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SAO FRANCISCO DE ASSIS A homenagem ao santo pobre constitui uma carta de intenções do papado
Bergoglio mantinha hábitos espartanos. Sua rotina de trabalho começava às 4 e meia da manhã e terminava às 9 horas da noite. Morava sozinho, em um apartamento no 2 o andar do edifício da arquidiocese, ao lado da Catedral de Buenos Aires, na Praça de Maio. Fazia sua própria comida. Andava de ônibus e de metro. Ao ser nomeado cardeal, não comprou batina nova — pediu que lhe fosse dada a de seu antecessor, Antonio Quarracino, mono havia três anos. E propôs aos fiéis desejosos de vir à Itália, para acompanhar a entrega do chapéu cardinalício, que doassem aos pobres o dinheiro destinado à viagem. Esteve no Brasil em 2007, para a 5 a Conferência do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, realizada em Aparecida, durante a visita de Bento X V I . É um dos que assinam o documento final do encontro, com fone
mensagem evangelizadora: "Não mais esperar que o povo vá à Igreja, mas levar a Igreja até o povo". O primeiro amálgama entre o pastor e os fiéis é, como se viu na noite de 13 de março, a oração. Fazia tempo que não se rezava um Pai-Nosso e uma Ave-Maria de forma tão unida e fervorosa na Praça de São Pedro.
O cardeal Bergoglio desembarcou em Roma duas semanas antes do início do conclave. Não usou o carro do Vaticano à sua disposição. Ia a pé para a Santa Sé, onde se desenrolaram as con-gregações-gerais—mas, convenhamos, é um prazer andar em Roma. Aos 76 anos, parecia velho demais para enfrentar o jogo pesado imposto por uma Cúria corrupta e pervertida. Em 2005, no entanto, ele foi o principal oponente de Ratzinger, nas quatro votações do conclave vencido pelo ex-alemão — e esse
ponto não passou despercebido aos cardeais que o elegeram. Deram a vez ao homem que poderia ter sido papa há oito anos. VEJA apurou que, na primeira das cinco votações, os votos se distribuíram entre vários nomes. Na segunda, três candidatos se destacaram: Bergoglio, o italiano Angelo Scola, considerado o favorito, e o canadense Mare Ouellet, outra opção citada ao nome lançado pela Cúria, o do brasileiro Odi-lo Scherer. A vantagem de Bergoglio consolidou-se no terceiro escrutínio. No quinto, ele obteve um "grande consenso". A Capela Sistina explodiu em aplausos quando se atingiu o mínimo de dois terços dos votos, 77 de 115. Um dos principais articuladores da candidatura vitoriosa foi Óscar Maradiaga, de Honduras. "Caros irmãos, que Deus lhes perdoe", disse o papa Francisco. Que tenham feito a escolha certa. •
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»apa • AS IDEIAS
O MUNDO E A FE SEGUNDO BERGOGLIO Como arcebispo de Buenos Aires, o novo pontífice refletiu com clareza — e simplicidade até exagerada — sobre questões fundamentais do cotidiano
ABORTO é é O problema moral do aborto é de natureza pré-religiosa. No momento da concepção está o código genético da pessoa. Al i já existe um ser humano. Separo o tema do aborto de qualquer concepção religiosa. É um problema científico. Não permitir o desenvolvimento de um ser que já dispõe do código genético de um sçr humano não é ético. Abortar é matar alguém que não pode se defender. f¥
ATEÍSMO ééQuando eu me encontro com pessoas ateias, compartilho com elas as questões humanas, mas não coloco logo de cara em discussão a questão de Deus, exceto se elas me incitam a isso. Quando isso ocorre, eu explico a elas por que creio. (...) Não pretendo fazer proselitismo — eu as respeito e me mostro como sou. (...) Não tenho nenhum tipo de reticências. Não diria que um ateu está condenado porque estou convencido de que não tenho o direito de julgar sua honestidade — sobretudo se ele tiver virtudes, aquelas que engrandecem as pessoas. De toda forma, conheço mais gente agnóstica do que ateia. O agnóstico duvida; o ateu está convencido. Temos de ser coerentes com a mensagem que recebemos da Bíblia: todo homem é a imagem de Deus, seja ele crente ou não. Por essa única razão, tem uma série de virtudes, qualidades, grandezas. Caso tenha baixezas, como eu também as tenho, podemos compartilhá-las para nos ajudarmos mutuamente a superá-las. 99
CIÊNCIA 66A ciência tem sua autonomia, que deve ser respeitada e encorajada. Não se deve interferir na autonomia dos cientistas. Exceto se extrapolarem seu campo de atuação e se envolverem com o transcendente. A ciência é fundamentalmente instrumento do mandato de Deus, que disse: Tenham muitos e muitos filhos, espalhem-se por toda a terra e a dominem'. Dentro de sua autonomia, a ciência transforma a incultura em cultura. Mas cuidado: quando a autonomia da ciência não põe limites a si mesma e vai além. ela pode sair das mãos de sua própria criação. É o mito de Frankenstein. 99
CRENÇA mA Igreja defende a autonomia das questões humanas. Uma autonomia saudável é uma laicidade saudável, em que se respeitam as diferentes competências. A Igreja não vai dizer aos médicos como devem realizar uma operação. O que não é bom é o laicismo militante, aquele que toma uma posição antitranscendental ou exige que o religioso não saia da sacristia. A Igreja dá os valores, e os outros que façam o resto. 93
DEUS 66 Ao homem de hoje lhe diria que faça a experiência de entrar na intimidade para conhecer a experiência, o rosto de Deus. Por isso me agrada tanto o que disse Jó depois de sua dura experiência e de diálogos que não lhe esclareceram nada: 'Antes eu te conhecia só por ouvir falar, mas agora eu te vejo com meus próprios olhos'. Ao homem, digo que não conheça a Deus de ouvidos. O Deus vivo é aquele que se vê com seus olhos, dentro de seu coração, f f
DIVÓRCIO 66A discussão em torno do divórcio é diferente daquela do matrimónio de pessoas do mesmo sexo. A Igreja sempre repudiou a lei do divórcio, mas há antecedentes antropológicos distintos neste caso. (...) É um valor muito forte no catolicismo o casamento até que a morte os separe. Hoje, contudo, na doutrina católica, lembra-se a seus fiéis divorciados e recasados que eles não estão excomungados — ainda que vivam em uma situação à margem do que exigem a indissolubilidade matrimonial e o sacramento do matrimónio — e é pedido a eles que participem da vida paroquial, f f
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IGREJA 66 Uma coisa boa que aconteceu com a Igreja foi a perda dos Estados Pontifícios, porque deixa claro que a única posse do papa é meio quilómetro quadrado. Mas, quando o papa era rei temporal e rei espiritual, aí se misturavam as intrigas de corte e tudo isso. Agora não se misturam? Sim, ainda existe isso, porque existe ambição em homens da Igreja, existe — lamentavelmente — pecado de carreirismo. Somos humanos e nos tentamos, temos de estar muito atentos para cuidar da unção que recebemos, porque ela é um presente de Deus. As disputas pelo poder, que existiram e existem na Igreja, se devem a nossa condição humana. Mas, nesse momento, a pessoa deixa de ser eleita para o serviço e se converte em uma pessoa que escolhe viver como quer e se mistura com o lixo interior.?^
66 Um líder religioso pode ser muito fone, muito firme, mas isso sem exercer a agressão. Jesus disse que aquele que manda deve ser como aquele que serve. Para mim, essa ideia é válida para a pessoa religiosa de qualquer credo. O verdadeiro poder de uma liderança religiosa vem de seu serviço. Quando deixa de servir, o religioso se transforma em um mero gestor, em um agente de ONG. O líder religioso compartilha, sofre, serve a seus irmãos.**
PEDOFILIA Sé Que o celibato traga como consequência a pedofilia está descartado. Mais de 70% dos casos de pedofilia se dão no entorno familiar e na vizinhança:
avôs, tios, padrastos e vizinhos. O problema não está vinculado ao celibato. Se um padre é pedófilo, ele o é antes de ser padre. Agora, quando isso ocone, jamais se deve fazer vista grossa. Não se pode estar em uma posição de poder e destruir a vida de outra pessoa. (...) Não creio em posições que pleiteiam sustentar ceno espírito corporativo para evitar danos à imagem da instituição. Esta solução creio que
foi proposta certa vez nos Estados Unidos: mudar os padres de paróquia. Isso e' uma estupidez porque, dessa forma, o padre
leva o problema na bagagem. A reação corporativa leva a tal consequência, por isso não concordo com essas medidas.
Recentemente, na Irlanda, foram revelados casos após vinte anos, e o papa disse claramente: 'Tolerância zero com este crime'. Admiro a valentia e a retidão de Bento X V I sobre esse assunto.ff
é é A vida crista também é uma espécie de atletismo, de disputa, de corrida, em que é preciso se desvencilhar das coisas que nos separam de Deus. Além disso, quero salientar que uma questão &o demónio e outra
é demonizar as coisas ou as pessoas. O homem está sob tentação constante, mas não é por isso que temos de demonizá-lo.ff
UNIÃO HOMOSSEXUAL ééNão sejamos ingénuos: não se trata de uma simples luta política. Pretende-se a destruição do plano de Deus. É uma jogada do pai da mentira para confundir e enganar os filhos de Deus.ff
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Papa 1 A ORDEM RELIGIOSA
A TROPA DE CHOQUE DA IGREJA Fundada no século XVI por Inácio de Loyola, um ex-militar espanhol, a Companhia de Jesus tem uma dedicação histórica à propagação da fé. Foi nessa disciplina missionária que se formou o papa Francisco
í J E R Ô N I M O TEIXEIRA
Bastaram alguns cartazes espalhados pôr Paris, em outubro de 1534, para lançar a cidade em um frenesi de violência religiosa. No
espírito provocador da Reforma, os panfletos denunciavam a falsidade da missa papal, atacando uma das bases doutrinárias do catolicismo: a transubstanciação, na Eucaristia, do pão e do vinho em carne e sangue de Jesus. Em resposta, o rei Francisco I conduziu procissões solenes. Protestantes foram perseguidos, espancados, mortos. Alguns foram queimados em frente à Catedral de Notre Dame. Pode-se supor que a tensão que eclodiu nesses episódios tenebrosos já estivesse latente dois meses antes, quando sete companheiros de devoção, com idade entre 19 e 43 anos, se reuniram para uma cerimónia simples em uma capela do bairro de Montmartre. Mas a reunião se deu na mais disciplinada serenidade: o grupo fez votos de obediência à Igreja Católica, e Pierre Favre, o único que já havia sido ordenado padre, oficiou uma missa. Lan-çava-se ali a semente de um empreendimento monumental, que se desenvolveu nos cinco continentes e atravessou cinco séculos até alcançar, na semana passada, a consagração superlativa do papado. A Companhia de Jesus, ordem à qual pertence o papa Francisco, dedicou-se sobretudo ao ensino e à propagação da fé. Da
China à África, do Canadá ao Paraguai, os jesuítas — como são chamados os membros da Companhia — levaram a cruz a todos os recantos do planeta. Se o espírito orientador da ordem serve como pista para a atuação do novo papa. pode-se esperar o compromisso missionário de propagar e defender a fé católica — e, se o esforço no século X V I era fazer frente aos reformadores Lutero e Calvino, agora o desafio é conter a sangria que as igrejas neopentecostais têm promovido no rebanho católico. Também se poderá prever uma inabalável ortodoxia doutrinária: fundada por um ex-soldado. a Companhia de Jesus exige disciplina férrea e obediência absoluta de seus membros.
Dois dos participantes do encontro em Paris foram consagrados como santos da igreja (Pierre Favre foi apenas beatificado): os espanhóis Francisco Xavier, um dos possíveis inspiradores do nome do novo papa — ao lado do óbvio Francisco de Assis —, e Inácio de Loyola. Missionário por excelência, Xavier levou sua pregação a Goa, possessão portuguesa na índia, à China e ao Japão. Mais do que a do companheiro Loyola, sua biografia mistura-se a histórias de milagres e portentos: um caranguejo leria certa vez lhe devolvido um crucifixo que caíra no mar, e consta que o cadáver « do santo — ele morreu na China, em 1 1552 — não se decompôs ao longo dos E quinze meses entre o falecimento e a I
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OBEDIENTE COMO UM CADÁVER Loyola (em vestes douradas) em quadro de Rubens: poma de lança da Comrarreforrna
chegada a Goa. Mas Inácio de Loyola é o fundador e o grande teórico da Companhia de Jesus. Nascido em 1491, na juventude ele se dedicou à carreira militar, abreviada em um combate contra os franceses, em 1521, em Pamplona, quando uma bala de canhão dilacerou suas pernas. Na lenta e dolorosa convalescença, lendo obras devocionais sobre a vida de Cristo, Loyola decidiu consagrar sua vida à fé. Seu empreendimento caiu nas boas graças do papa Paulo I I I , que deu a aprovação canónica à nova ordem, em 1540. Loyola foi o primeiro superior-geral dos jesuítas, e nesse posto morreu, em Roma, em 1556. Legou à ordem os Exercícios Espirituais — uma série de orações e meditações a ser seguidas, com rigor, ao longo de um mês — e um código de disciplina estrito: o jesuíta deveria ser obediente "como um cadáver" (perinde ac cadáver; na fórmula latina). Outra citação célebre do santo recomenda que. se a Igreja disser que aquilo que vemos como branco é na verdade preto, se aceite o que a Igreja diz, por dever de obediência.
O combate ao protestantismo nascente nao estava na ordem imediata de prioridades de Inácio de Loyola. Os jesuítas, porém, logo ocuparam a linha de frente da Contrarreforma. "Nao há hoje nenhum instrumento erguido por Deus contra os hereges maior do que sua ordem sagrada", dizia Gregório X I I I , papa de 1572 a 1585. A Companhia também foi a ponta de lança do catolicismo na colonização da América. Com ímpeto aventureiro, embrenhou-se nas matas, fundou colégios e povoações e converteu povos indígenas reunidos nas suas Reduções. "Esta terra é nossa empresa", disse Manuel da Nóbrega, chefe da primeira missão jesuíta no Brasil. Nóbrega e o companheiro de ordem José de Anchieta fundaram, em 1554, o colégio do Planalto de Piratininga, embrião da cidade de São Paulo. Os objetivos religiosos dos jesuítas nem sempre coincidiam com as ambições terrenas dos europeus que se aventuravam na América selvagem. Por se oporem à escravização dos índios, jesuítas como Nóbrega, Anchieta
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INIMIGOS NO PODER O marquês de Pombal expulsou os jesuítas de Portugal (no quadro abaixo, eles são recebidos com fogos na Itália): a Independência da Companhia era vista como ameaça petas monarquias europeias
e, já no século X V I I , Antônio Vieira andaram às tunas com os colonos portugueses. Os jesuítas não tinham pruridos em reconer às armas quando necessário — na Guena dos Trinta Anos, houve inacianos que apontaram canhões para tropas protestantes —, mas, no geral, acreditavam na propagação da fé antes pela persuasão do que pela espada. Também se dedicavam a entender minimamente a cultura dos povos que pretendiam catequizar: Anchieta aprendeu tupi, e o jesuíta italiano Matteo Ricci, missionário na China no fim do século X V I , foi o primeiro tradutor ocidental de Confúcio. Houve quem idealizasse essa propensão intelectual dos inacianos, vendo aí uma espécie de multiculturalis-mo avant la leme. Mas o fim último sempre foi o crescimento da Igreja: Ricci só se dedicou ao pensamento de Confúcio porque viu nele compatibilidades com o cristianismo; Anchieta e outros missionários na América só aprenderam línguas nativas porque isso era necessário à catequese dos índios. Poderosos, numerosos, cultos, os jesuítas eram alvo de muito rancor, dentro e fora da Igreja, e não estranha que só agora um jesuíta
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Papa m A ORDEM RELIGIOSA
HERÓI CIVILIZADOR José de Anchieia, um dos fundadores de São Paulo: o jesuíta estudou tupi para catequizar os índios
MULTICULTURAIS Jesuítas (de preto) na corte de Akbar,
índia, no século XVI: ímpeto aventureiro
tenha chegado ao papado. Foram costumeiramente associados a fantasiosas conspirações para assassinar monarcas. No século XV11I, os inimigos da ordem teriam seu momento de triunfo. Governante de fato no reinado do débil José I . Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro marquês de Pombal, considerava a ordem uma ameaça ao poder central da coroa — e a expulsou de Portugal e de suas colónias em 1759. Seguiu-se um decreto do mesmo teor na França, em 1764. Em 1773, finalmente, o papa Clemente XIV, sob pressão das monarquias europeias, extinguiu a ordem. Catarina, a Grande, optou por ignorar a
determinação papal, e a Companhia de Jesus seguiu forte e atuante no império russo. A reabilitação efetiva dos jesuítas vi i iasó em 1814.
^QIoje?)sob o comando do superior-geraTSríolfo Nicolas, um espanhol, a Companhia de Jesus é a maior ordem da Igreja Católica, com cerca de 19000 membros em mais de 130 países. No mundo todo. administra 180 colégios e 200 universidades e faculdades (seis no Brasil). Em face das forças agressivamente temporais dos séculos XTX e XX. a Companhia teria reações variadas. Em consequência de sua adesão à Action Française, malogrado movimento de ex
trema direita do entreguerras, o francês Louis Billot, um jesuíta, foi o único cardeal do século X X a ser forçado pela Igreja à renúncia. Na 11 Guerra, porém, houve jesuítas que protegeram judeus e foram mortos em campos de concentração. O credo marxista da Teologia da Libertação teve sua penetração na ordem, que, no entanto, também abriga conservadores como Jorge Mário Bergoglio, agora papa Francisco. Sob essa aparente variedade, porém, estão as diretrizes que o ex-soldado Inácio de Loyola deitou no século X V I : disciplina, educação, ímpeto missionário — prováveis linhas de força do novo papado. •
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Papa 1 A IGREJA NA POLÍTICA
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E AGORA, CRISTINA? Nestor considerava-o seu único verdadeiro opositor. Cristina herdou o crítico severo. Bergoglio se tomou papa, sabe muito bem quem são os Kirchner e não vai esquecer
0 NATHALIA WATKINS E
A N D R É ELER, DE BUENOS AIRES
verdadeiro representante da oposição." Foi assim que o ex-presidente argentino Nestor Kirchner definiu o arcebispo
de Buenos Aires, Jorge Mário Bergoglio — o agora papa Francisco. Em suas homilias dominicais na Catedral Metropolitana, Bergoglio mandava mensagens ásperas para os governantes na Casa Rosada. Distante das colunas que sustentam o frontispício da catedral.
porém, ele se revelava ainda mais incómodo. Em um país onde a política é disputada nas trincheiras, reunia-se frequentemente com os principais líderes da oposição e setores marginalizados pelo governo. "O novo papa é o religioso mais politizado que poderíamos ter", diz Julio Burdman, cientista político da Universidade de Belgrano, em Buenos Aires. "Ele é metade teólogo, metade político." As rusgas com o governo atingiram o ápice entre 2009 e 2010, quando a presidente Cristina Kirchner e o marido, Nestor, impulsionaram no
INIMIGOS CORDIAIS Criftimi cm o -.'íri.. í'"-:(\t>') R_ r\ , i r •:m-OúS. A ^ou-dd.
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Congresso uma lei do Partido Socialista para regulamentar o casamento entre homossexuais. De alguns expoentes da oposição, ouvia-se que a iniciativa não passava de uma investida pessoal de Nestor para atingir seu rival de batina. O confronto entre o cardeal e o kirch-nerismo renasce agora com a nomeação de Bergoglio, apenas protocolar-mente comemorada por Cristina e já muito explicitamente politizada pela presidente.
Como arcebispo da capital, Bergoglio liderou uma campanha nacional
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contra a lei pelo matrimónio homossexual, convocando os fiéis a protestar às portas do Congresso. Em uma cidade conhecida pelo liberalismo de seus costumes e por ser um dos principais destinos turísticos da comunidade gay. o cardeal ousou defender princípios que a Igreja considera imutáveis. "Aqui também está a inveja do Demónio, pela qual entrou o pecado no mundo, que arteiramente pretende destruir a imagem de Deus: homem e mulher que recebem a ordem de crescer, se multiplicar e dominar a terra", escreveu, em
uma carta. Cristina rebateu dizendo que "o discurso dos líderes da Igreja parece do tempo das Cruzadas".
A relação com o casal presidencial já havia se transformado numa guerra surda em 2004. Um ano depois da posse de Nestor Kirchner, Bergoglio alertou, em uma homilia, para os riscos dos "anúncios estridentes" e do "exibicionismo", definindo, ainda bem cedo, o que viria a ser a essência do governo argentino. Em 2005, Nestor, pouco afeito à religião, cancelou sua presença na missa que ocorre na catedral todo dia
25 de maio para celebrar a independência do país. "Nosso Deus é de todos, mas cuidado que o diabo também chega a todos, aos que usam calças e aos que usam batina", disse o presidente, em uma mais do que explícita referência ao adversário. Três anos depois, quando os agricultores paralisaram as estradas contra uma lei que aumentava os impostos sobre as exportações, Bergoglio sentou-se com os trabalhadores para, em seguida, pedir a Cristina que tivesse "um gesto de grandeza" que resolvesse o conflito. Não foi atendido.
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EMOÇÃO NA PARÓQUIA Fiéis na Catedral de Buenos Aires, na qual Bergoglio rezava missas, celebram a escolha do papa argentino
O episódio marcou a radicalização do kirchnerismo e deu início à perseguição ao grupo de comunicações Cla-rín, crítico do governo. Em uma nação onde a oposição política foi reduzida a pó, o arcebispo foi uma das poucas vozes que insistiram em incomodar os ouvidos dos Kirchner. Após a morte de Nestor, em 2010. Cristina, católica praticante, retomou os contatos com a Igre
ja. A iniciativa, mais o fato de ela ser, como o novo papa, contrária ao aborto, prenunciava uma trégua com o cardeal. Mas a votação sobre o casamento gay de novo os separou, e um velho assunto entrou em pauta para reforçar a discórdia: a relação do governo com a comunidade judaica na Argentina, a maior da América Latina. Favorável ao diálogo entre as crenças, Bergoglio aproximou-se dos rabinos depois do atentado contra a Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), em 1994, que deixou 85 mortos e mais de 300 feridos no centro de Buenos Aires. Cristina Kirchner
seguiu na direção oposta. Há dois meses, supostamente com o propósito de encontrar os responsáveis pelo atentado, ela formalizou com o Irã um acordo cujas condições favorecem muito mais o escamoteamento do que o esclarecimento dos fatos e a punição dos culpados. Até agora, as investigações apontam para a autoria do grupo radical libanês xiita Hezbollah, financiado pelos iranianos. "Estes últimos dias têm sido difíceis para Cristina", diz o cientista político argentino Orlando D'Adamo, do Centro de Opinião Pública da Universidade de Belgrano. "Há duas sema-
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ELE LAVOU AS MÃOS?
nas. ela perdeu seu maior aliado, Hugo Chavez. Agora viu seu opositor tomar-se papa."
Em Roma, a intromissão do novo papa em temas mundanos deve arrefecer — como arrefeceu o poder temporal desde a Reforma Protestante, que reduziu os limites do papado na Europa, e o surgimento de movimentos como o Renascimento e o Iluminismo, que favoreceram a razão e enfraqueceram os pilares do poder divino. Mesmo assim, são diversos os exemplos de representantes da Igreja que se imiscuíram no jogo do poder nas últimas décadas.
A acusação de que o cardeal Bergoglio entregou à ditadura militar
argentina dois padres acusados de subversão tem poucos elementos que a sustentam, muitos que a enfraquecem e pelo menos um que ajuda a fazer com que a sua discussão seja obscurecida pela paixão. Em 1976, os jesuítas Orlando Yorio e Francisco Jalics foram presos e levados para a Escola Superior de Mecânica da Armada, que de superior mesmo tinha apenas o emprego de técnicas de tortura. Yorio e Jalics ficaram seis meses presos, foram torturados mas escaparam da morte, destino de 150 outros religiosos assassinados pelo regime entre 1976 e 1983.
Jalics, que hoje vive na Alemanha, relata em um livro que, pouco antes de sua prisão, pediu a "um homem" que fizesse saber aos militares que ele e Yorio não eram terroristas. Esse homem, cujo nome ele não revela, teria descum-prido a promessa e feito "uma falsa denúncia" sobre eles aos militares. A conclusão de que esse homem seria Bergoglio é de Horácio Verbistky, um jornalista que trabalhava ao mesmo tempo para os esquerdistas e para os militares. Horácio diz ter tido acesso a uma carta que Yorio mandara a um amigo antes de morrer em que ele acusa Bergoglio.
Alice Oliveira, militante de direitos humanos e ex-juíza, é uma das testemunhas isentas que absolvem Bergoglio da acusação. Na biografia que escreveu sobre o cardeal, O Jesuíta, o jor-
PEDIDO AO GENERAL Bergoglio diz ter intercedido junto a Videla (na foto,
numa missa em 1975) pelos jesuítas presos
nalista Sergio Rubin conta que durante o regime militar Bergoglio protegeu alunos e deu os próprios documentos de identidade a um estudante parecido com ele para que escapasse pela Tríplice Fronteira. Bergoglio nunca foi acusado de colaborar com o regime em nenhum dos inquéritos oficiais. 0 próprio cardeal, em um relato nunca contestado, contou ter persuadido o padre que rezava missas para o ditador Jorge Videla a dizer que estava doente, para substituí-lo na função e interceder pessoalmente pela libertação dos jesuítas - o que de fato ocorreu. As circunstâncias em que esses fatos se passaram ficou conhecida como "a guerra suja" - e em uma guerra a primeira vítima é a verdade. Não é surpresa que essas acusações tenham sido ressuscitadas pouco antes de Bergoglio ser escolhido papa e tenham ganhado corpo depois de sua eleição. Ele é critico da presidente Cristina Kirchner, o que para seus fanáticos seguidores constitui um pecado mortal.
Papa B A IGREJA NA POLÍTICA
Pio XTJ, que comandou a Igreja durante a I I Guerra, foi o exemplo mais controverso. Por um lado. conseguiu manter-se neutro o suficiente para poupar Roma de um ataque destruidor. Usando de sua habilidade diplomática, evitou que hospitais, escolas e templos católicos fossem destruídos por tropas nazistas e fascistas ao redor da Europa. Contudo, não se furtou a costurar acordos com os regimes da Alemanha e Itália em torno de disputas entre Igreja e estado. O fato de ter resolvido questões administrativas importantes para a instituição nesses países não o livrou de ser lembrado como o papa que, em nome da defesa dos interesses da Igreja, cruzou os braços diante da morte de milhões de judeus. Saiu-se um pouco melhor no confronto verbal com Josef Stalin. Por meio do primeiro-minis-tro inglês Winston Churchill, com quem se encontrou após a Conferência de lalta, a qual redefiniu os contornos da Europa
e do mundo pós-guerra. Pio X I I soube que o líder soviético havia se referido a ele com ironia. Ao tomar conhecimento de que o papa pedira o fim da opressão aos católicos, Stalin perguntou: "O papa? Quantas divisões (exércitos) ele tem'?" Resposta de Pio X I I : "Ele encontrará nossas divisões no céu".
Os regimes totalitários que Stalin implantou à força no Leste Europeu ruiriam nas mãos de outro papa, o polonês João Paulo U. Logo após sua nomeação, ele afirmou sua intenção de visitar a Polónia, até então isolada atrás da Cortina de Ferro. Na ocasião, o presidente soviético Leonid Brejnev orientou o Partido Comunista daquele país a não receber o papa — sem sucesso. No que se tornou a viagem mais importante do pontificado de João Paulo I I , mais de 10 milhões de pessoas, quase um terço da população, saíram às ruas para recebê-lo. O comparecimento das multidões deixou claro
PODER O futuro papa Pio XII (em 1920, em Berlim), sobre quem
Stalin perguntou: "Quantas divisões ele tem?"
que, por baixo da cortina, a Polónia era o mais católico dos países sob o domínio dos governos comunistas ateus. A viagem abalou o regime e fortaleceu seus opositores, como o sindicato Solidariedade. Nascida clandestina, a entidade foi reconhecida meses depois, em negociações com o governo. Em um gesto simbólico, o líder do movimento, o operário Lech Walesa, sacou do bolso uma caneta com o retrato do papa na hora de assinar o documento do sindicato. A relação enne o papa e Walesa, mais tarde eleito presidente da República, foi fundamental não só para a abertura da Polónia, mas para todo o Leste Europeu. As pregações de João Paulo I I contra o totalitarismo aproximaram o pontífice dos Estados Unidos
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Papa • A IGREJA NA POLÍTICA
GUERRA FRIA João Paulo II com o presidente Ronald Reagan, em 1987: contra o comunismo
e o integraram ao tabuleiro da Guerra Fria. Mais tarde, ajudaram no desmonte dos países sob a esfera soviética e na instauração de vários governos democráticos em toda a região.
É cedo para saber quais bandeiras o papa Francisco vai tomar para si, mas o mais provável é que os assuntos internos da Argentina sejam reduzidos à sua devida dimensão. O país vive a euforia de ser o berço do primeiro papa latíno-ame-ricano. Na quinta-feira, um jornal porte-nho anunciou a escolha de Bergoglio com a manchete "La mano de Dios", uma referência ao gol irregular feito na Copa do México, em 1986, por Marado-na (que agora terá de conviver com mais alguém lhe fazendo sombra, além de Lionel Messi).
No dia anterior, o anúncio do papa argentino havia levado milhares de por-tenhos a se aglomerar em frente à Catedral de Buenos Aires. A algazarra que se formou lá podia ser ouvida até da Casa Rosada. Mesmo assim, só duas horas depois que as notícias do Vaticano já t i nham corrido o mundo a presidente Cristina Kirchner divulgou uma carta parabenizando seu conterrâneo.
Do cumprimento frio—que não mencionava nem o nome do cardeal nem o fato de ele ser argentino —, a presidente seguiu sem escalas para a provocação. Disse desejar que, "em sua missão pastoral, ele (o novo papa) carregue uma mensagem para que as grandes potências mundiais dialoguem. Que as grandes potências do mundo, que têm armas e poder financeiro, possam ser finalmente convencidas de que devem dar atenção aos países emergentes e que elas se comprometam com um diálogo de civilizações, em que as coisas são resolvidas pela via diplomática e não pela força". Mais do que uma referência disfarçada à derrota argentina na disputa com a Inglaterra pelas Ilhas Malvinas, os "cumprimentos" da presidente soaram como uma tentativa de colocar o adversário no ringue, e bem perto das cordas. Para desgosto de Cristina, porém, o papa Francisco não deve ceder ao seu chamado. Sua pátria agora é o mundo. A Argentina terá de esperar. m
COM REPORTAGEM DE T Â M A R A FISCH
A visão evolutiva do aprendizado
A té Freud, que só pensava... naquilo, reconheceu a descoberta mental como uma importante fonte de prazer para o homem em "A civilização e seus descontentes". De fa
to, há poucas atividades mais estimulantes do que aprender coisas novas, conseguir perceber a luz onde antes só havia trevas.
O aprendizado ocorre no cérebro. Durante muitos séculos, o cérebro foi tratado como uma
* cãixa-preta, à qual não podíamos ter acesso di-í reto, e cujas maquinações só poderiam ser de-
preendidas por meio da observação cuidadosa e perspicaz do comportamento de pessoas. A maioria dos profissionais de educação ainda subscreve a esse paradigma. Sua visão sobre o funcionamento cerebral é, portanto, formada pelas hipóteses não científicas de pensadores da virada do século XIX para o X X , especialmente Jean Piaget (1896-1980), Lev Vygotsky (1896-1934) e Henri Wallon (1879-1962).
Desde essa época porém, a compreensão que temos do cérebro fez grandes avanços, e a neuro-ciência está conseguindo ligar habilidades e comportamentos humanos a áreas e processos
/m cerebrais específicos, abandonando o modelo
W "caixa-preta" por outro em que o cérebro é per-
J | cebido como um órgão material, que tem uma I fisiologia, no qual agem células, neurotransmis-
A maneira responsável de buscar conhecimento é por meio da ciência. Por mais brilhante que seja um observador da fase pré-científica, ignorar todo o avanço da ciência nas últimas décadas seria não apenas anacrónico como irresponsável
sores etc. Uma das descobertas que essa ciência já conseguiu fazer é que, ao aprendermos, mudamos a própria arquitetura física do órgão. Como bem descreve, no fascinante In Search of Memory, Eric Kandel — um dos líderes da pesquisa nesse campo, vencedor do Nobel de Medicina por suas contribuições —. a formação de uma memória de longo prazo altera nossa rede neuronal em pelo menos duas maneiras: não só aumenta a força do sinal da sinapse na área relevante como cria no
vas sinapses (as estruturas neuronais que permitem a passagem de um sinal químico ou elétrico entre neurónios vizinhos). É tão impossível entender como seres humanos aprendem sem compreender o funcionamento do cérebro quanto querer chegar de um lugar a outro sem saber o que são ruas, estradas, rios e pontes. E a maneira responsável de buscar esse conhecimento é por
meio da ciência. Por mais brilhante que seja um observador da fase pré-científica, ignorar todo o avanço da ciência nas últimas décadas seria não apenas anacrónico como irresponsável.
Um dos insights mais importantes desse período de pesquisa é que o cérebro é, assim como um olho ou braço, fruto de um processo evolutivo, moldado ao longo de centenas de milhares de anos para aumentar nossas possibilidades de reprodução e sobrevivência. Como bem mostra Steven Pinker em livros como How the Mind Works e The Blank Slate, a ideia de que nosso cérebro é uma tabula rasa cujos conteúdos são preenchidos exclusivamente por processos culturais é equivoca-
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da. Entre os muitos achados dessa visão evolutiva está a descoberta de que o cérebro evita o pensar. Pensar é uma atividade dispendiosa, tanto em termos de tempo como de energia, e sempre que possível o cérebro substitui o pensamento por um procedimento automático gravado na memória. (Já imaginou como seria impossível, por exemplo, dirigir um carro, se a cada esquina precisássemos pensar em como fazer uma curva, como indicar aos outros motoristas que estamos dobrando, calcular o ângulo certo da virada do volante, pensar onde está a alavanca do pisca-alerta etc?)
Como mostra o psicólogo cognitivo Daniel Willingham em Why Don 7 Siudenrs Like School?, o cérebro pensa em duas situações: quando é estritamente necessário (não há procedimento na memória que nos ajude) e quando nós acreditamos que seremos recompensados por resolver determinado problema. A recompensa? Pequenas doses de dopamina, um poderoso neurotrans-missor associado aos circuitos de prazer do cérebro, liberado quando se resolve uma questão (e também durante o consumo de cocaína). Para que a dopamina seja liberada, o fundamental é calibrar a dificuldade do problema. Se ele é fácil
HA 2500 ANOS Escola de Atenas, pintura do renascentista italiano Rafael: a Academia de Platão ainda não tem substituto no ensino
demais e o aprendiz já sabe a resposta antes de pensar, não há pensamento nem, portanto, dopamina. Se ele é difícil demais e a pessoa já pressente que não conseguirá encontrar a solução, o cérebro "desliga-se": não havendo a possibilidade de dopamina, não vale a pena gastar o maquinário neural.
Mas o que é, em termos neurológicos, pensar? Pensar é combinar informações de maneira diferente. Essas informações podem vir do ambiente externo e/ou da memória de longo prazo. A memória de longo prazo é aquela que armazena informações e processos que estão fora da nossa consciência imediata. A tabuada, por
exemplo: ela não estava na sua mente antes de eu mencioná-la e desaparecerá de novo em alguns minutos, mas, sempre que você precisar fazer uma multiplicação, ela virá, facilmente, à mente. O local do cérebro em que esse novo processamento de informações se dá é a memória operacional (ou "de trabalho", do inglês working me-mory). A memória operacional tem capacidade limitada — e, quanto mais perto ela estiver de seu limite, mais difícil vai ficando o pensar. Sua capacidade é determinada geneticamente. Pensar bem, portanto, envolve quatro variáveis: informações externas, do ambiente; fatos na memória de longo prazo; procedimentos na memória de longo prazo; e o tamanho do espaço disponível na memória operacional.
A primeira implicação dessa descoberta é que o domínio de fatos não apenas ajuda no ato de pensar: ele é indispensável. Como mostra Willingham, décadas de pesquisa em ciência cognitiva revelam que, se você não domina as informações básicas de determinado assunto, não conseguirá ter um raciocínio analítico/crítico a seu respeito. Até a leitura se torna mais fácil se o cérebro já conhece o assunto em questão: a pesquisa mostra que uma pessoa com ótima habili-
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