anais grupo 8 - desenvolvimento rural, territorial e regional

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ISBN 9787-85-98571-14-0 ANAIS Grupo 8 - Desenvolvimento Rural, Territorial e Regional UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE CAMPUS MOSSORÓ/RN

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  • ISBN 9787-85-98571-14-0

    ANAIS Grupo 8 - Desenvolvimento Rural,

    Territorial e Regional

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

    CAMPUS MOSSOR/RN

  • COMISSO ORGANIZADORA NACIONAL

    Marcelo Jos Braga (UFV)

    Presidente da SOBER

    Jos Eustquio Ribeiro Vieira Filho (IPEA)

    Diretor Executivo

    Elza N. Anjos

    Secretria da SOBER

    Joo Ricardo F. de Lima (EMBRAPA)

    Vice-Presidente Regio Nordeste

  • Comisso Organizadora Local

    Emanoel Mrcio Nunes (UERN)

    Coordenador Geral

    Mrcia Regina Farias da Silva (UERN)

    Coordenadora Adjunta

    Andreya Raquel Medeiros de Frana (UERN)

    Jssica Samara Soares de Lima (UERN)

    Assessoras

    Infraestrutura

    Nathlia Grace de Sousa Fialho (UERN)

    Jacinta de Ftima Martins Malala (UERN)

    Genivalda Cordeiro da Costa (UERN)

    Raimunda Maria Marques de Azevedo (UERN)

    Comunicao

    Ionara Jane de Arajo (UERN)

    Francisca Suerda Soares de Oliveira (UERN)

    Etevaldo Almeida Silva (UERN)

    Michele de Sousa (UERN)

    Finanas

    Lilian Medeiros da Silva (UERN)

    Jssica Samara Soares de Lima (UERN)

    Programao Cientfica

    Josivan Barbosa Menezes Feitoza

    Vinicius Claudino de S

    Paulo Sidney Paulo Sidney Gomes Silva

    Secretaria Executiva

    Cleide Regina Ferreira e Silva

    Andreya Raquel Medeiros de Frana

    Ienilton Alves Gurgel

    Ana Cristina Nogueira Maia

    Transporte

    Alexandre Henrique Pompeu Fernandes

    Bruno Jos Bezerra da Silva

  • Comisso Cientfica

    Coordenador Titular: Marcia Regina da Silva Farias (UERN)

    Coordenador Adjunta: Elizabeth Stradiotto Siqueira (UFERSA)

    Grupo 1: Meio ambiente, Desenvolvimento Sustentvel e Agroecologia

    Coordenador Titular: Marcia Regina da Silva Farias (UERN) Coordenador Adjunta: Zoraide Souza Pessoa (UFRN)

    Grupo 2: Agricultura Familiar e Ruralidade

    Coordenador Titular: Joacir Rufino de Aquino (UERN)

    Coordenador Adjunta: Genivalda Cordeiro da Costa (UERN)

    Grupo 3: Polticas Pblicas e Reforma Agrria Coordenador Titular: Joana Tereza Vaz de Moura (UFRN)

    Coordenador Adjunta: Jacimara Villar Forbeloni (UFERSA)

    Grupo 4: Empreendedorismo, Cooperativismo e Associativismo no meio rural

    Coordenador Titular: Paulo Sidney Gomes Silva (IFRN) Coordenador Adjunto: Washington Jos de Souza (UFRN)

    Grupo 5: Agronegcio, Mercados e Comercializao

    Coordenador Titular: Joo Batista de Freitas (UERN) Coordenador Adjunto: Josivan Barbosa de Menezes Feitoza (UFERSA)

    Grupo 6: Gesto Social Coordenador Titular: Elizabeth Stradiotto Siqueira (UFERSA)

    Coordenador Adjunta: Llian Caporlngua Giesta (UFERSA)

    Grupo 7: Tecnologia, Inovao e Extenso para o campo Coordenador Titular: Vincius Claudino de S (UERN)

    Coordenador Adjunto: Valdemar Siqueira Filho (UFERSA)

    Grupo 8: Desenvolvimento Rural, Territorial e Regional

    Coordenador Titular: Joseney Rodrigues de Queiroz Dantas (UERN)

    Coordenador Adjunta: Larissa da Silva Ferreira Alves (UERN)

    Grupo 9: Turismo rural e polticas pblicas

    Coordenador Titular: Raimunda Maria Marques de Azevedo (UERN) Coordenador Adjunta: Michele de Sousa (UERN)

    Grupo 10: Assuntos emergentes

    Coordenador Titular: Marcia Regina da Silva Farias (UERN) Coordenador Adjunta: Elizabeth Stradiotto Siqueira (UFERSA)

  • PARECERISTAS

    Abdon Silva Ribeiro da Cunha

    Agostinha Mafalda Barra de Oliveira

    Alcides Leo Santos Jnior

    Alex Bruno Ferreira Marques do Nascimento

    Alfredo Marcelo Grigio

    Ana Augusta da Silva Campos

    Ana Claudia Machado Padilha

    Ana Cristina Nogueira Maia

    Andrea Kaliany Costa Lima

    Augusto Carlos Avelino Teixeira de Carvalho

    Boanerges Barreto de Freitas Filho

    Carlos Alano Soares de Almeida

    Carlos Jos Bezerra de Morais

    Daniela Viegas da Costa Nascimento

    Diego Philipe de Oliveira Godeiro

    Eliane Pinheiro de Sousa

    Elizabeth Stradiotto Siqueira

    rica Priscilla Carvalho de Lima

    Erlaine Binotto

    Fabio Chaves Nobre

    Fagner Moura da Costa

    Fernando Bastos Costa

    Francisca Elizonete Souza

    Francisco do O de Lima Jnior

    Francisco Fransualdo de Azevedo

    Francisco Jean Carlos de Souza Sampaio

    Guilherme Smaniotto Tres

    Iriane Teresa de Arajo

    Jacimara Villar Forbeloni

    Jaime dos Santos da Silva

    Jairo Bezerra da Silva

    Joana Tereza Vaz de Moura

    Joo Batista de Freitas

    Joaquim de Arajo

    Jordana Marques Kneipp

    Jos Paulo de Sousa

    Joseney Rodrigues de Queiroz Dantas

    Josivan Barbosa Menezes Feitoza

    Jovelina Silva Santos

    Juarez Azevedo de Paiva

    Jnia Ftima do Carmo Guerra

    Kzia Viana Gonalves

    Larissa da Silva Ferreira Alves

    Leandro Trigueiro Fernandes

    Liana Holanda Nepomuceno Nobre

  • Libnia Maria Braga

    Luciana Holanda Nepomuceno

    Luciano Celso Brando Guerreiro Barbosa

    Ludimilla Carvalho Serafim de Oliveira

    Lus Abel da Silva Filho

    Marcia Regina Farias da Silva

    Marcio Furukava

    Maria de Ftima Digenes Fernandes

    Maria de Lourdes Fernandes de Medeiros

    Maria de Lourdes Fernandes de Medeiros

    Maria Odete Alves

    Marlene Medeiros

    Marta Aurlia Dantas de Lacerda

    Maurcio Miranda

    Maxwell dos Santos Celestino

    Mayra Fernandes Nobre

    Melissa Rafaela Costa Pimenta

    Michelangelo de Oliveira Silva

    Miguel Henrique da Cunha Filho

    Monikely Silva

    Napie Galve Araujo Silva

    Nerize Laurentino Ramos

    Nildo da Silva Dias

    Paulo Sidney Gomes Silva

    Rafael Junior dos Santos Figueiredo Salgado

    Raimundo Incio da Silva Filho

    Ricardo Svio Trigueiro de Morais

    Roberto Marinho Alves da Silva

    Rogrio Pires da Cruz

    Ronie Cleber de Souza

    Rosana Silva de Frana

    Rusiano Paulino de Oliveira Srgio Luiz Freire Costa

    Sidcley Dsordi Alves Alegrini da Silva

    Sidnia Maia de Oliveira Rego

    Silvana Nunes de Queiroz

    Thaiseany de Freitas Rego

    Thiago Ferreira Dias

    Valdemar Siqueira Filho

    Vania de Fatima Barros Estivalete

    Vanuza Maria Pontes Sena

    Vincius Claudino de S

    Washington Jos de Souza

    Yasmine Santos Mansur

    Yuri de Lima Padilha

    Zoraide Souza Pessoa

  • 11 Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administrao e Sociologia

    Rural/Nordeste

    Anais do XI Congresso Regional da SOBER Nordeste

    Mossor: Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN),

    novembro, 2016.

    Inclui bibliografia

    ISBN 9787-85-98571-14-0

    Modo de acesso: http://www.sobernordeste2016.com.br em Anais dos eventos

    1. Economia 2. Desenvolvimento Rural e Regional 3. Gesto Ambiental

    4. Territorialidade Brasil Congressos.

  • Realizao

    Universidade do Estado do Rio Grande do Norte UERN

    Campus Mossor

    Ncleo de Extenso em Desenvolvimento Territorial

    NEDET/UERN

    Apoio

    Universidade Federal Rural do Semi-rido - UFERSA

    Financiamento

    Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico CNPq

    Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior CAPES

    Banco do Nordeste do Brasil BNB

    Conselho Regional de Economia do Rio Grande do NorteCORECON/RN

  • Apresentao

    O congresso SOBER NORDESTE acontece a cada ano em uma instituio localizada na

    regio Nordeste do Brasil, desde 2006, tendo como objetivo geral discutir temas

    relevantes da agricultura e do agronegcio e contribuir para o desenvolvimento do setor

    rural do pas. O evento consolida sua importncia com a realizao da sua dcima

    primeira edio, pautada pela discusso de temas como: poltica agrcola; gerao e

    transferncia de tecnologia; meio ambiente; pobreza rural; educao no campo; reforma

    agrria; novas experincias de desenvolvimento e outros. O XI Congresso da Sociedade

    Brasileira de Economia, Administrao e Sociologia Rural (SOBER), em sua verso

    regional, ocorrer entre os dias 16 e 18 de novembro de 2016, na Universidade Estadual

    do Rio Grande do Norte, em Mossor-RN. A proposta importante por vrios motivos:

    (1) trazer para o pblico alvo da Regio a experincia de um congresso j conceituado,

    oportunizando a uma instituio de ensino superior (IES) do interior a colaborar e

    participar de um evento que, embora regional, tem abrangncia nacional; (2) oportunizar

    a aproximao entre os integrantes dos diversos ncleos/departamentos e diversas IES da

    regio; (3) ampliar o debate com os poderes pblicos locais e atores sociais acerca das

    questes que permeiam o rural no contexto contemporneo.

    Comisso Organizadora

    Mossor/RN, novembro de 2016

  • PROGRAMAO XI SOBER NORDESTE 2016

    MOSSOR/RN

    16 de Novembro de 2016

    Local: Faculdade de Cincias Econmicas FACEM/UERN

    12:30h - Credenciamento

    13h16:30h - Minicursos

    Uso do STATA para extrao e anlise de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de

    Domiclios (PNAD/IBGE)

    Dr. Joo Ricardo Ferreira de Lima (EMBRAPA)

    Geotecnologias na gerao de plantas Georreferenciadas de imveis rurais

    Ms. Hermnio Sabino de Oliveira Junior (HS Geotec)

    Anlise de Redes Socioeconmicas: Conceitos, aplicaes e Mtodo

    Dr. Thales Augusto Medeiros Penha (UFRN)

    Contabilidade e Finanas para Cooperativas

    Esp. Jorge Fernandes Jales Neto (UERN/IFRN)

    Local: Teatro Municipal Dix Huit Rosado

    18:30h-20h - Credenciamento

    19h-20h - Sesso Solene de Abertura

    20h-21:30h - Conferncia Magna Desenvolvimento Territorial, Polticas Pblicas e

    Sustentabilidade: Novos olhares sobre o Nordeste Rural

    Prof. Dr. Guilherme Costa Delgado (IPEA)

    21:30h-23h - Coquetel de Abertura

    21:00h-23h - Exposio tempo de Margaridas.

    17 de Novembro de 2016

    Local: FACEM/UERN

    08h -10h - Apresentao de Trabalhos (Oral)

    10h-10:30h - Coffe Break

    10:30h-12h - Mesa Redonda Anlise da Gesto Social na Poltica do Desenvolvimento

    Territorial do Nordeste (Local: Auditrio da Faculdade de Msica/UERN)

    Palestrantes: Mrcio de Matos Canielo (UFCG)

    Betty Nogueira Rocha (UFRRJ)

    Elisabete Stradiotto Siqueira (UFERSA)

    Vincius Claudino de S (UERN)

    10:30h-12h - Mesa Redonda Cadeias Globais, Polticas Pblicas e Trabalho descente na

    fruticultura irrigada. (Local: Auditrio da FAFIC/UERN)

    Palestrantes: Manoel Cndido da Costa (FETARN)

    Thales Augusto Medeiros Penha (UFRN)

    Josivan Barbosa Menezes Feitosa (UFERSA)

  • Marcellus Luiz Bezerra Fernandes Junior (Agrcola Famosa)

    14h 16h - Apresentao de Trabalhos (Oral)

    16h - 16:30h Coffee Break

    16:30h - 18h Mesa Redonda Agricultura familiar, sustentabilidade e polticas pblicas

    no contexto do Desenvolvimento do Nordeste (Local: Auditrio da Faculdade de

    Msica/UERN)

    Palestrantes: Maria Odete Alves (ETENE-BNB)

    Joacir Rufino de Aquino (UERN)

    Aldenor Gomes da Silva (UFRN)

    Joo Ricardo Ferreira de Lima (EMBRAPA)

    16:30h - 18h Mesa Redonda Experincias de Desenvolvimento Territorial no Nordeste

    (Local: Auditrio da FAFIC/UERN)

    Palestrantes: Ildes Ferreira de Oliveira (UEFS)

    Itaan de Jesus Pastor Santos (UEMA)

    Emanoel Mrcio Nunes (UERN)

    Joseney Rodrigues de Queiroz Dantas (UERN)

    20:30h Jantar de Confraternizao (Por Adeso)

    Local: Josu Recepes

    18 de Novembro de 2016

    Local: UFERSA

    8h 10h Apresentao de Trabalhos (Pster)

    10h 10:30h Coffee Break

    10:30h 12h Mesa Redonda: A dinmica sustentvel e o potencial dos Arranjos

    Produtivos Locais (APLs) do Nordeste. (Local: Auditrio da CTARN)

    Palestrantes: Amilcar Baiardi (UFRB)

    Tales Wanderley Vital (UFRPE)

    Marcia Regina Farias da Silva (UERN)

    12h Encerramento

  • SUMRIO

    GRUPO 8 DESENVOLVIMENTO RURAL, TERRITORIAL E REGIONAL .. 2195

    DESENVOLVIMENTO ECONMICO E SOCIAL NAS REAS RURAIS

    NORDESTINAS SOB UM CONTEXTO CAPITALISTA............................................ 2196

    A CONTRIBUIO DA COOPERATIVA DE PRODUO AGROPECURIA NOVA

    SANTA RITA (COOPAN) PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL EM NOVA SANTA

    RITA (RS) ....................................................................................................................... 2210

    A DIALTICA DO RURAL/URBANO NO CONTEXTO DA TERRITORIALIDADE E

    DA NOVA RURALIDADE ............................................................................................ 2230

    A DINMICA ECONMICA DA CADEIA PRODUTIVA DO LEITE: EVIDNCIAS

    PARA OS TERRITRIOS RURAIS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE 2244

    A DINMICA ENTRE O RURAL E O URBANO NO MUNICPIO DE IGUATU CEAR

    ......................................................................................................................................... 2264

    A DISTRIBUIO DA RENDA NO NORDESTE RURAL BRASILEIRO:

    CONSIDERAES PARA OS ANOS 2013 E 2014 ..................................................... 2276

    A EXPANSO DO ENSINO SUPERIOR PBLICO BRASILEIRO E SEU POTENCIAL

    PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL. ........................................................... 2293

    A RELAO RURAL-URBANO NA CONTEMPORANEIDADE: AGRICULTURA

    FAMILIAR E PROCESSOS DE TERRITORIALIZAO NA BAIXADA FLUMINENSE

    ......................................................................................................................................... 2313

    AGROAMIGO: UMA FERRAMENTA PARA O DESENVOLVIMENTO NA

    AGRICULTURA FAMILIAR DO NORDESTE DO BRASIL ..................................... 2331

    ANLISE DA DISTRIBUIO DE RENDA NO MEIO RURAL DO ESTADO DO

    CEAR ENTRE 2011 E 2014 ........................................................................................ 2346

    ANLISE DA PRODUO DE ALIMENTOS E EXPANSO DA MONOCULTURA

    DA SOJA NA REGIO DO MATOPIBA ..................................................................... 2362

    ANLISE DE CONSTRUO SOCIAL DE MERCADOS EM EMPREENDIMETOS

    RURAIS NO ALTO OESTE POTIGUAR

    ......................................................................................................................................... 2377

    ANLISE DO NDICE DE DESENVOLVIMENTO RURAL PARA AS

    MESORREGIES PERNAMBUCANAS ..................................................................... 2395

    ANLISE DOS DIFERENCIAIS DE DESENVOLVIMENTO ECONMICO ENTRE OS

    MUNICPIOS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE: A PARTIR DE UMA

    REGRESSO QUANTLICA. ....................................................................................... 2410

    ANLISE ECONOMTRICA-ESPACIAL DO IDHM DO ESTADO DO MARANHO

    PARA O ANO DE 2010 ................................................................................................. 2428

  • AS CONDIES DO DESENVOLVIMENTO E DA GESTO LOCAL NO MUNICPIO

    DE CABACEIRAS-PB ................................................................................................... 2447

    AVALIAO DA TECNOLOGIA SOCIAL FOGES ECOEFICIENTES E

    SATISFAO DE FAMLIAS BENEFICIADAS EM RESIDNCIAS RURAIS DO

    SEMIRIDO NORDESTINO ........................................................................................ 2467

    CONFORMAES ESPACIAIS DAS ATIVIDADES PRODUTIVAS (EM EMPREGOS)

    NO RIO GRANDE DO NORTE, NOS ANOS DE 2002 E 2014 ................................... 2487

    DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL: UMA ANLISE A PARTIR DO NDICE DE

    CONDIES DE VIDA NO TERRITRIO AU-MOSSOR (RN)

    ......................................................................................................................................... 2504

    DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL: UMA ANLISE A PARTIR DO NDICE DE

    DESENVOLVIMENTO HUMANO MUNICIPAL (IDHM) E DO PRODUTO INTERNO

    BRUTO (PIB) DO TERRITRIO AU-MOSSOR (RN)........................................... 2523

    DESIGUALDADE DE OPORTUNIDADES NA REGIO METROPOLITANA DO

    RECIFE: UMA ANLISE AO LONGO DA DCADA DE 2000 ................................ 2535

    DETERMINANTES DO DESENVOLVIMENTO MUNICIPAL DAS REGIES

    METROPOLITANAS DE FORTALEZA E DO CARIRI, CE ...................................... 2559

    DETERMINANTES DOS NVEIS DE ESCOLARIDADE NO NORDESTE RURAL:

    CONSIDERAES PARA O ANO DE 2014. .............................................................. 2579

    DINMICA TERRITORIAL RURAL NO ESTADO DO CEAR ENTRE OS ANOS DE

    1996 E 2006 .................................................................................................................... 2598

    ESCOLARIDADE E REBATIMENTOS NOS RENDIMENTOS DO TRABALHO

    FORMA AGROPECURIO: CEAR E RIO GRANDE DO NORTE -2002/2012 ..... 2617

    ESTUDO DOS PROJETOS SUBMETIDOS PELO TERRITRIO DO CURIMATA

    PARAIBANO AO PROGRAMA DE APOIO INFRAESTRUTURA DOS

    TERRITRIOS RURAIS PROINF. ............................................................................ 2637

    EVOLUO DOS PRINCIPAIS PRODUTOS AGRICOLAS PRODUZIDOS NA

    REGIO CENTRO-OESTE ENTRE 2003 A 2013 ....................................................... 2654

    GEOPARK ARARIPE: TIPOLOGIAS DE UM TERRITRIO DE DUALIDADES

    URBANO-RURAIS. ....................................................................................................... 2674

    IMPACTOS DA INDSTRIA DO PETRLEO NAS FINANAS E NO

    DESENVOLVIMENTO DO SEMIRIDO POTIGUAR .............................................. 2694

    MOBILIDADE POPULACIONAL E URBANIZAO: REFLEXES SOBRE A

    DINMICA MIGRATRIA DO ESTADO CAPIXABA E SEUS DESDOBRAMENTOS

    ......................................................................................................................................... 2708

    NVEIS DE DESENVOLVIMENTO ECONMICO DOS MUNICPIOS CEARENSES

    SOB A PERSPECTIVA DA CRIMINALIDADE .......................................................... 2723

    O PLANO BRASIL SEM MISRIA NO TERRITRIO DO ALTO OESTE POTIGUAR:

    UMA ANLISE DO DESENVOLVIMENTO RURAL A PARTIR DA ROTA DE

    INCLUSO PRODUTIVA. ............................................................................................ 2742

  • PANORAMA DO INVESTIMENTO EM INFRAESTRUTURA NOS MUNICPIOS DA

    MICRORREGIO DE PAU DOS FERROS/RN ........................................................... 2760

    POLTICAS PBLICAS PARA O DESENVOLVIMENTO RURAL: REDES,

    FORMULADORES, ARENAS E MODALIDADES .................................................... 2774

    PROGRAMA TERRITRIOS DA CIDADANIA: UMA BREVE ABORDAGEM SOBRE

    O TERRITRIO DO ALTO OESTE POTIGUAR. ....................................................... 2794

    ROTEIRIZAO DO GEOTURISMO NA REGIO CENTRAL DO RIO GRANDE DO

    NORTE. ........................................................................................................................... 2809

    TERRITRIOS MINEIROS INDUZIDOS POR POLTICAS PBLICAS: UMA

    ANLISE DOS RESULTADOS E DO RECORTE DO TERRITRIO NOROESTE DE

    MINAS ............................................................................................................................ 2830

    TRABALHAR OU ESTUDAR? A INFLUNCIA DO BACKGROUND FAMILIAR NA

    OCUPAO DAS CRIANAS NO ESTADO DO PERNAMBUCO.......................... 2850

    A RELAO ENTRE O RURAL E O URBANO NO MUNICPIO DE QUIXEL-

    CEAR ........................................................................................................................... 2870

    GESTO DOS RESDUOS SLIDOS NO ASSENTAMENTO MILAGRES, APODI/RN

    ......................................................................................................................................... 2878

  • GRUPO 8

    Desenvolvimento Rural, Territorial e Regional

    2195

  • Mossor - RN, 16 a 18 de Novembro de 2016 SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administrao e Sociologia Rural

    DESENVOLVIMENTO ECONMICO E SOCIAL NAS REAS RURAIS NORDESTINAS SOB UM CONTEXTO CAPITALISTA.

    ECONOMIC AND SOCIAL DEVELOPMENT IN RURAL AREAS NORTHEASTERN

    UNDER A CAPITALIST CONTEXT .

    Cristiane Ferreira Araujo Graduada em Economia pela Universidade Regional do Cariri (Urca) [email protected]

    Grupo de Pesquisa - GT8: Desenvolvimento Rural, Territorial e Regional RESUMO O Nordeste expandiu-se, e mudou sua insero no cenrio nacional, acelerando a produo e a incluso das pessoas em estratos superiores de renda, as polticas apresentadas neste trabalho corroboram essa afirmao. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho analisar a importncia das aes implementadas pelo Estado no Nordeste e em especial nas reas rurais e qual influncia dessas medidas para a crise do capital que ocorro no pas e no mundo. O tema foi abordado pelo fato de se observar uma diminuio da desigualdade econmica e social nas reas rurais nordestinas. Verificaram-se atravs de dados bibliogrficos e estatsticos que a renda dessa populao sofreu grandes alteraes no perodo, no entanto, os ndices de desigualdade mostraram que no houve desigualdade extrema entre as rendas no perodo, o que faz-se entender que o capital em crise, as pessoas participam de um processo de mudanas sociais que os retiram da total excluso. Palavras-chave: Desenvolvimento. Capital. reas rurais. ABSTRACT The Northeast has expanded and changed its insertion on the national scene, accelerating production and inclusion of people at higher income levels, the policies presented in this study support this statement. In this sense, the objective of this study is to analyze the importance of actions taken by the state in the Northeast and especially in rural areas and what influence these measures to the capital crisis ocorro in the country and the world. The issue was addressed by the fact observe a decrease in economic and social inequality in rural northeastern Brazil. It was found through bibliographic and statistical data that the income of this population has undergone major changes during the period, however, the inequality indices showed no extreme inequality of income in the period, it is understood that the capital in crisis people participate in a process of social changes that remove the total exclusion. Keywords: Development. Capital. Rural areas. 1 INTRODUO

    O Nordeste rural brasileiro enfrenta uma srie de divergncias que culminam em uma

    dificuldade de se obter um desenvolvimento favorvel. Uma dessas dificuldades a grande

    desigualdade na diviso da terra, caracterstica presente no Brasil como um todo. Esse fato

    constitui-se em um dos maiores obstculos para o desenvolvimento rural, o acesso a terra se

    2196

  • Mossor - RN, 16 a 18 de Novembro de 2016 SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administrao e Sociologia Rural

    conecta, nessa perspectiva ao direito ao desenvolvimento econmico e social das zonas rurais

    brasileiras (GEHLEN, 2009).

    Com isso PEREIRA e SILVA (2009) afirmam que os pequenos trabalhadores rurais

    ocupam uma posio marginal nas decises de incluses de polticas para o desenvolvimento

    rural. As polticas pblicas so, inevitavelmente, influenciadas pelo vis poltico, que atendem

    aos interesses do capital atravs dos grandes latifndios.

    No entanto, nos ltimos anos ocorreram marcantes mudanas na esfera dos programas

    para a melhoria do meio rural brasileiro, foram implementados programas que trouxeram

    considervel melhoria para o desenvolvimento econmico e social das reas rurais, como o

    PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), PNCF (Programa

    Nacional de Crdito Fundirio), PAC (Programa de Acelerao do Crescimento), Garantia

    Safra, entre outros (MDA, 2013).

    Os programas que so oferecidos em detrimento da diminuio das desigualdades, so

    portadores de racionalidades centradas que regem as relaes do capital, priorizando a

    produo e no os valores de convvio e sustentabilidade (GEHLEN, 2004).

    Historicamente a agricultura familiar sempre esteve margem das aes do Estado,

    por ser reconhecida como uma categoria que no tinha participao significativa na produo

    nacional, o que denota sua fragilidade diante do processo de projeto de implementaes;

    depois da constituio de 1988, iniciou-se novos espaos com a criao inicialmente do

    Pronaf em 1955, seguindo dos demais programas, com isso a agricultura familiar pode ser

    inserida no contexto rural brasileiro (GRISA e SCHNEIDER, 2015).

    O Nordeste brasileiro transformou-se nos anos recentes em uma regio que apresentou

    sinais de integrao economia nacional, so grandes processos de incluso de polticas

    previdencirias, transferncia de renda, oferta de crdito e valorizao do salrio mnimo.

    Entretanto, ainda no diminuram o grande hiato existente das demais regies, no que tange a

    economia e socialmente com seus gargalos historicamente constitudos (ALVES, 2014).

    Nesse sentido, surge o questionamento sobre o quo eficiente foram as principais

    polticas pblicas instaladas nas reas rurais da regio Nordeste e quais os seus impactos

    nesse meio. Alm disso, convm questionar se essas intervenes polticas surtiram

    consequncias favorveis ao desenvolvimento das reas impactadas.

    O objetivo desse trabalho analisar de que forma os programas implementados nas

    reas rurais da regio Nordeste do Brasil puderam contribuir para o desenvolvimento

    econmico e social dessa regio e de que forma esse fato contribui para o desenvolvimento do

    2197

  • Mossor - RN, 16 a 18 de Novembro de 2016 SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administrao e Sociologia Rural

    pas como um todo e como esses projetos contriburam para a crise do capital no sentido de

    diminurem a desigualdade entre os cidados. Justificando a pesquisa no sentido de

    demonstrar que aes do Estado eficientes no necessitam de polticas assistencialistas, que

    so recomendadas em situaes emergenciais.

    2 REFERENCIAL TERICO

    2.1 Programas de desenvolvimento para o meio rural.

    Os programas estatais implantam em seus resultados, formas de exerccio do poder

    poltico, a deciso de amenizar os conflitos sociais, a repartio de custos e benefcios sociais

    (PEREIRA E SILVA, 2009).

    No caso das reas, e no que tange aos programas implementados pelo Estado

    recentemente financiando as atividades rurais, como crditos subsidiados com carncias,

    concesso de emprstimos para a compra de equipamentos e seguros no caso de perda da

    produo (GEHLEN, 2004).

    Recentemente novos atores sociais e polticos renovaram e intensificaram aes que

    inclussem o meio rural no contexto nacional, contribuindo para um enfoque positivo das

    populaes que nele vivem e trabalham (MALUF, 2015).

    O Brasil tem sido indicado como um pas de polticas sociais a serem seguidas, os

    resultados alcanados so uma combinao de fatores relacionados com a ao do Estado e

    agentes da sociedade civil, o meio rural foi um dos espaos em que o efeito dessas polticas

    foram mais notadas (GRISA e SCHNEIDER, 2015).

    Vale a pena destacar que h uma desigualdade distributiva dos recursos advindos dos

    programas no meio rural, infere-se que os maiores beneficirios de alguns programas so

    efetivamente os agricultores mais capitalizados e capazes de oferecer garantias para o

    concesso dos crditos rurais, destacam-se: os elevados obstculos burocrticos, presses de

    empresas agroindustriais, desarticulao e baixa insero social dos pequenos agricultores

    (AQUINO e SCHNEIDER, 2015).

    Mudanas nas aes polticas no semi-rido foram concomitantes s transformaes

    no resto do mundo do papel do Estado, mostrando uma linha de conduta influenciada pelo

    keynesianismo, uma poltica intervencionista, sendo mantenedor de servios como educao,

    sade, moradia, saneamento, entre outros; esse sistema mostrou-se ineficiente pois no

    engloba fatores que buscam garantir direitos aos cidados de se desenvolver por outros meios

    que os favoream economicamente e socialmente (PONTES e MACHADO, 2009).

    2198

  • Mossor - RN, 16 a 18 de Novembro de 2016 SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administrao e Sociologia Rural

    No Nordeste h um problema social histrico, a muito tempo associado seca, no

    entanto, de acordo com Celso Furtado (1989, p.152) o problema da pobreza estaria associado

    excluso dos trabalhadores do processo produtivo, entre outros problemas. Esses fatores

    foram analisados para a tomada de decises quanto implementao de aes que foram

    perceptveis a drstica reduo da pobreza na regio nunca observado no pas, comeando a

    derrubar a lgica capitalista com mais incluso social (ALVES, 2014).

    A maioria das aes implementadas na regio Nordeste so voltadas para esse

    problema da seca, so polticas que procuram elevar a qualidade de vida econmica e social

    dos habitantes, exemplificando tem o programa de Um Milho de Cisternas Rurais, iniciado

    pela Articulao no Semi-rido (ASA), que objetiva a construo de cisternas nas famlias

    das reas rurais para a captao de gua da chuva para garantir o abastecimento nos perodos

    de estiagem (PONTES e MACHADO, 2009).

    Destacam-se os principais programas implementados no pas que beneficiaram

    tambm a regio Nordeste e as reas rurais:

    PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) Programa

    de crdito que permite o acesso a recursos financeiros para o desenvolvimento da agricultura

    familiar facilita a execuo das atividades dos agricultores com a ajuda na compra de

    equipamentos e implementos agrcolas que contribuem na melhoria da qualidade de vida do

    agricultor, vrias so as linhas de crdito do PRONAF; para custeio, investimento,

    microcrdito, agroecologia, agroindstria, semirido e entre outros.

    ATER (Assistncia Tcnica e Extenso Rural) Programa que leva assistncia tcnica

    s propriedades rurais em parceria com as instituies pblicas, principalmente sem fins

    lucrativos, garantem apoio ao produtor at a colocao da safra no mercado .

    PNCF (Programa Nacional de Crdito Fundirio) O objetivo desse programa

    facilitar o acesso terra e aumentar a renda dos trabalhadores rurais, financiando a aquisio

    de imveis no passveis de desapropriao.

    PAC (Programa de Acelerao do Crescimento) Um amplo programa do governo

    federal para grandes obras de infraestrutura no pas, promove a entrega de retroescavadeiras e

    moto niveladoras, s prefeituras de municpios com at 50 mil habitantes no localizados em

    regies metropolitanas e tambm caminhes-caambas, caminhes-pipa e ps-carregadeiras

    para o semirido, o programa promove em escoamento da produo da agricultura familiar

    melhorando a qualidade de vida na rea rural.

    2199

  • Mossor - RN, 16 a 18 de Novembro de 2016 SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administrao e Sociologia Rural

    Programa de cadastro de terra e regularizao fundiria Garante a permanncia do

    agricultor na terra assentada, assegura juridicamente a posse do imvel ao trabalhador no

    campo.

    Garantia Safra Seguro voltado agricultores com renda at 1,5 salrio mnimo por

    ms em caso de perda de produo causada por problemas climticos, tem que ser

    comprovado perda de pelo menos 50% da safra do municpio por problemas de seca ou

    excesso de chuva e o agricultor deve possuir a Declarao de Aptido ao Pronaf (DAP) e

    tenham aderido ao programa.

    2.2 Desenvolvimento rural no Brasil e no Nordeste.

    Literaturas recentes apontam que as aes estatais implementados nos governos

    recentes desenvolveram um conjunto de aes estratgicas que caracterizam uma incluso da

    agricultura familiar e poltica agrria no contexto de desenvolvimento do pas.

    O governo adotou um recorte territorial articulando programas destinados ao meio

    rural, visando promover a construo e a governana do desenvolvimento das reas rurais,

    potencializando os impactos das polticas nessa direo (BACELAR et al.; 2009).

    Nessa concepo entende-se que os programas de desenvolvimento rural contribuem

    para o aumento da renda dos agricultores familiares, promove uma qualificao tcnico-

    produtiva e profissional, desenvolvimento local, enfatizando o financiamento em municpios

    mais pobres rurais, abrangendo vrios campos dos territrios: ambiental, econmico, social,

    cultural e poltico (SCHNEIDER e AQUINO, 20015).

    Entretanto, no contexto de desigualdades existentes no Brasil, sob diversos aspectos,

    vale ressaltar os problemas dos programas no que tange forma correta de repasse das verbas

    disponibilizadas. Uma srie de problemas que vo desde o critrio de escolha dos

    beneficirios, s culturas polticas locais e fragilidade institucional de alguns programas

    (DELGADO e LEITE, 2015).

    A disperso dos recursos pblicos e a descontinuidade das aes do governo

    contribuem para que as reas rurais nordestinas no participem ativamente do processo de

    desenvolvimento, h um descaso no enfrentamento do recorrente problema hdrico da regio e

    muitos programas so antigos e ultrapassados o que no beneficia a populao sertaneja

    (MACEDO, 2014).

    2200

  • Mossor - RN, 16 a 18 de Novembro de 2016 SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administrao e Sociologia Rural

    2.3 A influncia do capital no desenvolvimento do Nordeste

    O Estado tem sido o grande causador de entrave do desenvolvimento do Nordeste ao

    longo do tempo, o Estado brasileiro injusto no comportamento social da regio, trabalha

    com racionalidade econmica e poltica, excluindo parcela da populao de oportunidades e

    favorecendo grandes latifundirios e industriais que atuam na construo da lgica do

    mercado e capital (FALCON, 2014).

    A unio tem poder para trabalhar com grandes redes polticas e economias nacionais e

    internacionais para investir no desenvolvimento do pas e em especial no Nordeste. Porm,

    mecanismos pouco transparentes so incapazes de transformar as estruturas econmicas e

    sociais (FALCON, 2014).

    Assim como em todo o pas, cabe ateno aos programas voltados para o

    desenvolvimento do Nordeste com vis capitalista, em que os efeitos de tais polticas visam

    somente uma expanso acelerada do PIB e desfavorecendo parte da populao da regio que

    no usufrui do apoio governamental para esse desenvolvimento (NETO, 2014).

    Mesmo com a implementao de vrias polticas pblicas para o enfrentamento das

    desigualdades na regio Nordeste e contribuio para o seu desenvolvimento, h um grande

    desequilbrio regional nas reas rurais nordestinas que diminuem as chances de

    desenvolvimento da economia local, como tambm dos cidados que tem menos acesso

    educao de qualidade, sade e emprego, gerando um processo migratrio para outras regies

    (GUIMARES, 2014).

    Tal avano no desenvolvimento do Nordeste, contudo, provoca um vazamento da

    renda da regio, pois fortemente abastecido pelo Sudeste do pas, o que facilita a

    acumulao de riquezas nas outras regies, transferindo o desenvolvimento para as regies

    mais ricas e fornecedoras de produtos de maior valor agregado e contribuindo para o lgica

    capitalista de desigualdades (GUIMARES, 2014).

    Com a crise do capital, impulsionada inicialmente em 2008, com a bolha especulativa

    imobiliria nos Estados Unidos, que afetou a economia mundial e no Brasil que recentemente

    sofre uma crise econmica e poltica, ocorreram mudanas relacionadas a rea social da

    populao rural nordestina; com o emprego de diversos programas e aes assistencialistas do

    Estado, os cidados no absorveram de uma forma to negativa todo esse processo de crise do

    capital, corroborando a ideia de que polticas robustas e bem gerenciadas promovem um bem-

    2201

  • Mossor - RN, 16 a 18 de Novembro de 2016 SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administrao e Sociologia Rural

    estar e amenizam as desigualdades promovidas pelo capitalismo (PONTES e MACHADO,

    2009).

    3 METODOLOGIA

    A pesquisa foi estruturada sobre uma metodologia descritiva com base em anlise de

    dados bibliogrficos e estatsticos, foram coletados dados secundrios extrados da PNAD

    (Pesquisa Nacional por Amostras de Domiclios) e IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e

    Estatstica) e concluses de trabalhos cientficos referenciados.

    Visando ter uma anlise concreta sobre os impactos das aes implementadas

    estudadas na regio em questo, o presente trabalho faz uso de dois indicadores

    fundamentados na literatura econmica como determinantes dos nveis de desigualdade.

    3.1 Clculo do ndice de Gini.

    usualmente utilizado para calcular a desigualdade de distribuio de renda, mas

    pode ser usada para qualquer distribuio. Ele consiste em um numero entre 0 e 1, onde 0

    corresponde completa igualdade da renda (onde todos tm a mesma renda) e 1 corresponde

    completa desigualdade (onde uma pessoa tem toda a renda), e as demais no tm nada.

    dado pela frmula:

    = 1 + 1 2 + 1

    (1)

    n - Nmero de indivduos observados;

    i - A ordem dos indivduos, quando esto ordenados de forma crescente;

    y - Rendimento mdio.

    3.2 Clculo do ndice de T de Theil

    Os ndices de Theil derivam da noo de entropia na teoria da informao, pela qual a

    quantidade de informao recebida de um evento E inversamente proporcional sua

    probabilidade de ocorrncia p. Assim, a quantidade de informao recebida com a ocorrncia

    de um evento E1 cuja probabilidade era muito pequena maior que a de outro evento P2 ,

    2202

  • Mossor - RN, 16 a 18 de Novembro de 2016 SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administrao e Sociologia Rural

    cuja probabilidade de ocorrncia fosse prxima de 1 ; em outros termos, quanto mais raro o

    evento, mais valiosa a informao. dado pela frmula:

    =

    log

    (2)

    0 T ln n, isto , verifica-se que T= 0 no caso de uma distribuio perfeitamente igualitria e que T= ln n no caso de mxima desigualdade. Em caso em que = 0 temos log = 0 por conveno. Onde parcela de i na renda total. 4 RESULTADOS E DISCUSSO

    4.1 Anlise de indicadores econmicos e sociais das reas rurais nordestina.

    O enquadramento da populao das reas rurais do semi-rido nordestino, no deve

    ser observado como um mero exerccio acadmico. A finalidade demonstrar que a tomada

    de decises desenvolvimentistas, em locais onde as condies de vida so mais adversas,

    merecem receber tratamento diferenciado dos programas ofertados pelo Estado (LEMOS,

    2012).

    Com a anlise de indicadores econmicos e sociais ser demonstrado como as aes

    do Estado diminuram o quadro de desigualdade nas reas rurais nordestinas e contriburam

    para o enfraquecimento do sistema capitalista predominante nas economias.

    Tabela 1 PIB do Agronegcio regio Nordeste 2000 a 2009, valores (R$)

    ANO PIB % 2000 12.574.750,52 2001 12.256.368,03 -2,53 2002 12.286.243,20 0,24 2003 13.480.184,82 9,71 2004 13.507.585,97 0,20 2005 12.532.632,64 -7,21 2006 12.766.937,17 1,86 2007 13.313.337,26 4,27 2008 15.514.084,22 16,53 2009 13.785.453,53 -11,14

    Fonte: Elaborao prpria atravs de dados do CEPEA 2016.

    Conforme a tabela 1, observamos que o Produto Interno Bruto do agronegcio teve

    uma variao inconstante no perodo analisado, podemos atribuir esse fato s condies

    2203

  • Mossor - RN, 16 a 18 de Novembro de 2016 SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administrao e Sociologia Rural

    climticas da regio nordeste que inconstante com perodos de chuvas irregulares, sendo que

    os segmentos da agricultura e pecuria dependem da condio climtica para o cultivo da

    produo.

    O ano de 2008 foi o que melhor obteve xito no aumento da varivel, contudo, no ano

    seguinte sofreu brusca queda no percentual, que pode ter sido evidenciado pela crise

    econmica de 2008 ocorrida mundialmente, que afetou diversos setores da economia e

    consequentemente o agronegcio.

    O acompanhamento das evolues em longo prazo, do setor agronegcio pode auxiliar

    na conduta futura de investimentos e aes desenvolvimentistas da gesto de polticas

    pblicas, admitindo uma extrema importncia do agronegcio para a economia nordestina.

    Os desempenhos desfavorveis da produo agropecuria nos anos aps 2003, foi

    mais intenso prejudicando o PIB do agronegcio no Nordeste, mas no foi um evento

    particular, ocorreu em todo o pas, outros setores da economia cresceram mais que o

    agronegcio contribuindo para esse fato, outra varivel que compe o PIB, os servios que

    no foi abordado neste trabalho, mas que influencia nos valores apresentados, no entanto,

    um setor em constante ascenso em vrios segmentos, tambm na agropecuria os servios

    faz parte da composio dessa varivel.

    Tabela 2 Rendimento per capita populao rural nordeste 2001 a 2009, valores (R$).

    ANO RENDA % 2001 197,87 2002 393,50 98,86 2003 636,82 61,83 2004 498,32 -21,74 2005 512,46 2,83 2006 610,36 19,10 2007 698,74 14,47 2008 774,26 10,80 2009 825,87 6,66

    Fonte: Elaborao prpria atravs de dados extrados da PNAD (IBGE) 2016.

    Os dados do rendimento extrados da PNAD incluem todos os tipos de rendimentos,

    razo pela qual os valores no perodo no acompanham, por exemplo, o salrio mnimo

    nacional e no tem uma variao de percentual constante.

    Salientando que a renda nas reas rurais no pode mais ser considerada apenas como

    agrcola, existe um processo de crescimento de pessoas ocupadas em outros setores residindo

    no meio rural, compe o rendimento dessas famlias tambm os programas de transferncia de

    2204

  • Mossor - RN, 16 a 18 de Novembro de 2016 SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administrao e Sociologia Rural

    renda, o que contribui para a formao do rendimento; entram tambm na composio, por se

    tratar de dados extrados direto da PNAD, as famlias que residem no meio rural, mas se

    encontram em melhores condies.

    A tabela 2 demonstra que nos anos iniciais da pesquisa apresentaram maior percentual

    no aumento do rendimento, observamos que nesse perodo foram intensificados os programas

    de transferncia de renda como o Bolsa Famlia e a implantao de aes j apresentadas, no

    Brasil e no Nordeste brasileiro, o nico ano que teve uma queda brusca foi em 2004 com uma

    diminuio de 21,74%, e houve uma recuperao somente a partir de 2006. Podemos atribuir

    essa disparidade no perodo ao fato da composio do rendimento rural est relacionada com

    a produo agrcola, que depende intrinsecamente da condio climtica da regio.

    A pobreza pode ser reduzida mais rapidamente atravs de uma distribuio de renda

    eficaz, que devem ser acompanhadas por programas de reduo de desigualdade de renda

    (NEDER e SILVA, 2004).

    Observando que polticas de transferncia de renda no fazem parte desse quadro de

    distribuio de renda com eficcia, os trabalhadores precisam compartilhar das riquezas que

    produzem, quebrando esse paradigma de desigualdade que o capitalismo configura para a

    sociedade, em uma lgica desigual de concentrao de renda, que tem pessoas extremamente

    ricas e outras extremamente pobres.

    Tabela 3 ndice de Gini do rendimento per capita reas rurais nordestinas 2001 a

    2009.

    ANO GINI

    2001 0,429 2002 0,411 2003 0,488 2004 0,402 2005 0,424 2006 0,407 2007 0,426 2008 0,419 2009 0,412

    Fonte: Elaborao prpria atravs de dados extrados da PNAD (IBGE) 2016.

    Analisando a tabela 3, podemos observar que o indicador social para o rendimento nas

    reas rurais no sofreu grandes oscilaes no perodo analisado, o ano que mais igualdade

    teve entre as rendas foi o de 2004 com 0,402; analisando o ndice de Gini em relao ao

    rendimento das reas rurais nordestina, podemos observar que o rendimento sofreu bruscas

    2205

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    disparidades no perodo, no entanto, compreende-se que essa medida de desigualdade de

    distribuio de renda, pode ser usada para qualquer distribuio e leva em considerao

    diversos fatores que levaram a dados mais homogneos que o rendimento per capita.

    Quanto mais o ndice se aproxima de zero, maior a igualdade entre as rendas, o que

    podemos observar que no houve desigualdade extrema na renda da populao rural do

    Nordeste.

    O ndice de T Theil um ndice para medir a desigualdade, um logaritmo da razo

    entre as mdias aritmticas e geomtricas das rendas individuais, sendo nulo ou prximo de

    zero quando no existir desigualdade e tendente ao infinito quando houver desigualdade,

    excluem-se do universo os indivduos com renda per capita nula.

    De acordo com a tabela 4, como na analise do ndice de Gini no houve grandes

    disparidades na desigualdade entre as rendas no perodo analisado, somente em dois anos

    observa-se um aumento no ndice, nos demais se manteve constante e nos anos de 2004 e

    2009 foi quando menos desigualdade ocorreu entre as rendas.

    Na medida em que o Estado comandado pelo capital, no preciso esforar-se para

    verificar que a destinao de aes atende aos interesses do prprio Estado, ou seja, os

    oramentos so utilizados como instrumentos que passa a renda dos trabalhadores aos

    capitalistas, gerando desigualdades sociais e econmicas (NETTO e BRAZ, 2012).

    No entanto, como observado no ndice de Theil, evidenciando que os programas para

    as reas rurais e para o pas, contriburam para diminuir ou pelo menos no aumentaram essa

    disparidade entre capital e renda.

    Tabela 4 ndice de T de Theil do rendimento per capita da populao rural nordeste

    2001 a 2009. ANO THEIL 2001 0,413 2002 0,313 2003 0,478 2004 0,301 2005 0,324 2006 0,290 2007 0,336 2008 0,323 2009 0,301

    Fonte: Elaborao prpria atravs de dados extrados da PNAD (IBGE) 2016.

    2206

  • Mossor - RN, 16 a 18 de Novembro de 2016 SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administrao e Sociologia Rural

    Contudo, os programas do Estado, em especial os sociais, contra a desigualdade

    devem abrir mo de qualquer pretenso monopolista, o papel de alavancar o

    desenvolvimento econmico e social inclusivo, proporcionalmente capacidade de firmar

    slida integrao com toda a populao, contribuindo para o quadro de reduo de

    desigualdades existentes (SUBIRATS, 2010).

    5 CONSIDERAES FINAIS

    A crise do capital e suas consequncias colocaram as vises neoliberais na defensiva

    na fase de transformao global. No h um questionamento sobre o papel do Estado quanto

    s questes sociais, pois o velho estilo de democracia trabalhista no apresentou solues para

    as falhas do capitalismo. Os formuladores das polticas precisam focar e selecionar a parcela

    da sociedade que sofre qualquer tipo de excluso (STANDING, 2010).

    Diante dos dados e bibliografia exposta, concluiu-se que no perodo analisado a renda

    das reas rurais do Nordeste sofreu vrias flutuaes, contudo, apresentou-se positivamente

    frente s deficincias expostas em relao s aes que contriburam para essa expanso da

    renda.

    O PIB do agronegcio da regio apresentou valores inconstantes do decorrer do

    perodo analisado, fato evidenciado pelo segmento do agronegcio depender das condies

    climticas, que na regio h um grande problema hdrico; no se mostraram expressivos os

    valores a cada ano que demonstrasse aumento na produo de bens e servios no setor.

    Quanto aos indicadores sociais, que analisaram a desigualdade do rendimento mdio

    per capita das reas rurais do Nordeste, concluiu-se que mesmo com a renda e produo de

    bens e servios no perodo no apresentarem regularidade no decorrer dos anos; o ndice de

    Gini e T de Theil, que medem a desigualdade entre as rendas, apresentaram ndices que

    demonstram que no houve uma desigualdade excessiva entre as rendas.

    Embora tais programas no assumirem tambm o papel social, contriburam para que a

    populao das reas rurais nordestina sasse da total excluso, que historicamente se

    encontravam, os programas de transferncia de renda tambm contriburam para esse quadro.

    Capitalismo e desigualdade esto intimamente ligados, no entanto, h tempos o

    capitalismo vem perdendo timidamente suas foras, pois h cada vez mais parcelas da

    sociedade engajadas em inserir as classes trabalhadoras em um contexto social menos

    opressor.

    2207

  • Mossor - RN, 16 a 18 de Novembro de 2016 SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administrao e Sociologia Rural

    No geral, pode-se dizer que houve nos dois ltimos sculos, uma reduo da pobreza

    absoluta no mundo e no Brasil, os pases em geral se tornaram mais iguais em termos de bem-

    estar e mais desiguais em termos de PIB per capita, o que denota a eficincia dos programas

    estatais voltados para o bem social, contudo, h muito a ser feito para que haja uma igualdade

    entre os povos no mundo e em especial nas reas rurais nordestinas, falta vontade poltica,

    controle dos recursos e punio corrupo.

    REFERNCIAS ALVES, A. M. Um olhar territorial para o desenvolvimento: Nordeste. Rio de Janeiro, 2014, p.13,14. AQUINO, J.R; SCHNEIDER, S. Pronaf e o desenvolvimento rural brasileiro: avanos, contradies e desafios para o futuro. Porto Alegre, p.66. BACELAR, T. et al. Gesto social dos territrios. Braslia: IICA, 2009.

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    2209

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    A CONTRIBUIO DA COOPERATIVA DE PRODUO AGROPECURIA NOVA SANTA RITA (COOPAN) PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL EM

    NOVA SANTA RITA (RS)

    THE CONTRIBUTION OF NOVA SANTA RITA AGRICULTURAL PRODUCTION COOPERATIVE (COOPAN) FOR THE LOCAL DEVELOPMENT IN NOVA SANTA

    RITA (RS)

    Wagner Luiz Santos dos Santos Curso de Cincias Econmicas da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) [email protected] Anglica Massuquetti Programa de Ps-Graduao em Economia (PPGE) da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) [email protected] Grupo de Pesquisa: DESENVOLVIMENTO RURAL, TERRITORIAL E REGIONAL

    Resumo O objetivo do estudo analisar a contribuio da Cooperativa de Produo Agropecuria Nova Santa Rita (COOPAN) para o desenvolvimento local em Nova Santa Rita (RS). Alm da anlise bibliogrfica, complementou-se a investigao com questionrios aplicados aos representantes das famlias dos scios/cooperados do ncleo COOPAN e entrevistas estruturadas com dirigentes locais (privado e pblico). Como resultado, observou-se que a COOPAN um agente promotor do desenvolvimento local. A partir de sua criao, diversas melhorias para seus scios/cooperados e para a regio, dentro do municpio, foram alcanadas, sejam elas econmicas, de infraestrutura ou sociais. Palavras-Chave: Desenvolvimento local. COOPAN. Nova Santa Rita. Abstract The objective of this study is to analyze the contribution of Nova Santa Rita Agricultural Production Cooperative (COOPAN) for the local development in Nova Santa Rita (RS). Besides the bibliographical analysis, additional research with questionnaires applied to representatives of families of the partners/members of COOPAN core and structured interviews with local leaders (private and public). As a result, it was observed that the COOPAN is a promoter of local development. From its inception, various enhancements the partners/members and for the region, within the municipality, were met, be they economic, social or infrastructure. Key words: Local development. COOPAN. Nova Santa Rita.

    2210

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    1. Introduo

    Algumas famlias oriundas do Alto Uruguai (Rio Grande do Sul), onde era o

    acampamento base do Movimento dos Agricultores Sem Terra (MASTER), deslocaram-se

    para Nova Santa Rita, localizada na Regio Metropolitana de Porto Alegre (RMPA), em

    1992. Essas famlias instalaram-se e fundaram o Acampamento Capela, em 1994, que foi

    dividido em quatro ncleos: Barragem, Santa Clara, Santa Maria e Cooperativa de Produo

    Agropecuria Nova Santa Rita (COOPAN). (SIQUEIRA et al., 2012).

    O objeto desta pesquisa a COOPAN, fundada inicialmente por 40 famlias, em 1995,

    e tendo sua atividade econmica baseada no cooperativismo, a partir dos preceitos do

    Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), e voltada para a produo orgnica -

    sem adio de agrotxicos - de arroz, de leite e de sunos. Atualmente, a cooperativa

    individualmente o ncleo mais importante do Assentamento Capela. (LANNER, 2011).

    O cooperativismo agrcola tem sido incentivado pelo MST, como forma de

    organizao rural nos assentamentos, pois segundo o prprio movimento, esse modo de

    organizao econmica visa um melhor desenvolvimento coletivo e solidrio no

    assentamento, rompendo com o individualismo. Para buscar, assim, vantagens e poder de

    barganha para todo o conjunto de cooperados. (LANNER, 2011).

    Ao refletir acerca do desenvolvimento, na esfera local, compreende-se que o mesmo

    reflete a busca por melhorias sociais e econmicas de pequenos territrios. Esse processo se

    d de forma endgena. Assim, no desenvolvimento local, deve-se considerar a importncia do

    envolvimento dos atores locais, da mobilizao local dos recursos produtivos e da valorizao

    de fatores, bens e servios produzidos no ambiente local. (MELO, 2009). Buarque (2002)

    ressalta que este desenvolvimento caracterizado pela explorao das potencialidades locais.

    neste sentido que o objetivo do estudo analisar a contribuio da COOPAN para o

    desenvolvimento local em Nova Santa Rita. Esta pesquisa est dividida em cinco sees,

    considerando a Introduo e as Consideraes Finais. Na segunda seo so abordados o

    desenvolvimento local, o modelo de cooperativismo agrcola proposto pelo MST e a

    formao do Assentamento Capela e do ncleo COOPAN. Na terceira seo so expostos os

    procedimentos metodolgicos. Por fim, os resultados so analisados na quarta seo.

    2. Desenvolvimento Local e Cooperativismo

    2.1. Desenvolvimento Local

    Para Melo (2009, p. 499), quando se fala em local, considera-se um espao geogrfico

    menor do que o pensado para um ambiente regional: [...] desenvolvimento local refere-se,

    2211

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    portanto, a processos de melhoria das condies de vida das pessoas e das famlias que so

    especficos de pequenos territrios. Esse desenvolvimento pode ser diferente entre os

    diversos locais, pois cada pequena regio pode ter interferncia de caractersticas e/ou agentes

    distintos. Portanto, faz sentido que se apliquem polticas individuais especficas para cada

    espao, pois polticas em menor escala do melhor tratamento s condies dos mesmos.

    Frantz (2013) afirma que o desenvolvimento local no deve ser confundido com a

    iniciativa privada de produzir um determinado bem. Isso pode fazer parte do processo, mas

    no significa necessariamente desenvolver o lugar. Existem alguns conceitos importantes para

    o desenvolvimento local, conforme expe Frantz (2013, p. 4-5): a manuteno e a criao de

    postos de trabalho; o incio de novas atividades econmicas; a pluralidade da agricultura

    familiar; a estabilidade na renda familiar; a manuteno de paisagem rural equilibrada; a ativa

    participao da populao nas decises nos seus espaos econmicos; as novas formas de

    gesto pblica [...].

    Buarque (2002) assevera que esse desenvolvimento endgeno, levando o ambiente a

    melhores condies econmicas e sociais, produzindo melhoria geral do padro de vida das

    populaes residentes nesses locais. Segundo o autor, deve-se explorar as potencialidades

    locais (BUARQUE, 2002, p. 25), dando mais oportunidades aos residentes e melhorando as

    condies econmicas do local. O autor expe que esse processo ir demandar melhor

    organizao e mobilizao dos residentes, assim, produziro razes efetivas na matriz

    socioeconmica e cultural na localidade. (BUARQUE, 2002, p. 26). Alm disso, para o

    autor, o desenvolvimento local sustentvel [...] resulta, dessa forma, da interao e sinergia

    entre qualidade de vida da populao local reduo da pobreza, gerao de riqueza e

    distribuio de ativos , a eficincia econmica com agregao de valor na cadeia produtiva

    e a gesto pblica eficiente [...]. (BUARQUE, 2002, p. 27).

    Para Lima e Oliveira (2003), o desenvolvimento se d a partir da interao de trs

    principais agentes: o econmico, que a disponibilidade de recursos e dependente dos

    governos regionais e estaduais, sendo isso um processo exgeno ao local; a ao do governo

    central, tambm exgeno regio, levando em conta as polticas macroeconmicas do

    governo central e pode ter efeitos positivos ou negativos; e a ativao social, onde as foras

    exgenas so orientadas localmente, por meio de aes polticas, institucionais e sociais, de

    modo a produzir o efeito desejado. Os dois primeiros agentes podem ser coadjuvantes, onde o

    econmico pode ir a favor ou em sentido contrrio s aes do governo central. O terceiro

    elemento est ligado diretamente autonomia local, que pode tomar decises quanto ao

    2212

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    excedente, reinvesti-lo ou no, s melhorias sociais e conservao ambiental. (LIMA;

    OLIVEIRA, 2003).

    Por fim, para Melo (2009), o desenvolvimento deve considerar a incluso dos atores

    locais nas aes de anlise e deciso, a articulao local dos recursos produtivos desse

    territrio e a valorizao de fatores, bens e servios produzidos no espao local.

    2.2. Cooperativismo como forma de Organizao da Produo Agrcola e sua Adoo

    nos Assentamentos do MST

    Segundo Siqueira et al. (2012), no MST, cooperativismo no uma simples atividade

    econmica, mas uma forma de construo do ser social, onde so desenvolvidas diversas

    atividades conjuntas entre os cooperados, de modo a fortalecer a solidariedade entre eles e

    romper com o individualismo. So incentivados a criar estruturas sociais e novas formas de

    organizao no acampamento, onde realizam atividades sendo orientados a pensar

    coletivamente. Quando as cooperativas crescem, tendem a criar um agente econmico mais

    forte do que se trabalhassem individualmente. Eles tendem a ter vantagens em negociaes

    com agentes econmicos externos, seja pelo poder de compra, vantagens nas vendas, ou

    maior poder de barganha. (SIQUEIRA et al., 2012).

    Segundo a CONCRAB (1997), cooperativismo sem-terra diferente do dito

    convencional, nos seus acampamentos incentivado um cooperativismo prprio, que

    mescle as lutas do movimento com a eficincia econmica de cada cooperativa. O MST busca

    com a cooperao, melhorar a organizao dos assentamentos para que no haja produes

    agropecurias muito diversificadas, enfraquecendo, assim, o assentamento como unidade.

    (CERIOLI; MARTINS, 1997).

    Para Santos (2011), o movimento busca ocupar terras improdutivas e torn-las

    produtivas, primeiramente, para as famlias assentadas e, posteriormente, para a venda do

    excedente da produo. Cada acampamento desenvolve sua cooperativa adaptada s

    caractersticas de cada lugar. Busca-se sempre evitar a monocultura.

    A cooperao tambm uma forma de industrializar a produo, agregando maior

    valor ao produto. Porm, para o MST, devem-se manter os princpios de produo familiar, de

    produo agroecolgica. O cooperativismo fundamental para buscar a entrada no mercado,

    dando melhores condies econmicas de desenvolvimento dos assentamentos. (SANTOS,

    2011). Assim, o cooperativismo, como forma de organizao da produo agrcola para o

    MST, tem foco no desenvolvimento econmico e social dos atores locais.

    2213

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    2.3. Formao do Assentamento Capela e do Ncleo COOPAN

    Nova Santa Rita um municpio do Rio Grande do Sul. Segundo a Prefeitura de Nova

    Santa Rita (2016), apesar de estar inserido na RMPA, o municpio tem uma economia com

    forte presena do setor primrio, sendo grande produtor de melo, arroz, melancia, mandioca

    e carnes.

    Conforme Lanner (2011) e Siqueira et al. (2012), no incio da dcada de 1990, esse

    municpio tinha algumas propriedades improdutivas, o que fez com que famlias de

    integrantes do movimento pela reforma agrria, oriundas da regio do Alto Uruguai, em 1992,

    ocupassem a rea do atual assentamento. Em abril de 1994, foram oficialmente assentadas

    pelo Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria (INCRA), fundando o

    Assentamento Capela, com uma rea de 2.169,37 ha, com aproximadamente 100 famlias,

    sendo divididas nos ncleos Barragem, Santa Clara, Santa Maria e COOPAN.

    Nos ncleos Barragem, Santa Clara e Santa Maria, os lotes so divididos em produo

    individual. O cooperativismo rural foi aplicado no assentamento com a fundao, em 1995, da

    COOPAN1, produzindo produtos orgnicos, conforme Lanner (2011). A cooperativa tem,

    portanto, um modelo baseado na coletividade, onde as famlias assentadas no ficam restritas

    apenas aos seus lotes, trabalhando juntos nos diversos lotes. (SIQUEIRA et al., 2012).

    Lanner (2011) destaca que tudo na cooperativa feito em atividades conjuntas. Onde,

    assim como as atividades so realizadas conjuntamente, as decises seguem esse modelo,

    sendo elas aprovadas em assembleias. Na COOPAN so desenvolvidas diversas atividades

    agropecurias, como a produo de arroz orgnico, as pastagens de bovinos, a silvicultura de

    eucalipto e accia negra, entre outras. Segundo Lanner (2011), destacam-se a produo de

    arroz orgnico (sem a adio de agrotxicos), que j conta com certificao internacional pelo

    Instituto de Mercado Ecolgico (IMO), a produo de leite e a suinocultura, tendo abatedouro

    no local para a venda das carcaas sunas.

    A cooperativa iniciou suas atividades com a suinocultura, avicultura, verduras e

    legumes. A suinocultura a atividade mais dispendiosa de mo de obra, j existindo projeto

    para o processamento local de embutidos. Na atividade de leite, h um projeto de produo

    orgnica (leite tipo C, bebidas lcteas, iogurte, entre outros). Tambm, h uma proposta de

    criao de uma padaria. Toda produo ecologicamente correta, seguindo as normas

    sanitrias vigentes. (SIQUEIRA et al., 2012; SANTOS, 2011; LANNER, 2011).

    1 De acordo com Lanner (2011), a rea da cooperativa tem em torno de 580 ha, com distncia aproximada de 8,5 km da BR-386, pela principal rota.

    2214

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    Ao longo do tempo, a cooperativa passou a aprimorar suas tcnicas, passando para a

    produo orgnica de grande parte dos seus diversos produtos e, atualmente, a COOPAN tem

    diversas formas de venda e de distribuio de sua produo. Algumas formas diretas a

    comrcios, indstria, poder pblico ou consumidor final, ou por meio de convnios.

    (SANTOS, 2011).

    Santos (2011) ressalta a importncia da COOPAN para o MST, sendo considerada

    como um exemplo de produo/renda, de trabalho cooperado e de qualidade de vida, levando

    o desenvolvimento socioeconmico para o municpio. Assim, neste estudo, ao se refletir

    acerca do desenvolvimento local, que se refere ao aumento de renda e na melhoria nas

    condies de vida da populao local, a partir de um processo endgeno, as organizaes

    cooperativas - instituies que buscam progresso econmico e bem estar para seus scios -

    podem ser analisadas como um ator local envolvido diretamente neste processo.

    3. Procedimentos Metodolgicos

    Nesta pesquisa, props-se a realizao de um estudo emprico-exploratrio, com o

    intuito de analisar a contribuio da COOPAN para o desenvolvimento local em Nova Santa

    Rita. Alm da anlise bibliogrfica, complementou-se a investigao com questionrios

    aplicados aos representantes das famlias dos scios/cooperados2 do ncleo COOPAN e

    entrevistas estruturadas com dirigentes locais (privado e pblico), conforme se observa no

    Quadro 1.

    Quadro 1: Atores sociais locais

    Participantes Nmero de Entrevistados Scios/cooperados (representantes das famlias)

    Atores sociais locais 23*

    Dirigente privado local (COOPAN) 1 Dirigente pblico local 1

    TOTAL 25 Fonte: Elaborado pelos autores. Nota: (*) Segundo o Dirigente da Cooperativa, h 29 famlias, atualmente, na COOPAN e as famlias abrangidas nessa pesquisa so compostas, no total, por 62 adultos e por 20 menores de idade.

    A escolha dos entrevistados ocorreu em razo de sua representatividade como atores

    no desenvolvimento local, inseridos no contexto do objeto de estudo. O questionrio aplicado

    aos scios/cooperados e as entrevistas aos dirigentes locais (privado e pblico) foram

    realizadas de maro a maio de 2016. Os instrumentos de pesquisa foram validados, durante o

    ms de janeiro de 2016, por quatro pesquisadores com experincia na rea de

    Desenvolvimento Econmico.

    2 Os representantes no so, necessariamente, os chefes de suas famlias.

    2215

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    As entrevistas foram gravadas e transcritas, sendo realizada a conferncia de

    fidedignidade. Os questionrios, por sua vez, foram respondidos na presena do pesquisador.

    A identidade dos participantes foi preservada, no sendo divulgados nomes ou outras

    informaes que permitisse a identificao dos mesmos. Alm disso, os dados obtidos foram

    utilizados somente para fins da pesquisa, conforme descrito nos Termos de Consentimento

    Livre e Esclarecido (TCLE).

    4. Resultados e Discusso

    4.1. Scios/Cooperados

    Com o intuito de caracterizar o perfil socioeconmico dos scios/cooperados da

    COOPAN, sua participao na cooperativa e seu entendimento sobre desenvolvimento local,

    foram entrevistados os representantes das famlias cooperadas. Quando questionados sobre

    como conheceram a COOPAN, 91,3% dos entrevistados afirmaram ser fundadores ou

    membros de famlias fundadoras da cooperativa, sendo que um entrevistado asseverou que

    tomou conhecimento por meio de amigos e outro por meio de outros assentados do

    Assentamento Capela.

    Quanto ao trabalho na atividade agrcola, 60,9% dos entrevistados esto inseridos

    nessa atividade h mais de 15 anos. J dentre os entrevistados que relataram que no estavam

    exercendo essa ocupao durante tanto tempo, apenas um no pertence s famlias de

    fundadores da cooperativa, tendo em vista que ele um colaborador e no um assentado.

    Alm disso, esses entrevistados afirmaram ter a inteno de permanecer na COOPAN por

    mais de 15 anos.

    Todos os representantes das famlias afirmaram ter por principal fonte de renda as

    sobras da COOPAN, oriundas da atividade agrcola, e apenas dois entrevistados relataram ter

    outra atividade remunerada menos representativa, sendo uma pensionista e um professor da

    rede pblica municipal. Esse dado pode confirmar os resultados obtidos quando questionados

    se haviam sentido melhora nas condies de vida da sua famlia, em que todos responderam

    positivamente. Ainda, alguns entrevistados afirmaram motivos diversos, como aumento de

    produo da cooperativa, o que causou melhora na infraestrutura do local, e o consumo de

    alimentos saudveis.

    Dos 23 entrevistados, dez no tem ensino fundamental completo e apenas cinco

    completaram o ensino mdio, um ingressou no ensino superior e cinco concluram o mesmo.

    Isso refora uma das principais dificuldades assinaladas pelos cooperados para a expanso da

    cooperativa: a falta de pessoas capacitadas e disponveis. Essa afirmao foi apontada em

    2216

  • Mossor - RN, 16 a 18 de Novembro de 2016 SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administrao e Sociologia Rural

    29,6% das respostas, sendo que os demais mencionaram a falta de recursos para realizao

    de novos investimentos.

    Para algumas questes eram aceitas mais de uma resposta, como no caso das perguntas

    relacionadas principal atividade desenvolvida pelo entrevistado e por sua famlia. Para

    ambas as perguntas, o resultado foi semelhante, ou seja, a suinocultura a atividade que

    demanda mais mo de obra, com 61,5% das famlias envolvidas na mesma. Para a produo

    de arroz, h envolvimento de 22,2%, 11,1% para as atividades administrativas e, por fim, a

    produo de leite e padaria envolve 3,7% cada uma. Alm disso, 91,3% das famlias

    cooperadas esto envolvidas em alguma atividade de venda dos produtos.

    Tambm foram aceitas mais de uma resposta quando indagados sobre sua principal

    motivao para integrar a cooperativa, 13 entrevistados responderam que era o contato com

    outros cooperados. J morar perto de familiares obteve seis indicaes e financeiro foi

    respondido por cinco entrevistados. Dentre os participantes, dois expuseram respostas

    diferentes, sendo uma coletividade e o Representante 6 (R6) afirmou que a principal

    motivao era a qualidade de vida e socializao dos meios de produo.

    Quanto s dificuldades para permanncia na COOPAN, dez participantes destacaram a

    falta de infraestrutura como principal fator, um ressaltou a falta de experincia na

    atividade realizada, dois apontaram a distncia dos centros urbanos e dez entrevistados

    afirmaram ter outras dificuldades, onde se destaca problemas de convivncia, registrado por

    cinco desses representantes. Por fim, um entrevistado afirmou no ter dificuldades e o R6

    alegou que a principal dificuldade era o sistema capitalista e a disputa de mercado.

    Todos os entrevistados afirmaram participar das reunies da COOPAN, o que remete a

    outro questionamento, onde, tambm, todos disseram se sentir parte importante da

    cooperativa. Os motivos assinalados para tal so diversos: alguns afirmaram que se sentem

    importantes por ajudar no desenvolvimento da cooperativa, outros por ajudar na

    produo, outro pelo trabalho e relao coletiva e, por fim, o R6 respondeu que alm de

    ajudar na fundao e construo da COOPAN, hoje ainda fao parte da direo, com a

    responsabilidade de implementao de novos projetos. Essas respostas remetem ao resultado

    da questo sobre o grau de satisfao em fazer parte da cooperativa, onde 95,6% dos

    entrevistados afirmaram ser bom ou muito bom, sendo que apenas um afirmou ser

    regular.

    Em relao divulgao dos produtos da COOPAN para os moradores de Nova Santa

    Rita, identificou-se que h diversos meios, como, por exemplo, a rdio do municpio local, a

    internet, convnio com a prefeitura local ou difuso pelo prprio MST. Os entrevistados

    2217

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    destacaram a importncia das feiras da agricultura familiar em que h a participao da

    cooperativa. O R7 ainda destacou a relevncia do boca a boca, que feito por pessoas que

    consomem os produtos da COOPAN, e tambm da festa de aniversrio da cooperativa,

    servindo como grande expositor dos produtos para milhares de pessoas.

    Ao serem questionados sobre onde os entrevistados faziam suas compras para o

    consumo prprio de suas famlias, todos afirmaram efetu-las na RMPA, principalmente em

    Nova Santa Rita e em Canoas. Porm, foi destacado que o comrcio do primeiro municpio

    menor, em relao ao segundo, tendo poucos produtos e com variedade limitada.

    Por fim, em relao ao desenvolvimento local, ao serem indagados sobre esse

    conceito, 69,6% dos entrevistados afirmaram desconhec-lo. No entanto, todos afirmaram que

    o ncleo COOPAN atua com o intuito de colaborar no desenvolvimento do municpio. O R6

    afirmou que a colaborao ocorre pelo fato de no desenvolver somente a produo da

    matria-prima e sim, desenvolver a agroindstria de arroz e carnes. J o Representante 10

    (R10) disse que a cooperativa contribui com impostos, rendas, empregos e desenvolvimento

    de alimentos mais saudveis para a populao.

    Da mesma forma, quando inquiridos se sentiam que a cooperativa era importante para

    o desenvolvimento de Nova Santa Rita, todas as respostas foram positivas. Em relao ao

    questionamento acerca do impacto (positivo ou negativo) da cooperativa sobre os moradores

    do assentamento e/ou dos demais moradores do municpio, 91,3% das respostas foram que

    poderia ser sentido positivamente por todos. As aes assinaladas pelos entrevistados, que

    suscitaram tal resposta, so a gerao de empregos diretos ou indiretos, o lazer em reas da

    cooperativa, o auxlio com maquinrios que a COOPAN empresta aos moradores dos

    arredores da cooperativa e, principalmente, por meio da produo orgnica/saudvel, que

    oriunda da agricultura familiar e comercializada em diversos comrcios do municpio.

    O Quadro 2 apresenta uma sntese das principais ideias esboadas pelos

    scios/cooperados.

    Quadro 2: Sntese das principais ideias dos scios/cooperados

    Dimenso Sntese

    Perfil socioeconmico

    As famlias entrevistadas so fundadoras da cooperativa e esto h mais de 15 anos no setor primrio. A principal fonte de renda a atividade agrcola. H baixo grau de instruo. Os entrevistados tm pretenso de permanecer na cooperativa por muitos anos.

    Participao na cooperativa

    A suinocultura a atividade que mais demanda mo de obra. H participao da maioria das famlias nas vendas da produo. A principal motivao para integrar a cooperativa no a financeira, mas o contato com os demais cooperados. A grande maioria est satisfeita em fazer parte da COOPAN, destacando a melhoria na renda que obtiveram. A maior dificuldade a falta de infraestrutura e h problemas de convivncia. Todos participam das reunies e se sentem parte importante da cooperativa. Falta de recursos para investimento e pessoal qualificado disponvel so as dificuldades para a expanso da

    cooperativa.

    2218

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    Desenvolvimento local

    Poucos entrevistados tm conhecimento sobre o conceito de desenvolvimento local. Todos acreditam que a cooperativa importante e atua com o intuito de colaborar para o desenvolvimento do

    municpio. A maioria dos entrevistados acredita que a cooperativa impacta positivamente em cooperados e demais

    moradores de Nova Santa Rita. Os cooperados fazem compras para consumo prprio na RMPA, principalmente em Canoas e em Nova Santa

    Rita. Fonte: Elaborado pelos autores.

    Segundo os entrevistados, a formao da COOPAN fez com que suas rendas se

    elevassem e, com isso, melhorassem suas condies de vida. Conforme foi afirmado por Melo

    (2009) e por Buarque (2002), o processo de melhoria do ambiente econmico, que

    consequentemente faz com que se eleve o padro de vida dos residentes do local, pode ser

    entendido como desenvolvimento local. Da mesma forma, Lima e Oliveira (2003) afirmaram

    que desenvolvimento crescimento econmico por meio de elevao de renda e da produo.

    Os representantes das famlias assinalaram, como parte do seu entendimento sobre o

    conceito de desenvolvimento local, a elevao, a diversificao ou a venda de seus produtos

    populao do municpio. Porm, para Frantz (2013), isso no pode ser confundido com o

    desenvolvimento. Esse autor afirma que produzir um bem parte do processo de

    desenvolvimento, mas no o processo como um todo. Mas, seria possvel associar o

    desenvolvimento local a outros fatores que foram observados nas respostas dos entrevistados,

    como manuteno e criao de postos de trabalho, estabilidade da renda familiar,

    manuteno da paisagem rural equilibrada ou ativa participao da populao nas decises

    nos seus espaos econmicos. (FRANTZ, 2013, p. 4-5). Esses fatores esto presentes nas

    respostas dos entrevistados.

    Para Buarque (2002), o processo de desenvolvimento local acaba por melhorar a

    organizao dos moradores do local, fazendo com que eles estabeleam razes, ou seja,

    aderindo cultura local. Durante as entrevistas, os participantes foram indagados sobre seus

    municpios de origem e praticamente todos afirmaram pertencer regio norte do estado,

    sendo que um era de Bag e outros da RMPA. Os entrevistados oriundos da RMPA no

    participaram da fundao da COOPAN, mas casaram-se com membros fundadores ou,

    principalmente, so filhos de membros fundadores, demonstrando que os mesmos j esto,

    efetivamente, inseridos no local onde vivem.

    Quando se fala em cooperativismo, espera-se que ocorra igualdade de direitos e de

    obrigaes entre os cooperados. (CERIOLI; MARTINS, 1997). Quando questionados sobre

    suas participaes nas reunies e assembleias, todos os entrevistados afirmaram que

    participavam de tais encontros, alm de se sentirem importantes para a COOPAN, reforando

    a ideia de igualdade dentro da cooperativa. Para os autores, essas associaes so formas de

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    buscar o bem estar e o progresso econmico, sendo possvel observar a satisfao de

    praticamente todos os entrevistados em fazer parte da cooperativa.

    Em relao ideia de construo do ser social, abordada por Siqueira et al. (2012),

    podem-se destacar as afirmaes de alguns entrevistados, em que a principal motivao de

    integrar a cooperativa e a forma como se sentiam importantes para a mesma ocorriam em

    relao ao trabalho coletivo realizado e o convvio com outros cooperados. Outra motivao

    para a permanncia na COOPAN, assinalada pelos entrevistados, era a de viver perto de seus

    familiares, conservando um dos princpios do cooperativismo do MST, ou seja, de manter a

    agricultura familiar, como afirmou Santos (2011).

    O setor primrio relevante para a economia municipal e alguns dos principais

    produtos so os produzidos na COOPAN, como o arroz e a carne suna. Isso demonstra a

    importncia dessa cooperativa para a economia do municpio. A COOPAN iniciou suas

    atividades com produo da suinocultura, passando com o tempo a produzir arroz. As

    entrevistas com os representantes das famlias confirmam o exposto por Lanner (2011) e por

    Siqueira et al. (2012), que afirmaram que a produo de carne suna era a que mais

    necessitava de mo de obra, sendo o arroz a segunda que mais utiliza este fator de produo.

    4.2. Dirigente Privado Local

    Sobre a origem da COOPAN e sua criao, o entrevistado afirmou que a ideia de

    formar uma cooperativa surgiu em outro acampamento3. Em um desses acampamentos,

    nasceu a iniciativa de tentar a vida coletiva, em que os integrantes dividiriam quase tudo.

    Caso a iniciativa tivesse xito, seria transformada em cooperativa.

    Segundo o dirigente privado local, por volta de 1989-1990, comeou-se a discutir a

    cooperao dentro do MST. Os jovens (futuros fundadores da COOPAN) se uniram para

    implementar a experincia da cooperao e, caso desse certo, passariam a adotar no

    acampamento. Ento, tudo passou a ser coletivo: o que era de um, era de outro.

    Com quatro anos e meio de experincia, surgiu um esprito forte de famlia,

    enfrentando as dificuldades da poca e passando, inclusive, a aceitar mais pessoas que

    desejassem participar da iniciativa, chegando, num determinado perodo, a 60 famlias. Os

    fundadores eram filhos de pequenos agricultores da regio de Rondinha, Ronda Alta e Sarandi

    (regio Norte do estado do Rio Grande do Sul). Atualmente, a cooperativa conta com 29

    famlias e 64 scios. O scio todo integrante da cooperativa, economicamente ativo, com

    3 Os integrantes fundadores da COOPAN participaram de vrios acampamentos anteriores, em Cruz Alta, Bag e No Me Toque, ficando quatro anos e meio acampados, para depois se deslocarem para Nova Santa Rita. A fundao do Assentamento Capela ocorreu aps trs ocupaes e um breve processo de acampamento.

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    poder de deciso, ou seja, cooperados, filhos de cooperados com mais de 16 anos e cnjuges.

    Enfim, todos que participam ativamente da cooperativa.

    Os lotes das famlias (20 ha), conforme diviso realizada pelo INCRA, esto

    unificados na cooperativa e os cooperados residem em uma agrovila. As famlias que

    atualmente integram a cooperativa so fundadoras. Conforme o dirigente, caso novas famlias

    almejem ingressar na cooperativa, a questo ser decidida em reunies e assembleias.

    Discute-se para o futuro, caso falte mo de obra, a abertura para famlias que no tenham um

    lote prprio.

    De acordo com o entrevistado, o poder pblico municipal, inicialmente, posicionou-se

    contra a fundao do Assentamento Capela em razo de concepes polticas distintas do

    MST. Aps a fundao do Assentamento Capela e da COOPAN, a mesma iniciou um

    processo de busca de melhorias para sua regio no municpio, como escola e transporte.

    Conforme a produo cresceu, gerando arrecadao para o municpio, a relao com o poder

    pblico melhorou. A cooperativa comeou a receber auxlio, como melhoria em infraestrutura

    (transporte, escola etc.), emprstimo de maquinrios e facilidade nas negociaes comerciais.

    Conforme o entrevistado, as contribuies da COOPAN para o desenvolvimento do

    municpio so de distribuio de alimentos no Programa de Aquisio de Alimentos (PAA) e

    na merenda escolar. A cooperativa e seus integrantes no se envolvem em discusses

    polticas, conforme decidido em assembleia, sendo que nenhum integrante poderia fazer parte

    da administrao municipal ou se candidatar a algum cargo poltico, exceto um deputado

    federal, pois sua carreira anterior deciso em assembleia.

    Para o dirigente privado local, a maior integrao da cooperativa com os moradores do

    municpio se d com os comerciantes, por meio da compra e venda de mercadorias. Existe

    tambm boa relao entre a COOPAN e a Prefeitura Municipal, principalmente com a

    Secretaria da Agricultura. H ajuda na execuo de alguns projetos, nos quais a Prefeitura

    contribui com contrapartidas de construes e maquinrios.

    O aprimoramento tcnico-profissional dos cooperados se d por meio de convnio

    entre MST, INCRA e Frente Sul, ensino superior e ensino tcnico no Instituto Educar, em

    Ponto (RS), ensino superior na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), em Pelotas (RS), e

    ensino mdio tcnico no Iterra, em Veranpolis (RS). Existe um scio que, recentemente,

    retornou de Cuba, aps ter concludo a graduao em veterinria.

    Os jovens estudam num turno e trabalham no outro e as decises quanto aos estudos

    pertencem a cada pessoa/famlia. Dependendo das vagas disponveis, discutido em

    assemble