ana vidigalfasvs.pt/documentos/vidigalquarta.pdf · 2020. 9. 21. · a exposição de ana vidigal...

1
A exposição de Ana Vidigal (Lisboa, 1960) intitulada Arpad e as cinco dá continuidade à pesquisa estética que a artista tem vindo a realizar sobre algumas problemáticas, nomea- damente, sobre os conceitos de doméstico, intimidade, privacidade, público e exterioridade. Recorrendo ao nome do patrono do museu - Arpad Szenes - as obras apresentadas refletem, com ironia, sobre o papel de artistas mulheres que foram profissionalmente mais bem sucedidas que os seus parceiros masculinos, a saber: Maria Helena Vieira da Silva, Ana Vieira, Paula Rego e Lourdes Castro. Ao prestar homenagem a estas artistas, Ana Vidigal reformula sarcasticamente a conhecida e redutora expressão «por trás de um grande homem está sempre uma grande mulher». Apesar das cinco obras apresentadas na exposição seguirem o método de trabalho que a artista Ana Vidigal tem desenvolvido em torno da colagem e da pintura sobre recortes de revistas e outras imagens que coleciona e arquiva, a narrativa intrínseca de cada pintura corresponde ao universo imaginário da artista homenageada a que a obra faz referência. Deste modo, a obra Acabou o glamour - para a mhvs, sobre Vieira da Silva, é uma apropriação de um cartaz sobejamente conhecido que a pintora realizou sobre o 25 de Abril de 1974. A intervenção pictórica de Ana Vidigal parece masculinizar a obra com a rigidez que a estrutura retangular e ortogonal historicamente pressupõe. Enquanto na obra Bandalha, sou mais mazinha do que ela - para pr, em homenagem a Paula Rego, Ana Vidigal constrói uma narrativa fantástica com diversas personagens delirantes. A obra Ter mais fôlego para sobreviver - para av, sobre Ana Vieira, utiliza elementos caraterísticos do trabalho desta artista sobre o lugar e o imaginário da casa e do doméstico. A obra Nós, os sonsos essenciais - para LC, referente a Lourdes Castro, apresenta um conjunto de sacos de papel que remetem para o universo arquivista da artista homenageada. Por último, a pintura Errar por último não implica desequilíbrio surpreende pelo possível divertido auto-referencial que a artista faz de si própria. Esta exposição pode ser mais um momento de reflexão, com a ironia e humor caraterísticos da artista Ana Vidigal, sobre o papel das mulheres no meio artístico e na sociedade em geral. Contudo, não se trata apenas de uma crítica unidimensional ou em sentido único, na complexidade da imagética das obras apresentadas parece que a artista dispara em todas as direções e baralha uma possível visão simplista e unívoca a que a arte é adversa. FUNDAÇÃO ARPAD SZENES – VIEIRA DA SILVA Quarta a Domingo 10h00-18h00 Encerra segundas, terças e feriados. Praça das Amoreiras, 56/58 1250-020 Lisboa www.fasvs.pt No museu é obrigatório usar máscara, respeitar a distância de segurança entre visitantes e seguir o circuito expositivo assinalado. O museu disponibiliza desinfectante para as mãos. Estas medidas seguem as recomendações da DGS. Ana Vidigal 01 out. 2020 17 jan. 2021

Upload: others

Post on 24-Feb-2021

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Ana Vidigalfasvs.pt/documentos/vidigalquarta.pdf · 2020. 9. 21. · A exposição de Ana Vidigal (Lisboa, 1960) intitulada Arpad e as cinco dá continuidade à pesquisa estética

A exposição de Ana Vidigal (Lisboa, 1960) intitulada Arpad e as cinco dá continuidade à pesquisa estética que a artista tem vindo a realizar sobre algumas problemáticas, nomea-damente, sobre os conceitos de doméstico, intimidade, privacidade, público e exterioridade. Recorrendo ao nome do patrono do museu - Arpad Szenes - as obras apresentadas refletem, com ironia, sobre o papel de artistas mulheres que foram profissionalmente mais bem sucedidas que os seus parceiros masculinos, a saber: Maria Helena Vieira da Silva, Ana Vieira, Paula Rego e Lourdes Castro. Ao prestar homenagem a estas artistas, Ana Vidigal reformula sarcasticamente a conhecida e redutora expressão «por trás de um grande homem está sempre uma grande mulher».

Apesar das cinco obras apresentadas na exposição seguirem o método de trabalho que a artista Ana Vidigal tem desenvolvido em torno da colagem e da pintura sobre recortes de revistas e outras imagens que coleciona e arquiva, a narrativa intrínseca de cada pintura corresponde ao universo imaginário da artista homenageada a que a obra faz referência. Deste modo, a obra Acabou o glamour - para a mhvs, sobre Vieira da Silva, é uma apropriação de um cartaz sobejamente conhecido que a pintora realizou sobre o 25 de Abril de 1974. A intervenção pictórica de Ana Vidigal parece masculinizar a obra com a rigidez que a estrutura retangular e ortogonal historicamente pressupõe. Enquanto na obra Bandalha, sou mais mazinha do que ela - para pr, em homenagem a Paula Rego, Ana Vidigal constrói uma narrativa fantástica com diversas personagens delirantes. A obra Ter mais fôlego para sobreviver - para av, sobre Ana Vieira, utiliza elementos caraterísticos do trabalho desta artista sobre o lugar e o imaginário da casa e do doméstico. A obra Nós, os sonsos essenciais - para LC, referente a Lourdes Castro, apresenta um conjunto de sacos de papel que remetem para o universo arquivista da artista homenageada. Por último, a pintura Errar por último não implica desequilíbrio surpreende pelo possível divertido auto-referencial que a artista faz de si própria.

Esta exposição pode ser mais um momento de reflexão, com a ironia e humor caraterísticos da artista Ana Vidigal, sobre o papel das mulheres no meio artístico e na sociedade em geral. Contudo, não se trata apenas de uma crítica unidimensional ou em sentido único, na complexidade da imagética das obras apresentadas parece que a artista dispara em todas as direções e baralha uma possível visão simplista e unívoca a que a arte é adversa.

FUNDAÇÃO ARPAD SZENES – VIEIRA DA SILVA

Quarta a Domingo 10h00-18h00Encerra segundas,terças e feriados.

Praça das Amoreiras, 56/58 1250-020 Lisboawww.fasvs.pt

No museu é obrigatório usar máscara, respeitar a distância de segurança entre visitantes e seguir o circuito expositivo assinalado. O museu disponibiliza desinfectante para as mãos.Estas medidas seguem as recomendações da DGS.

Ana Vidigal

01 out. 202017 jan. 2021