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1 Mestre em Psicologia - área de concentração - Escolar - Pontifícia Universidade Católica de Campinas PUCCAMP, Doutoranda em Psicologia pela USP e Docente de Psicologia da Universidade São Francisco. Ao longo do seu desenvolvimento, a escola tem sido encarada como uma instituição de natureza bastante específica, cujos objetivos essenciais de transmitir e pro- duzir conhecimentos resultariam na presença de condi- ções diferenciadas em sua estruturação e no seu funci- onamento. Poucos se preocuparam em estudar a insti- tuição escolar como uma organização, no sentido que essa palavra tem na literatura especializada sobre teo- ria e pesquisa das organizações, de natureza psicológi- ca, sociológica e econômica. Não se pode negar que, mesmo com fins específicos e com características únicas, as instituições escolares também são organizações, que funcionam segundo prin- cípios formais e informais e são baseadas em uma cul- tura própria que define suas tarefas e horizontes. Em- bora essa questão não venha recebendo a atenção de- sejada no contexto da educação, a cultura e o clima organizacional escolar permeiam não só os aspectos relativos ao funcionamento e planejamento das atividades escolares, mas também parecem ligados à manifesta- ção de muitos dos problemas educacionais (Oliveira, 1996). Para Druker e Jong (1996), a dificuldade dos profis- sionais reconhecerem o ambiente escolar, seja de pré- escola ou mesmo universitário, como uma organização, decorre de uma visão enganosa ou demasiado limitada desse tipo de ambiente. Posto que, no bojo de suas atividades, existe um grupo de pessoas reunidas em prol de um objetivo comum, que estão dispostas em uma hierarquia de cargos e possuem metas e objetivos a se- Psicologia Escolar e Educacional, 2002 Volume 6 Número 2 123-131 ANÁLISE DO CLIMA ORGANIZACIONAL DO CURSO DE PSICOLOGIA DE UMA UNIVERSIDADE COMUNITÁRIA Keli Cristina de Lara Campos 1 Resumo O estudo do clima organizacional é uma importante ferramenta para diagnóstico e compreensão das organizações, fornecendo subsídios para melhorias futuras. Este trabalho objetivou mensurar o clima organizacional na opinião dos docentes de Psicologia de uma universidade do Estado de São Paulo. A amostra contou com 20 sujeitos sorteados de modo eqüiprobabilístico. Foram utilizados três instrumentos: Questionário de Identificação, Questionário de Clima Organizacional de Kolb e Questionário Descritivo de Clima Organizacional- OCDQ (Forma IV). Os resultados demonstraram que o papel da direção exerce influência na percepção docente. Os docentes avaliaram o clima do curso de Psicologia como paternal- controlado e apresentaram alto nível de descontentamento. Palavras-chaves: Clima organizacional escolar; cultura organizacional; administração escolar. ANALYSIS OF THE ORGANIZATIONAL CLIMATE IN PSYCHOLOGY COURSE OF A COMMUNITY UNIVERSITY Abstract The study of the organizational climate is an important tool for diagnosis and understanding of organizations, supplying subsidies to future improvements. This work aimed to measure the climate organizational according to Psychology teachers’ opinion in an university of São Paulo State. The sample consisted in 20 subjects from Psychology course, selected in an equiprobabilistic way. Three instruments were used: A Questionnaire of Identification, the Organizational Climate Questionnaire of Kolb and the Organizational Climate Descriptive Questionnaire - OCDQ (Forms IV). The results showed that the role of the direction exercises influence in the teachers’ perception. The teachers evaluated the Psychology climate’ as paternal-controlled and they showed high level of dissatisfaction. Key words: Organizational school climate; organizational culture; school administration. INTRODUÇÃO

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1 Mestre em Psicologia - área de concentração - Escolar - Pontifícia Universidade Católica de Campinas PUCCAMP, Doutoranda em Psicologiapela USP e Docente de Psicologia da Universidade São Francisco.

Ao longo do seu desenvolvimento, a escola tem sidoencarada como uma instituição de natureza bastanteespecífica, cujos objetivos essenciais de transmitir e pro-duzir conhecimentos resultariam na presença de condi-ções diferenciadas em sua estruturação e no seu funci-onamento. Poucos se preocuparam em estudar a insti-tuição escolar como uma organização, no sentido queessa palavra tem na literatura especializada sobre teo-ria e pesquisa das organizações, de natureza psicológi-ca, sociológica e econômica.

Não se pode negar que, mesmo com fins específicose com características únicas, as instituições escolarestambém são organizações, que funcionam segundo prin-cípios formais e informais e são baseadas em uma cul-tura própria que define suas tarefas e horizontes. Em-

bora essa questão não venha recebendo a atenção de-sejada no contexto da educação, a cultura e o climaorganizacional escolar permeiam não só os aspectosrelativos ao funcionamento e planejamento das atividadesescolares, mas também parecem ligados à manifesta-ção de muitos dos problemas educacionais (Oliveira,1996).

Para Druker e Jong (1996), a dificuldade dos profis-sionais reconhecerem o ambiente escolar, seja de pré-escola ou mesmo universitário, como uma organização,decorre de uma visão enganosa ou demasiado limitadadesse tipo de ambiente. Posto que, no bojo de suasatividades, existe um grupo de pessoas reunidas em prolde um objetivo comum, que estão dispostas em umahierarquia de cargos e possuem metas e objetivos a se-

Psicologia Escolar e Educacional, 2002 Volume 6 Número 2 123-131

ANÁLISE DO CLIMA ORGANIZACIONAL DO CURSO DE PSICOLOGIA DE UMAUNIVERSIDADE COMUNITÁRIA

Keli Cristina de Lara Campos1

Resumo

O estudo do clima organizacional é uma importante ferramenta para diagnóstico e compreensão das organizações, fornecendo subsídios paramelhorias futuras. Este trabalho objetivou mensurar o clima organizacional na opinião dos docentes de Psicologia de uma universidade do Estadode São Paulo. A amostra contou com 20 sujeitos sorteados de modo eqüiprobabilístico. Foram utilizados três instrumentos: Questionário deIdentificação, Questionário de Clima Organizacional de Kolb e Questionário Descritivo de Clima Organizacional- OCDQ (Forma IV). Os resultadosdemonstraram que o papel da direção exerce influência na percepção docente. Os docentes avaliaram o clima do curso de Psicologia como paternal-controlado e apresentaram alto nível de descontentamento.

Palavras-chaves: Clima organizacional escolar; cultura organizacional; administração escolar.

ANALYSIS OF THE ORGANIZATIONAL CLIMATE IN PSYCHOLOGY COURSE OF A COMMUNITY UNIVERSITY

Abstract

The study of the organizational climate is an important tool for diagnosis and understanding of organizations, supplying subsidies to futureimprovements. This work aimed to measure the climate organizational according to Psychology teachers’ opinion in an university of São PauloState. The sample consisted in 20 subjects from Psychology course, selected in an equiprobabilistic way. Three instruments were used: AQuestionnaire of Identification, the Organizational Climate Questionnaire of Kolb and the Organizational Climate Descriptive Questionnaire -OCDQ (Forms IV). The results showed that the role of the direction exercises influence in the teachers’ perception. The teachers evaluated thePsychology climate’ as paternal-controlled and they showed high level of dissatisfaction.

Key words: Organizational school climate; organizational culture; school administration.

INTRODUÇÃO

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rem cumpridos, o que faz com que as instituições deensino possam ser legitimamente concebidas como umaorganização.

Ao considerar-se a instituição escolar como sendoum complexo organizacional (Druker & Jong, 1996),possuidor de normas e valores explícitos ou implícitosao seu funcionamento, pode-se também avaliá-la, umavez que tais instituições possuem suas próprias peculia-ridades, manifestadas por meio de suas normas, regras,estatutos, etc. As normas refletem diretamente a cha-mada cultura organizacional, e sua variável mensurável,o clima organizacional (Cunha, São Paulo, Porto &Denicol, 1997).

Os conceitos de cultura e clima organizacional sur-giram da necessidade de compreensão quanto às for-mas de funcionamento das organizações e dasconstatações de que havia diferenças específicas entreelas que não poderiam ser ignoradas. Para Xavier (1984),os primeiros estudos sobre esses conceitos datam dasdécadas de 1920 e 1930, muito embora não recebesseminicialmente essas denominações.

Dentre os autores que definem o termo culturaorganizacional, uma das mais importantes e conhecidascontribuições teóricas é a de Schein (1989) que a ca-racteriza como “padrão de pressupostos básicos – in-ventados, descobertos ou desenvolvidos por um deter-minado grupo, na medida em que aprende a lidar comseus problemas de adaptação externa e integração in-terna – que funcionou suficientemente bem para ser con-siderado válido e, portanto, para ser ensinado [g1] aosnovos membros como o modo correto de perceber, pen-sar e sentir em relação a esses problemas” (p.12).

Beyer e Trice (apud Fleury, 1996) observam que acultura organizacional é “uma rede de concepções, nor-mas e valores, que são tomadas por certas, que perma-necem submersas a vida organizacional” e que “(...)para criar e manter a cultura essas concepções, normase valores devem ser afirmados e comunicados aos mem-bros da organização de forma tangível” (p. 19). Essaparte tangível diz respeito aos ritos, rituais, mitos, histó-rias, gestos e artefatos.

Shinyashiki (1995), ao revisar a literatura sobre otema, esclarece que a compreensão da culturaorganizacional pode contribuir para a melhoria do de-sempenho e também para a implementação de progra-mas de mudança organizacional. Ressaltando que autilização correta das descobertas sobre culturaorganizacional relaciona-se com a capacidade dos pro-

fissionais em saber utilizá-la, uma afirmação que é igual-mente apoiada por Coda (1992).

Cultura organizacional não é um conceito de fácilcompreensão ou modificação, mas seus resultados po-dem ser traduzidos pela observação dos atos, compor-tamentos e práticas realizadas em uma organização, aindaque essa visão não seja corroborada por todos os auto-res (ex. Fleury, 1996). Esse tipo de estudo correspondeao que é conhecido como estudo de clima organizacionale tem por função identificar e compreender a realidadeexistente em um determinado local, por meio da análisede suas práticas.

No contexto organizacional, o termo clima foi apro-priado para traduzir um sentido que, de certo modo, as-semelha-se ao de atmosfera, e refere-se não só aosaspectos de natureza física, mas também a condições ecaracterísticas que pertencem aos domínios psicológicoe social. Halpin (1967) aponta que a personalidade épara o indivíduo o que o clima é para a organização,devendo este último ser identificado, analisado e mane-jado em benefício do próprio homem e da organização.

Souza (1978) entende que a parte mais ampla e ime-diatamente reconhecível da cultura é o climaorganizacional, que é “um fenômeno resultante dainteração dos elementos da cultura. É uma decorrênciado peso de cada um dos elementos culturais e seu efeitosobre os outros dois” (p.37). É influenciada por variá-veis culturais e mais perceptível que suas causas. Aautora citada procedeu à revisão de vasta literatura li-gada aos conceitos de cultura, clima e desenvolvimentoorganizacional e chegou aos seguintes pontos essenci-ais: a) o conceito de clima e/ou cultura organizacional éreconhecido por diversos autores como um assunto im-portante; b) não existe uma conceituação clara e unívocasobre cultura e clima, sendo que, por vezes, os termossão utilizados como sinônimos; c) os fatores que influ-enciam na determinação da cultura e do clima são indi-cados de forma geral e vaga; e d) o determinante doclima e da cultura gerencial mais comumente citado é ofator estilo gerencial.

No âmbito educacional, as definições parecem con-vergir para a visão de clima escolar como um fenômenogrupal envolvendo um consenso sobre determinadaspercepções que englobam aspectos psicológicos, soci-ais e físicos do ambiente, afetando, por conseguinte, ocomportamento (Arter,1989). Com relação às pesqui-sas de clima organizacional realizadas no contexto es-colar, diversos estudos são regularmente realizados no

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exterior, mas a bibliografia brasileira sobre o assunto éescassa. Oliveira (1996) analisou a produção científicasobre clima organizacional em instituições escolares,visando a uma sistematização do conhecimento sobre atemática. O estudo analisou 98 trabalhos produzidos entre1970 e 1995, sendo 93 teses de doutorado elaboradasnos Estados Unidos da América e cinco dissertaçõesde mestrado produzidas no Brasil, identificadas por meiode pesquisa bibliográfica em bases de dados.

As análises mostram que a produção nacional foisignificativamente menor do que a dos Estados Unidosno mesmo período. Em ambos os países, a produçãobaseou-se em métodos quantitativos, predominando es-tudos correlacionais, enquanto que nos Estados Unidosocorreram ainda 14 teses apoiadas em delineamentoexperimental. Quanto à temática, no Brasil não houveum tópico dominante; já nos Estados Unidos, a produ-ção significativa apontou para a análise de todos os níveisde ensino, existindo contribuições que consideraramvariáveis como sexo, produção científica, motivação,satisfação no trabalho e outras.

Dentre os instrumentos de pesquisa utilizados nosestudos sobre clima no Brasil, dois obtiveram destaquena literatura: o primeiro é o Questionário de ClimaOrganizacional de Kolb (Kolb, Rubin & McIntyre, 1978)e o segundo é o Questionário Descritivo de ClimaOrganizacional (OCDQ- Forma IV) de Halpin e Croft(Halpin & Croft, 1962). Esses instrumentos serão des-critos no item método da presente investigação.

Vale lembrar que o estudo sobre clima organizacionalem universidades é de extrema valia para o planejamentoe a compreensão da vida organizacional, fornecendosubsídios úteis para a melhoria do desempenhoinstitucional. Desse modo, o presente estudo objetivouavaliar o clima organizacional existente no curso dePsicologia de uma universidade comunitária do Estadode São Paulo em função das respostas dos docentes.

MÉTODOSujeitosParticiparam 20 docentes do curso de Psicologia de

uma universidade multi-campi comunitária do Estado deSão Paulo, selecionados por sorteio eqüiprobabilístico.

No que diz respeito às idades, sete (35%) estão nafaixa dos 26 aos 35 anos. A faixa entre 36 a 45 anosconcentra 8 sujeitos, equivalendo ao maior número dedocentes (40%). Na faixa entre 46 a 55 anos, dois sujei-

tos (10%) e acima de 56 anos, três sujeitos (15%). Ve-rificou-se que 11 sujeitos (55%) eram do sexo femi-nino e nove sujeitos eram do sexo masculino (45%).Houve o predomínio de sujeitos que contam com o graude mestre (70%).

Em relação ao tempo de trabalho na universidade,foi constatado que seis sujeitos (30%) atuavam na insti-tuição no período de 1 a 2 anos, quatro sujeitos no perí-odo entre 8,1 a 10 anos (20%). No período de 2,1 a 4anos, aparecem três respostas (15%). O tempo de tra-balho variável entre 6,1 a 8 anos teve duas respostas(10%); também os períodos 10,1 a 15 anos e 15,1 anosou mais receberam duas respostas cada (10%). Por fime com uma resposta (5%), foi mencionado o período de4,1 a 6 anos.

InstrumentosForam utilizados na pesquisa três instrumentos, a

saber:1- Questionário Geral de Identificação: Trata-se de

um instrumento elaborado pela pesquisadora, com oitoquestões fechadas, destinadas à descrição e identifica-ção dos sujeitos. Aborda as variáveis socioeconômicas,acadêmicas e laborais.

2- Questionário de Clima Organizacional de Kolb:Esse instrumento, reproduzido de Kolb, Rubin e McIntyre(1978), compõe-se de sete questões que devem ser res-pondidas em escalas de dez pontos. O instrumento deveser respondido de acordo com duas orientações. Aprimeira refere-se à percepção que o sujeito tem naatualidade em relação ao seu local de trabalho (climareal). A segunda pede-lhe que formule opinião sobrecomo gostaria que fosse esse local (clima ideal).

Essa escala aborda os seguintes fatores descritivosdo clima organizacional: conformismo – sentimento deque existem muitas limitações regras etc. às quais osfuncionários devem se amoldar, em vez de fazer seutrabalho como gostariam; responsabilidade – grau emque os membros percebem que podem tomar decisões,bem como solucionar problemas, sem ter que recorrerao superior para cada etapa; padrões – ênfase dadapela organização à qualidade do desempenho e daprodução, incluindo o grau em que os funcionários sesentem estimulados por tais objetivos; recompensas –sentimento do funcionário de estar sendo reconhecido erecompensado por um bom trabalho, em vez de serapenas criticado ou punido; clareza organizacional – per-cepção dos funcionários de que as coisas são bem-

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organizadas e os objetivos são claramente definidos, aocontrário de serem confusos; calor e apoio – sentimentode que a amizade é algo valorizado na organização eque os membros confiam uns nos outros e oferecemapoio mútuo, prevalecendo as boas relações e lideran-ça – disposição dos funcionários em aceitarem a direçãode outras pessoas qualificadas.

3- Questionário Descritivo de Clima Organizacionalde Halpin e Croft (OCDQ-Forma IV): Esse questioná-rio foi reproduzido de Halpin (1967), tendo sido traduzi-do e adaptado em 1979 por Antonio Carlos Bramante,Luiz Almeida Marins Filho e José Guilmar Mariz deOliveira, sendo que este último autorizou a utilização domesmo pela autora da presente pesquisa. O instrumen-to é composto por 64 itens, dispostos em escalas de seispontos do tipo Likert, abordando quatro variáveis relati-vas ao corpo docente e quatro relacionadas a caracte-rísticas da direção ou chefia. Os aspectos relacionadosao corpo docente são: descompromisso – pode ser en-tendido também como falta de envolvimento e refere-se à tendência do professor que não está engajado nastarefas; impedimento – relaciona-se aos obstáculos esobrecarga de deveres, refere-se ao sentimento do pro-fessor de ter muitas obrigações de rotina, que consideradesnecessária; disposição – refere-se ao sentimento doprofessor de que suas necessidades sociais estão sendosatisfeitas, ao mesmo tempo em que desfruta de umsentimento de realização; intimidade – entendida tam-bém como amizade; é o desfrutar do relacionamentosocial amigável com os demais.

As características referentes à direção ou chefia abar-cam: alheamento – pode ser entendido, também, comodistância por parte da supervisão; diz respeito ao com-portamento formal e impessoal da direção; ênfase na pro-dução – refere-se ao comportamento da direção carac-terizado por supervisão fechada, altamente diretiva e ba-seada em papéis; impulso – pode ser entendido tambémcomo estímulo, por se referir ao comportamento da direçãocaracterizado por evidentes esforços em mover a organi-zação; consideração – diz respeito ao comportamento dadireção que tem por característica principal uma inclina-ção para o tratamento mais humano dos professores.

Os resultados do OCDQ (Forma IV) identificam seispossíveis tipos de clima organizacional escolar, a saber:

1.Clima Organizacional Aberto: os membros usufru-em de disposição extremamente elevada. Os professo-res trabalham bem juntos (baixo descompromisso). Elesnão são sobrecarregados de atividades e as diretrizes

do diretor facilitam a realização das tarefas (baixo im-pedimento). Os membros do grupo usufruem de rela-ções cordiais e os professores obtêm considerável sa-tisfação no trabalho, sendo suficientemente motivadospara enfrentar dificuldades e frustrações. Possuem oincentivo de fazer funcionar as coisas e de manter aorganização em movimento. Além disso, os professoressentem orgulho de estar associados à sua escola. Ocomportamento apresentado pelo diretor tem consonân-cia com sua própria personalidade, pois ele possui flexi-bilidade para controlar e dirigir as atividades, não sendoalheio ou impessoal por seguir as regras e procedimen-tos. Não dá ênfase à produção nem executa uma su-pervisão fechada e sem delega responsabilidades.

2. Clima Organizacional Paternal: é caracterizadopelas tentativas ineficazes do diretor em controlar osprofessores e satisfazer as necessidades sociais deles.O comportamento dele não é genuíno e é percebido pelosprofessores como não motivante. Os professores nãotrabalham bem juntos e estão divididos em facções. Ina-bilidade do diretor em controlar as atividades dos pro-fessores (alto descompromisso). Alguns impedimentossobrecarregam os professores na forma de relatórios edeveres administrativos. Os professores não desfrutamentre si de relações amigáveis (baixa intimidade).

Essencialmente, os professores desistiram de tentare deixaram o diretor tomar conta das coisas como elepode (baixa disposição). Por outro lado, o diretor estáem todo lugar, conferindo, monitorando, enfatizando to-das as coisas que deveriam ser feitas (alta ênfase naprodução), mas de alguma maneira nada é feito.

A universidade e suas rotinas são o principal interes-se do diretor que necessita de pouca satisfação de ne-cessidades fora do papel profissional dele. É atencioso,mas sua preocupação não parece genuína; não motivaos professores, principalmente porque não é visto poresses como um grande exemplo.

3. Clima Organizacional Fechado: baseia-se numasituação em que os membros do grupo obtêm poucasatisfação com relação à realização da tarefa ou às ne-cessidades sociais. Em resumo, a direção é ineficienteem dirigir as atividades dos professores; ao mesmo tem-po, não é inclinada para cuidar do bem-estar do seupessoal. Os professores não são entrosados e não tra-balham bem juntos; conseqüentemente, a realizaçãogrupal é mínima (alto descompromisso). A direção nãofacilita a realização das tarefas dos professores (altoimpedimento). A chefia é altamente distante e impesso-

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al, enfatizando a produção (alto alheamento) e afirman-do, freqüentemente, que é preciso trabalhar mais.

O diretor coloca regras que são geralmente arbitrá-rias (alta ênfase na produção). Suas palavras são vazi-as, porque possui baixo impulso e não motiva os profes-sores com seu exemplo pessoal. Não se preocupa comas necessidades sociais dos professores, podendo serdescrito como desatencioso (baixa consideração).

4. Clima Organizacional Autônomo: tem como ca-racterística a liberdade quase completa que o diretor dáaos professores para satisfazerem suas necessidadessociais. Esse tipo de clima tende mais para a satisfaçãodas necessidades sociais do que para a realização detarefas (pontuações relativamente altas em disposiçãoe intimidade). O ponto essencial é que os professorestrabalham bem juntos e realizam as tarefas da organiza-ção. Os professores não são dificultados por papeladasadministrativas, e não reclamam dos relatórios que lhessão requeridos. O diretor fixa procedimentos e regula-mentos para facilitar a tarefa dos professores.

O diretor permanece distante dos professores, porquepercorre a organização de uma maneira sistemática ebastante impessoal (alta distância). Seu estilo de lideran-ça favorece o estabelecimento de procedimentos e regu-lamentos que estabelecem diretrizes que os professorespodem seguir; e não confere pessoalmente se as coisasestão sendo feitas. Ele demonstra satisfação por deixaros professores trabalharem em sua própria velocidade emonitora pouco as atividades (baixa ênfase na produção).Em geral, ele é considerado e tenta satisfazer as necessi-dades sociais dos professores (média consideração). Odiretor provê impulso para a organização fixando um exem-plo e também trabalhando duro.

5. Clima Organizacional Controlado: está marcadopor uma pressão para realização às custas da satisfa-ção das necessidades sociais. Todos trabalham “duro”e há pouco tempo para um relacionamento amigável oupara divergências sobre as formas de controle e direçõesestabelecidas. Esse clima é excessivamente voltado paraa realização de tarefas e distante da satisfação das ne-cessidades sociais. Os professores estão lá para fazer otrabalho (baixo descompromisso). Há uma excessivaquantidade de papelada e trabalho burocrático, e umimpedimento no modo de os professores realizarem astarefas. Os professores regularmente trabalham embenefício próprio, de forma isolada. A sub-escala Dis-posição encontra-se ligeiramente acima da média. De-duz-se que a satisfação no trabalho encontrada nesse

tipo de clima resulta primariamente da realização da ta-refa em si e não da satisfação das necessidades sociais.

O diretor é descrito como dominador e diretivo, per-mitindo pouca flexibilidade dentro da organização, e in-sistindo para que tudo seja feito do seu modo (alta ênfasena produção). Ele preocupa-se pouco com o que aspessoas sentem, pois o importante é que o trabalho sejafeito a seu modo; não busca satisfazer as necessidadessociais do grupo (baixa consideração).

6. Clima Organizacional Familiar: tem como carac-terística principal a maneira visivelmente amigável derelacionamento entre o diretor e os professores. A sa-tisfação das necessidades sociais é extremamente alta;em contrapartida, pouco é feito para controlar oudirecionar as atividades do grupo para o alcance de metas.

Os professores são descomprometidos e pouco reali-zadores em uma situação orientada para tarefa, principal-mente porque o diretor exerce pouco controle nodirecionamento de suas atividades. Procedimentos paraajuda aos professores estão disponíveis (baixo impedimen-to). Os professores estabelecem relacionamentos pesso-ais amigáveis entre eles, e socialmente todo mundo é partede uma grande família feliz (alta intimidade). O moral ousatisfação no trabalho está na média e se origina, principal-mente, da satisfação das necessidades sociais.

O diretor não é distante ou impessoal na sua maneiraoficial de agir. Poucas regras e regulamentos são estabe-lecidos como guias aos professores de como as coisasdeveriam ser feitas (baixa distância). O diretor não enfatizaa produção nem acompanha pessoalmente se os profes-sores estão executando corretamente suas tarefas; nin-guém trabalha até o limite de sua capacidade e nem porisso são criticados (baixa ênfase na produção).

ProcedimentosPrimeiramente, foi solicitada junto à universidade a

autorização para a realização da coleta de dados, sendoposteriormente elaborado o rol dos possíveis sujeitos e osorteio eqüiprobabilístico. Os sujeitos foram contatadosindividualmente pela própria pesquisadora, que realizouos esclarecimentos sobre o trabalho e a condição desigilo. Os três instrumentos foram entregues pessoal-mente e, depois de preenchidos, foram devolvidos ime-diatamente à pesquisadora. Quando o seu preenchimentonão foi imediato, a pesquisadora solicitou que os questi-onários fossem postos dentro de envelopes lacrados eentregues na universidade, dentro de um prazo de atédois dias após o seu recebimento pelos sujeitos.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados referentes às sete dimensões abrangidaspelo Questionário de Kolb, quando analisadas separada-

Tabela 1: Avaliação do Questionário de Clima Organizacional (N=2 e (2c = 3,84, n.g.l.=1, n.sig.=0,05).

Dimensões Real Ideal χχχχχ2o Decisão

Conformismo 4,35 5,90 0,23 Ho não rejeitadaResponsabilidade 5,70 9,10 0,78 Ho não rejeitadaPadrões 4,80 8,50 1,03 Ho não rejeitadaRecompensas 4,15 8,95 1,76 Ho não rejeitadaClareza Organizacional 4,70 8,85 1,27 Ho não rejeitadaCalor e apoio 4,15 9,05 1,82 Ho não rejeitadaLiderança 3,70 8,45 1,86 Ho não rejeitada

mente, não se mostraram estatisticamente significantes,ainda que a pontuação atribuída ao clima ideal tenha sidosistematicamente maior que a do clima real percebido.

Entretanto, quando se considera a comparação con-junta das sete dimensões do instrumento por meio doteste de Wilcoxon, verifica-se que a diferença observa-da no conjunto é significante (To =0,00 para Tc=2, N=7e n.sig.=0,05). Esse dado sugere que, embora as dife-renças em cada uma das dimensões separadamente nãotenham sido significantes, a análise geral aponta parauma diferença marcante entre o clima real percebidopelos sujeitos e o clima ideal ou desejado.

A comparação dos resultados realizada por meio daprova de correlação de postos de Spearman apontoupara ro = 0,31, valor não significante para confirmaruma correlação entre a avaliação atual do climaorganizacional formulada pelos sujeitos e a percepçãodo ideal (N=7, rc=0,71, n.sig.=0,05), demonstrando, as-sim, que as dimensões de clima real e ideal não se dis-puseram na mesma ordem.

Adotando o procedimento de análise de Kolb, Rubine McIntyre (1978), foi constatado que os itens calor eapoio, e liderança foram os que mais apresentaram di-ferença entre o nível real e o ideal, podendo-se suporque principalmente esses dois itens estão muito abaixodo desejado pelos sujeitos. O que sugere a existência deum clima organizacional menos adequado, no qual o re-lacionamento interpessoal e os processos de liderançanão são satisfatórios. A variável liderança parece exer-cer grande influência no moral do grupo e, conseqüen-temente, na percepção do clima organizacional, fatoconfirmado em trabalhos anteriores (Souza,1978).

Para o alcance dos resultados do Questionário Des-critivo de Clima Organizacional – OCDQ, é necessário

Assim, primeiramente, obtém-se o escore bruto decada subescala, somando-se os escores que cadarespondente obteve em todos os itens de uma mesmasubescala, dividindo pelo número de itens da subescalae arredondando o valor encontrado para um número dedois dígitos. Esses oito escores obtidos agora são osescores brutos para cada respondente individualmente.Na seqüência, é computada a média por subescala, dosescores de todos os respondentes.

O próximo passo é a normalização dos escores comrespeito às médias e desvios – padrões para os escorestotais da amostra em cada subescala. A normalizaçãoocorre para uma média de 50 pontos e desvio – padrão(() de 10 pontos. A fórmula de normalização propostapor Halpin (1967) é a seguinte:

em que: Xs é o escore normalizado; (o é o desviopadrão da amostra; M é a média da amostra e Xo é oescore da sub-escala.

O processo ocorre um a um, com a análise da médiae o desvio padrão de cada subescala, até que as oitotenham sido convertidas em escores normalizados.

Para determinar qual dos seis tipos de perfis de clima émais similar ao perfil fornecido pela amostra, compara-seo resultado da amostra com o crivo dos seis perfis de cli-ma possíveis (ver Tabela 2), calculando as diferenças en-tre os escores de cada subescala e somando os resultadosdessas diferenças. Vale lembrar que, como o OCDQ nãopossui uma normalização exclusiva para o Brasil, na presentepesquisa o crivo norte-americano (reproduzido na Tabela2) foi empregado na determinação do clima organizacional,fato que deve ser considerado restritivo quando da análise

que se cumpram duas fases: A primeira é relativa ànormalização dos escores brutos; a segunda consiste nadefinição do perfil de clima organizacional mais carac-terístico da amostra.

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dos dados. O perfil mais indicado para o clima da organi-zação será aquele que obtiver o menor escore na compa-ração com o crivo. Esse será o perfil que caracterizarámelhor o clima da amostra.

Tabela 2: Crivo de avaliação do OCDQ* e resultado encontrado na presente amostra

Sub-escalaTipos/ Perfis de clima organizacional

Aberto Autônomo Controlado Familiar Paternal Fechado Amostra

Descompromisso 43 40 38 60 65 62 63Impedimento 43 41 57 42 46 53 46Disposição 63 55 54 50 45 38 62Intimidade 50 62 40 58 46 54 39Alheamento 42 61 55 44 38 55 54Ênfase na produção 43 39 63 37 55 54 48Impulso 61 53 51 52 51 41 53Consideração 55 50 45 59 55 44 35

* Retirado de Halpin (1967) e correspondente à normalização dos autores nos EUA.

A Tabela 2, que reproduz o único crivo de avaliaçãodisponível na literatura científica para o OCDQ até omomento e os resultados encontrados nesta pesquisa,apresenta os escores esperados em cada uma das oitosubescalas, de acordo com os seis possíveis tipos de cli-ma. Os resultados encontrados na presente pesquisa e jánormalizados são comparados um a um com o crivo deavaliação do OCDQ realizando-se a subtração entre ovalor encontrado e o valor apontado no crivo; as diferen-ças obtidas entre cada comparação são então somadas,desprezando-se o seu sinal (positivo ou negativo) para,finalmente, resultar no perfil de clima que mais caracteri-za a amostra. Isso pode ser observado na Tabela 3, quemostra o tipo de clima organizacional encontrado.

Tabela 3: Resultado final da avaliação do OCDQ.

Clima GDPsi

Aberto 80Autônomo 89Controlado 73Familiar 84Paternal 71*Fechado 75

* Clima organizacional mais característico.

É importante notar que, segundo a lógica exigida peloinstrumento, o tipo de clima predominante é o que rece-be a menor pontuação dentre os seis tipos possíveis;desse modo, o clima paternal foi o mais característicocom 71 pontos. Entretanto, a diferença entre o climacaracterístico (paternal) e o segundo mais característi-co (controlado) é de apenas dois pontos, o que pode sertraduzido por um “clima paternal-controlado”.

to como autêntico e, por conseguinte, não serve comofonte de exemplo ou motivação aos docentes. Quantoao grupo, esse não trabalha bem em conjunto e estádivido em facções; existe um excesso de trabalho buro-crático que dificulta o bom andamento; isso ocorre, tam-bém, porque o diretor deseja estar a par de tudo o queacontece na instituição. O clima controlado apresenta,em grau mais acentuado, as características acima, alémde ser marcado por uma pressão para a realização detarefas, em detrimento da satisfação das necessidadessociais. Desse modo, tem-se como características maismarcantes com relação ao tipo de clima predominante aexistência de alto descompromisso e alta ênfase na pro-dução além de baixo grau de intimidade e disposição.

Vale lembrar que não cabe julgar aqui o fato de umdeterminado tipo de clima organizacional ser bom ou ruimpois, a priori, o que é detectado pelo OCDQ é o tipo declima predominante e não os seus méritos ou defeitos. Asugestão a ser feita, portanto, é que os resultados encon-trados se prestem a discussões, a fim de que seus compo-nentes possam estar a par dos dados obtidos e então cabe-rá a análise dos pontos positivos e negativos que porventuraestejam envolvidos no clima organizacional diagnosticado.

CONCLUSÃOO estudo do clima organizacional em instituições de

ensino tem como intuito contribuir para uma melhor com-preensão da relação indivíduo-organização, podendogerar dados que possibilitem a melhor administração dosistema educacional superior, além de fornecer diretrizespreliminares que ofereçam uma possível ajuda na

Com base na teoria de Halpin e Croft (1962) o climapaternal caracteriza-se pela tentativa ineficaz do diretorem controlar os professores e satisfazer as necessida-des sociais dos mesmos; seu comportamento não é vis-

Keli Cristina de Lara Campos130

reformulação das condições existentes, que resultem emmelhores índices de satisfação no trabalho, motivação,produção científica e outros aspectos relativos ao pes-soal docente e aos seus alunos. As pesquisas referen-tes ao diagnóstico de clima organizacional, por trazeremà tona um retrato atual e realista do cenário institucionalexistente, podem contribuir para o melhor desempenhoe desenvolvimento da instituição.

As explanações que seguem traduzem os dados maisrelevantes encontrados neste estudo e que merecem aten-ção futura. Vale lembrar que, por se tratar de um trabalhode caráter exploratório e restrito a uma organização es-colar em particular, existem limitações quanto às possibi-lidades de generalizações para outras instituições, de modoque as comparações devem ser feitas de forma cautelo-sa e salvaguardando as devidas proporções.

Na avaliação em separado dos instrumentos utiliza-dos nesta pesquisa, tem-se que o Questionário de ClimaOrganizacional de Kolb pode ser considerado um ins-trumento auxiliar na avaliação do clima organizacional,que oferece dimensões relevantes à compreensão dapercepção de clima encontrado. A compreensão quali-tativa dos resultados obtidos por meio deste instrumentomostrou-se mais valiosa que as análises quantitativaspois, ainda que as respostas dos sujeitos tenham apon-tado sistematicamente para uma percepção de clima idealacima do clima real percebido pelos sujeitos, as análisesestatísticas não revelaram nenhuma diferençasignificante. Isso talvez decorra de uma dificuldade dediscriminação do instrumento ou resulte de umainadequação do mesmo ao contexto educacional, o quesó poderá ser confirmado em futuras investigações.

Na análise realizada no Questionário de Kolb, os itenscalor e apoio, e liderança foram apontados como os maisdeficitários no curso de Psicologia. Como o processo dereconhecimento e liderança revelam-se principalmenteno contexto de decisões administrativas, pode-se suporque, provavelmente, o comportamento e a relação coma direção são percebidos pelos sujeitos como deficitári-os. O mesmo ocorre quanto ao sentimento de amizadee apoio mútuo entre os componentes do próprio grupo, oque parece indicar a necessidade de maior atenção paraesses pontos, a fim de que as boas relações prevaleçamno ambiente de trabalho.

Já o Questionário Descritivo de Clima Organizacional(OCDQ -Forma IV) mostrou ser uma medida mais ade-

quada para a utilização em instituições de ensino e pes-quisa, o que, de certa forma, era esperado, visto que omesmo foi desenhado desde o princípio para esse fim,ainda que possa ser utilizado em outras organizaçõesque não apenas as escolares. Deve-se ressaltar que aanálise em separado das oito subescalas ou dimensõesexistentes nesse instrumento pode contribuir para amelhor compreensão das similaridades e discrepânciasencontradas na pesquisa de clima.

O predomínio do clima organizacional denominadopaternal-controlado no curso de Psicologia é relevantevisto que, no senso comum, existe uma tendência a acre-ditar que os cursos tidos como ligados à área de huma-nidades são cursos mais “abertos”. Entretanto, no pre-sente estudo, nota-se uma tendência contrária, uma vezque o curso de Psicologia mostrou-se fechado e distan-te, pautado em uma forma de relacionamento e posturaque tendem a formais e rígidas.

Relativamente à comparação desses resultados comos de outras pesquisas que se valeram do mesmo ins-trumento, é preciso considerar, primeiramente, que al-gumas delas não realizaram as análises estatísticassugeridas por Halpin e Croft (1962) o que dificulta acomparação dos dados.

Quanto às possíveis sugestões para investigaçõesfuturas, alguns aspectos são merecedores de maior aten-ção por parte dos que pesquisarem nessa área como,por exemplo, a mensuração do peso relativo que têm naconsolidação de um clima dominante em uma escola,curso ou departamento, etc. Fatores como o estilo dedireção/liderança, o predomínio entre os professores detais ou quais características em termos de, por exemplo,rigidez versus flexibilidade, cordialidade versus friezade tratamento, etc., natureza do que é aprendido eensinado e tantas outras possibilidades.

A psicologia escolar da atualidade reflete uma preo-cupação muito maior com as condições e fatores denatureza externa à aprendizagem propriamente dita, nasinstituições de ensino, que influem nas pessoas que nelatrabalham ou aprendem. Conclui-se, portanto, que aavaliação do clima organizacional de uma instituição deensino superior pode ser entendida como um diagnósticoou como uma coleta de informações que tem valorpreventivo e o ponto primordial é que a universidadetenha melhor conhecimento de si mesma e aja em fun-ção desse conhecimento.

Análise do clima organizacional do curso de psicologia de uma universidade comunitária 131

Psicologia Escolar e Educacional, 2002 Volume 6 Número 2 123-131

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Dissertação de Mestrado, UFRGS: PPGA.

Recebido em:02/10/01

Revisado em:07/11/01

Aprovado em:14/06/02