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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO DE PERNAMBUCO MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL EDNALVA MARIA BEZERRA DE LIRA ANÁLISE DA PERCEPÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS ENTRE MORADORES E AGENTES DE SAÚDE NO BAIRRO ALTO DO MANDU RECIFE, PE, BRASIL Recife 2012

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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO

FACULDADE DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO DE PERNAMBUCO

MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL

SUSTENTÁVEL

EDNALVA MARIA BEZERRA DE LIRA

ANÁLISE DA PERCEPÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

ENTRE MORADORES E AGENTES DE SAÚDE NO

BAIRRO ALTO DO MANDU – RECIFE, PE, BRASIL

Recife

2012

EDNALVA MARIA BEZERRA DE LIRA

ANÁLISE DA PERCEPÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

ENTRE MORADORES E AGENTES DE SAÚDE NO

BAIRRO ALTO DO MANDU – RECIFE, PE, BRASIL

Dissertação apresentada como requisito para obtenção do

título de Mestre em Gestão do Desenvolvimento Local

Sustentável da Faculdade de Ciências da Administração de

Pernambuco, Universidade de Pernambuco.

Orientador: Prof. Dr. Fábio José de Araújo Pedrosa

Recife

2012

ANÁLISE DA PERCEPÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS ENTRE MORADORES E

AGENTES DE SAÚDE NO BAIRRO ALTO DO MANDU – RECIFE, PE, BRASIL

Mestranda: Ednalva Maria Bezerra de Lira

Orientador: Prof. Dr. Fábio José de Araújo Pedrosa

BANCA EXAMINADORA

Presidente: Profª. Drª. Andrea Karla Pereira da Silva

Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco

Universidade de Pernambuco

Membro: Profª. Drª. Niédja Maria Galvão Araújo e Oliveira

Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco

Universidade de Pernambuco

Membro: Profª. Drª. Magaly Bushatsky

Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das Graças

Universidade de Pernambuco

Aprovada em: 06 de junho de 2012

Local da defesa: Faculdade de Administração de Pernambuco bloco C da sala 3, quarto andar.

Dedico este trabalho a meus pais Luiz Torquato pelo exemplo de

homem integro trabalhador e Nair Francisca (in memoria) em

especial pelo exemplo de fé em Deus, de luta e dedicação, de

que não existia barreira ou dificuldade que pudesse impedi-la a

proporcionar o que tinha de mais valioso que era o crescimento

de seus filhos por meio da educação e o estudo.

A meus irmãos Analiza, Heloisa, Roberto e Gilberto pelo apoio,

companheirismo e torcida pela minha vitória.

AGRADECIMENTOS

Reconhecendo que agradecer é um ato de humildade respeitosa ao valor de

outra pessoa em nossa formação, sob as mais diversas formas, dentre as quais

conselhos, escuta afetiva, críticas construtivas, movidas pela certeza de que

temos capacidade de ouvir e transformar a lição em ação benfazeja, a nossa

qualidade de vida e a qualidade de vida de nossos semelhantes,

Não posso agradecer isoladamente a algumas pessoas.

Aos Agentes Comunitários de Saúde e aos moradores do Alto do Mandu, meu

especial agradecimento pela atenção, disponibilidade e envolvimento nessa

pesquisa.

À Profª. Bárbara Virginia Pereira Cavalcanti, meu especial agradecimento por

seus ensinamentos e confiança ao longo da construção deste trabalho.

Agradeço a todos que nos ajudaram a construir nosso saber, tomando como

exemplo o próprio meio ambiente. Essa Criação Divina, na qual não há

elementos mais ou menos importantes; é resultado da ação que Deus nos

propicia a maravilha de compartilhar hoje. E poderemos compartilhar por

muito tempo, se despertarmos em nós um pertencimento afetivo ao meio

ambiente tão forte quanto este que nos une como humanos!

Bendize, ó minha alma, ao SENHOR!

SENHOR Deus meu, tu és magnificentíssimo; estás vestido de glória e de majestade.

Ele se cobre de luz como de um vestido, estende os céus como uma cortina.

Põe nas águas as vigas das suas câmaras; faz das nuvens o seu carro, anda sobre as asas do vento.

Faz dos seus anjos espíritos, dos seus ministros um fogo abrasador.

Lançou os fundamentos da terra; ela não vacilará em tempo algum.

Tu a cobriste com o abismo, como com um vestido; as águas estavam sobre os montes.

Å tua repreensão fugiram; à voz do teu trovão se apressaram.

Subiram aos montes, desceram aos vales, até ao lugar que para elas fundaste.

Termo lhes puseste, que não ultrapassarão, para que não tornem mais a cobrir a terra.

Tu, que fazes sair as fontes nos vales, as quais correm entre os montes.

Dão de beber a todo o animal do campo; os jumentos monteses matam a sua sede.

Junto delas as aves do céu terão a sua habitação, cantando entre os ramos.

Ele rega os montes desde as suas câmaras; a terra farta-se do fruto das suas obras.

Faz crescer a erva para o gado, e a verdura para o serviço do homem, para fazer sair da terra o pão,

E o vinho que alegra o coração do homem, e o azeite que faz reluzir o seu rosto, e o pão que fortalece o coração do homem.

As árvores do SENHOR fartam-se de seiva, os cedros do Líbano que ele plantou,

Onde as aves se aninham; quanto à cegonha, a sua casa é nas faias.

Os altos montes são para as cabras monteses, e os rochedos são refúgio para os coelhos.

Designou a lua para as estações; o sol conhece o seu ocaso.

Ordenas a escuridão, e faz-se noite, na qual saem todos os animais da selva.

Os leõezinhos bramam pela presa, e de Deus buscam o seu sustento.

Nasce o sol e logo se acolhem, e se deitam nos seus covis.

Então sai o homem à sua obra e ao seu trabalho, até à tarde.

O SENHOR, quão variadas são as tuas obras! Todas as coisas fizeste com sabedoria; cheia está a terra das

tuas riquezas.

Assim é este mar grande e muito espaçoso, onde há seres sem número, animais pequenos e grandes.

Ali andam os navios; e o leviatã que formaste para nele folgar.

Todos esperam de ti, que lhes dês o seu sustento em tempo oportuno.

Dando-lho tu, eles o recolhem; abres a tua mão, e se enchem de bens.

Escondes o teu rosto, e ficam perturbados; se lhes tiras o fôlego, morrem, e voltam para o seu pó.

Envias o teu Espírito, e são criados, e assim renovas a face da terra.

A glória do SENHOR durará para sempre; o SENHOR se alegrará nas suas obras.

Olhando ele para a terra, ela treme; tocando nos montes, logo fumegam.

Cantarei ao SENHOR enquanto eu viver; cantarei louvores ao meu Deus, enquanto eu tiver existência.

A minha meditação acerca dele será suave; eu me alegrarei no SENHOR.

Desapareçam da terra os pecadores, e os ímpios não sejam mais. Bendize, ó minha alma, ao SENHOR.

Louvai ao SENHOR.

Salmos 104

RESUMO

A preservação do meio ambiente é uma construção cultural e depende da percepção de

pertencimento ao meio ambiente. O objetivo deste trabalho foi analisar a percepção de

agentes comunitários de saúde, agentes de saúde ambiental e controle de endemias e

representantes das famílias do Alto do Mandu, sobre temática ambiental, com ênfase nos

resíduos sólidos. Procedeu-se a estudo transversal com abordagem qualiquantitativa foi

realizado entre maio e dezembro de 2011, contemplando análise do discurso de 11 Agentes

Comunitários de Saúde (100,0% do total da categoria), um dos cinco Agentes de Saúde

Ambiental e Controle de Endemias e 1421 (93,4%) representantes das 1521 famílias

moradoras no Alto do Mandu, com idade igual ou maior que 21 anos, excluídos aqueles com

tempo de moradia menor que 30 dias ou ausentes quando das visitas dos Agentes. Empregou-

se questionário, dividido em duas partes: a primeira destinada a identificar representações e

imaginário sobre lixo e a segunda, a investigar conhecimentos específicos dos agentes. Nos

testes estatísticos de Mann-Whitney, Qui quadrado e Kruskal-Wallys, admitiu-se nível de

significância de 0,05. Dentre os problemas apontados por 97,4% dos moradores

predominaram lixo (com o significado de resíduos aproveitáveis e não aproveitáveis) (683;

49,4%), falta d’água (602; 43,5%), degradação do solo (424; 30,6%), doenças provocadas por

insetos ou ratos (403; 29,1%) e, menos frequentemente, esgoto a céu aberto ou entupido. Essa

percepção se associou ao tempo de moradia na comunidade, mas não à escolaridade. A

percepção ambiental deficiente pôde ser atribuída ao meio ambiente ainda não lhes pertencer

como objeto de responsabilidade.

Palavras-chave: Resíduos sólidos. Educação ambiental. Programa de Agentes Comunitários

de Saúde.

ABSTRACT

The environment preservation is a cultural construction and depends on the perception of

belonging to environment. The objective this work was analyze the perception of Health

Community Agents, Environment Health and Endemic Control Agents and representatives of

the family at the Alto do Mandu, on environment issues, emphasizing solid wastes. A cross-

sectional study with qualitative and quantitative approach was performed from May to

December 2011, including discourse analysis of 11 Health Community Agents (100.0% of the

category), one of five Environment Health and Endemic Control Agents and 1421 (93.4%)

representatives of the 1521 families living at the Alto do Mandu, aging at least 21 years,

excluded those with residence time less than 30 days or absent during the visits of the Agents.

We used a questionnaire with two parts: the first designed to investigate the representations

and the imaginary of waste, and the second to investigate specific knowledge of agents. For

Mann-Whitney, Chi Squared and Kruskal-Wallys statistical tests, we admitted a 0.05 level of

significance. Among the problems pointed by 97.4% of the residents predominated garbage

(meaning recoverable and non recoverable wastes) (683; 49.4%), soil degradation (424;

30.6%), diseases attributable to insects and rats (403; 29.1%),and less frequently open or

clogged sewers.. This perception was associated to living time at the community but not to

scholarship level. The deficient environmental perception could be attributed to a non

belonging of the environment as object of responsibility.

Keywords: Solid wastes. Environmental education. Program of Health Community Agents.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Localização geográfica do Alto do Mandu, em Recife, Pernambuco, Brasil 44

Figura 2 – Localização geográfica da RPA-3 e limites do bairro Alto do Mandu 45

Figura 3 – Mapa do zoneamento da área adscrita à Unidade de Saúde Básica Joaquim da

Costa Carvalho 46

Figura 4 – Detalhamento da localização das ruas do bairro Alto do Mandu onde as

imagens foram captadas 47

Figura 5 – Mapa do zoneamento da área adscrita à Unidade de Saúde Básica Joaquim da

Costa Carvalho, segundo microáreas do PACS II 50

Figura 6 – Microáreas nas quais os moradores participam da coleta seletiva 81

LISTA DE GRÁFICO

Gráfico 1 - Distribuição dos problemas ambientais identificados por 1421

representantes das famílias da Comunidade do Alto do Mandu - Recife 55

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Distribuição das características sociodemográficas dos 1421 participantes da

Comunidade do Alto do Mandu - Recife 54

Tabela 2 – Distribuição de outros problemas ambientais identificados por 1421

representantes das famílias da Comunidade do Alto do Mandu - Recife 56

Tabela 3 – Relações entre faixa etária, escolaridade e tempo de moradia e com os

problemas ambientais de lixo, degradação do solo e doenças provocadas por insetos ou

ratos - Recife 57

Tabela 4 – Relações entre faixa etária, escolaridade e tempo de moradia com problemas

ambientais de falta d’água, de energia e enchentes - Recife 58

Tabela 5 – Relações entre faixa etária, escolaridade e tempo de moradia com problemas

ambientais identificados por 1421 representantes das famílias do Alto do Mandu -

Recife 59

Tabela 6 – Distribuição dos procedimentos adotados por 1421 representantes das

famílias do Alto do Mandu em relação ao descarte de resíduos domésticos - Recife 60

Tabela 7 – Relações de faixa etária, escolaridade e tempo de moradia com condutas e

preocupações em relação ao descarte de resíduos domésticos - Recife 61

Tabela 8 – Distribuição das informações de 1421 representantes das famílias

Comunidade do Alto do Mandu quanto ao reaproveitamento de resíduos domésticos -

Recife 62

Tabela 9 – Distribuição dos motivos de 532 representantes da Comunidade do Alto do

Mandu para não separar o material reciclável no local de moradia - Recife 63

Tabela 10 – Distribuição da avaliação do sistema de coleta de lixo e dos motivos

alegados por 1421 representantes da Comunidade do Alto do Mandu - Recife 63

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Fatores ambientais de risco e doenças relacionadas 39

Quadro 2 – Distribuição dos representantes das famílias, segundo as microáreas

adscritas ao PACS II – junho de 2011 51

LISTA DE FOTOS

Foto 1 – ACS, ASACE e alguns moradores do Alto do Mandu durante uma das oficinas

do RECICLA, na atividade de produção de sabão a partir de óleo de cozinha 70

Foto 2 – Objetos de decoração confeccionados durante uma das oficinas do RECICLA 70

Foto 3 – Detalhe do canal de escoamento de águas pluviais recoberto por moradia 73

Foto 4 – Detalhe de canal de escoamento de águas pluviais entre moradias, repleto de

resíduos sólidos 73

Foto 5 – Canal de escoamento de águas pluviais entre moradias, repleto de resíduos

sólidos e recebendo dejetos das residências 74

Foto 6 – Resíduos domésticos deixados nas calçadas por moradores do Alto do Mandu 75

Foto 7 – Resíduos de construção e demolição deixados por moradores do Alto do

Mandu em terreno baldio 75

Foto 8 – Resíduos domésticos em terreno baldio de uma das avenidas principais do

bairro 76

Foto 9– Aspecto de deslizamento do solo em encosta do Alto do Mandu 77

Foto 10– Solo recoberto por plásticos para proteção do patrimônio 77

Foto 11 – Resultado do deslizamento do solo com destruição de parte de moradia 78

Foto 12 – Rua Mandacaru, uma das principais vias de acesso ao bairro 81

Foto 13 – Rua estreita, impossibilitando passagem de caminhões grandes de coleta de

resíduos 82

Foto 14 – Viela na qual não é possível a coleta de resíduos pela Prefeitura 82

Foto 15 – Catador de materiais recicláveis em meio aos resíduos sólidos em rua estreita

do Alto do Mandu 83

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACE - Agente de Combate às Endemias

ACS - Agente Comunitário de Saúde

ASACE - Agentes de Saúde Ambiental e Combate às Endemias

COMPESA - Companhia Pernambucana de Saneamento e Abastecimento de Água

CRAS - Centro de Referência de Assistência Social

DPOC - Doença pulmonar obstrutiva constritiva

DS – Distrito Sanitário

EMLURB – Empresa Metropolitana de Limpeza Urbana

FNS - Fundação Nacional de Saúde

FUNASA - Fundação Nacional de Saúde

HUOC - Hospital Universitário Oswaldo Cruz

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ONG – Organização Não Governamental

PACS - Programa de Agentes Comunitários de Saúde

PET – Politereftalato de etileno (Garrafa)

PROCAPE - Pronto Socorro Cardiológico de Pernambuco

PSF - Programa de Saúde da Família

RPA - Região Político-Administrativa

SIAB – Sistema de Informação da Atenção Básica

SPSS - Statistical Package for Social Sciences

SUS - Sistema Único de Saúde

ZEIS - Zonas Especiais de Interesse Social

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 16

2 OBJETIVOS 26

2.1 Geral 26

2.2 Específicos 26

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 27

3.1 Os agentes sociais da educação ambiental - Agentes Comunitários de

Saúde, Agentes de Saúde Ambiental e Combate a Endemias e moradores das

comunidades 28

3.2 O problema dos resíduos sólidos e a educação ambiental 33

3.3 Doenças relacionadas à degradação do meio ambiente 35

4 MÉTODOS 42

4.1 Desenho do estudo 42

4.2 Locus da pesquisa 43

4.3 População de estudo 49

4.3.1 Critérios de inclusão 49

4.3.2 Critério de exclusão 49

4.3.3 Composição dos sujeitos da pesquisa 50

4.4 Variáveis do estudo 51

4.5 Instrumento de coleta de dados 52

4.5.1 Procedimento para coleta dos dados 52

4.5.2 Processamento e análise dos dados 53

5 RESULTADOS 54

5.1 Dados obtidos junto aos representantes das famílias da comunidade 54

5.2 Informações obtidas junto aos ACSs e Asaces 64

5.2.1 Respostas relacionadas à aplicação de conhecimentos teóricos 64

5.2.2 Domínio de características da comunidade relativas à preservação do meio

ambiente 65

5.2.3 Percepção da necessidade pessoal de conhecimentos relativos à educação

ambiental 66

6 DISCUSSÃO 68

7 CONCLUSÕES 85

8 RECOMENDAÇÕES 86

9 REFERÊNCIAS 88

10 APÊNDICES 97

10.1 APÊNDICE A - Termo de Consentimento Livre Esclarecido 98

10.2 APÊNDICE B – Protocolo para coleta dos dados 99

10.3 APÊNDICE C – Termo de confidencialidade da Pesquisadora 102

10.4 APÊNDICE D – Termo de confidencialidade do Orientador 103

10.5 APÊNDICE E – Termo de Compromisso da Pesquisadora 104

10.6 APÊNDICE F – Termo de Compromisso do Orientador 105

11 ANEXO 106

11.1 ANEXO A – Carta de Anuência da Diretoria Geral de Gestão do

Trabalho 107

1 INTRODUÇÃO

Através da experiência de quatorze anos trabalhando na saúde pública atuando como

enfermeira do Programa de Agente Comunitário de Saúde (PACS) e Programa de Saúde da

Família (PSF) sendo três anos no município de Garanhuns e 11 anos no município do Recife -

Distrito Sanitário III (DS III), realizando atividade de prevenção e promoção à saúde, por

meio da consulta de enfermagem, de visita domiciliar e de ações educativas individuais e

coletivas nos domicílios e na Comunidade, vivenciou-se que a saúde do indivíduo está

relacionada com a saúde do ambiente, à condição de moradia, saneamento básico,

alimentação, trabalho, lazer e a outros fatores sociais; as doenças detectadas nos adultos e

principalmente nas crianças, como enterro-infecções, doenças respiratórias e dermatológicas,

provêm das condições do ambiente em que se vive, sendo o resíduo sólido um dos agentes

contribuinte para essas enfermidades.

A falta de acondicionamento adequado dos resíduos sólidos gera problema para a

saúde pública. Pela contaminação do solo, do ar, dos mananciais hídricos e dos alimentos,

promove a proliferação de moscas, baratas, mosquitos, roedores e animais peçonhentos

(escorpiões).

A escuta e a leitura dos diálogos dos moradores, relativas à falta de acondicionamento

adequado dos resíduos sólidos, ao desrespeito ao rito de passagem e à associação dos

impactos negativos que os resíduos sólidos acarretam para a saúde, fizeram nascer a

necessidade de investigar a construção cultural dos membros da comunidade, do Agente

Comunitário de Saúde (ACS) e do Agente de Saúde Ambiental e Combate às Endemias

(ASACE) do Alto do Mandu, sobre os resíduos sólidos e suas consequências no meio

ambiente, admitindo que tal construção poderia auxiliar nas ações de educação em saúde e na

mobilização comunitária, visando a melhor qualidade de vida.

Os problemas gerados pelos resíduos sólidos foram se avolumando, nacional e

internacionalmente, de tal sorte que motivaram a Primeira Conferência Mundial sobre

Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, em 1972. A preocupação era preservar e

conservar a natureza por meio do desenvolvimento sustentável, ou seja, que harmonizasse o

desenvolvimento econômico com a proteção ambiental, a qual foi declarada interesse

mundial. A esse ramo do conhecimento aderiram diversos pesquisadores brasileiros, de tal

sorte que, a partir de 1976, foram implantados cursos de pós-graduação em ecologia, bem

17

como disciplinas curriculares sobre saneamento básico, saneamento ambiental e ciências

ambientais nos cursos de engenharia civil (FLORIANO, 2007; SILVA, 2005).

Na medida em que os estudos se multiplicavam e constituíam evidências, os países

passaram a buscar as causas e analisar com maior detalhamento as consequências do

problema dos resíduos sólidos. O Relatório Brundtland, redigido em 1987 durante a 14ª.

Reunião da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada em

Nairobi, ressaltou a incompatibilidade entre os padrões de produção e consumo, o uso

racional dos recursos naturais e a capacidade de suporte dos ecossistemas (BRUNDTLAND,

1987). Suas conclusões fortificaram o movimento dos estudiosos brasileiros, culminando com

a inclusão do Capítulo VI, dedicado ao Meio Ambiente, na Constituição da República

Federativa do Brasil, em 1988 (BRASIL, 1988; FLORIANO, 2007).

No texto constitucional, o Art. nº 225 reza que:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de

uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder

público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e

futuras gerações.

§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público:

I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo

ecológico das espécies e ecossistemas;

II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e

fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;

III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus

componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão

permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a

integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;

IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente

causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de

impacto ambiental, a que se dará publicidade;

V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e

substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio

ambiente;

VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a

conscientização pública para a preservação do meio ambiente (BRASIL, 1988);

Gradualmente houve o aumento da preocupação internacional com o meio ambiente.

O reflexo dessa preocupação no Brasil, em 1979, foi a publicação da Portaria Ministerial nº

18

53, de 01 de março, considerando a inclusão dos resíduos sólidos entre os de controle de

poluição e meio ambiente e a importância do lixo ou resíduos sólidos provenientes de toda a

gama de atividades humanas. Determinava, em seu inciso III, que os resíduos sólidos de

natureza tóxica, inflamável, corrosiva, explosiva, radioativa e outra considerada prejudicial,

deveriam sofrer tratamento ou acondicionamento adequado, no próprio local de produção, e

nas condições estabelecidas pelo órgão estadual de controle da poluição e de preservação

ambiental (BRASIL, 1979).

O conjunto de Leis e Portarias demonstrava respeito aos princípios de

sustentabilidade, preservando o ambiente para as atuais e futuras gerações, e de

responsabilidade ambiental, ao imputar o ônus da recuperação dos impactos e danos

ambientais ao agente causador, mas foi a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981 que

estabeleceu os demais princípios e as competências administrativas, ao dispor sobre a Política

Nacional do Meio Ambiente, tendo por objetivo “a preservação, melhoria e recuperação da

qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao

desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da

dignidade da vida humana” (BRASIL, 1981, p. 16.509).

No que se refere à relação entre resíduos sólidos, lixo e saúde humana, a Política

Nacional do Meio Ambiente contemplou-a, ainda que não utilizando esses termos, no Art. 3º,

ao conceituar poluição:

Art. 3º - Para fins previstos nesta Lei, entende-se por:

III – poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que

direta ou indiretamente:

a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;

b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;

c) afetem desfavoravelmente a biota;

d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;

e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais

estabelecidos (BRASIL, 1981, p. 16,509).;

III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus

componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão

permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a

integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;

IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente

causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de

impacto ambiental, a que se dará publicidade;

19

V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e

substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio

ambiente;

VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a

conscientização pública para a preservação do meio ambiente (BRASIL, 1988);

A criação das cidades e a ampliação das áreas urbanas têm contribuído para o aumento

da geração de resíduos sólidos e, consequentemente, dos impactos ambientais negativos,

incluindo contaminação do solo, do ar e dos mananciais hídricos, além dos riscos à saúde

(ALENCAR, 2005).

Mucelin e Bellini (2006), assim como Ferrara (1999) e Gazzinelli et al. (2001),

enfatizam que, no contexto urbano, as condições apresentadas pelo ambiente refletem, entre

outros fatores, a percepção de seus moradores que estimula e engendra a imagem ambiental,

determinando a formação das crenças e hábitos que conformam o uso do ambiente. A esse

fenômeno denominam percepção ambiental. É por esse motivo que a observação da paisagem

retrata os hábitos edificados temporal e culturalmente, que compõem o mosaico de

possibilidades da cena urbana. Enquanto o observador alheio à comunidade interpreta essa

paisagem como comprometimento da saúde ambiental, o morador local, pela vivência

cotidiana, não reflete sobre esse contexto (FADINI; FADINI, 2001; MUCELIN; BELLINI,

2008).

Mucelin e Bellini (2008) apontam que, apesar de o morador urbano, independente de

classe social, ansiar viver em um ambiente saudável que favoreça as melhores condições de

vida, não percebe que o uso, as crenças e os hábitos têm promovido alterações que

desrespeitam esse anseio, o que aponta para a necessidade premente de uma reforma

ecológica e de educação ambiental.

Capra (2006), ao abordar a construção dos conceitos para consolidar as relações

existentes dentro da natureza, afirma que eles são formados para uma educação que traga

aspectos da natureza como uma organização que dá forma à vida. “A natureza sustenta a vida

ao criar e nutrir as comunidades” (CAPRA, 2006 p.51).

Nesse contexto, é preciso que as pessoas entendam o funcionamento de um sistema

para que possam construir a educação ambiental. Para tanto, precisam perceber as alterações

que contrariam as leis da natureza, mas as percepções são interrompidas pelo

"reconhecimento". Muitas vezes, quando se tenta perceber algo à frente, o processo é

20

interrompido por um "enquadramento" daquilo em relação a alguma coisa que já está

armazenada no atual arcabouço mental. Nesse momento, o processo "neutro" de percepção é

interrompido e a coisa é "rotulada" como algo já conhecido, poupando o trabalho de

desvendar o inédito. Para que esse trabalho de desvendamento possa ter lugar, Capra (2006)

aponta a necessidade de promover mudança do pensamento, do ponto de vista. Para isso,

indica os seguintes parâmetros:

a) entender que os sistemas vivos são formados por partes, as quais compõem um todo.

Significa que o homem, sendo parte da natureza, tem características próprias, mas é

responsável pelo todo, do qual participa;

b) considerar que os sistemas vivos estão em constante interação, interdependente, de forma

que o homem, ao desrespeitar a natureza, quebra o ecossistema e termina por ser

prejudicado;

c) observar o meio ambiente num contexto, ou seja, sair do conhecimento objetivo, que se

fundamenta no pensamento analítico, para o conhecimento contextual, no qual se entende

que cada parte é insuficiente , exigindo que se considere o todo;

d) compreender que nem todas as relações e contextos podem ser medidos; em educação

ambiental deve-se priorizar a qualidade;

e) admitir que os sistemas vivos evoluem com cada troca de informação, de tal forma que

cada componente do sistema vivo é essencial para que o sistema se mantenha flexível a

novas mudanças, mantendo a harmonia;

f) proceder de forma a entender as relações entre os sistemas vivos, para que se identifique o

padrão de comportamento da natureza. Dessa forma, o homem com educação ambiental

fará respeitar esses padrões e contribuirá com a manutenção da natureza, de um ambiente

saudável, harmonioso.

Estes conceitos são evidenciados por Capra (2006), como os mais importantes,

surgidos por meio da observação de centenas de ecossistemas, sustentando, assim, o conceito

da educação ambiental. Esta educação formaliza a inclusão do homem em um sistema vivo e

permite a concretização da sustentabilidade dos sistemas sociais humanos ou sistemas vivos.

Dentre as crenças que desrespeitam a busca de um ambiente saudável está a percepção

leiga de resíduos sólidos serem sinônimo de lixo. A Fundação Nacional de Saúde (BRASIL,

2006a) define resíduos sólidos como materiais heterogêneos (inertes, minerais e orgânicos),

resultantes das atividades humanas e da natureza, que podem ser utilizados de forma

21

consciente, levando em consideração a proteção à saúde e a economia de recursos naturais,

enquanto que o lixo é especificamente resultante das atividades humanas ou do material

considerado imprestável ou irrecuperável pelo usuário (OLIVEIRA; CARVALHO, 2004).

No texto da Política Nacional de Resíduos Sólidos, este conceito está assim

formulado: “resíduos sólidos são materiais, substâncias, objetos ou bens descartados

resultantes de atividades humanas em sociedade, aos quais a destinação final se procede, se

propõe proceder ou se está obrigado a proceder” (BRASIL, 2010a, p. 2).

Significa que, enquanto o lixo não possui qualquer tipo de valor, sendo necessário seu

descarte, o resíduo sólido pode possuir valor econômico agregado, estimulando seu

aproveitamento em um processo produtivo adequado (PONTES; CARDOSO, 2006).

Mandarino (2000, p. 8) pondera que:

[...] resíduo sólido e lixo, embora comumente usados como sinônimo, tanto na

linguagem técnica e legal quanto na coloquial, não significam, necessariamente, a

mesma coisa. Lixo está associado à noção da inutilidade de determinado objeto,

diferentemente de resíduo, que permite pensar em nova utilização, quer como

matéria prima para a produção de outros bens de consumo, quer como composto

orgânico para o solo (MANDARINO, 2000, p. 8).

Os resíduos sólidos “postos fora de casa” deixam de ser percebidos como problema

pelo seu gerador e transformam-se em objeto de responsabilidade de outrem, respeitando

regras próprias do rito de passagem (ALENCAR, 2005), que envolve acondicionamento

adequado, horários estabelecidos para seu recolhimento e a responsabilização das autoridades

constituídas, entendendo o gerador estar incluído apenas na obediência do acondicionamento.

Quando as autoridades não providenciam o recolhimento, o gerador compreende que, em não

estando no ambiente residencial, os resíduos sólidos deixam de ser seu problema. Disso

deriva dispensá-lo em terrenos baldios ou na rua, de acordo com sua conveniência ou

preferência (FADINI; FADINI, 2001; MUCELIN; BELLINI, 2008). Essa conduta promove

alterações ambientais físicas e biológicas ao longo do tempo, as quais modificam a paisagem

e comprometem os ecossistemas em um processo que Fernandez (2004) denomina de

intervenções antropológicas não naturais.

O compromisso com os ecossistemas, acrescido “à expansão da consciência coletiva

com relação ao meio ambiente e à complexidade das atuais demandas ambientais, sociais e

econômicas, induzem a um posicionamento da sociedade em geral” (SILVA, 2005, p. 13),

derivado do curso histórico da busca por ambientes saudáveis.

22

No Brasil, a preocupação com os resíduos sólidos está documentada no texto da Lei nº

2.312, de 3 de setembro de 1954, sobre normas gerais de defesa e proteção da saúde, ao

determinar, em seu Art. 12º, que “a coleta, o transporte e o destino final do lixo deverão

processar-se em condições que não tragam inconveniente à saúde e ao bem estar público, nos

termos da regulamentação a ser baixa” (BRASIL, 1954, p. 15217).

Essa regulamentação foi baixada pelo Decreto nº 49.974-A, de 21 de janeiro de 1961,

sob a denominação de Código Nacional de Saúde, determinando, no Art. 40º que: “A coleta, o

transporte e o destino do lixo, processar-se-ão em condições que não tragam malefícios ou

inconvenientes à saúde, ao bem estar público e à estética” (BRASIL, 1961, p. 761).

O texto constitucional, ao determinar que a educação ambiental deve ser promovida

em todos os níveis de ensino, reconhece que o homem é a síntese de múltiplas determinações

e que a educação é um instrumento de transformação social, cuja proposta é instrumentalizar

sujeitos sociais para uma prática social transformadora. Reconhece, sobretudo, que a

educação ambiental precisa ser entendida como uma atividade formal e informal; deve

promover simultaneamente o desenvolvimento de conhecimentos, atitudes e habilidades

necessárias à preservação e melhoria da qualidade de vida, de maneira articulada com as

crenças e os valores dos resíduos sólidos para os membros da comunidade (FELIX, 2007).

Analisar as causas e as consequências dos resíduos sólidos sobre o meio ambiente não

se mostrava eficaz para alcançar os objetivos de saúde ambiental e assegurar a saúde humana.

Daí decorreu, durante a Conferência das Nações Unidas do Meio Ambiente e

Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em 1992, ter sido ressaltada a necessidade de

aumentar a divulgação da responsabilidade de cada cidadão quanto ao manejo

ambientalmente saudável de resíduos, por meio de condutas que vão além do simples depósito

ou de seu aproveitamento por meios seguros, ou seja, da conscientização direcionada ao

desenvolvimento sustentável (SILVA, 2005). Dentre os princípios da Declaração do Rio

sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, estão: a articulação da saúde humana com o

ambiente e o desenvolvimento, bem como a garantia de uma vida saudável e produtiva em

harmonia com a natureza (BRASIL, 2002a,b,c).

É importante ressaltar que a Política Nacional do Meio Ambiente já admitia tal

responsabilização, no Art. 3º, inciso IV, ao conceituar agente poluidor como “a pessoa física

ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade

causadora de degradação ambiental”, bem como estabelecia, no Art. 14º, a aplicação de

23

penalidades ao dano ambiental, sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação

federal, estadual e municipal (BRASIL, 1981, p. 16.509; DIAS; MORAES FILHO, 2008).

A legislação referente ao meio ambiente e aos resíduos sólidos, até 2008, definia

atribuições e responsabilidades dos gestores federais, estaduais e municipais, bem como dos

consumidores. A responsabilidade dos fabricantes de produtos cuja comercialização gerava

resíduos sólidos sob a forma de embalagens, extinguia-se após a disponibilização no mercado,

ou seja, o texto legal não lhes atribuía responsabilidade pós-consumo. Esse problema se

avolumou com a evolução dos descartáveis, ou seja, de embalagens não reutilizadas no pós-

consumo, que se constituem em problema de saúde pública (DIAS; MORAES FILHO, 2008).

Após tramitação por mais de 20 anos, em 2010, foi promulgada a legislação

disciplinando o manejo de resíduos sólidos no Brasil (FRENTE NACIONAL DE

PREFEITOS, 2011). A Lei nº. 12.305, de 3 de agosto de 2010, instituiu a Política Nacional de

Resíduos Sólidos, integrante da Política Nacional do Meio Ambiente e articulada à Política

Nacional de Educação Ambiental e à Política Federal de Saneamento Básico (BRASIL,

2010a).

Em linhas gerais, a Política Nacional de Resíduos Sólidos contribui para a

sustentabilidade na medida em que:

a) determina o dever de observância a “pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou

privado, responsáveis direta ou indiretamente pela geração de resíduos sólidos e as que

desenvolvam ações relacionadas à gestão integrada ou ao gerenciamento desses resíduos”

(BRASIL, 2010a, p. 2);

b) considera que a responsabilidade pelo ciclo de vida dos produtos deve ser compartilhada,

de forma que fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, consumidores e

titulares de serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos devem

minimizar o volume de resíduos e rejeitos gerados, bem como reduzir os impactos

causados à saúde humana e à qualidade ambiental;

c) dispõe que a gestão e gerenciamento de resíduos sólidos deve obedecer à não geração,

redução, reutilização, reciclagem, tratamento e disposição final ambientalmente adequada

como ordem de prioridade;

d) normatiza as competências federal, estadual e municipal para fixação dos planos de

resíduos sólidos, estabelecendo prazo de quatro anos para que se cumpra esta legislação

na íntegra;

24

e) responsabiliza os geradores de resíduos sólidos pela elaboração do plano de

gerenciamento dos resíduos por eles gerados.

No presente estudo tem-se o interesse em pesquisar a interação socioambiental da

gestão de resíduos sólidos entre os representantes das famílias, ACSs e ASACEs da

comunidade do Alto do Mandu, através da educação ambiental.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos teve sua regulamentação instituída quatro

meses depois de sua promulgação, pelo Decreto nº. 7.404, de 23 de dezembro de 2010, com

ênfase na logística reversa, na coleta seletiva e na educação ambiental (BRASIL, 2010b).

Em relação à logística reversa, o Art. 13º, conceituou-a como “o conjunto de ações,

procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao

setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou

outra destinação final ambientalmente adequada” (BRASIL, 2010b, p. 2). A coleta seletiva foi

regulamentada no Art. 9º e considerada como “instrumento essencial para se atingir a meta de

disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos” (BRASIL, 2010b, p. 2), enquanto que

a educação ambiental foi contemplada no Art. 77º, admitindo ter por objetivo “o

aprimoramento do conhecimento, dos valores, dos comportamentos e do estilo de vida

relacionados com a gestão e o gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos sólidos”

(BRASIL, 2010b, p. 5).

Diferente da construção cultural de resolver o problema dos resíduos sólidos

“tornando invisível ou escondendo o olhar”, como referem Gazzinelli et al. (2001, p. 226),

buscando no modelo econômico predatório para a natureza a explicação da contaminação

ambiental pelo homem, nos espaços urbanos, a educação ambiental exige a mudança da

percepção sobre os resíduos sólidos, a inserção ativa de cada ator social no enfrentamento

dessa problemática, bem como o monitoramento e a fiscalização das decisões dos poderes

públicos, enquanto elementos essenciais do trabalho educativo. Sob essa ótica, a educação

ambiental busca tirar as pessoas do estado de impotência política, mostrando-lhes que os

resíduos sólidos são um problema de todos, o que envolve um tratamento técnico apropriado,

e, sobretudo, um tratamento cultural adequado (GAZZINELLI et al., 2001).

Apesar da evolução da legislação voltada para a problemática dos resíduos sólidos e,

mais especificamente, para resíduos domiciliares, ela não garantirá benefícios ambientais, por

si só. Para que a educação ambiental se faça de forma culturalmente adequada a cada

25

comunidade e gere mudanças comportamentais, é primordial o conhecimento sobre essas

comunidades, quanto aos seus valores, sua cultura e suas crenças relativas ao “lixo”.

A partir da dissertação pretende-se contribuir com a aplicação de medidas aqui

sugeridas na comunidade de aplicação do estudo, produzindo a educação ambiental

juntamente com a educação e saúde para estimular o cuidado e acondicionamento adequado

dos resíduos sólidos, concomitantemente promovendo e preservando a saúde do ambiente e

do homem de colaborando com a qualidade de vida.

26

2 OBJETIVOS

2.1 Geral

Analisar a percepção dos resíduos sólidos por moradores e agentes de saúde da

comunidade do Alto do Mandu.

2.2 Específicos

Caracterizar o gerenciamento dos resíduos sólidos na comunidade Alto do Mandu

– Recife, PE;

Investigar o conhecimento de agentes comunitários de saúde, agentes de saúde

ambiental e controle de endemias e representantes das famílias da comunidade do

Alto do Mandu sobre coleta seletiva e reciclagem de resíduos sólidos;

Identificar a percepção ambiental sobre resíduos sólidos dos representantes das

famílias segundo faixa etária, tempo de moradia e escolaridade.

27

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A temática desta fundamentação teórica é a educação ambiental e suas interrelações

com a coesão social, como forma de despertar do pertencimento, influenciado pelo

empoderamento, ou seja, dos conhecimentos, valores e crenças que permeiam a percepção

ambiental.

O fato de a maior parte da população brasileira viver em cidades tem acarretado

degradação ambiental, de tal monta que, a partir de 1977, por ocasião da Conferência

Intergovernamental sobre Educação Ambiental, realizada na cidade de Tbilisi, Geórgia,

localizada na Região Transcaucasiana (Cáucaso Sul), passou a ser consenso mundial a

necessidade de iniciar um amplo processo para criar as condições de formação de uma nova

consciência sobre o valor da natureza, reorientando a produção do conhecimento baseada na

interdisciplinaridade e nos princípios da complexidade. Iniciava-se a consciência mundial

para educação ambiental e, com ela, o conceito de sustentabilidade socioambiental (JACOBI,

2003).

Os princípios da complexidade ambiental exigem a participação da comunidade, por

meio de diálogo, para compreender os diversos valores e premissas que norteiam as práticas

sociais prevalecentes, facilitando, com isso, a mudança na forma de pensar, a transformação

no conhecimento e as práticas educativas. Jacobi (2003) considera que a realidade atual exige

uma reflexão cada vez mais ampla, menos linear, a partir da escuta de todos os atores sociais

produtores de resíduos sólidos, para que se criem identidades, valores comuns e ações

solidárias para reapropriação da natureza, mudando a lógica do gerenciamento de resíduos.

Jacobi, Tristão e Franco (2009) contextualizam que a sociedade atualmente confronta-

se com uma crise que transcende a esfera ecológica ou material. É uma crise de valores, do

imaginário social e dos pressupostos epistemológicos que sustentaram a modernidade, do que

derivou o padrão de desenvolvimento descontrolado, com dano ilimitado e potencialmente

ameaçador. Disseminou-se a ideia de dominação da natureza e seu uso desordenado, de forma

a comprometer a qualidade de vida dos cidadãos, sem qualquer ação ou responsabilização.

Por esse motivo, a educação ambiental exige que se estimule a participação ativa da sociedade

para que todos os atores sociais identifiquem os problemas, definam objetivos, proponham e

ajam na solução deles (JACOBI, 2001, 2003; SORRENTINO et al., 2005).

28

Nesse contexto, a educação ambiental deve ser entendida como a construção de saber

ambiental, materializado nos valores éticos e nas regras políticas de convívio social e de

mercado. Ela é direcionada à cidadania ativa para conferir o sentido de pertencimento e de

corresponsabilidade, construindo uma cultura na qual natureza e sociedade são dimensões

intrinsecamente relacionadas (CARVALHO, 2008).

Leff (2008) alerta que a educação ambiental é necessariamente transdisciplinar,

porque busca uma base de interações entre o meio físico-biológico e a cultura produzida pelos

membros da sociedade. Cria a racionalidade ambiental como produto da práxis.

Voltando o olhar para cada comunidade, em particular, a educação ambiental exige a

ação do que Bourdieu (1998, p. 10) denominou “mão esquerda do Estado”, ou seja, a reunião

de trabalhadores sociais, educadores, professores, profissionais cujas ações contribuem para a

sustentabilidade, embora sejam ignoradas pela chamada “mão direita do Estado”, composta

pelas áreas de finanças, de planejamento e bancária. Sorrentino et al. (2005), com esse foco,

ponderam que os sujeitos da “mão esquerda” precisam ser motivados e valorizados para que

vençam a imobilização verbalizada como falta de recursos, luta pela biodiversidade,

decorrentes dos paradoxos cronicamente vivenciados, gerados pela “mão direita”. Assim

sendo, a educação ambiental é, sobretudo, um processo de envolvimento e organização de

pessoas e grupos sociais para lutarem pela melhoria da qualidade de vida. O problema dos

resíduos sólidos faz parte dessa melhoria.

Como parte da estratégia do comprometimento da população para com a

sustentabilidade, foram formados educadores ambientais, a quem cabe a participação nas

estratégias de comunicação com função educacional, exercendo o papel de educadores junto

às comunidades, para promoverem ações de sustentabilidade ao mesmo tempo em que

discutem os valores, métodos e objetivos das ações (SORRENTINO et al., 2005).

3.1 Os agentes sociais da educação ambiental - Agentes Comunitários de Saúde,

Agentes de Saúde Ambiental e Combate a Endemias e moradores das

comunidades

O PACS foi formulado como estratégia pelo governo do Ceará, para redução da

mortalidade materna e infantil por meio da educação da população quanto às condutas

preventivas de saúde. O sucesso dessa estratégia foi de tal monta que o Ministério da Saúde,

29

em 1991, o instituiu para todo o território nacional, como “estratégia de implementação do

Sistema Único de Saúde (SUS), que desenvolve atividades relacionadas à prevenção e

educação nessa área, implantadas principalmente em municípios de baixa densidade

populacional” (FILGUEIRAS; SILVA, 2011, p. 900). O PACS traz consigo a figura do

Agente Comunitário de Saúde (ACS), como um “trabalhador incumbido de desenvolver ações

relacionadas ao controle de peso, orientações a grupos específicos de patologias, distribuição

de medicamentos, entre outras” (FILGUEIRAS; SILVA, 2011, p. 900).

A importância do PACS consistiu em ter sido a primeira mudança no modelo

assistencial à saúde, atuando como elo entre a comunidade e os serviços de saúde (BRASIL,

2001). Em decorrência, o ACS passou a ser elemento essencial no sistema de saúde já que, a

partir do acolhimento dos membros da comunidade, atuava como agente facilitador da

identificação e do encaminhamento dos usuários, dando resolutividade às necessidades de

saúde da população (ESPINOLA; COSTA, 2006).

No entender de Viana e Poz (2005), a importância do PACS não residiu apenas em ter

sido considerado estratégia pelo Ministério da Saúde para reorganização do SUS, e,

principalmente, por ter ensejado a articulação entre os níveis estadual e municipal do sistema,

e destes com a comunidade, introduzindo a família como unidade de ação programática de

saúde, e não mais o indivíduo. Daí decorreu o PACS ter impulsionado a formulação do PSF,

em setembro de 1994, direcionado a todas as Unidades da Federação, diferindo do PACS que

atuava no Norte e Nordeste do Brasil.

O PSF, iniciado como programa, para depois ser considerado estratégia, trouxe, como

característica inovadora, a ênfase na reorganização das “unidades básicas de saúde para que se

concentrem nas famílias e comunidades e integrem a assistência médica com a promoção de

saúde e as ações preventivas” (PAIM et al., 2011, p. 22).

O PSF atua por meio de equipes de saúde da família, compostas por um médico, um

enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e quatro a seis agentes comunitários de saúde (PAIM

et al., 2011). É oportuno ressaltar que o ACS, em ambas as estratégias do PSF e do PACS,

deve: “orientar as famílias para a utilização adequada dos serviços de saúde; informar os

demais membros da equipe de saúde acerca da dinâmica social da comunidade, suas

disponibilidades e necessidades” (BRASIL, 1997, p. 18), tomando por base o perfil

socioeconômico e epidemiológico da comunidade, a partir do cadastramento das famílias.

Significa dizer que o ACS teve sua importância ampliada por ser o elemento que circula no

território, colhendo informações atualizadas da situação de saúde dos membros das famílias e,

com isso, fortalecendo o trabalho em saúde (FILGUEIRAS; SILVA, 2011).

30

Apesar de ser reconhecida a essencialidade do trabalho do ACS na assistência à saúde

desde 1991, a profissão só foi criada em 2002, pela Lei nº 10.507, na qual esse ator social da

saúde é caracterizado pelo “exercício de atividades de prevenção, de doenças e promoção da

saúde, mediante ações domiciliares ou comunitárias, individuais ou coletivas, desenvolvidas

em conformidade com as diretrizes do SUS e sob a supervisão local” (BRASIL, 2002d, p. 1).

Concomitantemente com as modificações na assistência à saúde, houve a

descentralização das ações de Epidemiologia e Controle de Doenças, a partir de 1999. Ao

mesmo tempo em que os profissionais vinculados à Fundação Nacional de Saúde,

responsáveis pelo combate às endemias, desde 1994 eram deslocados para os Estados, os

Municípios passaram a treinar pessoas com escolaridade em nível fundamental, para

exercerem essa atividade, contratando-as como Agentes de Combate às Endemias, Agentes de

Controle às Endemias, de Controle Ambiental, de Vigilância Ambiental, de Zoonoses, dentre

outras denominações. Daí decorreu que, entre 1999 e 2006, formou-se uma grande massa de

profissionais, exercendo essa atividade sem reconhecimento legal (BRASIL, 2006b;

CONASS, 2011).

A solução adotada pelo Ministério da Saúde foi, ao sancionar a Lei nº 11.350 de 05 de

outubro de 2006 (BRASIL, 2006c), sob a alegação de regulamentar o aproveitamento de

pessoal amparado pelo parágrafo único do Art. 2º da Emenda Constitucional nº. 51, de 14 de

fevereiro de 2006, afeito aos agentes de combate às endemias da antiga Funasa, revogar a Lei

nº. 10.507, tirando a identificação da profissão do ACS, bem como dispor sobre o exercício

das atividades de ACS e do Agente de Combate às Endemias (ACE) (BRASIL, 2002d).

A Lei atribuiu ao ACE “o exercício de atividades de vigilância, prevenção e controle

de doenças e promoção da saúde, desenvolvidas em conformidades com as Diretrizes do SUS

e sob supervisão do gestor de cada Ente Federado” (BRASIL, 2006a, p. 1).

Explicada a relação entre o PACS, o PSF e a educação ambiental como elemento de

desenvolvimento sustentável, é preciso contemplar o terceiro agente social, alvo da interação

socioambiental da gestão de resíduos, bem como sua percepção ambiental.

O termo percepção deriva do verbete latino perception e refere-se à combinação dos

sentidos para reconhecer um objeto ou um estímulo; pode também significar a faculdade de

conhecer independentemente dos sentidos (MARIN, 2008).

Esse conceito, dada a polissemia da percepção, sofreu modificações especialmente a

partir da década de 1960, com os estudos de neurociências, nos quais demonstrou-se que a

percepção depende das células do sistema nervoso central, estando assim subordinada aos

aspectos fisiológicos (SIEGEL, 2009).

31

A delimitação mais precisa da percepção pelas neurociências deu origem a uma nova

vertente para a percepção ambiental, integrando-a a psicologia ambiental, distinguível dos

campos tradicionais da percepção porque a maioria dos estímulos, provenientes do meio

ambiente, não são passíveis de controle laboratorial, diferindo assim de outros campos da

psicologia (MARIN, 2008).

Na psicologia ambiental, ou seja, no estudo da natureza e das formas de relação do ser

humano com a coletividade e o lugar habitado, influenciada por conhecimentos e discursos

construídos socialmente, a percepção ambiental diz respeito ao comportamento, aos

sentimentos e às ideias a respeito do espaço e do lugar. Ela contém um caráter interpretativo,

fenomenológico da construção social do universo simbólico do indivíduo (MARIN, 2008).

Nesse contexto, os habitantes de um local são, a um só tempo, atores sociais e

construtores de relações sociais, baseadas nessa percepção ambiental, a qual é formada a

partir da contextualização entre a vivência ambiental, os valores, crenças e conhecimentos

locais e os valores pessoais. Daí decorre que a percepção ambiental envolve um universo de

sentidos a partir dos quais são definidos, descobertos e redescobertos modos de viver e de se

relacionar com a natureza no local habitado. A percepção ambiental, assim, deriva da reflexão

de cada morador sobre a realidade vivenciada e os valores aos quais está submetido. Reflete a

inquietação real em busca de ações compatíveis com melhor qualidade de vida (MARIN,

2008).

A contextualização sobre percepção ambiental é pertinente nesta pesquisa porque seu

objetivo é contemplar as dimensões psicoafetivas, culturais e sociais envolvidas na gestão de

resíduos sólidos pelos moradores da comunidade do Alto do Mandu, cuja construção conta

com a ação educativa e informativa dos ACSs e dos Asaces.

O ACS atua nas comunidades como elo entre a comunidade e a Unidade de Saúde

prevenindo doença e promovendo à saúde, o Asace atua na comunidade realizando ações de

vigilância, prevenção e controle de endemias, combatendo os fatores que degradam o meio

ambiente e produzem no homem doença, desenvolvendo das ações para sanear o meio

ambiente, atendendo às demandas por recursos naturais e à saúde ambiental.

Adicionalmente, os moradores podem auxiliar na compreensão de seu empoderamento

ambiental e das formas pelas quais os elos sociais estão sendo construídos para a busca do

desenvolvimento sustentável na comunidade.

Como parte da estratégia do comprometimento da população para com a

sustentabilidade, foram formados educadores ambientais, os Asaces, a quem cabe a

32

participação nas estratégias de comunicação com função educacional, exercendo o papel de

educadores junto às comunidades, para promoverem ações de sustentabilidade ao mesmo

tempo em que discutem os valores, métodos e objetivos das ações (SORRENTINO et al.,

2005).

No entanto o estabelecimento de competências dos Asaces decorreu de marcos legais

promulgados a partir da Conferência Pan-Americana sobre Saúde, Ambiente e

Desenvolvimento, promovida pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), em 1995.

Para cumprir o objetivo da Conferência, que era definir e pactuar a elaboração de planos

regionais de ação para desenvolvimento sustentável, o Brasil publicou o Plano Nacional de

Saúde e Ambiente no Desenvolvimento Sustentável (BRASIL, 1995), no qual admitia a

necessidade de integrar ações:

Promoção do estreitamento das relações entre as áreas de saúde, meio ambiente,

saneamento e recursos hídricos com o Ministério Público, subsidiando ou

favorecendo a atuação deste, por meio das ações civis públicas, destinadas a

prevenir ou a corrigir danos provocados ao ambiente ou à saúde dos trabalhadores e

da população em geral (BRASIL, 1995, p. 41).

Para que essa relação entre saúde e meio ambiente pudesse se efetivar, o Ministério da

Saúde ampliou a competência do controle de endemias da Fundação Nacional de Saúde,

identificada desde 1991 pela sigla FNS, para a vigilância epidemiológica e ambiental em

saúde, pela Portaria nº. 1.299, de 15 de dezembro de 1999, denominando-a ainda Fundação

Nacional de Saúde, mas com a sigla Funasa (BRASIL, 1999; BRASIL, 2002a).

Aprovado seu estatuto, pelo Decreto nº. 3.450, de 9 de maio de 2000, a Funasa, em seu

Regimento Interno, cria a Coordenação Geral de Vigilância Ambiental em Saúde, responsável

pela estruturação dessa área nas secretarias estaduais e municipais de saúde, integrando a

vigilância ambiental ao SUS (BRASIL, 2000). Daí decorreu a necessidade de ampliação das

atribuições do Agente de Combate a Endemias (ACE), já atuante desde a FNS, para exercício

da vigilância estabelecida no Decreto. Em nível municipal, a denominação deste agente passa

a ser Agente de Saúde Ambiental, como ocorreu na Prefeitura do Recife, a partir de 2001

(NELSON, 2003).

No entanto, apesar da atuação dos ACSs e dos ACEs, essas atividades não eram

regidas por Lei, o que ocorreu apenas em 2006, com a Lei nº. 11.350, de 5 de outubro de

2006, regulamentando o exercício dessas atividades exclusivamente no Sistema Único de

Saúde. O ACE passa a ter como atribuição as atividades de vigilância, prevenção e controle

de doenças e promoção da saúde (BRASIL, 2006c).

33

A inserção das atividades dos ACEs estava prevista no SUS, mas não na atenção

primária à saúde, o que ocorreu com a Portaria nº. 1.007, de 4 de maio de 2010, que

regulamentou a incorporação dos ACEs e de agentes que desempenhassem atividades de

saúde ambiental nas equipes de Saúde da Família, devendo receber nova denominação

(BRASIL, 2010c).

Embora os Asaces sejam elementos fundamentais e interlocutores sociais importantes

no processo de diálogo com os membros da comunidade, despertando ou reforçando o

sentimento de corresponsabilidade para com a sustentabilidade e a preocupação ambiental,

sua ação tem como principal obstáculo a restrita consciência da sociedade a respeito das

implicações das atitudes ecologicamente incorretas relativas aos resíduos sólidos, porque

essas atitudes são pautadas em valores e crenças admitidos na comunidade. Esse é o desafio

central que requer transparência, permeando o conhecimento de forma a que ele possa ser

incorporado como mudança de comportamento, capacidade de avaliação e desenvolvimento

de competências harmoniosas dos indivíduos com o meio ambiente (JACOBI, 2003).

3.2 O problema dos resíduos sólidos e a educação ambiental

Associada à educação ambiental, nasceu uma nova concepção de educação em saúde,

voltada não apenas para a prevenção de doenças, mas para o empoderamento dos indivíduos

para definirem os objetivos e lutarem por uma vida com mais saúde, enfoque que desvincula a

saúde do modelo biomédico, hospitalocêntrico, do binômio saúde-doença (OLIVEIRA,

2001). Nessa concepção, educação ambiental e educação em saúde fundem-se sob o mesmo

objetivo – qualidade de vida, criada num processo participativo de corresponsabilidade, como

bem coletivo.

No contexto do bem coletivo, o problema do lixo é de fundamental importância, quer

pelo impacto que exerce sobre o meio ambiente, quer pelo efeito em cadeia com que cada

gerador prejudica a saúde dos demais comunes. Esse entendimento de ambiente, na

transdisciplinaridade, pensado não como sinônimo de natureza, mas como base de interações

entre o meio físico biológico e a cultura local foi construído por diversos pesquisadores,

gerando um diagnóstico global.

34

Em 1992, na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento, os problemas ambientais, as mudanças climáticas registradas em diversos

países, a devastação das florestas, o buraco na camada de ozônio, o extermínio da

biodiversidade, a deterioração da qualidade do ar e o comprometimento dos fluxos de água,

foram atribuídos aos padrões de produção e de consumo, do que derivou a redação de um

documento que expressou a preocupação mundial em relação à deterioração ininterrupta do

meio ambiente e um acordo firmado pelas nações participantes, denominado Agenda 21

(SIQUEIRA; MORAES, 2009).

Fadini e Fadini (2001) ressaltam o Capítulo 21 da Agenda 21, relativo à utilização de

um manejo integrado nas questões relacionadas aos resíduos. O manejo ambientalmente

saudável dos resíduos deve ir além do simples depósito ou aproveitamento, por métodos

seguros, dos resíduos gerados, buscando resolver a causa do problema e procurando mudar

padrões não sustentáveis de consumo. Essa mudança de padrão de consumo, especialmente

nas comunidades de baixa renda, para as quais as opções são escassas, deve estar centrada, em

primeiro lugar, na conscientização de que todos os cidadãos são responsáveis pelo desafio de

gerenciar o resíduo sólido por ele gerados, independente das ações das autoridades

constituídas.

Dentre as soluções propostas estão a reutilização e a reciclagem, ou seja, o

reaproveitamento do lixo. Embora frequentemente as duas palavras sejam usadas como

sinônimos, a reutilização é o reaproveitamento de um resíduo sólido, sem qualquer alteração

física, modificando ou não seu uso original. Assim, reutilizam-se embalagens de vidro que

continham alimentos, para acondicionar objetos diversos; as garrafas de politereftalato de

etileno (PET) para acondicionamento de líquidos são reutilizadas ainda para acondicionar

líquidos. Na reciclagem, o produto inicial é submetido a um processo de transformação,

artesanal ou industrial. Podem ser trituradas, cortadas, de forma a adquirirem outras

finalidades, quer como matéria-prima, quer como produto acabado (ALENCAR, 2005).

Comparadas as duas soluções, a reciclagem é a mais adequada, por razões ecológicas e

econômicas: diminui o acúmulo de detritos na natureza e gera benefício econômico. Apesar

disso, a reciclagem encontra como obstáculo o mesmo desafio a ser vencido na educação

ambiental e na educação em saúde: mitos, crenças e valores construídos na sociedade em

relação ao que denominam “lixo” (ALENCAR, 2005).

Essa contextualização aponta para a necessidade de desenvolvimento de pesquisa, na

qual sejam coletadas estas verdades sociais, para direcionar o trabalho educacional ambiental

35

e em saúde. Essa educação deve possibilitar o que Morin (2003) denominou “reforma do

pensamento”, capaz de criar espaços de convivência congruentes, para que os indivíduos

desenvolvam uma relação de interdependência mútua, adaptativa e de organização

ecossistêmica.

A “reforma do pensamento”, segundo Morin (2003, p. 88-89), consiste em

compreender que “o conhecimento das partes depende do conhecimento do todo e que o

conhecimento do todo depende do conhecimento das partes”; reconhecer e examinar “os

fenômenos multidimensionais, em vez de isolar, de maneira mutiladora, cada uma de suas

dimensões”; reconhecer e tratar realidades concomitantemente solidárias e conflituosas, como

também respeitar a diferença, ao mesmo tempo em que se reconhece a unicidade. Significa

dizer que Morin (2003), referindo-se à “cabeça bem feita”, aponta que qualquer reforma (e a

educação ambiental e em saúde verdadeiramente exigem uma reforma), precisa ser antecedida

pela reformulação do pensamento, pela substituição de um pensamento disjuntivo e redutor,

por outro aglutinante, complexo, que considere todas as partes para tecer a trama do

conhecimento que se deseja.

Admitindo que a educação ambiental e a educação em saúde convergem para o mesmo

macro-objetivo - a qualidade de vida; encontram na cultura local um desafio a ser vencido e

representam processos de construção e reconstrução de valores, parece adequado que ACSs e

Asaces atuem tanto na educação ambiental, quanto na educação em saúde. Talvez essa

interação possa agir como fator facilitador para oportunizar os cidadãos a aprendizagem de

conceitos científicos, habilidades e valores relacionados aos problemas do resíduo urbano,

dentre os quais estão o saneamento ambiental e as doenças relacionadas à degradação do meio

ambiente.

3.3 Doenças relacionadas à degradação do meio ambiente

As doenças relacionadas à degradação do meio ambiente derivam da falta de

saneamento ambiental, definido como:

[...] o conjunto de ações socioeconômicas que têm por objetivo alcançar níveis de

salubridade ambiental, por meio do abastecimento de água potável, coleta e

disposição sanitária de resíduos sólidos, líquidos e gasosos, promoção da disciplina

sanitária do uso do solo, drenagem urbana, controle de doenças transmissíveis e

36

demais serviços e obras especializadas, com a finalidade de proteger e melhorar as

condições de vida urbana e rural (BRASIL, 2006, p. 14).

A definição clássica de saneamento baseia-se na formulação da Organização Mundial

de Saúde (WHO, 1949, p. 5), que o considera como “o controle de todos os fatores do meio

físico do homem, que exercem ou podem exercer efeitos deletérios sobre seu estado de bem-

estar físico, mental ou social”. Observe-se que essa definição de saneamento associa os

aspectos do meio ambiente e da saúde, tomando a conceituação de saúde válida em 1949.

Pesquisa realizada pelo IBGE (2010) ressalta que a falta de saneamento básico é um

dos maiores problemas ambientais e sociais do país. O baixo percentual de tratamento dos

esgotos coletados e lançados em corpos d’água se reflete no alto valor de demanda

bioquímica de oxigênio e baixo índice de qualidade das águas observado nos trechos dos rios

que cortam grandes áreas urbanas, atravessam zonas industrializadas, ou passam por muitas

cidades de médio e grande porte, como os rios Tietê, Velhas, Iguaçu, Capibaribe e Ipojuca.

Adicionalmente, deve-se considerar que o banho de mar é uma das formas mais

difundidas de lazer entre a população brasileira, sustentando a atividade turística no litoral. No

entanto, o contato com águas contaminadas por esgoto pode disseminar doenças entre a

população. Além disso, a poluição de águas costeiras atinge os ambientes estuarinos, como os

manguezais, afetando também a atividade pesqueira, refletindo sobre a saúde da população, a

atividade turística e a pesca marítima (IBGE 2010).

O acesso à água tratada é fundamental para a melhoria das condições de saúde e

higiene. Associado a outras informações ambientais e socioeconômicas, incluindo outros

serviços de saneamento, saúde, educação e renda, é um indicador universal de

desenvolvimento sustentável, que caracteriza a qualidade de vida da população, possibilitando

o acompanhamento das políticas públicas de saneamento básico e ambiental (IBGE 2010).

A poluição no ar nos grandes centros urbanos é um dos grandes problemas ambientais

da atualidade, com implicações graves na saúde da população, em especial de crianças, idosos

e portadores de doenças no aparelho respiratório, como asma e insuficiência respiratória. Sob

este aspecto, enquanto os valores máximos anuais destacam eventos e momentos críticos de

poluição (“poluição aguda”), as médias anuais mostram o estado comum, normal da

atmosfera, evidenciando o que se pode chamar de “poluição crônica”. Por conta disto, os

37

valores críticos do padrão Conselho Nacional do Meio Ambiente para as concentrações

médias anuais são bem menores que aqueles para os valores diários (IBGE 2010).

A concentração de poluentes no ar é o resultado das emissões provenientes de fontes

estacionárias (indústrias, incineradores, etc.) e móveis (veículos automotores) conjugadas a

outros fatores, tais como: clima, geografia, uso do solo, distribuição e tipologia das fontes,

condições de emissão e dispersão local dos poluentes (IBGE 2010).

A relação entre a quantidade de lixo produzido e a quantidade de lixo coletado é de

extrema relevância, fornecendo um indicador que pode ser associado tanto à saúde da

população quanto à proteção do ambiente, pois resíduos não coletados ou dispostos em locais

inadequados favorecem a proliferação de vetores de doenças e podem contaminar o solo e os

corpos d’água. A decomposição da matéria orgânica presente no lixo, por sua vez, origina

gases de efeito estufa.

Dentre as indústrias com maior crescimento mundial, destaca-se a de equipamentos de

eletroeletrônicos, a qual tem representado um problema de saúde pública dada sua rápida

obsolescência, gerando considerável volume de resíduos sólidos, os quais podem afetar

severamente a saúde das pessoas, durante longos períodos, devido à sua alta durabilidade

(GHOUSE et al., 2011).

O processo saúde-doença está relacionado com a maneira como o homem, que é parte

integrante do universo, utiliza os recursos naturais. Quando utiliza de forma ordenada e

racional, o meio ambiente é preservado. Quando utiliza de forma desordenada e irracional,

ocorre a degradação do solo, da água e do ar; deixa o meio ambiente doente e,

consequentemente, fica doente. Desta forma, a promoção da saúde depende do enfoque

ambiental.

A Organização Mundial de Saúde, em 2006, na publicação sob título Preventing

Disease through Healthy Environments (PRÜSS-ÜSTÜN; CORVALÁN, 2006), resumiu

algumas doenças que têm as alterações ambientais como fatores de risco, não restritas aos

resíduos sólidos, as quais respondiam, em 2002, a 9,6% do total de doenças diagnosticadas no

mundo. Adicionalmente, a FUNASA, em 2002, ao definir as normas de saúde ambiental,

ressaltando os fatores ambientais de riscos biológicos, ofereceu diversos exemplos de doenças

passíveis de controle por meio da educação ambiental.

38

No Quadro 1, são apresentados exemplos da íntima relação entre o desequilíbrio

ambiental e as doenças, segundo os fatores de risco e as doenças relacionadas (GHOUSE et

al., 2011; PRÜSS-ÜSTÜN; CORVALÁN, 2006).

39

Quadro 1 – Fatores ambientais de risco e doenças relacionadas

Fator ambiental de risco Doenças relacionadas

Poluição do ar Infecções respiratórias, algumas doenças cardiopulmonares, câncer de

pulmão

Poluição do ar pelo uso de

combustíveis sólidos

Doença pulmonar obstrutiva constritiva (DPOC), infecções

respiratórias baixas e câncer de pulmão

Poluição do ar por partículas

suspensas

Asma, doença pulmonar obstrutiva constritiva (DPOC),

envenenamentos por inseticidas aerossóis

Poluição da água Diarreias, gastrenterites, tracoma, parasitoses intestinais, leptospirose,

cólera, febre tifoide e paratifoide, hepatites virais, meningite

Desmatamento Disseminação de insetos que podem causar malária, doença de

Chagas, leishmaniose

Poluição sonora Surdez

Resíduos sólidos derivados de

equipamentos eletroeletrônicos

Danos ao Sistema Nervoso Central, doenças hematológicas, doenças

renais (devidas à intoxicação por chumbo, oriunda de soldas,

monitores de computador e painéis de vidro)

Malformações fetais (teratogenia), danos neurais (por acúmulo de

cádmio no solo derivados de chips e semicondutores)

Distúrbios respiratórios, alterações de pele e dano cerebral crônico

(devido à ingestão de peixes contaminados por mercúrio, de circuitos

eletrônicos impressos)

Resíduos sólidos de construção

e demolição

Acúmulo de animais peçonhentos (cobras, escorpiões, aranhas)

Acúmulo de roedores (predispondo à leptospirose)

Tétano (pelo ferimento com resíduos ferrosos ou metálicos)

Fonte: Adaptado de Brasil (2002a), Ghouse et al. (2011) e Püss-Üstün e Corvalán (2006)

Ao considerar que a aplicação dos pressupostos de proteção e promoção à saúde, no

contexto da educação ambiental, é necessário que a participação social seja considerada como

a força propulsora, o conhecimento desses prejuízos ambientais à saúde poderá qualificar os

cidadãos para a adoção de comportamentos ambientalmente adequados, independente da

ocorrência prévia de tais prejuízos (KLEBA; WENDAUSEN, 2009).

40

A divulgação desses riscos à população por ACSs e Asaces pode desencadear também

a integração social, entendida como “o processo que permite as pessoas usufruir pelo menos

no nível mínimo de bem estar de acordo com o desenvolvimento alcançado” (OTTONE et al.,

2007, p. 24), bem como a coesão social. Significa dizer que poderá permitir o

desenvolvimento da capacidade das pessoas e de grupos sociais, pautado seu comportamento

por normas coletivas, “construir e preservar redes e laços de confiança, reforçar a ação

coletiva e assentar bases de reciprocidade que se estendam progressivamente ao conjunto da

sociedade” (OTTONE et al., 2007, p. 24).

É oportuno considerar a rede social de uma comunidade, quando o assunto é educação

ambiental e desenvolvimento sustentável, porque ela consiste em elos informais e relações

construídas pelos membros da comunidade a partir das experiências pessoais. A rede social

admite um conjunto de relações e de limitações no qual as escolhas, as orientações, os

comportamentos e as opiniões dos indivíduos dependem de suas interações e orientam as

mudanças, sem que haja necessariamente uma hierarquização. Pelo fato de cada indivíduo ser

um ator social, é a submissão e a vivência das mesmas pressões sociais, dificuldades e

obstáculos que determinam a formação da rede e o movimento dessa comunidade na busca de

melhores condições de vida (MARTELETO, 2001).

O desenvolvimento sustentável e a educação ambiental dependem intrinsecamente da

influência de uma pessoa sobre outra numa comunidade para permitir a adoção de novos

comportamentos adequados em relação ao meio ambiente. Esses comportamentos devem estar

baseados na compreensão do conhecimento e da informação de forma a poder transformar a

realidade vivida (MARTELETO, 2001).

É nesse contexto que se constrói a importância do empoderamento, que fortalece a

coesão social, numa relação recíproca porque o próprio empoderamento é um processo

dinâmico que envolve aspectos cognitivos, afetivos e condutuais. Significa que a coesão

social se faz a partir das redes sociais da comunidade construídas por meio do

empoderamento, das relações interpessoais e institucionais, principalmente quando a

comunidade está submetida a relações de iniquidade, qualidade de vida ruim e discriminação

(KLEBA; WENDAUSEN, 2009; OTTONE et al., 2007; MARTELETO, 2001).

Nesse sentido, a atuação dos ACSs e dos Asaces, ao informarem insistentemente os

membros de uma comunidade, possibilita o empoderamento quando os levam à reflexão e à

percepção das consequências de suas escolhas. No que se refere ao meio ambiente, essas

escolhas relacionam-se aos comportamentos adotados frente ao meio ambiente. Dessa feita,

41

segundo Kleba e Wendausen (2009), é necessário que os atores sociais sejam envolvidos

psicológica, política e organizacionalmente para que possam apoiar o processo de

empoderamento e de pertencimento. É a vivência que a informação, o conhecimento e a

participação permitem que desencadeiam e reforçam o pertencimento (OTTONE et al., 2007).

42

4 MÉTODOS

4.1 Desenho do estudo

Foi realizado um estudo transversal, com abordagem qualiquantitativa, para

contemplar a análise do discurso de representantes das famílias, agentes comunitários de

saúde e de meio ambiente no tocante à educação ambiental ao desenvolvimento sustentável.

Estudos transversais se caracterizam pela avaliação da situação de indivíduos em

relação a uma exposição, em determinado local, ao longo de curto período de tempo. São

úteis para identificar as necessidades de saúde de uma população, especialmente no que se

refere à avaliação de exposição, quando esses estudos se constituem no primeiro passo da

pesquisa (BONITA, BEAGLEHOLE, KJELLSTRÖM, 2006; WALDMAN, 1998).

A opção por estudo qualiquantitativo derivou do tema da presente dissertação. As

questões locais exigiam quantificação para dimensionamento dos problemas, mas a definição

numérica não é suficiente para descrever os fenômenos sociais envolvidos nas questões

ambientais. Daí decorreu a escolha de utilização de método qualitativo, por ser dotado de

validade interna, ainda que tenha pouca validade externa. Dessa forma, a associação do

método qualitativo ao quantitativo pode suprir, pelo menos parcialmente, a validade externa

(CALERO, 2000).

A opção por um estudo qualiquantitativo foi feita dada a priorização da compreensão

como princípio do conhecimento para a construção da realidade, mais do que o isolamento de

variáveis (GÜNTHER, 2006). Em outras palavras, na análise de o discurso dos atores sociais

do Alto do Mandu, buscou-se identificar a historicidade, ou seja, a forma como os indivíduos

construíram sua realidade, no contexto em que viviam, características essas que também

integram o método qualitativo de pesquisa (GÜNTHER, 2006).

Pelo fato de a área da saúde estar intimamente relacionada à área social, a

interpretação da linguagem dos sujeitos permite identificar a determinação social e cultural de

diversos fatores relacionados ao comportamento das pessoas na prevenção e promoção da

saúde. Por esse motivo, a análise de discurso constitui um método de compreensão de

conceitos, construções históricas, mitos e verdades, intervenientes na saúde (MACEDO et al.,

2008).

43

O discurso é polissêmico, do que decorre comportar diversas definições, dentre as

quais estão:

(...) enunciado ou conjunto de enunciados efetivamente falados por um falante;

conjunto de enunciados que constroem um objeto;

conjunto de enunciados em que é possível definir as condições de sua produção;

conjunto de restrições que explicam a produção de um conjunto de enunciados, a

partir de uma posição social ou ideológica específica (IÑIGUEZ, 2005, p. 123).

Essas definições deixam perceber que a análise do discurso não considera apenas os

textos produzidos pelos sujeitos, mas a singularidade de seu contexto, do que decorre

considerar a análise do discurso (MACEDO et al., 2008).

A análise de discurso consiste no método de captar e discutir a significação,

historicidade e a comunicação contidas na fala de um sujeito, especialmente quando é

empregado em temas da saúde. A significação permite analisar o conteúdo teórico, conceitual,

contido na fala ou subentendido nela, no que se denomina intertexto. A comunicação envolve

o contexto social dentro do qual a fala se insere, ou seja, que é vivenciado pelo sujeito falante

e aponta suas intenções e suas motivações. A historicidade envolve a identificação dos

processos históricos a partir dos quais o sujeito construiu a linguagem de seu discurso

(MINAYO; SANCHES, 1993).

Dessa forma, a análise de discurso só pode ser feita a partir de objetivos claros, que

permitam captar, compreender e explicar as três características contidas nos enunciados.

Quando esses enunciados são guiados por perguntas, a análise se torna mais fácil, porque cada

pergunta já contém, em si, um objetivo do qual o analista deve conhecer a historicidade e o

contexto social (MACEDO et al., 2008; MINAYO; SANCHES, 1993).

No presente estudo, optou-se pela análise de discurso dos ACS e dos ACASE em

virtude do tempo de trabalho que se tem na Unidade de Saúde da Família, presenciando a

construção histórica da comunidade Alto do Mandu, bem como a construção social dos ACSs

e dos Asaces.

4.2 Locus da pesquisa

O estudo foi realizado na Comunidade do bairro do Alto do Mandu, localizado no

município do Recife, capital do estado de Pernambuco, Brasil (Figura 1).

44

Figura 1 – Localização geográfica do Alto do Mandu, em Recife, Pernambuco, Brasil

Legenda: Áreas grafadas na cor vermelha – A: Estado de Pernambuco; B: Cidade do Recife; C: Alto do Mandu

na RPA 3, D: Bairros limítrofes do Alto do Mandu. Escala: 1:4.000

Fonte: Google Earth (2010)

Em relação à distribuição político-administrativa, o bairro integra a Região Político-

Administrativa 3 (RPA), na microrregião 3.1, do Distrito Sanitário III do Recife, o qual

limita-se com os Distritos I, II, IV e com o Município de Camaragibe, sendo o maior em

região. O DS III está composto por 29 bairros de características diferentes. Tem a maior

45

concentração de renda no bairro da Jaqueira, contrastando com os demais bairros

(PREFEITURA DO RECIFE, 2005) (Figura 2).

O bairro Alto do Mandu situa-se em ambiente de morros, limitando-se com os bairros:

Macaxeira, ao norte; Monteiro, ao sul; Alto de Santa Isabel e Casa Amarela, a leste e

Apipucos, a oeste (Figura 2).

Figura 2 – Localização geográfica da RPA-3 e limites do bairro Alto do Mandu

No ano de 2010, o bairro era constituído por uma área de 28,3 km², com densidade

demográfica de 164,48 hab/km², com população total de 4.655 habitantes, distribuídos em

1.446 domicílios (IBGE, 2010).

Na Figura 3, observa-se a delimitação da área adscrita ao PACS II, sediada na

Unidade de Saúde Básica Joaquim da Costa Carvalho, na Comunidade do Alto do Mandu e na

Figura 4, o detalhamento da localização das ruas onde foram fotografadas imagens que

compõem esse trabalho.

46

Figura 3 – Mapa do zoneamento da área adscrita à Unidade de Saúde Básica Joaquim da Costa Carvalho

Fonte: Prefeitura do Recife (2005)

Figura 4 – Detalhamento da localização das ruas do bairro Alto do Mandu onde as imagens foram captadas

A delimitação da área adscrita ao PACS não coincide com o zoneamento do bairro

Alto do Mandu, preconizado pelo IBGE. A região de Monteiro é atendida pelo PACS e,

portanto, considerada como Alto do Mandu. Assim também, a região ao norte do Açude de

Apipucos, zoneada pelo IBGE como bairro de Casa Amarela, compõe a área do Alto do

Mandu.

O bairro Alto do Mandu é o epônimo do apelido de Manoel do Rêgo Barros (Mandu),

proprietário de uma larga faixa de terra na região, que doou, em 1920, parte dessas terras aos

moradores locais, que eram operários da Fábrica de Tecidos Othon Bezerra de Mello,

conhecida como Fábrica da Macaxeira, nome do bairro em que se localizava. Até 1988,

integrava o bairro de Casa Amarela, quando foi elevado à condição de bairro, pelo Decreto

Municipal nº. 14.452 (PREFEITURA DO RECIFE, 1988).

Geograficamente, caracteriza-se pela mistura de planícies e pequenos morros, nos

quais se distribuem casas de moradia, nove escolas, das quais duas com nível administrativo

estadual, uma municipal e seis particulares. Há também fábrica de materiais de limpeza, casas

de eventos de luxo, instituições religiosas, estabelecimentos comerciais (padarias,

madeireiras, armazéns de construção, salões de beleza, postos de gasolina, dentre outros),

estação elevatória de água da Companhia Pernambucana de Saneamento e Abastecimento de

Água (COMPESA), um Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) da Prefeitura do

Recife e uma Unidade Básica de Saúde (SIAB, 2011).

Em 2000, contava com 10,8% da população iletrada e apresentava média de 6,6 anos

de estudo. Quanto à renda do responsável pelo domicílio, considerando o salário mínimo

igual a R$ 151,00, em 2000, a renda per capita média era de R$ 462,00; 36,3% da população

recebiam até um salário mínimo e 26,7% moravam em áreas de baixa renda. Quanto aos

serviços básicos, 99,9% dos domicílios dispunham de coleta de lixo e 96,0%, de água

encanada (PREFEITURA DO RECIFE, 2005).

Segundo dados da Prefeitura do Recife, em 2005, o bairro Alto do Mandu estava

composto por duas Zonas Especiais de Interesse Social (Zeis), ou seja, regiões nas quais a

ocupação do solo se deu de forma desordenada por população de baixa renda, estando a exigir

a aplicação de regras especiais de uso, para salvaguardar o direito à moradia, previsto no Art.

nº 6 da Constituição Federal da República Federativa do Brasil (BRASIL, 1988; DIAS, 2008).

O bairro contém a Zona Vila da São João, formada pela comunidade de mesmo nome, e a

49

Zeis Alto do Mandu/Alto Santa Izabel, integrada pelas comunidades Alto do Mandu e Outeiro

(PREFEITURA DO RECIFE, 2005).

No Sistema de Saúde da Prefeitura do Recife, o bairro Alto do Mandu pertence à área

adscrita do Distrito Sanitário 3, e, mais especificamente, do PACS II, dentre os seis PACS

que integram esse Distrito Sanitário (PREFEITURA DO RECIFE, 2005/2007)

4.3 População de estudo

A população esteve composta por 11 ACSs, cinco Asaces e um representante de cada

uma das 1521 famílias moradoras na área do Alto do Mandu, à época da coleta de dados,

incluído na pesquisa quando obedecia aos critérios de inclusão. É oportuno ressaltar que esse

total de famílias é altamente variável, devido ao fluxo natural de moradores no bairro.

4.3.1 Critérios de inclusão

Foram incluídos na pesquisa os Agentes de Saúde ou Agentes de Saúde Ambiental e

Combate às Endemias em exercício à época da coleta de dados, e os representantes das

famílias da comunidade do Alto do Mandu, com idade igual ou maior que 21 anos, presentes

em suas residências quando de qualquer visita realizada pelos ACS entre maio e dezembro de

2011, após terem concordado em participar da pesquisa pela assinatura do Termo de

Consentimento Livre Esclarecido (Apêndice A), conforme Resolução 196/96 do Conselho

Nacional de Saúde (BRASIL, 1996).

4.3.2 Critério de exclusão

Para reduzir o viés de informação das variáveis estudadas, foram excluídos os

indivíduos que, respeitados os critérios de inclusão, residiam no Alto do Mandu há menos de

30 dias ou que não se encontravam em suas residências quando das visitas do ACS.

50

4.3.3 Composição dos sujeitos da pesquisa

Pelo fato de todos os ACSs terem concordado em participar da pesquisa, respondendo

ao questionário, bem como auxiliando na coleta dos dados junto aos representantes das

famílias nas microáreas da comunidade do Alto do Mandu sob sua responsabilidade, admitiu-

se trabalhar com a população de famílias, possibilitando maior completude de informações

relativas às representações e ao imaginário sobre os resíduos sólidos.

Foram sujeitos da pesquisa, 11 ACSs (100,0% do total da categoria), um dos cinco

(20,0%) Asaces e 1421 representantes das famílias, distribuídos segundo o local de moradia

nas microáreas de responsabilidade de cada ACS, conforme demonstrado na Figura 3.

Figura 5 – Mapa do zoneamento da área adscrita à Unidade de Saúde Básica Joaquim da Costa Carvalho,

segundo microáreas do PACS II

Fonte: Prefeitura do Recife (2005) Legenda: A – 14ª microárea; B – 3ª microárea, C – 2ª microárea, D – 6ª microárea, E – 7ª microárea, F – 10ª microárea, G – 9ª microárea, H – 4ª

microárea, I – 5ª microárea, J – 13ª microárea, K – 11ª microárea, L –

microáreas descobertas

No Quadro 2, está detalhada a distribuição dos representantes das famílias, que

participaram da pesquisa. Observa-se que, em quatro microáreas (36,4%), houve cobertura

de 100% das famílias e em sete microáreas houve exclusão de participantes, variando de um

a 32 representantes. O total de exclusões representou 6,57% do total de famílias da área.

51

Estas exclusões ocorreram pelo fato de os representantes estarem em horário de trabalho

quando das visitas do ACS.

Quadro 2 – Distribuição dos representantes das famílias, segundo as microáreas adscritas ao PACS II –

junho de 2011

MICROÁREAS

TOTAL DE

REPRESENTANTES

DAS FAMÍLIAS

TOTAL

AMOSTRAL

PERCENTUAL DOS

REPRESENTANTES DAS

FAMÍLIAS

PERDAS NA

COLETA

2ª 151 142 94,04 9

3ª 119 119 100,00 0

4ª 152 152 100,00 0

5ª 140 130 92,86 10

6ª 150 118 78,67 32

7ª 125 118 94,40 7

9ª 150 132 88,00 18

10ª 133 110 82,71 23

11ª 103 103 100,00 0

13ª 155 154 99,35 1

14ª 143 143 100,00 0

Totais 1521 1421 93,43 100

Fonte: Sistema de Informação da Atenção Básica (BRASIL, 2011)

4.4 Variáveis do estudo

As variáveis foram classificadas em dois grupos. No primeiro grupo, estão as variáveis

de caracterização amostral, relativas a: sexo, estado civil, faixa etária, escolaridade e tempo de

moradia no bairro. O segundo grupo foi constituído pelas variáveis relacionadas ao

conhecimento dos atores envolvidos na comunidade acerca do meio ambiente, resíduos

sólidos, educação ambiental e educação em saúde, genericamente denominadas variáveis de

interesse.

As variáveis de interesse foram: a) aspectos relacionados ao gerenciamento de

resíduos sólidos (conceitos de lixo, resíduos sólidos, reciclagem, coleta seletiva e sugestões de

temas a serem incluídos em programa local de educação ambiental), voltados para os ACSs e

Asaces; b) identificação de problemas ambientais relacionados aos resíduos sólidos, no local

de estudo (impactos negativos da ação do homem no ambiente, responsabilidade pela

manutenção da qualidade do meio ambiente, destino dos resíduos sólidos e reciclagem),

destinada a todos os indivíduos incluídos na pesquisa.

52

4.5 Instrumento de coleta de dados

O instrumento de coleta de dados foi um questionário (Apêndice B), composto por

questões abertas e fechadas, dividido em duas partes, que diferiam quanto aos conhecimentos

investigados. A primeira parte foi destinada a todos os indivíduos da pesquisa, incluindo

representantes das famílias do Alto do Mandu, buscando identificar as representações e o

imaginário sobre o lixo, e a segunda parte foi aplicada exclusivamente aos ACSs e Asaces,

composta por questões relativas a conhecimentos específicos, que foram abordados em

treinamentos ou palestras promovidas na Unidade de Saúde para esses agentes.

4.5.1 Procedimento para coleta dos dados

O estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo

Seres Humanos do Hospital Universitário Oswaldo Cruz/Pronto Socorro Cardiológico de

Pernambuco (HUOC/Procape) (Anexo A), após assinatura do Termo de Confidencialidade

pela pesquisadora (Apêndice C) e por seu orientador (Apêndice D). Assim também foram

entregues na Diretoria Geral de Gestão do Trabalho da Prefeitura do Recife o Termo de

Compromisso da pesquisadora (Apêndice E) e do orientador (Apêndice F), para que houvesse

a anuência da Prefeitura do Recife para proceder à pesquisa na área adscrita à Unidade Básica

de Saúde (Anexo B).

Após aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos, para

coleta das informações do estudo, a pesquisadora reuniu-se com os ACSs e os Asaces e os

convidou a participar da pesquisa, fornecendo informações sobre resíduos sólidos. Os 11

(100,0%) ACSs e um (20%) dentre os cinco Asaces concordaram responder ao questionário

investigatório.

A todos os ACSs foi ministrado treinamento pela pesquisadora, tendo então início a

coleta dos dados. Os ACSs foram ao local de coleta e fizeram o convite de participação ao

adulto presente na moradia, aqui denominado representante da família ou morador voluntário,

explicando-lhe os objetivos da pesquisa.

Os entrevistados assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice

A), em cumprimento aos aspectos éticos da Resolução n°. 196 de 10/10/1996 do Conselho

53

Nacional de Saúde e da Convenção de Helsinki (2008), que determinam diretrizes e normas

reguladoras da pesquisa envolvendo seres humanos (BRASIL, 1996). Cumprida essa

exigência, foram colhidas as informações, empregando a primeira parte do questionário. Para

os representantes iletrados, o ACS responsável pela coleta fez a leitura dos itens do

questionário, anotando a resposta do morador, sem exercer influência sobre sua decisão.

Para os ACSs e Asaces, a aplicação do instrumento de coleta de dados foi individual

e cada sujeito respondeu às perguntas, anotando as respostas nas duas partes do questionário.

4.5.2 Processamento e análise dos dados

Após a coleta dos dados, as informações foram codificadas e digitadas em planilha do

programa Excel. Em seguida, os dados em escala nominal ou ordinal, obtidos junto aos

representantes das famílias da comunidade, foram convertidos em distribuição de

frequências absolutas e relativas empregando o programa Statistical Package for Social

Sciences (SPSS), na versão 17.0. Os dados relativos a idade e tempo de moradia foram

resumidos como média e desvio-padrão, pelo mesmo programa estatístico.

As relações entre variáveis sociodemográficas e problemas ambientais foram

calculadas empregando o teste de Mann-Whitney, para variáveis quantitativas, e os testes de

Qui quadrado e de Kruskal-Wallys, para variáveis qualitativas. O nível de significância de

todos os testes foi de 0,05, para rejeição da hipótese nula de igualdade.

Para análise das respostas dos profissionais (ACS e Asace), consideraram-se os

conceitos atinentes à educação ambiental e sustentabilidade, julgando-as adequadas, quando

concordes com esses conceitos, ou inadequadas, caso contrário. Para respostas em escala

ordinal ou nominal também foi utilizada a comparação entre representantes das famílias e

profissionais.

54

5 RESULTADOS

5.1 Dados obtidos junto aos representantes das famílias da comunidade

Dentre os pesquisados, houve predomínio do sexo feminino (1097; 77,2%) sobre o

masculino (324; 22,8%). Identificou-se também maior frequência de situação conjugal casado

ou em união estável (717; 50,4%), da faixa etária de 36 a 50 anos (525; 37,0%) e de

escolaridade até o nível fundamental (662; 46,6%), conforme apresentado na Tabela 1. Em

todas as informações sociodemográficas, no máximo de 0,8% dos representantes das famílias

optou por omitir a resposta, exceção feita ao sexo.

Tabela 1 – Distribuição das características sociodemográficas dos 1421 participantes da Comunidade do

Alto do Mandu - Recife

Variáveis sociodemográficas Frequência Percentual

Sexo

feminino 1097 77,2

masculino 324 22,8

Estado civil

Casado ou união estável 717 50,4

Solteiro 485 34,1

Viúvo 150 10,6

Divorciado 58 4,1

Não informado 11 0,8

Faixa etária

20 a 35 429 30,2

36 a 50 525 37,0

51 ou mais 461 32,4

Não informada 6 0,4

Escolaridade

Iletrados 32 2,3

Nível fundamental 662 46,6

Nível médio 661 46,5

Nível superior 54 3,8

Não informada 12 0,8

Questionados quanto aos problemas ambientais da comunidade, 37 (2,6%)

representantes declararam não identificar quaisquer problemas ambientais, diferindo de 1384

(97,4%) outros, que apontaram um ou mais problemas.

Dentre os problemas mais frequentemente citados estiveram o lixo (683; 49,4%), a

falta d’água (602; 43,5%), a degradação do solo representado por assoreamento (424; 30,6%)

e doenças provocadas por insetos ou ratos (403; 29,1%).

55

Apesar de 336 (78,7%) representantes não detalharem outros problemas ambientais,

201 (20,4%) deles optaram por verbalizar. Dentre os detalhamentos, estiveram: presença de

“lixo” em ruas e canais (15; 3,5%), incluindo restos de construção ou demolição (entulho),

sacos plásticos abertos contendo “lixo”, além de dejetos de animais de estimação nas ruas (15;

3,5%). Cumpre ressaltar que a denominação “lixo” foi usada pelos representantes

indistintamente com o significado de resíduos aproveitáveis e não aproveitáveis (Gráfico 1 e

Tabela 2).

Foram citados também, mais raramente, ausência ou imperfeições do saneamento

básico (14; 3,3%) consistindo em esgoto a céu aberto ou entupido, falta de cobertura nas

canaletas, bem como infestação por escorpiões (9; 2,1%), ratos (9; 2,1%) e insetos (8; 1,9%)

(Tabela 2).

Questionados sobre a referência de ocorrência de enchentes (61; 4,4%), os

representantes das famílias explicaram que, apesar de a maior parte das microáreas estar

localizada em terreno de morro, na 14ª microárea, região de baixio em relação aos terrenos

circunvizinhos, havia acumulação da água da chuva por vazão insuficiente da galeria de

águas. Esse acúmulo das águas pluviais (denominado de enchente pelos moradores) foi

atribuído, pelo menos em parte, à presença de resíduos sólidos nas galerias e nos bueiros

(Gráfico 1).

Gráfico 1 - Distribuição dos problemas ambientais identificados por 1421 representantes das famílias da

Comunidade do Alto do Mandu - Recife

2,6

97,4

49,4

43,5

29,1

30,6

4,4

3,1

1,5

1,3

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Ausência de problemas ambientais

Presença de problemas ambientais

Lixo

Falta d’água

Doenças provocadas por insetos ou ratos

Degradação do solo

Enchentes

Falta de energia elétrica

Deslizamento de barreira

Queimadas

56

Tabela 2 – Distribuição de outros problemas ambientais identificados por 1421 representantes das

famílias da Comunidade do Alto do Mandu - Recife

Problemas ambientais identificados pelos representantes das famílias Frequência Percentual

Outros problemas ambientais1 427 30,8

Sem discriminação2 336 78,7

Presença de “lixo” nas ruas e nos canais2 15 3,5

Descontinuidade do fornecimento de água 2 11 2,6

Dejetos de cachorro na rua2 15 3,5

Ausência ou imperfeições no saneamento básico2 14 3,3

Infestação por escorpiões2 9 2,1

Infestação por outros insetos2 8 1,9

Infestação por ratos2 9 2,1

Imperfeições na pavimentação e iluminação de ruas e calçadas 6 1,4

Falta de segurança (violência e tráfico de drogas) 2 3 0,7

Queimada2 1 0,2

Notas: 1 – Percentuais calculados sobre o total de presença de problemas ambientais 2 – Percentuais calculados sobre o total de outros problemas ambientais

A influência das variáveis sociodemográficas relativas a faixa etária, escolaridade e

tempo de moradia sobre a identificação de problemas ambientais pelos representantes das

famílias está apresentada nas Tabelas 3, 4 e 5.

Na Tabela 3, verifica-se que os problemas ambientais de doenças provocadas por

insetos ou ratos e a degradação do solo foram informados por moradores com idade igual ou

maior que 50 anos. Essas associações alcançaram significância estatística e não foram

influenciadas pela escolaridade. Os maiores percentuais de indivíduos nos níveis fundamental

e médio apenas refletiram a característica amostral e não se relacionaram à identificação de

problemas ambientais.

No entanto o tempo de moradia interferiu na identificação dos problemas ambientais

citados. As doenças provocadas por insetos ou ratos e a degradação do solo foram

classificadas como problemas ambientais por moradores mais velhos com maior tempo de

moradia (Tabela 3).

57

Tabela 3 – Relações entre faixa etária, escolaridade e tempo de moradia e com os problemas ambientais de

lixo, degradação do solo e doenças provocadas por insetos ou ratos - Recife

Variáveis

sociodemográficas

Problemas ambientais

Lix

o

Deg

radaç

ão d

o

solo

Doen

ças

pro

voca

das

por

inse

tos

ou r

atos

sim não sim não sim não

Faixa etária (anos)* 680 735 420 995 399 1016

21 a 35 221 (32,5) 208 (28,3) 117 (27,9) 312 (31,4) 95 (23,8) 334 (32,9)

36 a 49 258 (37,9) 267 (36,3) 135 (32,1) 390 (39,2) 136 (34,1) 389 (38,3)

50 ou mais 201 (29,6) 260 (35,4) 168 (40,0) 293 (29,4) 168 (42,1) 293 (28,8)

Valor de p 0,051 0,002 <0,001

Escolaridade† 676 733 414 995 398 1011

iletrados 10 (1,5) 22 (3,0) 12 (2,9) 20 (2,0) 10 (2,5) 22 (2,2)

fundamental 323 (47,8) 339 (46,2) 205 (49,5) 457 (45,9) 173 (43,5) 489 (48,4)

médio 318 (47,0) 343 (46,8) 188 (45,4) 473 (47,6) 203 (51,0) 458 (45,3)

superior 25 (3,7) 29 (4,0) 9 (2,2) 45 (4,5) 12 (3,0) 42 (4,2)

Valor de p 0,281 0,284 0,208

Tempo de moradia‡

Média (meses) 311,0 298,3 342,2 288,2 339,0 290,8

desvio-padrão 214,7 227,4 224,4 218,4 224,6 218,8

Valor de p 0,282 <0,001 <0,001

Notas: * - 6 (0,4%) pessoas não informaram a idade; † - 12 (0,8%) pessoas omitiram a escolaridade;

‡ - 10

(0,7%) pessoas não informaram tempo o de moradia

Na Tabela 4 estão apresentadas as frequências de referência de falta d’água, enchentes

e falta de energia como problemas ambientais. Observe-se que essas três informações foram

fornecidas por sujeitos com menor tempo de moradia no Alto do Mandu.

Em relação à faixa etária, observou-se que a falta d’água e a falta de energia elétrica

mais frequentemente foram referidas por moradores com faixa etária entre 36 e 49 anos, mas

apenas para a falta d’água comprovou-se interferência significante da idade e do menor tempo

de moradia (Tabela 4).

58

Tabela 4 – Relações entre faixa etária, escolaridade e tempo de moradia com problemas ambientais de

falta d’água, de energia e enchentes - Recife

Variáveis sociodemográficas

Problemas ambientais

Fal

ta d

’água

Ench

ente

Fal

ta d

e

ener

gia

elét

rica

sim não sim não sim não

Faixa etária (anos)* 602 813 59 1356 43 1372

20 a 35 190 (31,6) 239 (29,4) 18 (30,5) 411 (30,3) 14 (32,6) 415 (30,2)

36 a 49 239 (39,7) 286 (35,2) 19 (32,2) 506 (37,3) 18 (41,9) 507 (37,0)

50 ou mais 173 (28,7) 288 (35,4) 22 (37,3) 439 (32,4) 11 (25,6) 450 (32,8)

Valor de p 0,027 0,664 0,603

Escolaridade† 597 812 60 1349 43 1366

iletrados 8 (1,3) 24 (3,0) 4 (6,7) 28 (2,1) 1 (2,3) 31 (2,3)

fundamental 296 (49,6) 366 (45,1) 26 (43,3) 636 (47,1) 21 (48,8) 641 (46,9)

médio 267 (44,7) 394 (48,5) 29 (48,3) 632 (46,8) 20 (46,5) 641 (46,9)

superior 26 (4,4) 28 (3,4) 1 (1,7) 53 (3,9) 1 (2,3) 53 (3,9)

Valor de p 0,065 0,098 0,961

Tempo de moradia‡

Média (meses) 286,9 317,2 257,9 306,4 212,6 307,2

desvio-padrão 214,6 225,6 200,9 222,1 210,2 221,2

Valor de p 0,011 0,094 0,006

Notas: * - 6 (0,4%) pessoas não informaram a idade; † - 12 (0,8%) pessoas omitiram a escolaridade;

‡ - 10 (0,7%)

pessoas não informaram tempo de moradia

O deslizamento de barreira e as queimadas também foram referidos como problemas

ambientais por alguns membros do Alto do Mandu, mas essas informações não apresentaram

diferenças no tocante à faixa etária, escolaridade ou tempo de moradia na comunidade,

conforme se pode constatar na Tabela 5.

59

Tabela 5 – Relações entre faixa etária, escolaridade e tempo de moradia com problemas ambientais

identificados por 1421 representantes das famílias do Alto do Mandu - Recife

Variáveis sociodemográficas

Problemas ambientais

Des

liza

men

to

de

bar

reir

a

Quei

mad

as

sim não sim não

Faixa etária (anos)* 21 1394 18 1397

20 a 35 4 (19,0) 425 (30,5) 4 (22,2) 425 (30,4)

36 a 49 9 (42,9) 516 (37,0) 5 (27,8) 520 (37,2)

50 ou mais 8 (38,1) 453 (32,5) 9 (50,0) 452 (32,4)

Valor de p 0,527 0,284

Escolaridade† 21 1388 18 1391

iletrados 1 (4,8) 31 (2,2) 1 (5,6) 31 (2,2)

fundamental 9 (42,9) 653 (47,0) 8 (44,4) 654 (47,0)

médio 10 (47,6) 651 (46,9) 9 (50,0) 652 (46,9)

superior 1 (4,8) 53 (3,8) - 54 (3,9)

Valor de p 0,871 0,653

Tempo de moradia‡

Média (meses) 341,0 303,8 335,1 304,0

desvio-padrão 196,3 221,8 232,9 221,3

Valor de p 0,445 0,554

Notas: * - 6 (0,4%) pessoas não informaram a idade; † - 12 (0,8%) pessoas omitiram a escolaridade;

‡ - 10 (0,7%)

pessoas não informaram o tempo de moradia

Para investigar hábitos que denotassem consciência ambiental, os representantes foram

questionados quanto a desprezar os resíduos gerados em suas moradias nas lixeiras, conduta

adotada quando da ausência de lixeiras apropriadas e preocupação com relação a resíduos

deixados fora do local adequado (Tabela 6).

Ao agrupar as respostas, identificaram-se duas condutas, uma com discriminação do

destino dado aos resíduos e outra relacionada apenas ao acondicionamento dos resíduos.

Dentre os 148 (10,4%) representantes que informaram a conduta adotada, foi mais frequente

deixar em casa, em saco plástico amarrado ou não, aguardando que o gari fizesse a coleta (67;

45,3%), ou colocar em depósito, coletor ou lixeira mais distante da residência (67; 45,3%).

Um (0,7%) representante informou queimar os resíduos produzidos em sua residência.

Dentre os representantes que apenas informaram o acondicionamento dos resíduos,

987 (87,5%) usavam saco plástico; 43 (3,8%) afirmaram jogar os resíduos no chão, nas

60

calçadas ou na rua e 95 (8,4%) declararam preferir omitir a informação. A maioria dos

representantes expressou preocupação quanto aos resíduos deixados fora das lixeiras por

outras pessoas (1329; 93,5%), ao passo que 74 (5,2%) afirmaram não ter essa preocupação

(Tabela 6).

Tabela 6 – Distribuição dos procedimentos adotados por 1421 representantes das famílias do Alto do

Mandu em relação ao descarte de resíduos domésticos - Recife

Condutas adotadas em relação ao descarte de resíduos domésticos Frequência Percentual

Descarte de resíduos domiciliares nas lixeiras da Prefeitura

Não 22 1,6

Sim 1382 97,2

Não informaram 17 1,2

Descarte dos resíduos na ausência de lixeira de Prefeitura

Informa o acondicionamento e o destino dos resíduos 148 10,4

Deixa em casa ou coloca em saco plástico, amarra e aguarda coleta 67 45,3

Coloca em depósito, coletor ou lixeira 67 45,3

Coloca em um recipiente (balde, cesto) 13 8,7

Queima 1 0,7

Informa apenas o acondicionamento dos resíduos 1128 79,4

Coloca em saco plástico 987 87,5

Coloca ou joga no chão, em calçadas ou na rua 43 3,8

“Fica na mão” 3 0,3

Não informa como procede 95 8,4

Preocupação com resíduos deixados fora das lixeiras por outras pessoas

Não 74 5,2

Sim 1329 93,5

Não responderam 18 1,3

A interferência das variáveis sociodemográficas relativas a faixa etária, escolaridade

e tempo de moradia sobre os problemas desencadeados pelos procedimentos adotados na

comunidade para descarte de resíduos domésticos, está apresentada na Tabela 7. Identificou-

se que, dentre os representantes na faixa etária de 20 a 35 anos, predominou considerar

adequado o descarte de resíduos sólidos na comunidade, diferindo significantemente dos

representantes com 36 a 49 anos. Analogamente, os representantes com menor tempo de

moradia na comunidade manifestaram a mesma opinião, que alcançou significância estatística

em relação àqueles com maior tempo de moradia.

Em relação à preocupação com o lixo deixado fora da lixeira por outra pessoa, não se

constataram diferenças significantes com as variáveis sociodemográficas, embora os

representantes com nível de escolaridade médio mais frequentemente tenham manifestado não

se preocupar com esse problema ambiental (Tabela 7).

61

Quanto ao hábito pessoal de jogar lixo na lixeira, não se verificou interferência da

faixa etária e do tempo de moradia na comunidade, diferente do nível de escolaridade. Os

representantes iletrados distribuíram-se com frequências semelhantes em ter ou não o hábito

de jogar lixo na lixeira. Aqueles com nível fundamental mais frequentemente declararam ter o

hábito, diferindo significantemente dos representantes com nível médio ou superior, que

referiram esse hábito mais raramente (Tabela 7).

Tabela 7 – Relações de faixa etária, escolaridade e tempo de moradia com condutas e preocupações em

relação ao descarte de resíduos domésticos - Recife

Variáveis

sociodemográficas

Condutas e preocupação em relação ao descarte de resíduos domésticos D

esca

rte

de

resí

duos

sóli

dos

Pre

ocu

paç

ão c

om

o l

ixo

dei

xad

o f

ora

da

lixei

ra

por

outr

a pes

soa

Háb

ito p

esso

al d

e jo

gar

lixo n

a li

xei

ra

adequado inadequado sim não sim não

Faixa etária (anos)* 974 441 1323 92 1378 37

20 a 35 314 (32,2) 115 (26,1) 401 (30,3) 28 (30,4) 422 (30,6) 7 (18,9)

36 a 49 359 (36,9) 166 (37,6) 490 (37,0) 35 (38,1) 507 (36,8) 18 (48,6)

50 ou mais 301 (30,9) 160 (36,3) 432 (32,7) 29 (31,5) 449 (32,6) 12 (32,4)

Valor de p 0,038 0,972 0,224

Escolaridade† 967 442 1317 92 1372 37

iletrados 23 (2,4) 9 (2,0) 29 (2,2) 3 (3,2) 31 (2,2) 1 (2,7)

fundamental 436 (45,0) 226 (51,1) 623 (47,3) 39 (42,4) 653 (47,6) 9 (24,3)

médio 464 (48,0) 197 (44,6) 613 (46,6) 48 (52,2) 636 (46,4) 25 (67,6)

superior 44 (4,6) 10 (2,3) 52 (3,9) 2 (2,2) 52 (3,8) 2 (5,4)

Valor de p 0,060 0,541 0,048

Tempo de moradia‡

Média (meses) 295,3 324,5 303,0 312,4 303,4 338,3

desvio-padrão 220,2 224,1 221,8 216,2 221,8 208

Valor de p 0,022 0,719 0,345

Notas: * - N=1415 porque 6 (0,4%) pessoas não informaram a idade; † - N= 1409 porque 12 (0,8%) pessoas

omitiram a escolaridade; ‡ - N= 1411 porque 10 (0,7%) pessoas não informaram tempo de moradia

Na Tabela 8, observam-se os resultados relacionados à disponibilidade de

informações sobre reciclagem de resíduos sólidos entre os representantes das famílias.

Constatou-se que 50,3% dos representantes declararam que resíduos não podiam ser

reaproveitados; 547 (38,5%) não separavam os materiais reciclados em sua casa; 820 (57,7%)

afirmaram inexistir coleta seletiva e 89 (6,3%) desconheciam a existência de catadores de lixo

na comunidade.

62

Ao questionar a possibilidade de o lixo gerar empregos e dinheiro, identificou-se que

44 (3,1%) representantes declararam desconhecer o fato, embora a maioria dos representantes

identificasse que garrafas PET, papel, latas, panelas e vidro são resíduos com importância

econômica na comunidade (Tabela 8).

Tabela 8 – Distribuição das informações de 1421 representantes das famílias Comunidade do Alto do

Mandu quanto ao reaproveitamento de resíduos domésticos - Recife

Informações sobre o reaproveitamento de resíduos domésticos Frequência Percentual

Você acha que os resíduos podem ser reaproveitados?

Não 715 50,3

Sim 687 48,4

Não responderam 19 1,3

Você separa os materiais recicláveis em sua casa?

Não 547 38,5

Sim 854 60,1

Não responderam 20 1,4

Existe coleta seletiva na sua comunidade?

Não 820 57,7

Sim 576 40,5

Não responderam 25 1,8

Há catadores de lixo na sua comunidade?

Não 89 6,3

Sim 1311 92,3

Não responderam 21 1,4

Você sabe que o lixo pode gerar empregos e dinheiro?

Não 44 3,1

Sim 1349 94,9

Não responderam 28 2,0

Quais os resíduos com importância econômica em sua comunidade?

Garrafa PET 1347 94,8

Papel 1154 81,2

Latas/ panelas 1114 78,4

Vidro 842 59,2

Restos de comida 105 7,4

Buscou-se detalhar os motivos pelos quais os representantes não separavam o

material reciclável em suas casas, conforme apresentado na Tabela 9. Apesar de 547 (38,5%)

representantes afirmarem não separar o lixo em seu local de moradia, 473 (86,5%) explicaram

os motivos para não efetuar essa separação, identificando-se que o motivo predominante foi a

falta de hábito (308; 57,9%), expressa como falta de costume, de tempo, de espaço, descaso,

displicência, preguiça ou ainda desinteresse. Outras explicações foram a falta de coleta

seletiva na comunidade ou a indisponibilidade de recipientes adequados para tanto (95;

17,9%), falta de informação sobre reciclagem (66; 8,6%), ou ainda a expectativa de que o

63

catador fizesse essa separação (12; 2,2%). É importante ressaltar que 46 (8,6%) representantes

não informaram o motivo.

Tabela 9 – Distribuição dos motivos de 532 representantes da Comunidade do Alto do Mandu para não

separar o material reciclável no local de moradia - Recife

Motivos para não separar materiais recicláveis no local de moradia Frequência Percentual

Falta de costume, de tempo, de espaço, descaso, displicência, preguiça, desinteresse 308 57,9

Falta de coleta seletiva ou de recipiente para a coleta na comunidade 95 17,9

Afirma não separar, mas não explica o motivo 46 8,6

Falta de conhecimento ou de comunicação sobre reciclagem 66 12,4

Conta com a separação feita pelo catador 12 2,2

Não separa porque o catador mistura 4 0,8

Ninguém pede para separar 1 0,2

O sistema de coleta de lixo na comunidade foi considerado bom por 43,1% dos

representantes, enquanto um número menor o classificou como ótimo (54; 3,8%) ou ruim (28;

2,0%), conforme expresso na Tabela 10. Solicitados a justificar os motivos da classificação

quanto ao sistema de coleta do lixo, os representantes mais frequentemente argumentaram

regularidade ou irregularidade na frequência de coleta, como característica da classificação.

Tabela 10 – Distribuição da avaliação do sistema de coleta de lixo e dos motivos alegados por 1421

representantes da Comunidade do Alto do Mandu - Recife

Motivos da avaliação do sistema de coleta de lixo Avaliação do sistema de coleta

bom ótimo regular ruim

n % n % n % n %

Não informa o motivo 166 27,2 4 7,4 10 4,9 1 3,6

Coleta com frequência regular 410 67,0 44 81,5 34 16,6 2 7,1

Coleta com frequência irregular 4 0,6 - 114 55,6 16 57,1

Funcionários da coleta espalham lixo na rua e não

varrem 5 0,8 - 13 6,3 7 25,0

A coleta é feita em horário fixo 10 1,6 1 1,8 1 0,5 -

A coleta é feito em horários variáveis 1 0,2 - 18 8,8 -

Imperfeições por falta de fiscalização, educação e

conscientização dos funcionários 1 0,2 - 10 4,9 1 3,6

Trabalho de boa qualidade 15 2,4 5 9,3 5 2,4 1 3,6

Os representantes foram questionados também quanto a conhecer o destino do lixo

que era recolhido pelo sistema público, constatando-se que 683 (67,3%) não dispunham de tal

informação.

Cento e quarenta e oito (14,5%) representantes das famílias informaram que os

problemas relacionados ao meio ambiente eram discutidos em fórum participativo. Dentre os

871 (85,5%) representantes que afirmaram não haver tais discussões, 84,2% afirmaram

desconhecer a existência de fórum participativo, ao passo que 8% informaram periodicidade

64

do fórum variando de semanal a anual, ou ainda restrito a discussões sobre orçamento

participativo.

5.2 Informações obtidas junto aos ACSs e Asaces

As informações obtidas junto aos ACSs e Asaces compõem três temas: aplicação de

conhecimentos teóricos, domínio de características da comunidade relativas à preservação do

meio ambiente e percepção da necessidade pessoal de conhecimentos relativos à educação

ambiental.

5.2.1 Respostas relacionadas à aplicação de conhecimentos teóricos

Para a pergunta “O que é lixo”, identificaram-se seis respostas inadequadas em

relação ao conceito de lixo, das quais estas são exemplos:

Todos os resíduos de coisas utilizadas pela população, que poderá ser reciclado ou

não (Profissional A).

É tudo aquilo que não serve ao indivíduo em alguma situação. Mas, serve para

alguns como meio se aproveitamento. Exemplo a reciclagem com garrafas pet

(Profissional K).

São todos os resíduos que são desprezados no chão (Profissional F).

Dentre as respostas adequadas, porque atendiam ao conceito de lixo expresso como

“resíduo sem qualquer tipo de valor, sendo necessário seu descarte” (PONTES; CARDOSO,

2006, p. 02), são exemplos:

Lixo é tudo aquilo que não presta (Profissional B).

É todo o resíduo que prejudica a saúde humana e que não é aproveitável

(Profissional H).

Solicitados a exemplificar os problemas ambientais e humanos que o lixo pode causar,

oito profissionais ofereceram respostas classificadas como adequadas porque atendiam ao

conceito de impacto ambiental. Dentre essas respostas, estiveram:

Entupimento de canais e canaletas, ratos, moscas e doenças causadas pelos mesmos

(Profissional F).

Problemas de poluição nos rios, degradação do solo, etc. (Profissional K).

65

Deslizamento de barreiras, contaminação do solo e das águas, etc (Profissional L).

Três profissionais deram respostas inadequadas e um profissional apenas afirmou que

o lixo pode causar doença, mas não exemplificou problemas ambientais ou humanos. Dentre

as inadequações para o foco desta pesquisa, estiveram:

Câncer. Materiais radioativos não podem ser colocados em qualquer lugar

(Profissional J).

Pode causar insuficiência respiratória (Profissional I).

Desmatamento das florestas, racionamento d’água, aquecimento global (Profissional

C).

Em relação à possibilidade de o aumento da utilização de energia gerar algum tipo de

problema, todos os profissionais responderam positivamente, mas ao justificarem, cinco ofereceram

respostas adequadas, seis, inadequadas, e um profissional apenas afirmou a possibilidade. Dentre os

problemas ambientais apontados como decorrentes do aumento da utilização de energia, classificados

como inadequados, estiveram:

Despesas financeiras bem maiores (Profissional B).

Gera aumento da produção do lixo (Profissional L).

Falta d’água e calor excessivo (Profissional K).

As respostas adequadas a esse questionamento podem ser exemplificadas como:

Apagão, afetará o futuro, haverá falta d’água e energia (Profissional G).

Queda e falta de energia (Profissional E).

Constatou-se que os 10 profissionais identificaram adequadamente a poluição do ar

como impacto ambiental negativo da queima de lenha em fornos de padaria, ao passo que um

profissional respondeu não haver impacto.

5.2.2 Domínio de características da comunidade relativas à preservação do meio ambiente

Questionados quanto à reutilização de resíduos na comunidade, oito profissionais

responderam negativamente. Identificou-se que os quatro profissionais que responderam

afirmativamente eram responsáveis por microáreas não contíguas.

66

Em relação à utilização de recursos da região para obter energia (lenha, quedas d'água,

plantas), 10 profissionais responderam positivamente, alguns deles exemplificando o uso de

queima de lenha em fornos de padaria. Dois dos respondentes negaram tal utilização.

Baseada no conhecimento da pesquisadora quanto à utilização de coleta seletiva na

comunidade, investigou-se a opinião dos profissionais quanto à necessidade da

implementação dessa coleta na microárea sob sua responsabilidade. Todos concordaram

quanto à necessidade; a maioria informou já existir a coleta seletiva, ressaltando que a

população precisava ser orientada ou que desconhecia essa coleta. As expressões foram:

Já existe, mas falta conhecimento e conscientização dos moradores (Profissional F).

Já existe, mas as pessoas precisam ser mais orientadas (Profissional B).

Já existe, mas a comunidade não faz a seleção desses materiais (Profissional C).

Investigou-se também o conhecimento dos profissionais quanto ao acondicionamento

correto dos resíduos contaminados pelos moradores. Seis profissionais responderam

afirmativamente e o mesmo quantitativo entendeu haver inadequabilidade.

5.2.3 Percepção da necessidade pessoal de conhecimentos relativos à educação ambiental

Na investigação da necessidade pessoal dos profissionais para obtenção de

conhecimentos relacionados à educação ambiental, questionou-se quais poderiam ser as

contribuições desses profissionais com o programa de coleta seletiva. Um deles omitiu a resposta e,

dentre os 11 respondentes, as expressões foram:

Orientando melhor e reeducando os moradores da nossa comunidade (Profissional

B).

Com palestras e orientação a comunidade. Só falta a conscientização do povo

(Profissional K).

Ajudando a comunidade na conscientização, na importância da coleta (Profissional

A).

Foram questionados também quanto à necessidade de implantação desse Programa.

Todos responderam afirmativamente e algumas das justificativas foram:

67

Com ele ajudaria as pessoas terem uma maior consciência da importância do meio

ambiente para a humanidade (Profissional A).

Os comunitários se conscientizarem e conseguirem renda (Profissional I).

Haveria melhoria na qualidade de vida (Profissional J).

Para complementar o conteúdo da participação de cada profissional no Programa de

Educação Ambiental, os profissionais foram solicitados a detalhar as informações necessárias

para que sua contribuição fosse significativa, obtendo-se as seguintes respostas:

Fazer capacitação (Profissional D).

Participando de uma capacitação, com livros e panfletos para distribuir na

comunidade (Profissional J).

Orientação com palestras para a comunidade (Profissional K).

Capacitação sobre a importância dos resíduos (Profissional E).

68

6 DISCUSSÃO

Os resultados da pesquisa permitiram identificar uma percepção ambiental deficiente

dos ACSs, do Asaces e dos representantes das famílias da comunidade do Alto do Mandu

tanto em relação aos conceitos básicos de educação ambiental, quanto à prática adequada para

preservação de ambiente saudável e sustentável.

Leff (2008), ao contextualizar a formação do saber ambiental, parece oferecer uma

explicação para esta deficiência da percepção ambiental, quando afirma que a apropriação do

conhecimento prático e teórico do saber ambiental pressupõe a construção de uma

racionalidade ambiental, na qual se associam a formação de um novo saber à integração

interdisciplinar do conhecimento.

Os resultados evidenciaram uma desarticulação entre o conhecimento teórico dos

ACSs e do Asaces, o repasse de suas informações para a comunidade e a prática dessa

comunidade. Observe-se que esses profissionais demonstraram falta de domínio dos hábitos

da comunidade, bem como admitiram a necessidade de capacitação; admitiram,

implicitamente, um saber ambiental ainda rudimentar.

A reprodução da formação social depende de diferentes culturas e da transformação do

meio, assim como a concomitância da construção do saber tem base na prática. Daí decorreu

buscar-se avaliar a forma de apropriação e de usufruto das informações relacionadas à

conservação do meio ambiente, bem como o grau e as maneiras de participação comunitária.

Esse interesse fundamentou-se em Leff (2007) ao afirmar que a questão ambiental tem origem

na problemática social de desenvolvimento.

Para aumentar a possibilidade de avaliação do grau e das maneiras de participação

comunitária na construção da saúde ambiental, esta pesquisa incluiu 93,43% das famílias,

todos os ACSs, assumindo a restrição da representatividade dos Asaces, ao adotar como

critério de inclusão ser esse profissional morador da comunidade.

A investigação do saber ambiental dos ACSs e dos Asaces mostrou dois aspectos

igualmente importantes. Por um lado, identificou-se um saber fragmentado e dissociado da

reflexão de sua valia na educação ambiental dos moradores da comunidade. Por outro lado,

identificou-se insuficiência da aplicabilidade desse saber. As respostas que denotavam o

domínio de conhecimento teórico permitiram constatar o desconhecimento do conceito basilar

69

relativo à diferenciação entre resíduo e lixo, bem como do impacto dos problemas ambientais

derivados do lixo.

É oportuno ressaltar que o desconhecimento do impacto dos problemas ambientais

derivados do lixo por parte dos ACSs e dos Asaces envolve prejuízo para os moradores no

que se refere à educação ambiental e para a saúde. A OMS, já em 2006, alertava para a

importância de meio ambiente saudável como forma de prevenção de doenças; exemplificava

as doenças mais frequentes derivadas do acúmulo de resíduos sólido e lixo no ambiente e

reafirmava a necessidade de empoderar os habitantes quanto à importância desse

conhecimento para reforçar o sentimento de pertencimento (PRÜSS-ÜSTÜN, CORVALÁN,

2006).

O sentimento de pertencimento foi também ressaltado no Relatório das Nações

Unidas, quando considerou a importância da coesão social na América Latina e no Caribe

(OTTONE et al., 2007). Ressalte-se que o Relatório enfatizava que a coesão social depende

da eficácia de mecanismos instituídos de inclusão social, bem como de comportamentos e

apreciações que os sujeitos da comunidade fazem sobre seu bem estar. Nesse contexto, o

desconhecimentos dos ACSs e dos Asaces rompe a possibilidade de sinergia entre

empoderamento e informação, tolhendo a formação de uma rede social que pode levar ao

desenvolvimento sustentável (MARTELETO, 2001;.KLEBA; WENDAUSEN, 2009).

Essa constatação reforçou a necessidade de oferecer capacitação a esses profissionais,

permitindo-lhes inserção na comunidade como educadores ambientais, já que a ausência de

capacitações inviabiliza a aprendizagem de conhecimentos, atitudes e habilidades, ou seja, a

aplicabilidade efetiva desses conhecimentos no ambiente de trabalho (KITZMAN; ASMUS,

2002).

Das informações obtidas entre os entrevistados, pôde-se identificar apenas uma

atividade voltada para o aproveitamento de resíduos sólidos, a qual foi desenvolvida na

comunidade sob o título RECICLA e foi ofertada aos profissionais e a membros da

comunidade. Essa atividade consistiu em cinco oficinas destinadas à prática da reciclagem de

resíduos sólidos, com produção de sabão a partir do óleo empregado em fritura de alimentos

(Foto 1) e da confecção de utensílios de decoração com garrafas PET (Foto 2).

70

Foto 1 – ACS, ASACE e alguns moradores do Alto do Mandu durante uma das oficinas do RECICLA, na

atividade de produção de sabão a partir de óleo de cozinha

Fonte: Foto cedida pela ACS Lindinalva

Foto 2 – Objetos de decoração confeccionados durante uma das oficinas do RECICLA

Fonte: Foto cedida pela ACS Lindinalva

As oficinas de reciclagem não pareceram ter sido suficientes para promover nos ACSs

e no Asaces um envolvimento forte o bastante para que eles buscassem divulgar na

comunidade a reciclagem, ou, ainda, procurassem, dentre os comunes, aqueles que já a

praticavam para benefício próprio ou mesmo como forma de obtenção de renda familiar.

71

É oportuno contextualizar as consequências da falta de estímulo dos profissionais,

quando cabe a esses atores sociais despertar a consciência ambiental nos comunes. Como

poderiam esses atores estar incluídos no processo de educação ambiental da comunidade se

não dispunham dos conhecimentos básicos essenciais a seu exercício profissional? Como

poderiam ter se percebido capazes de formar novos hábitos e promover a reflexão da

comunidade quanto aos prejuízos do mau gerenciamento dos resíduos, quando nem sequer

distinguiam resíduos de lixo, quando replicavam afirmações descontextualizadas da realidade

que vivenciavam na comunidade?

Davies, Fahy e Taylor (2005) desenvolveram pesquisa sobre atitudes e ações de donas

de casa em relação aos resíduos domésticos, fazendo um alerta interessante, ao abordarem os

motivos da não incorporação de novos hábitos ambientais pelas donas de casa, apesar da

atuação de agentes de treinamento. Contextualizaram que o comportamento humano,

incluindo aquele voltado para a saúde ambiental, é resultado da interação de fatores sociais,

culturais e locais, por um lado, bem como de valores individuais, por outro lado. Quando os

valores culturais se deparam com valores individuais muito arraigados, a possibilidade de

sucesso é mínima e vencer esse embate só será possível quando a informação estiver

associada à exemplificação e ao surgimento de vantagens ambientais imediatas.

No contexto do Alto do Mandu, verificou-se o pouco conhecimento dos ACS e do

Asaces sobre características da própria comunidade, relacionadas a reutilização de resíduos,

utilização de coleta seletiva, acondicionamento de resíduos contaminados e incoerência entre

tais informações e aquelas prestadas pelos representantes das famílias da comunidade. Pôde-

se, então, supor que essa falta de conhecimento poderá dificultar o diálogo entre os agentes

formadores de opinião na comunidade e os membros dessa comunidade.

Considerando que a educação ambiental deve estar direcionada à cidadania ativa para

conferir o sentido de pertencimento e de corresponsabilidade, construindo uma cultura

ambiental na qual natureza e sociedade são dimensões intrinsecamente relacionadas

(CARVALHO, 2008), os resultados relativos aos representantes das famílias da comunidade

apontaram para a falta desse pertencimento e, portanto, da corresponsabilidade.

Ao questionar a comunidade quanto à preocupação com o lixo, o descarte de resíduos

sólidos e mesmo os hábitos pessoais de jogar lixo na lixeira, identificou-se que a

predominância dessa preocupação contrastou com as atitudes que os moradores tomavam. Seu

gerenciamento de resíduos restringia-se ao acondicionamento dos mesmos. Consideravam a

72

coleta seletiva importante, mas afirmavam não separar os resíduos recicláveis em sua casa,

sob a alegação de falta de costume, de espaço, de tempo ou mesmo por desinteresse.

Davies et al. (2005), na pesquisa entre donas de casa na Irlanda, referiram resultados

semelhantes e consideraram que esses dados comprovam que a transferência de informação

sobre resíduos ignora o valor que os membros da comunidade atribuem a tais informações,

rompendo o canal de comunicação que pode levar à mudança de atitudes. O conhecimento

dos valores atribuídos pelos moradores às informações pode direcionar a comunicação da

educação ambiental para uma leitura prática, se os provedores da informação conseguirem

ganhar a confiança dos moradores.

Esse laço de confiança deve se concretizar em medidas efetivamente benéficas para os

moradores, o que irá dar origem a mecanismos de gerenciamento dos resíduos. Nesse

contexto, a comunidade do Alto do Mandu necessita mais do que simples informações. Está a

exigir mudança de política do gerenciamento de resíduos, materializadas pela resolução das

enchentes, prevenção do deslizamento de barreiras, mutirão de limpeza das canaletas;

promoção de benefícios indiretos para acondicionamento correto dos resíduos, para que a

contrapartida seja a manutenção de um ambiente saudável.

Tomando como exemplo dessa afirmação a classificação das enchentes como

problema ambiental, priorizado primordialmente por indivíduos mais jovens morando há

menos tempo na comunidade, é importante ressaltar o processo de transferência de

informação que caracteriza a coesão social numa comunidade. Há 30 anos, nos períodos com

maior índice pluviométrico, o canal a céu aberto que liga a região ao Açude de Apipucos dava

vazão à água da chuva. Com o aumento da densidade populacional da comunidade, foram

construídas moradias sobre o canal o qual, concomitantemente, passou a servir de depósito de

resíduos sólidos, de lixo e de despejo de dejetos dessas moradias, como se pode observar nas

Fotos 3 a 5. Daí decorrem as enchentes!

A falta de conhecimento dos indivíduos que moravam há menos tempo na comunidade

aponta para a fragilidade da rede social da comunidade do Alto do Mandu e para o insucesso

dos ACSs e dos Asaces enquanto atores sociais que poderiam reforçar esses elos. Se a causa

da queixa de enchentes feita pelos moradores lhe fosse explicada, haveria a possibilidade de

fazê-los refletir quanto a seu direito de reinvindicação junto aos demais moradores para que,

pela coesão social, comportamentos mais adequados fossem adotados. Dessa forma, o

conhecimento dos moradores mais antigos deixou de ser aproveitado no empoderamento dos

demais atores sociais e as enchentes passaram a ser tão somente uma queixa.

73

Foto 3 – Detalhe do canal de escoamento de águas pluviais recoberto por moradia

FONTE: A Autora

Foto 4 – Detalhe de canal de escoamento de águas pluviais entre moradias, repleto de resíduos sólidos

FONTE: A Autora

74

Foto 5 – Canal de escoamento de águas pluviais entre moradias, repleto de resíduos sólidos e recebendo

dejetos das residências

FONTE: A Autora

A poluição do canal de escoamento de águas pluviais, além de explicar o problema das

enchentes, justifica também a identificação de doenças provocadas por insetos ou ratos

especialmente por moradores mais velhos e mais antigos na comunidade. Esses moradores

conheceram a comunidade do Alto do Mandu quando o canal era mantido limpo e livre para

desaguar no Açude; quando não se constituía em criadouro de insetos. A vivência da

degradação do solo fez com que os moradores mais antigos reconhecessem esse problema

ambiental, diferindo dos mais jovens, que têm assimilado esse ambiente poluído como

habitual.

O aumento da população residente na comunidade trouxe também maior acúmulo de

resíduos sólidos, o que ainda à época da coleta dos dados, causava estranheza aos moradores

mais velhos. Nas Fotos 6 a 8 podem ser constatados diferentes pontos de acúmulo de resíduos

domésticos ou de construção e demolição, os quais contribuem para a proliferação de

roedores.

75

Foto 6 – Resíduos domésticos deixados nas calçadas por moradores do Alto do Mandu

FONTE: A Autora

Foto 7 – Resíduos de construção e demolição deixados por moradores do Alto do Mandu em terreno

baldio

FONTE: A Autora

76

Foto 8 – Resíduos domésticos em terreno baldio de uma das avenidas principais do bairro

FONTE: A Autora

Ainda em relação à associação entre maior faixa etária, maior tempo de moradia e

degradação do solo, deve-se considerar que essa parcela dos moradores vivenciou o

desenvolvimento dos problemas ambientais, tendo então a preocupação com eles pelas perdas

advindas. Moradores há menos de um ano não puderam avaliar tais fatos como problemas,

porque já existiam quando de sua mudança para a comunidade. Essa afirmação está

demonstrada nas Fotos 9 a 11, nas quais se pode observar a degradação do solo, quer pela

retirada de terra para emprego na construção civil, quer pelo deslizamento propriamente dito,

colocando em risco a integridade do patrimônio dos moradores.

77

Foto 9– Aspecto de deslizamento do solo em encosta do Alto do Mandu

FONTE: A Autora

Foto 10– Solo recoberto por plásticos para proteção do patrimônio

FONTE: A Autora

78

Foto 11 – Resultado do deslizamento do solo com destruição de parte de moradia

FONTE: A Autora

Ao início desta pesquisa, admitiu-se a hipótese de a percepção dos problemas

ambientais ser mais frequente ou mesmo mais acentuada em pessoas com melhor nível

educacional. No entanto os resultados permitiram identificar uma realidade diferente. O nível

educacional dos moradores não manteve relação com a identificação de problemas

ambientais, com as condutas e preocupações para com esses assuntos, exceto quanto ao hábito

pessoal de jogar lixo na lixeira.

Entre representantes com nível fundamental, essa preocupação foi mais frequente;

naqueles de nível médio e superior foi mais rara. Este achado pode ter duas explicações. A

primeira pode estar relacionada ao tempo durante o qual o morador permanece na residência –

moradores com nível médio ou superior mais frequentemente exercem ocupações que exigem

menor permanência, delegando esse gerenciamento a pessoas com nível educacional

fundamental. A segunda explicação pode ser o hábito arraigado de considerar “lixo” os

resíduos mantidos na moradia, do que deriva a despreocupação que se verificou em relação ao

destino do lixo.

Buscou-se em Leff (2008) a explicação do desinteresse, que o autor atribui ao não

pertencimento da sustentabilidade para os indivíduos, do que decorre a percepção de que o

problema de resíduos, domésticos ou não, cessa a partir de sua retirada do local de moradia ou

de onde foram gerados.

79

Kamara (2006), ao investigar os fatores que influenciavam donas de casa a cuidar e

participar de programa para gerenciamento saudável de resíduos domiciliares, na Capital

Administrativa da África do Sul, cidade de Tshwane, constatou que o cuidado e a participação

mantinham associação significante com maior nível educacional. Esse achado permitiu

direcionar os programas de educação ambiental primordialmente para as camadas com menor

grau de instrução, com resultados encorajadores. Nesse aspecto, a presente pesquisa diferiu

dos achados de Kamara (2006), porque, independente do nível educacional, os cidadãos do

Alto do Mandu não participavam de atividades, fossem políticas ou lúdicas, voltadas para a

sustentabilidade.

Considerando que a sustentabilidade deve ser uma construção social e, portanto, exige

participação dos indivíduos e dos grupos sociais habitando em um dado território, no qual

concentram energias e forças, fazendo nascer a solidariedade como valor humano, então se

compreende a necessidade de o indivíduo sentir essa sustentabilidade como sua propriedade,

para que possa dela cuidar (GOHN, 2004).

No entanto a sustentabilidade requer o exercício de hábitos saudáveis, a prática que

gera reflexão e aprendizado; a solidariedade que gera identidade com a qual os indivíduos vão

se reconhecendo entre si e com o ambiente e se mobilizam para ter qualidade de vida. Se os

moradores, como no presente estudo, não se sentem pertencentes a um grupo social, a uma

comunidade; se não vivenciam experiências favoráveis, não será o pragmatismo afirmando

que se deve cuidar do meio ambiente que os fará sair da inércia.

Quando a OMS, em 2002, apresentou diversos exemplos da íntima relação entre

doenças e desequilíbrio ambiental, contido no Quadro 1 desta dissertação (p. 31), o fez

ressaltando a importância do componente subjetivo feito de percepções, apreciações e

disposições dos indivíduos que integram uma sociedade em firmar acordos baseados no

pertencimento à comunidade. Esse pertencimento, ao intensificar o vínculo entre as pessoas,

os insere na dinâmica do desenvolvimento sustentável. Em assim sendo, quando ACSs e

Asaces não divulgam ou divulgam timidamente entre os moradores a possibilidade ou o risco

de eles contraírem tais doenças, prejudicam a coesão social dado o não empoderamento

(OTTONE et al., 2007).

Silveira e Alves (2008) reforçam os resultados da presente pesquisa ao

contextualizarem a formação do sujeito ecológico. Afirmam que só se pode alcançar o

sentimento de pertencimento quando as atitudes se orientam por decisões. Essas decisões

ainda não estão ocorrendo no Alto do Mandu, tanto assim que os moradores declararam se

80

preocupar com o lixo deixado fora da lixeira por outro morador, e, concomitantemente,

afirmaram que depositavam os resíduos sólidos gerados em sua residência na rua. Carvalho

(2004) corrobora esse raciocínio quando explica que a emancipação humana exige o

desenvolvimento do pensamento crítico e o estímulo para ações libertadoras.

Enquanto os moradores do Alto do Mandu atribuírem aos outros os resíduos sólidos e

à prefeitura ou ao sistema de coleta a limpeza das ruas, denotando transferência de

responsabilidade, não será possível falar em educação ambiental, sustentabilidade ou

consciência ambiental. O de que precisam é de uma educação crítica, que lhes desperte a

consciência do poder que têm para modificar sua comunidade e isso não dependerá

primordialmente do nível de escolaridade. Essa constatação nos remete à uma educação

ambiental com ênfase na interrelação dos resíduos sólidos com a saúde, o que pressupõe a

apropriação da realidade por meio da ação e da reflexão, para possibilitar um relacionamento

diferenciado dos homens com o meio ambiente, tal como preconizava Paulo Freire

(RUSCHEINSKY, 2002).

Ao investigar as respostas fornecidas para os aspectos relacionados à coleta de

resíduos domésticos pela Prefeitura do Recife, seja do lixo, seja a coleta seletiva, constatou-se

que os serviços oferecidos estiveram na dependência da distribuição espacial do bairro.

Ao delimitar geograficamente as microáreas nas quais os ACS e os representantes das

famílias afirmaram participar da coleta seletiva, constatou-se que se localizavam

predominantemente nas Ruas Massaranduba e Mandacaru, as quais se caracterizam por serem

largas, por onde podem circular os grandes caminhões destinados a essas coletas (Foto 12).

81

Figura 6 – Microáreas nas quais os moradores participam da coleta seletiva

Legenda: Microáreas hachuradas correspondem à participação da coleta

seletiva

Foto 12 – Rua Mandacaru, uma das principais vias de acesso ao bairro

FONTE: A Autora

82

No entanto a ocupação desordenada do solo no bairro Alto do Mandu deu origem a

ruas estreitas e sinuosas, pelas quais não é possível a circulação dos caminhões de coleta de

resíduos domésticos (Foto 13 e 14), do que resultou a necessidade de essa coleta ser feita em

carros de mão, de tração humana, por garis ou catadores de resíduos recicláveis, para que os

resíduos possam ser depositados nas vias públicas mais largas, cuja limpeza fica a cargo da

Prefeitura.

Foto 13 – Rua estreita, impossibilitando passagem de caminhões grandes de coleta de resíduos

FONTE: A Autora

Foto 14 – Viela na qual não é possível a coleta de resíduos pela Prefeitura

FONTE: A Autora

83

É oportuno ressaltar a importância do trabalho dos garis e dos catadores de resíduos

recicláveis e de sua leitura em relação à questão dos resíduos sólidos e da educação ambiental

(Foto 15). Ainda que alguns desses profissionais não considerem digna a ocupação que

exercem, atribuindo-lhe importância maior apenas que a de marginais, outros a consideram

nobre, na medida em que dela podem sobreviver. Nas pesquisas realizadas por Santos e Silva

(2009; 2011), nas quais foram entrevistados garis e catadores de resíduos recicláveis, os

autores não identificaram qualquer referência desses atores sociais quanto ao significado de

sua atividade para a sociedade em geral. A não identificação permite aventar a hipótese de

que esses profissionais, a despeito da grande valia dos serviços que prestam, não são

reconhecidos, porque trabalham com um aspecto cuja importância a sociedade insiste em

ignorar (SANTOS, SILVA, 2011).

Foto 15 – Catador de materiais recicláveis em meio aos resíduos sólidos em rua estreita do Alto do Mandu

FONTE: A Autora

Considerando os termos da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, a

presente pesquisa poderia causar constrangimento aos indivíduos, em relação ao

desconhecimento de algumas informações solicitadas, ou ainda pela verbalização do impacto

negativo da ação do homem sobre o meio ambiente na comunidade em que reside (BRASIL,

84

1996). Esse risco foi minimizado pela abordagem amistosa dos ACS e da pesquisadora,

durante a coleta dos dados, sem, contudo, interferir sobre a opinião do entrevistado.

Quanto aos benefícios, identificou-se que a pesquisa contribuiu para a educação em

saúde e a educação ambiental dos indivíduos, desde a aplicação. Durante a entrevista, o

próprio questionamento sobre as questões ambientais despertou a consciência ambiental e a

percepção ambiental. A grande maioria dos participantes, ainda durante a entrevista, enunciou

diversas perguntas, buscou tirar dúvidas e deu sugestões para a melhoria do meio ambiente na

comunidade. Parece adequado considerar que essa conduta facilitou a adesão de outros

representantes e o desencadeamento da consciência da possibilidade de implementação de

ações com impacto positivo sobre o meio ambiente.

85

7 CONCLUSÕES

Os resultados evidenciaram a complexidade das interações entre ACSs, Asaces e

moradores da comunidade do Alto do Mandu na construção do processo de fortalecimento

dos sujeitos dada a falta de empoderamento de informações que têm sido preconizadas como

capazes de aumentar a coesão social e o sentimento de pertencimento.

Identificou-se que moradores, ACSs e Asaces, enquanto atores sociais importantes na

construção do desenvolvimento sustentável, não compreendiam o real sentido da educação

ambiental, do que decorria a adoção de comportamentos inadequados. Esses comportamentos

desafortunadamente se mostraram como nós da rede social, dificultando ou mesmo

impossibilitando o sentimento de pertencimento e acentuando as desigualdades e diferenças

de percepção ambiental, quer pelo menor tempo de moradia na comunidade, quer por não se

reconhecer como ator no desenvolvimento sustentável.

É importante ressaltar que este estudo buscou discutir o sentido dos modos de viver e

das concretudes expostas por moradores, ACSs e Asaces, mais do que apenas reproduzir sua

discursividade, tendo por meta a educação ambiental.

86

8 RECOMENDAÇÕES

De posse dos resultados da presente pesquisa, a proposta de educação ambiental deve

estar centrada em ações capazes de trazer benefícios à comunidade, em curto prazo, a partir de

sua participação na melhoria das condições ambientais. Para tanto, é preciso o

desencadeamento de ações continuadas, para as quais sejam atribuídas gratificações materiais

ou de divulgação do mérito entre os moradores, para que sirva de estímulo.

O principal desafio dessa proposta deve ser a quebra do paradigma da não

participação, que se constatou por meio da afirmação de desconhecimento das reuniões do

conselho participativo da comunidade, materializando a pouca valia atribuída a esforços de

melhoria. Ao mesmo tempo, essa não participação se associa à exigência de ações de terceiros

– dos profissionais da Unidade Básica de Saúde, ACSs e Asaces, bem como da prefeitura –

em um mecanismo de evidente auto exclusão de responsabilidade para com o meio ambiente.

Com o objetivo de promover o despertar para as questões relacionadas ao meio

ambiente, sugere-se que os ACSs, o Asace e os moradores realizem ações salutares e exerçam

seu poder de reivindicação como cidadãos de direito. Para tanto, sugerimos algumas

atividades que nos parecem viáveis, a partir da vivência na comunidade:

1. Realização de oficinas para integrá-los no processo de gerenciamento de resíduos

sólidos, tornando-os agentes de mudança, contribuindo assim, para a saúde do

ambiente e da comunidade;

2. Realização de gincanas, concursos e atividades educativas nas nove escolas da

comunidade para despertar e estimular a consciência da preservação e gerenciamento

dos resíduos sólidos;

3. Promoção, em cada microárea, de mutirões de limpeza e coleta seletiva de materiais

recicláveis com os ACS, ASACE e comunitários contando para isso com a parceria da

EMLURB para destinação final;

4. Cobrança ao Conselho Gestor de uma articulação com a EMLURB para redução do

tamanho dos caminhões de coleta seletiva, para facilitar o acesso a todas as ruas da

comunidade do Alto do Mandu ou solicitar à Prefeitura que destaque garis a fazerem

esta coleta nos locais intransitáveis, em dia pré-agendado;

87

5. Realização de cursos de artesanato com materiais recicláveis (garrafas PET, jornal,

óleo vegetal, retalhos de tecidos e outros), utilizando os talentos da comunidade nos

grupos já existentes;

6. Realização de parcerias com o Projeto do Distrito Sanitário III, ONG e instituições

que realizem o trabalho de reciclagem, para trocar experiências com visita aos alunos

das escolas e dos moradores;

7. Integração dos catadores de lixo que moram e que não moram na comunidade, mas,

que vivem dos resíduos a participarem do processo de gerenciamento;

8. Incentivo à discussão e ao interesse na participação dos moradores no problema do

resíduo sólido, com a participação dos adolescentes e escolares na realização de

documentários (vídeos, filmes), criação de um jornal da comunidade, realização de

teatros e outros;

9. Valorização e reprodução do saber popular através de educação em saúde e de

educação ambiental pela divulgação na mídia dos valores do Alto do Mandu,

assemelhando-se ao que se verifica em relação aos valores musicais e folclóricos.

88

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10 APÊNDICES

98

10.1 APÊNDICE A - Termo de Consentimento Livre Esclarecido

Ednalva Maira Bezerra de Lira

Eu ______________________________________________ declaro que, aceito participar do

estudo científico sobre: “RESÍDUOS SÓLIDOS NO ENTENDER DA COMUNIDADE DO

ALTO DO MANDU - RECIFE”. Foi-me explicado que faz parte do estudo responder a um

questionário padronizado, cujo objetivo é investigar as representações e o imaginário sobre o

lixo, bem como os conhecimentos sobre gerenciamento de resíduos sólidos entre Agentes

Comunitários de Saúde (ACS), Agentes de Saúde Ambiental e Combate as Endemias

(ASACE) e moradores dessa comunidade. Minha participação é voluntária e eu poderei deixar

de participar a qualquer momento sem que isto acarrete qualquer prejuízo à minha pessoa.

Estou ciente que os meus dados pessoais são confidenciais e que serão utilizados somente

para fins de pesquisa e que não acarreta malefícios. Qualquer esclarecimento que eu necessite,

devo entrar em contato com Ednalva Maria Bezerra de Lira Fone: 91620069 e 87143814 a

qualquer momento pessoalmente no endereço Rua Fernando de Souza Caeté 301, Casa

Amarela. CEP: 52.070-130, Recife, PE, Brasil. Fone (081) 3232 4549 ou Comitê de Ética e

Pesquisa do HUOC/PROCAPE Fone (081) 3184 1460.

Recife,____de____________de 2011

________________________________________

Assinatura

____________________________________ _______________________________

Assinatura de testemunha Assinatura de testemunha

Assinatura da Pesquisadora

99

10.2 APÊNDICE B – Protocolo para coleta dos dados

IDENTIFICAÇÃO

Nº do Instrumento: ________________ Data do preenchimento: _________________

Iniciais do nome completo: _________________________

Sexo: ( ) feminino ( ) masculino

Estado civil: ( ) solteiro(a) ( ) casado(a) ( ) união estável ( ) viúvo(a) ( ) divorciado(a)

Faixa etária: ( ) 20-35 anos ( ) 36-50 anos ( ) > 50 anos

Escolaridade: ( ) nenhuma ( ) fundamental ( ) médio ( ) superior

Há quanto tempo mora na Comunidade do Alto do Mandu? ___ anos ___ meses

PRIMEIRA PARTE – PARA OS MORADORES VOLUNTÁRIOS REPRESENTANTES DAS

FAMÍLIAS

1-Que problema ambiental tem na sua comunidade?

( ) lixo ( ) deslizamento de barreiras ( ) falta d’água ( ) falta de energia

( ) doenças provocadas por insetos ou ratos ( ) enchentes

( ) degradação do solo ( ) queimadas

( ) Outros:_____________________________________________________________

2-Você sempre joga os resíduos que gera em lixeiras? ( ) sim ( ) não

Quando não há nenhuma lixeira próxima o que faz?____________________________

3-Você se preocupa com os resíduos deixados fora nas lixeiras por outras pessoas?

( ) sim ( ) não

4-Você acha que qualquer resíduo pode ser aproveitado? ( ) sim ( ) não

5-Existe coleta seletiva na sua comunidade? ( ) sim ( ) não

6-Tem catadores de lixo em sua comunidade? ( ) sim ( ) não

7-Você separa os materiais recicláveis em sua casa? ( ) sim ( ) não

Se a resposta for “não”: Por quê? _________________________________________

100

8-Como você considera o sistema de coleta de lixo na sua comunidade:

( ) ruim ( ) regular ( ) bom ( ) ótimo

Por quê?______________________________________________________________

9-Você sabe para onde vai o lixo da sua comunidade? ( ) sim ( ) não

10-Você sabe que o lixo pode gerar empregos e dinheiro? ( ) sim ( ) não

11-Em sua opinião quais os resíduos que têm importância econômica em sua comunidade?

( ) papel/papelão ( ) vidros ( ) garrafa pet ( ) restos de comida ( ) latas/panelas

12-Os problemas relacionados ao meio ambiente são discutidos em algum fórum participativo?

( ) sim ( ) não Qual a efetividade? _____________________________________

SEGUNDA PARTE – PARA ACS e ASACE

1-O que é lixo? _____________________________________________________________

2-Cite alguns problemas ambientais e para o homem que o lixo pode causar.

________________________________________________________________________

3-Os resíduos orgânicos na sua comunidade são reutilizados? ( ) sim ( ) não

4-O aumento da utilização de energia tem gerado algum tipo de problema? ( ) sim ( ) não

Qual? ___________________________________________________________________

5-Há utilização de recursos da região para obter energia (lenha, quedas d'água, plantas)?

( ) sim ( ) não

6-Há impactos negativos nesta utilização? ( ) sim ( ) não qual?____________________

7-Você acha necessária a implementação da coleta seletiva na sua comunidade?

( ) sim ( ) não Por quê?_________________________________________________

8-Resíduos contaminados são dispostos de forma adequada? ( ) sim ( ) não

101

9-Como você poderia contribuir com o programa de coleta seletiva?

___________________________________________________________________________

10-Você acha necessário um Programa de Educação Ambiental nessa comunidade?

___________________________________________________________________________

11-Que informações você acha necessárias para que sua contribuição seja significativa em um

Programa de Educação Ambiental?

___________________________________________________________________________

102

10.3 APÊNDICE C – Termo de confidencialidade da Pesquisadora

TERMO DE CONFIDENCIALIDADE

Através do presente Termo, eu, Ednalva Maira Bezerra de Lira, comprometo-me a

guardar sigilo absoluto sobre todos os dados referentes aos prontuários utilizados para o

desenvolvimento da pesquisa intitulada RESÍDUOS SÓLIDOS NO ENTENDER DA

COMUNIDADE DO ALTO DO MANDU - RECIFE, durante e após a conclusão da mesma.

Recife, 11 de maio de 2011

Ednalva Maira Bezerra de Lira

(Assinatura e Carimbo)

103

10.4 APÊNDICE D – Termo de confidencialidade do Orientador

TERMO DE CONFIDENCIALIDADE

Através do presente termo, eu, Fábio José de Araújo Pedrosa, orientador da Mestranda

Ednalva Maira Bezerra de Lira, comprometo-me a guardar sigilo absoluto sobre todos os

dados referentes aos prontuários utilizados para o desenvolvimento da pesquisa intitulada,

RESÍDUOS SÓLIDOS NO ENTENDER DA COMUNIDADE DO ALTO DO MANDU -

RECIFE, durante e após a conclusão da mesma, assegurando igualmente a confidencialidade

por minha orientanda e ainda que os resultados da pesquisa somente serão divulgados de

forma anônima, não sendo usadas iniciais ou quaisquer outras indicações que possam

identificar o sujeito da pesquisa.

Recife (PE), 11 de maio de 2011

Fábio José de Araújo Pedrosa

(Assinatura e Carimbo)

104

10.5 APÊNDICE E – Termo de Compromisso da Pesquisadora

Termo de Compromisso

Projeto de Pesquisa: Resíduos sólidos no entender da comunidade do Alto do Mandu - Recife

Local de Pesquisa: Comunidade do bairro do Alto do Mandu

Autor(es): Ednalva Maria Bezerra de Lira e Fábio José de Araújo Pedrosa

Telefone: e-mail: [email protected] (81) 9162 0069 / 8714 3814 / 3273 1938

Instituição: Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco, Universidade de Pernambuco

Pesquisador(a) Responsável: Ednalva Maria Bezerra de Lira Período da Pesquisa: Maio a Julho de 2011

Comprometo-me em, no desenvolvimento do trabalho, não trazer prejuízo à rotina do serviço e ao

atendimento ao usuário, agir sob o consenso das pessoas envolvidas, e ao final do trabalho, entregar

cópia da pesquisa à Diretoria Geral de Gestão do Trabalho e ao serviço envolvido, apresentar os

resultados junto aos servidores deste, bem como, coloco-me à disposição da Secretaria de Saúde do

Recife para prestar esclarecimentos em qualquer fase da pesquisa.

Recife, _______ de maio de 2011

Ednalva Maria Bezerra de Lira - Responsável pelo Projeto

105

10.6 APÊNDICE F – Termo de Compromisso do Orientador

Termo de Compromisso

Projeto de Pesquisa: Resíduos sólidos no entender da comunidade do Alto do Mandu - Recife

Local de Pesquisa: Comunidade do bairro do Alto do Mandu

Autor(es): Ednalva Maria Bezerra de Lira e Fábio José de Araújo Pedrosa

Telefone: e-mail: [email protected] (81) 9162 0069 / 8714 3814 / 3273 1938

Instituição: Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco, Universidade de Pernambuco

Pesquisador(a) Responsável: Ednalva Maria Bezerra de Lira Período da Pesquisa: Maio a Julho de 2011

Comprometo-me em, no desenvolvimento do trabalho, não trazer prejuízo à rotina do serviço e ao

atendimento ao usuário, agir sob o consenso das pessoas envolvidas, e ao final do trabalho, entregar

cópia da pesquisa à Diretoria Geral de Gestão do Trabalho e ao serviço envolvido, apresentar os

resultados junto aos servidores deste, bem como, coloco-me à disposição da Secretaria de Saúde do

Recife para prestar esclarecimentos em qualquer fase da pesquisa.

Recife, _______ de maio de 2011

Fábio José de Araújo Pedrosa

106

11 ANEXO

107

11.1 ANEXO A – Carta de Anuência da Diretoria Geral de Gestão do Trabalho

CARTA DE ANUÊNCIA

Aceito que a pesquisa sobre RESÍDUOS SÓLIDOS NO ENTENDER DA COMUNIDADE

DO ALTO DO MANDU - RECIFE, sob a responsabilidade de Ednalva Maira Bezerra de

Lira, seja realizada nesta Instituição.

Ciente dos objetivos e métodos da pesquisa acima citada e que me são assegurados os

requisitos abaixo:

a) O cumprimento das determinações éticas da Resolução 196/96 CNS/MS;

b) A garantia de solicitar e receber esclarecimentos antes, durante e depois do

desenvolvimento da pesquisa;

c) Não haverá qualquer despesa para esta Instituição que seja decorrente da

participação dessa pesquisa;

d) No caso do não cumprimento dos itens acima, a liberdade de retirar minha

anuência a qualquer momento da pesquisa sem penalização alguma,

concordo em fornecer todos os subsídios para seu desenvolvimento

Recife, 10 de maio de 2011

Prefeitura da Cidade do Recife

Diretor da Diretoria Geral de Gestão do Trabalho

(Assinatura e carimbo)