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ANÁLISE TEMPORAL DO COMPLEXO ESTUARINO DA BAIXADA SANTISTA-SP, POR MEIO DE IMAGENS TM-LANDSAT Alessandro Rosini ([email protected]) Professor de Ensino Médio e cursos pré-vestibular Fone: (13) 3261-4533 E.E. Dona Luiza Macuco AV: Aristóteles de Menezes, S/N. 11035-030 Santos-SP INTRODUÇÃO No ensino de Biologia é essencial o desenvolvimento de posturas e valores pertinentes às relações entre os seres humanos, o meio ambiente e o conhecimento, contribuindo para uma educação formadora de indivíduos sensíveis e solidários, cidadãos conscientes dos processos e regularidades do mundo e da vida, capazes de realizar ações práticas, fazer julgamentos e tomar decisões. De acordo com os novos Parâmetros Curriculares Nacionais, o meio ambiente passa a ser tema transversal, o que vem aumentando o campo de atuação docente no sentido de produzir um trabalho transdisciplinar. Para a elaboração deste, traçamos como principais objetivos: a obtenção de um diagnóstico espaço-temporal das degradações e alterações ocorridas na Baixada Santista, em especial no complexo estuarino e na planície litorânea até as escarpas da serra do mar; a transmissão de conhecimentos, com ênfase sobre os manguezais da Baixada Santista, divulgando a necessidade da manutenção do equilíbrio ecológico e alertando para a importância da utilização racional destes ecossistemas; a utilização de tecnologias espaciais, por meio de imagens de satélite, capazes de incentivar os alunos em relação ao aprendizado e, ao mesmo tempo, permitir que entrem em contato com novas tecnologias; a estimulação de uma conscientização e despertar o senso crítico para as questões ambientais, provocando na comunidade escolar uma postura atitudinal reflexiva, prudente na preservação dos recursos naturais e favorecendo a participação de todos nas decisões para melhorar a qualidade do meio natural, social e cultural. A região de estudo está localizada no litoral sudeste do Estado de São Paulo, ao longo da Baixada Santista (figura 1) envolvendo os municípios de Santos, Guarujá, Cubatão, São Vicente, Praia Grande e o Canal de Bertioga O complexo estuarino abriga uma série de manguezais, sujeitos a várias alterações ambientais provocadas por poluentes emitidos tanto pelo município de Cubatão, quanto pela própria região portuária (Porto de Santos) e outros municípios vizinhos. O município de Santos encontra-se próximo à Serra do Mar, localizado a 68 km de São Paulo. Ocupa uma área de 271 Km², dos quais 39,4 km² correspondem à região insular e 231,6 km² à área continental. Seus limites ao norte, com Santo André, Mogi das Cruzes e Salesópolis; ao sul, o Oceano Atlântico e a Ilha de Santo Amaro; a leste, Bertioga; e a oeste, Cubatão e São Vicente. O canal de Bertioga, conhecido também como Rio Bertioga, tem 30 quilômetros de extensão e ainda hoje é o responsável pela economia informal da Cidade.

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Page 1: ANÁLISE TEMPORAL DO COMPLEXO ESTUARINO DA … · Durante o estudo do meio, caracterizou-se a fauna e a flora típicas desse ecossistema, assim como as principais características

ANÁLISE TEMPORAL DO COMPLEXO ESTUARINO DA BAIXADA SANTISTA-SP, POR MEIO DE IMAGENS TM-LANDSAT

Alessandro Rosini ([email protected]) Professor de Ensino Médio e cursos pré-vestibular Fone: (13) 3261-4533 E.E. Dona Luiza Macuco AV: Aristóteles de Menezes, S/N. 11035-030 Santos-SP

INTRODUÇÃO

No ensino de Biologia é essencial o desenvolvimento de posturas e valores pertinentes às relações entre os seres humanos, o meio ambiente e o conhecimento, contribuindo para uma educação formadora de indivíduos sensíveis e solidários, cidadãos conscientes dos processos e regularidades do mundo e da vida, capazes de realizar ações práticas, fazer julgamentos e tomar decisões.

De acordo com os novos Parâmetros Curriculares Nacionais, o meio ambiente passa a ser tema transversal, o que vem aumentando o campo de atuação docente no sentido de produzir um trabalho transdisciplinar.

Para a elaboração deste, traçamos como principais objetivos: • a obtenção de um diagnóstico espaço-temporal das degradações e alterações

ocorridas na Baixada Santista, em especial no complexo estuarino e na planície litorânea até as escarpas da serra do mar;

• a transmissão de conhecimentos, com ênfase sobre os manguezais da Baixada Santista, divulgando a necessidade da manutenção do equilíbrio ecológico e alertando para a importância da utilização racional destes ecossistemas;

• a utilização de tecnologias espaciais, por meio de imagens de satélite, capazes de incentivar os alunos em relação ao aprendizado e, ao mesmo tempo, permitir que entrem em contato com novas tecnologias;

• a estimulação de uma conscientização e despertar o senso crítico para as questões ambientais, provocando na comunidade escolar uma postura atitudinal reflexiva, prudente na preservação dos recursos naturais e favorecendo a participação de todos nas decisões para melhorar a qualidade do meio natural, social e cultural.

A região de estudo está localizada no litoral sudeste do Estado de São Paulo, ao longo da Baixada Santista (figura 1) envolvendo os municípios de Santos, Guarujá, Cubatão, São Vicente, Praia Grande e o Canal de Bertioga

O complexo estuarino abriga uma série de manguezais, sujeitos a várias alterações ambientais provocadas por poluentes emitidos tanto pelo município de Cubatão, quanto pela própria região portuária (Porto de Santos) e outros municípios vizinhos.

O município de Santos encontra-se próximo à Serra do Mar, localizado a 68 km de São Paulo. Ocupa uma área de 271 Km², dos quais 39,4 km² correspondem à região insular e 231,6 km² à área continental. Seus limites ao norte, com Santo André, Mogi das Cruzes e Salesópolis; ao sul, o Oceano Atlântico e a Ilha de Santo Amaro; a leste, Bertioga; e a oeste, Cubatão e São Vicente.

O canal de Bertioga, conhecido também como Rio Bertioga, tem 30 quilômetros de extensão e ainda hoje é o responsável pela economia informal da Cidade.

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Figura 1- Imagem TM-Landsat. Localização dos municípios: (S) Santos, (G)

Guarujá, (V) Vicente de Carvalho, (SV) São Vicente, (P) Praia Grande e (B) Canal de Bertioga

Na Ilha de Santo Amaro encontra-se o município de Guarujá (23° 59' de latitude Sul e

46° 15' de longitude Ocidental) com 137 Km2. A terceira maior ilha do litoral do Estado de São Paulo faz limite ao norte, com o Canal de Bertioga, que separa Santos e Guarujá, a oeste, com o Canal do estuário de Santos e ao sul e a leste , com o Oceano Atlântico.

Situado na zona de contato da borda escarpada do Planalto Atlântico com a Planície Litorânea (Baixada Santista), o município de Cubatão (latitude 23°52'26 “S e longitude 46°25'37” W), distante aproximadamente 60 km da Capital Paulista, possui entre 8 a 9 km de largura. Dos seus 160 km2 de área, apenas 18% são planícies, sendo o restante composto por serras, morros e manguezais.

O município de São Vicente localiza-se entre os municípios de Santos, Cubatão, Praia Grande, tendo ao sul o Oceano Atlântico.

O Município de Praia Grande (24°00'35" latitude Sul e 46°24'45" longitude Oeste) possui uma área equivalente a 145 Km2 e faz limite com o município de São Vicente, Mongaguá e com o Oceano Atlântico.

MATERIAL E MÉTODO

Os manguezais da Baixada Santista, apesar de estarem próximos a um dos maiores centros urbanos do país e inseridos em uma região de grande desenvolvimento econômico, permanecem praticamente desconhecidos do ponto de vista zoológico.

A necessidade de elaboração de um estudo mais profundo a respeito do meio ambiente da Baixada Santista e fazendo atribuições de vários recursos, entre eles o uso de novas tecnologias estabelecido pela LDB, levou ao desenvolvimento desse trabalho.

O projeto foi apresentado aos alunos, sendo fornecidas explicações sobre os objetivos, os materiais as tecnologias empregadas, as formas de abordagem e o cronograma para o seu desenvolvimento.

A realização do mesmo ocorreu em horário diferenciado das aulas, durante os meses de agosto a dezembro de 2001, havendo duas reuniões semanais, com a participação de vinte alunos, sendo que estes se apresentaram por escolha própria.

Como ponto de partida foi aplicado um questionário inicial para os alunos, a fim de detectar o grau de conhecimento sobre a região abordada assim como o conhecimento do uso de imagens de satélite à análise do meio ambiente.

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Foram elaboradas aulas e debates sobre as principais formações fitográficas brasileiras, sendo desenvolvidas aulas especiais sobre a Mata Atlântica, Serra do Mar, Porto de Santos e relevo da região, dando ênfase para o ecossistema manguezal.

Em uma segunda etapa, a equipe realizou levantamento bibliográfico, inclusive sobre a legislação ambiental dos municípios. Foram realizadas discussões para esclarecimento dos assuntos selecionados e traçadas as linhas de atuação do trabalho.

As imagens utilizadas do satélite Landsat foram obtidas junto ao Instituto Nacionais de Pesquisas Espaciais (INPE), sediado em São José dos Campos-SP.

Os dados referentes às imagens utilizadas pelos sensores TM do Landsat constam na tabela a seguir:

SATÉLITE/SENSOR ÓRBITA/PONTO DATA BANDA ESCALA FORMATO 12/03/85 Landsat/TM 219 /76 03/09/99

3,4,5 1:100.000 Papel Fotográfico

A partir das imagens TM do satélite Landsat foram utilizados “overlays”, para a

análise temporal. A técnica consiste em realizar máscara com papel vegetal de cada imagem, tendo o cuidado de contornar cada formação de relevo, cursos de água, vegetação e áreas construídas, permitindo uma melhor discriminação visual através dos padrões de tonalidade de cor.

Para a distinção de cada polígono representado nas imagens, foi associada uma coloração e elaborada uma legenda, permitindo maior facilidade de reconhecimento das áreas de estudo. As análises foram realizadas por meio de sobreposição dos “overlays”, identificando as alterações ocorridas no meio ambiente.

O reconhecimento e localização da região de estudo foram obtidos por cartas náuticas da Baia de Santos e região na escala 1:80.000 de 1989 e 1:23.000 de 1994 e fotos aéreas (aerocartas), do município de Santos, referentes ao período de 24/12/97 a 06/01/98, em preto e branco, na escala 1:500, no formato digital/CD.

Os ambientes foram devidamente caracterizados para melhor assimilação e interpretação dos dados obtidos por parte da equipe envolvida. Partimos para um estudo de aprofundamento sobre localização geográfica, fauna, flora e legislação ambiental dos manguezais da Baixada Santista.

Para estudo do meio, foi selecionada uma área de manguezal de preservação ambiental no município de Guarujá, com aproximadamente 1 Km2 (figura 2), sendo previamente localizada por imagens de satélite e cartas náuticas.

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Figura 2 – A seta indica a região onde foi realizado estudo do meio no município

de Guarujá, no Bairro Santa Rosa.

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Durante o estudo do meio, caracterizou-se a fauna e a flora típicas desse ecossistema, assim como as principais características relativas ao solo e a importância do desenvolvimento de uma consciência ambiental por parte da população.

As entrevistas com moradores e as informações obtidas em campo, foram armazenadas no formato de fotografias, desenhos e devidamente registradas em blocos de campo e posteriormente transcritas para o editor de textos.

Caracterização dos Ambientes Os estuários representam corpos d'água parcialmente encerrados, que se formam

quando as águas doces provenientes de rios e córregos fluem até os oceanos, havendo interação de águas marinhas e continentais.

A ação das marés promove a circulação dos nutrientes e alimentos, além da remoção dos produtos inaproveitáveis do metabolismo dos organismos.

A mistura das águas nos estuários promove processos de floculação, permitindo a deposição de frações arenosas finas que constituem o sedimento lamoso. Este sedimento é colonizado por diversas formas animais e por plantas de porte arbóreo e/ou arbustivo os quais formam a comunidade vegetal dos manguezais.

Os manguezais são ambientes estuarinos especiais, dominam cerca de 25% das linhas de costas do planeta e cerca de 75% da zona intertropical. Apresentam maior desenvolvimento na faixa entre os trópicos de Câncer e de Capricórnio (23o 27'N e 23o 27'S). No mundo, estima-se que haja 162.000 Km2 desse tipo de ecossistema

No Brasil (figura 3), os manguezais ocupam uma área de aproximadamente 10.000Km2 (Hertz, 1987) a 25.000 Km2 (Saenger 1983), dependendo da fonte consultada; são encontrados ao longo de praticamente todo o litoral, desde o Amapá (04° 30'N), margeando estuários, lagunas e enseadas, até Lagunas (28o 30'S), em Santa Catarina, limite austral desse ecossistema no Atlântico Sul Ocidental.

A partir do Piauí até o Amapá, os manguezais se alargam, prolongando-se 50 a 60 Km em direção ao continente.

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Figura 3 – Distribuição dos manguezais no Brasil, Sant’Anna e Whately (1981).

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A região compreendida entre 23o 00'S - 29o 20'S, de Cabo Frio a Torres, é uma das áreas mais bem estudadas. Os bosques apresentam um gradiente em termos estruturais, sendo encontrados bosques de Rhizophora, Laguncularia e Avicennia, mistos ou monoespecíficos

São caracterizados por apresentarem densa vegetação de halófitas (plantas que vivem em condições salinas), chamadas mangues. A densidade das espécies de mangues e as condições naturais dos estuários dão aos manguezais uma condição única de uma eficiente retenção de nutrientes.

As condições ideais para desenvolvimento dos manguezais estão próximas às seguintes:

• temperaturas médias acima de 20o C; • média das temperaturas mínimas não inferior a 15o C; • amplitude térmica anual menor que 5o C; • precipitação pluvial acima de 1.500 mm/ano, sem prolongados períodos de seca.

As áreas de manguezal são representativas de zonas de elevada produtividade

biológica, uma vez que, pela natureza de seus componentes, são encontrados nesse ecossistema representantes de todos os elos da cadeia alimentar marinha.

A Mata Atlântica é considerada patrimônio da humanidade, estende-se ao longo do litoral brasileiro desde Rio Grande do Sul até o sul da Bahia. Possui uma das maiores diversidades do mundo, tendo cerca de 200 mil espécies englobando a flora e a fauna.

É o ecossistema que mais sofreu a influência da ação do homem, por meio do extrativismo vegetal, pecuária, mineração, caça predatória e ocupação imobiliária.

Dos 350 mil Km2 existentes no descobrimento do nosso país, sobraram cerca de 10 mil Km2, o que corresponde à cerca de 7% da mata original, sendo atualmente protegidos por lei, com a criação de parques nacionais, reservas estaduais e estações ecológicas.

A Serra do Mar é um sistema montanhoso que se estende paralelamente à linha da costa atlântica, desde o Estado do Espírito Santo, até o sul de Santa Catarina, separando o litoral do interior do Brasil.

No município de Cubatão, a cobertura vegetal da Serra do Mar vem enfrentando progressivos sinais de degradação devido ao impacto dos poluentes atmosféricos emitidos pelo complexo petroquímico e siderúrgico, implantado a partir da década de 50. O processo de degradação atingiu seu ponto máximo em 1984, quando chegaram a ser declarados um estado de emergência e dezesseis estados de alerta.

A degradação observada na vegetação obedece à seqüência estabelecida por Mudd e Kozlowski (1975): “eliminação das plantas sensíveis diminuindo a diversidade, redução seletiva de plantas do extrato superior e favorecimento de plantas mais baixas e redução da biomassa levando a uma perda de nutrientes pelo ecossistema”.

Em 1991, a UNESCO declarou a Serra do Mar como Reserva da Biosfera, elevando a importância da Mata mundialmente.

Flora Dos Manguezais

Os manguezais podem ser caracterizados de três maneiras: mangue-preto ou de

siriúba (Avicennia schaueriana), com pneumatóforos que possibilitam as raízes respirarem

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quando as águas as cobrem, mangue vermelho (Rhizophora mangle), com raízes-escora e mangue branco ou tinteira (Laguncularia racemosa), que também apresentam pneumatóforos, porém menos desenvolvidos e em menor número.

Luederwaldt (1919), faz um relato da vegetação dos mangues santistas, citando as três espécies acima como componentes arborescentes.

As espécies vegetais dos manguezais são plantas halófitas, próprias de ambientes salinos. Embora essas plantas possam se desenvolver em ambientes livres da presença do sal, em tais condições não ocorre formação de bosques, pois perdem espaço na competição com plantas de crescimento rápido, melhor adaptadas à presença de água doce.

As marés constituem uma das energias subsidiárias mais importantes que incidem sobre as áreas dos manguezais. As regiões que apresentam maior desenvolvimento do sistema de manguezais, geralmente, possuem marés de grande amplitude. A caracterização deste regime é também importante na descrição das áreas ocupadas por bosques presentes nos manguezais. Representam também o principal mecanismo de penetração das águas salinas nos manguezais.

Essas inundações periódicas tornam o substrato favorável à colonização pela vegetação, isto porque excluem plantas que não possuem mecanismos de adaptação para suportar a presença de sal.

A amplitude de maré determina a renovação das águas superficiais e intersticiais, levando consigo certa quantidade de oxigênio. Essa renovação tem papel importante no transporte, seleção e fixação de propágulos, além da distribuição de matéria orgânica particulada ou dissolvida.

Embora a vegetação do manguezal possa assimilar uma quantidade razoável de contaminantes, certos limites devem ser estabelecidos para protegê-la da poluição pesada, particularmente de óleo e substâncias tóxicas. Os manguezais são considerados áreas vitais no nosso planeta e requerem o máximo de proteção contra distúrbios ambientais.

Valor Ecológico E Sócio - Econômico Dos Manguezais

As áreas dos manguezais são de extrema importância para as populações, sendo altamente produtivas e economicamente importantes, delas provêm boa parte das proteínas, mariscos e peixes tão essenciais para alimentação.

Sua área pode ser utilizada para turismo ecológico, educação ambiental, piscicultura e criação de outras espécies marinhas, além de sua principal função de berçário de várias espécies vegetais e animais.

Regula o fluxo dos mananciais hídricos, assegura a fertilidade do solo, controla o clima, protege escarpas e encostas das serras, além de preservar um patrimônio histórico e cultural imenso.

Entre os benefícios culturais estão a recreação, o conhecimento científico, a educação e o valor estético. Navegação, pesca, natação e observação de pássaros são apenas algumas das numerosas atividades recreativas que os cidadãos podem desfrutar nos estuários.

Nota-se que o manguezal tem muito a oferecer porém, é preciso ser utilizado de maneira racional, de forma sustentada, atendendo às suas necessidades de recomposição, como período de desovas, perfloração das espécies vegetais, entre outros.

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Segundo Schaeffer-Novelli (1989), “o sucesso de conservação de qualquer área

costeira dependerá da administração de todo o ambiente associado. Esta administração deve ser aplicada a uma unidade representativa do ambiente, maior que os limites do próprio ecossistema”.

Legislação De acordo com a SEMA (1984), os manguezais e o mar são ecossistemas brasileiros

bem representativos, seu alto grau de degradação compromete nosso mar territorial. Os principais fatores de degradação, apontam para o relacionamento incorreto entre o homem e o meio ambiente, sendo destacados: a) poluição do estuário, mediante o lançamento de rejeitos industriais e a deposição de

esgotos domésticos; b) expansão imobiliária, atividades turísticas, projetos de aqüicultura e de salinas; c) lixo e aterro; d) desmatamento para exploração de madeira; e) portos e terminais; f) acidentes com derramamento de petróleo e outras substâncias. O manguezal dispõe de leis para sua proteção, tanto a nível federal como, estadual e

ou municipal. Essas Leis e Decretos refletem uma grande preocupação em proteger os recursos costeiros do litoral brasileiro.

Os manguezais são áreas protegidas ou de preservação permanente ou reservas ecológicas, conforme o Código Florestal, Lei n. 4.771, Art. 2, de 15/09/1965, Art. 18 da Lei n 6.938, de 17/01/1981, Decreto n 89336, de 31 de janeiro de 1984 e resolução CONAMA nº 004, de 18/09/1985, representando por si só, um grande obstáculo contra a degradação desse ecossistema.

Porém, na prática, a legislação tem mostrado pouca eficácia na salvaguarda desses recursos naturais.

O Projeto Cubatão, iniciado em meados de 1983, é um programa de controle de poluição ambiental do Pólo Industrial de Cubatão, desenvolvido pela Cetesb em conjunto com as Indústrias e a Prefeitura da cidade.

No ano de 1985 foi iniciado um rígido programa de despoluição ambiental, tendo como resultado a redução em 92% dos índices das fontes poluidoras em menos de dez anos.

A Lei Orgânica do Município de 1988, em seu artigo 189 – capítulo IV - DO MEIO AMBIENTE - §1º - letra C, prevê a criação de uma Fundação de Amparo à Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico. Após dez anos de sua promulgação, a Prefeitura de Cubatão instituiu a FUNDAÇÃO GUARÁ-VERMELHO DE CUBATÃO, atendendo a esse dispositivo e promovendo estudos científicos e técnicas avançadas para a manutenção da harmonia entre o homem e o ecossistema.

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RESULTADOS E DISCUSSÕES

Entrevista com moradores

Entrevistamos o Sr. Pedro (61 anos), morador do bairro Santa Rosa há mais de 50 anos, quem afirmou que todo aquele bairro e outros vizinhos eram manguezais e mesmo agora, depois de aterrados é difícil a plantação de qualquer tipo de vegetal, devido a grande quantidade de sal presente no solo.

Houve uma progressiva valorização do local com o passar dos anos, pela proximidade com as praias. As construções, muitas vezes, acabam por obstruir a passagem dos moradores locais e provocam alterações no ambiente. São encontrados vários animais, principalmente, de pequeno e médio porte.

Características Gerais

Solo

De forma geral, o solo do mangue é lodoso, denso, com partículas bem unidas, havendo pouca circulação de água e de oxigênio. Estão presentes milhares de bactérias anaeróbias. A superfície, possui coloração cinza, e a camada interna, é de coloração preta, sendo encontradas bactérias anaeróbias.

Presença de Bactérias

As bactérias anaeróbias decompõem a matéria orgânica, originando mau cheiro, dado pela produção de enxofre, o que leva as pessoas a crerem de forma errônea, que o manguezal é lixo, ou inútil.

Água

Salobra, mistura de água doce e salgada

Vegetação

Espécies de árvores com características próprias, adaptadas à presença de grande quantidade de sal e às formas diferentes de captura de oxigênio.

Importância ecológica

São berçários para inúmeras espécies animais, filtros ecológicos e responsáveis por um ciclo de matéria orgânica. Isso devido à presença de bactérias, aves, peixes, crustáceos, mamíferos, árvores e outros organismos que pertencem à teia alimentar, permitindo que este sistema funcione adequadamente, mantendo – se ecologicamente equilibrado e assim exercer suas funções.

Foram identificadas árvores do gênero Laguncularia e Rhizophora, esta em fase de florescimento (figura 4). Não foram encontradas árvores do gênero Avicennia.

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Figura 4 – Flor de Rhizophora no detalhe.

Vários locais estão sendo aterrados devido à expansão populacional, sendo constatado a existência de uma parcela expressiva de lixo de origem doméstico (figura 5), caracterizando a degradação do meio.

Figura 5 – Área de manguezal poluída

As plantas de mangue apresentam uma morfologia especial que determinam características singulares. As folhas são suculentas, com a presença de glândulas de secreção de sal, a Rhizophora (figura 6) possui folhas largas e ápice arredondado, enquanto que as folhas da Laguncularia, são estreitas e com ápice pontiagudo.

Figura 6 - A) Folha de Rhizophora. (B) Folha de Lagungularia

A presença de pneumatóforos ou raízes respiratórias (figura 7), típicas de Laguncularia com função de obtenção de oxigênio necessário à respiração e raízes-escora presentes na Rhizophora, que partem quase do meio do tronco, perto dos galhos mais baixos e se enterram na lama fina, dando maior sustentação.

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Figura 7 – Representação dos pneumatóforos encontrados na área de estudo.

A disseminação de sementes, o que permite a propagação vegetativa, e a presença de plântulas, resultado da germinação dos propágulos (figura 8), que se enterram no solo lodoso.

Figura 8 – (A) Semente, (B) Propágulo, (C) Propágulo desenvolvido, (D) Plântula. O caule da Rhizophora apresenta coloração avermelhada devido à presença de tanino,

utilizado na impermeabilização de barcos, proteção das velas e confecção de panelas de barro.

Os manguezais são habitados em toda a sua extensão por diversos animais, alguns nem sempre exclusivos desse ecossistema. Foram identificados diversos animais típicos, como bivalves filtradores, aves, peixes, caranguejos maria-mulata (Goniopsis) e chama-maré (Uca), sendo realizado a sexagem e verificada a presença de fêmeas ovígeras, além da presença de pegadas de animais e esqueletos.

CONCLUSÕES

Na imagem TM-Landsat, relativa ao mês de março de 1985, constatou-se uma faixa de coloração azul ao longo das praias indicando maior sedimentação, por se tratar de um período de final de verão no qual o mar encontra-se mais calmo.

Observou-se também, que as margens do Canal de Bertioga apresentam-se mais largas por ser um período com maior índice pluviométrico na região.

A análise temporal obtida ao longo de toda a região estudada, nota-se uma diminuição da área vegetal, incluindo o local onde ocorreu estudo do meio. Houve maior preservação dos manguezais ao longo do Canal de Bertioga.

Maiores índices de desmatamento ao longo dos morros, havendo aumento das zonas residências, o que reafirma os problemas de erosão e riscos de desmoronamento das encostas sobretudo no município de Santos.

Em São Vicente, percebe-se alterações significativas na área continental, devido aos desmatamentos.

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O aumento populacional gera não apenas desmatamentos, mas também poluição das águas pela falta de saneamento básico, fato constatado na imagem TM-Landsat relativa a 1999.

No município de Guarujá, além da urbanização, desmatamentos e diminuição das áreas de manguezais, verificaram-se alterações (figura 9) do rio Içanhema e do rio do Meio, identificado através das cartas náuticas.

Figura 9 – Comparações entre as imagens TM de 1985 e 1999, mostrando alterações

no percurso do rio Içanhema (a) e rio do Meio (b).

Ao longo do canal do Porto de Santos, constatou-se através das imagens de satélite e das imagens aéreas, manchas de óleo (figura 10) e a expansão da área portuária.

Em relação à região de Cubatão, verificamos áreas de reflorestamento nas encostas da Serra do Mar e a recuperação de algumas áreas de manguezais, chegando-se a consenso que esses fatos são devidos à implantação de uma política de preservação do meio ambiente, instalada na região principalmente a partir de 1985.

Figura 10 - Visualização através de imagem aérea da poluição no canal do Porto de Santos Dos três gêneros vegetais existentes no mangue não foi encontrado a Avicennia,

também chamado de mangue de siriúba ou mangue preto. Além dos animais descritos, outras aves foram observadas como urubus, garças e

frangos d’água, habitando as bordas do mangue.

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Ficou evidente que há falta de fiscalização na área de preservação e também há falta conscientização por parte da população, uma vez que o lixo encontrado no manguezal era aparentemente de origem doméstica, sendo os locais mais próximos das casas muito mais poluídos do que os mais afastados.

Trata-se de um bairro simples, as ruas não são asfaltadas, há casas tanto de madeira quanto de tijolos, havendo, também, a construções de novas casas e pequeno comércio local.

Estas observações nos levam a crer que a tendência é o aumento da poluição, da sedimentação (aterros), diminuição da fauna, sendo o maior contribuinte a urbanização realizada indiscriminadamente, levando portanto, à destruição das áreas de manguezais.

O grande descaso com que vêm sendo tratadas as áreas de Mata Atlântica, Serra do Mar e manguezais, faz com que seja urgente o levantamento dos benefícios ecológico, social e econômico gerados por esses ecossistemas e a aplicação da legislação vigente.

Os resultados obtidos apontam para o relacionamento incorreto entre o homem e o meio ambiente, destacando que os impactos sobre os manguezais são de duas categorias:

a) poluição do estuário, mediante o lançamento de resíduos, a deposição de esgotos domésticos e a especulação imobiliária;

b) degradação que ocorre pela invasão dos manguezais. No caso do ecossistema manguezal, faz-se necessário conhecer a sua estrutura e

função, além de se avaliar as respostas aos tensores que atuam sobre o sistema. É necessário desenvolver um sistema de monitoramento permanente de dados, numa tentativa de identificar fenômenos ecológicos que se processam numa escala de tempo.

O presente estudo visou não somente contribuir para a melhor compreensão da importância dos ecossistemas abordados, como também a divulgação e implantação do uso de imagens de satélite, apresentando contribuição significativa para estudo do meio ambiente.

É importante salientar a necessidade de gerar subsídios para que os alunos possam se familiarizar com a metodologia empregada, entendendo que as imagens geradas por satélite representam uma ferramenta para despertar o interesse e expandir o conhecimento dos mesmos em relação aos temas abordados em aula, sendo indispensável a coleta de informações, dados, discussões e estudo do meio propriamente.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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