análise literária de livro infantil

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COMO AVALIAR O TEXTO LITERÁRIO – CRITÉRIOS DE ANÁLISE Literatura Infantil – aspectos a serem desenvolvidos A natureza da Literatura Infanto-Juvenil está na Literatura e esta é uma manifestação artística. Assim, a Literatura Infantil é Arte e não pode trair seu leitor – a criança, com livros meramente educativos, intencionalmente pedagógicos. Ser infantil não significa ser “menor”, pueril, frívolo. Se assim for compreendida a Literatura Infanto-Juvenil, estaremos “esmagando” o leitor com ensinamentos direcionados, moral evidente, afastando o leitor do prazer de ler. A função da Literatura Infanto-Juvenil é entreter e até instruir, desde que o leitor tire suas conclusões, por meio de textos que ofereçam interpretações, que apresentem uma plurissignificação-conotação de sentido. Tendo por objetivo desenvolver o gosto estético, o prazer por ler, a valorização da cultura – costumes e tradições, a Literatura Infanto-Juvenil influirá diretamente no processo educativo e formativo do ser. Dessa forma, o futuro professor deve ter consciência da importância dos critérios de análise dos livros para crianças, bem como conhecer seu desenvolvimento psicológico e o livro mais adequado. Como levar o futuro professor a avaliar a obra infantil? Faz-se importante que o professor conheça e leia diferentes textos infanto-juvenis, verificando no texto, em prosa ou em verso, suas características; seu valor artístico; a consciência de mundo do autor; a mensagem. É fundamental observar que o texto infantil, por ser dirigido à criança, não deve ser tomado por “menor”, como já vimos. O texto deve falar à área da criação, da interpretação, ser interessante e agradar. O texto pueril, ingênuo, tolo, torna a leitura cansativa, a história sem expressão – não atraente, e a criança o rejeita por ser limitado, por não abrir caminhos à sua imaginação. Geralmente, esse tipo de texto vem pronto, não permite à criança interpretar, sonhar... Dessa forma, o valor artístico perde-se com o empobrecimento da matéria literária. Exemplo de puerilidade e pensamentos convencionais no texto infantil: “Florzinha bonita é a rosa.../ Que perfume tem o jasmim!/ E a violeta mimosa/ Dá encanto num jardim.// Das flores, a mais cheirosa, / A que tem maior valor,/ É a criança bondosa:? Tem o perfume do amor!” O que prevalece nessa poesia é a rima, através de um esquema comum. Quanto ao conteúdo, oferece valores ultrapassados que reforçam apenas as aparências e uma ingenuidade tola. Torna-se imprescindível esclarecer o futuro professor sobre os critérios a utilizar para a avaliação do texto literário. Como avaliar o texto literário:

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Análise literária de livro infantil

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COMO AVALIAR O TEXTO LITERÁRIO – CRITÉRIOS DE ANÁLISE Literatura Infantil – aspectos a serem desenvolvidos A natureza da Literatura Infanto-Juvenil está na Literatura e esta é uma manifestação artística. Assim, a Literatura Infantil é Arte e não pode trair seu leitor – a criança, com livros meramente educativos, intencionalmente pedagógicos. Ser infantil não significa ser “menor”, pueril, frívolo. Se assim for compreendida a Literatura Infanto-Juvenil, estaremos “esmagando” o leitor com ensinamentos direcionados, moral evidente, afastando o leitor do prazer de ler. A função da Literatura Infanto-Juvenil é entreter e até instruir, desde que o leitor tire suas conclusões, por meio de textos que ofereçam interpretações, que apresentem uma plurissignificação-conotação de sentido. Tendo por objetivo desenvolver o gosto estético, o prazer por ler, a valorização da cultura – costumes e tradições, a Literatura Infanto-Juvenil influirá diretamente no processo educativo e formativo do ser. Dessa forma, o futuro professor deve ter consciência da importância dos critérios de análise dos livros para crianças, bem como conhecer seu desenvolvimento psicológico e o livro mais adequado. Como levar o futuro professor a avaliar a obra infantil? Faz-se importante que o professor conheça e leia diferentes textos infanto-juvenis, verificando no texto, em prosa ou em verso, suas características; seu valor artístico; a consciência de mundo do autor; a mensagem. É fundamental observar que o texto infantil, por ser dirigido à criança, não deve ser tomado por “menor”, como já vimos. O texto deve falar à área da criação, da interpretação, ser interessante e agradar. O texto pueril, ingênuo, tolo, torna a leitura cansativa, a história sem expressão – não atraente, e a criança o rejeita por ser limitado, por não abrir caminhos à sua imaginação. Geralmente, esse tipo de texto vem pronto, não permite à criança interpretar, sonhar... Dessa forma, o valor artístico perde-se com o empobrecimento da matéria literária. Exemplo de puerilidade e pensamentos convencionais no texto infantil: “Florzinha bonita é a rosa.../ Que perfume tem o jasmim!/ E a violeta mimosa/ Dá encanto num jardim.// Das flores, a mais cheirosa, / A que tem maior valor,/ É a criança bondosa:? Tem o perfume do amor!” O que prevalece nessa poesia é a rima, através de um esquema comum. Quanto ao conteúdo, oferece valores ultrapassados que reforçam apenas as aparências e uma ingenuidade tola. Torna-se imprescindível esclarecer o futuro professor sobre os critérios a utilizar para a avaliação do texto literário. Como avaliar o texto literário:

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A análise do texto procura todas as possíveis relações entre a escritura literária e o universo criado por ela (que é a obra em seu todo). Procura também as relações entre a obra e seu momento histórico, social, político, econômico e cultural. Com esse processo, tentamos descobrir em que medida a obra difere ou não dos esquemas consagrados em seu tempo; em que medida sua matéria literária pode ser diluidora (fórmulas de textos já desgastadas, sem nenhuma preocupação com a arte literária). De acordo com COELHO (1982), a análise avança a partir de uma série de perguntas: a) O que a obra transmite? Qual seu enredo, assunto, trama? b) Como isso é expresso em escritura literária? Quais os recursos de linguagem ou de estrutura escolhidos pelo autor? Qual a intenção que predomina nessa escolha: a estética ou a ética? (a primeira dá ênfase ao fazer literário; a segunda, aos padrões de comportamento...) c) Qual a consciência de mundo (ou sistema de valores) ali presente ou latente? (oculto; disfarçado; subentendido). Há ou não coerência orgânica na construção da obra? Entre estilo, recursos expressivos, problemática e consciência de mundo? (É essa organicidade que lhe dá o valor de obra literária). d) Qual a intencionalidade do autor que pode ser percebida na obra? Qual seria sua finalidade em relação ao leitor? Divertir, instruir, educar, emocionar, conscientizar? As indagações levantadas sobre a análise da obra literária ajudam muito no momento da avaliação; é um caminho para o futuro professor poder realizar uma leitura mais detida, menos ingênua que o levará a perceber melhor o texto, suas idéias e intenções em relação ao seu discurso literário (a forma) e todo o “jogo” de construção que envolve esses elementos para resultálo num texto arte. Esses aspectos são fundamentais para uma leitura crítica e para levar o leitor a encontrar o “belo” na obra literária, o seu valor estético, princípio básico da Arte. Observação: ...é a adequação entre consciência de mundo (implícita na intencionalidade da obra) e a natureza do discurso literário (= linguagem que dá corpo à consciência de mundo) que nos permite conhecer o “grau” de criatividade que dá à obra o seu maior ou menor “valor literário.” Aspectos importantes: • A análise da obra literária permite ao professor perceber a consciência de mundo implícita na obra e o seu valor literário. • O professor precisa analisar a obra literária como um todo e verificar a que faixa etária está mais adequada. • O professor precisa avaliar a obra literária infanto-juvenil, segundo os valores que veicula, porque a criança é ainda um leitor imaturo intelectualmente.

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• O professor precisa cultivar na criança, por meio da leitura e da interpretação, um espírito crítico-reflexivo. 14.1 COMO AVALIAR A IMAGEM DA OBRA LITERÁRIA INFANTO-JUVENIL A ilustração de um texto ocorre fundamentalmente em livros para pequenos leitores, aqueles que ainda não sabem ler a palavra, pois é um símbolo complexo e depende de um aprendizado para a relação convencionalmente estabelecida entre a palavra e o ser a que se refere. Para, então, desenvolvermos o gosto pela futura leitura e o prazer pelas histórias que são lidas para elas, a ilustração enquanto arte é um recurso essencial a essa fase. A ilustração possibilita à criança mergulhar no universo encantado da literatura infantil; por isso é grande a responsabilidade do ilustrador, do editor e mesmo do professor ao escolher um livro às crianças que não construíram ainda seu processo de leitura e escrita. O livro de literatura infantil, quando escrito e ilustrado com arte, é o encontro de pelo menos dois artistas, que propiciam à criança o prazer por ler a imagem e contar sua história. A ilustração de um livro só tem validade se houver valor artístico, se assim for, inscreve-se no plano conotativo e possibilita às crianças o desenvolvimento da imaginação, da criação. Segundo ANGELINI (1991:27-28), “... ilustrar não significa desenhar e pintar com perfeição, reproduzindo o texto, o que deve ser ressaltado é o valor artístico da técnica a ser utilizada: desenho, pintura, colagem etc. É essencial saber jogar criativamente com cores e formas; pois a imagem deve ser um caminho para o despertar da imaginação; portanto não deve reproduzir o texto escrito nem se distanciar da história. Os dois tipos se limitam, não dão chance ao leitor de imaginar. A ilustração, como o texto, com valor artístico, falam à sensibilidade e levam a criança ao gosto estético, à possibilidade de se soltar no mundo da fantasia.” Aspectos que comprometem a ilustração artística na literatura infantil A ilustração estereotipada, a qual não oferece ao leitor nenhuma possibilidade de imaginar, por não apresentar inovação, torna-se muito simples e, geralmente, sua intenção é reproduzir o texto ou se apoiar no colorido para chamar a atenção. Ainda há ilustrações que se distanciam do texto e outras que o traduzem. As duas propostas estão equivocadas por não apresentarem nada de criativo, sugestivo à criança. Outro aspecto a considerar é o exagero de detalhes. De acordo com CUNHA (2004:76), “Um engano muito freqüente nas edições infantis é supor que o número de elementos, a superposição de detalhes, sejam dados positivos com relação à criança. Muitas vezes a ilustração perde a unidade, desintegra o texto, torna-se um amontoado de mau gosto. Há livros que chegam a apresentar, nas linhas do próprio texto, desenhos “traduzindo” as palavras da história. Diferem das cartas enigmáticas, porque trazem as palavras escritas ao lado do desenho. As cartas enigmáticas são mais interessantes, porque pelo menos são um jogo.”

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A ilustração e o pequeno leitor - aspectos importantes Para crianças bem pequenas – livros em que prevaleça a ilustração. O texto deve ser curto e levar a criança ao encontro das imagens. Nessa fase, pode-se apresentar à criança os “livros-vivos” (nomenclatura usada na França) ou livros-brinquedo. São livros que têm apelo visual, as imagens são ferramentas e mediadores que entram no universo lúdico da criança, possibilitando ao leitor o prazer com o texto. Os “livros-vivos” funcionam também como estratégia para atingir os não-leitores. São os livros com diferentes texturas, formatos, sons, que propõem uma interação maior com a criança, pois se identificam com os jogos. Já os “álbuns de figuras” ou os livros de imagens estimulam a percepção visual e motriz das crianças e atendem às necessidades básicas da primeira infância. O material desses livros pode ser de pano, plástico, papel grosso etc. Esse é o momento em que, ao mesmo tempo em que as crianças descobrem as formas concretas do mundo e dos seres que a rodeiam, também começam a conquistar a linguagem. • Para crianças que já iniciaram seu processo de leitura – ainda deve predominar a ilustração, e o texto ainda deve ser curto e apresentar “letras grandes”, como no “álbum de figuras”. • Para crianças que já desenvolveram sua leitura, é importante reduzir as ilustrações e pôr em evidência o texto. • Para crianças a partir de nove e dez anos, que já são leitoras, os livros podem conter imagens; porém, é fundamental que sejam incentivadas a ler livros sem imagem. Segundo CUNHA, (2004:75), “Se o texto for suficientemente interessante e o livro tiver uma diagramação cuidada, a leitura não pesará à criança. Se pesar, devemos tomar o fato como um alerta: talvez ela tenha sido exageradamente “poupada”, através de leituras muito fáceis e excessivamente cheias de gravuras. O excesso de ilustrações, nessa fase, é sinal do quanto subestimamos a criança, não a considerando capaz de qualquer esforço intelectual.” Paginação e diagramação A relação texto-imagem-espaço é que vai dar ao livro momentos especiais, marcar diferentes sentimentos que se queira sugerir como suspense, expectativa, surpresas; momentos cruciais e envolventes à história. Outros elementos também são essenciais, o tipo de papel, o tipo de capa e a forma de acabamento do livro. Tais aspectos vão determinar a qualidade artística do livro, bem como o seu custo. Quanto à editoração de livros infanto-juvenis, é preciso cuidar da ilustração com o mesmo cuidado com relação ao texto.

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Muitos são os aspectos que devemos avaliar para a indicação de um bom livro na literatura infanto-juvenil. Dessa forma, compete aos educadores ampliarem sua visão frente ao universo da literatura infantil-juvenil enquanto arte. Aspectos relevantes: • As ilustrações dos livros infantis devem ser reduzidas, à medida que as crianças evoluem na leitura. • A ilustração nasce da leitura que um artista fez de outro artista, o escritor. • A ilustração artística deve ser conotativa. • Para as crianças pequenas, é preciso prevalecer a ilustração no livro, cujo objetivo é desenvolver seu interesse pela leitura. • Para crianças que começaram a ler, ainda deve predominar a imagem. • A ilustração no campo da literatura infantil só é válida se for artística. • À medida que a criança evolui na leitura, as ilustrações vão se reduzindo.