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DESENVOLVIMENTO EM UMA ECONOMIA GLOBAL DE BAIXA EMISSÃO DE CARBONO Análises Setoriais Brasília, 2015

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DESENVOLVIMENTO EM UMA ECONOMIA GLOBAL

DE BAIXA EMISSÃO DE CARBONO

Análises Setoriais

Brasília, 2015

DESENVOLVIMENTO EM UMA ECONOMIA GLOBAL

DE BAIXA EMISSÃO DE CARBONO

Análises Setoriais

CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA – CNIRobson Braga de AndradePresidente

Diretoria de Relações InstitucionaisMônica Messenberg GuimarãesDiretora

Diretoria de Desenvolvimento IndustrialCarlos Eduardo AbijaodiDiretor

Diretoria de ComunicaçãoCarlos Alberto BarreirosDiretor

Diretoria de Educação e TecnologiaRafael Esmeraldo Lucchesi RamacciottiDiretor

Julio Sergio de Maya Pedrosa MoreiraDiretor Adjunto

Diretoria de Políticas e EstratégiaJosé Augusto Coelho FernandesDiretor

Diretoria de Serviços CorporativosFernando Augusto TrivellatoDiretor

Diretoria JurídicaHélio José Ferreira RochaDiretor

Diretoria CNI/SPCarlos Alberto PiresDiretor

DESENVOLVIMENTO EM UMA ECONOMIA GLOBAL

DE BAIXA EMISSÃO DE CARBONO

Análises Setoriais

Brasília, 2015

© 2015. CNI – Confederação Nacional da Indústria.Qualquer parte desta obra poderá ser reproduzida, desde que citada a fonte.

CNI – Gerência Executiva de Meio Ambiente e Sustentabilidade – GEMAS

FICHA CATALOGRÁFICA

C748d

Confederação Nacional da Indústria. Desenvolvimento em uma economia global de baixa emissão de carbono:

análises setoriais / Confederação Nacional da Indústria. – Brasília : CNI, 2015. 147 p. : il.

1. Emissão de Carbono. 2. Desenvolvimento Sustentável. I. Título.

CDU: 502.131.1

CNIConfederação Nacional da IndústriaSetor Bancário NorteQuadra 1 – Bloco CEdifício Roberto Simonsen70040-903 – Brasília-DFTel.: (61) 3317-9000Fax: (61) 3317-9994http://www.cni.org.br

Serviço de Atendimento ao Cliente – SACTels.: (61) 3317-9989 / [email protected]

SUM

ÁRI

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DESENVOLVIMENTO EM UMA ECONOMIA GLOBAL DE BAIXA EMISSÃO DE CARBONO

1. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO ALUMÍNIO | 9

1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO SETOR JUNTO À ECONOMIA NACIONAL | 11

2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO SETOR FRENTE À AGENDA DE MUDANÇA DO CLIMA E O IMPACTO DESTA NO SETOR | 13

3 EXPERIÊNCIAS DO SETOR RELACIONADAS AO TEMA | 14

4 DESAFIOS DO SETOR NO TRATAMENTO DO TEMA | 16

5 VISÃO DE FUTURO/TENDÊNCIAS | 17

6 PROPOSTAS/AGENDA POSITIVA | 18

CRÉDITOS | 19

2. ECONOMIA DE BAIXO CARBONO: UMA VISÃO PARA O FUTURO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA DE CIMENTO | 21

1 A INDÚSTRIA DO CIMENTO E O DESENVOLVIMENTO DO PAÍS | 23

2 A CRISE DO PETRÓLEO E O PROCESSO DE MODERNIZAÇÃO DO PARQUE NACIONAL | 24

3 O CIMENTO E A DISCUSSÃO CLIMÁTICA | 26

4 PILARES DA SUSTENTABILIDADE | 26

5 DESAFIOS DA INDÚSTRIA DO CIMENTO BRASILEIRA | 29

6 UM OLHAR PARA O FUTURO – O CEMENT TECHNOLOGY ROADMAP BRASILEIRO | 31

CRÉDITOS | 32

3. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA ELÉTRICA E ELETRÔNICA | 33

1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO SETOR JUNTO À ECONOMIA NACIONAL | 35

2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO SETOR FRENTE À AGENDA DE MUDANÇA DO CLIMA | 35

3 EXPERIÊNCIAS DO SETOR RELACIONADAS AO TEMA | 37

4 DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA O SETOR NA ECONOMIA DE BAIXO CARBONO | 39

5 VISÃO DE FUTURO/TENDÊNCIAS | 41

CRÉDITOS | 43

4. A CONTRIBUIÇÃO DO BIODIESEL BRASILEIRO PARA A REDUÇÃO DE EMISSÕES | 45

1 O SETOR DE BIODIESEL NO BRASIL | 47

CRÉDITOS | 52

5. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA QUÍMICA | 53

1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO SETOR JUNTO À ECONOMIA NACIONAL | 55

2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO SETOR FRENTE À AGENDA DE MUDANÇA DO CLIMA E O IMPACTO DESTA NO SETOR | 57

3 EXPERIÊNCIAS DO SETOR RELACIONADAS AO TEMA | 58

4 DESAFIOS DO SETOR NO TRATAMENTO DO TEMA | 62

5 VISÃO DE FUTURO/TENDÊNCIAS | 62

6 PROPOSTAS/AGENDA POSITIVA | 62

CRÉDITOS | 63

6. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA TÊXTIL E DE CONFECÇÃO | 65

1 CADEIA TÊXTIL E DE CONFECÇÃO | 67

2 O SETOR T&C FRENTE À AGENDA DE MUDANÇA DO CLIMA | 68

3 EXPERIÊNCIAS DO SETOR RELACIONADAS AO TEMA | 69

4 DESAFIOS DO SETOR T&C NO TRATAMENTO DO TEMA | 70

5 VISÃO DE FUTURO | 70

6 AGENDA POSITIVA | 71

CRÉDITOS | 73

7. INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA E ATENÇÃO CONTÍNUA AO MEIO AMBIENTE | 75

1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO SETOR JUNTO À ECONOMIA NACIONAL | 77

2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO SETOR FRENTE À AGENDA DE MUDANÇA DO CLIMA E O IMPACTO DESTA NO SETOR | 77

3 EXPERIÊNCIAS DO SETOR RELACIONADAS AO TEMA | 81

4 VISÃO DE FUTURO/TENDÊNCIAS | 82

5 PROPOSTAS/AGENDA POSITIVA | 82

CRÉDITOS | 83

8. CNI SUSTENTABILIDADE: INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO E MUDANÇAS CLIMÁTICAS | 85

CRÉDITOS | 89

9. SETOR ELÉTRICO | 91

1 O SETOR ELÉTRICO NO ÂMBITO DA ECONOMIA NACIONAL | 93

2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO SETOR NO ÂMBITO DA AGENDA DE MUDANÇA DO CLIMA | 93

3 EXPERIÊNCIAS E RESULTADOS DE MITIGAÇÃO DO SETOR ELÉTRICO | 95

4 DESAFIOS DO SETOR NO TRATAMENTO DO TEMA | 98

5 VISÃO DE FUTURO/TENDÊNCIAS | 99

6 PROPOSTAS/AGENDA POSITIVA | 100

CRÉDITOS | 103

10. INSTITUTO AÇO BRASIL | 105

1 INDÚSTRIA DO AÇO NO BRASIL | 107

2 PRODUÇÃO E USO DA ENERGIA NA INDÚSTRIA DO AÇO | 108

3 PERFIL DAS EMISSÕES DE GASES DE EFEITO ESTUFA | 108

4 MEDIDAS DE REDUÇÃO ADOTADAS PELA INDÚSTRIA DO AÇO | 109

5 DESAFIOS DO SETOR NO TRATAMENTO DO TEMA | 112

6 VISÃO DE FUTURO | 113

CRÉDITOS | 114

11. SETOR BRASILEIRO DE ÁRVORES PLANTADAS | 115

1 CONTEXTUALIZAÇÃO DA INDÚSTRIA JUNTO À ECONOMIA NACIONAL | 117

2 CONTEXTUALIZAÇÃO FRENTE À AGENDA DE MUDANÇA DO CLIMA E SEUS IMPACTOS | 119

3 DESAFIOS NO TRATAMENTO DO TEMA | 122

4 VISÃO DE FUTURO/TENDÊNCIAS | 124

5 PROPOSTAS/AGENDA POSITIVA | 124

CRÉDITOS | 125

12. A CONTRIBUIÇÃO DO SETOR DE PETRÓLEO, GÁS E BICOMBUSTÍVEIS | 127

1 APRESENTAÇÃO SETORIAL | 129

2 CONTEXTO DO SETOR | 129

3 CONTEXTUALIZAÇÃO DO SETOR FRENTE À MUDANÇA DO CLIMA | 129

4 INTEGRAÇÃO DA AGENDA DE MUDANÇA DO CLIMA À ESTRATÉGIA DE NEGÓCIOS DAS EMPRESAS DE PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS E SEUS REFLEXOS | 131

5 VISÃO DE FUTURO/TENDÊNCIAS | 135

6 PROPOSTAS/AGENDA POSITIVA | 135

CRÉDITOS | 137

13. AS PEQUENAS INDÚSTRIAS E OS DESAFIOS DAS ALTERAÇÕES DO CLIMA: PERSPECTIVAS E PROPOSIÇÕES PARA UMA AGENDA POSITIVA | 139

1 CONTEXTUALIZAÇÃO | 141

2 PEQUENAS INDÚSTRIAS, MUDANÇA DO CLIMA E IMPACTO SETORIAL | 142

3 APOIO ÀS INICIATIVAS SUSTENTÁVEIS DE MICRO E PEQUENAS INDÚSTRIAS | 142

4 EXPERIÊNCIAS BEM-SUCEDIDAS DE PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS EM PEQUENAS INDÚSTRIAS | 143

5 DESAFIOS, TENDÊNCIAS E OPORTUNIDADES NO ENFRENTAMENTO DA MUDANÇA CLIMÁTICA | 145

CRÉDITOS | 147

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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO ALUMÍNIO

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1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO SETOR JUNTO À ECONOMIA NACIONAL

A cadeia do alumínio começa na mineração da bauxita (uma argila constituída de vários minerais); vai para a produção de alumina (que é o óxido de alumínio contido nessa bauxita) e continua com a produção de alumínio primário. O metal é vazado na forma de lingotes, placas e tarugos, que depois são moldados em chapas, folhas, perfis, vergalhões, cabos ou peças, continuando como insumo cada vez mais elaborado, de uma empresa para outra, até chegar aos produtos finais, atendendo importantes segmentos da economia.

O alumínio é uma commodity produzida em escala global, com preço determinado na London Metal Exchange (LME). Mais da metade da produção de alumínio primário no mundo está localizada na China e Rússia.

O Brasil tem condições para ser um dos principais players internacionais desse mercado: mineral (bauxita) abundante e de qualidade; matriz energética hídrica, limpa e renovável; além de um parque industrial desenvolvido e com tecnologia e processos de produção compatíveis com os melhores do mundo. Somos o quarto maior produtor mundial de bauxita, o terceiro maior produtor mundial de alumina, mas só o nono de alumínio primário, situação que vem se agravando devido a questões relacionadas ao custo da energia elétrica, que afeta negativamente a competitividade da indústria.

De fato, a produção de alumínio primário no Brasil, que já chegou a atingir mais de 1.660 mil toneladas em 2008, atingiu 962 mil toneladas em 2014, uma redução de 25% quando comparada com 2013. A previsão da Associação Brasileira do Alumínio (ABAL) para 2015 é de uma redução adicional de 180 mil toneladas, chegando a um total produzido de apenas 780 mil toneladas.

Gráfico 1 – Indústria brasileira do alumínio: produção, consumo e exportações(Em mil toneladas)

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Consumo doméstico de produtos transformados de alumínio

Produção de alumínio primário Exportação de alumínio

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Desligamento temporário AlcoaFechamento linha Novelis (MG)

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Fonte: Abal.

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Em decorrência dos altos custos de energia elétrica e da ausência de uma política industrial que reconheça e estimule as vantagens comparativas da nossa indústria, enfrentamos um agravamento da competitividade da indústria de alumínio primário no Brasil, com reflexo nos investimentos, na oferta de empregos e no aumento das importações de alumínio e seus produtos.

Desde 2008, tomaram a decisão de fechar as plantas de alumínio no país a Valesul Alumínio S.A. (Santa Cruz-RJ) e Novelis do Brasil S.A. (Aratu-BA e Ouro Preto-MG). Além disso, a Alcoa Alumínio S.A. (Poços de Caldas-MG) e o Consórcio de Alumínio do Maranhão (Alumar) anunciaram suspensão temporária do total da produção.

Na cadeia do alumínio como um todo, foram fechadas pouco mais de 5 mil vagas no ano de 2014. Cerca de 62% desses postos de trabalho (3.133) pertenciam a empresas do segmento de produtos transformados de alumínio e cerca de 30% ao de metalurgia do alumínio (que inclui a produção de alumina, metal primário e secundário e semimanufaturados).

Passando para a análise da indústria transformadora de alumínio, cabe destacar que ela é suprida por metal primário e por metal oriundo da reciclagem, originando produtos que atendem a vários segmentos da economia. O consumo doméstico de produtos do metal apresentou queda de 5,5% em 2014 com relação ao ano anterior, atingindo 1.430 mil toneladas.

Esse resultado impactou profundamente a produção de semimanufaturados e transformados: em 2014 houve uma queda de 4,8%. Esse dado reflete um desempenho pior que o da indústria de transformação brasileira, que caiu 4,2%. Analisando o consumo por segmento econômico, nota-se claramente o reflexo do comportamento recessivo das indústrias de veículos e equipamentos de transportes, de bens de consumo e de materiais de construção. O destaque positivo ficou para a demanda de laminados de alumínio pelo segmento de embalagens, que registrou crescimento de 6,8% com relação ao ano de 2013.

Tabela 1 – Consumo de alumínio por segmento(Em mil toneladas)

SEGMENTOS 2013 20142014/2013

(%)

Embalagens 445,4 475,9 6,8

Transportes 309,0 243,9 -21,1

Construção civil 244,7 231,3 -5,5

Eletricidade 157,9 148,1 -6,2

Bens de consumo 153,0 133,3 -12,9

Máquinas e equipamentos

66,0 61,7 -6,5

Outros 136,5 135,5 -0,7

Total 1.512,5 1.429,7 -5,5

Fonte: Abal.

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2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO SETOR FRENTE À AGENDA DE MUDANÇA DO CLIMA E O IMPACTO DESTA NO SETOR

A emergência da questão das mudanças climáticas tem trazido diversos desdobramentos para a indústria brasileira de alumínio. Os últimos anos foram marcados por um entendimento maior do tema e das vantagens comparativas da nossa indústria.

Esse olhar estratégico mobiliza uma intensa cooperação entre o governo federal e outras associações setoriais para o estabelecimento de diretrizes que contribuam para uma trajetória com menor emissão de gases de efeito estufa (GEE), com maiores níveis de eficiência e competitividade e de valorização da baixa pegada de carbono dos produtos de alumínio brasileiros.

A Abal compõe a Rede Clima da Indústria Brasileira, liderada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e composta por associações e federações de indústrias, que tem como um de seus objetivos contribuir com o Plano Setorial de Mitigação da Mudança Climática para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Indústria de Transformação – Plano Indústria,1 – cuja meta real é a redução de 5% das emissões projetadas para 2020.

Também participamos do projeto piloto para criação de um Sistema Brasileiro de Medição e Certificação da Pegada de Carbono de Produtos, coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), com suporte técnico da consultoria Carbon Trust.

O Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC), o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) – responsável pelos inventários nacionais de emissões – e o International Aluminium Institute (IAI) publicam metodologias consistentes para a realização das estimativas de emissões de gases de efeito estufa (GEE) do processo industrial da produção de alumínio primário.

As empresas Alcoa e Votorantim, associadas à Abal, são membros fundadores do Programa Brasileiro do GHG Protocol e publicam seus inventários no Registro Público de Emissões. Também são membros da iniciativa Empresas pelo Clima (EPC), coordenada pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (GVces) e do Fórum Clima, liderado pelo Instituto Ethos.

O alumínio produzido no Brasil apresenta vantagens comparativas muito importantes sob os aspectos de sustentabilidade em todo o ciclo de vida do metal:

• a energia elétrica, da qual a indústria primária faz uso intensivo, é de base predominan-temente hidrelétrica. As emissões de GEE são oriundas da parcela de geração térmica do Sistema Interligado Nacional (SIN) e são muito pequenas quando comparadas com a grande maioria dos países que também produzem alumínio primário;

• a mineração de bauxita representa um uso temporário da terra, feito com total aderência às leis brasileiras, valorizando um recurso mineral que possibilita geração de valor local, regional e nacional. A recuperação das áreas mineradas é feita com espécies nativas de acordo com métodos inovadores desenvolvidos por pesquisadores brasileiros. As emissões de GEE deste processo são muito pequenas;

• os processos de produção de alumina e alumínio primário instalados no Brasil são de classe mundial, com tecnologias compatíveis com a idade das instalações e com o que ocorre em outros países do mundo. A busca contínua de maior eficiência nestes processos é necessária por questões de custo e competitividade. Dessa forma, mesmo antes de haver a preocupação

1 Disponível em: <http://www.mma.gov.br/images/arquivo/80076/Industria.pdf>.

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global com as emissões de GEE, a indústria apresentava evolução contínua, fundamental para a competitividade de custos em um mercado cujo preço é global com referência na LME. Existem algumas variações de tecnologia para produção de alumínio primário, sendo que a tecnologia Prebaked com uso de silos para alimentação de alumina (PFPB) é a mais moderna, eficiente e com menos emissões. A tecnologia Soderberg é muito competitiva em termos de custo de instalação, e quando bem operada tem níveis de emissões comparáveis às Prebaked. A tendência mundial tem sido a de manter as operações Soderberg fazendo alguns investi-mentos para aumentar a eficiência e reduzir as emissões. Já os projetos greenfield têm sido na tecnologia Prebaked;

• por suas características de leveza, resistência e reciclabilidade a utilização do alumínio nos setores de transportes, construção e embalagens está cada vez mais transformando-se em soluções para um futuro de baixo carbono. Em transportes, sua utilização nas rodas, motores ou estruturas de carrocerias tem aumentado para atender especificações de emissões por quilômetro rodado. Cada quilo de alumínio utilizado neste setor, como substituto de outros materiais mais pesados, contribui com uma redução de emissões de 20 kg de CO2 durante a vida útil do veículo, segundo estudos do IAI;

• a atividade de reciclagem do alumínio, na qual o Brasil tem uma posição de destaque, alcançando taxas acima de 95% nas latas de alumínio para bebidas, também é outro fator fundamental da sustentabilidade do alumínio brasileiro. O processo de reciclagem consome 5% da energia consumida para produzir o alumínio primário, de acordo com estudos do IAI. É um banco de energia para as futuras gerações.

Os produtos de alumínio têm uma grande presença no nosso dia a dia e influencia na construção do futuro. Não é por acaso que quanto maior o nível de desenvolvimento econômico de um país, maior é o uso de alumínio por habitante.

O alumínio brasileiro tem vocação para assumir um lugar importante na busca de uma economia de baixo carbono, tanto pelos produtos e soluções que oferece quanto pela qualidade do desempenho socioambiental de sua indústria.

Por outro lado, causa preocupação o aumento considerável das importações de produtos manufaturados oriundos de países cuja produção tem uma pegada de carbono maior que a brasi-leira – o caso da China, por exemplo –, ocasionando uma situação conhecida como vaza mento de emissões (carbon leakage).

3 EXPERIÊNCIAS DO SETOR RELACIONADAS AO TEMA

A indústria brasileira do alumínio vem reduzindo suas emissões de dióxido de carbono (CO2) e perfluorcarbonos (PFCs). Os dados constam do Relatório de Referência “Emissões de Gases de Efeito Estufa na Produção de Alumínio”, do MCTI. Apesar de a produção de alumínio primário brasileira ter aumentado mais de 70% de 1990 a 2007, as emissões de CO2 dos ânodos tiveram uma pequena queda em números absolutos, e as emissões dos PFCs tiveram uma redução de mais de 70% no mesmo período.

Os gases emitidos na fabricação do alumínio primário são os perfluorcarbonos ou PFCs, gases de efeito estufa que têm um tempo muito longo de permanência na atmosfera. As emissões de PFCs da indústria do alumínio ocorrem ocasionalmente durante o processo de redução eletrolítica, em eventos chamados de efeitos anódicos.

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Os efeitos anódicos são causados quando uma quantidade insuficiente de alumina (Al2O3) está dissolvida no banho eletrolítico contido nos fornos de uma linha de redução de alumínio, implicando maior resistência elétrica e, já que o circuito tende a manter a corrente de processo constante, ocasionando, também, um aumento de voltagem acima de determinada faixa de operação normal. Essa situação resulta na emissão de gases contendo o tetrafluoreto de metano ou perfluormetano (CF4) e o hexafluoreto de etano ou perfluoretano (C2F6).

Esses efeitos são indesejados por também implicarem perda de eficiência no processo e aumento de consumo de energia. Tradicionalmente a indústria mede a sua ocorrência em termos de frequência e duração. A quantidade de PFCs emitidos por uma planta de redução de alumínio é razão direta da frequência e da duração dos efeitos anódicos.

No processo de redução de alumínio, existem algumas tecnologias e controles operacionais que contribuem positivamente para a redução de emissões atmosféricas, tais como:

• controle do nível de banho eletrolítico;

• tecnologia e procedimentos para controle dos efeitos anódicos;

• tecnologia e procedimentos para predição e supressão dos efeitos anódicos;

• tecnologia e procedimentos de adição de alumina nas cubas eletrolíticas;

• formulação dos insumos componentes do ânodo;

• tecnologia e procedimentos para colocação e remoção de pinos no ânodo;

• eficiência do sistema de exaustão das cubas eletrolíticas.

Ao longo dos anos, a indústria brasileira vem investindo na modernização tecnológica dos aspectos citados, com a introdução ou aprimoramento de sistemas eletrônicos para medir, antecipar e suprimir a ocorrência dos efeitos anódicos.

Também foi fundamental a introdução e reforço do cumprimento de práticas operacionais mais robustas, no intuito de manter a estabilidade do processo e possibilitar aos operadores agirem com maior rapidez para a supressão dos efeitos anódicos.

A introdução de melhorias no desenho e na formulação dos ânodos também aumentou a estabilidade do processo, reduzindo a ocorrência destes eventos e das emissões de PFCs.

3.1 Emissões por produto

Um estudo da Abal, em parceria com a Fundação Espaço ECO, denominado “Avaliação das Emissões de Gases de Efeito Estufa na Cadeia de Valor do Alumínio”, estimou o total das emissões no Brasil – desde a mineração até a reciclagem do metal – em 4,2 toneladas de CO2 por tonelada de alumínio, fator muito abaixo da média mundial de 9,6 t CO2 por tonelada de alumínio, conforme divulgado pelo IAI.

Essas emissões incluem a energia elétrica, usada intensamente no processo de produção do alumínio primário, o que dá vantagem para o país, em vista da nossa matriz energética, predominantemente hidrelétrica.

Esses dados ilustram a preocupação do setor com aumento das importações para atender a demanda crescente por alumínio no Brasil, uma vez que aumentaria as emissões globais de GEE.

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Gráfico 2 – Emissões de gases de efeito estufa na indústria do alumínio(Em kgCO2e/tAl)

10.000

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0Produção alumínio primário (inclui energia)

2.661

7.100

4.250

9.635

Cadeia de valor do alumínio

Brasil Mundo

Fonte: Abal.

4 DESAFIOS DO SETOR NO TRATAMENTO DO TEMA

Com o preço baixo do metal e o alto custo da energia elétrica, o ano de 2014 marcou o momento em que o Brasil tornou-se importador líquido de alumínio.

Sem a adoção de medidas que deem ganho de competitividade à indústria, como custo de energia no patamar mundial, o país poderá ter déficit de 1,558 milhão de toneladas de alumínio primário em 2025. Considerando o preço atual do metal, serão cerca de US$ 3 bilhões de divisas que o país teria de desembolsar a cada ano. No entanto, caso esta importação ocorrer na forma de produtos semimanufaturados ou transformados, o déficit comercial pode chegar a US$ 14,5 bilhões e anular os investimentos nesses elos da cadeia.

A Abal estima que o setor deixará de criar cerca de 47 mil empregos e de fazer investimentos de R$ 20 bilhões no acumulado dos próximos dez anos. Anualmente, deixará de arrecadar R$ 450 milhões em impostos.

Como já destacado, em 2014 a indústria apresentou produção inferior a 1 milhão de toneladas de alumínio primário pela primeira vez em 24 anos. A situação tende a se agravar e o país pode chegar a 2025 com volume de apenas 660 mil toneladas ao ano, ante uma capacidade atual de 1,5 milhão de toneladas.

Do lado da demanda brasileira, a Abal estima um crescimento médio anual de 6,5% no consumo na próxima década em produtos transformados – uso em embalagens, veículos, construção civil, bens de consumo, máquinas e outras aplicações. A projeção é passar dos atuais 1,4 milhão de toneladas para 3,2 milhões de toneladas em 2025.

Em defesa da recuperação da competitividade do setor, a Abal tem apresentado proposta de adoção de política industrial que considere a garantia de oferta de energia elétrica a preços competitivos; medi das estruturantes do comércio internacional que criem condições sustentáveis de longo prazo; política de apoio à atividade de reciclagem; redução dos custos dos investimentos; estímulo à Pesquisa e Desenvolvimento, criando melhores condições para a modernização das empresas de menor porte; entre outros aspectos.

O estudo das emissões de gases de efeito estufa (GEE) na cadeia de valor do alumínio brasileiro, realizado pela Abal em 2010, já indicava que a pegada de carbono do alumínio brasileiro é menos da metade da média mundial.

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Por causa dessa vantagem comparativa, obtida principalmente devido à energia proveniente das hidrelétricas, – mas também pelos processos de classe mundial – a indústria observa com preocupação o crescimento das importações de produtos acabados de alumínio.

O maior desafio da indústria brasileira de alumínio, que não pode ser dissociado da questão das mudanças climáticas, é a recuperação de sua competitividade e capacidade de investimento. Esse é o aspecto norteador para a participação da nossa indústria na discussão, mobilização e ações voltadas para mitigação e adaptação.

Para isso, será necessário demonstrar a importância do alumínio para um futuro de baixo carbono. Os resultados dos estudos e análises realizados pela Abal e o IAI têm-se provado cada vez mais relevantes para melhor entender e ressaltar nossas vantagens comparativas, assim como para identificar oportunidades de melhoria:

• energia limpa e renovável, de origem hidrelétrica;

• baixa pegada de carbono de seus produtos;

• mineração e controle de processos de classe mundial;

• altas taxas de reciclagem.

Outros desafios:

• conhecer com mais detalhes as emissões de gases de efeito estufa e a situação de eficiência energética das refinarias brasileiras (produção de alumina), e sua posição em relação às refinarias de outros países;

• manter os esforços para continuar reduzindo as emissões na cadeia produtiva por meio da melhoria de práticas operacionais;

• continuar aprimorando a qualidade dos inventários de emissões;

• conhecer, estimular e divulgar as emissões evitadas e demais vantagens do uso e reciclagem dos produtos de alumínio no Brasil;

• entender as emissões evitadas na fase de uso dos produtos de alumínio.

O alumínio brasileiro tem um lugar importante nas soluções para uma economia de baixo carbono, tanto pelos produtos e soluções que oferece quanto pela qualidade do desempenho socioambiental de sua indústria. O Brasil tem uma vocação para ser uma nação protagonista na nova economia, e o alumínio tem muito a contribuir nesta trajetória.

5 VISÃO DE FUTURO/TENDÊNCIAS

Temos enormes desafios pela frente. Além de tentar obter custos de energia elétrica mais competitivos para nossa indústria, também temos de enfrentar a questão da disponibilidade e dos custos do gás natural, o que permitirá a redução ainda maior de nossa pegada de carbono.

Entre os desafios permanentes, destacamos a formação de lideranças capazes de expressar as vantagens do alumínio para uma economia de baixo carbono.

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Nosso firme propósito é continuar participando do desenvolvimento do nosso país, do crescimento da economia e da melhoria de qualidade de vida de nossa população. Para isso, precisamos voltar a crescer, investindo na produção, gerando empregos e renda, e participando do desenvolvimento local das comunidades em que nossa indústria está inserida.

6 PROPOSTAS/AGENDA POSITIVA

Diante da maior crise pela qual a nossa indústria já passou desde que se instalou no Brasil, com um quadro de perda de competitividade e queda de produção física, não faz sentido atribuir metas de redução nem adotar medidas de mitigação de emissões para o setor.

É importante atuar em conjunto com o governo e demais associações para a garantia de um ambiente regulatório que estimule nossas vantagens comparativas na produção de alumínio no Brasil.

O incremento da utilização do alumínio em alguns setores, como o de transportes, por exemplo, pode colaborar para melhorar a mobilidade sustentável e de baixas emissões.

Apesar do cenário desfavorável, a indústria brasileira do alumínio está consciente de suas responsabilidades para uma economia de baixo carbono e continuará participando da sua construção.

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CRÉDITOS

Associação Brasileira Alumínio – ABAL

Tito Botelho Martins JuniorPresidente do Conselho Diretor

Paulo Antônio de Moura Magalhães1o Vice-Presidente

Antônio Tadeu Coelho Nardocci2o Vice-Presidente

Milton RegoPresidente Executivo

João Batista MenezesCoordenador do Comitê de Sustentabilidade

Maurício F. BornCoordenador do Subcomitê de Mudanças Climáticas

ABCP

ECONOMIA DE BAIXO CARBONO: UMA VISÃO PARA

O FUTURO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA DE CIMENTO

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1 A INDÚSTRIA DO CIMENTO E O DESENVOLVIMENTO DO PAÍS

O Brasil é um país com dimensões continentais, são mais de 7 mil quilômetros de costa marítima, fronteiras com dez países diferentes e uma área de 8,5 milhões km2. Foi dentro deste cenário que a indústria brasileira de cimento começou a desenvolver-se, primeiro em São Paulo, em 1926, e depois no Rio de Janeiro. Com um começo tímido no início do século XX, a produção nacional ultrapassou as importações a partir de 1933. A indústria brasileira iniciou, então, um processo consistente de consolidação e crescimento.

Foi nos anos 1970, que o chamado “milagre econômico” impulsionou a indústria do cimento, estimulada pelos inúmeros projetos habitacionais e de infraestrutura da época. Em apenas dez anos, o consumo per capita passou de 100 para 227 kg por habitante. Nesse mesmo período, a produção de cimento triplicou, saltando de nove para 27 milhões de toneladas anuais, e foram instaladas 24 novas fábricas para abastecer essa crescente demanda.

Gráfico 1 – Consumo aparente do cimento no Brasil

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Absoluto Brasil Per capita Brasil

Milagre econômico

EstagnaçãoConsolidação do mercado

Retomada docrescimento

Per capita mundo

Fonte: SNIC (2013).

Hoje a indústria atravessa um novo ciclo de crescimento, iniciado a partir de 2004, e conta com 92 plantas industriais cimenteiras, controladas por 19 grupos industriais. Essas plantas têm capacidade instalada de 90 milhões de toneladas/ano e produziram 70 milhões de toneladas em 2013, fazendo do Brasil o 6o maior produtor e 4o maior consumidor de cimento do mundo.

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Figura 1 – A indústria de cimento no Brasil

Fábricas integradasMoagens

19 grupos industriais92 fábricas: - 60 integradas; - 32 moagens.Produção (2013): 70 MtConsumo (2013): 71 MtCapacidade instalada (2015): 90 Mt/ano

Fonte: SNIC (2013).

2 A CRISE DO PETRÓLEO E O PROCESSO DE MODERNIZAÇÃO DO PARQUE NACIONAL

A indústria cimenteira brasileira destaca-se atualmente no cenário internacional como uma das mais bem posicionadas em termos de baixa emissão de carbono e de eficiência energética. Essa posição, reconhecida pela Agência Internacional de Energia (IEA), foi conquistada graças a ações iniciadas décadas atrás e que vêm se ampliando e consolidando ao longo de vários anos.

O caminho para atingir essa produção de forma sustentável, tanto do ponto de vista econômico quanto ambiental, foi marcado por diversos desafios. No final da década de 1970, a crise energética com que se deparava o país, como decorrência da elevação dos preços internacionais do petróleo, levou o governo federal a buscar soluções para conter a importação de petróleo e derivados, dos quais o Brasil era altamente dependente, substituindo-os por energéticos de origem nacional.

Entre as soluções propostas, um protocolo assinado em 1979, entre o governo, o setor de cimento e o de extração do carvão, tinha como desafio reduzir o consumo de óleo combustível na indústria cimenteira, intensiva em energia, substituindo-o pelo carvão nacional. Era criado o protocolo do carvão.

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O protocolo visava criar condições e implementar medidas que propiciassem o desafio de reduzir ao máximo e no mais curto prazo possível o consumo de óleo combustível no setor de cimento brasileiro.

Gráfico 2 – Estrutura do consumo energético do setor cimento(Em %)

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Óleo combustívelCarvão mineral

Carvão vegetal

Eletricidade

OutrosCoque de petróleo

Fonte: MME (2014).

Dos compromissos então assumidos pela indústria, resultou a modernização do parque industrial, com a conversão do processo “via úmida” para “via seca” em diversas unidades, garantindo economia de quase metade do consumo de combustíveis.

Além disso, a instalação de equipamentos de redução de consumo energético, a intensificação no uso de adições ao cimento como escórias de alto forno, cinzas de usinas termoelétricas e argilas calcinadas, a busca por outras fontes de energia alternativa, como biomassa, e o desenvolvimento de queimadores para vários tipos de combustíveis, com tecnologia 100% nacional, foram outros resultados obtidos para um melhor aproveitamento da energia pelo setor.

Em outras palavras, tudo que se exige hoje da indústria cimenteira mundial como meios de mitigação de emissões e de redução do uso de fontes de energia não renováveis começou como resposta ao desafio lançado pelo Protocolo de 1979. O governo federal, por sua vez, comprometeu-se e desenvolveu diversos programas de apoio às iniciativas.

Naquela época, as emissões de CO2 não eram o centro das preocupações. Mas as ações executadas desde então tiveram papel determinante para alçar a indústria do cimento brasileira entre as menos emissoras de GEE, antecipando-se na busca por um mundo mais sustentável.

O problema hoje já não é mais o óleo combustível, que praticamente deixou de ser utilizado. O carvão mineral não se tornou o substituto ao óleo combustível, pois além de o nacional ser de baixíssimo poder calorifico, inadequado, o grau de emissão dessa fonte de energia não recomenda seu uso em grande escala. Contudo, outras fontes alternativas passaram a ser buscadas e utilizadas, como o coprocessamento de resíduos e o maior uso de biomassa.

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3 O CIMENTO E A DISCUSSÃO CLIMÁTICA

Nos dias de hoje, felizmente, a discussão ambiental já é uma realidade e as mudanças climáticas, suas causas e consequências têm sido o tema dominante nos últimos anos. Para a indústria do cimento constitui também uma questão de máxima relevância, uma vez que a emissão de CO2 é intrínseca ao seu processo produtivo, seja com a transformação química da matéria-prima em cimento, seja com a queima de combustíveis utilizados para possibilitar essa transformação.

Estudos internacionais apontam que aproximadamente 5% das emissões de CO2 de origem antrópica no mundo provêm da produção de cimento (no Brasil esse valor corresponde a 2,6%, segundo as estimativas anuais do MCTI). Por sua vez, a previsão de demanda por cimento, principalmente nas economias emergentes como o Brasil, é de aumentar substancialmente nas próximas décadas, fazendo da gestão de carbono uma questão prioritária para o setor.

O tema também tem ganhado força nos últimos anos no Brasil. No âmbito federal, foi aprovada em 2009 a Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), que estabeleceu como compromisso nacional voluntário, ações de mitigação das emissões de GEE, com vistas em reduzir entre 36,1% e 38,9% suas emissões projetadas até 2020.

A regulamentação desta política, em 2011, estabeleceu diversos planos setoriais de mitigação e de adaptação às mudanças climáticas, entre eles o Plano Indústria, com o objetivo de reduzir em 5% as emissões de CO2 de todo o setor industrial.

Nas esferas estaduais, a discussão climática também tem se capilarizado rapidamente. Até o momento, 14 dos 26 estados brasileiros já possuem uma política estadual de mudanças climáticas, sendo três com meta específica de redução (SP, RJ, PB).

4 PILARES DA SUSTENTABILIDADE

A indústria do cimento brasileiro ocupa hoje posição de referência no combate aos GEEs graças a uma série de características do processo produtivo, além de diversas ações adotadas pelo setor, algumas alavancadas a partir da transformação industrial durante a crise do petróleo do final da década de 1970 e outras mais recentemente. São elas:

4.1 Eficiência energética

O setor no Brasil possui hoje um parque industrial moderno e eficiente, com instalações que operam com baixo consumo energético e, consequentemente, uma menor emissão de CO2 quando comparado a outros países.

Praticamente todo o cimento no país é produzido por via seca, garantindo significativa diminuição do uso de combustíveis em relação a outros processos menos eficientes. Além disso, preaquecedores e precalcinadores reaproveitam os gases quentes para preaquecer a matéria-prima previamente à entrada do forno, diminuindo ainda mais o consumo de combustíveis. Os fornos via seca com preaquecedores, no Brasil, são responsáveis por cerca de 99% da produção de cimento.

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Comparativamente, segundo último levantamento da Cement Sustainability Initiative (CSI), em escala mundial os fornos via seca com preaquecedor (e com ou sem precalcinador) representam 87%.

Gráfico 3 – Produção de clínquer por tipo de forno: base de dados GNR(Em %)

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Via seca: pré-aquecedor e sem pré-calcinadorVia seca: pré-aquecedor e pré-calcinador Forno misto

Via seca: sem pré-aquecedor (forno longo via seca) Úmida/forno verticalSemi-seca/semi-úmida

1990 2000 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Brasil: 99%Mundo: 80%

Fonte: WBCSD/CSI (2012).

4.2 Combustíveis alternativos

Além dos combustíveis tradicionais utilizados pela indústria do cimento, como coque de petróleo, óleo combustível e carvão mineral, é cada vez mais crescente o uso de combustíveis alternativos no Brasil, por meio do coprocessamento de resíduos e da utilização de biomassa.

A queima de resíduos por meio do coprocessamento tem aumentado consideravelmente a partir dos anos 2000. Atualmente, são coprocessados pela indústria do cimento no Brasil aproximadamente 1,25 milhão de toneladas de resíduos por ano, representando cerca de 9% da matriz de combustíveis. Contudo, o setor possui um potencial de destruição de aproximadamente 2,5 milhões de toneladas, o que representa uma alternativa significativa para mitigação das emissões de CO2.

No entanto, para alcançar valores similares àqueles praticados por países desenvolvidos, é preciso uma maior integração entre a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e a Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), bem como superar diversos obstáculos de regulamentação, priorizando a valorização energética de resíduos em substituição a combustíveis fósseis não renováveis.

O Brasil também é o país que mais utiliza biomassa na produção de cimento, também conforme levantamento da CSI, com pouco menos de 12% de participação na sua matriz energética (gráfico 4). Essa biomassa é constituída, principalmente, por carvão vegetal e, secundariamente, por resíduos de agricultura como palha de arroz.

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Gráfico 4 – Energia térmica por combustível: todos os participantes do GNR(Em %)

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Coprocessamento Combustíveis fósseisBiomassa

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China Índia CEI América do Sul(exceto Brasil)

Brasil Europa

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1990

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Fonte: WBCSD/CSI (2012).

4.3 Adições ao clínquerA indústria nacional tem tradição no uso de cimentos com adições. O aproveitamento de subprodutos de outras atividades e matérias-primas alternativas é realizado há mais de 50 anos no país, prática que só recentemente vem sendo mais adotada no mundo.

A produção de cimentos com adições ao clínquer de materiais como escórias de alto forno, cinzas volantes, pozolanas artificiais e fíler calcário, além de diversificar as aplicações e características específicas do cimento, propicia a redução das emissões de CO2, uma vez que diminui a produção de clínquer e, consequentemente, a queima de combustíveis e a emissão da descarbonatação.

Além disso, os cimentos com adições representam uma solução ambientalmente correta para subprodutos de outros processos produtivos, como escórias siderúrgicas e cinzas de termelétricas. Tudo isso atendendo, acima de tudo, às especificações das normas técnicas do país.

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Gráfico 5 – Razão clínquer no cimento(Em %)

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1990 20052000 20122011

Américado Norte

Ásia (excetoChina, Índia eCIS) + Oceania

CIS África AméricaCentral

Europa China Índia Américado Sul

(exceto Brasil)

Brasil

Fonte: WBCSD/CSI (2012).

A crescente utilização de adições no Brasil tem representado uma das mais eficazes medidas de controle e redução das emissões de CO2 da indústria. O país apresenta a menor relação clínquer/cimento (70%) e, consequentemente, o maior percentual de adições utilizadas, colocando mais uma vez o Brasil como referência internacional na busca por cimentos com menor emissão.

5 DESAFIOS DA INDÚSTRIA DO CIMENTO BRASILEIRA

No caso particular da indústria do cimento brasileiro, a conjunção desses pilares ajudou a posicionar o setor entre os mais eficazes no controle de suas emissões, apresentando os menores níveis de CO2 por tonelada de cimento produzida, segundo o levantamento da Cement Sustainability Initiative (CSI).

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Gráfico 6 – Emissão específica de CO2

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Américado Norte

Ásia (excetoChina, Índia eCIS) + Oceania

CIS ÁfricaAméricaCentral

EuropaChina Índia Américado Sul

(exceto Brasil)

Brasil

Fonte: WBCSD/CSI (2012).

Essa condição diferenciada, entretanto, limita o potencial de redução das emissões do setor, em virtude do grau de excelência já alcançado, como já anteviu o gráfico da Agência Internacional de Energia (IEA) a seguir. Esse desafio, no entanto, representa uma motivação adicional para a indústria do cimento brasileira na busca por alternativas que possibilitem intensificar ainda mais a mitigação de suas emissões.

Gráfico 7 – Potencial de redução de CO2 da indústria de cimento

0.20.2

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Economia de eletricidade Potencial de redução específicoEconomia de combustível fóssilCinzas volantes Combustíveis alternativosEscória de alto-forno

Mundo China Rússia Canadá EUA Coreia Brasil Índia Europa Japão Outros

Fonte: IEA (2009).

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6 UM OLHAR PARA O FUTURO – O CEMENT TECHNOLOGY ROADMAP BRASILEIRO

A discussão climática no Brasil faz surgir uma demanda cada vez maior de estudos e projetos governamentais, acadêmicos ou do setor produtivo, correlacionados ao tema, na busca por uma economia de baixo carbono.

A indústria brasileira do cimento, antecipando-se novamente, começou a trabalhar na elaboração de um novo projeto, o mapeamento das emissões do setor, projetadas até 2050, e suas respectivas alternativas de redução.

Este trabalho será a versão brasileira do Cement Technology Roadmap, estudo global elaborado em 2009 pela International Energy Agency (IEA), em parceria com o World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), primeiro no mundo a projetar um cenário de redução potencial de emissões de um setor específico até 2050. A exemplo da versão feita recentemente na Índia, o projeto brasileiro também contará com a participação destas duas entidades, bem como com a quase totalidade da indústria do cimento atuante no país.

Tudo isso pensando, acima de tudo, no grande desafio da indústria brasileira do cimento, que é atender à crescente demanda por cimento no país para a construção da infraestrutura necessária ao seu desenvolvimento, mantendo as suas já baixas emissões específicas de CO2, que a colocaram entre as mais eficientes do mundo.

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CRÉDITOS

Associação Brasileira de Cimento Portland – ABCP Yushiro Kihara 

Sindicato Nacional da Indústria de Cimento – SNICGonzalo Visedo

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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA ELÉTRICA E

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1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO SETOR JUNTO À ECONOMIA NACIONAL

Tendo atuação transversal, a indústria elétrica e eletrônica brasileira está presente em todas as etapas do processo produtivo. Isso porque o setor supre as demandas dos setores primário, secundário (estando em praticamente todos os segmentos industriais) e terciário, além de desenvolver e apresentar ao consumidor uma vasta gama de produtos finais. O setor eletroeletrônico também contribui para aumentar a eficiência energética e a produtividade, auferindo, por exemplo, flexibilidade e personalização de processos e níveis de sustentabilidade de indústrias e empresas de diversos segmentos. Neste sentido, o setor eletroeletrônico é de suma importância para os outros setores econômicos, dado que é o avanço tecnológico dessa indústria que possibilita a inovação e a competitividade para as máquinas, os equipamentos e os sistemas, e também para os produtos finais como computadores, celulares, eletrodomésticos, equipamentos de áudio, motores, transformadores, entre outros (CNI; ABINEE, 2012). A sua importante posição no cenário econômico confere também importância estratégica ao desenvolvimento sustentável do país.

“Um dos compromissos do setor é contribuir para o crescimento do país. E isso só é possível hoje com ações concretas de sustentabilidade”.

Humberto Barbato Presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica

Fonte: CNI e Abinee (2012).

O setor eletroeletrônico brasileiro compreende 4 mil empresas, sendo 80% das empresas de pequeno porte (CNI; ABINEE, 2012). Por outro lado, em termos de produção e faturamento, a indústria é dominada por grandes empresas multinacionais (cerca de 80%), além de ser marcada pelas inovações, que ocorrem de forma constante e acelerada (SILVEIRA, 2010). O setor representa cerca de 3,1% do PIB e, em 2014, teve um faturamento de R$ 159,4 bilhões (ABINEE, 2014).

2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO SETOR FRENTE À AGENDA DE MUDANÇA DO CLIMA

Durante a última década, as mudanças climáticas emergiram como uma das principais preocupações para os governos federal e estaduais, empresas, investidores e sociedade em geral. As atividades antrópicas, que geram gases de efeito estufa, são apontadas como as causas primárias. A escassez dos recursos naturais exige uma mudança no modelo de produção e consumo globalmente. Assim, a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) entende que as empresas do setor devem ter o desenvolvimento sustentável de seus negócios e suas operações como missão e objetivo estratégicos.

O setor eletroeletrônico possui uma alta diversidade de subsetores, sendo que cada tipo de produção é responsável pela emissão de diferentes gases de efeito estufa (GEE). Apesar de se apresentar como uma indústria não energo-intensiva, a indústria eletroeletrônica é responsável pelo consumo de energia durante a vida útil de seus produtos, além de ser emissora de diversos GEE com alto Potencial de Aquecimento Global (PAG). Nesse sentido, vale destacar a importância do NF3 (trifluoreto de nitrogênio), que foi incluído recentemente na lista dos gases monitorados pelo Protocolo de Quioto e pode representar nos próximos anos uma mudança radical na participação do setor eletroeletrônico

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nas emissões mundiais. Segundo o GHG Protocol (2013), o NF3 é utilizado como substituto aos PFCs e SF6, principalmente na indústria eletrônica, em que serve para o processo de erosão por plasma e para limpar as câmaras em que são produzidos os chips de silício utilizados na fabricação de semicondutores e painéis de LCD. Além disso, esse gás também é utilizado na indústria de painéis fotovoltaicos de filme fino.

No Brasil, o setor industrial participou, em 2005, de 7% das emissões nacionais como pode ser visto no gráfico 1.

Gráfico 1 – Participação da indústria nas emissões nacionais em 2005(Em %)

Outros setores - energia

Agropecuária

Indústrias - energia e processos

Tratamento de resíduos

Mudança do uso da terra e florestas

Setor energético - energiaSetor transporte - energia

19

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6

3

7

61

Fonte: Elaborado a partir de Brasil/MCTI (2010a).

O desmatamento é responsável por uma parcela significativa de emissões de GEE no país, o que reduz a participação de demais setores no total de emissões. Com a redução da taxa de desmatamento nos últimos anos, a participação dos setores industriais no total das emissões nacionais tende a crescer, colocando, desta forma, a indústria cada vez mais no centro das discussões nacionais sobre mitigação das emissões de GEE.

Acrescidos os riscos e as oportunidades comerciais que se apresentam em uma economia de baixo carbono, o momento é propício para que o setor se prepare para o cenário nacional de restrição de emissões que se constrói em ritmo acelerado e identifique e maximize as oportunidades comerciais que são apresentadas nesse cenário.

Sendo um tema recente, o conhecimento sobre as características e as melhores práticas de gestão de carbono a serem implantadas ainda não está plenamente difundido no âmbito corporativo. Segundo CNI e Abinee (2012), as empresas do setor já estão procurando aderirem-se às normas ambientais, dado que 50% das empresas do setor possuem certificações ISO 14.001, que visam à criação de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) eficiente.

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3 EXPERIÊNCIAS DO SETOR RELACIONADAS AO TEMA

Não apenas as próprias empresas estão interessadas em como seus negócios serão impactados, como também os investidores estão se mobilizando para entender estas questões, demonstrando uma tendência, já observada em todo o mundo, de investimentos mais responsáveis e sustentáveis – o que inclui a consideração da estratégia empresarial relacionada à variável climática.

Existe uma série de iniciativas que visam premiar empresas que se destacam no desempenho em sustentabilidade e algumas iniciativas específicas para o tema gestão de carbono. Diversas empresas representantes do setor já foram reconhecidas em premiações como a Climate Leadership, Carbon Ranking Leader Award e Guia Exame de Sustentabilidade.

No que concerne ao setor de energia, destacam-se as estratégias de negócio voltadas à produção de equipamentos e sistemas mais eficazes para a geração de energia por meio de combustíveis fósseis que reduzam ou eliminem a emissão de gases, inclusive os GEE (CNI; ABINEE, 2012). Além disso, as estratégias do setor também são importantes para o desenvolvimento da indústria de energia fotovoltaica e eólica, como o investimento em P&D para a produção local de células solares, e em equipamentos e soluções que resultem diminuição de custos para a sua expansão (CNI; ABINEE, 2012). As empresas do setor eletroeletrônico também estão oferecendo soluções e melhores equipamentos para o aproveitamento da biomassa, como bagaço de cana para a geração de energia térmica. Finalmente, as empresas de eletroeletrônicos estão participando do desenvolvimento do Smart Grid brasileiro, em especial no que concerne aos medidores inteligentes e integrados às redes Smart Grid que permitem a gestão eficaz da rede e do consumo de energia nas residências (CNI; ABINEE, 2012).

“[...] a indústria de semicondutores foi a primeira indústria a se unir globalmente para estabelecer uma meta mundial de redução de emissão de GEE que fosse além da estabelecida pelo Protocolo de Quioto.”

Fonte: Esia (2009).

Entre as medidas de gestão e mitigação de emissões de GEE atualmente já implementadas por empresas elétricas e eletrônicas em seus processos produtivos, destacam-se a elaboração de inventários de emissões, o uso de materiais alternativos ao plástico, medidas de eficiência energética, bem como mudanças em seus processos produtivos.

O quadro 1 lista as principais iniciativas de mitigação de emissões do setor de eletroeletrônicos.

Quadro 1 – Iniciativas de mitigação de emissões

Mudança namatriz energética

- Trigeração;- Cogeração a gás natural;- Troca de combustível em equipamentos como cadeiras para geração de vapor e calor (de óleo combustível e carvão, para gás natural e biomassa);- Geração isolada de energia renovável – eólica e solar.

Eficiência energética

- Recuperação de calor e frio de sistemas de ar condicionado e máquinas;- Melhoria da combustão;- Adoção de processos mais eficientes;- Otimização em sistemas de vapor;- Automação de equipamentos.

Mudanças e melhoriasnos processos industriais

- Redução da emissão de PFCs em limpeza de câmaras na fabricação de semicondutores;- Revisão e substituição dos equipamentos de distribuição de SF6;

- Mudança de insumo na fabricação de estruturas plásticas.

Uso de insumos alternativosna fabricação de produtos

elétricos e eletrônicos

- Uso de gases com menor potencial de aquecimento global;- Uso de materiais reciclados para a fabricação dos aparelhos eletrônicos.

Fonte: ICF International com base em Fides (2011), Esia (2009), EPA (2010) e UNFCCC (2010).

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É importante destacar a iniciativa conjunta da Abinee e da CNI, que ofereceu vagas gratuitas para o curso “Inventários Corporativos de Gases de Efeito Estufa – GEE” realizado nos dias 3 e 4 de outubro de 2013, e novamente em 2015, nos dias 8 e 9 de abril. O curso visou preparar as empresas do setor para a elaboração de inventários corporativos de emissões de GEE, conforme as especificações do Programa Brasileiro GHG Protocol.

A tabela 1 apresenta alguns exemplos de metas de redução de emissões de GEE divulgadas por empresas do setor.

Tabela 1 – Metas de redução de emissão divulgadas por empresas de eletroeletrônicos

EMPRESA TIPO ESCOPO

REDUÇÃO EM RELAÇÃO AO

ANO-BASE (%)

ANO-BASEUNIDADE

(APENAS PARA INTENSIVAS)

ANO PARA ALCANCE DA META

ELECTROLUX Absoluta 1+2 28 2005 N/A 2012

GE Absoluta 1+2 25 2004 N/A 2015

PANASONIC Absoluta 1+2+3 0 2005 N/A 2018

SCHNEIDERAbsoluta 1+2 14 2008 N/A 2011

Absoluta 3 12 2008 N/A 2011

WEG Absoluta 1+2 N/A 2010 N/A 2012

ERICSSON

Intensidade 1+2+3 40 2008Kg CO2e/capacidade

2013

Intensidade3: uso do produto

40 2008Kg CO2e/capacidade

2013

NOKIA

Absoluta 1+2 30 2006 N/A 2020

Intensidade 1+2 15 2006

tCO2 nos escritórios e centros de P&D/ pessoa

2011

SAMSUNG Intensidade 1+2 50 2008tCO2e/ receita unitária

2013

SIEMENS

Absoluta3: uso do produto

100 2012 N/A 2011

Intensidade 1+2 20 2006t/custo de produção unitária

2011

Intensidade 1 33 2008gCO2e/quilômetro

2015

WHRILPOOL Absoluta 1+2+3 7 2003 N/A 2012

Fonte: ICF International com base em Investor CDP (2012).Obs.: N/A: não se aplica

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4 DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA O SETOR NA ECONOMIA DE BAIXO CARBONO

Por se tratar de uma indústria transversal, com diferentes tipos de consumidores (sejam eles os finais ou outras indústrias), as empresas do setor eletroeletrônico mostram-se preocupadas com a procura cada vez maior por produtos com uma menor pegada de carbono ou que possam contribuir para a redução das emissões de carbono nos processos produtivos de consumidores finais.

“O próximo desafio ambiental para companhias de bens eletrônicos de consumo é reduzir sua poluição de carbono (...). Consumidores já afirmaram que querem eletrônicos mais ecológicos, o que significa aparelhos com bom funcionamento fabricados e abastecidos por energias renováveis”.

Casey Harrell Greenpeace Internacional – analista de TI

Fonte: Greenpeace (2012).

As preocupações crescentes sobre o consumo de combustíveis fósseis e outras atividades antrópicas que emitem GEE, assim como seus efeitos sobre o sistema climático global, começaram a remodelar o ambiente de negócio em que as empresas operam. Apontado por cerca de 70% das empresas brasileiras como um potencial risco para seus negócios, os riscos regulatórios estão ganhando cada vez mais a atenção de empresas (CDP, 2013). A figura 1 representa, de forma esquematizada, as principais preocupações expostas com relação aos riscos regulatórios pelas maiores empresas do setor eletroeletrônico que reportaram ao Investor CDP 2012.

Figura 1 – Esquema riscos regulatórios percebidos pelo setor eletroeletrônico

Riscos regulatórios(influência direta

e indireta)

Possíveis indutores

Padrões e regulamentode eficiência e etiquetagem

de produtos

Cap and trade

Instrumentos depolíticas climáticas

Obrigação derelato de emissões

Possíveis consequências

Aumento doscustos operacionais

Redução de demandapor bens e serviços

Redução nadisponibilidade de capital

Fonte: Elaborado por ICF International com base em Investor CDP (2012).

A figura 2 apresenta as principais preocupações e avaliações de riscos físicos consideradas por empresas do setor eletroeletrônico, divulgadas pelo CDP 2012.

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Figura 2 – Esquema riscos físicos percebidos pelo setor eletroeletrônico

Riscos físicos

Possíveis indutores

Aumento daprecipitação média

Mudanças nos padrõesde precipitação

Aumento da frequência deeventos climáticos extremos

Aumento datemperatura média

Possíveis consequências

Redução ou interrupção dacapacitação de produção

Aumento docusto operacional

Fonte: Elaborado por ICF International com base em Investor CDP (2012).

A questão do risco competitivo é ainda mais relevante, uma vez que o aumento da demanda por produtos mais eficientes não significa o aumento da disponibilidade de o consumidor pagar por este. Assim, as empresas do setor devem buscar atender à demanda da melhor maneira custo efetiva. Além disso, o mercado nacional é bastante afetado com a importação irregular de produtos eletroeletrônicos, que, por muitas vezes, não atendem à legislação ambiental interna e representam um passivo ambiental expressivo (CNI; ABINEE, 2012). Nesse sentido, a criação de regulamentos mais restritivos para produtos nacionais pode significar uma perda de competitividade para as empresas locais, caso este não seja feito para os produtos importados.

A inclusão da variável climática na avaliação de risco das instituições financeiras pode impactar nas condições de financiamento. Empresas que não estejam engajadas em sustentabilidade, incluindo a gestão de carbono, podem ser afetadas por condições de financiamento mais rígidas (aumento da taxa de empréstimo, redução do prazo de amortização de financiamento, entre outros), a exemplo da resolução 4.327 do Banco Central, sobre diretrizes socioambientais para instituições financeiras.

Desafios do setor

• aumentar as fronteiras do gerenciamento das suas emissões para realizar uma Gestão Estratégica de Carbono mais abrangente, sobretudo o engajamento de toda a cadeia de valor, incluindo os consumidores e fornecedores (análise do ciclo de vida dos produtos);

• reavaliar seus objetivos e definir novos desafiadores;

• incorporar o carbono nas estratégias de negócio e na seleção de projetos (quando for considerar novos investimentos, produtos, aquisições etc.), como desenvolver produtos que contribuam para economia de energia e o uso de energia e materiais renováveis, bem como para o descarte;

• realizar workshops com outras empresas e mostrar o que foi aprendido com a gestão das suas emissões.

As oportunidades associadas às mudanças climáticas podem ser enxergadas como um espelho dos riscos: um determinado vetor que de um lado representa um risco à empresa, de outro também pode representar uma oportunidade. As oportunidades associadas às mudanças climáticas são apresentadas brevemente no quadro 2.

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Quadro 2 – Oportunidades associadas às mudanças climáticas

Físicos

As oportunidades estão associadas à melhoria nas condições de produção, proporcionadas pelas mudanças dos padrões climáticos. Podem também estar associadas à capacidade da organização de adaptar-se às mudanças climáticas.

Financeiras

Oportunidades físicas, regulatórias e reputacionais e competitivas têm implicações financeiras, via redução de custos, ou aumento de receitas.

- Oportunidades físicas: acesso facilitado a regiões temperadas, devido ao degelo, reduzindo custos de transportes, queda no preço de commodities cuja produção se positivamente impactada pelas alterações climáticas, elevação de demanda por produtos que sirvam a medidas de adaptação;

- Oportunidades regulatórias: redução dos custos de adequação e de cumprimento das novas regulamentações, elevação da demanda por produtos que promovem redução de emissão de outras organizações;

- Oportunidades reputacionais e competitivas: aumento da receita devido ao ganho de fatia de mercado, menores custos financeiros devido às condições facilitadas das fontes de capital. Ganhos financeiros com aumento do valor da marca/valorização das ações da empresa.

Regularórias

As oportunidades regulatórias estão relacionadas à adequação ou a capacidade de adequação das organização a eventuais novas regulamentações de restrição de emissões de GEE.

Reputacionais e competitivas

São as oportunidades decorrentes de uma nova percepção dos consumidores e cliente, por exemplo, a uma maior sensibilização destes grupos quanto à questão climática, valorização da marca em decorrência de ações de gestão de emissões ou preferência por produtos com menor pegada de carbono.

Fonte: ICF International com base em CNI (2011).

A mudança na disponibilidade de recursos naturais, o aumento da temperatura média global e as mudanças nos padrões de precipitação podem estimular o uso de equipamentos que proporcionem o uso eficiente dos recursos ou que criem novas maneiras de obtê-los, como equipamentos de tratamento de água de reuso e equipamentos geradores de energia renovável. Além disso, algumas empresas destacaram a oportunidade de mercado para produtos que garantam a adaptação a climas mais secos, como equipamentos de ar condicionado e umidificadores de ar e a adaptação à escassez de água, como equipamentos que proporcionem o uso mais eficiente de água.

5 VISÃO DE FUTURO/TENDÊNCIAS

O trabalho conjunto com governos representa uma oportunidade de identificar riscos climáticos regionais e de explorar estratégias de adaptação e oportunidades relacionadas às mudanças climáticas. A mobilização entre parceiros de governos locais e membros das indústrias pode ser vital para entender as problemáticas de cada região e ajudar a definir áreas de interesse a serem priorizadas. Assim sendo, políticas públicas que reconheçam os riscos climáticos, que deem apoio ao desenvolvimento de programas de adaptação e pesquisa dentro do setor público podem ser bastante relevantes ao desenvolvimento da gestão de carbono das empresas. E essa parceria pode auxiliar na elaboração e implantação de planos de monitoramento e mitigação de emissões, auxiliando indústrias na implantação de sua estratégia de gestão de carbono (ICMM, 2013).

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Diversas organizações já começam a engajar e selecionar seus fornecedores de acordo com critérios ambientais e climáticos. Assim, nestes processos, organizações que estejam mais adiantadas no gerenciamento de carbono terão vantagens sobre seus concorrentes. Outro exemplo refere-se às compras públicas: o governo brasileiro também já vem aplicando critérios ambientais na contratação de bens e serviços. A tendência é de aumento da aplicação destes critérios, especialmente climáticos, dado que a Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC) prevê a priorização de propostas que envolvam maior eficiência e menores emissões de GEE nas licitações e concorrências públicas.

De fato, a cadeia de suprimentos corresponde a 50% e 70% dos gastos e das emissões de GEE da maioria das empresas de manufatura (EPA, 2010). Uma das questões-chave no engajamento de fornecedores é que o consumo de matérias-primas com um maior teor de emissões pode provocar um aumento na pegada de carbono de produtos que já possuem elevados níveis de emissões de GEE e de consumo de energia. Desta forma, a tendência é que as empresas também procurem reduzir as emissões de GEE associadas à etapa de obtenção de seus insumos. Assim, fornecedores que apresentem emissões elevadas e que possam de alguma forma apresentar risco à sua imagem e reputação tendem a ser preteridos.

Adicionalmente, a PNMC prevê o estabelecimento do Mercado Brasileiro de Redução de Emissões (MBRE), em que seriam negociadas emissões de GEE evitadas e certificadas. Nesse sentido, vale reforçar que a criação de regulamentos mais restritivos para produtos nacionais pode significar uma perda de competitividade para as empresas locais, caso o mesmo não seja feito para os produtos importados.

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CRÉDITOS

Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica – ABINEEHumberto BarbatoPresidente Executivo

Departamento de SustentabilidadeJoão Carlos RedondoAdemir BrescansinHenrique Mendes

Departamento de Comunicação e MarketingJosé Carlos de OliveiraJean Carlo MartinsRenata Nogueira Silvestre

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A CONTRIBUIÇÃO DO BIODIESEL BRASILEIRO PARA

A REDUÇÃO DE EMISSÕES

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1 O SETOR DE BIODIESEL NO BRASIL

O Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB) foi criado em 2005. Apesar de ensaios realizados na década de 1980 demonstrarem a viabilidade técnica do produto como mistura ao diesel mineral, tal como ocorreu com o Programa OVEG, a efetiva introdução do biodiesel foi definida pela Lei Federal no 11.097/2005, que determinou a adição voluntária de 2% em 2005. Esse percentual passou a ser obrigatório em 2008 e, gradualmente, todo diesel comercializado em território nacional possuiria, até 2013, o percentual obrigatório de 5% de biodiesel em sua composição. Contudo, o rápido desenvolvimento do setor propiciou a antecipação dos 5% já para 2010. Em 2014, a Lei no 13.033/2014 elevou o teor compulsório para 7%, percentual que se mantém vigente desde então.

Respondendo à demanda nacional pelo biocombustível renovável, a indústria investiu massivamente em capacidade de produção. Apesar de crescente desde os primórdios do PNPB, o parque industrial voltado à produção do biodiesel apresenta ociosidade histórica, movimento parcialmente revertido nos anos de 2014 e 2015. Atualmente, a perspectiva de produção supera os 4 bilhões de litros, ante uma capacidade instalada autorizada de mais de 7,3 bilhões de litros (gráfico 1).

Gráfico 1 – Capacidade instalada e produção de biodiesel no Brasil (2008-2015)(Em bilhões de litros)

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Capacidade instalada Produção de biodiesel

2008 2009 2010 2011 2012 2013 2015 (P) 2015p

Fonte: ANP.Obs.: Capacidade instalada de 2015 com base em dados disponíveis até o mês de abril; (P) = projeção.

Essencial para o crescimento do setor, o complexo soja garantiu boa parte do suprimento de matéria-prima para a fabricação do biodiesel brasileiro. Atualmente, o óleo resultante do processamento do grão de soja responde por 76% de toda a produção nacional do biocombustível, seguido das gorduras animais, com 21% (gráfico 2).

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Gráfico 2 – Participação das matérias-primas na produção de biodiesel no Brasil (2008-2015)(Em %)

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Gorduras animaisÓleo de soja Óleo de algodão Óleo de fritura usado Outras

2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Fonte: ANP.Obs.: 2015 é com base em dados disponíveis até abril.

Atualmente, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) mantém 57 plantas industriais autorizadas a produzirem biodiesel. Tais unidades distribuem-se por 14 unidades da federação, sendo os principais supridores os estados do Rio Grande do Sul, Goiás e Mato Grosso.

1.1 Sinergias e abrangência setorial

O PNPB foi originalmente formatado com base nos pilares econômico, social e ambiental.

No primeiro deles, destaca-se a grande sinergia existente entre a produção do biodiesel, o esmagamento de soja e o abate de animais no Brasil. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), trata-se das mesmas regiões que abrigam 90% da capacidade nacional de produção de biodiesel, acolhem 94% da capacidade instalada em processamento de soja e realizam 80% dos abates de aves, suínos e bovinos. Vê-se, assim, que há um vínculo estreito entre cadeias agroindustriais, em parte incentivado pela existência do Programa de biodiesel.

Não obstante, o Brasil beneficia-se reduzindo suas importações de diesel mineral, haja vista que cada litro de biodiesel fabricado em solo nacional evita a entrada de um litro de seu par fóssil produzido no exterior. O biocombustível atua, nesse caso, como propulsor da agregação de valor doméstica.

No âmbito social, o PNPB inclui produtivamente mais de 85 mil agricultores familiares, os quais têm a garantia de compra de sua safra agrícola e a prestação de serviços de assistência técnica especializada. Em 2014, cerca de R$ 3 bilhões foram adquiridos de agricultores familiares brasileiros, o que representou entre 25 e 30% de toda a matéria-prima utilizada na produção do biocombustível. Neste quesito, vale mencionar que o produto oriundo da agricultura familiar recebe valorização diferenciada em função da sua origem e ligação com a produção de biodiesel.

Por fim, o elo ambiental contempla, entre outros pontos, reduções das emissões diretas e indiretas. No primeiro caso (diretas), destacam-se as reduções de emissões de materiais particulados, hidrocarbonetos e monóxido de carbono, substâncias malignas à saúde do ser humano. Quanto maior o teor de biodiesel misturado ao diesel, menores as emissões de tais elementos, algo que

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proporciona melhoria da qualidade de vida aos habitantes dos grandes centros, em especial. Nesse aspecto, Saldiva et al. (2015) defende que a evolução do B5 para o B7 evitou, somente nos municípios de São Paulo e Rio de Janeiro, mais de 1.100 mortes nos próximos dez anos (entre 2015 e 2025), economizando aos cofres públicos algo próximo a R$ 15 milhões em internações e tratamentos atribuíveis à poluição.

1.2 Biodiesel e sua relação com as mudanças climáticas

Já para o caso das emissões de GEE, os resultados apontam para amplos ganhos ambientais oriundos da maior utilização do biodiesel.

Tendo em vista os esforços para a descarbonização das principais economias mundiais, observa-se que o biodiesel colabora sobremaneira com a agenda brasileira para redução de emissões de gases do efeito estufa (GEE). Os ganhos decorrentes da maior utilização do biocombustível renovável já são observáveis, podendo tornar-se ainda mais importantes com medidas estruturais de longo prazo.

A consultoria técnico-científica Delta CO2 (2013) desenvolveu amplo estudo sobre a pegada de carbono do biodiesel de soja brasileiro. O estudo contemplou uma extensa gama de fatores responsáveis por emissões de GEE desde o campo, em que a soja é cultivada, até as cidades, nas quais o biodiesel é consumido. Entre os fatores, destacam-se: combustível utilizado por máquinas agrícolas; aplicações de insumos agrícolas; eletricidade; combustão estacionária de caldeiras, silos e geradores industriais; transportes intermediários e finais de soja, óleo de soja e biodiesel; entre outros.

Tomando como base a produção do biodiesel de soja nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, Delta CO2 (2013) estimou que o biodiesel brasileiro emita entre 23,1 e 25,8 gCO2eq/MJ, o que representa uma redução média das emissões de GEE da ordem de 70% em relação ao diesel fóssil, cujas emissões são estimadas em 85,2 gCO2eq/MJ.

Considerando a composição vigente do diesel B comercializado em território nacional (7% de biodiesel e 93% de diesel mineral), estima-se que o Brasil tenha reduzido suas emissões de GEE em 5% em relação aos patamares anteriores à utilização do biodiesel. Em um cenário no qual todo o diesel B tivesse em sua composição 10% do biocombustível, a redução das emissões de GEE chegaria a 7,3%, atingindo 14,5% com a ampla utilização do B20 (figura 1).

Figura 1 – Redução das emissões de GEE conforme mistura de biodiesel no diesel B (Em gCO2eq/MJ)

Diesel mineral B7 B10 B20B5

85,280,9 79,0 72,8

82,1

-5,0% -7,3% -14,5%-3,6%

Fonte: Delta CO2.

Em termos comparativos, segundo o relatório “Benefícios Ambientais da Produção e do Uso do Biodiesel”, produzido no âmbito da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Oleaginosas e Biodiesel, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), cada ponto percentual a mais de mistura de biodiesel equivale ao plantio de 7,2 milhões de árvores. Com o B7, estão sendo evitadas

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emissões próximas a 7,3 milhões de toneladas de CO2eq. ao ano, montante que poderia superar as 10,4 milhões de toneladas de CO2eq. ao ano com a vigência do B10.

De forma semelhante, percebe-se que não só o complexo soja insere-se na agenda de redução de emissões de GEE, em virtude do PNPB. Atualmente, metade de todo o sebo bovino gerado no Brasil é destinado à produção de biodiesel, o que traz consigo benefícios ambientais importantes. Outrora, tal coproduto do setor frigorífico era classificado como passivo ambiental.

É necessário frisar que o trabalho mencionado considerou as premissas mais conservadoras para o cálculo das emissões, entre elas o transporte do produto exclusivamente pelo modal rodoviário e seu deslocamento até a base em Paulínia-SP.1 Todavia, sabe-se que o consumo do produto próximo de seu local de produção, tal como ocorre em várias regiões do país, bem como a utilização do modal ferroviário, como observa-se nas estatísticas de movimentação das malhas da ALL Norte2, melhoram significativamente o potencial de redução de emissões de gases em relação ao diesel mineral.

Isto posto, percebe-se que o Brasil possui todas as condições básicas para evoluir no sentido de reduzir ainda mais as emissões de GEE no setor de transportes. A aprovação de legislações que instituam o uso de misturas mais elevadas de biodiesel traria, de imediato, benefícios adicionais àqueles já observados.

1.3 Visão de futuro: propostas para evolução setorial

Expõem-se na sequência três das principais propostas para evolução setorial e aumento dos benefícios ambientais decorrentes da maior utilização do biodiesel no Brasil, quais sejam:

• B10 em 2020: implantação de 10% de biodiesel em todo diesel B até 2020 é uma medi-da de longo prazo que dará previsibilidade necessária ao setor. O horizonte da proposta garante tempo suficiente para possíveis adequações logísticas ao longo de toda a cadeia de combustíveis. Estima-se que, nesse cenário, seriam consumidos cerca de 7 bilhões de litros de biodiesel em 2020, impulsionando não só a produção e os benefícios ambientais conjugados, mas também toda a agricultura familiar envolvida no programa, a geração de riqueza no interior do país e as sinergias amplamente conhecidas entre os setores do biodiesel, do processamento de oleaginosas e de abate de animais;

• BX opcional: nesta proposta sugere-se que, em circunstâncias em que se constate atratividade econômica no uso de volumes mais elevados de biodiesel, as distribuidoras de combustíveis sejam autorizadas a aumentar suas aquisições do produto até o teto de 10% (B10). Os desdobramentos imediatos dessa medida são: i) redução dos preços do diesel B, haja vista que somente há incen-tivo ao consumo incremental nos casos em que o biodiesel é entregue às distribuidoras a preços mais baixos do que o diesel A; ii) aumento de investimentos, considerando que ampliações e construções de novas unidades de biodiesel tendem a ser viabilizadas; iii) melhor remuneração da soja ao produtor rural, dada a maior demanda pelo grão, e; iv) elevação do PIB, pois se substituem importações de diesel fóssil pelo biodiesel doméstico;

• B20 metropolitano: prevê a utilização compulsória de 20% de biodiesel em todo o diesel consumido por ônibus urbanos de passageiros nos 41 municípios brasileiros com mais de 500 mil habitantes. Nessa proposta, seriam beneficiados 60 milhões de habitantes que vivem nos grandes conglomerados urbanos.

Tal visão de futuro constata-se responsável e previsível; uma agenda estrategicamente planejada para o bom funcionamento de um mercado que vem gerando bons frutos para toda a sociedade brasileira.

1 Refinaria de Paulínia (Replan), anteriormente denominada Refinaria do Planalto.2 América Latina Logística Malha Norte S.A.

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Ademais, o desenvolvimento de uma matriz energética de transportes ainda mais limpa e renovável contribui significativamente para as metas brasileiras de redução de emissões de GEE. Trata-se, sobretudo, de uma opção para que a nação tome a dianteira em ações sustentáveis de longo prazo, cujos efeitos mostram-se benéficos a toda a sociedade.

Se bem aproveitadas, tais oportunidades põem-se em movimento o círculo virtuoso que leva ao desenvolvimento regional e criação de riquezas; caso contrário, perde-se uma chance de aprimoramento da matriz energética nacional com maior uso de fontes renováveis. O biodiesel está pronto para elevar sua responsabilidade no mercado de combustíveis brasileiro.

Referências

ANP – AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS. Disponível em: <http://www.anp.gov.br/>. Acesso em: 7 ago. 2015.

ABIOVE – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS DE ÓLEOS VEGETAIS. Disponível em: <http://www.abiove.org.br/>. Acesso em: 7 ago. 2015.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Benefícios ambientais da produção e do uso do biodiesel. Brasília: Mapa, 2013.

BRASIL. Ministério da Indústria e Comércio. Óleos vegetais: experiência de uso automotivo desenvolvida pelo programa OVEG I. Brasília: MDIC, 1985.

DELTA CO2 – SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL. Pegada de carbono na produção de biodiesel de soja: período de referência 2008/2009. Piracicaba: Delta CO2, 2013.

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/>. Acesso em: 7 ago. 2015.

SALDIVA, P. H. N. et al. Avaliação dos impactos na saúde e sua valoração devido à implementação progressiva do componente biodiesel na mistura da matriz energética (diesel) de transporte. São Paulo: Instituto Saúde e Sustentabilidade, 2015.

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CRÉDITOS

Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais – ABIOVECarlo LovatelliPresidente Executivo

Fábio TrigueirinhoSecretário-Geral

Daniel Furlan AmaralGerente de Economia

Bernardo PiresGerente de Sustentabilidade

Leonardo Botelho ZilioAssessor Econômico

ABIQ

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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA QUÍMICA

Associação Brasileira da Indústria Química

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1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO SETOR JUNTO À ECONOMIA NACIONAL

A Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) é a entidade que representa a indústria química brasileira e está em total sintonia com suas congêneres ao redor do mundo. A Abiquim concentra-se no segmento de produtos químicos de uso industrial, segmento que abrange aproximadamente 3 mil produtos em outros setores industriais ou da própria indústria química, fabricados por cerca de 800 empresas, associadas ou não à entidade, que constam no cadastro da associação e no Guia de Indústria Química Brasileira.

Produtos químicos de uso industrial:

• produtos inorgânicos;

• produtos orgânicos;

• resinas e elastômeros;

• produtos e preparados químicos diversos.

Outros segmentos da indústria química são representados e acompanhados estatisticamente por associações congêneres.

Levando-se em consideração todos os segmentos que compõem a indústria química no Brasil, o faturamento líquido chegou a US$ 156,7 bilhões em 2014. Os produtos químicos de uso industrial representaram 45% do total da indústria química, com faturamento líquido equivalente a US$ 69,7 bilhões. A porcentagem de participação da indústria química em relação ao PIB total foi de 2,8% em 2013 e 9,67% no PIB industrial, sendo a quarta maior participação da indústria de transformação.

Gráfico 1 – Participação da química no PIB total

2,1 2,0 2,1 2,1

2,52,7 2,8 3,0

3,33,6

3,33,0 3,0 3,0

2,52,4

2,52,7 2,8

0

4

3

2

1

20132012201120101995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Fonte: Abiquim.Nota: 1 % sobre o PIB total.Obs.: Admitindo-se que o valor agregado, em média, seja de 40%.

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Gráfico 2 – Participação na indústria de transformação: empresas unidade de investigação – unidade local industrial

(Base: 2012)

Alimentos e bebidas

Coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis

Veículos automotores, reboques e carrocerias

Produtos químicos

Máquinas e equipamentos

Metalurgia

Produtos de metal (exceto máquinas e equipamentos)

Produtos de minerais não metálicos

Produtos de borracha e de material plástico

Celulose, papel e produtos de papel

Confecção de artigos do vestuário e acessórios

Máquinas, aparelhos e materiais elétricos

Equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos

Prep. de couros e fabr. artef. couro, art. viagem e calçados

Produtos têxteis

Manut., reparação e instal. de máquinas e equipamentos

Outros equipamentos de transporte

Móveis

Produtos diversos

Produtos de madeira

Impressão e reprodução de gravações

Produtos do fumo

21,06

11,21

9,94

9,671

5,51

5,12

4,27

4,14

3,96

3,35

3,03

2,87

2,67

1,93

1,87

1,71

1,66

1,54

1,39

1,16

1,14

0,80

Produtos químicos:4a maior participação

no PIB industrial

Fonte: IBGE/PIA.Nota: 1 Produtos químicos, inclusive farmoquímicos e farmacêuticos. % sobre o PIB industrial.Obs.: De 1992 a 1994, a química ocupou a primeira posição; de 1995 a 2004 ficou em segunda; de 2005 a 2007, em terceira; e, a partir de 2008, em quarta.

O setor considera que a melhoria contínua de seu desempenho nas áreas de meio ambiente, responsabilidade social, saúde e segurança, aliada ao respeito às preocupações das partes interessadas, deve estar integrada aos princípios éticos que orientam suas ações.

Em busca da melhoria contínua, as empresas do setor estão engajadas no desenvolvimento do Programa Atuação Responsável®, que foi lançado no Brasil em 1992. Como resultado de sua implementação, a Abiquim disponibiliza voluntariamente para a sociedade, relatórios anuais, com os indicadores de sustentabilidade (meio ambiente, segurança de processo, saúde, segurança do trabalhador e diálogo com a comunidade), para demonstrar de forma transparente os resultados e as ações de proteção e prevenção adotadas pela indústria química.

O Programa Atuação Responsável® é parte essencial da missão da Abiquim, pois contribui para a promoção da competitividade e do desenvolvimento sustentável da indústria química. A Comissão de Meio Ambiente e Sustentabilidade da associação analisa o desempenho ambiental das indústrias químicas associadas e, em 2012, incorporou em seu plano de atividades as questões relacionadas a sustentabilidade, promovendo a troca de experiências e a difusão das práticas de Produção mais Limpa (P+L).

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2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO SETOR FRENTE À AGENDA DE MUDANÇA DO CLIMA E O IMPACTO DESTA NO SETOR

O aquecimento global é uma realidade. A mudança climática é um dos grandes temas de discussão na atualidade, sendo as emissões dos gases de efeito estufa (GEE) uma das principais causas da alteração do clima em nosso planeta.

As emissões globais de gases de efeito estufa continuam a subir. As concentrações de dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) são as maiores dos últimos anos e crescem mais rapidamente nos países em desenvolvimento, que alcançarão as dos países desenvolvidos em torno do ano de 2030.

As projeções apresentam fortes desafios e medidas de mitigação são necessárias. O cenário requer uma redução de 40% a 70% das emissões até 2050 (se comparado com 2010) e próximo ou abaixo de zero em 2100.

2.1 Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC)

A Lei no 12.187/2009, que instituiu a PNMC, estabelece que o país adotará, como compromisso nacional voluntário, ações de mitigação das emissões de gases de efeito estufa, com vistas a reduzir entre 36,1% e 38,9% suas emissões projetadas até 2020.

Gráfico 3 – Evolução das emissões de GEE no Brasil (1990-2012)(Em Tg CO2eq)

0

3.000

2.500

2.000

1.500

1.000

500

AgropecuáriaUso da terra e florestas Processos industriais Tratamento de resíduos Energia

1990

1991

1992

1993

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

1994

1995

Fonte: MCTI (2014).

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3 EXPERIÊNCIAS DO SETOR RELACIONADAS AO TEMA

Como resultado da implementação do Programa Atuação Responsável®, a Abiquim disponibiliza indicadores de gestão de meio ambiente e mudanças climáticas, para demonstrar de forma transparente os resultados e as ações de proteção e prevenção adotadas pela indústria química.

De acordo com a medição periódica dos indicadores, a indústria química brasileira já reduziu suas emissões.

Gráfico 4 – Intensidade de emissões de GEE(Em kg CO2eq/t produto)

250

600

550

500

450

400

350

300

2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013Fonte: Abiquim.

Gráfico 5 – Intensidade de emissão de dióxido de carbono equivalente(Em kg CO2e/t produto)

-100

600

500

400

300

200

100

0

2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

CO2 total CO2 processos CO2 combustão CO2 eq (N2O)

542

384340

297 299 291 282 256

37 44 38 29 39 33 29 21

172

25 20 16 16 16 16 16

333 315282

252 244 242 237 219

Fonte: Pesquisa direta junto às empresas e equipe de assuntos técnicos.Elaboração: Equipe de Economia e Estatística da Abiquim.

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Box 1 – Estudo de caso Braskem

PLÁSTICO E QUÍMICA, PARTES DA SOLUÇÃO

Jorge Soto1

O empenho em promover e respeitar os princípios da sustentabilidade em todas as dimensões marca a atuação da Braskem desde sua constituição, em 2002, podendo ser apontado como uma das âncoras do compromisso público firmado pela companhia naquela ocasião. Tinha origem, em primeiro lugar, no legado transmitido pela filosofia de seu sócio controlador, a Organização Odebrecht, que sempre planejou sua trajetória empresarial com base no tripé sobrevivência-crescimento-perpetuidade, e não poderia conceber o futuro sem pensar nas gerações vindouras.

Esse compromisso também reconhecia no desenvolvimento sustentável uma demanda cada vez mais forte da sociedade em todo o mundo, sinalizada pelas prescrições do Protocolo de Kyoto em 1997 sobre a redução dos gases do efeito estufa. Mirava, igualmente, nas questões de competitividade não apenas da própria empresa, já que ecoeficiência traduz-se em menos desperdícios e custos mais baixos, como também de toda a indústria química, petroquímica e de transformação plástica brasileira, que em tempos de globalização viu-se lançada em uma competição internacional com grandes corporações transnacionais sem ter matéria-prima abundante e competitiva, quando ainda nem se sonhava com as reservas do pré-sal.

A Braskem já nasceu líder em seu setor no Brasil, em que atuam mais de 10 mil empresas (majoritariamente pequenas), e também na América Latina, portanto nada mais natural ter assumido papel de destaque e de estímulo junto a toda cadeia produtiva na promoção da sustentabilidade. No entanto, como resultado de um amplo processo de consolidação setorial, que integrou empresas com diferentes estágios de evolução em seus processos produtivos, indicadores de saúde, segurança e meio ambiente, nas relações com seus públicos estratégicos e em padrões de governança, teve inicialmente que se dedicar à equalização de práticas e mecanismos de controle, com dividendos altamente compensadores, como atesta a evolução contínua verificada em seguida nos seus ecoindicadores e índices de segurança no trabalho.

Primeiro o “dever de casa”

Podemos dizer que o “dever de casa” começou antes da formação da Braskem com a implementação do Programa Atuação Responsável® no setor químico, no Brasil, liderado pela Abiquim desde 1992. Em relação às mudanças climáticas, na Braskem, a convicção de que o caminho a seguir estava na direção correta desdobrou-se na decisão de iniciar, em 2007, a realização e divulgação anual de um Inventário de Gases de Efeito Estufa em suas unidades industriais. Uma das primeiras empresas do setor químico no Brasil a adotar essa prática passou também a fixar metas de redução da intensidade das emissões, de forma a manter-se no nível das melhores empresas químicas globais. Entre 2008 e 2014 a empresa reduziu a intensidade de suas emissões em cerca de 13%. Isso evitou lançar 4,4 milhões de toneladas de CO2eq (gases de efeito estufa) na atmosfera, o que equivale ao plantio de cerca de 30 milhões árvores no período.

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Essa etapa inicial amplia-se para novas frentes a partir de 2007, quando a companhia alcança pioneirismo mundial ao obter a certificação do primeiro polietileno verde feito a partir de etanol de cana-de-açúcar, matéria-prima 100% renovável. Totalmente reciclável, como os demais plásticos, mas com a vantagem adicional de contribuir para a redução do efeito estufa, na medida em que ao longo de seu ciclo de vida retira da atmosfera em torno de 2,15 toneladas de CO2 para cada tonelada de polietileno produzida. A receptividade internacional à inovação levou Braskem a investir mais de R$ 500 milhões em um projeto com capacidade para produzir 200 mil toneladas por ano, inaugurado em Triunfo-RS em 2010, que a transformou na maior produtora de biopolímeros do planeta, com boa parte da oferta destinada a mercados como Europa, Japão e América Latina, entre outros.

Desenvolver produtos que permitam tornar seu portfólio cada vez mais sustentável é outro eixo importante da estratégia da companhia. Expressivos recursos financeiros e humanos têm sido investidos com o objetivo de viabilizar novos produtos derivados de matérias-primas renováveis, em parcerias com clientes inovadores e desenvolvedores de tecnologia locais e internacionais. Exemplo promissor envolve a Genomatica, empresa norte-americana de pesquisas em biotecnologia, com quem a Braskem mantém acordo para o desenvolvimento conjunto do butadieno verde, direcionado ao mercado de borrachas sintéticas. Na mesma linha, uniu-se às empresas norte-americana Amyris e a francesa Michelin para desenvolver a tecnologia voltada à produção do isopreno a partir de fonte renovável, para uso na indústria de pneus.

O Brasil tem diferenciais competitivos relevantes sobre outros países para produção a partir da biomassa em razão de suas condições geográficas e climáticas. Para materializar essa promessa, o setor químico e petroquímico, bem como a indústria de transformação plástica, em 2014, passaram a contar com uma unidade do Centro de Tecnologia e Inovação da Braskem, localizada em Campinas-SP, totalmente dedicada à pesquisa a partir de matéria-prima renovável. Ao lado do conjunto de 24 laboratórios e oito plantas piloto em funcionamento há anos, com vocação principal para dar suporte aos clientes, a nova unidade reforça o maior e mais bem equipado centro de pesquisa e desenvolvimento da indústria química e petroquímica latino-americana, ao qual se soma ainda uma unidade em Pittsburgh, nos Estados Unidos.

Inovação como alavanca

Como terceiro eixo da sua plataforma de desenvolvimento sustentável, a Braskem busca ser reconhecida como empresa que apoia seus clientes no desenvolvimento de soluções para que a sociedade tenha uma vida mais sustentável. Isso, quando aplicado às mudanças climáticas, significa simplesmente uma menor pegada de carbono, considerando todo o ciclo de vida dos produtos.

A substituição de materiais tradicionais pelo plástico, que é mais leve, maleável e ajuda a reduzir as emissões no transporte de produtos, constitui plataforma inesgotável de projetos de inovação bem-sucedidos, do copo de requeijão ao automóvel moderno, em que o plástico já representa cerca de 15% do peso, em média, tomando o lugar de outros materiais mais pesados em para-choques, para-lamas, tanques de combustível e painéis, entre outros.

A Braskem entende que a inovação e a sustentabilidade são duas faces da mesma moeda. Por esse motivo, a sinergia entre esses dois aspectos da nossa estratégia tem sido cada vez mais fortalecida. Cabe destacar o programa Braskem Labs, que acaba de ser lançado em parceria com a ONG Endeavor, como plataforma para impulsionar novos negócios inovadores. A proposta é atrair empreendedores para o desenvolvimento de soluções socioambientais que possam melhorar a vida das pessoas em áreas como saúde, moradia e mobilidade urbana, por meio do uso do plástico.

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Influenciar é preciso

Convicta de que as empresas são parte da solução para conter o aquecimento global, e não fonte do problema como são frequentemente rotuladas, a Braskem tem sido participante assídua e ativa das conferências internacionais anuais sobre o clima, as chamadas COPs, há mais de meia década. Marco importante nessa caminhada precedeu a COP 15, em 2009 na cidade de Copenhague, quando a companhia emitiu o manifesto “É preciso amadurecer para ser verde”, disponível em seu website, no qual traduzia suas responsabilidades em sete compromissos, como seguir reduzindo a intensidade de emissões de GEE, fortalecer o desenvolvimento de produtos de origem renovável e participar de fóruns empresariais sobre mudanças climáticas. Neste tópico em particular, um dos pontos altos foi o protagonismo da empresa nas discussões – antes, durante e depois – da Rio+20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada em 2012 em nosso país.

Mas é preciso aumentar a escala das soluções oferecidas pelo meio empresarial. Por esse motivo, a Braskem participa do esforço institucional visando influenciar as políticas públicas para que a economia de baixo carbono avance no Brasil e no mundo. Exemplo recente é seu engajamento na campanha pela precificação do carbono, liderada em nível global por instituições como Banco Mundial e Global Compact.

A partir do processo de internacionalização das operações industriais da companhia, iniciada em 2010, essa postura ativa visando influenciar as políticas públicas acentuou-se, com seus principais líderes passando a atuar diretamente no Board do Conselho Internacional de Associações da Indústria Química (ICCA) e mais recentemente no grupo LEAD do Global Compact, iniciativa ligada à ONU para engajamento empresarial na promoção do desenvolvimento sustentável.

O caminho certo, mas insuficiente

Graças a essa trajetória, a Braskem tem alcançado uma série de reconhecimentos. Entre eles destacam-se o Índice de Sustentabilidade Empresarial – ISE (pelo décimo ano consecutivo) e o Índice de Carbono Eficiente, ambos da BMF&Bovespa, do Índice de Sustentabilidade Dow Jones para Países Emergentes da Bolsa de Nova York, do Guia Exame de Sustentabilidade, e do Carbon Disclosure Project, organização internacional sem fins lucrativos que representa investidores conscientes de que sustentabilidade cria valor adicional para as empresas.

Mas, para que esse movimento pelo desenvolvimento sustentável ganhe força, a consciência de sua necessidade e urgência deve permear a sociedade e o universo empresarial em seu conjunto, deixando de ser prerrogativa de uma minoria de cidadãos “iluminados” – muitas vezes tratados como inadequados – e de algumas grandes corporações empresariais ou empresas mais engajadas. Os fenômenos climáticos extremos, que são cada vez mais frequentes e que tanto sofrimento e danos causam diante de nossos olhos, são um alerta de que é preciso acelerar o passo e aumentar a escala. Antes que seja tarde demais.

Fonte: Jorge Soto.Nota: 1 Jorge Soto é diretor de Desenvolvimento Sustentável da Braskem.

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4 DESAFIOS DO SETOR NO TRATAMENTO DO TEMA

O setor químico está empenhado em contribuir nas negociações que irão gerar o novo acordo global climático, previsto para ser concluído na COP 21, em dezembro de 2015. Neste sentido, a Abiquim participa ativamente das negociações e de diversas iniciativas do governo brasileiro:

• preparação da contribuição nacionalmente determinada, INDC, sigla em inglês para intended nationally determined contributions, na qual cada país participante da convenção de clima irá submeter seu compromisso nacional para contribuir para redução global das emissões de gases de efeito estufa compatível com o objetivo de limitar a 2oC o limite máximo da ele-vação da temperatura, para que os efeitos do aquecimento global não sejam considerados avassaladores. As contribuições devem conter metas quantificáveis com relação às emissões e com parâmetros que permitam comparações;

• participação na Comissão Técnica do Plano Indústria: ações do governo federal para a redução de emissões de GEE no setor industrial (coordenada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC);

• contribuição para a criação de cenários de mitigação e calibragem dos cenários setoriais no projeto “Opções de Mitigação de Emissões de Gases de Efeito Estufa em Setores-Chave do Brasil”, em conjunto com o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação – MCTI;

• elaboração do Plano Nacional de Adaptação, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente – MMA;

• contribuição para a elaboração dos cenários econômicos e identificação de políticas de mitigação com base no impacto da emissão dos gases de efeito estufa: Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, IES-Brasil (Implicações Econômicas e Sociais). Como a indústria química já demonstrou ter reduzido suas emissões (gráfico 5) não houve necessidade de ter cenário próprio no capítulo indústria do relatório do projeto IES-Brasil.

5 VISÃO DE FUTURO/TENDÊNCIAS

Os produtos da indústria química são alavancadores da economia de baixo carbono, provedores de solução para a sustentabilidade. O Brasil tem diferenciais comparativos capazes de colocá-lo como uma potência mundial da economia de baixo carbono. Devido a isso, o setor químico é parte da solução para a redução das emissões de gases de efeito estufa, no país e no mundo.

6 PROPOSTAS/AGENDA POSITIVA

A partir da definição da contribuição nacionalmente determinada (INDC) do Brasil para a redução global das emissões de gases de efeito estufa, o setor irá estudar e propor metas para a indústria química nacional com parâmetros que permitam comparações, além da continuidade da pesquisa e desenvolvimento de tecnologias viáveis de baixo carbono, contribuindo para toda a cadeia produtiva brasileira.

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CRÉDITOS

Associação Brasileira da Indústria Química – ABIQUIMAndrea Cunha CarlaDiretoria Técnica

Cláudia Virgínia M. de Freitas Assessora de Meio Ambiente e Sustentabilidade 

Mariana Dória Gerente de Sustentabilidade e Inovação 

Jorge SotoEstudo de caso

ABIT

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA TÊXTIL E DE

CONFECÇÃO

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1 CADEIA TÊXTIL E DE CONFECÇÃO

O setor têxtil e de confecção é um dos mais tradicionais do país. Em 2014, o Brasil ocupou a quinta posição entre os produtores mundiais de têxteis e a quarta posição na produção de confeccionados, com aproximadamente 2,4% da produção mundial. É autossuficiente na produção de algodão, possui grandes investimentos na produção de fibras químicas e é referência mundial em moda praia, jeans, malharia e linha lar, produzindo 9,8 bilhões de peças confeccionadas ao ano, dessas, cerca de 6,5 bilhões em peças de vestuário (ABIT; IEMI, 2014).

Segundo dados do IEMI, com base na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) de 2014, as indústrias do setor têxtil e de confecção (T&C) estão presentes nos 27 estados brasileiros, totalizando mais de 33 mil empresas com cinco ou mais funcionários. No entanto, como observa-se na tabela 1, há uma maior concentração dessas fábricas nas regiões Sul e Sudeste, com destaque para o estado de São Paulo, que concentra 27% das unidades, seguido pelos estados de Santa Catarina (14%), Minas Gerais (13%), Paraná (9%), Rio de Janeiro (7%), Goiás (6%) e Rio Grande do Sul (5%). Os outros estados somados concentram aproximadamente 19% do total de unidades industriais.

Tabela 1 – Número de empresas T&C por estado (2013)

  TÊXTIL CONFECÇÃO   TÊXTIL CONFECÇÃO

Rondônia 7 87 Sergipe 48 106

Acre 1 20 Bahia 93 628

Amazonas 6 41 Minas Gerais 359 3.922

Roraima 1 11 Espírito Santo 40 576

Pará 13 109 Rio de Janeiro 107 2.107

Amapá 1 11 São Paulo 965 7.878

Tocantins 5 46 Paraná 228 2.662

Maranhão 9 96 Santa Catarina 525 4.225

Piauí 7 209 Rio Grande do Sul 188 1.601

Ceará 89 1.656 Mato Grosso do Sul 19 166

Rio Grande do Norte

43 235 Mato Grosso 37 155

Paraíba 47 172 Goiás 107 1.847

Pernambuco 104 1.300 Distrito Federal 12 134

Alagoas 7 80      

Fonte: Rais (2014).

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2 O SETOR T&C FRENTE À AGENDA DE MUDANÇA DO CLIMA

Estamos no caminho para a definição de metas setoriais e do registro público de emissões de carbono, ainda que de forma voluntária, nos estados mais representativos na produção de têxteis e de confeccionados. A despeito de nenhuma legislação estabelecer metas específicas, sabe-se que serão definidas metas de eficiência setoriais, tendo por base as emissões de gases de efeito estufa (GEE) inventariadas para cada segmento industrial.

De modo geral, as principais legislações sobre GEE1 definem metas de redução global de emissões, seu monitoramento e a participação voluntária no registro público de emissões, além de instituir programas de incentivo à redução do consumo de energia e de estímulo ao uso de energias renováveis.

Tabela 2 – Setor industrial têxtil: consumo de energia em 10³ tep (toe)

FONTES 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Gás natural 298 327 334 372 322 300 329 327 317 312

Lenha 93 93 94 96 95 88 92 76 73 71

Óleo diesel 2 2 2 3 3 3 3 6 8 6

Óleo combustível 114 112 105 108 106 106 64 55 45 46

Gás liquefeito de petróleo 9 9 9 11 10 10 10 29 28 31

Eletricidade 669 660 669 685 672 665 715 707 645 635

Total 1.185 1.203 1.213 1.275 1.208 1.172 1.213 1.200 1.116 1.101

Segundo o Balanço Energético Nacional 2014 (BEN), elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o setor T&C foi responsável pelo consumo de 1,101 milhão de toneladas equivalentes de petróleo (tep), o que representou 1,174% do total de energia consumida pelo setor industrial.

As empresas que compõem a cadeia T&C possuem ampla variedade de características, incluindo processos de fiação, tecelagem, beneficiamento e confecção. O consumo específico de energia é extremamente variável conforme o tipo de tecido e acabamento do produto final.

Conforme podemos observar na tabela 2, no período de dez anos houve redução de 60% no consumo de óleo combustível e de 24% no consumo de lenha. Por outro lado, o consumo de GLP mais que triplicou no mesmo período, considerada uma fonte de energia muito limpa e com baixíssima emissão de GEE. Já a energia elétrica continua sendo a principal fonte de utilizada e com pouca oscilação de consumo ao longo dos anos.

Com relação às emissões de GEE, o setor T&C representou 0,6% da indústria nacional, levando-se em consideração somente as emissões de CO2. O gráfico 1 apresenta a participação de cada setor nas emissões da indústria nacional no ano de 2007. Entre todos os segmentos industriais representados, o setor têxtil apresenta o menor percentual de emissões.

1 Lei no 13.798, de 9 de novembro de 2009 (SP); Lei no 14.829, de 11 de agosto de 2009 (SC); Decreto no 45.229, de 3 de dezembro de 2009 (MG); e Lei no 17.133, de 25 de abril de 2012 (PR).

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Gráfico 1 – Emissões de CO2 em 2007 em mil toneladas de CO2 nos setores da indústria por tipo de combustíveis

(Em %)

Não ferrososRefino petróleoQuímicaCimentoAlimentos/bebidasTêxtil

Papel/celuloseCerâmicaOutras indústriasAço/ferro liga

Mineração

6

29,1

2,83,3

6,1

3,8

30,3

0,6

9

54

Fonte: Junior (2010), com base nos dados do Balanço Energético Nacional (BEN) de 2007.

3 EXPERIÊNCIAS DO SETOR RELACIONADAS AO TEMA

Um dos projetos mais relevantes sobre mitigação e controle de GEE no setor têxtil foi desenvolvido na parceria entre o Instituto-E; o Ministério do Meio Ambiente, Terra e Mar da Itália; a empresa Osklen (marca de roupas criada em 1989 no Rio de Janeiro); o Fórum das Américas; e o Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil (Cetiqt) do Senai.

O projeto denominado Traces2 realizou o rastreamento da pegada de carbono, análise do ciclo de vida e impactos socioambientais de seis produtos confeccionados com os seguintes materiais usados pela Osklen: algodão orgânico, algodão reciclado, couro de pirarucu, juta da Amazônia, malha PET e seda orgânica.

Durante meses, especialistas de ambos os países cruzaram o Brasil de norte a sul para estudar a cadeia de fornecimento desses materiais, da origem até o fim da vida útil. Unindo as informações relacionadas às emissões de gases de efeito estufa com as questões sociais, foi possível fazer propostas de melhorias em diferentes processos, incorporando modelos sustentáveis de produção e medidas de mitigação para minimizar os impactos ambientais, por isso a metodologia utilizada neste estudo tornou-se uma referência para o setor T&C.

Além disso, muitas outras empresas do setor T&C já optaram por uma produção mais limpa, utilizando material reciclado de garrafas PET e diminuindo, consequentemente, os resíduos gerados, o uso de energia e as emissões de CO2 e empregando em seu processo produtivo tecnologias para substituição de alguns produtos químicos, dispensando o uso de água e permitindo uma maior economia de energia pela redução do tempo de processo.

2 Disponível em: <http://www.tracesefabrics.org/#project>.

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4 DESAFIOS DO SETOR T&C NO TRATAMENTO DO TEMA

A Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) trabalha para defender os interesses do setor em todas as esferas de governo, visando apoiar o desenvolvimento sustentável da indústria, e, tem colaborado, com outras entidades, para criar um instrumento regulatório ambiental (isonomia ambiental), visando diminuir a desigualdade na concorrência com produtos importados cuja procedência não se submete às mesmas exigências socioambientais devidas pelo produtor nacional.

A indústria T&C gera emissões de GEE, ainda que em níveis reduzidos, em todas as etapas, da produção ao uso e descarte de produtos pelos consumidores. Um dos grandes desafios é identificar medidas de gestão de emissões que melhor se apliquem às especificidades de cada empresa, com o objetivo de obter vantagens competitivas e maior credibilidade no mercado. Outra dificuldade é quantificar as oportunidades financeiras associadas a fatores reputacionais e regulatórios.

Outro ponto fundamental, que deverá ser considerado no curto e médio prazo, é a transição gradativa da matriz energética no setor T&C. Para tanto, devem ser feitos investimentos para a substituição de fontes não renováveis por fontes renováveis de energia, tais como energia eólica e solar, e investimentos em cogeração que, ao permitir a redução da eletricidade despachada pelas usinas termelétricas de baixo rendimento, contribui para a redução do aquecimento global, além do aumento na confiabilidade do suprimento de energia.

Para tanto, o engajamento das partes interessadas na cadeia T&C é um passo fundamental para que as atividades de qualquer organização estejam alinhadas com os princípios envolvidos no desenvolvimento de uma economia de baixo carbono.

5 VISÃO DE FUTURO

Existe uma crescente demanda por parte do mercado consumidor, que reconhece valor em produtos que estejam alinhados com valores éticos e de sustentabilidade. Uma parcela considerável dos consumidores já não aceita mais que empresas forneçam apenas qualidade, preço e cumprimento da legislação, e passaram a valorizar, cada vez mais, empresas que ajudam a minimizar os problemas sociais e ambientais da atualidade.

A sustentabilidade torna os processos da indústria T&C mais eficientes, abre espaço para a inovação e para o desenvolvimento tecnológico. Atualmente, é vista como parte integrante de todo e qualquer processo, produto, estratégia ou decisão, sendo a vertente com maior potencial de produzir avanços tecnológicos e estímulo à inovação, que podem ser revertidos em ganhos sociais, econômicos e, principalmente, de imagem da marca.

A agenda da sustentabilidade na cadeia T&C envolve principalmente as questões relacionadas ao uso e qualidade da água, à utilização de produtos químicos, à geração de resíduos, às condições de trabalho, ao consumo de energia e às emissões de GEE.

O consumo de energia representa uma parcela importante dos custos de produção do setor têxtil e, em menor escala, na confecção, e sua redução é uma condição estratégica de competitividade. Da mesma forma, o controle de emissões de GEE nos processos de produção, transporte e distribuição poderá ser, em futuro próximo, objeto de regulação. Portanto, as empresas que se

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anteciparem em métodos para a redução de emissões terão maior capacidade de adaptação a futuros padrões de produção.

Promover interações mais fortes entre empresas, universidades e centros de pesquisa é também uma condição crítica para estimular o desenvolvimento de novas tecnologias e para formar mão de obra qualificada em eficiência energética, com foco na indústria T&C. A agenda de sustentabilidade do setor é, portanto, uma tarefa em que empresas, governos, universidades e outras organizações têm papéis específicos. Por isso, é muito importante que as diversas organizações busquem construir formas de cooperação com a agenda nacional e agendas regionais sobre economia de baixo carbono, envolvendo, quando necessário, setores e grupos específicos de empresas e organizações (UNIETHOS, 2013).

6 AGENDA POSITIVA

Ainda que hoje o setor têxtil e de confecção não esteja contemplado na regulamentação sobre GEE, é importante destacar que, no futuro, poderá ser incluído, podendo ter efeitos significativos na rotina de gestão e produção de toda a cadeia. Vale ressaltar que o objetivo da regulamentação é melhor conhecer as emissões de GEE causadas pelas atividades industriais e desenvolver programas de mitigação para os efeitos das mudanças climáticas.

As fontes renováveis de energia estão cada vez mais competitivas – biomassa, pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), eólica e solar fotovoltaica – e devem proporcionar grande parte da solução para uma matriz elétrica diversificada, limpa, segura, econômica, abundante e disponível para qualquer segmento industrial.

No estudo publicado pela International Renewable Energy Agency (Irena), em 2014, referente aos custos de energia renovável, o Brasil é classificado como o primeiro país em termos de capacidade para novas instalações de geração de energia renovável proveniente da biomassa e o quinto para energia hidráulica.

Tabela 3 – Cinco principais países com capacidade para novas instalações de geração de energia renovável (2013)

  BIOMASSA HÍDRICA

1o Brasil 1.5 China 29.9

2o Reino Unido 0.7 Turquia 2.7

3o Alemanha 0.6 Vietnã 2.4

4o China 0.5 França 1.8

5o Itália 0.5 Brasil 1.7

Fonte: Irena (2014).

Embora o custo de implantação de tecnologias de energia renovável seja o principal fator considerado para o desenvolvimento de políticas públicas e privadas, também devem ser levadas em consideração a tributação, os subsídios e outros incentivos para estimular o desenvolvimento de projetos de energia renovável específicos para a indústria têxtil e de confecção, condições ainda pouco exploradas.

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Levando em consideração as oportunidades comerciais que se apresentam em uma economia de baixo carbono, o momento atual é propício para que o setor T&C se prepare para um possível cenário global de restrição de emissões de GEE, e identifique e maximize as oportunidades de desenvolvimento e crescimento sustentável apresentadas neste cenário.

Referências

ABIT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA TÊXTIL E DE CONFECÇÕES. Disponível em: <http://www.abit.org.br>. Acesso em: 1o abr. 2015.

BRASIL. Ministério de Minas e Energia; Empresa de Pesquisa

Energética. Balanço Energético Nacional – Base 2013. Disponível em: <http://www.mme.gov.br/>. Acesso em: 1o abr. 2015.

ICF INTERNATIONAL. Disponível em: <http://www.icfi.com.br/>. Acesso em: 1o abr. 2015.

IEMI – INSTITUTO DE ESTUDOS E MARKETING INDUSTRIAL. Disponível em: <http://www.imi.org.br/>. Acesso em: 7 ago. 2015.

IRENA – THE INTERNATIONAL RENEWABLE ENERGY AGENCY. Renewable power generation costs in 2014. Disponível em: <http://goo.gl/3RKoAO>. Acesso em: 7 ago. 2015

JUNIOR, M. Potencial de redução de emissão de gases de efeito estufa pelo uso de energia no setor industrial brasileiro. Rio de Janeiro: UFRJ/Coppe, 2010.

OSKLEN. Traces: social environmental and carbon footprint project. Disponível em: <http://www.tracesefabrics.org>. Acesso em: 1o abr. 2015.

UNIETHOS. Série de estudos setoriais: sustentabilidade e competitividade na cadeia da moda. Disponível em: <http://goo.gl/Mp6jBH>. Acesso em: 1o abr. 2015.

RAIS – RELATÓRIO ANUAL DE INFORMAÇÕES. Disponível em: <http://www.rais.gov.br/>. Acesso em: 1o abr. 2015.

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CRÉDITOS

Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção – ABITRafael Cervone NettoPresidente do Conselho de Administração

Fernando Valente PimentelDiretor Superintendente

Departamento de Tecnologia e InovaçãoSylvio Tobias Napoli JuniorGerente

Mariana Correa do AmaralAnalista de Projetos Industriais II

Luiza LorenzettiAnalista de Projetos Industriais I

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INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA E

ATENÇÃO CONTÍNUA AO MEIO AMBIENTE

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1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO SETOR JUNTO À ECONOMIA NACIONAL

A indústria automobilística participa do mercado brasileiro há quase um século, e durante este período tem contribuído para o desenvolvimento do país, tendo a sustentabilidade como um de seus principais pilares. O setor está presente em todo o território nacional – com fábricas em todas as regiões – e conquistou, ao longo dos anos, espaço relevante no cenário econômico do país e do mundo.

Entre os resultados da indústria está a posição de oitava maior produtora mundial e quarto maior mercado de autoveículos, além de representar 23% do Produto Interno Bruto (PIB) industrial e 5% do PIB total brasileiro. Apenas com estes números já é possível perceber a grandiosidade desta indústria, com vasta bagagem de inovação, pioneirismo de processos produtivos, pesquisa, engenharia e desenvolvimento.

Nesse contexto está a presença de ações sustentáveis desde os estágios iniciais de qualquer estratégia e planejamento. Todos os fabricantes de autoveículos e máquinas autopropulsadas têm como premissa básica o desenvolvimento sustentável de suas atividades.

Pela história da indústria automobilística brasileira passam desde legislações, regulamentações e ações de redução de emissões proativas das fábricas, até o desenvolvimento de novos produtos, tecnologias, processos e envolvimento de todos os colaboradores.

2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO SETOR FRENTE À AGENDA DE MUDANÇA DO CLIMA E O IMPACTO DESTA NO SETOR

2.1 Proconve: um marco para o setorO setor automotivo desempenha um esforço contínuo na melhoria de seus processos produtivos e no desenvolvimento de novos produtos, de forma a atender, com cada vez mais excelência, a população e ao meio ambiente. Esta é uma diretriz de toda indústria nacional.

Uma data é especialmente marcante para o segmento automobilístico: o dia 6 de maio de 1986. Foi neste dia que a Resolução do Conama no 18 foi publicada no Diário Oficial, criando o Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores, o Proconve. O objetivo da resolução era reduzir a emissão de poluentes dos veículos, além de promover a melhoria do combustível e dos produtos, em linha com as práticas vigentes nos principais mercados no mundo.

O programa foi baseado em experiências internacionais e teve como um dos principais méritos um cronograma de metas gradual. Desta forma, toda a cadeia produtiva foi capaz de planejar e de garantir

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investimentos em produtos, equipamentos, combustível, treinamentos da rede de concessionárias e conscientização dos consumidores. O esforço contínuo, aliado a estas metas, resultaram no desafio de desenvolver produtos e processos cada vez mais eficientes.

Atualmente a frota brasileira de autoveículos é formada por 41,7 milhões de unidades, e somente em 2014 cerca de 3,5 milhões de veículos foram comercializados no Brasil. Este volume torna evidente a importância do trabalho em prol da redução das emissões de poluentes no país. Também é notória a diminuição das emissões de monóxido de carbono, hidrocarbonetos, óxidos de nitrogênio e aldeídos nos veículos leves, ou seja, aqueles com até 3.856 kg de peso bruto total (PBT). Desde 1988, quando a primeira exigência foi feita para este segmento, a queda nos níveis de emissões foi brutal.

Gráfico 1 – Níveis de CO, HC, NOx e CHO(Em g/km)

0

2,0

1,5

2,5

Óxidos de nitrogênio (NOx)

1,0

0,5

L-1 L-6L-5L-4L-3L-20

0,15

0,10

0,20

Aldeídos totais (CHO)

0,05

L-1 L-6L-5L-4L-3L-2

0

2,0

1,5

2,5

Hidrocarbonetos (HC)

1,0

0,5

L-1 L-6L-5

NMHC

L-4L-3L-20

25

20

30

Monóxido de carbono (CO)

15

10

5

L-1 L-6L-5L-4L-3L-2

24,0 2,10

1,20

0,300,16 0,05 0,05

12,0

2,0 2,0 2,0

0,15

0,03 0,03 0,02 0,02

1,3

2,00

1,40

0,60

0,25 0,12 0,08

Fonte: Ministério do Meio Ambiente.

Tais resultados só foram alcançados em razão do forte investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) de novas tecnologias, seja no âmbito ambiental, seja em segurança. A cada nova etapa do Proconve, mais tecnologias foram desenvolvidas e incorporadas aos veículos leves.

Apenas para citar alguns entre os muitos exemplos, os automóveis e os comerciais leves agregaram injeção eletrônica, injeção direta, pré-aquecimento da mistura, controle da emissão evaporativa, controle da taxa de compressão, perfil da câmara de combustão, mapeamento da ignição, perfil de válvulas e anéis, conversor catalítico, recirculação de gases de escape, injeção secundária de ar e filtro de material particulado.

A mesma preocupação com os veículos leves ocorreu para caminhões e ônibus, com legislação própria para o segmento, que investe intensamente na introdução de novas tecnologias e no aprimoramento de processos. O salto tecnológico é notório de uma fase para a outra.

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Gráfico 2 – Níveis de NOx(Em g/kWh)

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12

16

10

8

6

4

2

P2 (Euro 0) P3 (Euro 1) P4 (Euro 2) P5 (Euro 3) P6 (Euro 4) P7 (Euro 5)

Aspirado

TurboTurbo +

intercooler Turbo +intercooler +

eletrônica

Turbo +intercooler +eletrônica +

pós-tratamento

EGR SCR

Fonte: Anfavea.

Essa evolução resultou na redução, por exemplo, dos níveis de emissões de NOx e material particulado, alguns dos principais agentes emitidos. Em termos comparativos, um caminhão com tecnologia correspondente à fase P2 do Proconve emite quantidade de material particulado equivalente a 37 caminhões com tecnologia da fase P7. Já na comparação de emissões de NOx, o mesmo caminhão da fase P2 emite o equivalente a oito caminhões da fase mais atual, a P7.

Gráfico 3 – Emissões de CO, HC, NOx e MP(Em %)

0

60

50

40

30

20

10087 81 86 95

90

80

70

10

P2 (Euro 0) P3 (Euro 1) P4 (Euro 2) P5 (Euro 3) P6 (Euro 4) P7 (Euro 5)

CO HC NOx MP

Fonte: Conama (2009).

2.2 Preocupação com sustentabilidade na fábricaA atenção com o meio ambiente e com o nível de emissões vai além do desenvolvimento do produto. Nas fábricas, a preocupação com a emissão de poluentes, o consumo de matérias-primas e a destinação de resíduos está no dia a dia das empresas.

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Os fabricantes de veículos adotam diversos mecanismos que auxiliam nos resultados dentro da empresa e que refletem em toda a sociedade. Para se ter ideia da dimensão das ações feitas pela indústria, é importante destacar algumas para reduzir as emissões em fontes fixas:

• nas áreas de usinagem, utilização de coletores de ar para névoa oleosa com sistema filtrante para óleo;

• nas áreas para tratamento térmico e limpeza de peças por jateamento para controle de emis-são de material particulado, utilização de filtro de mangas ou lavador de gases;

• nas áreas de teste de motores, utilização de catalizadores nas exaustões de gases;

• no processo de soldagem, utilização de ventilação diluidora, sem filtro específico para os fumos de solda;

• nas cabines da área de pintura, utilização de cortina d’água para reter o particulado de tinta;

• ainda na área de pintura, na saída de ar das estufas utiliza-se o Regenerador Térmico Oxi-dativo (RTO) para destruir os Compostos Orgânicos Voláteis (COVs ou VOCs, em inglês) do processo de pintura com tinta à base de solvente. Este RTO aquece a 850ºC para queimar todo o solvente evaporado nas estufas;

• na linha de montagem final de veículos, para o teste estático de rodagem, é utilizado o mes-mo sistema de catalisador do teste de motores.

Outra preocupação constante do setor automotivo no Brasil é a redução do consumo de água e energia elétrica e do gerenciamento de resíduos sólidos no processo produtivo, alguns dos temas tratados em edições anteriores da série “CNI Sustentabilidade”.

O consumo de água de 2008 a 2013 caiu de 5,5 m³ por veículo produzido para 2,76 m³, o que significa redução de 50%. Este resultado foi conquistado com ações como reúso da água, sistemas alternativos de captação (especialmente da chuva e de poços), adoção de novas tecnologias no processo produtivo, tratamento de efluentes, além da própria conscientização dos funcionários das empresas.

No caso do uso de energia elétrica nas fábricas, a redução foi de 37% entre 2001 e 2013, caindo de 1.389 kWh para 872 kWh por unidade fabricada, um indicativo do esforço da indústria automotiva em adotar mecanismos cada vez mais eficientes na produção. É por isso que as montadoras têm substituído, ao longo dos anos, as lâmpadas incandescentes pelas de led ou até mesmo pela luz natural, além de adotar máquinas e equipamentos que consumam menos energia.

O esforço da indústria automobilística brasileira em reduzir o consumo não para. Algumas empresas investiram maciçamente na geração de energia própria, com a criação de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), parques eólicos e até mesmo instalação de iluminação solar.

O gerenciamento de resíduos sólidos também evoluiu. Em 2004, cada veículo produzido gerava, em média, 348,50 kg de resíduos. Já em 2013 este montante caiu para 202,05 kg por unidade fabricada, o que demonstra queda de 42%. Destes, pouco mais de 200 kg (mais de 94%) são reciclados.

Isso só foi possível graças à otimização dos aplicadores de produtos químicos – o que reduz a produção de resíduos perigosos –, à reutilização de embalagens feitas com material reciclável e à própria reutilização dos resíduos gerados no processo produtivo.

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Gráfico 4 – Utilização de recursos naturais e geração de resíduos na produção de veículos

Água1 (m3/unidade) Resíduos sólidos (kg/unidade)Energia elétrica (kWh/unidade)

2008 2013 20132001 201320012011

5,50

3,09 2,76

-50% -42%-37%1.389

872

348,50

202,05

Fonte: Anfavea.Nota: ¹ Diferenças metodológicas entre os anos 2008 e 2011.

3 EXPERIÊNCIAS DO SETOR RELACIONADAS AO TEMA

3.1 Proálcool e o veículo flexAo mesmo tempo em que é certo que todo esse desenvolvimento presente será utilizado no futuro, as grandes inovações do passado também não podem ser esquecidas. Uma delas em especial, genuinamente brasileira, foi e permanece até hoje sendo de grande valia para a sociedade como um todo: a criação do carro a etanol e, posteriormente, do veículo flex, tido como um dos marcos da indústria brasileira.

A história do uso do etanol no cenário nacional ganhou expressão na década de 1970, com o surgimento do Programa Proálcool para estimular a produção de veículos movidos por este combustível renovável. A experiência acumulada nas últimas décadas permitiu o completo domínio sobre o processo produtivo da cana-de-açúcar e também da tecnologia de processamento do etanol, com altos índices de excelência, competitividade e aplicação.

Essa evolução, aliada aos avanços da engenharia nacional, possibilitaram a criação, em 2003, do veículo flex fuel, que tem como principal característica aceitar qualquer proporção de mistura entre gasolina e etanol. Hoje 88% dos veículos novos vendidos são flex e, desde sua criação, mais de 25 milhões de unidades já foram produzidas e comercializadas.

Esse volume representaria, apenas em 2014, uma economia de 61,6 milhões de toneladas de gás carbônico (CO2), ao se considerar que este gás, emitido por um veículo a etanol, é totalmente absorvido no ciclo da cana-de-açúcar, assim como um veículo movido a gasolina emite, em média, 170 g de CO2/km.

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4 VISÃO DE FUTURO/TENDÊNCIAS

Para inserir de vez o Brasil na rota de novas tecnologias de propulsão, que hoje são foco de pesquisa no mundo todo, a Anfavea apresentou um estudo para o desenvolvimento deste campo no país. São tecnologias inovadoras, como as híbridas, as elétricas e as de célula a combustível, além daquelas que contemplam utilização de combustíveis alternativos e renováveis, tanto para os veículos leves quanto para os pesados.

Entre os benefícios estão a oferta ao consumidor do que há de mais avançado em cuidado com o meio ambiente, a eficiência e a segurança, assim como a redução de consumo e de emissões – que pode chegar a zero –, o estímulo ao investimento em produção de novas tecnologias, com qualificação de mão de obra especializada e desenvolvimento de engenharia e fornecedores locais.

5 PROPOSTAS/AGENDA POSITIVA

A indústria automobilística trabalha de forma constante para a melhoria contínua de seus produtos e processos e pelo desenvolvimento de novas tecnologias que, assim como o veículo flex, marcam a história, sendo que tudo isso é sempre com o objetivo de atender aos anseios da sociedade no sentido de oferecer produtos com alto índice de tecnologia, conforto, segurança, qualidade, interatividade e preocupação com o meio ambiente.

O caminho percorrido até agora foi desafiador e exigiu muito esforço, criatividade e pioneirismo. A trajetória para o futuro não será diferente.

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CRÉDITOS

Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores – ANFAVEALuiz Moan Yabiku JuniorPresidente

Antônio Carlos Botelho Megale1o Vice-Presidente

Marco Antônio SaltiniVice-Presidente Secretário

Mauro Marcondes MachadoVice-Presidente Tesoureiro

Adilson Maróstica Alexandre Bernardes de MirandaAlfredo Miguel NetoAna Helena Correa de AndradeAntônio Carlos Donizeti MorassuttiAntônio Carlos RamosAntônio Sérgio Martins MelloCarlos Eduardo Cruz de Souza LemosCledorvino BeliniFernanda Villas-BôasGleide Mércia de Souza PatriziGuilherme Ebeling NetoHenry Joseph JuniorHugo Domingos ZatteraIvan Armando Contreras LorenziniJeferson Olivete BiaggiJoão Alecrim PereiraKlaus Kühne Luiz Carlos Gomes de MoraesMarcelo de Oliveira EliasMarcelo Morais TeixeiraMárcia Cozzi RibeiroMarcos Gonçalves GonzalezMarcus Vinicius AguiarMauro Marcondes MachadoPaulo Shuiti TakeuchiRicardo Augusto MartinsRicardo Machado BastosRogelio GolfarbRogério Barretto de RezendeSuely Aparecida Toka AgostinhoUlisses Lyrio ChavesValentino RizzioliVice-Presidentes

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Aurélio SantanaDiretor Executivo

Fred CarvalhoDiretor de Assuntos Institucionais

Mário Luz Teixeira Beth Lira de LucaDiretores Executivos Adjuntos

CBIC

CNI SUSTENTABILIDADE: INDÚSTRIA DA

CONSTRUÇÃO E MUDANÇAS CLIMÁTICAS

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As atuais discussões em torno do meio ambiente tornaram-se norteadoras de decisões em âmbito mundial, caracterizando o desenvolvimento sustentável como uma nova forma de relação entre as áreas econômica, social, ambiental e cultural. Para a indústria da construção, o tema implica diretamente no debate sobre como desenvolver sistemas e produtos adequados aos usos, que serão submetidos e que atendam às necessidades e aos anseios da sociedade com relação à qualidade de vida.

Tratando especificamente da emissão de gases de efeito estufa (GEE) nas edificações brasileiras, esta ocorre direta ou indiretamente ao longo de todo o seu ciclo de vida, desde a produção e o transporte de seus materiais e componentes, assim como a construção propriamente dita, passando pela operação e pela manutenção até a sua desmontagem final. As fontes das emissões derivam do uso de combustíveis fósseis, da produção de uma diversidade de materiais, componentes e equipamentos, do transporte destes produtos e dos resíduos, de atividades domésticas, como o aquecimento de água, do uso de eletricidade nas fases de uso e da operação das construções.

Algumas opções para mitigação de emissões em edifícios e equipamentos vêm sendo consideradas e discutidas entre os integrantes da cadeia da indústria da construção, quais sejam: princípios de eficiência energética; sistemas naturais e artificiais de iluminação; desempenho energético de envoltórios e sistemas construtivos; sistemas de ventilação e ar-condicionado; economia de energia por retrofit de edificações; captação ativa e transformação de energia solar em eletricidade; aquecimento doméstico de água; uso de materiais; e reciclagem de resíduos na construção.

A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), por meio de sua Comissão de Meio Ambiente, tem como temas prioritários a disseminação do uso da energia solar para geração distribuída de eletricidade; a discussão sobre recursos hídricos; e a gestão de resíduos. Nesses temas assumem importância: a integração de especificações de conforto térmico, eficiência energética e adaptação climática nas construções; o desenvolvimento de modelos de incentivos fiscais para expansão da eficiência energética e iniciativas de geração distribuída; além da promoção de iniciativas que incentivem o uso de ferramentas visando à construção sustentável.

A utilização de energia renovável nas novas habitações, assim como nas já existentes, apresenta-se como uma medida prioritária que, além das questões ambientais, como a diminuição de fontes e sistemas de energia que emitem altas concentrações de GEE, pode melhorar a renda e a qualidade de vida da população.

Para o uso da energia fotovoltaica em habitações de interesse social, é imprescindível considerar as variáveis externas que elevariam os custos, contrapondo-se aos benefícios, permitindo, assim, avaliar as possibilidades de retorno sobre o investimento e a viabilidade econômica do projeto. Esta estratégia também deve ser contemplada na utilização de equipamentos e de eletrodomésticos com comprovada eficiência energética, utilizando a etiquetagem como forma de avaliar esse atributo.

Ao citarmos o tema água no escopo da construção sustentável, é necessário considerar: a melhoria da gestão como forma de combater os desperdícios e estimular a redução do consumo; o desenvolvimento de ações para promover a redução do índice de perda nas redes públicas; e a utilização de fontes alternativas de água e gestão da demanda em edifícios – programas de uso racional da água e mudanças comportamentais –, visualizando uma ação em parceria com o poder público para desenvolver iniciativas em torno do tema. Algumas ações poderão ser utilizadas para atingir tais objetivos, como: medição individualizada de água; medição remota de insumos; aproveitamento de água pluvial; e equipamentos hidráulicos economizadores. É importante atualizar, ampliar e implementar os programas institucionais existentes de gestão da demanda de água – Plano Nacional de Combate ao Desperdício de Água (PNCDA) e Programa de Uso Racional da Água (Pura) –, integrando as ações nas três esferas de governo (federal, estadual e municipal).

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Tornar mais eficaz a gestão de resíduos perigosos, implantar um sistema informatizado de gestão de resíduos adequado ao tamanho das cidades, incentivar as ações relacionadas à logística reversa e adotar programas de valorização, assim como estimular boas práticas e envolver os atores dos municípios para a formulação de políticas públicas em sintonia com as necessidades e os interesses dos habitantes das cidades são objetivos que também caracterizam a aplicação da sustentabilidade e a busca de qualidade de vida no atual ambiente urbano.

Buscando avançar nas propostas em torno da sustentabilidade, é necessário retomar e reforçar os pactos e as parcerias entre instituições governamentais, entidades públicas e privadas dentro dos programas já existentes, além de acompanhar e aperfeiçoar o arcabouço institucional e legal (leis, decretos, regulamentos, portarias e normas). Desta forma, desenvolvendo ações integradoras entre os temas água, resíduos e energia, a indústria da construção construirá e consolidará a sustentabilidade em sua atuação, estabelecendo o necessário diálogo da construção com as mudanças climáticas.

Referências

BUSTAMANTE, M. M. C.; ROVERE, E.L.L (Orgs.). Mitigação das mudanças climáticas: contribuição do Grupo de Trabalho 3 do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) ao I Relatório da Avaliação Nacional sobre Mudanças Climáticas. Rio de Janeiro: UFRJ, 2014.

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CRÉDITOS

Câmara Brasileira da Indústria da Construção – CBICNilson SartiPresidente da Comissão de Meio Ambiente

Centro Brasileiro de Energia e Mudança do Clima – CBEM Osvaldo SolianoSócio-Fundador

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1 O SETOR ELÉTRICO NO ÂMBITO DA ECONOMIA NACIONAL

A energia elétrica é fundamental para o desenvolvimento econômico e social das sociedades, fato que é ilustrado pela estreita relação entre os indicadores de consumo de energia e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Além disso, a eletricidade é um insumo fundamental para a indústria e, portanto, determinante para sua competitividade econômica e ambiental. No quesito ambiental, o Setor Elétrico Brasileiro (SEB) diferencia-se internacionalmente por oferecer baixos indicadores de emissão de gases de efeito estufa (GEE):

• na média mundial, a eletricidade é responsável por 31,8% das emissões de GEE, enquanto no Brasil o setor gera cerca de 4,5% das emissões nacionais (WRI, 2015);

• a intensidade média global é de 528 kg de CO2/MWh (IEA, 2015), enquanto o Brasil sustenta indicadores na ordem de 96 kg de CO2/MWh (BRASIL, 2013).

Graças às energias renováveis, o Brasil é uma das economias mais eficientes na geração do Produto Interno Bruto (PIB) por cada tonelada de CO2 emitida. No entanto, este perfil não vem representando uma real vantagem competitiva, a despeito dos custos e esforços brasileiros na priorização do uso de energias renováveis. Para que o país possa aprimorar suas políticas domésticas e também promover a adoção de uma política climática internacional eficaz, a relação entre custo e benefício climático das diferentes opções energéticas precisa ser melhor compreendida.

2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO SETOR NO ÂMBITO DA AGENDA DE MUDANÇA DO CLIMA

Para entender a situação atual e os cenários para a evolução do SEB, é importante analisar como as evoluções regulatórias e as opções de investimento das últimas décadas têm influenciado no desempenho econômico e ambiental. Se, por um lado, a participação das novas fontes de energias renováveis não convencionais (ERNCs) é relativamente recente, por outro, a importância da energia hidrelétrica e da sua capacidade de estocagem deve-se, principalmente, aos investimentos estruturantes feitos sob a égide do monopólio estatal. Nesse período, o setor era dominado quase que exclusivamente por empresas estatais verticalizadas.

Entre 1960 e 1995, período que marcou o fim do modelo estatal, usinas totalizando uma potência de 45,4 GW já haviam sido instaladas. Infelizmente, a alta intensidade de capital e a complexidade desses empreendimentos foram agravantes da crise no início da década de 1990, representada pelo esgotamento da capacidade de investimento do SEB e pela necessidade de aportes de US$ 20 bilhões do Tesouro Nacional.

A progressiva desarticulação do setor resultou na redução dos investimentos de uma média de US$ 8 bilhões nos anos 1980 para a metade deste valor no período 1990-1997 (GOMES et al., 2014). O quadro caracterizava-se pela paralisação da construção de diversas hidrelétricas e pela crescente escassez da capacidade de geração em relação ao aumento do consumo do sistema.

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Para recuperar a capacidade de financiar os investimentos necessários, o governo iniciou, em 1995, um processo de reforma das empresas estatais, separando e privatizando parcialmente os segmentos de geração, transmissão e distribuição, criando um ambiente competitivo e transferindo parte das responsabilidades de operação e planejamento para o setor privado.

A adoção do modelo de Ambiente de Contratação Livre (ACL) permitiu o investimento de entidades privadas com base na Lei de Concessão (Lei no 8.987, de 13 de fevereiro de 1995). Assim, o setor privado foi capaz de ressuscitar e completar a construção de alguns empreendimentos paralisados, a exemplo das usinas hidrelétricas de Itá (1.450 MW) e Machadinho (1.140 MW), além de promover a construção de algumas novas centrais hidrelétricas de pequeno e médio portes. Além disso, o novo modelo levou a uma expansão da capacidade de geração térmica de 7.051 MW, em 1994, para 21.324 MW, em 2007, e a um consequente crescimento das emissões de GEE de 10,8 milhões de toneladas, em 1994, para 24,1 milhões de toneladas, em 2007 (ABBUD; TANCREDI, 2010).

Infelizmente, o modelo não foi capaz de satisfazer a demanda crescente e resultou na crise de energia de 2001, quando o consumo de eletricidade dos consumidores e da indústria foi racionado e o desenvolvimento econômico do Brasil sofreu um grave revés. Em resposta a essa crise foi estabelecido o novo modelo regulatório em 2004, que privilegiava o papel mais ativo do governo, praticamente suspendendo o processo de privatização iniciado na década de 1990 e centralizando as funções de planejamento da eletricidade e operação no nível do governo federal (MOODY’S, 2008). Ao mesmo tempo incentiva-se os investimentos do setor privado para financiar a expansão necessária da capacidade de geração.

Em relação aos primeiros esforços de mitigação de GEE no setor elétrico na época, é interessante relembrar que estes foram instituídos no contexto das decisões sobre as Modalidades e Procedimentos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), adotado pela sétima reunião (COP 7) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (também conhecida como UNFCCC, segundo a sigla em inglês) na reunião de Marrakesh, em Marrocos, realizada no período de 29 de outubro a 10 de novembro de 2001.

No contexto da crise energética, incentivado pela expectativa do apoio ao MDL, criou-se o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), com o objetivo de agregar ao Sistema Elétrico Interligado Nacional (SIN) 3.300 MW de potência instalada por meio da Medida Provisória no 14/2001, convertida na Lei no 10.438/2002. A subsequente regulamentação permitiu que os primeiros empreendimentos de energia eólica, as pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e a geração à biomassa fossem contratadas em 2004. Até hoje, o programa resultou em 119 empreendimentos, somando uma capacidade instalada de 2.650 MW (ELETROBRAS, 2015). Estima-se que os projetos do Proinfa estejam gerando uma redução anual de emissões de GEE de 2,5 milhões de toneladas de CO2. Lamentavelmente, apenas poucos projetos foram registrados no MDL devido ao fato de o Decreto no 5.882/2006 ter definido que o benefício econômico do MDL dos projetos deve ser revertido para o consumidor e o processo administrado pela Eletrobras. Desestimulados por essa situação, poucos empreendedores registraram seus projetos e apenas recentemente a Eletrobras está iniciando os processos de registro das instalações.

De todo modo, a real conquista do Proinfa foi o incentivo ao investimento privado e a diversificação com base em tecnologias fundamentais para a expansão do SEB. Além disso, o programa foi precursor da Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), a ser desenvolvida no contexto do novo modelo do setor elétrico, conforme descrito a seguir.

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3 EXPERIÊNCIAS E RESULTADOS DE MITIGAÇÃO DO SETOR ELÉTRICO

O Brasil – principalmente o setor de geração elétrica – foi pioneiro no mercado de carbono, iniciando o desenvolvimento dos primeiros projetos MDL em 2001, mesmo ano da definição das modalidades e procedimentos do mecanismo e quatro anos antes da ratificação plena do próprio Protocolo de Kyoto. Após um foco inicial em projetos de cogeração à biomassa, a atividade ampliou-se para PCHs e projetos eólicos, inclusive aqueles do programa Proinfa. Nessa fase observou-se a entrada de novos agentes e investidores, sejam pequenas e médias empresas, sejam investidores e consultores internacionais com interesse nos créditos de carbono gerados pelos investimentos.

Como resultado, até 31 de dezembro de 2007 o Brasil havia registrado um total de 65 projetos de ERNCs, com capacidade total de 1.870 MW e uma média de 29 MW por projeto.

Em paralelo a essas primeiras experiências, em março de 2004 o Brasil instituiu o novo modelo do setor elétrico, que teve como objetivo promover a modicidade tarifária, a segurança do suprimento e o benefício socioambiental. Para alcançar tais objetivos, o governo instituiu quatro ferramentas complementares:

• contratação das fontes com base em contratos de longo prazo nos leilões do mercado regu-lado (ACR), ou por meio do mercado livre (ACL) para consumidores especiais;

• condições de financiamento específicas estruturadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimen-to Econômico e Social (BNDES);

• incentivos fiscais e setoriais complementares, em especial a redução de 50% das tarifas de transmissão e distribuição para energias complementares com capacidade até 30 MW;

• uso do MDL por parte dos empreendedores.1

Os leilões realizados pelo governo para atender à demanda do ACR tornaram-se o principal vetor de expansão do SEB. Entre o primeiro leilão, realizado em dezembro de 2005, e o último leilão, de abril de 2015, um total médio de 37 GW de energia foi contratado de mais de 900 projetos com capacidade instalada de quase 85 GW. O gráfico 1 permite analisar a evolução da expansão contratada no mercado regulado.

1 Para evitar a incerteza regulatória que inviabilizou o apoio do MDL para o Proinfa, a Portaria MME no 29, de 28 de janeiro de 2011, define que os projetos contratados com base nos leilões regulados poderão pleitear para si créditos oriundos do MDL.

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Fase I Fase II Fase III

Fonte: EPE e CCEE. Disponível em: <www.epe.gov.br>.Nota: ¹ Inclui A-3 08/09.

Na fase I do novo modelo, entre dezembro de 2005 e novembro de 2007, 59% da energia contratada foi de origem fóssil, com destaque para derivados de petróleo (25%). No entanto, enquanto a maior parte da energia hidrelétrica contratada naquela época originava de projetos iniciados no modelo regulatório anterior, também houve contratação de novas hidrelétricas e de termelétricas a bagaço, em parte pelo resultado do primeiro leilão dedicado à ERNC, realizado em 6 de julho de 2007 e apoiado pelo MDL.

Já em dezembro de 2007 iniciou-se a fase II, caracterizada pelos objetivos do Plano Nacional sobre Mudança do Clima (BRASIL, 2008), que definiu a prioridade do desenvolvimento das hidrelétricas para sustentar a expansão limpa da matriz energética. O primeiro passo nessa estratégia foram os leilões dedicados a projetos estruturantes, como as usinas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira. O êxito desses leilões deve-se, em grande parte, à atuação do BNDES em estabelecer uma linha de crédito preferencial, com juros reduzidos e períodos de carência e amortização ampliados. Além disso, o banco reconheceu as receitas previstas com base no MDL na avaliação econômica, e teve uma atuação decisiva no financiamento de ações socioambientais para ampliar os benefícios locais dos empreendimentos.

Posteriormente a esses leilões, houve uma grande contratação de fontes termelétricas (setembro de 2008) e o BNDES decidiu ampliar as condições de financiamento incentivado para todas as fontes renováveis, estimulando o setor a posicionar-se para atender a essa preferência.

Esse novo período consolidou-se com o primeiro leilão de contratação exclusiva de energia eólica, em dezembro de 2009, evento que coincidiu com a Conferência do Clima (COP 15), em Copenhague, onde o Brasil apresentou suas Ações de Mitigação Nacionalmente Apropriadas (Namas), com o objetivo de mitigação de 36,1% a 38,9% em relação às projeções para o ano de 2020. Já em relação aos objetivos do setor elétrico, o documento especifica os seguintes objetivos de redução de emissões de GEE (BRASIL, 2010):

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• expansão da hidroeletricidade: 79-99 Mt de carbono;

• energias renováveis não convencionais: 26-33 Mt de carbono;

• eficiência energética: 12-15 Mt de carbono.

Embora o anúncio brasileiro às Nações Unidas tenha o formato de metas voluntárias, o governo estabeleceu a Lei no 12.187/2009, instituindo a Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), e o Decreto no 7.390/2010, que regulamenta os Artigos 6o, 11 e 12 da PNMC. De fundamental interesse para o funcionamento desta política é o Artigo 6o da Lei no 12.187/2009, que define os instrumentos para promover reduções de emissões de GEE, como:

• linhas de crédito específicas de agentes financeiros públicos e privados;

• parcerias público-privadas e autorização, permissão, outorga e concessão para exploração de serviços públicos e recursos naturais;

• mecanismos financeiros que existam no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima e do Protocolo de Kyoto.

O resultado dessa política foi a contratação de 891 projetos de energia renovável com capacidade de geração de 63,7 GW até o momento. A participação do MDL foi decisiva para um total de 250 projetos com capacidade de geração de 19,6 GW, já registrados ou em fase de validação. Os resultados dos projetos apresentados no MDL equivalem à redução de emissões na ordem de 34 milhões de toneladas de CO2/ano, calculadas com base nas metodologias das Nações Unidas. No entanto, se considerarmos a energia média de todos os projetos renováveis contratados desde o início do novo modelo, a redução de emissão gerada, quando todos os projetos entrarem em operação, será de aproximadamente 112 milhões de toneladas de CO2 por ano. A comparação com a meta voluntária anunciada às Nações Unidas mostra que o SEB já está em vias de atender entre 76% e 95% da meta estipulada. No entanto, os projetos registrados e monitorados com base no MDL oferecem uma maior exatidão e transparência dos resultados, que já correspondem a algo em torno de 30% da meta.

Com base nas experiências dos últimos dez anos, é possível avaliar os resultados da PNMC, identificar boas práticas e opções de aprimoramento para o futuro da regulação do sistema:

• o registro dos projetos no MDL permite demostrar a ação antecipada do Brasil. Além disso, os resultados e as experiências adquiridas são fundamentais para o desenvolvimento de um mercado de carbono nacional e sua inserção no futuro mercado internacional;

• o aprimoramento da capacidade de desenvolver hidrelétricas estruturantes, com benefícios sociais e ambientais comprovados com base no Protocolo de Sustentabilidade das Hidrelétri-cas (HYDRO4LIFE, 2010), ferramenta reconhecida internacionalmente por Organizações Não Governamentais (ONGs) de prestigio, é fundamental para a expansão da fonte e dos seus benéficos locais;

• o registro de hidrelétricas estruturantes no MDL, como é o caso de Santo Antônio, Teles Pires e Jirau, virou referência para o benefício ambiental desses empreendimentos e ajudou a ex-plicitar os mecanismos da PNMC (HAUSER; MEDEIROS, 2010);

• a consolidação da energia eólica como fonte renovável complementar é fundamental para a expansão do SEB, com a contratação de 16 GW de capacidade a serem implantados até 2019. Os investimentos na ordem de R$ 45 bilhões têm atraído uma indústria importante para a geração de emprego e renda;

• a recente entrada da fonte solar abre expectativas para ampliar a diversificação da matriz elétrica brasileira. Além disso, o esforço para viabilizar projetos de biomassa e de PCHs vem mostrando resultados.

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Em resumo, hoje o SEB é mais diversificado e versátil, além de mais aberto ao uso de novas estratégias e tecnologias. Por ser uma exigência do MDL, o setor também avançou no diálogo qualificado com as partes interessadas e tem adaptado as melhores ferramentas internacionais para mostrar sua responsabilidade no desenvolvimento e na operação dos projetos. Por último, o SEB também formou os profissionais necessários para gerenciar as evoluções da política do clima, esperadas a partir da Conferência de Paris (COP 21).

4 DESAFIOS DO SETOR NO TRATAMENTO DO TEMA

Apesar das conquistas destacadas, o SEB hoje depara-se com um quadro complexo de dificuldades e de distorções regulatórias que se opõe ao êxito descrito na contratação de fontes renováveis. Devido a uma série de evoluções no âmbito internacional e nacional e às alterações climáticas, o novo modelo e a PNMC enfrentam o crescente desafio do despacho contínuo de termelétricas, originalmente projetadas para operar na ponta do sistema, resultando em um custo elevado para os consumidores, além de um crescente nível de emissões de GEE. A seguir são ressaltadas algumas razões para a atual situação:

• a opção de focar no desenvolvimento de hidrelétricas a fio d’água tem levado a uma perda da capacidade de armazenamento energético, aumentando a vulnerabilidade climática do siste-ma, como pode ser observado atualmente, após dois anos de baixos índices pluviométricos;

• o foco na contratação dos projetos com menor custo e independentemente da sua localiza-ção e contribuição sistêmica, em detrimento da otimização do custo/benefício do portfólio, tem agravado o desequilíbrio;

• a contratação emergencial das termelétricas ineficientes, junto a uma ineficaz regulação do setor de produção, transporte e distribuição de gás natural, prejudicou o planejamento e o de-senvolvimento de projetos termelétricos economicamente e ambientalmente mais eficientes;

• as políticas de expansão do consumo domiciliar no contexto de uma crise hídrica, junto à ten-tativa de administrar os preços e à disponibilidade energética, em vez de recorrer à ferramenta de racionamento implicou em um despacho forçado e contínuo das termelétricas de ponta. A consequência foi um pico de emissões, de custos e de desequilíbrios econômicos, como também a distorção dos preços para balizar novos investimentos;

• as fraquezas institucionais e as falhas de planejamento levaram a atrasos nos leilões, no licen-ciamento ambiental e na importação de equipamentos. Estas falhas, agravadas por uma série de protestos, interferências sociais e até atos de vandalismos criminosos levaram a atrasos sensíveis na construção de vários projetos de geração e transmissão;

• a frustração das expectativas da receita pela venda dos Certificados de Emissões Reduzidas (CERs), devido à falência do mercado internacional de carbono, tem causado perdas sensíveis aos investidores, comprometendo, desta forma, a capacidade de conclusão de projetos em curso, como também a capacidade de fazer novos investimentos;

• o impacto da falência do MDL é ampliado pela redução dos incentivos financeiros ofertados pelo BNDES. No contexto da atual crise nacional, o banco se viu forçado a aumentar juros e a reduzir a participação no financiamento das energias renováveis. Por mais que ele continue sendo fundamental, essas revisões e o aumento nas taxas de juros de longo prazo (TJLP) dificultam a expansão contínua com base nas energias renováveis.

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Em resumo, as falhas de planejamento e da implementação da PNMC, junto à falência do MDL e à revisão dos incentivos financeiros domésticos definidos no contexto das Namas brasileiras, conjugadas ao contexto de uma crise hídrica mal administrada, têm levado a uma situação que requer análise mais cuidadosa, a fim de definir os fundamentos da futura política energética e climática nacional.

5 VISÃO DE FUTURO/TENDÊNCIAS

A atual crise regulatória no Brasil desenvolve-se no contexto de uma transformação profunda das tecnologias disponíveis, como também da política ambiental e climática global caracterizada pelo avanço promissor das negociações preparatórias do acordo de Paris, a ser celebrado no final do ano de 2015 (COP 21). A situação, antes de tudo, deve ser vista como uma oportunidade para sanar as falhas e superar as barreiras enfrentadas pelo SEB, assim como de usar a agenda climática para recompor a competitividade da indústria brasileira.

Considerando a vocação brasileira para a energia renovável e a perspectiva de um acordo global, em que todos os países comprometam-se com a precificação das emissões de carbono em linha com o objetivo de evitar as mudanças climáticas, existe um cenário de oportunidade para a indústria brasileira, que é capaz de produzir (alumínio, aço, biocombustíveis, produtos madeireiros etc.) com menor índice de carbono se comparado a outros países. Esse é o resultado do estudo do IES-Brasil (FBMC, 2015), que avaliou diferentes cenários de mitigação e chegou à conclusão de que uma ambiciosa governança global, com precificação equitativa do carbono em todos os países, tende a aumentar o PIB e as exportações e, portanto, o balanço de pagamentos do país.

Nesse cenário, o SEB tem papel fundamental de assegurar uma expansão economicamente e ambientalmente eficiente da oferta, de acelerar o processo de aquisição e implementação de novas tecnologias, de contribuir com a eficiência energética da indústria e da economia como um todo, bem como de atrair recursos econômicos domésticos e internacionais para financiar os investimentos necessários. Além disso, é preciso ampliar os resultados da gestão socioambiental para assegurar que o setor possa ampliar sua contribuição para o desenvolvimento econômico nacional e regional. A seguir são listadas algumas das propostas:

• as políticas de promoção dos recursos energéticos renováveis devem ser aperfeiçoadas para atrair todas as fontes e assim contribuir para a diversificação e segurança da matriz energé-tica. O foco do planejamento deve ser a resiliência e o mínimo custo do sistema, em vez do foco míope no menor custo das fontes individuais contratadas;

• as novas tecnologias e estratégias, a exemplo da energia fotovoltaica, da geração descentra-lizada e da gestão da demanda, assim como os serviços de eficiência energética requerem promoção e regulamentação adequadas. Além disso, sinergias importantes entre o SEB e os setores florestais e agrícolas devem ser alavancadas para ampliar benefícios de segurança energética e benefícios econômicos e ambientais regionais;

• o escopo do planejamento e o desenvolvimento das hidrelétricas devem ser ampliados para maximizar os benefícios regionais e ainda aperfeiçoar a contribuição em aspectos de se-gurança energética, com base na estocagem de energia, no transporte fluvial por meio do planejamento integrado de eclusas e na gestão de secas e de enchentes como elemento fundamental para adaptação às mudanças climáticas;

• a eletromobilidade, em complementariedade com os biocombustíveis, terá um papel fundamental para o transporte de carbono neutro de baixo impacto ambiental nas cidades brasileiras;

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• o desenvolvimento de um SEB equilibrado e resiliente no contexto das energias renováveis e das mudanças climáticas requer o planejamento de fontes despacháveis, como é o caso das termelétricas (biomassa, gás, energia nuclear e carvão) capazes de gerar na base do sistema, com custo variável unitário baixo ou moderado. Com base em uma estratégia de curto e longo prazos, o SEB requer reforma e ampliação do seu parque termelétrico para aperfeiçoar o resultado econômico e ambiental.

A expansão da oferta energética, imprescindível em um país como o Brasil, que ainda destaca-se pelo baixo consumo per capita, é complexa e intensiva em capital, sobretudo quando a opção é de priorizar hidrelétricas e outras energias renováveis que requerem longos períodos de amortização e caracterizam-se pela variabilidade de geração. Para atrair investidores sólidos e competentes, com capacidade de competir pelo financiamento destes investimentos, é importante assegurar uma regulação transparente e confiável, que permita a alocação e a gestão eficientes de custos e riscos. Destaca-se que o desenvolvimento e a implantação dos empreendimentos sem atrasos e em harmonia com seus entornos socioambientais requerem processos de planejamento, licenciamento e autorização mais eficientes, que minimizem os riscos e maximizem os benefícios para todas as partes interessadas.

Com o objetivo de ampliar a competitividade da sua indústria e de atrair os meios de implementação previstos pela governança do clima, seja por meio da transferência de tecnologias, seja por intermédio de mecanismo de financiamento climático ou mecanismo de mercado, o tópico a seguir traz algumas propostas de como o Brasil pode buscar sua inserção no regime climático internacional.

6 PROPOSTAS/AGENDA POSITIVA

Em linha com a conclusão do primeiro período do Protocolo de Kyoto, iniciou-se um processo de negociação do regime climático global para o período pós-2020. O fundamento das negociações é o pressuposto de que todos os países devem contribuir para a mitigação das mudanças climáticas. O processo de negociação implica que cada país submeta sua indicação das Contribuições Nacionalmente Determinadas (INDCs, na sua sigla em inglês) até 1o de outubro de 2015, para que as Nações Unidas possam preparar um resumo do resultado agregado antes das negociações de Paris (dezembro de 2015). O Brasil, que tradicionalmente tem um papel relevante na articulação das negociações do clima, está conduzindo os preparativos para a submissão das suas INDCs, e o governo já sinalizou que pretende submeter um documento com objetivos de mitigação e adaptação ambiciosos. Nesse âmbito, seguem alguns aspectos de relevância para o setor de geração elétrica e, portanto, para a indústria e a competitividade nacional como todo:

• os resultados do estudo do IES-Brasil (FBMC, 2015) mostram, de forma clara, que a am-bição das INDCs brasileiras têm que estar em linha com as de outros países, considerando os princípios de equidade e capacidades diferenciadas e o objetivo de ampliar a competitividade da produção sustentável com baixa intensidade de carbono;

• como já previsto na proposta da diferenciação concêntrica feita pelo Brasil (BRASIL, 2014), os mecanismos de mercado e o acesso ao financiamento climático são ferramentas funda-mentais para promover a mitigação e a ambição. Considerando, sobretudo, a atual escassez de opções de financiamento doméstico e a falência do mercado de carbono para projetos de MDL, é importante que o Brasil promova a criação de novos mecanismos, capazes de ampliar o acesso a esses incentivos;

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• para viabilizar um mercado de carbono internacional, é importante que o acordo de Paris implemente os fundamentos de um comércio de emissões com base na troca transparente de resultados de mitigação entre países. Para assegurar a integridade ambiental da transferência de unidades de mitigação, estas devem estar sujeitas a uma contabilidade sólida no contexto dos inventários de GEE de cada país;

• seguindo os princípios estabelecidos na proposta da diferenciação concêntrica, as INDCs adotadas pelos países, sejam elas definidas em termos de metas absolutas, sejam em ter-mos de intensidade de emissões ou como reduções em relação a uma linha de base, devem representar uma referência sólida para a contabilidade das unidades transferidas. No caso do Brasil, recomendamos que os compromissos sejam apresentados, na íntegra, de forma agregada para a economia, permitindo, assim, a flexibilidade e os ajustes a nível doméstico;

• para continuar e ampliar os esforços antecipados, é importante que o MDL e os outros me-canismos existentes possam continuar existindo a nível doméstico e internacional. Em um primeiro momento, recomendamos a utilização do MDL como ferramenta de flexibilização doméstica e sua reforma para promover projetos de mitigação no contexto das INDCs, a exemplo da implementação conjunta,2 definida pelo Protocolo de Kyoto;

• para ampliar ainda mais a eficiência do futuro mercado de carbono, recomendamos que as obrigações de financiamento de US$ 100 bilhões/ano, assumidas pelos países desenvolvidos, possam ser canalizadas em forma de fluxos de comércio de emissões. A experiência do MDL tem mostrado que essa ferramenta é capaz de alavancar capital privado em termos de in-vestimento, oferecendo, assim, um vetor importante para promover uma expansão limpa e renovável para o Brasil e os países similares;

• caso o Brasil opte pela implementação de mecanismos de mercado no nível doméstico, é importante que isso seja feito em harmonia com os diversos mercados internacionais e ob-servando-se os princípios de eficiência econômica e regulatória. O objetivo fundamental da regulação deve ser a expansão economicamente, ambientalmente e socialmente eficiente, respeitando-se ativos e direitos estabelecidos. Além disso, é importante que os instrumentos sejam fungíveis com aqueles de outros países e que o sinal de preços possa permear a econo-mia como um todo, seja em termos de cobertura dos setores, seja por meio da repassagem do sinal de mercado para todos os participantes de mercado, inclusive o consumidor final.

Com a adoção das medidas acima sugeridas, o SEB terá capacidade de atrair novas tecnologias e o investimento necessário para continuar seu crescimento, com baixo índice de emissões de carbono. Como no passado, o SEB será um ator proativo na implementação da PNMC para, assim, atender a seu papel de gerar energia segura e sustentável para o crescimento econômico nacional. O alcance destes objetivos, contudo, requer um diálogo constante e construtivo entre o governo federal e os agentes do setor, para que as virtudes possam ser ampliadas e utilizadas como referência na solução de problemas em benefício da sociedade brasileira.

Referências

ABBUD, O. A.; TANCREDI, M. Transformações recentes da matriz brasileira de geração de energia elétrica: causas e impactos principais. Brasília: Senado Federal, 2010. (Textos para Discussão, n. 69). Disponível em: <http://goo.gl/Zvm6aK>. Acesso em: 7 ago. 2015.

2 A implementação conjunta é um mecanismo flexível que os países do Anexo I, assim como as empresas destes países, utilizam para reduzir suas emissões de GEE, sem necessariamente tomarem medidas no próprio país.

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BRASIL. Lei no 10.438, de 26 de abril de 2002. Dispõe sobre a expansão da oferta de energia elétrica emergencial, recomposição tarifária extraordinária, cria o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), dispõe sobre a universalização do serviço público de energia elétrica, dá nova redação às Leis nos 9.427, de 26 de dezembro de 1996, 9.648, de 27 de maio de 1998, 3.890-A, de 25 de abril de 1961, 5.655, de 20 de maio de 1971, 5.899, de 5 de julho de 1973, 9.991, de 24 de julho de 2000, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 2002. Disponível em: <http://goo.gl/NQmRYv>. Acesso em: 7 ago. 2015.

_____. Ministério do Meio Ambiente. Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima. Plano Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC): Brasil. Brasília: MMA, 2008. Disponível em: <http://goo.gl/ClR7Qd>. Acesso em: 7 ago. 2015.

______. Nama declaration. Berlin: UNFCCC, 2010. Disponível em:<http://goo.gl/LhYb9l>. Acesso em: 7 ago. 2015.

______. Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Fatores de emissão de CO² para utilizações que necessitam do fator médio de emissão do Sistema Interligado Nacional do Brasil. Brasília: MCTI, 2013. Disponível em: <http://goo.gl/Q8NNj>. Acesso em: 7 ago. 2015.

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GOMES, A. C. S. et al. O setor elétrico. [S.l.]: BNDES, 2014. Disponível em: <http://goo.gl/k2riXX>. Acesso em: 7 ago. 2015.

HAUSER, P.; MEDEIROS, A. Análise do tratamento das políticas de incentivos a projetos de energias renováveis no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENERGIA, 13., Rio de Janeiro, 2010. Anais... Rio de Janeiro: Firjan, 2010. p. 903-918.

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CRÉDITOS

Fórum de Meio Ambiente do Setor Elétrico – FMASEAlexei Macorin VivanPresidente

Marcelo MoraesVice-Presidente

Philipp HauserConsultor

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1 INDÚSTRIA DO AÇO NO BRASIL

O parque produtor de aço no Brasil é constituído por 29 usinas (14 integradas e 15 semi-integradas), sendo administrado por 11 grupos. A localização das usinas está apresentada na figura 1.

Figura 1 – Localização das usinas brasileiras

ParáSinobras

CearáGerdau Aços Longos (Cearense)

PernambucoGerdau Aços Longos (Açonorte)

BahiaGerdau Aços Longos (Usiba)

Espírito SantoArcelorMittal Laços Longos (Cariacica)ArcelorMittal Tubarão

Rio de JaneiroVotorantim Siderurgia (Resende)Votorantim Siderurgia (Barra Mansa)CSN (Volta Redonda)Gerdau Aços Longos (Santa Cruz)ThyssenKrupp CSA (Santa Cruz)

São PauloArcelorMittal Aços Longos (Piracicaba)Aços Villares (Gerdau Pindamonhangaba)Aços Villares (Gerdau Mogi das Cruzes)Gerdau Aços Longos (São Paulo)Usiminas (Cubatão)Villares Metals

ParanáGerdau Aços Longos (Guaíra)

Rio Grande do SulGerdau Aços Especiais (Piratini)Gerdau Aços Longos (Riograndense)

Minas GeraisAperam South AmericanGerdau Açominas (Ouro Branco)ArcelorMittal Aços Longos (Monlevade)ArcelorMittal Aços Longos (Juiz de Fora)Gerdau Aços Longos (Barão de Cocais)Gerdau Aços Longos (Divinópolis)Grupo Usiminas (Ipatinga)VallourecVSB (Jeceaba)

Fonte: Instituto Aço Brasil.

As usinas que utilizam a rota integrada têm o minério do ferro e o carvão mineral como principais matérias-primas do processo. O Brasil possui diferencial em relação à siderurgia de outros países, pois parte de sua produção, via rota integrada, utiliza o carvão vegetal em substituição ao carvão mineral, correspondendo a cerca de 11% da produção brasileira de aço bruto. Já as minimills utilizam a rota semi-integrada, ou seja, não possuem a etapa de redução e utilizam, principalmente, a sucata para alimentação dos fornos elétricos a arco.

A indústria brasileira do aço em 2014 produziu 34 milhões de toneladas de aço, representando 2% da produção mundial e uma emissão estimada de CO2 que não excede 0,2% das emissões globais.

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A configuração de produção no Brasil é semelhante a do resto do mundo, ou seja, cerca de 80% da produção de aço se dá pela rota integrada e 20% pela rota semi-integrada, sendo a opção por essa última totalmente dependente da disponibilidade de sucata no mercado.

O consumo per capita de aço bruto no Brasil é apenas de 140 kg/habitante/ano, bem abaixo da média mundial, de 234 kg, e dos 509 kg em média dos países desenvolvidos e de algumas economias emergentes, como China, Turquia e Polônia. O consumo de aço no Brasil em 2014 representou 36% do consumo na América Latina, mas apenas 2% do consumo mundial deste material.

Nos últimos cinco anos houve, em vários países da America Latina, entre os quais o Brasil, um processo de reprimarização e desindustrialização da economia, com preocupantes efeitos recessivos. No Brasil, neste período, ocorreu crescimento significativo das importações diretas de produtos siderúrgicos e importações de produtos manufaturados com alto conteúdo de aço, favorecidas por questões como o custo Brasil e o câmbio valorizado. Só em 2014, cerca de 4 milhões de toneladas de aço foram importadas. Algumas destas importações chegam sob condições desleais de comércio, obrigando a abertura de investigações e o estabelecimento de medidas antidumping que procuram limitar o dano à indústria siderúrgica local. Somente da China houve, de 2002 a 2014, aumento de 51.625% nas importações, ressaltando que nesse país grande parte das empresas é de controle estatal e/ou recebem fortes subsídios do governo.

2 PRODUÇÃO E USO DA ENERGIA NA INDÚSTRIA DO AÇO

A indústria do aço é um setor energointensivo e o seu consumo específico de energia varia em função da rota tecnológica, dos materiais e energéticos empregados e do mix de produtos. A matriz energética da siderurgia brasileira, em 2014, teve a seguinte distribuição: 73% de carvão mineral/coque, 15% de derivados de petróleo, 7% de carvão vegetal e 5% de energia elétrica.

Para a produção do aço em minimills, com a reciclagem e o processamento da sucata, a energia elétrica tem peso significativo nos custos da produção. Devido ao aumento expressivo dos custos da energia elétrica, as empresas do setor estão envidando esforços voltados à autogeração de energia, seja por meio do aproveitamento do poder calorífico dos gases de processo em centrais termelétricas (cogeração), seja por intermédio da construção de usinas hidrelétricas. Atualmente, o setor possui uma autoprodução de energia elétrica de 10.121 mil MWh, ou seja, 53% do consumo de energia elétrica, em 2014, foi suprida por meio da autogeração (sendo 43% em termelétrica e 10% em hidrelétrica). O restante foi comprado de fonte externa.

3 PERFIL DAS EMISSÕES DE GASES DE EFEITO ESTUFA

A produção e o uso da energia na indústria do aço acarretam emissão de gases de efeito estufa (GEE). Dos seis principais gases abrangidos pelo Protocolo de Kyoto, apenas o dióxido de carbono é gerado em quantidades significativas na produção de aço.

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O carvão (quase que integralmente constituído por carbono) é essencial para o processo de produção de aço, para o qual não existe, atualmente, substituto econômico adequado. As emissões de CO2 são decorrentes, sobretudo, do uso do carvão (mineral ou vegetal) como agente redutor do minério de ferro nos altos-fornos.

Assim como o consumo específico de energia, a quantidade de CO2 emitida por tonelada de aço bruto produzido varia muito de uma empresa para outra, devido aos fatores já comentados anteriormente no item anterior .

Nas plantas integradas, a maior parte das emissões de CO2 (70%) é proveniente da produção do ferro-gusa no alto-forno. Montantes inferiores derivam da laminação e acabamento de produtos (12%), da preparação do minério (12%) e da produção de eletricidade e oxigênio (7%).

Nas usinas semi-integradas, baseadas em sucata, o volume principal de emissões provém do forno elétrico a arco (45%), seguido da laminação e acabamento (36%) e da produção de oxigênio e eletricidade (16%).

O aço produzido a partir de sucata, como não requer a etapa de redução no alto-forno, tem menor nível de emissões de CO2 que o produzido pela rota integrada. No entanto, como a oferta de sucata de aço está atrelada ao consumo de aço no país, há limites pra expansão da produção de aço por esta rota.

O Brasil teve a iniciativa pioneira de utilizar o carvão vegetal como agente redutor em altos-fornos. Como o carvão vegetal é obtido a partir de biomassa originária de florestas plantadas, nestas há o processo da fotossíntese, que absorve CO2, ocorrendo compensação de emissões desse gás geradas na etapa de redução no alto-forno. Há, porém, limitações técnicas que restringem o uso do carvão vegetal em maior escala. Devido às características de friabilidade do carvão vegetal, seu uso somente é possível em altos-fornos de menor porte, o que inviabiliza a produção de ferro-gusa em larga escala, fator este essencial para muitas empresas manterem-se competitivas, tendo em vista que empresas siderúrgicas de outros países possuem altos-fornos de grande capacidade.

A intensidade média de emissões da indústria brasileira do aço é 1,74 tonelada de CO2/tonelada de aço bruto, valor este inferior ao da média mundial, de 1,88 tonelada de CO2/tonelada de aço bruto, ressaltando ainda que esta última é calculada, majoritariamente, com os dados de emissões de empresas instaladas em países desenvolvidos, não se computando dados de muitas usinas da China, da Rússia e da Índia.

4 MEDIDAS DE REDUÇÃO ADOTADAS PELA INDÚSTRIA DO AÇO

A implementação de medidas de mitigação de emissões de GEE é atualmente um dos maiores desafios do setor industrial. As empresas associadas do Aço Brasil estão trabalhando em um esforço comum para reduzir a pegada de carbono associada à produção e ao uso do aço. Nos últimos 25 anos, a indústria de aço promoveu uma revolução no seu desempenho por meio do investimento maciço em novas plantas e tecnologia, em novos métodos de gestão e em novos produtos. Destacam-se as seguintes linhas de ação:

• realização de inventários de emissão de GEE;

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• desenvolvimento de pesquisas para otimizar a eficiência energética dos processos de produção e a reciclagem do aço e dos coprodutos;

• desenvolvimento e aplicação de nova geração de aços para melhorar a eficiência energética dos produtos que usam aço em parceria com nossos clientes.

Em âmbito mundial, há um pool de pesquisadores da indústria e de universidades para identificar e desenvolver tecnologias inovadoras e de ruptura para produção de aço, com potencial para reduzir significativamente as emissões de CO2. No entanto, prevê-se que essas tecnologias somente estarão viáveis técnica e economicamente no longo prazo.

4.1 Inventário das emissões dos gases de efeito estufa

Com o objetivo de conhecer, quantificar, analisar as emissões do setor e aferir seus programas de redução de CO2, são realizados inventários por meio das seguintes metodologias:

• metodologia do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC): o setor realiza inventário segundo a Medodologia do IPCC, em atendimento à demanda do governo fede-ral para composição da comunicação nacional. O trabalho desenvolvido em conjunto com o governo envolve desde o cálculo das emissões de CO2, nos anos selecionados, até a análise crítica dos resultados;

• CO2 Data Collection: na metodologia definida pelo World Steel Association (WSA ou CO2 Data Collection), os cálculos das emissões de CO2 são realizados dentro de um conceito global, levando-se em conta os créditos de CO2 graças ao uso dos gases de processos, à autogeração de energia elétrica na própria planta e à captura de CO2, no caso de florestas plantadas para utilização na siderurgia a carvão vegetal. Esta metodologia foi posteriormente usada como base para a Norma ISO 14404.

A adoção de metodologia padronizada permitiu avaliar as tendências das emissões do setor em âmbito mundial, assim como possibilitou, também, prospectar alternativas tecnológicas e medidas que possam ser aplicadas no curto, médio e longo prazos para redução das emissões de CO2.

4.2 Ações e pesquisas realizadas para aumentar a eficiência energética dos processos de produção e a reciclagem do aço e dos coprodutos

Muitas empresas siderúrgicas no mundo e, especialmente, no Brasil, já estão operando próximo aos menores níveis de emissões de CO2, considerando o atual estado da arte na produção de aço. Mesmo assim, a indústria do aço tem sido cada vez mais proativa e vem permanentemente realizando ações visando aumentar sua eficiencia energética e, consequentemente, a redução das emissões de CO2. Algumas destas iniciativas estão descritas a seguir:

• eficiência energética: por ser energointensiva, o gerenciamento do uso de energia é vital para a indústria do aço. Há vários anos, produtores de aço vêm enfrentando o desafio da conservação da energia ao longo do seu processo produtivo. No início dos anos 1960, este processo consumia quase 50% a mais de energia do que hoje em dia.

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A principal prática de conservação de energia empregada pelo setor é o reaproveitamento de gases de processo na rota integrada, o que permite reduzir o consumo de energia. Algumas empresas integram, inclusive, seu excedente em energia à rede de distribuição.

Além da continuada atenção para melhoria da eficiência do uso de energia, o setor tem implementado tecnologias e práticas que reduzem as emissões de CO2, tais como o lingotamento contínuo, a injeção de finos de carvão, a troca de combustíveis, o pré-aquecimento de sucata e o uso de ferro-gusa líquido nos fornos elétricos.

Empresa associada ao Instituto Aço Brasil (IABr) foi uma das primeiras do Brasil a obter a certificação na Norma ISO 50001, que trata da eficiência energética. Os benefícios gerados pela adoção da norma permitiram, além da redução da emissão de GEE, uma diminuição dos custos de produção e do uso de recursos naturais;

• projetos MDL: algumas empresas siderúrgicas desenvolveram projetos para obtenção de créditos de carbono, via Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), como os listados a seguir:

- projeto de redução da emissão de metano nos fornos de carbonização;

- cogeração de energia elétrica com uso de gás de alto-forno;

- cogeração energia elétrica pela recuperação do gás de aciaria (LDG);

- cogeração de energia elétrica pelo aproveitamento dos gases da coqueria heat recovery;

- projeto de troca de combustível fóssil por gás natural.

• otimização e maximização da reciclagem da sucata de aço: o aço é o material mais recicla-do no mundo. Cerca de 20% de aço novo é produzido a partir de matéria-prima oriunda da reciclagem (sucata). Porém, muito mais tem sido feito para que os produtos de aço, ao fim de suas vidas úteis, sejam reciclados. Isto envolve o desenvolvimento de ações junto aos governos locais, às empresas coletoras e processadoras de sucata e às cooperativas de catadores para maximizar a coleta de produtos intensivos em aço. Além disso, o setor desenvolve, em conjunto com os setores consumidores, projetos de produtos que visem facilitar a reciclagem dos materiais ao fim de suas vidas úteis;

• maximizando o valor dos coprodutos da indústria do aço: o uso dos coprodutos da indústria do aço, a exemplo da escória, economiza energia e reduz as emissões de CO2 em outros pro-cessos. A escória, que no passado era desperdiçada, agora é amplamente usada na produção de cimento, reduzindo significativamente as emissões de CO2 desse processo industrial.

4.3 Pesquisa e desenvolvimento de novas soluções tecnológicas para reduzir radicalmente os níveis das emissões de CO2

Com os esforços coordenados pela WSA, empresas siderúrgicas e associações da indústria do aço estão financiando pesquisas em cooperação com universidades, institutos de pesquisas e outras indústrias para identificar e desenvolver novas formas de produção do aço, objetivando reduzir radicalmente os níveis das emissões de CO2. Os objetivos do CO2 Breakthrough Programme são bastante ambiciosos, porém de longo prazo. Novas tecnologias somente estarão disponíveis em um prazo de 20 a 30 anos.

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4.4 Desenvolvimento de nova geração de aços melhora a eficiência energética dos produtos em aço

A indústria do aço continua trabalhando para fornecer soluções inovadoras que permitam reduzir as emissões de GEE durante o ciclo de vida de produtos de aço, tais como automóveis produzidos a partir de aços leves de alta resistência, que permitem reduzir o peso dos carros sem, no entanto comprometer a segurança destes. Esta redução no peso ajuda a reduzir significativamente o consumo de combustível e, portanto, as emissões de CO2 durante a fase de uso. Outro exemplo são os novos aços elétricos, desenvolvidos com o objetivo de melhorar a eficiência energética dos transformadores e motores elétricos.

5 DESAFIOS DO SETOR NO TRATAMENTO DO TEMA

O IABr e suas associadas:

• reconhecem a necessidade e a urgência da adoção de medidas para reduzir as emissões de GEE que estão acarretando mudanças no clima;

• consideram que as medidas a serem adotadas devem observar o princípio das responsabi-lidades comuns, mas diferenciadas, de modo a não impedir o crescimento econômico e a melhoria das condições sociais dos países em desenvolvimento, desde que de forma ambien-talmente sustentável;

• propõem que os compromissos que venham a ser assumidos durante a COP 21, em Paris, levem em conta os índices per capita de desenvolvimento humano, de produção e de con-sumo de cada país;

• defendem que quaisquer compromissos para redução das emissões relacionadas à siderurgia sejam necessariamente diferenciados entre países que têm consumo superior a 300 kg de aço per capita/ano e aqueles que ainda não alcançaram tal patamar, considerando a estreita correlação do consumo de aço com o Produto Interno Bruto (PIB) e os índices de desenvol-vimento das nações;

• consideram, ainda, que cabe aos governos, com base nas diretrizes acordadas na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, estabelecer as prioridades de ação dos respectivos países para reduzir os impactos sobre o clima, considerando suas especificidades e a melhor relação custo-benefício.

Não obstante as emissões de GEE por parte da indústria serem de menor significância quando comparadas ao total de emissões do Brasil, entende a indústria do aço que é dever de todos contribuir no esforço para o bem comum e a sobrevivência do planeta.

Com base no exposto, a indústria brasileira do aço manifesta apoio à:

• adoção de medidas, em caráter voluntário, de redução/mitigação das emissões de GEE em vez do estabelecimento de taxas de carbono, levando em conta a melhor relação custo-benefício;

• criação de mecanismos de incentivo e de financiamento para o desenvolvimento e a transfe-rência de tecnologias que possibilitem a redução das emissões de GEE, o uso em larga escala da biomassa e o aumento da eficiência energética;

• manutenção do MDL, ressaltando a necessidade de revisão de critérios;

• realização de estudos para avaliação das oportunidades e dos riscos à competitividade dos produtos brasileiros, devido à regulamentação no Brasil e em outros países sobre a mudança do clima;

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• implementação de programas de eficiência energética, reciclagem de materiais e melhores práticas, trabalhando em conjunto com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), as fede-rações de indústrias e as outras organizações setoriais.

A implementação das políticas de mudanças do clima, decorrente do acordo de Paris passa, em todos os segmentos (indústria, energia, uso da terra etc.), por questões ligadas a financiamento, incentivos especiais, revisão de tributos, informação, capacitação das empresas, investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e facilitação para a transferência de tecnologia.

Alguns programas desenvolvidos pelo governo, ou que ainda estão em andamento, têm apresentado resultados importantes, especialmente em relação ao uso mais eficiente de energia e à questão de mitigação das emissões de CO2 no setor industrial, que ainda apresentam lacunas. Na área de eficiência energética muitos estudos têm sido realizados, mas não têm sido implementados por ausência de financiamento.

Para que a Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC) seja exitosa e esteja em equilíbrio com o desenvolvimento do país, os seguintes pontos devem ser considerados pelo governo:

• estabelecer programas que incentivem a reciclagem do aço;

• adotar tarifas de energia elétrica que possibilitem maior competitividade da indústria nacional;

• garantir instrumentos e políticas para aproveitar o potencial de energia renovável;

• apoiar iniciativas de pesquisas de longo prazo para desenvolvimento de novas soluções tecnológicas que possam reduzir, de forma radical, as emissões de CO2 e sempre com a ótica de custo-benefício;

• avaliar o impacto macroeconômico e social de quaisquer medidas propostas para enfrentar a mudança do clima na cadeia de valor das atividades econômicas, com a participação ativa das associações de classes;

• criar incentivos, por meio de instrumentos que sejam capazes de promover o ingresso mais rápido de tecnologias de maior eficiência energética e de baixo carbono.

6 VISÃO DE FUTURO

Em função do estado da arte atual na produção de aço, as emissões são decorrentes, principalmente, do uso do carvão como fonte energética e agente redutor do minério de ferro para transformá-lo em ferro metálico. O carvão como redutor não tem substituto, atualmente, que permita reduzir as emissões nesta etapa do processo. Considera-se que, no curto prazo e em âmbito mundial, não haverá uma alternativa técnica e economicamente viável que permita produzir aço com redução significativa das emissões de CO2.

Deve ser considerada a redução de emissões de CO2 no uso do aço em diversas aplicações. O ciclo de vida do produto, que contempla não só a sua produção, mas também a sua utilização, é positivo no balanço de emissões de GEE. Assim, o desenvolvimento de novos tipos de aços deverá incrementar este benefício, aprimorando a eficiência energética dos produtos e dos bens que utilizam o aço em sua composição.

Mudanças radicais de tecnologia (breakthrough technology) somente são vislumbradas em horizonte superior a 20-30 anos.

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CRÉDITOS

Instituto Aço Brasil – IABrMarco Polo de Mello LopesPresidente Executivo

Maria Cristina YuanDiretora de Assuntos Institucionais

Lucila Caselato Gerente de Sustentabilidade

Ana AmoedoAssessora de Sustentabilidade

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SETOR BRASILEIRO DE ÁRVORES PLANTADAS

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1 CONTEXTUALIZAÇÃO DA INDÚSTRIA JUNTO À ECONOMIA NACIONAL

O setor brasileiro de árvores plantadas para fins industriais ocupa papel de destaque no fornecimento de produtos no país e no mundo. A atividade é formada por dois componentes principais:

• componente florestal: representa as áreas de árvores plantadas e as áreas de preservação de florestas nativas associadas aos plantios;

• componente fabril: representa as indústrias de beneficiamento de madeira e seus derivados e as respectivas estruturas logísticas.

Em 2014, a área de árvores plantadas do setor totalizou 7,74 milhões de hectares, o que corresponde a 0,9% do território nacional.

Figura 1 – Mapa da distribuição de florestas plantadas no Brasil

Representação da dimensão da área plantada Eucalipto Pinus Outras

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Os principais produtos a partir de eucalipto e pinus são: celulose, diversos tipos de papel – de imprimir e escrever, para embalagens, para fins sanitários (tissue), papel-cartão, imprensa e especiais –, painéis de madeira, pisos laminados, carvão vegetal e demais biomassas para fins energéticos. Além disso, nos últimos anos, as empresas intensificaram os investimentos para o desenvolvimento de bioprodutos inovadores, essenciais para atender à crescente demanda global por alimento, água, terra e energia.

O setor de árvores plantadas gerou, em 2014, um Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 60,6 bilhões, enquanto a receita de exportação atingiu US$ 8,49 bilhões, posicionando a indústria no quinto lugar do ranking dos setores exportadores do Brasil.

1.1 Valor socioeconômico

As empresas dessa indústria contribuem, de forma significativa, para gerar valor socioeconômico para o país, por meio da criação de emprego e renda e pela melhoria da qualidade de vida nas regiões em que atuam. Destacam-se, também, pelo potencial de integração entre o desenvolvimento rural e industrial e pelas parcerias com pequenos e médios produtores rurais, por meio de programas de fomento florestal, contribuindo para o fortalecimento de arranjos econômicos locais de modo sustentável e não assistencialista.

Os programas de fomento florestal são realizados em áreas vizinhas ou de influência das unidades das empresas. Em 2014, as áreas de árvores plantadas de fomento totalizaram 519 mil hectares e beneficiaram 17,8 mil famílias, promovendo a manutenção dessa população no campo e evitando migrações para os grandes centros urbanos.

As empresas também atuam diretamente nas comunidades, por meio de programas sociais complementares à atuação do Estado, sobretudo na promoção da educação básica e no fortalecimento de princípios fundamentais, como o repúdio ao trabalho infantil ou análogo ao escravo.

1.2 Manejo sustentável

O setor de árvores plantadas incentiva a produção de madeira por meio do manejo florestal sustentável, atendendo à totalidade da legislação vigente, a partir de processos socioambientais adequados e não degradantes. Além das obrigações legais, as empresas destacam-se pelo engajamento proativo em programas de certificação florestal, baseados em princípios e critérios socioambientais rigorosos.

Os principais sistemas de certificação adotados por elas são o Forest Stewardship Council (FSC) e o Programme for the Endorsement of Forest Certification Schemes (PEFC), representado no Brasil pelo Programa Nacional de Certificação Florestal (Cerflor) – ambos reconhecidos mundialmente. Dos 7,74 milhões de árvores plantadas, 4,88 milhões de hectares são certificados por um ou ambos os sistemas.

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Gráfico 1 – Área certificada de florestas plantadas(Em %)

CerflorFSC FSC e Cerflor

5335

12

Área certificada Área não certificada

63

37

7,74 milhões (ha)

4,88 milhões (ha)

Fonte: Ibá e Pöyry (2014).

O sistema de cultivo das árvores plantadas em mosaico, prática comum entre as empresas, promove a proteção da biodiversidade da fauna e da flora, por meio da mescla dos plantios com matas nativas. Além disso, as árvores plantadas são frequentemente cultivadas em áreas anteriormente degradadas, o que contribui para o controle de impactos ambientais, para a renovação da biodiversidade nas áreas adjacentes protegidas e para o fluxo gênico da fauna e da flora locais nos novos corredores ecológicos que surgem como consequência da restauração florestal.

2 CONTEXTUALIZAÇÃO FRENTE À AGENDA DE MUDANÇA DO CLIMA E SEUS IMPACTOS

O setor de árvores plantadas possui um sistema produtivo integrado, considerando-se seus dois componentes – florestal e fabril – e sob os pontos de vista econômico, ambiental e social, que se reflete nas práticas de gestão, governança e representatividade adotadas pelas empresas.

Algumas características intrínsecas desses componentes estão diretamente relacionadas aos desafios da mudança do clima e seus impactos futuros. Apesar da importância sistêmica de ambos, o componente florestal merece destaque nesse contexto, por questões territoriais e socioambientais facilmente perceptíveis, e pelos aspectos econômicos altamente determinantes para a sustentabilidade do setor.

Dois tipos de benefícios climáticos estão diretamente associados às árvores plantadas:

• os estoques de carbono de áreas de plantios e de preservação;

• as potenciais emissões de GEE evitadas pelo uso de produtos baseados em madeira renová-vel, em vez de produtos de base fóssil ou não renovável.

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O componente florestal, por definição, está diretamente relacionado à formação de estoques do carbono, absorvido pelas árvores plantadas e pelas florestas nativas das áreas de conservação, o que resulta em remoções de GEE, contribuindo para a redução da concentração desses gases na atmosfera durante todo o tempo em que o estoque for mantido.

Figura 2 – Benefícios climáticos das árvores plantadas

Fonte: Ibá (2015).

No componente fabril, diretamente relacionado à questão das emissões de GEE, por conta do consumo de energia, grande parte das empresas do setor de árvores plantadas já diferencia-se de outras atividades produtivas por aproximarem-se da autossuficiência energética e pelo uso preponderante de fontes de energia renováveis.

2.1 Experiências relacionadas ao tema

Em 2014, os 7,74 milhões de hectares de árvores plantadas no Brasil foram responsáveis pelo estoque de aproximadamente 1,69 bilhão de toneladas de CO2, o que representa um incremento de 1,2% em relação ao volume estocado em 2013.

Gráfico 2 – Estoque de carbono(Em bilhão de toneladas de CO2)

2

1

02013

1,67 1,69

2014

Fonte: Plantar Carbon e Pöyry (2014).

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Além disso, estima-se que os 5,43 milhões de hectares de áreas de preservação associadas ao setor são responsáveis por um estoque médio de 2,40 bilhões de toneladas de CO2, considerando-se, conservadoramente, somente a biomassa acima do solo.

Em relação ao componente fabril, o setor de árvores plantadas investe fortemente para consolidar a transição para uma economia de baixo carbono, registrando reduções significativas nos níveis de emissões de GEE. O uso de óleo combustível, por exemplo, que antes representava mais de 50% da matriz energética da atividade, hoje responde por menos de 6%. Atualmente, mais de 82% de toda a matriz energética já é renovável.

Gráfico 3 – Fontes de energia utilizadas pelo setor (2014)(Em %)

Carvão mineralOutras

Licor pretoGás natural

Biomassa florestalÓleo combustível

12,6

12,4

2,7

1,31,169,9

Fonte: Ibá e Pöyry (2014).

Estimativas indicam que, somente no segmento de celulose e papel, a forte diminuição no uso de combustíveis fósseis e a ampliação no uso de fontes renováveis resultaram na redução de 127 milhões de toneladas de CO2eq entre 1980 e 2010.

Além da substituição de energia proveniente de fontes fósseis por renováveis, a produção de madeira renovável e de seus derivados faz parte do escopo de diversos serviços ambientais e de temas fundamentais para a economia verde e a erradicação da pobreza.

Entre eles, estão o uso sustentável da terra e seus recursos hídricos, a geração de renda e empregos no meio rural, a integração com pequenos produtores rurais, a proteção à biodiversidade, a diminuição da pressão por desmatamento e a consolidação de padrões de produção e de consumo sustentáveis com base em matérias-primas renováveis.

Além disso, em 2010 foi criada a Iniciativa Brasil Florestas Sustentáveis (IBFS), uma parceria do setor com instituições da sociedade civil atuantes nas temáticas ambiental, climática e de sustentabilidade, com objetivo de contribuir nos esforços de mitigação das mudanças do clima e promover o desenvolvimento territorial sustentável.

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O projeto visa identificar as experiências bem-sucedidas já realizadas para a construção e a implantação de diretrizes de atuação e contribuir na elaboração de propostas de políticas públicas e de incentivos integrados. Desta forma, será possível promover a expansão da base de árvores plantadas e a valorização dos seus benefícios climáticos e socioambientais.

Figura 3 – Iniciativa Brasil Florestas Sustentáveis (IBFS) no contexto das mudanças do clima

Fonte: Ibá e Plantar Carbon.

3 DESAFIOS NO TRATAMENTO DO TEMA

Apesar do grande potencial de contribuição para enfrentar as mudanças do clima e seus impactos, o setor de árvores plantadas ainda encontra diversas barreiras ao seu desenvolvimento. Para que tenha capacidade de expansão e também possa ampliar seus benefícios climáticos e ambientais, alguns desafios precisam ser superados.

Além de questões estruturais que afetam todo o setor produtivo brasileiro, como a reforma tributária e a desoneração de investimentos, os principais desafios à expansão do setor estão fortemente vinculados à base florestal e incluem:

• melhoria da infraestrutura para escoamento de produção;

• estabelecimento de política de crédito compatível com a realidade de longo prazo da silvicul-tura (ciclos de plantio de sete anos para o eucalipto e de 15 anos para o pinus);

• melhoria nos sistemas de governança das políticas públicas sobre mudanças do clima para o setor;

• valorização econômica dos estoques adicionais de carbono;

• melhorias nos processos de licenciamento ambiental.

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Para maior efetividade da Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) com a atuação de vários ministérios, e um maior aproveitamento do potencial de contribuição das empresas de árvores plantadas às mudanças climáticas, é importante que todos os Planos Setoriais associados à cadeia produtiva sejam coordenados e, sempre que possível, integrados à Política Nacional de Florestas Plantadas (PNFP), em desenvolvimento pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

A valorização de estoques de carbono adicionais, por meio de mercados de carbono com forte integridade ambiental, é outro ponto relevante para viabilizar as remoções líquidas de GEE e contribuir para o escopo do Plano Setorial.

No entanto, o pleno aproveitamento desses mecanismos pelo Brasil e por diversos países em desenvolvimento depende do aperfeiçoamento de pontos fundamentais desses mercados. Em alguns casos, é necessário ajustar a regulamentação, doméstica e internacional, buscando alinhamento e consistência para reconhecimento das ações relacionadas ao plano de mitigação do setor de árvores plantadas.

Entre os principais pontos nas negociações internacionais diretamente ligados à potencial valorização de estoques de carbono florestal, estão:

• revisão do item que trata da duração dos créditos florestais que, no texto atual do acordo climático, não são considerados permanentes e devem ser renovados periodicamente;

• fim das restrições para comercialização de créditos florestais por parte de alguns países ou grupos do Anexo I, como a União Europeia, devido à natureza não permanente desses cré-ditos, entre outros motivos;

• revisão das áreas elegíveis ao Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), que no texto atual não inclui áreas de florestas plantadas e/ou começo da atividade do projeto em 31 de dezembro de 1989. Estas florestas, consideradas em exaustão poderiam, se elegíveis, ser utilizadas na expansão da base florestal e, consequentemente, em potenciais projetos de carbono florestal;

• maior sinergia com potenciais mecanismos, como:

- MDL: que tem como objetivo auxiliar o processo de captura de carbono e de redução de emissões de GEE por meio de tecnologias mais limpas;

- REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação): que tem foco em ativi-dades como redução de desmatamento e degradação florestal, conservação de estoques de carbono florestal, manejo sustentável de florestas e aumento de estoques de carbono.

Além disso, a simplificação e a desburocratização do processo de licenciamento ambiental, sem prejuízo da integridade socioambiental, considerando-se a natureza renovável do setor e a sustentabilidade das atividades de plantio que resultam na criação de novos estoques de madeira, aliadas às melhores práticas de manejo florestal, também poderiam ser uma prática adotada pelo governo federal.

Por fim, cabe destacar a necessidade de enfrentar os desafios da regulamentação fundiária em diversas regiões do país, diminuindo níveis de insegurança institucional que também afetam novos empreendimentos. Soma-se a este desafio a necessidade de coibir e tratar, de maneira mais efetiva, os diversos problemas relacionados a invasões de terra e seus efeitos predatórios.

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4 VISÃO DE FUTURO/TENDÊNCIAS

É inegável que os impactos causados pelas mudanças do clima afetarão as atividades econômicas como um todo. O setor de árvores plantadas, contudo, pode ser um agente central para que o Brasil cumpra seus compromissos de mitigação. Assim, a adoção de incentivos, por meio de políticas públicas, e a valorização do carbono florestal podem ser fundamentais para o seu futuro.

Com isso, espera-se que a incorporação e a difusão de critérios socioambientais sejam facilitadas e encorajadas de modo mais efetivo, a partir da conexão de sua adoção com incentivos específicos para o engajamento de diversas empresas. Desta forma, será possível relacionar um incentivo econômico adicional e a adoção de melhores práticas socioambientais certificadas, sujeitas a critérios de monitoramento consistentes.

5 PROPOSTAS/AGENDA POSITIVA

A agenda climática tem sido cada vez mais discutida e priorizada no cenário mundial, paralelamente à busca por alternativas ao crescimento e ao desenvolvimento sustentável. É importante reforçar que o desenvolvimento industrial do país tem potencial para tornar-se parte da solução para a mitigação da questão climática, diferentemente de muitos países desenvolvidos.

Por isso, o setor de árvores plantadas sugere algumas maneiras de valorização de ações já realizadas, como:

• contabilização de esforços do setor para métricas de mitigação;

• valorização da menor intensidade de carbono nacional versus internacional;

• reconhecimento das Reduções Certificadas de Emissão (RCEs) emitidas no âmbito do MDL, como unidades que poderão ser usadas em futuros períodos de compromisso;

• incentivos fiscais e financeiros para ações, inclusive de eficiência energética;

• acesso diferenciado a mecanismos públicos e privados de financiamento;

• incentivos regulatórios.

Além disso, é fundamental que o Brasil tenha acesso a mecanismos de mercados de carbono, sem prejuízo da integridade ambiental, capazes de prover a internalização da variável clima na economia e de valorizar monetariamente os diferenciais produtivos brasileiros em termos de reduções de emissões e aumento de remoções.

Dessa forma, o setor brasileiro de árvores plantadas poderá contribuir ainda mais para a questão climática e ampliar seu fundamental papel para o equilíbrio do balanço de emissões do setor produtivo e do país como um todo, por meio da manutenção e da ampliação dos estoques de carbono.

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CRÉDITOS

Indústria Brasileira de Árvores – IBÁElizabeth de CarvalhaesPresidente Executiva

Marcilio CaronDiretor Executivo

Francisco SalibaDiretor

Carlos Eduardo Mariotti Assuntos da Indústria

Natália Canova Assuntos Florestais – Relações Externas

Beatriz Milliet Assuntos Políticos e Institucionais

Danielle Melo Relações com Stakeholders

Guilherme Cassaro Negociações Internacionais

Renata ColtroComunicação e Marketing Institucional

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A CONTRIBUIÇÃO DO SETOR DE PETRÓLEO, GÁS E

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1 APRESENTAÇÃO SETORIAL

Desde 1957, o Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP) atua com o objetivo de promover o desenvolvimento do setor de petróleo, gás natural e biocombustíveis, visando a uma indústria competitiva, ética e socialmente responsável.

Com cerca de 250 empresas associadas, o IBP é reconhecido como o principal fórum interlocutor do setor no Brasil. O papel da instituição é discutir os temas relevantes e defender os interesses da indústria de petróleo e gás, com o objetivo de garantir um desenvolvimento contínuo e sustentável.

2 CONTEXTO DO SETOR

Como legítimo representante da indústria de petróleo e gás natural no país, o IBP vem trabalhando com base em uma agenda prioritária de temas para garantia da competitividade e da sustentabilidade do setor.

A descoberta do pré-sal foi um marco importante para a segurança energética do país. No entanto, a disponibilidade da oferta deste novo recurso requer planejamento contínuo, inovação tecnológica e infraestrutura adequada que permitam o desenvolvimento de uma indústria sólida, competitiva e sustentável, capaz de suprir a energia necessária para o crescimento do país, com redução da intensidade de emissão de gases de efeito estufa (GEE) ao longo das próximas décadas.

Os investimentos do setor de petróleo e gás no Brasil, que já superam os R$ 77 bilhões anuais, contribuem para geração de emprego, inovação tecnológica e desenvolvimento de fornecedores de bens e serviços nacionais. Hoje, essa cadeia de valor representa quase 12% do Produto Interno Bruto (PIB).

3 CONTEXTUALIZAÇÃO DO SETOR FRENTE À MUDANÇA DO CLIMA

A mudança do clima, observada nas últimas décadas, notadamente a partir da Revolução Industrial, traz uma série de consequências para os processos relacionados à vida e à sociedade humana como as conhecemos hoje. O último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC, 2013) estabelece uma clara relação entre os processos antrópicos e a mudança do clima, afirmando que a influência humana é inequívoca ao aquecimento do sistema climático.

Até o momento, mesmo com todos os esforços empreendidos, as iniciativas globais não têm alcançado a verdadeira quebra de paradigmas necessária para que a sociedade desenvolva-se sem provocar desequilíbrio no sistema climático do planeta. Em virtude disso, a demanda global por energia continuará crescendo significativamente, exigindo grandes investimentos em geração de energia e melhoria da eficiência energética e, ao mesmo tempo, no gerenciamento dos riscos associados com as mudanças climáticas, mitigação das emissões de GEE e adaptação.

A matriz energética mundial ainda é muito dependente dos combustíveis fósseis e continuará assim ainda nas próximas décadas. Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), em 2013 o petróleo e o gás natural foram responsáveis por mais da metade (53%) do atendimento

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à demanda energética mundial (gráfico 1), tornando o setor de petróleo, gás e biocombustíveis fundamental para a garantia da segurança energética da sociedade.

Gráfico 1 – Participação de combustíveis na oferta total de energia primária mundial(Em %)

HidroCarvão Petróleo Outros renováveisBiocombustíveisNuclear Gás natural

2,3

31,5

5,1

13,310,0

1,0

21,3

28,8

Fonte: Maroun (2014) com base em IEA (2013).

No Brasil, a matriz energética é menos dependente dos combustíveis fósseis (58% em 2014). O Plano Decenal de Energia 20231 (PDE 2023), que compõe a política energética brasileira, considera que no próximo decênio as reservas provadas e a produção nacional de petróleo e gás natural serão duplicadas, devido principalmente aos recursos descobertos na área do pré-sal. Nos próximos dez anos, o Brasil passará a registrar 13% de energia excedente em sua matriz energética, deixando de ser importador e passando a ser exportador líquido de energia.

Com relação à participação de biocombustíveis (biodiesel e etanol) na matriz energética, o Brasil apresenta grande vantagem comparativa, sendo o segundo maior consumidor de biocombustíveis do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos da América. De fato, a produção de biodiesel no Brasil vem aumentando de forma significativa e o PDE 2023 prevê que a demanda obrigatória nacional de biodiesel aumente de cerca de 3,4 bilhões de litros para 6 bilhões de litros, entre 2014 e 2023. O mesmo aconteceu com a produção de etanol, que aumentou 84% de 2003 a 2013.2

A inclusão bem-sucedida de biocombustíveis na estrutura de combustíveis no Brasil nos últimos 30 anos foi o resultado de uma combinação de mecanismos de alavancagem oriundos de políticas públicas que visam à substituição dos combustíveis fósseis, principalmente no setor de transportes. Desta forma, fica evidente que petróleo, gás natural e biocombustíveis são complementares e devem ser tratados de acordo com uma gestão integrada no que se refere à mitigação das emissões de GEE.

O Brasil não possui metas de redução de emissão de GEE no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (também conhecida como UNFCCC, segundo a sigla em inglês). Porém, na 15a Conferência das Partes (COP 15) o país oficializou metas voluntárias de redução de emissão. Tais metas foram internalizadas por meio da Política Nacional sobre Mudança

1 EPE (2014).

2 Estimativas baseadas em dados da Unica (2014), da ANP (2014) e da EPE (2013).

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do Clima (PNMC) – Lei no 12.187/2009 –, sendo definidas em 36,1% e 38,9% abaixo das emissões projetadas para 2020. Neste sentido, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Ministério do Meio Ambiente (MMA), por meio da Instrução Normativa no 12/2010, determinaram a inclusão de iniciativas de mitigação de emissões de GEE nos processos de licenciamento ambiental.

Nesse contexto em que está previsto o aumento das emissões de GEE, associado ao consumo de combustíveis em função de uma maior demanda de energia pela sociedade, além de novas regulamentações vinculadas aos compromissos brasileiros em acordos nacionais e internacionais, as empresas do setor acreditam que é possível mitigar os riscos das mudanças climáticas, enquanto atendem, com segurança, à crescente demanda energética e contribuem para o desenvolvimento econômico e social do país. Como indústria, já implementa uma série de ações relacionadas às suas próprias operações e produtos para suportar estes objetivos.

Muito mais do que a necessidade de mitigar as mudanças climáticas, o setor de petróleo e gás deve ser parte das soluções. Com políticas corretas e incentivos que encorajam o investimento em transformação tecnológica, todas as partes interessadas podem cooperar para que soluções efetivas sejam atingidas. A indústria de petróleo e gás continuará ressaltando a importância da parceria entre todos os setores da sociedade interessados em construir, sobre o desempenho e as competências existentes, uma melhor compreensão desta questão tão complexa e, assim, avançar efetivamente.

4 INTEGRAÇÃO DA AGENDA DE MUDANÇA DO CLIMA À ESTRATÉGIA DE NEGÓCIOS DAS EMPRESAS DE PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS E SEUS REFLEXOS

Os impactos das atividades do setor de petróleo, gás natural e biocombustíveis sobre o equilíbrio climático global dão-se, principalmente, de três diferentes formas. A primeira delas ocorre em seus processos de produção. Para mitigar estes impactos, o setor investe em gestão de emissões de GEE, eficiência energética, conservação de energia, tecnologias de baixo carbono, Captura, Armazenagem e Uso de Carbono (CCSU, na sigla em inglês), aumento da produção de gás natural, entre outros. A segunda forma de impactar a mudança do clima, mesmo que indiretamente, é por meio da cadeia de fornecedores, uma vez que se pode considerar que as emissões dos processos dos fornecedores ocorrem, em parte, como consequência dos processos de seus clientes. Investimentos na cadeia de fornecedores e em exigências de performance são exemplos de boas práticas adotadas pelo setor. A terceira forma de impactar o clima, também de forma indireta, é o uso dos combustíveis pela sociedade. Para mitigar esse impacto o setor investe em fontes de energia renováveis (principalmente biocombustíveis), além de promover o uso eficiente e responsável dos seus produtos pelos consumidores.

A gestão de carbono no setor, embora siga processos diferentes em cada empresa, dependendo de suas estruturas corporativas próprias, obedece basicamente a um fluxo que começa com o entendimento, para então serem determinados os objetivos estratégicos e, enfim, os mecanismos para integração dos objetivos de GEE com a estratégia corporativa da empresa (figura 1).

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Figura 1 – Fluxo da gestão de carbono

Entendimento

- avaliação da performance;- revisão;- reporte.

- integração dos objetivos de GEE com a estratégia corporativa;- mecanismos internos;- regras e procedimentos.

Mecanismos

- identificação de opções;- avaliação das opções;- estabelecimento de metas.

Objetivos estratégicos

- inventários;- ativos em risco;- oportunidades.

Fonte: IBP.

O primeiro passo para o entendimento dos aspectos, impactos e riscos, além das oportunidades, é o inventário de emissões de GEE, que lista a quantidade de poluentes lançados na atmosfera durante um determinado período de tempo. É a ferramenta fundamental para a gestão de emissões, pois não é possível gerenciar o que não se conhece. Todas as empresas do setor medem suas emissões periodicamente, além de construir cenários de emissões futuras.

Sistema de Gestão de Emissões Atmosféricas da Petrobras (Sigea®)

Um exemplo de pioneirismo do setor de petróleo, gás natural e biocombustíveis frente ao setor industrial brasileiro é o Sistema de Gestão de Emissões Atmosféricas da Petrobras (Sigea®). Ele foi desenvolvido em 2002, quando a maioria das empresas no Brasil ainda nem pensava em medir emissões de GEE. O Sigea® é um software robusto que reúne dados de mais de 30 mil fontes de emissão da Petrobras, fornecendo subsídios para iniciativas de mitigação da empresa. Desde 2002, as emissões da Petrobras são compiladas por meio deste sistema informatizado, cujos resultados são submetidos periodicamente a criteriosa verificação por terceira parte.

A indústria de petróleo, gás natural e biocombustíveis é notadamente uma indústria de inovação. Isso confere ao setor grande vantagem no desenvolvimento de novas tecnologias que tenham como efeito colateral (side-effect) a redução de emissões de GEE. A busca constante do setor por melhoria da eficiência energética é um exemplo da implementação de iniciativas de sucesso relacionadas a avanços tecnológicos que geram redução de emissões de GEE. Em se tratando de uma indústria altamente intensiva em energia, pequenas melhorias na eficiência operacional de seus processos geram grande redução de custo operacional e também grande redução de emissões de GEE.

Eficiência energética no Campo de Peregrino, na Bacia de Campos

Desde abril de 2011 a Statoil do Brasil vem produzindo petróleo pesado no Campo de Peregrino, na Bacia de Campos-RJ, chegando a ultrapassar a marca de 100 mil barris de óleo equivalente. Como a quantidade de gás natural associado não é suficiente para atender à demanda energética do campo, atualmente tem sido utilizado óleo diesel como combustível complementar. Ao longo dos quatro primeiros anos de produção do campo, a Statoil já conseguiu reduções significativas no consumo deste combustível, reduzindo, consequentemente, as emissões de CO2. Esta redução só foi possível graças a ajustes operacionais que buscam a melhoria contínua do processo produtivo, tais como: i) redução do percentual de água produzida na circulação dos fluidos de 75% para 60%; ii) otimização de recuperação térmica; iii) redução da temperatura da separação de segundo estágio; e iv) eliminação de stand by dos boilers da casa de máquinas. Estes quatro ajustes operacionais levaram à redução de emissões estimadas em 72.600 toneladas de CO2/ano.

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Eficiência energética nos processos da Shell

Por meio de manuais específicos sobre emissões atmosféricas, a Shell desenvolve e revisa periodicamente planos de eficiência energética para suas unidades. O plano de eficiência energética do Floating Production Storage and Offloading (FPSO) Fluminense, revisado em 2009, identificou cinco ações que levaram a uma redução de 20,7% nas emissões de CO2eq. Em 2015, o plano de eficiência energética do FPSO Espírito Santo será revisado, incluindo: avaliação da performance; incorporação das alterações trazidas pela implementação da fase 3 do projeto; e estabelecimento de novas metas.

Durante o processo de extração do petróleo em uma plataforma, há também a produção de gás natural associado, a partir do reservatório em conjunto com o óleo. Grande parte deste gás natural pode ser utilizada na geração de energia elétrica para o próprio processo produtivo da plataforma, reduzindo, assim, a queima de outros combustíveis fósseis mais poluentes, como o óleo diesel, ou ser transportada para a terra, por meio de dutos, para consumo industrial, residencial, veicular ou ainda geração de energia termelétrica. Isso somente tem sido possível graças aos investimentos das empresas de petróleo em sistemas eficientes de separação de óleo e gás. No entanto, durante o processo de produção, parte do volume de gás natural é queimado nos pilotos dos queimadores de segurança (flares), incluindo o volume mínimo para manter a pressão positiva nestes, gerando emissão de GEE, neste caso específico, de CO2. O Brasil é atualmente um dos países que melhor aproveita sua produção de gás natural, reduzindo o volume destinado aos queimadores de segurança. Parte do sucesso desta iniciativa deve-se aos programas e às legislações do órgão regulador do setor, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), que encontram no setor um grande encorajador deste movimento.

Programa de Otimização de Uso de Gás Natural da Petrobras (Poag) – 2015

O Programa de Otimização de Uso de Gás Natural da Petrobras (Poag) visa reduzir a queima de gás no flare na área de exploração e produção de petróleo da Petrobras, a partir do estabelecimento de requisitos de projeto e construção de unidades de produção marítima (plataformas de produção), a fim de atenuar a queima de gás natural, além de implementar melhorias nas plataformas de produção existentes, promovendo alta redução de emissões de CO2. Em 2013, o aproveitamento do gás natural da Petrobras aumentou para 93%, sendo 11,4% superior ao índice de 2012 e, em 2015, foi alcançada a marca de 96,5% de recuperação de gás natural. A estimativa com essa redução na queima é de que, até o final de 2015, a Petrobras tenha conseguido evitar a emissão de quase 23 milhões de toneladas de CO2 para a atmosfera.

Outro item relacionado à tecnologia que desponta como uma importante iniciativa de mitigação das emissões de GEE no mundo é a Captura, Armazenagem e Uso de Carbono, mais conhecida como Carbon Capture, Storage and Use (CCSU). A CCSU é uma família de tecnologias e técnicas que possibilita: a captura de CO2, oriundo da queima de combustível fóssil em plantas industriais ou associado à produção de petróleo e gás natural; seu transporte por meio de navios ou dutos; o armazenamento (sequestro) em estruturas geológicas em terra; e o uso em reservatórios offshore ou onshore, com objetivo de aumentar a produção do campo. Enquanto o mundo ainda depende fortemente de combustíveis fósseis para seus processos, a CCSU se traduz em uma alternativa tecnologicamente viável para mitigar as emissões associadas à demanda crescente de energia por parte da sociedade. As empresas do setor de petróleo, gás natural e biocombustíveis que atuam no Brasil têm feito altos investimentos nesta tecnologia, buscando, principalmente, custo-efetividade.

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Carbon Capture, Storage and Use (CCSU)

As empresas do setor de petróleo, gás natural e biocombustíveis fazem parte de projetos internacionais voltados para a CCSU. Os projetos da Shell estão sendo desenvolvidos para testar o uso de CCSU em diferentes configurações, com contribuição das comunidades locais e de grupos ambientalistas. Durante 2014, a Shell fez progressos significativos em alguns projetos no Reino Unido e no Canadá. A Statoil já opera vários projetos de CCSU na Noruega, podendo trazer sua experiência para o Brasil. Em parceria, as empresas BP e Statoil operam o desenvolvimento de um campo de produção de gás natural na Argélia, onde, por meio da CCSU, evitam a emissão de 1 milhão de toneladas de CO2 por ano. No Brasil, a Petrobras também vem obtendo ótimos resultados de investimentos em seus projetos relacionados a este tipo de tecnologia, e ainda ajuda a fixação deste conhecimento no país, por meio de parcerias com universidades nacionais.

Com relação aos investimentos na cadeia de fornecedores, as empresas do setor possuem vários requerimentos, influenciando o comportamento destes agentes, de forma que estes sejam mais responsáveis em termos de emissões de GEE em seus processos. Com relação ao uso de seus produtos pela sociedade, a indústria reconhece sua parcela de responsabilidade e investe em diferentes iniciativas relacionadas ao uso consciente dos derivados de petróleo e gás natural, assim como dos biocombustíveis.

Programa Nacional da Racionalização do Uso dos Derivados do Petróleo e do Gás Natural (Conpet)

Desde 1991, a Petrobras tem apoiado a gestão técnica e financeira do programa do Ministério de Minas e Energia (MME), o Conpet, que é um programa de racionalização do uso dos derivados de petróleo e do gás natural. Ele fornece suporte técnico para iniciativas que melhorem a eficiência energética, pesquisa e desenvolvimento (P&D) e inovação tecnológica. No setor de transportes, o programa desenvolve parcerias para realizar avaliações de emissões de fumaça de ônibus e caminhões, educando os motoristas sobre o uso eficiente dos veículos. Estima-se que, em 2013, o programa permitiu a economia de 55 milhões de litros de diesel, contribuindo para evitar a emissão de 154 mil toneladas de CO2. No setor residencial, as informações sobre eficiência energética de fogões, fornos e caldeiras a gás resultaram na redução de emissões de 2,5 mil toneladas de CO2.

Além do investimento no uso consciente, as empresas do setor investem pesadamente em alternativas de geração de energia de fontes renováveis.

Produção de biocombustíveis da Shell3

Em 2011, a Royal Dutch Shell e a empresa brasileira Cosan criaram uma joint venture, a Raízen (participação de 50% da Shell), que produz, vende, distribui e faz blends de etanol a partir da cana-de-açúcar. Em 2014, a Raízen produziu mais de 2 bilhões de litros de biocombustíveis a partir da cana brasileira, fortalecendo a estratégia de caminhar para uma economia de baixo carbono. O uso do etanol em substituição à gasolina pode reduzir as emissões de CO2 em cerca de 70%.

A identificação dos ativos em risco e a implementação de iniciativas para adaptação aos novos padrões climáticos, resultantes do aquecimento global, vem sendo uma realidade para as empresas do setor, ao incorporar a adaptação em suas estratégias corporativas. Neste sentido, as empresas investem em projetos de P&D sobre avaliação de impacto, vulnerabilidade e medidas de adaptação das empresas e da sociedade frente à mudança do clima.

3 Informações contidas no Relatório de Sustentabilidade da Royal Dutch Shell (2014).

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5 VISÃO DE FUTURO/TENDÊNCIAS

É possível que a 21a Conferência das Partes (COP 21), a realizar-se em dezembro de 2015 em Paris, estabeleça um novo acordo com metas vinculantes para o período pós-2020, envolvendo compromissos por parte dos países desenvolvidos e países em desenvolvimento (que hoje não possuem metas vinculantes, apenas voluntárias, como o Brasil).

A contribuição do setor de energia no Brasil, que era de apenas 16% em 2005, saltou para 32% em 2010 devido à redução do desmatamento ocorrida no período. O segmento de petróleo, gás natural e biocombustíveis, que hoje não é obrigado a reduzir emissões no âmbito da PNMC, já vem adotando soluções, citadas ao longo deste documento, que o colocam como parte importante da solução.

No futuro, de forma a atender à demanda energética crescente da sociedade, as empresas do setor poderão produzir mais produtos utilizando fontes não convencionais. A oferta de energia confiável, a preços acessíveis, é essencial para o crescimento forte da economia, as melhorias sustentadas, a qualidade de vida e a erradicação da pobreza. Para garantir esses benefícios a futuras gerações, assim como para as de hoje e reduzir as emissões de GEE e as alterações climáticas, é necessário que haja um equilíbrio entre o desenvolvimento social, o crescimento econômico, a proteção do ambiente e a segurança energética. Novas tecnologias mostram-se promissoras para reduzir os riscos das emissões de GEE relacionados ao setor, de forma que as empresas possam garantir segurança energética para a sociedade e, ao mesmo tempo, mitigar seus impactos sobre a mudança do clima.

6 PROPOSTAS/AGENDA POSITIVA

O IBP trabalha para melhorar o ambiente regulatório das empresas do setor no Brasil. Além disso, impulsiona a divulgação e o ganho de escala de novas tecnologias voltadas para a mitigação das emissões de GEE e o estímulo ao uso consciente dos produtos da indústria de petróleo, gás natural e biocombustíveis pela sociedade. Um exemplo disso é o Congresso Brasileiro de CO2, que está na terceira edição e promove o encontro da academia com a indústria do petróleo, gás e biocombustíveis. A última edição trouxe à baila o tema “Desafios e Estratégias do CO2 no Cenário Brasileiro e Mundial” e reuniu mais de 300 profissionais para o debate sobre o uso de CO2 no Brasil nas mais diversas aplicações nos segmentos de captura, utilização, armazenamento e gerenciamento de risco. Alguns dos temas discutidos foram conversão de CO2 a combustíveis, processo de separação e captura de CO2, além de tendências tecnológicas mundiais.

Além disso, a indústria de petróleo, gás natural e biocombustíveis integra, em âmbito global, diferentes fóruns e entidades que representam o setor e discutem assuntos sobre tecnologia e mitigação de impactos no meio ambiente, incluindo as emissões de GEE. A Global Oil and Gas Industry Association for Environmental and Social Issues (Ipieca), a Asociación Regional de Empresas del Sector Petróleo, Gas y Biocombustibles en Latinoamérica y el Caribe (Arpel) e a International Association of Oil & Gas Producers (IOGP) são alguns exemplos. O setor também se faz presente na Delegação Brasileira, participando das Conferências das Partes da UNFCCC.

Mecanismos de alavancagem de CCSU, tecnologias de baixo carbono, políticas efetivas, energias renováveis e negócios responsáveis serão imperativos ainda por algumas décadas, para que a sociedade alcance a necessária redução de emissões de GEE e ainda esteja preparada para adaptar-se a novos cenários climáticos e de restrições de emissão.

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Dessa forma, o IBP identifica a necessidade de aperfeiçoamento dos condicionantes dos investimentos para atrair investidores para o país, além do aperfeiçoamento contínuo dos marcos regulatórios do setor de energia para o desenvolvimento de uma indústria de energia competitiva e sustentável.

O desafio é garantir o suprimento de energia, a preços competitivos e com baixa emissão de GEE, de forma a viabilizar o desenvolvimento do país com sustentabilidade.

Referências

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BRASIL. Instrução Normativa no 12, de 23 de novembro de 2010. Diário Oficial da União, n. 224, 2010.

______. Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Estimativas anuais de emissões de gases de efeito estufa no Brasil. Brasília: MCTI, 2013.

CDP – CARBON DISCLOSURE PROJECT. [S.l.]: [s.d.]. Disponível em: <https://www.cdp.net>. Acesso em: 7 ago. 2015.

EPE – EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA. Plano Decenal de Energia 2023. Brasília: EPE, 2014.

IBP – INSTITUTO BRASILEIRO DO PETRÓLEO, GÁS E BIOCOMBUSTÍVEIS. Agenda prioritária da indústria de petróleo, gás e biocombustíveis 2014-2015. Rio de Janeiro: IBP, 2014-2015. Disponível em: <http://www.ibp.org.br/>. Acesso em: 7 ago. 2015.

IEA – INTERNATIONAL ENERGY AGENCY. Key world energy statistics. Disponível em: <http://goo.gl/9x7Lu9>. [S.l.], 2013. Acesso em: 7 ago. 2015.

IPCC – INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANCE. Climate change 2013: the physical science basis. Disponível em: <http://goo.gl/WmfvF3>. [S.l.], 2013. Acesso em: 7 ago. 2015.

IPIECA – GLOBAL OIL AND GAS INDUSTRY ASSOCIATION FOR ENVIRONMENTAL AND SOCIAL ISSUES. Understanding short-lived climate forcers. [S.l.]: [s.d.]. Disponível em: <http://goo.gl/sG2NcP>. Acesso em: 7 ago. 2015.

MAROUN, C. Sustainability of the ethanol expansion in Brazil from a water-energy-land perspective. Rio de Janeiro: UFRJ, 2014.

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CRÉDITOS

Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis – IBP

Autoria do fascículoJorge CamargoMilton Costa FilhoAntônio GuimarãesOrganização

Carlos VictalCarlos Henrique MendesMaria Augusta NogueiraRosângela NucaraEquipe Técnica do IBP

Angela MartinsKátia Christina (Petrobras)Anídio Correa (Shell Brasil)Paulo Henrique Van Der Ven (Statoil do Brasil)Christianne Maroun (Consultora)Colaboradores

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AS PEQUENAS INDÚSTRIAS E OS DESAFIOS DAS

ALTERAÇÕES DO CLIMA: PERSPECTIVAS E

PROPOSIÇÕES PARA UMA AGENDA POSITIVA

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1 CONTEXTUALIZAÇÃO

Em junho de 2012, quando o Brasil sediou a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, os pequenos negócios ocuparam espaço de destaque ao expor suas práticas, processos, produtos e serviços implementados sob um novo modelo de gestão e competitividade, com base na sustentabilidade, ou seja, economicamente viáveis, ambientalmente corretos e socialmente justos.

A presença e a visibilidade internacional proporcionadas pelo ambiente da Rio+20, que reuniu chefes de Estado e especialistas de 190 nações, confirmaram a importância dos pequenos negócios nesse processo de transformação global intensa, pontuada pelo desafio de um desenvolvimento sustentável1 efetivo e global. Ficou evidente que a realização dessa conferência colaborou para que a sociedade brasileira desse maior atenção ao desafio de tornar viável a sustentabilidade como alternativa para atenuar o processo de mudança climática e seus efeitos negativos.

Relacionadas diretamente ao aumento das emissões de gases de efeito estufa (GEE), as mudanças climáticas têm como consequência a elevação da temperatura do planeta, a exaustão de recursos naturais, o comprometimento das condições de vida e a extinção de espécies que alteram o equilíbrio do planeta. Tal quadro apresenta-se como um desafio inadiável deste século para toda a sociedade.

As emissões de GEE, por isso, devem ser reconhecidas como um tema obrigatoriamente presente no debate sobre a competitividade industrial brasileira, especialmente em relação aos segmentos dependentes do fornecimento de insumos e de matérias-primas advindos da natureza. Observa-se que essa competitividade é afetada, entre outros fatores, pela escassez de recursos hídricos, com o consequente aumento dos custos de energia e de produção, bem como o comprometimento da infraestrutura de transporte, de telecomunicações e das cidades. Entretanto, a competitividade empresarial também pode ser afetada por eventuais restrições e exigências regulatórias, que podem acarretar elevação de custos de produção e de operação.

Em ritmo acelerado, essas transformações ocorrem em várias regiões do planeta e influenciam a adoção de novos conceitos, que preconizam modelos inovadores de convivência, de consumo e de produção. Elas também motivaram a preocupação crescente com o desenvolvimento de tecnologias limpas, o uso responsável dos recursos naturais e a preservação do meio ambiente, enquanto o conceito de ecoeficiência/ecoeficácia ganha força no planejamento e nas estratégias das empresas.

Percebe-se, também, que os consumidores estão cada vez mais exigentes e dão preferência a produtos que trazem consigo a garantia de qualidade com o emblema da sustentabilidade. Pesquisas já confirmaram a disposição dos consumidores de pagar mais por produtos e serviços obtidos a partir de práticas sustentáveis. O consumo consciente, seletivo e saudável, é uma tendência crescente e cada vez mais valorizada na atualidade.

A iniciativa privada está sensível a essa realidade. Cresce a percepção, entre os empresários, de que sustentabilidade hoje virou um bom negócio. Não é moda nem algo trivial, mas pode ser uma oportunidade. Processos sustentáveis agregam valor a produtos e serviços, que se tornam mais competitivos.

É possível às pequenas indústrias contribuir para minimizar as projeções feitas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), que indicam alterações no equilíbrio dos ecossistemas? Ao tentar responder a esta questão, este texto busca apontar caminhos e soluções viáveis, desmitificando a percepção de que ser sustentável e inovador é privilégio de grandes corporações ou megarredes empresariais.

1 Desenvolvimento sustentável, segundo o Relatório Brundtland, pressupõe um modelo que atenda às necessidades do presente, sem comprometer as possibilidades das gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades.

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2 PEQUENAS INDÚSTRIAS, MUDANÇA DO CLIMA E IMPACTO SETORIAL

No Brasil, cerca de 14,5 milhões de pequenos negócios – microempreendedores individuais, microempresas, pequenas empresas e agricultores de pequenas propriedades rurais – respondem por 27% do Produto Interno Bruto (PIB).2 Se considerarmos somente as pequenas indústrias, a participação é de 16,2% do PIB. Os pequenos negócios também são responsáveis pela geração de, em média, 52,3% dos empregos formais no país.

As micro e pequenas empresas, pela sua proximidade com o consumidor, têm condições de rapidamente perceber as práticas sustentáveis demandadas e adotá-las como diferencial competitivo. Ter competitividade significa ser capaz de ofertar no mercado um produto com as características exigidas no momento e com o preço que o consumidor está disposto a pagar (SEBRAE, 2011).

A maioria das indústrias é de pequeno porte e, por isso, mais vulnerável às alterações climáticas, já que têm menor capacidade de mobilização de recursos técnicos e financeiros, se comparadas às médias e grandes empresas. A gestão voltada para a sustentabilidade pressupõe uma empresa rentável, que gere resultados econômicos e contribua para o desenvolvimento da sociedade.3 Nesse sentido, a adoção desse modelo de gestão sustentável é oportunidade para um salto de qualidade nos produtos e serviços oferecidos pela empresa e para a criação de negócios inovadores (SEBRAE, 2011).

As pequenas indústrias devem estar atentas aos impactos negativos sobre suas operações, decorrentes da mudança climática (CNI, 2011, p. 15). Uma alternativa para contribuírem globalmente está na realização do Inventário de Emissões de GEE.4 Trata-se de “um relatório de todas as fontes e sumidouros de emissões de GEE pertencentes à organização e influenciadas por sua atividade e as emissões e remoções de GEE quantificadas utilizando metodologias normalizadas” (SBRAGIA; REYES, 2015, p. 7).

A pequena indústria pode se beneficiar da realização desse inventário, a partir da análise do seu processo produtivo e uso de materiais, além de seus padrões de tratamento de efluentes e resíduos sólidos. O conhecimento mais aprofundado de suas operações possibilita a implementação de ações de produção mais limpa, a eficiência e a padronização de processos, o aperfeiçoamento do sistema logístico e uma atuação direta sobre seus produtos, viabilizando ações que consumam menos energia e matérias-primas, produtos com menor impacto ambiental e de maior performance.

3 APOIO ÀS INICIATIVAS SUSTENTÁVEIS DE MICRO E PEQUENAS INDÚSTRIAS

O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), que traz a sustentabilidade em sua trajetória desde a década de 1980, quando deu início a ações voltadas ao meio ambiente, foi a primeira instituição brasileira a patrocinar a Rio+20, em 2012. Esse foi um reconhecimento explícito da importância da Conferência das Nações Unidas para a promoção do diálogo entre

2 Dado obtido em 2014, apurado pelo SEBRAE junto à Fundação Getulio Vargas (FGV).3 Conceito triple botton line (tripé da sustentabilidade) que prevê o bem-estar das pessoas, a preservação da natureza e os lucros das empresas, integrados ao negócio e sem poderem ser dissociados.4 O “inventário de emissões de GEE é um relatório de todas as fontes e sumidouros de emissões de GEE pertencentes à organização e influenciadas por sua atividade e as emissões e remoções de GEE quantificadas utilizando metodologias normalizadas” (SBRAGIA; REYES, 2015).

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líderes mundiais, tendo em vista a definição de uma agenda global do desenvolvimento sustentável. Um ano antes, porém, o SEBRAE já havia definido o desenvolvimento sustentável como prioridade da sua atuação estratégica.

Duas outras iniciativas rumo à sustentabilidade e à disseminação de boas práticas para pequenos negócios foram o Centro SEBRAE de Sustentabilidade (CSS), instalado em abril de 2011 em Cuiabá-MT, e o termo de referência sobre o tema, lançado no mesmo ano, para nortear a atuação da instituição em todo o país, contemplando dois grandes eixos, quais sejam: eficiência energética e gestão de resíduos sólidos. Esse termo de referência está sendo revisado para ampliar a atuação do SEBRAE em outras vertentes da sustentabilidade, como a eficiência hídrica, conforme exige o mercado.

Com foco em inovação e tecnologia, um dos programas nacionais do SEBRAE, o SEBRAEtec, garante a oferta de serviços tecnológicos aos pequenos negócios. Tal programa possibilita o acesso a ferramentas de interesse de pequenos negócios industriais como inovação, produtividade, design, qualidade, propriedade intelectual e sustentabilidade com ações, procedimentos, processos e produtos que visam alinhar o negócio às exigências do mercado, sejam elas de caráter social e/ou ambiental.

A linha sustentabilidade do SEBRAEtec atende às necessidades desses empreendimentos, especificamente na eliminação ou na minimização de riscos em quatro frentes:

• redução do consumo de energia e utilização de fontes limpas de energia;

• gestão ambiental com ações gerenciais para diminuir ou eliminar o impacto ambiental nega-tivo de suas atividades, inclusive ações de adequação à legislação ambiental vigente;

• gerenciamento de resíduos decorrentes da atividade comercial, seja no reúso de materiais, seja na reciclagem, na coleta seletiva ou em outra ação que contribua para a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS);

• sustentabilidade rural, que busca adequar atividades agropecuárias às exigências do mercado.

Ainda no âmbito desse programa do SEBRAE, os empresários têm acesso a ferramentas de gestão como o projeto “5 Menos que são Mais”, metodologia dedicada a orientar os pequenos negócios na redução do desperdício de matérias-primas, racionalização do uso de água e energia, geração de menor quantidade de resíduos e poluição. São ações que podem repercutir em mais produtividade, maior lucro e melhores condições ambientais.

O SEBRAE está desenvolvendo o “Guia de Implementação: normas para gestão das emissões e reduções de GEE” e estruturando uma consultoria com base nessa publicação para apoiar os pequenos negócios a aplicar o Inventário de Emissões de GEE.

4 EXPERIÊNCIAS BEM-SUCEDIDAS DE PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS EM PEQUENAS INDÚSTRIAS

As pequenas indústrias, em diferentes ramos de atividades, antecipam-se, adotam práticas sustentáveis e contabilizam os ganhos dessa mudança, que inicialmente era um desafio quase inviável. À medida que o processo avançou, seus líderes puderam desmitificar a percepção de que somente empresas de grande porte têm condições de inovar. Os exemplos são vários, mas aqui selecionamos5 alguns deles que receberam apoio do SEBRAE. Os empresários apostaram em práticas inovadoras, nem sempre

5 Experiências e práticas bem-sucedidas de pequenos negócios estão disponíveis no site do Centro SEBRAE de Sustentabilidade (CSS): <www.sustentabilidade.sebrae.com.br>.

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complexas e caras, e na sustentabilidade como um bom negócio para se diferenciar e imprimir mais competitividade em seus empreendimentos industriais de pequeno porte. Vejamos:

• os impactos do negócio sobre a comunidade e o meio ambiente estão em pauta no Grupo BB, que há mais de dez anos fabrica produtos promocionais de plástico, como canecas, squeezes e camisetas. A empresa, instalada em Lauro de Freitas-BA, busca e adota práticas que possam melhorar a eficiência do seu processo produtivo. Além da separação dos resí-duos, que são destinados a uma cooperativa local de catadores, os projetos de produção dos brindes promocionais são feitos em circuito fechado, que elimina a geração de resíduos plásticos e reduz em 60% o consumo de água, em média. Ao adotar equipamentos ecoe-ficientes, o empreendimento reduziu o consumo de energia em torno de 30%. Apesar de toda a linha de produtos ser durável e 100% reciclável, a empresa lançou a linha green para produtos que utilizam 30% de fibras naturais de coco e madeira em substituição ao uso de plástico virgem. Além de ser uma alternativa ambientalmente correta, ao utilizar um pro-duto renovável, que poderia ser descartado inadequadamente, a empresa gera renda para as famílias dos catadores de cocos. A linha de produtos fabricados com embalagens longa vida é outro exemplo sustentável, que reutiliza 100% do material na composição das peças. Todos os produtos diferenciados geraram valor agregado, resultando no aumento do lucro do Grupo BB. A produção sustentável deu mais visibilidade à empresa, que passou a ter sua imagem associada a práticas sociais e inovadoras;

• a experiência da sorveteria Gela Boca, de Maringá-PR, comprova que pequenos ajustes não exigem muito investimento e podem colocar uma empresa no caminho da sustentabilidade. Ao ingressar no Programa SEBRAE de Gestão da Qualidade, a microindústria se viu desafiada a evitar o desperdício. O simples monitoramento da produção foi suficiente para apontar a solução do problema. Em um dia de trabalho, o desperdício de embalagens de picolé era de 5%. Posto em uma planilha de controle, esses 5% diários representavam a perda de R$ 15 mil anuais. A meta diária fixada foi de 2% para toda a equipe e, quando o desperdício de embalagens atingiu 3%, o controle passou a ser semanal. Atualmente, a empresa opera dentro da meta de 2% de desperdício. A conta de energia elétrica também entrou no mo-nitoramento. Foi necessário acrescentar um turno de trabalho para operar 24h, devido ao crescimento da produção de sorvetes e picolés. Ao deixar de produzir nos horários de pico, quando a tarifa é seis vezes mais cara, de agosto a abril, na alta temporada do negócio, a fábrica para suas atividades das 19h às 22h. A água é outro recurso na mira da Gela Boca, que tem consumo diário intenso na produção, na limpeza e na refrigeração do maquinário. A empresa consome 3 mil metros cúbicos de água tratada por mês. A meta é reduzir o con-sumo em 70% e, por isso, ela investe na construção de uma cisterna para coletar água da chuva, que poderá ser empregada na refrigeração e na limpeza de caminhões e pisos;

• uma tecnologia inovadora, que transforma resíduos da extração mineral em artefatos da construção civil, foi desenvolvida pela Bacia Viva Indústria, Comércio e Gestão Ambiental, empresa de Nova Lima-MG. A pequena fábrica de pisos e pavimentos transforma rejeitos sedimentados em matéria-prima de artefatos utilizados em edificações. A retirada e o rea-proveitamento dos rejeitos sedimentados em corpos d’água para fins industriais significam a revitalização de córregos e rios assoreados pelo rompimento de barragens da atividade mineradora, ocorridos no Quadrilátero Ferrífero nas últimas décadas. Essa região central de Minas Gerais possui uma das maiores jazidas de minério de ferro do mundo e concentra alta densidade de atividade mineradora. Movida pelo assoreamento do Córrego Alegria, em 1969, provocado pelo rompimento da barragem de rejeitos da mineração de ferro em Nova Lima, a empresa iniciou uma longa trajetória de desafios e soluções inovadoras. Depois do Córrego Alegria ocorreram outros acidentes na região (1973, 1978, 1998 e 2001) pelo mesmo motivo. Foram décadas de tentativas, erros, acertos e testes em laboratórios, custeados com recursos próprios, até a Bacia Viva desenvolver uma tecnologia que produz pisos e pavimentos intertravados a partir do resíduo. O produto, batizado de pavieco, é ven-dido para projetos comunitários, comerciais e residenciais;

• a Cerâmica Bandeira reduziu o uso de lenha e passou a contar com materiais naturais alterna-tivos na queima de seus produtos, entre eles o pó de serra e os resíduos de coco e coqueiros. Solos contaminados com resíduos de petróleo na perfuração de poços são inseridos na massa

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de tijolos e blocos, solucionando um problema ambiental. O empreendimento também ajuda a trazer de volta o extinto pássaro mutum-de-alagoas ao seu habitat, destruído pelo desma-tamento e pela caça desenfreados ocorridos nas áreas de Mata Atlântica do estado alagoano décadas atrás. A empresa realiza ainda cursos para funcionários e oferece, entre outros, serviços de saúde para suas famílias e a comunidade do município de Capela-AL, onde está localizada. Por causa desse conjunto de práticas e atitudes sustentáveis, a Cerâmica Bandeira é certificada, desde 2008, como geradora de créditos de carbono pela Verified Carbon Standart (VCS), dos Estados Unidos, e Carbono Social, do Instituto Ecológico de Tocantins. A empresa é monitorada e auditada pela certificadora internacional Bureau Veritas. O projeto de crédito de carbono da empresa foi desenvolvido pela Sustainable Carbon e os créditos comprados por investidores da Inglaterra, França, Alemanha e Suíça. A Cerâmica Bandeira é um exemplo para as demais cerâmicas nordestinas, ao investir em ações ambien-tais e sociais. Há mais de cinco anos ela é parceira na pesquisa de materiais alternativos que podem ser utilizados no segmento ceramista do Nordeste, realizada pela Universidade Fede-ral de Alagoas (Ufal) com recursos desta instituição de ensino e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Já foram feitos testes na própria empresa, que começou a usar resíduos de serrarias e de coco e coqueiros. Com isso, a cerâmica deixou de lançar 40 mil toneladas anuais de CO2 na atmosfera. O empreendimento também investiu no plantio de clones de eucalipto em 150 hectares para mitigar o impacto ambiental. Futuramente essa madeira será usada em seus fornos. O bambu tornou-se outro excelente material que serve como combus-tível para a Cerâmica Bandeira.

5 DESAFIOS, TENDÊNCIAS E OPORTUNIDADES NO ENFRENTAMENTO DA MUDANÇA CLIMÁTICA

A mudança climática é uma realidade irreversível6 que requer atenção e providências de todos os atores sociais, incluindo um reposicionamento e uma nova cultura empresarial, que priorize a inovação como fator de competitividade e de sustentabilidade dos negócios. Entre as tipologias de inovação podemos destacar as de processos e as de produtos no incremento da competitividade de cadeias produtivas, além de gerar oportunidades de negócios e uma perspectiva mais otimista para o planeta.

A inovação em processos prevê, entre outras oportunidades: produção enxuta para reduzir o desperdício e os custos no processo de fabricação e outros; eficiência de processos para criar ou produzir mais enquanto usa menos em termos de materiais, consumo de energia ou tempo; padronização de processos, procedimentos e políticas destinadas a reduzir complexidade, custos e erros; e um sistema logístico com o gerenciamento do fluxo de bens, informações e outros recursos entre o ponto de origem e o ponto de uso.

Já a inovação em produtos envolve: o seu desenvolvimento de bens, de forma que o usuário final possa reduzir o consumo de energia e outros materiais; a sensibilidade ambiental, por meio da oferta de itens com baixo impacto para o meio ambiente; e a simplificação da performance, com a omissão de detalhes supérfluos, aspectos e funcionamento para reduzir a complexidade.

Os esforços inovadores podem ser contabilizados por meio da aplicação do Inventário de Emissões de GEE (CNI, 2011) e proporcionam oportunidades de ganhos e de novos negócios, a saber:

• financeiras: maior eficiência operacional e logística, maior eficiência no uso de energia e insumos produtivos, assim como desenvolvimento de novos mercados;

6 Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC, na sigla em inglês) da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado em Copenhague, na Dinamarca, no dia 2 de novembro de 2014.

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• regulatórias: antecipação das regulamentações, influência no processo de criação de novas leis e incentivos governamentais;

• competitivas e reputacionais: aumento da credibilidade da marca, novos investidores e par-ceiros, rotulagem ambiental, melhor gestão de recursos humanos, responsabilidade socioam-biental, ampliação de parcerias, pioneirismo/liderança no mercado, diferenciação da empre-sa/produtos, entre outros;

• físicas: inovação tecnológica na produção de novos produtos e serviços para adaptação aos impactos da mudança climática e desenvolvimento de processos e tecnologias mais eficien-tes, aumentando a produtividade e reduzindo a dependência por recursos naturais.

Especialistas observam, na atualidade, uma onda de iniciativas fora do âmbito dos governos que podem colaborar no combate à mudança climática. Empresas e cidades, por exemplo, estão adotando formas inovadoras para lidar com o aquecimento global, entre elas a tecnologia para melhorar o custo-benefício do armazenamento e transmissão de energia solar e um impulso, por parte de empresas, para acabar com o desmatamento em suas cadeias de suprimentos.

A mudança de hábitos do consumidor, que busca mais qualidade e bem-estar ao incorporar o conceito de consumo consciente, também abre espaço para novas oportunidades de negócios sustentáveis e para o reposicionamento das empresas no mercado.

Torna-se imprescindível, ainda, a atuação conjunta de instituições de apoio a esse segmento, visando à promoção de ações de capacitação e de financiamento de investimentos, à orientação e aos planos de recuperação, à sustentação, à expansão e à maturidade dos negócios impactados por fenômenos advindos das alterações climáticas.

Com atividades, programas nacionais e projetos específicos, o SEBRAE vem apoiando os pequenos negócios na busca de alternativas sustentáveis e que possam contribuir, efetivamente, para uma visão realista e transformadora nos diversos setores econômicos.

Todos os segmentos empresariais têm o compromisso e a responsabilidade de mitigar os impactos de suas atividades, diante do processo e dos eventos relacionados à mudança climática. Assim como as demais empresas, as indústrias de pequeno porte precisam ampliar suas resiliências, inovando e não apenas parecendo, mas efetivamente sendo sustentáveis. Os desafios são muitos e inadiáveis, mas significam novas e promissoras oportunidades.

Referências

CNI – CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA. Estratégias corporativas de baixo carbono: gestão de riscos e oportunidades. Brasília: CNI, 2011.

CSS – CENTRO SEBRAE DE SUSTENTABILIDADE. Série sustentabilidade para pequenos negócios: gestão de resíduos sólidos. Cuiabá: Sebrae, 2012.

KEELEY, L. et al. Ten types of innovation: the discipline of building breakthroughs. New Jersey: John Wiley & Sons; Inc; Hoboken, 2013.

SBRAGIA, I. A.; REYES, R. S. Guia de implementação: normas para a gestão das emissões e remoções de GEE. Brasília: Sebrae; ABNT, 2015.

SEBRAE – SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS. Sondagem sustentabilidade: 5a edição do ponto de vista dos pequenos negócios. Brasília: Sebrae, 2011.

_____. Pequenos negócios: desafios e perspectivas – desenvolvimento sustentável. Brasília: Sebrae, 2012.

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CRÉDITOS

Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAEHeloisa Regina Guimarães de MenezesDiretora Técnica do SEBRAE Nacional

CNI

Diretoria de Relações Institucionais – DRIMônica Messenberg GuimarãesDiretora

Gerência Executiva de Meio Ambiente e Sustentabilidade – GEMASShelley de Souza CarneiroGerente Executivo

Mário Augusto de Campos CardosoPaula BennatiPercy Soares NetoRafaela Aloise de FreitasSérgio de Freitas MonforteEquipe Técnica

Daniela CestarolloPriscila Maria Wanderley Pereira Rafaella OliveiraCoordenação Editorial

Pedro AmaralConsultor

Diretoria de Comunicação – DIRCOMCarlos Alberto BarreirosDiretor de Comunicação

Gerência Executiva de Publicidade e Propaganda – GEXPPCarla GonçalvesGerente Executiva

André Augusto DiasProdução Editorial

Diretoria de Serviços Corporativos – DSCFernando Augusto TrivellatoDiretor de Serviços Corporativos

Área de Administração, Documentação e Informação – ADINFMaurício Vasconcelos de Carvalho Gerente Executivo de Administração, Documentação e Informação

Gerência de Documentação e Informação – GEDINMara Lucia GomesGerente de Documentação e Informação

Alberto Nemoto YamagutiNormalização

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Editorar MultimídiaRevisão Gramatical

Editorar MultimídiaProjeto Gráfico e Diagramação

Associação Brasileira do Alumínio – ABALAssociação Brasileira de Cimento Portland – ABCPAssociação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica – ABINEEAssociação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais – ABIOVEAssociação Brasileira da Indústria Química – ABIQUIMAssociação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção – ABITAssociação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores – ANFAVEACâmara Brasileira da Indústria da Construção – CBICFórum de Meio Ambiente do Setor Elétrico – FMASEInstituto Aço Brasil – IABrIndústria Brasileira de Árvores – IBÁInstituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis – IBPServiço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAEInstituições parceiras do projeto CNI Sustentabilidade que colaboraram com esta publicação