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Análise de ligações em asnas de madeira
Samuel Amorim Soares
Dissertação para obtenção do grau de mestre
Engenharia Civil
Orientador: Prof. Luís Manuel Coelho Guerreiro
Júri
Presidente: Prof. Fernando Manuel Fernandes Simões
Orientador: Prof. Luís Manuel Coelho Guerreiro
Vogais: Prof. Augusto Martins Gomes
Julho 2014
i
Resumo
Sendo a reabilitação de estruturas um campo importante nos dias de hoje, é necessário ter o
máximo de informação da forma como actuam as estruturas mais antigas para conseguir obter
as melhores soluções para a reabilitação das mesmas.
Este trabalho faz o estudo da forma de transmissão dos entalhes tradicionais em estruturas de
asnas de madeira com enfâse no entalhe simples com um dente e no entalhe com dente
duplo. Este estudo foi efetuado através da utilização do programa de cálculo automático
SAP2000.
O trabalho expõe uma breve caracterização da madeira em termos das suas características
físicas e mecânicas. Os diferentes tipos de ligações usadas em estruturas de madeira também
são aboradadas neste trabalho: ligações tradicionais e ligações com conectores metálicos.
A compreensão dos modelos estruturais e dos resultados obtidos é complementada através de
figuras e gráficos e, também, a comparação de resultados obtidos para as diversas análises
efectuadas.
Palavras-chave:
Estruturas de madeira, ligações tradicionais em madeira, entalhe simples com um dente,
entalhe com dente duplo.
ii
Abstract
The rehabilitation of structures is one of the most importants fields nowadays making it
important to know the way that the older structures act and give the best solutions possible to
their rehabilitation.
This study consists to know the way that traditional joint of roof timber structures act with
emphasis to the birdsmouth joint with a single tooth and the birdsmouth joint with two teeth.
The analysis was done using the automatic calculation program SAP2000.
This paper presents a brief characterization of wood in terms of its physical and mechanical
characteristics. The diferents types of connections used in wood strctures are also refered in
this study: traditional joints and joints with metal connectors.
Figures and charts complement the understanding of the structural models and their results,
doing the comparison of the results for the multiple runs.
Key-words:
Timber structure, traditional timber joints, the birdsmouth joint with a single tooth, the
birdsmouth joint with two teeths.
iii
Agradecimentos
Em primeiro lugar queria agradecer aos meus pais que sem eles a conclusão deste trabalho
nunca poderia ter sido possível e, também, pelo ânimo que me foram dando durante este ano.
Ao professor Luis Guerreiro pela disponibilidade demonstrada e da prontidão com que sempre
me recebeu para o esclarecimento de qualquer problema.
Um agradecimento também ao resto da minha família e amigos que me conheceram e que
tive o privilégio de conhecer, não so durante a elaboração deste trabalho mas também ao
longo da minha vida académica. Uma mensão especial ao Pedro que sempre teve uma grande
disponibilidade para ajudar neste percurso académico.
iv
Índice
1. Introdução ............................................................................................................................. 1
1.1. Objetivo da dissertação ................................................................................................. 1
1.2. Organização da dissertação .......................................................................................... 1
2. Madeira, o material ............................................................................................................... 3
2.1. Estrutura da madeira .................................................................................................... 3
2.1.1. Células ................................................................................................................... 4
2.1.2. O plano lenhoso macroscópico ............................................................................. 4
2.2. Tipos de madeira ........................................................................................................... 7
2.2.1. Madeiras Resinosas ............................................................................................... 7
2.2.2. Madeiras Folhosas ................................................................................................. 7
2.3. Propriedades físicas....................................................................................................... 7
2.3.1. Higroscopia e Humidade ....................................................................................... 7
2.3.2. Densidade .............................................................................................................. 9
2.3.3. Retração ................................................................................................................ 9
2.3.4. Durabilidade Natural ........................................................................................... 10
2.3.5. Resistência ao fogo .............................................................................................. 10
2.4. Propriedades mecânicas ............................................................................................. 11
2.4.1. Valores característicos de elasticidade ............................................................... 12
2.4.2. Resistência à compressão longitudinal e transversal às fibras ........................... 13
2.4.3. Resistência à tração ............................................................................................. 14
2.4.4. Resistência à flexão ............................................................................................. 14
2.4.5. Resistência ao corte ............................................................................................ 14
2.4.6. Fendimento ......................................................................................................... 14
2.4.7. Dureza ................................................................................................................. 15
2.4.8. Fluência ............................................................................................................... 15
2.4.9. Resistência à Fadiga ............................................................................................ 16
2.4.10. Coeficiente de Poisson ........................................................................................ 17
2.5. Classificação da madeira ............................................................................................. 17
2.5.1. Classificação visual .............................................................................................. 17
2.5.2. Classificação mecânica ........................................................................................ 18
2.5.3. Classes de resistência .......................................................................................... 18
3. Soluções estruturais de cobertura ...................................................................................... 21
v
4. Ligações em estruturas de madeira .................................................................................... 23
4.1. Ligações tradicionais ................................................................................................... 23
4.2. Ligações modernas ...................................................................................................... 25
4.2.1. Ligações por pregagem ....................................................................................... 25
4.2.2. Ligações por parafusos de porca ......................................................................... 26
4.2.3. Ligações por parafusos correntes ....................................................................... 26
4.2.4. Ligação por cavilhas............................................................................................. 27
4.2.5. Ligadores de superfície ........................................................................................ 27
5. Modelos de cálculo em entalhes na ligação Linha e Perna de uma asna ........................... 29
5.1. Entalhe simples com um dente ................................................................................... 30
5.2. Entalhe com dente simples posterior ......................................................................... 33
5.3. Entalhe com dente duplo ............................................................................................ 34
6. Modelação e análise ............................................................................................................ 37
6.1. Introdução ................................................................................................................... 37
6.2. Características físicas e geométricas ........................................................................... 37
6.3. Análise não linear ........................................................................................................ 42
6.4. Análise e tratamento de resultados ............................................................................ 42
6.4.1. Entalhe simples ................................................................................................... 43
7. Conclusões........................................................................................................................... 60
7.1. Conclusões gerais. ....................................................................................................... 60
7.2. Desenvolvimentos futuros .......................................................................................... 60
8. Bibliografia .......................................................................................................................... 62
vi
Índice de Figuras Figura 1 - Esquema da parede celular de uma madeira resinosa (Core, H. et al., 1979) .............. 4
Figura 2 – Corte transversal do caule de uma árvore (LNEC E31 1955). ....................................... 5
Figura 3 – Crescimento anual da árvore do ponto de vista celular. Madeira de verão e
primavera. (Dupraz, P-A., et al. 2009) ........................................................................................... 6
Figura 4 – Direções principais da madeira. (Simões, A. Et al 2012) .............................................. 6
Figura 5 - Variação dimensional da madeira em função do teor em água. (Dupraz, P-A., et al.
2009) ............................................................................................................................................. 8
Figura 6 – Secção de uma viga de madeira lamelada colada, exposta ao fogo durante 30
minutos. (Pinto, E. 2004) ............................................................................................................. 11
Figura 7 - Relação entre o tempo de atuação das cargas e a resistência (Mateus, T. 1978) ...... 12
Figura 8 - Diagrama tensão/deformação para madeiras resinosas submetidas a esforços de
tração e de compressão paralelas às fibras. (Natterer, J., et al 1983) ........................................ 13
Figura 9. Esforços de compressão longitudinais, localizadas e transversais em relação às fibras.
(Natterer, J., et al 1983) .............................................................................................................. 13
Figura 10 – Deformações em função do tempo em dias. (Natterer, J., et al, 1983) ................... 15
Figura 11 - (a) Diagrama da carga em relação ao tempo; (b) Comportamento viscoelástico sob
carga constante. (Melo, R. & Menezzi, C., 2010) ....................................................................... 16
Figura 12 – Tipologia mais frequente de asnas de madeira (Branco, Santos, & Cruz 2010). ..... 21
Figura 13 – Ligação por respiga e mecha. ................................................................................... 24
Figura 14 – Entalhe em asnas de madeira. a) Dente simples anterior b) Dente simples posterior
c) Dente duplo (CECOBOIS 2012) ................................................................................................ 24
Figura 15 – Pregos Correntes. (Mendes, P.,1994) ....................................................................... 25
Figura 16 – Parafusos de porca. (Mendes, P.,1994) .................................................................... 26
Figura 17 – Parafusos correntes. (Mendes, P.,1994) .................................................................. 26
Figura 18 – Exemplo de ligação tipo cavilha. (ITABOLT) ............................................................. 27
Figura 19 – Pormenor de barras de perfil retangular e perfil T. (Mendes, P.,1994) ................... 28
Figura 20 – Esquema tradicional de ferragens para asnas de madeira. (Costa, F., 1955) .......... 28
Figura 21 – Tensão de compressão com um determinado ângulo em relação ao fio. (EN1995-1-
1, 2004) ....................................................................................................................................... 29
Figura 22 – Geometria e forças que atuam num entalhe simples. (Natterer, J., et al 2004) ...... 30
Figura 23 – Variação da transmissão das forças num entalhe simples. (Natterer, J., et al 2004)
..................................................................................................................................................... 31
Figura 24 – Decomposição do esforço de compressão N. (Natterer, J., et al 2004) ................... 32
Figura 25 – Largura da perna para o entalhe simples. (CECOBOIS 2012) ................................... 33
Figura 26 – Geometria e forças atuantes num entalhe com dente posterior. (Natterer, J., et al
2004) ........................................................................................................................................... 33
Figura 27 – Espaçamento necessário para que não exista fissuração devido à retracção.
(Natterer, J., et al 2004) .............................................................................................................. 34
Figura 28 – Geometria e forças atuantes num entalhe com dente duplo. (Natterer, J., et al
2004) ........................................................................................................................................... 35
Figura 29 – Modelação do entalhe simples com um dente – β = 30 , v = 0.15. .......................... 38
Figura 30 – Modelação do entalhe com dente duplo – β = 30 , v = 0.15. ................................... 39
Figura 31 – Pormenorização do entalhe simples – Sobreposição dos nós na superfície de
ligação dos elementos. ................................................................................................................ 39
vii
Figura 32 – Pormonerização do entalhe duplo – Sobreposição dos nós na superfície de ligação
dos elementos. ............................................................................................................................ 40
Figura 33 – Características das ligações na junção da perna à linha. Entalhe com um dente. ... 41
Figura 34 – Características das ligações na junção da perna à linha. Entalhe duplo. ................. 41
Figura 35 – Apoios existentes na modelação da asna................................................................. 41
Figura 36 - Análise não linear – Força aplicada em função do tempo. ....................................... 42
Figura 37 – Tensões S11 do entalhe simples com um dente, ângulo de 30⁰. ............................. 43
Figura 38 - Força actuante em função do ângulo. ...................................................................... 44
Figura 39 – Notação utilizada para as superfícies de contacto ................................................... 45
Figura 40 - Força actuante em funçaõ do ângulo – calculado atravês da resultante de tensões.
..................................................................................................................................................... 45
Figura 41 – Diagrama das forças atuantes. ................................................................................. 46
Figura 42 – Diagrama das componentes das forças a atuar nas superfícies. ............................. 47
Figura 43 – Localização dos apoios verticas para o entalhe de 40⁰ a) com ν = 10 cm b) com ν =
30 cm. .......................................................................................................................................... 48
Figura 44 - Numeração dos elementos finitos, dos nós e eixos dos elementos, para o entalhe
simples de 40⁰. ............................................................................................................................ 49
Figura 45 - Numeração dos elementos finitos, dos nós e eixos dos elementos, para o entalhe
simples de 30⁰. ............................................................................................................................ 49
Figura 46 - Tensões na direção 1 ao longo do entalhe simples de 40⁰ ....................................... 50
Figura 47 - Tensões na direção 2 ao longo do entalhe simples de 40⁰ ....................................... 50
Figura 48 - Tensões na direção 1 ao longo do entalhe simples de 30⁰ ....................................... 51
Figura 49 - Notação utilizada para as forças transmitidas em cada superfície. .......................... 51
Figura 50 - Força actuante em função do ângulo ....................................................................... 52
Figura 51 – a) Entalhe de 30⁰ sem nenhum corte na parte traseira do entalhe. b) Entalhe de 25⁰
com aponta mais espessa do que a restante peça ..................................................................... 53
Figura 52 - Força atuante em função do ângulo. ........................................................................ 54
Figura 53 - Numeração dos elementos finitos, dos nós e eixos dos elementos, para o entalhe
duplo de 45⁰. ............................................................................................................................... 55
Figura 54 - Numeração dos elementos finitos, dos nós e eixos dos elementos, para o entalhe
duplo de 30⁰. ............................................................................................................................... 56
Figura 55 - Tensões na direção 1 ao longo do entalhe duplo de 45⁰ .......................................... 56
Figura 56 - Tensões na direção 2 ao longo do entalhe duplo de 45⁰ .......................................... 57
Figura 57 - Tensões na direção 1 ao longo do entalhe duplo de 30⁰ .......................................... 58
Figura 58 - Tensões na direção 2 ao longo do entalhe duplo de 30⁰ .......................................... 59
viii
Tabela 1 – Classe de resistência e valores característicos segundo a norma EN 388. Espécies
resinosas e folhosas. ................................................................................................................... 19
Tabela 2 – Classe de Qualidade e Classe de resistência para algumas espécies de madeira.
(LNEC M1, 1997) .......................................................................................................................... 19
Tabela 3 – Características físicas da madeira utilizada na modelação........................................ 37
Tabela 4 – Características geométricas dos elementos constituintes do entalhe. ..................... 37
Tabela 5 – Profundidades e comprimento ν nos diferentes tipos de entalhe. ........................... 38
Tabela 6 – Características das ligações entre a perna e a linha. ................................................. 40
Tabela 7 – Força transmitida por cada superfícies de corte do entalhe ..................................... 44
Tabela 8 – Comprimento das superfícies de contacto. ............................................................... 44
Tabela 9 – Força transmitida por cada superfície de contacto – Calculado através da resultante
de tensões ................................................................................................................................... 45
Tabela 10 – Percentagem da força absorvida por parte das superfícies do entalhe .................. 47
Tabela 11 - Numeração dos nos para a Figura 46, Figura 47 e Figura 48 ................................... 49
Tabela 12 – Força transmitida por cada superfície de contacto. ................................................ 52
Tabela 13 – Comprimento das superfícies de contacto. ............................................................. 52
Tabela 14 – Força transmitida por cada superfície de contato – calculado a partir da resultante
de tensões. .................................................................................................................................. 53
Tabela 15 – Percentagem da componente vertical absorvida por parte de cada superfície do
entalhe duplo. ............................................................................................................................. 55
Tabela 16 – Percentagem da componente horizontal absorvida por parte de cada superfície do
entalhe duplo. ............................................................................................................................. 55
Tabela 17 – Numeração dos nos para os gráficos 10 e 11. ......................................................... 58
Tabela 18 – Comparação das forças atuantes na superfície para o modelo e pelas equações
existentes na literatura atual. ..................................................................................................... 60
1
1. Introdução
A madeira surge como um dos recursos naturais mais usado pelo homem devido à sua
disponibilidade para a construção de diversos elementos, desde mobiliário a edifícios. Desde
os primórdios, a madeira sempre foi muito utilizada pelo Homem, marcando a sua presença
em grande parte do património nacional e mundial.
Em Portugal, grande parte dos edifícios antigos é constituída por asnas de madeira. Desta
forma, o interesse para o maior conhecimento estrutural deste tipo de elementos seja elevado
para se conseguir efetuar a reabilitação e a conservação de edifícios da melhor forma.
Já existiu uma grande evolução no que diz respeito às ligações usadas começando por ligações
mais tradicionais como entalhes, até à utilização de conectores metálicos. Nesta dissertação
será estudada a forma de funcionamento dos entalhes mais tradicionais usados na construção
de asnas de madeira, focando principalmente o entalhe tradicional com dente simples e com
dente duplo.
1.1. Objetivo da dissertação
As asnas de madeira já caíram em desuso nas construções novas, mas mantém uma grande
presença nas construções antigas. Estando-se numa época em que as remodelações de
edifícios se apresentam cada vez mais importantes, a relevância de ter informação detalhada a
propósito deste tipo de estrutura é elevada.
As ligações por entalhe vão estar no centro do estudo desta dissertação. Estas são as ligações
mais elementares das asnas de madeira e são compostas por diversos tipos, sendo as mais
usadas o entalhe simples com um dente e o entalhe com dente duplo. A informação existente
sobre o entalhe duplo não é de grande pormenorização. Esta falta de informação deve-se,
sobretudo, como já se referiu anteriormente, à falta de uso destes tipos de ligações nas
construções novas. Portanto o estudo do trabalho vai se focar na forma como este tipo de
entalhe funciona, em termos de transmissão das forças de compressão existentes.
1.2. Organização da dissertação
O trabalho está dividido em 7 capítulos de forma a obter uma estruturação adequada para
uma mais fácil compreensão.
No primeiro capítulo é feita a introdução do trabalho, delineando todos os objetivos a atingir e
a sua respetiva organização.
No segundo capítulo é feita a abordagem geral às propriedades e características da madeira,
começando pela caracterização da sua estrutura e dos diferentes tipos de madeira existente.
2
Também são mencionadas as propriedades físicas da madeira, em termos de higroscopia,
densidade, retração, durabilidade e resistência ao fogo. Quanto às propriedades mecânicas
referem-se os valores característicos de elasticidade, de resistência à compressão, tração,
flexão e corte. O fendimento, a dureza, a fluência, a resistência à fadiga e o coeficiente de
Poisson são igualmente propriedades mecânicas apontadas neste trabalho. A madeira sendo
um material orgânico apresenta características que variam de árvore para árvore, por essa
razão também são abordadas os tipos de classificações existentes para a categorização do
material.
No capítulo 3 são abordadas as soluções estruturais existentes de coberturas em madeira,
focalizando-se mais nas asnas.
No capítulo 4 é feita uma caracterização de vários tipos de ligações existentes em estruturas
de madeira começando pelo mais elementar até às mais contemporâneas. As ligações por
pregagem, parafusos, cavilhas e ligadores de superfície são abordadas neste trabalho.
No capítulo 5 é feita a abordagem teórica dos modelos de cálculo já existentes para o entalhe
simples com um dente, o entalhe com dente simples posterior e pelo entalhe com dente
duplo.
No capítulo 6 é referida a modelação efetuada e a respetiva análise. São referidos os passos
realizados para a modelação dos entalhes, são mencionadas as características físicas e
geométricas utilizadas para os entalhes e o tipo de análise efetuada. Neste capítulo também
está exposta a discussão dos resultados das análises efetuadas.
No capítulo 7 são efetuadas algumas considerações finais, apresentando as conclusões sobre
os resultados obtidos e os possíveis desenvolvimentos que podem ser efetuados no futuro.
3
2. Madeira, o material
A madeira surge como um dos únicos materiais existentes com origem viva e renovável. A
energia necessária à sua elaboração provém unicamente do Sol. Sendo um material
proveniente da árvore, este tem características particulares de durabilidade e de
comportamento, sendo necessário conhecê-lo de maneira exaustiva para ser utilizado em
construções de forma adequada.
Este capítulo não tem por objetivo oferecer uma visão exaustiva das características físicas e
mecânicas da madeira mas unicamente para oferecer bases de compreensão suficientes para a
aplicação deste material em construções.
2.1. Estrutura da madeira
A madeira apresenta-se como um material orgânico com uma estrutura química baseada em
carbono. De facto, a primeira fonte de energia dos seres vivos provém da energia luminosa
proveniente do sol que é transformada pelas folhas das árvores em glucose, através do
processo de fotossíntese. Este processo ocorre dentro da própria folha graças a clorofila que
se encontra na mesma. Este elemento capta a radiação luminosa do sol transformando-a em
energia química que desencadeia o crescimento da árvore.
Esta reação implica os seguintes elementos:
Dióxido de carbono (CO2), que se encontra no ar;
Água (H2O), obtido no solo;
Energia luminosa fornecida pelo sol (ν);
A expressão da fotossíntese é a seguinte:
6CO2 + 6H2O + ν C6H12O6 + 6O2
Os glúcidos gerados são seguidamente decompostos durante o processo de respiração celular
permitindo liberar a energia da ligação celular.
A diferença entre a energia produzida pela fotossíntese e a que se perde durante o processo
de respiração é utilizada para formar a parede da célula, sendo esta composta principalmente
por celulose que é um derivado da glucose (C6H12O6). A celulose é um dos compostos
essenciais da matéria lenhosa influenciando as propriedades mecânicas desta (Dupraz, P-A., et
al. 2009).
A celulose e a hemicelulose encontram-se na madeira sob a forma de fibras, orientadas
longitudinalmente, constituídas por cadeias moleculares tridimensionais, conferindo à madeira
boa resistência à tração e à compressão axial. Outro dos constituintes das paredes celulares é
a lenhina que é o ligante para assegurar a rigidez transversal às fibras.
4
2.1.1. Células
A madeira é um conjunto de tecidos de origem secundário, constituídos por diferentes tipos
de células. Algumas dessas células estão presentes em todas as espécies enquanto outras são
específicas a uma família. Estas células assumem várias funções tais como o transporte de
seiva, a resistência ou a proteção contra agentes externos. A resistência do material é a função
mais importante a estudar, de ponto de vista construtivo, e será esta que será analisada. A
resistência oferecida por este material é o feito da parede celular.
Os diferentes elementos constituintes da parede celular são os seguintes:
Uma camada intercelular: camada que cimenta as células
Uma parede primária: parede muito fina que se localiza contra a camada intercelular,
constituída por microfibras de celulose.
Uma parede secundária.
A parede secundária é densa e rígida, e contém uma forte proporção de celulose. Esta se
subdivide em três camadas S1, S2 e S3 (Figura 1). As camadas S1 e S3 funcionam como reforço
da camada S2, sendo esta a que representa a maior percentagem da espessura total da parede
celular, constituída por microfibras de celulose densas.
Figura 1 - Esquema da parede celular de uma madeira resinosa (Core, H. et al., 1979)
Estas três camadas permitem reduzir a anisotropia da parede da célula.
2.1.2. O plano lenhoso macroscópico
Do ponto de vista macromolecular distinguem-se várias zonas dentro do corte transversal da
árvore, sendo os seus principais constituintes a raiz, o tronco e a copa. No tronco encontra-se
para além da madeira utilizada nas construções, o único grupo de células que tem a faculdade
de se separar. Estas células dividem-se na direção radial para aumentar de diâmetro e na
direção tangencial para assegurar o crescimento da circunferência. Estas células dividem-se
para o exterior para formar a casca e para o interior para formar o lenho. Na parte exterior, a
5
casca subdivide-se em duas camadas, o líber ou entrecasco, constituído por células vivas com a
função de proteger o lenho e efetuar o transporte de seiva para o crescimento da árvore e, a
camada epidérmica ou ritidoma, constituída por células mortas com função de proteção do
lenho.
O lenho por sua vez é constituído pelo borne e pelo cerne. O borne situa-se na parte exterior
do lenho correspondendo à madeira mais jovem da árvore e é constituído por células vivas
com função condutora da seiva bruta por ascensão capilar, desde a raiz até à copa. Quanto ao
cerne, este assegura a manutenção da árvore e é constituído por células mortas que por vezes
se carregam de substâncias como resinas ou taninos que protegem a madeira contra agressões
de micro organismos.
Figura 2 – Corte transversal do caule de uma árvore (LNEC E31 1955).
A medula é a parte central do tronco e é composta por tecido sem qualquer resistência
mecânica e durabilidade.
O câmbio tem como função gerar novas células, sendo constituído pelo tecido merismático
que está em permanente transformação celular. Deste modo, a atividade do meristema líbero-
lenhoso é responsável pelo engrossamento e transformação do líber e do borne onde serão
visíveis os anéis de crescimento anual resultantes deste processo.
Por fim, os raios medulares ligam todas as camadas entre si e têm como função transportar a
seiva transversalmente e armazenar as substâncias nutritivas. Estes se estendem radialmente
e de forma perpendicular ao eixo do tronco. Também são importantes para a classificação da
madeira e para as suas propriedades, contribuindo para a rigidez da estrutura do tronco. Os
raios medulares são constituídos por tecido laminar que é mais brando do que a restante
madeira. Estes podem provocar o enfraquecimento da madeira, criando zonas de menor
resistência quando submetida a cargas, podendo originar fendas e deslocamentos transversais
capazes de provocar roturas.
Observando a secção do lenho atestam-se os anéis de crescimento anual, que resultam do
crescimento transversal através da adição de novas camadas concêntricas e periféricas devido
à ação do meristema líbero-lenhoso. Na primavera, com a retoma da vegetação, é necessário
um transporte importante de seiva, tendo-se assim uma madeira com cor mais clara e células
longas, de paredes finas e com escassez de fibras. Durante o verão, esta necessidade é
reduzida e observa-se a formação de células estreitas de paredes grossas, aumentando a
6
quantidade de fibras e diminuindo a quantidade de vasos. Desta forma, o lenho de primavera
forma-se mais rapidamente que o lenho de verão. De referir que a largura e distinção dos
anéis de crescimento varia consoante as diferentes espécies de madeira e, dentro da mesma
espécie, depende da altura da árvore e das condições em que esta está exposta. Também é
influenciado por fatores ambientais e climáticos.
Figura 3 – Crescimento anual da árvore do ponto de vista celular. Madeira de verão e primavera. (Dupraz, P-A., et al. 2009)
Para além de registarem a idade da árvore, os anéis de crescimento dão informação para a
consideração e estudo de anisotropia de madeira. O plano lenhoso é, assim, analisado segundo
três secções ortogonais. As direções consideradas são (Figura 4):
- Direção tangencial, direção transversal tangencial aos anéis de crescimento;
- Direção radial, direção transversal radial dos anéis de crescimento:
- Direção axial, no sentido das fibras, longitudinal em relação ao tronco.
Figura 4 – Direções principais da madeira. (Simões, A. Et al 2012)
7
A análise de uma amostra de madeira segundo estes três planos permite a identificação da
madeira.
2.2. Tipos de madeira
A madeira divide-se em dois grupos botânicos consoante a sua estrutura atómica: as
Gimnospérmicas - mais conhecidas por resinosas ou madeiras brandas - e as Angiospérmicas –
geralmente denominadas por folhosas ou madeiras duras.
2.2.1. Madeiras Resinosas
As madeiras resinosas surgiram antes das madeiras folhosas na história fitogenética tendo
assim uma estrutura menos evoluída. As resinosas apresentam um crescimento rápido, que
resulta numa baixa densidade e uma baixa resistência, sendo possível cortar este tipo de
árvores após 30 anos. Apresentam fracas qualidades naturais de durabilidade, a não ser que
sejam tratadas com conservantes, mas são economicamente mais acessíveis por estarem
sempre disponíveis no mercado (Porteous & Kermani 2007). Alguns exemplos de madeiras
brandas são o pinheiro bravo, cipreste ou o pinheiro branco.
2.2.2. Madeiras Folhosas
Como já se referiu as madeiras folhosas são mais recentes que as resinosas. Assim, estas
madeiras apresentam uma estrutura mais complexa tendo um crescimento lento que oferece
madeiras de maior densidade e com melhores capacidades resistentes. Nalguns casos a
madeira atinge a maturação após 100 anos, tendo assim características naturais que
beneficiam a sua durabilidade, mas, como seria de esperar, são mais dispendiosas do que as
resinosas com realce no custo de transporte por serem, na maioria, tropicais (Porteous &
Kermani 2007). Alguns exemplos de espécies de madeiras folhosas são a garapa, tatajuba ou o
carvalho.
2.3. Propriedades físicas
Pelo facto de existir uma grande variedade de espécies de madeira torna-se necessário
conhecer as propriedades físicas e a resistência a solicitações mecânicas da mesma, para que a
escolha da madeira se faça em conformidade com os requisitos de segurança e economia.
2.3.1. Higroscopia e Humidade
Como todos os materiais linho-celulósicos, a madeira é um material higroscópico, ou seja, a
madeira é sensível às variações atmosféricas (humidade e temperatura), e o seu teor em água
muda sobre o efeito da absorção para atingir um estado de equilíbrio com o ambiente. O teor
em água da madeira (u) é exprimido quantitativamente como a percentagem de massa de
água presente na madeira, dividida pela massa da matéria seca:
8
𝑢 =𝑊𝑚 − 𝑊0
𝑊0× 100
(2-1)
Onde 𝑊𝑚 corresponde à madeira húmida e 𝑊0 à massa da madeira anidra.
As flutuações do teor em água podem causar variações dimensionais denominadas
inchamento e retração consoante a existência de aumento ou diminuição de volume
respetivamente. (Natterer, J., et al 2004)
Figura 5 - Variação dimensional da madeira em função do teor em água. (Dupraz, P-A., et al. 2009)
Quanto maior a humidade existente na madeira menor é a sua resistência mecânica até chegar
ao ponto de saturação das fibras. Para teores em água iguais ou superiores a 30%,
correspondente ao ponto de saturação das fibras, verifica-se que a resistência mantem-se
praticamente constante.
A variação de volume durante a variação do teor em água é inversamente proporcional à
porosidade. Isto é, as variações dimensionais são mais importante quanto mais densa for a
madeira.
Falta referir de que forma a água está presente na madeira. Esta está presente sob três formas
diferentes: água livre, água de constituição e água de impregnação. A água livre ou água
capilar encontra-se nas cavidades celulares e é expulsa com relativa facilidade por secagem
natural ao ar, não causando variação dimensional dos elementos de madeira. A água de
constituição encontra-se combinada com alguns componentes de matéria lenhosa que se
encontra integrada, fazendo com que, só possa ser eliminada quando a estrutura molecular é
eliminada. A água de impregnação preenche os espaços entre as paredes das células, ligando-
se a estas por pontes de hidrogénio e forças de “Van der Walls”, requerendo uma maior
energia para a sua libertação. Esta libertação provoca uma alteração no volume da peça
consoante o grau de humidade.
Após o abate da árvore a água livre sai de forma rápida, diminuindo drasticamente o teor em
água da madeira até atingir o ponto de saturação. A água livre altera os valores de massa
volúmica de madeira mas não influência as suas propriedades físicas e mecânicas.
9
2.3.2. Densidade
A densidade é uma das principais características físicas da madeira pelo facto de condicionar a
maioria das propriedades mecânicas da mesma .
A densidade básica da madeira é definida como a massa volúmica específica convencional
obtida pela divisão entre a massa volúmica seca e o seu volume saturado:
𝐷𝑏á𝑠𝑖𝑐𝑎 =𝑃𝑠𝑒𝑐𝑜
𝑉𝑠𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎𝑑𝑜
(2-2)
A densidade aparente é estabelecida para um padrão de humidade de 12%, sendo o resultado
entre o quociente entre a massa e o volume de madeira sujeito à humidade padrão. A
densidade aparente é considerada em termos de massa específica aparente, ou seja,
considerando um volume aparente em que não é deduzido o volume compreendido pelos
poros, como se pode observar na seguinte expressão:
𝐷𝑎𝑝𝑎𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒 =𝑃𝑎𝑝𝑎𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒
𝑉𝑎𝑝𝑎𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒
(2-3)
Existe uma correlação entre a densidade e a resistência mecânica, as madeiras pesadas são
geralmente mais resistentes. No entanto essa correlação não é tão linear devido à grande
heterogeneidade e diversidade de espécies de madeira.
Em espécies de madeira idênticas também existe flutuações em relação à massa volúmica
devido a diversos fatores. Um destes aspetos é a velocidade de crescimento da árvore que
depende da altitude e da posição da árvore no seu meio que é influenciado pela luminosidade
e evapotranspiração (Dupraz, P-A., et al. 2009)
Algumas propriedades físicas e tecnológicas essenciais da madeira estão condicionadas pela
sua massa volúmica, sendo esta muitas vezes suficiente para determinar qual a madeira que
está apta para ser utilizada para uma determinada função. (Natterer, J., et al. 1983).
2.3.3. Retração
A retração caracteriza-se pela redução das dimensões de uma peça de madeira originada pela
saída da água de impregnação. Como a madeira é heterogénea e ortotrópica, não apresenta os
mesmos valores de retração nas três direções principais (axial, tangencial e radial).
A retração axial proporciona uma variação dimensional da ordem de 0,5%, enquanto a
retração radial e tangencial podem apresentar variações dimensionais nos valores de 6% e
10% respetivamente. As duas últimas podem provocar problemas de fendilhação ou de torção
nas peças de madeira. O comportamento ortotrópico acontece pela existência do lenho de
primavera e de verão em cada anel de crescimento. Como o lenho de verão apresenta paredes
10
celulares muito mais espessas, os movimentos de expensão e de contração deste são muito
superiores aos do lenho inicial.
As alterações dimensionais ocorrem quando a humidade da madeira varia abaixo do ponto de
saturação das fibras. Também pode ocorrer expansão quando a madeira encontra-se em
condições de alta humidade, pois, em vez de esta libertar água, incha por absorção de água.
(Szücs, C.A., et al 2008).
2.3.4. Durabilidade Natural
A durabilidade da madeira, em relação aos ataques provocados por agentes biológicos,
depende da espécie e das características anatómicas. A durabilidade duma peça de madeira
também depende da região do tronco onde a madeira foi extraída. Como referido
anteriormente o cerne e o borne apresentam características diferentes, sendo este último
mais vulnerável aos ataques biológicos por ser mais exterior. Para a existência de degradações
biológicas na madeira é necessário que haja presença de água e presença suficiente de
oxigénio. Portanto a madeira que esteja protegida de intempéries ou totalmente submersa
pode resistir às agressões durante séculos. (Dupraz, P-A., et al. 2009) Assim, a durabilidade da
madeira pode ser melhorada através de tratamentos, alcançando-se níveis superiores de
durabilidade, próximo dos apresentados pela espécie sem ter sofrido alterações.
2.3.5. Resistência ao fogo
Materiais combustíveis como a madeira queimam na superfície, libertando energia
contribuindo para a propagação do fogo e o desenvolvimento de fumo em caso de incêndio.
Portanto uma das condições principais para efetuar estruturas em madeira é uma segurança
adequada ao fogo. No entanto, as estruturas de madeira bem dimensionadas conferem à
estrutura global uma resistência ao fogo superior à de outros materiais. Como já referido, a
madeira propaga o fogo com facilidade mas, após algum tempo, a camada exterior carboniza
isolando assim o resto do material. Assim, esta camada retém o calor e auxilia na contenção do
incêndio (Martins, T. 2010). Debaixo da camada carbonizada encontra-se a pirólise com cerca
de 5 mm de espessura. Esta camada é alterada mas não completamente decomposta. A
restante parte interior do material mantém as capacidades mecânicas originais contribuindo
para a resistência da estrutura.
11
Figura 6 – Secção de uma viga de madeira lamelada colada, exposta ao fogo durante 30 minutos. (Pinto, E. 2004)
Percebe-se assim que o fogo degrada a resistência da madeira pela diminuição da secção
estrutural e não pela diminuição das propriedades mecânicas da mesma tal como sucede no
aço. Uma estrutura metálica não gera uma reação inflamável quando expostas a temperaturas
superiores a 500⁰C, mas perde a sua resistência mecânica em cerca de 10 minutos (Szücs, C.A.,
et al, 2008).
A densidade interfere na reação da madeira ao fogo apresentando uma menor velocidade de
combustão quando a densidade é maior. O teor em água também influencia o processo de
combustão, porque quanto maior é o conteúdo de humidade existente na madeira, menor é o
seu poder de combustão. Isto deve-se ao processo de evaporação da água que absorve
energia de combustão (Quirino, W. Et al 2005).
Pelo facto da madeira existente nas estruturas apresentar um baixo teor em água, esta
propriedade já não é tão relevante neste contexto.
2.4. Propriedades mecânicas
A madeira como material natural apresenta propriedades mecânicas interessantes. Por esta
ser constituída por fibras e por ser porosa apresenta uma boa relação entre a massa volúmica
e a resistência, permitindo elaborar estruturas ligeiras que permitem vencer grandes vãos. A
resistência da madeira é função da espécie florestal e da qualidade das peças, avaliada de
forma objetiva pelo tipo e dimensão máxima dos defeitos presentes. A resistência de uma
estrutura de madeira também é afetada pelo seu teor em água e pelo tempo de atuação das
ações e da direção das mesmas. Como já se referiu anteriormente, a resistência mecânica é
inversamente proporcional ao teor em água da madeira para valores abaixo do ponto de
saturação das fibras.
O tempo de atuação das cargas reduz a resistência da madeira como se verifica na Figura 7,
demonstrando que a aplicação de tensões elevadas situadas abaixo da tensão de rotura
poderá conduzir à ruina da estrutura ao fim de um período mais ou menos longo. Deste modo,
estruturas temporárias poderão ser dimensionadas assumindo resistências de cálculo mais
elevadas do que no caso de estruturas permanentes.
12
Figura 7 - Relação entre o tempo de atuação das cargas e a resistência (Mateus, T. 1978)
2.4.1. Valores característicos de elasticidade
A madeira trata-se de um material fibroso portanto a sua resistência depende da direção da
carga. Quando a madeira é submetida a uma carga aplicada no sentido das fibras, esta tem,
até uma determinada carga, um comportamento quase elástico. Ao ultrapassar o limite de
elasticidade, ocorrem deformações plásticas importantes que aumentam progressivamente
até à rotura (Natterer, J., et al 1983). Pelo facto de a madeira ser composta por um esqueleto
de cadeias de moléculas de celulose esta, quando solicitada à tração, apresenta uma
resistência superior do que quando solicitada à compressão tendo uma rotura frágil. Esta
rotura acontece pelo rasgo das ligações que advêm de maneira brusca. Quando solicitada à
compressão o comportamento é praticamente linear até ao valor máximo de resistência,
tendo uma rotura dúctil que ocorre por encurvadura de algumas fibras que originam um plano
de corte (Correia, E, 2009).
13
Figura 8 - Diagrama tensão/deformação para madeiras resinosas submetidas a esforços de tração e de compressão paralelas às fibras. (Natterer, J., et al 1983)
2.4.2. Resistência à compressão longitudinal e transversal às fibras
A resistência à compressão longitudinal das madeiras resinosas encontra-se, segundo as
características de crescimento destas, entre 30 e 90 N/mm2 (Natterer, J., et al 1983). A
compressão transversal é a mais desfavorável apresentando intervalos de resistência entre 1 –
20 N/mm2 (Martins, T., 2010). A resistência é melhor quando a compressão é localizada, por
exemplo, no caso de uma travessa em que as duas extremidades são contínuas. Os vários tipos
de compressão podem ser observados na Figura 9.
Figura 9. Esforços de compressão longitudinais, localizadas e transversais em relação às fibras. (Natterer, J., et al 1983)
14
2.4.3. Resistência à tração
A resistência à tração de madeira com fibras direitas e sem nós pode ser 2 – 2,5 vezes superior
à resistência à compressão, isto é, 60 a 150 N/mm2 para as madeiras resinosas. De referir
também que a resistência à tração é menos influenciada pela humidade da madeira do que a
resistência à compressão. (Natterer, J., et al. 1983)
A resistência à tração transversal pode atingir 1,5 a 4,0 N/mm2 em pequenas peças sem
defeitos. No entanto, esta resistência é praticamente reduzida a zero em madeiras de grande
secção devido às inevitáveis fendas de retração. Isto justifica-se, também, pelo escasso
número de fibras que a madeira possui na direção perpendicular ao eixo das árvores, e
consequentemente, pela falta de travamento transversal das fibras longitudinais e a debilidade
das ligações intercelulares transversais. (Natterer, J., et al. 1983)
O comprimento das células relaciona-se com a resistência à tração axial da madeira. As
madeiras cujas células são mais alongadas beneficiam de maior resistência à tração axial. Tal
facto pode ser explicado à luz do arranjo microfibrilar que se obtém em células mais
alongadas.
2.4.4. Resistência à flexão
A resistência da madeira à flexão é mais baixa do que os metais, mas é mais elevada do que a
maioria dos restantes materiais não metálicos. Por exemplo, para o pinheiro bravo a
resistência à flexão estática é cerca de 140 N/mm2, sendo esta a tensão normal resultante da
flexão, atingindo valores próximos da resistência à tração longitudinal (Correia, E., 2009). Tal
como na resistência à compressão, a resistência à flexão é influenciada pela massa volúmica e
humidade da madeira e, tal como a resistência à tração, é fortemente influenciada pela
direção das fibras e da quantidade de nós.
2.4.5. Resistência ao corte
As tensões de corte podem existir no plano longitudinal e no plano transversal. O esforço
transverso provoca tensões tangenciais paralelas às fibras, sendo estas produzidas sobretudo
nas ligações por entalhe de respiga e mecha, que será abordada posteriormente.
Paralelamente às fibras, a resistência ao corte atinge unicamente 1/8 a 1/10 da resistência à
compressão; perpendicularmente às fibras, esta é mais elevada, mas tendo em conta a fraca
resistência à compressão transversal, esta não tem praticamente nenhuma importância.
2.4.6. Fendimento
O fendimento é uma característica típica dos materiais fibrosos. Esta traduz a coesão ou
resistência da madeira ao deslocamento entre fibras. A resistência da madeira ao fendimento
axial é baixa, rasgando-se assim com mais facilidade nessa direção. A resistência ao
fendimento é diferente para diferentes espécies de madeira. As madeiras com uma menor
15
densidade, resinosas ou folhosas leves, apresentam uma menor resistência ao fendimento.
Nas madeiras mais densas, folhosas pesadas, a resistência ao fendimento é superior.
2.4.7. Dureza
A dureza é uma característica mecânica que traduz a resistência do material quanto à
penetração, riscagem e desgaste. Este parâmetro é importante para realizar uma seleção da
espécie de madeira em função do fim a que se destina pelo facto de a dureza estar relacionada
com a densidade e trabalhabilidade do material. As madeiras são geralmente designadas, em
termos de dureza, como brandas (choupo ou pinho), medianamente duras (carvalho ou freixo)
e duras (Nogueira).
2.4.8. Fluência
Os elementos submetidos a cargas prolongadas sofrem deformações plásticas que variam em
função do tempo. A fluência corresponde ao aumento de deformação sobre uma carga
constante.
O diagrama da figura seguinte apresenta as deformações em função do tempo.
Figura 10 – Deformações em função do tempo em dias. (Natterer, J., et al, 1983)
Como se pode observar as deformações tendem, após algum tempo e dependendo da
importância do carregamento, para um valor limite que é de 1.6 a 2 vezes a deformação
elástica para um nível de solicitação habitual (curva 1). Quando as solicitações ultrapassam
certo nível, o limite de fluência, as deformações crescem rapidamente e provocam finalmente
a rotura da barra (curva 2). Denomina-se resistência à rotura sobre cargas de longa duração à
resistência que permite à barra de suportar indefinidamente o carregamento sem romper.
Falta referir que quando se retira o carregamento apenas uma parte da deformação é
recuperada mantendo-se um resíduo de deformação variável com o tempo (Figura 11).
16
Figura 11 - (a) Diagrama da carga em relação ao tempo; (b) Comportamento viscoelástico sob carga constante. (Melo, R. & Menezzi, C., 2010)
O teor em água da madeira tem grande influência no coeficiente de fluência, sendo este o
quociente entre a deformação por fluência e deformação instantânea. Para madeiras com
maiores teores em água ou sujeitas a ciclos de humidificação/secagem, o valor do coeficiente
de fluência é bastante superior.
De modo a prevenir o impacto da fluência na resistência global de elementos estruturais da
madeira podem tomar-se certas medidas:
Garantir que o elemento estrutural não se encontra sujeito a grandes variações
térmicas e higrométricas;
Aplicação dos elementos estruturais devidamente estabilizados em termos de
percentagem de humidade;
Para efeitos de dimensionamento, sobrestimar as cargas atuantes ou subestimar o
valor do módulo de elasticidade de forma a impedir que o elemento estrutural entre
em regime plástico;
Utilizar contra flechas. (Júnior, J., 2006)
2.4.9. Resistência à Fadiga
A resistência à fadiga é a capacidade que um elemento tem em se deformar sem atingir a
rotura, quando exposta a esforços alternados de compressão e tração.
Através de dados experimentais apresentados por Albino Carvalho (1996), apresenta-se
algumas ilações sobre a resistência à fadiga:
O quociente entre a resistência à fadiga e a resistência à flexão estática, em média, da
ordem de um terço;
O quociente entre a resistência à fadiga e a densidade, denominada por cota de fadiga,
da madeira é da ordem de 6 a 7, enquanto para o alumínio é de 5 e de 2 a 3, para
alguns aços especiais;
17
O teor em água tem influência no valor da resistência à fadiga, sendo que para cada
diminuição de 1% do teor em água, verifica-se uma redução de 3 a 4% do valor da
resistência à fadiga.
2.4.10. Coeficiente de Poisson
O coeficiente de Poisson na madeira varia entre espécies e na própria espécie e é afetado
principalmente pela humidade.
2.5. Classificação da madeira
Como já foi referido, a madeira é um produto natural das árvores que apresenta grandes
variações de qualidade segundo a espécie, a genética, as condições de crescimento e
ambientais. As propriedades da madeira não variam unicamente de árvore para árvore mas
também na própria árvore, segundo a sua secção transversal e ao longo do eixo da mesma. A
transformação da madeira redonda em madeira quadrada interfere na estrutura interna da
madeira natural.
Assim, as propriedades mecânicas da madeira de qualquer espécie que não esteja classificada
podem variar numa amplitude em que a peça mais resistente tenha uma resistência 10 vezes
superior do que a peça mais fraca.
Em estruturas a utilização da madeira é baseada sobre os seus valores característicos de
resistência. Deste modo, a resistência elevada da maioria das peças não pode ser utilizada a
não ser que seja classificada. Isto demonstra que, por razões económicas, a madeira tem de
ser separada em classes de diferentes qualidades, efetuando essa triagem peça por peça. A
classificação associa, a cada classe de resistência, as propriedades necessárias para o
dimensionamento estrutural, onde estão incluídas as várias resistências aos vários tipos de
esforços e o módulo de elasticidade. No entanto, a avaliação da resistência só pode ser
efetuada indiretamente através de parâmetros que podem ser estabelecidos visualmente ou
por métodos não destrutivos. (Racher, P., et al 1996)
2.5.1. Classificação visual
Tradicionalmente, a classificação é realizada através de um exame visual da madeira tendo em
conta os fatores de redução da resistência que podem ser examinados. Os fatores são
principalmente os nós e a largura dos cernes de crescimento (Racher, P. Et al 1996).
A classificação visual tem certas fragilidades, por razões práticas, pelo facto de somente as
características reconhecidas visualmente poderem ser consideradas e unicamente regras de
combinação simples serem possíveis. Uma característica em estreita relação com a resistência
tal como a massa volúmica, não pode ser avaliada corretamente pelo método de classificação
visual. De referir que a decisão da classificação é efetuada pela opinião de um classificador,
portanto a mesma nunca pode ser totalmente objetiva.
18
Os sistemas nacionais de classificação visual assentam em normas aplicáveis a um conjunto
reduzido de espécies, definindo classes de qualidade associadas à limitação de defeitos. Uma
dessas normas é a NP 4305 que é aplicável à madeira de pinho bravo português (Correia, E.
2009).
A nível europeu também se encontra disponível normas para a classificação visual de
madeiras, sendo esta a EN14081-1 – Timber structures – Strength graded structural timber
with rectangular cross section – Part 1 – General requirements.
2.5.2. Classificação mecânica
Pela crescente necessidade de apresentar uma madeira de alta qualidade surgiu a classificação
por máquina. Através deste tipo de classificação, os inconvenientes presentes na classificação
visual podem ser evitados. As primeiras máquinas existentes determinavam um módulo de
elasticidade médio, em flexão, com níveis de carga baixos. Este procedimento foi melhorado
ao longo dos anos sendo possível agora determinar o módulo de elasticidade através de
vibração, micro-ondas, e ultrassons. Este último método tem a vantagem de não solicitar
mecanicamente a madeira e, assim, evitar qualquer tipo de dano na mesma.
Tal como para a classificação visual existe a norma europeia para a classificação por máquina:
- EN14081-2 – Timber Structures – Strength graded structural timber with rectangular cross
section – Part 2 – Machine grading: additional requirements for initial type testing;
- EN14081-3 – Timber Structures – Strength graded structural timber with rectangular cross
section – Part 3 – Machine grading: additional requirements for factory production control;
- EN14081-3 – Timber Structures – Strength graded structural timber with rectangular cross
section – Part 3 – Machine grading: grading machine settings for machine controlled systems;
2.5.3. Classes de resistência
O princípio das classes de resistência é a atribuição das principais propriedades físicas e
mecânicas a uma dada população de madeira para estruturas, de forma simples e objetiva,
para facilitar a sua aplicação em construções.
Este conceito, implementado na Europa através da EN 338, pretende tratar a madeira da
mesma forma que outros materiais estruturais como o betão ou o aço, introduzindo assim um
facto de segurança adicional na especificação dos materiais (Correia, E. 2009).
A introdução de classes de resistência é interessante tanto para o utilizador como para o
fornecedor de madeira. O projetista não necessita de conhecer uma multitude de classes
diferentes dependendo do local onde o projeto será realizado. Em vez disso, escolhe uma
classe de resistência que acha adequada para o projeto a partir de uma tabela, tal como outros
materiais de construção. O produtor de madeira tem a vantagem de poder obter um preço
mais elevado pela sua madeira se tiver um processo de classificação otimizado permitindo-lhe
afetar a madeira por ele produzida a classes de resistência mais elevadas.
19
A norma EN 338 dá propriedades de resistência, de rigidez e de massa volúmica para cada
classe de resistência. Na Tabela 1 encontram-se as classes de resistência para madeiras
resinosas e folhosas.
Tabela 1 – Classe de resistência e valores característicos segundo a norma EN 388. Espécies resinosas e folhosas.
Para ter uma noção das classes de qualidade de algumas espécies, apresenta-se na Tabela 2
alguns exemplos para madeiras utilizadas em construções.
Tabela 2 – Classe de Qualidade e Classe de resistência para algumas espécies de madeira. (LNEC M1, 1997)
21
3. Soluções estruturais de cobertura
As coberturas tradicionais de madeira são compostas por asnas. As asnas são os elementos
principais da cobertura e podem ter várias configurações geométricas. A escolha desta
geometria depende da natureza das ações, do vão a cobrir, da inclinação da cobertura, da
arquitetura e das operações de montagem e execução (Branco, Santos, & Cruz 2010).
As asnas tradicionais são geralmente constituídas por um elemento horizontal denominado
linha, por duas pernas inclinadas que perfazem a vertente do telhado, por um elemento
vertical apertado nos vértices do telhado pelas pernas – pendural - e por duas escoras que
ligam as pernas ao pendural. De referir que sobre as asnas repousam as madres, a fileira, as
varas e as ripas, sendo que as duas últimas são a substrutura de suporte à cobertura (Branco,
Santos, & Cruz 2010).
As asnas com menor grau de complexidade têm espaçamento entre elas até 4 metros. Para se
atingir vãos maiores a complexidade da estrutura aumenta. Nas seguintes figuras encontram-
se as tipologias mais frequentes de asnas de madeira.
Figura 12 – Tipologia mais frequente de asnas de madeira (Branco, Santos, & Cruz 2010).
23
4. Ligações em estruturas de madeira
As ligações são geralmente o ponto mais fraco da estrutura de madeira pelo facto destas
encontrarem-se sujeitas a esforços e tensões localizadas, podendo por em causa a estabilidade
global da estrutura. No entanto, a ductilidade de algumas soluções de ligação assegura um
bom comportamento das estruturas em madeiras submetidas a grandes cargas sísmicas.
4.1. Ligações tradicionais
Desde os primeiros tempos em que se efetuaram construção em madeira foi necessário
efetuar ligações das várias peças que iriam constituir a obra. As cabanas de madeira foram as
primeiras edificações efetuadas pelo Homem com este material. Nos primórdios a forma
utilizada foi de varas inclinadas cravadas no solo de forma a cruzarem-se na extremidade
superior, surgindo, assim, o primeiro tipo de ligações de madeira.
A ligação era efetuada numa primeira fase através de fibras vegetais, tais como lianas, sendo
que posteriormente usaram-se tiras de peles de animais.
Com a evolução da humanidade desenvolveram-se ferramentas que permitiam trabalhar a
madeira descobrindo-se assim as direções preferênciais para esta ser trabalhada. Surgiram
superfícies lisas para ligar as peças de madeira aparecendo desta forma um novo tipo de
ligações que ainda se empregam nos dias de hoje. Este tipo de ligação é denominado por
entalhe. Inicialmente este tipo de ligação tinha como função o travamento da estrutura, não
resistindo assim a esforços significativos.
A transmissão de esforços dos entalhes é efetuada por atrito e compressão na interface entre
os elementos a unir, sendo que o esforço que estes suportam não permite a separação dos
elementos. Este tipo de ligação não admite a inversão de solicitações e, também, tem como
inconveniente a grande concentração de tensões na zona do entalhe devido à redução efetiva
da secção da peça. Desta forma os elementos eram sobredimensionados e compridos pelo
facto das emendas não serem admissíveis em zonas tracionadas.
Este tipo de ligação continuou a desenvolver-se permitindo a realização de estruturas de maior
porte, vencendo maiores vãos. E, surgiu, assim, um tipo de ligação muito utilizada em asnas de
coberturas denominada por respiga e mecha (Figura 13). Consiste em talhar a extremidade de
uma das peças ficando esta com uma secção de extremidade com menor dimensão, tendo
geralmente uma forma quadrangular. Este elemento é denominado por respiga. No outro
elemento abre-se uma cavidade para que o primeiro elemento possa entrar nessa cavidade,
que é denominada por mecha (Segurado, J.E.S. 1949).
24
Figura 13 – Ligação por respiga e mecha.
Este tipo de ligação assegura uma perfeita conexão entre as peças e previnem ao mesmo
tempo deslizamentos laterais das mesmas, por intermédio de penetração (Branco, Santos, &
Cruz 2010).
Geralmente inclui-se um ou mais dentes na ligação tradicional respiga e mecha de forma a
aliviar o esforço exercido na respiga. Por exemplo, na junção de uma escora e uma perna, todo
o esforço da escora estará concentrado no canto da respiga, se esta for uma ligação respiga e
mecha tradicional. Por essa razão as fibras da respiga podem não aguentar a pressão exercida
e, assim, efetua-se um ou mais dentes para dar repouso à mesma (Émy, A. R. 1837).
Existe uma grande variedade de tipos de ligação por entalhe estando os principais utilizados
em asnas de madeira apresentados na Figura 14.
Figura 14 – Entalhe em asnas de madeira. a) Dente simples anterior b) Dente simples posterior c) Dente duplo (CECOBOIS 2012)
25
Hoje em dia este tipo de ligação já entrou em desuso mas ainda se encontra em várias
habitações antigas sendo interessante o seu estudo do ponto de vista da reabilitação.
4.2. Ligações modernas
As ligações continuaram a evoluir aproveitando os conhecimentos adquiridos com as ligações
clássicas. As ligações por entalhes transmitem bem os esforços de compressão e de corte mas
não admitem a inversão de solicitações. A partir desta ótica é que surgiram outros tipos de
ligação que junto com a ligação por entalhe formem uma conexão mais estável entre
elementos, principalmente quando existe a possibilidade de inversão de esforços.
4.2.1. Ligações por pregagem
O prego surgiu como a primeira tecnologia das ligações modernas, por ser um ligador vulgar,
de fácil aplicação. O sistema de ligações por pregagem impõe que as áreas de sobreposição
das peças sejam elevadas, para que não ocorram interações entre o elevado número de pregos
que perfazem a ligação devido à relativa proximidade entre os mesmos. O número elevado de
pregos em cada ligação resulta do baixo valor da tensão de rotura da madeira ao corte e, com
essa quantidade de pregos, evita-se que os mesmos rasguem a madeira. A estrutura pregada
acusa sensíveis deformações no tempo devido à fluência das suas ligações, limitando a sua
aplicação em situações com fracas solicitações ou em obras de curta duração. (Clemente, J.S.
1976).
Figura 15 – Pregos Correntes. (Mendes, P.,1994)
26
4.2.2. Ligações por parafusos de porca
A superfície dos parafusos de porca é lisa, com exceção da ponta roscada que permitirá
aparafusar a porca. Em conjunto com o parafuso e a porca também são utilizadas anilhas, em
ambos os topos, que têm por objetivo distribuir a força perpendicular às fibras por uma área
adequada, de forma a não ocorrer esmagamento localizado logo após a montagem (Mendes, P
1994).
Pelo facto das ligações com parafusos de porca reagirem sobre a madeira em área muito
superior do que pregos, este tipo de ligação confere um melhor comportamento no tempo
sobretudo se se reapertar os parafusos a determinados intervalos de tempo (Clemente, J.S.
1976).
Figura 16 – Parafusos de porca. (Mendes, P.,1994)
4.2.3. Ligações por parafusos correntes
A superfície dos parafusos correntes é roscada. O tipo de tecnologia utilizado para este tipo de
parafuso é, geralmente, o de pré-furação. O diâmetro de pré-furação deve ser ligeiramente
inferior ao do parafuso, para que este mobilize, além da resistência ao corte, alguma
resistência ao arranque. A utilização deste tipo de ligadores é pouco utilizada em estruturas de
madeira.
Figura 17 – Parafusos correntes. (Mendes, P.,1994)
27
4.2.4. Ligação por cavilhas
Tal como as ligações por parafusos correntes, a ligação por cavilhas tem uma utilização
relativamente pequena em estruturas. As cavilhas são introduzidas sobre pressão de forma a
ficarem justas, sendo que a força de aperto é transmitida por atrito ao longo da cavilha. A
eficiência deste tipo de ligação tem tendência para decrescer muito por causa das sucessivas
variações de humidade dos elementos ligados entre si. Em termos estéticos este tipo de
ligação é uma mais-valia pelo facto de permitir acabamentos que os parafusos de porca não
permitem.
Figura 18 – Exemplo de ligação tipo cavilha. (ITABOLT)
4.2.5. Ligadores de superfície
Surgiram também os ligadores lineares que se situam entre faces dos elementos. Estes foram
importantes para a evolução das tecnologias das ligações, aparecendo posteriormente os anéis
e as chapas denteadas. Este tipo de ligação é geralmente acompanhado pelos ligadores
metálicos já enunciados (excetuando as ligações por cavilhas), fazendo com que as tensões
atuantes nestes sejam bastante inferiores reduzindo também a deformação da ligação porque
ao terem tendência para rodar mobilizam mais aperto nos ligadores.
As barras quando ligadas com este tipo de ligador têm tendência a rodar devido ao binário
provocado pelas ações. Para contrariar esse efeito pode se adotar outro tipo de perfil tal como
as barras com perfil T.
28
Figura 19 – Pormenor de barras de perfil retangular e perfil T. (Mendes, P.,1994)
Posteriormente, com resultado de estudos, surgiram outros ligadores que permitiram
melhorar a eficiência da ligação tais como as barras dobradas ou arqueadas. Pelo facto destes
terem uma rigidez superior às barras de perfil retangular, estes contrariam os momentos
desenvolvidos na ligação.
Continuando com o raciocínio por uma maior rigidez tem-se uma maior eficiência da ligação
surgiram os anéis metálicos. Em termos construtivos estes ligadores também garantem uma
aplicação mais simples porque os rasgos são efetuados através de uma máquina rotativa
provida de lâminas.
Por fim, nos ligadores de superfície encontram-se ainda as chapas denteadas e ferragens. Estas
últimas são bastante utilizadas em asnas de madeira, com os pés-de-galinha são utilizados para
a ligação Perna-Pendural, os tês para a ligação Perna-Escora e as braçadeiras para a ligação
Perna-Linha.
Figura 20 – Esquema tradicional de ferragens para asnas de madeira. (Costa, F., 1955)
29
5. Modelos de cálculo em entalhes na ligação Linha e Perna de
uma asna
As ligações por entalhe são ligações que só têm capacidade para transmitir esforços de
compressão, sem qualquer tipo de aparelho para efetuar a conexão, sendo esta efetuada
unicamente pelas próprias superfícies. Estas ligações contam com as forças internas de
compressão para manterem-se em contacto e, por vezes, também com a ajuda de ligadores
metálicos. Esta prática é mais comum nos países ocidentais do que nos orientais. (Palma, P. &
Cruz, H., 2007)
Quando se efetua uma ligação por contacto entre duas peças de madeira, os cernes das peças
podem não ser coincidentes, havendo partes de madeira mais resistentes a apoiar-se em
madeira menos resistente (madeira de verão e madeira de primavera, respetivamente). Deste
modo pode existir uma possível penetração das fibras de uma secção para outra. A
probabilidade de penetração é maior em ângulos de conexão reduzidos sendo praticamente
desprezível para ligações com 90⁰.
O Eurocódigo 5 não apresenta nenhuma informação para alterar a resistência da madeira
devido à penetração de fibras entre peças. Isto é justificado pelo facto deste fenómeno não
acontecer no domínio das tensões admissíveis. Portanto os valores de resistência em
compressão oblíqua são obtidos pelas equações de Hankinson.
Figura 21 – Tensão de compressão com um determinado ângulo em relação ao fio. (EN1995-1-1, 2004)
𝜎𝑐,𝛼,𝑑 ≤𝑓𝑐,0,𝑑
𝑓𝑐,0,𝑑
𝑘𝑐,90𝑓𝑐,90,𝑑𝑠𝑖𝑛2𝛼 + 𝑐𝑜𝑠2𝛼
(5-1)
Onde:
𝜎𝑐,𝛼,𝑑 é a tensão de compressão num ângulo α do fio;
𝑓𝑐,0,𝑑 é a tensão de compressão de dimensionamento paralelo ao fio;
𝑓𝑐,90,𝑑 é a tensão de compressão de dimensionamento perpendicular ao fio;
𝑘𝑐,90 é um fator que toma em conta o efeito de qualquer tensão perpendicular ao fio.
30
Onde:
𝑘𝑐,90 =𝑙𝑒𝑓
𝑙 (5-2)
e
𝑙 é o comprimento da superfície de compressão;
𝑙𝑒𝑓 é o comprimento efectivo de distribuição de acordo com o parágrafo 6.1.5 do
Eurocódigo 5.
A tensão de compressão 𝜎𝑐,𝛼,𝑑 é gerada por uma força de dimensionamento a actuar na área
carregada (bh/cosα):
𝜎𝑐,𝛼,𝑑 =𝑁𝑑𝑐𝑜𝑠𝛼
𝑏ℎ (5-3)
5.1. Entalhe simples com um dente
Segundo o modelo de cálculo baseado pela norma Suiça (SIA), toda a carga axial é transmitida
através da superfície de contacto na extremidade do entalhe.
Como já foi referido anteriormente a resistência paralela ao fio é superior à resistência
transversal ao mesmo, assim o ângulo de corte da madeira influencia a resistência da ligação
de carpintaria. Se a perna da asna for cortada a 90° esta oferecerá uma resistência máxima,
mas a resistência da linha será reduzida. A resistência ótima obtém-se com um ângulo de corte
igual para os dois membros sendo o ângulo a bissetriz entre os mesmos.
Nos casos em que o entalhe se encontra próximo da extremidade é necessário garantir um
comprimento mínimo (ν) para resistir à tensão tangencial que surge na mesma.
Figura 22 – Geometria e forças que atuam num entalhe simples. (Natterer, J., et al 2004)
O modelo apresentado para a transmissão dos esforços do entalhe pode afastar-se
consideravelmente da realidade por poderem existir imprecisões na execução do entalhe,
variação das dimensões dos elementos devido à retração e inchamento e, também, atrito
entre as superfícies dos elementos.
31
Figura 23 – Variação da transmissão das forças num entalhe simples. (Natterer, J., et al 2004)
Neste modelo admite-se que o esforço transmitido por contacto é a componente horizontal
dado por:
𝐻 = 𝑁𝑐𝑜𝑠𝛽 (5-4)
Põe-se a hipótese da componente de H que age na parte dianteira do entalhe tem o valor de:
𝐹 =𝐻
𝑐𝑜𝑠𝛽/2=
𝑁𝑐𝑜𝑠𝛽
𝑐𝑜𝑠𝛽/2 (5-5)
Esta força age na superfície A dada por:
𝐴 = 𝑏𝑡
𝑐𝑜𝑠𝛽/2 (5-6)
Sendo:
𝑏 Largura das peças;
𝑡 Profundidade do entalhe;
O valor de dimensionamento da tensão de compressão, já enunciada anteriormente, a agir na
superfície A, é dada por:
𝜎𝑐,𝛼,𝑑 =𝑁𝑑𝑐𝑜𝑠𝛽
𝑏𝑡=
𝐻𝑑
𝑏𝑡 (5-7)
Sendo:
𝑁𝑑 O valor de dimensionamento do esforço normal de compressão;
𝐻𝑑 O valor de dimensionamento da componente horizontal de 𝑁𝑑.
Através do valor de resistência de dimensionamento oblíqua enunciada anteriormente, limita-
se a profundidade do entalhe através da seguinte expressão:
𝑡 ≥ 𝑁𝑑𝑐𝑜𝑠𝛽
𝑏𝑓𝑐,𝛼,𝑑
(5-8)
Sendo 𝛼 =𝛽
2
Para evitar o enfraquecimento da peça entalhada, é necessário impor um limite para a
profundidade do entalhe. Este limite é dado por (Natterer, J., et al 2004):
32
𝑡 ≤ ℎ
4 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝛽 ≤ 50° (5-9)
𝑡 ≤ ℎ
6 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝛽 ≥ 60° (5-10)
A componente horizontal também é transmitida por tensões tangenciais na parte exterior da
linha. O valor da tensão tangencial é dada por:
𝜏𝜈,𝑑 =𝑁𝑑𝑐𝑜𝑠𝛽
𝑏𝑣=
𝐻𝑑
𝑏𝑣 (5-11)
Sendo:
v A largura da parte exterior da linha como apresentada na Figura 22.
Ao utilizar a resistência ao corte simples para limitar o valor de cálculo da tensão tangencial,
obtém-se o valor mínimo necessário do comprimento 𝒗 da parte exterior da linha.
𝜈 ≥𝑁𝑑𝑐𝑜𝑠𝛽
𝑏𝑓𝑣,𝑑
(5-12)
𝑓𝑣,𝑑 Valor de cálculo da resistência da madeira ao corte.
Figura 24 – Decomposição do esforço de compressão N. (Natterer, J., et al 2004)
De referir que o limite inferior do comprimento 𝝂 é de 15 cm para evitar o enfraquecimento
natural da madeira de extremidade (Natterer, J., et al 2004).
A componente vertical da carga é transmitida, principalmente, pela parte traseira do entalhe.
A largura da perna (d) tem de ser suficiente para assegurar uma resistência adequada, sendo
esta restrição praticamente desprezável para ângulos inferiores a 60⁰, ou seja, quando a
componente vertical do esforço axial é pouco importante (Natterer, J., et al 2004).
𝑑 ≥𝑁𝑑
𝑏𝑓𝑐,𝛼,𝑑 𝑠𝑒𝑛𝑑𝑜 𝛼 = 𝛽
(5-13)
33
Figura 25 – Largura da perna para o entalhe simples. (CECOBOIS 2012)
5.2. Entalhe com dente simples posterior
Apesar de não se modelar este tipo de entalhe no âmbito deste trabalho, considerou-se
importante apresentar o modelo de análise do mesmo visto o entalhe com dente duplo ser
resultado da junção das principais características do entalhe simples com um dente e do
entalhe com dente simples posterior.
Neste tipo de entalhe o ângulo de corte é geralmente perpendicular ao eixo da perna. Deste
modo evita-se a transmissão de cargas na parte da frente do entalhe que criaria esforços de
tração perpendiculares às fibras.
O esforço é transmitido por contacto sobre a superfície cortada perpendicularmente ao eixo
longitudinal da barra que se irá apoiar na linha. Unicamente a parte de trás da ligação é que
resiste à força aplicada sendo necessário verificar a resistência da linha à compressão oblíqua e
a resistência da perna à compressão paralela da fibra. O valor da resistência à compressão
oblíqua ao fio é inferior à paralela assim, se a linha e a perna tiverem os mesmos valores de
resistência unitária, a primeira é que será condicionante para o cálculo.
Este tipo de disposição diminui a eficiência da transmissão de cargas porque o ângulo de
contacto não é igual à bissetriz como é o caso no entalhe simples com um dente. Portanto a
desvantagem deste entalhe é que a relação entre a capacidade de carga e a profundidade do
entalhe é mais fraca do que no entalhe simples. No entanto, tem a vantagem de aumentar ao
máximo o comprimento ν da parte exterior da linha (Figura 26).
Figura 26 – Geometria e forças atuantes num entalhe com dente posterior. (Natterer, J., et al 2004)
34
Para evitar a fissuração da frente do entalhe, deixa-se uma abertura de 1 a 2 mm entre esse
local e a linha.
Figura 27 – Espaçamento necessário para que não exista fissuração devido à retracção. (Natterer, J., et al 2004)
As verificações de segurança para este tipo de entalhe é praticamente idêntico ao do entalhe
simples com um dente sendo a única diferença a mudança do comprimento da superfície de
contacto, de d para ts, na equação (5-13) pelo facto da superfície de contacto neste caso só se
efetuar numa parte da perna. O valor de ts é obtido pela seguinte expressão (Natterer, J., et al
2004):
𝑡𝑠 =𝑡
𝑐𝑜𝑠𝛽 (5-14)
Obtém-se assim:
𝑡 ≥𝑁𝑑𝑐𝑜𝑠𝛽
𝑏𝑓𝑐,𝛼,𝑑 𝑠𝑒𝑛𝑑𝑜 𝛼 = 𝛽 (5-15)
5.3. Entalhe com dente duplo
O entalhe com dente duplo combina as vantagens dos dois entalhes anteriores (ângulo de
corte da peça e comprimento ν otimizado). Têm-se assim duas profundidades diferentes, t1 e
t2, sendo a primeira configurada como um entalhe simples e a profundidade t2 que apresenta
as características do entalhe com dente simples posterior. Para que as hipóteses de cálculo
sejam válidas é necessário, tal como nos entalhes já referidos, superfícies de corte que
assentam perfeitamente entre as peças. Para facilitar a execução deste tipo de entalhes pode-
se deixar um espaçamento na parte do entalhe simples da ligação e assegurar unicamente o
contacto sobre a parte do entalhe posterior da ligação. Posteriormente colocam-se chapas
galvanizadas no local onde foi deixado o espaçamento entre peças, para assegurar o perfeito
contacto entre os dois elementos que perfazem a ligação.
35
Figura 28 – Geometria e forças atuantes num entalhe com dente duplo. (Natterer, J., et al 2004)
A transmissão do esforço de compressão é efetuada sobre duas superfícies com inclinações
diferentes. Assim, o ângulo dos valores de cálculo de resistência são diferentes para as duas
superfícies, sendo α=β/2 para a parte do entalhe simples com profundidade t1 e α=β para a
parte do entalhe posterior com profundidade t2. Para simplificar o cálculo admite-se que o
angulo do valor de cálculo de resistência é dado pela média entre os dois, ou seja, α=3/4β.
Assim, a condição da espessura é dada por (Natterer, J., et al 2004):
𝑡 ≥𝑁𝑑𝑐𝑜𝑠𝛽
𝑏𝑓𝑐,𝛼,𝑑 𝑐𝑜𝑚 𝑡 = 𝑡1 + 𝑡2 𝑒 𝛼 =
3
4𝛽
(5-16)
A profundidade t1 tem sempre de ser inferior à t2 para se ter duas superfícies “independentes”
para as tensões tangenciais que se formam.
Tanto o comprimento ν como a transmissão da componente vertical da carga aplicada para o
fundo do entalhe são calculados da mesma forma que o entalhe simples.
37
6. Modelação e análise
6.1. Introdução
Este capítulo incide sobre a modelação dos entalhes até à análise dos mesmos. Começou-se
por referir as características físicas e geométricas usadas para a modelação dos entalhes
simples com um dente e dos entalhes com dente duplo. Também foi referido o tipo de análise
efectuada e a razão pela qual foi usada para este trabalho. Seguidamente estão indicados os
resultados obtidos através do programa de cálculo automático SAP2000 para as diferentes
análises efectuadas. Estas análises centraram-se para o entalhe simples com um dente e para
o entalhe com dente duplo para diversos ângulos de inclinação da asnas e para diversos
comprimentos da extremidade livre da madeira ν. A comparação dos resultados obtidos é
apoiada por diversos gráficos.
6.2. Características físicas e geométricas
A modelação dos entalhes foi efetuada tendo em conta a estrutura de uma asna de madeira.
Como o objetivo deste trabalho é de estudar os entalhes entre os elementos de uma asna, a
modelação foi feita numa parte localizada, modelando-se assim unicamente metade da asna
de madeira.
Para a modelação de todos os entalhes as características físicas da madeira são idênticas. As
característic0as usadas são da madeira com classe de resistência C18 (Tabela 3).
Tabela 3 – Características físicas da madeira utilizada na modelação.
Madeira C18
Módulo de elasticidade (kN/mm2) EO,mean 9
Módulo de distorção (kN/mm2) G,mean 0.56
Densidade característica (kg/m3) ρk 320
Densidade média (kg/m3) ρmean 380
As características geométricas da perna e da linha estão enunciadas na Tabela 4.
Tabela 4 – Características geométricas dos elementos constituintes do entalhe.
Características Geométricas Perna Linha
Espessura (m) 0.2 0.2
Largura (m) 0.1 0.15
38
Para a definição das profundidades dos entalhes e do comprimento ν correspondente à parte
da madeira exterior da linha, utilizaram-se as expressões definidas no capítulo anterior de
forma a usar valores já utilizados em termos práticos.
As profundidades do entalhe (t1 e t2), o ângulo entre as duas peças e o comprimento ν
utilizados estão apresentadas na Tabela 5.
Tabela 5 – Profundidades e comprimento ν nos diferentes tipos de entalhe.
Tipo de Entalhe t1 (cm) t2 (cm) v (cm) β (°)
Dente Simples 3 - 10-30 25-60
Dente Duplo 2 3 10-30 25-60
As profundidades dos entalhes serão idênticas para todas as modelações efetuadas. As
características variáveis das modelações são a extremidade livre de madeira, ν, e o ângulo
entre os elementos que constituem o entalhe.
O entalhe base para a realização das análises foi o entalhe com uma inclinação de 30⁰ entre a
linha e a perna. Assim, todas as características, para além do ângulo β e do comprimento da
extremidade livre, mantiveram-se sempre inalteradas conservando-se, assim, as características
do entalhe base.
Na Figura 29 e na Figura 30 estão representados, respectivamente, um dos modelos
correspondente ao entalhe simples com um dente e um correspondente ao entalhe duplo.
Figura 29 – Modelação do entalhe simples com um dente – β = 30 , v = 0.15.
39
Figura 30 – Modelação do entalhe com dente duplo – β = 30 , v = 0.15.
Ao efetuar a modelação das áreas o programa assume que as peças estão completamente
ligadas entre si. No entanto, num entalhe de uma asna de madeira, a perna está simplesmente
apoiada na linha. Assim foram criados, na separação da linha com a perna, pares de nós
diferentes com coordenadas iguais, sendo um dos nós do par atribuído à linha e o outro à
perna da asna.
Figura 31 – Pormenorização do entalhe simples – Sobreposição dos nós na superfície de ligação dos elementos.
40
Figura 32 – Pormonerização do entalhe duplo – Sobreposição dos nós na superfície de ligação dos elementos.
A conexão entre os pares de nós será feita através de ligações com uma rigidez equivalente à
rigidez axial da linha. Esta é uma hipótese simplificativa usada neste modelo para garantir que
a transmissão das cargas ocorra sem grandes deformações relativas.
O programa permite escolher as direções em que as ligações trabalham. A escolha destas está
estritamente relacionada com a forma de transmissão de esforços realizada pelo entalhe.
Como já se referiu anteriormente, os esforços são transmitidos perpendicularmente às
superfícies entalhadas, sendo que a componente horizontal será, principalmente, transmitida
pela parte frontal do entalhe.
Portanto, para aproximar o modelo no programa SAP2000 ao modelo teórico criaram-se três
ligações com diferentes eixos para o entalhe simples com um dente e para o dente duplo.
As características destas ligações estão enunciadas na Tabela 6.
Tabela 6 – Características das ligações entre a perna e a linha.
Nome Direções rígidas Rigidez (N/mm)
Ligação 1 U2, U3 270000
Ligação 2 U2 270000
Ligação 3 U3 270000
Como se pode observar na Tabela 6 as ligações 2 e 3 só foram modeladas para a direção U2 e o
U3 respetivamente, de modo a que as forças sejam transmitidas unicamente na direção
perpendicular as superfícies de contacto. Sendo que U2 e U3 correspondem a duas das três
direções locais dos nós.
Estas podem ser observadas na Figura 33 e na Figura 34 para o entalhe simples e para o
entalhe duplo respetivamente.
41
Figura 33 – Características das ligações na junção da perna à linha. Entalhe com um dente.
Figura 34 – Características das ligações na junção da perna à linha. Entalhe duplo.
Apesar do estudo ser concentrado principalmente na zona do entalhe, é necessário que as
condições de apoio reflitam ao máximo as condições estáticas das asnas de madeira no ponto
de vista prático. As asnas de madeira estão apoiadas nas duas extremidades da linha. Deste
modo, modelou-se junto à extremidade mais próxima do entalhe um conjunto de apoios
simples que absorve reações verticais. Na outra extremidade da linha, que na realidade
corresponde à parte central numa asna, modelou-se, através de regras de simetria, o último
conjunto de apoios, que irá absorver as reações horizontais (Figura 35).
Figura 35 – Apoios existentes na modelação da asna
42
6.3. Análise não linear
Ao se aplicar uma força repentinamente, existe uma variação das tensões devido à aplicação
momentânea da carga e, de forma a evitar essas flutuações, efetuou-se uma análise não linear,
com a aplicação gradual do carregamento. A razão pela qual se optou por uma análise não
linear prende-se com as condições consideradas nos apoios que apenas permitem a
transmissão de forças de compressão.
O carregamento foi aplicado de forma gradual no tempo para evitar a resposta dinâmica que
decorre da aplicação instantânea do carregamento. Definiu-se um intervalo de tempo em que
a ação é incrementada até ao seu valor máximo mantendo-se constante até ao final da análise.
Assim, definiu-se um tempo de análise total de 10 segundos sendo que a ação totaliza o seu
valor máximo ao fim de 4 segundos. O gráfico da força aplicada em relação ao tempo tem o
aspeto da Figura 36.
Figura 36 - Análise não linear – Força aplicada em função do tempo.
6.4. Análise e tratamento de resultados
Após ter sido efetuada a introdução de todos os dados necessários para um correto modelo
estrutural, procedeu-se à análise dos entalhes. Em primeira instância foi necessário colocar
uma força de compressão na perna da asna. O valor da força colocada não é de grande
importância para o âmbito deste trabalho pelo facto de não ser efetuada qualquer tipo de
verificação de segurança, mas, a título indicativo, e para conseguir fazer uma comparação
entre os diversos modelos, o valor utilizado é de 30 kN. A colocação da força no SAP2000 tem
de ser efetuada através da aplicação a vários pontos, pois como a estrutura é constituída
unicamente por elementos finitos não é possível colocar a força diretamente no centro de
gravidade da secção da perna. A parte inicial da perna está dividida, no modelo, em três
elementos finitos por linha, assim, dividindo-se de forma adequada o valor total da força pelos
nós obtém-se a resultante de 30 kN.
Depois da análise efetuada é possível obter os valores da força transmitida por cada uma das
ligações entre a perna e a linha, conseguindo-se obter a resultante a atuar em cada uma das
superfícies do entalhe. Também foi calculada a resultante da força através da resultante de
43
tensões obtidas nas superfícies de contacto. Estas tensões foram obtidas através dos nós dos
elementos finitos que se encontram na superfície de corte, sendo que, melhor será a
aproximação quanto maior a pormenorização da malha de elementos finitos.
Ao se obter as tensões resultantes é necessário traduzir a mesma em termos de força, usando
a expressão 6-1.
𝜎 =𝑁
𝐴
(6-1)
Sendo,
σ Tensão de compressão;
N Força normal atuante na superfície;
A Área da superfície.
6.4.1. Entalhe simples
No capítulo anterior afirmou-se que a parte frontal do entalhe é aquela que transmite a maior
parte do esforço atuante. Através desta análise vai ser possível confirmar essa afirmação.
Na Figura 37 observam-se as tensões horizontais no entalhe simples com um ângulo de 30⁰
entre a linha e a perna.
Figura 37 – Tensões S11 do entalhe simples com um dente, ângulo de 30⁰.
Observa-se uma grande concentração de tensões na ponta do entalhe, deixando antever uma
maior transmissão de cargas nesse local. Os valores superiores de tensões encontram-se junto
à parte frontal do entalhe, como seriam de esperar, pois a maior parte da componente
horizontal da força aplicada é transmitida por essa superfície.
44
As análises foram efetuadas para vários ângulos para se obter a influência do ângulo na
transmissão de esforços. Na Tabela 7 encontram-se indicados os valores das forças F1 e F2 (ver
Figura 20), transmitidas por cada parte do entalhe, para os diversos valores do ângulo.
Tabela 7 – Força transmitida por cada superfícies de corte do entalhe
Entalhe Simples Ângulo
Resultante 25 30 35 40 45 60
Parte frontal – F1 (kN) 28,89 28,42 27,46 26,47 25,56 21,49
Parte traseira – F2 (kN) 5,26 7,79 10,29 12,70 15,01 21,22
Figura 38 - Força actuante em função do ângulo.
Realizou-se o cálculo para a resultante de tensões, tal como foi mencionado anteriormente. O
valor das tensões é obtido através do programa de cálculo automático SAP2000 nos diferentes
nós pertencentes a cada um dos elementos finitos. Para se obter a resultante em cada
superfície calculou-se a média das tensões dos nós pertencentes a cada superfície onde ocorre
a transmissão da força da perna para a linha (Figura 39). Com os resultados obtidos
calcularam-se através da expressão (6-1) os respetivos valores da força a atuar na superfície.
Na tabela seguinte estão apresentadas as dimensões das superfícies de contacto para os vários
ângulos.
Tabela 8 – Comprimento das superfícies de contacto.
Ângulos 25 30 35 40 45 60
Superfície 1 L (cm) 3,1 3,1 3,1 3,1 3,1 3,1
Superfície 2 L (cm) 23,06 19,43 16,9 15,06 13,27 11,6
5
10
15
20
25
30
35
20 30 40 50 60 70
Forç
a A
ctu
ante
(kN
)
Ângulo (°)
F1
F2
45
Figura 39 – Notação utilizada para as superfícies de contacto
Sendo que a superfície 1 é a superfície frontal do entalhe e a superfície 2 a parte traseira do
entalhe. Multiplicando os valores na tabela anterior com a espessura já referida na Tabela 4
obtém-se a área da superfície de contacto. Os valores obtidos da resultante de forças estão
indicados na Tabela 9.
Tabela 9 – Força transmitida por cada superfície de contacto – Calculado através da resultante de tensões
Entalhe Simples Ângulo
Resultante 25 30 35 40 45 60
Parte Frontal - F1 (kN) 25,12 24,64 24,24 23,46 22,64 17,84
Parte Traseira - F2 (kN) 4,30 6,34 8,74 10,15 12,77 19,18
Figura 40 - Força actuante em funçaõ do ângulo – calculado atravês da resultante de tensões.
Comparando a Figura 38 e a Figura 40 constata-se que, usando cada um dos métodos para o
cálculo das forças a atuar nas superfícies, os gráficos têm o mesmo aspeto, mas com
0
5
10
15
20
25
30
20 30 40 50 60 70
Forç
a at
uan
te (
kN)
Ângulo (°)
F1
F2
46
resultados um pouco diferentes. Isto é resultado, nomeadamente, da construção da malha, e o
facto de esta não ser suficientemente detalhada para ter valores mais precisos.
De acordo com os valores da tabela e do gráfico anteriores, verifica-se que a transmissão da
força é feita de forma distinta dependendo da inclinação da perna. Para um ângulo maior, a
parte traseira do entalhe adquire cada vez mais preponderância para a transmissão da carga.
Verifica-se esta tendência de forma praticamente linear.
Com o ângulo de 60⁰, a componente vertical da força é cada vez mais importante fazendo com
que a superfície número 2 tenha cada vez mais preponderância para a transmissão da força.
A comprovação dos valores obtidos pode ser feita facilmente através de simples operações
trigonométricas. Para estas operações utilizaram-se os resultados obtidos pela Tabela 7 por
estarem mais próximos do valor exato. Tomando como exemplo o entalhe com um ângulo de
30⁰ entre a perna e a linha.
Figura 41 – Diagrama das forças atuantes.
As resultantes da força aplicada são obtidas por:
𝑉𝑎 = 𝐹𝑎 × 𝑠𝑒𝑛(𝛼) = 15 𝑘𝑁 (6-1)
𝐻𝑎 = 𝐹𝑎 × 𝑐𝑜𝑠(𝛼) = 25,98 𝑘𝑁 (6-3)
Sendo
α 30⁰;
Fa 30 kN;
Os valores obtidos nas faces dos entalhes pela análise efetuada já foram enunciados na Tabela
7. A resultante vertical e horizontal de cada uma delas é obtida por:
𝑉1 = 𝐹1 × sen(β) = 7.35 𝑘𝑁 (6-3)
𝐻1 = 𝐹1 × cos(β) = 27.45 𝑘𝑁 (6-3)
47
𝑉2 = 𝐹2 × cos(δ) = 7.69 𝑘𝑁 (6-3)
𝐻2 = 𝐹2 × sen(δ) = −1.22 𝑘𝑁 (6-3)
Sendo,
β 15⁰ (Figura 42);
δ 9⁰ (Figura 42);
F1 Força atuante na superfície frontal do entalhe (Figura 42);
F2 Força atuante na superfície traseira do entalhe (Figura 42).
Figura 42 – Diagrama das componentes das forças a atuar nas superfícies.
Somando as resultantes de cada superfície obtém-se o valor aproximado da força aplicada. A
diferença obtida é fruto da utilização de valores angulares aproximados no cálculo anterior.
Na Tabela 10 mostra-se a percentagem da resultante vertical e horizontal da força aplicada
que é obtida através de cada uma das superfícies do entalhe para os diferentes ângulos.
Tabela 10 – Percentagem da força absorvida por parte das superfícies do entalhe
Ângulo Força aplicada (Fa) Resulante parte frontal (F1) Resulante parte traseira (F2)
Va (kN) Ha (kN)
Vf (kN)
Hf (kN)
Vf/Va (%)
Hf/Ha (%)
Vt (kN)
Ht (kN)
Vt/Va (%)
Ht/Ha (%)
25 12.68 27.19 7.48 27.90 59% 103% 5.22 -0.64 41% -2%
30 15.00 25.98 7.35 27.45 49% 106% 7.69 -1.22 51% -5%
35 17.21 24.57 7.11 26.52 41% 108% 10.14 -1.79 59% -7%
40 19.28 22.98 6.85 25.57 36% 111% 12.47 -2.42 65% -11%
45 21.21 21.21 6.61 24.69 31% 116% 14.68 -3.12 69% -15%
60 25.98 15.00 5.49 20.75 21% 138% 20.39 -5.85 78% -39%
A Tabela 10 resume de forma sucinta a percentagem da força total absorvida por parte de
cada uma das superfícies dos entalhes. Observa-se facilmente a compensação existente entre
as duas superfícies.
48
Outra das características de um entalhe numa asna de madeira é a extremidade livre de
madeira que existe na linha, já mostrada anteriormente. Assim modelaram-se os entalhes de
30⁰ e 40⁰ com a extremidade livre da linha variável. Quanto maior é a extremidade livre, os
apoios verticais existentes encontram-se mais afastados do entalhe mas tendo em atenção
que a excentricidade entre os apoios e a linha de ação da força atuante não seja elevada.
Através da Figura 43 observa-se a localização utilizada para os apoios verticais para o entalhe
de 40⁰ para uma extremidade livre da linha de 10 cm e 30 cm.
Figura 43 – Localização dos apoios verticas para o entalhe de 40⁰ a) com ν = 10 cm b) com ν = 30 cm.
Os valores de tensão obtidos para cada entalhe encontram-se no Anexo II.
Na Figura 44 e na Figura 45 estão representadas as notações utilizadas pelo programa de
cálculo automático SAP2000 para o entalhe de 40⁰ e 30⁰ respetivamente.
49
Figura 44 - Numeração dos elementos finitos, dos nós e eixos dos elementos, para o entalhe simples de 40⁰.
Figura 45 - Numeração dos elementos finitos, dos nós e eixos dos elementos, para o entalhe simples de 30⁰.
Tabela 11 - Numeração dos nos para a Figura 46, Figura 47 e Figura 48
Entalhe de 40⁰ Entalhe de 30⁰
Nº no gráfico
Elemento Nó Elemento Nó
1 158 1001 212 1001
2 158 1002 212 1002
3 189 1002 214 1002
4 189 1003 214 1003
5 190 1003 280 1003
6 190 1004 280 1004
7 191 1004 287 1004
8 191 1005 287 1005
9 191 1006 287 1006
10 188 1006 288 1006
11 188 1007 288 1007
12 185 1007 294 1007
13 185 1008 294 1008
14 182 1008 295 1008
15 182 1009 295 1009
16 179 1009 304 1009
17 179 1010 304 1010
18 178 1010 305 1010
19 178 1011 305 1011
20 173 1011 115 1011
21 173 1012 115 1012
22 4 1012 - -
50
23 5 1012 - -
24 5 1013 - -
Figura 46 - Tensões na direção 1 ao longo do entalhe simples de 40⁰
Figura 47 - Tensões na direção 2 ao longo do entalhe simples de 40⁰
Através da Figura 46, apesar da diferença de tensões não ser muito elevada, repara-se que na
ponta do entalhe (posição 8 e 9) a tensão menor, na direção 1, ocorre quando se tem uma
extremidade livre de 30 cm. Assim, quanto menor a extremidade livre da linha, maior será a
concentração de tensões na ponta do entalhe. Isto vem ao encontro do que já se tinha escrito
no capítulo anterior em que a extremidade livre da madeira deveria ser maior ou igual a 15 cm
de forma a não sobrecarregar a ponta da madeira devido à fissuração natural da mesma.
Na Figura 47 verifica-se que para a direção 2 o mesmo não acontece, obtendo-se um valor de
tensão superior na ponta do entalhe para um maior comprimento da extremidade livre da
linha. Isto acontece pelo facto da posição dos apoios estar mais afastada dessa superfície e a
-8000.00
-7000.00
-6000.00
-5000.00
-4000.00
-3000.00
-2000.00
-1000.00
0.00
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23Te
nsã
o S
11
(kN
/m2
)
Nós
v=10
v=15
v=20
v=25
v=30
-1600.000
-1400.000
-1200.000
-1000.000
-800.000
-600.000
-400.000
-200.000
0.000
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23
Ten
são
S2
2 (
kN/m
2)
Nós
v=10
v=15
v=20
v=25
v=30
51
componente vertical da força nessa direção mudar a sua direcção, aproximando-se mais da
ponta do entalhe. No entanto a força nessa superfície nunca é a mais condicionante, pelo valor
das tensões ser bastante menor do que na outra direção. Assim, este acréscimo de tensão não
se torna muito importante.
Figura 48 - Tensões na direção 1 ao longo do entalhe simples de 30⁰
Na Figura 48 está representada a variação de tensões ao longo do entalhe simples de 30⁰, na
direção 1. A tendência é idêntica à do entalhe simples de 40⁰. Não se colocou o gráfico na
direção 2 para este entalhe por nesta direção o valor da força ser baixo como pode ser
verificado no Anexo II, sendo que a influência desta para a segurança do entalhe ser pouco
importante.
6.4.2. Entalhe duplo
O entalhe duplo ao combinar as características de um entalhe simples e de um entalhe com
dente posterior apresenta características mais complexas. Para avaliar o comportamento desta
ligação foram calculadas as resultantes da mesma forma do que foi usada para o entalhe
simples.
Para o entalhe com dente duplo a transmissão da força pode ser efetuada através de quatro
superfícies diferentes, como ilustrado na Figura 49.
Figura 49 - Notação utilizada para as forças transmitidas em cada superfície.
-8000.00
-7000.00
-6000.00
-5000.00
-4000.00
-3000.00
-2000.00
-1000.00
0.00
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21
Ten
são
S1
1 (
kN/m
2)
Nós
v=10
v=15
v=20
v=25
v=30
52
Assim como foi realizado para o entalhe simples, calcularam-se as forças atuantes em todas as
superfícies para diversos ângulos através das forças existentes nas ligações. Os valores obtidos
encontram-se na Tabela 12.
Tabela 12 – Força transmitida por cada superfície de contacto.
Entalhe duplo
Ângulo (°)
Resultante 25 30 35 40 45 60
F1 15,60 10,96 11,68 10,45 9,44 7,49
F2 1,77 5,57 5,66 6,96 8,56 8,08
F3 14,36 14,02 17,07 17,90 11,57 19,07
F4 0,00 0,00 0,42 1,35 1,48 7,58
Na Figura 50 encontra-se a representação das resultantes obtidas através das ligações.
Figura 50 - Força actuante em função do ângulo
Efetuou-se o mesmo raciocínio relativamente à resultante das tensões. Os comprimentos das
respetivas superfícies estão indicados na Tabela 13.
Tabela 13 – Comprimento das superfícies de contacto.
Entalhe duplo
Ângulo
Resultante 25 30 35 40 45 60
F1 2,06 2,06 2,06 2,06 2,06 2,06
F2 15,47 12,76 10,23 8,40 7,30 4,60
F3 3,30 3,45 3,45 3,45 3,45 3,45
F4 7,10 6,00 6,00 6,00 6,00 6,00
0.00
2.00
4.00
6.00
8.00
10.00
12.00
14.00
16.00
18.00
20.00
20 30 40 50 60 70
Forç
a at
uan
te (
kN)
Ângulo (°)
F1
F2
F3
F4
53
Pela Tabela 13 verifica-se que os comprimentos das superfícies 1, 3 e 4 são idênticas para
todos os ângulos, excepto para o de 25⁰. Para se perceber esta escolha é necessário voltar à
modelação dos entalhes e, como já foi referido, o entalhe base é aquele em que a inclinação
entre a linha e a perna é de 30⁰. Para o entalhe base fez-se a ligação entre a perna e a linha
sem efetuar nenhum corte na peça, na parte traseira do entalhe como se verifica na Figura 51
a). Ao se reduzir o ângulo de inclinação de 5⁰, acontece o que se vê na Figura 51 b), ou seja, a
ponta da perna, na parte traseira, é mais espessa do que a restante peça, o que não acontece
usualmente, por se ter de desperdiçar uma grande quantidade de madeira. Assim, optou-se
por alterar de forma leve os comprimentos do entalhe de 25⁰ para que a peça não seja mais
espessa na sua ponta, influenciando de forma pouco acentuada os resultados.
Figura 51 – a) Entalhe de 30⁰ sem nenhum corte na parte traseira do entalhe. b) Entalhe de 25⁰ com aponta mais espessa do que a restante peça
Multiplicando os valores na tabela anterior com a espessura já referida na Tabela 4 obtém-se a
área da superfície de contato. Os valores obtidos da resultante de forças estão indicados na
Tabela 14.
Tabela 14 – Força transmitida por cada superfície de contato – calculado a partir da resultante de tensões.
Entalhe Duplo Ângulo
Resultante 25 30 35 40 45 60
F1 12,18 9,18 7,82 7,42 7,24 6,37
F2 2,97 3,47 4,32 5,26 6,54 9,00
F3 10,47 13,45 13,01 13,87 13,82 13,81
F4 0,28 0,48 0,40 0,98 2,64 5,38
A Figura 52 representa os valores obtidos na tabela anterior.
54
Figura 52 - Força atuante em função do ângulo.
Ao comparar os resultados da Figura 50 e da Figura 52 verifica-se semelhanças na forma como
cada uma das superfícies evolui com o aumento da inclinação da asna. Existem algumas
diferenças entre os gráficos que, como se explicou anteriormente, se devem a falta de uma
maior pormenorização da malha de elementos finitos.
As análises para cada ângulo, como já foi dito no capítulo anterior, foram feitas sempre com a
mesma profundidade dos entalhes (t1 = 2 cm, t2 = 3 cm).
Verifica-se pelo gráfico anterior que a força F4 é nula para as asnas com menor inclinação sem
nunca atingir um valor elevado. Pelo facto de a superfície ser paralela à atuação da força, no
caso dos ângulos de 25⁰ e 30⁰, esta não transmite qualquer percentagem da força atuante
para a linha. Para os entalhes de 40⁰ e 45⁰ já existe uma percentagem de transmissão de força,
tal acontece pela superfície e a força atuante já não serem paralelas, sendo cada vez mais
relevante para um ângulo de 60⁰.
Quanto às forças F1 e F3, como seria de esperar, são aquelas que efetuam a maior transmissão
de esforço, sendo que quando a abertura da asna aumenta, verifica-se que a força F2 ganha
cada vez mais preponderância.
A análise destas curvas não pode ser abordada como resultados exatos porque o entalhe está
otimizado para um ângulo de 30 graus, e não para um de 45 graus. Portanto podem surgir
alguns resultados diferentes, em termos práticos, consoante a disposição das várias variáveis
existentes na geometria duma asna de madeira.
Na Tabela 15 e na Tabela 16, estão indicadas as percentagens da força atuante absorvida por
superfície e por resultantes horizontais e verticais.
0.00
2.00
4.00
6.00
8.00
10.00
12.00
14.00
16.00
20 30 40 50 60 70
Forç
a at
uan
te (
kN)
Ângulo (°)
F1
F2
F3
F4
55
Tabela 15 – Percentagem da componente vertical absorvida por parte de cada superfície do entalhe duplo.
V/Va
Angulo 25 30 35 40 45 60
F1 31,84% 21,99% 17,57% 14,02% 11,68% 7,46%
F2 13,80% 26,21% 32,26% 35,03% 34,99% 26,66%
F3 58,33% 51,92% 49,61% 46,42% 43,01% 36,70%
F4 0,00% 0,00% 2,09% 6,07% 11,59% 25,28%
Total 103,98% 100,12% 101,53% 101,54% 101,28% 96,10%
Tabela 16 – Percentagem da componente horizontal absorvida por parte de cada superfície do entalhe duplo.
H/Ha (%)
Ângulo 25 30 35 40 45 60
F1 57,55% 50,01% 50,17% 49,77% 51,19% 48,24%
F2 -0,94% -2,53% -4,80% -8,31% -12,56% -27,75%
F3 47,01% 54,81% 65,74% 76,45% 87,44% 110,09%
F4 0,00% 0,00% -0,92% -3,33% -7,86% -25,28%
Total 103,62% 102,29% 110,18% 114,58% 118,22% 105,30%
Tal como para o entalhe simples modelaram-se os entalhes com diferentes extremidades livres
na linha para se perceber a influência destas para a distribuição de tensões. Para esta análise
utilizaram-se os entalhes de 30⁰ e 45⁰.
Os valores obtidos da tensão ao longo dos entalhes encontram-se no Anexo III.
Nas Figuras 53 e 54 encontra-se a notação utilizada pelo SAP2000 para os nós e os elementos
finitos, para o entalhe duplo de 45⁰ e 30⁰, respetivamente.
Figura 53 - Numeração dos elementos finitos, dos nós e eixos dos elementos, para o entalhe duplo de 45⁰.
56
Figura 54 - Numeração dos elementos finitos, dos nós e eixos dos elementos, para o entalhe duplo de 30⁰.
A Figura 55 e a Figura 56 representam a evolução das tensões ao longo do entalhe de 45⁰ para
a direção 1 e a direção 2 respetivamente.
Figura 55 - Tensões na direção 1 ao longo do entalhe duplo de 45⁰
-3500.00
-3000.00
-2500.00
-2000.00
-1500.00
-1000.00
-500.00
0.00
500.00
1000.00
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23
Ten
são
S1
1 (
kN/m
2)
Nós
v=10
v=15
v=20
v=25
v=30
57
Figura 56 - Tensões na direção 2 ao longo do entalhe duplo de 45⁰
A numeração usada no eixo das abcissas dos gráficos anteriores está definida na Tabela 17. Na
Figura 55 observa-se uma tendência em relação à superfície 1 (1-8) e à superfície 3 (12-19) do
entalhe duplo. Para um menor comprimento ν, a superfície 1 terá uma menor concentração de
tensões e, por sua vez, a superfície 3 terá uma maior concentração de tensões. Para um maior
comprimento ν acontece o inverso. Isto acontece pela mudança do encaminhamento de
cargas de uma superfície para outra consoante a localização dos apoios.
Pois para um comprimento ν superior, colocaram-se os apoios verticais mais afastados do
entalhe, tendo em atenção de não criar uma grande excentricidade entre a posição dos apoios
e a a linha de acção da força aplicada, como já foi referido no caso do entalhe simples com um
dente. Tendo-se os apoios mais afastados, a superfície número 2 encaminha mais carga para
os apoios. Para não criar uma grande excentricidade, os apoios referentes aos comprimentos
de 20, 25 e 30 centímetros situam-se no mesmo sítio. Assim, pelo gráfico não se consegue ver
a diferença mínima de tensões existente entre estes.
Na Figura 56 a tendência é idêntica, como seria de esperar.
-2000.00
-1500.00
-1000.00
-500.00
0.00
500.00
1000.00
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23
Ten
são
S2
2 (
kN/m
2)
Nós
v=10
v=15
v=20
v=25
v=30
58
Tabela 17 – Numeração dos nos para os gráficos 10 e 11.
Entalhe de 45⁰ Entalhe de 30⁰
Nº no gráfico
Elemento Nó Elemento Nó
1 170 1001 82 1001
2 170 1002 82 1002
3 171 1002 88 1002
4 171 1003 88 1003
5 172 1003 91 1003
6 172 1004 91 1004
7 173 1004 94 1004
8 173 1005 94 1005
9 173 1006 94 1006
10 169 1006 95 1006
11 169 1007 95 1007
12 151 1007 124 1007
13 151 1008 124 1008
14 152 1008 127 1008
15 152 1009 127 1009
16 153 1009 128 1009
17 153 1010 128 1010
18 154 1010 174 1010
19 154 1011 174 1011
20 154 1012 174 1012
21 155 1012 111 1012
22 155 1013 112 1013
23 156 1013 112 1013
A Figura 57 e a Figura 58 representam a evolução das tensões ao longo do entalhe de 30⁰ para
a direção 1 e a direção 2 respetivamente.
Figura 57 - Tensões na direção 1 ao longo do entalhe duplo de 30⁰
-3500
-3000
-2500
-2000
-1500
-1000
-500
0
500
1000
1 2 3 4 5 6 7 8 9 1011121314151617181920212223
Ten
são
S1
1 (
kN/m
2)
Nós
v=10
v=15
v=20
v=25
v=30
59
Figura 58 - Tensões na direção 2 ao longo do entalhe duplo de 30⁰
Para um ângulo de 30⁰ constata-se a mesma tendência do que para o ângulo de 45⁰, mas com
uma menor diferença na variação das tensões. Esta diferença pode estar relacionada com a
percentagem de força atuante em cada superfície ser diferente para cada um dos entalhes.
-800
-600
-400
-200
0
200
400
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23
Ten
são
S2
2 (
kN/m
2)
Nós
v=10
v=15
v=20
v=25
v=30
60
7. Conclusões
7.1. Conclusões gerais.
Neste capítulo são resumidos os principais resultados obtidos neste trabalho e apresentadas
às conclusões retiradas ao longo deste. Também são sugeridos desenvolvimentos que possam
ser efetuados para se puder obter uma maior bibliografia nos entalhes tradicionais, sobretudo
para efetuar a intervenção das asnas onde este tipo de entalhe está presente, ou seja, em
construções antigas.
Na Tabela 18 é possível observar a diferença dos resultados obtidos através das fórmulas
presentes na literatura atual, pela norma Suiça (equação 5-5).
Tabela 18 – Comparação das forças atuantes na superfície para o modelo e pelas equações existentes na literatura atual.
Entalhe Simples
Força Valor “teórico” (kN) Valor modelo (kN)
F1 (Entalhe 30°) 26.90 28.42
Entalhe duplo
Força Valor “teórico” (kN) Valor modelo (kN)
F1 + F3 (Entalhe 30°) 25.98 24.98
Assim, pela Tabela 18, vê-se que a diferença de valores entre os dois métodos não é muito
elevada demonstrando a validade das fórmulas usadas atualmente.
A partir deste trabalho também é possível concluir os seguintes pontos:
A geometria da asna tem uma grande influência na forma como as forças são
transmitidas nos entalhes tradicionais de uma asna de madeira;
Os pontos críticos do entalhe variam consoante a amplitude do ângulo entre a perna e
a linha da asna de madeira;
Uma maior extremidade livre da linha da asna de madeira permite uma diminuição da
tensão na ponta do entalhe;
As soluções necessárias para o reforço deste tipo de entalhes podem ser diferentes de
caso para caso pelo facto das secções críticas mudarem consoante o caso.
Assim, verifica-se a necessidade de efectuar um estudo mais aprofundado deste tipo de
ligações, para se poder obter as melhores soluções possíveis consoante a geometria das asnas
de madeira, para realizar a reabilitação das mesmas.
7.2. Desenvolvimentos futuros
Nos pontos seguintes estão enunciadas algumas sugestões para possíveis desenvolvimentos
futuros que servem de desenvolvimento e de complemento deste trabalho:
61
- Consideração de diferentes profundidades do entalhe, sobretudo para o entalhe com dente
duplo, para ver a influência destas para a transmissão das cargas.
- Estudar as diferentes possibilidades existentes para o reforço das asnas de madeira
tradicionais.
- Estudar os mesmos entalhes para diferentes tipos de acções, tais como acções cíclicas.
62
8. Bibliografia
Branco, J., Santos, A., & Cruz,P. (2010). Asnas Tradicionais de Madeira: Evolução,
Comportamento e Reforço com Materiais Compósitos. Revista Portuguesa de Engenharia de
Estruturas.
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63
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I
ANEXO I – GEOMETRIA DOS ENTALHES ANALISADOS
Imagem I – Entalhe simples com ângulo de 30⁰ e υ = 15 cm
Imagem II – Entalhe duplo com ângulo de 30⁰ e υ = 15 cm
II
Imagem III - Entalhe simples com ângulo de 25⁰ e υ = 15 cm
Imagem IV – Entalhe duplo com ângulo de 25⁰ e υ = 15 cm
III
Imagem V - Entalhe simples com ângulo de 35⁰ e υ = 15 cm
Imagem VI - Entalhe duplo com ângulo de 35⁰ e υ = 15 cm
IV
Imagem VII - Entalhe simples com ângulo de 40⁰ e υ = 15 cm
Imagem VIII - Entalhe duplo com ângulo de 40⁰ e υ = 15 cm
V
Imagem IX - Entalhe simples com ângulo de 45⁰ e υ = 15 cm
Imagem X - Entalhe duplo com ângulo de 45⁰ e υ = 15 cm
VI
Imagem XI - Entalhe simples com ângulo de 60⁰ e υ = 15 cm
Imagem XII - Entalhe duplo com ângulo de 60⁰ e υ = 15 cm
VII
ANEXO III – TENSÕES AO LONGO DO ENTALHE SIMPLES PARA COMPRIMENTOS DE
EXTREMIDADE LIVRE DIFERENTE – ÂNGULO DE 30⁰ E 40⁰
Tabela I - Valores de tensão na direcção 1 para o entalhe simples de 40⁰ para diferents comprimentos livres da linha.
Entalhe duplo - Ângulo de 40 graus - S11
Nº no gráfico
Elemento Nó v - Extremidade livre da linha (cm)
10 15 20 25 30
1 158 1001 -3766.87 -3785.35 -4103.37 -4099.03 -4076.53
2 158 1002 -2603.22 -2607.41 -2710.78 -2709.29 -2699.28
3 189 1002 -2695.66 -2696.16 -2804.13 -2802.52 -2792.72
4 189 1003 -3329.76 -3326.26 -3346.39 -3346.09 -3343.35
5 190 1003 -3301.29 -3298.21 -3329.08 -3328.63 -3324.68
6 190 1004 -3575.85 -3565.96 -3494.71 -3495.79 -3498.34
7 191 1004 -3313.62 -3394.31 -3261.08 -3261.78 -3261.07
8 191 1005 -7489.41 -7595.15 -7042.49 -7048.63 -7093.72
9 191 1006 -7079.24 -7191.99 -6666.22 -6671.86 -6713.15
10 188 1006 -4116.14 -4062.16 -3856.35 -3859.02 -3885.57
11 188 1007 -4112.96 -4062.24 -3862.75 -3865.34 -3890.92
12 185 1007 -3718.12 -3664.87 -3497.48 -3499.65 -3527.04
13 185 1008 -3678.76 -3628.01 -3465.73 -3467.84 -3494.56
14 182 1008 -3005.00 -2959.81 -2835.77 -2837.45 -2862.78
15 182 1009 -2988.53 -2945.31 -2825.09 -2826.72 -2851.18
16 179 1009 -2465.87 -2431.72 -2340.87 -2342.15 -2363.19
17 179 1010 -2461.82 -2429.20 -2341.11 -2342.36 -2362.70
18 178 1010 -2004.33 -1982.50 -1923.13 -1924.01 -1939.07
19 178 1011 -2010.92 -1990.77 -1935.35 -1936.17 -1950.06
20 173 1011 -1548.82 -1540.57 -1516.44 -1516.81 -1523.38
21 173 1012 -1554.09 -1547.29 -1526.86 -1527.18 -1532.66
22 4 1012 -1547.69 -1541.30 -1524.26 -1524.51 -1528.85
23 5 1012 -1244.61 -1243.94 -1241.36 -1241.41 -1242.17
24 5 1013 -1244.61 -1243.94 -1241.36 -1241.41 -1242.17
VIII
Tabela II - Valores de tensão na direcção 2 para o entalhe simples de 40⁰ para diferents comprimentos livres da linha.
Entalhe duplo - Ângulo de 40 graus - S22
Nº no gráfico
Elemento Nó v - Extremidade livre da linha (cm)
10 15 20 25 30
1 158 1001 -507.45 -520.15 -601.90 -600.79 -591.11
2 158 1002 -335.74 -346.20 -395.28 -394.60 -386.93
3 189 1002 -450.65 -480.59 -579.67 -578.40 -560.46
4 189 1003 -485.90 -514.89 -606.09 -604.93 -587.91
5 190 1003 -542.07 -597.13 -712.87 -711.55 -685.40
6 190 1004 -553.88 -607.12 -717.05 -715.80 -690.67
7 191 1004 -1292.89 -1286.54 -1449.40 -1448.82 -1422.78
8 191 1005 -1284.33 -1261.05 -1433.41 -1432.87 -1407.92
9 191 1006 -635.98 -518.28 -611.51 -611.69 -613.32
10 188 1006 -416.07 -407.34 -394.27 -394.33 -395.62
11 188 1007 -212.35 -198.62 -187.07 -187.12 -188.39
12 185 1007 -224.38 -207.42 -193.47 -193.53 -195.74
13 185 1008 -193.95 -179.71 -157.70 -157.95 -163.29
14 182 1008 -192.16 -176.65 -153.59 -153.87 -160.45
15 182 1009 -177.06 -164.60 -142.44 -142.75 -149.21
16 179 1009 -198.37 -185.69 -162.92 -163.24 -170.35
17 179 1010 -209.52 -199.76 -178.89 -179.21 -185.97
18 178 1010 -253.56 -243.82 -221.74 -222.09 -229.50
19 178 1011 -279.47 -274.85 -263.89 -264.08 -268.20
20 173 1011 -356.84 -353.92 -346.60 -346.74 -350.02
21 173 1012 -342.70 -345.32 -351.69 -351.63 -351.02
22 4 1012 -465.36 -470.62 -483.54 -483.38 -480.88
23 5 1012 -434.80 -440.90 -456.21 -456.01 -452.80
24 5 1013 -434.80 -440.90 -456.21 -456.01 -452.80
IX
Tabela III - Valores de tensão na direcção 1 para o entalhe simples de 30⁰ para diferents comprimentos livres da linha.
Entalhe duplo - Ângulo de 30 graus - S11
Nº no gráfico
Elemento Nó v - Extremidade livre da linha (cm)
10 15 20 25 30
1 212 1001 -3705,73 -3753,95 -3973,09 -3969,44 -4022,78
2 212 1002 -2887,90 -2902,27 -2977,47 -2974,21 -2990,61
3 214 1002 -2935,97 -2953,02 -3036,35 -3033,40 -3052,90
4 214 1003 -3534,10 -3528,89 -3546,29 -3545,00 -3545,94
5 280 1003 -3479,10 -3477,34 -3504,80 -3502,96 -3506,37
6 280 1004 -3965,11 -3943,40 -3885,45 -3886,61 -3869,43
7 287 1004 -3694,62 -3675,80 -3639,71 -3639,97 -3627,02
8 287 1005 -7600,60 -7554,14 -7254,90 -7264,24 -7200,66
9 287 1006 -7118,46 -7075,46 -6808,58 -6816,81 -6759,48
10 288 1006 -3697,49 -3679,27 -3518,72 -3532,84 -3513,60
11 288 1007 -3743,06 -3724,47 -3571,46 -3584,76 -3565,83
12 294 1007 -3605,36 -3529,38 -3438,44 -3455,33 -3439,11
13 294 1008 -3549,05 -3477,29 -3390,53 -3406,61 -3391,28
14 295 1008 -2868,08 -2818,20 -2740,94 -2757,22 -2747,28
15 295 1009 -2846,89 -2798,45 -2725,05 -2740,62 -2731,07
16 304 1009 -2317,31 -2279,12 -2232,39 -2244,32 -2237,72
17 304 1010 -2306,46 -2270,85 -2224,71 -2236,18 -2229,82
18 305 1010 -1761,82 -1741,73 -1725,10 -1730,75 -1727,86
19 305 1011 -1773,21 -1756,88 -1740,75 -1745,75 -1743,20
20 115 1011 -1329,02 -1321,01 -1338,15 -1337,21 -1337,99
21 115 1012 -1376,28 -1369,57 -1385,66 -1384,64 -1385,46
X
Tabela IV - Valores de tensão na direcção 2 para o entalhe simples de 30⁰ para diferents comprimentos livres da linha.
Entalhe duplo - Ângulo de 30 graus - S22
Nº no gráfico
Elemento Nó v - Extremidade livre da linha (cm)
10 15 20 25 30
1 212 1001 -102,46 -104,05 -129,16 -126,55 -128,86
2 212 1002 -66,45 -66,49 -84,33 -81,79 -82,33
3 214 1002 -141,69 -139,80 -188,92 -182,31 -182,97
4 214 1003 -155,72 -153,70 -200,56 -194,1 -194,44
5 280 1003 -189,24 -176,41 -257,06 -246,19 -243,72
6 280 1004 -187,49 -174,30 -255,88 -244,92 -242,4
7 287 1004 -465,88 -434,02 -535,75 -521,56 -513,19
8 287 1005 -479,99 -447,33 -549,67 -535,38 -526,76
9 287 1006 -321,83 -374,14 -297,55 -299,72 -301,47
10 288 1006 -73,76 -114,64 -64,59 -66,31 -70,3
11 288 1007 -18,20 13,02 -11,39 -12,43 -13,15
12 294 1007 47,62 59,77 51,62 50,32 48,8
13 294 1008 -72,00 -75,47 -54,37 -57,28 -56,87
14 295 1008 -10,37 -10,06 3,87 1,14 1,16
15 295 1009 -98,33 -96,45 -74,21 -78,3 -76,83
16 304 1009 -18,26 -21,78 -6,01 -8,47 -7,91
17 304 1010 -107,69 -110,64 -93,63 -96,02 -94,9
18 305 1010 -148,50 -152,34 -134,24 -136,69 -135,51
19 305 1011 -192,64 -200,27 -196,59 -196,26 -196,51
20 115 1011 -340,90 -355,39 -347,86 -347,14 -347,61
21 115 1012 -377,80 -398,20 -407,84 -403,68 -406,08
XI
ANEXO III – TENSÕES AO LONGO DO ENTALHE DUPLO PARA COMPRIMENTOS DE
EXTREMIDADE LIVRE DIFERENTE – ÂNGULO DE 30⁰ E 45⁰
Tabela V - Valores de tensão na direcção 2 para o entalhe de 45⁰ para diferents comprimentos livres da linha.
Entalhe duplo - Ângulo de 45 graus - S11 (kN/m2)
Nº no gráfico
Elemento Nó v - Extremidade livre da linha (cm)
10 15 20 25 30
1 170 1001 -1894.35 -1805.87 -1894.85 -1894.50 -1894.35
2 170 1002 -1447.49 -1398.09 -1447.72 -1447.53 -1447.49
3 171 1002 -1539.91 -1484.58 -1540.18 -1539.96 -1539.91
4 171 1003 -1649.21 -1598.03 -1649.47 -1649.25 -1649.21
5 172 1003 -1695.45 -1641.71 -1695.70 -1695.49 -1695.45
6 172 1004 -1619.29 -1572.58 -1619.57 -1619.34 -1619.29
7 173 1004 -1566.68 -1517.96 -1566.96 -1566.73 -1566.68
8 173 1005 -3085.73 -3032.92 -3085.95 -3085.75 -3085.73
9 173 1006 -2710.01 -2664.31 -2710.23 -2710.04 -2710.01
10 169 1006 355.04 377.27 354.70 354.97 355.04
11 169 1007 411.05 442.34 410.71 410.98 411.05
12 151 1007 -1407.75 -1386.79 -1407.89 -1407.78 -1407.75
13 151 1008 -1696.81 -1704.17 -1696.81 -1696.81 -1696.81
14 152 1008 -1795.08 -1806.43 -1795.05 -1795.07 -1795.08
15 152 1009 -1822.56 -1843.10 -1822.48 -1822.54 -1822.56
16 153 1009 -1845.73 -1867.24 -1845.64 -1845.71 -1845.73
17 153 1010 -2095.11 -2132.27 -2094.92 -2095.08 -2095.11
18 154 1010 -2061.53 -2097.94 -2061.34 -2061.50 -2061.53
19 154 1011 -3120.69 -3190.00 -3120.27 -3120.62 -3120.69
20 154 1012 -3035.29 -3101.55 -3034.89 -3035.22 -3035.29
21 155 1012 -1473.30 -1478.90 -1473.26 -1473.29 -1473.30
22 155 1013 -1473.30 -1478.90 -1473.26 -1473.29 -1473.30
23 156 1013 -1729.12 -1744.39 -1729.04 -1729.11 -1729.12
XII
Tabela VI - Valores de tensão na direcção 2 para o entalhe de 45⁰ para diferents comprimentos livres da linha.
Entalhe duplo - Ângulo de 45 graus - S22 (kN/m2)
Nº no gráfico
Elemento Nó v - Extremidade livre da linha (cm)
10 15 20 25 30
1 170 1001 -650.22 -636.39 -665.75 -665.67 -665.65
2 170 1002 -533.74 -527.37 -547.27 -547.23 -547.23
3 171 1002 -874.31 -865.72 -902.68 -902.61 -902.61
4 171 1003 -844.51 -837.73 -872.16 -872.1 -872.1
5 172 1003 -1029.19 -1026.61 -1073.25 -1073.18 -1073.18
6 172 1004 -990.55 -988.64 -1032.20 -1032.13 -1032.13
7 173 1004 -1363.70 -1368.89 -1427.17 -1427.1 -1427.1
8 173 1005 -1302.47 -1307.28 -1361.59 -1361.52 -1361.52
9 173 1006 -67.70 -63.50 -45.60 -45.61 -45.6
10 169 1006 -644.88 -648.90 -619.41 -619.45 -619.46
11 169 1007 108.92 112.75 124.44 124.43 124.43
12 151 1007 587.88 611.75 573.99 574.18 574.22
13 151 1008 528.36 549.88 516.16 516.33 516.36
14 152 1008 64.92 73.26 67.61 67.67 67.68
15 152 1009 54.01 61.88 56.68 56.73 56.75
16 153 1009 -270.68 -272.31 -255.93 -255.97 -255.97
17 153 1010 -266.82 -268.32 -252.81 -252.85 -252.85
18 154 1010 -586.14 -595.45 -562.29 -562.4 -562.42
19 154 1011 -572.78 -581.64 -550.03 -550.14 -550.16
20 154 1012 -235.22 -232.99 -239.06 -239.05 -239.05
21 155 1012 -86.89 -81.51 -96.70 -96.65 -96.64
22 155 1013 -86.89 -81.51 -96.70 -96.65 -126.96
23 156 1013 -122.48 -120.41 -126.99 -126.97 -96.64
XIII
Tabela VII - Valores de tensão na direcção 1 para o entalhe de 30⁰ para diferents comprimentos livres da linha.
Entalhe duplo - Ângulo de 30 graus - S11 (kN/m2)
Nº no gráfico
Elemento Nó v - Extremidade livre da linha (cm)
10 15 20 25 30
1 82 1001 -2744,07 -2744,52 -2751,38 -2797,78 -2828,85
2 82 1002 -2070,54 -2070,5 -2073,77 -2089,3 -2100,94
3 88 1002 -2212,1 -2212,14 -2215,86 -2239,15 -2255,67
4 88 1003 -2093,53 -2093,31 -2098,95 -2110,97 -2123,58
5 91 1003 -2153,15 -2152,99 -2158,01 -2172,18 -2185,08
6 91 1004 -1937,15 -1936,81 -1944,18 -1949,77 -1961,27
7 94 1004 -1908,45 -1908,14 -1915,22 -1923,42 -1935,66
8 94 1005 -2712,87 -2712,63 -2716,19 -2698,59 -2694,73
9 94 1006 -2435,3 -2435 -2440,31 -2432,73 -2436,3
10 95 1006 451,35 452,15 440,2 395,12 349,79
11 95 1007 651,63 652,31 642,75 604,03 565,74
12 124 1007 -1492,68 -1492,7 -1479,05 -1457,67 -1438,98
13 124 1008 -1703,74 -1703,74 -1695,6 -1682,23 -1670,56
14 127 1008 -1702,25 -1702,25 -1694,36 -1681,3 -1669,89
15 127 1009 -1617,2 -1617,19 -1617,52 -1615,39 -1613,83
16 128 1009 -1619,35 -1619,35 -1619,89 -1618,01 -1616,66
17 128 1010 -1634,25 -1634,27 -1641,89 -1649,13 -1655,21
18 174 1010 -1643,04 -1643,07 -1650,85 -1658,27 -1664,46
19 174 1011 -2227,37 -2227,53 -2244,08 -2261,82 -2274,07
20 174 1012 -2232,41 -2232,57 -2249,2 -2267,02 -2279,32
21 111 1012 -1562,84 -1562,81 -1565,06 -1567,07 -1568,74
22 112 1013 -1562,84 -1562,81 -1565,06 -1567,07 -1568,74
23 112 1013 -1631,11 -1631,1 -1633,08 -1634,6 -1635,51
XIV
Tabela VIII - Valores de tensão na direcção 2 para o entalhe de 30⁰ para diferents comprimentos livres da linha.
Entalhe duplo - Ângulo de 30 graus - S22
Nº no gráfico
Elemento Nó v - Extremidade livre da linha (cm)
10 15 20 25 30
1 82 1001 -260,29 -260,33 -260,03 -258,77 -257,07
2 82 1002 -225,28 -225,3 -224,87 -222,5 -220,14
3 88 1002 -378,13 -378,18 -377,43 -373,04 -368,61
4 88 1003 -364,38 -364,43 -363,72 -359,37 -355,04
5 91 1003 -446 -446,1 -444,45 -434,45 -425,02
6 91 1004 -433,56 -433,66 -432,1 -422,59 -413,6
7 94 1004 -695,22 -695,47 -691,42 -670,22 -650,93
8 94 1005 -666,46 -666,7 -662,95 -643,03 -624,91
9 94 1006 226,83 226,97 222,13 203,75 187,61
10 95 1006 -385,92 -385,78 -386,9 -393,22 -400,25
11 95 1007 282,2 282,31 282,71 277,41 273,03
12 124 1007 311,18 311,31 322,29 333,74 342,47
13 124 1008 310,92 311,06 322,03 333,47 342,19
14 127 1008 190,98 191,07 198,62 207,17 213,42
15 127 1009 190,88 190,97 198,51 207,06 213,31
16 128 1009 213,98 214,05 218,07 222,62 225,35
17 128 1010 213,83 213,9 217,91 222,46 225,19
18 174 1010 123,08 123,11 124,47 125,97 126,63
19 174 1011 122,97 123,01 124,36 125,86 126,52
20 174 1012 -86,84 -86,86 -87,89 -89,01 -89,54
21 111 1012 -49,81 -49,82 -49,79 -49,78 -49,49
22 112 1013 -49,81 -49,82 -49,79 -49,78 -49,49
23 112 1013 -11,56 -11,57 -11,85 -12,08 -12,26