anÁlise de viabilidade econÔmica da implantaÇÃo...

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ANÁLISE DE VIABILIDADE ECONÔMICA DA IMPLANTAÇÃO DE SISTEMAS DE BATERIAS DE LÍTIO-ÍON EM UNIDADES CONSUMIDORAS CONECTADAS NA MÉDIA TENSÃO Matheus Howes Coimbra Thomé Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia de Produção da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientadores: Renato Flórido Cameira Roberto Ivo da Rocha Lima Rio de Janeiro Dezembro de 2017

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ANÁLISE DE VIABILIDADE ECONÔMICA DA IMPLANTAÇÃO DE

SISTEMAS DE BATERIAS DE LÍTIO-ÍON EM UNIDADES

CONSUMIDORAS CONECTADAS NA MÉDIA TENSÃO

Matheus Howes Coimbra Thomé

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia de Produção da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte

dos requisitos necessários à obtenção do título de

Engenheiro.

Orientadores: Renato Flórido Cameira

Roberto Ivo da Rocha Lima

Rio de Janeiro

Dezembro de 2017

iii

Thomé, Matheus Howes Coimbra Thomé

Análise de Viabilidade Econômica da Implantação de

Sistemas de Baterias Lítio-Íon em Unidades Consumidoras

Conectadas na Média Tensão/ Matheus Howes Coimbra

Thomé – Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2017.

X, 81 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Renato Flórido Cameira

Projeto de Graduação – UFRJ/ POLI/ Curso de

Engenharia de Produção, 2017.

Referências Bibliográficas: p. 78-81

1. Baterias de Lítio-Íon. 2. Viabilidade Econômica.

3. Armazenamento de Energia.

I. Cameira, Renato Flórido II. Universidade Federal do

Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia de

Produção. III. Análise de Viabilidade Econômica da

Implantação de Sistemas de Baterias Lítio-Íon em Unidades

Consumidoras Conectadas na Média Tensão

iv

AGRADECIMENTOS

Primeiramente gostaria de agradecer à Deus e à São José por terem iluminado e

abençoado meu caminho na UFRJ.

Agradeço também aos meus pais, Marcos André e Carmen, e meus irmãos, Thiago

e Catherine, por serem minha base e inspiração, tendo me apoiado desde o momento em que

cursar Engenharia de Produção na UFRJ era um sonho até o presente momento de conclusão

do curso. Tenho especial gratidão também a todos meus familiares e amigos que sempre

estiveram ao meu lado me proporcionando momentos inesquecíveis.

Faço aqui um agradecimento especial aos professores orientadores deste trabalho,

Renato Flórido Cameira e Roberto Ivo da Rocha Lima, por terem me dado todo suporte e

orientação para a elaboração do mesmo. Agradeço também de forma especial a Ramon de

Oliveira Júnior, companheiro profissional e amigo que me auxiliou constantemente no

desenvolvimento deste trabalho, inclusive na escolha do tema, tornando-se também um

orientador e inspirador deste trabalho.

Por fim, agradeço à Universidade Federal do Rio de Janeiro, aos amigos que fiz ao

longo de minha vida acadêmica nela, aos professores, em especial do Departamento de

Engenharia Industrial, e a todos os funcionários que fazem desta instituição gigante como ela

é. Tenho muito orgulho de ter a UFRJ na minha vida.

v

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte dos

requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro de Produção.

ANÁLISE DE VIABILIDADE ECONÔMICA DA IMPLANTAÇÃO DE SISTEMAS DE

BATERIAS DE LÍTIO-ÍON EM UNIDADES CONSUMIDORAS CONECTADAS NA MÉDIA

TENSÃO

Matheus Howes Coimbra Thomé

Dezembro/2017

Orientador: Renato Flórido Cameira

Curso: Engenharia de Produção

Ao longo dos últimos anos, os sistemas de armazenamento de energia têm aumentado sua

participação no setor elétrico. Dentre esses sistemas, destacam-se as baterias de lítio-íon

cada vez mais desenvolvidas e utilizadas por unidades consumidoras que visam reduzir seus

custos através da arbitragem tarifária. Nesse contexto, este trabalho pretende realizar um

estudo da viabilidade econômica acerca da implantação de um sistema de baterias de lítio-

íon em unidades consumidoras comerciais conectadas na média tensão.

Palavras-chave: Baterias de Lítio-Íon, Viabilidade Econômica, Armazenamento de Energia

vi

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Industrial Engineer.

ANALYSIS OF ECONOMICAL FEASIBILITY OF THE IMPLANTATION OF LITHIUM-ION

BATTERY SYSTEMS IN CONSUMER UNITS CONNECTED IN THE MEDIUM VOLTAGE

Matheus Howes Coimbra Thomé

December/2017

Advisor: Renato Flórido Cameira

Course: Industrial Engineering

Over the past few years, energy storage systems have increased their participation on the

electrical sector. Among these systems, the lithium-ion batteries stand out as they are being

increasingly developed and used by consumer units that aim to reduce their costs through

energy time-shifting. In this context, this paper aims to carry out an economic feasibility study

about the implantation of a lithium-ion batteries system in a commercial consumer unit

connected in the medium voltage.

Keywords: Lithium-Ion Batteries, Economic Viability, Energy Storage

vii

SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 13

1.1. CONTEXTUALIZAÇÃO ..................................................................................................... 13

1.2. OBJETIVOS DE ESTUDO ................................................................................................ 14

1.2.1. OBJETIVO GERAL .................................................................................................... 15

1.2.2. OBJETIVO ESPECÍFICO .......................................................................................... 15

1.3. LIMITES DO ESTUDO ...................................................................................................... 15

1.4. LIMITAÇÕES DO ESTUDO .............................................................................................. 15

2. METODOLOGIA DE PESQUISA ............................................................................................. 16

2.1. DEFINIÇÃO DO MÉTODO DE PESQUISA ................................................................... 16

2.2. ETAPAS DE PESQUISA ................................................................................................... 16

3. O SISTEMA ELÉTRICO BRASILEIRO ................................................................................... 19

4. TARIFAS DE ENERGIA ............................................................................................................ 21

5. O ARMAZENAMENTO DE ENERGIA .................................................................................... 23

5.1. DEFINIÇÃO ......................................................................................................................... 23

5.2. OUTRAS DEFINIÇÕES IMPORTANTES ....................................................................... 23

5.3. O ARMAZENAMENTO DE ENERGIA NO MUNDO ..................................................... 24

5.4. O ARMAZENAMENTO DE ENERGIA NO BRASIL ...................................................... 25

5.5. APLICAÇÕES E BENEFÍCIOS ........................................................................................ 26

6. SISTEMAS DE ARMAZENAMENTO DE ENERGIA ............................................................. 28

6.1. SISTEMAS ELÉTRICOS ................................................................................................... 29

6.1.1. SUPERCAPACITORES ............................................................................................ 29

6.1.2. SISTEMAS DE SUPERCONDUTIVIDADE MAGNÉTICA ................................... 29

6.2. SISTEMAS MECÂNICOS ................................................................................................. 29

6.2.1. BOMBEAMENTO REVERSO ................................................................................... 29

6.2.2. SISTEMAS DE AR COMPRIMIDO .......................................................................... 30

6.2.3. SISTEMAS “FLYWHEEL” OU VOLANTE DE INÉRCIA ....................................... 30

6.3. SISTEMAS TÉRMICOS .................................................................................................... 31

6.4. SISTEMAS QUÍMICOS ..................................................................................................... 31

6.4.1. BATERIAS DE LÍTIO-ÍON ......................................................................................... 31

6.4.2. BATERIAS CHUMBO-ÁCIDO .................................................................................. 32

6.4.3. BATERIAS DE ALTA TEMPERATURA .................................................................. 32

6.4.4. BATERIAS DE FLUXO .............................................................................................. 33

6.4.5. SISTEMA POR ARMAZENAMENTO DE HIDROGÊNIO .................................... 33

6.4.6. SISTEMA POR ARMAZENAMENTO DE GÁS NATURAL .................................. 34

6.5. COMPARAÇÃO ENTRE SISTEMAS .............................................................................. 34

viii

7. SISTEMAS DE BATERIAS ÍON LÍTIO .................................................................................... 36

7.1. HISTÓRICO ......................................................................................................................... 36

7.2. FUNCIONAMENTO............................................................................................................ 36

7.3. BATERIAS LÍTIO-ÍON NO BRASIL E NO MUNDO ...................................................... 38

7.4. DESCARTE DE BATERIAS LÍTIO-ÍON .......................................................................... 39

7.5. COMPOSIÇÃO, INSTALAÇÃO E OPERAÇÃO DE UM SISTEMA DE BATERIAS

LÍTIO-ÍON ........................................................................................................................................ 39

7.6. ARBITRAGEM DE TARIFAS ............................................................................................ 41

8. MODELOS DE AVALIAÇÃO ECONÔMICA ........................................................................... 43

8.1. MÚLTIPLOS ........................................................................................................................ 43

8.2. VALOR PATRIMONIAL ..................................................................................................... 43

8.3. VALOR ECONÔMICO AGREGADO (EVA) ................................................................... 44

8.4. VALOR DE LIQUIDAÇÃO ................................................................................................. 44

8.5. OPÇÕES REAIS ................................................................................................................. 44

8.6. FLUXO DE CAIXA DESCONTADO................................................................................. 44

8.7. COMPARAÇÃO ENTRE OS MODELOS APRESENTADOS ...................................... 45

9. FLUXO DE CAIXA DESCONTADO......................................................................................... 47

9.1. COMPOSIÇÃO DO DRE ................................................................................................... 47

9.2. FLUXO DE CAIXA OPERACIONAL ................................................................................ 48

9.3. FLUXO DE CAIXA DOS ATIVOS .................................................................................... 48

9.4. TAXA DE DESCONTO ...................................................................................................... 48

9.5. INDICADORES ECONÔMICOS ...................................................................................... 49

9.5.1. VALOR PRESENTE LÍQUIDO (VPL) ...................................................................... 49

9.5.2. TAXA INTERNA DE RETORNO (TIR) .................................................................... 49

9.5.3. PAYBACK E PAYBACK DESCONTADO ............................................................... 49

9.5.4. ÍNDICE DE CUSTO-BENEFÍCIO ............................................................................. 49

10. ESTUDO DE CASO ............................................................................................................... 51

10.1. CÁLCULO DA CAPACIDADE DE ARMAZENAMENTO .......................................... 51

10.2. CÁLCULO DA ENERGIA ARMAZENADA E DESCARREGADA ........................... 53

10.3. DEFINIÇÃO DAS DISTRIBUIDORAS ESTUDADAS ............................................... 55

11. ANÁLISE DE VIABILIDADE ECONÔMICA ........................................................................ 57

11.1. INVESTIMENTO INICIAL (CAPEX) ............................................................................. 57

11.2. DESENVOLVIMENTO DA DEMONSTRAÇÃO FINANCEIRA ................................ 60

11.2.1. BENEFÍCIO BRUTO .............................................................................................. 60

11.2.2. CUSTOS OPERACIONAIS (OPEX) .................................................................... 62

11.3. DEMONSTRAÇÃO FINANCEIRA ............................................................................... 67

ix

11.3.1. CENÁRIO A – LIGHT ............................................................................................. 67

11.3.2. CENÁRIO B – CEMIG (MG) ................................................................................. 68

11.3.3. CENÁRIO C – COELBA (BA) ............................................................................... 69

11.4. FLUXO DE CAIXA OPERACIONAL E DOS ATIVOS ............................................... 70

11.4.1. CENÁRIO A – LIGHT (RJ) .................................................................................... 70

11.4.2. CENÁRIO B – CEMIG (MG) ................................................................................. 71

11.4.3. CENÁRIO C – COELBA (BA) ............................................................................... 72

11.5. INDICADORES ECONÔMICOS .................................................................................. 73

11.5.1. CENÁRIO A – LIGHT (RJ) .................................................................................... 73

11.5.2. CENÁRIO B – CEMIG (MG) ................................................................................. 73

11.5.3. CENÁRIO C – COELBA (BA) ............................................................................... 74

11.6. ANÁLISE DOS RESULTADOS .................................................................................... 75

12. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................. 76

12.1. CONCLUSÃO.................................................................................................................. 76

12.2. PERSPECTIVAS DE ENCAMINHAMENTO FUTURO ............................................ 77

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................ 78

x

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Fluxograma de organização do trabalho .............................................................. 17

Figura 2 - Gráfico da Matriz Energética Brasileira ................................................................ 19

Figura 3 - Classificação das tecnologias de sistemas de armazenamento de energia ......... 28

Figura 4 - Princípios dos processos de carga e descarga em células de lítio-íon ................. 37

Figura 5 - Composição de um sistema de baterias de corrente contínua ............................. 40

Figura 6 - Esquema representativo da arbitragem tarifária .................................................. 41

Figura 7 - Frequência de Utilização dos Modelos de Avaliação ........................................... 45

Figura 8 - Comparação entre os métodos do FCD e Múltiplos ............................................. 46

Figura 9 - Composição da DRE – Demonstração do Resultado do Exercício ...................... 47

Figura 10 - Quadro explicativo de uma Demonstração Financeira ....................................... 48

Figura 11 - Gráfico de degradação da capacidade de um sistema de baterias lítio-íon ........ 51

Figura 12 - Gráfico da degradação da eficiência de descarga de um sistema de baterias lítio-

íon ....................................................................................................................................... 52

Figura 13 - Mapa das áreas de concessão de energia elétrica no Brasil.............................. 55

Figura 14 - Simulação dos tributos federais incidentes sobre o produto estudado ............... 58

xi

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Comparação entre os sistemas de armazenamento ........................................... 35

Tabela 2 - Dados agrupados das eficiência e capacidade anual de um SAE de baterias lítio-

ion ........................................................................................................................................ 52

Tabela 3 - Capacidade do sistema e energia armazenada anual do SAE de baterias lítio-ion

............................................................................................................................................ 54

Tabela 4 - Eficiência do sistema e energia descarregada anual do SAE de baterias lítio-ion

............................................................................................................................................ 54

Tabela 5 - Tarifas de distribuidoras de energia elétrica ........................................................ 56

Tabela 6 - Alíquotas de ICMS dos estados estudados ......................................................... 59

Tabela 7 - CAPEX dos projetos por estado .......................................................................... 59

Tabela 8 - Tarifas do Horário de Ponta das distribuidoras estudadas .................................. 60

Tabela 9 - Benefício Bruto para o Cenário A – LIGHT (RJ) .................................................. 61

Tabela 10 - Benefício Bruto para o Cenário B – CEMIG (MG) ............................................. 61

Tabela 11 - Benefício Bruto para o Cenário C – COELBA (BA) ........................................... 62

Tabela 12 - Tarifas do Horário Fora Ponta das distribuidoras estudadas ............................. 63

Tabela 13 - Custos Operacionais para o Cenário A – LIGHT (RJ) ....................................... 64

Tabela 14 - Custos Operacionais para o Cenário B – CEMIG (MG) ..................................... 65

Tabela 15 - Custos Operacionais para o Cenário C – COELBA (BA) ................................... 66

Tabela 16 - Demonstração Financeira do Cenário A – LIGHT (RJ) ...................................... 67

Tabela 17 - Demonstração Financeira do Cenário B – CEMIG (MG) ................................... 68

Tabela 18 - Demonstração Financeira do Cenário C – COELBA (BA) ................................. 69

Tabela 19 - Fluxos de Caixa Operacional e dos Ativos para o Cenário A – LIGHT (RJ) ...... 70

Tabela 20 - Fluxos de Caixa Operacional e dos Ativos para o Cenário B – CEMIG (MG) .... 71

Tabela 21 - Fluxos de Caixa Operacional e dos Ativos para o Cenário C – COELBA (BA) .. 72

Tabela 22 - Indicadores Econômicos para o Cenário A – LIGHT (RJ) ................................. 73

Tabela 23 - Indicadores Econômicos para o Cenário B – CEMIG (MG) ............................... 74

Tabela 24 - Indicadores Econômicos para o Cenário C – COELBA (BA) ............................. 74

Tabela 25 - Quadro comparativo de indicadores econômicos .............................................. 75

xii

LISTA DE ABREVIATURAS

ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica

BA - Bahia

BIG – Banco de Informações de Geração da ANEEL

CEMIG – Companhia Energética de Minas Gerais

COELBA – Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia

DRE – Demonstração do Resultado do Exercício

EBITDA – Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization (Lucro antes de

Juros, Impostos, Depreciação e Armotização)

FCA – Fluxo de Caixa dos Ativos

FCD – Fluxo de Caixa Descontado

FCO – Fluxo de Caixa Operacional

ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços

II – Imposto de Importação

IPI – Imposto sobre Produto Industrializado

LIGHT - Light Serviços de Eletricidade S.A.

MG – Minas Gerais

RJ – Rio de Janeiro

SAE – Sistema de Armazenamento de Energia

SEB – Sistema Elétrico Brasileiro

SEP – Sistemas Elétricos de Potência

SIN – Sistema Integrado Nacional

TIR – Taxa Interna de Retorno

VPL – Valor Presente Líquido

13

1. INTRODUÇÃO

Este é um trabalho realizado e apresentado como partes dos requisitos necessários

à obtenção do título de Engenheiro de Produção da Universidade Federal do Rio de Janeiro

(UFRJ).

Neste capítulo introdutório é feita uma contextualização do trabalho e os temas que

este aborda de maneira geral, além de apresentar sua estrutura, seus objetivos, limites e

limitações.

1.1. CONTEXTUALIZAÇÃO

O armazenamento de energia é um segmento do setor elétrico que vem crescendo

e tornando-se cada vez mais viável com o surgimento das redes elétricas inteligentes. Mesmo

com suas principais tecnologias em desenvolvimento, o armazenamento de energia

desempenha papel importante na integração de fontes renováveis intermitentes de energia e

nos demais segmentos do setor elétrico. (Silva & Bortoni, 2016)

Ademais, os Sistemas de Armazenamento de Energia (SAEs) têm sido cada vez mais

utilizados por unidades comerciais e industriais, visando reduzir o consumo no horário de pico

de demanda, em que a tarifa de energia é mais alta, reduzindo, assim, os custos com energia

elétrica dessas instalações. (Silva & Bortoni, 2016)

O presente trabalho visa esclarecer se a implementação desses sistemas em

unidades comerciais, conectadas em média tensão, torna-se viável a partir da economia

gerada por essa redução de consumo no horário de pico, considerando todo o investimento,

custos e despesas necessárias para sua instalação e operação.

Esse trabalho está estruturado em capítulos.

No capítulo 1 são apresentados o contexto relacionado a esse trabalho e sua

estrutura, além de seus objetivos, limites e limitações.

No capítulo 2 é apresentada a metodologia de pesquisa, suas principais

classificações e a divisão de seu trabalho.

No capítulo 3 é visto um resumo das principais características do setor elétrico

brasileiro, desde a geração, passando pela transmissão, até chegar na distribuição ao

consumidor final.

No capítulo 4 é visto um breve resumo sobre tarifas de energia elétrica, abordando a

composição das tarifas e as classes e subclasses que diferenciam os consumidores.

14

No capítulo 5 são apresentados diversos pontos relacionados ao armazenamento de

energia, começando pela definição do mesmo e dos principais conceitos relacionados a este

e empregados neste documento. Posteriormente é realizada uma breve análise sobre a

situação do armazenamento de energia no Brasil e no mundo, suas aplicações e benefícios.

No capítulo 6 são abordadas as principais tecnologias de armazenamento de energia

existentes no mundo, sendo estas divididas em quatro grupos e tendo apresentadas suas

principais características. Por fim é realizada uma comparação entre as mesmas para justificar

a escolha do sistema que será detalhado nesse trabalho.

No capítulo 7 é visto com maior detalhamento as baterias de lítio-íon, sendo

apresentado seu histórico e funcionamento, o nível dessa tecnologia no Brasil e no mundo,

além de abordar de maneira geral seus componentes, instalação, operação e como este

realiza a arbitragem tarifária.

No capítulo 8 são apresentados os principais métodos de avaliação econômica de

forma resumida, sendo posteriormente realizada uma comparação para definir o método a ser

utilizado nesse trabalho.

No capítulo 9 é detalhado o método do Fluxo de Caixa Descontado, assim como

especificado outros conceitos importantes e os indicadores econômicos utilizados para

avaliação.

No capítulo 10 é apresentado o estudo de caso, definindo premissas técnicas

importantes do sistema como a potência instalada e a capacidade de armazenamento,

posteriormente sendo realizados cálculos dos fluxos de energia envolvidos na operação do

sistema.

No capítulo 11 são calculados o investimento inicial, benefício bruto e custos

operacionais referentes a cada um dos cenários. Posteriormente, com esses dados bem

explicados, são expostas a Demonstração Financeira, o Fluxo de Caixa Operacional, o Fluxo

de Caixa dos Ativos e os indicadores econômicos para cada cenário estudado.

No capítulo 12 é apresentada a conclusão do trabalho.

1.2. OBJETIVOS DE ESTUDO

Os objetivos desse trabalho podem ser divididos em objetivo geral e objetivo

específico, conforme definições abaixo.

15

1.2.1. OBJETIVO GERAL

Realizar um estudo de viabilidade econômica de novas tecnologias no setor de

energia. Para esse estudo, objetiva-se analisar as principais tecnologias de armazenamento

de energia existentes, bem como as modalidades de análise econômica desse tipo de

tecnologia.

1.2.2. OBJETIVO ESPECÍFICO

Analisar a viabilidade econômica da instalação, em unidades consumidoras

comerciais, de um SAE específico, referente àquele baseado no uso das baterias de lítio-íon.

1.3. LIMITES DO ESTUDO

Este trabalho é limitado à análise de viabilidade econômica de um sistema de baterias

lítio-íon, considerando as premissas adotadas na modelagem financeira, tais como: tarifas de

energia praticadas pelas distribuidoras selecionadas e custos estimados obtidos para o

sistema e sua integração com a rede.

O estudo menciona, de forma resumida, os principais SAEs existentes no mundo,

porém estes são apresentados apenas para comparar suas características técnicas e justificar

a escolha do sistema principal que será analisado.

Sendo assim, o maior detalhamento e análise econômica de qualquer outro sistema

de armazenamento, que não o de baterias lítio-íon, está fora do escopo deste documento.

Neste trabalho não será abordado de forma profunda os impactos ambientais e

medidas de descarte adequadas das baterias em questão.

1.4. LIMITAÇÕES DO ESTUDO

Este trabalho tem como principais limitações o acesso à conteúdos mais detalhados,

devido a muitos artigos relacionados ao assunto em questão serem pagos ou exigirem contas

em plataformas privadas e; o preço de custo de equipamentos, instalação e operação serem

estimados a partir de documento técnico de um fabricante internacional, já que não foi

realizada cotação com vários fornecedores por exigir especificação técnica detalhada de

componentes e que não é objetivo deste trabalho.

16

2. METODOLOGIA DE PESQUISA

Neste capítulo é apresentada a metodologia de pesquisa e suas principais

classificações. Posteriormente é apresentada a divisão do trabalho, abordando as etapas de

pesquisa deste.

2.1. DEFINIÇÃO DO MÉTODO DE PESQUISA

As pesquisas podem ser classificadas, de acordo com seus objetivos, em

quantitativas e qualitativas. Uma pesquisa quantitativa considera hipóteses especificadas e

variáveis definidas, buscando precisão e evitar discrepâncias entre as etapas de análise e

interpretação de dados. O principal foco desse tipo de pesquisa é a medição e a quantificação

de resultados. (Godoy, 1995)

Enquanto isso, a pesquisa qualitativa considera questões mais amplas, que vão se

definindo com o desenvolvimento do estudo, sendo assim esse tipo de pesquisa não utiliza

ferramentas estatísticas para análise de dados, nem mesmo mede os eventos estudados.

(Godoy, 1995)

Este trabalho utiliza uma pesquisa quantitativa, já que a mesma é baseada em

hipóteses especificadas e variáveis definidas que geram um modelo de análise econômica do

projeto estudado, ao mesmo que busca a precisão e uma efetiva interpretação de dados.

Quanto aos fins, esta pesquisa pode ser classificada como exploratória, visto que,

segundo Gil (1999), possui a finalidade de analisar exemplos que estimulem a compreensão

do assunto abordado, assim como esclarecer e desenvolver conceitos e ideias para a

formulação de abordagens futuras do mesmo.

A pesquisa pode ser classificada como bibliográfica quanto aos meios de

investigação e classificação, de acordo com Vergara (2003), visto que é desenvolvida com

base em material publicado em artigos de periódicos, livros, revistas, publicações, etc., ou

seja, material acessível pela internet ao público em geral.

2.2. ETAPAS DE PESQUISA

Conforme demonstrado na figura 1, inicialmente foram definidos os objetivos do

trabalho e posteriormente a metodologia de pesquisa. Sendo assim, foram feitas pesquisas

relacionadas ao Sistema Elétrico Brasileiro (SEB) e ao armazenamento de energia, visando

entender melhor os assuntos abordados, para posteriormente haver uma análise qualitativa

que focou nas tecnologias de armazenamento de energia existentes e suas características

17

para determinar que tipo de sistema seria estudado de forma mais profunda e

consequentemente analisado quantitativamente.

Figura 1 - Fluxograma de organização do trabalho

Fonte: Elaboração própria

Definido o sistema de baterias de lítio-íon como objeto a ser analisado, a pesquisa

literária continuou de forma mais profunda para esse sistema, definindo suas características

técnicas, composição do sistema e custos.

De forma similar se seguiu para os métodos de análise econômica, que tiveram uma

pesquisa realizada para comparação dos mesmos e escolha do melhor método a ser

empregado para o caso estudado. Definido o método do Fluxo de Caixa Descontado (FCD),

este foi aprofundado e explicado de forma mais detalhada.

Em seguida, foram levantados os dados quantitativos necessários para a correta

aplicação do método de análise econômica selecionado, utilizando-se um fornecedor

estrangeiro como referência para os custos de instalação e operação de um sistema de

18

baterias lítio-íon, o site da Receita Federal para cálculo dos tributos federais incidentes, a

inclusão dos impostos estaduais para obtenção do valor total final do projeto, além das tarifas

de energia aplicadas para consumidores conectados em média tensão para cada uma das

três distribuidoras selecionadas para a aplicação do modelo financeiro.

Posteriormente, foi estruturado o modelo financeiro a partir do método do FCD com

os dados quantitativos levantados, obtendo-se, assim, os indicadores estabelecidos para a

análise econômica do projeto em cada uma das distribuidoras. Os indicadores foram

analisados para que fossem tomadas as conclusões a respeito do sistema estudado.

19

3. O SISTEMA ELÉTRICO BRASILEIRO

O SEB se divide em três principais segmentos: a geração, a transmissão e a

distribuição de energia. Segundo o Banco de Informações de Geração (BIG), da Agência

Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), o Brasil conta, em setembro de 2017, com 4.710

empreendimentos em operação, que somam uma potência instalada de 153.814.820 kW

(quilowatts). Além das unidades geradoras espalhadas pelo país, o Brasil importa energia do

Paraguai, tendo em sua matriz energética a potência instalada de 8.170.000 kW em referência

a essa importação. A composição da matriz energética brasileira pode ser visualizada na

figura abaixo:

Figura 2 - Gráfico da Matriz Energética Brasileira

Fonte: Elaboração própria

Dessa maneira, a matriz energética brasileira é formada em sua maioria pela geração

hídrica com 61,35% da potência total instalada, seguida dos combustíveis fósseis que

representam 16,62%, biomassa (8,75%), eólica (6,90%), importação (5,04%), nuclear (1,23%)

e solar (0,11%).

O Atlas de Energia Elétrica do Brasil, publicado pela ANEEL em 2008, destaca que

a transmissão de energia elétrica no Brasil é feita através de sistemas compostos pelas usinas

(unidades geradoras), linhas de transmissão e ativos de distribuição. Esses sistemas fazem

parte do chamado Sistema Interligado Nacional (SIN) e, quando não há interligação total são

chamados de Sistemas Isolados. O SIN abrange a maior parte do território brasileiro,

20

realizando o atendimento da demanda das regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e

parte da região Norte. Já os Sistemas Isolados são sistemas de menor porte que não se

conectam ao SIN, concentrados, em sua maioria, na região Amazônica. Essa divisão se deve

às características geográficas de cada região do país, que determinaram a forma com que os

sistemas de geração, transmissão e distribuição se desenvolveram e, consequentemente, a

facilidade de acesso à energia elétrica pelas respectivas populações dessas localidades. No

caso da região Amazônica, por exemplo, as características de vegetação e presença de rios

dificultam a construção de linhas de transmissão no local, fazendo com que a mesma não se

conecte ao SIN, caracterizando-se, assim, pela presença dos Sistemas Isolados.

A conexão e o atendimento ao consumidor, independentemente do tamanho do

consumo, são realizados pelas distribuidoras de energia elétrica e cooperativas de

eletrificação rural. Segundo a agência existem, hoje, 64 concessionárias de energia elétrica

atuantes no Brasil, além das 126 cooperativas de eletrificação rural. As cooperativas atendem

aproximadamente seiscentos mil consumidores em mais de 1.400 municípios em todo o país,

enquanto que o restante das unidades consumidoras é atendido pelas distribuidoras. Dentre

as distribuidoras atuais observam-se empresas privadas, privatizadas, municipais, estaduais

e federais. Em muitas das empresas privadas há a presença de investidores nacionais e

estrangeiros. (ANEEL, 2008)

A ANEEL, através da mesma publicação, define as distribuidoras como grandes

empresas que recebem das companhias de transmissão toda energia elétrica para abastecer

o país, tornando-se assim, no elo entre o setor de energia elétrica e a sociedade brasileira.

Nas linhas de transmissão, após deixar a unidade geradora, a energia elétrica trafega em

tensão que varia de 88 a 750 Kv (quilovolts), chegando às subestações das distribuidoras,

onde a tensão é rebaixada e, por meio de um sistema composto por fios, postes e

transformadores, chega à unidade consumidora em 127 ou 220 volts (V). Exceção a essa

regra são as unidades consumidoras de média e alta tensão, geralmente unidades industriais

que operam com tensões mais elevadas (entre 2,3 kV e 88 kV) em suas linhas de produção

e recebem energia elétrica diretamente da subestação da distribuidora.

21

4. TARIFAS DE ENERGIA

As distribuidoras de energia emitem mensalmente faturas com os registros do

consumo de energia elétrica, em quilowatt-hora (kWh), pela unidade consumidora no mês

anterior. Fazem parte do valor da energia elétrica três componentes: a tarifa de energia, os

encargos do setor elétrico (embutidos na tarifa) e o tributos determinados por lei. (ANEEL,

2008)

Segundo a ANEEL, em sua publicação “Atlas de Energia Elétrica do Brasil” de 2008,

a tarifa de energia elétrica no país era, até o início da década de 90, única, garantindo a

remuneração das concessionárias de forma independente de seu nível de eficiência, ou seja,

não havia incentivo pela busca por eficiência por parte das distribuidoras. Em 1993, uma nova

lei determinou que as tarifas passariam a ser fixadas por cada distribuidora, conforme as

características específicas de cada área de concessão. Dentre essas características é

possível citar o número de consumidores, os quilômetros de rede de transmissão e

distribuição, custo da energia comprada e tributos estaduais, entre outros.

Para aplicação das tarifas de energia elétrica, as unidades consumidoras são

identificadas por classes e subclasses, sendo as primeiras dividas em: residencial, industrial,

comercial e serviços, rural, poder público, iluminação pública, serviço público e consumo

próprio. Cada classe possui uma estrutura tarifária diferente, respeitando suas peculiaridades

de consumo e de demanda de potência. Sendo assim os consumidores podem ser de

média/alta tensão ou baixa tensão, definidos, para fins de cobrança tarifária, da seguinte

forma: (ANEEL, 2008)

• Média/Alta Tensão

A1 – tensão de fornecimento igual ou superior a 230 kV

A2 – tensão de fornecimento de 88 kV a 138 kV

A3 – tensão de fornecimento de 69 kV

A3a – tensão de fornecimento de 30 kV a 44 kV

A4 – tensão de fornecimento de 2,3 kV a 25 kV

AS – tensão de fornecimento inferior a 2,3 kV atendida a partir de sistema subterrâneo

de distribuição

• Baixa Tensão

B1 – residencial e residencial de baixa renda

B2 – rural, cooperativa de eletrificação rural e serviços públicos de irrigação

22

B3 – demais classes

B4 – iluminação pública

Para os grupos conectados na baixa tensão (B1, B2, B3 e B4), a tarifa de energia

elétrica é monômia, ou seja, esta é composta por preços aplicáveis unicamente ao consumo

de energia elétrica ativa, no caso desses grupos, ainda, o valor da tarifa é único, sendo

independente do horário de consumo. Já para os grupos conectados na média/alta tensão

(A1, A2, A3, A3a, A4 e AS), aplica-se a tarifa de energia binômia, sendo essa estrutura

composta por preços aplicáveis ao consumo de energia elétrica ativa (tarifas horárias) e

demanda faturável. (Light SESA, 2017)

Ainda segundo o website da Light SESA, as tarifas horárias podem ser definidas

como a aplicação de diferentes tarifas de consumo de energia elétrica e de demanda de

potência de acordo com o horário de utilização durante o dia e também com determinados

períodos do ano. As tarifas horárias se dividem em: verde e azul.

No caso da tarifa verde, esta é opcional para unidades consumidoras com

fornecimento de tensão inferior a 69 kV e é composta por dois valores diferentes para o

consumo de energia (R$/kWh), valores estes que variam de acordo com o horário do dia, são

os horários de ponta (período de 3 horas do dia, com a definição dos horários por cada

distribuidora) ou fora de ponta, além de um valor fixo para qualquer nível de potência

contratada. (Light SESA, 2017)

Já a tarifa azul, de acordo com o website da distribuidora do Rio de Janeiro, esta é

obrigatória para unidades consumidoras com fornecimento de energia em tensão igual ou

superior à 69 kV e opcional para tensão abaixo desse limite. Esta aplica diferentes tarifas para

os horários de ponta e fora de ponta tanto para a demanda de potência como para o consumo

de energia.

No caso desse trabalho, será avaliada uma unidade consumidora conectada na

média/alta tensão, A4, sendo, esta, classificada como unidade comercial. Além disso, será

considerada a premissa de que esta unidade consumidora é atendida pela Tarifa Verde como

tarifa horária padrão.

23

5. O ARMAZENAMENTO DE ENERGIA

No presente capítulo são definidos conceitos básicos relacionados ao

armazenamento de energia, além de realizada uma análise sobre a situação do

armazenamento de energia no Brasil e no mundo e apresentadas suas aplicações e

benefícios.

5.1. DEFINIÇÃO

Segundo McLarnon & Cairns (1989), o armazenamento de energia elétrica refere-se

ao processo de conversão de energia elétrica de uma rede de energia em uma forma que

pode ser armazenada para ser convertida de volta para energia elétrica quando necessário.

Esse processo permite que a eletricidade seja produzida em tempos de baixa

demanda, baixo custo de geração ou de fontes de geração de energia intermitentes para ser

usado em momentos de alta demanda, alto custo de geração ou quando não há outros meios

de geração disponíveis. (McLarnon & Cairns, 1989)

5.2. OUTRAS DEFINIÇÕES IMPORTANTES

A definição de alguns conceitos se faz importante para o melhor entendimento deste

trabalho, seguindo abaixo os de maior destaque:

Energia: é a unidade de medida fundamental dos sistemas elétricos de potência

(SEP). A função fundamental dos SEP é converter a energia primária, seja ela

mecânica, térmica, química ou de outros tipos, em energia elétrica, para assim

transmiti-la e distribui-la. Tem como unidade de medida o Joule (J) ou Wh (Watt-

hora). O conceito de energia é importante para as tecnologias de armazenamento

de energia pois define o tamanho do sistema. (Bueno & Brandão, 2016)

Potência: é uma medida da taxa de transferência de energia. Podemos expressá-

la como a quantidade de energia transferida por unidade de tempo, sendo sua

unidade o W (Watt = J/s). O conceito de potência é importante para as tecnologias

de armazenamento de energia pois define a tecnologia mais adequada para

suprir a demanda de potência da carga. (Bueno & Brandão, 2016)

24

Eficiência: mede o trabalho útil realizado a partir da energia absorvida pelo

dispositivo. Para SAEs deve ser entendida como a quantidade de energia

entregue na fase de descarga, ou seja, a energia elétrica que sai do sistema, em

relação à energia absorvida pelo sistema na fase de carga, ou seja, a energia

elétrica que entra no sistema. Em ambos os processos de carga e descarga há

perda de energia. (Bueno & Brandão, 2016)

Densidade de energia: é a quantidade de energia armazenada no sistema

dividida pelo peso ou volume do dispositivo de armazenamento (W/kg ou W/litro).

O volume e peso considera todo o sistema de armazenamento, incluindo o

elemento de armazenamento de energia, acessórios, estruturas de suporte e o

sistema inversor. (Chen et al., 2008)

Ciclo carga-descarga: pode ser definido como o ciclo que vai desde o processo

de carga com a entrada de energia elétrica no dispositivo, onde essa é convertida

em outro tipo de energia e armazenada, até o processo de descarga que se

caracteriza pela conversão da energia armazenada novamente em energia

elétrica para utilização pelo consumidor. (Bueno & Brandão, 2016)

Ciclo de vida: se refere ao número de ciclos (operações) de carga e descarga ao

qual foi submetido o SAE até que o mesmo se torne ineficaz de realizar as

funções as quais foi designado (definida de acordo com a especificação de cada

sistema). (Bueno & Brandão, 2016)

5.3. O ARMAZENAMENTO DE ENERGIA NO MUNDO

Segundo Bueno & Brandão (2016), o armazenamento de energia elétrica e a

aplicação de sistemas que realizam esse processo é uma tendência mundial, visto que

proporciona benefícios para o setor elétrico desde a geração até o consumo.

De acordo com o relatório Energy Storage Trends and Opportunities in Emerging

Markets, publicado pelos autores Gauntlett & Eller em 2017, as principais tendências mundiais

relacionadas ao armazenamento de energia atualmente são: a queda de custos das

tecnologias, que fazem com que os SAEs continuem a ser uma alternativa econômica ou um

componente da infraestrutura da rede elétrica, e o crescimento das fontes de geração

25

intermitentes, que trazem consigo o crescimento do mercado de armazenamento de energia,

visto que viabilizam uma melhor operação destas fontes de geração.

Ao mesmo tempo, existem muitas particularidades quanto às tendências e o

desenvolvimento da indústria e de estudos voltados para o mercado de armazenamento de

energia, variando de país para país por todo o planeta, principalmente para economias

emergentes. As especificidades de cada mercado, como as aplicações que os SAEs terão e

os tipos de tecnologias mais adequadas para eles, dependerão de alguns fatores como a

combinação de recursos de geração de energia existentes (principalmente os de energias

renováveis intermitentes), a existência de SAEs já em operação, a estabilidade e

confiabilidade da rede elétrica do país e as estruturas de custos de eletricidade para os

consumidores no local. (Gauntlett & Eller, 2017)

Ainda segundo Gauntlett & Eller (2017), a maior parte da atividade no mercado de

armazenamento de energia até o momento está centrada em países e regiões selecionados,

principalmente com economias bem desenvolvidas e em mercados de energia com marcos

regulatórios favoráveis para extrair valor para projetos de armazenamento. Há várias lições e

melhores práticas que podem ser aprendidas com o setor nessas áreas, e o desenvolvimento

limitado que já ocorreu em economias emergentes pode ser analisado também.

5.4. O ARMAZENAMENTO DE ENERGIA NO BRASIL

De acordo com Bueno & Brandão (2016), o único SAE de grande porte no Brasil é a

Usina Elevatória de Pedreira, cuja potência é de 20.000 kW. Esta foi a primeira usina

hidrelétrica reversível do mundo, tendo sido construída no estado de São Paulo, inaugurada

em 1939 e operada, desde então, pela Empresa Metropolitana de Águas e Energia (EMAE).

A usina iniciou sua operação com apenas uma unidade reversível, possibilitando o

funcionamento da mesma tanto como geradora de energia como bomba. Posteriormente,

foram instaladas outras sete unidades, seis destas reversíveis e uma apenas como bomba,

que totalizam as oito unidades até hoje.

O SEB apresenta um conjunto de fatores que apontam para a importância do

armazenamento de energia para o país, tais como sua alta capacidade instalada, o número

de unidades consumidoras (mais de 77 milhões) e o crescimento das fontes de geração

intermitentes eólica e solar fotovoltaica com políticas tributárias e regulações favoráveis. Além

disso, o SIN demanda tecnologias de controle de ponta de carga, assim como os Sistemas

Isolados podem se beneficiar bastante com os SAEs integrados às fontes de geração de

energia renovável intermitentes. (Bueno & Brandão, 2016)

26

A importância desse tema para o SEB e a necessidade de desenvolvimento do

mesmo foi demonstrada no mês de março de 2017 quando a ANEEL aprovou 23 projetos (11

aprovados diretamente e outros 12 com recomendações) de P&D submetidos à chamada

pública “P&D Estratégico nº21/2016 – Arranjos Técnicos e Comerciais para a Inserção de

Sistemas de Armazenamento de Energia no Setor Elétrico Brasileiro”. A chamada teve como

objetivo o desenvolvimento de projetos para avaliação e inserção de SAEs no setor elétrico

brasileiro, criando, ao mesmo tempo, condições para desenvolvimento de base tecnológica

no Brasil, bem como infraestrutura para produzir esses equipamentos nacionalmente e

também a constituição de patentes. Os projetos aprovados abrangem variados tipos de

tecnologia de armazenamento de energia, como baterias de lítio-íon e chumbo ácido, usinas

reversíveis, armazenamento por hidrogênio e por ar comprimido. (ANEEL, 2017)

5.5. APLICAÇÕES E BENEFÍCIOS

A cadeia de valor tradicional do setor de eletricidade constitui-se de cincos

segmentos: fonte de energia, geração, transmissão, distribuição e serviço de energia ao

consumidor. Ao fornecer energia quando necessária, os SAEs tornam-se o sexto segmento,

integrando os segmentos existentes e criando um mercado mais responsivo. (Makansi &

Abboud, 2002)

As possíveis aplicações dos SAEs são muitas e variadas, podendo abranger desde

os sistemas de maior escala (geração e transmissão), até aqueles relacionados à rede de

distribuição e ao consumidor final. (Baker & Collinson, 1999)

Algumas aplicações são resumidas abaixo:

Geração e Fontes de Energia Renovável Intermitentes: unidades geradoras

solares e eólicas tem suas gerações de energia flutuantes, com a maior parte da

energia gerada em momentos de baixa demanda, dessa forma os SAEs dão

suporte a essas unidades geradoras armazenando a energia gerada e liberando-

a quando necessária, nos horários de maior demanda. Ademais, fontes de

energia solar e eólica são muito utilizadas em áreas remotas que são mal

atendidas ou não possuem sistemas de transmissão e distribuição de energia,

sendo assim, é importante a aplicação dos SAEs de forma que a energia seja

armazenada nos períodos de geração para utilização pela população dessas

localidades quando necessária. (Ibrahim, Beguenane, & Merabet, 2012) Por

último, essas fontes de energia se presentes em escala significativa em

27

determinadas redes podem causar desequilíbrios entre geração e carga

justamente devido às suas características de intermitência e variabilidade na

geração de energia. Esse problema pode ser solucionado com SAEs que

oferecem uma resposta imediata a tais desequilíbrios. (National Energy

Technology Laboratory, 2008)

Transmissão e Distribuição: neste segmento, os SAEs podem ser aplicados

visando dar estabilidade ao sistema, mantendo todos os componentes em uma

linha de transmissão em operação síncrona entre si, reduzindo as oscilações de

potência (Ibrahim, Beguenane, & Merabet, 2012) e dando suporte quanto à

frequência da rede de distribuição, evitando qualquer súbito desequilíbrio de

carga/geração grande, o que mantém um equilíbrio de estado de frequência

evitando possíveis danos a equipamentos elétricos. (Makansi & Abboud, 2002).

Além disso, a aplicação desses sistemas adia a necessidade de instalações de

transmissão adicionais, através das instalações já existentes e suplementares.

(Chen et al., 2008)

Serviços de Energia: aplicam-se os SAEs no gerenciamento de energia,

deslocando a demanda de energia de uma hora do dia para outra, o que gera

também economia ao consumidor final. (Makansi & Abboud, 2002). Ademais, o

armazenamento de energia melhora a qualidade dos serviços elétricos ao cliente,

mitigando problemas relacionados às mudanças de magnitude e forma de tensão

e corrente, fornecendo energia elétrica sem quaisquer oscilações ou interrupções

e também aumenta a confiabilidade no fornecimento de energia elétrica.

(Rebours & Kirschen, 2005). Além disso, para os autoprodutores de energia, o

armazenamento de energia pode ser aplicado visando armazenar energia gerada

no horário de fora ponta (preço de energia mais barato) para utilização durante o

horário de ponta (preço de energia mais caro). (Makansi & Abboud, 2002)

28

6. SISTEMAS DE ARMAZENAMENTO DE ENERGIA

Pode-se observar no mundo, hoje, diversos tipos de SAE, cada um em seu estágio

de maturidade, seja em relação a pesquisas ou aplicações comerciais. Durante o processo

de carga, os SAEs convertem energia elétrica em outra forma de energia armazenável como

química, mecânica ou térmica. Já no processo de descarga a energia armazenada é

transformada em energia elétrica. (Bueno & Brandão, 2016)

Ainda de acordo com Bueno & Brandão (2016) no relatório “Visão Geral de

Tecnologia e Mercado para Sistemas de Armazenamento de Energia Elétrica no Brasil”, A

eficiência de um sistema de armazenamento é determinada pelas perdas energéticas

ocorridas no processo de carga e descarga. Independentemente do tipo de sistema, em todos

há perda de energia.

Na Figura 3 é possível observar a divisão dos diferentes SAEs quanto à sua

tecnologia e princípio de armazenamento e escala de tempo característica de aplicação. A

escala de tempo indica, basicamente, o tempo característico para carga e descarga do

sistema. (Fuchs et al., 2012). Cada uma dessas tecnologias é vista nos próximos tópicos.

Figura 3 - Classificação das tecnologias de sistemas de armazenamento de energia

Fonte: Technology Overview on Electricity Storage – Fuchs et al., 2012

29

6.1. SISTEMAS ELÉTRICOS

6.1.1. SUPERCAPACITORES

Os supercapacitores são dispositivos elétricos que consistem em duas placas de

metal carregadas de forma oposta e separadas por um isolador. Esse sistema armazena

energia aumentando a acumulação de carga elétrica nas placas de metal e descarregando

energia quando as cargas elétricas são liberadas por essas placas. A principal aplicação dos

supercapacitores é para curta duração, como, por exemplo, fornecer energia de backup

durante interrupções breves. (Ibrahim, Beguenane, & Merabet, 2012)

Os principais pontos negativos no desenvolvimento de supercapacitores são os

elevados custos e sua baixa densidade de energia. Já seu principal ponto positivo é sua alta

eficiência. (Fuchs et al., 2012)

6.1.2. SISTEMAS DE SUPERCONDUTIVIDADE MAGNÉTICA

Esse sistema consiste em uma bobina com muitos enrolamentos de fio

supercondutor que armazena e libera energia com aumentos ou diminuições na corrente

elétrica que flui através do fio. A energia é adicionada ou extraída do campo magnético do

indutor aumentando ou diminuindo a corrente nos enrolamentos. (Ibrahim, Beguenane, &

Merabet, 2012)

Os sistemas de supercondutividade magnética possuem alta confiabilidade e

necessitam de baixa manutenção, especialmente por seus principais componentes serem

imóveis. Apesar disso, esses dispositivos exigem sistemas de refrigeração, apresentando

consumo de energia elevado. (Ibrahim, Beguenane, & Merabet, 2012)

Os principais pontos negativos associados a esses dispositivos são seu alto custo de

implementação e os problemas ambientais associados ao campo magnético. (Chen et al.,

2008)

6.2. SISTEMAS MECÂNICOS

6.2.1. BOMBEAMENTO REVERSO

O SAE por bombeamento reverso consiste de dois reservatórios de água

interconectados e localizados em diferentes alturas, como por exemplo o lago de uma

montanha e o lago de um vale. Turbinas reversíveis (funcionam como turbinas e bombas) são

utilizadas junto a motores síncronos (funcionam como geradores) bombeando água do

30

reservatório inferior até o reservatório superior durante o processo de carga, enquanto que

essa mesma turbina é ativada com a queda d’água no processo de descarga, iniciando o

processo de geração de energia. O montante de energia armazenada, nesse caso, é

proporcional ao produto da massa total de água pela diferença de altura entre os reservatórios.

(Fuchs et al., 2012)

Para esse sistema, as perdas ocorrem em ambos os ciclos de carga e descarga, com

perdas elétricas nos motores-geradores, mecânicas nas bombas-turbinas, além de perdas por

evaporação e infiltração do solo (variam muito em função das características climáticas e

geológicas da região em questão). (Bueno & Brandão, 2016)

6.2.2. SISTEMAS DE AR COMPRIMIDO

De acordo com Fuchs et al. (2012), o processo de carga do sistema de ar comprimido

consiste na compressão do ar através de um compressor acionado por um motor, no qual o

ar esquenta durante o processo de compressão e o calor é removido por um radiador. Dessa

maneira, a energia é armazenada em forma de ar comprimido geralmente em cavernas

subterrâneas, tendo em seu processo de descarga a expansão do ar, resfriando-o e

posteriormente sendo este aquecido pela queima de combustível convencional ou

biocombustíveis para, então, acionar a unidade geradora (turbina-gerador) que gera energia

elétrica.

6.2.3. SISTEMAS “FLYWHEEL” OU VOLANTE DE INÉRCIA

Esses sistemas armazenam energia mecânica (cinética) no momento de inércia de

um volante, também chamado de massa girante. Dessa forma, a energia armazenada é

proporcional ao momento de inércia da massa girante e ao quadrado da sua velocidade

angular, o que justifica a utilização de grandes massas e elevadas velocidades angulares.

(Bueno & Brandão, 2016)

Nos sistemas flywheel, um motor é utilizado para acelerar o volante durante o

processo de carga, sendo a energia armazenada em forma de energia cinética rotacional,

tendo que o volante se manter girando até a energia ser requisitada. Já no processo de

descarga, a energia cinética é extraída por um gerador impulsionado pela inércia do volante,

resultando em uma desaceleração da massa girante. (Fuchs et al., 2012)

Fuchs et al. (2012) destaca como principais pontos positivos relacionados a esse

sistema os baixos custos de manutenção e sua capacidade de carga rápida. Quanto aos

31

pontos negativos destacam-se a baixa densidade de energia, suas perdas energéticas e

alguns problemas de segurança.

6.3. SISTEMAS TÉRMICOS

Sistemas que armazenam energia na forma térmica e em baixas diferenças de

temperatura são simples e baratos, não exigindo qualquer tipo de tecnologia complexa. Ao

mesmo tempo, o processo de conversão da energia térmica para outro tipo de energia é de

extrema complexidade, apresentando baixa eficiência e necessitando de altas diferenças de

temperatura para melhorar seu desempenho. (Bueno & Brandão, 2016)

Já os sistemas térmicos de armazenamento de energia que trabalham com elevadas

diferenças de temperatura são extremamente caros e complexos em relação a sua tecnologia

e operação. Além disso, esse sistema está em fase de estudo atualmente, com poucas

instalações existentes no mundo e todas elas em fase experimental. Seu tempo para entrada

no mercado deve variar de acordo com a quantidade de componentes que o compor. (Fuchs

et al., 2012)

O princípio de funcionamento dos sistemas térmicos de alta temperatura é a geração

de calor em elevada temperatura por uma aquecedor elétrico no processo de carga,

armazenando-o em armazenadores térmicos como sal fundido (meio mais utilizado) por

exemplo. No processo de descarga o calor é extraído do armazenamento térmico gerando

vapor que aciona o conjunto turbina-gerador, gerando energia elétrica. (Fuchs et al., 2012)

Como principais pontos positivos estão a possibilidade de implantá-lo em larga

escala e sua densidade de energia. Quanto aos pontos negativos destacam-se sua baixa

eficiência e o fato de apenas sistemas de grande porte serem viáveis. (Fuchs et al., 2012)

6.4. SISTEMAS QUÍMICOS

6.4.1. BATERIAS DE LÍTIO-ÍON

As baterias de lítio-íon são compostas por um eletrodo positivo e outro negativo, além

do eletrólito que é constituído de sais de lítio dissolvidos em carbonatos orgânicos. Durante o

processo de carga os íons de lítio se movem do eletrodo positivo para o negativo, sendo

intercalados nas camadas de grafite. Já no processo de descarga, os íons de lítio se movem

para o eletrodo positivo onde são intercalados na estrutura de cristal. (Fuchs et al., 2012)

O relatório “Technology Overview on Electricity Storage” de Fuchs et al. (2012)

destaca que as principais aplicações das baterias de íons de lítio são em armazenamentos

32

de energia a médio e curto prazo, sendo assim, tem sido uma tecnologia importante na área

de eletrônicos portáteis durante os últimos anos. Além disso, esses dispositivos também

vendo sendo utilizados em veículos elétricos e como SAEs residenciais. Ademais, essas

baterias são uma opção interessante para aplicações estacionárias, como a instalação junto

às redes de distribuição de energia.

Esses dispositivos têm como principais vantagens sua alta densidade de energia,

longo ciclo de vida e elevada eficiência. Ao mesmo tempo, seus custos elevados e a

necessidade por um sistema de monitoramento sofisticado são suas principais desvantagens.

(Fuchs et al. 2012)

6.4.2. BATERIAS CHUMBO-ÁCIDO

As baterias de chumbo-ácido foram inventadas em 1859, sendo os dispositivos

eletroquímicos recarregáveis mais antigos e usados no mundo. Uma bateria de chumbo-ácido

tem, em sua composição, eletrodos (no estado carregado) de metal de chumbo e óxido de

chumbo em um eletrólito composto de ácido sulfúrico. No estado descarregado, ambos os

eletrodos se transformam em sulfato de chumbo e o eletrólito perde seu ácido sulfúrico

dissolvido, tornando-se principalmente água. (Chen et al., 2008)

A bateria de chumbo ácido tem um custo relativamente baixo e uma alta

confiabilidade e eficiência. Sua aplicação para gerenciamento de energia, no entanto, tem

sido muito limitada devido à sua curta vida útil e a baixa densidade de energia causada

principalmente pela alta densidade inerente de chumbo. Além disso, esse tipo de bateria

também apresenta desempenho ruim em baixas temperaturas necessitando de um sistema

de gerenciamento térmico. Mesmo assim, as baterias de chumbo-ácido têm sido aplicadas

em grande escala por unidades consumidoras comerciais como SAEs, de forma que melhore

o gerenciamento da energia. (Chen et al., 2008)

6.4.3. BATERIAS DE ALTA TEMPERATURA

Segundo o relatório “Technology Overview on Electricity Storage” de Fuchs et al.

(2012), as baterias de alta temperatura têm como principais aplicações o nivelamento de carga

em parques eólicos, suprimento em necessidades de energia de emergenciais e utilização em

carros e ônibus elétricos. Esse tipo de bateria é pouquíssimo utilizado por ser fabricada em

baixas quantidades e em pontos muitos específicos. Hoje em dia, os principais pontos que

tem recebido a atenção no desenvolvimento desta tecnologia são os custos e a segurança da

bateria. O último, principalmente, por uma bateria deste tipo ter sido incendiada em um projeto

33

específico, o que tem exigido um redesenho do sistema acarretando em um desenvolvimento

mais lento desta tecnologia.

6.4.4. BATERIAS DE FLUXO

A bateria de fluxo é uma bateria em que o eletrólito contém uma ou mais espécies

eletroativas dissolvidas que fluem através de uma célula ou reator de energia na qual a

energia química é convertida em eletricidade. O eletrólito adicional é armazenado

externamente, normalmente em tanques, e geralmente é bombeado através das células do

reator nos processos de carga e descarga. A reação é reversível, permitindo que a bateria

seja carregada, descarregada e recarregada. Em contraste com as baterias convencionais,

as baterias de fluxo armazenam energia nas soluções eletrolíticas, além disso, elas são

capazes de liberar energia continuamente com uma alta taxa de descarga por até dez horas.

(Chen et al., 2008)

Para essas baterias, o tamanho do tanque determina a capacidade de

armazenamento energia e a unidade de reação (pilha de células) determina a potência. Esse

tipo de bateria se aplica muito bem em operações técnicas de grande e médio porte, por

exemplo, devido a possibilidade de construir tanques maiores com facilidade e eficiência. Os

custos de manutenção das baterias de fluxo ainda são altos principalmente pelos vazamentos

causados pelos líquidos ácidos utilizados. (Fuchs et al., 2012)

6.4.5. SISTEMA POR ARMAZENAMENTO DE HIDROGÊNIO

Os SAEs à base de hidrogênio são compostos por um eletrolisador, que converte a

entrada de energia elétrica em hidrogênio no processo de carga, um reservatório, que

armazena o hidrogênio já comprimido, e um sistema de conversão de energia de hidrogênio,

que converte a energia química armazenada no hidrogênio de volta à energia elétrica. Esse

sistema de conversão pode ser um sistema de células de combustível ou motores de

combustão interna que queimam o hidrogênio. (Chen et al., 2008)

Esses sistemas possuem como principais vantagens a alta capacidade de

armazenamento, a alta densidade de energia e a possibilidade de ser implementado em uma

ampla gama de escalas, desde os quilowatts de potência instalada até os megawatts. (Chen

et al., 2008)

Por outro lado, as desvantagens deste sistema estão principalmente no fato de haver

considerável consumo interno de energia do sistema, o alto custo de implementação e a baixa

34

eficiência de um ciclo carga-descarga completo, principalmente se utilizados motores a gás

para geração. (Chalk & Miller, 2006)

6.4.6. SISTEMA POR ARMAZENAMENTO DE GÁS NATURAL

Esse sistema utiliza metano produzido a partir de hidrogênio e dióxido de carbono

em uma reação exotérmica. O metano, principal componente do gás natural, é totalmente

compatível com as estruturas existentes de gás natural, podendo ser injetados nas redes sem

restrições. Essa compatibilidade é justamente a grande vantagem desse sistema quando

comparado ao armazenamento por hidrogênio. Além disso, outro ponto positivo dessa

tecnologia é sua capacidade de armazenamento à longo prazo. Apesar dessas vantagens,

esse sistema apresenta como principais pontos negativos seus custos periféricos ao

armazenamento e a perda de eficiência, visto que o processo produz calor residual que,

quando não é utilizado, diminui ainda mais a eficiência do processo em geral. (Fuchs et al.,

2012)

6.5. COMPARAÇÃO ENTRE SISTEMAS

Para realizar a comparação entre os sistemas estudados foram levados em

consideração apenas os sistemas que, segundo Fuchs et al. (2012), tem como uma de suas

principais aplicações a economia no horário de pico, sendo assim elimina-se da comparação

os sistemas de baterias de fluxo, armazenamento de hidrogênio e armazenamento de gás

natural.

Além disso, foram desconsiderados para método de comparação os sistemas por

bombeamento reverso e por ar comprimido, visto que ambos não se adequam à instalação

de unidades consumidoras facilmente. O primeiro necessita, para sua implantação, de dois

reservatórios de água e o segundo de uma caverna, dessa maneira eliminam-se ambos. As

baterias de alta temperatura foram retiradas da comparação por não serem produzidas em

grande quantidade, não sendo facilmente adquiridas.

Dessa forma, o quadro comparativo elaborado engloba os seguintes SAEs:

supercapacitores, supercondutivdade magnética, flywheel, térmico, baterias lítio-íon e

baterias de chumbo ácido. A tabela 1 demonstra a comparação entre esses sistemas para

posterior análise e decisão de qual sistema deve-se seguir como objeto de estudo neste

trabalho.

35

Tabela 1 - Comparação entre os sistemas de armazenamento

Método Vantagens Desvantagens

Supercapacitores Alta eficiência Custo alto Baixa densidade de energia

Supercondutividade Magnética

Alta confiabilidade Baixa manutenção

Custo alto Problemas ambientais Necessidade de refrigeração

Flywheel Baixo custo de manutenção Capacidade de carga rápida

Baixa densidade de energia Perdas de energia Problemas de segurança

Térmico Alta densidade de energia Possibilidade de implantação em larga escala

Baixa eficiência Viabilidade apenas de sistemas grandes

Lítio-íon Alta densidade de energia Longo ciclo de vida Elevada eficiência

Custo alto Necessidade de sistema de monitoramento sofisticado

Chumbo-Ácido Custo baixo Alta confiabilidade Alta eficiência

Curto ciclo de vida Baixa densidade de energia Necessidade de sistema térmico

Fonte: Elaboração própria

Diante das características expostas acima e analisando um sistema que possa ser

implantado com facilidade em uma unidade consumidora comercial e seja economicamente

viável, prioriza-se a escolha de sistemas com alta densidade de energia, devido ao tamanho

do sistema, e alta eficiência, devido à maior geração de benefício tarifário. Dentre estas

características, os supercapacitores, os sistemas térmicos e as baterias de chumbo-ácido

possuem uma das duas, enquanto que as baterias de lítio-íon possuem ambas. Além disso,

pesa a favor dos sistemas de baterias lítio-íon o fato de possuir longo ciclo de vida, o que

significa geração de benefício durante um maior período de tempo, tornando o sistema ainda

mais viável economicamente.

Sendo assim, decide-se por seguir com os sistemas de baterias lítio-íon como objeto

de estudo deste trabalho, por este apresentar mais características favoráveis à implantação

em unidades consumidoras comerciais.

36

7. SISTEMAS DE BATERIAS ÍON LÍTIO

No presente capítulo é visto com maior detalhamento as baterias de lítio-íon, sendo

apresentado seu histórico e funcionamento, o nível dessa tecnologia no Brasil e no mundo,

além de abordar de maneira geral seus componentes, instalação, operação e como este

realiza a arbitragem tarifária.

7.1. HISTÓRICO

O lítio foi descoberto em 1817 pelo químico sueco Johan Arfvedson, quando o

mesmo analisava uma rocha petalita. Após a descoberta, o pesquisador deu o nome à pedra

de “Lithos”, expressão cujo significado é pedra em grego. Alguns anos depois, em 1855,

Robert Bunsen (químico alemão) e Augustus Matthiessen (químico e físico britânico),

produziram, simultaneamente, grande quantidade de lítio metálico através do processo de

eletrólise do sal de cloreto de lítio. As primeiras pesquisas voltadas para o uso do lítio em

SAEs ocorreram apenas 150 anos após sua descoberta. (Brodd, 2002)

Como principais características atrativas para sua utilização no armazenamento de

energia estão o baixo peso do lítio, o que o torna um metal com alta densidade energética e

seu elevado potencial eletroquímico. Sendo assim, a primeira publicação sobre a utilização

de lítio em baterias se deu em 1958 e a primeira comercialização de baterias que utilizavam

lítio como ânodo ocorreu no final da década de 1970 (unidades não recarregáveis), sendo

estas não recarregáveis. Posteriormente, a bateria recarregável de lítio foi desenvolvida no

ano de 1980, utilizando o ânodo de lítio metálico. Observados problemas na utilização do

ânodo na forma metálica, passou a ser utilizado lítio na forma iônica nas baterias

recarregáveis. (Rosolem et al., 2012)

A primeira bateria recarregável de lítio-íon comercializável foi apresentada pela Sony

no ano de 1991. O modelo apresentado pela multinacional japonesa utilizava ânodo de grafite

e cátodo de cobalto de lítio. A partir daí, pelo fato das baterias de lítio-íon possuírem alta

densidade de energia, sendo assim atraentes para o mercado de equipamentos eletrônicos,

como celular, computadores e outros, esse tipo de tecnologia passou a ser mais estudado e

desenvolvido mundo afora. (Blomgren, 2016)

7.2. FUNCIONAMENTO

O princípio de funcionamento das baterias de lítio-íon é a intercalação iônica, visto

que o ânodo e o cátodo desse tipo de bateria são compostos por materiais com propriedades

37

que possibilitam a inserção e extração de íons de lítio de modo reversível entre ambos os

eletrodos, tendo elétrons adicionados e removidos pelo circuito externo da bateria

simultaneamente. (Rosolem et al., 2012)

Ainda segundo Rosolem et al. (2012), não há ocorrência do processo de oxidação e

redução pelos íons de lítio da bateria, sendo esses somente inseridos e extraídos dos

materiais dos eletrodos. Os processos de oxidação e redução ocorrem em outros materiais

que compõem o ânodo e o cátodo, como o grafite, cobalto, etc. (varia de acordo com o tipo

de bateria e material utilizado nos eletrodos).

No processo de carga dessa bateria, os íons de lítio são extraídos do eletrodo

positivo, que se oxida, cedendo um elétron. Posteriormente, tanto os íons de lítio como os

elétrons são transportados até o eletrodo negativo, onde iniciam a “fase litiada” que se

caracteriza pela inserção de íons de lítio na estrutura do material anódico, reduzindo o estado

de oxidação do material. Dessa forma, finalizando o processo de carga, tem-se os materiais

ativos em ambos os eletrodos: “fase litiada” no ânodo e “fase deslitiada” no cátodo. Já no

processo de descarga, quando acontece justamente a geração de energia, a reação ocorre

em sentido inverso. (Rosolem et al., 2012). A figura abaixo ilustra os processos de carga e

descarga explicados anteriormente.

Figura 4 - Princípios dos processos de carga e descarga em células de lítio-íon

Fonte: Technology Overview on Electricity Storage, ISEA - RWTH Aachen University (traduzida)

Nas baterias de lítio-íon é possível utilizar um grande número de eletrólitos e

combinações de materiais de eletrodos, que levam a diferentes características. Os materiais

mais utilizados para compor os eletrodos negativo e positivo são, respectivamente, o grafite e

38

os materiais à base de óxidos metálicos de lítio. Já o eletrólito normalmente é um sul de lítio

diluído em solventes orgânicos e embebido em um separador. (Rosolem et al., 2012)

7.3. BATERIAS LÍTIO-ÍON NO BRASIL E NO MUNDO

Em reportagem da revista Exame publicada em 2016, a mesma destaca que uma

tendência para os sistemas de baterias no geral é a queda do custo dos equipamentos. A

revista aponta que o Conselho Mundial de Energia, através de seu relatório divulgado no

mesmo ano, indica que o custo de armazenar energia em baterias pode cair até 70 por cento

até o ano de 2030. Essa queda se dá pelos avanços tecnológicos que estão reduzindo os

custos das baterias, o que pode torná-las cada vez mais atraentes para utilização em escala

comercial.

O último relatório da empresa Zion Market Research (2017) sobre o mercado mundial

de baterias lítio-íon valorou esse mercado em 31.17 bilhões de dólares, prevendo uma taxa

de crescimento anual de 13,7% pelos próximos 6 anos, sendo assim esperado uma receita

de 67.7 bilhões de dólares ao final de 2022.

A América do Norte é a principal região do mercado mundial de baterias de lítio íon,

tendo uma demanda crescente devido principalmente ao consumo de smartphones e outros

equipamentos eletrônicos. A maior parte dessa participação se deve ao Estados Unidos

exercer papel extremamente importante no desenvolvimento futuro dessas baterias. Já a

região da Ásia-Pacífico é o outro mercado em rápido crescimento, visto que possui altíssima

demanda por baterias de lítio-íon devido ao crescimento da indústria de eletrônicos e do setor

automotivo, além de organizações governamentais auxiliarem financeiramente estudos e

projetos dessa área. Destacam-se entre os países asiáticos, nesse contexto, China, Japão,

Índia e Coréia do Sul. (Zion Market Research, 2017)

Enquanto isso, segundo o mesmo relatório, é esperado que o continente europeu

tenha um crescimento moderado nesse mercado devido aos avanços tecnológicos

relacionados à área e ao crescimento do setor de carros elétricos em alguns países. Já na

América Latina, no Oriente Médio e na África, o mercado de baterias de lítio-íon está em um

estágio inicial e espera-se um crescimento potencial ao longo do período de previsão de 6

anos.

Mais especificamente sobre o Brasil, segundo o website da Itaipu Binacional em

notícia publicada no ano de 2015, o principal acontecimento recente relacionado às baterias

lítio-íon foi a assinatura, nesse mesmo ano, do acordo de cooperação entre a Itaipu

Binacional, a Fundação Parque Tecnológico Itaipu (FPTI) e a empresa inglesa Micra Limited

39

para a instalação de um centro de excelência de pesquisa dessas baterias, algo inédito no

país. Sendo assim, espera-se que haja em breve no Brasil a primeira indústria nacional de

produção em escala de baterias lítio-íon, focada principalmente na utilização desses

dispositivos em veículos elétricos e sistemas de armazenamento de energia.

7.4. DESCARTE DE BATERIAS LÍTIO-ÍON

As baterias lítio-íon possuem produtos menos agressivos, e consequentemente são

menos poluentes, quando comparadas às outras baterias compostas por lítio. Além disso, são

muito menos nocivas ao meio ambiente em comparação às baterias compostos por metais

pesados como mercúrio, cádmio e chumbo. Ainda assim, cuidados são necessários com as

baterias lítio-íon, devendo-se evitar: exposição destas a altas temperaturas, vazamento de

líquidos, ondas eletromagnéticas, incineração, impactos mecânicos, além de outras condições

anormais de segurança que possam causar riscos de vazamento ou até mesmo explosão da

bateria. (Reidler & Günther, 2002)

De acordo com Reidler & Günther (2002), o lítio é um metal que reage de forma

violenta com a água, liberando hidrogênio, altamente inflamável, podendo causar

queimaduras quando em contato com os olhos e a pele. Além disso, o lítio caracteriza-se por

ser um metal altamente corrosivo. Os principais efeitos à saúde devido à presença desse

elemento químico são: cáustico sobre a pele e mucosas, disfunções renais, respiratórias e

neurológicas e teratogênico.

Atualmente a legislação brasileira determina que apenas as baterias compostas por

cádmio, mercúrio e chumbo possuam procedimento de descarte com coleta, tratamento e

disposição final adequada, excluindo a baterias de lítio-íon dessa exigência. Apesar de não

ser composta por metais pesados como as anteriormente citadas, as baterias lítio-íon contêm

substâncias tóxicas em sua composição, como cobalto e lantanídeos, podendo causar

prejuízos à saúde e ao mesmo ambiente. Sendo assim, estas baterias deveriam ser incluídas

na regulamentação. (Reidler & Günther, 2002)

7.5. COMPOSIÇÃO, INSTALAÇÃO E OPERAÇÃO DE UM SISTEMA DE

BATERIAS LÍTIO-ÍON

Os componentes mais básicos dos sistemas de baterias de lítio-íon são as células

da bateria que são utilizadas para montar os módulos, já estes são montados para formar os

Racks de armazenamento de energia. Os Racks, agrupados, formam o sistema de bateria,

que por fim é colocado em um container resistente ao clima e gerenciado termicamente,

40

formando um SAE de corrente contínua, que ainda necessita de outros componentes para

que se complete um SAE de corrente alternada, para que assim se conecte adequadamente

à rede. (Lin & Hoff, 2016). A figura 5 demonstra a composição de um sistema de um fornecedor

específico.

Figura 5 - Composição de um sistema de baterias de corrente contínua

Fonte: Comparing the Upfront Costs of Energy Storage - Lin & Hoff, 2016 (traduzida)

Os outros componentes necessários para completar o sistema para corrente

alternada são: inversor, transformador, aparelho de distribuição (interruptores, fusíveis,

disjuntores, etc.), cabos elétricos e outros condutores. (Lin & Hoff, 2016). Devem ser levados

em consideração ainda, um sistema de gerenciamento térmico (aquecimento e resfriamento)

e materiais relacionados à preparação do terreno onde será instalado o SAE (cercas, materiais

para fundações, iluminação e conexão com a rede elétrica). (Hoff & Lin, 2016)

Para a completa instalação do SAE são necessários uma equipe de gerenciamento

de projeto e serviços como licenciamento (permissão para instalação e conexão do sistema),

engenharia, instalação, testes e comissionamento. Todos esses serviços e seus custos são

levados em consideração no investimento inicial do sistema. Já os serviços de operação do

41

SAE englobam manutenção, monitoramento e gerenciamento, energia auxiliar e reparos,

gerando custos operacionais para o sistema. (Hoff & Lin, 2016)

7.6. ARBITRAGEM DE TARIFAS

A arbitragem tarifária no setor de energia significa obter vantagem com a diferença

entre os preços da energia elétrica nos horários de ponta e fora ponta. Dessa forma, o

consumidor compra energia no horário de fora ponta, armazenando-a, para utilizá-la

posteriormente no horário de ponta, deixando assim de pagar ou reduzindo o pagamento pela

tarifa do horário de ponta que é mais cara em todas as bandeiras, classes e distribuidoras de

energia. (Bueno & Brandão, 2016). O esquema representativo desta arbitragem tarifária pode

ser observado na Figura 6.

Figura 6 - Esquema representativo da arbitragem tarifária

Fonte: Elaboração própria

42

Como pode ser visto na figura acima, durante o período de horário fora ponta, a

unidade consumidora consome energia diretamente da rede durante sua operação e, ao

mesmo tempo, carrega seu SAE também demandando energia da rede, sendo assim em

ambos os casos a unidade consumidora paga a tarifa de fora ponta da distribuidora de energia

local.

No caso do período de horário de ponta, conforme o esquema representativo, a

unidade consumidora deixa de consumir energia da rede e passar a ser suprida pela energia

armazenada anteriormente no SAE até que esta acabe, e assim a unidade consumidora volte

a consumir energia da rede pagando a tarifa mais cara referente ao horário de ponta. O SAE,

por sua vez, também deixa de consumir energia da rede durante este período, sem fazer

qualquer estoque de energia, visto o maior valor de tarifa.

43

8. MODELOS DE AVALIAÇÃO ECONÔMICA

Os modelos de avaliação econômica, ou Valuation, são feitos visando precificar

ativos e empresas tendo como principais aplicações a área de Fusões e Aquisições (M&As –

Mergers and Acquisitions), IPOs (Initial Public Offerings), avaliação da viabilidade de projetos,

compras e vendas de ações, parcerias e joint ventures, gestão de carteiras, entre outros.

(Martelanc, Pasin & Pereira, 2010). A seguir serão vistas as principais metodologias utilizadas

para a realização dessa avaliação.

8.1. MÚLTIPLOS

O modelo de avaliação por múltiplos, também conhecido como modelo de avaliação

relativa, mensura o valor de um ativo a partir de parâmetros de ativos similares. A metodologia

desse modelo consiste na obtenção de um comparável do ativo analisado, ou seja, um ativo

com características similares, para que desse se obtenha múltiplos que serão utilizados como

parâmetros para o ativo analisado. São mais eficazes e utilizados com ativos maduros no

mercado. (Martelanc, Pasin & Pereira, 2010)

As principais vantagens desse método estão na simplicidade e rapidez que se tem

aplicando-o para precificar um ativo e também a necessidade de poucas informações para

desenvolvê-lo. Ao mesmo tempo, o modelo por múltiplos tem como principal desvantagem as

diferenças nas especificidades e informações dos ativos comparáveis, sendo assim, podem

ser facilmente manipulados ou utilizados de forma incorreta. Os múltiplos podem ser aplicados

ao lucro, EBITDA (Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization),

Faturamento, Patrimônio Líquido, entre outros. (Damodaran, 1995 e Martelanc, Pasin &

Pereira, 2010)

8.2. VALOR PATRIMONIAL

O modelo de avaliação por valor patrimonial consiste nas informações fornecidas

pelo Balanço Patrimonial de uma empresa, tornando-se assim um método simples e direto

para avaliação. Ao mesmo tempo, esse método possui suas limitações como a valoração dos

ativos e passivos que podem estar muito diferentes do mercado por ser baseado em dados

históricos, além de não considerar ativos intangíveis, como marca da empresa, entre outros.

(Paiva, 2001)

44

8.3. VALOR ECONÔMICO AGREGADO (EVA)

O modelo do Valor Econômico Agregado, do inglês Economic Value Added (EVA), é

baseado no conceito de que se algum investimento atingir um retorno superior ao exigido pelo

investidor, então houve uma adição de valor ao investimento. A magnitude desse valor

agregado é a diferença entre o que é alcançado e o que foi requerido, sendo este multiplicado

pelo capital investido para se encontrar o EVA. (Wilson, 1997)

Como principais vantagens, o modelo de EVA apresenta a facilidade no cálculo e a

possibilidade de ser utilizado como ferramenta de gestão para melhorar a performance de um

projeto ou empresa. Contudo, esse método tem seus pontos negativos como a utilização

inadequada dos resultados contábeis, realizando alterações que impactam nos resultados

obtidos e o fato de não levar em consideração os efeitos de inflação, variações cambiais e de

perfil de investimento. (Wilson, 1997)

8.4. VALOR DE LIQUIDAÇÃO

Esse método foi desenvolvido para casos muito específicos, sendo utilizado

basicamente em situações em que os ativos a serem liquidados de uma empresa possuam

valor superior ao valor presente dos rendimentos futuros desta e principalmente nos casos de

liquidação da empresa. (Martelanc, Pasin & Pereira, 2010)

8.5. OPÇÕES REAIS

Modelo de avaliação que se aplica em casos onde o patrimônio líquido é avaliado

como opção de compra sobre a empresa ou quando há, também, a possibilidade de se

analisar ativos de recursos naturais ou patentes como opção sobre o produto. O modelo de

opções reais é pouco utilizado quando comparado a outros modelos devido à complexidade

dos cálculos e aos poucos casos de opções reais existentes. (Damodaran, 1995)

8.6. FLUXO DE CAIXA DESCONTADO

O modelo de Fluxo de Caixa Descontado, do inglês Discounted Cash Flow, é a

metodologia de precificação de ativos e empresas mais utilizada no mundo. Esse método se

baseia no conceito de que o valor de um ativo está diretamente relacionado aos fluxos de

caixa gerados por este, assim como ao período em que os fluxos são gerados. (Martelanc,

Pasin & Pereira, 2010)

45

Os fluxos de caixa estimados nesse modelo dependerão da projeção das receitas e

custos do ativo analisado, assim como da taxa de desconto. Todas essas variáveis impactam

forte e diretamente no cálculo do valor obtido do ativo, e por ser um método baseado em

estimativas este torna-se extremamente vulnerável à interferência do avaliador. (Martelanc,

Pasin & Pereira, 2010)

8.7. COMPARAÇÃO ENTRE OS MODELOS APRESENTADOS

De acordo com uma pesquisa realizada por Martelanc, Pasin & Pereira, os

entrevistados apontaram o Fluxo de Caixa Descontado (FCD) como método preferido para

avaliação de um ativo. A figura 7 demonstra, em uma escala semântica de 1 a 7 (onde 1 se

refere ao método mais frequente e 7 ao menos frequente), a preferência por métodos dos

entrevistados:

Figura 7 - Frequência de Utilização dos Modelos de Avaliação

Fonte: Livro Avaliação de Empresas: Um guia para fusões & aquisições e private equity - Martelanc,

Pasin & Pereira, 2010.

Visto que o objeto estudado nesse trabalho se trata de um sistema de

armazenamento e tem como objetivo analisar sua viabilidade econômica, podemos descartar

alguns métodos de valuation observados acima por estes não se aplicarem de forma

adequada ao objeto em questão.

O método de opções reais foi descartado como método de análise do objeto estudado

por sua aplicação ser melhor utilizada em momento posterior com resultados já obtidos

através de outro método. Nessa mesma linha estão os métodos de Valor de Liquidação e

Valor Patrimonial, ambos aplicados apenas para empresas, no primeiro caso em uma situação

específica processo de liquidação e o segundo exige um Balanço Patrimonial para sua

46

aplicação. Já o EVA tende a ser uma ferramenta para gestão de projeto ou produto, não

trazendo os indicadores necessários para a avaliação que esse trabalho objetiva.

Com isso, restaram-se os dois modelos mais clássicos e mais aplicados por

avaliadores, conforme visto acima, o método do Fluxo de Caixa Descontado e o método dos

Múltiplos. Abaixo pode ser observada uma tabela comparativa entre ambos os métodos:

Figura 8 - Comparação entre os métodos do FCD e Múltiplos

Fonte: Elaboração própria

Analisando a tabela de comparação dos dois métodos que poderiam ser aplicados

ao objeto estudado, foi selecionado o Fluxo de Caixa Descontado como método a ser

empregado. A escolha se dá pelo fato do mesmo levar em consideração os fluxos de caixa

gerados, visto que o sistema de baterias estudo gerará uma economia ao longo de sua vida

útil, esse método se faz mais adequado para avaliar a viabilidade e o valor desse projeto.

Método Vantagens Desvantagens Principais

Aplicações

Fluxo de

Caixa

Descontado

(FCD)

Reflete a capacidade de

geração de fluxos de

caixa de longo prazo do

objeto analisado e os

riscos associados a ele

Utilização de variáveis

independentes e muitas

vezes altamente subjetivas,

tornando-se vulnerável à

interferência do avaliador

Projetos com

geração de fluxos

de caixa futuros

positivos

Múltiplos

Simplicidade e rapidez

na precificação de um

ativo e necessidade de

poucas informações

Diferenças nas

especificidades e

informações dos

comparáveis

Ativos maduros no

mercado

47

9. FLUXO DE CAIXA DESCONTADO

Neste capítulo são vistos os principais componentes para aplicação do FCD.

Inicialmente será vista a composição de uma DRE para posteriormente simplificá-la para uma

demonstração financeira mais condizente com o objeto estudado. Serão definidas também as

outras aplicações necessárias para se utilizar o método do FCD como o fluxo de caixa

operacional, fluxo de caixa dos ativos e a taxa de desconto, além dos indicadores econômicos

que serão utilizados para a análise econômica deste trabalho.

9.1. COMPOSIÇÃO DO DRE

A DRE confronta receitas, custos e resultados de empresa ou projeto a partir do

princípio contábil, medindo, assim, o desempenho do mesmo em um determinado período, ou

seja, determinando o valor de lucro ou prejuízo em um exercício. (Ross et. al, 2013). A figura

9 demonstra a composição de uma DRE.

Figura 9 - Composição da DRE – Demonstração do Resultado do Exercício

Fonte: Elaboração própria

48

No estudo de caso deste trabalho, por não ser caracterizado como venda e sim como

um benefício pela economia tarifária, a DRE será substituído por uma demonstração

financeira, que será uma DRE simplificada, que pode ser vista na figura abaixo:

Figura 10 - Quadro explicativo de uma Demonstração Financeira

Fonte: Elaboração própria

Nesta demonstração não estão inclusas as linhas referentes aos impostos sobre

vendas e imposto de renda e CSLL por não incidirem quaisquer impostos sobre esse

benefício, assim como também está excluída a linha de despesas financeiras por se

desconsiderar qualquer financiamento por capital de terceiros nesse estudo. A depreciação

também é desconsiderada nessa análise.

9.2. FLUXO DE CAIXA OPERACIONAL

O fluxo de caixa operacional aponta se os fluxos de entrada de caixa das operações

são ou não suficientes para cobrir os fluxos de saída. O fluxo de caixa operacional é calculado

diminuindo o valor dos impostos do EBITDA. (Ross et. al, 2013)

9.3. FLUXO DE CAIXA DOS ATIVOS

O fluxo de caixa dos ativos é obtido após se reduzir os investimentos (CAPEX) e

variação de capital circulante líquido do fluxo de caixa operacional. (Ross et. al, 2013)

9.4. TAXA DE DESCONTO

A taxa de desconto, também conhecida como Weighted Average Capital Cost

(WACC), é a média ponderada dos custos de capital de financiamento do projeto. Estes custos

49

de capital são referentes ao patrimônio líquido, ou equity, e ao endividamento. (Damodaran,

1995)

9.5. INDICADORES ECONÔMICOS

Para a análise de viabilidade econômica desse sistema serão considerados os

seguintes indicadores: Valor Presente Líquido (VPL), Taxa Interna de Retorno (TIR), Payback,

Payback Descontado e Índice de Custo-Benefício. As definições desses indicadores são

vistas nesta seção.

9.5.1. VALOR PRESENTE LÍQUIDO (VPL)

O VPL mede o valor que será criado para o acionista hoje em virtude de um

investimento que será feito e gerará fluxos de caixa futuros. Quando o VPL é maior que zero,

o investimento gera valor ao acionista, caso contrário não gera valor e deve ser descartado.

(Ross et. al, 2013)

9.5.2. TAXA INTERNA DE RETORNO (TIR)

A TIR é a taxa de juros que torna o VPL igual a zero, ou seja, a taxa a qual o

investimento não é mais válido. (Newnan, Eschenbach & Lavelle, 2004)

9.5.3. PAYBACK E PAYBACK DESCONTADO

O payback corresponde ao período de tempo necessário para o lucro ou outros

benefícios de um investimento igualarem os custos do mesmo. O payback descontado tem o

mesmo princípio, porém utiliza nos cálculos os valores do fluxo de caixa descontado,

considerando assim o valor do dinheiro no tempo. (Newnan, Eschenbach & Lavelle, 2004)

9.5.4. ÍNDICE DE CUSTO-BENEFÍCIO

Outro método de análise econômica é o índice de custo-benefício, cuja fórmula pode

ser vista abaixo:

50

Como pode ser visto, o cálculo se dá pela razão entre o valor presente dos benefícios

e o valor presente dos custos. Quando esta razão é superior ou igual à 1, o investimento é

atrativo, enquanto que caso o mesmo seja inferior à um, este deve ser descartado pois não é

atrativo. (Newnan, Eschenbach & Lavelle, 2004)

51

10. ESTUDO DE CASO

Nesse capítulo, é apresentado o estudo de caso, cujo objeto é um sistema de baterias

lítio-íon, sendo aqui definidas as especificações técnicas desse sistema que também serão

utilizadas para cálculos financeiros em capítulos posteriores.

10.1. CÁLCULO DA CAPACIDADE DE ARMAZENAMENTO

Para avaliar a viabilidade de um projeto de sistema de baterias de lítio-íon deve-se

primeiro definir a potência e a capacidade de armazenamento de energia do sistema

estudado. Para o objeto estudado foi definida a potência de 75 kW. Já para o

dimensionamento da capacidade de armazenamento, primeiro deve-se analisar alguns dados

importantes como as reduções de capacidade e eficiência do sistema no ciclo carga-descarga

ao longo do tempo.

A capacidade de armazenamento de um sistema de baterias é dada por um

percentual da capacidade inicial especificada para cada ano de sua vida útil, visto que existe

uma degradação da capacidade dessas baterias ao longo do tempo. Para as baterias de lítio-

íon, cuja vida útil é de 15 anos, a capacidade do sistema atinge ao término desse período

aproximadamente 70% da capacidade de armazenamento inicial. (Hoff & Lin, 2016). Sendo

assim, a Figura 11 apresenta o gráfico de degradação da capacidade durante a vida útil do

sistema.

Figura 11 - Gráfico de degradação da capacidade de um sistema de baterias lítio-íon

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados de Hoff & Lin, 2016

52

Já o termo “eficiência” trata-se da eficiência de descarga do sistema, ou seja, o

percentual da energia armazenada durante o processo de carga que foi efetivamente

descarregado e utilizado pelo consumidor final. A eficiência do sistema de baterias de lítio-íon

varia de acordo com a vida útil deste, tendo eficiência inicial e final de 93% e 86%,

respectivamente. (Hoff & Lin, 2016). A figura abaixo demonstra essa queda ao longo do tempo

através de um gráfico:

Figura 12 - Gráfico da degradação da eficiência de descarga de um sistema de baterias lítio-íon

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados de Hoff & Lin, 2016

Dessa forma tem-se os seguintes dados ao longo dos 15 anos de operação:

Tabela 2 - Dados agrupados das eficiência e capacidade anual de um SAE de baterias lítio-ion

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados de Hoff & Lin, 2016

53

Sabendo que a potência do sistema é de 75 kW e que, conforme visto no capítulo 4,

o período de ponta é de três horas, temos a capacidade de armazenamento de 225 kWh (75

kW x 3h). Porém, a eficiência do sistema estudado influencia na energia que é descarregada,

sendo assim, este sistema deve ser dimensionado para que a energia descarregada no seu

primeiro ano de operação seja igual à 225 kWh por dia, visando atender ao máximo o período

de ponta, maximizando a economia e tornando mais viável o projeto em questão. Para se

chegar a capacidade de armazenamento ideal do projeto dividimos os 225 kWh pela eficiência

do sistema no seu primeiro ano de operação (93%), definindo a capacidade de

armazenamento de 242 kWh, como pode ser visto nos cálculos abaixo:

Capacidade de armazenamento ideal = Potência x Horas Ponta / Eficiência

Capacidade de armazenamento ideal = 75 kW x 3 h / 0,93

Capacidade de armazenamento ideal = 242 kWh

A definição da capacidade de armazenamento de energia inicial do sistema é fator

determinante para cálculo do investimento inicial a ser feito no projeto, conforme visto no item

11.1.

10.2. CÁLCULO DA ENERGIA ARMAZENADA E DESCARREGADA

A eficiência e a capacidade do sistema são também especificações determinantes

para definir a quantidade de energia armazenada (ciclo de carga) e de energia descarregada

(ciclo de descarga).

A energia armazenada é a energia utilizada para carregar o sistema durante o horário

de fora ponta, significando um custo operacional desse projeto. A quantidade de energia

armazenada no sistema em um ano pode ser definida como a capacidade de armazenamento

do sistema naquele período multiplicado pelo número de dias em operação no ano

(considerado o número de 252 dias úteis). A capacidade específica de cada ano é

determinada pela multiplicação entre a capacidade inicial do sistema e o percentual de

capacidade daquele ano, que, conforme visto no item 10.1, se reduz ao longo do tempo. A

tabela abaixo apresenta a capacidade do sistema do sistema e a respectiva energia

armazenada total em cada ano de operação.

54

Tabela 3 - Capacidade do sistema e energia armazenada anual do SAE de baterias lítio-ion

Fonte: Elaboração própria

Já a energia descarregada é a energia que foi utilizada pela unidade consumidora,

sendo esta a energia armazenada multiplicada pela eficiência do sistema, visto que existem

perdas no ciclo carga-descarga. A energia descarregada é justamente a quantidade de

energia que a unidade consumidora deixa de demandar da rede durante o horário de ponta,

gerando assim o benefício da economia tarifária. Dessa forma, a energia descarregada

impacta diretamente no benefício bruto do projeto. A partir dos dados de eficiência e

capacidade obtidos, tem-se:

Tabela 4 - Eficiência do sistema e energia descarregada anual do SAE de baterias lítio-ion

Fonte: Elaboração própria

De posse desses dados, é possível calcular com maior precisão os fluxos de caixa

gerados pela operação do sistema. Como mencionado anteriormente, a energia descarregada

é utilizada para calcular o benefício bruto conforme demonstrado no item 11.2.1, e a energia

armazenada faz parte dos custos operacionais sendo seus cálculos vistos no item 11.2.2.

55

10.3. DEFINIÇÃO DAS DISTRIBUIDORAS ESTUDADAS

Para analisar a viabilidade econômica do objeto estudado devem ser definidas as

tarifas de energia para aplicação no modelo financeiro. Essas tarifas variam de acordo com

as distribuidoras de energia elétrica, que se dividem no território brasileiro conforme Figura

13.

Figura 13 - Mapa das áreas de concessão de energia elétrica no Brasil

Fonte: http://www2.aneel.gov.br/aplicacoes/atlas/aspectos_institucionais/2_4_1.htm

(Acesso em: 04/12/2017)

Sendo assim, foram levantados os dados das tarifas horárias verde para unidades

consumidoras A4 comerciais nas seguintes distribuidoras de energia: Companhia de

Eletricidade do Estado da Bahia (COELBA), Companhia Energética de Pernambuco (CELPE),

Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), Companhia Energética de Minas Gerais

(CEMIG), Eletrobras Distribuição Piauí (CEPISA), Centrais Elétricas de Santa Catarina

(CELESC) e Light Serviços de Eletricidade S.A. (LIGHT). Os valores das tarifas dos períodos

56

de fora ponta e ponta foram retirados diretamente do website oficial de cada uma das

companhias, tendo todas elas o mês de novembro de 2017 como referência e inclusos todos

os impostos, conforme tabela abaixo:

Tabela 5 - Tarifas de distribuidoras de energia elétrica

Fonte: Elaboração própria

Com todas as tarifas definidas, calcula-se a razão entre a tarifa de ponta e fora ponta,

encontrando uma relação que servirá como fator de decisão para escolha das três

distribuidoras adotadas na avaliação econômica. Decide-se, então, por seguir com os

extremos da tabela por apresentarem a maior e a menor relação entre as tarifas, COELBA e

LIGHT respectivamente, e a CEMIG possuir a razão intermediária na tabela.

57

11. ANÁLISE DE VIABILIDADE ECONÔMICA

A implantação de um sistema de baterias lítio-íon exige um investimento inicial

considerável, tendo seu retorno ao longo da vida útil do mesmo. Por isso, faz se necessária a

avaliação deste projeto através de um estudo de viabilidade econômica, no intuito de reduzir

os riscos de implantação deste sistema e verificar se este oferece boas perspectivas de

aproveitamento econômico em termos de economia tarifária a partir da arbitragem.

Nesse capítulo, são analisados três cenários para o objeto estudado. Todos os

cenários possuem um sistema de baterias lítio-íon de mesmas especificações como objeto,

conforme detalhado no capítulo 10, porém localizados em três áreas de concessão de energia

elétrica diferentes. As distribuidoras de energia estudadas são, conforme visto no item 10.3,

a LIGHT, a CEMIG e a COELBA, estas localizadas, respectivamente, nos estados do Rio de

Janeiro (RJ), Minas Gerais (MG) e Bahia (BA). Dessa forma, cada cenário apresenta suas

particularidades quanto às tarifas de energia e impostos, gerando modelagens financeiras e

resultados diferentes, sendo divididos, para fins de organização do trabalho, da seguinte

maneira: Cenário A – Light (RJ), Cenário B – CEMIG (MG) e Cenário C – COELBA (BA).

Vale ressaltar que para os três casos são também consideradas premissas:

• investimento inicial feito no ano de 2017;

• início da operação no ano de 2018;

• sistema possui 15 anos de vida útil;

• unidade consumidora comercial conectada na média/alta tensão, A4, sobre

regime da tarifa verde;

• a unidade consumidora funciona durante 252 dias do ano (252 dias úteis).

11.1. INVESTIMENTO INICIAL (CAPEX)

O cálculo do investimento inicial, ou Capital Expenditure (CAPEX), usará o valor

estimado de US$ 450/kWh de capacidade de armazenamento instalada, valor este estimado

para o custo de um sistema de baterias de lítio-íon completo e instalado, pronto para

operação. (Hoff & Lin, 2016). Portanto, considerando um sistema com capacidade de 242

kWh, este possui o seguinte valor:

Valor do sistema sem impostos = 242 kWh x 450 US$/kWh

Valor do sistema sem impostos = US$ 108.900,00

58

Por se tratar de um equipamento importado, há incidência de impostos e

contribuições federais sobre o produto. Os impostos federais incidentes na importação de

equipamentos são: o Imposto de Importação (II) e o Imposto sobre Produtos Industrializados

(IPI). Já as contribuições federais incidentes são o PIS e o COFINS. Utilizando-se o código

NCM 8506.5090 referente à equipamentos de baterias de lítio, podemos simular os tributos

federais incidentes sobre o produto através do Simulador de Tratamento Tributário e

Administrativo das Importações no site da Receita Federal. A simulação realizada pode ser

observada na Figura 14.

Figura 14 - Simulação dos tributos federais incidentes sobre o produto estudado

Fonte: Simulador de Tratamento Tributário e Administrativo das Importações, site da Receita Federal

(Acesso em 19/11/2017)

A taxa de câmbio utilizada é de 3,2834 R$/USD (taxa de referência do dia

19/11/2017), esse dado é utilizado para converter os 108.900,00 dólares em reais, obtendo-

se o valor aduaneiro de R$ 357.562,26. De acordo com o site da Receita Federal e como

pode-se observar na simulação, os tributos II, PIS e COFINS incidem sobre o valor aduaneiro

e o IPI incide sobre o valor aduaneiro acrescido do valor do tributo II. Dessa forma, somando

os tributos chega-se a um valor de investimento considerando os impostos e contribuições

federais de R$ 519.001,62.

Para se obter o valor total do investimento inicial (CAPEX) deve-se, ainda, incidir os

impostos estaduais, que nesse caso tratam-se do Imposto sobre Circulação de Mercadorias

e Serviços (ICMS), tendo uma alíquota diferente para cada estado. Visto que o trabalho faz a

análise de viabilidade econômica do sistema estudado em três diferentes distribuidoras de

energia, localizadas em três diferentes estados do país, tem-se três ICMS diferentes incidindo

sobre o valor encontrado anteriormente após os tributos federais, o que significa que o valor

59

do CAPEX será diferente para cada uma das distribuidoras e consequentemente modelos

financeiros estudados.

Visto que as distribuidoras estudadas nesse trabalho são a LIGHT, a CEMIG e a

COELBA, estas localizadas, respectivamente, nos estados do RJ, MG e BA, tem-se as

seguintes alíquotas de ICMS:

Tabela 6 - Alíquotas de ICMS dos estados estudados

Fonte: Website www.tabelaicms.com

(Acesso em 19/11/2017)

Com os impostos de ICMS definidos é possível calcular o valor total do investimento

para cada uma das distribuidoras, conforme exibido na Tabela 7.

Tabela 7 - CAPEX dos projetos por estado

Fonte: Elaboração própria

60

11.2. DESENVOLVIMENTO DA DEMONSTRAÇÃO FINANCEIRA

11.2.1. BENEFÍCIO BRUTO

O benefício gerado pela implantação do sistema é a economia tarifária no período

em que os preços de energia elétrica são mais caros para a unidade consumidora. Esse

benefício pode ser obtido através de um cálculo: a multiplicação entre a quantidade de energia

utilizada pela unidade consumidora em questão e a tarifa de energia no horário de ponta no

período.

Benefício Bruto = Energia descarregada x Tarifa no horário de ponta

As tarifas no horário de ponta das distribuidoras selecionadas para aplicação da

análise de viabilidade econômica foram retiradas dos sites das respectivas empresas, tendo

novembro de 2017 como mês de referência. Estas podem ser observadas na Tabela 8.

Tabela 8 - Tarifas do Horário de Ponta das distribuidoras estudadas

Fonte: Elaboração própria

Com os valores das tarifas de horário de ponta para o ano de 2017, faz-se o ajuste

anual baseado na taxa de inflação, fixada pelo Banco Central, cujas metas para os anos de

2018, 2019 e 2020 são, respectivamente, 4,3%, 4,2% e 4,1%, sendo mantida a última taxa

para os outros anos os quais o sistema está em operação. (Valor Econômico, 2017)

De posse dos dados da tarifa com valor ajustado para cada ano e a respectiva

energia descarregada desse período é possível estimar o benefício bruto para cada um dos

cenários, conforme visto a seguir.

61

• CENÁRIO A - LIGHT (RJ)

O benefício bruto estimado para os 15 anos de operação do sistema na distribuidora

LIGHT, no estado do Rio de Janeiro é o seguinte:

Tabela 9 - Benefício Bruto para o Cenário A – LIGHT (RJ)

Fonte: Elaboração própria

É possível ver que, mesmo com menos energia sendo utilizada ao longo do tempo

em virtude das perdas de capacidade e eficiência do sistema, o benefício bruto é crescente

ao longo dos anos, isso se justifica pelo reajuste tarifário adotado no modelo que utiliza a

inflação conforme visto anteriormente. Destacam-se na tabela os benefícios brutos de R$

111.023,00 no primeiro ano e R$ 126.256,00 referente ao último ano de operação.

• CENÁRIO B – CEMIG (MG)

O benefício bruto estimado para os 15 anos de operação do sistema na distribuidora

CEMIG, no estado de Minas Gerais é o seguinte:

Tabela 10 - Benefício Bruto para o Cenário B – CEMIG (MG)

Fonte: Elaboração própria

62

Assim como no caso da LIGHT, o benefício bruto no cenário da distribuidora CEMIG

é crescente em virtude dos mesmos pontos citados para a distribuidora do Rio de Janeiro.

Destacam-se na tabela os benefícios brutos de R$ 109.210,00 no primeiro ano e R$

124.194,00 referente ao último ano de operação.

• CENÁRIO C – COELBA (BA)

O benefício bruto estimado para os 15 anos de operação do sistema na distribuidora

COELBA, no estado da Bahia pode ser observado no Tabela 11.

Tabela 11 - Benefício Bruto para o Cenário C – COELBA (BA)

Fonte: Elaboração própria

Da mesma maneira que nas outras duas distribuidoras, o benefício bruto no caso da

COELBA é crescente ao longo dos 15 anos de operação. Destacam-se na tabela os benefícios

brutos de R$ 138.224,00 no primeiro ano e R$ 157.190,00 referente ao último ano de

operação, valores altos quando comparados aos benefícios brutos da LIGHT e da CEMIG,

superioridade justificada pela alta tarifa no horário de ponta da distribuidora baiana conforme

visto na Tabela 8.

11.2.2. CUSTOS OPERACIONAIS (OPEX)

Os custos operacionais, ou OPEX (Operational Expenditure), estão divididos em:

custo de energia armazenada, manutenção, reparo, energia auxiliar e gerenciamento e

manutenção do sistema. (Hoff & Lin, 2016)

O custo de energia armazenada é o valor pago pela unidade consumidora à

distribuidora de energia por demandar energia elétrica da rede no horário de fora ponta,

armazenando energia no sistema para uso posterior. Esse custo pode ser obtido através da

63

multiplicação entre a quantidade de energia armazenada pela unidade consumidora em

questão e a tarifa de energia no horário de fora ponta no período.

Custo de Energia Armazenada = Energia armazenada x Tarifa no horário fora ponta

Assim como no item 11.2.1, as tarifas, no horário fora ponta, foram retiradas dos sites

das respectivas distribuidoras, tendo novembro de 2017 como mês de referência. Estas

podem ser observadas na Tabela 12.

Tabela 12 - Tarifas do Horário Fora Ponta das distribuidoras estudadas

Fonte: Elaboração própria

Já os custos de manutenção, reparo, energia auxiliar e gerenciamento e manutenção

do sistema de baterias lítio-íon serão considerados percentuais do investimento inicial, tendo

como referência os modelos utilizados em Hoff & Lin. Sendo assim, temos que os custos

anuais de manutenção, reparo, energia auxiliar e gerenciamento e manutenção são,

respectivamente, 0,2%, 2%, 0,2% e 1,2% do CAPEX.

Todos os custos operacionais são reajustados conforme taxa anual de inflação,

fixada pelo Banco Central, cujas metas para os anos de 2018, 2019 e 2020 são,

respectivamente, 4,3%, 4,2% e 4,1%, sendo mantida a última taxa para os outros anos os

quais o sistema está em operação. (Valor Econômico, 2017)

Definidas as particularidades de cada cenário e também os métodos de reajuste dos

valores anuais, é possível definir os custos operacionais para os casos estudados da LIGHT,

CEMIG E COELBA.

64

• CENÁRIO A - LIGHT (RJ)

Os custos operacionais estimados para os 15 anos de operação do sistema na

distribuidora Light, no estado do Rio de Janeiro é o seguinte:

Tabela 13 - Custos Operacionais para o Cenário A – LIGHT (RJ)

Fonte: Elaboração própria

É possível ver que, mesmo com menos energia sendo armazenada ao longo do

tempo em virtude das perdas de capacidade e eficiência do sistema, o custo de energia

armazenada é crescente, além dos outros custos operacionais que também crescem ao longo

do período de operação, tudo isso se justifica pelo reajuste da tarifa fora ponta e dos demais

custos operacionais, que utiliza a inflação conforme visto anteriormente. Destacam-se na

tabela os valores dos custos operacionais no primeiro e último ano de operação, de R$

56.203,00 e R$ 81.340,00 respectivamente.

65

• CENÁRIO B – CEMIG (MG)

Os custos operacionais estimados para os 15 anos de operação do sistema na

distribuidora CEMIG, no estado de Minas Gerais é o seguinte:

Tabela 14 - Custos Operacionais para o Cenário B – CEMIG (MG)

Fonte: Elaboração própria

No caso da CEMIG, os custos operacionais e todos os seus componentes (custo de

energia armazenada, manutenção, reparo, energia auxiliar e gerenciamento e

monitoramento) também são crescentes devido ao reajuste pela inflação como visto no caso

da LIGHT. Os valores dos custos operacionais no primeiro e último ano de operação são de

R$ 50.222,00 e R$ 73.881,00 respectivamente

66

• CENÁRIO C – COELBA (BA)

Os custos operacionais estimados para os 15 anos de operação do sistema na

distribuidora COELBA, no estado da Bahia é o seguinte:

Tabela 15 - Custos Operacionais para o Cenário C – COELBA (BA)

Fonte: Elaboração própria

Da mesma maneira que as outras duas distribuidoras, os custos operacionais no

caso da COELBA são crescentes ao longo dos 15 anos de operação. Destacam-se na tabela

os custos operacionais de R$ 45.042,00 no primeiro ano e R$ 67.409,00 referente ao último

ano de operação, sendo os valores mais baixos entre as três distribuidoras por possuir uma

tarifa no horário de fora ponta mais baixa conforme visto na Tabela 12.

67

11.3. DEMONSTRAÇÃO FINANCEIRA

11.3.1. CENÁRIO A – LIGHT

De posse dos dados do benefício bruto e dos custos operacionais é possível elaborar

a Demonstração Financeira para obtenção do EBITDA, conforme Tabela 16.

Tabela 16 - Demonstração Financeira do Cenário A – LIGHT (RJ)

Fonte: Elaboração própria

Analisando a tabela pode-se notar que o EBITDA é decrescente, visto que mesmo

que o benefício bruto seja crescente, os custos operacionais estão crescendo mais em valores

absolutos de ano para ano. Esse fato se dá pelos custos operacionais terem reajustes não só

na tarifa de energia como nos outros custos que os compõem e também pela redução do

potencial de aumento do benefício bruto a cada ano devido à degradação da bateria.

68

11.3.2. CENÁRIO B – CEMIG (MG)

De posse dos dados do benefício bruto e dos custos operacionais da CEMIG é

possível elaborar a Demonstração Financeira, como pode ser visto na Tabela 17.

Tabela 17 - Demonstração Financeira do Cenário B – CEMIG (MG)

Fonte: Elaboração própria

De forma similar à LIGHT, o EBITDA da CEMIG é decrescente a partir de 2019. Nota-

se que o EBITDA da CEMIG é superior ao da LIGHT por possuir custos operacionais bem

mais baixos, já que seu benefício bruto é levemente inferior ao da distribuidora do RJ.

69

11.3.3. CENÁRIO C – COELBA (BA)

A Demonstração Financeira da COELBA, elaborada a partir dos dados obtidos e com

os cálculos para obtenção do EBITDA, pode ser visto na tabela 18.

Tabela 18 - Demonstração Financeira do Cenário C – COELBA (BA)

Fonte: Elaboração própria

Diferentemente dos casos da CEMIG e LIGHT, o EBITDA nesse caso cresce até o

ano de 2023 e passa a decrescer a partir do ano seguinte. Nota-se, na Tabela 18, que o

EBITDA da COELBA é muito superior ao das distribuidoras do RJ e MG, visto que a

concessionária baiana possui o maior benefício bruto e os menores custos operacionais entre

as três.

70

11.4. FLUXO DE CAIXA OPERACIONAL E DOS ATIVOS

11.4.1. CENÁRIO A – LIGHT (RJ)

A partir dos dados do EBITDA obtidos e do CAPEX pode-se gerar os valores do FCO

e do FCA no cenário da distribuidora LIGHT, conforme Tabela 19.

Tabela 19 - Fluxos de Caixa Operacional e dos Ativos para o Cenário A – LIGHT (RJ)

Fonte: Elaboração própria

Nota-se que nos 15 anos de operação o FCO e FCA se igualam ao EBITDA por não

haver incidência de impostos e nem variação de capital circulante líquido, enquanto que no

ano de investimento o FCA tem como valor o CAPEX negativado.

71

11.4.2. CENÁRIO B – CEMIG (MG)

A partir dos dados do EBITDA obtidos e do CAPEX pode-se gerar os valores do FCO

e do FCA no cenário da distribuidora CEMIG, conforme Tabela 20.

Tabela 20 - Fluxos de Caixa Operacional e dos Ativos para o Cenário B – CEMIG (MG)

Fonte: Elaboração própria

Assim como no cenário da LIGHT, o FCO e FCA se igualam ao EBITDA ao longo dos

15 anos de operação, enquanto que no ano de investimento o FCA tem como valor o CAPEX

negativado.

72

11.4.3. CENÁRIO C – COELBA (BA)

A partir dos dados do EBITDA obtidos e do CAPEX pode-se gerar os valores do FCO

e do FCA no cenário da distribuidora COELBA, conforme Tabela 21.

Tabela 21 - Fluxos de Caixa Operacional e dos Ativos para o Cenário C – COELBA (BA)

Fonte: Elaboração própria

Pelos mesmos motivos das outras duas distribuidoras, no cenário da COELBA o FCO

e FCA se igualam ao EBITDA ao longo dos 15 anos de operação, enquanto que no ano de

investimento o FCA tem como valor o CAPEX negativado.

73

11.5. INDICADORES ECONÔMICOS

A partir dos dados dos fluxos de caixa dos ativos foi possível calcular os indicadores

econômicos determinados no capítulo 9 para posterior análise dos mesmos.

A taxa de desconto utilizada foi a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) com

referência ao mesmo de novembro, obtida no site do BNDES, sendo esta igual à 7% ao ano.

11.5.1. CENÁRIO A – LIGHT (RJ)

Os indicadores econômicos foram calculados conforme explicado cada um destes no

item 9.5, os resultados obtidos para o Cenário A podem ser vistos abaixo:

Tabela 22 - Indicadores Econômicos para o Cenário A – LIGHT (RJ)

Fonte: Elaboração própria

Como pode ser observado o VPL possui valor negativo de R$ 141.114,00, a TIR é

igual à 3,04% e o índice de custo benefício de 0,77. Já o payback aponta para o ano de 2029

como o ano em que o projeto se paga, porém quando levado o tempo em consideração, no

caso do payback descontado, verifica-se que esse projeto não se paga.

11.5.2. CENÁRIO B – CEMIG (MG)

Os indicadores econômicos foram calculados conforme explicado cada um destes no

item 9.5, os resultados obtidos para o cenário da distribuidora CEMIG podem ser vistos na

Tabela 23.

74

Tabela 23 - Indicadores Econômicos para o Cenário B – CEMIG (MG)

Fonte: Elaboração própria

Observa-se que o VPL possui valor negativo de R$ 93.176,00, a TIR é igual à 4,43%

e o índice de custo benefício de 0,85. Já o payback aponta para o ano de 2028 como o ano

em que o projeto se paga, porém quando levado o tempo em consideração, no caso do

payback descontado, o projeto não se paga.

11.5.3. CENÁRIO C – COELBA (BA)

Os indicadores econômicos foram calculados conforme explicado cada um destes no

item 9.5, os resultados obtidos para o cenário C seguem abaixo:

Tabela 24 - Indicadores Econômicos para o Cenário C – COELBA (BA)

Fonte: Elaboração própria

No caso da COELBA, diferentemente das outras duas distribuidoras, observa-se um

VPL positivo de valor R$ 246.085,00. Já a TIR atinge 12,97% e o índice de custo benefício de

1,41. Já o payback aponta para o ano de 2024 como o ano em que o projeto se paga, porém

quando levado o tempo em consideração, no caso do payback descontado, este período

aumenta atingindo o ano de 2026.

75

11.6. ANÁLISE DOS RESULTADOS

Visando a melhor análise dos resultados encontrados estruturou-se um quadro

comparativo juntando as três tabelas anteriores, como pode ser visto abaixo:

Tabela 25 - Quadro comparativo de indicadores econômicos

Fonte: Elaboração própria

Analisando os resultados, pode-se dizer que o projeto nas distribuidoras LIGHT e

CEMIG não são viáveis, visto que apresentam VPL negativo e índice de custo benefício

inferior à 1. Além disso, ambos os projetos possuem TIR baixa e inferior à taxa de desconto

estabelecida (7%) e também não se pagam segundo o método do payback descontado, logo

a implantação do sistema não geraria valor ao investidor, pelo contrário, faria com quem o

investidor perdesse dinheiro, não recuperando o capital investido.

Já para o caso da COELBA, pode-se dizer que o projeto é viável e atrativo, visto que

apresenta VPL positivo e índice de custo-benefício superior à 1. Acresce-se a isso o fato de

a TIR atingir 12,97%, valor este superior à taxa de desconto, e também o fato de, em ambos

os payback e payback descontado, o projeto se pagar. Sendo assim, caso um consumidor A4

em tarifa horária verde decidisse por investir no sistema de baterias lítio-íon especificado, este

projeto geraria valor ao consumidor.

76

12. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho focou em analisar a viabilidade econômica da implantação de

sistema de baterias lítio-íon em unidades consumidoras conectadas na média tensão,

chegando a um resultado satisfatório no que tange ao desenvolvimento e análise do estudo.

Este último capítulo resume as conclusões e define alguns passos possíveis para trabalhos

futuros.

12.1. CONCLUSÃO

Observando os indicadores econômicos obtidos no item 11.6, pode-se concluir que

há, hoje, uma grande diferença quanto à viabilidade econômica da instalação do sistema

estudado em diferentes áreas de distribuidoras no Brasil. Conforme visto, o projeto é

economicamente viável na distribuidora COELBA, o que não acontece nas outras duas

companhias estudadas LIGHT e CEMIG. Esse fato pode ser explicado por alguns pontos, o

principal deles está nas tarifas de energia, tendo a COELBA uma tarifa no período de ponta

muito alta e no período fora ponta muito baixa quando comparadas às outras duas

distribuidoras, o que leva a uma relação alta entre esses dois valores como visto no item 10.3.

Além disso, vale mencionar, que o ICMS que incide sobre o valor dos equipamentos no estado

da Bahia é o menor entre os três estados das empresas estudadas, o que gera um valor de

CAPEX inferior para o caso da COELBA.

Apesar de serem projetos inviáveis hoje, a implantação do sistema de baterias lítio-

íon em unidades consumidoras localizadas na LIGHT e CEMIG podem se tornar viáveis ao

longo dos próximos anos. Segundo o Conselho Mundial de Energia, a tendência para os

sistemas de baterias é de queda de seus custos, podendo atingir até 2030 uma redução de

70%. Como visto na estruturação da análise econômica, o investimento inicial desses

sistemas impacta direta e fortemente na viabilidade dos mesmos. Sendo assim, uma redução

dos custos desses sistemas significa que eles ficarão cada vez mais atrativos para serem

implementados. Acresce-se a isso o fato de as tarifas de energia elétrica apresentarem

tendências de aumento nos próximos anos, o que aumentaria o benefício obtido com a

instalação dos sistemas de baterias lítio-íon.

Outro ponto a se destacar para tornar os sistemas de baterias lítio-íon cada vez mais

viáveis e atrativos são os avanços relacionados a essa tecnologia. Como esse tipo de bateria

é utilizado em carros elétricos, o interesse em se desenvolver ainda mais esses equipamentos

ganha força. Dessa forma, acredita-se que parâmetros técnicos como as degradações da

capacidade de armazenamento e eficiência das baterias lítio-íon possam melhorar ao longo

77

dos próximos anos, o que significaria melhores resultados econômicos para esses sistemas

e até mesmo redução de custos operacionais.

12.2. PERSPECTIVAS DE ENCAMINHAMENTO FUTURO

Dadas as limitações quanto à obtenção de orçamento dos sistemas estudados

através de empresas fabricantes e a dificuldade em se avaliar os custos de integração de tais

sistemas com a rede elétrica e a unidade consumidora, recomenda-se dois estudos para

trabalhos futuros quanto a esses pontos: estudo da integração técnica de um sistema de

baterias com o consumidor comercial e a rede, visando entender tecnicamente como se

realizar da melhor forma essa integração e também os custos mais precisos desse processo;

e um estudo aprofundado do investimento inicial dos sistemas de baterias lítio-íon, visando

estabelecer um valor de CAPEX mais preciso a partir de orçamento de variados fornecedores

desses sistemas, o que exigirá projetos de engenharia e especificações técnicas mais

detalhadas.

Além dessas recomendações, menciona-se ainda um estudo de redução de custos

das baterias lítio-íon, visto que conforme descrito nesse trabalho há uma tendência de queda

nos custos nos próximos anos, sendo assim esse estudo poderia ajudar a entender melhor

como essa redução se dará futuramente. A partir desse trabalho recomenda-se também o

estudo de viabilidade dos sistemas através da curva de redução de custos obtida, objetivando

definir o ano em que esses sistemas atingem o ponto de equilíbrio.

Por último, recomenda-se um estudo de viabilidade econômica dos sistemas de

baterias lítio-íon para as diferentes distribuidoras, classes e subclasses presentes no SEB.

Esse estudo teria como principal objetivo esclarecer aos consumidores interessados na

implantação do sistema sobre sua viabilidade econômica, riscos e resultados.

78

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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