anÁlise de estudos prospectivos da construÇÃo...
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ANÁLISE DE ESTUDOS PROSPECTIVOS
DA CONSTRUÇÃO CIVIL NO BRASIL E
NO JAPÃO
Maria Aridenise Macena Fontenelle (UFSCar)
Luiza Denardi Cesar (UFSCar)
Regina Candeloro Grabarz (UFSCar)
Esse trabalho tem como objetivo analisar a cadeia da construção civil
no Brasil e no Japão com foco em estudos prospectivos realizados por
iniciativas governamentais, na busca de destacar a situação atual e o
foco do desenvolvimento futuro.. No Brasil, os estudos foram
promovidos pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior - MDCI/STI em parceria com o Instituto Euvaldo Lodi -
IEL/NC, coordenado por Alex Kenya Abiko, Orestes Marraccini
Gonçalves e Luiz Reynaldo de Azevedo Cardoso, em 2005, com
enfoque na construção habitacional, tendo como objetivo identificar
fatores críticos que possam afetar a cadeia da construção. No Japão, o
estudo foi realizado pelo CIB internacional em 1995, lançado na
reunião W82 em Amsterdam, tendo como objetivo realizar estudos
relacionados aos fatores que afetam o desenvolvimento do futuro da
construção, visando responder à seguinte pergunta: Quais serão as
consequências do desenvolvimento sustentável na indústria da
construção em 2010? Apesar dos esforços governamentais é possível
destacar o nível de evolução diferenciado entre os dois países, no
Brasil a preocupação esta baseada na evolução do processo de
construção. Já no Japão, o foco é o meio ambiente.
Palavras-chaves: Estudo Prospectivo, Construção Civil, Resíduos da
construção, Habitação.
XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.
São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.
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1. Introdução
A construção civil é um setor que exerce forte influência no crescimento e desenvolvimento
de um país, gerando impacto econômico, social, cultural e ambiental (Figura 1). Tendo isso
em vista, existe uma crescente busca em direcionar corretamente o desenvolvimento da cadeia
da construção civil, procurando mitigar os impactos negativos e alavancar os positivos,
exaltando a necessidade de se desenvolver uma postura ativa em relação ao futuro.
Figura 1 – Impactos causados pela construção civil.
O estudo prospectivo surge como uma ferramenta estratégica e permite uma ação proativa por
intermédio da antecipação dos acontecimentos. O referido estudo parte de uma análise do
passado e do presente para configurar futuros possíveis, construir o futuro desejado ou
afastar-se de um futuro indesejado, auxiliando a tomada de decisões presentes com foco no
desenvolvimento futuro (Figura 2).
Figura 2 – Estudo prospectivo.
No Brasil, o setor da construção tem forte participação no setor produtivo nacional, gerando
emprego e renda. Isso estimula uma busca crescente por estratégias que auxiliem o
crescimento ordenado do setor. Diante do exposto, foram realizados estudos promovidos pelo
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDCI/STI em parceria com
o Instituto Euvaldo Lodi – IEL/NC, coordenado por Alex Kenya Abiko, Orestes Marraccini
Gonçalves e Luiz Reynaldo de Azevedo Cardoso, em 2005, com o intuito de traçar uma
trajetória de crescimento de 10 anos, configurando um futuro desejado e viável para 2013,
com enfoque na construção habitacional. O objetivo principal do referido estudo é identificar
fatores críticos que possam afetar a cadeia da construção, abrindo margens para soluções
prévias, auxiliando na tomada de decisões.
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No Japão, o estudo foi realizado pelo Comitê de Trabalho - W82 em 1995 do Conselho
Internacional da Construção - CIB em Amsterdam, tendo como foco realizar identificar aos
fatores que afetam a sustentabilidade da construção.
A partir desse estudo foi possível constatar que o governo Japonês representado pelo
Ministério da Construção - MOC instituiu na década de 90 várias ações para restringir os
impactos ambientais na Construção Civil. Medidas como apreciar e preservar os benefícios do
meio ambiente com o desenvolvimento de uma sociedade sustentável e promoção da
colaboração internacional para conservação do meio ambiente, foram algumas das ações
instituídas pela MOC.
O Instituto de Pesquisa sobre sustentabilidade - BRI e o Plano Reciclar 21 são alguns dos
programas criado pelo governo para disseminar as questões sustentáveis no Japão. A
Conferência de Kyoto - COP3 em 1997, estimulou o processo no Japão em termos de medidas
tomadas pelos órgãos governamentais para reduzir a emissão de gases do efeito estufa.
Com base nos estudos realizados pelo governo Japonês foi possível traçar um cenário
tendencial para 2010, referente ao desenvolvimento sustentável.
Medidas como disseminação do conhecimento (especialmente para membros do quadro
executivo) sobre a importância da responsabilidade das empresas de construção para com o
ambiente global, metodologias para estabelecer os impactos ambientais das empresas de
construção, promoção de educação e treinamento dos funcionários, criação de um banco de
dados global para fornecer e armazenar informações sobre a construção civil vem a contribuir
para que a construção sustentável no Japão seja mais facilmente disseminada.
Com base nas pesquisas do Brasil e do Japão é possível destacar a posição da cadeia
produtiva da construção civil na busca pelo desenvolvimento em cada país, as políticas
governamentais e a influência do nível de desenvolvimento do país sobre o setor.
Esse trabalho visa analisar a partir de pesquisas realizadas por iniciativas governamentais no
Brasil e no Japão, a situação atual e o foco do desenvolvimento futuro da construção civil.
2. Metodologia da pesquisa
Trata-se de uma pesquisa empírica que segundo (Demo, 2000, p. 21) consiste em análise de
dados e bibliográficos, que Santos (1999) classifica como um tipo de fontes de informação.
Esse estudo tem como base os resultados de duas pesquisas realizadas sobre o futuro da
construção no Brasil e em 14 países.
O estudo prospectivo tecnológico da cadeia produtiva da construção civil no Brasil foi
realizado pelo Departamento de Engenharia Civil da Escola Politécnica da Universidade de
São Paulo através de uma pesquisa Delphi. O referido estudo se divide em diagnóstico e
prognóstico, partindo da situação presente, de forma a configurar um futuro desejado e viável
para o desenvolvimento da cadeia, considerando o horizonte de 2003-2013.
Na pesquisa realizada pelo International Council for Building- CIB W82 a metodologia
utilizada consistiu num estudo internacional da situação presente que serviu de base para
projetar o futuro na visão de especialistas do setor no mundo.
Apesar do estudo comparativo sobre o futuro do desenvolvimento sustentável ter envolvido a
colaboração de especialistas da Europa, América do Norte, África do Sul e Ásia, neste artigo
foram analisados somente os resultados do Japão. Cabe salientar que o estudo de futuro
realizado no Brasil tem como foco a construção habitacional, e no Japão, a sustentabilidade.
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3. O futuro da indústria da construção habitacional no Brasil
A busca pelo desenvolvimento sustentável conduzirá o Brasil a níveis de equilíbrio
econômico, tecnológico, ambiental e social, para tanto é necessário uma política industrial
ativa com enfoque na inovação e incorporação tecnológica na produção e a inserção
competitiva na economia global.
Neste sentido, foi realizado um estudo prospectivo da cadeia produtiva da construção civil no
Brasil, com enfoque na produção e comercialização de unidades habitacionais urbanas, uma
vez que seu desenvolvimento propicia a geração de emprego e renda, a capacitação
tecnológica e o crescimento do setor produtivo nacional. O referido estudo visa aumentar a
eficiência da cadeia, a concorrência dos segmentos e a melhoria da qualidade dos produtos.
Recursos financeiros, físicos, e humanos formam o tripé responsável pela indústria da
construção. Segundo a pesquisa, a cadeia da construção esta inserida no chamado
“Construbusiness” brasileiro, sendo este responsável por 15,6% do Produto Interno Bruto –
PIB, compreendendo o setor de construção, o de materiais de construção e de serviços
acoplados a construção. O setor de construção civil que engloba edificações e construção
pesada representa 10,3% do PIB e a construção de edificações residenciais representam um
montante de 6% a 9% do PIB nacional, como ilustrado na figura 3.
Figura 3 – Participação em porcentagem do Produto Interno Bruto Nacional dos subsetores Construção Civil e
Edificações Residenciais do “Construbisness”. (MDIC/STI: IEL/NC, 2005)
O setor da construção apresenta relevante papel social, com a geração de empregos e renda. O
quadro 1 evidencia o número de pessoas ocupadas no setor da construção, 6,09% em 2000,
destacando uma queda de 0,55% entre os anos 1990 e 2000, relacionada com a desaceleração
do PIB no setor.
Anos
Pessoas Ocupadas
em 1.000 unidades
Participação
relativa da
construção no
total brasileiro
(em %)
Brasil Ind. da
Construção
1998 60.766,70 4.036,00 6,64
1999 62.577,90 3.908,80 6,25
2000 65.151,10 4.012,20 6,16
2001 64.421,20 3.923,70 6,09
Quadro 1 – Participação da Indústria da Construção na População Ocupada, 1998 a 2001.
Fonte: Sistema de Contas Nacionais Brasil (IBGE), 1998/2000 e 1999/2001
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A renda é fator que influencia diretamente no cenário do déficit habitacional brasileiro, que
segundo a Secretaria Nacional de Habitação foi estimado em 6,273 milhões de domicílios, em
2007.
No País o setor da construção tem apresentado uma lenta evolução tecnológica se comparados
a outros setores industriais. Na década de 80 o lucro no setor era obtido em função da
valorização imobiliária, em virtude de um contingente de desperdícios de materiais e mão-de-
obra unidos as altas taxas de inflação. A partir dos anos 90, o panorama começa a mudar, o
lucro é resultado do aumento da produtividade com redução de custos através da introdução
de novas tecnologias no processo produtivo e novas técnicas de gerenciamento (Figura 4).
Figura 4 – Conceito de lucratividade dos profissionais da construção civil até os anos 80 e a partir dos anos 90.
(MDIC/STI: IEL/NC, 2005)
Construir edificações utilizando de sistemas industrializados e racionalizados, buscando
redução de custos aliado a melhoria na produtividade e na qualidade dos produtos e processos
tem se destacado como objetivo da cadeia produtiva. Neste sentido, foram identificados como
principais fatores que impedem o crescimento do setor: a baixa produtividade, baixa
qualidade, baixa industrialização dos processos e a falta de conhecimento das necessidades do
mercado consumidor.
Com base na análise de desempenho da cadeia produtiva, o estudo prospectivo realizado no
Brasil destacou os fatores críticos, conforme mostra a figura 5 e nos itens listados.
Figura 5 – Fatores críticos da construção civil com enfoque na construção e comercialização de unidades
habitacionais. (MDIC/STI: IEL/NC, 2005)
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a) Acessibilidade a habitação
Acessibilidade: a acessibilidade a habitação é baixa e tende a crescer lentamente, sendo a
renda, a vontade política e as fontes de financiamentos fatores de grande impacto neste
cenário.
Disponibilidade de financiamento: os investimentos em financiamento privado e público
foram considerados muito baixos tendendo a se manter baixo no futuro, tendo em vista as
taxas de juros e o enfoque no investimento econômico. Comparando as duas fontes o
financiamento privado se destacaria sobre o público.
Disponibilidade de terreno: mantêm-se baixa, destacando a diferença de oferta nas
pequenas, médias e grandes cidades, e seus focos mercadológicos e financeiros.
Dependência de investimentos em infra-estrutura.
Produção informal: a incidência da produção informal se mantém ou diminui,
continuando alta, é necessário mais tempo para que haja mudanças sociais significativas.
A tendência é que os processos evoluam junto com o setor, aumentando a qualidade da
produção e do produto.
Apoio à autoconstrução: mantêm-se baixo, destacando a potencialidade desta questão
em amenizar o déficit habitacional, apontando a suscetibilidade a não-conformidade, a
baixa qualidade e maus resultados.
Capacidade de regulação e coordenação: baixa atualmente com tendência a crescer,
pois apesar de lenta tem havido avanços no setor, destacando a influencia principal de
políticas governamentais.
Déficit habitacional: a tendência do Déficit é de se manter, ou até aumentar, destacando
que este cenário está totalmente relacionado com a concentração dos esforços políticos,
tecnológicos e econômicos.
b) Qualidade do produto habitacional:
Qualidade do produto habitacional: no padrão alto o cenário é satisfatório no presente e
no futuro, no padrão médio o cenário é médio atualmente e satisfatório no futuro e no
padrão popular o cenário é insatisfatório atualmente e regular no futuro.
Normalização técnica: encontra-se insuficiente a regular tendendo a melhorar nos
próximos anos, está relacionada com a conscientização do setor, e com a forma como é
aplicada (exigências legais), monitorada e fiscalizada.
Apoio organizacional e institucional à qualidade: tende a melhorar, destaca-se como
um processo que não tem mais volta, o cenário futuro pode estimar somente a velocidade
como aconteceria. Destaca a necessidade de ações a nível nacional uma vez que depende
de vontade política, impactando em significativas mudanças nos processos e qualidade de
produtos.
Conhecimento das necessidades do consumidor: a tendência é de crescer, pois estão
cada vez mais sendo implantado processo de estudo do produto e avaliação do potencial
de venda.
Conformidade de componentes e materiais: a tendência é de crescer, na medida em que
as idéias de qualidade, atendimento ás normas e legislação vêm aumentando.
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c) Tecnologia e gestão:
Projeto: a tendência é que o processo de projeto melhore, tendo em vista que o órgão
público é o grande incentivador do projeto formal aliado a implantação de sistemas de
gestão da qualidade nas empresas.
Barreiras ao avanço tecnológico: o avanço tecnológico está pouco desenvolvido,
evoluindo pouco no cenário futuro, destacando-se atrasados o mercado de componentes
pré-fabricados, formalidade de mão-de-obra e modernização dos códigos de obra.
Destaque para o fator cultural que implica em tradicionalismo nas empresas.
Produtividade: tende a crescer, em vista do desenvolvimento do setor e da busca por um
contínuo processo de racionalização e da disseminação de novas tecnologias, que tentem a
ser cada vez mais acessíveis.
Custo de construção: se mantém equiparado ao atual, o custo da mão-de-obra pode
aumentar em pequenas proporções acarretando em pequeno aumento no custo total.
Pesquisas: a produção de pesquisa tecnológica é baixa atualmente crescendo pouco nos
cenários futuros, esta realidade está relacionada com a intensidade de recursos investidos
no setor principalmente de âmbito empresarial.
No Brasil evidencia-se a forte influência da política econômica no setor, sendo os principais
fatores o crescimento econômico, a taxa de juros e a distribuição de renda. O
desenvolvimento do setor se dá de forma lenta uma vez que não se vê interesses futuros dos
órgãos governamentais em investir potencialmente no setor, e também se percebe a
dificuldade em superar as barreiras culturais e organizacionais. Em contrapartida o setor de
habitação social parece despertar as atenções. Já o processo de modernização e de avanços
tecnológicos vem crescendo de forma gradativa e inexorável independente dos cenários
(Figura 6).
Figura 6 – Fatores críticos da construção civil com enfoque na construção e comercialização de unidades
habitacionais junto aos fatores de maior influência. (MDIC/STI: IEL/NC, 2005)
4. Sustentabilidade da construção no Japão em 2010
No início dos anos 90, no Japão, as questões referentes à construção sustentável obteve
grande preocupação principalmente no meio acadêmico e governamental. Com o passar dos
anos, os problemas relacionados às construções e o meio ambiente se tornaram um problema
crítico, e atualmente estão sendo tomadas várias medidas para restringir os impactos
ambientais na construção.
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No Japão, o estudo foi realizado por estudiosos da Europa Ocidental e Oriental, América do
Norte, África do Sul e Ásia visando responder à seguinte pergunta: Quais serão as
consequências do desenvolvimento sustentável na indústria da construção em 2010? O estudo
abrange 14 países como Itália, Espanha, Japão, entre outros.
O Ministério da Construção - MOC instituiu várias ações como a criação de conselhos com o
intuito de abranger bases legais para políticas da ação ambiental para colocar em prática
iniciativas de sustentabilidade da Construção Civil.
Em 1991 o Instituto de Pesquisa sobre Sustentabilidade iniciou o Projeto de Cidades
Ecológicas - Eco city, na qual vem desenvolvendo a 5 anos pesquisas entre universidades e
profissionais da construção. Como parte dos resultados do projeto foi a criação de uma
ferramenta computacional para auxiliar na escolha de alternativas possíveis de projetos
ambientalmente sustentáveis com a simulação e a determinação do consumo de energia e da
emissão de dióxido de carbono - CO2.
Com a introdução da ISO14000, aumentou rapidamente o número de empresas com
consciência ambiental, isso decorre do fato dos clientes japoneses estarem entusiasmados para
introduzir sistema de manejo ambiental - EMS na construção Civil. O Instituto de
Conservação de Energia na Construção - IBEC, sem fim lucrativo do MOC, estabeleceu o
consórcio de pesquisa EMS. O referido consórcio é composto de oficiais do governo,
pesquisadores universitários, profissionais da indústria, preocupados em implantar um manual
de medidas para incentivar e auxiliar empresas da construção para a introdução do sistema de
manejo ambiental.
O Plano Reciclar 21 objetiva a determinação de iniciativas para minimizar o uso de materiais
na construção, maximizar a reciclagem, disposição adequada de resíduos e incentivos a
pesquisas. O objetivo em longo prazo destas iniciativas é a realização da redução de quase
100% dos resíduos eliminados, exceto resíduos específicos que têm dificuldade em reutilizar.
Em curto prazo a meta é reduzir em 50% dos resíduos de construção. Assim, é preciso reduzir
10% na produção de subprodutos da construção e aumentar a taxa de reciclagem dos
subprodutos da construção de 42 para 80%.
Em dezembro de 1997 ocorreu em Kioto o Protocolo de Kioto – COP3 que instituiu diretrizes
para a redução de emissões de gases do efeito estufa nos países industrializados até 2010.
Após o COP3, o governo japonês estabeleceu medidas para a realização de um programa
abrangente em termos de medidas tomadas pelos órgãos governamentais para reduzir a
emissão de gases do efeito estufa. O alvo é o setor de transportes e setor não industrial, porque
a emissão de gases do efeito estufa por estes setores tem aumentando consideravelmente
desde 1990.
4.1 Questões chave no Japão
Os pesquisadores, da indústria da construção estão revendo os impactos ambientais gerados
pela indústria da construção. Essa revisão abrange várias organizações como associações
industriais de construtoras, fornecedores e fabricantes. O aquecimento global é uma questão
preocupante no Japão, devido a emissão total de CO2 ter aumentado 7,2% entre 1990 e 1994.
A atividade da construção japonesa ocupa mais de 34% da quota nacional de emissão de CO2,
sendo que, trabalhos no canteiro de obra ocupam 1,3% na emissão total de CO2 nacional,
produção de materiais de construção tem contribuído 12,8%, transporte relacionado á
construção tem 3,4% e operação de construção tem 16,5%.
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Dispositivos de segurança contra incêndio contendo Halons e materiais de isolamento
contendo CFCs tem potencial para diminuir a camada de ozônio. A reciclagem destes
materiais dos prédios demolidos estão agora sendo realizados no Japão. No presente estágio, a
indústria da construção japonesa tem 5,5% da quota da emissão total de Halons e gás CFCs
mundial.
Em 1990, 76 milhões de toneladas de resíduos da construção foram produzidos no Japão,
correspondendo a aproximadamente 21% do total de resíduos produzidos no país.
Comparando com outros setores industriais, os resíduos da construção civil ocupam uma
parcela significativa, desse total 42% foram reciclados. Estatísticas do Governo sugerem que
atualmente um montante de 127 milhões de toneladas de resíduos da construção seria
produzido. O melhoramento da taxa de reciclagem é uma questão crítica no Japão.
A área habitável no Japão é de 126 mil km2 entre o a área total de 379 mil km2. Em
comparação com Reino Unido (UK), o Japão tem aproximadamente uma população de 120
milhões que é quase o dobro do UK. A densidade total populacional no Japão é de 329
pessoas por km2 enquanto 236 pessoas por km2 no UK. A densidade populacional em locais
habitáveis no Japão é de 988 pessoas por km2 enquanto 245 pessoas no Reino Unido. As
condições geográficas e demográficas sugerem como intensiva a densidade econômica no
Japão. Consequentemente a limitação da capacidade de espaço é um problema critico nas
questões ambientais no Japão, acarretando por exemplo a falta de espaço de eliminação dos
resíduos.
O vasto volume da construção no Japão trouxe grande influencia sobre o meio ambiente em
outros países, devido às importações de matérias primas. Como exemplo, podemos citar a
importação de lingotes de alumínio, aproximadamente 99% são importados da Austrália,
USA, Indonésia, entre outros, e com isso gera consumo de energia nesses países.
4.2 Consequências do desenvolvimento sustentável na construção civil em 2010
Embora não se tenha dados concretos da disseminação na indústria da construção japonesa de
temas relacionados a construções sustentáveis, entretanto está completamente determinado
que estatísticas da construção em 2010 será baseado em alguns paradigmas, como: projetos de
vida longa que assegura efetivo gerenciamento do ciclo de vida, baixo uso da energia e
emissão de CO2 na operação da construção, baixo impacto ambiental nas áreas circundantes,
entre outros.
A melhor maneira de se projetar construções sustentáveis é a utilização da efetiva negociação
e discussão entre as equipes de construção (arquitetos, engenheiros, empreiteiras, fabricantes,
etc.). Uma excelente habilidade humana em conjunto com automação são circunstâncias que
afetam diretamente o andamento do projeto.
Materiais com baixa energia incorporada e CO2, materiais renováveis e/ou com menor
impacto ambiental, seriam os materiais preferenciais.
Aparentemente a construção sustentável, em 2010, exige diferentes habilidades, padrões e
maneiras de pensar nos envolvidos na construção. Indicadores de desempenho ambiental
proposto na ISO 14000 seria a base para os novos padrões.
Dessa forma, teríamos cidades com baixos índices de densidade com complexos de prédios
distribuídos juntos com a natureza preservada podem ser um paradigma na cidade planejada
em 2010.
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4.3 Exemplos de projetos e boas práticas
Não existe ainda acordo na definição da construção sustentável, porque os envolvidos na
construção japonesa incluindo profissionais e acadêmicos preferem que o conceito segue a
prática do que a prática segue o conceito. Assim, antes de estabelecer essa questão, muitas
tentativas pilotos estão sendo implementadas atualmente. É esperado que as respostas destas
experiências na prática diária estabeleçam precisas definições da construção sustentável no
futuro.
Projetos experimentais estão sendo realizados atualmente por diversas instituições. O projeto
NEXT 21 na cidade de Osaka é o mais integrado e inovativo exemplo de projeto sustentável,
onde ideia de construção aberta assegura harmonização de medidas independentes. A Tokyo
Electric Power Corporation - TEPCO esta monitorando seus prédios autônomos ambientais.
A Housing e Urban Development Corporation - HUDC e conselhos locais estão construindo
fazendas de ambiente familiar em todo o país.
Estes projetos são merecedores de atenção, sendo incerto se o impacto desses projetos são
fortes o suficiente para encorajar futuros clientes e profissionais da construção para tentar
projetos similares.
4.4 Barreiras e recomendações da implantação da construção sustentável
Segundo a pesquisa realizada pelo CIB-W82 as barreiras encontradas para a disseminação da
construção sustentável no Japão apontam para a responsabilidade do setor da construção no
ambiente global ainda não estar amadurecida. A melhor forma de mitigar essa barreira seria a
disseminação do conhecimento (especialmente para membros do quadro executivo) sobre a
importância da responsabilidade das empresas de construção para o ambiente global.
Os impactos ambientais das atividades das empresas da industria da construção japonesa, não
é objeto de revisão periodicamente, dessa forma a industria da construção apresenta dados
menos concisos sobre questões ambientais, e parcialmente que a metodologia da revisão dos
impactos ambientais não ter ainda sido estabelecida.
O Estabelecimento de acordos em termos da partilha do papel e alocação da responsabilidade
entre membros das equipes de construção nos projetos (incluindo clientes) seria a melhor
forma de manter o orçamento necessário para a construção sustentável.
O orçamento restrito, materiais ambientalmente corretos com maior custo que materiais
tradicionais fazem as empresas da construção hesitarem em aplicar medidas ambientalmente
corretas.
A criação de uma plataforma de troca de informação entre equipes de construção e outras
indústrias do setor criando assim um banco de dados global para fornecer seria de extrema
importância para a disseminação e otimização de processos referentes a construção
sustentável.
5. Considerações finais
A pesquisa no Brasil demonstra que a cadeia produtiva estudada tem como anseio comum
fatores como a racionalização de materiais e processos, a qualidade dos produtos e processos
aliado a preços mais acessíveis, a busca por estes fatores vem sendo cada vez mais difundida,
de 2003 para 2010, e certamente como uma tendência para o futuro.
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No Japão embora não se tenha dados concretos da disseminação na indústria da construção de
temas relacionados a construções sustentáveis, está completamente determinado que a
construção em 2010 será baseada em alguns paradigmas, como: projetos de longa vida, baixo
uso da energia e emissão de dióxido de carbono na operação da construção, baixo impacto
ambiental nas áreas circundantes, gerenciamento de resíduos entre outros.
O governo federal brasileiro volta às atenções para a problemática da habitação (déficit
habitacional), investindo no desenvolvimento do setor com construções sociais, abrindo
margens para financiamentos a taxa de juros compatíveis com a classe social, facilitando o
financiamento. A introdução de novas tecnologias tem sido fundamental para o processo. A
capacitação dos agentes vem crescendo junto a essa evolução e a competitividade do mercado
vem se colocando como aliada ao surgimento de inovações em busca não só dos fatores
supracitados, mas da compreensão das necessidades do usuário.
Possivelmente, em longo prazo, os investimentos em construções sustentáveis no Japão
podem gerar benefícios para toda indústria da construção. Entretanto, ainda existe a idéia de
que medidas para execução de construção sustentável requerem elevados investimentos. O
Governo japonês está providenciando incentivos econômicos como redução das taxas,
financiamento com juros baixos e subsídios para alavancar esse processo.
A demanda por parte dos clientes em requererem a contratação de projetos sustentáveis pode
ser o motivo por parte das construtoras, a aderirem a esse movimento, sendo uma das razões
por que grandes construtoras japonesas estarem entusiasmadas para a questão de construção
sustentável. Diferente de outras culturas, onde existem outros incentivos, no Japão, empresas
japonesas levam muito mais em consideração a reputação e credibilidade da empresa na
sociedade. Assim, reputação pode ser outro incentivo para construção sustentável para
empresas da indústria da construção.
Apesar dos esforços governamentais é possível destacar o nível de evolução diferenciado
entre os dois países, no Brasil a preocupação pelo desenvolvimento sustentável esta baseada
na evolução do processo de construção, englobando qualidade, racionalização, déficit
habitacional entre outros, o foco com o meio ambiente ainda esta atrasado, apesar de não ser
nulo, em vista da necessidade de crescimento na base do setor. Já no Japão, o foco do
desenvolvimento sustentável é o meio ambiente, por se tratar de um país mais desenvolvido a
qualidade dos processos e produtos, a racionalização de materiais e o déficit habitacional são
barreiras ultrapassadas e hoje incorporadas a sua cultura e a sua política governamental. O
Japão como um país desenvolvido tem suas experiências como tendências para países como o
Brasil, em desenvolvimento.
Referências
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Coordenação de – Brasília: MDIC/STI: IEL/NC, 2005.
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de construção – Projeto Entulho Bom.. 312f. Salvador: EDUFBA; Caixa Econômica Federal, 2001.
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DEMO, P. Pesquisa e construção do conhecimento: metodologia científica no caminho de Habermas. Rio de
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12
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Prospectiva Estratégica das Organizações) – Conservatório de Ciências e Tecnologia do Porto, Lisboa.
MINISTÉRIO DAS CIDADES, SECRETARIA NACIONAL DE HABITAÇÃO. Déficit Habitacional no
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SANTOS, A. R. Metodologia científica: a construção do conhecimento. Rio de Janeiro: DP&A, 1999
WORLD COMMISSION ON ENVIRONMENT AND DEVELOPMENT. Our Common Future, Brundtland
Report. Março 1987.
AGRADECIMENTOS
A CAPES, pelo apoio recebido.
GESTÃO DO CONHECIMENTO ORGANIZACIONAL
Gestão da Inovação