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ANÁLISE HISTÓRICA DAS POLÍTICAS NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

Karina Inês Paludo 1

Juliana Fatima Serraglio Pasini 2

Introdução

Os acontecimentos na área da educação brasileira, sempre estiveram atrelados

aos interesses do sistema de governo vigente, assim sendo, faz-se necessária a análise

do contexto político, social, econômico e cultural de cada período histórico para se

compreender as políticas educacionais desencadeadas em dado momento.

Para fins didáticos, e que possibilitará uma maior organização das idéias, partir-

se-á da demarcação temporal que compreende ao marco inicial da educação no Brasil, a

chegada dos Jesuítas em 1549. A educação neste período era voltada para o ensino de

primeiras letras, catequese, música, iniciação profissional, e no ensino de humanidades,

filosofia e teologia. Já em 1556, a educação jesuítica tem o seu foco na educação dos

filhos dos colonos e na formação dos futuros sacerdotes. Para tanto, aparecem os

primeiros colégios jesuíticos, onde representam a principal instituição de formação.

Ainda no Brasil Colônia, em 1759, há a expulsão dos Jesuítas e, institui-se o

Período Pombalino. Neste momento o poder público estatal passa a ser o responsável

pela definição dos rumos da educação brasileira. Com a vinda da Família Real para o

Brasil (1808) e extinção da Reforma Pombalina, tem-se a valorização do aspecto

cultural e, sobretudo do ensino superior para formar indivíduos que pudessem ocupar os

cargos.

Tal iniciativa acarreta na criação de institutos superiores, bibliotecas e museus.

Sob a égide da Independência (1822), o Brasil Império (1822-1889) é marcado pelo

reconhecimento da importância da instituição escolar, além deste, um aspecto marcante 1 Formada em Pedagogia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste. Pesquisadora do Grupo de Pesquisas em Práticas Educativas – Mediar. Professora da rede municipal de Foz do Iguaçu/PR. 2 Formada em Pedagogia pela União Dinâmica de Faculdades Cataratas. Professora da rede municipal de Foz do Iguaçu/PR.

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se refere à descentralização do ensino, onde a educação elementar e secundária passa a

ser incumbência das províncias.

A República (1889-1930), por sua vez, traz consigo aspirações de mudanças na

educação, traduzidas nos projetos de reformas do período, a saber: Reforma Benjamin

Constant (1890), Reforma Epitáfio Pessoa (1901), Reforma Rivadávia Corrêa (1911),

Reforma Carlos Maximiliano (1915) e Reforma João Luis Alves (1925). Neste período,

se vê grande mobilização no campo educacional, como resultado, em 1924, há a criação

da Associação Brasileira de Educadores (ABE), com bandeira da defesa da escola

pública.

Diante desse cenário, grandes educadores que viriam posteriormente trazer

contribuição para a educação brasileira, aparecem: Anísio Teixeira, Lourenço Filho,

Fernando Azevedo, Carneiro Leão, Mário Casassanta e Francisco Campos. Essa intensa

participação dos educadores nas questões educacionais culminou em uma ebulição de

idéias pedagógicas, marcando de forma significativa os anos 30 e 40.

Apesar da resistência do governo fatos importantes ocorreram: a criação do

Ministério de Educação e Saúde (1930), Reforma Francisco Campos (1931-1932),

Manifesto dos Pioneiros (1932), Reforma Gustavo Capanema (1942-1946).

Já em 1964, com a Ditadura Militar (1964 – 1985), a educação passa a ser

controlada por duas leis: a Reforma Universitária (Lei n.º 5.540/1968) e a Reforma do

Ensino de 1º e 2º graus (Lei nº. 5.692/1971), além de um conjunto de decretos-lei.

Com o retorno ao Estado Democrático (1985), não se tem um brusco movimento

de mudança, e sim, um processo lento. Assim, desde 1985 até 2003 (escolheu-se

delimitar este trabalho no ano de 2003, visto o fim do mandato de FHC) busca-se a

construção de uma democracia, onde seja possível a apropriação por parte de todos os

brasileiros, o acesso à seus direitos básicos sociais.

Nesta conjuntura, em busca da democracia perdida, promulga-se uma nova

constituição, seguida de uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº

9.394/96) e a ampliação e formulação de vários programas, o que nos permitiu

compreender como se deu a condução da política educacional brasileira.

Desenvolvimento

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A organização social do Brasil se estende desde a chegada dos portugueses até

nossos dias atuais. A fim de compreender melhor as políticas educacionais dadas em

cada momento, analisaremos, a seguir os contextos sociais.

O Brasil colônia tem início em 1500 quando aqui chegam os portugueses com

objetivo supra de explorar as riquezas. No inicio com muita resistência por parte dos

nativos, mas que, acabam cedendo à exploração por troca de mercadorias trazidas da

Europa.

Já em 1532 com o fim de evitar a invasão para outros países e controlar todo o

território brasileiro, se institui o regime das capitanias hereditárias. No entanto, esse

regime, por muitas razões, não teve êxito. Dessa forma, em 1549 é instituído o sistema

de Governo Geral para facilitar a condução das atividades das capitanias à Metrópole.

Ao lado desse sistema de governo, dá-se inicio à história da educação brasileira,

com os padres jesuítas, chefiada por Manoel da Nóbrega, a conhecida Companhia de

Jesus.

Freitas e Vieira (2003) colocam que os jesuítas tinham a missão de difundir a fé

católica, onde a conversão dos indígenas era dada através da catequese e da instrução.

O trabalho desenvolvido pelos jesuítas teve duas fases distintas: a primeira, voltada para

o ensino de primeiras letras, catequese, música e alguma iniciação profissional (ensino

elementar), estas orientadas pelo plano de estudos desenvolvido por Manoel da

Nóbrega; a segunda, amparada nos princípios do Ratio Studiorum, ensinava teologia,

filosofia e humanidades (ensino secundário).

A partir de 1956, com a instauração das “Constituições da Companhia de Jesus”,

a educação dos filhos dos colonos e a formação dos futuros sacerdotes, passa a ser a

principal preocupação. Aparecem então, os Colégios Jesuíticos, as primeiras instituições

para formação da elite colonial. Esta educação, pautada no método da imitação, era na

verdade, usada como mecanismo para aceitação da ordem social vigente.

É inegável o poder político e econômico que os jesuítas exerceriam, assim

sendo, por motivos políticos, o ministro Marques de Pombal, em 1759, os expulsa do

Brasil: com a saída dos jesuítas, tem-se uma ruptura da organização de ensino

instaurada no Brasil Colônia.

Contrário a visão religiosa imposta à educação pelos jesuítas, Pombal tenta

responsabilizar a Metrópole pela educação, passando para uma educação publica e laica

e não mais religiosa como existia. “Como se vê, o período pombalino demarca um

momento importante na história da educação brasileira, quando entra em cena o poder

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público estatal como agente responsável pela definição de rumos nesse campo”

(FREITAS & VIEIRA, 2003, p. 37).

Apesar de Pombal, não ser favorável à concepção religiosa na educação, na

tentativa de se oficializar o ensino, o Estado passou a exercer sua função educativa com

auxílio da igreja.

Nesse período, teve-se a promulgação das primeiras leis para a educação, sendo

estas: lei que cria a ‘Real Mesa Censória’ (1768), responsável pelos negócios da

educação; lei que cria as ‘Escolas Menores’ (1772); alvará de lei que regula a cobrança

do ‘Subsidio Literário’ (1772), imposto para manter o ensino elementar e secundário.

Esta, no entanto, não significava iniciativa efetiva da instrução pública, já que as escolas

públicas eram mantidas com a ajuda de taxas locais cobradas sobre objetos. Assim

sendo, foi extinta em 1835, com registros de fraudes e desvios (FREITAS & VIEIRA,

2003).

A partir da Reforma Pombalina, são instituídas as aulas régias, que funcionavam

como aulas de disciplinas isoladas. Estas aulas foram autorizadas a partir do alvará de

1772, sendo ministradas por professores despachados de outros países e, aconteciam

apenas em algumas regiões do Brasil.

De acordo com FREITAS & VIEIRA (2003) que chamam a atenção para o fato

de que ainda que a reforma pombalina tivesse a pretensão de instituir um sistema de

instrução pública, isto não aconteceu. Representou antes, a interferência estatal em

todos os segmentos sociais, sendo desta forma uma tentativa de ajustamento da escola

às novas condições da vida política e social.

Com a vinda da família Real ao Brasil (1808), a preocupação transcende apenas

à obtenção de lucros e, passa a permear o campo cultural. Nesse sentido, são criados os

primeiros cursos superiores, também a Imprensa Régia (1808), a Biblioteca Pública

(1810), hoje, Biblioteca Nacional, o Jardim Botânico (1810), Museu Nacional (1818), e

os primeiros jornais e revistas: Gazeta do Rio (1808), Variações ou Ensaios de

Literatura (1812) e O Patriota (1813) (FREITAS & VIEIRA, 2003, p. 44).

Em 1822 com a Proclamação da Independência, a Família Real retorna à

Portugal, e instaura-se o Império que corresponde ao Primeiro Reinado, Regência e

Segundo Reinado, consecutivamente. O Primeiro Reinado se refere ao período em que

D. Pedro I governou o Brasil (1822 – 1931).

Em 1823 é instalada a Assembléia Constituinte, mas pouco tempo depois, foi

dissolvida por apresentar ameaças ao poder imperial. Sendo então, outorgada em 1824,

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a primeira Constituição Brasileira. Esta, de cunho centralizador, trazia os três poderes,

mais um quarto poder – o moderador, onde através deste o imperador podia fiscalizar os

outros três poderes. A par deste autoritarismo, D. Pedro I tornou-se impopular e, frente

a uma manifestação popular apoiada pelo exército, no dia 07 de abril de 1831

renunciou.

A Carta Magna de 1824, por sua vez, trazia pouca preocupação pela questão

educativa, não garantindo educação primária para todos, mas sim, gratuita.

Destaca-se ainda neste período, um importante instrumento legal para a

educação, a primeira lei geral da educação do país, lei de 15 de outubro de 1827. Esta

lei determinou sobre a obrigação de haver escolas de primeiras letras por todo o

território nacional, o método de ensino a ser adotado, previsão de formas de provimento

de professores e capacitação, que conteúdos do ensino deveria se ministrar, entre outros.

Embora não tendo impacto significativo sobre a nascente organização do ensino,

assinala um traço marcante da política educacional brasileira a preocupação com os

aspectos legais.

Em 1828, é promulgada a lei que cria as Câmaras Municipais em cada cidade e

vila do Império, onde tinha suas funções no campo educacional.

Segundo Freiras e Vieira,

[...] fato marcante do Império é a descentralização do ensino, encaminhada oficialmente através do Ato Adicional de 1834. Esse instrumento legal (...), consolida a atribuição das responsabilidades para com a educação elementar e secundária à esfera das províncias. Com efeito desde a vinda da família real para o Brasil que o sistema começara a descentralizar-se, encarregando-se o Poder Central das responsabilidades relativas ao ensino superior e à educação básica ministrada no Município da Corte” (2003, p. 54)

O Segundo Reinado é palco de inúmeras reformas no campo educacional, a

saber: Reforma Couto Ferraz – reforma do Ensino Primário e Secundário no Município

da Corte (Decreto nº 1.331, de 17 de fevereiro de 1854); Reforma Luis Pedreira- novos

estatutos para os Cursos Jurídicos (Decreto nº 1.386, de 28 de abril de 1854), e para as

Escolas de Medicina (Decreto nº 1.387, de 28 de abril de 1854); Reforma Leôncio de

Carvalho: criação de cursos noturnos para adultos analfabetos nas escolas públicas de

instrução primária no Município da Corte (Decreto nº 7.031, de 6 de setembro de 1878)

e reforma ensino primário e secundário no Município da Corte e do superior em todo o

Império (Decreto nº 7.247, de 19 de abril de 1879). (FREITAS & VIEIRA, 2003, p. 63).

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Ainda que estas propostas representassem um norte para a organização da

política educacional, caminharam antes para o fracasso. Um dos motivos para tal foi a

insuficiência de infra-estrutura e, a preocupação pela manutenção da hegemonia

econômica e social por parte da elite, culminando dessa forma, para a permanência do

caráter seletivo da educação.

Como se viu, o Império se constitui num certo avanço em “termos de

iniciativas”, ao campo educacional se comparado ao período anterior. No entanto, as

iniciativas visam suprimir ou apenas dar respostas aos problemas emergenciais e, a

educação, orientada por padrões importados, não está de fato nas preocupações centrais

do governo. Dessa forma, o acesso à escola é permitido apenas a uma minoria.

Em 1889, o Marechal Deodoro da Fonseca através de um golpe militar de

Estado, decreta fim do período imperial, dando início de um período republicano

ditatorial, perdurando até o ano de 1930.

A República Velha é marcada por levantes e insatisfações contra o poder

constituído. Em 1891, tem-se a primeira Constituição republicana. Com princípios

federalistas, aumentam o poder e a autonomia das antigas províncias, agora Estados.

Esta também extingue o Poder Moderador, mantendo apenas os três poderes

tradicionais além de instituir o voto direto, ainda que apenas para os homens maiores de

21 anos e a separação entre Estado e Igreja.

A educação por sua vez, é centrada no caráter patriótico e cívico. Juntamente

com o advento da República, tem-se o desejo por mudanças na educação. Assim sendo,

uma série de proposta de reformas são desencadeadas, a saber: Reforma Benjamin

Constant (1890) – aprovação do Regulamento da Instrução Primária e Secundária do

Distrito Federal (Decreto nº 981, de 8 de novembro de 1890), Regulamento para o

Ginásio Nacional (Decreto nº 1.075, de 22 de novembro de 1890), criação e aprovação

do Regulamento do Conselho de Instrução Superior (Decreto nº 1232, de 2 de janeiro de

1890). Com esta, a educação foi organizada em escola primária (com dois níveis: 1º

grau – crianças de 7 a 13 anos; 2º grau – crianças de 13 a 15 anos), secundária (com

duração de 7 anos) e superior. Esta reforma foi influenciada pelo ideário positivista, esta

se deu na “defesa dos princípios e laicidade do ensino, além da gratuidade da escola

primária” (FREITAS & VIEIRA, 2003, p. 77).

A Reforma Benjamin Constant, buscou duas mudanças principais: “tornar os

diversos níveis de ensino ‘formadores’ e não apenas preparadores dos alunos, com

vistas ao ensino superior” (FREITAS & VIEIRA, 2003, p. 77), para tanto, institui o

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‘exame de madureza’, com o objetivo de verificar a habilidade intelectual do aluno ao

concluir o ensino secundário e, a segunda mudança, consistiu na busca de uma educação

fundamentada na ciência, para tanto, foi acrescida ao currículo escolar conteúdos

científicos em contraposição dos tradicionais (humanística clássica).

A Reforma Epitáfio Pessoa, por sua vez, de cunho centralizador, voltada para o

ensino secundário e superior, se concretizou através da aprovação do Código de

Institutos Oficiais de Ensino Superior e Secundário (Decreto nº 3.890, de 01 de janeiro

de 1901) e do Regulamento para o Ginásio Nacional (Decreto nº 3.914, de 26 de janeiro

de 1901). Esta reforma inclui no currículo escolar a disciplina de Lógica, excluindo

outras, como Biologia, Moral e Sociologia.

Já a Reforma Rivadávia Corrêa, baseada em idéias positivas, institui a aprovação

da Lei Orgânica do Ensino Superior e do Fundamental na República (Decreto nº 8.659,

de 05 de abril de 1911) e o Regulamento do Colégio Pedro II (Decreto nº 8.660, de 05

de abril de 1911). “A iniciativa defendia a desoficiliação do ensino e de sua frequência

através da criação de institutos; a abolição dos diplomas, que cederiam lugar para

certificados de assistência e aproveitamento; a realização dos exames de admissão pelas

próprias Faculdades sob a justificativa de que o ensino secundário não poderia voltar-se

para o ingresso no ensino superior” (FREITAS & VIEIRA, 2003). Esta reforma, antes

veio como um retrocesso para o campo educacional, uma vez que, aos estabelecimentos

de ensino, era dada toda a autonomia para funcionamento.

As reformas posteriores tiveram como maior objetivo reorganizar o sistema.

Nesse sentido, a Reforma Carlos Maximiliano, voltou-se para a reforma do ensino

secundário e regulamentou o ensino superior na República (Decreto nº 11.530, de 18 de

março de 1915).

E por ultimo, a Reforma João Luis Alves, que reforma o ensino secundário e

superior e, organiza o Departamento Nacional de Ensino. Uma das maiores iniciativas

desta reforma foi responsabilizar a União pela expansão do ensino primário e, extinção

de exames preparatórios e parcelados. Como a Republica mantém a responsabilidade do

governo central para com o ensino superior e a instrução primaria e secundário no

Distrito Federal (Rio de Janeiro), a maioria das iniciativas atinge os Estados apenas de

forma indireta.

Ainda que o maior dispêndio de atenção fosse destinado ao ensino secundário e

superior, não se pode negar, as mudanças no campo educacional deste período.

Tiveram-se importantes avanços para a educação, a exemplo da criação da Associação

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Brasileira de Educadores – ABE, em 1924. Destaca-se a presença de importantes

educadores, Anísio Teixeira, Lourenço Filho e Fernando de Azevedo. Esta entidade

(ABE), tida como espaço para defesa da educação, representou o compromisso e luta de

educadores em relação às questões da educação. A partir desta, surgem as Conferências

Nacionais de Educação, acontecendo a primeira em 1927. Através desse ambiente de

discussão, os debates pedagógicos abrem caminhos para a mudança no ensino.

Em 1930, através do golpe militar Getulio Vargas, ascende ao poder, onde fica

até o ano de 1945. O período brasileiro vivido sob o governo de Vargas, é traçado por

duas constituições, cada uma marcada pelos interesses da ordem vigente, sendo a

Constituição de 1934, mais democrática, e a Constituição de 1937, de cunho autoritário

(FREITAS; VIEIRA, 2003, p. 87).

Apesar de grande pressão exercida pelo governo, baseado em preceitos

autoritários e centralizadores, teve-se nesse momento, uma grande participação dos

educadores nos assuntos concernentes à educação concretizando-se em uma

efervescência de idéias pedagógicas que marcaram os anos 30 e 40.

Assim sendo, tem-se a Reforma Francisco Campos, o documento intitulado

“Manifesto dos Pioneiros” e a Reforma Gustavo Capanema.

A Reforma Francisco Campos, por sua vez, dispõe sobre o ensino superior

(Decreto nº 19.851, de 11 de abril de 1931), ensino secundário (Decreto nº 19.890, de

18 de abril de 1931) e, sobre a organização do ensino comercial (Decreto nº 20.158, de

30 de junho de 1931). Esta se caracteriza pela centralização educacional, manifestando

o interesse do Poder Central.

Já em 1932, como tomada de frente ao sistema imposto, é elaborado um

documento por iniciativa de educadores liberais, contendo os princípios que deveriam

reger a educação, sob a responsabilidade do Estado, sendo então denominado de

“Manifesto dos Pioneiros”.

A Reforma Gustavo Capanema mais conhecida como ‘Leis Orgânicas do

Ensino’, se refere ao ensino industrial (Decreto nº 4.073, de 30 de janeiro de 1942),

secundário (Decreto nº 4.244, de 09 de abril de 1942), e comercial (Decreto nº 6.141, de

28 de dezembro de 1943). Após a queda de Vargas em 1945, apresentara-se iniciativas

em relação ao ensino fundamental (Decreto nº 8.529, de 2 de janeiro de 1946), ensino

normal (Decreto-lei nº 8.530, de 2 de janeiro de 1946), ensino agrícola (Decreto-lei nº

9.623, de 20 de agosto de 1946), e criação do Serviço Nacional de Aprendizagem

Comercial (SENAC – Decretos-lei 8.621 e 8622, de 10 de janeiro de 1946) e do Serviço

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Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI – Decreto-lei nº 4048, de 22 de janeiro

de 1942).

Apesar das iniciativas dos educadores, não se tem uma mudança efetiva na

educação brasileira. O campo educacional tendeu mais à acentuar a distinção da

educação escolar destinada à elite daquela destinada à classe popular.

Diante do panorama social marcado pelo autoritarismo e centralização, a

destituição de Vargas torna-se inevitável, instaurando dessa forma, um novo modelo de

governo, a Republica Nova, que se dá do ano de 1945 à 1964.

A mudança da forma de governo, não significou de fato uma transformação na

situação vigente. Ainda que Vargas tivesse se afastado do poder, os preceitos getulistas

permaneceram.

Com vista a deter a revolta dos grupos políticos descontentes, em 1946 é

aprovada uma nova Constituição, amparada em preceitos liberais e democráticos. Esta,

por sua vez, trazia em seu texto (artigo 5º) que à União compete legislar sobre as

diretrizes e bases da educação nacional. Neste sentido, segundo VIEIRA (2000) fazia-se

necessário a elaboração de um projeto de Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional. Esta se daria como uma tentativa de se organizar o sistema educacional

brasileiro, que até então, não tinha um regulamento maior.

Apesar dos interesses emergenciais, a LDBEN/61 atendeu ante aos interesses

dos legisladores ao invés de corresponder às necessidades daqueles diretamente ligados:

alunos, professores, escola, enfim, sistema educacional. Dessa forma, através dos

debates entre as várias tendências, mais precisamente, as de cunho conservador e

liberal, resultou em um projeto, e mais adiante na promulgação de uma lei gestada nos

princípios da conciliação, baseados em critérios comerciais, destituído do interesse

maior: a educação de milhares de crianças. Assim sendo, ao nascer a LDB/61, já era tida

como velha, por não corresponder às necessidades do contexto cultural, social,

econômico e político, daquele determinado cenário histórico.

Já em 1964, com um novo golpe militar, se instaura o Regime Militar ou

Ditadura, que perdurará até 1985. Neste período o país tem um grande

desenvolvimento, mas não se pode afirmar o mesmo no que concerne do campo

educacional. Este por sua vez, foi ditado por duas leis, duas reformas que constituíram o

principal fator da educação no regime militar, de cunho autoritário, sendo respostas

educacionais do governo militar, a saber: Reforma do Ensino Superior (Lei nº 5.540, de

1968) e Reforma do Ensino de 1º e 2º grau (Lei nº 5.692, de 1971).

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A Reforma Universitária traz novidades na organização do ensino superior. As

iniciativas mais importantes que esta trouxe foram “a estrutura departamental, o sistema

de créditos e de matriculas por disciplinas, o ciclo básico, a carreira universitária única,

a indissociabilidade entre o ensino e a pesquisa, dentre outras” (FREITAS & VIEIRA,

2003, p. 133). Ainda segundo as autoras esta “não trazia em seu bojo uma proposta

pedagógica”, sendo traduzida apenas no aumento das vagas, ”sobretudo às expensas de

estabelecimentos isolado de ensino, em cursos de custo baixo, muitas vezes, sem

perspectivas de inserção de seus egressos no mercado de trabalho”. (2003, p.113).

A Reforma do Ensino de 1º e 2º graus, por sua vez, se deu na tentativa de conter

a demanda pela educação superior. Assim sendo, oferecia-se à população cursos de

nível médio profissionalizante, e então os jovens se contentariam com uma qualificação

profissional de nível médio e não procurariam o ensino superior. Com a reforma de 71,

os cursos primário e ginasial são substituídos pelo ensino de 1º grau (formação da

criança e do pré-adolescente, com 8 anos de duração, sendo obrigatório dos 7 aos 14

anos) e o ensino médio passa a ser chamado de ensino de 2º grau (formação integral do

adolescente, com três ou quatro anos de duração). FREITAS e VIEIRA (2003, p. 136)

acrescentam ainda que, com esta reforma, “(...) é concebido um currículo pleno do

ensino de 1º e 2º Graus, o qual compreende uma parte da educação geral e outra de

formação especial”, esta formação especial, era destinada à formação profissionalizante.

Esta reforma, no entanto, ficou apenas no papel, concretizando num fracasso uma vez

que, não possibilitou infra-estrutura nem recurso humanos e pedagógicos.

Sendo essas duas reformas a tradução dos feitos para a educação no período

militar, percebe-se o maior dispêndio de atenção à educação superior em arbitrariedade

do ensino de 1º e 2º grau. É valido ressaltar o acréscimo de matriculas no ensino de 1º e

2º graus, em contrapartida no ensino superior, em estabelecimentos públicos. No

entanto, a educação era pautada no caráter técnico e racionalizador.

Agora em 1985, com o fim do regime militar e entrada lentamente ao Estado

Democrático, faz-se imprescindível um novo projeto de educação. Já que aquela escola

baseada em princípios autoritários, não atendia aos novos problemas sociais.

A mudança de ordem política não traz consigo um projeto definido. O que se

tem latente é o desejo político de mudança e a concretização do estado de direito,

garantindo à todos os brasileiros o acesso a seus direitos sociais básicos.

As primeiras iniciativas no campo educacional, sob o governo de José Sarney, se

concretizam no documento Educação para Todos: caminhos para mudança (Brasil,

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1985). Além deste, acontece o Dia Nacional de Debate sobre a Educação (Dia D da

Educação), em 1985, com participação popular, além dos Estados, Municípios e

escolas. Tais iniciativas são centradas na busca pela universalização da educação básica.

Apesar destas iniciativas, os maiores esforços são centrados na elaboração do

capítulo referente à educação da nova Constituição Federal, onde os educadores

estavam mobilizados desde 1986, com a formação de um Congresso com poderes

constituintes. A Constituição então promulgada em 1988 traz em seu texto o mais

longo capítulo destinado à educação já tido nas constituições brasileiras. Mobilizados

em torno de uma nova Constituição, em paralelo, já acontece os debates para elaboração

de uma nova LDB.

Apesar da promulgação da nova constituição, fato importante do período

governado por José Sarney (1985-1990), não se pode falar em uma mudança

significativa nos rumos da política educacional, caracterizando antes, pelo

assistencialismo ao invés de ações transformadoras.

Com o governo de Collor de Mello (1990-1995), não se tem também um projeto

de educação. Suas intenções se materializam no Programa Nacional de Alfabetização

(PNAC), de 1990. Este foi o documento orientador da política educacional do governo

de Collor, voltado à implantação dos artigos constitucionais no que se refere à

universalização do ensino fundamental e eliminação do analfabetismo.

No final de 1990, o governo divulga o Programa Setorial de Ação do Governo

Collor na Área da Educação 1991-1995, que retoma o conteúdo do PNAC.

Em 1991, lança o documento Brasil: um projeto de reconstrução nacional, que

seria o mecanismo fundamental de seu governo. No entanto, em nada contribui para o

processo educacional, uma vez que, com a substituição por Itamar Franco, este

documento cai no esquecimento.

Com o governo de Franco, tem-se um novo rumo para a educação. Seu governo

é pautado na mobilização nacional, onde buscou ouvir a sociedade. Assim sendo, tem-se

a elaboração do Plano Decenal de Educação para Todos (1993), o qual gera planos

decenais de educação elaborados pelos Estados e Municípios e, a realização da

Conferência Nacional de Educação para Todos (1994).

O governo de Franco também elabora instrumentos de planejamento. Assim

sendo, formulou o planejamento global, denominado Diretrizes de Ação

Governamental (1993), e depois o setorial, Linhas Programáticas da Educação

Brasileira (1993/1994).

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A partir de tal analise, percebe-se o um acréscimo positivo o governo de Itamar

em relação aos demais. No entanto, é somente no governo de Fernando Henrique

Cardoso – FHC, que há de fato um rumo norteador para a política educacional

brasileira. Três medidas importantes são materializadas: a Emenda Constitucional nº 14,

de 12 de setembro de 1996, que dispõe sobre a intervenção da União nos Estados, a Lei

de Diretrizes e Bases da Educação e o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do

Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF).

Assim sendo, novamente passado por um longo período de tramitação do projeto

de nova LDB, desde 1988, em 1996 tem-se promulgada a nova Lei de Diretrizes e

Bases da Educação, lei nº 9.394, 1996.

Segundo DIDONET (1997, p. 96-97), esta lei trouxe inovações, sendo as

principais: a) visão de globalidade do processo educativo; b) explicitação e valorização

da dimensão política da educação; c) novas diretrizes para a educação no Brasil; d)

organização do sistemas de ensino; e) insistência na qualidade da educação; f) agilidade

e transparência na transferência e na aplicação dos recursos financeiros; g) valorização

dos profissionais da educação; h) critérios mais rígidos do que os atuais para a

concessão de título de universidade a uma instituição de ensino superior; i) prazos

limitados de credenciamento de instituições de ensino superior e para a autorização e

reconhecimento dos cursos; j) temas emergentes, a nova LDB trata da educação

indígenas, jovens e adultos,infantil, além da educação especial e à distância.

Ainda que por ventura a referida LDB/96 não tenha alcançado as exigências de

todos os setores, é inegável a visível contribuição que trouxe ao sistema brasileiro de

educação.

Através da nova legislação, o governo coloca a definição da política educacional

como sob sua competência, descentralizando sua execução para Estados e Municípios.

E, implanta uma série de medidas: avaliação de todos os níveis de ensino através do

SAEB (Sistema Nacional de Avaliação de Educação Básica); avaliação com os

formandos dos cursos de graduação da educação superior, por meio do Exame Nacional

de Cursos (Provão), instituído em 1996; medição dos conhecimentos dos alunos de

ensino médio através do Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM), de 1998. Ao lado

dessas iniciativas, faz uma ampla reforma curricular no ensino fundamental por meio da

proposição dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN´s). Além destas, amplia e

fortalece alguns programas, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar

(PNAE) e o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Outras iniciativas também

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são validas apresentar: Programa Dinheiro Direto na Escola; Programa TV Escola;

Programa Nacional de Informática na Educação (PROINFO); e o Programa de

Formação de Professores em Exercício (PROFORMAÇÃO), além do Plano Nacional de

Educação (PNE), garantindo na Carta Magna de 1988 tendo um ensaio anterior no

Plano Decenal de Educação, em 1993.

Conclusões

Após essa breve analise histórica da política educacional brasileira, nota-se a

existência de dois marcos no campo educacional: a LDBEN de 1961 e de 1996. Assim

sendo, é possível a percepção de que a nova LDBEN, 9.394/96, trouxe consigo uma

mudança significativa no que se concerne a organização do sistema escolar, visto que,

ante a gestação desta, convivíamos com as leis 4.024/61, 5.540/68, 5.692/71, além de

decretos-leis, englobando a educação básica e a superior. No entanto, não podemos

concluir dizendo que esta nos trouxe apenas avanços. A par do modelo de governo de

FHC baseado na abertura ao mercado externo e, amparado na nova LDB ao que

compete à condução da política educacional brasileira, tem-se a implantação de

financiamentos de agencias multilaterais (Unesco e Unicef) no Brasil, através da

implementação de programas.

Cabe lembrar que, o ideário dos organismos internacionais já se fazia presentes

no discurso pré LDBEN/61, de Anísio Teixeira em 1948, dado a criação do Banco

Mundial em 1944 e, sua efervescência em âmbito internacional.

Faz-se oportuno a ressalva de que, apesar do discurso dos referidos organismos

estarem pautados em princípios econômicos e científicos, é a partir do fator econômico

que as políticas são desenvolvidas, visando a equidade, sem se levar em consideração a

conseqüência destas, e se os objetivos, apenas no plano teórico, foram cumpridos: a

efetivação do ensino e o desenvolvimento do seu alunado.

Referências Bibliográficas

DIDONET, V. LDB: o esforço da sociedade para ter uma nova lei global de

educação. Estudos Leopoldinenses. 1997, 1, 93-108.

FREITAS, I. M. S; VIEIRA, S. L. Política Educacional no Brasil: introdução

histórica. Brasília: Plano, 2003.

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VIEIRA, S. L. Política educacional em tempo de transição. Brasília: Plano,

2000.

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