urgente fornecimento de Água mineral para a … · que banham mais de um estado, o que está...
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DDEEFFEENNSSOORRIIAA PPÚÚBBLLIICCAA DDAA UUNNIIÃÃOO EEMM MMIINNAASS GGEERRAAIISS
NNÚÚCCLLEEOO DDEE GGOOVVEERRNNAADDOORR VVAALLAADDAARREESS
1 Rua Barão do Rio Branco, n. 351, Centro, Governador Valadares/MG, CEP 35010-030 – Fones: (33) 2101-7600
EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA __ VARA FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE GOVERNADOR VALADARES/MG
URGENTE – FORNECIMENTO DE
ÁGUA MINERAL PARA A
POPULAÇÃO DE GOVERNADOR
VALADARES
A DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO, presentada pelo Defensor
Público Federal signatário, no uso de suas atribuições constitucionais e legais, previstas no art.
134, da CF/88, e art. 3º-A, I e III, art. 4º, VII, VIII, X e XI, da todos da Lei Complementar nº 80/94, e
art. 5º, II, da Lei nº 7.347/85, vem, em defesa da população de Governador Valadares,
especialmente os hipossuficientes, propor
AÇÃO CIVIL PÚBLICA, COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA
em desfavor do SAMARCO MINERAÇÃO S/A, pessoa jurídica de direito
privado, inscrita no CNPJ sob o n. 16.628.281/0003-23, com endereço fiscal na Mina Germano,
s/n, Município de Mariana/MG, CEP 35.420-000, UNIÃO, pessoa jurídica de direito publico interno,
com endereço para receber citações e intimações na Procuradoria da União no Estado de Minas
Gerais, Rua Santa Catarina nº 480 - 16º ao 23° Andar - Bairro Lourdes, Belo Horizonte - MG -
Cep. 30170-080, pelos motivos fáticos e de direito a seguir delineados.
1. DA LEGITIMIDADE DA DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO
A presente petição inicial tem como causa petendi questão atinente à
questão de saúde pública urgente, em razão do grave acidente ambiental na Barragem de
Fundão, que fica no distrito de Bento Rodrigues, zona rural, a 23 km de Mariana, na região Central
do Estado.
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Em razão do rompimento da barragem, toneladas de lamas resultantes
do rejeito da produção de minério de ferro foram despejadas no Rio Doce, atingindo várias cidades
e suspendendo o abastecimento de água.
Tais questões, sem dúvida, se inserem dentre as atribuições da
Defensoria Pública da União, considerando que, consoante o art. 4º, X, da LC 80/94, compete a
esse órgão “promover a mais ampla defesa dos direitos fundamentais dos necessitados,
abrangendo seus direitos individuais, coletivos, sociais, econômicos, culturais e ambientais,
sendo admissíveis todas as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva
tutela.”
Compete à Defensoria Pública da União, ademais, promover ação civil
pública e todas as espécies de ações capazes de propiciar a adequada tutela dos direitos difusos,
coletivos ou individuais homogêneos quando o resultado da demanda puder beneficiar grupo de
pessoas hipossuficientes (art. 4º, VII, da LC 80/94), como é o caso da presente demanda”.
Portanto, inexistem dúvidas acerca da legitimidade da DPU para propor
a demanda em tela.
2. DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL
O rio Doce banha os estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Com cerca
de 853 km de extensão, seu curso representa a mais importante bacia hidrográfica totalmente
incluída na Região Sudeste (https://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Doce)
Por se tratar de rio que banha dois estados, pertence a União, conforme
art. 20, III, da CF/88.
CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. SUSCITAÇÃO PELO
ÓRGÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL QUE ATUA NA
PRIMEIRA INSTÂNCIA. AÇÕES CIVIS PÚBLICAS. DANO AMBIENTAL.
RIOS FEDERAIS. CONEXÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.
1. O Ministério Público Federal tem atribuição para suscitar conflito de
competência entre Juízos que atuam em ações civis públicas
decorrentes do mesmo fato ilícito gerador. Com efeito, consoante os
Princípios da Unidade e Indivisibilidade do Ministério Público, as
manifestações de seus representantes constituem pronunciamento do
próprio órgão e não de seus agentes, muito embora haja divisão de
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atribuições entre os Procuradores e os Subprocuradores Gerais da
República (art. 66 da Lei Complementar n.º 75/93).
2. Deveras, informado que é o sistema processual pelo princípio da
instrumentalidade das formas, somente a nulidade que sacrifica os fins
de justiça do processo deve ser declarada (pas des nullité sans grief).
3. Consectariamente, à luz dos Princípios da Unidade e Indivisibilidade
do Ministério Público, e do Princípio do Prejuízo (pas des nullité sans
grief), e, uma vez suscitado o conflito de competência pelo Procurador
da República, afasta-se a alegada ilegitimidade ativa do mesmo para
atuar perante este Tribunal, uma vez que é o autor de uma das ações
civis públicas objeto do conflito.
4. Tutelas antecipatórias deferidas, proferidas por Juízos Estadual e
Federal, em ações civis públicas. Notória conexão informada pela
necessidade de se evitar a sobrevivência de decisões inconciliáveis.
5. A regra mater em termos de dano ambiental é a do local do ilícito
em prol da efetividade jurisdicional. Deveras, proposta a ação civil
pública pelo Ministério Público Federal e caracterizando-se o dano
como interestadual, impõe-se a competência da Justiça Federal
(Súmula 183 do STJ), que coincidentemente tem sede no local do
dano. Destarte, a competência da Justiça Federal impor-se-ia até
pela regra do art. 219 do CPC.
6. Não obstante, é assente nesta Corte que dano ambiental causado
em rios da União indica o interesse desta nas demandas em curso,
a arrastar a competência para o julgamento das ações para a
Justiça Federal. Precedentes da Primeira Seção: CC 33.061/RJ, Rel.
Min.
Laurita Vaz, DJ 08/04/2002; CC 16.863/SP, Rel. Min. Demócrito
Reinaldo, DJ 19/08/1996.
7. Ainda que assim não fosse, a ratio essendi da competência para a
ação civil pública ambiental, calca-se no princípio da efetividade, por isso
que, o juízo federal do local do dano habilita-se, funcionalmente, na
percepção da degradação ao meio ambiente posto em condições ideais
para a obtenção dos elementos de convicção conducentes ao desate da
lide.
8. O teor da Súmula 183 do E. STJ, ainda que revogado, a contrario
sensu determinava que em sendo sede da Justiça Federal o local do
dano, neste deveria ser aforada a ação civil pública, máxime quando o
ilícito transcendesse a área atingida, para alcançar o mar territorial e rios
que banham mais de um Estado, o que está consoante o art. 93 do CDC.
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9. Nesse sentido, é a jurisprudência do E. STF ao assentar que: "Ação
civil pública promovida pelo Ministério Público Federal. Competência da
Justiça Federal. Art. 109, I e § 3º, da Constituição. Art. 2º da Lei
7.347/85. O dispositivo contido na parte final do § 3º do art. 109 da
Constituição é dirigido ao legislador ordinário, autorizando-o a atribuir
competência (rectius, jurisdição) ao Juízo Estadual do foro do domicílio
da outra parte ou do lugar do ato ou fato que deu origem à demanda,
desde que não seja sede de Vara da Justiça Federal, para causas
específicas dentre as previstas no inciso I do referido artigo 109. No caso
em tela, a permissão não foi utilizada pelo legislador que, ao revés, se
limitou, no art. 2º da Lei 7.347/85, a estabelecer que as ações nele
previstas 'serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo
juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa'.
Considerando que o juiz federal também tem competência territorial e
funcional sobre o local de qualquer dano, impõe-se a conclusão de que o
afastamento da jurisdição federal, no caso, somente poderia dar-se por
meio de referência expressa à Justiça Estadual, como a que fez o
constituinte na primeira parte do mencionado § 3º em relação às causas
de natureza previdenciária, o que no caso não ocorreu.
(...)
(CC 39.111/RJ, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em
13/12/2004, DJ 28/02/2005, p. 178)
Ademais, para realização de tais atividades, a ré precisou de autorização
da União, por meio do Ministério de Minas e Energia, sendo que referida autorização somente é
concedida após o preenchimento de requerimento próprio dirigido ao Ministro de Estado de Minas
e Energia, desde que satisfeitos alguns requisitos estabelecidos no mesmo Decreto-Lei 227/67,
tais como a aprovação de relatório de pesquisa, de competência do DNPM, a designação das
substâncias minerais a lavrar e a apresentação de plano de aproveitamento econômico da jazida a
ser explorada.
Patente, portanto, o interesse da União, apto a atrair a competência da
Justiça Federal.
3. DO OBJETO DA PRESENTE AÇÃO
A presente Ação Civil Pública tem por objetivo a tutela dos interesses
difusos e coletivos de diversas famílias de Governador Valadares/MG que estão privadas das
condições básicas e mínimas para sobrevivência: água potável.
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Como forma de viabilizar o pleito, requer-se desse MM. Juízo a
determinação à Samarco para que forneça, no prazo de 24 horas, 553.990 litros de água mineral,
por dia, à população de Governador Valadares, devendo a distribuição ser feita em todos os
bairros da cidade, especialmente nas localidades mais pobres.
4. DOS FATOS
A partir do dia 09/11/15, em decorrência do rompimento da Barragem de
Fundão, com o despejo de toneladas de lamas resultantes do rejeito da produção de minério de
ferro que foram despejadas no Rio Doce, Governador Valadares/MG interrompeu o abastecimento
de água na cidade.
Em decorrência da gravidade da situação e da falta de previsão do
retorno do abastecimento, o Município decretou estado de calamidade pública.
Desde então, o caos e pavor tomou conta da cidade. A população tem
enfrentado filas gigantescas para conseguir adquirir galões de água mineral, que estão em falta na
cidade.
Os caminhões que chegam na cidade carregados com água mineral,
somente adentram o perímetro urbano com escolta policial. Tamanho é o desespero, que a
população, no intuito de sobreviver nesse momento difícil, passou a saquear os caminhões e
estabelecimentos com água mineral.
O preço do galão de 20L que era comercializado a R$ 8,00 (oito reais)
saltou para R$ 30,00 (trinta reais), necessitando da intervenção das autoridades policiais para
reprimir a prática de crime contra a economia popular.
Nesta toada, a população mais de Governador Valadares, especialmente
os mais necessitados, estão privados no mínimo vital para a sua sobrevivência: água potável.
Em virtude da ausência de previsão do retorno do abastecimento, em
curto prazo, necessário obrigar a empresa causadora da contaminação no Rio Doce fornecer água
mineral à população com a finalidade de assegurar o mínimo existencial.
Assim, diante da inércia da Samarco em minimizar o sofrimento da
população valadarense, necessária a presente Ação Civil Pública com a finalidade de compeli-la .
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4. DO DIREITO
4.1 Da prioridade de acesso ao consumo humano nos casos de escassez de água
A Constituição Federal de 1988 estabeleceu em seu art. 225 que “todos
têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial
à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
A Lei 9.433/1997, que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos,
vaticina que a água é bem de domínio público, bem público de uso comum do povo, da União,
Estados ou Distrito Federal, a depender.
Art. 1º A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes
fundamentos:
I - a água é um bem de domínio público;
II - a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico;
Na lição de Frederico Amado:
“Esse processo de publicização das águas decorre da sua escassez,
especificamente das águas doces, em virtude do desperdício mundial e
da poluição irracional das correntes de água, sendo estratégico para o
Estado brasileiro converter as águas em bens públicos, visando uma
tutela mais rígida para preservar os interesses nacionais, pois preservá-
las com boa qualidade é imprescindível condição para a continuidade da
vida em todas as suas formas” (AMADO, Frederico Augusto Di Trindade.
“Direito Ambiental Esquematizado.” iBooks)
Na hipótese do enfrentamento de situações de escassez, como é o caso
de Governador Valadares, deve-se observar uma ordem de prioridade da utilização para o
consumo humano (para atender necessidades básicas, e não supérfluas).
Nesse sentido é a determinação contida no art. 1º, III, da Lei 9.433/1997:
Art. 1º A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes
fundamentos:
[...]
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III - em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos
hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais;
A Declaração de Dublin, decorrente da Conferência Internacional sobre
Água e Meio Ambiente, organizada pela ONU em janeiro de 1992, como preparação para a RIO
92, tem como princípios:
A água doce é um recurso finito e vulnerável, essencial para a
conservação da vida, a manutenção do desenvolvimento e do meio
ambiente.
A água tem valor econômico em todos os seus usos competitivos; deve-
se promover sua conservação e proteção.
Assim, em obediência ao disposto no art. 1º, III, da Lei 9.433/1997, a
Samarco deve ser compelida a fornecer água mineral a toda a população de Governador
Valadares.
4.2 Da responsabilidade objetiva da Samarco – teoria do risco integral
A responsabilidade ambiental goza de expressa previsão constitucional,
pois as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores,
pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação
de reparar os danos causados, na forma do artigo 225, § 3.º, da CF/88.
No caso de danos ambientais ocasionados por minerador, a
responsabilidade civil também está expressamente prevista na Constituição, pois aquele que
explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com
solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei, a teor do § 2.º, do art. 225
da CF/88.
O poluidor tem o seu conceito legal fornecido pelo artigo 3.º, IV, da Lei
6.938/1981, sendo a “a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável,
diretamente ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental”. Assim, a
Samarco se enquadra no conceito legal de poluidor.
Assim, prevalece que é objetiva essa responsabilidade civil ambiental no
Brasil, em razão do § 1.º do artigo 14 da Lei 6.938/1981:
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“§ 1.º Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o
poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a
indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros,
afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados
terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal,
por danos causados ao meio ambiente”.
O referido dispositivo foi recepcionado pelo ordenamento constitucional,
prevalecendo na doutrina e no Superior Tribunal de Justiça que se trata de responsabilidade civil
objetiva na sua modalidade Teoria do Risco Integral, em que não se quebra o vínculo de
“causalidade pelo fato de terceiro, caso fortuito ou força maior.
A responsabilidade objetiva na sua modalidade teoria do risco integral é
fixada pelo STJ por meio do Recurso Repetitivo REsp 1114398/PR:
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - DANOS MATERIAIS E MORAIS A
PESCADORES CAUSADOS POR POLUIÇÃO AMBIENTAL POR
VAZAMENTO DE NAFTA, EM DECORRÊNCIA DE COLISÃO DO
NAVIO N-T NORMA NO PORTO DE PARANAGUÁ - 1) PROCESSOS
DIVERSOS DECORRENTES DO MESMO FATO, POSSIBILIDADE DE
TRATAMENTO COMO RECURSO REPETITIVO DE TEMAS
DESTACADOS PELO PRESIDENTE DO TRIBUNAL, À
CONVENIÊNCIA DE FORNECIMENTO DE ORIENTAÇÃO
JURISPRUDENCIAL UNIFORME SOBRE CONSEQUÊNCIAS
JURÍDICAS DO FATO, QUANTO A MATÉRIAS REPETITIVAS; 2)
TEMAS: a) CERCEAMENTO DE DEFESA INEXISTENTE NO
JULGAMENTO ANTECIPADO, ANTE OS ELEMENTOS
DOCUMENTAIS SUFICIENTES; b) LEGITIMIDADE DE PARTE DA
PROPRIETÁRIA DO NAVIO TRANSPORTADOR DE CARGA
PERIGOSA, DEVIDO A RESPONSABILIDADE OBJETIVA. PRINCÍPIO
DO POLUIDOR-PAGADOR; c) INADMISSÍVEL A EXCLUSÃO DE
RESPONSABILIDADE POR FATO DE TERCEIRO; d) DANOS MORAL
E MATERIAL CARACTERIZADOS; e) JUROS MORATÓRIOS:
INCIDÊNCIA A PARTIR DA DATA DO EVENTO DANOSO - SÚMULA
54/STJ; f) SUCUMBÊNCIA. 3) IMPROVIMENTO DO RECURSO, COM
OBSERVAÇÃO.
1.- É admissível, no sistema dos Recursos Repetitivos (CPC, art.
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543-C e Resolução STJ 08/08) definir, para vítimas do mesmo fato, em
condições idênticas, teses jurídicas uniformes para as mesmas
consequências jurídicas.
2.- Teses firmadas: a) Não cerceamento de defesa ao julgamento
antecipado da lide.- Não configura cerceamento de defesa o julgamento
antecipado da lide (CPC, art. 330, I e II) de processo de ação de
indenização por danos materiais e morais, movida por pescador
profissional artesanal contra a Petrobrás, decorrente de impossibilidade
de exercício da profissão, em virtude de poluição ambiental causada por
derramamento de nafta devido a avaria do Navio "N-T Norma", a
18.10.2001, no Porto de Paranaguá, pelo período em que suspensa a
pesca pelo IBAMA (da data do fato até 14.11.2001); b) Legitimidade ativa
ad causam.- É parte legítima para ação de indenização supra referida o
pescador profissional artesanal, com início de atividade profissional
registrada no Departamento de Pesca e Aquicultura do Ministério da
Agricultura, e do Abastecimento anteriormente ao fato, ainda que a
emissão da carteira de pescador profissional tenha ocorrido
posteriormente, não havendo a ré alegado e provado falsidade dos
dados constantes do registro e provado haver recebido atenção do poder
público devido a consequências profissionais do acidente; c)
Inviabilidade de alegação de culpa exclusiva de terceiro, ante a
responsabilidade objetiva.- A alegação de culpa exclusiva de terceiro
pelo acidente em causa, como excludente de responsabilidade, deve ser
afastada, ante a incidência da teoria do risco integral e da
responsabilidade objetiva ínsita ao dano ambiental (art. 225, § 3º, da CF
e do art. 14, § 1º, da Lei nº 6.938/81), responsabilizando o degradador
em decorrência do princípio do poluidor-pagador. d) Configuração de
dano moral.- Patente o sofrimento intenso de pescador profissional
artesanal, causado pela privação das condições de trabalho, em
consequência do dano ambiental, é também devida a indenização por
dano moral, fixada, por equidade, em valor equivalente a um salário-
mínimo. e) termo inicial de incidência dos juros moratórios na data do
evento danoso.- Nos termos da Súmula 54/STJ, os juros moratórios
incidem a partir da data do fato, no tocante aos valores devidos a título
de dano material e moral; f) Ônus da sucumbência.- Prevalecendo os
termos da Súmula 326/STJ, a condenação em montante inferior ao
postulado na inicial não afasta a sucumbência mínima, de modo que não
se redistribuem os ônus da sucumbência.
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3.- Recurso Especial improvido, com observação de que julgamento das
teses ora firmadas visa a equalizar especificamente o julgamento das
ações de indenização efetivamente movidas diante do acidente ocorrido
com o Navio N-T Norma, no Porto de Paranaguá, no dia 18.10.2001,
mas, naquilo que encerram teses gerais, aplicáveis a consequências de
danos ambientais causados em outros acidentes semelhantes, serão,
como natural, evidentemente considerados nos julgamentos a se
realizarem.
(REsp 1114398/PR, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, SEGUNDA SEÇÃO,
julgado em 08/02/2012, DJe 16/02/2012)
Ademais, o princípio do poluidor-pagador também está consagrado nas
legislações brasileiras que versam sobre meio ambiente, como a que estabelece a Política
Nacional do Meio Ambiente (Lei n.º 6.938/91) que assim o prevê no seu 4º, VII:
"A imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou
indenizar os danos causados, e ao usuário, de contribuição pela
utilização de recursos ambientais com fins econômicos".
Patente, portanto, a responsabilidade civil da Samarco devendo a mesma
tomar todas as medidas para minimizar os danos ocasionados, incluindo-se nesta
responsabilidade o fornecimento de água mineral à população de Governador Valadares/MG.
4.3 Da responsabilidade da União
Reza a Carta Magna em seu art. 176 que as jazidas, em lavra ou não, e
demais recursos minerais e os potenciais de energia hidráulica constituem propriedade distinta da
do solo, para efeito de exploração ou aproveitamento, e pertencem à União, garantida ao
concessionário a propriedade do produto da lavra”.
E o § 1º do art. 176 é categórico em afirmar que a pesquisa e a lavra de
recursos minerais e o aproveitamento dos potenciais a que se refere o "caput" deste artigo
somente poderão ser efetuados mediante autorização ou concessão da União, no interesse
nacional, por brasileiros ou empresa constituída sob as leis brasileiras e que tenha sua sede e
administração no País, na forma da lei, que estabelecerá as condições específicas quando essas
atividades se desenvolverem em faixa de fronteira ou terras indígenas.
Por deter o monopólio das jazidas e demais recursos minerais, a União
também possui responsabilidade no desastre ocasionado pela empresa Samarco.
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A moderna doutrina ambientalista, busca responsabilizar quem tem mais
condições de arcar com os prejuízos ambientais, com base na doutrina americana do “bolso
profundo”, uma vez que prevalece que todos os poluidores são responsáveis solidariamente pelos
danos ambientais. Nesse sentido:
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO CAUSADO AO MEIO AMBIENTE.
LEGITIMIDADE PASSIVA DO ENTE ESTATAL. RESPONSABILIDADE
OBJETIVA. RESPONSÁVEL DIRETO E INDIRETO. SOLIDARIEDADE.
LITISCONSÓRCIO FACULTATIVO. ART. 267, IV DO CPC.
PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. SÚMULAS 282 E 356 DO STF.
1. Ao compulsar os autos verifica-se que o Tribunal a quo não emitiu
juízo de valor à luz do art. 267 IV do Código de Ritos, e o recorrente
sequer aviou embargos de declaração com o fim de prequestioná-lo. Tal
circunstância atrai a aplicação das Súmulas nº 282 e 356 do STF.
2. O art. 23, inc. VI da Constituição da República fixa a competência
comum para a União, Estados, Distrito Federal e Municípios no que se
refere à proteção do meio ambiente e combate à poluição em qualquer
de suas formas. No mesmo texto, o art. 225, caput, prevê o direito de
todos a um meio ambiente ecologicamente equilibrado e impõe ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações.
3. O Estado recorrente tem o dever de preservar e fiscalizar a
preservação do meio ambiente. Na hipótese, o Estado, no seu dever de
fiscalização, deveria ter requerido o Estudo de Impacto Ambiental e seu
respectivo relatório, bem como a realização de audiências públicas
acerca do tema, ou até mesmo a paralisação da obra que causou o dano
ambiental.
4. O repasse das verbas pelo Estado do Paraná ao Município de Foz de
Iguaçu (ação), a ausência das cautelas fiscalizatórias no que se refere às
licenças concedidas e as que deveriam ter sido confeccionadas pelo
ente estatal (omissão), concorreram para a produção do dano ambiental.
Tais circunstâncias, pois, são aptas a caracterizar o nexo de causalidade
do evento, e assim, legitimar a responsabilização objetiva do recorrente.
5. Assim, independentemente da existência de culpa, o poluidor,
ainda que indireto (Estado-recorrente) (art. 3º da Lei nº 6.938/81), é
obrigado a indenizar e reparar o dano causado ao meio ambiente
(responsabilidade objetiva).
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6. Fixada a legitimidade passiva do ente recorrente, eis que preenchidos
os requisitos para a configuração da responsabilidade civil (ação ou
omissão, nexo de causalidade e dano), ressalta-se, também, que tal
responsabilidade (objetiva) é solidária, o que legitima a inclusão das três
esferas de poder no pólo passivo na demanda, conforme realizado pelo
Ministério Público (litisconsórcio facultativo).
7. Recurso especial conhecido em parte e improvido.
(REsp 604.725/PR, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA,
julgado em 21/06/2005, DJ 22/08/2005, p. 202)
Assim, em virtude da responsabilidade solidária da União e a necessidade
de distribuição da água mineral a ser fornecida pela Samarco, faz-se necessário a determinação
da obrigação de fazer para que a mesma disponibilize, no prazo de 48 horas, pelo menos 100
militares das Forças Armadas para efetuarem a distribuição de água na cidade sob pena de multa
diária de R$ 100.000,00 (cem mil reais).
4.4 Da obrigação de fazer em face da Samarco
Os fatos aqui narrados, com base nas provas anexadas à exordial,
demonstram claramente que o réu infringiu gravemente o meio ambiente deixando a população de
Governador Valadares sem água mineral, o que reclama imediata providência jurisdicional. Senão
vejamos.
Segundo entendimento dominante, a tutela jurisdicional reclamada em tais
situações é a chamada tutela inibitória.
De acordo com o professor LUIZ GUILHERME MARINONI:
“A tutela inibitória é essencialmente preventiva, pois é sempre voltada
para o futuro, destinando-se a impedir a prática de um ilícito, sua
repetição ou continuação” (in “Manual do Processo de Conhecimento”,
ed. RT, 3ª edição, pág.485).
Ainda segundo este mesmo autor:
“A tutela inibitória não tem o dano entre seus pressupostos. O seu alvo,
como já foi dito, é o ilícito. É preciso deixar claro que o dano é uma
conseqüência meramente eventual do ato contrário ao direito. O dano é
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requisito indispensável para a configuração da obrigação ressarcitória,
mas não para a constituição do ilícito”. (ob.cit. pág.485).
Transpondo estas preciosas lições para o caso aqui narrado o que se
verifica é que Samarco, ora demandada, em razão do ilícito praticado tem o dever de minimizar o
sofrimento da população.
Lembramos a V.Exa, com espeque no referido autor, que, ainda que não
houvesse ocorrido dano no caso aqui tratado (o que desde logo se rechaça à luz dos elementos
probatórios colhidos), tal circunstância constituir-se-ia numa mera eventualidade, vez que, não há
necessidade de sua verificação in concreto para concessão de tutela inibitória.
Ainda dentro da caracterização da tutela inibitória, é curial ressaltar que
não se inclui entre os seus elementos a necessidade de se demonstrar culpa ou dolo para seu
deferimento.
O fundamento jurídico-legal da tutela inibitória para proteção de interesses
meta-individuais encontra-se no art.84 do Código de Defesa do Consumidor, in verbis:
“Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de fazer ou
não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou
determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente
ao do adimplemento. § 1º A conversão da obrigação em perdas e danos
somente será admissível se por elas optar o autor ou se impossível a
tutela específica ou a obtenção do resultado prático correspondente;§ 2º
A indenização por perdas e danos se fará sem prejuízo da multa (art.
287, do Código de Processo Civil); § 3º Sendo relevante o fundamento
da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento
final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação
prévia, citado o réu; § 4º O juiz poderá, na hipótese do § 3º ou na
sentença, impor multa diária ao réu, independentemente de pedido do
autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando prazo
razoável para o cumprimento do preceito; § 5º Para a tutela específica
ou para a obtenção do resultado prático equivalente, poderá o juiz
determinar as medidas necessárias, tais como busca e apreensão,
remoção de coisas e pessoas, desfazimento de obra, impedimento de
atividade nociva, além de requisição de força policial”.
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Comentando este dispositivo, LUIZ GUILHERME MARINONI ensina:
“O art.84 do CDC tem redação praticamente idêntica à do art. 461 do
CPC. Essa norma do CDC é aplicável à tutela de todos os interesses
difusos e coletivos, e não apenas – como uma interpretação apressada
poderia levar a supor – à tutela dos direitos dos consumidores, uma vez
que o art.84 do CDC está integrado em um sistema organizado para dar
tutela aos direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos (formado
pela Lei da Ação Civil Pública e pelo Título III do CDC”. (ob.cit. pág.489).
Desse modo não pairam dúvidas a respeito da plena aplicabilidade do art.
84 do CDC na matéria aqui exposta.
Segundo o último censo do IBGE, Governador Valadares possui
atualmente 276.995 habitantes. A OMS recomenda que uma pessoa saudável deva beber, no
mínimo, 2 litros de água por dia
(http://www.un.org/waterforlifedecade/pdf/human_right_to_water_and_sanitation_media_brief_por.
pdf)
Assim, seguindo a recomendação da OMS, multiplicando o valor da
população de Governador Valadares pelo quantidade mínima de consumo diário, faz-se
necessário que a Samarco forneça, diariamente, no prazo de 24 horas, 553.990 (quinhentos e
cinquenta e três mil novecentos e noventa) litros de água mineral, até o efetivo retorno do
abastecimento de água potável na cidade, sob pena de multa diária no valor de 1 milhão de reais.
5. DA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA
Dispõe o art.84, §3º e §4º do CDC, in verbis:
“Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de fazer ou
não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou
determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente
ao do adimplemento. (...) § 3ºSendo relevante o fundamento da
demanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento final, é
lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia,
citado o réu; § 4º O juiz poderá, na hipótese do § 3º ou na sentença,
impor multa diária ao réu, independentemente de pedido do autor, se for
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suficiente ou compatível com a obrigação, fixando prazo razoável para o
cumprimento do preceito;
Na hipótese, vislumbra-se claramente a presença da relevância dos
fundamentos (fumus bonus iuris), vez que, nos termos já expostos, há patente gravidade na falta
de água mineral na cidade, com saques de caminhões e necessidade de escolta
Ademais, em valor do valor exorbitante que está sendo cobrado no galão
de água, a população economicamente hipossuficiente não tem condições de arcar com esses
custos, corrento sério risco a saúde de todos.
Por sua vez, vê-se presente de forma ainda mais clara o justificado
receio de ineficácia do provimento final, (periculum in mora), diante da ausência de previsão de
retorno do abastecimento de água na cidade.
Dessa forma, considerando-se as circunstâncias acima referidas, a
Defensoria Pública da União requer que V. Exa. seja deferida a liminar da tutela específica da
obrigação de fazer para:
a) que a Samarco forneça, diariamente, no prazo de 24 horas, 553.990 (quinhentos e cinquenta e
três mil novecentos e noventa) litros de água mineral, até o efetivo retorno do abastecimento de
água potável na cidade, sob pena de multa diária no valor de 1 milhão de reais;
b) que a União, no prazo de 48 horas, desloque para a cidade, no mínimo 100 membros das
Forças Armadas para a distribuição da água mineral que será fornecida pela Samarco, em todos
os bairros da cidade, especialmente naqueles em que a população é mais carente, devendo os
militares permanecerem na cidade até o efetivo retorno do abastecimento da água potável;
c) que a Samarco seja obrigada a divulgar em todos os meios de comunicação os locais e bairros
em que a água mineral estará sendo distribuída para a população.
6. DOS PEDIDOS
Diante do exposto, postula a DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO:
I - a concessão da liminar, inaudita altera parte, nos temos dos requerimentos aduzidos acima;
II - a citação da Samarco e da União, para, querendo, contestar a presente demanda;
III - a intimação do Ministério Público Federal, nos ternos do art. 82, III, do CPC;
IV - a intimação pessoal da Defensoria Publica da União;
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V - seja a presente demanda julgada inteiramente procedente, confirmando-se a tutela liminar,
para condenar os Requeridos nas obrigações de fazer consistente: a) Samarco: fornecer,
diariamente, no prazo de 24 horas, 553.990 (quinhentos e cinquenta e três mil novecentos e
noventa) litros de água mineral, até o efetivo retorno do abastecimento de água potável na cidade,
sob pena de multa diária no valor de 1 milhão de reais; b) União: deslocar para a cidade, no
mínimo 100 membros das Forças Armadas para a distribuição da água mineral que será fornecida
pela Samarco, em todos os bairros da cidade, especialmente naqueles em que a população é
mais carente, devendo os militares permanecerem na cidade até o efetivo retorno do
abastecimento da água potável.
c) que a Samarco seja obrigada a divulgar em todos os meios de comunicação os locais e bairros
em que a água mineral estará sendo distribuída para a população.
Requer, ainda, a condenação das Requeridas nas custas processuais e
honorários advocatícios.
Por fim, protesta o autor pela produção de todas as provas em direito
admitidas, em especial, a juntada dos documentos de reportagens divulgadas pela mídia, bem
como pela produção de outras provas que se fizerem necessárias à demonstração da verdade dos
fatos ora alegados.
Atribui-se à causa o valor de R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais)
Governador Valadares, 12 de novembro de 2015.
HENDRIKUS SIMÕES GARCIA Defensor Público Federal
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