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WILSON YOSHIURA ANÁLISE AMBIENTAL PRELIMINAR DA PORÇÃO INFERIOR DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO TRÊS BOCAS EM LONDRINA – PR. Orientadora: Profª Drª Nilza Aparecida Freres Stipp Londrina - PR 2006.

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WILSON YOSHIURA

ANÁLISE AMBIENTAL PRELIMINAR DA PORÇÃO

INFERIOR DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO

TRÊS BOCAS EM LONDRINA – PR.

Orientadora: Profª Drª Nilza Aparecida Freres Stipp

Londrina - PR 2006.

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WILSON YOSHIURA

ANÁLISE AMBIENTAL PRELIMINAR DA PORÇÃO

INFERIOR DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO

TRÊS BOCAS EM LONDRINA – PR.

Monografia apresentada ao curso de graduação em Geografia, da Universidade Estadual de Londrina, como requisito à obtenção do título de Bacharel.

Orientadora: Profª Drª Nilza Aparecida Freres Stipp

Londrina - PR 2006.

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WILSON YOSHIURA

ANÁLISE AMBIENTAL PRELIMINAR DA PORÇÃO

INFERIOR DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO

TRÊS BOCAS EM LONDRINA – PR.

Monografia apresentada ao curso de graduação em Geografia, da Universidade Estadual de Londrina, como requisito à obtenção do título de Bacharel.

COMISSÃO EXAMINADORA _______________________________ Profª Drª Nilza Aparecida Freres Stipp

Orientadora Universidade Estadual de Londrina

_______________________________ Prof. Osvaldo Coelho Pereira Neto Universidade Estadual de Londrina

_______________________________ Profª Rosely Maria de Lima

Universidade Estadual de Londrina

Londrina ___ de _____________ de 2006.

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AGRADECIMENTOS

A Deus;

À minha família, pelo incentivo, carinho, apoio e confiança;

À minha orientadora, que tanto admiro, Professora Drª Nilza Aparecida Freres Stipp;

Ao Professor Jaime de Oliveira, pelo auxílio, orientação e pelos materiais emprestados;

À Professora Márcia Siqueira de Carvalho, à Professora Rosely Maria de Lima e ao

Professor Osvaldo Coelho Pereira Neto;

À “Clarinha”, por existir;

Aos meus amigos Gibram de Oliveira Polimeni, João Batista Moreira de Souza – mais

conhecido como “João das Águas” -, Tatiana Colasante, Letícia O. T. Rocha, Silvia

Saadjian, Jorge Akira Oyama, Sidney Antônio Bertho, Marcia Regina Lopes Arantes,

Gerusa Alves Silva, Divaldo Ferreira Junior e Rogério Buscariolo.

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“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo para as presentes e futuras gerações”. Artigo nº 225 da Constituição Brasileira.

"Ecologia é a foto de uma floresta no gabinete de um burocrata do ministério do meio ambiente. Infelizmente”.

Luis Poeta.

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YOSHIURA, Wilson. Análise ambiental preliminar da porção inferior da bacia

hidrográfica do Ribeirão Três Bocas em Londrina - PR. Monografia (Bacharelado em

Geografia). Universidade Estadual de Londrina, 2004.

RESUMO

A Bacia Hidrográfica do Ribeirão Três Bocas abrange parte dos

municípios de Arapongas, Rolândia, Cambé e Londrina, porém, sua porção inferior,

objeto de estudo deste trabalho, refere-se a área situada entre a foz do Ribeirão Cafezal

até a foz do Ribeirão Três Bocas no Rio Tibagi. Inicialmente, nesta análise ambiental

preliminar, foram abordados alguns conceitos essenciais, como: bacia hidrográfica,

microbacia e sub-bacia; sendo que, num segundo momento, foi realizada uma

caracterização do meio físico – aspectos hidrológicos, geomorfológicos, geológicos,

climatológicos, dos solos, da vegetação e da qualidade hídrica –, do meio sócio-

econômico e do uso e ocupação do solo nesta porção do baixo curso do Ribeirão Três

Bocas. Muitos dos problemas ambientais identificados através dos levantamentos

realizados com o uso de fotografias aéreas, imagens de satélite e trabalhos de campo,

foram fotografados in loco, e constituíram uma coleção de imagens que serviu como

base de análise para o desenvolvimento das discussões e para a elaboração das

propostas de recuperação e sustentabilidade apresentadas neste trabalho.

Palavras-Chave: análise ambiental, bacia hidrográfica, impactos ambientais, Ribeirão

Três Bocas, Londrina.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Esquema ilustrativo de delimitação de uma bacia hidrográfica... 12Figura 2 - Sistema drenagem de uma bacia hidrográfica ........................... 12Figura 3 - Mapa das bacias hidrográficas do Brasil .................................... 18Figura 4 - Mapa das bacias hidrográficas do Estado do Paraná ................. 20Figura 5 - Mapa das bacias hidrográficas do Município de Londrina .......... 22Figura 6 - Foto da nascente de um dos afluentes mais altos do Ribeirão

Três Bocas, num “lixão” de Arapongas – PR............................... 24Figura 7 - Foto da nascente de um dos afluentes mais altos do Ribeirão

Três Bocas, num “lixão” de Arapongas – PR............................... 24Figura 8 - Foto tirada nas proximidades da nascente de um dos afluentes

mais altos do Ribeirão Três Bocas, em Arapongas – PR............ 24Figura 9 - Foto tirada nas proximidades da nascente de um dos afluentes

mais altos do Ribeirão Três Bocas, em Arapongas – PR............ 24Figura 10 - Foto tirada nas proximidades da nascente de um dos afluentes

mais altos do Ribeirão Três Bocas, em Arapongas – PR............ 25Figura 11 - Bacia Hidrográfica do Rio Tibagi – Municípios Abrangidos ........ 25Figura 12 - Bacia Hidrográfica do Ribeirão Três Bocas – Municípios

abrangidos e a área de abrangência por município .................. 26Figura 13 - Mapa hidrográfico da Bacia do Ribeirão Três Bocas .................. 27Figura 14 - A porção inferior da Bacia Hidrográfica do Rib. Três Bocas ....... 30Figura 15 - Foto aérea do baixo curso do Ribeirão Três Bocas – Destaque

para o Parque Ecológico Dr. Daisaku Ikeda ............................... 31Figura 16 - Foto do Ribeirão Três Bocas num dia de chuva

(Londrina – PR) ........................................................................... 31Figura 17 - Mapa das Regiões Naturais do Paraná ...................................... 32Figura 18 - Bacia do Rio Tibagi - Mapa Geomorfológico ............................... 34Figura 19 - Bacia do Rio Tibagi - Carta Hipsométrica ................................... 35Figura 20 - Principais unidades geológicas do Estado do Paraná ................ 36Figura 21 - Bacia do Rio Tibagi - Mapa geológico ......................................... 39Figura 22 - Características Climáticas (mapa) .............................................. 44Figura 23 - Quadro – Principais áreas verdes do Município de Londrina ...... 46Figura 24 - Gráfico de Coliformes Totais – Ribeirão Três Bocas (Parque Dr.

Daisaku Ikeda) ............................................................................ 48Figura 25 - Gráfico de Coliformes Fecais – Ribeirão Três Bocas (Parque

Dr. Daisaku Ikeda) .......................................................................

48

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Figura 26 - Foto - Londrina no início da urbanização e nos dias atuais ........ 50Figura 27 - Quadro - Evolução da População Residente do Município de

Londrina – 1950/2000 ................................................................. 50Figura 28 - Quadro - Crescimento da População do Município de Londrina

– 1950/2000 ................................................................................ 51Figura 29 - Quadro - Classes de uso e ocupação do solo da Bacia do

Ribeirão Três Bocas em ordem decrescente de área e percentual de ocupação ..............................................................

.

. 53

Figura 30 - Localização da Área de Proteção (Várzea) invadida e utilizada indevidamente para pastagem de animais na Zona Sul de Londrina – PR .............................................................................

.55

Figura 31 - Foto da área invadida sendo utilizada indevidamente para pastagem de animais na Zona Sul de Londrina – PR ................. 56

Figura 32 - Visão área de parte do Rib. Três Bocas, da PR-445 e da Cervejaria Spoller ........................................................................ 57

Figura 33 - Foto da ponte sobre o Ribeirão Três Bocas (PR-445) ................ 58Figura 34 - Foto da ponte sobre o Ribeirão Cafezal (PR-445) ...................... 59Figura 35 - Foto - Ausência de mata ciliar no Ribeirão Cafezal .................... 60Figura 36 - Foto da Antiga Ponte da PR-445 sobre o Ribeirão Cafezal ........ 60Figura 37 - O encontro do Ribeirão Cafezal com o Três Bocas .................... 61Figura 38 - Foto da Foz do Ribeirão Cafezal ................................................. 62Figura 39 - Foto do Ribeirão Três Bocas a poucos metros acima da foz do

Ribeirão Cafezal .......................................................................... 63Figura 40 - Foto do sistema de drenagem de várzea da Fazenda Serrana –

detalhe de manilhas expostas ..................................................... 65Figura 41 - Foto - Sistema de Drenagem de Várzea da Fazenda Serrana ... 65Figura 42 - Foto - O tamanho das “caixas” de alívio de pressão do sistema

de drenagem ............................................................................... 66Figura 43 - Foto - Flagrante de Poluição Hídrica causada por Agrotóxico .... 66Figura 44 - Foto - Detalhe de uma “caixa” de alívio de pressão e a mina

d’água da Fazenda Serrana ........................................................ 67Figura 45 - Foto - Detalhe do Solo Alagadiço da Fazenda Serrana .............. 67Figura 46 - Visão Panorâmica da Fazenda Serrana ..................................... 68

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..........................................................................................................09 1 CONCEITOS........................................................................................................11 1.1 Bacia Hidrográfica ..........................................................................................11 1.2 Bacia Hidrográfica e suas Subdivisões: Microbacia e Sub-bacia ...................13 1.3 As Bacias Hidrográficas como Unidade de Gestão dos Recursos

Hídricos ..........................................................................................................15 2 BACIAS HIDROGRÁFICAS.................................................................................17 2.1 Bacias Hidrográficas do Brasil ........................................................................17 2.2 Bacias Hidrográficas do Paraná .....................................................................19 2.3 Bacias Hidrográficas de Londrina...................................................................21 2.4 A Bacia Hidrográfica do Ribeirão Três Bocas.................................................23 3 A PORÇÃO INFERIOR DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO TRÊS

BOCAS ................................................................................................................28 3.1 Caracterização Ambiental...............................................................................29 3.1.1 Meio Físico................................................................................................29 3.1.1.1 Hidrografia ...........................................................................................29 3.1.1.2 Geomorfologia .....................................................................................32 3.1.1.3 Geologia ..............................................................................................36 3.1.1.3.1 Formação Serra Geral ....................................................................37 3.1.1.3.2 Potencialidades das formações geológicas locais..........................38 3.1.1.4 Solos....................................................................................................40 3.1.1.4.1 Latossolos ......................................................................................40 3.1.1.4.2 Argissolos .......................................................................................41 3.1.1.4.3 Neosolos.........................................................................................41 3.1.1.5 Clima....................................................................................................42 3.1.1.6 Vegetação............................................................................................45 3.1.1.7 Qualidade Hídrica ................................................................................47 3.2 Aspectos Sócio-Econômicos ..........................................................................49 3.3 Uso e Ocupação do Solo - Problemas Ambientais decorrentes .....................51 4 REGISTRO FOTOGRÁFICO DA DEGRADAÇÃO AMBIENTAL NO BAIXO

TRÊS BOCAS......................................................................................................54 4.1 Área de Proteção (várzea) invadida e utilizada indevidamente para

pastagem de animais na Zona Sul de Londrina – PR ....................................55 4.2 Na ponte sobre o Ribeirão Três Bocas na PR-445.........................................57 4.3 Na ponte sobre o Ribeirão Cafezal na PR-445...............................................59 4.4 A Foz do Ribeirão Cafezal..............................................................................61 4.5 Crime Ambiental na Fazenda Serrana............................................................63 5 PROPOSTAS DE RECUPERAÇÃO ....................................................................69 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................74 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..........................................................................75

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INTRODUÇÃO

A Bacia Hidrográfica do Ribeirão Três Bocas é uma das principais

bacias do município de Londrina e abriga vários afluentes importantes, dentre os

quais destacam-se o Ribeirão Cafezal, um dos mananciais de abastecimento da

cidade, o Ribeirão São Domingos, o Ribeirão Esperança e o Ribeirão Cambé, que

forma os lagos Igapó I, II, III e IV.

A realização de uma análise ambiental preliminar em sua porção

inferior – que encontra-se totalmente inserida no município de Londrina -, faz-se

necessária, tendo em vista que a mesma apresenta um quadro natural bastante

alterado, necessitando de um eminente planejamento de uso e ocupação de sua

área para garantir sua recuperação e sustentabilidade ambiental.

No presente trabalho, procurou-se reunir estudos essenciais para a

compreensão e registro do atual estado de degradação ambiental da bacia, em

especial, as áreas próximas aos cursos d’água. Para tanto, os capítulos foram

elaborados e dispostos de modo a proporcionar um maior entendimento, através de

uma abordagem inicial dos principais conceitos necessários para a caracterização

do meio físico, do meio sócio-econômico, do uso e ocupação do solo e os

problemas ambientais decorrentes.

Entretanto, num segundo momento, foi dada especial importância à

utilização das fotografias tiradas durante os trabalhos de campo, e às imagens

orbitais adaptadas digitalmente para ilustrar e facilitar a compreensão dos

problemas ambientais discutidos na avaliação ambiental presente neste trabalho.

Desse modo, esta pesquisa surgiu com o intuito de apresentar

propostas de recuperação e sustentabilidade para as principais atividades

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poluidoras existentes na área de estudo, como o despejo de lixo em locais

impróprios, a contaminação do solo e da água causada por agrotóxicos, o

lançamento de efluentes industriais e os resultantes das Estações de Tratamento de

Esgoto (ETE) nos corpos d’água, etc.; como também, foram levantadas propostas

de recuperação e conservação para as áreas atingidas por atividades danosas ao

ambiente, como as ocupações e as obras realizadas em Áreas de Preservação

Permanente (APP), o avanço das áreas de cultivo agrícola e de pastagem que

ultrapassam os limites destinados à preservação da mata ciliar, que propiciam o

processo de assoreamento dos rios e podem comprometer a biodiversidade da flora

e fauna em certos locais.

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1 CONCEITOS

1.1 BACIA HIDROGRÁFICA

Uma bacia hidrográfica é uma unidade fisiográfica, limitada por

divisores topográficos, popularmente conhecidos como “espigões” ou “divisores de

água” (Figura 1), que recolhe a precipitação, agindo como um reservatório de água

e sedimentos, defluindo-os em uma seção fluvial única (Figura 2). É o conjunto de

meios hídricos (aquáticos) cujos cursos (ou leitos) se interligam, ou seja, um

conjunto de terras drenadas por um rio principal e seus afluentes. A noção de bacia

hidrográfica inclui naturalmente a existência de cabeceiras ou nascentes, divisores

d'água, cursos d'água principais, afluentes, subafluentes, etc.

Entende-se como bacia hidrográfica ou bacia de drenagem a área da superfície terrestre drenada por um rio principal e seus tributários, sendo limitada pelos divisores de água. A bacia hidrográfica é uma célula natural que pode, a partir da definição do seu outlet ou ponto de saída, ser delimitada sobre uma base cartográfica que contenha cotas altimétricas, como as cartas topográficas, ou que permita uma visão tridimensional da paisagem, como as fotografias aéreas. A delimitação de bacias hidrográficas a partir de imagens de satélite também é possível; contudo, sua maior ou menor precisão fica a cargo, não só do tamanho da bacia a ser mapeada, como, principalmente, da qualidade e riqueza de informações da imagem considerada. (GUERRA, et al. 1999)

A formação da bacia hidrográfica dá-se através dos desníveis dos

terrenos que direcionam os cursos da água, sempre das áreas mais altas para as

mais baixas. E essa tendência que a água tem em seguir uma determinada

orientação é dada pelo relevo e pelo efeito da gravidade.

As orientações dadas pelo relevo fazem com que as águas de uma

determinada região convirjam para um mesmo local, isso é chamado de drenagem.

É correto, por exemplo, dizer que o rio tal drena as águas de tal região ou tal

município ou cidade.

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O conceito de bacia hidrográfica deve incluir também noção de

dinamismo, por causa das modificações que ocorrem em seu interior e nas linhas

divisórias de água, que sob o efeito de agentes erosivos, podem alargar ou diminuir

a área da bacia.

Figura 1 – Esquema ilustrativo de delimitação de uma bacia hidrográfica

Autor: YOSHIURA, W. 2005.

Figura 2 - Sistema de drenagem em uma bacia hidrográfica

Fonte: http://www.ana.gov.br

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Em termos ambientais, a bacia hidrográfica é a unidade

ecossistêmica e morfológica que melhor reflete os impactos das interferências

antrópicas, seja na ocupação de terras com atividades agrícolas ou na urbanização.

Esta área física é uma importante unidade de planejamento e de execução de

atividades sócio-econômicas, ambientais, culturais e educativas.

O completo entendimento do funcionamento de uma bacia

hidrográfica exige simultâneo conhecimento de seus sistemas aquáticos e

terrestres, pois quando uma bacia é fortemente modificada, principalmente pela

mudança do uso do solo, grande diversidade de problemas ambientais poderão

ocorrer com destino final nos seus recursos hídricos.

É muito importante entender o conceito de bacia hidrográfica, visto

que ela é a base de toda a gestão das águas no Brasil. Ao adotar a bacia

hidrográfica como delimitação territorial para a gestão das águas, se está

respeitando a divisão espacial que a própria natureza fez. Ocorre, porém, que a

delimitação territorial por bacia hidrográfica pode ser diferente da divisão

administrativa, ou seja, da divisão por estados e municípios.

1.2 Bacia Hidrográfica e suas Subdivisões: Microbacia e Sub-bacia

Como derivações do conceito de bacia hidrográfica, aparecem os

termos "sub-bacia" e "microbacia", esta que, do ponto de vista hidrológico, pode ser

considerada como a menor unidade da paisagem capaz de integrar todos os

componentes relacionados com a qualidade e disponibilidade de água como:

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atmosfera, vegetação natural, plantas cultivadas, solos, rochas subjacentes, corpos

d’água e paisagem circundante.

Apesar de não constar nos principais e mais recentes dicionários e vocabulários técnicos nacionais e internacionais editados nas áreas das ciências ambientais, o termo microbacia vem sendo cada vez mais utilizado e citado em livros e artigos, principalmente por profissionais envolvidos com projetos de planejamento. Entretanto, nota-se, ainda, a ausência de uma conceituação e de consenso, não só na sua definição, como também no seu uso. (GUERRA, et al. 1999)

Desse modo, o termo microbacia vem sendo utilizado para

expressar uma idéia de tamanho, de dimensão, difícil de se estabelecer,

constituindo uma denominação empírica e subjetiva; enquanto que, o termo sub-

bacia transmite uma idéia de hierarquia, de subordinação, independentemente do

tamanho, razão pela qual parece ser mais preciso e apropriado, visto que, uma

bacia hidrográfica pode estar inserida em outras de maior tamanho, e pode ainda,

conter um número variado de outras bacias menores nela inseridas, as chamadas

sub-bacias.

A criação do Programa Nacional de Microbacia Hidrográfica (PNMH), através do Decreto-Lei nº 94.076, de 05 de março de 1987, expandiu o uso do termo, que foi definido como sendo uma área drenada por um curso d'água e seus afluentes, a montante de uma determinada seção transversal, para a qual convergem as águas que drenam a área considerada. (GUERRA, et al. 1999)

Tal conceituação, no entanto, não difere em nada do conceito de

bacia hidrográfica e, como dito anteriormente, pode inibir sua incorporação pelos

pesquisadores da área ambiental.

Existe, ainda, a noção de microbacia hidrográfica como uma "unidade espacial mínima", definida a partir da classificação de uma bacia de drenagem em seus diferentes níveis hierárquicos, subdividindo-a até a menor porção possível. (GUERRA, et al. 1999)

Esta visão equivaleria à noção de bacia hidrográfica de ordem zero,

correspondendo aos canais efêmeros ou cabeceiras de drenagem. Tal concepção,

entretanto, parece não corresponder ao conceito de microbacias utilizado nos

últimos dez anos pelos pesquisadores. Obviamente, a noção de microbacia está

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associada à definição de uma dimensão para a área de trabalho. O tamanho dessa

área, contudo, não está fixado.

Acredita-se que o conceito de microbacia esteja fortemente

relacionado aos projetos de planejamento e conservação ambiental e que, para sua

definição, deve-se acrescentar à própria conceituação de bacia hidrográfica a

condição do estabelecimento de uma área, cuja extensão é função da análise de

alguns elementos que estarão envolvidos na pesquisa, como técnicas, recursos

materiais, equipe de trabalho e tempo disponíveis. Além disso, é preciso reconhecer

os interesses das comunidades diretamente envolvidas nos projetos de

planejamento, que podem ser tanto mais diversificados quanto maior for a área

considerada.

1.3 As Bacias Hidrográficas como Unidade de Gestão dos Recursos Hídricos

O descaso com a gestão integrada dos recursos hídricos do País

sempre foi uma característica da legislação brasileira. A primeira lei sobre o

assunto, o Código de Águas, de 1934, priorizava a utilização dos rios brasileiros

para a produção de energia elétrica. Não valorizava os demais usos possíveis para

a água, como o abastecimento público. Essa visão estreita só se alterou em 1997,

quando a Lei Federal nº 9.433 estabeleceu a Política Nacional de Recursos

Hídricos (PNRH). Entre as inovações se destacam a adoção do conceito de bacia

hidrográfica como unidade de gestão dos recursos hídricos, a valorização dos

múltiplos usos da água - tais como abastecimento e saneamento público, transporte

e irrigação - e o reconhecimento da água enquanto valor econômico.

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Um dos principais objetivos por trás destas mudanças é alterar a

forma como empresários, gestores públicos e a população brasileira utilizam a água

doce do País, induzindo um uso mais racional do recurso, para que índices como os

de desperdício e contaminação caiam e os de abastecimento, saneamento e

pureza, subam. A nova política para a água veio fortalecer a gestão descentralizada

de cada bacia hidrográfica por parte de seus respectivos comitês, subcomitês e

agências.

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2 BACIAS HIDROGRÁFICAS

2.1 BACIAS HIDROGRÁFICAS DO BRASIL

De acordo com o mapa publicado pelo IBGE - 2002, podemos

verificar que o Brasil possui uma grande disponibilidade hídrica, e está dividido em

dez bacias hidrográficas (Figura 3):

- Bacia hidrográfica do rio Amazonas;

- Bacia hidrográfica do rio Tocantins;

- Bacia hidrográfica do rio Parnaíba;

- Bacia hidrográfica do rio São Francisco;

- Bacia hidrográfica do rio da Prata;

- Bacias costeiras do norte;

- Bacias costeiras do nordeste ocidental;

- Bacias costeiras do nordeste oriental;

- Bacias costeiras do sudeste;

- Bacias costeiras do sul.

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Figura 3

Fonte: IBGE – Atlas Geográfico Escolar, 2002.

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2.2 BACIAS HIDROGRÁFICAS DO PARANÁ

O Estado do Paraná apresenta uma malha hidrográfica em

extensão de mais de 100 mil quilômetros, divididos em 16 bacias hidrográficas

(Figura 4), segundo a SEMA/SUDERHSA1 (1998), são:

- Bacia Hidrográfica das Cinzas;

- Bacia Hidrográfica do Iguaçu;

- Bacia Hidrográfica de Itararé;

- Bacia Hidrográfica do Ivaí;

- Bacia Hidrográfica Litorânea;

- Bacia Hidrográfica do Paraná 1;

- Bacia Hidrográfica do Paraná 2;

- Bacia Hidrográfica do Paraná 3;

- Bacia Hidrográfica do Paranapanema 1;

- Bacia Hidrográfica do Paranapanema 2;

- Bacia Hidrográfica do Paranapanema 3;

- Bacia Hidrográfica do Paranapanema 4;

- Bacia Hidrográfica do Piquiri;

- Bacia Hidrográfica do Pirapó;

- Bacia Hidrográfica da Ribeira;

- Bacia Hidrográfica do Tibagi.

1 Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos – SEMA;

Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental – SUDERHSA.

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Figura 4

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2.3 BACIAS HIDROGRÁFICAS DO MUNICÍPIO DE LONDRINA

De acordo com mapa publicado pela Secretaria Municipal de

Agricultura e Abastecimento da Prefeitura de Londrina - SMAA (2000), o município

de Londrina possui 15 bacias hidrográficas que abrangem as áreas urbanas e rurais

(Figura 5), sendo:

- Bacia Hidrográfica do Ribeirão Jacutinga;

- Bacia Hidrográfica do Ribeirão Engenho de Ferro;

- Bacia Hidrográfica do Ribeirão Limoeiro;

- Bacia Hidrográfica do Ribeirão Três Bocas;

- Bacia Hidrográfica do Ribeirão Remansinho;

- Bacia Hidrográfica do Ribeirão dos Apertados;

- Bacia Hidrográfica do Córrego do Gavião;

- Bacia Hidrográfica do Ribeirão das Marrecas;

- Bacia Hidrográfica do Ribeirão Volta Grande;

- Bacia Hidrográfica do Rio Taquara;

- Bacia Hidrográfica do Ribeirão Figueira;

- Bacia Hidrográfica do Ribeirão Barra Funda;

- Bacia Hidrográfica do Ribeirão Três Bocas Mirim;

- Bacia Hidrográfica do Rio Apucaraninha;

- Bacia Hidrográfica do Rio Apucarana.

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Figura 5

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2.4 A BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO TRÊS BOCAS

O Ribeirão Três Bocas nasce em Arapongas2, atravessa o

município de Londrina e deságua no Rio Tibagi, fazendo portanto, parte desta bacia

hidrográfica que se liga às bacias do Rio Paranapanema, Paraná e finalmente à

bacia hidrográfica do Rio da Prata, esta que abrange grande parte das regiões

Centro-Oeste, Sul e Sudeste do Brasil, ultrapassando os limites do país,

estendendo-se até o Paraguai e o Uruguai.

Segundo o Plano Diretor do Município de Londrina (1995), a

extensão do Ribeirão Três Bocas é de 61,5Km e a área de sua bacia hidrográfica é

de 545Km².

A bacia hidrográfica do Ribeirão Três Bocas abrange parte dos

municípios de Arapongas, Cambé, Londrina e Rolândia (Figuras 11 e 12). Possui

uma rica e bem distribuída rede de drenagem (Figura 13); com rios de caráter

perene, que escoam por sobre o relevo que possui orientação para a margem

esquerda do Rio Tibagi.

De acordo com o Macrozoneamento Ambiental da Bacia

Hidrográfica do Rio Tibagi (STIPP, 2000), a bacia hidrográfica do Ribeirão Três

Bocas se enquadra na área da porção inferior da bacia hidrográfica do Rio Tibagi.

Trata-se de uma das principais bacias do município de Londrina e

abriga vários afluentes importantes como o Ribeirão Cafezal, um dos mananciais de

abastecimento da cidade, o Ribeirão São Domingos, que nasce na cidade de

Cambé e o Ribeirão Cambé, que forma os lagos Igapó I, II, III e IV, cartões postais

da cidade de Londrina.

Em sua área de abrangência encontram-se cerca de dois “lixões”

municipais, localizados em Arapongas e Londrina, e estações de tratamento de 2 Veja as Figuras 6, 7, 8, 9 e 10.

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esgoto (ETEs), que juntamente com uma infinidade de lançamentos clandestinos de

efluentes de diversas origens (residenciais, industriais, sanitários, etc.) contribuem

para a degradação ambiental da bacia.

Figuras 6 e 7 – Na nascente de um dos afluentes mais altos do Ribeirão Três Bocas, na cidade de Arapongas – PR, encontra-se uma área utilizada para despejo de lixo.

Fonte: SOUZA3, João B. M. de. 2003.

Figuras 8 e 9 – Neste afluente do Ribeirão Três Bocas, em Arapongas - PR, pode-se observar a enorme quantidade de lixo depositado, o aspecto da água altamente poluída e o processo erosivo altamente desenvolvido.

Fonte: SOUZA, João B. M. de. 2006.

3 João Batista Moreira de Souza é ambientalista e, popularmente conhecido na região, como: “João das Águas”.

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Figura 10 – Ainda neste “lixão” em Arapongas - PR, pode-se observar com maiores detalhes nesta fotografia, o aspecto da água altamente poluída e a enorme quantidade de lixo - como pneus, materiais de construção e lixo doméstico -, depositados no curso d’água, contituindo-se como um poderosíssimo foco de proliferação de doenças.

Fonte: SOUZA, João B. M. de. 2006.

Figura 11 – Bacia Hidrográfica do Rio Tibagi (Municípios Abrangidos)

Fonte: MEDRI, M. E. et al. 2002.

Adaptação: YOSHIURA, W. 2006.

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3 A PORÇÃO INFERIOR DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO TRÊS

BOCAS

A porção inferior da bacia hidrográfica do Ribeirão Três Bocas,

refere-se a área de 7,65Km², situada entre a foz do Ribeirão Cafezal e a foz

Ribeirão Três Bocas. Sendo assim, a área de estudo está totalmente inserida no

município de Londrina.

No mapa a seguir (Figura 14), pode-se observar o Ribeirão Três

Bocas em destaque na cor azul, e seus afluentes em cor verde. Interessante notar

que, o represamento (em azul) localizado na parte central do mapa, trata-se da

represa da antiga Usina do Três Bocas, sendo esta de grande importância histórica

por ter sido a segunda usina hidrelétrica do município, implantada no ano de 1943

pela Companhia Elétrica de Londrina e pela Companhia de Terras do Norte do

Paraná - CTNP, sendo desativada em 1983 e reestruturada pela Prefeitura do

Município em 1999, quando transformou-se no Parque Ecológico Dr. Daisaku Ikeda

(Figura 15 e 16), em homenagem ao fundador da Associação Soka Gakkai

Internacional4, que era a atual proprietária da área e a cedeu para a implantação da

Unidade de Conservação.

4 http://www.bsgi.com.br/ - Website oficial da Associação Soka Gakkai do Brasil.

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3.1 CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL

3.1.1 MEIO FÍSICO

3.1.1.1 HIDROGRAFIA

De modo geral, a hidrografia da porção inferior da bacia hidrográfica

do Ribeirão Três Bocas apresenta o mesmo padrão do restante da bacia da qual faz

parte, tendo uma rica e bem distribuída rede de drenagem (como pode-se observar

na Figura 13), com rios de caráter perene.

A parte do baixo Ribeirão Três Bocas, ou seja, o trecho que vai

desde a foz do Ribeirão Cafezal até o Rio Tibagi, possui 27 250 metros de

extensão, passa nas proximidades da Zona Sul da cidade de Londrina, mas

encontra-se ainda totalmente inserida na área rural do município. Contudo, diversos

de seus tributários, nascem e/ou atravessam a cidade.

Dentre os principais afluentes inseridos nesta porção da bacia,

destacam-se:

O Ribeirão Cambé (somente parte deste);

O Córrego dos Periquitos;

O Córrego São Lourenço (somente parte deste);

O Córrego do Trigo.

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Figura 14 – A PORÇÃO INFERIOR DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO TRÊS BOCAS

Fonte: ESTADO DO PARANÁ5, 1963.

Autor: YOSHIURA, W. 2006.

5 Mapa publicado pelo Departamento de Geografia Terras e Colonização - PARANÁ, 1963.

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Figura 15 – Visão aérea parcial do baixo curso do Ribeirão Três Bocas – Destaque para o Parque Ecológico Dr. Daisaku Ikeda.

Fonte: Arquivo da SEMA, 2004.

Figura 16 – Esta foto do Ribeirão Três Bocas foi tirada em dia de chuva, no Parque Ecológico Dr. Daisaku Ikeda (Londrina – PR), num local onde o ribeirão apresenta-se belo e bem protegido pela mata ciliar.

Fonte: BERTHO, Sidney A. 2003.

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3.1.1.2 GEOMORFOLOGIA

A bacia hidrográfica do Ribeirão Três Bocas está situada dentro de

um compartimento geomorfológico denominado por MAACK (1981) de Terceiro

Planalto Paranaense (Figura 17), sendo a maior compartimentação do Estado

abrangendo uma área de 135.000 km².

Figura 17 - Regiões Naturais do Paraná

Fonte: MAACK, 1981. Adaptação: YOSHIURA, W. 2006.

As formas superficiais do Terceiro Planalto, em mesetas estruturais

que se destacam, constituem as paisagens típicas, dando origem a uma topografia

de aspecto tabuliforme, entremeada, em diversas áreas, pelas formas onduladas,

com chapadas de encostas mais suavizadas.

O Terceiro Planalto ou o Planalto de Guarapuava (teve esta

denominação em virtude da não existência de cidades importantes no norte do

estado na época de estudo), para MAACK (1981), representa o plano de declive

que forma a Serra Geral do Paraná.

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A bacia hidrográfica do Ribeirão Três Bocas, apresenta terrenos

cujo relevo vai de praticamente horizontalizado, passando por suave ondulado no

topo dos interflúvios (paisagem de colinas amplas e médias) até ondulado e forte

ondulado junto as nascentes dos rios e na borda do Terceiro Planalto onde as

vertentes são mais dissecadas e a drenagem mais encaixada (vales profundos e

estreitos).

As cotas mais elevadas estão à oeste da bacia, em Arapongas e

em menor parte em Rolândia, atingindo entre 700 e 800 metros influenciando

sensivelmente na relação dos elementos naturais ali presentes, sobretudo na

vegetação, clima, relevo e solos. As porções menos elevadas são encontradas à

Leste, próximas as margens do Rio Tibagi, onde as altitudes estão de 300 a 400

metros. Na porção inferior da bacia a cota mais elevada é de 587 metros.

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Figura 18

Fonte: STIPP, N. A. F. et al. 2000. Adaptação: YOSHIURA, W. 2006.

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Figura 19

Fonte: STIPP, N. A. F. et al. 2000. Adaptação: YOSHIURA, W. 2006.

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3.1.1.3 GEOLOGIA

A porção inferior da bacia hidrográfica do Rio Tibagi, na qual a

bacia do Ribeirão Três Bocas está situada, é parte integrante da Bacia Sedimentar

do Paraná, esta que apresenta como arcabouço geológico um substrato rochoso

sedimentar-vulcânico de idade Siluriana-Cretácica. (MILANI et al. 1994; apud.

PINESE, 2000)

A Bacia Sedimentar do Paraná é uma extensa depressão deposicional situada na parte centro-leste do continente sul-americano, cobrindo cerca de 1.600.000Km². Destes, 1.000.000 Km² localizam-se no território brasileiro. (SCHNEIDER et al. 1974; apud. PINESE, 2000) Abrange parte dos estados de Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso. Estima-se que o centro da bacia alcance cerca de 5000 metros de espessura representando toda a seqüência sedimentar. É uma bacia intracratônica simétrica preenchida por sedimentos do paleozóico, mesozóico, e lavas basálticas mesozóicas. Localmente assinalam-se sedimentos cenozóicos. (PINESE, 2000)

A porção do curso inferior da bacia hidrográfica do Rio Tibagi drena,

em sua quase totalidade, terrenos constituídos pelos derrames vulcânicos de lavas

basálticas de idade Juro-Cretácea, como também, parcela de sedimentos

Neopaleozóicos/mesozóicos pertencentes à Bacia Sedimentar do Paraná.

Figura 20 – Principais unidades geológicas do Estado do Paraná

Fonte: http://www.pr.gov.br/mineropar/geologia.html

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De acordo com MAACK (1981) na área onde se assenta a bacia do

Rio Tibagi aparecem as seguintes unidades litoestratigráficas:

- do Pré-Cambriano Superior: o Grupo Açungui;

- do Ordoviciano: Grupo Castro;

- do Devoniano: o Grupo Paraná – Campos Gerais;

- do Carbonífero: o Grupo Tubarão;

- do Permiano: o Grupo Passa-dois;

- do Triássico: o Grupo São Bento.

Entretanto, as principais características das associações rochosas

que constituem a área da bacia hidrográfica do Ribeirão Três Bocas, referem-se ao

Grupo São Bento (Triássico / Mesozóico), mais especificamente, a Formação Serra

Geral.

3.1.1.3.1 Formação Serra Geral

A Formação Serra Geral recobre grande parte da área de

abrangência do curso inferior do Rio Tibagi, sendo característica marcante de

municípios como Londrina, Jataizinho e Sertanópolis, entre outros do Terceiro

Planalto Paranaense.

De acordo com PINESE (2000), a Formação Serra Geral engloba

as rochas relacionadas com o TRAPP6 basáltico, que cobre extensa área do sul do

Brasil, resultantes de vulcanismo de fissura, por onde se extravasaram imensos

volumes de lavas. As rochas basálticas possuem composição uniforme, constituídas

basicamente de plagioclásios cálcicos. Relacionados às rochas basálticas, acham-

6 “TRAPP” é o nome dado ao intenso derramamento de lavas (basálticas) que se estendeu por vasta área, através

de fissuras, fendas abertas na superfície da Terra e que se consolidaram em forma degraus.

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se rochas co-magmáticas, como diabásios, diorito-pórfiros e quartzo-dioritos. Em

certas regiões há a ocorrência de lavas andesíticas, relacionadas a muitos diques

de diorito-pórfiro (diques alimentadores de derrames).

Ainda, segundo PINESE (2000), as espessuras do pacote de

derrames alcançam mais de 1000 metros em certos locais. O vulcanismo basáltico

é um dos mais extensos relatados na literatura e recobre toda a seqüência

sedimentar da Bacia do Paraná.

3.1.1.3.2 Potencialidades das formações geológicas locais

A composição mineralógica das efusivas basálticas da Formação

Serra Geral, composta principalmente por rochas vulcânicas básicas com intrusões

alcalinas e pequenas lentes de arenito, não apresentam recursos minerais

importantes de forma concentrada a ponto de despertar um grande interesse

econômico.

Conforme Celligoi, (1993) apud. Pinese (2000), pode-se enfatizar

resumidamente que os basaltos da Formação Serra Geral apresentam-se de forma

muito pobre quanto a produção de recursos minerais, destacando-se apenas pela

extração de brita e água mineral subterrânea que se encontra aprisionada nos

limites inter-derrames e nos sistemas de diáclases e fraturas.

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Figura 21

Fonte: STIPP, N. A. F. et al. 2000. Adaptação: YOSHIURA, W. 2006.

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3.1.1.4 SOLOS

Os solos do Estado do Paraná, devido principalmente aos tipos

climáticos, predominantemente tem sua gênese ligada aos processos de

intemperismo. É uma região privilegiada na questão das possibilidades de

exploração, uso, ocupação e de produção de seus solos; tanto que apresenta uma

economia voltada para a agricultura em função da boa fertilidade de seus solos, e

também do relevo tabuliforme, mais plano que outras áreas.

De acordo com o novo Sistema Brasileiro de Classificação dos Solos

(EMBRAPA, 1999), o curso inferior da bacia hidrográfica do Rio Tibagi, mostra a

predominância dos seguintes tipos de solos: Latossolo, Argissolo, Alissolo, Gleissolo

e Neossolo. No entanto, no curso inferior da bacia hidrográfica do Ribeirão Três

Bocas, ocorrem apenas os tipos de solos descritos a seguir.

3.1.1.4.1 Latossolos

A maior parte desta classe é composta por solos muito profundos,

normalmente com mais de 3 metros de espessura, podendo haver ocorrências, não

raras, de solos com mais de 5 ou até mesmo de 10 metros de profundidade.

É um solo que possui uma profundidade que vai além de 3m, de coloração vermelha escura que pode ficar roxa segundo a incidência solar. Possui teor de argila superior a 60%, portanto com textura muito argilosa, consistência muito friável, porosos e acentuadamente drenados. Origina-se das eruptivas básicas: basaltos e diabásios [...] Ocorrem em terrenos planos, pouco ondulados que permitem a mecanização no uso agrícola. (STIPP, 2000)

Estes solos são desenvolvidos a partir de rochas do derrame

basáltico, e conseqüentemente, apresentam ampla distribuição geográfica,

ocorrendo tanto no norte, como no centro, oeste e sudeste do Estado do Paraná.

Ocorrem sob floresta tropical ou sub-tropical.

O alto grau de floculação das argilas, e alta porosidade, a boa permeabilidade e o fato de ocorrerem em áreas de relevo suave, conferem aos solos desta classe uma inerente resistência à erosão em estado

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natural. Quando sob cultivo, o grau de declividade, o comprimento da pendente, o tipo de manejo, o tipo de cobertura e o tempo de utilização, têm uma influência na maior ou menor resistência à erosão. (STIPP, 2000)

Em condições naturais os solos desta classe, são muito resistentes

à erosão, porém, após serem colocados sob cultivo sua susceptibilidade ao

fenômeno, aumenta ou diminui em função do declive, comprimento da pendente,

tipo de manejo, tempo de utilização e espécie de cultura.

3.1.1.4.2 Argissolos

Assim como os latossolos, os argissolos são desenvolvidos a partir

de rochas do derrame basáltico e, conseqüentemente, apresentam uma ampla

distribuição geográfica, ocorrendo além do norte, também no centro, no oeste e no

sudeste do Paraná. A vegetação natural relaciona-se com floresta tropical e

subtropical, e campo subtropical.

Compreende solos minerais, não hidromórficos, com separação dos

horizontes difíceis de serem visualizadas, com argila de baixa capacidade de troca

de cátions, predominantemente caulínicas, com baixo gradiente textural, ricos em

sesquióxidos de ferro e alumínio e derivados de rochas eruptivas básicas. São de

coloração avermelhada, profundos, argilosos, bem drenados e porosos.

3.1.1.4.3 Neossolos

Aparecem em todo o Estado do Paraná, tanto em regiões de relevo

suave ondulado e escarpado como em relevo fortemente ondulado e montanhoso.

Este grupo compreende solos minerais, pouco desenvolvidos, que a partir de uma

profundidade que varia entre 15cm e 80cm, apresentam rochas consolidadas, pouco

ou nada intemperizadas.

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São formados a partir de diferentes materiais de origem, sendo que

no Paraná são desenvolvidos principalmente de rochas eruptivas básicas e

intermediárias, rochas ígneas ácidas, folhelhos, filititos e arenitos.

Estes solos são encontrados em altitudes que variam desde 50m até

mais de 1000m. Podem ser encontrados tanto sob vegetação de mata tropical ou

subtropical, como sob vegetação campestre, geralmente, subtropical.

Por serem solos que ocorrem em sua maioria em locais de

topografia acidentada, são muito susceptíveis à erosão. Por este motivo também são

solos difíceis de serem mecanizados dentro de um sistema de agricultura moderna.

O potencial agrícola destes solos varia dependendo das condições

ambientais, especialmente da natureza do substrato rochoso e do regime hídrico.

São intensamente erodidos após a retirada da mata nativa, portanto, seu uso é

inviável para a agricultura.

3.1.1.5 CLIMA

O tipo climático predominante identificado na porção inferior da bacia

hidrográfica do Rio Tibagi é o Cfa, conforme a classificação climática do Estado

Paraná (MAACK, 1981) baseada em Koppen. Desse modo, na área da bacia

hidrográfica do Ribeirão Três Bocas, além do tipo climático Cfa predominante, há

também o tipo Cfb numa pequena área no extremo oeste da bacia, que de acordo

com a Carta das Características Climáticas (Figura 22), é na verdade, um tipo

climático Cfa/Cfb misto (Área II).

O tipo climático Cfa, Subtropical Úmido Mesotérmico, é

caracterizado pela temperatura moderada, com chuvas em todas as estações do

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ano, podendo ocorrer um período de seca durante o inverno, quando também,

podem ocorrer geadas. O período mais chuvoso concentra-se nos meses de

dezembro, janeiro e fevereiro, com média de 500 mm a 600 mm, e o período com o

menor índice pluviométrico é junho, julho e agosto, variando de 175 mm a 250 mm.

De acordo com STCP (2004), a temperatura no município de

Londrina, oscila entre 26 a 28 ºC no período mais quente do ano, que corresponde

aos meses de dezembro, janeiro e fevereiro e 15 a 17 ºC no período mais frio (junho,

julho e agosto).

O Cfb, é igualmente um clima mesotérmico, úmido e superúmido,

sem estação seca com verões frescos e com média do mês mais quente inferior a

22 ºC. As geadas são severas e mais freqüentes em relação ao clima Cfa. Ocorre

principalmente nas regiões central, sul, centro-leste, em altitudes superiores a 850-

900 metros.

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3.1.1.6 VEGETAÇÃO

Em todo o Paraná, pouco resta da cobertura vegetal natural,

especialmente na sua porção norte; o rápido desenvolvimento das atividades

agropecuárias, desenvolvidas de forma desordenada, e a urbanização nas últimas

cinco décadas, alteraram por completo a paisagem natural.

Os estudos realizados por Maack (1981) mostraram que as áreas cobertas com matas nativas no Estado do Paraná sofreram uma drástica redução em seu percentual de cobertura, caindo de 84,1% em 1895 para apenas 5,1% em 1980. Este processo ocorreu de forma generalizada em todo o Estado. Na região de Londrina esse processo de ocupação foi mais recente e voltado a uma exploração mais efetiva do solo, e a vegetação florestal original ficou restrita a poucos fragmentos isolados e a estreitas faixas que restaram nas margens dos cursos d’água. Paralelamente à destruição e à fragmentação do ambiente, retirando o abrigo e alimento das populações animais, ocorreram a introdução de espécies exóticas, a prática da caça e o uso sem controle de defensivos agrícolas. Esses fatores combinados, levaram à extinção local de algumas espécies com menor capacidade de adaptação a essas alterações e ao aumento das populações de outras, com maior plasticidade ecológica. (QUEIROGA, 2004)

A Mata Pluvial Tropical e Subtropical que recobria a região norte do

Estado do Paraná, era formada por uma enorme variedade de gêneros e espécies

de vegetação, sendo algumas de grande valor econômico, notadamente para o

setor madeireiro, como a Peroba, a Figueira Branca, o Pau d’Alho, o Pinheiro do

Paraná, etc.

As famílias que se destacam como típicas do Baixo Tibagi foram a Leguminasae, Euphorbiaceae, Meliaceae, Moraceae, Rubiaceae e Solanaceae, sendo a família Meliaceae a que ocorre em maior abundância nesta região. Famílias como Apocynaceae, Phytolaccceae e Moraceae apresentam um pequeno número de espécies, mas destacam-se por serem representadas por árvores de grande porte e alta dominância na floresta como a Peroba-rosa, o Pau-d’álho e as Figueiras, respectivamente. (QUEIROGA, 2004)

No âmbito dos municípios que enquadram a bacia hidrográfica do

Ribeirão Três Bocas, os resquícios da formação vegetal natural que dominou na

região são escassos. Porém, no que concerne à área urbana, segundo o Perfil -

2004 de Londrina, o município apresenta um percentual de áreas verdes por

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habitante aparentemente bom, porém mal distribuída, concentrando-se na área

centro-sul.

Figura 23

Fonte: LONDRINA – Perfil 2004.

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3.1.1.7 QUALIDADE HÍDRICA

O uso e ocupação do solo em toda a bacia hidrográfica é o fator

preponderante para garantir ou não a qualidade e a quantidade de água na rede de

drenagem, já que é o responsável pelo impacto direto sobre suas águas.

Com o objetivo de demonstrar as condições da água na bacia

hidrográfica do Ribeirão Três Bocas, foram levantados dados referentes à qualidade

de água em seu curso principal, nas proximidades do Parque Ecológico Dr. Daisaku

Ikeda7.

Para a avaliação da qualidade das águas superficiais na bacia

hidrográfica, foram necessários os dados fornecidos pela Secretaria Municipal do

Ambiente (SEMA) e pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP).

No Ribeirão Três Bocas, as amostras de água coletadas nos anos

de 2000 e 2001 pela equipe da SEMA e do IAP e analisadas nos laboratórios do

IAP, apresentaram resultados preocupantes quanto à qualidade das águas

superficiais, principalmente no que se refere aos parâmetros bacteriológicos

(coliformes fecais e totais).

Os limites para cada parâmetro analisado são impostos pelas

Resoluções nº 20/86 e 274/2000 do CONAMA, que impõe uma série de condições

para a utilização das águas doces.

A análise dos resultados permitiu concluir que os maiores

problemas são quanto aos parâmetros bacteriológicos (Figuras 24 e 25). Os demais

encontram-se dentro da faixa adequada permitida pelo CONAMA nº 20/86 com as

seguintes exceções: a DBO está bem acima do permitido na foz do Ribeirão

Cafezal, um dos principais afluentes do Ribeirão Três Bocas, em local próximo à

7 http://www.parquedaisakuikeda.com.br

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Estação de Tratamento de Esgoto em Londrina; o níquel, o ferro e o cádmio em

todas as análises e o zinco, próximo à ponte do Ribeirão na PR-445, mostraram

valores acima do mínimo permitido.

Figura 24

Coliformes Totais - Ribeirão Três Bocas (Parque Daisaku Ikeda)

0

20000

40000

60000

80000

100000

120000

140000

160000

180000

11/09

/2000

03/12

/2000

06/12

/2000

10/12

/2000

13/12

/2000

26/12

/2000

02/01

/2001

07/01

/2001

21/01

/2001

27/02

/2001

05/03

/2001

12/03

/2001

19/03

/2001

28/03

/2001

04/04

/2001

10/04

/2001

18/02

/2002

Data de coleta

col.

/100

ml

Coliformes totais

CONAMA Classe 2 Máx. Fonte: http://www.parquedaisakuikeda.com.br

Figura 25 Coliformes Fecais - Ribeirão Três Bocas (Parque Daisaku Ikeda)

02000400060008000

100001200014000160001800020000220002400026000280003000032000

11/09

/2000

03/12

/2000

06/12

/2000

10/12

/2000

13/12

/2000

26/12

/2000

02/01

/2001

07/01

/2001

21/01

/2001

27/02

/2001

05/03

/2001

12/03

/2001

19/03

/2001

28/03

/2001

04/04

/2001

10/04

/2001

18/02

/2002

Dias de coleta

col.

feca

l / 1

00m

l

Coliformes fecais

CONAMA Classe 2 Máx. Fonte: http://www.parquedaisakuikeda.com.br

Desta forma, considerando as análises realizadas no Ribeirão Três

Bocas, percebe-se claramente que os problemas acentuam-se nas proximidades

das áreas urbanizadas, sendo o descuido com a disposição de resíduos e o

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lançamento de esgoto e efluentes em toda a bacia hidrográfica os maiores

responsáveis pela contaminação dos seus corpos d’água.

Contudo, não é apenas nas cidades e em suas proximidades que

ocorrem problemas, nas áreas rurais, o uso constante de agrotóxicos e a falta de

medidas de controle de processos erosivos, que geram sedimentos que acabam

depositados nos rios, são também grandes responsáveis pela degradação que vem

ocorrendo na bacia.

3.2 ASPECTOS SÓCIO-ECONÔMICOS

Desde a instalação como Município, em 10 de dezembro de 1934,

há 70 anos, Londrina tem passado por um processo de progressiva diversificação

de sua base econômica. O modelo essencialmente agrícola, caracterizado pela

economia cafeeira, foi responsável pelo crescimento econômico nas décadas de

1930 e 1970, quando a cidade ficou conhecida como “Capital Mundial do Café”. Nas

décadas de 1980 a 2000, Londrina consolidou-se como pólo de desenvolvimento

regional, especificamente nos segmentos de serviços, pesquisa tecnológica, saúde

e ensino superior, sendo que este último dá a cidade o status de “Cidade

Universitária”, abrigando hoje, 13 instituições de ensino superior, segundo dados do

Perfil da Cidade de Londrina de 2004.

De modo geral, a dinâmica demográfica das cidades do norte

paranaense acompanhou o processo de evolução e formação do Estado. O Estado

do Paraná foi seriamente afetado, principalmente nas décadas de 60 e 70, pelo

processo de modernização da agricultura brasileira baseado na aplicação de capital

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financeiro e bancário, resultando em mudanças no uso do solo e nas relações de

trabalho, o que refletiu diretamente nos processos de urbanização e industrialização

de grande parte do Estado.

Figura 26 – A Cidade de Londrina no início da urbanização e nos dias atuais

Fonte: LONDRINA – Perfil 2004.

O quadro a seguir, mostra um aumento da população rural nas

décadas de 40 até 70, sendo que a partir daí, passou a haver uma progressiva

diminuição neste crescimento que se estende até os dias de hoje.

Figura 27 – Evolução da População Residente do Município de Londrina – 1950/2000.

URBANA RURAL TOTAL ANO Número % Número % Número %

TAXA DE CRESCIMENTO GEOMÉTRICO¹

1950 34 230 47,93 37 182 52,07 71 412 100,00 - 1960 77 382 57,40 57 439 42,60 134 821 100,00 6,60 1970 163 528 71,69 64 573 28,31 228 101 100,00 5,40 1980 266 940 88,48 34 771 11,52 301 711 100,00 2,82 1991 366 676 84,00 23 424 6,00 390 100 100,00 2,36 1996 396 121 96,02 16 432 3,98 412 553 100,00 - 2000 433 369 96,93 13 696 3,07 447 065 100,00 2,02

Fonte: LONDRINA – Perfil 2004 (feito com base nos dados dos Censos Demográficos do IBGE de 1950, 1960, 1970, 1980, 1991 e 2000).

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Esta nova estruturação no meio rural afetou diretamente o Norte do

Paraná, que concentrava o maior volume de população do Estado. Segundo

estimativas, a região norte também foi responsável pelo maior contingente de

população que abandonou as áreas rurais, correspondendo a 72% do total do

Estado.

O reflexo destas mudanças pode ser observado no crescimento da

população urbana no município de Londrina no período compreendido entre as

décadas de 1950 e 2000 (Figuras 27 e 28).

Figura 28 – Crescimento da População do Município de Londrina – 1950/2000. ANO URBANA (%) RURAL (%) VARIAÇÃO (%) 1950/60 126,06 54,48 88,79 1960/70 111,32 12,42 69,19 1970/80 63,24 -85,71 32,27 1980/91 37,36 -32,63 29,30 1991/96 8,03 -29,85 5,75 1996/00 9,40 -16,65 8,36

Fonte: LONDRINA – Perfil 2004 (feito com base nos dados dos Censos Demográficos do IBGE de 1950, 1960, 1970, 1980, 1991 e 2000).

A análise destes dados permite constatar que durante as décadas

de 70 e 80, assim como ocorria no restante do Estado, houve um grande processo

de mobilização da população de Londrina e região, no sentido campo-cidade.

3.3 USO E OCUPAÇÃO DO SOLO - Problemas ambientais decorrentes

O uso do solo e sua ocupação podem ser compreendidos pela

forma como um determinado espaço territorial é utilizado ou ocupado pelas

atividades humanas. Desta forma, o uso e ocupação dos solos constitui um

importante instrumento para a avaliação das atividades existentes em uma

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determinada área ou região, e conseqüentemente, servem como subsídios à

análise de problemas ambientais, principalmente quando integrado a outras

informações como pedologia, geomorfologia e aptidão agrícola.

De acordo com BARROS e MENDONÇA (2000), o Paraná

apresentava até os fins do século XIX um quadro natural de boa conservação da

sua exuberante vegetação e com a introdução de inúmeros e novos processos de

produção agropecuária, paralelamente à intensificação daqueles já existentes,

alteraram por completo esse quadro. Ainda segundo esses autores, em alguns

locais estas transformações se processaram muito rapidamente e com elas também

a degradação ambiental como os problemas de erosão, de assoreamento dos rios,

de poluição hídrica e do solo, oriundos principalmente da má utilização do solo.

A riqueza dos solos da porção norte da bacia hidrográfica do Rio

Tibagi, a elevada aptidão para a agricultura aliada às excelentes condições

climáticas fizeram com que essa região fosse consideravelmente desmatada após

as décadas de 1930 e 1940. Em um primeiro momento com a cafeicultura e num

segundo, mais recente e bem mais devastador, com a cultura mecanizada em que

destaca-se principalmente a produção de soja.

Os resultados obtidos através da classificação de imagens de

satélite e fotografias aéreas são apresentados no quadro a seguir, com a distribuição

das classes de uso, por área e percentual ocupados. Verificou-se que a classe de

cultura agrícola e pastagem ocupa a maior área na bacia hidrográfica do Ribeirão

Três Bocas, com cerca de 34.469,29 ha que equivale a um percentual de 72,8% de

sua área. Se os solos preparados para cultivo forem somados a essa classe de uso,

sua ocupação responderia por 82,9% da área da bacia. A cobertura arbórea é a

classe de uso e ocupação do solo que ocupa a menor área na bacia com cerca de

3.124,75 ha que corresponde a 7,0%. Essa classe ocorre principalmente na forma

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de fragmentos florestais de diferentes tamanhos e formatos e as matas ciliares que

apresentam uma distribuição mais linear ao longo do Ribeirão Três Bocas e seus

afluentes. As áreas urbanizada e edificadas apresentaram o mesmo percentual de

ocupação dos solos preparados para cultivo, cerca de 10,1% da área da bacia

hidrográfica do Ribeirão Três Bocas.

Figura 29 - Classes de uso e ocupação do solo da bacia do Ribeirão Três Bocas em ordem decrescente de área e percentual de ocupação. Ordem Superfície

Classe de Uso e ocupação do solo

Área (ha) %

1 Cultura agrícola e pastagem 34 469,29 72,8 2 Área urbanizada e edificadas 4 486,92 10,1 3 Solos preparados para cultivo 4 481,41 10,1 4 Cobertura arbórea 3 124,75 7,0 Total 44 562,37 100,0

Fonte: LONDRINA – Perfil 2004.

Os resultados obtidos para a distribuição espacial das classes de

uso e ocupação do solo da bacia hidrográfica do Ribeirão Três Bocas, mostram que

a classe que predomina com maior ocupação de área é a de culturas agrícolas e

pastagem e que a cobertura arbórea foi a classe que apresentou menor percentual

de ocupação, com 7,0% da área da bacia, e é constituída na maior parte da área por

pequenos fragmentos isolados e faixas estreitas e descontínuas de mata ciliar.

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4 REGISTRO FOTOGRÁFICO DA DEGRADAÇÃO AMBIENTAL NO BAIXO TRÊS

BOCAS

Este capítulo foi elaborado com base nos trabalhos de campo

realizados no ano de 2006, no qual foram visitados locais previamente escolhidos

através de estudos em imagens de satélite, fotografias aéreas e mapas, além de

pesquisas em jornais, revistas e websites, sobre os problemas ambientais que estão

ocorrendo na área de estudo.

Para a discussão de cada caso, foram utilizadas imagens do Google

Maps, Google Earth e fotografias próprias tiradas durante o trabalho de campo, para

fins de informação, ilustração e registro dos principais problemas ambientais

encontrados.

Contudo, neste capítulo, são abordados apenas alguns dos

problemas ambientais que ocorrem nesta porção inferior da bacia hidrográfica do

Ribeirão Três Bocas, visto que o volume de problemas e atividades ambientalmente

impactantes que ali ocorrem, é demasiadamente grande para ser debatido ou

discutido até mesmo para os órgãos responsáveis por sua fiscalização.

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4.1 Área de Proteção (Várzea) Invadida e Utilizada Indevidamente para Pastagem de Animais na Zona Sul de Londrina – PR.

Figura 30 – Localização da área invadida.

Fonte: http://maps.google.com

Adaptação: YOSHIURA, W. 2006. Esta é uma área de várzea, localizada na Avenida Guilherme de

Almeida, na altura do Jardim Itapoá, próxima à Pavilon, na zona sul da cidade de

Londrina – PR.

Há pouco tempo, a área de proteção em questão enfrentava

problemas ambientais urbanos já bastante conhecidos, pois não havia cercamento,

e desse modo, estava servindo como depósito de lixo proveniente principalmente de

materiais resultantes da construção civil, além do que, parte dessa área poderia ser

invadida por pessoas que acabariam por fixarem suas moradias neste local

impróprio para tal uso.

Em vista disso, algumas Ongs (Organizações Não-governamentais)

Ambientais conscientes da gravidade dos problemas que ali existiam, conseguiram

através de seus esforços, realizar uma limpeza no local, removendo todo material ali

depositado e instalando cercas entorno de toda esta área destinada à proteção das

nascentes.

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Entretanto, não muito tempo após a limpeza e a colocação das

cercas de proteção, um indivíduo aproveitando-se do fato do lugar já estar limpo e

cercado, invadiu a área e a transformou num campo de pastagem particular, onde

mantém uma criação de aproximadamente 50 cabeças de gado.

Figura 31 – Observe as setas indicando um terreno aladiço com vegetação típica de várzea na área invadida, utilizada indevidamente para pastagem de animais, na Zona Sul da cidade de Londrina.

Autor: YOSHIURA, W. 2006.

Cabe ressaltar que, a Secretaria Municipal do Ambiente (SEMA) há

meses já foi comunicada, mas os animais continuam no referido local, como se pode

observar na foto acima, tirada em 12 de outubro de 2006.

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4.2 Na Ponte Sobre o Ribeirão Três Bocas na PR-445.

Figura 32 – Visão área de parte do Rib. Três Bocas, da PR-445 e da Cervejaria

Spoller.

Fonte: http://maps.google.com

Adaptação: YOSHIURA,W. 2006.

A foto a seguir (Figura 33) foi tirada junto à ponte do Ribeirão Três

Bocas, na Rodovia Celso Garcia Cid (PR-445), nas proximidades da fábrica da

cerveja Spoller.

Neste local, pode-se observar problemas como ausência de mata

ciliar ou cobertura insuficiente, desrespeito a faixa de preservação permanente de 50

metros da margem do curso d’água, princípio de erosão em alguns pontos, havendo

atividade industrial muito próxima ao rio, além de plantações e pastagens que se

estendem até a margem do mesmo, o que está provocando pequenos

desmoronamentos (erosão), o que possibilita a aceleração do processo de

assoreamento do Ribeirão.

Cabe ressaltar que, neste local, a água do Ribeirão Três Bocas

apresentava um cheiro forte e desagradável, semelhante ao cheiro de esgoto.

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Figura 33 – Sobre a ponte do Ribeirão Três Bocas, na PR-445, pode-se observar a ausência de mata ciliar, o desrespeito à faixa mínima de 30 metros de preservação permanente e a existência abundante de espécies vegetais invasoras, como o “Colonhão8”.

Fonte: SOUZA, João B. M. 2006.

8 Colonhão ou Capim Colonião (Panicum Maximum), é uma espécie invasora agressiva capaz de deslocar até o

próprio capim-gordura (Melinis minutiflora) e o capim-jaraguá (Hyparrhenia rufa). Compete com sucesso com a flora nativa especialmente em solos de alta fertilidade. Forma densos aglomerados em campo aberto e áreas alteradas, podendo constituir uma biomassa perigosa quando ocorre o fogo. O capim-colonião pode resistir ao fogo e dominar a área após o fogo. (http://www.institutohorus.org.br/download/fichas/Panicum_maximum.htm - Acesso em: 24/10/2006).

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4.3 Na Ponte Sobre o Ribeirão Cafezal na PR-445.

Figura 34 – Local onde foram tiradas as fotos das Figuras 35 e 36, sobre a Ponte do Ribeirão Cafezal na PR-445.

Fonte: http://maps.google.com

Adaptação: YOSHIURA,W. 2006.

As Figuras 35 e 36, foram tiradas junto à ponte do Ribeirão Cafezal

na Rodovia Celso Garcia Cid (PR-445), este trecho (Figura 34) encontra-se acima

da área definida como a porção inferior da bacia hidrográfica do Ribeirão Três

Bocas, porém, assim como no caso acima citado, pode-se observar neste local,

problemas como a ausência de mata ciliar ou cobertura insuficiente, desrespeito a

faixa de preservação permanente de 50 metros da margem do curso d’água,

havendo plantações que se estendem até a margem do mesmo, o que está

provocando pequenos desmoronamentos (erosão), possibilitando assim, a

aceleração do processo de assoreamento do Ribeirão.

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Figura 35 – Observe a ausência total de mata ciliar e a não-existência da faixa mínima de preservação permanente às margens do Ribeirão Cafezal, próximo à PR-445.

Autor: YOSHIURA, W. 2006.

Figura 36 – Estrutura da Antiga Ponte da PR-445 sobre o Ribeirão Cafezal.

Nesta foto, pode-se observar a água de aspecto barrento, a ausência de mata ciliar e a existência abundante de “capim-colonhão”

Autor: YOSHIURA, W. 2006.

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4.4 A Foz do Ribeirão Cafezal.

Figura 37 – O Encontro do Ribeirão Cafezal com o Três Bocas.

Fonte: http://maps.google.com

Adaptação: YOSHIURA,W. 2006.

Através de observações feitas em campo, realizadas no local onde

o Ribeirão Cafezal deságua no Ribeirão Três Bocas, pode-se notar de imediato

uma diferença clara no aspecto da água destes dois cursos d’água (Figura 38): o

Ribeirão Cafezal apresenta uma água mais cristalina em relação ao Ribeirão Três

Bocas, enquanto este, apresenta uma água bem mais barrenta.

Contudo, isto não quer dizer que a água do Ribeirão Cafezal é

mais limpa que a do Ribeirão Três Bocas, pois para tal afirmação seriam

necessárias análises laboratoriais, principalmente ao considerarmos o fato de que

nas proximidades da área observada encontra-se uma Estação de Tratamento de

Esgoto da SANEPAR, que despeja seus resultantes no Ribeirão Cafezal, a

poucos quilômetros acima de sua foz.

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No entanto, a explicação para o aspecto barrento para a água do

Ribeirão Três Bocas poderia estar na ocorrência de inúmeros processos erosivos

existentes ao longo de seu curso, causados principalmente pelo avanço agrícola

para além das faixas de proteção permanente e a ausência de mata ciliar, como

pode-se observar na Figura 39, que foi tirada nas margens do Ribeirão Três

Bocas, a poucos metros acima da foz do Ribeirão Cafezal.

Figura 38 – A foz do Ribeirão Cafezal.

Observe a diferença na coloração da água dos dois rios.

Autor: YOSHIURA, W. 2006.

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Figura 39 – Poucos metros acima da foz do Ribeirão Cafezal, no Ribeirão Três Bocas, é possível observar a ausência total de mata ciliar, a não-existência da faixa mínima de 30 metros de preservação permanente e a ocorrência de processos erosivos.

Fonte: SOUZA, João B. M. 2006.

4.5 CRIME AMBIENTAL NA FAZENDA SERRANA.

Em decorrência da gravidade e extensão do dano ambiental

descoberto na Fazenda Serrana9 (veja a foto panorâmica – Figura 46), o caso foi

manchete dos principais jornais impressos da região, como a Folha de Londrina e o

Jornal de Londrina, além de ter sido matéria do Jornal Tarobá e do Jornal Nacional

da Rede Globo de televisão.

O dano ambiental em questão, trata-se de um sistema de drenagem

realizado numa extensa área de banhado onde haviam inúmeras nascentes d’água, 9 Localizada no Distrito de Maravilha, segundo o administrador da fazenda, possui 93 alqueires de área.

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onde o meio natural foi completamente reconstruído e transformado em área de

cultivo agrícola.

Essa total alteração do meio natural foi descoberta por João Batista

Moreira de Souza (Assessor de Recursos Hídricos da Prefeitura do Município de

Londrina), através de observações realizadas em imagens de satélite

disponibilizadas gratuitamente na internet pelo Google, com a utilização do software

Google Earth10.

Basicamente, esse sistema de drenagem trata-se de um conjunto de

tubulações (manilhas) interligadas e precisamente enterradas no solo, de modo que

captam a água abundante neste solo, acumulando parte desta água num

reservatório, para o consumo da fazenda, e despejando o excedente no Ribeirão

Três Bocas.

Na fotografia a seguir (Figura 40), pode-se observar que em alguns

pontos da fazenda, as manilhas (que deveriam estar totalmente enterradas) estão

expostas. Interessante notar que, ao longo de cada tubulação estão instaladas um

tipo de “caixa” construída com tijolos, que segundo informações obtidas em campo,

são utilizadas para a manutenção do sistema, como a remoção de folhagens, palha

e sedimentos acumulados nas manilhas, que podem obstruir o fluxo da água; como

também, servem para alívio de pressão, ou seja, para evitar possíveis rompimentos

subterrâneos das manilhas de drenagem, caso ocorra um aumento excessivo no

volume de água captado e transportado pelas manilhas.

10 O Google Earth é um programa de computador que permite realizar buscas precisas e visualizar estradas,

fronteiras, edificações, etc. através de imagens de satélite (em alta qualidade de resolução) de todo o planeta.

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Figura 40 – Sistema de Drenagem de Várzea da Fazenda Serrana – Manilhas Expostas.

Segundo informações obtidas em campo, em dias de muita chuva, o volume de água captado e transportado aumenta tanto, que as “caixas” de alívio das

partes mais baixas chegam a transbordar. Fonte: SOUZA, João B. M. 2006. Adaptação: YOSHIURA,W. 2006.

Figura 41 – Sistema de Drenagem de Várzea da Fazenda Serrana

Considerando a enorme quantidade de “caixas” distribuídas na propriedade, pode-se ter uma clara noção da imensidão do impacto causado por esta obra.

Fonte: SOUZA, João B. M. 2006. Adaptação: YOSHIURA,W. 2006.

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66

Figura 42 – O Tamanho das “Caixas” de Alívio de Pressão do Sistema de Drenagem.

Este é o tamanho médio da maioria das “caixas” existentes na fazenda, porém, existem algumas com tamanho diferenciado.

Fonte: SOUZA, João B. M. 2006. Adaptação: YOSHIURA,W. 2006.

Figura 43 – Flagrante de Poluição Hídrica causada por Agrotóxico.

A água que passa por dentro dessas caixas é despejada diretamente no Ribeirão Três Bocas. E ainda nesta foto, com um pouco de atenção, é possível observar que existe água “brotando” dos espaços entre os tijolos.

Fonte: SOUZA, João B. M. 2006.

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67

Figura 44 – Detalhe de uma “Caixa” de Alívio de Pressão e a Mina D’Água da Fazenda Serrana

Entre as bananeiras existe uma construção de concreto armado extremamente reforçada e protegida com grades, que guardam uma moto-bomba que leva para o consumo da fazenda, grande parte da água captada pelo sistema de drenagem.

Fonte: SOUZA, João B. M. 2006. Adaptação: YOSHIURA,W. 2006.

Figura 45 – Detalhe do Solo Alagadiço da Fazenda Serrana.

Interessante observar que mesmo com a construção do sistema de drenagem, em certos pontos, o solo apresenta-se bastante encharcado mesmo em dias consideravelmente secos.

Fonte: SOUZA, João B. M. 2006.

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Figura 46 - Visão Panorâmica da Fazenda Serrana – Distrito de Maravilha

Fonte: Google Earth, 2006.

Adaptação: YOSHIURA,W. 2006.

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5 PROPOSTAS DE RECUPERAÇÃO

A preocupação cada vez maior com a questão ambiental, em

função das sérias ameaças de insustentabilidade dos recursos naturais, tem

despertado em vários segmentos da sociedade, a necessidade de encontrar

alternativas que venham minimizar os impactos originados no descaso e nas

ações irresponsáveis do presente.

Dentre as diversas irregularidades levantadas no diagnóstico

sócio-ambiental neste trabalho, destacam-se como as mais graves a

degradação das áreas de preservação permanente (APPs), sendo

representadas pela invasão, ocupação e/ou destruição total de áreas de

várzea; a não existência da faixa de domínio legal das matas ciliares; a

poluição nos corpos d’água, e em menor escala, os problemas de erosão do

solo e assoreamento dos rios.

O processo de uso e ocupação irregular das margens pela

população ribeirinha com suas hortas, criação de animais e nenhuma

consciência ecológica, juntamente com as várias indústrias e seus efluentes no

corpo d’água, completam o cenário de irregularidades que ocorrem na bacia e

que contribuem para a péssima qualidade de suas águas.

Dessa forma, através da análise ambiental foram sugeridas

algumas propostas de recuperação, que visam a sustentabilidade ambiental da

área estudada, sendo programas de diagnóstico, recuperação e

monitoramento, que deveriam ser conduzidos pelos órgãos públicos

responsáveis, no caso a Secretaria Municipal do Ambiente (SEMA) e o Instituto

Ambiental do Paraná (IAP).

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Tais propostas consistem em:

Programas de recuperação de mata ciliar, implantação de reserva legal e

corredores de biodiversidade - Através de imagens de satélite e das

observações feitas em campo, nota-se que é escassa a cobertura de

vegetação natural na área de estudo, restando apenas alguns poucos

resquícios isolados de matas, representados na maior parte pelas duas

unidades de conservação ali existentes, o Parque Dr. Daisaku Ikeda e o

Parque Arthur Thomas1. Contudo, a composição das matas ciliares também se

mostra muito descontinua ao longo dos cursos d’água, sendo, em certos

pontos, inexistente. Em vista disso, tornam-se necessários os programas de

recuperação de mata ciliar, de implantação de reservas legais e corredores de

biodiversidade; sendo que, caberia à Prefeitura e ao IAP, reunir a equipe de

trabalhadores, colaboradores e voluntários, para qualificá-los e definir suas

funções para o trabalho, e assim, restaurar as áreas degradadas, priorizando

as áreas de preservação permanente, melhorando a qualidade da água e

controlando as espécies invasoras dominantes.

Entretanto, em grande parte da área de estudo ainda são

necessários estudos mais aprofundados, com a finalidade de localizar e definir

as formações vegetais remanescentes e áreas prioritárias a serem restauradas,

realizando-se um zoneamento com elaboração de mapas através de fotos

aéreas, imagens de satélite e checagem de campo, e assim diagnosticar as

áreas de ocupação e os tipos de vegetação para a definição das áreas

prioritárias para a recuperação.

1 Parque Arthur Thomas está um pouco acima da porção inferior da Bacia Hidrográfica do Ribeirão Três Bocas.

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Monitoramento das redes de esgoto - Refere-se a fiscalização das

irregularidades que possam afetar a eficiência dos serviços da SANEPAR

(Companhia de Saneamento do Paraná), provocadas por consumidores ou

terceiros; visto que, dentre as irregularidades mais freqüentes, destacam-se as

tubulações de águas pluviais ligadas à rede coletora de esgoto2. As tubulações

de águas pluviais não devem receber esgoto, da mesma forma que a rede de

esgoto não deve receber água da chuva. É importante ressaltar que, o esgoto e

as águas de chuvas devem passar por tubulações diferentes, pois, devido às

suas características, são conduzidos por redes próprias e têm uma destinação

final também diferente. De modo geral, a fiscalização da rede de esgoto deve

ser feita pela SANEPAR, SEMA e IAP. Contudo, devemos considerar que o

lançamento de despejos na rede pública de tipos específicos de esgotos -

provenientes de indústrias, hospitais, etc. - exigem tratamento prévio e

fiscalização diferenciada, considerando suas especificidades.

Fiscalização das estações de tratamento de esgotos (ETEs) - Conforme

constatado em análises de água realizadas no Ribeirão Três Bocas, após a

estação de tratamento de esgotos da SANEPAR, pôde-se concluir que a

mesma está despejando no ribeirão resultantes nocivos ao ambiente com

valores muito acima do mínimo permitido pela legislação. Sendo assim, torna-

se necessária uma fiscalização maior por parte da SEMA e do IAP, e uma

verificação/readequação das estações de tratamento da SANEPAR.

2 O despejo de águas de chuva na rede de esgoto é proibido por lei e sujeito à multa (Lei nº 4.935/86).

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Monitoramento da qualidade da água da bacia - O monitoramento da

qualidade das águas dos rios do município de Londrina tem sido feito apenas

ocasionalmente e, somente por pessoas ligadas à Ongs ambientais, que por

falta de recursos e instrumentos adequados, realizam uma qualificação

precária da água, baseada apenas em parâmetros do aspecto visível e

perceptível, como a coloração e o cheiro da água. Em vista disso, torna-se

imprescindível para a melhoria da qualidade ambiental da bacia, a ação dos

órgãos públicos responsáveis – SEMA, IAP e do Instituto Brasileiro do Meio

Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) -, para a realização de

análises laboratoriais periódicas e contínuas.

Programas de Educação Ambiental - Grande parte dos problemas

ambientais que ocorrem na área de estudo são provocados pela própria

população. Na área urbana, o lixo e o entulho jogado nas ruas, terrenos baldios

e fundos de vales, configuram-se como as principais ações que degradam o

meio ambiente. Na zona rural, tanto nas pequenas como nas grandes

propriedades, pode-se observar que a grande maioria das pessoas já possui

conhecimento básico suficiente sobre a necessidade da conservação

ambiental, contudo, é extremamente assustador o número de atividades

degradadoras exercidas por esta população.

Em vista disso, torna-se necessária a aplicação de programas

de educação ambiental, por parte da Prefeitura e suas Secretarias (Ambiente,

Cultura, Educação, etc.), das escolas e das associações de moradores, que

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despertem nesta população uma verdadeira consciência ecológica, pautada na

importância que o meio tem para sua sobrevivência.

Tais programas consistem na formação de cidadãos atentos às

suas próprias condutas, que saibam identificar as agressões ambientais mais

freqüentes e evitar todo e qualquer comportamento prejudicial ao ambiente. No

entanto, é fundamental que dêem orientação aos seus amigos, vizinhos e

parentes, a fim de multiplicarem seus esforços, para que desta forma apareçam

os benefícios daí decorrentes.

Contudo, é também necessário mostrá-los a importância de

denunciar às autoridades competentes todas aquelas atividades ou práticas

que ameacem agredir o meio ambiente, pois, mesmo que o Poder Público

tenha o dever de fiscalizar e punir as condutas e atividades degradadoras do

ambiente, este poderá fazê-lo de forma muito mais rápida e eficaz se lhe forem

indicados onde esses atos ocorrem.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

As transformações da área analisada se processaram muito

rapidamente e com elas também a degradação ambiental, como os problemas de

erosão, de assoreamento dos rios, de poluição hídrica e do solo, oriundos

principalmente da má utilização do solo.

Como a maior parte da área do baixo curso do Ribeirão Três Bocas

é ocupada por espaços onde predominam atividades agropecuárias, através dos

levantamentos de campo, foi possível observar que muitos dos proprietários rurais

da região não se mostram muito preocupados com a conservação e recuperação

dos recursos naturais, sendo necessários mais trabalhos de conscientização e de

demonstração de técnicas, a fim de convencê-los das vantagens econômicas e

ambientais do sistema de manejo conservacionista em microbacias hidrográficas.

No entanto, sendo a atividade agrícola um fator preponderante da

degradação dos recursos hídricos, indiscutivelmente, o avanço acelerado da

urbanização ocorrida na área de estudo nas últimas duas décadas, também implica

em impactos potencialmente devastadores. A ocupação dos fundos de vale,

lançamento de efluentes e o lixo, estão degradando valiosos recursos em um curto

espaço de tempo.

Assim, com o término deste trabalho, pôde-se perceber que grande

parte dos problemas ambientais poderiam ser minimizados, se a população

conseguisse absorver o conhecimento transmitido através dos diversos programas

de educação ambiental – os já existentes e os propostos por este trabalho – e os

colocassem em prática, corrigindo hábitos cotidianos, evitando todo e qualquer

comportamento prejudicial ao ambiente, disseminando a consciência ecológica,

denunciando agressões e cobrando providências das autoridades competentes.

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