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FACULDADE DE MEDICINA DEPARTAMENTO DE SAÚDE COMUNITÁRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA MESTRADO ACADÊMICO EM SAÚDE PÚBLICA ANA CAROLINA SOUZA TORRES FORMAÇÃO MÉDICA PARA A APS: PERCEPÇÕES DE EGRESSOS DA UFC FORTALEZA 2016

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FACULDADE DE MEDICINA

DEPARTAMENTO DE SAÚDE COMUNITÁRIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA MESTRADO ACADÊMICO EM SAÚDE PÚBLICA

ANA CAROLINA SOUZA TORRES

FORMAÇÃO MÉDICA PARA A APS: PERCEPÇÕES DE

EGRESSOS DA UFC

FORTALEZA

2016

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ANA CAROLINA SOUZA TORRES

FORMAÇÃO MÉDICA PARA A APS: PERCEPÇÕES DE EGRESSOS

DA UFC

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em Saúde

Pública, da Faculdade de Medicina da

Universidade Federal do Ceará, como

requisito parcial para obtenção do Título de

Mestre em Saúde Pública. Área de

Concentração: Política, Gestão e Avaliação

em Saúde

Orientadora: Prof.a Dra. Maria Vaudelice

Mota

FORTALEZA

2016

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ANA CAROLINA SOUZA TORRES

FORMAÇÃO MÉDICA PARA A APS: PERCEPÇÕES DE EGRESSOS

DA UFC

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em Saúde

Pública, da Faculdade de Medicina da

Universidade Federal do Ceará, como

requisito parcial para obtenção do Título de

Mestre em Saúde Pública. Área de

Concentração: Política, Gestão e Avaliação

em Saúde

Orientadora: Prof.a Dra. Maria Vaudelice

Mota Aprovada em: 31/08/2016.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________

Prof. Dra. Maria Vaudelice Mota (Orientadora)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

__________________________________________

Prof. Dra. Maria Marlene Marques Ávila

Universidade Estadual do Ceará (UECE)

__________________________________________

Prof.ª Dra. Maria do Socorro de Sousa

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_____________________________________________

Prof.ª Dr. Ricardo José Soares Pontes

Universidade Federal do Ceará (UFC)

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pelo dom da vida, por ter me guiado em todos os momentos, no seu amor e na sua sabedoria.

Aos meus amados Pais, que me apoiaram em todos os momentos, e que me incentivaram até o final, compreendendo minha ausência e suportando a saudade.

A todos os meus familiares e amigos, pelo amor que recebi, pelo encorajamento diante das dificuldades que vivenciei ao longo do mestrado e por toda a compreensão diante das minhas ausências.

À querida professora Maria Vaudelice Mota, muito mais que uma orientadora, uma amiga sensível, uma inspiração de vida. Obrigada pelo exemplo, pela parceria e principalmente pela confiança depositada em mim.

Às professoras Maria do Socorro de Sousa e Sarah Maria Fraxé Pessoa, pelos conhecimentos compartilhados e por suas considerações valiosas e sempre pertinentes ao longo da construção desse trabalho.

Aos profissionais de saúde que entrevistei, pela confiança e disponibilidade em participar dessa pesquisa, atores principais deste trabalho aos quais também dedico essa dissertação.

Aos componentes da minha banca de defesa pela atenção dispensada e colaborações.

A todos que direta ou indiretamente, com todas as formas de carinho e cuidado, contribuíram para a construção desse trabalho: MUITO OBRIGADA!

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“... que a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balanças nem barômetros etc. Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que

a coisa produza em nós.” (Manuel de Barros)

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RESUMO

O Sistema Único de Saúde aponta a necessidade de mudanças das práticas hegemônicas em

saúde, e fomenta transformações do modelo técnico-assistencial que perpassa as práticas de

saúde e a formação profissional. Políticas públicas têm sido desenvolvidas visando à

reorientação da formação dos profissionais em saúde. O objetivo da pesquisa é avaliar a

formação médica para a APS com base nas percepções dos egressos de medicina da UFC à

luz das DCN e dos eixos do Pró-Saúde. Trata-se de uma pesquisa de caráter avaliativo, com

abordagem qualitativa que contemplou a análise documental do projeto político pedagógico

(PPP) do curso de medicina da UFC e coleta de entrevistas semiestruturadas com 10

médicos egressos do curso, graduados entre 2003 e 2011, com atuação na APS em

Fortaleza. As entrevistas foram transcritas e analisadas em categorias de acordo com

Minayo. Destacam-se como principais achados: dificuldades para integrar o ciclo básico ao

profissional no currículo, as competências gerais das DCN não contempladas nas ementas

das disciplinas foram Educação Permanente e da Administração e Gerenciamento,

necessidade do PPP atualizar o conteúdo das suas ementas, tentativa da IES em estruturar o

PPP de acordo com as recomendações das DCN, necessidade de se adequar a pedagogia

dos docentes no módulo de ABS, equilibrar o módulo de ABS com maior número de

docentes e preceptores com especialização em Medicina de Família, capacitação para os

preceptores médicos, a prática no território do SF como potente transformadora da

formação, vivências em cenários de práticas diversificados e atividades complementares

agregaram aos egressos competências para atuar na APS, formação crítica e alinhada ao

paradigma da integralidade, fragilidades na Integração Ensino-Serviço, atividades de

Educação Permanente nos serviços de saúde desconectadas das necessidades dos

profissionais e da comunidade. Essa pesquisa proporcionou um processo de reflexão-ação

acerca das potencialidades e fragilidades no processo formativo dos recursos humanos para

o SUS.

Palavras-chave: Formação Médica. Saúde da Família. Educação Superior.

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ABSTRACT

The Health System indicates the need to change the hegemonic practices in health, and

promotes changes in the technical-assistance model that permeates health practices and

training. Public politics have been developed aiming at reorienting the training of high level

professionals and qualification of service professionals.The objective of the research is to

evaluate medical training for PHC based on perceptions of medical graduates at the UFC in

the light of DCN and the axes of the Pro-Health. It is an evaluative research study with a

qualitative approach that included the documentary analysis of the political pedagogical

project (PPP) of the medical course at UFC and semi-structured interviews with 10 medical

graduates at the course, graduates between 2003 and 2011, acting at APS in Fortaleza.

Stand out as the main findings: difficulties in integrating the basic cycle to the professional

curriculum, the general competences of the DCN not included in the disciplines were

Permanent Education and Administration and Management, need to the PPP update the

content of their disciplines, IES tried to structuring PPP in accordance with the

recommendations of the DCN, is need to adapt the pedagogy of teachers in the ABS

module, balance the ABS module with the highest number of teachers and tutors with

expertise in family medicine, training for preceptors doctors, the practice at SF and at the

territory as powerful transformative training, experiences in diverse practice settings and

complementary activities had added to the graduates the skills to work in the APS, critical

training and aligned to the integrality paradigm, weaknesses in the integration Teaching-

service, Permanent education activities in health services disconnected from the needs of

professionals and the community. This research provided a process of reflection-action

about the strengths and weaknesses in the training process of human resources for SUS.

Keywords: Medical Education. Family Health. College education.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABRASCO - Associação Brasileira de Pós Graduação em Saúde

Coletiva ABS - Assistência Básica em Saúde APS - Atenção Primária à Saúde

CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior

CINAEM - Comissão Interinstitucional Nacional de Avaliação das Escolas

Médicas CNES - Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde CNPq - Conselho Nacional de Pesquisa

CNS - Conferência Nacional de Saúde

DCN - Diretrizes Curriculares Nacionais

DP - Desenvolvimento Pessoal EMs – Escolas Médicas

ENSP - Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca

ESF - Estratégia Saúde da Família IES - Instituição de Ensino Superior

INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

Teixeira LDB - Lei de Diretrizes e Bases MEC - Ministério da Educação e

Cultura MS - Ministério da Saúde NBS - Necessidades Básicas de Saúde

OMS - Organização Mundial da Saúde OPAS - Organização Pan-Americana da Saúde PACS -

Programa de Agentes Comunitários de Saúde PET-Saúde - Programa de Educação para o Trabalho em

Saúde PMF - Programa Médico de Família PNAB - Política Nacional de Atenção

Básica PPP - Projeto Político-Pedagógico Pró-Saúde - Programa Nacional de Reorientação da Formação em Saúde

Promed - Programa de Incentivo às Mudanças Curriculares para as Escolas

Médicas PSF - Programa Saúde da Família RMSF - Residência Multiprofissional em Saúde da Família

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RSB - Reforma Sanitária Brasileira

SESU - Secretaria de Educação Superior SGTES - Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na

Saúde SUS - Sistema Único de Saúde UFC - Universidade Federal do Ceará

UFF - Universidade Federal Fluminense

UECE – Universidade Estadual do Ceará

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Disciplinas e respectivas cargas horárias em relação com a APS do curso de

Medicina da UFC ............................................................................................................ p. 50

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 14

2. OBJETIVOS ............................................................................................................................................ 19 2.1. Geral ................................................................................................................................................. 19 2.2. Específicos ........................................................................................................................................ 19

3. REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................................................... 20 3.1. A medicina no contexto da Saúde Coletiva ................................................................................... 20 3.2. A formação do médico no Brasil .................................................................................................... 25 3.3. A atuação do médico na Atenção Primária à Saúde..................................................................... 34

4. METODOLOGIA.................................................................................................................................... 39

4.1. Tipo de estudo .................................................................................................................................. 39 4.2. Cenário, período e sujeitos do estudo ............................................................................................ 39 4.3. Coleta e registro dos dados ............................................................................................................. 41

4.4. Análise dos dados............................................................................................................................. 42 4.5. Aspectos éticos ................................................................................................................................. 43

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................................................. 45 5.1. Análise do Projeto Político Pedagógico do curso de Medicina da UFC ...................................... 45

5.1.1 Concepções e objetivos do curso ............................................................................................... 45 5.1.2. Coerência entre o PPP do curso de Medicina da UFC e o que as DCN recomendam

para o perfil médico ...................................................................................................................................... 47 5.1.3. Sistema de avaliação ................................................................................................................. 56

5.2. Caracterização dos sujeitos do estudo ............................................................................................ 57

5.3. O olhar médico sobre sua formação acadêmica para a APS ....................................................... 59 5.3.1. Percepções dos egressos acerca da organização pedagógica utilizada nas disciplinas de

ABS ................................................................................................................................................................ 59 5.3.2. A importância da ABS para a formação médica e o território da ESF como potente

transformador ................................................................................................................................................ 64

5.4. Formação médica para a ESF à luz das DCN e do Pró-Saúde .................................................... 68 5.4.1. Diversificação dos cenários de aprendizagem e atividades complementares ........................... 70

5.4.2. Eixo Cenários de Prática: Integração Ensino-Serviço .............................................................. 74 5.4.3. Eixo Orientação Teórica: Educação Permanente ..................................................................... 76

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................................. 80

7. REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 83

8. ANEXOS .................................................................................................................................................. 88 ANEXO A ............................................................................................................................................... 88 ANEXO B ................................................................................................................................................ 93 ANEXO C ............................................................................................................................................... 97 ANEXO D ............................................................................................................................................... 99

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ANEXO E ................................................................................................................................................ 114

9. APÊNDICES ............................................................................................................................................ 115

APÊNDICE A ......................................................................................................................................... 115 APÊNDICE B ......................................................................................................................................... 117

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1. INTRODUÇÃO

Meu interesse em discutir a formação dos profissionais de saúde para atuação na

Atenção Primária à Saúde (APS) se entrelaça com minha trajetória de vida e formação. Nos

meus quatro anos e meio de graduação em Odontologia, realizada na Universidade Federal

Fluminense (UFF), vivenciei processos de formação, em sua maioria, pautados no

paradigma flexneriano – privilegiando um enfoque biomédico, no qual o currículo, focado

em especialidades, dividia-se em ciclo básico e profissional, com disciplinas fragmentadas

e aulas nas quais o docente apenas repassava os conteúdos, geralmente enciclopédicos; não

havia problematização e nem participação dos discentes.

Já no quinto período do curso, enquanto muitos dos meus colegas de graduação

sonhavam em se especializar em Implantodontia, Ortodontia, Endodontia, Cirurgia Buco-

Maxilo-Facial, dentre tantas outras especialidades apresentadas, eu me questionava se

deveria realmente ser dentista, pois eu estava insatisfeita com a ideia inicial de que minha

profissão seria cuidar apenas de fragmentos.

No sétimo período da graduação, interessei-me por uma disciplina que abordava

uma odontologia voltada para o social, diferente da que segue o modelo biologicista,

flexneriano. Na disciplina de Odontologia Social e Preventiva VI (OSP VI) da UFF, tive

aulas teóricas que apresentavam os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde

(SUS), incluindo suas Normas Operacionais Básicas, numa metodologia de ensino

participativa. Aprendi sobre a importância da Atenção Básica e da Estratégia de Saúde da

Família (ESF) para a população. Também tive aulas sobre o Programa Médico de Família

(PMF), na época, modelo da Atenção Básica adotado em Niterói. As atividades práticas,

por sua vez, não se realizaram na clínica odontológica da faculdade, mas no cenário de

complexidades do PMF. Os discentes foram divididos em pequenas equipes, cada qual com

um docente responsável; cada uma das equipes foi inserida num território que tivesse

atuação de equipes de saúde do PMF.

Realizei minha prática de campo em Niterói, na Unidade Básica do Morro do Céu,

onde pude acompanhar semanalmente o trabalho da equipe de saúde do PMF, o que

representou uma experiência importantíssima para mim. Orientada pelo professor e pela

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equipe de saúde do PMF, minha equipe escolheu uma família da comunidade que receberia

nossas visitas domiciliares semanais, com o objetivo de diagnosticar suas necessidades de

saúde. Desviando da perspectiva de atenção exclusiva sobre a doença, fomos aprendendo a

ver o indivíduo, não em fragmentos, mas como um todo em sua complexidade humana, nas

suas relações com os demais indivíduos e com o ambiente, para que pudéssemos realmente

contribuir para sua qualidade de vida. Ao final da disciplina, apresentamos, para o corpo

docente e para a equipe do PMF que nos acompanharam, um projeto terapêutico e cuidador

para a família que acompanhamos ao longo do semestre letivo, tendo como base o

diagnóstico das necessidades de saúde que construímos coletivamente.

Afetada pelo aprendizado em sala de aula posto em diálogo com a complexidade

apresentada pelo campo de prática no PMF, tentei, no ano de 2010, a monitoria

institucional para a disciplina de OSP VI. Fui aprovada e tive então a oportunidade de

acompanhar, por mais um ano, as atividades teóricas e práticas da disciplina, amadurecendo

minhas reflexões sobre o trabalho com famílias no PMF. Como monitora, facilitei

pedagogicamente a inserção dos alunos em seus respectivos campos de práticas.

Desenvolvi, em equipe, projetos terapêuticos singulares para as unidades familiares que

acompanhava em cada período, sempre dialogando com as equipes de saúde do PMF.

A vivência desses processos em campo, durante a graduação, despertou fortemente

meu interesse pela Estratégia de Saúde da Família e pela formação que dialoga e integra

ensino e serviços de saúde. Percebi que minha profissão configura-se numa prática social,

e, por isso, deve-se priorizar, desde a graduação, uma formação que incentive nos discentes

uma postura crítica, reflexiva e comprometida com as necessidades da população.

Motivada a conhecer e vivenciar com mais profundidade teorias e práticas

transformadoras voltadas para as necessidades do SUS, ingressei, em abril de 2011, no

curso de Residência Multiprofissional em Saúde da Família da Escola Nacional de Saúde

Pública Sérgio Arouca (ENSP). A Residência Multiprofissional em Saúde da Família

(RMSF) tem como objetivo capacitar os residentes para integrar as instituições de ensino e

as instituições de serviços de saúde por meio de ações que visem à mudança das práticas de

formação e daquelas de atenção – o que inclui as práticas de organização do processo de

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trabalho, de cuidado individual, coletivo e familiar, de formação e educação na saúde e de

construção do conhecimento; que, a partir de então, devem privilegiar as necessidades dos

usuários.

O programa da RMSF utiliza metodologias ativas e participativas, tendo a

educação permanente como eixo pedagógico. Na RMSF, as atividades são estruturadas para

possibilitar a problematização da realidade por meio de orientações específicas, seminários,

estudos de caso, aulas com metodologias ativas, dentre outras formas de ensino. Quanto a

mim, a RMSF foi catalisadora de processos de incorporação de novos conhecimentos,

habilidades e práticas. Na RMSF, obtive aprofundamento teórico nas temáticas da Saúde

Coletiva. Do ponto de vista das atividades práticas, a residência organizava os alunos em

equipes multiprofissionais e os inseria em equipes de saúde da ESF. Fui inserida como

residente na Clínica da Família Santa Marta, na comunidade Santa Marta, em Botafogo.

Nesta instituição, planejei e executei, em equipe, atividades diversas, tais como: grupos de

promoção da saúde (gestante, adolescente, caminhada), organização do fluxo do

acolhimento da clínica, construção do projeto pedagógico das atividades direcionadas ao

Programa Saúde Escolar (PSE), dentre outras construções coletivas.

Trabalhar dentro da multiprofissionalidade promovida pela RMSF, me apresentou

dimensões, principalmente da área das ciências humanas e sociais, que me possibilitaram

refletir sobre meu processo de trabalho, ainda impregnado pelo modelo flexneriano. A

promoção do diálogo entre os diversos conhecimentos advindos das diversas categorias

profissionais envolvidas no território da ESF, além dos vínculos construídos com a

comunidade, me possibilitou aprender novos saberes e novas práticas que, aos poucos,

foram dando novo formato e novos sentidos ao meu modo de produzir saúde tendo em vista

as necessidades do SUS e de seus usuários.

Seguindo minha formação pautada na APS, ingressei no Programa de Mestrado

em Saúde Pública da Universidade Federal do Ceará (UFC). Estar no mestrado me

possibilitou conhecer disciplinas que me aproximaram dos diversos campos da Saúde

Coletiva, apresentando-me saberes advindos da epistemologia, das reflexões filosóficas de

um modo mais geral, do campo das políticas de saúde pública, da inter-relação da saúde

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com o trabalho e das questões do mundo atual globalizado. Além do mais, no Programa de

Mestrado em Saúde Pública, tive a oportunidade de participar de um grupo de pesquisa

interdisciplinar que discute atualmente a formação em saúde, buscando transformações e/ou

ressignificações direcionadas para uma ênfase na APS.

Desse modo, de um lado, dando prosseguimento à minha trajetória acadêmica de

busca de alternativas para a promoção da saúde que levem em conta a realidade do SUS e

as especificidades de seus usuários, e de outro, tendo participado ativamente e usufruído

das discussões do grupo de pesquisa interdisciplinar do Programa de Mestrado em Saúde

Pública, elegi como problema de pesquisa a percepção da formação médica dos egressos da

UFC para a APS. Assim, a pergunta norteadora dessa pesquisa é a seguinte: como tem se

dado a formação de médicos para a APS na percepção dos egressos da UFC?

O SUS tem sido incisivo em apontar a necessidade de mudanças no modelo

formador em saúde. O amplo reconhecimento da relação entre a formação dos profissionais

de saúde e a qualidade da atenção exige o imperativo de formar profissionais de saúde com

novos perfis, reorientando a formação para o SUS, para a qualificação da gestão e do

controle social. No entanto, isto não tem se traduzido na mudança efetiva dos processos

formativos.

O presente estudo constitui um recorte de uma pesquisa mais ampla, intitulada

“Avaliação da formação de profissionais de saúde de nível superior pelas escolas públicas

em Fortaleza-CE”, e busca contribuir para uma proposta transformadora dos processos

formativos. Assim, na perspectiva dos segmentos do ensino, do serviço e da gestão, busca-

se discutir sobre estes processos formativos, especificamente quais as potencialidades e os

desafios a serem superados visando um melhor desempenho das instituições formadoras

como indutoras de mudanças comprometidas com a construção e o fortalecimento do SUS.

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Refletir sobre as alternativas de aprimoramento dos processos de formação em

saúde é de importância incontestável, pois contribui na criação de um perfil profissional

com qualidade e resolutividade, o que significa, de um lado, a qualificação dos recursos

humanos em saúde, promovendo uma atenção humanizada às necessidades da população, e,

de outro, uma maior efetividade aliada a uma redução dos custos do SUS.

Desse modo, essa pesquisa realizada pela UECE e UFC tem desenvolvido uma

reflexão-ação acerca das proposições do Projeto Político Pedagógico (PPP) do Curso de

Medicina da Universidade Federal do Ceará e das possibilidades de aprimorar os processos

formativos. Nesse sentido, é necessária a contribuição dos atores afetados diretamente com

a reorientação da formação em saúde, ou seja, docentes, discentes e egressos do programa

que atuam/atuaram na APS. As percepções desses atores acerca do processo de ensino-

aprendizagem poderão contribuir como subsídios ainda não incorporados à formação, e que

são relevantes para a reforma dos currículos, para a transformação do ensino e para

qualificação das práticas em saúde.

Nesse estudo, serão discutidas as percepções dos médicos egressos da

Universidade Federal do Ceará em relação à sua formação para a APS. Vale ressaltar que

esse egresso atua ou atuou na APS, portanto é capaz de relacionar sua formação acadêmica

com sua experiência nos serviços de saúde. O estudo possibilita coletar saberes dos

egressos médicos que ainda não estejam contemplados no currículo e no PPP do curso.

Esses saberes advindos do “aprender fazendo” na Estratégia de Saúde da Família (ESF)

podem ser incluídos pelas Instituições de Ensino Superior (IES) na ressignificação dos

processos formativos.

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2. OBJETIVOS

2.1 Geral

Avaliar a formação médica para a APS com base nas percepções de egressos do Curso de

Medicina da UFC à luz das Diretrizes Curriculares Nacionais e dos eixos do Pró-Saúde.

2.2 Específicos

Analisar os conteúdos propostos no Projeto Político Pedagógico do curso de Medicina da

Universidade Federal do Ceará à luz das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para os

cursos de Medicina;

Apreender as concepções dos egressos do curso de Medicina acerca do seu processo

formativo para a APS;

Identificar, na concepção dos egressos do curso de Medicina da UFC, quais disciplinas se

alinham com a formação médica para a APS;

Analisar se o profissional egresso do curso de Medicina da UFC está sendo formado com

o perfil proposto pelas Diretrizes Curriculares Nacionais e pelo PPP.

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3. REVISÃO DE LITERATURA

3.1. A medicina no contexto da Saúde Coletiva

O campo de saber e de prática da Saúde Coletiva é compreendido mais

consideravelmente ao retomarmos seu percurso histórico, analisando os ideais e os

movimentos que antecederam o seu surgimento. No Brasil, os movimentos que precederam

a Saúde Coletiva foram a medicina preventiva e a medicina social.

Birman afirma que a saúde pública se originou com a medicina moderna, no final

do século XVIII. Associa-se com uma polícia médica e com uma medicina social, que se

caracterizava por um investimento político sobre a medicina e pela ênfase na dimensão

social das enfermidades. Nesse período, a saúde pública foi uma das responsáveis pela

construção de uma nova estrutura urbana, articulada ao surgimento de estratégias

preventivas. Os diversos discursos que compuseram o campo da saúde pública tiveram

origem no naturalismo médico*, o qual evocava a autoridade da ciência e angariava assim

legitimidade para a medicalização do espaço social. A estratégia de saúde pública adotada

nesse período era o combate às epidemias e às endemias por meio da investigação sanitária

minuciosa nos espaços urbanos, desconsiderando a especificidade social presente nas

comunidades nas quais incidiam (BIRMAN, 1991).

A medicina preventiva foi um movimento presente em meados da década de 1970

e pautou-se no projeto preventista, o qual criticava o modelo biomédico então

predominante, ao qual se articulava um ensino médico centrado em práticas individuais, de

caráter curativo e hospitalocêntrico. As mudanças propostas por esse movimento,

suscitadas pela crítica à biologização do ensino médico, foram direcionadas exclusivamente

aos projetos pedagógicos dos cursos de Medicina, nos quais deveriam ser incluídas

disciplinas relacionadas a epidemiologia, administração dos serviços de saúde e

bioestatística. Tal reforma não atingiu diretamente as práticas médicas (NUNES, 2006).

* O naturalismo médico refere-se à redução dos saberes e práticas às ciências naturais, com base na ideia de

que o conhecimento científico era o conhecimento “nobre” em saúde.

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Segundo Paim, a profissão médica apropriou-se da cultura higiênica presente na

medicina preventiva e buscou, com isso, a normatização dos médicos incluindo estudantes,

professores e faculdade de medicina (PAIM, 2006).

A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), que difundia o pensamento

preventista em um primeiro momento, afirmou, em 1976, que o objetivo de transformar as

práticas de saúde, especialmente da atenção médica, por meio de um profissional

capacitado para realizar essas mudanças, não havia se concretizado com o modelo

preventista, e coloca como objetivo da medicina social analisar as práticas e conhecimentos

da saúde, relacionando-os com a sociedade (OPAS, 2009).

Nunes aponta que, na década de 1970, travou-se uma discussão entre os

departamentos de medicina preventiva e de medicina social com o propósito de redefinir o

campo de trabalho que, sem distinção, passasse a tratar das questões preventivas e sociais.

Essa discussão ocorreu por diversos fatores, não apenas relacionados à formação dos

profissionais de saúde, mas também aos conteúdos dessa formação e às funções que

estavam sendo preenchidas. Abre-se, neste contexto, o momento da medicina social

(NUNES, 1994).

Segundo documento emitido pela Organização Pan-Americana de Saúde, no ano

de 1976, a medicina social deve se preocupar com “o campo de práticas e conhecimentos

relacionados com a saúde como sua preocupação principal, e estudar a sociedade, analisar

as formas correntes de interpretação dos problemas de saúde e da prática médica” (OPAS,

2009).

No ano de 1978, a tentativa de se construir um campo denominado de Saúde

Coletiva é tratada em dois momentos distintos: o primeiro refere-se ao I Encontro Nacional

de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, realizado na cidade de Salvador-BA, e o segundo

refere-se à Reunião Sub-Regional de Saúde Pública da Organização Pan-Americana da

Saúde, realizada na cidade de Ribeirão Preto-SP. Estes dois encontros objetivavam

redefinir a formação de profissionais para a área da saúde (BARBOSA & AZEVEDO,

2009).

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A Associação Brasileira de Pós Graduação em Saúde Coletiva (ABRASCO) surge

em 1979, acompanhando o advento da emergência da Saúde Coletiva. Esta associação

objetivou apoiar e promover a articulação entre os centros de treinamento, ensino e

pesquisa em Saúde Coletiva, bem como fortalecer o diálogo entre profissionais, serviços de

saúde e sociedade civil (SOUZA, 2013).

Nunes indica que a ABRASCO, no início dos anos 80, passou a realizar

congressos, grupos de trabalho, atividades de pesquisas e ensino que promoveram um forte

movimento sanitário, culminando em debates que foram levados à VIII Conferência

Nacional de Saúde (CNS), em 1986, participando, de maneira ativa, da Comissão Nacional

de Reforma Sanitária. A VIII CNS teve significativa relevância, visto que foi naquele

momento que a saúde foi levada para o centro de um amplo debate político, no qual foi

proposto o modelo de organização do Sistema Único de Saúde (NUNES, 2006).

No período em que o Brasil atravessava o período de governo militar, a saúde

estava associada a um projeto privatista. Nesse contexto, as ideias propagadas pelo campo

da Saúde Coletiva (por sua vez, desenvolvidas nas instituições acadêmicas) agregaram

força ao movimento de luta pela democracia brasileira, configurando o projeto da Reforma

Sanitária Brasileira (RSB).

A RSB almejava profundas transformações no que dizia respeito à concepção de

saúde, que então passava a ser considerada como um direito de cidadania e um dever do

Estado. A RSB aspirava por mudanças na forma de gerir, organizar e operar os serviços, e

na maneira de se realizar as capacitações e a formação dos profissionais para atuar no

campo da Saúde Coletiva. Configurava-se então um projeto que tentava reduzir iniquidades

em saúde, bem como reorientar o modelo de atenção à saúde no Brasil (SOUZA, 2013).

Para Paim, a Saúde Coletiva, no que tange ao vetor da ação política, esteve

associada à elaboração e implementação do projeto da RSB no processo Constituinte

(1987-1988), bem como foi fundamental na criação da Lei Orgânica da Saúde e na

implantação do Sistema Único de Saúde (SUS), na década de 1990 (PAIM, 2006).

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A concepção de Saúde Coletiva se constituiu também por meio da crítica ao saber

médico naturalista presente na medicina preventiva e social, no campo da saúde pública.

Seu princípio fundamental considerou que a problemática da saúde é mais ampla e

complexa do que a leitura realizada pela medicina social. O campo da Saúde Coletiva

rompe com os postulados da saúde pública quando nega o monopólio dos discursos

biologicistas no campo da saúde.

Com o advento do campo da Saúde Coletiva, as chamadas ciências humanas

começaram a adentrar no território da saúde, problematizando categorias como normal,

anormal, patológico etc., chamando a atenção para a existência de julgamentos de valor em

cada uma delas. Essas problematizações alavancadas pelas ciências humanas produziram

efeitos na medicina no plano político e social.

Os recursos das ciências médicas pautadas na medicina social e preventiva são

base importante para a investigação e as práticas sanitárias. Todavia, apresentam alcance

limitado, pois os problemas de saúde estão além do registro biológico. Dessa forma, a

inclusão das ciências humanas no campo da Saúde Coletiva reestrutura as direções que esse

campo da saúde segue, destacando as dimensões simbólica, ética e política, de forma a

relativizar o discurso biológico (BIRMAN, 1991).

Nunes, ao analisar o percurso histórico da saúde, identificou que, no universo da

medicina, da doença e do cuidado em saúde, há também variados aspectos de ordem social,

econômica e política a serem levados em conta. Por esse motivo, as ciências sociais e

humanas se tornaram fundamentais na compreensão dos processos de adoecimento e de

cuidado. A antropologia, a sociologia, a filosofia se consolidaram no campo da Saúde

Coletiva, pois são disciplinas capazes de estabelecer relações entre processos ligados a

aspectos físicos ou biológicos e aqueles associados aos aspectos sociais e culturais

(NUNES, 2006).

De acordo com Birman, a Saúde Coletiva se constitui como campo

multidisciplinar e consente, em seu território, uma diversidade de objetos e de discursos

teóricos, desconsiderando qualquer perspectiva de valor e hierarquia entre eles. Assim,

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considera a relevância dos discursos biológicos, mas não os coloca numa posição

hegemônica em relação aos outros (BIRMAN, 1991).

A Saúde Coletiva apresenta sua estrutura ancorada em três grandes áreas: as

ciências sociais e humanas, a epidemiologia e a política; e o planejamento. Apoia-se na

interdisciplinaridade, possibilitando a construção de um conhecimento amplo da saúde por

meio das contribuições das diversas disciplinas envolvidas. Também se pauta na

multiprofissionalidade como maneira de enfrentar a diversidade inerente ao saber/fazer das

práticas sanitárias. Nunes aponta que a Saúde Coletiva, no planejamento concreto dos

conteúdos a serem abordados necessita, atualmente, pensar o geral e o específico. Isso não

implica em perder o núcleo central que a legitima e a configura como campo de saber e de

reflexão crítica do social e do coletivo, mas a coloca atenta para a formação de

determinadas áreas de concentração (NUNES, 1994).

Paim afirma que a Saúde Coletiva, enquanto campo de saber e âmbito de práticas,

apresenta-se em condições de estabelecer competências e articular valores que possibilitem

a constituição de novos sujeitos sociais comprometidos com a defesa da vida e da saúde do

público (PAIM, 2006).

O profissional que atua no campo da Saúde Coletiva deve desenvolver atividades

para o coletivo, tais como, o planejamento, a programação, o controle e a avaliação em

saúde. Suas atribuições englobam uma dimensão epidemiológica e social, e são

direcionadas para solucionar necessidades de saúde, bem como buscar meios que

viabilizem o trabalho coletivo em saúde. Portanto, esse profissional, a quem se atribui uma

prática voltada para o coletivo e o social, necessita de conhecimentos e habilidades

específicas que estejam além dos saberes das ciências biológicas ou da saúde.

O trabalho em Saúde Coletiva inclui uma abordagem que ultrapassa as dimensões

técnica, econômica, política e ideológica, pois se trata de uma prática que envolve um

conjunto de atividades eticamente comprometidas com as necessidades sociais de saúde. Os

profissionais com atuação nesse campo têm sua prática perpassada por valores de

solidariedade, equidade, justiça e democracia (PAIM, 2006).

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3.2. A formação do médico no Brasil

Com a chegada da família real portuguesa e do príncipe regente à cidade de

Salvador, criou-se o primeiro curso de Medicina no Brasil colônia, em fevereiro de 1808.

No Rio de Janeiro, no mesmo ano, surgia a Escola de Anatomia e Cirurgia. Esses cursos

eram apenas “escolas de cirurgia”, pois não formavam médicos, somente cirurgiões. Os

médicos ainda eram formados em Portugal, ou em outra escola de Medicina da Europa. A

criação dessas escolas marcou o início do ensino médico, e também do ensino superior no

Brasil.

Essas instituições de ensino tornaram-se Faculdades de Medicina no ano de 1832.

Passaram a se organizar mediante as normas e programas da Escola Médica de Paris. Com

isso, os cursos de Medicina no Brasil pautavam-se no modelo de ensino europeu e tinham a

duração de seis anos.

A terceira faculdade de Medicina brasileira surgiu em Porto Alegre (RS), em 1898.

No início do século XX, no Brasil, só existiam essas três Escolas Médicas (EMs), as quais

adotaram, de início, o modelo pedagógico francês e apresentavam influências da escola

alemã em seus campos de pesquisa. Com o tempo, houve reformas no ensino acadêmico

que findaram por substituir esse modelo europeu pelo norte-americano, o qual foi

dominante nas Faculdades de Medicina no início do século passado (GONÇALVES &

PEREIRA, 2009).

Desde sua origem, o ensino médico brasileiro foi atravessado por mudanças, sendo

a Reforma Flexner a de maior impacto para a formação em saúde. O paradigma da

educação médica resultante do Relatório Flexner, publicado em 1910, significou a

importação para o Brasil de um modelo com enfoque mais cientificista e menos humanista,

com abordagem individualista, hospitalocêntrica, fragmentadora do conhecimento,

favorecendo a especialização precoce na graduação, dificultando assim uma compreensão

mais holística do paciente (NEVES, NEVES & BITENCOURT, 2005).

O modelo flexneriano estimula o estudo e a pesquisa nas ciências básicas e

especializadas, além de desenvolver o conhecimento científico de forma ampla e

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aprofundada, porém esse saber mantém-se fragmentado, dissociado. Esse paradigma, na

medida em que amplia e aprofunda o conhecimento biomédico, o fragmenta em disciplinas

e especializações que limitam e se distanciam da visão integral do ser humano em sua

complexidade. Seu enfoque teórico é direcionado para a determinação da doença com base

em causas biomédicas, atendo-se ao diagnóstico e tratamento com foco na enfermidade, e

não no indivíduo.

Nesse modelo de formação biomédico, a maioria dos médicos teve como cenário

de prática, durante a graduação, o hospital, o que fortalecia o enfoque voltado fortemente

para as doenças graves, a importância das especialidades e, portanto, uma perspectiva

fragmentada do corpo, do saber e do cuidado (LAMPERT, 2004).

Os estudantes de medicina têm vivenciado uma formação que enfatiza as

especializações precoces, transformando-os em pseudo-especialistas ainda no período de

graduação. Neves e Bitencourt apontam que este arquétipo pode ser o responsável pela

dificuldade de se formar um médico generalista (NEVES, NEVES & BITENCOURT,

2005).

As EMs brasileiras seguidoras do modelo flexneriano organizam o curso de

Medicina da seguinte forma: dedicam de três a quatro semestres para estudo exclusivo do

homem biológico, denominando esse período de ciclo básico; destinam quatro a seis

semestres para o ensino da clínica, já dividida em especialidades médicas (pediatria,

ginecologia e obstetrícia, clínica médica, cirurgia, dentre outras); e, nos últimos semestres

do curso, incluem o treinamento em serviço supervisionado por docentes e o internato, com

duração de um ano no mínimo (GONÇALVES & PEREIRA, 2009).

A formação médica fundamentada no paradigma de Flexner tem seus conteúdos

cristalizados em disciplinas fragmentadas, que se subdividem em ciências básicas e em

ciências clínicas, área biológica e área profissional, conhecimentos aplicados e

conhecimentos reflexivos. Não há diálogo entre os aprendizados no ciclo básico e no ciclo

profissional. Como consequência desse modelo de formação, surge uma prática pedagógica

que entende a informação científica como reflexo direto do conhecimento. Sob essa

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perspectiva, predomina uma visão de corpo, saúde, doença e terapêutica consideravelmente

limitada, segmentada e estática.

A criação da Diretoria-Geral de Saúde Pública e do Departamento Nacional de

Saúde Pública, no início do século XX, fortaleceu a saúde pública brasileira, evidenciando

a importância da área da Saúde Coletiva na discussão das necessidades de mudança nos

perfis profissionais, portanto, também nos perfis de formação abraçados pelas Instituições

de Ensino Superior. Nesse contexto, os grandes sanitaristas brasileiros chamaram a atenção

para a formação de profissionais de acordo com as necessidades sociais, ou em consonância

com a relevância pública da formação.

Carvalho e Ceccim apontam que a Saúde Coletiva inquieta-se com os perfis das

novas gerações de profissionais de saúde; não confere grande importância à quantidade de

diplomas expedidos, mas sim à capacidade dos profissionais em impactar na qualidade de

vida da sociedade (CARVALHO & CECCIM, 2012).

A criação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior

(Capes) e do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), na década de 1950, bem como a

apropriação de conceitos como medicina integral, preventiva, comunitária, contribuíram

para a discussão sobre as reformas no ensino médico, buscando reorganizar o ensino

médico brasileiro mediante o debate sobre o perfil profissional que as IES deveriam formar.

Diante desse cenário de transformações, houve uma Reforma Universitária em

1968, a qual extinguiu as cátedras e as substituiu pelos departamentos. Além disso, essa

reforma propôs a organização do curso em ciclos, a fim de amenizar a fragmentação da

proposta curricular (GONÇALVES & PEREIRA, 2009). O desaparecimento das cátedras

em prol da criação de departamentos parecia ter sido um avanço, porém se constituiu num

desafio, visto que as disciplinas pouco interagiam entre si, mesmo aquelas pertencentes a

um mesmo departamento. Tinha-se que as disciplinas estavam ligadas à formação de um

mesmo perfil profissional, no caso o médico, todavia, não se comunicavam (LAMPERT,

2002).

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Aos poucos, o chamado paradigma flexneriano vai se exaurindo e dando abertura

para outro modelo, o paradigma da integralidade, o qual busca preencher falhas e equilibrar

as oscilações entre tecnologia científica e humanismo, orientando o enfoque da formação

para o atendimento de necessidades sociais, sem reduzir o ritmo do desenvolvimento

científico. Esse novo modelo busca equilibrar a excelência técnica com a relevância social.

O novo paradigma contrapõe-se ao flexneriano, pois se volta para causas biomédicas,

sociais e ambientais na determinação da saúde, apresentando uma abordagem do saber de

forma integrada, com uso de metodologia interativa nos processos formativos e ênfase na

promoção, na preservação e na recuperação da saúde.

A formação médica em muitas IES ainda é pautada no modelo antigo, no qual a

abordagem pedagógica é representada por disciplinas fragmentadas em um currículo

dividido em ciclo básico e profissionalizante, sem que haja integração entre ambos os

ciclos. O ensino tem como centro o professor, o qual desenvolve suas aulas de forma

expositiva, pouco dialogadas, em turmas com grande número de alunos.

Em contrapartida, o paradigma da integralidade traz a ideia de uma estrutura de

currículo que possui atividades integradas em disciplinas ou em módulos; o processo

ensino-aprendizagem é centrado no aluno, o qual possui papel ativo na construção do

próprio conhecimento, tendo o professor a função de facilitador, e não de transmissor de

conteúdos. As atividades são mais interativas e realizadas em pequenos grupos de alunos.

Esse modelo avalia o desempenho dos estudantes na prática clínica e social, analisando

seus conhecimentos, habilidades e atitudes (LAMPERT, 2004).

O paradigma da integralidade destaca mais a saúde que a doença, analisa o doente

para além da sua enfermidade, agregando valores humanísticos à Medicina. É relevante

enfatizar que esse novo modelo deve valorizar o lado humanista, mantendo sempre o

diálogo com o avanço técnico e científico. As descobertas da ciência contemporânea não

podem ficar estigmatizadas como se não fossem importantes, por isso as contribuições

científicas devem ser parceiras e caminhar junto com as contribuições humanísticas do

novo paradigma, formatando uma estrutura harmônica de saberes. Dessa forma, o médico

terá acesso a uma formação diferenciada, assumindo um novo perfil, mais humanista, com

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atitudes de cidadão ético e consciente da sua responsabilidade social (NEVES, NEVES &

BITENCOURT, 2005).

A abordagem pedagógica do paradigma da integralidade assimila contribuições de

várias ciências, abrindo caminhos ainda não trilhados na pesquisa, valorizando os trabalhos

multiprofissionais, transdiciplinares e interdisciplinares (LAMPERT, 2002).

É salutar reverter teorias da educação na saúde essencialmente biomédicas para

uma nova abordagem que busque a integralidade nos processos de formação. A

multiprofissionalidade e a alteridade colocam-se então em oposição à formação pautada na

medicalização, com enfoque nas especialidades e no caráter procedimento-centrado

(CECCIM & FEUERWERKER, 2004).

Gomes e Rego afirmam que o paradigma da integralidade propõe uma educação

que caminha na intenção de causar mudanças tanto no profissional, como no serviço, pois

essa formação favorece o exercício de uma medicina tecnicamente competente e parceira

do compromisso ético, bem como propõe uma concepção ampliada de saúde, na qual cuidar

é mais que tratar a enfermidade, cuidar é valorizar, criar vínculo, responsabilizando-se

sempre pela integralidade das ações (GOMES & REGO, 2011).

O ensino na graduação em saúde apresenta-se tradicionalmente centrado em

conteúdos com formato enciclopédico, realizando uma pedagogia da transmissão que,

muitas vezes, não propõe conexões entre as temáticas abordadas, predominando o enfoque

na doença e na reabilitação, desvinculando o ensino da pesquisa e da extensão. A graduação

necessita articular ensino e serviço para que o modelo de formação teórico-conceitual e

metodológico induza competências voltadas para a integralidade, aprimorando os processos

formativos para o enfrentamento das necessidades de saúde da população e para o

desenvolvimento do SUS.

Para Carvalho e Ceccim, o ensino deve desapegar-se da biologia enquanto único

pilar científico para o cuidado em saúde e estabelecer um diálogo com saberes, tais como a

psicologia e as ciências sociais, a fim de transformar a educação, realizando uma reforma

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não apenas instrumental, mas de Projeto Político Pedagógico (CARVALHO & CECCIM,

2012).

A VIII Conferência Nacional de Saúde (1987), o movimento da Reforma

Sanitária, a Constituição Brasileira (1988) e, mais recentemente, a homologação das

Diretrizes Curriculares (ME/CNE, 2001) constituem uma sequência de acontecimentos que

culminou em leis e decretos que preconizam mudanças nas ações de saúde e na formação

de recursos humanos para prestar uma assistência em saúde de qualidade, pautada na

integralidade, na equidade das ações, na prática interdisciplinar e multiprofissional

(LAMPERT, 2004).

Em 1988, a Comissão de Planejamento da Federação Mundial de Educação

Médica elaborou a declaração de Edimburgo, a qual pontuou recomendações para as

escolas médicas, enfatizando a necessidade de se formar profissionais voltados para a

realidade da sociedade. Trouxe a discussão de temas importantes para o cenário da

educação e da saúde, ao abordar prioridades e estratégias educacionais, recursos

necessários às faculdades de medicina, articulação ensino e serviço, dentre muitos outros.

No ano seguinte, a Associação Médica Brasileira propôs mudanças nos currículos dos

cursos de Medicina, tais como: integrar as disciplinas, articular o ciclo básico e o

profissional, modificar os ambientes de práticas de ensino, a inclusão dos serviços de saúde,

em seus diversos níveis de complexidade, como campo de prática dos alunos, sempre

acompanhados de docentes (GONÇALVES & PEREIRA, 2009).

A formação médica no Brasil foi se modificando aos poucos, influenciada pelas

intensas mudanças no cenário sociopolítico. Serão descritos a seguir alguns marcos

relevantes na reforma do ensino médico brasileiro, que representaram rupturas com o

modelo flexneriano, objetivando pautar a educação médica no paradigma da integralidade.

No ano de 1991, surgia a Comissão Interinstitucional Nacional de Avaliação das

Escolas Médicas (CINAEM), que tinha como objetivo avaliar o ensino médico nas escolas

de Medicina brasileiras. Buscava transformar a formação médica mediante estratégias de

avaliação que se estendiam à escola como um todo; nesse sentido, a estrutura física, o corpo

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docente, o PPP e os estudantes seriam avaliados durante toda a graduação, e não apenas ao

final do curso (GONÇALVES & PEREIRA, 2009).

Em 1996, foi aprovada a nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da educação

nacional, que contribuiu para a criação das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN), as

quais se fundamentam nas competências necessárias aos médicos para que enfrentem os

desafios postos pelo desenvolvimento do Sistema Único de Saúde (SUS) (ALMEIDA et al,

2007). Com a elaboração das DCN, delineou-se um perfil médico baseado em

competências e habilidades que o profissional deverá apresentar ao final da graduação para

que seja capaz de responder às Necessidades Básicas de Saúde (NBS) com qualidade

(LAMPERT, 2002).

As DCN priorizam a formação profissional que apresenta uma visão de clínica

ampliada, com uso do senso de responsabilidade social. Gomes e Rego colocam que as

novas DCN para os cursos de Medicina orientam que o médico pratique uma clínica na

qual o paciente seja atendido, mas também seja compreendido enquanto cidadão, sujeito

singular e responsável por sua existência (GOMES & REGO, 2011).

O novo perfil médico proposto pelas DCN requer um profissional generalista,

humanista, crítico e reflexivo que consiga atuar em uma perspectiva de uma assistência

ampliada. Esse caminho vai se construindo aos poucos, por meio dos Projetos Políticos

Pedagógicos elaborados coletivamente nas Instituições de Ensino Superior (IES), os quais

enfatizam uma formação médica embasada em atitudes voltadas para a saúde, a cidadania,

a comunidade e o trabalho em equipe. Além do mais, os PPPs devem empregar

metodologias de ensino centradas no estudante, o qual terá diversos cenários de

aprendizagem prática (LAMPERT, 2004).

As DCN avançam quando estabelecem na graduação a integração ensino-serviço

e, com isso, vinculam a formação médica-acadêmica às necessidades sociais de saúde,

consolidando a relação da área que forma recursos humanos para a saúde com os serviços

de assistência à saúde (LAMPERT, 2002).

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Em 2002, o Ministério da Saúde (MS) juntamente com Ministério da Educação

(MEC) elaboraram para a graduação o Programa de Incentivo às Mudanças Curriculares

para as Escolas Médicas (Promed). Seu objetivo era incentivar as escolas médicas a

buscarem excelência técnica e relevância social. Esse programa reafirmava as orientações

de formação presentes nas DCN dos cursos de Medicina, portanto enfatizava que os

estudantes tivessem processos formativos que desenvolvessem postura ética, visão

humanística, compromisso com a cidadania, enfoque nas ações de prevenção de doenças,

proteção e promoção da saúde, além da capacidade do egresso da faculdade de atuar em

nível primário e secundário de atenção, sendo capaz de solucionar com qualidade os

problemas prevalentes de saúde (SIQUEIRA, 2002).

O Promed orientava a adoção de metodologias ativas no processo de ensino-

aprendizagem, abrindo possibilidades de capacitação em temas relevantes para as

mudanças, como, por exemplo, a discussão acerca da clínica ampliada de saúde e a

integração ensino-serviço.

Essa iniciativa do MS e do MEC constituiu uma tentativa oportuna e estratégica de

discutir e adotar mudanças na graduação de Medicina, e teve um importante desdobramento

numa outra experiência de reforma na formação, ainda mais ampla, o Pró-Saúde

(OLIVEIRA et al, 2008).

No ano de 2005, o MS, por meio de sua Secretaria de Gestão do Trabalho e da

Educação na Saúde (SGTES), elaborou em conjunto com a Secretaria de Educação

Superior (SESU) e com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

Teixeira (INEP), do ME, o Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional

em Saúde (Pró-Saúde). Esse programa foi inspirado na avaliação realizada pelo Promed, o

qual analisou vários projetos de reforma curricular de diversas faculdades de medicina

brasileiras, e selecionou 19 dessas escolas médicas para incentivar e avaliar as

transformações nos processos formativos.

O Pró-Saúde tem como objetivos estimular transformações no processo de

formação e incentivar a geração de conhecimentos e prestação de serviços à população. O

programa procura incorporar na graduação a abordagem integral do processo de saúde-

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doença, bem como a promoção da saúde. Propõe uma ampliação da duração da prática dos

estudantes na rede pública de serviços básicos de saúde. Com isso, o programa visa

oferecer profissionais mais aptos para responderem às necessidades da população brasileira,

tornando o SUS mais operacional ou eficaz.

A reorientação da formação a que o Pró-Saúde se propõe deve ocorrer

simultaneamente em distintos eixos: orientação teórica; cenários de prática e; orientação

pedagógica e no sentido da integração ensino-serviço, dando respostas às reais necessidades

da população brasileira, bem como na produção do conhecimento e na prestação de

serviços. Dessa maneira o Programa dispara reflexões-ações das IES em torno desses eixos,

os quais são direcionados na qualificação dos recursos humanos de saúde e no

fortalecimento do SUS.

A formação do profissional em saúde, respeitando as diretrizes nacionais

aprovadas pelo MEC, deve atentar para o acelerado ritmo de evolução do conhecimento,

bem como para as mudanças do processo de trabalho em saúde, e também para as

transformações nos aspectos demográficos e epidemiológicos da população, tendo como

finalidade o equilíbrio entre excelência técnica e relevância social (BRASIL, 2005).

Em 2010, surge o Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-

Saúde), que tem como pressuposto a educação pelo trabalho, caracterizando-se como

instrumento para qualificação em serviço dos profissionais da saúde, e também como

instrumento de iniciação ao trabalho, dirigido aos estudantes dos cursos de graduação e de

pós-graduação na área da saúde, voltado para as necessidades do SUS, tendo em

perspectiva a inserção das necessidades dos serviços como fonte de produção de

conhecimento e pesquisa nas instituições de ensino (BRASIL, 2010).

O PET-Saúde trabalha as questões que interessam ao SUS e assim produz um

outro sentido para a pesquisa, realizada a partir do desenvolvimento de atividades

multiprofissionais com discentes, docentes e preceptores de diversas áreas através de

encontros e descobertas coletivas advindas de um ambiente de trocas. É uma estratégia que

tem aprimorado os profissionais envolvidos no cuidado em saúde para o SUS.

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3.3. A atuação do médico na Atenção Primária à Saúde

Na década de 1960, a Atenção Primária à Saúde (APS) começou a ser adotada

como modelo em diversos países. Em vários momentos, ela foi descrita como seletiva,

focalizada na população mais pobre e portadora de uma tecnologia simples e limitada. Em

outros momentos, a APS foi apresentada num sentido mais amplo, sistêmico e integrado, o

que possibilitaria articulações inter-setoriais em prol do desenvolvimento humano, social e

econômico das populações.

A ideia de APS foi utilizada pela primeira vez no Relatório Dawnson, em 1920.

Esse documento do governo inglês procurou contrapor-se ao modelo flexneriano

americano. Concebia o modelo de atenção à saúde em centros de saúde primários e

secundários, em serviços domiciliares, em serviços suplementares e em hospitais de ensino,

organizando os níveis de atenção à saúde de forma regionalizada e hierarquizada, definindo

então duas características básicas: regionalização e integralidade, o que diminuiria os custos

e proporcionaria maior eficiência.

As propostas desse modelo de atenção à saúde foram amplamente disseminadas

em vários países, tendo forte repercussão e aceitação em alguns, nos quais se tornaram

estratégias dos governos no sentido de fortalecer as políticas de desenvolvimento

econômico e social (FAUSTO & MATTA, 2007). Na década de 1970, ganha destaque na

agenda de saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS), que difunde a proposta da

atenção primária através de programas de extensão de cobertura.

Para Starfield, não existe uma única forma de delimitação da APS. A mesma é

compreendida como o primeiro nível de atenção. Existem quatro atributos propostos por

Starfield que balizam a organização da APS: primeiro contato, continuidade, integralidade

e coordenação. Giovanella, L. et al propõem a intersetorialidade como outro atributo,

afirmando que:

[...] a atuação intersetorial é condição para que a APS não se restrinja ao primeiro nível, mas seja base a toda a atenção, contemplando aspectos biológicos, psicológicos e sociais, incidindo sobre problemas coletivos

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nos diversos níveis de determinação dos processos saúde-enfermidade,

promovendo a saúde (GIOVANELLA, L. et al, 2009).

Em 1988, o Sistema Único de Saúde (SUS) começa a se tornar realidade através

da Constituição Federal, da qual o artigo 196 afirma que “a saúde é direito de todos e dever

do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco

de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para

sua promoção, proteção e recuperação” (BRASIL, 2005).

No Brasil, a APS reflete os princípios da Reforma Sanitária, de forma que o

Sistema Único de Saúde (SUS) adota a designação Atenção Básica à Saúde (ABS) para

enfatizar a reorientação do modelo assistencial com base em um sistema universal,

equânime e integrado de atenção à saúde.

A APS só ganhou destaque na política nacional de saúde brasileira a partir da

NOB SUS 01/96. Na organização, os modelos do Programa de Agentes Comunitários de

Saúde (PACS), de 1991, e o Programa Saúde da Família (PSF), de 1994, surgem para

estimular os municípios a assumirem alternativas de organização da atenção local. O PSF

ganha força e se transforma em Estratégia de Saúde da Família (ESF), ampliando a atuação

no território nacional.

De acordo com a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), a Estratégia de

Saúde da Família (ESF) tem como objetivo a reorganização da Atenção Primária no País,

de acordo com os princípios e diretrizes do SUS. É considerada, pelo Ministério da Saúde e

pelos gestores estaduais e municipais, como estratégia de expansão, qualificação e

consolidação da APS, favorecendo uma reorientação do processo de trabalho, ampliando a

resolutividade e o impacto na situação de saúde individual e coletiva, propiciando uma

importante relação custo-efetividade (BRASIL, 2012).

O PSF teve seu início, em 1994, como uma estratégia de reorientação do modelo

assistencial com o objetivo de fortalecer a proposta de mudança do enfoque curativo para o

preventivo e integral, priorizar ações de promoção e educação em saúde e reorganizar os

serviços de saúde através da universalidade, da integralidade e da equidade.

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O modelo da ESF propõe que a equipe multidisciplinar assuma a responsabilidade

sobre um território onde vive e trabalha um quantitativo de pessoas, com foco em

intervenção na família, atenção continuada, intersetorial e resolutiva. A ESF é uma política

que ocupa um papel cada vez mais importante no sistema de saúde. A inserção e definição

clara do território adscrito constituem diferenciais da ESF; este território não é concebido

apenas como espaço físico onde vivem seus moradores, mas como território dinâmico,

considerando o que ele traz de conflitos, de modos de viver e adoecer das pessoas. Essa

compreensão promove a criação de vínculos entre os profissionais de saúde e os habitantes

dessa comunidade/território. A mudança de modelo proposta pela ESF pressupõe a

reorganização da porta de entrada das unidades básicas de saúde. Implica, também,

diretamente em modificações na organização do processo de trabalho de suas equipes de

saúde e na relação destas com a população.

Na implementação de uma APS abrangente, a integralidade e a intersetorialidade

são desafios, nem sempre convergentes, que persistem na fase de consolidação da ESF. De

acordo com Giovanella et al., essa estratégia amplia a APS no Brasil e se torna a porta de

entrada em diversos municípios, descentralizando a atenção à saúde dos hospitais para as

Unidades de Saúde da Família, de forma a tornar assegurado o direito a um sistema de

saúde universal, integral e de equidade (GIOVANELLA et al, 2009).

A PNAB orienta que as equipes que atuam na APS, na qual o médico se insere,

devem realizar suas ações de saúde de acordo com as necessidades da população do local,

garantindo a integralidade da atenção por meio das ações de promoção, proteção,

recuperação da saúde e prevenção de agravos; recomenda ainda a participação no

acolhimento dos usuários e a realização da escuta qualificada. A equipe frente à primeira

avaliação deve trabalhar com classificação de riscos e avaliação de vulnerabilidades,

coletando informações e sinais clínicos, identificando as necessidades de intervenção de

cuidado. Estimula-se a prática do cuidado humanizado, com responsabilização pela

continuidade da atenção, favorecendo a criação de vínculo. O trabalho na APS é

interdisciplinar, organizado em equipes que integram profissionais com formações diversas;

cabe às equipes participarem das atividades de educação permanente, bem como buscar

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parcerias com a comunidade a fim de potencializar a intersetorialidade, além de estimular a

população adscrita a exercer o controle social (BRASIL, 2012).

Os médicos se deparam com uma prática na APS que requer um perfil de

formação pautado no paradigma da integralidade, o que muitas vezes é o oposto da sua

formação acadêmica, caso ela tenha, por exemplo, o modelo flexneriano como base. Na

atuação na ESF, a lógica biomédica, médica-centrada, individualizada, com saber

fragmentado em especialidades e focada na doença esbarra no trabalho em equipe

multiprofissional, no enfoque das necessidades de saúde individual e coletiva, na formação

generalista, humanística, na clínica ampliada, na escuta qualificada, na prevenção e

promoção da saúde, na integralidade das ações em saúde.

A atuação na ESF necessita que os médicos desenvolvam competências, ou seja,

um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes para o desempenho das boas práticas

de saúde. O conhecimento é o “saber ser”, um conjunto de conteúdos obtidos por meio de

exposição, leitura e re-elaboração crítica que concedem ao profissional um domínio

cognitivo, um saber e uma capacidade de tomar decisões permitindo-lhe ser resolutivo em

sua área de atuação. É esse conhecimento que possibilita ao profissional a realização de

habilidades, o “saber fazer”, ou seja, o conjunto de práticas adquiridas no domínio

psicomotor. E atitude representa a motivação, representa o “saber ser e conviver” do

domínio afetivo, o “querer fazer”, além de dispor dos meios e dos recursos necessários,

nesse caso o “poder fazer” (SAUPE et al, 2007).

É necessário fortalecer os recursos humanos para a saúde, para que se consolide e

se aprimore o novo modelo de atenção, a APS – que requer competências que já estão

descritas nas orientações da PNAB, nas DCN, nos PPP e no documento da Organização

Pan-Americana de Saúde (OPAS). Para que os médicos se apropriem dessas competências,

deve haver comprometimento das IES com a reorientação da formação, direcionando suas

estruturas curriculares no sentido de formar profissionais dotados de conhecimentos,

habilidades e atitudes que atendam com qualidade às necessidades do SUS. Não caberá

apenas às faculdades de medicina realizar mudanças na formação; trata-se de um

compromisso que deve ser assumido igualmente pelos serviços de saúde, que incorporaram,

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ao longo dos anos, muitos profissionais que não se formaram dentro do paradigma da

integralidade. Nesse caso, a Educação Permanente nos serviços de saúde atuará como um

importante dispositivo de mudança.

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4. METODOLOGIA

4.1. Tipo de estudo

Este estudo integra uma pesquisa mais ampla, de caráter multicêntrico, intitulada

“Avaliação da formação de profissionais de saúde de nível superior pelas escolas públicas

em Fortaleza-CE”. Nosso recorte propõe avaliar a formação médica para a APS com base

nas percepções dos egressos médicos da UFC que atuam na APS em Fortaleza- CE.

A pesquisa tem caráter avaliativo e, dada a natureza do objeto proposto, o desenho

utilizará critérios quantitativos como forma de garantir a representatividade de alguns

grupos de sujeitos; no entanto, predominará, na coleta e análise das informações, a

abordagem qualitativa.

A abordagem qualitativa vislumbra o universo de significados, motivações,

aspirações, crenças, valores e atitudes dos entrevistados. Trata-se de uma dimensão mais

profunda de relações e de fenômenos que não podem ser traduzidos à operacionalização de

variáveis definidoras dos estudos quantitativos. É um método que revela processos sociais

ainda pouco conhecidos, referentes a grupos particulares, propiciando a construção de

novas abordagens, a revisão e a criação de conceitos e categorias durante a investigação

(MINAYO, 2009).

A pesquisa qualitativa visa compreender e/ou transformar a realidade médica ou

social e passa a ser considerada como um recurso que pode aumentar a eficácia/eficiência

das práticas e dos serviços de saúde (BOSI & MERCADO-MARTÍNEZ, 2007).

4.2. Cenário, período e sujeitos do estudo

O estudo terá como cenário a Rede de Atenção Primária em Saúde de Fortaleza, na

qual atuam um conjunto de atores que podem contribuir com processos formativos dos

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cursos de graduação em saúde; processos voltados para a formação cívica, a preparação

para o trabalho, para o desenvolvimento de competências e habilidades instrumentais, bem

como para o desenvolvimento de lideranças, em seus amplos sentidos social e histórico-

culturais, e de suas múltiplas identidades e domínios de conhecimento.

O cenário de prática de que o estudo vai tratar constituiu-se na exploração ativa de

todos os espaços. Consideramos relevantes as características de cada prática e o contexto

em que foram geradas. Assim, o cenário de prática não se restringe ao espaço físico, mas

abarca um conjunto formado de sujeitos, objetos e recursos que interagem no processo

formativo que pode acontecer nos serviços de saúde e em toda a rede de atenção.

Consideram-se os territórios vivos do cuidado com a saúde, incluindo o domicílio e toda a

rede social de apoio da comunidade lócus da ação. Atenta-se para a tríade de formação

ensino, pesquisa e extensão e para os “Agentes da aprendizagem; Atividade

potencializadora da aprendizagem e o Mundo como lugar de vida e de aprendizagem; A

família como universo do cuidado domiciliar”. Estes componentes são constitutivos e inter-

relacionados no âmbito do esforço pedagógico para conhecer, analisar, interpretar,

sintetizar, julgar e tomar decisões por meio das vivências educativas de qualidade dos

processos formadores – de onde são capturados elementos para a aprendizagem de papeis,

para o desempenho nas circunstâncias da atuação como requisitos evolucionários,

incrementais e instrumentais.

Com isso, a intenção é afirmar que, nesse estudo, a Rede de Atenção Primária em

Saúde de Fortaleza funciona como espaço pedagógico que é influenciado pelos aspectos

conjunturais e estruturais legitimados na gestão dos processos decisórios que geram

impactos nos serviços de saúde. Por sua vez, esses serviços de saúde geram inquietações

e/ou inovações que expressam a necessidade da população, e a partir da qual se realiza uma

aprendizagem plena de sentido e significado para a vida prática, produzindo um

conhecimento pela via da problematização e dos significativos socialmente relevantes.

O período em que se desenvolveu o presente estudo foi de setembro de 2015 a

junho de 2016 e os sujeitos envolvidos na pesquisa foram selecionados de acordo com

alguns critérios.

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Consideraram-se como critérios de inclusão: a conclusão do curso de Medicina na

UFC no período de 2003-1 a 2011-2 que abarca os egressos que vivenciaram a transição do

currículo antigo para o novo; e a atuação profissional na Estratégia de Saúde da Família

(ESF). E, como critério de exclusão, profissionais médicos do nível de atenção primária em

saúde não formados pelas UFC.

Seguindo os critérios para seleção dos sujeitos de pesquisa, foi realizada uma

busca na coordenação do curso de Medicina da UFC, a fim de identificar os nomes dos

alunos formados entre os anos de 2003 e 2011. A coordenação concedeu a lista com a

identificação dos alunos formados nesse período, e o total correspondia a 1288 médicos.

Realizou-se uma consulta no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde

(CNES), uma base eletrônica para operacionalizar os Sistemas de Informações em Saúde, e

buscou-se destacar, a partir da lista contendo os 1288 médicos egressos da UFC, aqueles

que têm atuação profissional na APS no município de Fortaleza. Encontrou-se o total de

395 médicos atuando na APS no Brasil, e destes, 16 atuam na Atenção Básica noutros

estados brasileiros, restando então 379 médicos atuando na APS em diversos municípios do

Ceará; destes últimos, 58 atuam em Unidades de Saúde da Família em Fortaleza,

constituindo então a minha amostra de pesquisa.

4.3. Coleta e registro dos dados

A pesquisa qualitativa realizada por meio de entrevista é capaz de fornecer os

dados básicos para o desenvolvimento e a compreensão das relações entre atores sociais e

sua situação. Esse tipo de abordagem permite o aprofundamento das relações entre as

experiências dos sujeitos e seus grupos de pertencimento (MINAYO, 2009).

Os dados foram coletados por meio de entrevistas individuais gravadas a partir de

um roteiro semiestruturado (Apêndice A). Bosi e Mercado-Martínez consideram que o

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modelo de pesquisa qualitativa é voltado para a abordagem microssocial, baseada em

palavras, histórias e narrativas, nas quais a dimensão das subjetividades é a de maior

relevância. Nesse formato de pesquisa, o método indutivo apresenta as entrevistas abertas

ou a observação participante como excelentes técnicas de obtenção de informação (BOSI &

MERCADO-MARTÍNEZ, 2007).

Também foi realizada uma pesquisa documental, visando identificar no projeto

político pedagógico do curso de Medicina da UFC os seguintes aspectos: concepção e

objetivos do curso; coerência entre currículos e objetivos; disciplinas relacionadas com a

atenção primária e o dimensionamento da carga horária destas disciplinas em relação à

carga horária total, adequação e atualização das ementas e programas das disciplinas

relacionadas à atenção primária; sistema de avaliação.

O projeto político pedagógico do curso se constituiu também em importante fonte

de informação sobre a apropriação da Diretriz Curricular Nacional (DCN) pelo curso de

Medicina da UFC.

4.4. Análise dos dados

Do total de 58 egressos médicos da UFC atuantes na APS em Fortaleza, foram

contatados pela pesquisadora 42, pois os demais se encontravam em período de férias ou

haviam mudado de município de atuação. Desses 42 médicos que foram apresentados à

proposta do estudo, apenas 10 se disponibilizaram a participar das entrevistas. As

entrevistas foram gravadas e os áudios foram transcritos e revisados pela própria

pesquisadora. Primeiramente, realizou-se uma leitura flutuante do material transcrito, a fim

de se identificar as ideias centrais para a construção das categorias empíricas. Na sequência,

foi feita uma leitura transversal, para poder reagrupar as unidades temáticas em categorias

centrais. Foram criados blocos temáticos para organizar as unidades temáticas encontradas

e as categorias centrais. Por último, foi realizada a análise das categorias temáticas por

meio da reflexão que transita do empírico para o referencial teórico e vice versa

(MINAYO, 2009).

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O processo formativo dos sujeitos desse estudo foi analisado com base nas

competências atribuídas ao médico egresso, as quais estão estabelecidas nas Diretrizes

Curriculares Nacionais (DCN) e no projeto político pedagógico (PPP) do curso de

Medicina da UFC. A fim de se contemplar os objetivos desse estudo, a análise dos

discursos dos sujeitos foi norteada pelos vetores presentes na classificação contida nos

eixos de orientação teórica e cenário de prática presentes no Pró-Saúde : Diversificação dos

Cenários de Aprendizagem, Integração Ensino-Serviço e Educação Permanente, que se

configuraram nas categorias de análise do estudo em questão.

Segundo as DCN, competência é compreendida como a capacidade de mobilizar

conhecimentos, habilidades e atitudes, com utilização dos recursos disponíveis, e

exprimindo-se em iniciativas e ações que traduzem desempenhos capazes de solucionar,

com pertinência, oportunidade e sucesso, os desafios que se apresentam à prática

profissional, em diferentes contextos do trabalho em saúde, traduzindo a excelência da

prática médica, prioritariamente nos cenários do Sistema Único de Saúde.

As DCN apresentam, de um lado, as Competências Gerais, e de outro, as

Competências Específicas. As primeiras estão divididas em seis temáticas: atenção à saúde,

tomada de decisões, comunicação, liderança, administração e gerenciamento, educação

permanente. As segundas concernem às competências e habilidades específicas

determinadas por cada curso em particular. Dessa forma, a análise dos dados procurou

sempre remeter-se às orientações presentes nesses documentos, a fim de avaliar se a

formação desses médicos para atuar na APS está (ou não) contemplada neste processo.

A análise do PPP foi feita mediante a identificação de suas proposições à luz das

DCN, dando maior atenção aos seguintes aspectos: a adequação do perfil do egresso; a

identificação das competências e habilidades; os conteúdos curriculares; os estágios e

atividades complementares; a organização do curso; e o acompanhamento e avaliação.

4.5. Aspectos éticos

O projeto de pesquisa foi submetido à plataforma Brasil e apreciado pelo Comitê

de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da UECE, conforme a Resolução 196/96 do

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Conselho Nacional de Saúde. A adesão como informante será expressa mediante o Termo

de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice B).

A participação na pesquisa envolve risco mínimo, uma vez que não prevê nenhum

procedimento invasivo. O possível risco está relacionado à exposição e discussão de

opiniões e conhecimentos dos sujeitos do estudo perante seus pares e/ou pessoas que, em se

tratando do serviço, se encontram em posição inferior na escala hierárquica.

O benefício do estudo diz respeito à contribuição que individualmente o

informante pode dar para a formação profissional, uma vez que as experiências e vivências

relatadas subsidiarão a reflexão teórica na busca do aperfeiçoamento da formação

proporcionada pelos cursos de saúde.

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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1. Análise do Projeto Político Pedagógico do curso de Medicina da UFC

As Diretrizes Curriculares Nacionais flexibilizam as organizações curriculares,

possibilitando a construção de projetos políticos pedagógicos contemporâneos e

consonantes com o Sistema Único de Saúde brasileiro. O curso de graduação em Medicina

da UFC começou a buscar remodelar seu projeto político pedagógico de forma a atender às

exigências das Diretrizes Curriculares Nacionais, buscando a formação de um profissional

médico com atuação generalista, humanista, crítica e reflexiva, apto a atuar no processo

saúde-doença em seus diferentes níveis de atenção, guardando coerência com o perfil

epidemiológico da população, pautado em princípios éticos, de forma a promover a saúde

integral do ser humano.

5.1.1 Concepções e objetivos do curso

A concepção do novo currículo levou em conta a necessidade de atender os dois

grandes desafios que a sociedade impõe à Universidade: crescimento e aprimoramento. O

modelo pedagógico vigente anteriormente foi considerado inadequado pela comunidade

interna da UFC, pois ele falhava na missão de formar profissionais com o perfil que a

sociedade – atravessada por mudanças nos perfis sociais e epidemiológicos – necessita. A

sociedade demanda por medidas preventivas mais eficientes e, portanto, exige um médico

formado com competências para lidar com os agravos mais comuns à saúde, e que detenha

particularmente uma postura humana e ética.

O curso de Medicina da UFC tem como objetivo graduar um médico apto a exercer

suas atividades nos vários níveis de atenção à saúde, agregando à sua formação conhecimentos

técnicos, científicos e humanísticos. Este profissional deve apresentar a habilidade de

identificar, conhecer e vivenciar os problemas de saúde do indivíduo e da comunidade, bem

como de participar da elaboração da solução dos problemas encontrados, usando seu saber

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com criatividade e mantendo o espírito crítico-científico, sempre respeitando os princípios

éticos.

O novo currículo foi elaborado com o intuito de conferir à missão de educar uma

concepção mais abrangente, implicada na construção da cidadania e na diminuição da

distância entre a produção do saber e as necessidades da população. A criação do novo

currículo não teve pretensão em desenvolver um modelo definitivo, “engessado”; muito ao

contrário, o currículo novo deve possibilitar um aprendizado dinâmico de modo que seus

princípios orientadores possam ser repensados, reformulados e ressignificados ao longo do

tempo.

O novo modelo pedagógico preza pela construção do conhecimento, estimula o

processo de aprender a aprender, substitui a memorização dos conteúdos pelo processamento

de ideias, e tem como objetivo o compromisso do médico com o ser humano num cuidado

longitudinal e integral, pautado na promoção da saúde e na prevenção da doença. O

profissional que estava se graduando no modelo anterior de currículo apresentava uma

formação inadequada para atender às demandas da sociedade, visto que esse modelo era

pautado no paradigma flexneriano – ou seja, apresentava uma estrutura fragmentada, centrada

em atividades hospitalares e negligenciava as atividades preventivas e de promoção da saúde

no contexto individual e comunitário, dentre outras lacunas que comprometiam a formação de

um profissional nos moldes necessários às necessidades da sociedade.

O projeto político pedagógico aponta a Educação Permanente como processo

essencial para a aprendizagem ininterrupta do médico, que não se esgota na graduação,

devendo-se favorecer, portanto, a flexibilização do saber médico, bem como sua capacidade

de adaptação às situações do mundo do trabalho. O PPP pauta a formação médica em

competências, ou seja, a construção do conhecimento é direcionada para o desenvolvimento de

atitudes e habilidades nos discentes.

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5.1.2. Coerência entre o PPP do curso de Medicina da UFC e o que as DCN recomendam

para o perfil médico

O PPP define que, para um curso de graduação, o currículo representa um conjunto

planejado de atividades que conduzem os alunos ao longo do período de formação. É por meio

de todo esse processo que a IES cumpre sua missão. Trata-se de um processo dinâmico, aberto

às transformações, nunca cristalizado, em permanente construção, que requer, para a sua

adequada implantação e desenvolvimento, um acompanhamento e aperfeiçoamento que conte

com a participação ativa de todos os sujeitos envolvidos em quaisquer de suas atividades.

O modelo pedagógico abrange todos os aspectos relacionados ao processo de ensino-

aprendizagem, não se limitando apenas às disciplinas. O currículo então abarca na sua

estrutura: os objetivos do curso; as competências a serem desenvolvidas pelos estudantes; as

metodologias de ensino utilizadas; os recursos pedagógicos disponíveis; as atitudes de

discentes, docentes, funcionários e detentores de cargos da administração na Universidade; os

ambientes de treinamento; a distribuição da carga horária no currículo; os conteúdos propostos

para as disciplinas; as atividades de pesquisa e extensão existentes; e quaisquer outros fatores

que contribuam para o processo de aprendizagem.

O novo currículo do curso de Medicina da UFC apresenta uma estrutura geral

composta por 12 semestres, sendo que os dois últimos anos correspondem ao internato. O

currículo apresenta um ciclo básico e um ciclo profissional, o que pode acabar se configurando

num desafio pedagógico para o novo modelo, pois pode haver pouca integração entre ambos

os ciclos. Para contornar essa possível dissociação entre os ciclos, uma estratégia que consta

no projeto pedagógico é a de trazer aspectos da clínica para o conteúdo do ciclo básico e

inserir temas das disciplinas básicas na clínica. Outra estratégia a se considerar é convidar

docentes dos outros módulos para estabelecer uma maior integração entre os ciclos.

A estrutura do currículo é modular, de modo que cada módulo representa uma

unidade didática composta por disciplinas que devem trabalhar de forma articulada. Essa

estrutura possibilita uma concentração maior dos alunos sobre um determinado assunto e

permite que as turmas numerosas de alunos se dividam em grupos menores, na tentativa de

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melhorar a relação professor-aluno e de tornar mais eficiente o processo ensino-aprendizagem.

A organização dos assuntos por sistemas dispostos em módulos consecutivos é uma tentativa

de facilitar a integração entre as disciplinas no sentido de alcançar os objetivos propostos. Os

tipos de módulo são: sequenciais, longitudinais e optativos.

Os módulos sequenciais se desenvolvem um por vez no ciclo básico, enquanto que,

no ciclo profissional, dois módulos se desenvolvem simultaneamente. Os conteúdos essenciais

(nucleares) obrigatórios estão contidos nos módulos sequenciais, nos módulos longitudinais, e

no internato (Anexo B). Os conteúdos complementares são oferecidos em disciplinas eletivas.

O módulo longitudinal subdivide-se em Desenvolvimento Pessoal (DP) e Assistência

Básica em Saúde (ABS). O primeiro reúne assuntos relacionados aos aspectos humanísticos da

Medicina, e o outro agrega aspectos da Saúde Coletiva e da Atenção Básica.

O módulo longitudinal de DP agrega as disciplinas relacionadas à Ética, à Psicologia

e às Ciências Sociais, e tem por objetivo estimular nos alunos o compromisso com a defesa da

vida, para que possam desenvolver suas atividades e tomar decisões a partir de valores e

convicções éticas e morais. Isto requer não só a aquisição de conhecimentos, m as,

principalmente, o desenvolvimento de habilidades e atitudes que favoreçam uma visão integral

do ser humano.

A presença desse módulo segue na direção do que está sendo recomendado nas DCN

quando explicitam que o currículo deve estar comprometido com o paradigma da defesa da

vida e, para tanto, tem que ser composto por disciplinas que estimulem um perfil médico

capaz de desenvolver as suas atividades e de tomar decisões pautadas a partir de valores e

convicções éticas e morais. Estimula-se a formação de um médico que auxilie os parceiros a

guiarem-se por valores éticos e morais e que se sinta gratificado em prestar atendimento ao

enfermo, sendo um profissional parceiro das pessoas em busca da saúde e que pesquise

soluções que reforcem a defesa da vida. As disciplinas Evolução Histórica, Científica e Ética

da Medicina; Psicologia do Desenvolvimento Humano; Saúde, Cultura e Sociedade;

Psicologia Médica; Bioética e Cidadania; Psicopatologia; Saúde Comunitária; e

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Medicina Legal e Deontologia Médica do módulo de DP trazem elementos que podem

contribuir na formação do novo perfil médico, como é recomendado nas DCN.

O módulo longitudinal de ABS abarca temas relacionados à Medicina Social e à

Atenção Primária e Secundária em Saúde, objetivando o conhecimento da realidade

socioeconômico-cultural do nosso meio, principalmente os aspectos ligados à saúde, de modo

que os alunos desenvolvam uma visão coletiva destes problemas, atuando como parceiros das

pessoas em busca da saúde e contribuindo para uma sociedade mais sadia e justa.

O objetivo maior desse módulo de ABS é tornar o médico um cidadão comprometido

com as transformações da sociedade, contemplando a proposta presente nas DCN, que

apontam para a importância do currículo apresentar disciplinas que possibilitem desenvolver

atividades que estejam voltadas para as necessidades da comunidade. O currículo pautado

dessa forma evoca um perfil de médico comprometido com as transformações sociais e que

detenha uma compreensão do paciente e dos seus problemas de saúde no seu contexto social,

cultural, familiar e econômico. Para isso, o médico deverá conhecer a realidade

socioeconômica-cultural do meio em que atua, principalmente os aspectos ligados à saúde.

Deverá apresentar também uma visão holística do ser humano e analisar permanentemente o

ambiente em que atua, aproveitando as oportunidades para propor implantação de alternativas

que conduzam a melhorias sociais. Esse módulo se desenvolve a cada semestre e suas

disciplinas procuram contemplar algumas características requisitadas à formação recomendada

pelas DCN.

O PPP do curso de Medicina da UFC afirma que o perfil médico deve ter uma

formação abrangente nos três níveis de atuação, conforme é orientado nas DCN. O currículo

deve estabelecer oportunidades de aprendizagem aos discentes nos três níveis de atenção à

saúde e espera-se que, com a experiência vivenciada nessas disciplinas do módulo de ABS, os

futuros médicos adquiram qualificação para resolver os problemas associados às doenças mais

prevalentes, tornando-se aptos para trabalharem também em comunidades com recursos

médicos limitados.

A proposta do novo currículo consiste em diversificar ao máximo os cenários de

prática, bem como em estimular a integração das disciplinas. O currículo prioriza, desde o

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início da graduação, a aplicação prática do conhecimento que foi construído, expondo os

discentes às reais necessidades de saúde da população, através de sua presença na

comunidade, como acontece na disciplina de Fundamentos da Prática e da Assistência Médica,

por exemplo, que insere os alunos na rotina de uma UBS logo no primeiro semestre. Essa

estratégia busca favorecer o pensamento crítico, habilitar para a argumentação e a tomada de

decisões, bem como estimular o seu compromisso com a transformação social.

O modelo pedagógico atual procura estimular no perfil médico o comprometimento

com seu autodesenvolvimento, a adoção de uma postura crítica e reflexiva acerca do seu

aperfeiçoamento pessoal e profissional. O médico deve ser capaz de trabalhar em equipe,

inclusive interdisciplinar, e saber valorizar o trabalho e o esforço de todas as pessoas do seu

grupo na busca da saúde. Com base nas situações surgidas em sua área de atuação, o médico

deve desenvolver atitudes de liderança em alguns momentos e de componente de uma equipe

em outros, ou seja, deve ter condições de perceber quando e como deve assumir a liderança da

situação e também quando deve assumir o papel de liderado. Liderança é uma competência

geral importante e está recomendada pelas DCN.

O Artigo 3º das DCN afirma que:

O graduado em Medicina terá formação geral, humanista, crítica, reflexiva e ética, com capacidade para atuar nos diferentes níveis de

atenção à saúde, com ações de promoção, prevenção, recuperação e

reabilitação da saúde, nos âmbitos individual e coletivo, com responsabilidade social e compromisso com a defesa da cidadania, da

dignidade humana, da saúde integral do ser humano e tendo como transversalidade em sua prática, sempre, a determinação social do

processo de saúde e doença (BRASIL, 2001).

A partir do perfil médico descrito nesse artigo, pode-se constatar que o PPP do curso

de Medicina da UFC busca equilibrar as disciplinas focadas no modelo biológico com as que

abordam o social. A maioria das disciplinas, no entanto, ainda é voltada apenas para o modelo

assistencial e hospitalar. Isso pode ser percebido dimensionando a carga horária das

disciplinas dos módulos de ABS e de DP, as quais apresentam aspectos voltados para a

formação do perfil médico descrito pelas DCN.

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Abaixo estão representadas em tabela as disciplinas que compõem esses dois

módulos. Observa-se na tabela a carga horária de cada disciplina em relação à carga horária

total do curso de Medicina. A carga horária total do curso de Medicina é de 9.080 horas, as

disciplinas que tem relação com a formação para APS somam ao todo 2.016 horas, o que

representa apenas 22, 20% do curso. Essas disciplinas podem contribuir para a transformação

do perfil médico, agregando competências que são recomendadas nas DCN, mas que ainda

tem menor representatividade na proposta curricular, conforme mostra os porcentuais na

tabela abaixo.

Tabela 1. Disciplinas e respectivas cargas horárias em relação com a APS do curso de

Medicina da UFC.

DISCIPLINA CARGA HORÁRIA (%)

Fundamentos da Prática e da Assistência Médica 68 hs = 0,74

Diagnóstico de Saúde da Comunidade 72 hs = 0,79

Epidemiologia e Bioestatística 72 hs = 0,79

Saúde Comunitária 72 hs = 0,79

Assistência Básica à Saúde da Criança 64 hs = 0,70

Assistência Básica à Saúde da Criança e da Gestante 64 hs = 0,70

Assistência Básica à Saúde do Adulto I 64 hs = 0,70

Assistência Básica à Saúde do Adulto II 64 hs = 0,70

INTERNATO EM SAÚDE COMUNITÁRIA 936 hs =10,30

Evolução Histórica, Científica e Ética da Medicina 68 h = 0,74

Psicologia do Desenvolvimento Humano 72 hs = 0,79

Saúde, Cultura, Ambiente e Trabalho 72 hs = 0,79

Psicologia Médica 72 hs = 0,79

Bioética e Cidadania 64 hs = 0,70

Psicopatologia 64 hs = 0,70

Medicina Preventiva 64 hs = 0,70

Medicina Legal e Deontologia Médica 64 hs = 0,70

Total 2.016 hs = 22,20

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O artigo 4º das DCN caracteriza as competências e habilidades nas áreas: atenção

à saúde, tomada de decisões, comunicação, liderança, administração e gerenciamento e

educação permanente. Atenção à saúde é uma competência que se refere aos profissionais

de saúde dentro de seu âmbito profissional, os quais devem estar aptos a desenvolver ações

de prevenção, promoção, proteção e reabilitação da saúde, tanto em nível individual quanto

coletivo. Cada profissional deve assegurar que sua prática seja realizada de forma integrada

e contínua com as demais instâncias do sistema de saúde, sendo capaz de pensar

criticamente, de analisar os problemas da sociedade e de procurar soluções para os mesmos.

Os profissionais devem realizar seus serviços dentro dos mais altos padrões de qualidade e

dos princípios da ética/bioética, tendo em conta que a responsabilidade da atenção à saúde

não se encerra com o ato técnico, mas sim com a resolução do problema de saúde, tanto em

nível individual como coletivo.

O trabalho dos profissionais de saúde deve estar fundamentado na capacidade de

tomar decisões visando o uso apropriado, a eficácia e o custo-efetividade da força de

trabalho, de medicamentos, de equipamentos, de procedimentos e de práticas. Para este

fim, os mesmos devem possuir competências e habilidades para avaliar, sistematizar e

decidir as condutas mais adequadas, baseadas em evidências científicas.

Com relação à comunicação, recomenda-se que os profissionais de saúde devam

ser acessíveis e devam manter a confidencialidade das informações a eles confiadas na

interação com outros profissionais de saúde e com o público em geral. A comunicação

envolve comunicação verbal, não-verbal e habilidades de escrita e leitura. É apreciável o

domínio de pelo menos uma língua estrangeira e de tecnologias de comunicação e

informação.

Liderança é uma competência no trabalho em equipe multiprofissional na qual os

profissionais de saúde deverão estar aptos a assumir posições de liderança, sempre tendo

em vista o bem-estar da comunidade. A liderança envolve compromisso, responsabilidade,

empatia, habilidade para a tomada de decisões, comunicação e gerenciamento de forma

efetiva e eficaz.

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Os profissionais devem estar aptos a tomar iniciativas quanto ao gerenciamento e à

administração tanto da força de trabalho quanto dos recursos físicos e materiais, e de

informação, da mesma forma que devem estar aptos a serem empreendedores, gestores,

empregadores ou lideranças na equipe de saúde.

Educação permanente é um processo em que os profissionais devem ser capazes

de aprender continuamente, tanto na sua formação, quanto na sua prática. Desta forma, os

profissionais de saúde devem aprender a aprender e ter responsabilidade e compromisso

com a sua educação e o treinamento/estágios das futuras gerações de profissionais. O

compromisso com a Educação Permanente deve ocorrer proporcionando condições para

que haja benefício mútuo entre os futuros profissionais e os profissionais dos serviços,

inclusive estimulando e desenvolvendo a mobilidade acadêmico/profissional, a formação e

a cooperação por meio de redes nacionais e internacionais (BRASIL, 2001).

As disciplinas do curso de Medicina da UFC foram analisadas segundo o conteúdo

das suas ementas. Buscou-se encontrar nas ementas algum aspecto que contemplasse as

competências e habilidades gerais supracitadas, como está representado no Anexo D. Do

total de 59 disciplinas da estrutura curricular que tiveram suas ementas analisadas, 39

apresentaram aspectos que contribuem para a competência da Atenção à Saúde, 4 para a

Tomada de decisão, 6 para a Comunicação, 2 para a Liderança, 0 para Administração e

Gerenciamento e 0 para Educação Permanente.

Faz-se necessário repensar a forma como estão escritas as ementas das disciplinas

do curso e direcioná-las no sentido de explicitar nos seus conteúdos alguns termos que

contemplem o que está recomendado nas competências e habilidades gerais das DCN. Essa

análise feita apenas pelo que está escrito no conteúdo das ementas tem limitações, pois

pode acontecer, por exemplo, de uma competência como a Liderança, a qual teve seus

aspectos explicitados em apenas duas ementas, ser estimulada na prática, na realidade do

serviço de saúde que recebe os estudantes inseridos em uma outra disciplina, que deixou de

explicitar essa competência na ementa. Ou seja, pode haver disciplinas que insiram o

estudante num trabalho em grupo, multiprofissional, e que facilitem o desenvolvimento da

Liderança, dentre outras competências gerais preconizadas pelas DCN, mas que, no

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entanto, não explicitam os aspectos do trabalho em equipe e da multiprofissionalidade, por

exemplo, nas suas ementas.

As competências gerais de Administração e Gerenciamento e a de Educação

Permanente não apresentaram aspectos explícitos nas ementas, o que requer atenção da

comunidade acadêmica para avaliar de que forma esses discentes irão adquirir essas

competências ao longo do curso, pois são atributos imprescindíveis para sua formação. É

necessário analisar se há disciplinas que evocam o desenvolvimento dessas competências

para que se atualizem as ementas do PPP.

O artigo 5º das DCN aborda a formação para o SUS e indica que, a partir dessas

competências, a formação médica deverá contemplar o sistema de saúde vigente no país, a

atenção integral da saúde num sistema regionalizado e hierarquizado de referência e contra-

referência e o trabalho em equipe. O PPP apresenta, em sua estrutura, as disciplinas do

módulo de ABS, que possuem práticas integradas ao SUS, contemplando o que é

preconizado no artigo 5º, ou seja, uma vivência que aproxima o aluno do atendimento ao

sistema de saúde vigente bem como da atenção integral à saúde e do trabalho em equipe.

As DCN estabelecem no seu artigo 7º a obrigatoriedade do estágio curricular

supervisionado, ou seja, o internato será um treinamento em serviço e deverá contar com

carga horária mínima de 35% da carga horária total da graduação em medicina. As DCN

recomendam que no internato haja vivências nas áreas de Clínica Médica, Cirurgia,

Ginecologia-Obstetrícia, Pediatria e Saúde Coletiva, com atividades no primeiro, segundo e

terceiro níveis de atenção em cada área. O Anexo B mostra o quadro com todas as

disciplinas do currículo do curso de Medicina da UFC. O internato está presente, com

duração de 23 meses, sendo um mês de férias e um mês de estágio eletivo, contemplando

então a atuação na Clínica Médica, na Saúde Comunitária, na Cirurgia, na Pediatria e na

Tocoginecologia, o que ao todo soma 4.488 horas de internato, correspondendo a 49,42%

da carga horária total do curso. Dessa forma, o PPP está de acordo com a carga horária

recomendada para o internato, pois atingiu mais do que o mínimo de 35%, e os estágios são

realizados nos três níveis de atenção à saúde, embora a maioria das atividades ainda seja

desenvolvida em ambientes ambulatoriais e hospitalares.

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O artigo 9º das DCN recomenda que haja um Projeto Político Pedagógico

construído coletivamente e que seja centrado no aluno. O PPP foi construído de forma

coletiva pela comunidade interna da Faculdade de Medicina da UFC. Na reformulação do

currículo, o PPP teve como base as DCN e também uma pesquisa feita com discentes, a

partir da qual se consideraram sugestões que emergiam para aprimorar o modelo

pedagógico, principalmente em relação à incorporação do internato, que surgia como uma

lacuna necessária a ser preenchida na formação dos alunos. Por outro lado, o PPP, em sua

construção, não contou com a participação dos profissionais dos serviços de saúde, o que

dificulta a integração do mundo acadêmico com o mundo do trabalho.

As DCN afirmam a importância de o professor atuar como um mediador e

facilitador do processo ensino-aprendizagem, visando uma formação integral e adequada

do estudante por meio de uma articulação entre o ensino, a pesquisa e a

extensão/assistência. Analisando-se o PPP, fica evidente que o documento não teve como

objetivo apenas a mudança da proposta curricular, mas a mudança na filosofia e nas

estratégias pedagógicas a fim de se formar um médico que possa atender melhor às

demandas da sociedade.

O PPP ressalta o estímulo à capacitação docente, numa busca de exercer a

transdisciplinaridade, a interdisciplinaridade e o trabalho em equipe multiprofissional. O docente

deverá acolher ideias e propor novas metas educacionais, tendo o livre arbítrio para escolha das

metodologias de ensino em cada módulo ou disciplina. Entretanto, é possível que, por despreparo

em sua formação, alguns docentes possam usar dessa liberdade concedida pelo PPP para reproduzir

práticas pedagógicas centradas no professor, com metodologias de depósito de conteúdo e não de

problematização, dentre outras estratégias pedagógicas que dialoguem com os saberes dos

discentes, dos pacientes e com o contexto no qual estão inseridos.

O PPP do curso de Medicina da UFC apresenta em sua estrutura curricular espaço

com horários livres e incentiva a realização, nesses horários, de atividades complementares

à formação como, por exemplo, atividades de pesquisa, de extensão e de iniciação à

docência, as quais contribuem para a formação integral e articulação entre ensino, pesquisa

e extensão/assistência.

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5.1.3. Sistema de avaliação

No artigo 32 das DCN está determinado que:

O Curso de Graduação em Medicina deverá utilizar metodologias ativas e

critérios para acompanhamento e avaliação do processo ensino-aprendizagem e do próprio curso, bem como desenvolver instrumentos

que verifiquem a estrutura, os processos e os resultados, em consonância com o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES) e

com a dinâmica curricular definidos pela IES em que for implantado e desenvolvido (BRASIL, 2001).

O PPP do curso de Medicina da UFC descreve a avaliação como um instrumento

de fundamental importância, devendo ser planejada de forma periódica, visto que a

estrutura curricular é dinâmica, fazendo uso de instrumentos metodológicos adequados,

visando acompanhar o PPP, os docentes e os discentes. Deve-se incluir nesse processo

avaliativo a participação de todos de docentes, discentes, funcionários técnico-

administrativos e consultores externos que estão envolvidos na avaliação nos seguintes

aspectos:

Objetivos educacionais: quanto a sua adequação e se estão sendo atingidos;

Processo ensino-aprendizagem: quanto aos métodos educacionais, conteúdo, ambientes e

o próprio sistema de avaliação;

Discentes: quanto à aquisição de conhecimentos, habilidades e atitudes realizada na

avaliação de desempenho em cada módulo. Deve ser feita também uma avaliação formativa

no decorrer do módulo, não computada para as notas, que oriente o aluno quanto ao seu

desempenho em tempo hábil de modo que possibilite uma correção;

Docentes: quanto ao seu desempenho nas atividades de ensino, pesquisa e

extensão; Instituição: quanto à sua estrutura organizacional e processo gerencial.

O PPP pretende realizar uma avaliação que adquira uma função educativa, que

tenha caráter formativo ao possibilitar que o discente avalie seu processo de aprendizagem

em cada módulo ou disciplina, sendo capaz de identificar e corrigir suas deficiências nesse

percurso.

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Verificou-se que o PPP do curso analisado procura se estruturar aproximando-se do

perfil médico proposto pelas DCN, pois inclui inovações na organização curricular e no

processo de ensino-aprendizagem. Apresenta, em toda sua estrutura, uma preocupação com a

formação de um médico generalista, humanista e eticamente comprometido com as

necessidades sociais. Esse modelo procura estimular nos discentes, principalmente nas

disciplinas dos módulos de ABS e de DP, competências gerais e habilidades que, embora não

estejam bem explicitadas no ementário das disciplinas (representando uma carga horária

pequena em relação ao total do curso), suscitem transformações no saber fazer, saber ser e

saber conviver de cada futuro profissional.

5.2. Caracterização dos sujeitos do estudo

Em relação às características dos sujeitos do estudo, destacam-se o perfil

sociodemográfico, o local e tempo de atuação na APS, a categoria do vínculo empregatício

e a carga horária, o ano de conclusão da graduação, o fato de terem ou não realizado pós-

graduação, em que áreas da saúde atuaram, e se há envolvimento com atividades

sociopolíticas.

Os egressos do curso de graduação em Medicina da UFC que participaram do

estudo totalizaram 10 sujeitos. O público era em sua maioria homens, representando 8 dos

entrevistados. Em relação à faixa etária, eram adultos, 2 com idade entre 25 a 30 anos, e 8

com idade igual ou maior a 30 anos. Em relação à etnia/cor, 6 se autodeclararam brancos,

enquanto que 4 se autodeclararam pardos. Sobre o estado civil, todos afirmavam ser

casados.

No que se refere ao local de trabalho, todos atuam em UBS em Fortaleza. Em

relação ao tempo de atuação no serviço de saúde atual, os dados da pesquisa revelam que 1

atua há seis anos na mesma unidade de saúde, 4 entre 6 e 7 anos e 5 atuam entre 8 e 9 anos

no mesmo local. Quando perguntados acerca do tempo que atuam como profissional de

saúde, metade deles respondeu que atuam há mais de dez anos e os demais atuam há quatro

anos, pelo menos. Quanto à carga horária que desempenham no serviço, 2

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afirmaram que exercem trinta e duas horas semanais e os demais realizam no serviço

quarenta horas por semana. Com relação ao vínculo empregatício, 8 são concursados e os

demais são bolsistas do Programa Mais Médicos.

Quando indagados em relação ao ano de conclusão da graduação em Medicina na

UFC, 6 concluíram o curso entre os anos de 2003 e 2005 e 4 entre os anos 2010 e 2011. A

maioria dos entrevistados, o equivalente a 6 deles, já concluiu uma pós-graduação e, desses,

cinco são egressos da Residência de Família e Comunidade e um realizou Residência em

Otorrinolaringologia. Ainda desse grupo, dois entrevistados apresentam mais de uma pós-

graduação, além de terem concluído a RMFC. Um deles afirmou que concluiu o Mestrado

em Saúde Pública, e outro é especialista em Medicina do Trabalho.

Todos os sujeitos do estudo atuam na ESF, sendo que 8 começaram a atuar na

APS, primeiramente, no interior do Ceará. Em relação a outras áreas de atuação na saúde, 5

desenvolveram trabalhos no setor de Urgência/Emergência, 1 trabalhou com Medicina

Legal, 1 no setor de Otorrinolaringologia, os demais começaram a atuar, desde recém-

formados, na ESF.

Com relação à participação em atividade sociopolítica, 7 dos egressos do curso de

Medicina da UFC relataram ter envolvimento com pelo menos uma atividade. Dois

afirmaram estar vinculados às entidades comunitárias, um relatou participação em um

partido político, três participaram do movimento estudantil durante a graduação, quatro

participam de organizações religiosas e dois estão envolvidos em associações e sociedades

científicas; foram citadas a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT), a

Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC) e a Associação

Cearense de Medicina de Família e Comunidade (ACEMFC).

De maneira geral, os sujeitos desse estudo se caracterizam por terem, em sua

maioria, uma formação voltada para a APS, visto que são egressos da RMFC, e por serem

profissionais de saúde envolvidos com movimentos de cunho sociopolítico. Esse grupo

apresenta médicos que se formaram no período em que estava ocorrendo a transição do

currículo antigo para o novo no curso de Medicina da UFC, por volta de 2003. Há também

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entrevistados que concluíram o curso em 2010-2011, e tiveram contato com o currículo

novo durante os seis anos de graduação. Essas diferentes vivências curriculares originam

distintas percepções acerca da formação acadêmica de cada um, e essas diferentes visões de

como foram formados para atuarem atualmente na Rede de APS em Fortaleza serão

analisadas e discutidas no tópico seguinte.

5.3. O olhar médico sobre sua formação acadêmica para a APS

Esse tópico busca realizar uma análise das impressões dos egressos médicos da

UFC que foram entrevistados acerca do seu processo formativo para atuarem na APS.

Buscam-se identificar, a partir do conteúdo de suas falas, as concepções que detêm sobre de

que maneira a graduação contribuiu ou não para atuarem na ESF: quais disciplinas do

currículo agregaram aspectos importantes à prática médica na APS; que críticas eles

elaboram a respeito da formação que tiveram na graduação; e quais sugestões dariam para o

aprimoramento dos processos formativos voltados às necessidades do SUS.

Esses aspectos presentes nas percepções dos egressos serão analisados a partir de

duas categorias de análise que serão discutidas a seguir.

5.3.1. Percepções dos egressos acerca da organização pedagógica utilizada nas disciplinas

de ABS

Como foi descrito na caracterização dos sujeitos de pesquisa anteriormente, parte

dos egressos entrevistados formou-se na transição do currículo antigo para o novo. Desse

modo, nas suas falas, percebe-se que a formação para a APS era pouco incentivada no

modelo curricular antigo, como relata o profissional a seguir:

“... peguei a transição entre o currículo antigo e o modelo atual. No currículo antigo, faltou muita coisa, principalmente relacionado à saúde pública. Pouca coisa da graduação eu aproveitei depois. Eu aproveitei mais na Residência. A graduação é muito voltada para o hospital. Pode

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ser que tenha melhorado, mas na minha época, era muito hospitalar e direcionado para especialidade” (Profissional 4).

O entrevistado compreende que sua formação na estrutura curricular antiga era

inadequada para torná-lo apto a atuar na APS, e que suas lacunas formativas foram

preenchidas com saberes que adquiriu ao realizar a RMFC. Sua formação curricular era

pautada no paradigma flexneriano, voltada para práticas hospitalocêntricas como também

evidencia o Profissional 1:

“... na época que eu fiz minha graduação, a gente não tinha as cadeiras

de que eles chamam hoje de ABS, a gente tinha as cadeiras da grade, da formação mesmo, antiga, dos grandes sistemas, tinha tantos créditos em

cardiologia, tantos créditos na reumatologia, na ortopedia, mas não tinha

um olhar pra atenção primária, então assim, mesmo nos últimos anos da graduação, quando a gente passa pelo internato, tudo isso era muito

voltado pro hospital...” (Profissional 1).

Em relação às estratégias pedagógicas e organizacionais adotadas nas disciplinas

iniciais do módulo longitudinal de ABS, surgem algumas críticas, como se percebe na fala

do seguinte profissional:

“É importante você contextualizar o aluno dentro do sistema de saúde que ele tá entrando ou já entrou, então é importante ter essas cadeiras no início, mas o processo pelo qual me foi passado foi mais aquele negócio “professor- lousa e alunos”, mais estático, mais sacal, a lei 8080, a lei num sei o quê, então pra aquele aluno que tá entrando na faculdade, aquilo é meio distante, meio solto e o aluno mesmo ali só quer decorar pra poder passar pelas provas. Acaba que não amadurece, não interioriza o quanto aquilo vai ser importante mais lá na frente.” (Profissional 1).

Esse relato do médico evidencia a presença de práticas docentes ancoradas na

pedagogia tradicional, a qual é descrita por Pereira (2003) como uma tendência na qual as

ações de ensino estão centradas na exposição dos conhecimentos pelo professor, então visto

como um organizador dos conteúdos e estratégias, responsável por conduzir todo o

processo educativo. Dessa forma, há predominância da exposição oral dos conteúdos para

posterior memorização dos mesmos. Nessa forma de ensino, os conteúdos e procedimentos

didáticos não estão relacionados ao cotidiano do aluno, tampouco às realidades sociais.

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É o que Paulo Freire denominou de educação “bancária”, pois o aluno, nesse

molde, é reduzido a um depósito passivo de informações transmitidas pelo professor. A

consciência bancária “pensa que quanto mais se dá, mais se sabe” (FREIRE, 2001). Mas a

experiência mostra que neste sistema só se formam indivíduos medíocres, por não haver o

estímulo para a criação. Deve-se adotar a pedagogia crítica, problematizadora, como

método de ensino, na qual o docente está no mesmo nível dos alunos e na qual o ensino

será baseado no diálogo entre ambos, e a partir dessa relação dialógica é que o

conhecimento será produzido.

Na concepção de alguns egressos, foi apontado como um desafio o fato das

disciplinas do módulo de ABS apresentarem como coordenadores especialistas de outras

áreas, e que não atuavam na APS, como é relatado pelo profissional a seguir:

“Nos primeiros semestres, acho que até o quarto semestre, eram cadeiras mais relacionadas com a parte teórica da APS, abordagem do SUS, dos

princípios, foram boas, os professores geralmente davam atenção pra

gente. O grande problema foi nos últimos semestres, nas práticas, porque as práticas eram coordenadas por especialistas que não têm atuação na

APS, e inclusive nos últimos semestres sempre havia avaliação das disciplinas e sempre essas disciplinas relacionadas à APS eram mal

avaliadas.” (Profissional 7).

É recomendada a participação do médico especialista em MFC (com residência

médica ou título de especialista na área) no quadro de docentes e preceptores, visando uma

proporção adequada de docentes especialistas em MFC entre os demais docentes

universitários. Assim, torna-se possível uma adequação ao modelo pedagógico proposto

pelas DCN, que é voltado para formação de um perfil médico que atenda às necessidades

de saúde da população (DEMARZO et al, 2011). Essa recomendação de equilibrar o

quadro docente e de preceptores com formação em MFC só tem a contribuir no

aprimoramento das disciplinas de ABS, para que não ocorra esse mal direcionamento da

prática na APS como é apontado pelo profissional 3:

“... a gente tem poucos médicos de família, na UFC, na graduação ou no internato, e a gente tem poucos, além de ter poucos lá, a gente tem poucos médicos de família na chefia do departamento, na chefia de

cabeça, isso aí também contribuiu muito pra uma visão enviesada da atenção primária.” (Profissional 3).

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A preceptoria médica das disciplinas de ABS constitui-se num desafio, como foi

relata-se a seguir:

“... a pessoa que me recebeu lá no posto não entendia direito o que é que aquela gente tava fazendo ali, e às vezes botava a gente pra ficar pesando as crianças na sala de sinais vitais, então era assim, um negócio muito solto, e confesso que pouco proveito tirei daquilo...” (Profissional 1).

Esse relato expõe algumas falhas no processo organizacional das disciplinas que

devem ser avaliadas para sua melhoria. A primeira falha é o desconhecimento, o despreparo

dos preceptores do território. Muitos são médicos do serviço que foram escolhidos por

acaso, sem um alinhamento pedagógico anterior com a IES para que pudessem

compreender que o papel do preceptor é propor, viabilizar e problematizar atividades que

façam sentido para o estudante, para a unidade de saúde e para os usuários, e para que,

assim, agreguem elementos relevantes à produção do perfil profissional

(FEUERWERKER, 2011). Outra falha é a ausência de planejamento, ou seja, a

universidade deve capacitar os preceptores e construir junto ao serviço de saúde um plano

de atividades a serem desempenhadas pelos discentes durante o período da disciplina.

Cerqueira afirma que a interação preceptor e discente na APS traz a possibilidade

de se produzir, a cada encontro, um saber inédito sobre o doente, sua doença e sua vida.

Esse conhecimento pode gerar conexões entre as competências e as tecnologias a cada vez

que é acionado, e como resultado pode possibilitar um saber mais completo e complexo

sobre a vida das pessoas e sobre o agir em saúde, contribuindo assim para uma formação na

qual teoria e prática se tornem indissociáveis, de modo que o mundo acadêmico e o mundo

do trabalho operem em rede (CERQUEIRA, 2011).

O módulo de ABS insere os alunos no território desde o primeiro semestre com a

disciplina Fundamentos da Prática e da Assistência Médica. A pesquisa mostrou

concepções positivas a respeito dessa disciplina como está apontado na fala abaixo:

“... me ajudou também, a ter uma vivência na unidade de saúde, ter ideias de

equipamentos da saúde dentro da comunidade, eu lembro da gente ter visto o

pré-natal, lembro de outros atendimento.” (Profissional 2).

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Surgiram também críticas em relação à inserção no território ocorrer no início do

curso e demorar vários semestres para uma nova inserção dos discentes no território da

ESF. Essa descontinuidade da inserção discente na lógica do território da ESF é

considerada inadequada como é apresentado no relato a seguir:

“... a faculdade deveria organizar melhor as disciplinas de ABS e torná-las mais práticas, com vivências reais nas UBS, e não só mandar os

estudantes lá e esperar que vão aprender alguma coisa, que vão se

comprometer. Nós vivemos num país tão carente, nós temos um Sistema

Público que é universa,l então nós temos que formar anestesiologistas,

temos que formar cardiologista, mas a gente tem que formar muito

médico de família. E não é com o modelo atual da faculdade que você vai

ao posto de saúde no primeiro semestre e só volta no internato! Não é

assim que você vai estimular os estudantes a fazerem Medicina de

Família...” (Profissional 7).

É salutar que o ensino na APS esteja presente longitudinalmente, ao longo de todo

o curso, de preferência com inserções significativas que visem o aprendizado real que se dá

a partir do trabalho, mas que, sobretudo, deva fazer parte do núcleo de ensino da prática

clínica do futuro médico. Abaixo, está representada outra concepção que confirma a

necessidade das disciplinas com práticas na APS serem longitudinais e contínuas, presentes

a cada semestre para direcionar a formação médica ao perfil que contemple as demandas da

sociedade:

“... tem que se investir principalmente nos primeiros semestres. Na minha época, só teve saúde pública no primeiro semestre, uma disciplina, e

depois passou vários semestres até que tivesse novamente conteúdos pinçados. Tem que investir nos primeiros semestres porque a gente entra

na faculdade de medicina com pensamento hospitalar, de ter um

consultório, fazer cirurgia, fazer procedimentos de alta complexidade. E hoje eu sei que a maior parte em que vamos trabalhar não é nisso.” (Profissional 4).

Essas disciplinas da ABS devem ser inseridas de forma longitudinal e contínua

num modelo que apresente grau crescente de complexidade e, de preferência, com

atividades na APS em todos os períodos do curso. Desde o primeiro ano devem-se

desenvolver atividades envolvendo as abordagens do indivíduo, da família e da comunidade

de forma integrada.

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5.3.2. A importância da ABS para a formação médica e o território da ESF como potente

transformador

A inserção dos alunos em atividades práticas na APS desde o início da graduação

os coloca em contato com a complexidade de se atuar na ESF. Alguns egressos afirmam

que muitos estudantes quando começam a graduação possuem uma visão distorcida com

relação ao campo de prática dessas disciplinas, e tal concepção passa por transformações e

ressignificações a partir da vivência desses discentes na rotina da UBS como é relatado pelo

profissional a seguir:

“... eles chegam aqui com uma visão distorcida que vai ser um mês sacal, de que vai ser um mês só vendo escabiose e remédios de verme e na

verdade não é isso, - não têm ideia de como é a prática na ABS. Não têm

ideia e aí, depois do terceiro mês de internato, quando eles saem, muitos deles já saem pensando em talvez fortalecer a atenção primária, porque

eles viram a importância disso...” (Profissional 5).

As disciplinas do módulo de ABS devem procurar evidenciar para o estudante que

a APS se constitui num cenário de integração de práticas das diferentes áreas, campos e

núcleos de conhecimento (ciências básicas, especialidades médicas e saúde coletiva), e por

isso possui uma complexidade clínica e cultural que permitirá ao estudante lidar com

diferentes aspectos da vida e seus ciclos, atuando em nível individual e coletivo, num agir

sempre contextualizado em relação à realidade do território. Essa visão que muitos

discentes apresentam, de que o trabalho na APS é sacal, restrito a condutas terapêuticas

simples, ou até uma visão de que ao chegarem a UBS irão se deparar com uma “terra

devastada” parece comum, como é apontado no relato abaixo:

“... a formação que não ajuda também, não prepara a gente pra conhecer

essa realidade, a gente chega meio que sem conhecer essa realidade. Vou

dar um exemplo de uma aluna do internato que passou por mim, ela tem

interesse em psiquiatria e é meio integrada com a ABS. Ela, no primeiro

dia aqui, trouxe luva, abaixador de língua, álcool gel, até sabão ela

trouxe e disse que é porque passaram pra ela que aqui no SF era como

uma terra devastada, uma situação de guerra, que não tinha nada, ela até

se espantou quando viu que tinha sistema com computador, impressora.

Ela já era do internato e estava saindo ainda com essa visão da sala de

aula.” (Profissional 4).

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É importante fortalecer desde o início da graduação e sustentar ao longo do curso a

ideia da APS como um território de práticas complexas, a fim de desconstruir visões

distorcidas e restritas que alguns discentes ainda detêm. Trata-se de deixar claro que o

território da ESF é riquíssimo, e mesmo que não apresente a estrutura física ideal, ele

continuará a ser rico em sua diversidade e complexidade de ações em equipe.

Deve-se mostrar aos discentes durante as disciplinas de ABS, em sala de aula e no

território, que essa prática evoca no estudante uma compreensão da rede intersetorial de

atenção e cuidados em saúde, estimula uma prática clínica integrada, possibilitando a

interdisciplinaridade. Apontar que, ao lidar com condições e problemas complexos e

singulares de saúde, de forma contínua e longitudinal, há um aumento da resolubilidade

clínica.

Como afirma Demarzo et al, a vivência na APS deverá contribuir para conceituar a

saúde e o adoecimento, respeitando o saber do outro e o da comunidade local, tendo, nesse

diálogo de saberes, a concepção de que o conhecimento é dinâmico e está sempre em

construção. A articulação de conhecimentos e realidades favorece o desenvolvimento da

competência cultural e dialógica na comunicação em saúde (DEMARZO et al, 2011).

Pinto, Formigli e Rêgo também enfatizam a necessidade de inserção e vivência

dos alunos na rede de serviços do SUS como uma das principais estratégias para a

formação de um profissional médico mais adequado às necessidades de saúde do país; isso,

independentemente das diferentes estruturas curriculares das escolas médicas do Brasil

(PINTO, FORMIGLI & RÊGO, 2007).

Alguns egressos entrevistados pontuaram que traziam da graduação muito mais do

que as incompreensões e visões distorcidas da APS como já citado; carregavam também o

medo de estar em contato com a realidade das comunidades durante a visita domiciliar

como é evidenciado no relato abaixo:

“... na disciplina de Fundamentos, que foi a primeira, a gente conheceu a Unidade de Saúde, foi até lá no Pirambu. Lá, tive contato com a visita domiciliar. Era um pânico grande, visita domiciliar já assustava a gente. Tinha um impacto maior porque eu era recém-chegado à faculdade,

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fomos então pro território, as aulas eram na UBS, e a gente foi conhecer a rotina da unidade, vivenciamos a visita domiciliar, atendimento, vacina...” (Profissional 6).

Esse medo em fazer visita domiciliar, tal como apontado pelos estudantes, pode

começar a ser desconstruído, em parte, na própria sala de aula, quando o docente ambienta

os alunos acerca do local que irão conhecer, do modo como funciona o serviço de saúde do

lugar, e da forma como trabalha a equipe. Nessa circunstância, deve-se salientar que o

momento da visita domiciliar evoca a relação do aluno com as famílias e, desse contato,

poderá surgir um dos aspectos mais importantes no trabalho da ESF: o estabelecimento do

vínculo entre profissional de saúde e família, a construção da relação de confiança,

fundamental para o cuidado integral e longitudinal na APS.

O temor que os alunos relatam em relação à visita domiciliar pode, de um lado, ser

amenizado na medida em que aconteça, em sala de aula, uma introdução sobre o território

da APS. Por outro lado, esse sentimento de pânico diante do que é desconhecido vai se

esvaindo ao passo que os alunos vão se inserindo na rotina das equipes de saúde e

conhecendo a estrutura dos serviços; isso, aliado ao fato de terem um preceptor no território

que facilite esse processo de ambientação. Dessa forma, os alunos já se sentem mais

preparados a realizar a visita domiciliar, estão mais ambientados para exercerem suas

atividades nos serviços de saúde e vencem o sentimento de temor como mostra o relato a

seguir:

“... vejo o aluno do primeiro semestre vindo pra cá e saindo com os ACS. Lembro dos ACS comentando que levam os alunos na área e tem que ser assim, tem que conhecer mesmo. É uma forma de sensibilizar e deles perderem esse medo, medo do que não conhecem.” (Profissional 5).

A prática de muitos médicos ainda é centrada na doença e a educação em saúde

ocorre com a utilização de abordagens educativas tradicionais, nas quais a cultura não é

tomada como referência. Um egresso aponta como importante para sua formação a vivência

no território durante a disciplina de Saúde Comunitária e em seu relato explicita a

importância de o médico conhecer a cultura da comunidade na qual irá atuar:

“A disciplina Saúde Comunitária permitiu que a gente tivesse uma imersão da cultura, conhecemos um pouco da cultura da umbanda,

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fizemos uma vivência com a questão da formação clínica com as plantas medicinais, essa aqui ajuda, hoje eu encaminho os pacientes pra lá, bem legal isso aí.” (Profissional 2).

Nesse sentido, é imprescindível desenvolver um processo educativo que reconheça

a realidade cultural e os diversos saberes inseridos no contexto comunitário onde atuam as

equipes da ESF, possibilitando a construção de novos conhecimentos. Isso requer uma

concepção pedagógica onde o diálogo e o respeito pelo outro seja o referencial de atuação

dos profissionais da saúde (SALCI et al., 2013).

Perguntou-se aos profissionais durante a entrevista se, para eles, o médico que a

UFC forma está apto para atuar na APS e a maioria afirmou que sim, mas com algumas

ressalvas, principalmente no que se refere a certa ênfase numa formação técnica, ainda

marcada pelo modelo flexneriano, centrado no hospital, nas especialidades médicas, na

visão fragmentada do indivíduo, como é descrito abaixo por um profissional:

“Geralmente a Federal é voltada pra especialistas em outras áreas, ela se volta muito pra Atenção Terciária, em menor grau pra Atenção

Secundária, em menor grau ainda pra Atenção Primária. A gente forma

médicos que gostam de transplantar fígado, transplantar rim, vários ali que querem ser hemodinamicistas, mas poucos que querem trabalhar na

APS” (Profissional 7).

Essa percepção nos leva a refletir sobre o que é o cuidar em saúde. As profissões

da área da saúde possuem o cuidado como uma de suas atribuições. O cuidado encerra

muito do educar. Esse educar deve ser compreendido para além da esfera dos

conhecimentos entendidos apenas como disciplinas científicas. É importante considerar que

educar diz respeito a estimular o raciocínio, o senso crítico e a curiosidade, assim como a

desenvolver valores e contribuir para o exercício da cidadania (MOHR, 2011). Essa

reflexão sobre o cuidado para produzir e resgatar cidadãos se aprofunda no discurso abaixo:

“... nossa formação ainda é muito tecnicista, no sentido de não formar pra um resgate de cidadão, a gente não pensa no sistema de saúde como

um resgate de cidadania, resgate de sujeitos, a gente ainda pensa muito na análise de sintomas, ou seja, não chega na ponta do iceberg, e eu

penso que isso não só pra medicina mas diversas categorias. a gente no máximo trabalha de uma forma multidisciplinar...” (Profissional 4).

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Com essa reflexão o médico aponta que a graduação em medicina deve estar

comprometida em formar profissionais que exerçam a cidadania, rompendo com a

formação médica flexneriana, que se restringe, na maioria das vezes, à análise da doença e

dos sintomas.

5.4. Formação médica para a ESF à luz das DCN e do Pró-Saúde

Esse tópico pretende analisar se o profissional egresso do curso de Medicina da

UFC está sendo formado de acordo com o perfil proposto pelas Diretrizes Curriculares

Nacionais e o PPP do curso. Assim, os egressos foram questionados nas entrevistas sobre as

atividades de Educação Permanente desenvolvidas no serviço em que atuam e de que forma

participam delas; também foram interrogados quanto à participação em atividades

complementares à sua formação (Residência, projeto de extensão, Pet-Saúde, movimento

estudantil, dentre outros), e se existe, no local em que atuam, integração ensino-serviço-

comunidade, e de que forma estão engajados nela.

As categorias de análise se originaram a partir dos questionamentos acima e são as

seguintes:

6.4.1. Diversificação dos cenários de aprendizagem e atividades complementares à

formação médica; 6.4.2. Integração Ensino-Serviço; 6.4.3. Educação Permanente em Saúde.

De acordo com as DCN do Ministério da Educação para o Curso de Graduação em

Medicina, aprovadas em outubro de 2001, espera-se que a formação do egresso médico

seja:

[...] geral, humanista, crítica e reflexiva, capacitado a atuar, pautado em princípios éticos, no processo de saúde-doença em seus diferentes níveis de atenção, com ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação à saúde, na perspectiva da integralidade da assistência, com

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senso de responsabilidade social e compromisso com a cidadania, como promotor da saúde integral do ser humano. (BRASIL, 2001)

O projeto político pedagógico do curso de medicina da UFC aponta que o perfil

médico do egresso deve apresentar uma formação abrangente e sólida nos três níveis de

atuação, ser comprometido com as transformações da sociedade, com a defesa da vida, com

seu autodesenvolvimento e ser cooperativo. Dessa forma, evidencia-se que há consonância

entre o que as DCN recomendam e a proposta de formação do PPP do curso.

Apesar de essas orientações indicarem o melhor caminho para a formação médica

voltada para atender as necessidades sociais, ainda estão sendo gradualmente incorporadas

nas IES estratégias pedagógicas para que tais recomendações se realizem e reverberem nas

práticas médicas nos serviços de saúde.

Mesmo com as recomendações das DCN e do PPP, somadas às mudanças

curriculares, ainda assim, a atuação na APS é complexa e demanda por competências que

muitos médicos não adquiriram na graduação, como, por exemplo, um olhar mais ampliado

e sensível para o contexto social no qual o paciente está inserido, como fica evidenciado no

relato seguinte:

“... muitos pacientes que a gente pega e, por traz de uma queixa que ele

tá te trazendo, existe alguma outra coisa por traz. Às vezes, o paciente

chega com uma historia de dor de cabeça, mas na verdade o problema

dele não é a dor de cabeça, é o marido que tá usando drogas, é a filha

que tá se prostituindo, então assim, você tem sempre aquele olhar com

um pouco mais de calma, um pouco mais de cuidado. Você tenta pescar

as outras coisas, algumas nuances que estão por traz, que a Atenção

Primária tem que ter isso! Nesse exemplo que eu tô te falando, que uma

pessoa chega por uma causa, mas que, por traz disso, existe uma série de

outros problemas, a maioria dos internos que eu pego vai se concentrar

em tratar aquela dor de cabeça, então vai ser aquele paciente que vai tá

toda semana, que vai estar todo mês ali no serviço. Até que um dia cai a

ficha na cabeça desse médico recém formado que, por traz daquilo, existe

um transtorno ansioso, existe um problema maior e que ele vai precisar tratar aquilo. Muitos deles têm uma ideia do que é o processo saúde

doença, mas o processo socioambiental, digamos assim, ainda é muito

falho.” (Profissional 1).

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5.4.1. Diversificação dos cenários de aprendizagem e atividades complementares

O Pró-Saúde recomenda que a interação ativa do aluno com a população e com os

profissionais de saúde ocorra desde o início do processo de formação, proporcionando ao

estudante trabalhar sobre problemas reais, assumindo responsabilidades crescentes, como

agente prestador de cuidados, compatíveis com seu grau de autonomia. Os cenários em que

se desenvolve o aprendizado prático, durante a formação profissional, devem ser

diversificados, agregando-se ao processo, além dos equipamentos de saúde, equipamentos

educacionais e comunitários (BRASIL, 2005).

É de suma importância analisar se houve ou não diversificação do cenário de

aprendizagem, se o egresso participou de atividades complementares durante seu processo

formativo, por isso esta será uma categoria interpretativa em nossa análise. Essa categoria

se configura num eixo de orientação do Pró-Saúde, o eixo Cenário de Prática, e tem como

vetor a diversificação dos cenários do processo de aprendizagem que analisaremos a seguir.

Para esse vetor, o Pró-Saúde classifica o curso nos seguintes estágios:

I. O curso desenvolve atividades práticas apenas durante os dois primeiros anos do curso, as

quais estão limitadas aos laboratórios da área básica; apresenta ciclo clínico com práticas

realizadas majoritariamente em instalações assistenciais universitárias próprias da IES;

II. O curso apresenta atividades extramurais isoladas de acadêmicos, em unidades do SUS,

durante os primeiros anos do curso, com a participação exclusiva ou predominante de

professores da área de Saúde Coletiva, correspondendo a um pequeno percentual da carga

horária semanal do aluno. Ciclo clínico majoritariamente baseado em atividades

assistenciais em instalações da universidade, não funcionalmente vinculadas ao SUS;

III. Atividades clínicas em unidades de atenção básica da rede do SUS, Unidades Básicas

de Saúde, Unidades do Programa Saúde da Família (PSF), com prioridade ambulatorial, ou

em serviços próprios da IES que subordinam suas centrais de marcação de consulta às

necessidades locais do SUS. Internato ou equivalente desenvolvido em sua totalidade na

rede do SUS (BRASIL, 2005);

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As DCN também apontam para a importância da inserção dos estudantes, desde o

início do curso, em cenários da prática profissional a fim de que realizem atividades

educacionais, e com isso desenvolvam suas competências (BRASIL, 2001).

O curso de Medicina da UFC insere os discentes em cenários de prática da APS,

desde o início, nos módulos de ABS, mas é criticado em relação à insuficiência de

disciplinas que proporcionam essa inserção nas UBS, como afirma o egresso no relato a

seguir:

“... ter esse contato com o serviço de saúde é fundamental, o contato

prévio durante a graduação. Porque poucas disciplinas da ABS se dão no serviço de Atenção Primária, algumas delas se dão ainda no hospital,

acho que é falho, elas deveriam acontecer na Atenção Primária com profissionais da Atenção Primária, generalistas, não com especialistas

focais.” (Profissional 2).

Consideram-se os cenários de prática na graduação, em parte, ainda centrados em

hospitais e ambulatórios, isso classifica o curso, em relação ao vetor diversificação dos

cenários do processo de aprendizagem, no estágio II (Anexo E) .

As atividades complementares que estavam articuladas ao contexto da Saúde da

Família citadas pelos sujeitos do estudo foram: a Residência de Medicina de Família e

Comunidade, a preceptoria de alunos do PET-Saúde, o projeto de extensão PRAVIDA, e a

participação no movimento estudantil junto ao Centro Acadêmico do curso de Medicina da

UFC. É importante, no processo de formação dos profissionais de saúde, aprender em

cenários diversificados, pois o exercício profissional se constrói de modo variado, mobiliza

ferramentas distintas e proporciona distintas relações (FEUERWERKER, 2011).

A Residência em Medicina de Família e Comunidade foi vivenciada por metade

dos egressos entrevistados. Alguns comentaram que a graduação em Medicina da UFC não

os motivou a aturem na APS, mas que foi a RMFC que despertou neles o interesse em atuar

no PSF, conforme aponta o profissional no trecho a seguir:

“.. .na verdade, eu só passei a gostar mais do SF na Residência em Medicina de Família. Na minha época a formação não tinha muita coisa voltada pra Saúde Pública. Hoje em dia, eu sei que o currículo mudou um

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pouco, melhorou um pouco. Eu até tô recebendo aluno da UFC sob minha supervisão.” (Profissional 4).

Campos afirma que a especialidade Medicina de Família e Comunidade tem como

foco de atuação a pessoa, e difere das demais especialidades médicas que focam no

paciente como um corpo fragmentado em particularidades, em sistemas, procedimentos e

técnicas (CAMPOS, 2005). A consolidação da RMFC é importante como estratégia para o

fortalecimento da APS e da SF. A essa vivência formativa para a APS, foi atribuído o papel

de complementar as lacunas formativas não preenchidas na graduação, a qual foi

considerada, em alguns momentos, insuficiente na formação de profissionais para a ESF,

como aponta o relato a seguir:

“A Residência contribuiu muito, e em alguns países ela é até obrigatória. Na Residência, você vai trabalhar mesmo na APS, saber o que ela é, e

filtrar realmente aqueles que gostam da APS. Eu gosto de atuar na APS,

se todo mundo pudesse escolher e não tem como escolher com a experiência da graduação, porque a faculdade não é suficiente. Mesmo

os seis meses de internato em Saúde Comunitária não são suficientes pra eles entenderem como funciona.” (Profissional 5).

O envolvimento dos egressos médicos, durante a graduação, com projetos de

extensão contribuiu também para adquirirem uma visão mais social acerca da sua profissão

como evidencia a fala do profissional abaixo transcrita:

“Eu fazia muito projeto social quando eu participava do Centro Acadêmico. Fiz parte do movimento estudantil durante quatro anos no

C.A. e também fiz parte, durante dois ano,s de um projeto relacionado à Psiquiatria, o PRAVIDA, que é o projeto de apoio à vida. A gente atuava

mais focado com pacientes que tiveram relação ou iniciativa prévia de suicídio. E aí, é extremamente importante você saber abordar o paciente

no contexto geral da família, dos amigos, porque você precisa conhecer o ambiente que o paciente mora, e você precisa envolver a família no

tratamento. E isso é o que médico de família faz em essência.” (Profissional 7).

A vivência no centro acadêmico certamente agregou conhecimentos de cunho

social e político ao profissional e o projeto PRAVIDA o colocou em contato com as

subjetividades dos pacientes, com a complexidade da natureza humana. A partir dessa

vivência, esse profissional desenvolveu habilidades e atitudes para além do saber técnico e

sua conduta foi ampliada para além do ato de diagnosticar a doença e prescrever uma

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medicação. O profissional aprendeu a aprender com a prática, e adotou uma postura

sensível de ampliar seu olhar para o caso, vendo além dos sinais e sintomas, analisando o

contexto geral no qual o paciente está inserido.

O movimento estudantil não é tema formal das estruturas curriculares nas

universidades, mas ele guarda importância como espaço formativo complementar. O

cenário de prática pode ser atravessado pelo embate constante entre a política, a ética e a

pedagogia, e tem papel importante na determinação dos possíveis caminhos a serem

adotados pelo profissional, pois o cenário de práticas é também onde se dá o conflito e onde

se pode suscitar no profissional, em interação com os outros, o debate, a problematização,

culminando na construção de conhecimentos e na transformação da formação (MARINS,

2011). O profissional expõe no relato abaixo o quanto foi significativo para sua formação o

envolvimento com o movimento estudantil e as contribuições sociais construídas a partir

dele:

“... o que contribuiu muito pra mim foi o Centro Acadêmico, foi o

movimento estudantil. Durante os seis anos da faculdade, fui do C.A. por

3 anos. No meu internato, eu era presidente do C.A. A gente trabalhou

muito uma questão social, eu entrei no C.A. em 2000 e a gente fundou um

cursinho pré-vestibular na Faculdade de Medicina pra alunos de escola

pública, que é o curso 12 de Maio, isso foi fundado na primeira gestão do

C.A. que eu participei. Na época, muitas pessoas criticavam a gente, que

a gente não deveria fazer isso no curso de medicina mas pra mim foi

engrandecedor. Fui coordenador do cursinho até terminar a faculdade e

vi histórias de vida muito legais lá. E o cursinho permanece até hoje, tem

15 anos.” (Profissional 6).

Como se percebe, o envolvimento nesses processos do movimento estudantil

contribui para uma formação crítica em relação aos paradigmas dominantes na área da

saúde.

Nas entrevistas, os egressos relataram igualmente a importância das experiências

vivenciadas no PET-Saúde, que é uma estratégia que propicia tanto aos discentes como aos

preceptores o aprendizado, a incorporação de novos saberes, habilidades e atitudes ao

proporcionar uma atuação multiprofissional e interdisciplinar, conforme está contemplado

na fala do profissional abaixo:

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“... na época que eu era do PET, tive a grande sorte de que no posto que eu trabalhava tinham sete preceptores do PET-Saúde, então a gente meio

que, entre nós mesmos, fazíamos um intercâmbio de atividades pros

alunos não ficarem sempre acompanhando as mesmas coisas. Então os

alunos podiam acompanhar visita domiciliar, de mais de um profissional:

de enfermeiro, de médico, de outro médico, de dentista. Podiam

acompanhar as consultas de hiperdia, de enfermeiro, de médico, de

dentista, acompanhar o movimento de saúde bucal com os dentistas,

acompanhar a atividade de puericultura. Então eles se inseriram na

rotina de atividade das equipes...” (Profissional 3).

O PET-Saúde se constitui então num espaço de construção compartilhada do

conhecimento, de práticas pautadas na promoção, na educação e na comunicação em saúde,

na humanização do atendimento, numa concepção ampliada do agir em saúde,

estabelecendo novas relações interprofissionais e dos profissionais com a população

(CRUZ et al, 2015). Essas percepções relatadas pelos sujeitos desta pesquisa acerca das

experiências adquiridas nas vivências em cenários complementares à sua formação são

também encontradas, de forma semelhante, nos discursos de alguns acadêmicos de

Medicina da UFC que contribuíram com a pesquisadora Maria do Socorro de Sousa em sua

tese de doutorado, de 2014, a qual aborda as complexidades da formação médica para a

ABS (SOUSA, 2014).

5.4.2. Eixo Cenários de Prática: Integração Ensino-Serviço

A integração ensino-serviço visa reorientar a formação profissional, assegurando

uma abordagem integral do processo saúde-doença com ênfase na atenção básica.

Proporciona então transformações nos processos de geração de conhecimentos, ensino e

aprendizagem e de prestação de serviços à população.

A essência desse eixo do Pró-Saúde é aproximar a academia dos serviços públicos

de saúde; articulação fundamental para transformar o aprendizado com base na realidade

socioeconômica e sanitária da população brasileira.

Para esse vetor, o Pró-Saúde classifica o curso nos seguintes estágios:

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I. Os cursos mantêm rígida separação entre a programação teórica e a prática dos serviços

de saúde;

II. Os cursos contam com alguma articulação da programação teórica com a prática dos

serviços de saúde, em poucas áreas disciplinares, predominantemente na atenção de caráter

curativo;

III. O curso integra, durante todo o processo de ensino-aprendizagem, a orientação teórica

com a prática nos serviços públicos de saúde, em nível individual e coletivo, com

participação de todas as áreas disciplinares. Há esforço na integração ensino-serviço ao

envolver a comunidade como espaço social participativo, centralizar suas ações nas

necessidades de saúde da população; o cuidado em saúde perpassar todos os níveis de

atenção e suas atividades terem foco na promoção, reabilitação da saúde e prevenção dos

agravos (BRASIL, 2005).

A integração ensino-serviço acontece por meio do estabelecimento de parcerias

entre profissionais de saúde, instituições de ensino e comunidade. Nas falas da maioria dos

egressos entrevistados, essa integração se mostrou fragilizada como está evidenciado no

seguinte relato:

“... na UFC, a gente tem uma dificuldade porque a gente tem pouco contato com os responsáveis pelos alunos do internato, quando chegam aqui se apresentam, a gente recebe um e-mail informando que eles vêm, a gente recebe e aí pronto.” (Profissional 3).

O relato mostra que a integração da IES com os serviços de saúde é insuficiente, o

que compromete o bom funcionamento das disciplinas com práticas no serviço e,

consequentemente, compromete a formação para a APS. Faz-se necessária uma

aproximação da universidade com o serviço de saúde, na perspectiva de se planejar as

ações dos discentes, dos docentes responsáveis pelas disciplinas e dos preceptores do

serviço de saúde.

O curso de medicina da UFC apresenta disciplinas que articulam teoria com a

prática nos serviços de saúde, mas na APS essa prática ainda é minoritária.

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Assim, esse curso se classifica no estágio II ( Anexo E), segundo o vetor

Integração Ensino-Serviço do Pró-Saúde.

A Integração Ensino-Serviço facilita a construção do conhecimento a partir da

reflexão crítica da realidade, da articulação entre teoria e prática e da integralidade da

atenção, e possibilita ao aluno elaborar críticas e buscar soluções adequadas para os

problemas de saúde encontrados. Todavia, esses benefícios à formação só são possíveis se

houver diálogo entre a IES e os serviços de saúde, pois de nada adianta criar oportunidades

curriculares que aproximam os discentes das práticas da APS se não existe um

planejamento pedagógico prévio, um plano de atividades a ser executado por cada ator

social desse processo, construído em consonância com o serviço e para as necessidades do

serviço de saúde e da comunidade. Do contrário, o processo será sem planejamento, “toque

de caixa”, como qualificado pelo relato abaixo:

“Recebemos alunos do internato em saúde comunitária, mas não há reuniões com a Universidade pra avaliar esse processo, me parece que é

como se fosse “toque de caixa”, ou seja, funciona do jeito que dá, do jeito que você sabe que tá bom. A única coisa que eles estão avaliando é a

presença do estudante. E tem que pensar em tirar o estudante do consultório, colocar ele na lógica do território, porque a maior parte do

nosso trabalho tá lá fora.” (Profissional 9).

5.4.3. Eixo Orientação Teórica: Educação Permanente

A educação dos profissionais de saúde deve ser compreendida como processo

permanente na vida profissional mediante o estabelecimento de relações de parceria entre

as instituições de educação, a gestão e os serviços de saúde, a comunidade, as entidades e

outros setores da sociedade civil.

Para esse vetor, o Pró-Saúde classifica o curso nos seguintes estágios:

I. Oferta exclusiva de especialidades e ausência de oferta de especialização em atenção

primária e de educação permanente aos profissionais da rede do SUS;

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II. Conformação intermediária, em que há esforços para a oferta de educação permanente

relacionada à situação de saúde prevalente, mas não há questionamentos sobre o perfil da

oferta de especializações que não atendam às necessidades prioritárias da população;

III. Busca-se superar a tendência atual de pós-graduação orientada exclusivamente à

especialização e estimular a articulação com as necessidades assistenciais. Incentiva-se a

educação permanente para manter a capacitação da força de trabalho no SUS (BRASIL,

2005).

A educação e a saúde são espaços de produção e aplicação de saberes destinados

ao desenvolvimento humano. Há uma interseção entre estes dois campos, em qualquer nível

de atenção à saúde, assim como na aquisição contínua de conhecimentos pelos profissionais

de saúde. Assim, estes profissionais se inserem, mesmo que inconscientemente, um ciclo

permanente de ensinar e de aprender que pode ser evidenciado na fala a seguir do egresso,

ao valorizar a vivência da preceptoria dos internos da medicina como momento de troca, de

educação permanente:

“... uma outra coisa que ajuda é ter internos aqui, ter internos aqui ajuda, porque a gente vai discutindo casos, vai aprendendo com eles, -

esses internos são da medicina são da medicina da UFC, ao mesmo tempo que torna, às vezes, mais complexo, mais demorado, mas é muito

legal também, porque cria um estímulo a mais, acho que é isso, acho que é isso.” (Profissional 2).

É necessário estimular nos profissionais de saúde uma postura crítico-reflexiva,

comprometida e voltada para o outro. Os egressos apontam a chegada dos internos como

uma interação que deu novo ânimo ao seu processo de trabalho, numa relação dialógica que

produziu conhecimento para ambos, tal como é apontado no relato a seguir:

“Estava comentando com uma colega enfermeira que eu tava desanimado

com a postura dessa gestão, tava meio que só conduzindo o serviço e aí, com a chegada dos alunos, me deu vida nova, novo ânimo. Você vê o

aluno que tá ali ávido por aprender... eu peguei uma turma por três meses, agora outra por mais três. Os internos eram bem interessados, e

me reanimaram. Foi uma via de mão dupla, todos se ajudaram.” (Profissional 4).

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O crescente acúmulo de conhecimentos implica na necessidade de atualização

constante do profissional de saúde. Para isso, torna-se indispensável um processo de

formação contínua que vise não somente à aquisição de habilidades técnicas, mas também

ao desenvolvimento de suas potencialidades no mundo do trabalho e no seu meio social

(PEREIRA, 2003).

Todavia, alguns egressos relataram que as vivências de educação permanente nas

UBS ocorrem frequentemente como práticas tradicionais de “capacitação encomendada” e

desconectada das necessidades do serviço de saúde. Muitas vezes, tais momentos têm o

intuito de “apagar incêndio”, com um uso dos espaços de educação em saúde para resolver

demandas emergenciais, como pontuado abaixo pelo profissional ao responder acerca das

atividades de educação permanente no serviço de saúde em que atua:

“Poderia ser melhorada, deveria ser mais contínua e ligadas às

mudanças que acontecem no ano. Por exemplo, a questão da Zica e do Chikungunya, até hoje não tivemos nenhuma atividade voltada pra isso,

tudo que aprendi hoje foi por meio dos meus contatos médicos. A questão

da microcefalia que tá evidente agora e as gestantes já estão perguntando, até agora não tivemos nada. Essas atividades têm que

estarem ligadas à realidade atual. Eles são meio lentos pra saírem da mesmice.” (Profissional 4).

Faz-se necessário aproximar a formação dos profissionais de saúde das reais

necessidades dos usuários e do sistema de saúde. Isso requer mudanças institucionais,

profissionais e pessoais difíceis, lentas, conflituosas e complexas. O significado da

formação e a qualificação do cuidado devem estar presentes nos processos educativos para

os profissionais de saúde (BATISTA & GONÇALVES, 2011).

De acordo com os relatos dos entrevistados, percebe-se que há tentativas de se

desenvolver atividades de educação permanente relacionadas à situação de saúde

prevalente, mas são poucas. Dessa forma, a classificação desse vetor do Pró-Saúde

encontra-se no estágio II (Anexo E), pois a maioria das estratégias voltadas para a

Educação Permanente na APS está desconectada das necessidades dos profissionais e da

comunidade local, adquirindo, em muitas situações, caráter emergencial como é descrito a

seguir:

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“... existe semanalmente um turno para essas atividades de educação

permanente. Mas esse turno não é utilizado dessa forma. Muitas vezes, é usado para uma reunião, ou então, por exemplo, teve um surto de

sarampo e eles se reúnem com a gente pra então pensarmos no que fazer. Com a dengue, é igual todo ano. Começou março eles marcam vários

encontros para o combate à dengue. Então serve só pra apagar

incêndio.” (Profissional 5).

A Educação Permanente, portanto, deve fluir numa construção ascendente,

participativa, dialógica e centrada nos processos de trabalho.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A formação médica deve ser pautada no perfil recomendado pelas DCN, a fim de

atender às demandas da sociedade, rompendo com o paradigma biomédico. É competência

do SUS ordenar a formação dos recursos humanos na saúde, pois, para se aprimorar a

educação para o sistema público de saúde, é necessária uma aproximação entre as IES e os

serviços de saúde, a fim de articular em conjunto os saberes necessários à formação, numa

construção coletiva que alinhe, com as necessidades sociais, o saber-ser, o saber-fazer e o

saber-conviver dos profissionais.

Em relação à análise do PPP, foi possível constatar que há dificuldades para

integrar o ciclo básico ao profissional. As ementas das disciplinas foram analisadas

segundo as competências das DCN e deve-se atentar para as competências gerais que não

foram contempladas em nenhuma ementa, como é o caso da Educação Permanente e da

Administração e Gerenciamento. Recomenda-se atualização das ementas disciplinares, pois

muitas não explicitam, nos conteúdos, as palavras-chave necessárias à identificação da

presença de uma ou outra competência geral. No entanto, em sua execução prática, as

disciplinas podem estar contribuindo com alguma dessas competências para a formação dos

discentes.

Os conteúdos propostos no PPP estão, em sua maioria, em consonância com a

formação necessária ao perfil médico recomendado nas DCN.

A partir da análise das percepções dos egressos acerca dos seus processos

formativos para atuarem na APS, emergiram alguns nós críticos que envolvem esses

processos, bem como sugestões para o aperfeiçoamento da formação médica promovida

pela UFC. Os egressos consideraram que as mudanças curriculares adotadas pela IES

repercutiram na formação para o SUS, principalmente com a inserção dos discentes no

território da APS nas disciplinas do módulo longitudinal de ABS.

Em suas concepções, os egressos apontaram a necessidade de se adequar a

pedagogia dos docentes ao módulo de ABS, de modo a se distanciar da educação “bancária” e se aproximar da pedagogia “freireana”, que requer reflexão crítica sobre a

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prática. Sob essa perspectiva, é necessário que os docentes exerçam um movimento

dialético entre o fazer e o pensar sobre o fazer, numa dinâmica de ação-reflexão, na qual o

ato de educar não é depositar conteúdos, transferir conhecimentos, mas criar aberturas,

possibilidades para que o conhecimento seja construído (FREIRE, 2000).

Os egressos médicos identificaram como uma dificuldade para a organização e

funcionamento adequado do módulo de ABS o fato dos coordenadores das disciplinas não

serem especialistas na área da MFC. Foi sugerido que se buscasse equilibrar esse número

de docentes e preceptores com especialização na área em questão. Os egressos

consideraram o módulo de ABS descontínuo em relação à inserção dos discentes no

território da ESF, alegando que eram inseridos no primeiro semestre e só retornavam a

atuação numa UBS semestres depois.

A preceptoria médica foi considerada um nó crítico para a formação na APS; e foi

apontada, como estratégia de melhoria, a aproximação da UFC com os serviços de saúde, a

fim de planejar junto ao serviço as atividades dos discentes, integrando a proposta do

currículo às necessidades das equipes de saúde e da comunidade. Essa articulação da IES

com os serviços de saúde também deve buscar capacitar os preceptores que estão nas UBS,

para que eles conheçam suas atribuições e possam acompanhar e desenvolver atividades

com os discentes de forma mais qualificada.

Em sua maioria, os médicos entrevistados afirmaram que a UFC os preparou para

atuar na APS, principalmente pelas vivências potentes e transformadoras que sua inserção

no território da ESF proporcionou. Segundo eles, o território do PSF ressignificou suas

concepções acerca do que é atuar na APS, em toda sua diversidade e complexidade. Muitos

deles foram afetados e transformados por essa vivência e conseguiram romper com

preconceitos e medos que traziam em relação à prática na APS – preconceitos e medos que

foram, aos poucos, sendo desconstruídos ao passo que dessas vivências iam se

aproximando.

Os eixos de Orientação Teórica e Cenários de Práticas do Pró-Saúde embasaram a

análise da pesquisa. Em relação às atividades curriculares e complementares à formação

para a ESF mais destacadas pelos egressos, pode-se constatar que estas foram

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oportunizadas pelas vivências na Residência de Medicina de Família e Comunidade, na

preceptoria de alunos do PET-Saúde, no projeto de extensão PRAVIDA, e na participação

no movimento estudantil junto ao Centro Acadêmico do curso de Medicina da UFC.

Considerou-se que essas vivências agregaram aos egressos competências necessárias à

prática na APS, pois contribuíram para uma formação crítica e mais alinhada ao paradigma

da integralidade.

Em relação à Integração Ensino-Serviço, evidenciaram-se fragilidades, pois as

ações das IES estão desarticuladas com o serviço de saúde. Isso foi percebido nos relatos

referentes às disciplinas curriculares que apresentam atividades práticas nos serviços, pois

foram consideradas sem planejamento prévio no que concerne às ações a serem realizadas

pelos discentes, docentes e preceptores do serviço envolvidos.

A Educação Permanente é uma estratégia que possibilita uma formação

sintonizada com as necessidades da saúde pública brasileira, todavia os dados dessa

pesquisa apontaram que as vivências em Educação Permanente nos serviços de saúde

apresentam caráter emergencial e estão desconectadas das necessidades reais dos

profissionais de saúde e da comunidade.

Essa pesquisa proporcionou à pesquisadora reflexões acerca da formação dos

recursos humanos para o SUS, com suas potencialidades e fragilidades no processo que

perpassa a proposta do PPP das IES, o currículo e sua metologia de ensino, bem como seu

diálogo com as orientações das DCN e com o mundo do trabalho, com as necessidades dos

cotidianos dos serviços de saúde nos quais esses profissionais estão sendo inseridos. As

reflexões feitas provocaram na pesquisadora o desejo de militar na construção pedagógica

dos sujeitos que contribuem com o fortalecimento do SUS.

Esse estudo integra uma pesquisa mais ampla e apresenta outras vertentes que

avaliam a formação das graduações em saúde das universidades públicas do Ceará para a

APS, tanto no que diz respeito à percepção dos egressos, quanto no que se refere à

concepção dos discentes e dos docentes, visando, com esse processo avaliativo, gerar

processos de reflexão-ação objetivando o aprimoramento da formação dos sujeitos

implicados com o SUS.

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7. REFERÊNCIAS

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SALCI, M. A. et al. Educação em saúde e suas perspectivas teóricas: algumas reflexões. Texto Contexto Enferm., Florianópolis, vol. 22, n. 1, p. 224-230, 2013.

SAUPE, R. et al. Avaliação das competências dos recursos humanos para a consolidação do sistema único de saúde no Brasil. Texto Contexto Enferm., Florianópolis, v. 16, n. 4, p. 654-661, 2007.

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SOUZA, S. S. O que é saúde coletiva? Monografia de bacharelado em Saúde Coletiva. Universidade de Brasília, Ceilândia, 2013.

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8. ANEXOS

ANEXO A - Ementas de disciplinas com conteúdos relacionados à APS

DISCIPLINA/CARGA HORÁRIA EMENTA

Fundamentos da Prática e da Assistência Médica O processo saúde-doença. Evolução Das / 68 h práticas médicas. Políticas de saúde.

Organização dos serviços de saúde. A reforma sanitária. Sistema Único de Saúde. Diretrizes

e objetivos do SUS. Integração Docente assistencial. Ações preventivas básicas:

hidratação oral, vacinação, incentivo Ao aleitamento materno e condutas em IRA, crescimento e desenvolvimento da criança.

Educação e saúde. Primeiros socorros: hemorragia e choque; fraturas; urgências clínicas e ambientais; Reanimação cardiorrespiratória cerebral.

Diagnóstico de Saúde da Comunidade / 72 h Conceitos e identificação de Indicadores sociais, econômicos, ambientais e de saúde na

análise da situação de saúde, do perfil

epidemiológico e das condições de vida da

comunidade. Territorialização de riscos Em

espaços geográficos e sociais específicos.

Perfil de saúde de áreas microhomogêneas do Programa de Saúde da Família. Métodos para a realização do diagnóstico de saúde da

comunidade e para intervenção em saúde: na

prática de saúde pública, na prática clínica e

na prática da pesquisa médica ao nível

populacional.

Epidemiologia e Bioestatística / 72 h Perfil epidemiológico de uma população.

Medidas demortalidade emorbidade.

Caracterização e controle de endemias e epidemias. Técnicas de informática aplicadas à saúde e métodos epidemiológicos de estudo.

Sistema de vigilância epidemiológica e

sanitária.

Saúde Comunitária / 72 h Herança sociocultural: indígena, africana,

européia, e oriental. Os sistemas De

representação da doença no Nordeste. Plantas

medicinais cientificamente fundamentadas.

Farmácias vivas. Medicina popular. Saúde mental comunitária. Medicina holística.

Homeopatia. Acupuntura. Crítica ao Modelo

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mecanicista biomédico.

Assistência Básica à Saúde da Criança / 64 h Morbimortalidade infantil e Seus

determinantes. Anamnese e exame clínico da criança. Relacionamento médico- paciente-

família. Aleitamento materno, Recomendações

e orientação alimentar,crescimentoe desenvolvimento, imunização, saúde oral,

atenção ao adolescente. Promoção de uma vida saudável. A estratégia de Atenção integrada às doenças prevalentes na infância

(AIDPI). Direitos da criança e do adolescente. Atenção básica à criança com necessidades

especiais. Ética em pediatria.

Assistência Básica à Saúde da Criança e da Diagnóstico clínico e laboratorial de gravidez

Gestante / 64 h e semiótica obstétrica. Acompanhamento pré-

natal de baixo risco.

Identificação de fatores de risco materno-fetal e

triagem para o pré-natal de alto risco.

Aspectos éticos na assistência pré-natal, uso de medicamentos e receituário médico. Anamnese e exame clínico do recém-nascido (RN).

Ações básicas de assistência ao RN normal. Assistência básica ao puerpério. Manuseio das patologias neonatais de alta prevalência. Ações para promoção do aleitamento materno.

Bases da alimentação no primeiro ano de vida. Atenção básica à criança com necessidades especiais. Prevenção e assistência às doenças prevalentes na infância: Insuficiência respiratória aguda, asma, diarréia, desnutrição, doenças febris e infecções.

Assistência Básica à Saúde do Adulto I / 64 h Atenção primária de saúde objetivando A

promoção da saúde, a prevenção e a resolução ou o encaminhamento de condições clínicas prevalentes, exercitando o papel pedagógico do médico e o seu compromisso ético com o paciente, a família e a comunidade. O médico e as dificuldades atuais para o exercício ético da Medicina. A promoção da saúde e A responsabilidade do poder público.

Assistência Básica à Saúde do Adulto II/ 64 h Anamnese e exame ginecológico e Relação médico-paciente. Diagnóstico e Tratamento das vulvovaginites e doenças Inflamatórias pélvicas. Prevenção das doenças sexualmente transmissíveis. Orientação e conduta No

planejamento familiar. Distúrbios menstruais.

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Prevenção do câncer ginecológico.

Diagnóstico do climatério e tratamento De

reposição hormonal. Aspectos éticos Do

atendimento ginecológico. Assistência Ao trabalhador: doenças profissionais. A

prescrição médica, atestados.

INTERNATO EM SAÚDE Abordagem do paciente e da comunidade COMUNITÁRIA para identificação dos problemas de saúde.

Visão dos problemas do ponto de Vista

26 SEMANAS / 36H individual e coletivo. Assistência à saúde da criança, da gestante, do adulto e do idoso no nível primário de atenção. Conhecimento do

SUS. Familiaridade com o sistema De

referência e contra-referência. Critérios Para

encaminhar os casos que extrapolam a resolutividade do serviço. Trabalho Em equipe. Visita domiciliar. Acompanhamento de pacientes em domicílio. Aspectos éticos.

DISCIPLINAS DO MÓDULO DE DESENVOLVIMENTO PESSOAL*

DISCIPLINA/CARGA HORÁRIA EMENTA

Evolução Histórica, Científica e Ética da História da Medicina. Evolução da Formação Medicina/ 68 h do raciocínio clínico na Medicina Desde

Hipócrates aos nossos dias, levando Em

consideração as contribuições herdadas Da

filosofia, da ciência moderna e da ética médica. Bioética e Ciências. O estudante de Medicina e as entidades médicas (Conselho

Regional de Medicina do Estado do Ceará, Sindicato dos Médicos e Centro Médico Cearense). Bioética e Clínica (estudo de casos). Metodologia científica: construção da nomenclatura médica, análise crítica e interpretação dos resultados da pesquisa científica.

Psicologia do Desenvolvimento Humano/ 72 h Aspectos psicodinâmicos do Desenvolvimento humano. As instâncias da personalidade e as

fases do desenvolvimento psicosexual segundo

a psicanálise Freudiana. Os oito estágios do

ciclo vital segundo Erick H. Erickson.

Cognição e aprendizagem segundo a teoria do

desenvolvimento cognitivo de Piaget.

Aspectos pragmáticos da comunicação. O ciclo

* As disciplinas do Módulo de Desenvolvimento Pessoal também agregam saberes necessários à prática

médica na APS e, portanto compõem esse quadro.

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de vida familiar. Aspectos psico-afetivos De

uma vida saudável.

Saúde, Cultura, Ambiente e Trabalho/ 72 h Conceito de Comunidade. A vida comunitária e a teia social. Cultura e saúde. O discurso

social na doença. A comunidade na promoção da saúde. O corpo biológico e o corpo social.

O doente e o seu meio sócio-cultural. A cultura dos excluídos. A matriz sócio-cultural Do imaginário nordestino. Os efeitos Da

globalização nas estruturas sociais e mentais. Conceito e relações entre saúde, trabalho E

ambiente. O contexto atual da globalização.

Problemas ambientais globais. Saúde, trabalho

e ambiente no Brasil e no Ceará. Metodologias

de investigação e instrumentos de intervenção. Desenvolvimento sustentável e qualidade de

vida.

Psicologia Médica/ 72 h A organização da interação humana Como sistema. Relações em desenvolvimento:

características das relações com grupos de iguais - competição x co-construção; características das relações Hierárquicas (pais/filhos; professor/aluno;

médico/paciente); autoridade x co-

responsabilidade. O trabalho em grupo; A

relação médico- paciente; situações especiais

na relação médico-paciente; o lugar da perda

e da morte na experiência humana.

Bioética e Cidadania/ 64 h O estudo das implicações éticas de Uma ação transdisciplinar em face Dos

desafios epistemológicos contemporâneos,

diante dos novos paradigmas em atenção À

saúde. A posição da Bioética como Construtora de cidadania. A Bioética como Balizadora da legitimidade profissional na área da Saúde.

A relação médico-paciente pelo prisma da Bioética.

Psicopatologia/ 64 h Que é Psicopatologia. O normal e o patológico. As funções psíquicas elementares: consciência, atenção, orientação, sensopercepção, memória, afetividade, vontade, psicomotricidade, pensamento, juízo da realidade, linguagem, personalidade e inteligência. As Grandes síndromes psiquiátricas: ansiosas, Depressivas

e maníacas, psicóticas, volitivo-motoras,

relacionadas ao uso de Substâncias

psicoativas, psicorgânicas e relacionadas ao

desenvolvimento da personalidade. A

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avaliação psiquiátrica. O Diagnóstico

psiquiátrico.

Medicina Preventiva/ 64 h Principais agravos à saúde de importância em Saúde Pública e sua distribuição no Brasil e no

Ceará. Determinantes biológicos e sociais

envolvidos na gênese destas patologias e as respectivas medidas de prevenção e controle.

Integração com o Sistema Único de Saúde nos programas de controle desenvolvidos pelos serviços oficiais de saúde.

Medicina Legal e Deontologia Médica/ 64 h Aspectos práticos e legais do exercício Da profissão. Responsabilidade, direitos e deveres do médico. Conduta em situações críticas:

morte, situações de emergência. Comunicação de más notícias e perdas a pacientes e familiares. Prescrição de medicamentos,

atestados e licenças. Relação médico-paciente: aspectos éticos e direitos dos pacientes crônicos, terminais, com neoplasias. Aspectos éticos e legais nos transplantes. O médico e a saúde pública: doenças de notificação

compulsória. A morte e os fenômenos

cadavéricos. Legislação. Eutanásia.

Problemas médico-legais relativos À

identidade, à traumatologia, à tanatologia, à infortunística, à sexologia, ao matrimônio.

92

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ANEXO B - Quadro de disciplinas do curso de Medicina da UFC

Módulo Carga Horária Módulos Disciplinas

SEMESTRE 1

1 32

EDUCAÇÃO E MEDICINA Coordenação do Curso

2 96

BIOLOGIACELULAR E Genética / Histologia E

MOLECULAR Embriologia / Bioquímica /

Fisiologia / Farmacologia

3 72

GÊNESE E Genética / Histologia E Embriologia / Fisiologia /

DESENVOLVIMENTO

Farmacologia

4 104

APARELHO LOCOMOTOR Histologia e Embriologia / Anatomia / Fisiologia /

Farmacologia

5 136

SISTEMA NERVOSO Anatomia / Histologia E Embriologia / Fisiologia /

Farmacologia

6 68 ASSISTÊNCIA BÁSICA À Funda da Prática e da

SAÚDE Assistência Médica

7 68 DESENVOLVIMENTO Evolução Histórica, Científica e

PESSOAL Ética da Medicina

576

SEMESTRE 2

1 48 PRINCÍPIOS DE Farmacologia FARMACOLOGIA

2 60 SISTEMA Anatomia / Histologia

CARDIOVASCULAR /Embriologia/ Fisiologia

3 60 SISTEMA RESPIRATÓRIO Anatomia /

Histologia/Embriologia /

Fisiologia

4 88 SISTEMA DIGESTÓRIO Anatomia / Histologia E

Embriologia / Fisiologia /

Bioquímica

5 88 SISTEMA ENDÓCRINO Anatomia / Histologia E

Embriologia / Fisiologia

6 88 SISTEMA GÊNITO- Anatomia / Histologia E

URINÁRIO Embriologia / Fisiologia

7 72 ASSISTÊNCIA BÁSICA À Diagnóstico de Saúde

D

a

SAÚDE Comunidade

8 72 DESENVOLVIMENTO Psicologia do Desenvolvimento

PESSOAL Humano

93

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576

SEMESTRE 3

1 144 PROCESSOS Farmacologia / Imunologia / PATOLÓGICOS GERAIS Microbiologia/Parasitologia /

Patologia

2 144 RELAÇÃO

Imunologia / Microbiologia / PARASITO-

Parasitologia/Patologia

HOSPEDEIRO

3 144 IMUNOPATOLOGIA Imunologia / Microbiologia /

Parasitologia/Patologia

4 72 ASSISTÊNCIA BÁSICA À Epidemiologia e Bioestatística SAÚDE

5 72 DESENVOLVIMENTO Saúde, Cultura, Ambiente E

PESSOAL Trabalho

576

SEMESTRE 4 ABORDAGEM DO

Semiologia/

1 216 PACIENTEE BASES

Anatomofisiopatologia/

FISIOPATOLÓGICAS E

TERAPÊUTICAS DOS Farmacologia

PRINCIPAIS SINTOMAS E

SINAIS ABORDAGEM DO

2 216 PACIENTE E

Semiologia / BASES

Anatomofisiopatologia / FISIOPATOLÓGICAS E TERAPÊUTICAS DAS Farmacologia

GRANDES SÍNDROMES

3 72 ASSISTÊNCIA BÁSICA À Saúde Comunitária SAÚDE

4 72 DESENVOLVIMENTO Psicologia Médica

PESSOAL

576

SEMESTRE 5

1 96 CLÍNICA E CIRURGIA DO Gastroenterologia / Cirurgia APARELHO DIGESTÓRIO / Métodos Complementares

/ Radiologia / Farmacologia

2 48 NUTROLOGIA Nutrição / Cirurgia / Pediatria /

Geriatria

3 48 ENDOCRINOLOGIA: Endocrinologia / Cirurgia / CLÍNICA E Métodos Complementares /

CIRURGIA Radiologia / Farmacologia

4 96 CLÍNICA E CIRURGIA DO Cardiologia / Cirurgia APARELHO / Métodos

CARDIOVASCULAR Complementares / Radiologia / Farmacologia

5 96 PNEUMOLOGIA E Pneumologia / Cirurgia CIRURGIA TORÁCICA / Métodos

Complementares /

94

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Radiologia / Farmacologia

6 64 ASSISTÊNCIA BÁSICA À Assistência Básica à Saúde da

SAÚDE Criança

7 64 DESENVOLVIMENTO Bioética e Cidadania PESSOAL

8 60 OPTATIVO Disciplinas optativas 572

SEMESTRE 6

1 96 NEONATOLOGIA E Pediatria / Obstetrícia

OBSTETRÍCIA

2 96 PEDIATRIA E

Pediatria / Cirurgia CIRURGIA

PEDIÁTRICA

3 96 GINECOLOGIA Ginecologia

4 96 NEFROLOGIA E UROLOGIA Nefrologia / Urologia

5 64 ASSISTÊNCIA BÁSICA À Assistência Básica à Saúde da

SAÚDE Criança e da Gestante

6 64 DESENVOLVIMENTO Psicopatologia

PESSOAL 7 60 OPTATIVO Disciplinas optativas

572

SEMESTRE 7

1 96 DOENÇAS INFECCIOSAS Doenças Infecciosas / Microbiologia / Parasitologia /

Imunologia / Farmacologia

2 48 DERMATOLOGIA Dermatologia / Cirurgia /

Cirurgia Plástica 3 48 HEMATOLOGIA Hematologia / Farmacologia

4 96 GERIATRIA Geriatria / Farmacologia 5 48 REUMATOLOGIA Reumatologia / Farmacologia

6 48 ONCOLOGIA Clínica Médica / Cirurgia / Medicina preventiva /

Farmacologia

7 64 ASSISTÊNCIA BÁSICA À Assistência Básica à Saúde do SAÚDE Adulto I

8 64 DESENVOLVIMENTO Medicina Preventiva

PESSOAL

9 60 OPTATIVO Disciplinas optativas

572

SEMESTRE 8

1 96 URGÊNCIAS MÉDICAS Clínica Médica / Cirurgia /

Pediatria

2 48 OTORRINOLARINGOLOGIA Otorrinolaringologia 3 48 TRAUMATO-ORTOPEDIA Traumatologia e Ortopedia

4 48 NEUROLOGIA E Neurologia / Neurocirurgia /

NEUROCIRURGIA Farmacologia

5 48 PSIQUIATRIA Psiquiatria / Farmacologia

6 48 TERAPIA INTENSIVA Clínica Médica / Cirurgia /

95

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Pediatria

7 48 OFTALMOLOGIA Oftalmologia

8 64 ASSISTÊNCIA BÁSICA À Assistência Básica à Saúde do

SAÚDE Adulto II

9 64 DESENVOLVIMENTO Medicina Legal e Deontologia

PESSOAL Médica

10 60 OPTATIVO Disciplinas optativas

572

INTERNATO COM DURAÇÃO DE 23 MESES – 1 MÊS DE FÉRIAS E UM MÊS DE

ESTÁGIO ELETIVO

SEMESTRES 9 e 10

1 1248 INTERNATO EM CLÍNICA

Mínimo de 05 meses

MÉDICA

26

SEMANAS

/ 48H

INTERNATO EM SAÚDE Mínimo de 04 meses

2 936 01 mês no CRUTAC COMUNITÁRIA 01 mês em

26 Urgência/Emergência SEMANAS

/ 36H

SEMESTRES 11 e 12

1 768 INTERNATO EM Mínimo de 03 meses

CIRURGIA 01 mês em

16 Urgência/Emergência SEMANAS

/ 48H

2 768 INTERNATO EM Mínimo de 03 meses

PEDIATRIA 01 mês em

16 Urgência/Emergência SEMANAS

/ 48H

3 768 INTERNATO EM Mínimo de 03 meses

TOCOGINECOLOGIA 01 mês em

16 Urgência/Emergência SEMANAS

/ 48H

96

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ANEXO C - Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa da UECE

97

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98

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ANEXO D - Disciplinas do curso de Medicina da UFC que abordam competências e

habilidades gerais preconizadas nas DCN.

Competências e Habilidades Gerais contempladas

Ate

nção

àsa

úde

Tom

ada

dede

cisõ

es

Co

mu

nic

ação

Lid

eran

ça

Adm

in./G

eren

ciam

ento

Educ

ação

Perm

anen

te

Disciplina e Carga horária Ementa

S1

M1

: E

DU

CA

ÇÃ

O E

ME

DIC

INA

– 3

2h

/au

la O ser humano na dimensão biopsicossocial.

Características geográficas e sociais da região

Nordeste. A Universidade na sociedade atual.

Estrutura e funcionamento da UFC. Visão geral

da Medicina e do exercício profissional. O x

papel do médico. O acesso à informação. O

perfil do médico a ser formado. O currículo do

Curso de Medicina: estrutura e modelo

pedagógico.

Moléculas da vida e reações enzimáticas.

S1

M2

: B

IOL

OG

IA

CEL

ULA

R E

MO

LEC

ULA

R

-96h

/aul

a

Estrutura celular: principais componentes e

organelas. Integração celular: junções celulares,

adesão celular e matriz extracelular. Etapas e

controle do ciclo celular. Replicação gênica.

Transcrição e síntese proteica. Técnicas de

biologia molecular.Metabolismo celular e

produção de energia. Receptores de membrana e

os sistemas de transdução de sinais biológicos.

Gametogênese e fertilização humana.

-

Implantação e desenvolvimento do ovo.

Formação do embrião humano e malformações

S1M

3:

GÊN

E

SE

EDES

E

NV

OL

VIM

E

NTO

72

h/au

la

congênitas. Placenta e membranas fetais.

Desenvolvimento dos tecidos e órgãos do corpo

humano. O período fetal. Fundamentos da

microscopia ótica. Características gerais dos

principais tecidos do corpo humano.

Morfofisiologia do sistema hematopoiético.

Coagulação do sangue. Morfofisiologia do

sistema imunológico. O princípio da homeostase.

– Embriologia do sistema muscular e esquelético.

As características gerais dos tecidos ósseo e

AP

AR

EL

HO

LO

CO

MO

TO

R

muscular. As relações anatômicas do esqueleto

e músculos do corpo humano. As estruturas do

corpo humano e as correspondentes imagens.

10

4h/a

ula

Fundamentos dos métodos diagnósticos por

imagem. As características mecânicas dos ossos

e dos músculos. Transporte através da

membrana. Potencial de membrana e os mecanismos envolvidos no potencial de ação.

Função das fibras musculares esqueléticas. O exercício e o condicionamento físico. Ação de

S1

M

4:

fármacos sobre os tecidos ósseo e muscular.

Semiologia do aparelho locomotor.

99

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- Embriogênese do sistema nervoso. Principais

tipos celulares componentes do sistema nervoso.

SIS

TE

MA

NE

RV

OS

O

Estruturas anatômicas e organização do sistema

nervoso central e periférico. Imagens das 13

6h/a

ula

estruturas. Impulso nervoso. Estrutura e

organização do sistema nervoso autônomo.

Sistemas sensitivos gerais e especiais da audição

e da visão. Integração neuroendócrina. Ritmos

biológicos. Regulação da postura e locomoção. Funções corticais superiores. Principais

S1M

5:

fármacos com ação sobre o sistema nervoso.

Semiologia do sistema nervoso.

S1

M6

: A

SS

IST

ÊN

CIA

SIC

A

À S

DE

: F

UN

DA

ME

NT

OS

O processo saúde- doença. Evolução das

AS

SIS

NC

IA M

ÉD

ICA

-

práticas médicas. Políticas de saúde.

DA

PR

ÁT

ICA

E D

A

Organização dos serviços de saúde. A reforma

sanitária. Sistema Único de Saúde. Diretrizes e

68

h/a

ula

objetivos do SUS. Integração docente assistencial. Ações preventivas básicas:

x

hidratação oral, vacinação, incentivo ao aleitamento materno e condutas em IRA,

crescimento e desenvolvimento da criança.

Educação e saúde. Primeiros socorros:

hemorragia e choque; fraturas; urgências

clínicas e ambientais; reanimação

cardiorrespiratória cerebral.

ÉT

ICA

DA

ME

DIC

INA

– 6

8h

/au

la História da Medicina. Evolução da formação do

S1

M7

: D

ES

EN

VO

LV

IME

NT

O

PE

SS

OA

L:

A E

VO

LU

ÇÃ

O

HIS

RIC

A,

CIE

NT

ÍFIC

A E

raciocínio clínico na Medicina desde Hipócrates

aos nossos dias, levando em consideração as

contribuições herdadas da filosofia, da ciência

moderna e da ética médica. Bioética e Ciências.

O estudante de Medicina e as entidades médicas

(Conselho Regional de Medicina do Estado do X X X

Ceará, Sindicato dos Médicos e Centro Médico

Cearense). Bioética e Clínica (estudo de

casos).Metodologia científica: construção da

nomenclatura médica, análise crítica e

interpretação dos resultados da pesquisa

científica.

S2

M1

:

PR

INC

ÍPIO

S

FA

RM

AC

OL

OG

IA Evolução histórica e conceitos básicos da

Farmacologia. Identificação dos mecanismos

– 4

8h

/au

la

farmacocinéticos relacionados à absorção,

DE

distribuição, biotransformação e excreção dos

fármacos (farmacocinética). Mecanismos gerais

de ação dos fármacos (farmacodinâmica).

Interação entre fármacos.

CA

RD

IOV

AS

CU

LA

R Embriogênese do aparelho circulatório e

S2

M2

: S

IST

EM

A

malformações congênitas. Estruturas do sistema

– 6

0h

/au

la

circulatório e correspondentes imagens.

Relações anatômicas do coração e dos vasos

sanguíneos no corpo humano. Características

gerais dos tecidos cardíaco e vascular.

Propriedades eletromecânicas do coração e sua

representação eletrocardiográfica. O ciclo

cardíaco. Hemodinâmica.

100

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Principais etapas da embriogênese do sistema

S2

M3

: S

IST

EM

A

RE

SP

IRA

RIO

– respiratório. Os componentes do sistema

respiratório, suas características histológicas e

60

h/a

ula

correspondentes imagens. Fisiologia da

respiração. Principais vias de inervação e

vascularização do sistema respiratório. Relações

funcionais entre ventilação e perfusão,

pulmonar. O processo da hematose e ajustes

metabólicos.

Embriogênese do tubo digestivo. Histologia dos

S2

M4

: S

IST

EM

A

DIG

ES

RIO

– componentes do sistema digestório. Estruturas

dosistema digestórioe as imagens 8

8h

/au

la

correspondentes. Principais vias de inervação e

vascularização do sistema digestório. Secreção

gástrica cloridro-péptica. Motilidade

gastrintestinal. Digestão e absorção dos

alimentos. Absorção da água, dos sais, e

vitaminas. Semiologia do sistema digestório.

S2

M5

: S

IST

EM

A

EN

CR

INO

– Metabolismo dos alimentos. Produção e

utilização de energia. Controle hormonal do

88

h/a

ula

metabolismo normal e suas alterações.

Metabolismo dos xenobióticos. Anatomia e

histologia do sistema endócrino. Fisiologia do

eixo hipotálamo-hipofisário, e das glândulas

tireóide, paratireóide, adrenal e pâncreas.

- Embriogênese do sistema gênito-urinário.

Anatomia e histologia dos rins, bexiga, órgãos

S2

M6

: S

IST

EM

A

NIT

O

UR

INÁ

RIO

– 8

8/a

ula

reprodutores e genitálias. Imagens

correspondentes a estas estruturas. As relações

morfológicas do sistema urinário e reprodutor,

masculino e feminino. Principais vias de

inervação e vascularização do sistema gênito-

urinário. Hormônios sexuais masculinos e

femininos. O ciclo menstrual. A gravidez e o

parto. Métodos anticoncepcionais. Fisiologia

renal.

– Conceitos e identificação de indicadores sociais,

DIA

GN

ÓS

TIC

O D

E

econômicos, ambientais e de saúde na análise da

DA

CO

MU

NID

AD

E

situação de saúde, do perfil epidemiológico e

das condições de vida da comunidade.

72

h/a

ula

Territorialização de riscos em espaços

geográficos e sociais específicos. Perfil de saúde

X

de áreas micro homogêneas do Programa de Saúde da Família. Métodos para a realização do

diagnóstico de saúde da comunidade e para

S2M

7:

SA

ÚD

E

intervenção em saúde: na prática de saúde

pública, na prática clínica e na prática da

pesquisa médica ao nível populacional.

101

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PE

SS

OA

L:

PS

ICO

LO

GIA

Aspectos psicodinâmicos do desenvolvimento

DE

SE

NV

OL

VIM

EN

TO

DE

SE

NV

OL

VIM

EN

TO

HU

MA

NO

– 7

2h

/au

la

humano. As instâncias da personalidade e as

fases do desenvolvimento psicosexual segundo a

psicanálise Freudiana. Os oito estágios do ciclo S

2M

8:

DO

vital segundo Erick H. Erikson. Cognição e

aprendizagem segundo a teoria do

desenvolvimento cognitivo de Piaget. Aspectos

pragmáticos da comunicação. O ciclo de vida

familiar. Aspectos psicoativos de uma vida

saudável.

Lesão celular. Reação inflamatória aguda e

S3

M1

:

PR

OC

ES

SO

S

PA

TO

GIC

OS

GE

RA

IS –

14

4h

/au

la

crônica, as células e mediadores envolvidos,

manifestações sistêmicas. Angiogênese e

reparação. Alterações do crescimento e da

diferenciação celular. Resistência natural

inespecífica. Resposta imunológica específica.

Processos degenerativos. Aterosclerose.

Fatores biopatogênicos, ambientais e genéticos envolvidos em patologias humanas.

Protozoários, helmintos e artrópodes de

interesse médico – modelos para descrição de -

aspectos morfobiológicos dos parasitos e

S3

M2

: R

EL

ÃO

PA

RA

SIT

O

HO

SP

ED

EIR

O –

144

h/a

ula

aspectos clínicos e epidemiológicos das

parasitoses mais frequentes na região. Bactérias,

fungos e vírus envolvidos nas patologias mais

importantes em nosso meio - modelos para

descrição de aspectos morfofuncionais e

patogenéticos. Relação parasito-

hospedeiro:principais mecanismos de virulência

e de escape dos agentes biopatogênicos e a

resposta imunológica. Reações de

hipersensibilidade. Diagnóstico parasitológico, microbiológico e imunológico das principais

patologias. As grandes endemias do Nordeste.

Imunodeficiências primárias e secundárias:

causas, repercussões e diagnóstico. Parasitos

IMU

NO

PA

TO

LO

GI

A

oportunistas associados: bactérias, vírus, fungos

e protozoários. Autoimunidade e mecanismos

14

4h/a

ula

de lesão tecidual. Neoplasias, fatores ambientais

e genéticos e a resposta imunológica aos

tumores. Imunologia dos transplantes.

S3

M

3:

EP

IDE

MIO

LO

GIA

EB

IOE

ST

AT

ÍST

IC Perfil epidemiológico de uma população.

AS

SIS

TE

NC

IA

A –

72

h/a

ula

Medidas de mortalidade e morbidade.

S3

M4

:

SIC

A:

Caracterização e controle de endemias e

epidemias. Técnicas de informática aplicadas à

saúde e métodos epidemiológicos de estudos.

Sistema de vigilância epidemiológica e sanitária

102

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Conceito de Comunidade. A vida comunitária e

S3

M5

: D

ES

EN

VO

LV

IME

NT

O

PE

SS

OA

L:

SA

ÚD

E,

CU

LT

UR

A,

AM

BIE

NT

E E

TR

AB

AL

HO

a teia social. Cultura e saúde. O discurso social

na doença. A comunidade na promoção da

saúde. O corpo biológico e o corpo social. O

doente e o seu meio sócio-cultural. A cultura dos

72

h/a

ula

excluídos. A matriz sócio-cultural do imaginário

nordestino. Os efeitos da globalização nas

X X

estruturas sociais e mentais. Conceito e relações entre saúde, trabalho e ambiente. O contexto

atual da globalização. Problemas ambientais

globais. Saúde, trabalho e ambiente no Brasil e

no Ceará. Metodologias de investigação e

instrumentos de intervenção. Desenvolvimento

sustentável e qualidade de vida.

S4

M1

: A

BO

RD

AG

EM

DO

FIS

IOP

AT

OL

ÓG

ICA

S E

PR

INC

IPA

IS S

INT

OM

AS

As qualidades do médico e seu compromisso com

PA

CIE

NT

E E

BA

SE

S

TE

RA

UT

ICA

S D

OS

E S

INA

IS –

21

6h

/au

la

a vida. Abordagem do paciente. Relação médico-

paciente. Anamnese - sinais e sintomas.

Abordagem clínica e bases fisiopatológicas e

terapêuticas do paciente com sintomas comuns.

Exame físico geral e segmentar. Estudo de peças

anatomopatológicas. Diagnóstico por imagens.

Listagem de problemas do paciente. A

elaboração do diagnóstico clínico: anatômico,

sistêmico, sindrômico, noológico e etiológico.

S4

M2

: A

BO

RD

AG

EM

FIS

IOP

AT

OL

ÓG

ICA

S E

TE

RA

UT

ICA

S D

AS

O prontuário médico. Os direitos do paciente. A

DO

PA

CIE

NT

E E

responsabilidade médica e o sigilo profissional. A

GR

AN

DES

SIN

DR

OM

ES –

abordagem do paciente, bases fisiopatológicas e

BA

SE

S

21

6h

/aula

terapêuticas das grandes síndromes: insuficiência

respiratória, insuficiência cardíaca, insuficiência X

X

circulatória aguda (choque), insuficiência renal,

insuficiência hepática, coma. O paciente com

déficit motor. A medicina baseada em evidências.

SA

ÚD

E:

SA

ÚD

E

CO

MU

NIT

ÁR

IA –

Herança sociocultural: indígena, africana,

AS

SIS

NC

IA

SIC

A À

europeia, e oriental. Os sistemas de representação

S4

M3

:

72

h/a

ula

da doença no Nordeste. Plantas medicinais

cientificamente fundamentadas. Farmácias vivas. X

Medicina popular. Saúde mental comunitária.

Medicina holística. Homeopatia. Acupuntura.

Crítica ao modelo mecanicista biomédico

DE

SE

NV

OL

VIM

EN

TO

PS

ICO

LO

GIA

DIC

A A organização da interação humana com o

sistema. Relações em desenvolvimento:

PE

SS

OA

L:

características das relações com grupos de

S4M

4:

– 7

2h

/au

la

iguais- competição x co-construção;

características das relações hierárquicas X

(pais/filhos; professor/aluno; médico/paciente);

autoridade x corresponsabilidade. O trabalho em

grupo; A relação médico- paciente; situações

especiais na relação médico-paciente; o lugar da

perda e da morte na experiência humana.

103

Page 104: ANA CAROLINA SOUZA TORRES FORMAÇÃO MÉDICA PARA … · Às professoras Maria do Socorro de Sousa e Sarah Maria Fraxé Pessoa, pelos ... de uma coisa não se mede com fita métrica

CL

ÍNIC

A E

CIR

UR

GIA

DO

AP

AR

EL

HO

- Afecções da boca e do esôfago. Dor

abdominal: fisiopatologia e chaves diagnósticas.

Abordagem do paciente com doenças do

estômago-duodeno. Doenças do intestino. O D

IGE

ST

ÓR

IO –

96

h/a

ula

paciente colostomizado. Síndrome desabsortiva.

Avaliação do paciente com diarreia aguda e

crônica. Doenças da vesícula e das vias biliares.

Doenças do pâncreas. Doenças do fígado.

Avaliação do paciente com icterícia, ascite e X

X

hipertensão porta. Icterícia e gravidez. Abordagem multidisciplinar do alcoolismo.

Transplante de fígado. Doenças psicossomáticas

do aparelho digestório. Aspectos nutricionais

em Gastrenterologia. Métodos complementares

de diagnósticos. O impacto da doença do aparelho digestório sobre o paciente. Prevenção

S5

M

1:

das doenças do aparelho digestório. Relação

médico-paciente – aspectos éticos.

– Avaliação do estado nutricional. Necessidades

nutricionais. Efeito das doenças sobre o estado

NU

TR

OL

OG

IA

S5M

2:

48

h/a

ula

nutricional. Dietoterapia- prescrição de dietas.

Suporte nutricional: oral, enteral e parenteral. X

Suporte nutricional em situações especiais.

Relação médico-paciente e aspectos éticos.

Nutrição e vida saudável.

Regulação genética da produção de hormônios.

E

Interação entre hipotálamo, hipófise e órgãos

EN

DO

CR

INO

LO

GIA

:CL

ÍNIC

A

efetores. Avaliação e exame físico do paciente

CIR

UR

GIA

– 4

8h

/aula

com endocrinopatia. Conduta diagnóstica e

terapêutica nas endocrinopatias mais frequentes:

doenças hipofisárias, da tireoide e paratireoide,

S5

M3

:

diabete melito, doenças adrenais, obesidade.

X

Implicações clínicas do metabolismo anormal das lipoproteínas. Distúrbios do metabolismo da

água e dos eletrólitos. O impacto da doença

endócrina sobre o paciente. Prevenção das

doenças endócrinas e metabólicas e melhoria da

Qualidade de vida. Relação médico-paciente e

aspectos éticos.

CL

ÍNIC

A E

CIR

UR

GIA

DO

AP

AR

EL

HO

Manifestações importantes da doença cardíaca.

Problemas comuns revelados pela ausculta

cardíaca. Diagnóstico das doenças cardíacas.

CA

RD

IOV

AS

CU

LA

R –

96

h/a

ula

Insuficiência cardíaca congestiva. Doenças

cardíacas comuns: cardiopatia isquêmica,

cardiopatia hipertensiva, cardiopatia reumática,

miocardiopatia dilatada, endocardite infecciosa.

Doenças do pericárdio: pericardite aguda,

pericardite constritiva, tamponamento

X

pericárdico. Cardiopatias congênitas comuns: comunicação interarterial, comunicação

interventricular, persistência do canal arterial,

tetralogia de Fallott. Mixoma atrial, Hipertensão

arterial e gravidez. Transplante cardíaco. O

impacto da doença cardíaca sobre o paciente e a família e aspectos éticos. Reabilitação do

S5

M

4:

paciente. A prevenção das doenças

cardiovasculares e melhoria da qualidade de

vida.

104

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Principais manifestações das doenças

PN

EU

MO

LO

GIA

E

CIR

UR

GIA

pulmonares. Exame do tórax por imagem.

Diagnóstico das doenças pulmonares. Doenças

pulmonares mais frequentes: pneumonias, T

OR

ÁC

ICA

– 9

6h

/au

la doença pulmonar obstrutiva, tuberculose

pulmonar, câncer de pulmão, abscesso

pulmonar, bronquiectasia. Conduta diagnóstica

no nódulo pulmonar solitário e no derrame X

pleural. Insuficiência respiratória crônica. Outras condições pulmonares: pneumonites,

sarcoidose, fibrose cística, granulomatose de

Wegner, pneumoconiose. O impacto da doença

pulmonar sobre o paciente. Prevenção das

S5M

5:

doenças respiratórias e condicionamento físico.

Reabilitação pulmonar. Relação médico- paciente e aspectos éticos.

S5

M6

: A

SS

IST

ÊN

CIA

SIC

A

À S

DE

: A

TE

ÃO

SIC

A

Morbimortalidade infantil e seus determinantes.

À S

DE

DA

CR

IAN

ÇA

Anamnese e exame clínico da criança.

Relacionamento médico- paciente-família.

Aleitamento materno, recomendações e

64

h/a

ula

orientação alimentar, crescimento e

desenvolvimento, imunização, saúde oral, X

atenção ao adolescente. Promoção de uma vida

saudável. A estratégia de atenção integrada às

doenças prevalentes na infância (AIDPI).

Direitos da criança e do adolescente. Atenção

básica à criança com necessidades especiais.

Ética em pediatria.

DE

SE

NV

OL

VIM

EN

TO

PE

SS

OA

L:

BIO

ÉT

ICA

E

CID

AD

AN

IA –

64

h/a

ula

O estudo das implicações éticas de uma ação

transdisciplinar em face dos desafios

epistemológicos contemporâneos, diante dos

S5M

7:

novos paradigmas em atenção à saúde. Aposição

da Bioética como construtora de cidadania. A X

Bioética como balizadora da legitimidade

profissional na área da Saúde. A relação médico-

paciente pelo prisma da Bioética.

– Características do perfil de morbimortalidade

perinatal em diversos países e regiões.

OB

ST

ET

RÍC

I

A

Características biopsico- sociais do ciclo

grávido-puerperal. Assistência pré-natal de

baixo e de alto risco. Patologias do ciclo

grávido- puerperal. Crescimento e

desenvolvimento intrauterino. Mecanismo e

NE

ON

AT

OL

OG

IA

E

96

h/a

ula

assistência do trabalho de parto normal e

distócico. Atenção ao recém-nascido (RN) na x

sala de parto. Assistência ao puerpério normal e

patológico. Anamnese e exame clínico do RN.

Assistência ao RN no alojamento conjunto.

Ações básicas de assistência ao RN normal e de

alto risco. Infecções perinatais. Manuseio das patologias neonatais de alta prevalência.

S6

M

1:

Síndromes genéticas e malformações

congênitas. Relação médico-paciente e família -

aspectos éticos.

105

Page 106: ANA CAROLINA SOUZA TORRES FORMAÇÃO MÉDICA PARA … · Às professoras Maria do Socorro de Sousa e Sarah Maria Fraxé Pessoa, pelos ... de uma coisa não se mede com fita métrica

PE

DIÁ

TR

ICA

Anamnese Pediátrica. Semiologia Pediátrica.

Aspectos éticos particulares no atendimento à

criança: relação

médico-paciente e família. Malformações

congênitas. Inter sexo. Distúrbios do crescimento e do desenvolvimento. Doenças

PED

IATR

IA E

CIR

UR

GIA

96h/

aula

prevalentes na infância: insuficiência respiratória aguda, asma, diarreia, desnutrição,

doença febril, doenças infecciosas e AIDS. A x

estratégia de atenção integrada às doenças prevalentes na infância (AIDPI) e seus

componentes: atenção à criança doente de 1

semana a 2 meses de idade; avaliação,

classificação e tratamento da criança doente de 2

meses a cinco anos de idade. Conduta diagnóstica e terapêutica nas doenças crônicas

S6

M

2:

da infância. Abordagem clínica das patologias cirúrgicas na infância; aspectos éticos.

Propedêutica ginecológica e relação médico

96

h/a

ula

paciente. Aspectos éticos em Ginecologia.

Fisiologia do ciclo menstrual e seus distúrbios.

Puberdade normal e patológica. Doenças inflamatórias pélvicas e vulvovaginites. –

Diagnóstico, tratamento e prevenção das

GIN

EC

OL

OG

I

A

doenças sexualmente transmissíveis.

Diagnóstico, tratamento e prevenção do câncer x

ginecológico. Patologias benignas e malignas da

mama. Patologias benignas e malignas da vulva,

da vagina, do útero e do ovário. Noções de

sexologia. Hormoniologia. Inter sexo.

S6

M

3:

Infertilidade. Planejamento familiar. Climatério

e tratamento de reposição hormonal. Promoção

da saúde da mulher.

Manifestações comuns das doenças nefrológicas

96h/a

ula

e urológicas. Principais formas de apresentação

das glomerulopatias. Avaliação do paciente com

doença nefrológica ou urológica. Glomerulopatias primárias. Glomerulopatias

E

UR

OL

OG

IA secundárias. Insuficiência renal aguda.

Insuficiência renal crônica. Litíase urinária.

Infecção urinária. Doença renal na gravidez.

Transplante renal. Hiperplasia prostática

benigna. Prostatite. Câncer de próstata. X

Câncer de rim, de testículo e de pênis. Tumores

NE

FR

OL

OG

I

A

uroteliais. Urologia feminina. Infertilidade

masculina. Disfunção erétil. Bexiga

neurogênica. Traumaurogenital. Métodos

diagnósticos: laboratoriais, por imagem e

endoscópicos. Prevenção das doenças

nefrológicas e urológicas. O impacto das

S6

M4

:

doenças nefrológicas e urológicas sobre o

paciente. Aspectos éticos em nefrologia e

urologia.

106

Page 107: ANA CAROLINA SOUZA TORRES FORMAÇÃO MÉDICA PARA … · Às professoras Maria do Socorro de Sousa e Sarah Maria Fraxé Pessoa, pelos ... de uma coisa não se mede com fita métrica

S6

M5

: A

SS

IST

ÊN

CIA

SIC

A À

SA

ÚD

E: Diagnóstico clínico e laboratorial de gravidez e

CR

IAN

ÇA

E D

A G

ES

TA

NT

E –

64

h/a

ula

semiótica obstétrica. Acompanhamento pré-natal

AT

EN

ÇÃ

O B

ÁS

ICA

À S

DE

DA

de baixo risco. Identificação de fatores de risco

materno-fetal e triagem para o pré-natal de alto

risco. Aspectos éticos na assistência pré-

natal,uso de medicamentos e receituário médico.

Anamnese e exame clínico do recém-nascido

(RN). Ações básicas de assistência ao RN

normal. Assistência básica ao puerpério. X

Manuseio das patologias neonatais de alta

prevalência. Ações para promoção do

aleitamento materno. Bases da alimentação no

primeiro ano de vida. Atenção básica à criança

com necessidades especiais. Prevenção e

assistência às doenças prevalentes na infância:

insuficiência respiratória aguda, asma, diarréia,

desnutrição, doenças febris e infecções.

S6

M6

: D

ES

EN

VO

LV

IME

NT

O

PE

SS

OA

L:

PS

ICO

PA

TO

LO

GIA

Que é Psicopatologia. O normal e o patológico.

As funções psíquicas elementares: consciência,

atenção, orientação, sensopercepção, memória,

afetividade, vontade, psicomotricidade,

– 6

4h/a

ula

pensamento, juízo da realidade, linguagem,

personalidade e inteligência. As grandes

síndromes psiquiátricas: ansiosas, depressivas e

maníacas, psicóticas, volitivo-motoras,

relacionadas ao uso de substâncias psicoativas,

psicorgânicas e relacionadas ao desenvolvimento da personalidade. A avaliação

psiquiátrica. O diagnóstico psiquiátrico.

Conduta diagnóstica e terapêutica nas doenças

96h/a

ula

infecciosas prevalentes. Doenças virais: AIDS,

citomegalovirose, mononucleose infecciosa,

caxumba, hepatites, dengue, poliomielite, raiva,

doenças exantemáticas, meningoencefalites.

INF

EC

CIO

SA

S

Doenças bacterianas: cólera, coqueluche,

difteria, salmoneloses, tuberculose,

estreptococcias e estafilococcias, peste, tétano,

meningites e doença meningocócica. Doenças

X

causadas por espiroquetídeos: leptospirose e sífilis. Doenças causadas por fungos: micoses

DO

EN

ÇA

S

superficiais, cutâneas, subcutâneas, sistêmicas e oportunistas. Doenças causadas por parasitos:

malária, doença de Chagas, leishmanioses

visceral e tegumentar, toxoplasmose e

parasitoses oportunistas. Protozoozes intestinais

S7M

1:

e helmintoses. Prevenção das doenças infecciosas e parasitárias. Relação médico-

paciente-família e aspectos éticos.

107

Page 108: ANA CAROLINA SOUZA TORRES FORMAÇÃO MÉDICA PARA … · Às professoras Maria do Socorro de Sousa e Sarah Maria Fraxé Pessoa, pelos ... de uma coisa não se mede com fita métrica

Semiologia dermatológica. Dermatoses do

âmbito da Dermatologia Sanitária: hanseníase,

DER

MA

TOLO

GIA

4

8h/a

ula

leishmaniose tegumentar americana, câncer de pele e doenças sexualmente transmissíveis.

Dermatoses de etiologia parasitária, bacteriana,

fúngica e viral nos seus aspectos clínicos e

X

epidemiológicos. Doenças dermatológicas alérgicas. Doenças profissionais. Diagnóstico

histopatológico e microbiológico. Prevenção e

S7

M

2:

diagnóstico precoce do câncer de pele. Relação

médico-paciente. O impacto das dermatopatias

sobre o paciente.

Manifestações comuns das doenças

48

h/a

ula

hematológicas: anemia, hemorragia,

linfadenopatias, dor óssea, massa abdominal

palpável. O diagnóstico das doenças

hematológicas. Doenças hematológicas –

comuns: anemia, leucemias, linfomas malignos,

HE

MA

TO

LO

GI

A

síndromes mielodisplásicas. Distúrbios

mieloproliferativosnão-leucêmicos. Hemostasia X

e distúrbios hemorrágicos: vasculares e

plaquetários. Distúrbios da coagulação.

Mieloma e doenças relacionadas. Transplante

de medula óssea. Hemoterapia. Doação de

S7

M

3:

sangue. Aspectos éticos e prevenção de doenças. O impacto da doença hematológica

sobre o paciente, a família e o médico.

Conceitos e aspectos epidemiológicos do

envelhecimento. Teorias sobre o processo de

envelhecimento e alterações fisiológicas.

96

h/a

ula

Características do processo saúde-doença nas

pessoas idosas. Princípios da prática geriátrica.

Aspectos farmacológicos e psicológicos. Interações medicamentosas e risco de iatrogenia. –

Interpretação de exames complementares.

GE

RIA

TR

I

A

Grandes síndromes geriátricas: distúrbios

X

mentais (depressão – demência – delirium); incontinências (urinária e fecal); quedas.

Reabilitação geriátrica. Promoção da Saúde:

exercícios na terceira idade; dieta saudável;

S7M

4:

avaliação periódica de saúde das pessoas idosas.

Inserção do idoso na sociedade e em diversos tipos de organizações sociais. O impacto do

envelhecimento e a perspectiva da morte.

Relação médico-paciente-cuidador. Aspectos

éticos em geriatria.

108

Page 109: ANA CAROLINA SOUZA TORRES FORMAÇÃO MÉDICA PARA … · Às professoras Maria do Socorro de Sousa e Sarah Maria Fraxé Pessoa, pelos ... de uma coisa não se mede com fita métrica

Abordagem do paciente com queixas

reumáticas. Laboratório das doenças

48

h/a

ula

reumáticas. Síndromes dolorosas da

coluna. Reumatismos de partes moles: bursite,

tendinite, fibromialgia, síndromes compressivas. Osteoartrose. Osteoporose. Lupus Eritematoso –

Sistêmico. Artrite Reumatóide. Esclerose

RE

UM

AT

OL

OG

I

A

Sistêmica. Dermatopolimiosite. Doença Mista

do Tecido Conjuntivo. Espondiloartropatias X

soronegativas: espondilite anquilosante, artrite reativa, artrite psoriática. Manifestações

articulares de doenças intestinais inflamatórias

crônicas. Gota. Condrocalcinose. Artrite infecciosa. Artrites Crônicas da Infância.

S7M

5:

Prevenção das doenças reumáticas e reabilitação

dos pacientes. O impacto da doença reumática

sobre o paciente e a família. Aspectos éticos e

relação médico-paciente.

Epidemiologia do câncer no mundo.

Epidemiologia do câncer no Brasil e no Ceará.

S7

M6

:ON

CO

LO

GI

A

Princípios da biologia molecular aplicados à

48

h/a

ula

Oncologia. Etiologia do câncer. Prevenção e

detecção precoce do câncer. Oncogenes, genes

X

supressores e citogenética do câncer. Classificação dos tumores e aspectos básicos da

conduta terapêutica. O impacto da doença sobre

o paciente e a família. Aspectos éticos e relação médico-paciente e família.

S7

M7

: A

SS

IST

ÊN

CIA

SIC

A À

SA

ÚD

E D

O

AD

UL

TO

I –

64

h/a

ula

Atenção primária de saúde objetivando a

SIC

A À

SA

ÚD

E: promoção da saúde, a prevenção e a resolução

AS

SIS

NC

IA

ou o encaminhamento de condições clínicas

prevalentes, exercitando o papel pedagógico do

médico e o seu compromisso ético com o X

paciente, a família e a comunidade. O médico e

as dificuldades atuais para o exercício ético da

Medicina. A promoção da saúde e a

responsabilidade do poder público.

DE

SE

NV

OL

VIM

E

NT

O P

ES

SO

AL

:

PR

EV

EN

TIV

A –

Principais agravos à saúde de importância em

ME

DIC

INA

Saúde Pública e sua distribuição no Brasil e no

S7

M8

:

64

h/a

ula

Ceará. Determinantes biológicos e sociais

envolvidos na gênese destas patologias e as X

respectivas medidas de prevenção e

controle.Integração com o Sistema Único de

Saúde nos programas de controle desenvolvidos

pelos serviços oficiais de saúde.

109

Page 110: ANA CAROLINA SOUZA TORRES FORMAÇÃO MÉDICA PARA … · Às professoras Maria do Socorro de Sousa e Sarah Maria Fraxé Pessoa, pelos ... de uma coisa não se mede com fita métrica

O impacto da emergência e da urgência sobre a

equipe médica, o paciente e a família. Aspectos

éticos. Prevenção de acidentes.

Urgências

DIC

A

S

clínicas: distúrbios psiquiátricos agudos, edema

agudo do pulmão, insuficiência circulatória

aguda, insuficiência renal aguda, insuficiência

96

h/a

ula

respiratória aguda. Distúrbios da consciência.

UR

NC

IA

S

Reanimação cardiopulmonar e cerebral. X

Urgências pediátricas: clínicas e cirúrgicas.

Urgências cirúrgicas: gerais, traumatológica,

queimadura, cardiovascular, torácica, abdominal, urológica, proctológica,

S8M

1:

oftalmológica, otorrinolaringológica.

Fundamentos práticos da anestesia, analgesia e

sedação.

OT

OR

RIN

OL

AR

ING

OL

OG

IA –

48

h/a

ula

Anamnese e semiologia. Doenças infecciosas

agudas e crônicas. Deficiências auditivas

congênitas e adquiridas.

S8M

2:

Doenças obstrutivas da vias aéreas superiores.

X

Disfonias e doenças das pregas vocais. Doenças alérgicas. Métodos diagnósticos. Prevenção das

doenças otorrinolaringológicas. Aspectos éticos

e relação médico-paciente.

Abordagem ao paciente e exame clínico. Lesões

OR

TO

PE

DIA

– 4

8h

/au

la fundamentais. Lesões epifisárias na infância e na

S8

M3

: T

RA

UM

AT

O- adolescência. Politraumatismo. Fraturas e

luxações. Deformidades congênitas e adquiridas.

Lesões de esforço repetitivo. Infecções ósteo-

articulares: tuberculose, osteomielite, artrite

X

séptica. Tumores ósseos. Reabilitação; próteses e aparelhos. Diagnóstico por imagem. Prevenção

em traumato-ortopedia. Impacto do trauma

sobre o paciente e a família. Aspectos práticos e

legais do ato médico. Relação médico-paciente e

aspectos éticos.

48

h/a

ula

- Exame neurológico e diagnóstico de

localização. Exames complementares:

indicações e limitações. Principais síndromes neurológicas. Diagnóstico e conduta inicial –

nas doenças neurológicas prevalentes.

NE

UR

OC

IRU

RG

I

A

Estados confusionais agudos. Síndrome de

hipertensão intracraniana e edema cerebral.

Comas. Estado vegetativo persistente. Morte

cerebral e suas implicações legais e éticas.

Epilepsiase síncope. Distúrbios do sono e dos

ritmos circadianos. Cefaléias. Demências e X

amnésias. Lesões focais do cérebro. Distúrbios E

do movimento. Síndromes cerebelares e ataxias.

NE

UR

OL

OG

I

A

Doenças da medula espinhal, das raízes, plexos

e nervos periféricos. Doenças dos músculos e

da junção neuromuscular. Doença vascular

cerebral. Doenças desmielinizantes. Tumores.

Lesões traumáticas. Hidrocefalia. Lesões periparto e anomalias do desenvolvimento do

S8M

4:

sistema nervoso. Reabilitação em Neurologia.

Relação médico-paciente e aspectos éticos e

legais.

110

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48

h/a

ula

Neurobiologia das doenças mentais. Transtornos

do humor. Esquizofrenia. Dependências

químicas. Transtornos de ansiedade. Transtornos somatoformes. Transtornos de personalidade. O –

diagnóstico e as classificações psiquiátricas.

PS

IQU

IAT

RI

A

Utilização de exames laboratoriais e

neuroimagem. Manejo clínico e

psicofarmacologia dos transtornos mentais.

Abordagens psicossociais. Psiquiatria em

populações especiais: criança, gestante e idoso.

S8M

5:

O impacto da doença psiquiátrica sobre o paciente e a família. Saúde mental e cidadania.

48

h/a

ula

Princípios e indicações de terapia intensiva.

Práticas-padrão no cuidado dos pacientes.

Monitorização hemodinâmica. Distúrbios do

fluxo circulatório. Lesão miocárdica. –

Insuficiência respiratória aguda. Ventilação

INT

EN

SIV

A

mecânica. Suporte nutricional para o paciente

grave. Distúrbios neurológicos. Distúrbios

hidroeletrolíticos e ácido-base. Conduta nas

X

infecções mais comuns em UTI. A humanização da UTI e a recuperação do paciente. O impacto

TE

RA

PI

A

da terapia intensiva sobre o paciente e

familiares. O paciente terminal e os limites da

medicina moderna. Morte cerebral. O ato

médico em terapia intensiva, os direitos do

S8

M

6:

paciente e dos familiares. Aspectos éticos e

legais.

OF

TA

LM

OL

OG

IA

Abordagem ao paciente e exame clínico.

Prevenção das doenças oculares e da cegueira.

Doenças da córnea, tratouveal, retina e

– 4

8h

/au

la cristalino. Fundo de olho normal. Fundo de

olho na hipertensão arterial, na arteriosclerose,

X

no diabetes, na gravidez e nas doenças renais. Doenças das pálpebras e do aparelho lacrimal. Ametropiase correções da refração.

S8

M

7:

Estrabismos. Transplante de córnea. Aspectos

éticos e relação médico-paciente.

À Anamnese e exame ginecológico e relação

– médico-paciente. Diagnóstico e tratamento das

S8

M8

: A

SS

IST

ÊN

CIA

SIC

A À

SAÚ

DE:

ASS

ISTÊ

NC

IAB

ÁSI

CA

SAÚ

DE

DO

AD

ULT

O

II64

h/au

la

vulvovaginites e doenças inflamatórias pélvicas.

Prevenção das doenças sexualmente

transmissíveis. Orientação e conduta no

planejamento familiar. Distúrbios menstruais. X

Prevenção do câncer ginecológico. Diagnóstico

do climatério e tratamento de reposição

hormonal. Aspectos éticos do atendimento

ginecológico. Assistência ao trabalhador:

doenças profissionais. A prescrição médica,

atestados.

111

Page 112: ANA CAROLINA SOUZA TORRES FORMAÇÃO MÉDICA PARA … · Às professoras Maria do Socorro de Sousa e Sarah Maria Fraxé Pessoa, pelos ... de uma coisa não se mede com fita métrica

S8

M9

: D

ES

EN

VO

LV

IME

NT

O

PE

SS

OA

L:

ME

DIC

INA

LE

GA

L

E

DE

ON

TO

LO

GIA

– 6

4h

/aula

Aspectos práticos e legais do exercício da

profissão. Responsabilidade, direitos e deveres

do médico. Conduta em situações críticas:

morte, situações de emergência. Comunicação

de más notícias e perdas a pacientes e familiares.

Prescrição de medicamentos, atestados e

licenças. Relação médico-paciente: aspectos

éticos e direitos dos pacientes crônicos, X

terminais, com neoplasias. Aspectos éticos e

legais nos transplantes. O médico e a saúde

pública: doenças de notificação compulsória. A

morte e os fenômenos cadavéricos. Legislação.

Eutanásia. Problemas médico-legais relativos à

identidade, à traumatologia, à tanatologia, à

infortunística, à sexologia, ao matrimônio.

S9 e S10: INTERNATO EM CLÍNICA MÉDICA. Abordagem do paciente para formulação do

diagnóstico clínico, diagnóstico diferencial e

conduta clínica em Medicina Interna, numa

visão integrada de subáreas do conhecimento

médico: cardiologia, pneumologia,

gastroenterologia, infectologia, nefrologia,

endocrinologia, reumatologia, hematologia,

neurologia, dermatologia, psiquiatria e terapia intensiva. Métodos complementares de

diagnóstico e sua aplicação clínica: laboratório,

radiologia, ultra-sonografia, tomografia

computadorizada, medicina nuclear,

eletrocardiografia. Desenvolvimento de

habilidades para a realização de exame clínico,

adoção de medidas de suporte diagnóstico e

terapêutico, atuação nas situações de

urgência, formulação de conduta

terapêutica e intervenções preventivas visando X X X X

à promoção da saúde. Grupos Balint de

discussão de aspectos éticos. Trabalho em

grupo e o cumprimento das normas.

Elaboração e organização de prontuários e

apresentação de casos clínicos. Utilização da

literatura de forma objetiva e crítica.

Acompanhamento ético de pacientes em

ambulatório e em enfermaria, considerando os

aspectos técnicos e psicológicos. Diagnóstico

e tratamento das principais urgências e

emergências clínicas. Diagnóstico e tratamento

dos principais distúrbios psiquiátricos.

Principais agentes farmacológicos, suas

indicações, contra-indicações e efeitos

colaterais. Aspectos práticos e legais do ato

médico: prescrição, solicitação de exames,

atestados. Comunicação de más notícias e

perdas a pacientes e familiares. Grupos Balint

para discussão de aspectos éticos.

INTERNATO EM SAÚDE COMUNITÁRIA Abordagem do paciente e da comunidade para

identificação dos problemas de saúde. Visão dos X

X X

problemas do ponto de vista individual e

coletivo. Assistência à saúde da criança, da

gestante, do adulto e do idoso no nível primário

111

Page 113: ANA CAROLINA SOUZA TORRES FORMAÇÃO MÉDICA PARA … · Às professoras Maria do Socorro de Sousa e Sarah Maria Fraxé Pessoa, pelos ... de uma coisa não se mede com fita métrica

de atenção. Conhecimento do SUS. Familiaridade com o sistema de referência e

contra-referência. Critérios para encaminhar os casos que extrapolam a resolutividade do

serviço. Trabalho em equipe. Visita domiciliar. Acompanhamento de pacientes em domicílio.

Aspectos éticos.

INTERNATO EM CIRURGIA

Abordagem do paciente cirúrgico: anamnese e

exame clínico. Fundamentos da cirurgia e da

anestesia. Cuidados pré e pós-operatórios.

Assepsia, anti-sepsia, infecção em cirurgia.

Hemostasia. Cicatrização. Fisiologia

respiratória. Anatomia e vias de acesso

cirúrgico nas diversas especialidades.

Anestesia geral, regional e seus agentes.

Diagnóstico das principais patologias cirúrgicas.

X Exames complementares pré-operatórios. Acompanhamento de pacientes em enfermarias

no pré e pós-operatório. Participação na equipe

cirúrgica, no posto de auxiliar. Pequenas

cirurgias ambulatoriais sob anestesia local.

Revisões bibliográficas sobre os temas da clínica

cirúrgica. Conduta em casos de emergência

orientando o diagnóstico e a terapêutica

cirúrgica. Grupos Balint para discussão de

aspectos éticos.

INTERNATO EM PEDIATRIA

Características de consulta do pré-natal

realizada pelo pediatra. Papel do pediatra na

sala de parto. Atendimento ao RN em sala de

parto, alojamento conjunto, berçário e banco

de leite humano. Atendimento às crianças na

idade lactente, pré-escolar, escolar e adolescente

no ambulatório e emergência das doenças X

prevalentes na infância: orientações

alimentares, pneumonias, diarréia, otites,

doenças febris e exantemáticas, desnutrição,

asma, anemia e consulta de retorno.

Prevenção de acidentes, saúde oral e

imunização. Grupos Balint para discussão de

aspectos éticos.

INTERNATO EM TOCOGINECOLOGIA O programa abrange o diagnóstico clínico, laboratorial,

radiológico e ecográfico das principais patologias

clínicas e cirúrgicas ginecológicas e obstétricas.

Noções básicas do relacionamento médico-paciente e

ética médica. X Conhecimento teórico-prático dos

principais diagnósticos diferenciais das dores pélvicas,

leucorréias, sangramentos transvaginais e massas

ginecológicas. Grupos Balint para discussão de

aspectos éticos.

113

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ANEXO E - Classificação do Curso de Medicina da UFC de acordo com o Pro-Saúde

Eixo do Pro-Saúde Vetor do Pro-Saúde Classificação do Curso

Cenário de Prática

Diversificação dos Cenários

de Aprendizagem

Estágio II

Integração Ensino-Serviço Estágio II

Orientação Teórica Educação Permanente Estágio II

114

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9. APÊNDICES

APÊNDICE A

Pesquisa “Avaliação da formação dos profissionais de saúde de nível superior pelas

universidades públicas em Fortaleza-CE.”

Roteiro de Entrevista com Profissionais de Saúde

Data___________ Horário_____________

Entrevistador__________________________

Categoria profissional______________________________________________________

Campo 1. Identificação

1.1 Idade:___________________

1.2 Sexo: ( ) Masc. ( ) Fem.

1.3 Etnia/Cor: ( ) branca ( ) preta ( ) amarela ( ) parda ( ) indígena

1.4 Estado civil: [ ] solteiro(a) [ ] casado(a) [ ] divorciado(a) [ ] viúvo(a)

1.5 Local de Trabalho:_______________________________________________________

Tempo de atuação como profissional de saúde:____________________________________

Tempo de Serviço na instituição atual:___________Carga horária de trabalho___________

Vínculo empregatício: ( ) Concursado ( ) Outros Especifique:_______________________________________________________________

1.6 Ano e local de conclusão da graduação:______________________________________

Pós-Graduação:____________________________________________________________

Áreas que já atuou:__________________________________________________________

1.7 Você participa(ou) de alguma atividade sociopolítica? ( ) Sim ( ) Não

Se Sim, quais?

( ) Movimento estudantil ( ) Conselhos gestores de políticas ( ) Organizações

religiosas ( ) Partidos políticos ( ) ONGs ( ) Entidades comunitárias

( ) Associações e sociedades científicas

Especifique________________________________________________________________

( ) Outros:________________________________________________________________

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Campo 2. Atuação profissional

2.1 Fale sobre a sua atuação profissional na APS______________________________________

2.2 Relacione aspectos positivos e as dificuldades enfrentadas em sua prática profissional. Que estratégias utiliza para contornar os desafios encontrados no cotidiano das suas práticas? ________________________________________________________________________________

2.3 Que vivências você destacaria que contribuíram para sua atuação na APS? _____________________________________________________________________________

2.4 Como você avalia a contribuição do curso de graduação para a sua prática na APS? _____________________________________________________________________________

2.5 Quais as disciplinas que mais contribuíram para sua prática na APS? Com relação às demais disciplinas do curso, qual (is) também poderia(m) ter contribuído? Com que subsídios? _____________________________________________________________________________

2.6 Você participou de outras atividades acadêmicas que considera importante para sua atuação na APS? Se sim, quais? _____________________________________________________________________________

2.7 No posto de saúde que você trabalha(ou) existe(iu) integração com a Universidade (Ensino-Serviço-Comunidade)? Você participa(ou) diretamente? Recebe(ou) estagiários PET Saúde? Fale sobre isso. _____________________________________________________________________________

2.8 Quais suas sugestões para aprimorar a formação profissional para a APS? _____________________________________________________________________________

2.9 Quando você pensa na sua prática profissional na APS, quais as 3 primeiras palavras que vêm a sua mente?________________________________________________________________

3.0 Você já participou de atividades no serviço de saúde em que atua(ou) voltadas para a Educação Permanente? _______________________________________________________________________________

3.1. Você acha que o médico formado pela UFC está preparado para atuar na APS? Por que? ________________________________________________________________________________

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APÊNDICE B

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Profissionais e Gestores

Pesquisa: Avaliação da formação de profissionais de saúde de nível superior pelas

universidades públicas em Fortaleza-CE.

Convidamos o Sr (a) para participar da pesquisa “Avaliação da formação de

profissionais de saúde de nível superior pelas universidades públicas em Fortaleza-CE” que

tem como objetivo avaliar os cursos de graduação da área de saúde nas universidades

públicas de Fortaleza-CE, com ênfase na formação para atuação na atenção primária.

Esta pesquisa será realizada por um grupo de pesquisadores da Universidade

Estadual do Ceará (UECE), da Universidade Federal do Ceará (UFC), da Secretaria de

Saúde do Estado do Ceará e da Secretaria Municipal de Saúde/Sistema Municipal de Saúde

Escola.

Participarão do estudo os cursos Medicina, Enfermagem, Nutrição, Psicologia,

Educação Física, Serviço Social, Odontologia e Farmácia da UECE e UFC, além de

envolver profissionais da Rede de Atenção Primária e os gestores do setor saúde em

Fortaleza-Ceará. Os resultados serão divulgados primeiramente nas instituições e por meio

de publicações nos periódicos científicos. Nossa expectativa é contribuir no

aperfeiçoamento dos processos formativos dos cursos de graduação da área de saúde. Sua

participação se dará por meio de uma entrevista individual e de participação em um grupo

focal. Consideramos sua contribuição essencial para conhecermos melhor o processo de

formação em saúde ofertado pelas universidades públicas em Fortaleza. A participação na

pesquisa envolve risco mínimo, uma vez que não prevê nenhum procedimento invasivo. O

possível risco está relacionado à exposição e discussão de suas opiniões e conhecimentos

perante seus pares e profissionais que ocupam posições hierarquicamente diferentes da sua

no sistema de saúde; Enquanto o benefício do estudo diz respeito ao que sua contribuição

pode dar para a formação profissional, uma vez que as experiências e vivências relatadas

subsidiarão a reflexão teórica na busca do aperfeiçoamento da formação proporcionada

pelos cursos de saúde. Sua adesão como informante da pesquisa será declarada por meio da

assinatura deste Termo de Consentimento assinado em duas vias, uma das quais ficará com

o Sr. (a) e a outra com a pesquisadora responsável. Se optar por participar, e depois mudar

de ideia, poderá desistir a qualquer momento sem que isto implique em qualquer tipo de

consequência para você. Esclarecemos que a participação será totalmente voluntária e caso

escolha participar como informante da pesquisa, sua identidade será mantida em sigilo.

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Esta pesquisa recebeu o aval do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do

Ceará, cujo telefone é (85) 31019890.

_________________________________________________________________________

Maria Marlene Marques Ávila

(85) 3260-1493 / 3101-9644

Pesquisadora Responsável

_________________________________________________________________________

Após receber estas informações, declaro que entendi os objetivos da participação na

pesquisa “Avaliação da formação de profissionais de saúde de nível superior pelas

universidades públicas em Fortaleza-CE.” e declaro minha participação como

informante voluntário.

Nome:____________________________________________________________________

Assinatura:________________________________________________________________

Fone: _______________

Fortaleza, ____de________201__

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