visão pessimista do portugal da regeneração
Post on 18-Dec-2014
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Visão Pessimista do Portugal da Regeneração (cap. XVIII)
O episódio final funciona como um epílogo do romance, dez anos depois de encerrada
a intriga, e quando Carlos visita Lisboa, vindo de Paris, imbuído de um grande pessimismo.
Durante a última conversa entre Carlos e Ega, a par do sentimento de desilusão
pessimista que domina os dois amigos, o instinto da vida, a faceta romântica, aliada ao sonho,
continuam a dominar as personagens que, apesar de tudo, e contradizendo-se face à teoria
que desenvolvem, correm «desesperadamente pela Rampa de Santos pelo Aterro», para não
perderem o americano.
O que marca, fundamentalmente, este último diálogo é o facto de os dois amigos
terem determinado «a teoria definitiva da existência – o fatalismo muçulmano», que consistia
no facto de «nada desejar e nada recear», «[e] mais que tudo não ter contrariedades». Esta
teoria sintetiza aquilo que está no âmago da corrente naturalista, segundo a qual a literatura
deveria ser uma aplicação das teses científicas e filosóficas mais recentes. Aqui assistimos à
ideia de que o ser humano não tem capacidade para determinar os acontecimentos que lhe
estão destinados. No fundo, esta obra propõe uma reflexão sobre o destino do Homem no
mundo.
Em Lisboa, as pessoas traduziam a decadência do país, caracterizando-se,
principalmente, pela inação, pela ociosidade crónica que os levava a vagabundear, sem
destino certo, numa moleza doentia ou a «pasmar» para quem passava.
A visão pessimista do escritor manifesta-se, contudo, através das atitudes de Carlos
e de Ega que, «enquanto vencidos da vida», significam a negação da essência ideológica da
Geração de 70 – desistindo de lutar, permitindo que os seus ideais sejam esmagados pelo
meio em que estão inseridos, abdicam da construção de uma nova fase na vida mental
portuguesa. É essa a conclusão de Ega, no final da obra:
- Falhámos na vida, menino!
C o l é g i o A m o r d e D e u s – C a s c a i s P o r t u g u ê s 1 1 º a n o A n o l e t i v o 2 0 1 3 / 2 0 1 4
- Creio que sim... Mas todo o mundo mais ou menos a falha. Isto é, falha-se sempre na
realidade aquela vida que se planeou com a imaginação.
É importante ainda referir que o passeio que Carlos e Ega dão a Lisboa é altamente
simbólico. Os espaços que atravessam têm profundas conotações históricas e ideológicas:
- o Largo de Camões – representa o Portugal heroico, glorioso, mas perdido, envolvido por
uma atmosfera de estagnação;
- O Chiado – representa o Portugal do presente, o país
decadente da Regeneração;
- Os Restauradores – símbolo de uma tentativa de
recuperação falhada, e a prová-lo está o ambiente de
decadência e amolecimento que cerca o obelisco;
- Os bairros antigos da cidade (Graça e Penha) –
representam a época anterior ao liberalismo, o Portugal absolutista, um tempo que, não
obstante a sua autenticidade, é recusado por Carlos por causa da sua intolerância e do
seu clericalismo, que levam a que toda a descrição esteja eivada de conotações
negativas.
Concluindo, este episódio traduz a degradação progressiva e irremediável da
sociedade portuguesa, para a qual não se visualiza qualquer saída airosa.
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