analise criminal 6

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    As bases introdutrias da anlise criminal na inteligncia policial

    Por George Felipe de Lima Dantas e Nelson Gonalves de Souza*

    De acordo com o Capito DeLadurantey[i], comandante da Diviso deInvestigao Cientfica da Polcia de Los Angeles, a expresso Intelignciapodeser entendida da seguinte maneira:

    o conhecimento das condies passadas, presentes e projetadas para o futurode uma comunidade, em relao aos seus problemas potenciais e atividadescriminais. Assim como a Inteligncia pode no ser nada mais que umainformao confivel que alerta para um perigo potencial, tambm pode ser oproduto de um processo complexo envolvendo um julgamento bem informado,um estado de coisas, ou um fato singular. O "processo de Inteligncia" descreveo tratamento dado a uma informao para que ela passe a ser til para aatividade policial.

    J a Anlise Criminal, conforme aponta o autor e docente policial StevenGottlieb (1994)[ii], referindo o "Integrated Criminal Aprehension Program"(Programa Integrado de Priso de Criminosos), tem a seguinte significao:

    um conjunto de processos sistemticos (...) direcionados para o provimento deinformao oportuna e pertinente sobre os padres do crime e suas correlaesde tendncias, de modo a apoiar as reas operacional e administrativa noplanejamento e distribuio de recursos para preveno e supresso deatividades criminais, auxiliando o processo investigativo e aumentando o nmerode prises e esclarecimento de casos. Em tal contexto, a anlise criminal temvrias funes setoriais na organizao policial, incluindo a distribuio dopatrulhamento, operaes especiais e de unidades tticas, investigaes,planejamento e pesquisa, preveno criminal e servios administrativos (comooramento e planejamento de programas).

    No contexto da Anlise Criminal, a expresso padro corresponde a umacaracterstica da ocorrncia de um determinado delito, segundo a qual pelomenos uma mesma varivel daquela ocorrncia se repete em outra, ou outrasocorrncias ao longo do tempo (antes e/ou depois). A categoria da varivelrepetida pode ser o dia da semana, hora, local, tipo de vtima, descrio doautor, modus operandi ou outra varivel qualquer da ocorrncia sob anlise. Ja tendncia indica uma propenso quantitativa geral (aumento, estabilizaoou diminuio) de um fenmeno da segurana pblica, por exemplo, asocorrncias de um delito especfico. Tal propenso deve ser verificada ao longode uma rea geogrfica e srie histrica extensas o suficientemente para que atendncia possa ficar confiavelmente determinada.

    A exemplo de anlise criminal ttica, os trabalhos analticos que identificam umpadro resultante das aes de um determinado delinqente que comete umasrie de crimes, do mesmo tipo penal, em uma mesma localidade, e em um

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    pequeno espao de tempo. J na anlise criminal estratgica, o analista estarvoltado, por exemplo, para a determinao de um padro geral dedelinqncia (a exemplo, arrombamentos) e que produz uma srie de vtimas

    tipicamente pertencentes a um mesmo grupo de risco (a exemplo, oscomerciantes de uma determinada cidade). Um dos resultados tpicos daanlise criminal estratgica a formulao de programas preventivos.

    J a chamada Anlise Criminal Administrativa prov os gestores deinformaes gerais de natureza econmica, social, geogrfica, ou de outra reaqualquer do conhecimento com interface com a segurana pblica.

    A Inteligncia e a Anlise Criminal, enquanto instrumentos de produo deconhecimento, igualmente coletam e processam dados, disseminando oconhecimento produzido sob a denominao geral de informes, informao e

    apreciao. O sigilo umas das caractersticas comuns da Inteligncia e daAnlise, bem como vrios outros comportamentos tpicos da culturaoperacional da chamada atividade de Inteligncia Humana.

    Para entender a Anlise Criminal em sua articulao com a Inteligncia, necessrio entend-la em um nvel topolgico conceitual mais abrangente. em tal nvel topolgico que ela est estreitamente ligada ao meti daInteligncia de Estado, quando fica posicionada com outras trs espcies deanlise: Anlise de Inteligncia propriamente dita, Anlise de Operaes eAnlise Investigativa. Gottlieb estabelece uma interessante correspondncia deatividades para cada tipo citado de anlise:

    Anlise Criminal: quem est fazendo o qu contra quem?

    Anlise de Inteligncia: quem est fazendo o qu junto com quem?

    Anlise de Operaes: como a organizao est utilizando seus recursos?

    Anlise Investigativa: por que algum est fazendo tal coisa?

    Gottlieb estabelece ainda que para cada um dos tipos de anlise acimaexistiro trs processos bsicos de anlise: ttica, estratgica e administrativa.

    Tais definies e conceitos so instrumentais para a compreenso do que sejaa Inteligncia Policial e a Anlise Criminal, em sua associao germana com ametodologia da Inteligncia de Estado, bem como para o entendimento dosmtodos de abordagem e procedimento para a construo de umconhecimento especfico sobre o crime, criminosos e questes conexas.

    CONSIDERAES GERAIS: A CRIMINALIDADE GLOBAL

    Neuman[iii] editando estudo de vrios colaboradores, aponta algumasconcluses acerca da situao da criminalidade mundial no "Sexto RelatrioGlobal sobre Crime e Justia". O relatrio, segundo seu editor, uma pesquisa

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    internacional cujo objetivo principal "no medir a quantidade exata de crimeque existe no mundo, mas sim prover uma avaliao do fenmeno e darespectiva resposta governamental". Dentre outras, parecem dignas de nota as

    seguintes ilaes gerais daquele documento:

    O crime est em toda parte; ainda que os vrios pases definam os crimesdiferentemente, no existe lugar onde eles no ocorram; a criminalidade globalcontinuou a aumentar nos anos 90, igual que na dcada anterior; o crime mais comumfoi o furto, com os delitos mais graves (homicdios, estupros roubos, etc...)representando entre 10 e 15% do total geral.

    A situao atual da segurana pblica brasileira, mesmo considerando oquadro global sombrio delineado na obra editada por Neuman, talvez inspiremais cuidados que a de outros pases que participaram da pesquisa que deuorigem ao relatrio. De acordo com a Organizao Mundial de Sade, o Brasilapresenta hoje a segunda maior taxa geral de homicdios, superada apenaspela da Colmbia[iv]. Assim, parece plausvel que o problema da criminalidadebrasileira esteja hoje motivando novas aes, em todos os nveis de governo,visando um melhor e maior controle do fenmeno pelo Estado. A realizao doseminrio A Inteligncia Criminal e a Criminalidade de Massa pela ABIN (nestems de junho de 2004), emblemtica da postura que o Governo Federal vemadotando, ao buscar estimular a adoo de novas e modernas estratgias parao trato da questo.

    Newman (idem) aponta ainda algumas concluses pontuais acerca da situaoda criminalidade global, e que podem ser tomadas como indicadoras do

    alcance da grave crise mundial de insegurana, j levadas em conta asconsideraes de carter geral citadas anteriormente.

    A cada cinco anos, independente do pas, dois de cada trs habitantes dasgrandes cidades globais, ao menos uma vez, so vtimas de algum crime; osriscos em relao ao crime so maiores na Amrica Latina e pases da fricasituados ao redor do Saara, que em outras regies do globo; as grandes cidadesglobais apresentam nveis similares de ndices de homicdio e roubo; em geral, ospases que possuam alto nmero de proprietrios de armas de fogo tambmapresentaram os maiores ndices de mortalidade por essas armas, incluindohomicdios (com excees); quando comparados com outros fenmenoscriminais, os delitos relacionados com as drogas aumentaram

    desproporcionalmente nas duas ltimas dcadas; os incentivos econmicos dochamado narcotrfico fazem com que essa atividade seja extremamente durvel.

    Um outro aspecto que deve ser considerado a dimenso mais abrangente dacrise global de insegurana, nomeadamente seus aspectos polticos, sociais eeconmicos. As indicaes do Sexto Relatrio Global parecem estar emsintonia com a percepo do Banco Mundial, quando esta organizaointernacional de fomento aponta[v]: "o desenvolvimento econmico sustentvelno pode acontecer sem que as garantias bsicas de segurana estejam providas (...)Um sistema de justia criminal responsvel requer comprometimento da parte dogoverno".

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    Na origem do fenmeno da criminalidade e da violncia, em pases como oBrasil, parecem estar causas estruturais cujo controle est muito alm doescopo ou finalidade da Inteligncia e da Anlise Criminal. Por isso mesmo,

    parece oportuno citar Ferreira (2000)[vi], quando explica que "O fenmeno daurbanizao (sbita e desordenada), observado em grande parte dos pasessubdesenvolvidos, em muito se deve matriz de industrializao tardia (...) Eprossegue, nessas mesmas linhas: "As grandes metrpoles subdesenvolvidasso hoje a expresso do antagonismo e da desigualdade". Ferreira refere asituao especfica do Brasil, apontando: "No caso das cidades brasileiras,assim como em muitas metrpoles subdesenvolvidas, pode-se dizer quevivemos hoje em dia uma situao limtrofe entre a Cidade e a Barbrie".

    Assim, apenas ao exame perfunctrio de alguns poucos argumentosexplicativos da problemtica do crime da violncia, parece restar a noo de

    que o fenmeno global, grave e profundo. Em sua expanso e complexidadecrescentes, demanda todos os recursos de controle ao alcance do Estado,inclusive o potencial representado pelo conhecimento produzido a partir dasatividades de Inteligncia e Anlise Criminal, objetos de explorao e estudoneste trabalho.

    Se por um lado no cabe esperar combater as causas do fenmeno dacrescente criminalidade contempornea apenas com a Inteligncia e a AnliseCriminal, por um outro, elas representam instrumentos indispensveis para ummelhor controle da expresso mais perniciosa do fenmeno, a chamadacriminalidade de massa[vii].

    INTELIGNCIA: ABIN & SISBIN

    A "Inteligncia o mesmo que clarividncia, tipo de ofcio artesanal deprofetizar" argumenta Dulles[viii]. Segundo o ex-diretor da "CentralIntelligence Agency" [Agncia Central de Inteligncia (CIA)] dos EstadosUnidos da Amrica (EUA), "a inteligncia est sempre em estado de alerta, emtodas as partes do mundo". No sentido da afirmao de Dulles, bem como dasindicaes de vrios outros autores sobre o tema, ao produzir uma viso futuraa Inteligncia permite ao Estado poder de antecipao e uma conseqentearticulao privilegiada de meios, marca das organizaes inteligentes.

    bastante complexa e controvertida a percepo brasileira acerca do tema dainteligncia, com sua evocao causando reaes que vo da simpatia ao totalrechao. Independente disso, a atividade de Inteligncia parece existir em boaparte do mundo. A tal respeito, Gonalves[ix]afirma: "Modernamente, no sepode cogitar a existncia de Estado que no disponha de rgos de intelignciaem sua estrutura". E prossegue, dando contorno ao surgimento e funes dainteligncia: "Com sua origem remontando aos primrdios das civilizaes, aatividade de inteligncia sempre foi percebida como essencial para agovernabilidade e garantia de segurana, no s em contextos de guerra, mastambm em perodos de paz e ordem institucional". O autor tambm enfatiza aimportncia da Inteligncia na seara do controle do crime, "tanto no

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    fornecimento de dados teis para a represso aos delitos quanto para o"estabelecimento de cenrios e estratgias de atuao nas reas de seguranapblica e institucional".

    bastante sutil a diferenciao entre a atividade de Inteligncia e a deinvestigao policial. Ambas lidam, muitas vezes, com os mesmos objetos(crime, criminosos e questes conexas), com seus agentes atuando lado-a-lado. Enquanto a investigao policial tem como propsito direto instrumentara persecuo penal, a Inteligncia Policial um suporte bsico para a execuodas atividades de segurana pblica, em seu esforo investigativo inclusive. Ametodologia (de abordagem geral e de procedimentos especficos) daInteligncia Policial est essencialmente identificada com a da Inteligncia deEstado.

    De acordo com o ordenamento jurdico-constitucional vigente, a Inteligncia, aABIN (Agncia Brasileira de Inteligncia) e o chamado SISBIN (SistemaBrasileiro de Inteligncia) foram criados e institudos conforme determina a Lei9983/1999.

    LEI N 9.883, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1999

    Institui o Sistema Brasileiro de Inteligncia, cria a Agncia Brasileira deInteligncia ABIN, e d outras providencias.

    Art. 1 Fica institudo o Sistema Brasileiro de Inteligncia, que integra as aesde planejamento e execuo das atividades de inteligncia do Pas, com

    finalidade de fornecer subsdios ao Presidente da Repblica nos assuntos deinteresses nacional.

    1 O Sistema Brasileiro de Inteligncia tem como fundamentos a preservaoda soberania nacional, a defesa do Estado Democrtico de Direito e a dignidadeda pessoa humana, devendo ainda cumprir e preservar os direitos e garantiasindividuais e demais dispositivos da Constituio Federal, os tratados,convenes, acordos e ajustes internacionais em que a Repblica Federativa doBrasil seja parte ou signatrio, e a legislao ordinria.

    2 Para os efeitos de aplicaes desta Lei, entende-se como inteligncia aatividade que objetiva a obteno, anlise e disseminao de conhecimentos

    dentro e fora do territrio nacional sobre fatos e situaes de imediata oupotencial influncia sobre o processo decisrio e a ao governamental e sobre asalvaguarda e a segurana da sociedade e do Estado.

    digna de nota a preocupao do legislador, no s em criar um rgo centralde Inteligncia, mas tambm de instituir o sistema respectivo. A existncia deum sistema no s permite que as atividades de coleta possam serdesdobradas em nvel local, mas tambm que o conhecimento final produzidopossa ser disseminado em todos os pontos do sistema em que hajanecessidade de saber, aspectos essenciais para uma efetiva utilizao dainformao. No menos importantes so os valores sobre os quais o sistema

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    est assentado, todos eles, de alguma forma, objeto de aes garantidoras dosrgos de segurana pblica. explcita a referncia, na lei, "salvaguarda esegurana da sociedade e do Estado".

    PERCEPES SOBRE A INTELIGNCIA POLICIAL NO BRASIL

    possvel detectar, no seio da sociedade e do prprio Estado, freqentesaluses aos temas da Inteligncia Policial e da Anlise Criminal no contexto daatual problemtica da segurana pblica brasileira. Uma convergncia dereferncias indica uma percepo generalizada de que a Inteligncia Policialpossa ser um diferencial de qualidade na Segurana Pblica. O meio policialconstitui um primeiro nvel onde pode ser detectada tal percepo:

    Especialistas ouvidos pela Folha destacaram a importncia de se organizar as

    informaes policiais para combater o crime organizado, mas mostraram-sepreocupados com o fato de o pas no ter encontrado ainda um modelo ideal paraseguir (...) A equipe do Dipol (Departamento de Inteligncia da Polcia Civil deSo Paulo) ainda est em formao. Em dois meses, o delegado Bernardes Filhoespera terminar um manual sobre inteligncia policial para o Estado, umdocumento com regras de atuao e um cdigo de disciplina [x]

    O objetivo chegar na frente e combater o crime com inteligncia policial.Para trabalhar no departamento, os policiais sero treinados na Academia dePolcia e se dividiro entre o servio de inteligncia, contra-inteligncia eoperaes.[xi]

    Acadmicos como Cludio Beato, estudioso da gesto da segurana pblica,vo um pouco mais alm, diagnosticando falhas estruturais e funcionais quepodem dar causa ao problema da escassez de conhecimento produzido pelaAnlise Criminal sob a cultura e metodologia da Inteligncia Policial. Beatoaponta que:

    So raras as secretarias de segurana no Brasil que dispem de departamentosde estatstica e coleta de dados, bem como da tecnologia necessria para tal. Oprprio governo federal, que contabiliza bem dados referentes economia, sadeou educao, no dispe de nenhuma estrutura para esta tarefa.[xii]

    A cada crime de repercusso nacional ou grande evento poltico, voltam a ser

    anunciadas as virtudes da Inteligncia Policial. O ento candidato, CyroGomes, j declarava em 2002: "No vamos inventar a roda. Temos que nosespelhar no que deu certo l fora. No mundo, se combate o crime investindoem inteligncia."[xiii]. O Governo Federal, entretanto, regularmente, vemdando mostras regulares do quanto a Inteligncia Policial e a moderna AnliseCriminal passaram a ser consideradas pelo Poder Pblico. O anncio da escolhado novo Secretrio Nacional de Segurana Pblica, consignado no stio oficialdo Ministrio da Justia ao final de 2003, demonstra, de forma inconteste, aimportncia que certamente passou a ter a Inteligncia:

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    Luiz Fernando Corra, Delegado do Departamento de Polcia Federal no DistritoFederal, tomou posse nesta quarta-feira (12/11) como novo secretrio nacionalde Segurana Pblica. Corra foi escolhido pelo ministro Mrcio Thomaz Bastos

    por sua experincia no comando de aes de inteligncia policial contra o crimeorganizado e o narcotrfico.[xiv]

    A TCNICA DA ANLISE CRIMINAL - ESCORO HISTRICO

    A Anlise Criminal[xv] , genericamente, a coleta e anlise de informaopertinente ao fenmeno da criminalidade. Atravs dela, grandes quantidadesde dados criminais podem ser analisados para deteco de padres criminais;estabelecidas correlaes entre delitos e autores; determinadas perfis de alvose respectivos delinqentes habituais e mesmo previsto o cometimento decrimes. Tais informaes, providas pelo analista, so utilizadas para odimensionamento e posicionamento de recursos, bem como para a realizaode aes gerais de gesto em relao ao patrulhamento e investigao policial.

    farta a literatura de Anlise Criminal em lngua inglesa. Isso se deve ao fatode que os Estados Unidos da Amrica (EUA) seja hoje o pas que possui amaior comunidade profissional e acadmica voltada para a produo de talconhecimento. Aquela comunidade, sob a grande denominao de JustiaCriminal, composta por milhares de instituies policiais (mais de 17 mil...) ecentenas de programas acadmicos de graduao[xvi]e ps-graduao[xvii]sobre o tema. Tais programas de educao e produo de conhecimento estoreunidos numa grande rea de convergncia do saber, onde a tnica ainterdisciplinaridade produzida pela interao de cincias como direito,

    administrao, psicologia e criminologia com a moderna disciplina de CinciaPolicial.

    A situao norte-americana difere radicalmente da que predomina no Brasil,pas onde os temas da segurana pblica ainda permanecem fragmentados,sendo tratados separadamente pela sociedade civil e instituies policiais.Segue no existindo ainda uma grande rea acadmica especfica deconvergncia daquelas duas vertentes do saber sobre a segurana pblica.

    A cultura da gesto da segurana pblica brasileira est permeada porconceitos intensamente estudados e desenvolvidos por norte-americanos,

    caso, por exemplo do chamado Policiamento Comunitrio, originalmenteestabelecido por Herman Goldstein, Professor Emrito da Universidade deWisconsin. O mesmo acontece em relao doutrina de PoliciamentoOrientado por Problemas e, mais modernamente, o Policiamento Orientado

    pela Inteligncia.

    A existncia da Justia Criminal enquanto rea profissional e acadmica dointeresse da gesto da segurana pblica e privada norte-americana, aliada auma poderosa indstria de bens e servios estabelecida para o setor naquelepas, induz a busca da identificao das origens do conhecimento daInteligncia Policial e da Anlise Criminal segundo a vertente apontada na

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    literatura correspondente dos EUA. H que ter ainda em conta, que as atuaistecnologias aplicadas moderna Anlise Criminal, quase invariavelmente tmsua origem naquele mesmo pas.

    A TCNICA DA ANLISE CRIMINAL - ESCORO HISTRICO DA VERTENTENORTE-AMERICANA

    Podem ser atribudos aos britnicos, comeando por Henry Fielding, os maisantigos esforos no sentido de subsidiar a segurana pblica com informaoestruturada, vlida e confivel[xviii]. Tal tendncia parece ter sido assumidaposteriormente, nos pases de matriz cultural britnica, caso da Austrlia,Canad e Estados Unidos da Amrica (EUA). Nesse sentido, a criminalstica e acincia forense modernas parecem ter comeado a tomar sua configuraoatual no incio do sculo XX, tendo sido efetivamente incorporadas ao servio

    policial na dcada de 1930, sob a influncia de August Vollmer, na Califrnia, edepois de Edgar Hoover em Washington, D.C., ambos reconhecidos comoimportantes prceres da gesto policial norte-americana.

    Henry Fielding (1707-1754)[xix], magistrado ingls (autor da pera TomJones), ficou conhecido por estimular o pblico a denunciar crimes e proverdescries de criminosos, informaes que ele prprio sistematizava paraconsulta e anlise a posteriori. Seus policiais, ainda por serem parte do quehoje a Polcia Metropolitana de Londres, eram chamados de "Bow StreetRunners" (Corredores da Rua da Curva). No usavam uniformes, masganharam tal reputao que passaram a ser temidos pela criminalidade local.Uma das caractersticas organizacionais dadas por Fielding a seus "policiais"pode ser vista como forma embrionria dos atuais departamentos deinvestigao criminal.

    August Vollmer (1876-1955)[xx], considerado o "pai" da moderna gestocientfica da atividade policial norte-americana, j apontava, no incio do sculoXX, as mesmas metodologias bsicas atualmente utilizadas na Anlise Criminalmoderna: "Na premissa da regularidade do crime e de fatos similares, possvel tabular as ocorrncias policiais de uma cidade e assim determinarseus pontos de maior e menor risco para a ocorrncia de crimes". Aobservao de Vollmer est diretamente relacionada com o moderno conceitode ponto quente ("hot spot"), Hodiernamente, um ponto quente um local de

    alto risco para a ocorrncia de crimes, podendo ser "mapeado" atravs deestatstica computadorizada e sistemas de informao geogrfica.

    Vollmer foi o primeiro chefe de polcia da cidade de Berkeley, Califrnia (1909-1932), local em que tambm exerceu a docncia de Administrao PolicialnaUniversidade da Califrnia (1932-1937). Buscou fazer da atividade policial umaocupao de indivduos altamente qualificados e de educao superior.Desenvolveu o curso de graduao e de mestrado em criminologia daquelauniversidade, bem como estabeleceu a primeira Escola de Criminologia dosEUA, assim formalmente designada (1950).

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    Orlando Winfield Wilson[xxi] continuou o movimento de profissionalizaopolicial iniciado por Vollmer. Foi estudante universitrio e policial em Berkeley,sob a docncia e comando, concomitantemente, de August Vollmer. Wilson

    sucedeu Vollmer na ctedra de administrao policial de Berkeley e, assimcomo seu mentor, tambm acreditava no valor da pesquisa acadmica voltadapara a atividade policial. A idia de mapear o crime, referida por Vollmer,tambm foi preconizada por Wilson.

    As divises de anlise criminal so responsveis pelo exame sistemtico deboletins dirios de ocorrncia de determinados crimes, de modo a determinarhora, local, caractersticas especiais, semelhanas com outras ocorrncias evrios outros fatos significativos que podem contribuir para a identificao de umcriminoso ou de um padro de atividade criminal (Orlando Winfield Wilson).

    Contemporneo dos dois policiais da Califrnia, John Edgar Hoover (1895-1972) dirigiu o Federal Bureau of Investigation FBI por longo tempo,permanecendo no rgo de 1924 at 1972, ano da sua morte. Promoveu autilizao de modernas tcnicas investigativas pela instituio, transformando-a em um paradigma de excelncia policial. Com Hoover, o FBI passou aestabelecer um diferencial mais claro entre a Inteligncia Policial e ainvestigao, ao tratar concorrentemente de questes de segurana interna ede investigao policial propriamente dita.

    Os fundamentos da moderna Anlise Criminal, de acordo com o exame dostrabalhos de Fielding, Vollmer, Wilson e Hoover apontam as seguintes linhasmestras:

    1. Disponibilidade de grandes volumes de dados sobre o crime, propriamenteacumulados e sistematizados; 2. Existncia de "ferramentas" deprocessamento e anlise (manuais ou automatizadas); 3. Profissionalizaotcnica dos agentes policiais, especialmente capacitados para funes deInteligncia Policial e Anlise Criminal.

    Assim que a moderna prtica da Anlise Criminal est hoje fundamentada nouso intensivo da Tecnologia da Informao (TI), nela includos os chamadosaplicativos de estatstica computadorizada e de sistemas de informaogeogrfica, tendo como objeto de anlise colees de dados organizados em

    bases nacionais agregadas. Atravs da anlise das bases nacionais de dadosagregados possvel estabelecer relaes entre vrias categorias de dados einformaes criminais, determinando padres e tendncias humanamenteimpossveis de serem detectados manualmente. No caso norte-americano, oFBI detm hoje as duas mais importantes bases nacionais de dados agregadospara as atividades de anlise criminal realizadas naquele pas:

    Centro Nacional de Informao Criminal ("NCIC") e Sistema de RelatriosPadronizados de Criminalidade ("UCR")

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    A TCNICA DA ANLISE CRIMINAL - ESCORO HISTRICO DA PRTICABRASILEIRA

    farta a produo da anlise criminal aplicada gesto da segurana pblicaem alguns pases, alm dos EUA, caso da Austrlia, Canad, e Inglaterra. NoBrasil, entretanto, a produo desse tipo de conhecimento, ainda escassa, estcircunscrita a alguns acadmicos ou profissionais bastante especializados dagesto policial.

    Tal precariedade, ou mesmo inexistncia de dados para realizao deestatsticas criminais vlidas e confiveis, no acontece, no Brasil, por falta deiniciativas do Estado nesse sentido, conforme fica patente no Decreto-Lei N3.992 de 30 de dezembro de 1941 e que Dispe sobre a execuo dasestatsticas criminais a que se refere o art. 809 do Cdigo de Processo Penal:

    Art. 1 As estatsticas criminais, policial e judiciria, tero por base o boletimindividual , que parte integrante dos processos.

    1 Os dados contidos no boletim individual, referentes no s aos crimes econtravenes, como tambm aos autores, constituem o mnimo exigvel,podendo ser acrescido de outros elementos teis estatstica.

    2 O boletim individual divido em trs partes destacveis, e ser adotado noDistrito Federal, nos Estados e nos Territrios. A primeira parte ficar arquivadano cartrio policial; a segunda ser remetida repartio incumbida dolevantamento da estatstica policial; e a terceira acompanhar o processo.

    Transitada em julgado a deciso final, e lanados os dados respectivos, ser aterceira parte destacada e enviada: a) no Distrito Federal, ao Servio deEstatstica Demogrfica, Moral e Poltica, do Ministrio da Justia e NegciosInteriores, e, b) nos Estados e nos Territrios, aos respectivos rgos centrais deestatstica.

    Art. 2 Depois de devidamente criticadas e apuradas pelos rgos de estatsticacompetentes, a segunda e terceira parte do boletim individual sero remetidas aoservio de identificao, como elementos complementares do registro dopronturio do acusado nelas referido.

    Art. 3 O modelo de boletim individual, publicado com o Cdigo de ProcessoPenal, fica substitudo pelo que acompanha a presente lei.

    No Brasil, a ausncia de uma cultura tcnica de Anlise Criminal no favoreceuainda uma necessria presteza no estabelecimento de grandes sistemasnacionais de dados agregados (bases de dados) pela gesto. Em uma outraviso, ao revs, a precariedade ou inexistncia de grandes sistemas de basesagregadas de dados no teria favorecido ainda o pleno desenvolvimento deuma cultura tcnica de Anlise Criminal no pas.

    Na primeira hiptese, possvel afirmar que a Secretaria Nacional deSegurana Pblica (SENASP) do Ministrio da Justia, desde a dcada de 1990,vem tentando induzir, por parte dos entes federativos, a construo de

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    sistemas nacionais de dados agregados (bases de dados) sobre o crime e aviolncia. Na Segunda hiptese, a Agncia Brasileira de Inteligncia (ABIN)estaria hoje buscando dar foco e sistematizar a cultura da Anlise de

    Inteligncia Policial, tcnica pertinente ao grande domnio metodolgico daInteligncia de Estado.

    So dignas de nota, entretanto, algumas iniciativas empreendidas no Brasil,nos ltimos anos, tanto no mbito acadmico quanto institucional, no sentidode disponibilizar instrumentos e produtos da anlise criminal alinhados com asmelhores prticas internacionais. Nesse sentido, os trabalhos pioneiros dossocilogos Cludio Beato e Tlio Khan devem ser considerados e examinados.Em reas especficas da gesto, incluindo a da integrao do conhecimento,bem como a da anlise criminal ttica de alta tecnologia, destacam-serespectivamente, os estudos de Nelson Gonalves de Souza[xxii] e Celso

    Moreira Ferro Jnior realizados em Braslia.

    Parece fora de dvida que o alinhamento da Gesto do Conhecimento e daTecnologia da Informao, em prol da Anlise Criminal, seja um modelo a seradotado pela gesto da segurana pblica, no sentido de um melhor controledo fenmeno do crime e da violncia. Beato[xxiii] aponta a importncia dotema:

    A utilizao intensiva de tecnologias de informao tem promovido uma verdadeirarevoluo silenciosa nas polcias do mundo (...) A constituio de unidades de anlisede crimes tem se constitudo num dos principais suportes para o desenvolvimento depoliciamento comunitrio e de soluo de problemas.

    A tendncia a uma universalizao da prtica da Anlise Criminal vemfavorecendo, inclusive, a constituio de associaes internacionais temticas,caso da "International Association of Law Enforcement Analysts" [AssociaoInternacional de Analistas de Inteligncia Policial (IALEIA)]. A IALEIA, criadaem 1981, tem como finalidade promover o profissionalismo da Anlise deInteligncia Policial, encorajando seu reconhecimento enquanto atividadetcnico-profissional, bem como o desenvolvimento de padres internacionaisde qualificao, treinamento e utilizao de mtodos e tcnicas especficas.

    BASES DE DADOS: A "MATRIA PRIMA" DA ANLISE CRIMINAL

    As bases de dados nacionais agregados constituem a matria prima damoderna Anlise Criminal. As bases funcionam como suporte amostral dasanlises, que tero resultados to mais confiveis quanto mais inclusivas foremas respectivas colees de dados disponveis. necessrio ter em conta que osregistros policiais de crimes,por mais inclusivos que sejam, j sointrinsecamente restritos, j que subentendem a "cifra negra" ou no-notificao de crimes ocorridos. As anlises podem ser de maior valor ttico ouestratgico, conforme estejam mais focadas nos registros de categoriaspontuais de dados sobre os crimes (dados de materialidade, autoria e modus

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    operandi) ou de informaes genricas (nmero de delitos ndice ocorridos erespectivas taxas de resoluo).

    O National Crime Information Center[Centro Nacional de Informao Criminal(NCIC)] do FBI[xxiv] um exemplo de "depsito de dados" de abrangncianacional, consultado e "alimentado" por milhares de organizaes policiaisnorte-americanas. Estabelecido em 1967, o NCIC serve hoje mais de 80 milorganizaes, realizando cerca de 750 mil transaes dirias. Suas categoriasde dados, primordialmente de valor ttico, incluem, dentre outros, osseguintes registros:

    delinqentes sexuais; delinqentes violentos; procurados pela justia;fugitivos; pessoas perdidas; armas de fogo; veculos; placas de veculos, etc. Averso 2000 do NCIC possibilita buscas comparativas de impresses

    papiloscpicas e de imagens fotogrficas, contendo ainda uma versoavanada de "motor de busca" de nomes.

    J o Programa Uniform Crime Reporting [Relatrio Padro de Criminalidade(UCR), mantido pelo FBI, prov estatsticas criminais a partir do conjunto dedelitos ndice ocorridos nos EUA a cada ltimo ano e qinqnio. A partir de1930 o FBI passou a realizar a coleta, publicao e arquivamento dasestatsticas criminais nacionais norte-americanas. Vrias dessas estatsticasso hoje publicadas anualmente, caso do detalhado relatrio - Crime nosEstados Unidos. Tal documento pblico, de alcance nacional, produzido apartir de dados transmitidos ao FBI pelas mais de 17 mil organizaes policiaisdaquele pas.

    Vrias outras publicaes so tambm baseadas no UCR, incluindo relatriossobre Crimes de dio e Policiais Mortos e Lesionados. Estudos e pesquisasespeciais, incluindo relatrios e monografias acadmicas so tambmpreparados com a utilizao de data mining sobre a grande base de dadosagregados nacionais que o UCR.

    INTELIGNCIA POLICIAL E ANLISE CRIMINAL

    De acordo com Deladurantey[xxv], funo Inteligncia de uma organizaopolicial compete realizar a coleta de informao sobre as atividades de

    indivduos e grupos engajados no crime. Ele descreve o processo da atividadede inteligncia da seguinte maneira:

    A converso de inteligncia bsica em algo til envolve a avaliao, anlise e adisseminao do material resultante para unidades especficas da organizaopolicial considerada. Tais unidades podero ento utilizar a informao comoaviso de coisas que esto por acontecer ou indicao de atividades criminaisainda no estgio de desenvolvimento.

    Enquanto a avaliao corresponde a um juzo valorativo da produo deconhecimento, a anlise pode envolver o processamento de milhares de

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    exemplares de uma determinada categoria de varivel, visando identificarrelaes entre dados constantes de uma base nacional agregada. Para tanto,nos ltimos anos uma grande quantidade de ferramentas da Tecnologia da

    Informao passou a estar disponvel para a Anlise Criminal. Dentre outras,vale citar:

    CrimeWatch, Crime Analysis Extension, CrimeInfo, Crime Analyst,CrimeMapper, CRIMESolv, CrimeStat 2.0, CrimeView, MapALI Desktop,GeoGenie, Rige, S-Plus, SpaceStat, Spatial Analyst, STAC, Vertical Mapper,Terrain Tools, VMS 200 Video Mapping System, etc...

    Destaca-se, dentre tais ferramentas, aquelas genericamente chamadas deSistemas de Informao Geogrfica (SIG) e que possibilitam o posicionamentoespacial de variveis, incluindo a espacializao das ocorrncias criminais,

    distribuio de recursos humanos, bens e servios, caractersticas scio-econmicas, etc. A utilizao de ferramentas de SIG vem apoiando de formainovadora a gesto da segurana pblica na formulao de novas polticas,programas e planos no que concerne a preveno e represso dacriminalidade, atravs da visualizao imediata de tendncias, padres eoutras regularidades do fenmeno. Um exemplo disso a identificao depontos quentes, locais de alta densidade da criminalidade.

    Assim que, graas aos avanos e popularizao da Tecnologia da Informao,hoje possvel aplic-la diretamente na identificao de relaes entre dadossobre o crime (trabalho nem sempre factvel de ser realizado manualmente...),incluindo a produo de estatsticas computadorizadas e determinao deinformao de posicionamento geogrfico. A utilizao de instrumentosautomatizados parece lgica e oportuna, no s por sua racionalidade noprocessamento de grandes quantidades de dados, mas tambm pelo fato deque os recursos da segurana pblica (informacionais inclusive...) sejamsempre insuficientes e rotineiramente submetidos a demandas cada vezmaiores e mais complexas.

    Na atualidade, j tecnicamente possvel, por exemplo, detectarautomaticamente padres e tendncias criminais atravs do mapeamentogeogrfico e tratamento estatstico computadorizado de dados deatendimentos e ocorrncias policiais, tudo isso em "tempo real". Disso resulta,

    por exemplo, a determinao dos j citados pontos quentes, locais de rpida ehabitual incidncia de eventos criminais. Melhor ainda, possvel detect-losantes que se tornem problemas crnicos...

    A TCNICA DA ANLISE CRIMINAL: FINALIDADE

    A finalidade da Anlise Criminal, de uma forma abrangente, a produo deconhecimento relativo identificao de parmetros temporais e geogrficosdo crime, bem como detectar a atividade e identidade da delinqnciacorrespondente. A Anlise de Inteligncia Criminal tambm consiste notrabalho de identificao e proviso de conhecimento sobre a relao entre

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    dados de ocorrncias criminais e outros dados potencialmente relevantes paraos rgos do sistema de Justia Criminal. O objetivo primordial da AnliseCriminal enfim, subsidiar as aes dos operadores diretos do sistema de

    justia criminal (policiais anlise criminal ttica) bem como dos formuladoresde polticas de controle (gestoresanlise criminal estratgica). Com autilizao dos produtos da anlise, inquestionavelmente, possvel lidar maisefetivamente com incertezas e ameaas contra a segurana pblica.

    A TCNICA DA ANLISE CRIMINAL: CATEGORIAS DE DADOS

    Os produtos da Anlise Criminal tanto podem ser teis no controle dacriminalidade de massa quanto do crime organizado. Um exemplo interessantede instrumento de controle da criminalidade de massa o mapeamentodinmico (durante as 24 horas) dos chamados "crimes de rua" (crminalidade

    de massa), realizado por uma ferramenta de que dispe a Polcia Municipal deLondres. As categorias de variveis trabalhadas incluem dados relacionados aotipo penal; data, hora e local da ocorrncia em Londres.

    Para as atividades de Anlise Criminal objetivando o controle do crimeorganizado (narcotrfico, terrorismo e delitos econmicos em geral), ascategorias de dados de interesse incluem variaes de identidade, contatospessoais, contatos telefnicos, correspondncia eletrnica, deslocamentospessoais, transferncias de valores, etc.

    A TCNICA DA ANLISE CRIMINAL: PROCESSOS DE ANLISE

    Tal como em relao aos outros tipos de anlise (de inteligncia, de opraes einvestigativa), na Anlise Criminal cabem existem trs processos: ttico,estratgico e administrativo.

    A Anlise Criminal compreende, essencialmente, o ato de separar e examinaras diversas partes do registro de um atendimento ou ocorrncia policial, a fimde conhecer sua natureza, propores, funes e relaes com variveishomlogas de outras ocorrncias. A anlise pode subsidiar uma prontaresposta ttica, favorecendo prises e esclarecimento de casos.Diferentemente, pode estar voltada para questes estratgicas, caso depotenciais problemas de segurana pblica de mdio e longo prazos.

    A anlise criminal ttica prov informao de apoio s reas de pessoal(patrulhamento e investigao) na identificao de problemas criminaisespecficos e imediatos e na priso de delinquentes. Os dados da anlisecriminal ttica so utilizados para promover uma pronta resposta parasituaes operacionais.

    A anlise criminal estratgica, est voltada para "projees de cenrios",formuladas a partir de variaes dos indicadores de criminalidade. Ela Incluiainda a realizao de estudos e respectiva elaborao de planos para aidentificao e aquisio de recursos futuramente necessrios.

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    A anlise criminal administrativa est focada nas atividades genricas deproduo de conhecimento. Tem como propsito instrumentar a gestopolicial, o poder executivo local, conselhos comunitrios e grupos da sociedade

    organizada.

    A TCNICA DA ANLISE CRIMINAL: O TRABALHO DO ANALISTA

    O trabalho do analista, fundamentalmente, obter respostas para questesque possam afetar a qualidade de vida da comunidade, fruto de problemasrelativos ao crime. Suas tarefas bsicas incluem, dentre outras, a realizao deestudos probabilsticos, de correlao e regresso, amostragem e utilizaogeral de aplicativos. De maneira bastante reducionista, possvel definir acorrelao como uma relao quantitativa entre duas variveis; a regressocomo um mtodo estatstico de prever uma varivel a partir de outra e a

    amostragem como a escolha ou seleo de uma amostra de dados que serobjeto de anlise.

    Tarefas Gerais do Analista

    Coleta e anlise de dados para deteco de padres e tendncias; estudos decorrelao de dados sobre suspeitos; elaborao de perfis e cenrios futuros;elaborao de relatrios de padres e tendncias; realizao de "briefings" depoliciais, membros da comunidade e de outras organizaes e monitoramentoda criminalidade e estabelecimento de programas preventivos.

    Produtos Finais da Anlise Criminal

    Apresentaes verbais e confeco de documentos (relatrios e boletins)analticos, neles includos o mapeamento de crimes e indicaes de suspeitosdo seu cometimento, bem como o modus operandi empregado.

    CONCLUSES & RECOMENDAES

    Os rgos de gesto da segurana pblica brasileira no possuem ainda, emsua maioria, os mesmos recursos e instrumentos da Tecnologia doConhecimento (mtodos) e da Informao (tcnicas e tecnologias) disponveispara comunidades homlogas de outros pases. Tais recursos possibilitariam

    um maior e melhor controle e compreenso do fenmeno da criminalidade comincidncia no pas, especificamente no que concerne os produtos da anlisecriminal baseados em estatsticas computadorizadas e SIG. Vale salientar,tambm, que essas estatsticas esto baseadas primordialmente em dadosresultantes de registros de atendimentos e de ocorrncias policiais e, quandoexistem tais registros, no Brasil, eles podem ser de qualidade duvidosa[xxvi],essencialmente pela falta de padres, normas e procedimentos para suaobteno, processamento e disseminao.

    A Secretaria Nacional de Segurana Pblica (SENASP) do Ministrio da Justiatem estado empenhada em modificar as condies estruturais que do causa a

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    esse quadro deficitrio em termos de disponibilidade de mtodos, tcnicas etecnologias aplicadas ao estudo dos fenmenos da segurana pblica. H queconsiderar, como dificuldade principal, a no-integrao dos bancos dedados dos rgos de segurana pblica (intra einterinstitucionalmente), o que dificulta sobremaneira o estabelecimento deum "retrato fiel" da situao da criminalidade com incidncia em cada reametropolitana, ente federativo e no pas como um todo.

    A nao, sob a falsa impresso de que "a criminalidade est ganhando", passaa ser refm do "medo do crime". Na verdade, o Estado "no est perdendo",mas simplesmente " no comeou a jogar" seu potencial, certamente maiorque o dos criminosos.

    Apenas melhores tcnicas e tecnologias no bastam para uma gesto do

    conhecimento efetiva. necessrio agregar a elas os mtodos clssicos deabordagem e de procedimentos para produo de conhecimento cientfico,incluindo objetos interdisciplinares de estudo da Justia Criminal, a fim deidentificar as causas e a dinmica do crime em diferentes momentos e lugares.Isso em muito contribuiria para uma gesto de qualidade na seguranapblica, no que concerne a preveno e a represso da criminalidade,propiciando melhor qualidade de vida para a nao brasileira.

    A Agncia Brasileira de Inteligncia ABIN detm toda uma Tecnologia doConhecimento desenvolvida na produo de Inteligncia de Estado, saber esseacumulado desde vrias dcadas. A Tecnologia da Produo de Conhecimento,

    juntamente com a Tecnologia da Informao e os conhecimentos peculiares damoderna Justia Criminal, compem hoje o cerne da moderna Anlise Criminalpraticada no restante do mundo.

    A Secretaria Nacional de Segurana Pblica SENASP vem induzindo oestabelecimento de bases nacionais de dados agregados (o INFOSEG, porexemplo) bem como a criao de "ferramentas" de processamento e anlise deinformao sobre o crime (a exemplo, o recm disponibilizado programa "TerraCrime"), sem esquecer suas tentativas recentes de formar analistas criminais.

    Pesquisadores acadmicos, pioneiros, de algumas Instituies de EnsinoSuperior (IES) brasileiras, especialmente vocacionadas para os temas da

    segurana pblica, juntamente com alguns tcnicos da gesto da seguranapblica de diferentes unidades federativas, j conhecem e dominam ametodologia da Anlise Criminal praticada nos grandes centros de referncia.

    Parece hoje existir uma oportunidade nica para aliar as competnciasespecficas daquelas duas importantes instituies do Governo Federal,

    juntamente com as do mundo acadmico, dando conformidade a uma doutrinade Anlise Criminal de excelncia, alinhada com as melhores prticasinternacionais existentes.

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    Tambm parece razovel e factvel que a SENASP, ABIN e tcnicos em JustiaCriminal do mais alto nvel, aqui presentes, possam estabelecer um mecanismode cooperao, no sentido do estabelecimento das especificaes das bases

    nacionais de dados agregados sobre o crime, bem como dos mtodos, tcnicase tecnologias de Anlise Criminal, sob o lastro da tradio que possui a ABINna vasta e consolidada rea de Inteligncia de Estado. Um grupo assessor,constitudo por profissionais das trs vertentes, certamente poderia delinearconjuntamente essas especificaes gerais, consolidando-os em nvel federalpara disseminao entre os rgos de gesto da segurana pblica do pas.

    Assim, em seguida ao seminrio A Inteligncia Criminal e a Criminalidade deMassa, e mesmo como seu fecho de coroamento, sugere-se a criao de umGrupo Assessor ABIN/SENASP para Assuntos Nacionais de Inteligncia Policiale Anlise Criminal.

    NOTAS

    [i]Traduo livre e adaptao de: DeLadurantey, Joseph C. 1995. Intelligence.In The enciclopedia of Police Science. New York & London: Garland Publishing,p. 383.

    [ii] Traduo livre e adaptao de: Gottlieb, S.L.,Arenberg, S., e Singh, R.2002. Crime analysis: from first report to final arrest: study guide andworkbook. Montclair, CA: Alpha Publishing, p. 5.

    [iii]Traduo livre e adaptao de: Newman, Graeme. 1999. Global report oncrime and justice. New York: Oxford University Press, pxiv-xix.

    [iv] Violncia: Segurana Pblica. Almanaque Abril 2004. So Paulo, S.P:Editora Abril, 2004, p.233.

    [v] Traduo livre e adaptao de: UNITED NATIONS CRIME AND JUSTICE.INFORMATION NETWORK. Centre for International Crime Prevention. Office forDrug Control and Crime Prevention.http://www.uncjin.org/Special/GlobalReport.html Acessado em 1 de junho de2004.

    [vi] Ferreira, Joo S. W. "Globalizao e urbanizao subdesenvolvida". InRevista So Paulo em Perspectiva, Volume 14, n 4, So Paulo, SEADE, Out-Dez. 2000.

    [vii]Conceito que opes a noo de delitos de alto volume de ocorrncia, semaparente articulao entre eles, ao conceito de delitos articulados sob a gidedo chamado "crime organizado".

    [viii] Traduo livre e adaptao de: Dulles, Allen. 1963. The Craft ofIntelligence. New York: Harper & Row.

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    [ix] Gonalves, Joanisval B. A atividade de inteligncia no combate ao crimeorganizado: o caso do Brasil. Painel: Public Oversight and Intelligence. REDES- Research and Education in Defense and Security Studies. Santiago, Chile:

    Center for Hemispheric Defense Studies, 28 a 30 de outubro de 2003, p.1-2.

    [x] Silva, Alessandro. Polcia Civil de SP agora ganha inteligncia. Folha deS.Paulo, 13/10/2002.http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u60835.shtml. Acessadoem 23 de maio de 2004.

    [xi] Passo na frente: rgo ir desvendar crimes com auxlio da tecnologia.Revista Consultor Jurdico, 01/10/2002.http://conjur.uol.com.br/textos/13795/ Acessado em 23 de maio de 2004.

    [xii]

    Beato, Claudio C. Informao e Desempenho Policial. Mimeo. Paperelaborado para o IV Seminrio Brasileiro do Projeto Polcia e Sociedade, p.2.

    [xiii]Ciro diz que investir em inteligncia policial. Poltica. Dirio do Nordeste.Fortaleza, Cear, 24 de julho de 2002.http://diariodonordeste.globo.com/2002/07/24/010018.htm. Acessado em 23de maio de 2004.

    [xiv] Corra assume a Secretaria Nacional de Segurana Pblica. Noticias.Ministrio da Justia. 12 de novembro de 2003.http://www.mj.gov.br/noticias/2003/novembro/RLS121103. Acessado em 23

    de maio de 2004.[xv]Traduo livre e adaptao de: What is crime analysis. Gainesville PoliceDepartment. http://www.gainesvillepd.org/what_is_crime_analysis.htmAcessado em 1o de junho de 2004.

    [xvi] 1141 indicaes de programas de graduao em justia criminal.Colleges and universities detailed seacrh. Thomson Pertersonshttp://www.petersons.com/ugchannel/code/searches/srchRslt.asp?sponsor=1.Acessado em 10 de junho de 2004.

    [xvii] Criminal Justice Schools in the United States of Amrica.

    http://www.univsource.com/cj.htm Acessado em 10 de junho de 2004.

    [xviii] Traduo livre e adaptao de: North Carolina Weslyan College.Introduction to Applied Criminology.http://faculty.ncwc.edu/TOConnor/315/315lect01.htm Acessado em 1 de

    junho de 2004.

    [xix]Traduo livre e adaptao de: Devon & Cornwall Constabulary. The BowStreet Runners. http://www.devon-cornwall.police.uk/v3/about/history/vicpolice/bow.htm Acessado em 1 de

    junho de 2004.

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    [xx] Traduo livre e adaptao de: Morris, Albert. The American Society ofCriminology: A History, 1941 - 1974. Criminology. August 1975.

    [xxi]Traduo livre e adaptao de: Morris, Albert. The American Society ofCriminology: A History, 1941 - 1974. Criminology. August 1975.

    [xxii]Souza, Nelson Gonalves de.Integrao de Sistemas de Informao naSegurana Pblica do Distrito Federal: Um Modelo de Consenso e suasPossibilidades. 2003. 192 p. Dissertao (Mestrado em Gesto doConhecimento e da Tecnologia da Informao) Pr-reitoria de Ps-graduaoe Pesquisa, Universidade Catlica de Braslia, Braslia-DF.

    [xxiii] Beato, Claudio C. Informao e Desempenho Policial. Mimeo. Paperelaborado para o IV Seminrio Brasileiro do Projeto Polcia e Sociedade, p.2.

    [xxiv] Traduo livre e adaptao de: Torres, Donald A. 1995. State lawenforcement agencies In The enciclopedia of police science. New York &London: Garland Publishing, p. 726-730.

    [xxv] Traduo livre e adaptao de: Deladurantey, Joseph C. 1995.Intelligence In The enciclopedia of police science. New York & London: GarlandPublishing, p. 384.

    [xxvi] Lemgruber, Julita. Maus Dados. Disponvel emhttp://www.cesec.ucam.edu.br/artigos/Midia_body_JL28.htm. Acessado em

    13/06/2004.* George Felipe de Lima Dantas, Doutor e Mestre pela The GeorgeWashington University, exerceu funes de consultoria em vrios rgosnacionais e internacionais. Atualmente coordenador de ensino do Ncleo deEstudo em Segurana Pblica NUSP da UPIS.

    * Nelson Gonalves de Souza, Mestre pela Universidade Catlica de Braslia coordenador de pesquisa do Ncleo de Estudo em Segurana Pblica NUSPda UPIS.