análise crítica dos aspectos da organização do trabalho predominantemente cognitivo na sociedade...

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Faculdade de Engenharia FEN Departamento de Engenharia Industrial DEIN Rio de Janeiro, 2014 Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial Yuri Oliveira de Lima

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Projeto de Graduação (Engenharia de Produção - Uerj): A sociedade mudou de forma acelerada na primeira revolução industrial, novos conhecimentos e formas de ver o mundo surgiram, trabalhos antes realizados pela força humana e animal foram substituídos pelas máquinas que também fez com que novas profissões surgissem, tais mudanças impactaram fortemente a forma como o ser humano da sociedade pré-industrial vivia e uma das esferas da vida deste: o trabalho, foi fortemente modificada. A sociedade pós-industrial – sucessora daquela que se formou no período da revolução industrial e que coexiste pelo mundo com esta e com a pré-industrial – traz consigo mais mudanças, como lidar com elas é um desafio importante. Este projeto de graduação tem como objetivo contribuir com o corpo teórico da organização do trabalho predominantemente cognitivo por ser aquele considerado o mais comum na sociedade pós-industrial e que tende a se tornar cada vez mais preponderante. Partindo de inconsistências existentes entre o trabalho e a melhor organização do trabalho possibilitada pela tecnologia disponível atualmente, foi feita neste projeto uma análise crítica de alguns dos aspectos da organização do trabalho considerados como incompatíveis com o trabalho predominantemente cognitivo inserido na sociedade pós-industrial.

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Page 1: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Faculdade de Engenharia – FEN

Departamento de Engenharia Industrial – DEIN

Rio de Janeiro, 2014

Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente

Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

Yuri Oliveira de Lima

Page 2: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

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Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente

Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

Yuri Oliveira de Lima

Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Engenharia de Produção, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Engenharia de Produção.

Orientadora: Prof.ª Thaís Spiegel DSc.

Rio de Janeiro, 2014

Page 3: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

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FOLHA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Graduação em Engenharia de

Produção da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ -, elaborada pelo

graduando Yuri Oliveira de Lima, sob o título Análise Crítica dos Aspectos da

Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-

Industrial foi aprovada após ter sido submetida em janeiro de 2014 à banca

examinadora composta pelos seguintes professores: Prof.ª Thaís Spiegel, D.Sc.,

Prof. André Ribeiro de Oliveira, D.Sc., Prof. José Carlos Mata Rodrigues, M.Sc..

Aprovado em: _________________________________________________

Banca Examinadora:

__________________________________________________ Prof.ª Thaís Spiegel, D.Sc.

(Orientador) Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

_________________________________________________

Prof. André Ribeiro de Oliveira, D.Sc.

Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

________________________________________________

Prof. José Carlos Mata Rodrigues, M.Sc.

Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

Page 4: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais pelo carinho, atenção e apoio dedicados à minha formação

como pessoa e pelo esforço por tornarem possível minha educação desde pequeno

até hoje.

Agradeço aos amigos que me conhecem desde antes do ingresso à Uerj e estiveram

comigo ao longo dos últimos 5 anos, aos que conheci na universidade e foram

parceiros ao longo do difícil curso e também à Jéssica que me acompanhou e dividiu

as alegrias e dificuldades pelas quais passamos.

Agradeço aos professores da Uerj pela importância que tiveram na minha formação

tanto acadêmica quanto pessoal. Em especial à minha orientadora por ter aceitado o

desafio de me acompanhar no projeto final e aos professores integrantes da banca

examinadora pelas melhorias propostas no trabalho e pela atenção dada.

Page 5: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

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A mente que se abre a uma nova ideia

jamais voltará ao seu tamanho original

Albert Einstein

Page 6: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

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RESUMO

LIMA, Yuri. Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo

na Sociedade Pós-Industrial. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade do Estado do Rio de

Janeiro (UERJ) – Faculdade de Engenharia de Produção. Rio de Janeiro, 2014.

A sociedade mudou de forma acelerada na primeira revolução industrial,

novos conhecimentos e formas de ver o mundo surgiram, trabalhos antes realizados

pela força humana e animal foram substituídos pelas máquinas que também fez com

que novas profissões surgissem, tais mudanças impactaram fortemente a forma

como o ser humano da sociedade pré-industrial vivia e uma das esferas da vida

deste: o trabalho, foi fortemente modificada. A sociedade pós-industrial – sucessora

daquela que se formou no período da revolução industrial e que coexiste pelo

mundo com esta e com a pré-industrial – traz consigo mais mudanças, como lidar

com elas é um desafio importante. Este projeto de graduação tem como objetivo

contribuir com o corpo teórico da organização do trabalho predominantemente

cognitivo por ser aquele considerado o mais comum na sociedade pós-industrial e

que tende a se tornar cada vez mais preponderante. Partindo de inconsistências

existentes entre o trabalho e a melhor organização do trabalho possibilitada pela

tecnologia disponível atualmente, foi feita neste projeto uma análise crítica de alguns

dos aspectos da organização do trabalho considerados como incompatíveis com o

trabalho predominantemente cognitivo inserido na sociedade pós-industrial.

Palavras-Chave: Organização do Trabalho, Trabalho Predominantemente

Cognitivo, Sociedade Pós-Industrial.

Page 7: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

6

ABSTRACT

LIMA, Yuri. Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente

Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade do Estado do

Rio de Janeiro (UERJ) – Faculdade de Engenharia de Produção. Rio de Janeiro, 2014.

In the first industrial revolution the society changed in a fast pace, new

knowledge and ways of viewing the world appeared, work before done by human and

animal power have been switched by machines which made new jobs necessary,

those changes had a strong impact the way of life of the pre-industrial human and

one of its spheres of life was strongly modified: work. The post-industrial society –

successor of the one that has been formed during the industrial revolution period –

brings with it more changes, how to deal with them is an important challenge. This

graduation project has as its goal to contribute to the theoretical body of knowledge

of the predominantly cognitive work organization considered the most common in the

post-industrial society and tends to become increasingly prominent. Starting with the

inconsistencies that exist between work and its best organization allowed by the

available technology, what was done in this project is a critical analysis of some of

the work organization aspects considered incompatible with the predominantly

cognitive work inserted in the post-industrial society.

Keywords: Work Organization, Predominantly Cognitive Work, Post-Industrial

Society.

Page 8: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

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LISTA DE ILUSTRAÇÔES

Lista de Figuras

Figura 1: Ciclo de Pesquisa e Desenvolvimento em Projeto Organizacional (Fonte:

Romme & Endenburg (2006, p.288) .......................................................................... 11

Figura 2: Esquema-resumo da Sistematização da Revisão Bibliográfica - Adaptado

de Spiegel (2013) ...................................................................................................... 18

Figura 3: Etapas da Pesquisa (Fonte: o autor) .......................................................... 20

Figura 4: Diferentes áreas de conhecimento da engenharia de produção num

sistema produtivo com destaque para a engenharia do trabalho e suas subáreas.

Fonte: Adaptado de Batalha, 2008, p.110 ................................................................. 23

Figura 5: Dimensões Contextuais e Estruturais Interativas do Projeto Organizacional.

Fonte: Adaptado de DAFT (2009, p.15) .................................................................... 24

Figura 7: Foto de Escritório de 1954 em Seattle, EUA. (Fonte: Wikimedia2) ............ 38

Figura 8: Organização do Trabalho e Fatores de Contingência. Fonte: o autor ........ 52

Lista de Tabelas

Tabela 1: Resumo da abordagem metodológica ....................................................... 17

Tabela 2: Características dos Modos de Desenvolvimento. Fonte: Bell (1979, p.47) 26

Tabela 3: Acusações contra a atual organização do trabalho (DE MASI, 2001, p.24-

36) x Aspectos Organizacionais (Fonte: o autor) ...................................................... 27

Tabela 5: Vantagens e Desvantagens da Especialização para a Gestão e

Trabalhadores. Fonte: (CHASE, 2009, p.127)........................................................... 43

Tabela 7: Resultado da busca por artigos na base ISI Web of Science .................... 58

Tabela 8: Resultado da pesquisa na base Scielo-Brasil ........................................... 61

Tabela 9: Periódicos selecionados pelo Portal Capes .............................................. 64

Page 9: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

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Sumário

1. INTRODUÇÃO .............................................................................. 10

1.1 CONTEXTO DA PESQUISA .......................................................................... 10 1.2 OBJETIVOS DA PESQUISA ......................................................................... 11

1.3 RELEVÂNCIA DA PESQUISA ...................................................................... 12 1.4 MÉTODO ........................................................................................................ 12 1.5 DELIMITAÇÕES DO OBJETO ...................................................................... 13 1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO ...................................................................... 14

2. MÉTODO DA PESQUISA ............................................................. 16

2.1 ABORDAGEM METODOLÓGICA ................................................................. 16 2.2 SISTEMATIZAÇÃO DA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................... 17 2.3 ESTRUTURA DA PESQUISA ........................................................................ 18

3. REVISÃO DA LITERATURA......................................................... 21

3.1 DEFINIÇÃO DE CONCEITOS ....................................................................... 21

3.1.1 TRABALHO E TRABALHO PÓS-INDUSTRIAL ....................................................... 21 3.1.2 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ........................................................................ 22

3.1.3 PERÍODO INDUSTRIAL E PÓS-INDUSTRIAL ........................................................ 24 3.2 PANORAMA DO TEMA DA PESQUISA ....................................................... 26

3.3 SELEÇÃO DOS ASPECTOS ORGANIZACIONAIS ........................... 27

4. ANÁLISE CRÍTICA DOS ASPECTOS ORGANIZACIONAIS

SELECIONADOS .............................................................................. 31

4.1 JORNADA DE TRABALHO FIXA ................................................................. 31

4.1.1 PANORAMA HISTÓRICO .................................................................................. 31 4.1.2 CONTEXTO ATUAL ......................................................................................... 32

4.1.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE A ADEQUAÇÃO DO ASPECTO AO OBJETO DE PESQUISA34

4.2 AMBIENTE FÍSICO DE TRABALHO ............................................................. 35 4.2.1 PANORAMA HISTÓRICO .................................................................................. 35 4.2.2 CONTEXTO ATUAL ......................................................................................... 38

4.2.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE A ADEQUAÇÃO DO ASPECTO AO OBJETO DE PESQUISA39 4.3 DIVISÃO DO TRABALHO E ALTA ESPECIALIZAÇÃO DO TRABALHADOR40 4.3.1 PANORAMA HISTÓRICO .................................................................................. 40 4.3.2 CONTEXTO ATUAL ......................................................................................... 43 4.3.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE A ADEQUAÇÃO DO ASPECTO AO OBJETO DE PESQUISA43

5. PROPOSTAS DE MODIFICAÇÕES DOS ASPECTOS

ORGANIZACIONAIS ........................................................................ 45

5.1 ALTERNATIVAS IMPLEMENTADAS POR EMPRESAS .............................. 45 5.1.1 W. L. GORE & ASSOCIATES ........................................................................... 46 5.1.2 INTERNATIONAL BUSINESS MACHINES (IBM) ................................................... 47 5.1.3 AT&T ........................................................................................................... 48

Page 10: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

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5.3 INDICAÇÕES PARA ORGANIZAÇÕES ........................................................ 49

6. SUGESTÕES, LIMITAÇÕES E CONCLUSÕES ........................... 53

6.1 SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS .............................................. 53 6.2 LIMITAÇÕES DA PESQUISA ........................................................................ 54

6.3 CONCLUSÕES E OBSERVAÇÕES FINAIS ................................................. 55

APÊNDICE 1 ..................................................................................... 56

DA SELEÇÃO DE LIVROS.................................................................................. 56

DA SELEÇÃO DE ARTIGOS ............................................................................... 58 DA SELEÇÃO DE PERIÓDICOS ........................................................................ 64

BIBLIOGRAFIA ................................................................................ 65

Page 11: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

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1. Introdução

1.1 Contexto da Pesquisa

A forma como as organizações agem precisa ser condizente com o ambiente

no qual se inserem. Segundo Peci (2009, p. 1), “O ambiente de negócios está

mudando continuamente, e a incerteza e turbulência o caracterizam cada vez mais.”

Hoje o mercado consumidor possui mais conhecimento sobre as empresas do

que em qualquer outra época da nossa história, a informação sobre os produtos e

serviços é mais facilmente obtida e está sendo gerada não só pelas empresas, mas

também pelos próprios consumidores. Para fazer uma compra uma pessoa não

precisa mais entrar em cada loja para conhecer mais sobre os produtos e serviços

oferecidos por cada empresa, não precisa nem mesmo sair de casa para comprar

algo.

No período industrial, a preocupação dos fabricantes era maximizar o lucro

vendendo o máximo possível de um produto padronizado, tal pensamento é

mostrado pela frase de Ford (2008, p.75): "Qualquer cliente pode ter um carro

pintado de qualquer cor, contanto que seja preto."

Devido à mudanças sociais, a forma como as empresas atuam também

mudou em relação ao período industrial, tal fato já era indicado pela literatura há

quase duas décadas:

O ambiente atual em que as empresas operam tem presenciado o

surgimento de novos papéis que devem ser desempenhados como

resultado de alterações nos valores e ideologias de nossa sociedade.

Assim, a atividade das organizações modernas, além das considerações

econômico-produtivas, incluem preocupações de caráter político-social, que

envolvem assistência médica e social, defesa de grupos minoritários,

controle da poluição, proteção ao consumidor etc. (DONAIRE, 1994, p.69)

A organização do trabalho dentro das empresas é feita de forma semelhante

ao modelo de períodos históricos anteriores ao atual, onde o ambiente era mais

estável e previsível. “Embora os diretores das empresas tenham compreendido bem

a necessidade vital de aumentar a flexibilidade e responsabilização num meio cada

vez mais incerto e complexo, as empresas continuam a revelar-se taylorianas”

(SÉRIEYX, 1995, p.23).

Numa era de avanços tecnológicos que permitem o teletrabalho em níveis

nunca antes possíveis com mobilidade para levar informações em pequenos

Page 12: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

11

dispositivos para qualquer região do mundo e uma nova geração de trabalhadores

que chega ao mercado com pensamentos distantes daquela que o fez há décadas

atrás, não será uma tarefa simples a reorganização da forma como o trabalho é feito.

Como Drucker (1998 apud UHL-BIEN, MARION & MCKELVEY, 2007) já

destacou no final do século passado, “a maioria das nossas suposições sobre

negócio, tecnologia e organização tem, pelo menos, 50 anos de idade. Elas já

ultrapassaram seu tempo.” A reforma das suposições, no caso da organização do

trabalho, passa pelo entendimento da situação atual e dos fatores que a criaram e a

moldam.

1.2 Objetivos da Pesquisa

Romme & Endenburg (2006, p.287) sugerem que os estudos organizacionais

precisam se tornar uma ciência mais madura que também se envolva na engenharia

de processos e estruturas organizacionais. Os autores propõe que isso seja feito

através da criação de um ciclo para projetar as organizações baseado numa lógica

científica. A figura 1 apresenta o ciclo em questão.

Figura 1: Ciclo de Pesquisa e Desenvolvimento em Projeto Organizacional (Fonte:

Romme & Endenburg (2006, p.288)

Segundo os autores, os princípios de construção e as regras de projeto são a

fronteira entre a ciência organizacional estudada e desenvolvida principalmente pela

comunidade acadêmica e o trabalho de projeto organizacional. Outro ponto

importante da teoria dos autores é que a implementação e experimentação servem

de retorno para novas demandas de pesquisa da ciência organizacional, revisão de

princípios de construção e regras de projeto e ajustes no projeto organizacional.

Neste projeto de graduação, o objetivo foi a reflexão dos princípios de

construção do projeto organizacional para que novas regras de projeto possam ser

criadas. Para possibilitar essa análise dos princípios foi utilizada a ciência

organizacional como base no capítulo 4 e os casos das empresas apresentados no

capítulo 5.1 são resultado da etapa de implementação e experimentação do ciclo de

projeto organizacional.

Page 13: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

12

1.3 Relevância da Pesquisa

Esta pesquisa é relevante socialmente por refletir a forma como o trabalho e

as organizações são pensados e projetados, propondo uma melhor adequação entre

a realidade social e ambiental e as práticas organizacionais.

Além disso, dado que

A Engenharia de Produção trata do projeto, aperfeiçoamento e implantação de sistemas integrados de pessoas, materiais, informações, equipamentos e energia, para a produção de bens e serviços, de maneira econômica, respeitando os preceitos éticos e culturais (BATALHA, 2008, p.1).

A presente pesquisa possui relevância no campo de estudo da Engenharia de

Produção por analisar a forma como o trabalho das pessoas inseridas nos sistemas

produtivos é organizado.

Para Bailey & Barley (2004, p. 738) o estudo acerca do trabalho representa

um grande desafio para os engenheiros de produção porque atualmente há uma

mudança na natureza do trabalho comparável a que ocorreu no surgimento das

fábricas.

Outro fator que aumenta a importância dessa pesquisa é a falta de trabalhos

voltados para este tema importante, conforme escrevem Spiegel & Cardoso (2009,

p. 241), “Espera-se que a Teoria das Organizações deixe de se basear apenas nas

fontes construídas a partir de uma natureza de trabalho diferente da que se espera

que seja preponderante no futuro.”

Este trabalho é importante para o autor porque sua elaboração envolveu o

aprofundamento dos estudos e a reflexão de um tema de interesse pessoal no qual

acredita existir importância sumária para atuar melhor no seu campo de formação. A

motivação para a realização da pesquisa sobre este tema provém das experiências

do autor durante seus estágios em quatro empresas de setores diferentes – energia,

financeiro, projetos de engenharia e tecnologia da informação – em todas as

empresas foi possível perceber uma discrepância entre a forma como o trabalho era

organizado, o planejamento estratégico e as necessidades reais de cada posto de

trabalho.

1.4 Método

Este trabalho é uma pesquisa – “diálogo inteligente com a realidade” (DEMO,

2006, p.36) cujo objetivo é testar a validade de uma hipótese, a saber: a organização

do trabalho pós-industrial não é adequada às características do trabalho

Page 14: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

13

predominantemente cognitivo presente na sociedade pós-industrial por possuir

aspectos que não foram criados para o tipo de trabalho atual e sim herdados de

sociedades diferentes e anteriores à presente.

O teste foi feito através da comparação entre a forma como o trabalho era

organizado nas sociedades pré-industrial e industrial e como o mesmo é feito

atualmente, dessa forma a pesquisa é feita usando um procedimento bibliográfico.

A relação sujeito-objeto neste projeto é empírico-analítica porque “o

pesquisador mantém distância estratégica do objeto de pesquisa, buscando o

quanto possível não se envolver subjetivamente com as variáveis intervenientes”

(Castilho et al., 2006, p.54).

O projeto quanto à coleta de dados pode ser considerado uma revisão

bibliográfica porque os dados usados são secundários e foram obtidos mediante

consulta à revistas, livros, periódicos, artigos e internet.

O método é limitado porque

Pesquisa é a atividade científica pela qual descobrimos a realidade. Partimos do pressuposto de que a realidade não se desvenda na superfície. Não é o que aparente à primeira vista. Ademais, nossos esquemas explicativos nunca esgotam a realidade, porque esta é mais exuberante que aqueles (DEMO, 1985, p.23).

Assim, por mais que seja feita uma revisão bibliográfica extensa e seja

construído um raciocínio pertinente, não é possível abarcar consistentemente a

realidade existente em sua totalidade.

1.5 Delimitações do Objeto

O objeto de pesquisa deste projeto – o trabalho e a forma como o mesmo é

organizado – precisa ser delimitado para que o estudo sobre o tema seja feito

consistentemente.

As atividades repetitivas, aquelas que requerem predominantemente esforço

físico e as cognitivas mais simples, com o passar do tempo, passam a ser realizadas

por máquinas, robôs e programas sofisticados ao invés de seres humanos que, cada

vez mais, se dedicam à trabalhos que necessitam principalmente de conhecimento,

raciocínio e criatividade. Conforme afirma De Masi (2000, p. 101), “Queiramos ou

não, devemos saber que o único tipo de emprego remunerado que permanecerá

disponível com o passar do tempo será de tipo intelectual criativo.”

Sendo assim, o objeto de pesquisa deste projeto é a organização do trabalho

predominantemente cognitivo, realizado pelo “cognitariado":

Page 15: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

14

Nesse sentido, definirei o trabalho cognitivo como a atividade socialmente

coordenada da mente, finalizada na produção de semiocapital. Trabalho

cognitivo é o processo de trabalho da ação cognitiva do cognitariado. O que

significa a palavra “cognitariado”? É evidente que essa palavra-valise traz

em si dois conceitos: o de trabalho cognitivo e o de proletariado.

Cognitariado é a corporeidade social do trabalho cognitivo (BERARDI, 2009,

p.73).

O trabalho analisado nesta pesquisa pode ser ainda mais bem definido como

sendo aquele realizado em determinados tipos de organizações. Pela tipologia

organizacional proposta por Katz & Kahn (1974, p.135), baseada na divisão das

organizações pelas funções genotípicas – tipo de atividade em que a organização se

acha empenhada – o foco desta pesquisa são as organizações produtivas, aquelas

que são dedicadas a criar riqueza, produzir bens e prestar serviços.

Além disso, a pesquisa é pertinente às empresas cuja tecnologia central dos

processos de trabalho – definida por Chase (2009, p. 254) como aquela que é

diretamente relacionada à missão da organização – é a tecnologia da informação.

1.6 Estrutura do Trabalho

Seguindo o método apresentado no capítulo 1.4 para atingir os objetivos

deste projeto, este trabalho está estruturado da seguinte forma:

O capítulo 1 foi dedicado à introdução do tema, contexto, objetivos e

relevância da pesquisa, bem como o método a ser usado nela e as limitações do

mesmo e as delimitações do objeto.

O capítulo 2 é voltado para o método da pesquisa e traz a explicação da

abordagem metodológica e dos critérios de busca, filtro, leitura e compilação dos

textos que integram o presente projeto, além da estrutura de abordagem ao

problema.

O capítulo 3 apresenta a definição de alguns conceitos pertinentes ao

entendimento da pesquisa, a revisão da literatura relevante ao tema com o objetivo

de obter um panorama daquilo que já foi discutido acerca do problema levantado a

ser abordado pela pesquisa, a seleção de aspectos organizacionais a serem

analisados e uma reflexão sobre a localização deste projeto no ciclo de projeto e

desenvolvimento em projeto organizacional.

O capítulo 4 é composto pela análise crítica dos três aspectos organizacionais

selecionados no capítulo 3 considerando o panorama histórico, o contexto atual e a

adequação ou não do aspecto organizacional ao objeto de pesquisa.

Page 16: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

15

O capítulo 5 traz três casos de empresas que foram capazes de adotar com

sucesso especificações para seus projetos organizacionais diferentes dos aspectos

analisados no capítulo anterior, além de indicações do autor para empresas que

desejam fazer o mesmo.

O capítulo 6 tratará das indicações para possíveis pesquisas futuras,

limitações da pesquisa, conclusões e considerações finais do projeto.

Page 17: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

16

2. Método da Pesquisa

A pesquisa é desenvolvida mediante o concurso dos conhecimentos

disponíveis e a utilização cuidadosa de métodos, técnicas e outros

procedimentos científicos. Na realidade, a pesquisa desenvolve-se ao longo

de um processo que envolve inúmeras fases, desde a adequada formulação

do problema até a satisfatória apresentação dos resultados. GIL (2002,

p.17)

Para Demo (1985, p.19): “É um erro superestimar a metodologia, no sentido

de cuidar mais dela do que de fazer ciência.” Dessa forma, dada a importância da

adequada definição do método da pesquisa para que os objetivos da mesma sejam

atingidos, esse capítulo está voltado para a exposição da abordagem metodológica e

do método de trabalho adotado nesta monografia sem realizar um aprofundamento

no assunto levando em consideração que a metodologia é uma disciplina auxiliar ao

presente projeto.

2.1 Abordagem Metodológica

A execução desta pesquisa foi realizada com a utilização de documentação

indireta de fonte secundária e por isso pode ser classificada como bibliográfica.

Conforme descreve Lakatos & Marconi (1992, p.43): “trata-se de levantamento de

toda a bibliogradia já publicada, em forma de livros, revistas, publicações avulsas e

imprensa escrita.”

A base lógica adotada para guiar a investigação científica neste projeto foi o

método indutivo e o objeto de pesquisa será abordado de forma qualitativa.

Este projeto de graduação pode ser classificado quanto aos seus objetivos

como exploratório, sobre este tipo de pesquisa define Gil (2002, p.41): “estas

pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de ideias ou a descoberta

de intuições.”

O procedimento utilizado na análise do objeto da presente pesquisa foi o

histórico que, de acordo com Andrade (2003 apud CASTILHO et al., 2006) parte do

princípio de que as atuais formas de vida social, as instituições, os costumes e, no

caso deste projeto, certos aspectos da organização do trabalho contemporâneo, têm

origem no passado e por isso é importante pesquisar suas raízes, para compreender

sua natureza e função.

Page 18: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

17

A Tabela 1 apresenta, resumidamente, a abordagem metodológica utilizada

neste projeto de graduação.

Tabela 1: Resumo da abordagem metodológica

2.2 Sistematização da Revisão Bibliográfica

A busca por materiais para leitura seguiu o processo apresentado na figura 2.

Primeiramente foi definido o tema da pesquisa, a seguir foram selecionadas

palavras-chave baseadas no conhecimento adquirido em disciplinas do curso de

graduação relacionadas ao tema e em livros e artigos selecionados como textos

básicos para entendimento do assunto.

Após a definição das palavras-chave foi realizada uma pesquisa por livros na

Amazon, também foi feita uma pesquisa por artigos científicos na base ISI Web of

Science e na base Scielo, além de uma busca por periódicos no portal de periódicos

Capes nos quais foi feita uma procura por artigos. Os resultados das pesquisas bem

como a lista dos livros, periódicos e livros selecionados estão no Apêndice 1 deste

documento.

Depois da busca, o material selecionado foi lido, resumido e a bibliografia

considerada pertinente à pesquisa foi selecionada e posteriormente lida.

Page 19: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

18

Figura 2: Esquema-resumo da Sistematização da Revisão Bibliográfica - Adaptado de

Spiegel (2013)

2.3 Estrutura da Pesquisa

Esta pesquisa parte da elaboração de um problema, definido pelo dicionário

Michaelis online como “questão levantada para inquirição, consideração, decisão ou

solução”. O problema desta pesquisa se encontra traduzido na questão: A

organização do trabalho predominantemente cognitivo na sociedade pós-industrial

se adequa às características do mesmo?

Page 20: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

19

A formulação do problema desta pesquisa foi realizada seguindo as regras

práticas listadas por Gil (2002, p.26) – semelhantes àquelas descritas por Quivy

(2005, p.39) – para o autor o problema deve ser:

a) Formulado como pergunta;

b) Claro e preciso;

c) Empírico;

d) Suscetível de solução; e

e) Delimitado a uma dimensão viável.

Após a definição do problema foi realizada uma revisão da literatura para

explorar o mesmo e o passo seguinte foi a formulação de uma hipótese que,

segundo Quivy (2005, p.113), é essencial à qualquer pesquisa científica e constitui o

melhor meio de dirigí-la com ordem e rigor.

Dessa forma, a hipótese formulada, já citada no capítulo 1.4 deste projeto, foi:

a organização do trabalho pós-industrial não é adequada às características do

trabalho predominantemente cognitivo presente na sociedade pós-industrial por

possuir aspectos que não foram criados para o tipo de trabalho atual e sim herdados

de sociedades diferentes e anteriores à atual.

A validade da hipótese foi então testada através de um levantamento feito

numa revisão da literatura de aspectos organizacionais atuais que são considerados

inconsistentes com a realidade presente. Na revisão bibliográfica foi feita uma

análise crítica de três dos aspectos selecionados, analisando para cada um deles o

tipo de trabalho para o qual foi criado, a razão da sua criação, as características

sociais da época em que surgiu, a sua presença no contexto atual e sua adequação

ao objeto desta pesquisa. A figura 3 resume as etapas seguidas na realização desta

pesquisa.

Page 21: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

20

Figura 3: Etapas da Pesquisa (Fonte: o autor)

Page 22: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

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3. Revisão da Literatura

Como primeiro objetivo da Revisão da Literatura tem-se a definição de

conceitos necessários ao alinhamento teórico para tornar o entendimento das

demais partes da pesquisa mais claro.

Os seguintes conceitos serão definidos de acordo com a literatura pertinente:

1. Trabalho e Trabalho Pós-Industrial;

2. Organização do Trabalho; e

3. Período Industrial e Pós-Industrial.

O segundo objetivo deste capítulo é apresentar uma análise do que autores

publicaram sobre a organização do trabalho contemporâneo a fim de obter uma

visão geral da situação atual do assunto.

A forma como os estudiosos dessa linha de pesquisa entendem que a história

da sociedade e do trabalho moldou as organizações pós-industriais é essencial para

o entendimento do panorama presente e essa visão faz parte da finalidade deste

capítulo.

O terceiro objetivo é a seleção – necessária para a definição de um escopo de

trabalho – dos aspectos organizacionais que foram analisados de forma crítica no

decorrer da revisão bibliográfica desta pesquisa no capítulo 4 seguindo a abordagem

apresentada na figura 3 do Capítulo 2.3.

O quarto objetivo é enquadrar no ciclo de pesquisa e desenvolvimento em

projeto organizacional a pesquisa feita neste projeto.

3.1 Definição de Conceitos

3.1.1 Trabalho e Trabalho Pós-Industrial

Conforme escreve Decca (1982, p.8) a palavra labor – trabalho em latim –

remete à dor e o esforço inerentes à condição do homem, mostrando como o

trabalho era percebido como um mal.

A partir do século XVI o trabalho começou a ganhar um novo sentido,

representando fonte de riqueza e uma possibilidade de ascensão social, o que

tornou-se possível e crível com o fortalecimento conseguido pela burguesia que

conquistou poder social através do trabalho, considerado algo evitável pela

aristocracia.

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22

Como ressalta Albornoz (1995, p.53), o trabalho também passa a ser

valorizado na Reforma Protestante por representar uma vontade divina e a única

forma de se obter êxito. Sobre isso Weber (1981, p.75) escreve que Richard Baxter,

pai do presbiterianismo inglês, acreditava que todos deveriam trabalhar, mesmo os

ricos, porque este é o mandamento de Deus.

Apesar das diferentes interpretações historicamente dadas ao trabalho e da

importância desta discussão para o entendimento da visão atual sobre o tema, nesta

pesquisa o trabalho será definido como uma “atividade orientada a um fim” (MARX,

1996, p.298), desprovido assim de inclinações políticas, culturais ou religiosas.

No período pós-industrial, o trabalho, como escreve De Masi (2001, p. 139),

com o aumento da capacidade das máquinas e sua miniaturização, passa a ter a

fadiga física e parte da intelectual substituída pelo monopólio da criatividade onde o

trabalho do homem passa a se concentrar.

O capital imaterial, valorizado pelo capitalismo pós-moderno, substitui cada

vez mais rapidamente aquele que era e continua sendo valorizado em grandes

quantidades pelo capitalismo moderno, o capital fixo, afirma Gorz (2005, p. 15).

Ainda para o autor, o trabalho abstrato simples tem sido trocado pelo trabalho

complexo para o qual importa mais a inteligência, a imaginação e o saber do que a

própria ciência ou o conhecimento – definido por Gorz (2005, p.16) como:

“conteúdos formalizados, objetivados, que, por definição não podem pertencer às

pessoas”.

3.1.2 Organização do Trabalho

O modelo apresentado na figura 4 mostra como a disciplina de organização

do trabalho se enquadra dentro da área de engenharia do trabalho no campo de

conhecimento da engenharia de produção. Batalha (2008, p.110) define como

objetivos da engenharia do trabalho o projeto, implantação e controle do posto de

trabalho e a maneira de trabalhar.

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Figura 4: Diferentes áreas de conhecimento da engenharia de produção num sistema

produtivo com destaque para a engenharia do trabalho e suas subáreas. Fonte: Adaptado de

Batalha, 2008, p.110

A organização do trabalho, de acordo com Chambers, Johnston & Slack

(2007, p.254), é a organização de toda a operação, materiais, tecnologia e pessoas

para atingir os objetivos operacionais.

Conforme escreve More (1997), a organização do trabalho sempre existiu,

mas foi com o início da Revolução Industrial que esta se tornou mais necessária e

por isso começou a se desenvolver com mais força.

Nesta pesquisa, um importante componente da organização do trabalho será

abordado: o projeto de trabalho, que pode ser definido como:

Especificação do conteúdo, métodos e relações entre cargos a fim de

satisfazer requisitos tecnológicos e organizacionais bem como os requisitos

pessoais e sociais do trabalhador (DAVIS, 1966, p.21).

Para o autor existem duas vertentes dentro do projeto de trabalho: a que trata

de requisitos físicos, ambientais e fisiológicos e outra que lida com aspectos sociais,

organizacionais e pessoais, aqui será dado foco na segunda vertente.

O projeto organizacional é outro fator discutido neste projeto, para Daft (2009,

p.15) a organização é composta por dimensões estruturais e contextuais que devem

ser projetadas para que a mesma atinja seus objetivos. A figura 5 reúne as

dimensões apresentadas pelo autor.

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24

Figura 5: Dimensões Contextuais e Estruturais Interativas do Projeto Organizacional.

Fonte: Adaptado de DAFT (2009, p.15)

3.1.3 Período Industrial e Pós-Industrial

A economia agrária e artesanal avança, pela primeira vez na história, para

uma economia dominada pela indústria e pela manufatura mecanizada na

Revolução Industrial que começou na Inglaterra no século XVIII, conforme escreve

Landes (2005, p. 1).

Segundo Aron (1981, p.73), uma definição simples da sociedade industrial é

aquela onde a indústria é a forma de produção mais característica, daí diversas

características da economia do período industrial podem ser deduzidas. São citadas

pelo autor: a divisão entre o local da família e do trabalho, divisão do trabalho dentro

das empresas, a acumulação de capital, o cálculo racional e a concentração dos

trabalhadores.

Para Toffler (1981, p. 47) o período industrial, chamado pelo autor de

segunda onda – em oposição ao pós-industrial denominado terceira onda – pode ser

caracterizado por 6 princípios interelacionados, a saber: padronização,

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especialização, sincronização, concentração, maximização e centralização. Ainda

segundo o autor, estes fatores levaram ao aumento da burocracia.

Ao longo do tempo, mesmo quando o período industrial ainda mostrava suas

primeiras características, elementos que serviram de propulsores para o período

seguinte, o pós-industrial, começaram a surgir. Para De Masi (2001, p. 140) lista-os:

“a ciência, a tecnologia, a globalização, o progresso organizativo, a escolarização e

o mass media”.

O pós-industrialismo possui três fatores destacados por Castells (2005, p.

267): fonte de produtividade e crescimento residem na geração de conhecimento,

atividade econômica com foco no setor de serviços e não mais na indústria e

aumento da importância de profissões com grande nível de conhecimento e

conteúdo de informação como as administrativas, especializadas e técnicas.

Touraine (1971, p.3) comenta sobre os diferentes tipos de nomes que a

sociedade pós-industrial – que pode ser chamada assim para reforçar o quão

diferente é daquela que a precedeu, apesar de preservar algumas características

desta – possui, como tecnocrática, devido ao poder que nela domina, ou

programada para defini-la de acordo com os métodos de produção e organização

econômica.

A tabela 2 resume a visão de Bell (1979, p.47) sobre importantes elementos

que diferem os modos de desenvolvimento pré-industrial, industrial e pós-industrial e

que os definem.

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Tabela 2: Características dos Modos de Desenvolvimento. Fonte: Bell (1979, p.47)

3.2 Panorama do Tema da Pesquisa

De Masi (2000, p.59) escreve que os princípios que foram instaurados no

interior da fábrica, novos em relação aos trabalhos agrícolas e artesanais, embora

criados para a oficina são aplicados nos escritórios e em todos os setores da

sociedade. Para o autor quando essa modificação na organização do trabalho se dá,

modificam-se outros fatores da vida do trabalhador, para Decca (1982, p.15) isso

representa a “introjeção de um relógio moral no corpo de cada homem” por parte dos

burgueses aos trabalhadores. Cabe ressaltar aqui o significado da palavra

“introjeção” utilizada no trecho citado por ser importante à percepção da forma como

a organização do trabalho atual surgiu, segundo o Dicionário Psi: “(1) é um processo

inconsciente pelo qual o sujeito incorpora ao eu aspectos dos objetos e da realidade

externa [...] (3) Na teoria gestáltica consiste em ‘engolir inteiras’ as ideias, hábitos ou

princípios a nós ensinados.”

Para Sérieyx (1995, p.72) nas nossas sociedades contemporâneas, a

mudança transforma-se em regra e a estabilidade em exceção. O autor usa como

exemplo dessa alteração alguns choques que atingiram a sociedade como a

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revolução da informação, a mundialização das economias e o afundamento de

grandes ideologias que tornaram as organizações do passado “bruscamente

inadequadas”.

Outro autor que escreve sobre as organizações contemporâneas é Hock

(2003, p.18) que vai além dos outros autores citados anteriormente na sua crítica ao

questionar se os conceitos por trás das atuais estruturas de organização não seriam

responsáveis pelos problemas ambientais e sociais existentes.

3.3 Seleção dos Aspectos Organizacionais

Em seu livro, O Futuro do Trabalho, De Masi (2001) disserta sobre 8 peças de

acusação contra o trabalho na sociedade pós-industrial que podem ser traduzidas

em termos de aspectos organizacionais analisados pelo autor conforme a tabela 2,

criada a partir da leitura e interpretação do texto pelo autor desta pesquisa.

Ainda no mesmo livro, De Masi escreve sobre outro aspecto organizacional

que tomou força no período industrial e foi transplantado para a organização do

trabalho pós-industrial: a divisão do trabalho em atividades extremamente simples e

a alta especialização do trabalhador.

Tabela 3: Acusações contra a atual organização do trabalho (DE MASI, 2001, p.24-36) x

Aspectos Organizacionais (Fonte: o autor)

A citação dos aspectos criticados listados se refere unicamente ao livro do De

Masi porque o autor reuniu em sua obra todos os aspectos organizacionais

encontrados nos textos de outros autores pesquisados (Hock 2003, Sérieyx 1995,

Touraine 1971, Aznar 1995 e Toffler 1981).

Page 29: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

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A seguir é apresentada uma definição sucinta para cada um dos aspectos

organizacionais pesquisados:

Busca Agressiva da Eficiência e Competitividade: Caracteriza-se pela busca a

qualquer custo da maximização da “[...] habilidade da organização em fabricar

produtos melhores do que seus concorrentes, de acordo com os limites impostos

pela sua capacitação tecnológica, gerencial, financeira e comercial.” (SILVA &

FONSECA, 2010, p.37)

Tristeza Visual do Ambiente de Trabalho: Para De Masi (2001, p.26), há uma

“tristeza estética” nas empresas devido aos prédios projetados de forma nua e

modular como penitenciárias; corredores e pisos retos e vazios; e pessoas

vestidas com trajes formais e despidas de suas individualidades.

Hora Extra: Segundo De Masi (2001, p.28), muitos funcionários simulam

sobrecarga de trabalho, se iludem quanto ao fato de serem indispensáveis à

empresa e ficam além do horário de trabalho normal fazendo companhia aos

seus chefes.

Remuneração Incompatível com a Qualidade do Contexto Profissional: De Masi

(2001, p.30) cria uma escala de 1 à 6, onde classifica diversos contextos

profissionais, na qual o nível 1 é reservado àqueles que trabalham com os que

trabalham com os mortos (ex.: coveiros) e no último nível estão os que trabalham

com quem se diverte. No terceiro nível desta escala estão aqueles que trabalham

ao lado de outros que trabalham nas indústrias e escritórios, a conclusão do autor

é que a remuneração por vezes é incompatível com a qualidade do contexto

profissional.

Jornada de Trabalho Fixa:

A duração e distribuição atuais do trabalho ao longo da semana são

praticamente as mesmas inauguradas por Taylor no fim do século XIX

quando os operários de fábricas eram todos analfabetos e as máquinas

ainda movidas pela força motriz do vapor. [...] esse tipo de operário é

minoritário há décadas, pois a grande maioria dos trabalhadores é composta

de knowledge workers cuja produção intelectual nada tem a ver com a

quantidade de horas passadas no escritório ou com o decrépito e

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desencorajador ritual dos cartões de ponto e das portas e cancelas

militarmente guardadas.DE MASI (2001, p. 31)

Resistência à Mudança: “[…] toda organização, grande ou pequena, tende a ser

conservadora, sofre de compulsão à repetição.” (DE MASI, 2000, p.178)

Difusão do Medo: Conforme escreve Castelhano (2005, p.15), o medo sempre

existiu nas organizações e surge devido a insegurança quanto à manutenção do

emprego que é instrumentalizada através de sistemas de dominação e controle

que assumem o formato de repressão explícita e dominação sutil.

Burocratização:

“[…] processo gradual que se apresenta nas organizações, mediante o qual

as relações se formalizam, a hierarquia se institucionaliza, a improvisação

diminui, o trabalho de cada um se especializa, são criadas normas escritas,

procedimentos e rotinas, se procura submeter a todos os membros da

organização às mesmas regras e regulamentos e esses membros separam

seu domicílio do local de trabalho.” DIAS (2009, p.186)

Divisão do Trabalho e Alta Especialização do Trabalhador: Marglin (1978, p.9)

escreve sobre as diferentes divisões do trabalho: social, como pode ser percebida

na distribuição dos diferentes trabalhos pelas castas na sociedade hindu

tradicional; técnico corporativa, onde os membros da corporação eram

especialistas em determinadas partes do processo, mas ainda assim controlavam

o todo e o produto; e a técnico capitalista, na qual os trabalhadores realizavam

uma parcela do processo tão pequena que já não tinham mais um produto para

vender e, então, passam a ofertar o seu tempo de trabalho.

A fim de definir a relevância dos aspectos organizacionais para decidir qual

seria abordado neste projeto de graduação, foi feita uma tentativa de realizar uma

pesquisa com alguns professores e pesquisadores de referência no campo temático

desta pesquisa, mas devido a indisponibilidade de tempo na agenda de alguns e ao

fato dessa pesquisa ser um projeto de graduação, o que significa que para sua

realização o período de tempo não é muito grande e não foi suficiente para o

preenchimento do protocolo por todos os professores e pesquisadores.

Page 31: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

30

Com isso, a definição dos aspectos organizacionais a serem estudados foi

feita com base na revisão da literatura realizada e com o apoio do orientador. Os

seguintes aspectos, dentre aqueles levantados, foram selecionados:

1. Jornada de trabalho fixa;

2. Ambiente físico de trabalho; e

3. Divisão do trabalho e alta especialização do trabalhador.

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4. Análise Crítica dos Aspectos Organizacionais

Selecionados

Feita a seleção dos aspectos organizacionais a serem trabalhados no projeto,

este capítulo tem como objetivo a análise crítica dos mesmos, seguindo o método

proposto na figura 3 do capítulo 2.3. Cada aspecto foi analisado levando de acordo

com a sociedade na qual surgiu, o trabalho para o qual foi criado, seu histórico até

os dias de hoje e sua situação atualmente na organização do trabalho

predominantemente cognitivo nas sociedades pós-industriais.

4.1 Jornada de Trabalho Fixa

O primeiro aspecto organizacional a ser analisado é a jornada de trabalho fixa

que pode ser considerada como tal em diversos espaços de tempo como dia,

semana, mês, ano e outros.

4.1.1 Panorama Histórico

Para entender a origem deste aspecto organizacional, vale entender como o

conceito de tempo mudou ao longo da história. As populações agrícolas, de acordo

com Tofler (1981, p.102), desenvolveram uma incrível capacidade de medir longos

períodos de tempo porque precisavam saber quando plantar e colher, mas

raramente dividiam o tempo em unidades precisas como horas e minutos usando

medidas mais frouxas e pouco precisas como o tempo de “cozinhar o arroz”.

Segundo Decca (1982, p.15) a noção do tempo como moeda no mercado de

trabalho se torna mais forte inicialmente com os burgueses, ainda no surgimento da

classe dos mercadores, anterior ao industrialismo. A burguesia cresce socialmente

como classe e se torna dominante em relação aos trabalhadores e busca introjetar a

ideia da importância do tempo neles. Para Tofler (1981, p.103), a “civilização da

segunda onda” (sociedade industrial), conforme amadureceu, criou novas imagens

sobre o tempo.

A disciplina durante o trabalho já existia anteriormente às fábricas de acordo

com Landes (2005, p.2), nas grandes construções e nas manufaturas, a supervisão

do trabalho era feita, mas o ritmo era menos intenso do que o imposto mais tarde

aos trabalhadores pelas máquinas.

Page 33: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

32

Com os grandes investimentos feitos em maquinário, espaço e energia, os

burgueses buscaram maximizar a utilização dos seus ativos com jornadas de

trabalho longas e criando turnos duplos de acordo com Engels (2005, p.72). Sem

nenhuma lei para restringir a jornada, o tempo de trabalho diário dependia do

empregador e do quanto ele conseguia explorar os seus empregados que também

se interessavam em trabalhar o máximo de horas possível, como comenta Engels

(2005, p.43), porque sabiam que poderiam ser facilmente trocados por outros tantos

disponíveis no mercado de trabalho.

A primeira lei que definia o número de horas trabalhadas por dia, aplicável

somente às crianças em fábricas de algodão, surgiu em 1819 na Grã-Bretanha.

Conforme escrevem Cornish e Clark (1989, p.379), Robert Owen, dono de uma

fábrica com uma proposta social diferente que tinha vila e escola próprias, restringiu

o trabalho de crianças para 12 horas por dia e levou sua prática para o parlamento

bretão onde surgiu a lei. Com o passar do tempo, o trabalho de mulheres teve sua

jornada definida e reduzida, junto com o trabalho de menores de 18 anos, para 10

horas.

Apesar de ignoradas por falta de fiscalização e dificuldade de comprovar as

irregularidades encontradas nas fábricas, a lei de 1819 em conjunto com outras leis

que foram criadas no país nos anos seguintes serviram de exemplo para outras

nações que estavam passando pelo processo de industrialização.

À medida que foram criadas restrições para a jornada de trabalho de jovens e

mulheres, como comentam Cornish & Clark (1989, p.380), a massa de trabalhadores

masculina passou a exigir 10 horas de trabalho diárias. Em 1874, uma redução da

jornada de trabalho semanal foi conseguida e em 1890 começou a ser aceita a ideia

de 8 horas de trabalho por dia, inicialmente nos trabalhos municipais e

governamentais.

4.1.2 Contexto Atual

Atualmente, os dados da Organização Internacional do Trabalho (International

Labour Organization), mostram que a legislação acerca da duração da semana de

trabalho em 149 países estão distribuídas de acordo com a tabela 4.

Page 34: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

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Tabela 4: Jornada de Trabalho Semanal pelo Mundo (Fonte: Banco de dados - ILO)

Pode-se perceber que é mais comum dentre os países pesquisados, a

semana de 40 à 48 horas de trabalho de acordo com a legislação trabalhista de

cada país. As leis podem ou não serem seguidas, mas os dados mostram o que

pode ser entendido como uma tendência mundial quanto ao que é aceito no que se

refere a essa variável do projeto organizacional.

Pela análise histórica da origem da jornada de trabalho atual, entende-se que

sua duração e distribuição ao longo da semana não provêm da análise da

capacidade humana de realizar trabalho sem danos ao corpo ou à mente ou da

melhor utilização das faculdades de cada pessoa, nem do desejo de cada

trabalhador e nem mesmo de uma decisão dos governos. Sua origem, na verdade,

vem de uma imposição dos burgueses e que ao longo do tempo, com diversas

disputas entre os trabalhadores e empregadores, mediadas pelo Estado, foi sendo

modificada até chegar ao que é aceito atualmente.

Outras propostas de jornada surgiram ao longo da história, mas não foram –

até então – capazes de sobrepujar a força do pensamento vigente:

Há vinte anos [...] um grupo de estudo francês escandalizou o mundo

europeu do trabalho com um panfleto intitulado Travailler deux heures par

jour (Trabalhar duas horas por dia). Muito antes dele, Edward Bellamy tinha

aventado a hipótese de uma jornada de trabalho de apenas dez minutos,

para atividades extremamente difíceis. Thomas Morus, na sua Utopia

(1516), fixa em seis horas diárias a duração do trabalho atraente, e

Campanella, na sua Cidade do Sol (1611), faz trabalharem homens e

mulheres quatro horas ao dia. Claude Gilbert, em 1700, prevê uma jornada

de cinco horas. Num artigo de 1914, Lênin levanta a hipótese de que,

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34

quando o proletariado tiver tomado nas mãos a produção social, graças ao

taylorismo será possível uma jornada de trabalho de apenas três horas. A

mesma duração pretende Paul Lafargue, no seu “manifesto” de direito ao

ócio, enquanto Bertrand Russell considera lógica e possível uma jornada de

trabalho de quatro horas. DE MASI (2001, p.257)

Keynes (1931, p.145) em seu discurso “Possibilidades Econômicas para

nossos Netos” feito em 1930, acreditava que o progresso tecnológico e econômico

seria grande o bastante para que em 100 anos, as pessoas só precisassem

trabalhar 15 horas semanalmente a fim de que todos tivessem pelo menos um pouco

de trabalho a fazer.

Alguns autores como De Masi (2000), Gorz (1982), Aznar (1995) e Rifkin

(1995) já escreveram sobre projeções da sociedade futura onde o trabalho deixa de

ser a maior atividade com a qual o ser humano gasta seu tempo e a jornada de

trabalho pode ser reduzida para que a maioria das pessoas possa trabalhar ou uma

minoria pode fazê-lo na jornada atual enquanto o resto da sociedade vive

desempregada.

4.1.3 Considerações Sobre a Adequação do Aspecto ao Objeto de Pesquisa

Cabe então, tomando o trabalho que é objeto de estudo desta pesquisa,

analisar se a jornada atual de trabalho é adequada. O trabalho predominantemente

cognitivo, diferentemente do trabalho mais físico e repetitivo realizado nas fábricas,

não pode ser mensurado em unidades de tempo – conforme escreve Gorz (2005,

p.11) – porque seu resultado não está diretamente relacionado com a velocidade

com o qual foi realizado. Segundo De Masi (2000, p.174), em países latinos e no

Japão, a ideia de disponibilidade total que é pertinente ao trabalho de médicos de

plantão – porque podem ser necessários à qualquer momento – se estende a todos

trabalhadores intelectuais, mas a quantidade de ideias produzidas por estes não se

relaciona de forma diretamente proporcional à permanência no interior de um

escritório.

Além disso, ao apropriar-se do conhecimento necessário acerca do processo

produtivo, os donos de fábricas do período industrial, bem como os atuais

supervisores de chão de fábrica, são capazes de monitorar a forma como o trabalho

está sendo feito e perceber se o ritmo e método são os desejados. Já com o trabalho

cognitivo isto não é possível, o trabalhador pode parecer que está se dedicando

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enquanto senta em frente ao computador, mas enquanto isso, sua mente está

dedicada à outras atividades que não seu trabalho.

Essas características do trabalho do “’colarinho branco’ da empresa pós-

industrial”, como escreve De Masi (2001, p. 250), mostram que o mesmo foge dos

controles criados pela organização industrial do trabalho referente ao espaço,

processos e tempo de trabalho.

4.2 Ambiente Físico de Trabalho

O ambiente físico de trabalho, segundo aspecto organizacional a ser discutido

nesta pesquisa, será considerado como dois dos chamados símbolos físicos por

Pratt & Rafaeli (2001, p. 95): design do escritório e vestimenta e adornos pessoais.

4.2.1 Panorama Histórico

No período pré-industrial, a atividade econômica principal, a agricultura, era

praticada nos campos enquanto que o artesanato, atividade que dará origem ao

principal trabalho do período industrial, era feito nas oficinas.

A residência dos trabalhadores, nos dois casos citados anteriormente eram

próximas aos seus locais de trabalho, a agricultura era feita nos terrenos ao redor

das casas das famílias e as oficinas eram numa parte da morada dos artesãos ou

então, caso esses fossem aprendizes, se localizavam na residência dos seus

mestres com os quais possuíam um relacionamento tão próximo que aquelas se

tornavam uma extensão de seus lares.

Trabalho e vida se confundiam nestas modalidades de trabalho como

comenta De Masi (2001, p.122). Essa situação começa a mudar com o

deslocamento dos artesãos para às cidades com o intuito de vender seus produtos

aos comerciantes que nelas viviam e assim inicia-se um processo pelo qual esta

harmonia – entre local de vida e de trabalho – é quebrada, no momento em que os

empresários se tornam um “fator de produção”, processo descrito por Neffa (1990,

p.35).

Com o passar do tempo, os artesãos passam a viver na cidade e trabalhar

para os empresários – ainda tendo suas próprias casas como oficinas – que

fornecem a matéria prima e compram o produto dos trabalhadores, virando um fator

de produção ao se integrarem à cadeia de valor dos artesãos.

Os empresários percebem que esse sistema de produção, denominado

“putting out system”, possui um limite devido ao desperdício e roubo de matéria

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36

prima por parte dos artesãos, a baixa produtividade dos mesmos e as dificuldades

de especificar as características do produto do trabalho. O passo seguinte é a

organização dos trabalhadores “sob um mesmo teto” nas manufaturas para aumento

do controle e resolução dos problemas citados. Ocorre, dessa forma, a quebra entre

o ambiente de trabalho e o de vida do trabalhador.

Um ponto importante ressaltado por Decca (1982, p.10) é que num primeiro

momento, a concentração dos então artesãos num mesmo local não se deu por

motivos tecnológicos como é comumente aceito, mas sim pela vontade dos

empresários. Mais tarde, mesmo com o surgimento das máquinas, primeiramente

movidas pela própria força humana, a necessidade de reunir os trabalhadores num

mesmo local ainda não existe do ponto de vista técnico. Somente com o surgimento

das máquinas à vapor que demandavam uma estrutura grande e cara, além de uma

proximidade das fontes de energia e que por isso não podiam ser instaladas nas

casas de cada trabalhador, o imperativo técnico passa a justificar as fábricas.

Com a energia elétrica e o avanço da engenharia mecânica que produz

máquinas cada vez mais complexas e maiores do que antes, as fábricas continuam

fazendo sentido no setor industrial contemporâneo.

As fábricas do início da revolução industrial, como escrevem Garg & Moore

(1995 apud FERNANDES et al. 2010) e Guérin (2001 apud FERNANDES et al.

2010) eram sujas, escuras, barulhentas e perigosas. A figura 6 mostra uma fábrica

do período industrial na qual percebe-se um local de trabalho pequeno, com muitas

máquinas próximas umas das outras e um grande número de trabalhadores.

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Figura 6: Foto de 1900 de uma Fábrica de Botas em Queensland, Austrália (Fonte:

Wikimedia1)

Quanto ao trabalho de suporte realizado nas fábricas, como supervisão,

planejamento e vendas, este era realizado inicialmente dentro das mesmas, mas

com o surgimento de tecnologias como o telégrafo e o telefone, a possibilidade de

separar fisicamente o ambiente de trabalho fabril e o de suporte passa a existir

conforme a história do surgimento dos escritórios do site Caruso St John Architecs.

Um escritório de 1954 é exibido na imagem 7 que mostra a limpeza, organização e

símbolos de poder, como a mesa grande e centralizada e a cadeira maior e mais

confortável do provável chefe.

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38

Figura 7: Foto de Escritório de 1954 em Seattle, EUA. (Fonte: Wikimedia2)

4.2.2 Contexto Atual

Entre o surgimento dos escritórios até hoje houve a revolução da tecnologia

da informação nas últimas duas do século XX, para Castells (2005, p.67) este foi um

período de rápida evolução da geração, processamento e transmissão da

informação. Tal evolução foi incorporada ao trabalho nos escritórios através de

diversas invenções como: impressoras, fax, telefones sem fio, bancos de dados,

servidores, computadores, internet, disquetes, CD-ROM, PDAs, laptops, pen-drives,

smartphones, armazenamento e processamento em nuvem e tablets que tornaram a

troca, acesso e manipulação de dados mais rápidos, fáceis e móveis.

Conforme escrevem Bell (1976, p.47), Hock (2003, p.236) e Touraine (1971,

p.7), a sociedade pós-industrial tem como recurso estratégico, o conhecimento, e o

terceiro setor da economia, o de serviços, é o principal apesar de coexistir com os

outros. Então, se a economia é movida principalmente pelo processamento e troca

de informações e estas podem ser acessadas de qualquer lugar graças à tecnologia

da informação atual, o ambiente físico de trabalho perde sua justificativa de

existência técnica.

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39

O segundo elemento físico do ambiente de trabalho a ser analisado é a

vestimenta e os adornos pessoais usados pelos trabalhadores. Os uniformes, muito

comuns em fábricas e empresas de serviços, como descrevem Pratt e Rafaeli (1997,

p. 865), possuem dois significados: o primeiro é um mecanismo de controle da

organização sobre os trabalhadores, o fato de todos se vestirem com a mesma

roupa é uma forma de abrir mão do individualismo de cada um; o segundo

significado é servir de símbolo das crenças e valores da empresa.

A forma de se vestir aceita nos ambientes de trabalho atualmente é resultado

de um processo histórico:

O tom negro e cinzento do vestuário, aquele cinzento e aquele negro que

dominaram sem oposições até hoje, portanto durante mais de cento e

cinquenta anos, sobrevivem nos escritórios, num primeiro tempo são

prerrogativas do burguês-empresário ou do burocrata que desempenha

funções de controle por conta da burguesia, servindo para diferenciar uma

classe que, tendo derrotado a nobreza com uma revolução, se lhe

contrapõe encarnando no vestuário os novos valores, fundamento da

legitimidade do seu poder. GARCIA (2002 apud Alexandre 2005)

Atualmente algumas empresas permitem que os seus funcionários se vistam

de forma mais casual uma vez por semana, no dia chamado “dressing down day”,

mas como observa Pratt e Rafaeli (2001, p.97), mesmo nessas ocasiões, os

trabalhadores não podem usar qualquer roupa que desejarem porque necessitam

manter a adequação aos limites do “profissionalismo” e assim, a organização mostra

que a liberdade de expressão é limitada.

4.2.3 Considerações Sobre a Adequação do Aspecto ao Objeto de Pesquisa

Atualmente, a redução em tamanho acompanhada do crescimento em poder

de processamento e agilidade dos equipamentos necessários para trabalhar, a

possibilidade de ter a “matéria-prima” a ser processada em qualquer lugar e a

capacidade de comunicação proporcionada pela internet se configuram como

imperativos para a modificação dos locais de trabalho comuns vistos no último

século.

Nesse novo panorama diversas possibilidades de local de trabalho surgem, o

trabalho pode ser desassociado do escritório. O local de trabalho pode voltar para a

casa do trabalhador e ser novamente integrado ao seu ambiente de vida, escritórios-

satélite mais próximos do local de moradia dos funcionários podem ser criados para

Page 41: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

40

atividades que necessitem ou sejam mais interessantes se feitas pessoalmente e

surge também o desafio de controlar o tempo de trabalho porque se pode trabalhar

de praticamente qualquer lugar à qualquer hora.

A desconstrução da importância que o tempo teve na sociedade industrial

colabora com a modificação dos espaços à medida que a concentração dos

trabalhadores num mesmo local ao mesmo tempo deixa de ser necessária para

produzir resultados quando o trabalho é predominantemente cognitivo. Os espaços

de trabalho se tornam mais informais e passam a ser criados para promover a

integração dos funcionários, permitir troca de informações e ideias com mais

facilidade e até mesmo entreter os funcionários.

As roupas vão deixando de ser uma demonstração de poder, a cultura tende

a ser modificada quando se veem jovens milionários fundadores e presidentes das

dotcom por exemplo, como Mark Zuckerberg do Facebook andar com seu hoodie,

calça jeans e tênis ao invés do tradicional terno

4.3 Divisão do Trabalho e Alta Especialização do Trabalhador

O terceiro e último aspecto organizacional analisado nesta pesquisa é a

divisão do trabalho e a alta especialização do trabalhador.

4.3.1 Panorama Histórico

A divisão do trabalho possui diversos níveis, três de acordo com Skarbek

(1839 apud MARX 1996):

1. Divisão do trabalho em geral: separação da produção social em grandes

gêneros;

2. Divisão do trabalho especial ou em particular: separação dos gêneros em

espécies e subespécies;

3. Divisão do trabalho em detalhe ou divisão da operação de trabalho: é a que

estabelece a separação das profissões e dos diferentes postos nas

manufaturas e oficinas.

A divisão do trabalho existia no período pré-industrial, como cita Marx (1996,

p.466), ela ocorria dentro das tribos por razões fisiológicas (como sexo e idade) e

entre as diferentes tribos graças às diferenças entre os meio ambientes naturais nas

quais existiam e a forma como produziam que davam condições à produção de

diversos bens.

Page 42: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

41

O terceiro nível de divisão do trabalho foi uma característica que definiu a

manufatura:

A manufatura pode ser definida como a organização produtiva baseada na

divisão técnica do trabalho e na combinação de operações diferentes ou

heterogêneas que são resultado de uma atividade artesanal e se atribuem a

trabalhadores diferentes. NEFFA (1990, p.38)

A especialização, por sua vez, ocorre quando o trabalhador realiza apenas

uma parte do trabalho durante um período de tempo estendido e foi mais intensa,

desde o início, nas fábricas do que nos ateliês e indústrias artesanais domiciliares

conforme escreve Landes (2005, p.2).

O que difere a divisão do trabalho em detalhe que existia na sociedade e

aquela característica da manufatura pode ser explicado pelo exemplo da produção

de botas dado por Marx (1996, p.469): um criador de gado “produz” peles, o curtidor

as transforma em couro e o sapateiro faz botas a partir do couro. Nesse caso, cada

trabalhador participou de uma etapa do processo produtivo, assim como nas

manufaturas, a diferença é que o produto do trabalho de cada um deles é uma

mercadoria, ou seja, pode ser vendida, enquanto que na manufatura, o trabalhador é

tão especializado que não produz uma mercadoria, só a combinação do trabalho

destes pode ser considerada como tal.

Um empresário que foi capaz de levar à níveis altíssimos a divisão do

trabalho e especialização do trabalhador é Henry Ford que descreve em sua

autobiografia o resultado de um levantamento que realizou para saber a quantidade

de postos existentes em sua fábrica para produzir o carro Ford modelo T na cor

preta:

Existiam 7.882 diferentes postos na fábrica. Destes, 949 foram classificados

como postos pesados exigindo homens com o físico forte, robusto e

praticamente perfeito; 3.338 exigiam homens de desenvolvimento físico e

força comuns. Os 3.595 postos restantes foram descobertos como não

exigindo esforço físico e poderiam ser realizados pelos tipos de homens

menores e mais fracos. Na verdade, a maior parte deles poderia ser

satisfatoriamente ocupado por mulheres ou crianças mais velhas. Os postos

foram mais uma vez classificados para descobrir quantos deles exigiam o

uso de todas as faculdades e descobrimos que 670 podiam ser ocupados

por homens sem pernas, 2.637 por homens com uma perna, 2 por homens

sem braços, 715 por homens com um braço e 10 por homens cegos. FORD

(2008, p.45)

Page 43: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

42

Uma outra divisão do trabalho existe nas empresas, ela separa os que

planejam e organizam a produção daqueles que de fato participam da execução.

Para Marx (1996, p.298) o que difere o trabalho do homem daquele realizado por um

animal é a capacidade do ser humano de imaginar o produto do seu trabalho antes

mesmo de começar à fazê-lo. Quando o trabalhador deixa de ser dono dos meios de

produção e passa a trabalhar para um empresário, o último se apropria do

conhecimento sobre o processo e é capaz de controlar o trabalho e organizá-lo

como desejar.

Taylor (1990, p.34) acredita na cooperação estreita, íntima e pessoal entre

gerência e trabalhadores como um fator importante para a administração científica.

Para o autor, os gerentes, em posse do conhecimento científico sobre as atividades

executadas pelos operários tem obrigação de planejar o trabalho, orientar os

funcionários, fornecer as ferramentas mais adequadas e aprimorar de forma

contínua a forma como as atividades são realizadas.

Fayol (1990, p. 25) também vê como relevante a divisão das grandes

empresas em diferentes funções: técnica, comercial, financeira, segurança,

contabilidade e administrativa. Sendo a última considerada pelo autor como tendo

suas atribuições mal definidas, para ele, administrar é prever, organizar, comandar,

coordenar e controlar e essas tarefas não pertencem às outras funções, mas se

concentram na administrativa.

Na visão de Toffler (1981, p.61), a divisão em várias partes, não só do

trabalho, mas de esferas da sociedade como a Igreja, família e educação – ocorrida

na segunda onda – criou a demanda por integradores que unem novamente essas

partes: administradores, coordenadores, comissários, presidentes, governadores e

outros.

Ao longo do curso da história, muitos autores viram os fatores positivos e

negativos da divisão do trabalho mais detalhada, Smith (1996, p.65) foi um deles e

acreditava que suas consequências eram um maior aprimoramento das forças

produtivas, habilidade e destreza, além de um aumento do retorno sobre o

investimento feito nas fábricas. O autor também reconhece o lado negativo desse

aspecto organizacional que a seu ver é tornar aqueles que tem trabalhos muito

especializados durante a vida tão estúpidos e ignorantes quanto um ser humano

possa ser.

Page 44: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

43

4.3.2 Contexto Atual

Chase (2007, p.127) considera a especialização do trabalho uma “faca de

dois gumes” do projeto organizacional porque apresenta fatores positivos e

negativos tanto para trabalhadores quanto para a gestão das empresas. A tabela 5

traz a lista dos fatores considerados pelo autor.

Tabela 5: Vantagens e Desvantagens da Especialização para a Gestão e Trabalhadores.

Fonte: (CHASE, 2009, p.127)

Para De Masi (2000, p.184), com a aplicação da divisão do trabalho e

especialização atualmente, as empresas predominantemente impedem a

criatividade, mantêm as pessoas num regime de baixo nível de ideias e só utilizam a

sua capacidade executiva.

4.3.3 Considerações Sobre a Adequação do Aspecto ao Objeto de Pesquisa

A especialização e divisão do trabalho na forma em que surgiram na fábrica

foram transpostas em maior ou menor grau para a realidade do trabalho pós-

industrial de caráter predominantemente cognitivo.

Page 45: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

44

Na época em que surgiram, apesar do caráter positivo no sentido financeiro e

de produtividade apresentado pelos seus resultados, esses aspectos também foram

questionados pelos seus impactos sobre os trabalhadores e a sociedade, cabe

agora pensar em alternativas condizentes com a realidade atual que sejam capazes

de conciliar o ganho financeiro empresarial com um melhor uso das capacidades dos

trabalhadores.

Page 46: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

45

5. Propostas de Modificações dos Aspectos

Organizacionais

Após a análise crítica dos aspectos organizacionais selecionados, a finalidade

deste capítulo é primeiramente apresentar casos de organizações que conseguiram

organizar o trabalho de forma a modificar os aspectos organizacionais listados na

tabela 3. A segunda meta é propor como empresas nas quais os aspectos

organizacionais que foram criticados nesta pesquisa ainda existem podem trocar sua

realidade por uma mais adequada ao trabalho predominantemente cognitivo que

nelas acontece e à sociedade pós-industrial na qual estão inseridas.

5.1 Alternativas Implementadas por Empresas

Diversas empresas são capazes de obter resultados em termos de market

share, grandes receitas, marcas consagradas enquanto organizam o trabalho de

forma diferente daquela criticada neste projeto, por vezes seu sucesso pode ser

associado à essa capacidade.

Fatores ligados à melhor retenção e desenvolvimento de talentos, aumento da

satisfação e redução do turnover de funcionários podem ser obtidos com uma

organização do trabalho adequada às tecnologias disponíveis, à sociedade e às

reais necessidades do trabalhador e da atividade.

Três casos que servem de exemplo de como as empresas podem

implementar formas alternativas de especificação das variáveis do projeto

organizacional e de trabalho sendo bem sucedidas nos negócios são apresentados

neste capítulo.

O principal ponto a ser observado em cada um dos três casos é a forma como

as empresas conseguiram opções aos aspectos organizacionais criticados no

capítulo 4 deste projeto. O caso da W. L. Gore & Associates mostra como a divisão

do trabalho e a especialização do trabalhador podem ser realizadas de forma fluida

e personalizada. No caso da IBM é possível perceber como uma forte cultura de

balanço entre vida e trabalho permite benefícios aos funcionários e à empresa. O

último caso, da AT&T, demonstra que o teletrabalho pode ser difundido como uma

cultura empresarial e ter um retorno financeiro.

Page 47: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

46

5.1.1 W. L. Gore & Associates

O primeiro caso apresentado é sobre a W. L. Gore & Associates, fundada em

1958 pelo casal Wilbert L. e Genevive Gore em Delaware nos Estados Unidos e

atualmente com unidades em 26 países, com uma receita de vendas de US$3

bilhões no ano fiscal de 2012 e vencedora de prêmios renomados de inovação no

seu setor como o Plunkett Awards, além de ter sido listada entre as 100 melhores

empresas para se trabalha da revista Fortune desde o surgimento da lista em 1998 e

ter sido premiada em 2013 como a 5ª melhor multinacional para se trabalhar do

mundo pelo instituto Great Places to Work.14

A empresa desenvolve uma ampla gama de produtos para os setores:

industrial (vedação, ventilação e filtração), eletrônico (transmissão ótica e

componentes de células de combustíveis), médico (dispositivos médicos

implantáveis e produtos para procedimentos cirúrgicos) e têxtil (tecidos para

militares, bombeiros e forças policiais). Para isso conta com mais de 10.000

funcionários, chamados na empresa de associados.25

Brown & Stewart (2009, p.119) descrevem como a Gore encoraja a qualidade

e inovação em seus negócios: nenhum funcionário tem um cargo fixo, cada um

decide como pode ajudar a empresa de acordo com as suas capacidades e

conhecimentos, as atividades que um funcionário decide realizar devem ser

discutidas com os outros para decidir se são capazes de levar a empresa a atingir

seus objetivos.

Como escrevem Manz, Shipper & Stewart (2009, p.242), os novos

“associados” passam por treinamentos para entender a cultura da empresa nos dois

primeiros dias no trabalho e a seguir são apresentados a “padrinhos” que passam

uma lista de funcionários que consideram importantes para os recém-chegados

conhecerem pessoalmente. Este processo dura meses e muitos não se sentem

confortáveis em passar tanto tempo aparentemente sem trabalhar, mas não demora

para que percebam a importância desta etapa para seu trabalho na Gore.

Ainda segundo os autores, na cultura igualitária da empresa não há uma

ênfase em posições hierárquicas, organogramas ou autoritarismo, uma das poucas

41 Informações encontradas no site da empresa - http://www.gore.com/en_xx/

(acessado em 05/12/2013)

52 Ibid.

Page 48: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

47

pessoas com um cargo é a CEO, por motivos legais. A empresa incentiva a

liderança compartilhada, a definição de líderes é feita pela credibilidade que cada

pessoa possui e que pode ser aumentada através: da demonstração de

conhecimento, habilidade ou experiência para ajudar a empresa a atingir algum

objetivo, de bons resultados em série e envolvendo outros em decisões significantes.

O fundador da empresa, Bill Gore, descreveu num memorando interno 10 tipos

diferentes de líderes encontrados na empresa, cada um com distintos e importantes

papéis.

Manz, Shipper e Stewart (2009, p.241) descrevem as características da

estrutura em rede existente na empresa e que são creditadas à cultura igualitária da

empresa, são elas:

Linhas diretas de comunicação, sem intermediários;

Não existência de uma autoridade fixa nem designada;

“Padrinhos” ao invés de chefes;

Liderança natural evidenciada pela vontade de outros de seguirem;

Objetivos determinados por aqueles que vão atingi-los; e

Tarefas e funções organizadas através de compromissos.

5.1.2 International Business Machines (IBM)

Este segundo caso é sobre a IBM, empresa líder no setor de tecnologia da

informação fundada em 1911 em Nova Iorque. A empresa iniciou sua história

fabricando relógios de ponto, esteve por trás das primeiras máquinas de calcular,

tecnologia de armazenamento de dados, leitores de códigos de barras,

computadores e computação em rede.36

Na década de 90, o advento da internet e sua difusão junta com os

computadores domésticos, obrigou a empresa a mudar de estratégia, tirando o foco

da fabricação de produtos e partindo para a prestação de serviços de tecnologia da

informação para empresas, sua atividade principal até hoje. Atualmente a empresa

conta com mais de 434 mil empregados ao redor do mundo e obteve uma receita de

US$104,5 bilhões em 2012.47

63 Informações encontradas no site da empresa –

http://www.ibm.com/ibm/us/en/?lnk=fai-maib-usen (acessado em 07/12/2013)

74 Ibid.

Page 49: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

48

A empresa é conhecida pelas suas práticas de flexibilidade para promover

um melhor balanço entre a vida e o trabalho dos seus funcionários como: jornada de

trabalho flexível (Baral & Bhargava, 2011, p.38); trabalho à distância, modalidade

adotada por mais de 45% do total de empregados da IBM (Johns & Gratton, 2013,

p.5); e possibilidade de afastamento do trabalho por períodos longos como 3 anos

por quaisquer motivos: doenças na família, nascimento de filhos, estudos, os

funcionários deixam de receber seus salários, mas os benefícios continuam sendo

pagos e há a garantia de ter o trabalho de volta depois do afastamento como

escreve Hewlett (2002, p.8).

Brown & Stewart (2009, p. 142) revelam o impacto das políticas de

flexibilidade do trabalho na IBM sobre a retenção de funcionários: mais de 70% dos

funcionários que fazem uso de alguma delas dizem que sairiam da empresa caso o

programa não estivesse disponível. Benefícios financeiros também foram

conseguidos pela companhia, US$75 milhões de redução de despesas com

patrimônio em um ano de acordo com Bailey & Kurland (1999, p.58).

5.1.3 AT&T

O terceiro caso a ser estudado é o da AT&T, fundada em 1876 por Alexander

Graham Bell, inventor do telefone, desde então a companhia cresceu até se tornar

uma das maiores do ramo de comunicações no mundo, fornecendo serviços de

telefonia em mais de 225 países. Atualmente a empresa oferece planos de celular,

internet banda-larga e móvel, televisão e outros tipos para pessoas físicas e

empresas de todos os portes, para isso conta com um número de funcionários

superior à 246 mil que proporcionaram à empresa uma receita consolidada de

US$127 bilhões no ano fiscal de 2012.58

Uma característica da empresa, comentada por Brown & Stewart (2009, p.

144), é a possibilidade que dá aos seus funcionários de trabalhar fora dos

escritórios. De acordo com uma reportagem do site Network World, 30% dos

empregados da administração trabalharam à distância no ano de 2004 durante toda

a semana, outros 41% trabalharam de casa em média um ou dois dias durante a

semana e 19% não o fizeram regularmente, mas ocasionalmente, devido ao mau

85 Informações encontradas no site da empresa -

http://about.att.com/category/all_news.html (acessado em 06/12/2013)

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49

tempo ou outros motivos, somando esses números, apenas os 10% restantes dos

funcionários desta área da empresa trabalharam no escritório durante a semana.

A autora escreve sobre as vantagens da prática para a empresa e para os

funcionários. A AT&T reduziu suas despesas com patrimônio em US$30 milhões,

gastos com horas extras diminuíram US$150 milhões e o turnover das pessoas que

trabalham à distância é metade daquele dos outros funcionários. Os funcionários

veem diversas vantagens no teletrabalho, as principais são: permitir um melhor

balanço entre trabalho e vida pessoal, aumentar a produtividade, fazer com que o

empregado sinta que a empresa confia nele e mostra que ela se importa com seus

trabalhadores.

5.3 Indicações para Organizações

Cada organização tem suas características particulares: mercados, clientes,

concorrentes, sociedades e outros fatores diferem e impactam a forma de organizar

o trabalho em cada caso. Tal diversidade não impede que sejam desenvolvidas

discussões de temas pertinentes à muitas delas, ainda que não sejam aplicáveis à

todas e é isto que será feito neste capítulo.

Nos dias de hoje, conforme comentado anteriormente neste projeto, as

empresas passam por um processo de adaptação – essencial para a sobrevivência

da organização como escreve Batalha (2008, p.186) – ao seu novo ambiente

externo formado por outras organizações, consumidores, fornecedores, investidores,

sociedade, sistemas de transporte e educação e muitos outros componentes.

As organizações também modificam o seu ambiente externo e cada aspecto

organizacional impacta a organização, além de influenciar uns aos outros. Devido à

essas características de múltiplas variáveis interconectadas cujo comportamento e

impacto das interações é impossível prever, um elemento essencial que precisa

permear as ações e pensamentos daqueles que atuam nas empresas é a visão do

mundo pela ótica da complexidade.

Segundo Serieyx (1995, p.244), a ciência passou por mudanças ao longo do

tempo, a precisão, simplificação, o determinismo e as outras características da

revolução científica pós-newtoniana foram abaladas pela aleatoriedade, pelo caos e

pelo desequilíbrio que representam uma nova forma de entender a realidade,

chamada de pensamento complexo. Para o autor, esta forma de pensar é um bom

instrumento para decifrar a complexidade das organizações e melhor as orientar.

Page 51: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

50

Serieyx (1995, p.247) apresenta 3 princípios para ajudar a compreender a

complexidade:

1. Dialógico: associação de dois termos que são antagônicos, mas que se

complementam. Um exemplo aplicável às empresas é a ordem e o

caos, ambos coexistem e são necessários para a continuidade dos

negócios, desejar impor apenas um deles é um erro.

2. Recursório: traduz o choque de retorno entre causa e efeito, a

empresa, por ser uma entidade social, modifica seus funcionários e a

forma como trabalham, pensam e interagem, assim como estes

também mudam a empresa, para melhor ou pior, a cada atitude que

tomam.

3. Hologramático: não se pode conceber o todo sem conhecer as partes e

o todo é ao mesmo tempo, mais e menos do que a soma das partes.

Acredita-se que numa empresa a performance seja superior àquela da

soma das partes porque a empresa seleciona as capacidades e

competências que lhe interessa de cada funcionário e, justamente por

isso, a fração que representa a divisão da capacidade total da empresa

pelo número de partes que a compõe é menor do que a capacidade de

cada funcionário, porque ela não usa toda a capacidade daqueles que

nela trabalham.

Aqueles que pretendem projetar organizações precisam entendê-las a partir

da visualização das reais interações entre as especificações das variáveis de projeto

organizacional e os resultados da empresa porque, assim, aumenta-se a capacidade

de criar e manter organizações mais adaptadas à realidade. A simples aceitação de

práticas organizacionais comumente usadas pelo mercado, sem o questionamento

da aplicabilidade destas às particularidades da organização que está sendo criada,

gera inconsistências como as vistas no capítulo 4 deste projeto.

As organizações já existentes que pretendem fazer alterações na sua

organização do trabalho precisam entender o impacto que a mudança de

especificação de uma variável pode ter sobre as outras, exemplos dessas interações

são dados a seguir.

Os aspectos organizacionais analisados neste projeto são especificações das

variáveis de projeto da organização do trabalho, a tabela 6 mostra quais variáveis

estão especificadas em cada aspecto analisado.

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51

Tabela 6: Aspectos organizacionais analisados nesta pesquisa e suas respectivas

variáveis de projeto organizacional. Fonte: o autor

A forma como a alocação de tarefas é realizada se é fixa ou rotativa, se o

trabalho é divido em muitas tarefas ou poucas, influencia fatores como a

dependência necessária entre os trabalhadores para realizarem uma atividade ou o

sincronismo que deve existir entre eles. Estes fatores, por sua vez, impactam a

forma como o local de trabalho deverá ser construído e como o horário de trabalho

será definido. Por exemplo, caso uma empresa divida muito um trabalho e deixe as

partes sob responsabilidade de um grande número de pessoas, a dependência entre

elas será grande, a jornada de trabalho fixa diária e semanal parecerá interessante

para manter as pessoas realizando seus trabalhos de forma sincronizada e a

presença de um ambiente físico que mantenha esses funcionários próximos

enquanto trabalham pode ser proposto.

Por isso é importante guiar a definição do projeto do trabalho e da

organização pela estratégia da organização e pelos objetivos de cada posto de

trabalho. A análise ergonômica do trabalho combinada com uma abordagem a partir

do contexto competitivo da organização permite uma combinação de visões bottom-

up e top-down que amplia a complexidade da investigação, escreve Paradela (2009)

para o projeto organizacional de indústrias autogestionárias, mas a ideia pode ser

aplicada ao tipo de empresa discutida neste projeto.

Daft (2010, p.74) reforça a ideia de que o projeto organizacional precisa ser

adaptado à estratégia, ambiente, tecnologia, tamanho, ciclo de vida e cultura da

organização.

A figura 7 apresenta a visão do autor deste projeto de graduação, baseada na

literatura comentada anteriormente, de como a organização do trabalho,

representada pelo projeto organizacional e do trabalho, deve se adaptar a diversos

fatores através do uso do pensamento complexo.

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52

Figura 8: Organização do Trabalho e Fatores de Contingência. Fonte: o autor

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53

6. Sugestões, Limitações e Conclusões

Neste último capítulo do projeto foram desenvolvidas sugestões para outras

pesquisas que possam vir a ser realizadas pelo autor ou por outros interessados no

tema, alguns comentários sobre as limitações deste projeto e as conclusões que

podem ser tiradas com a realização da pesquisa, além de observações finais

complementares.

6.1 Sugestões para Pesquisas Futuras

Pesquisas sobre o tema abordado neste projeto podem ser realizadas a partir

de diferentes pontos de vista da questão abordada, bem como com a visualização

do tema de forma mais geral ou específica. Uma das formas de continuidade da

pesquisa seria a análise crítica dos outros 6 aspectos organizacionais encontrados

na literatura, mas não abordados neste projeto.

Uma dimensão que pode ser modificada para dar origem à projetos com o

mesmo tema, mas substancialmente diferentes na abordagem é a temporal. Neste

projeto o foco foi dado à organização do trabalho na sociedade pós-industrial, mas

outros podem abordar quais aspectos organizacionais tendem a surgir ou se

fortalecer na sociedade do futuro.

A mudança do objeto de pesquisa também pode ser interessante para

pesquisas futuras. Podem ser pesquisados especificamente os aspectos

organizacionais mais comuns nos trabalhos característicos das indústrias de óleo &

gás, alta tecnologia, comércio ou outras.

A regionalização da pesquisa é outro aspecto interessante a ser considerado,

neste projeto foi feita uma análise mais global do assunto, tendo como foco a

sociedade pós-industrial em si e não os países nos quais elas existem. Pesquisas

futuras podem localizar o assunto em determinado continente, país ou estado para

entender como a questão pode ser entendida nestes locais.

Pesquisas podem ser dedicadas para a análise de apenas um aspecto

organizacional em uma determinada empresa – no formato de um estudo de caso –

para entender dos impactos do mesmo sobre a vida dos trabalhadores,

produtividade, qualidade do trabalho, relacionamento entre funcionários e setores,

impactos financeiros para a empresa, mudança da imagem que os empregados têm

Page 55: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

54

acerca da empresa, retenção de talentos, percepção dos investidores e da

sociedade, além de outros indicadores.

Um outro estudo importante que pode ser realizado é o detalhamento de

como as práticas de organização do trabalho apresentadas nos casos do capítulo 5

deste projeto podem ser aplicadas nas empresas. Um exemplo é o teletrabalho,

pode ser feita uma análise de como a dinâmica de trabalho muda, o relacionamento

entre os funcionários do escritório virtual, o cumprimento de objetivos,

acompanhamento de performance, a existência ou não de limites de horário para se

trabalhar fora do escritório, a infraestrutura física e tecnológica necessária e

disponível para a realização desta modalidade de trabalho de forma segura e

correta.

A ideia também vale para a autonomia dada aos funcionários para escolher

as atividades que compõe o seu trabalho e como realiza-las. Métodos de como

introduzir estas práticas e executá-las de forma correta que sirvam de orientações

para empresas interessadas são objetos de pesquisa importantes.

6.2 Limitações da Pesquisa

Nesta pesquisa, algumas limitações existiram, o tempo foi uma delas. O prazo

para a realização do projeto de graduação foi de 6 meses desconsiderando o

importante tempo necessário para escolher orientador, tema e o objeto da pesquisa

de fato. Procurou-se minimizar o impacto deste fator decidindo por um tema que

vinha sendo refletido pelo autor durante algum tempo antes do início do projeto.

Além disso, para que a qualidade do trabalho não ficasse afetada, foi decidido que

seriam analisados alguns aspectos organizacionais dentre os existentes ao invés de

abordar todos de forma mais superficial e provavelmente, dado o tempo disponível,

mais pobre.

Outra limitação foi a multidisciplinariedade do tema escolhido, a organização

do trabalho, que envolve assuntos como sociologia, psicologia, engenharia,

administração, economia e outros. Esta diversidade de conhecimentos necessários

para abordar o tema de forma completa é uma limitação dado que o autor deste

projeto é graduando em engenharia de produção e não possui um conhecimento tão

amplo e nem muito profundo. Tal problema foi mitigado, mas certamente não deixou

de existir, com a leitura de textos que mostraram a visão acerca do tema de

Page 56: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

55

pesquisa de autores importantes das disciplinas comentadas, buscando assim um

melhor entendimento da organização do trabalho.

6.3 Conclusões e Observações Finais

Com a realização desta pesquisa é possível concluir que a hipótese a ser

testada: a organização do trabalho pós-industrial não é adequada às características

do trabalho predominantemente cognitivo presente na sociedade pós-industrial por

possuir aspectos que não foram criados para o tipo de trabalho atual e sim herdados

de sociedades diferentes e anteriores à atual, provou-se válida, dada certas

considerações.

Não é possível generalizar os aspectos organizacionais analisados

criticamente neste projeto como sendo um espelho da organização do trabalho pós-

industrial, sua existência em diversas empresas contemporâneas inseridas na

sociedade pós-industrial, cujo trabalho é predominantemente cognitivo é afirmada

por diversos autores citados nesta pesquisa e por outros não considerados aqui.

Cabe lembrar que os casos analisados no capítulo 5 desta pesquisa são atuais e por

isso mostram que a organização do trabalho contemporânea não é composta

apenas dos aspectos criticados.

Aceitando-se que os aspectos organizacionais selecionados representam a

organização do trabalho objeto da hipótese, a análise crítica feita no capítulo 4 deste

projeto mostra que eles são resultados de um processo histórico e que alternativas

foram propostas ao longo do tempo, mas que até então não se tornaram a regra,

mas apenas exceções ao que é comumente aceito. Tais aspectos não foram criados

para a realidade atual dos trabalhos predominantemente cognitivos, mas são

adotados quase que como uma regra em diversas empresas e esta parte da

hipótese foi validada.

A realização da pesquisa foi importante pelo seu acréscimo à importante

discussão da engenharia do trabalho contemporânea, certamente este projeto é

apenas uma pequena parte de um arcabouço teórico rico e que está em constante

debate e renovação, mas o objetivo de refletir os princípios de construção do projeto

organizacional colocado neste projeto é relevante e foi cumprido ao longo de sua

realização.

Page 57: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

56

Apêndice 1

Da Seleção de Livros

Foi realizada uma busca no site da Amazon69 com todas as palavras-chave

definidas na seção 2.2 deste projeto de graduação. Através do add-on do Mozilla

Firefox, Zotero, foi feita a compilação dos livros e uma seleção daqueles

considerados mais pertinentes à pesquisa são apresentados na lista abaixo.

ADAMS, M.; OLEKSAK, M. Intangible Capital: Putting Knowledge to Work in the 21st-Century Organization. [s.l.] Praeger, 2010.

AXELROD, R. M.; COHEN, M. D. Harnessing complexity: organizational implications of a scientific frontier

. New York: Basic Books, 2000.

BELL, D. The Coming of Post-Industrial Society: A Venture in Social Forecasting. 1st Printing ed. [s.l.] Basic Books, 1976.

BOHM, D. On creativity. London; New York: Routledge, 2004.

BOLMAN, L. G.; DEAL, T. E. Reframing Organizations: Artistry, Choice and Leadership. 4. ed. [s.l.] Jossey-Bass, 2008.

DAFT, R. L. Organization Theory and Design. 11. ed. [s.l.] Cengage Learning, 2012.

DE MASI, D. O ócio criativo. Rio de Janeiro: Sextante, 2000.

DUHIGG, C. The Power of Habit: Why We Do What We Do in Life and Business. 1. ed. [s.l.] Random House, 2012.

EISENBERG, E. M.; GOODALL, H. L.; TRETHWEY, A. Organizational Communication: Balancing Creativity and Constraint. Sixth Edition ed. [s.l.] Bedford/St. Martin’s, 2009.

FAYOL, H.; GRAY, I. General and Industrial Management. Rev Sub ed. [s.l.] Ieee, 1984.

FRENCH, W. L.; BELL, C. H. Organization Development: Behavioral Science Interventions for Organization Improvement,6th Edition. 6th. ed. [s.l.] Prentice Hall, 1998.

GERSHUNY, J. Changing times: work and leisure in postindustrial society. Oxford: Oxford University Press, 2003.

96 http://amazon.com – Acessado em 17/07/2013

Page 58: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

57

HATCH, M. J.; CUNLIFFE, A. L. Organization Theory: Modern, Symbolic, and Postmodern Perspectives. 3. ed. [s.l.] Oxford University Press, USA, 2013.

HOCK, D. One from Many: VISA and the Rise of Chaordic Organization. First Printing ed. [s.l.] Berrett-Koehler Publishers, 2005.

HODSON, R.; SULLIVAN, T. A. The Social Organization of Work. 5. ed. [s.l.] Cengage Learning, 2011.

KUMAR, K. From post-industrial to post-modern society: new theories of the contemporary world [...] [...]. Malden, MA [u.a.: Blackwell, 2005.

LANDES, D. S. The Unbound Prometheus: Technological Change and Industrial Development in Western Europe from 1750 to the Present. 2. ed. [s.l.] Cambridge University Press, 2003.

LANDY, F. J.; CONTE, J. M. Work in the 21st Century: An Introduction to Industrial and Organizational Psychology. 3. ed. [s.l.] Wiley-Blackwell, 2009.

LAUBACHER, R.; SCOTT MORTON, M. S. Inventing the organizations of the 21st century [...] [...]. Cambridge, Mass. [u.a.: MIT Press, 2003.

MALONE, T. W. The Future of Work: How the New Order of Business Will Shape Your Organization, Your Management Style and Your Life. [s.l.] Harvard Business Review Press, 2004.

MARCH, J. G.; SIMON, H. A. Organizations. 2. ed. [s.l.] Wiley-Blackwell, 1993.

MATLIN, M. W. Cognition. 8. ed. [s.l.] Wiley, 2012.

MITLETON-KELLY, E. Complex systems and evolutionary perspectives on organisations: the application of complexity theory to organisations Pergamon, 2003

MORGAN, G. Images of Organization. Updated ed. [s.l.] SAGE Publications, Inc, 2006.

NUSSBAUM, B. Creative Intelligence: Harnessing the Power to Create, Connect, and Inspire. [s.l.] HarperBusiness, 2013.

PERROW, C. Complex organizations: a critical essay. Glenview, Ill.: Scott, Foresman, 1979.

SENIOR, C.; BUTLER, M. J. (EDS.). The Social Cognitive Neuroscience of Organizations. 1. ed. [s.l.] Wiley-Blackwell, 2008.

STACEY, R. Complexity and Creativity in Organizations. 1. ed. [s.l.] Berrett-Koehler Publishers, 1996.

STYHRE, A.; SUNDGREN, M. Managing Creativity in Organizations: Critique and Practices. [s.l.] Palgrave Macmillan, 2005.

Page 59: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

58

TAYLOR, F. W. The Principles of Scientific Management. [s.l.] CreateSpace Independent Publishing Platform, 2011.

TOFFLER, A. The Third Wave. [s.l.] Bantam, 1984.

WEBER, M. The Protestant Ethic and the Spirit of Capitalism. [s.l.] CreateSpace Independent Publishing Platform, 2012.

Da Seleção de Artigos

Os números referentes à quantidade de resultados para as buscas por tópico

e título dos artigos na base ISI Web of Science710o são apresentados na Tabela 7.

Tabela 7: Resultado da busca por artigos na base ISI Web of Science

Palavra(s)-Chave Resultados no ISI Web of Science

Topic Title

Organizat* 483.914 129.537

Cognit* 335.268 119.204

Creativ* 49.590 23.874

Organizat* AND Creativ* 3.798 322

Organizat* AND Cognit* 12.055 503

Organizat* AND Industrial 10.602 1.648

Organizat* AND Post-Industrial 95 2

Organizat* AND Knowledge 37.615 2.359

Organizat* AND Work 68.090 3.744

Organizat* AND Complex* 49.006 2.007

Cognit* AND Creativ* 2660 365

Cognit* AND Industrial 965 36

Cognit* AND Post-Industrial 13 0

Cognit* AND Work 43.174 1.042

Cognit* AND Knowledge 25.786 851

Creativ* AND Industrial 1.071 110

Creativ* AND Post-Industrial 46 2

Creativ* AND Work 9.885 763

Creativ* AND Knowledge 4.986 266

Work AND Industrial 38.295 1.876

Work AND Post-Industrial 244 35

Work AND Society 46.715 2.326

Society AND Industrial 9.489 1.938

Society AND Post-Industrial 524 226

107 http://www.webofknowledge.com/?DestApp=WOS – Acessado no período

de 04/07/2013 até 20/07/2013

Page 60: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

59

Desses resultados foi feita uma seleção de artigos que foram lidos para a

construção da revisão da literatura, revisão bibliográfica e para servirem de apoio à

pesquisa como um todo. A lista do material selecionado é apresentada abaixo.

AHUVIA, A.; IZBERK-BILGIN, E. Limits of the McDonaldization thesis: eBayization and ascendant trends in post-industrial consumer culture. Consumption Markets & Culture, v. 14, n. 4, p. 361–384, dez. 2011.

AMABILE, T. M. et al. Leader behaviors and the work environment for creativity: Perceived leader support. The Leadership Quarterly, v. 15, n. 1, p. 5–32, fev. 2004.

AMABILE, T. M. How to kill creativity. Harvard business review, v. 76, n. 5, p. 76–87, 186, 2006.

AMABILE, T. Motivating creativity in organizations: On doing what you love and loving what you do. California management review, v. 40, p. 39–59, 1997.

ANDERSON, P. Complexity Theory and Organization Science. Organization Science, v. 10, n. 3, p. 216–232, 2008.

BAILEY, D. E.; BARLEY, S. R. Return to work: Toward post-industrial engineering. IIE Transactions, v. 37, n. 8, p. 737–752, ago. 2005.

BELL, D. Communications technology - for better or for worse. Harvard business review, n. May-June, p. 20–42, 1979.

BELL, D. The Coming of Post-Industrial Society: A Venture in Social Forecasting. 1ª ed. EUA: Basic Books, 1976. p.616

BENABOU, R.; TIROLE, J. Intrinsic and Extrinsic Motivation. Review of Economic Studies, v. 70, n. 3, p. 489–520, jul. 2003.

BRIEF, A. P.; WEISS, H. M. Organizational behavior: affect in the workplace. Annual review of psychology, v. 53, p. 279–307, jan. 2002.

CHATMAN, J.; POLZER, J. Being different yet feeling similar: The influence of demographic composition and organizational culture on work processes and outcomes. Administrative Science Quarterly, v. 43, n. 4, p. 749–780, 1998.

DIAS, R. Sociologia & Administração. 4ª ed. São Paulo: Alínea, 2009. p. 256

GEORGE, J. M.; ZHOU, J. Understanding when bad moods foster creativity and good ones don’t: The role of context and clarity of feelings. Journal of Applied Psychology, v. 87, n. 4, p. 687–697, 2002.

GERSHUNY, J. Post-industrial society: the myth of the service economy. Futures, n. April, 1977.

GOSPODINI, A. Portraying, classifying and understanding the emerging landscapes in the post-industrial city. Cities, v. 23, n. 5, p. 311–330, out. 2006.

Page 61: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

60

GRABHER, G. Cool Projects, Boring Institutions: Temporary Collaboration in Social Context. Regional Studies, v. 36, n. 3, p. 205–214, maio. 2002.

GUNDRY, L.; KICKUL, J.; PRATHER, C. Building the creative organization. Organizational Dynamics, v. 22, n. 4, p. 22–37, 1994.

HODGKINSON, G. P.; HEALEY, M. P. Cognition in organizations. Annual review of psychology, v. 59, p. 387–417, jan. 2008.

HUBER, G. The nature and design of post-industrial organizations. Management Science, v. 30, n. 8, p. 928–951, 1984.

HULT, G. T. M.; HURLEY, R. F.; KNIGHT, G. A. Innovativeness: Its antecedents and impact on business performance. Industrial Marketing Management, v. 33, n. 5, p. 429–438, jul. 2004.

JENSEN, M. C. The modern industrial revolution, exit, and the failure of internal control systems. The Journal of Finance, v. 48, n. July, p. 831–880, 1993.

KALLEBERG, A. L. Flexible Firms and Labor Market Segmentation: Effects of Workplace Restructuring on Jobs and Workers. Work and Occupations, v. 30, n. 2, p. 154–175, 1 maio. 2003.

KIM, W. C.; MAUBORGNE, R. Fair process: managing in the knowledge economy. Harvard business review, v. 75, n. 4, p. 65–75, [s.d.].

KOUNIOS, J.; BEEMAN, M. The Aha! Moment: The Cognitive Neuroscience of Insight. Current Directions in Psychological Science, v. 18, n. 4, p. 210–216, ago. 2009.

LATHAM, G. P.; PINDER, C. C. Work motivation theory and research at the dawn of the twenty-first century. Annual review of psychology, v. 56, p. 485–516, jan. 2005.

MARIEN, M. The two visions of post-industrial society. Futures, n. October, p. 415–431, 1977.

OLDHAM, G. R. et al. Employee Creativity : Personal and Contextual Factors at Work. The Academy of Management Journal, v. 39, n. 3, p. 607–634, 2007.

QUINN, B. et al. Intellect : Making the Most of the Best. Harvard business review, v. 74, n. 2, p. 71–80, 1996.

RAJARATNAM, S. M.; ARENDT, J. Health in a 24-h society. Lancet, v. 358, n. 9286, p. 999–1005, 22 set. 2001.

REDMOND, M. R.; MUMFORD, M. D.; TEACH, R. Putting creativity to work: effects of leader behavior on subordinate creativity. Organizational Behavior and Human Decision Processes, v. 55, n. 1, p. 120–151, 1993.

RUNCO, M. A. Creativity. Annual review of psychology, v. 55, p. 657–87, jan. 2004.

Page 62: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

61

SHALLEY, C. E.; ZHOU, J.; OLDHAM, G. R. The Effects of Personal and Contextual Characteristics on Creativity: Where Should We Go from Here? Journal of Management, v. 30, n. 6, p. 933–958, nov. 2004.

UHL-BIEN, M.; MARION, R.; MCKELVEY, B. Complexity Leadership Theory: Shifting leadership from the industrial age to the knowledge era. The Leadership Quarterly, v. 18, n. 4, p. 298–318, ago. 2007.

VICENZI, R.; ADKINS, G. A Tool for Assessing Organizational Vitality in an Era of Complexity. Technological Forecasting and Social Change, v. 64, n. 1, p. 101–113, maio. 2000.

O mesmo tipo de pesquisa foi realizada na base Scielo811, considerando os

artigos publicados no Brasil, a Tabela 8 resume esses resultados.

Tabela 8: Resultado da pesquisa na base Scielo-Brasil

Palavra(s)-Chave Scielo - Brasil

Título

Organiza* 1464

Cogni* 690

Criativ* 126

Organiza* AND Criativ* 5

Organiza* AND Cogni* 7

Organiza* AND Industrial 15

Organiza* AND Pós-Industrial 0

Organiza* AND Conhecimento 49

Organiza* AND Trabalho 138

Organiza* AND Complex* 21

Cogni* AND Criativ* 3

Cogni* AND Industrial 0

Cogni* AND Pós-Industrial 0

Cogni* AND Trabalho 8

Cogni* AND Conhecimento 8

Criativ* AND Industrial 0

Criativ* AND Pós-Industrial 0

Criativ* AND Trabalho 8

Criativ* AND Conhecimento 1

Trabalho AND Industrial 18

118 http://www.scielo.org/php/index.php?lang=pt – Acessado no período de

04/07/2013 até 20/07/2013

Page 63: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

62

Trabalho AND Pós-Industrial 0

Trabalho AND Sociedade 22

Sociedade AND Industrial 4

Sociedade AND Pós-Industrial 0

Os artigos considerados mais pertinentes à realização desta pesquisa foram

selecionados e estão relacionados abaixo.

ALENCAR, E. Desenvolvendo a criatividade nas organizações: o desafio da inovação. Revista de Administração de Empresas, v. 35, n. 6, p. 6–11, 1995.

ALENCAR, E. Promovendo um ambiente favorável à criatividade nas organizações. Revista de Administração de Empresas, v. 38, n. 2, p. 18–25, 1998.

ALPERSTEDT, G.; DIAS, T.; SERVA, M. Paradigma da complexidade e teoria das organizações: uma reflexão epistemológica. Revista de Administração de Empresas, v. 50, n. 3, p. 276–287, 2010.

BASTOS, A.; PINHO, A.; COSTA, C. Significado do trabalho: um estudo entre trabalhadores inseridos em organizações formais. Revista de Administração de Empresas, v. 35, n. 6, p. 20–29, 1995.

BEDANI, M. O impacto dos valores organizacionais na percepção de estímulos e barreiras à criatividade no ambiente de trabalho. Revista de Administração Mackenzie, v. 13, n. 3, p. 150–176, 2012.

BOULLN, J.-Y. Duração e organização do tempo de trabalho na Europa. Revista de Administração de Empresas, v. 32, n. 4, p. 92–110, 1992.

CASTELHANO, L. O medo do desemprego e a(s) nova(s) organizações de trabalho. Psicologia & Sociedade, v. 17, n. 1, p. 17–28, 2005.

FEDERAL, U. et al. O paradigma da complexidade e a análise organizacional. Revista de Administração de Empresas, v. 32, n. 2, p. 26–35, 1992.

FERREIRA, M.; SEIDL, J. Mal-estar no trabalho: análise da cultura organizacional de um contexto bancário brasileiro. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 25, n. 61, p. 245–254, 2009.

GOSPODINI, A. Portraying, classifying and understanding the emerging landscapes in

HALLACK, F.; SILVA, C. A reclamação nas organizações do trabalho: estratégia defensiva e evocação do sofrimento. Psicologia & Sociedade, v. 17, n. 3, p. 67–72, 2005.

LOPES, M. C. R. Subjetividade e trabalho na sociedade contemporânea. Trabalho, Educação e Saúde, v. 7, n. 1, p. 91–113, 2009.

Page 64: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

63

MATOS, E.; PIRES, D. Teorias administrativas e organização do trabalho: de Taylor aos dias atuais, influências no setor saúde e na enfermagem. Texto Contexto Enferm, v. 15, n. 3, p. 508–514, 2006.

NATIVIDADE, M. DA; COUTINHO, M. O trabalho na sociedade contemporânea: os sentidos atribuídos pelas crianças. Psicologia & Sociedade, v. 24, n. 2, p. 430–439, 2012.

NETO, B. M. A organização do trabalho sob o capitalismo e a “redoma de vidro.”Revista de Administração de Empresas, v. 27, n. 4, p. 19–30, 1987.

PALANGANA, I.; INUMAR, L. A individualidade no âmbito da sociedade industrial. Psicologia em Estudo, v. 6, n. 2, p. 21–28, 2001.

PASCHOAL, T.; TORRES, C.; PORTO, J. Felicidade no trabalho: relações com suporte organizacional e suporte social. Revista de Administração Contemporânea, v. 14, n. 6, p. 1054–1072, 2010.

SALERNO, M. Projeto de organizações com trabalho menos“ prescritivo.”Produção, v. Especial, p. 99–115, 2000.

SCHWANINGER, M. Vencendo a complexidade: Um conceito de fitness organizacional. Revista de Administração de Empresas, v. 38, n. 3, p. 6–15, 1998.

SILVA, J. A crise da sociedade do trabalho em debate. Lua Nova, v. 35, n. 1,

p. 167–181, 1995.

SOUZA, E. M. DE; BIANCO, M. D. F. Subvertendo o desejo no teatro das organizações: problematizações contemporâneas sobre o desejo e a expansão da vida nas relações de trabalho. Cadernos EBAPE.BR, v. 9, n. 2, p. 394–411, jun. 2011.

SOUZA, E. M. DE; COSTA, A. M. DA. Usos e significados do conhecimento histórico em estudos organizacionais: uma (re)leitura do taylorismo sob a perspectiva do poder disciplinar. Cadernos EBAPE.BR, v. 11, n. 1, p. 01–15, mar. 2013.

SUBJETIVIDADES, C. et al. Creando subjetividades laborales. Implicaciones del discurso psicológico en el mundo del trabajo y las organizaciones. Psicologia & …, v. 25, n. 1, p. 185–192, 2013.

THIRY-CHERQUES, H. ROBERTO. Max Weber: o processo de racionalização e o desencantamento do trabalho nas organizações contemporâneas. Revista de Administração Pública, v. 43, n. 4, p. 897–918, 2009.

TRACTENBERG, L. A complexidade nas organizações: futuros desafios para o psicólogo frente à reestruturação competitiva. Psicologia: ciência e profissão, v. 19, n. 1, p. 14–29, 1999.

Page 65: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

64

WATSON, T. ORGANIZAÇÃO E TRABALHO EM TRANSIÇÃO: DA LÓGICA“ SISTÊMICO-CONTROLADORA” À LÓGICA“ PROCESSUAL-RELACIONAL.”RAE-Revista de Administração de Empresas, v. 45, n. 1, p. 14–23, 2005.

Da Seleção de Periódicos

Uma busca com as palavras-chave definidas para este projeto foi feita na

base de periódicos da Capes912e aqueles considerados mais importantes devido à

proximidade entre suas linhas de pesquisa e a dessa pesquisa estão relacionados

na Tabela 9. Desses periódicos foi selecionado material para servir de apoio e

bibliografia à esta pesquisa.

Tabela 9: Periódicos selecionados pelo Portal Capes

Nome do Periódico ISSN

Culture and organization 1475-9551

Development and learning in organizations 1477-7282

Emergence 1521-3250

Global business and organizational excellence 1932-2054

Group & Organization Management 1059-6011

International journal of organization theory and behavior 1093-4537

International journal of organizational analysis (2005) 1934-8835

Journal of leadership & organizational studies 1548-0518

Journal of Occupational and Organizational Psychology 0963-1798

Journal of organizational behavior 0894-3796

Organizações & sociedade 1413-585X

Organization 1086-0266

Organization science 1047-7039

Organizational behavior and human decision processes 0749-5978

Organizational dynamics 0090-2616

Organizational psychology review 2041-3866

Qualitative research in organizations and management 1746-5648

Revista Psicologia : Organizações e Trabalho 1984-6657

Cognition, technology & work 1435-5558

Journal of cognitive engineering and decison making 1555-3434

Creativity and innovation management 0963-1690

The Journal of creative behavior 0022-0175

129 http://www.periodicos.capes.gov.br/ - Acessado em 17/07/2013 e

18/07/2013

Page 66: Análise Crítica dos Aspectos da Organização do Trabalho Predominantemente Cognitivo na Sociedade Pós-Industrial

65

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