freqOentemente e convocado pelo

analisante:

"Quero dizer que a opera~aoe a manobra da transferencia devem ser regradasde maneira que se mantenha a distancia entre 0 ponto onde 0 sujejto se veamavel - e esse ponto onde 0 sujeito se ve causado como falta per a, e onde a

(discurso do analista)\

/

14

vern arrolhar a hiancia que constitui a divisao inaugural do sujeito' (LACAN,1964, p.255).

Isto implica em eximir-se deste lugar de Ideal, para encarnar 0 a separador. Com

aquete movimento, 0 que 0 analisante busca e se fazer de eu ideal para 0 analista, se

propondo como objeto de amor para aquele.

Na medida em que e tido como Ideal (do eu), 0 analista tambem se torna amado

par seu analisante, entao esta tambem sera a cena cnde surge 0 amor transferencial, e

enquanto tal resistente e propiciador. Resistente, pois vern demarcar a falsa

possibilidade de complementaridade entre 0 sujeito e urn objeto, que 0 Iivraria da sua

condicao de faltante. Esta busca S8 repete na analise, mas com urn fator diferencial,

uma vez que 0 analista esta precavido de que este objeto s6 existe enquanto faltante e,

nao respondenda a esta demanda, relanca a procura. Procura imprescindivel. ja que

propicia que 0 analisante descubra a falta deste objeto e, mais ainda, possa sustenta-Ia.

Mas ate que isso Qcorra, 0 am or e urn engodo necessaria a analise, pois e amanda que

o sujeito vai se defrontar com 0 que Ihe falta.

Vale dizer que, enquanto amante, 0 analisante e implicado como sujeito do

desejo e 0 analista, enquanto amado, seria aquele que tem alguma coisa a lhe dar. Ai

esta 0 problema do amor, ja que isto que falta ao sujeito nae pode ser encontrado no

Outr~. Eo analista nao Ihe oferece nenhum objeto, pOis,

"0 que 0 analista tern a dar, contrariarnente ao parceiro do amor, e 0 que a maislinda noiva do mundo nao pode ultrapassar, ou seja, 0 que ele tern. E 0 que eletern nada rna is e do que 0 seu desejo, como 0 analisado, com a diferen9a de quee urn desejo prevenido: (LACAN, 1960, p.360).

15

o objetivo de quem ama e obter 0 amor do Dutro, e ser amado. Neste casa, 0

analista, sen do alvo do amor de seu analisante, tambem e implicado neste pedido.

Casa este fosse respondido, 0 analista se tomari8 0 amante e consequentemente

aquele que demanda algo para preenche-Io. Desta lonma, ocorreria uma substitui,ao do

amante pelo amado, e 0 analisante se tornaria aquele que tem algo a olerecer, ou

ainda, a se oferecer como objeto. 0 analista "Nao pode dizer nada de SI como

desejante, ali onde e desejado sob a pena de se abolir como desejante e passar para 0

registro da demanda." (KAUFMANN, p.504). 0 desejo do analista se caracteriza

exatamente pela ~recusa"da substituj~o de ser amado a ser amante, 0 que preserva,

de certa forma, a condiCao de desejante do paciente.

Desde esta perspectiva podemos entender 0 conceito de abstinencia proposto

por Freud, em seu texto "Observacoes Sobre 0 Amor Translerencial", ao salientar que

este amor pode servir de forca para 0 tratamento, incitando os analisantes a trabalhar e

a eletuar mudancas, desde que nao seja correspondido pelo analista. Diz ele:

"10, portanto, tao desastroso para a analise que 0 anseio da paciente por amorseja satisfeito, quanta que seja suprimido. 0 caminho que 0 analista deve seguirnao e nenhum destes; e urn caminho para 0 qual naD existe nenhum modele navida real. Ele tern que tomar cuidado para nao afastar~sedo arnor transferencial,repeii-Io ou torna-Io desagradavel para a paciente; mas deve de modoabsolutamente resoluto, recusar-Ihe qualquer retribuiCao" (FREUD, 1911-13,p.216).

De qualquer maneira, 0 anaiista enquanto tal nao recua de seu desejo, nao

aceita nenhum objeto que Ihe seja proposto ja que nada 0 preenchera. 0 que seu

desejo almeja e continuar desejando. "Aos olhos do analisante, na medida em que 0

analista naD responde aD seu pedido, 0 desejo do analista vern ocupar uma hiancia,

16

correspondendo essa hiancia aD desejo do Outro que permaneceu enigmatico." (LEVY,

2004, p.99)".

Assumindo a posigao de causa de desejo, 0 analista podera suportar os lugares

que a transferencia Ihe caleca:

"A posi9ao conferida ao analista depende deste duplo gatilho: de urn lado, eledeve entregar-se a esta especie de strip-tease a que 0 obriga 0 desfile dasforma90es do inconsciente do analisante. Mas, de Qutro, estas forma90escamaleonescas naD se poderiam efetuar se naD existisse urna armayao unica, apresen9a de uma nudez primeira que suporta as diferentes escolhas de objeto."(POMMIER,1998, P.26).

De acordo com Pommier, 0 analisante podera se desprender destas

identific890es alienantes e dos sintomas que delas procedem na medida em que 0

analista se prestar a esta multiplicidade transferencial, au seja, permitir que 0 analisante

possa circular em suas posigOes objetais se propondo como objeto para este Outre que

nunca esta satisfeito, assim como 0 desejo do analista nunca se satisfaz:

"0 desejo do analista definido como urn vazio, como urn lugar onde algo poderaS8 instalar, marar, torna evidente que 0 que se deve instalar ali, na pratica dapsicanalise, eo desejo do paciente como desejo de seu Outro, 0 da historicidadepropria do paciente, 0 das circunstancias proprias de sua vida." (RABINOVICH,2000, p.15).

Durante a analise, 0 sujeito tern a possibilidade de rever aquilo que 0 determina

enquanto assujeitado ao desejo do Outro e de assumir a sua pr6pria causalidade.

o pagamento demonstra ai sua fundamental importlllncia no tratamenlo, nao sendo uma mera conven~ao. 0analista cobrando pelos seus servi~os proplcla que goze do dinheiro que Ihe e pago, e nao de seu paclenle,

17

Neste sentido, par meio de urn processo analitico, a sujeito tera acesso a urna certa

margem de liberdade.

E necessaria sublinhar que 0 desejo do analista nao e nem 0 desejo de ser

analista, nem 0 desejo de um analista, mas uma fun<;ao na qual alguem se presta a

oeupar este lugar. Lugar que pode passar a ser oeupado somente atraves de um

processo de analise pessoal, onde, em determinado momento, oearre a queda do

pr6prio analista transformado em resto. uA passagem de psicanalisante a psicanalista

tern urna porta cuja dobradi~a e 0 resto que constitui a divisao entre eles, porque essa

divisao nao e outra senao a do sujeito, da qual esse resto e a causa." (LACAN, 1967, p.

260).

Na mesma medida, oeorre a queda do Sujeito suposto Saber imputado ao

analista e da ilusao de que 0 Outro deteria 0 objeto preeioso que os restituiria de sua

falta estruturai. No seminario dedicado a identifica~o 12, Lacan acrescenta que a

transferencia aparece como a "Materializa9ao de urna opera9ao que se relaciona com 0

eng ana e que consiste em a analisando instalar 0 analista no lugar do Sujeito suposto

Saber, isto e, que Ihe atribui 0 saber absoluto." (ROUDINESCO, 1998, p.769). E, depois

do analista ter sido investido de uma onipotencia imaginaria ou de um suposto saber ao

longo de toda a analise, passara em seu fim a ficar em uma posi~o de resto ou de

objeto a, que equivale a queda deste Sujeito suposto Saber.

Neste momenta, entretanto, as entraves que permeiam urn fim de analise,

concernentes a dinamica da transferencia, encontrarn urn limite estabelecido pelo

denorninado saber referencial, que 5e caracteriza par ser baseado especificamente em

teorias. Para se apreender estes conceitos, e necessaria haver um encontro deste

12LACAN, Jaques. A Idenlificacao 1961·1962. Recife:Centro de Estudos Freudianos do Recife, 2003.

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saber com urn outro denominado saber textual, que 56 pade ser adquirido em urn

percurso de analise, por ser perpassado pelo inconsciente.

Partindo do pressuposto de que urn analista e resultado de uma analise, levanta-

se a questao: Sera que e somente ap6s um fim de uma analise que existira um

analista? Esta pergunta abre a possibilidade para mais de uma resposta. E certo que

somente sera analista aquele que tenha levado a sua analise ao terma. Diferenciam-se

neste ponto aqueles que manifestam 0 desejo de escutar 0 inconsciente de Qutros,

daqueles que mesmos terminando as suas analises naD se dedicam a exercer a

pSicanalise.

Ainda temas que considerar as praticantes da psicanalise que estao realizando

um percurso de analise e de forma,ao. Tomamos como hip6tese 0 fato de que 0 desejo

do analista nao e transmitido somente em urn fim de analise, mas sim durante a

mesma, onde as questoes implicitas nesta escolha terao a oportunidade de serem

trabalhadas. Como ja mencionado, esta posi,ao de analista pode vir a ser ocupada

somente se aquele trabalhar as suas pr6prias questoes, abrindo a possibilidade de

escutar as dos analisantes:

"0 que faz a forma~aode uma analista e que ele saiba um pouco mais sobre asdeforma~6es de sua relayao com 0 objeto; essas deforma90es 0 levam aformular demandas ao termo das quais, em nome de seu esgotamento durante aanalise, Ihe Ii dado perceber,"para alem", a estrutura fundamental do desejo queintimamente 0 divide. E nesse ponto, em nenhum outro, que ele pode fazerfun,ao para outros." (LEVY,2004,p.117).

Devemos levar em considera<;aoque, durante todo 0 processo analitico, ocorre a

opera,ao onde entre Sl e S2 0 sujeito barrado emerge por intermedio da interpreta,ao,

eo objeto a cai como um resquicio, assim como as posi90es objetais que sao propostas

19

para 0 90Z0 do Outro. Entao, neste ponto pod era responder como a causador de

deseje. Neste ponto pod era responder como analista. Isto ocorrera sucessivas vezes,

ate que finalmente a seu pr6prio analista possa resultar em nada mais que urn dejeto.

Julgamos tambem, que a cada queda de objeto que ocorre durante uma analise, vai se

constituindo 0 que concerne ao desejo do analista.

Portanto, durante um percurso de forma9ao psicanalitica, ha que se considerar

que tambem 0 desejo do analista esta em forma9iio e com ela avan9a tambem a

possibilidade de se exercer a funyao de analista, pais e na medida em que 0 desejo do

analista vai se constituindo que tambem se construira 0 analisavel de cada analisante.

20

A MODO DE CONCLUsAo

Ao inicio deste trabalho, a objetivo principal era 0 de elucidar teoricamente

algumas quest6es provenientes da pratica psicanaHtica envolvendo, principalmente, a

posicao que deve ser ocupada par um analista para que ocorra 0 evento da

transfen§ncia, assim como 0 seu manejo durante 0 tratamento. A experiencia adquirida

com atendimentosaos pacientes contribuiu diretamente para a elaborayao deste texto,

apesar de naD trazer em seu corpo casas clfnicos. No seu contexto, explanou-se 0

conceito de transferencia e de desejo do analista e as ramificacoes necessarias e

possiveis de articulacao para a autera ate 0 presente momento. Entretanto, mais do

que fornecer respostas, 0 desenvolvimento do trabalho permitiu a realizac;ao de novos

questionamentos, 0 que de certa forma enriquece a experiencia da escrita. Em nossa

opiniao, e caracterfstica da psicanalise 0 fato de que assuntos vinculados a ela nao

podem ser conclufdos inteiramente, pOis a teoria e tao abrangente que permite a

explorac;ao de varios assuntos sob enfoques diferenciados. Portanto, sempre ha algo

por dizer. Neste ponto ousamos realizar uma comparayao com 0 desejo do analista,

que permeia toda a pratica psicanalftica e que tambem coloca em movimento os que

decidem enveredar par este caminho. Isto se deve ao fato de que este e um desejo

caracterizado por um vazio e marcado por uma lalta para a qual nao existe

preenchimento.

Podemos observar que no decorrer da obra tanto de Freud quanto de Lacan, hi!

um constante movimento em busca de respostas para quest6es ligadas a tearia e apratica psicanalftica. Isto nos sendo transmitido, permite 0 trilho de urn carninho pr6prio,

mas orientado pela etica da psicanalise e pelos criterios implfcitos no percurso de

21

forma9ao. Fai neste caminhar que Freud se deparou com a transferemcia. conceito que

Lacan enfatizou, colocando-o como um dos quatro conceitos fundamentais para a

tecnica psicanalftica. A questao do desejo do analista e da sua implicayao no processo

de uma analise permearam grande parte do ensine e das invesliga90es de Lacan. Ele

se inleressava em averiguar em que momento urn analisante se torna analista pela

emergencia deste desejo especffico que funciona como mOlor da transferemcia e da

propria analise, visto que e impassivel considerar a segunda sem a primeira.

Transferencia e desejo do analista nestas circunstancias se lornam conceitos

intimamente relacionados, na medida em que 56 ocorre 0 surgimento deste desejo

atraves de uma analise cnde opera a transferencia. Da mesma forma, a (mica rnaneira

de dirigir urna cura e rnanejar a transferencia e estando tornado par este desejo.

Reconhecemos que a unica via de acesso ao desejo do analista e pela

realizat;ao de uma analise pessoal, pais e atraves dela que podemos aceder a uma

nova posic;aoenquanto sujeitos enos deparar com as posic;6esem que permanecemos

alienados e subjugados ao saber do grande Outro. Contudo, a supervisao e 0 estudo da

teoria se juntam aquela, quando 0 assunto e uma forma~o psicanalitica, e podem

servir de balizadores para estes, abrindo possibilidades e demarcando as Iirnita90es.

Nao seria diferente para a realizacao de urn trabalho teorico, que esta diretamente

relacionado com a pratica e com 0 percurso de forma9ao de quem 0 escreve.

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REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

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23

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TELLES DA SILVA, Luiz Olyntho. Freud/Lacan: a desvelamento do sujeito na leitura deurn psicanalista. Porto Alegre: AGE, 1999.

ANEXOS

24

Aos lugares definidos pelos quais permutam as elementos do discurso da-se a

nome de agente, outro, Verdade e produ<;Bo, na seguinte ordem:

verdade

Considerando que:

5" 5ignificante Mestre

S2: 0 saber

g: a sujeito

a: a objeto a, a mais de gozar.

Seguem os discursos:

D~del'HJF;tirlqu.

tc.=:;;~:Dtn:wr:Jde1j1,r.alll*

a~SS~S.

25

Par fim, a discurso do capitalista: