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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA À DISTÂNCIA
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM TURMAS MULTISSERIADA NA EDUCAÇÃO DO
CAMPO: EXPERIÊNCIAS E PERSPECTIVAS
ANTONIA POLIANA CHAVES DE OLIVEIRA
NATAL-RN
2016
2
ANTONIA POLIANA CHAVES DE OLIVEIRA
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM TURMAS MULTISSERIADAS NA EDUCAÇÃO DO
CAMPO: EXPERIÊNCIAS E PERSPECTIVAS
Artigo Científico apresentado ao Curso de
Pedagogia à Distância do Centro de Educação
da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, como requisito parcial para obtenção do
título de Licenciada em Pedagogia, sob a
orientação do Prof. Dr. Wiama de Jesus Freitas
Lopes.
NATAL-RN
2016
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PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM TURMAS MULTISSERIADAS NA EDUCAÇÃO DO
CAMPO: EXPERIÊNCIAS E PERSPECTIVAS
Por
ANTONIA POLIANA CHAVES DE OLIVEIRA
Artigo Científico apresentado ao Curso de
Pedagogia a Distância do Centro de Educação
da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, como requisito parcial para obtenção do
título de Licenciada em Pedagogia.
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________
Prof. Dr. Wiama de Jesus Freitas Lopes (Orientador)
____________________________________________________
Profª. Dra. Maria da Conceição Costa - UERN (Examinadora Externa)
____________________________________________________
Prof. (Drnd.) Raimundo Paulino da Silva (Examinador Externo)
NATAL-RN
2016
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA À DISTÂNCIA
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM TURMAS MULTISSERIADAS NA EDUCAÇÃO DO
CAMPO: EXPERIÊNCIAS E PERSPECTIVAS
Antonia Poliana Chaves de Oliveira1
Wiama de Jesus Freitas Lopes2
RESUMO:
Este artigo tem o objetivo de refletir acerca das práticas pedagógicas desenvolvidas em classes
multisseriadas na educação do campo. A pesquisa foi realizada em uma das quinze Escolas do
Campo que funcionam no município de Marcelino Vieira-RN, a Escola locus da pesquisa fica
localizada em uma comunidade que conta com cerca de trinta (30) famílias, distante 18 km do
Município de Marcelino Vieira-RN. Para tanto, propõe-se nesta produção analisar o que norteia a
prática pedagógica, sua organização, fundamentação e em que se ancora a prática pedagógica
desenvolvida na turma multisseriada quanto às dinâmicas e perspectivas de uma escola do campo
deste Municipio, à luz do que se preconiza a Educação do Campo. A abordagem metodológica
desta produção trata-se de uma pesquisa com abordagem qualitativa que, por sua vez, orientou o
levantamento de dados com a realização de entrevistas e observações de campo, no intuito de
analisar a efetividade do ensino e às estratégias didáticas concernentes aos significados e às
aprendizagens estabelecidas em classes multisseriadas. O presente trabalho teve como questão
norteadora da pesquisa a seguinte inquietação: “Quais as relações estabelecidas entre as práticas
pedagógicas em turma multisseriada e as perspectivas do processo de ensino-aprendizagem
fomentadas pela Educação do e no Campo?” Para a construção deste trabalho adotou-se
fundamentalmente como referencial teórico Caldart (2012), Hage (2009; 2011), Santos e Mouros
(2010), Ferreira (2008) e Freire (2011). Como aproximações conclusivas este estudo pauta a
urgente necessidade de melhoria no processo de aprendizagem na Educação do Campo por meio da
tríade ação-reflexão-ação, da sistematização e da construção de estruturas pedagógicas específicas
para o trabalho docente na Educação do Campo, o fortalecimento da formação continuada de
educadores — docentes e não-docentes — ligados à escolarização no Campo esforços devidos de
(re)orientação curricular de práticas pedagógicas nas escolas campesinas, nesse caso, em especial,
na Rede Pública de Ensino do Município de Marcelino Vieira-RN.
PALAVRAS-CHAVE: Educação do Campo. Classes Multisseriadas. Prática Pedagógica.
ABSTRACT: This article aims to reflect about the pedagogical practices developed in
multisseriateclasses in rural education, the research was conducted in one of the fifteen rural
schools in the municipality of Marcelino Vieira-RN, the locus School of research is located in a
1Graduanda do Curso de Pedagogia EaD da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail:
a.poliana.oliveira@bol.com.br 2 Orientador. Pedagogo. Mestre em Educação pela UFPA e Doutor em Educaçãopela UFSCar. Docente da
UFCG e Professor Visitante da UFRN. E-mail: uiama@uol.com.br
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community that has about thirty (30) families, distant 18 km from the municipality of Marcelino
Vieira-RN.With the objective of analyze what guides the pedagogical practice developed in
multisseriate class of a rural school of this municipality. This paper it is about a research with
qualitative approach, that for data collection were conducted interviews and observations in order
to analyze the effectiveness of teaching and pedagogic strategies with respect to the meanings and
learning established in multisseriate classes. This paper had as a guiding question of research: What
are the established relations between the pedagogical practices in multisseriate class as to what is
recommended in the rural education? For the construction of this paper was adopted as a referential
the theoretical studies in Caldart (2012), Hage (2009 and 2011), Santos and Moors (2010), Ferreira
(2008) and Freire (2011), among other authors that reference studies on Rural Education,
multisseriate classes, and pedagogical practices. Such research is the result of observations that
aims to improve the learning process, through reflection, systematization and construction of the
information, as it is through a survey that we know the reality in which the teacher of a
multisseriate class faces within their working environment. Through this research, according to the
theoretical and the investigations that allow us to affirm that the rural education, has stabilized as a
new model that will guide the curriculum and their own pedagogical practice in rural schools.
However, there are fragments that can be strengthened, such as the preparation of the Political
Pedagogical Project of the Rural Schools of the Municipality of Marcelino Vieira-RN.
Keywords: Rural Education. Multisseriate classes. Pedagogical practices.
Educação do campo, classes multisseriadas e prática pedagógica: imperativos e
possibilidades.
“[...] Então o (camponês) descobre que tendo sido capaz de transformar a terra, ele é capaz
também de transformar a cultura: renasce não mais como objeto dela,
mas também como sujeito da história.”
Paulo Freire (1987, p.116).
Existe uma grande diversidade nas escolas brasileiras principalmente quando se
circunscreve o olhar para os conjuntos de escolas urbanas e escolas do campo. Nesta
dimensão, muito já se tem discutido o fato da vital necessidade que práticas pedagógicas
devem estar de acordo com as particularidades apresentadas no contexto em que se situa
determinada escola em questão. Assim, de modo potencializado, a educação do campo
surge em meio às singularidades, tensões, dilemas, lutas e conquistas que marcam a vida
de trabalhadoras e trabalhadores que vivem no Campo. Pensar em Educação do Campo é
pensar, inicialmente, em processos de escolarização fundados na garantia de uma educação
autônoma e libertadora.
Dessa forma, essa pesquisa busca refletir sobre a educação do campo percebendo
as experiências desenvolvidas pedagogicamente no campo, diante das especificidades
preconizadas pelo acumulado na Educação do Campo, a partir das três últimas décadas no
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plano dos acúmulos das reflexões teóricas. Isso, considerando a pertinência entre o que se
fala e o que realmente se faz na escola de educação básica campesina.
A proposta de pesquisa acerca das práticas pedagógicas desenvolvidas na
educação do campo em classes multisseriadas aqui existente, trata-se do trabalho de
conclusão de curso (TCC) Pedagogia à distância (EaD), da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN), que ocorreu no período de primeiro (01) de fervereiro de 2016 a
dezoito (18) de junho desse mesmo ano, período que corresponde ao semestre letivo. No
entanto, a pesquisa bibliográfica aqui exposta já vem sendo delineada por meio de leituras
desde muito antes, bem como, de acordo com as experiências e vivências da referida autora
dessa pesquisa, que cresceu, estudou e traz a identidade cultural do campo, uma vez que, as
experiências do sujeito em suas distintas concepções são pontos de partida para o interesse
que leva a escolha de determinada investigação.
Com isso, trazemos como tema, “práticas pedagógicas em turmas multisseriadas
na educação do campo: experiências e perspectivas.” Dessa forma, tem-se o propósito de
analisar as relações existentes entre a prática pedagógia perante o atual contexto da
Educação do Campo. A escolha dessa temática deve-se à necessidade de se discutir a
educação campesina, que de forma direta envolve a geração de trabalho e renda como
fonte de sustentação das familias do campo, bem como, a organização social e econômica.
Assim, a escola fica situada em meio a esta mediação escola-natureza-trabalho.
O nosso objetivo é analisar o que norteia a prática pedagógica desenvolvida por
intermédio das experiências e de suas possibilidades em uma turma multisseriada, à luz de
educação do campo, conhecendo a organização e a metodologia desempenhada por uma
professora do campo que traz como pseudônimo, nesta produção, a nominação escolhida
por ela própria de Flor do Campo. A observação da organização metodológica estará
apresentada nas análises realizadas nesse estudo, identificando e reflextindo acerca das
dificuldades e conquistas do ensino e da aprendizagem em turma multisseriada, tendo em
vista às possibilidades de superação teórico-metodológica dos impositivos existentes nos
processos de escolarização co Campo.
Desse modo, com o pensamento voltado para a Educação do Campo e as turmas
multisseriadas e práticas pedagógicas, a dimensão acadêmica desta pesquisa apresenta-se
necessária e importante para sanar as inquietações que giram em torno da seguinte
problemática: Quais as relações estabelecidas entre as práticas pedagógicas em turma
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multisseriada e as perspectivas do processo de ensino-aprendizagem fomentadas pela
Educação do e no Campo?
Nessa linha, buscamos a compreensão que para tanto exigem reflexão quanto à
postura e a prática pedagógica a ser desempenhada pelo professor de escolas do campo,
levando em consideração as dificuldades encontradas em seu dia a dia, desde a locomoção
de casa a escola, até problemas como de infraestrutura que muitas vezes limitam seu
desempenho passando especialmente pelas práticas docentes em sala de aula, fatos que
também podem atrelar, por vezes, um baixo índice de qualidade de ensino e aprendizagem
das escolas campesinas de modo geral.
Nesse sentido a ação docente é um fator de grande valor apontado por Hage
(2009) como um dos relacionados ao desempenho baixo das escolas do campo, onde a
particularidade básica das classes multisseriadas é o acolhimento de várias séries/anos3 a
qual exige do profissional comprometimento e competência para enfrentar os entraves
encontrados. Desse modo, vale destacar que se faz pertinente a efetivação de práticas
pedagógicas que tenham como base a qualidade e a construção de conhecimentos e o
domínio pedagógico de conteúdo. Assim, demanda do professor um processo contínuo de
formação e aperfeiçoamento da prática, haja vista, que a necessidade de desenvolvimento
da sensibilidade é essencial para um bom mediador.
Buscando entender o posicionamento dos que formam as relações e as práticas
educativas dos que trabalham e convivem em comunidades campesinas, o estudo aqui
apresentado está focado em três elementos didáticos estruturantes para o objeto desse
estudo, sendo eles: a) Educação do Campo; b) Turmas multisseriadas, e; c) Práticas
pedagógicas4. Estando esses no atual contexto que está sendo desenhado não podem ser
tomados como distintos, pois os mesmos devem estar entrelaçados na busca de melhorias
significativas para os alunos e professores de escolas do campo, destacando a ascensão aos
direitos de aprendizagem das crianças do campo, a partir de propostas educativas que
considerem suas realidades e que venham comtemplar uma educação emancipatória.
3 Ouve uma mudança em relação à terminologia de série para ano, mas a lógica funcional do processo de
escolarização continua a mesma, outro ponto é que os professore(as) do campo continuam a identificar turmas Multisseriadas e não Multianual. 4Conforme especificado nas palavras-chave desse artigo que expressam as categorias de análises que
referencializam teórico-metodologicamente a discussão desse trabalho.
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Conjectura metodológica que ancorou a pesquisa
A referida pesquisa caracteriza‐se por uma abordagem qualitativa, a qual se
debruça em métodos que facilitam a organização da pesquisa, como: observações,
entrevista e os referenciais teóricos que fundamentam tais procedimentos.
a pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se
ocupa, nas Ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ou
não deveria ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo dos
significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das
atitudes (MINAYO, 2010, p. 21).
Desse modo, para o decorrer da pesquisa fez-se uma análise a respeito do ensino
oferecido em turmas multisseriadas. Na coleta de dados foi feito observações e entrevista
semiestruturada com uma educadora que atua em uma Escola do Campo do Município de
Marcelino Vieira- RN. Com ações intencionadas a pesquisa participativa favorece a
construção de conhecimentos, onde sujeitos e pesquisadores interagem e trocam
aprendizados, trazendo acima de tudo clareza ao que é estudado. Desse modo, dando
subsídios que possibilitem a resolução de nossa situação problema. Assim, será
apresentados os principais indicadores paltados na entrevista que trará a visão e
compreensão da professora em relação ao seu desenvolvimento e outros elementos que
influenciam em suas práticas pedagógicas.
Caracterização do ambiente e dos envolvidos na pesquisa
O campo empírico desta pesquisa foi uma Escola Municiapal, que fica localizada
em uma comunidade distante 18 km do Muinicípio de Marcelino Vieira-RN, a escola foi
instituída em 1968, criada devido a real necessidade de um imóvel onde funcionasse a
mesma, pois as aulas eram lecionadas nas casas das professoras. Hoje, a comunidade é
formada por cerca de trinta familias, tem em média, cento e dez (110) habitantes, sendo
que a maioria ainda se acha no analfabetismo, apresentam baixas condições
econômicas,tendo como principal fonte de subsistência a pesca e a agricultura familiar,
“enxergando” na única escola da comunidade o caminho que pode levar seus filhos e netos
a um futuro promissor.
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A escola traz com orgulho os nomes dos filhos da terra que por ela passaram e
mesmo com todas as dificuldades que os estudantes da zona rural enfrentam como o
preconceito e o baixo rendimento escolar, conseguiram concluir o Ensino Médio e fazer
uma faculdade, em áreas distintas como Geógrafos, Pedagogos e Assistente Social, algo
muito significativo para professores e principalmente para pais e mães que não sabem ler
nem escrever.
Em relação às instalações, a escola apresenta praticamente a mesma estrutura
física de quando foi construída, com características marcantes da arquitetura da época a
qual foi edificada, contando com 01 (uma) sala de aula bastante espaçosa, 01 (uma)
cozinha, 01(um) banheiro e um pequeno espaço de recreação, no entanto não tem espaço
para uma biblioteca, que é substituída por estantes e armários com livros que estão
arrumados na sala de aula. Além disso, a escola não oferece um espaço onde possa ser
realizadas aulas de Educação física, assim as aulas da disciplina de Educação física
encontra-se atrelada a essa problemática, pois é evidente que o espaço físico escolar tem
grande valor para professores/alunos, haja vista que esse é o ambiente diário de estudo, em
que acontece debates, reflexões, convívio troca de experiências e lazer. Com isso, a
professora da referida escola tenta “driblar” essa situação com o planejamento e
desenvolvimento de metodologias que possam vir a se adequar ao espaço da sala de aula,
priorizando o movimento corporal e jogos. A escola tem energia elétrica, não conta com
saneamento básico, e nem água encanada.
A escola, conta hoje com dois funcionários uma Auxiliar de Serviços Gerais
(ASG) responsável pela limpeza e a merenda escolar das crianças, e uma professora que
atende os alunos da educação infantil (do maternal ao III nível) e as crianças dos anos
iniciais do ensino fundamental (1º, 2°, 3°, 4°; anos). As idades dos discentes variam assim
como os níveis escolares, sendo que a criança mais nova matriculada na escola tem dois
anos e meio e a mais velha dez anos de idade, assim fica evidente a complexidade de
lecionar em turmas multisseriadas, levando em consideração o ritmo de aprendizagem de
cada aluno, e a fase a qual ele pertence, atualmente a escola recebe onze (11) alunos, sendo
cinco (05) alunos da educação infantil e seis (06) do fundamental5 funcionando em um
único turno (matutino), todos os alunos(as) são moradores da comunidade.
5 A escola tem onze (11) alunos matriculados nesse ano letivo, sendo que distribuídos nas seguintes
séries/anos: cinco (05) alunos/as da educação infantil um/uma (01) aluno/a do I nível, dois (02) do II nível e dois (02) do III nível. E seis (06) dos anos iniciais do ensino fundamental: dois (02) alunos/as do 1° ano, um/uma (01) do 2° ano, dois (02) alunos/as do 3° ano e um/uma (01) do 4° ano do ensino fundamental.
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A referida instituição trabalha de forma multisseriada, sendo que uma professora
atende alunos de diferentes idades e níveis escolares em uma mesma turma, as salas
multisseriadas são características e marca registrada da educação do campo, que há
décadas anseiam pelo respeito, bem como a igualdade diante de uma educação de
qualidade que não renegue sua cultura. Porém, sabemos que ainda prevalece no contexto
brasileiro, o conceito de uma cultura “unânime”, de uma unificação de condutas e valores e
nesse cenário a população que vive no campo é vista como inferior ou atrasada da
sociedade moderna, desvalorizando o campo e a educação pelo qual é assistida.
Assim, o ensino e a educação do campo devem planejar o seu desenvolvimento
levantando e percebendo os aspectos da diversidade, das particularidades de cada
comunidade, de acordo com as expectativas, os anseios dos que formam as comunidades
campesinas, privilegiando o ser humano na sua integridade, permitindo a construção da sua
cidadania e inclusão social.
Diante do exposto a educação do campo deve ter seus objetivos voltados para
uma escola do campo vinculada ao desenvolvimento sustentável da comunidade local e
integral, essa relação deve levar em consideração as necessidades reais da comunidade,
sempre frizando o respeito à natureza, uma vez que a escola do campo tem o privilégio de
estar perto do meio ambiente. Desse modo, caracterizado como escola do trabalho e do
trabalhador que deve ter o respeito pela natureza, e em meio a sua complexibilidade a
escola campesina possibilita essa nova modalidade que traz um olhar carinhoso para o
campo a “terra” fonte de sustento dentro da sustentabilidade, mostrando ao educando que o
campo tem muito a oferecer, pricipalmente nos últimos tempos onde ouve grandes avanços
tecnológicos nos setores agrícolas e da pecuária, bem como, melhorias para os pescadores,
gerando mais empregos e autonomia com empreendedores do e no campo, cientes dos
direitos e deveres que tem perante a natureza e o que ela oferece.
A realidade das práticas pedagógicas desenvolvidas no contexto da educação do
campo e as turmas multisseriadas
Por anos, a educação do campo ou “escolinhas da roça” como era vista e
chamada, nutriu sua estrutura didático-pedagógica inabaladas de ajuste com os moldes
impostos pela sociedade, que tinha como prioridade ensinar as letras do alfabeto, e que os
alunos aprendessem a escrever o seu nome próprio. Nesse contexto, as famílias campesinas
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há décadas anseiam por uma escola que não limite o ensino ao ler e escrever, mais que leve
a seus filhos uma educação com formação humana, que formem sujeitos participativos,
críticos e reflexivos, capazes de construir e desconstruir paradigmas estabelecidos para o
seu meio.
Antes de aprofundarmos nossa discussão sobre as práticas pedagógicas
desenvolvidas em uma Escola Municipal da cidade de Marcelino Vieira-RN, é necessário
discorrermos um pouco sobre a origem da educação do campo, que traz em sua história
uma grande luta de trabalhadores e trabalhadoras do campo juntos a movimentos sociais
que lutavam por direito a “terra,” ao trabalho e respeito. Foram mais de 30 anos de luta
para que a educação do campo fizesse parte das políticas públicas, políticas essas que
fossem legitimamente do campo, haja vista que, a educação era vista e pensada apenas pelo
âmbito urbano, onde a cidade seria o único lugar “importante”.
No entanto, sabemos que não se muda um paradigma educacional de forma
imediata, haja vista que não basta uma lei que garanta a educação do campo. É preciso
compreender que os trabalhadores e trabalhadoras rurais possuem história, compartilham
de lutas sociais, de inúmeras dificuldades, tem ideais e expectativas, tem gêneros, raças,
etnias e cultura e gostos diferenciados, assim como qualquer outro grupo social. De tal
modo o currículo deve incorporar essa diversidade, um ensino legitimamente do campo.
Segundo Caldart (2012, p. 257) a educação do campo,
(...) nomeia um fenômeno da realidade brasileira atual, protagonizado
pelos trabalhadores do campo e suas organizações, que visa incidir sobre
a política de educação desde os interesses sociais das comunidades
camponesas. Objetivo e sujeitos remetem às questões do trabalho, da
cultura, do conhecimento e das lutas sociais dos camponeses e ao embate
(de classe) entre projetos de campo e entre lógicas de agricultura que têm
implicações no projeto de país e de sociedade e nas concepções de
política pública, de educação e de formação humana.
Dessa forma, entendemos que a Educação do Campo, apresentou sua origem nos
movimentos sociais, que careciam da implantação de políticas educacionais voltadas para
os habitantes de comunidades rurais, vindos da Reforma Agrária. No entanto, a educação
na zona rural, no Brasil, ainda tem muito a desenvolver. Sabemos que há várias e
satisfatórias políticas educacionais, no entanto o que não existe é observância e
concretização de tais políticas na prática docente no que tange ao contexto das salas de
aula.
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Os vestígios da história nos torcem um modelo das escolas brasileiras
contemporâneas, mostrando os entraves encontrados como a exclusão social, política e
cultural, refletido diretamente num pensamento “preconceituoso” em relação à educação
do campo, que infelizmente ainda é cultivado até os dias de hoje. Esse pensamento sobre o
povo campesino é relatado por Pereira (2009, P. 178),
a ideologia dominante sempre considerou o camponês brasileiro como
matuto analfabeto, fraco, atrasado, preguiçoso, ingênuo, incapaz; um Jeca
Tatu, que precisa ser redimido pela modernidade [...] As escolas
implantadas no campo só contribuíram para reforçar essa imagem.
Escolas com pedagogias bancárias, importadas da cidade como um
pacote pronto: currículo, calendário, cartilha e professor. Todos oriundos
da cidade.
Ainda que essa visão em relação à educação do campo venha se reinventando, é
preciso lembrar que a condição pedagógica é de infraestrutura nas escolas públicas urbanas
ainda é bastante precária, o que dirá das nossas escolas rurais, onde os/as professore (as)
enfrentam diversos obstáculos como o trabalho complexo em turmas multisseriadas.
Em um contexto geral as práticas pedagógicas em escolas do campo, nem sempre
apresentam educadores com formação escolar que os habilitem atuarem no magistério,
bem como são poucas as novas tecnologias fundamentais para o ensino no mundo atual
que demanda mudanças rápidas. Alguns têm acesso a bibliotecas ou materiais didáticos
para desenvolver um trabalho pedagógico diferenciado, que possibilite o educador e o
educando “crescer”.
Atualmente as comunidades campesinas buscam se incluir cada vez mais na
agenda das políticas públicas, tem como desafio proporcionar uma qualidade de vida
melhor para aqueles que vivem nesse espaço, bem como oferecer saúde, transportes,
segurança e uma educação de qualidade com escola devidamente equipada para que as
crianças tenham a aprendizagem que lhes são de direitos. Pois,
quando os povos do campo em sua rica diversidade se mostram vivos,
dinâmicos, até incômodos, fecundam e dinamizam mesmo a escola.
Obrigam-nos a redefinir olhares e superar visões inferiorizadas,
negativas, com que em nosso viciado e preconceituoso olhar
classificamos os povos do campo e seus modos de produção, a agricultura
familiar e suas instituições, a família, a escola. (ARROYO, 2010, p. 09)
13
Com esse pressuposto, é importante que os professores e estudantes do campo,
tenham esse espírito e conhecimento incômodo mencionado pelo autor, onde sua voz é
ouvida, e a realidade pode ser transformada por eles, pessoas que vivem no e do campo.
Existe na comunidade local aqui já citada uma associação de moradores que por
meio de muito esforço conseguiu alguns benefícios como, energia elétrica, água encanada,
cisternas, a comunidade e seus habitantes também dispõem do sinal de celular e de internet
que tem mudado a cultura dos campesinos e facilitado à comunicação.
Assim, a referida Escola dentro de suas possibilidades vem se redesenhando com o
passar dos tempos, a partir das observações e entrevista realizadas, foram formados
pensamentos sobre as práticas pedagógicas desenvolvidas nessa instituição, que serão
descritas com relevância as experiências e perspectivas atribuídas a esse contexto à luz da
educação do campo, compreendendo a dinâmica da organização da professora para o
desenvolvimento de suas aulas.
A professora organiza o espaço da sala de aula de forma atrativa e aconchegante
pedagogicamente, com produções dos alunos expostas em um grande mural, cartazes de
atividades realizados em sala de aula, estão organizados em diferentes partes da sala, os
cantinhos de aprendizagem como o cantinho da leitura, de matemática e de artes, a mobília
consiste em mesas e cadeiras, um armário onde são colocados livros, e uma pequena mesa
que serve para depositar os jogos e materiais manipuláveis. As crianças sentam em fileira,
uma organização tradicional, sabemos que a organização do espaço físico influencia a
dinâmica do trabalho docente e da interação entre professor-aluno, aluno-professor e
aluno-aluno. A disposição das carteiras dessa forma, não favorece o diálogo na construção
do conhecimento, a troca existente no diálogo é fundamental, uma prática indispensável
para a interação e desenvolvimento no cotidiano didático educacional, levando em conta
que, a forma como é organizado o ambiente de sala de aula, conjectura em como se dá a
interação e a realização das atividades pedagógico docente. Assim, o planejamento e a
organização do trabalho pedagógico em cada ação devem levar em consideração os
elementos intrínsecos ao ensino/aprendizagem.
Planejamento como base para a prática pedagógica
As observações e a entrevista deixaram claro que um dos principais elementos
para a concretização da prática pedagógica desempenhada em sala de aula pela educadora
14
da Escola Municipal Maximino Lopes de Oliveira, é o planejamento, dando subsídio para
que mesmo na diversidade da turma multisseriada não deixe que o aluno perca “tempo” ou
aprendizagem. O que pode ser constatado na fala de um dos sujeitos desse estudo em que
há o posicionamento relativo ao que norteia a prática cotidiana em turmas multisseriadas
dever ser o
[...] planejamento que acontece semanalmente na secretaria de
educação, o maior desafio é a diferença de tempo de aprendizagem de
cada aluno. Pois você trabalhar com educação infantil e fundamental
todos juntos é um é um grande desafio ter que desenvolver conteúdos e
atividades diferentes. (Professora Flor do Campo, em entrevista gravada
no interior da escola locus da pesquisa no dia 09/04/2016).
Nesse contexto pode-se afirmar que as práticas, estratégias e procedimentos
metodológicos didáticos devem está sempre previstos no plano do docente, para tanto é
necessário passar por uma reflexão do que realmente é importante naquela ação, com essa
consciência, originada na realidade contextual a qual a escola pertence, fazendo relação ao
depoimento da Profª. Flor do Campo, Hage (2006) ratifica que
os professores enfrentam dificuldades em realizar o planejamento nas
escolas multisseriadas, porque trabalham com muitas séries ao mesmo
tempo, envolvendo estudantes de diversas faixas etárias, interesses e
níveis de aprendizagem. A alternativa mais utilizada para solucionar o
problema e viabilizar o planejamento numa situação dessa natureza tem
sido seguir as indicações do livro didático, sem, contudo, atentar com
clareza para as implicações curriculares resultantes dessa atitude, uma
vez que esses materiais didáticos impõem a definição de um currículo
deslocado da realidade e da cultura das populações do campo da região.
Identificamos ainda as angústias sentidas pelos professores ao organizar o
trabalho pedagógico justamente porque assumem a visão da multissérie
enquanto "junção de várias séries ao mesmo tempo e num mesmo
espaço", passando a elaborar tantos planos de ensino e estratégias de
avaliação da aprendizagem diferenciados quantas forem as séries
presentes em sua turma. Como resultado, os professores se sentem
ansiosos ao pretender realizar o trabalho da melhor forma possível e, ao
mesmo tempo, perdidos, carecendo de apoio para organizar o tempo
escolar, numa situação em que atua em várias séries concomitantemente.
Eles também se sentem pressionados pelo fato de as secretarias de
educação definirem encaminhamentos padronizados de horário do
funcionamento das turmas, de planejamento e listagem de conteúdo,
reagindo de forma a utilizar sua experiência docente acumulada e
criatividade para organizar o trabalho pedagógico adotando medidas
diferenciadas em face das especificidades das turmas. (HAGE, 2006,
p.309)
15
Portanto, o autor nos mostra a angústia sentida pelos professores em classes com
várias séries ao mesmo tempo, em um mesmo espaço, no entanto a educadora observada
nos revela que o ato de planejar serve como um pressuposto e concepção norteadora,
continuando nesse mesmo pensamento das falas Hage (2006) citadas acima encaixa
perfeitamente com a declaração da Profª. Flor do Campo, quando a mesma diz que
[...] trabalho muito em cima da realidade do aluno, trabalho com o livro
didático, mas percebo que traz uma realidade diferente da nossa,
portanto busco trazer exemplos de acontecimentos em nosso dia a dia,
fazendo os alunos observarem diferentes realidades [...]” (Professora
Flor do Campo, 09/04/2016 em entrevista realizada no interior da escola
locus da pesquisa.
Portanto compreendemos que o docente, ciente do processo de aprendizagem do
seu aluno, elabora e aplica ações que favoreçam o desenvolvimento do seu educando, a
partir do planejamento, impedindo a perda de tempo com atividades que agem fora das
necessidades e anseios do aluno, levando em conta os aspectos multidimensionais da
criança e os conhecimentos prévios, pois as crianças trazem para o espaço escolar saberes e
vivências que precisam ser aplicadas as tarefas propostas que, logo irão colaborar para as
contextualizações e a definição do conceito sugerido. De tal modo o planejamento escolar
deve está em harmonia com o universo infantil levando em conta o tempo de
desenvolvimento de cada sujeito, as particularidades da comunidade da qual a criança
participa, para assim construir identidades individuais e coletivas.
Novas práticas, sem novos instrumentos
Portanto, quando percebemos que o próprio significado da escola é propagado de
acordo com o seu desempenho, do que de fato ela representa e acrescenta para o sujeito ou
para um segmento social que a forma. Assim entendemos que a escola e a educação do
campo devem considerar em seu ensino à realidade de seus educandos, considerando que o
conteúdo curricular e as metodologias de ensino do docente devem ser adequados às
necessidades do ensino para trabalhadora e trabalhador do e no campo. Porém, mostrando
e desbravando os acontecimentos da história de outros locais como também mudanças
atuais como o avanço tecnológico.
16
Sem dúvidas as novas tecnologias facilitam o aprendizado do aluno e permitem
que o professor desenvolva um trabalho mais dinâmico. Infelizmente a Escola Municipal
Maximino Lopes de Oliveira, não oferece nenhum recurso tecnológico essencial para o
trabalho do professor, como (computadores, impressoras, TV, aparelhos de DVD e até
mesmo um rádio) de certa forma limitando muito o trabalho da educadora e a
aprendizagem das crianças, pois no mundo globalizado em que vivemos é extremamente
importante o acesso às tecnologias desde cedo, o uso das mesmas favorece o processo de
ensino-aprendizagem estabelecendo um fator de inovação pedagógica, permitindo
transformações nos trabalhos realizados na escola, tendo em vista a necessidade de
acompanhar as mudanças sociais, tornando as aulas mais atraentes,
A educação em suas relações com a tecnologia pressupõe uma
rediscussão de seus fundamentos em termos de desenvolvimento
curricular e formação de professores, assim como a exploração de novas
formas de incrementar o processo ensino-aprendizagem. (CARVALHO,
KRUGER, BASTOS, 2000, p. 15).
Mesmo com as dificuldades em relação a poucos recursos a professora procura
desenvolver um trabalho pedagógico dinâmico, que atraia o aluno para a aula, onde eles
participam de forma espontânea dando suas opiniões e construindo conhecimentos. Para a
professora Flor do Campo,
As dificuldades existem em todas as escolas, mas na minha a principal é a
falta de recursos da tecnologia, tento superar essas dificuldades usando
outros materiais como materiais manipuláveis, e concretos como:
(semente, materiais recicláveis) e mesmo com recursos próprios, peço
ajuda para fazer pesquisas em computadores emprestados, uso o aparelho
de som que levo para deixar para as aulas, mais ativa. Só lamento pelos
alunos porque sei que eles sentem essa falta que às vezes cobram até de
mim, mas não estar ao meu alcance. (Professora Flor do Campo,
09/04/2016 - entrevista realizada no interior da escola locus de
pesquisa.)
Assim percebemos a necessidade sentida pela professora e por seus alunos, sobre
a carência das novas tecnologias no espaço escolar, algo realmente que pode fazer uma
grande diferença na qualidade das aulas oferecidas.
É valido ressaltar a dedicação e carinho dessa professora para com os alunos e a
escola, pois a mesma desenvolveu toda sua trajetória profissional nessa unidade de ensino,
contando com cinquenta e dois (52) anos de idade e com trinta e seis (36) anos de serviço
prestados a uma única escola. Desse modo, desempenha relações e laços com a
17
comunidade escolar que vão além do profissional. Esse fato traz benefícios para a escola
do campo como também para o professor, pois é notável a cumplicidade e integração entre
a comunidade a escola e a professora, pois a mesma conhece o seu alunado e a estrutura
familiar a qual ele pertence, tendo confiança para resolver as diversas situações impostas
ao convívio da escola.
Hage (2004, p. 53) “nos mostra que a realidade da escola multisseriada
demonstra fracos vínculos com os educadores junto a essas escolas, pois geralmente esses
professores estão de passagem e grande parte deles busca-se liberar para sair do campo”.
Cabendo frisar também à experiência da docente que mesmo sem contar com um diploma
de nível superior que habilite como pedagoga, consegue desempenhar um papel
fundamental no espaço ao qual ocupa. Pois o exercício pedagógico exigido no cotidiano
do professor demanda determinadas ações e reações que geralmente não são estudadas
pelos professores em sua formação acadêmica, e sim no “chão da escola”, na troca de
conhecimentos e experiências onde o fazer docente encontra-se recheados de sabedorias,
saberes adquiridos que envolvem o currículo, a avaliação e autoavaliação, as habilidades
sobre a prática do dia a dia, ou seja, saberes adquiridos com a experiência. Haja vista que,
segundo Freire (1979, p. 51),
A ação docente é a base de uma boa formação escolar e contribui para a
construção de uma sociedade pensante. Entretanto, para que isso seja
possível, o docente precisa assumir seu verdadeiro compromisso e
encarar o caminho do aprender a ensinar. Evidentemente, ensinar é uma
responsabilidade que precisa ser trabalhada e desenvolvida. Um educador
precisa sempre, a cada dia, renovar sua forma pedagógica para, da melhor
maneira, atender a seus alunos, pois é por meio do comprometimento e da
“paixão” pela profissão e pela educação que o educador pode
verdadeiramente, assumir o seu papel e se interessar em realmente
aprender a ensinar.
Certamente para que haja organização e avanços no cenário educacional de
trabalhadora e trabalhador do e no campo, é necessário um esforço coletivo para superar os
entraves que impedem a construção do ensino de qualidade que há muito tempo se discute
e se deseja, e para tornar realidade é preciso profissionais empenhados que não deixem
toda a carga e responsabilidade no professor, ou seja, é exercida a participação ativa da
coordenação pedagógica, dos pais, bem como de toda a comunidade através das
associações, das cooperativas todos engajados em um mesmo objetivo, tornar a educação
do campo respeitosa e igualitária.
18
A Secretaria Municipal de Educação frente ao suporte pedagógico necessário e
oferecido
A escola recebe o apoio da Secretaria de Educação do Município de Marcelino
Vieira-RN, onde são resolvidas todas as questões burocráticas das escolas da zona rural
como matriculas, transferência escolar entre outros. É na secretaria Municipal de Educação
(SME) também onde as professoras do campo se reúnem semanalmente com as
coordenadoras e a diretora de núcleo para a realização dos planejamentos, nesse momento
são sugeridas atividades e estratégias para realizações das aulas.
No entanto, é valido ressaltar a carência física de profissionais que ofereçam um
suporte pedagógico no “chão da escola”, ou seja, conhecendo a comunidade, as famílias,
os alunos a realidade do campo, com propostas de intervenção válidas, originadas de
pesquisas e observações do que realmente necessita de intervenção, para aquela escola e os
sujeitos que a formam, quebrando o isolamento que os professores têm nas escolas do
campo.
Assim como os sujeitos dessa pesquisa, em seus cotidianos da docência, outros
educadores do campo seguem uma proposta curricular pautadas em metodologias que
reclamam, por meio de projetos e planos de aula, a interdisciplinaridade. Isso,
fundamentalmente, a partir de planos de trabalho que favoreçam a interação entre as
crianças, delas para com seus meios interacionais e para consigo mesmas, provocadas por
temas geradores que envolvam toda a turma independente do nível de ensino a qual está
inserido. Contudo, dos princípios pedagógicos às ações conscientes no plano do trabalho
docente há certo fosso a ser enfrentado.
No estudo empírico dessa produção foi constatado que em nenhuma escola da
zona rural de Marcelino Vieira tem um Projeto Político Pedagógico (PPP). O que amplia as
dificuldades de práticas curriculares referencializadas por princípios elementares da
educação do campo. Haja vista que o PPP é um elemento fundamental no planejamento
das instituições de ensino e de suas importâncias na base de formação humana dos sujeitos
com os quais lida pedagogicamente. É o PPP que irá evidenciar o que a escola idealiza
quais suas metas e expectativas e quais os possíveis caminhos para atingi-los. Uma vez
que, segundo Veiga (1995, p. 43),
19
[...] o Projeto Político-Pedagógico busca um rumo, uma direção. É uma
ação intencional, com um sentido explícito, com um compromisso
definido coletivamente. Por isso todo projeto pedagógico da escola é,
também, um projeto político por estar intimamente articulado ao
compromisso sociopolítico e com os interesses reais e coletivos da
população majoritária.
Diante do exposto, podemos compreender que o Projeto Político-Pedagógico
(PPP) supera a prática pedagógica, haja vista que o mesmo é uma junção de elementos que
ultrapassam os muros da escola, envolvendo a questão administrativa, financeira, cultural.
Um instrumento de apoio à escola que deve trazer características e marcas registradas de
todos os envolvidos em sua elaboração. Elaboração essa que deve ser coletiva. Pois uma
instituição educacional deve estar aberta para buscar melhorias, com propostas e ações que
favoreçam o processo educativo. Para tanto, é necessário o compromisso de construir o
PPP, uma vez que, a realização do mesmo só pode acontecer com a participação de todos
para que possam alcançar um ensino de qualidade, dessa forma, notamos que a SME têm
conhecimento da importância do Projeto Político Pedagógico para o desenvolvimento do
espaço escolar. Nesse contexto, a Secretaria Municipal de educação por meio dos suportes
pedagógicos e diretores de núcleo junto aos educadores das escolas do campo
necessitavam ter analisado refletido e construído o seu PPP, tendo em vista que o mesmo
conduz o caminhar quanto aos eixos administrativo, pedagógico e pessoal, dando à
instituição escolar as direções necessárias para disseminar propostas que sejam coerentes
com a realidade da mesma.
A escola locus da pesquisa não conta com o “apoio” oferecido pelo Programa
Dinheiro Direto na Escola (PDDE), que consiste no subsídio financeiro para as escolas
públicas da educação básica, tendo como objetivo melhoria na infraestrutura física e
pedagógica da escola, além de trazer autonomia e qualidade para as tomadas de decisão da
comunidade escolar, é fundamental as escolas campesinas disponibilizarem desse
programa, pois ajuda na manutenção e melhoramento dos recursos e ensino oferecido.
As docentes das escolas do campo do município de Marcelino Vieira-RN
participam dos programas de preparação e qualificação oferecidos pelo Ministério da
Educação (MEC) como Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, que tem como
meta assumir entre o governo federal, estadual e municipal alfabetizar todas as crianças até
os oito anos de idade, ao final do 3º ano do ensino fundamental, constituído pela portaria nº
867 de 4 de julho de 2012 lembrando que o PACTO é destinado à formação continuada de
professores alfabetizadores, que são os educadores que atuam nas turmas de 1º, 2º e 3º anos
20
do ensino fundamental e professores de classes multisseriadas. E o programa Escola Ativa,
embora com as fragilizações que necessitavam ser superadas, tinha seu direcionamento
voltado justamente para educação no campo. Para a professora:
A Escola Ativa e o PACTO foram uma ótima descoberta para nós
professores de escolas rurais valorizando o trabalho e a cultura local, eu
gostei muito de participar dessas formações porque sinto que melhorou a
minha forma de ensinar. (Professora Flor do Campo, 09/04/2016 –
entrevista realizada no interior da escola locus de pesquisa.)
Assim percebemos que as políticas públicas direcionadas a esse público, além de
atuar como formações continuadas servem também como instrumentos de valorização
profissional elevando a autoestima desses professores (as) que consequentemente irão
desempenhar suas funções com mais estímulo e dedicação. Os cursos de formação para
professores precisam está estruturados para estabelecer competências pedagógicas,
fortalecendo a prática de ensino no dia a dia.
Nesse sentido, destacamos a carência e a importância de formações para
professores em áreas específicas, com o direcionamento voltado ao contexto e saberes do e
no campo, para que professores/alunos sejam sujeitos capazes de transformar a sua
realidade. Ainda nesse contexto o currículo das escolas do campo deve garantir a
integração entre os conhecimentos, ou seja, os ensinos que priorizam a escola (conteúdos)
e os saberes populares, adquiridos a partir das manifestações culturais do convívio com o
meio pertencente, moldados para que a escola seja um instrumento de intervenção local, no
entanto, para concretização desse currículo é necessário refletir pedagogicamente sobre as
falhas, conquistas e vitórias almejadas. Assim, pode-se afirmar que o currículo é
estabelecido na prática cotidiana dos professores, sendo que os apontamentos curriculares e
suas orientações regem o trabalho pedagógico da escola. Sobre essa ótica durante as
observações foi diagnosticado que lamentavelmente a maioria dos educadores das escolas
do campo, no Município de Marcelino Vieira/RN, acabam não dando a devida importância
a cultura e a comunidade na hora de organizar os conteúdos e procedimentos
metodológicos a serem aplicados nas escolas. O que resulta em replicações de atividades
fundadas nas características próprias do meio urbano, deixando assim lacunas que muito
interferem na formação do sujeito e na valorização da própria identidade dos sujeitos
campesinos, como por exemplo, a supervalorização da cidade como espaço que oferece
melhores alternativas. Sejam elas na educação, no “refinamento” de formação humana ou
21
na economia e, o campo, o avesso de tudo isso. Controvertidamente — e equivocadamente
— como um lugar sem oportunidades e do atrasado... se comparado às possibilidades dos
espaços urbanos. Uma análise para além das condições meramente postas, de
situacionamento crítico, deve aqui marcar profundamente a apreciação dessas questões em
trajetórias de formação continuada, inicialmente, dos educadores que atuam no campo.
Práticas pedagógicas no contexto da heterogeneidade da classe multisseriada:
Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental juntos ao mesmo tempo no
mesmo ambiente de ensino
A escola pesquisada é organizada no modelo de turma multisseriada, uma forma
de agrupamento dos estudantes que tem sido agregada, sobretudo nas escolas do campo,
essas turmas são encontradas em comunidades onde há poucos alunos de cada ano/série,
desse modo em uma mesma turma são encontrados crianças com diferentes etapas de
escolaridades, no entanto esse agrupamento possibilita que os alunos não precisem se
deslocar da sua comunidade para regiões mais distantes, em busca de escolas, em outros
casos famílias inteiras saem do campo e vão pra as cidades em busca de escolas para seus
filhos, nesse contexto é preciso destacar o quanto é relevante à estabilidade e convivência
em sua comunidade fatores que favorecem uma maior articulação com o seu meio.
Porém, essa configuração de agrupamento traz maiores dificuldades para o
educador, desde o planejar ao executar suas aulas, partindo desse contexto diverso,
percebamos que na educação infantil, a aprendizagem se dá através da curiosidade da
espontaneidade, pois o conhecimento acontece de forma natural, sem que se precise
ensinar, ou seja, eles comparam, brincam com as formas com que elas se parecem,
aprendem a dobrar, pintar e jogar, desenhar, pensando nisso é importante o professor
oferecer materiais, que possibilitem as descobertas dos pequenos, que estimulem e os
façam inventar, e nessa perspectiva é muito interessante trabalhar de forma lúdica, com
jogos e brincadeiras, onde as crianças interagem e constroem novos conhecimentos de
forma prazerosa e criativa.
Nas últimas décadas o Brasil, ganhou um grande impulso no que diz respeito à
qualidade do ensino na educação infantil, um dos primeiros e grandes avanços em relação
a esse tema foi quando a Constituição Federal reconheceu como dever do Estado e o
direito da criança a ser atendida em creches e pré-escolas e vinculou esse atendimento à
22
área educacional, garantindo condições para o acesso e a permanência na escola,
progressos fundamentais na perspectiva da qualidade e da ampliação dos direitos legais das
crianças independentemente de sua origem, raça, sexo, ou necessidades educacionais
especiais. No entanto, existem diversas comunidades rurais que não contam com
instituições direcionadas a educação infantil (creches e pré-escolas). Esse é o caso da
escola locus da pesquisa, onde todas as crianças da comunidade estudam na única escola
da região. Portanto, ser professor da educação infantil do campo demanda planejamento,
investigação dos estilos de vida das crianças e da comunidade, enfatizando as brincadeiras
e os brinquedos. É importante que a educação das crianças do campo, garanta práticas, que
potencialize a infância diferenciada que a vida do campo oferece. Sendo que é importante
considerar o entorno da escola, esse como espaço de aprendizagem, nesse sentido as
escolas do campo têm as especificidades de propiciar o contato direto com a natureza,
assim o professor deve planejar atividades que possibilitem essa vivência na área externa
da escola, onde as crianças teriam a oportunidade de aprender brincando. .
Nesse sentido, durante as observações na instituição, foi possível perceber a grande
dificuldade enfrentada pela professora em conciliar o tempo e as atividades entre as
crianças da educação infantil (maternal ao III nível) e as crianças do ensino fundamental
(do 1° ao 4° ano). Sem dúvidas, um grande desafio para qualquer educador é encontrar elos
para conciliar as carências e necessidades de crianças pequenas que ainda se encontram em
processo de adaptação no ambiente escolar, e do outro lado o empenho e a atenção que o
professor deve ter para a aplicação de conteúdos e sistematização dos alunos em fase de
alfabetização.
Mesmo assim, as crianças da educação infantil tem o direito de frequentarem a
escola em sua comunidade, perto de sua casa, o ideal é que as escolas estejam prontas para
receber essas crianças com profissionais suficientes e capacitados, de modo que as famílias
não precisem deslocar seus filhos para escolas na cidade. Uma vez que,
[...] o povo tem o direito de ser educado no lugar onde vive; [...] o povo
tem direito a uma educação pensada desde o seu lugar e com a sua
participação, vinculada à sua cultura e às suas necessidades humanas e
sociais. (CALDART, 2002, p. 26)
Diante disso, é a escola e os seus responsáveis que devem buscar meios que
garantam que o direito a educação das crianças campesinas não sejam negados. A
educação infantil exige do professor, educar, cuidar e brincar, o que demanda tempo,
23
carinho e atenção. Na entrevista, a professora expressa a sua insatisfação em relação ao seu
desempenho pedagógico com as crianças menores, que por muitas vezes ficam sem ter o
que fazer na escola, pois não dar tempo de explicar os conteúdos e atividades dos alunos
dos anos fundamentais e dar atenção às crianças da educação infantil. Assim, a criança
desenvolve na maioria das vezes atividade de pintar, ou atividades impressas. Já no ensino
fundamental é trabalhado a partir do livro didático, como também de acordo com o
calendário escolar e suas datas comemorativas. Algo muito relevante diagnosticado na
escola é a questão da leitura presente em vários momentos da sala de aula, a partir de ações
de leitura de vários gêneros literários, colocando os alunos a terem contato com o texto, já
que no processo de alfabetização, é fundamental que os educandos tenham acesso aos
livros, incentivando o gosto pela leitura, e isso deve ser instigado desde os anos iniciais
para que gradativamente possa ir adquirindo o hábito de ler, bem como ir tendo contato
com as diferentes linguagens.
Nesse sentido, trabalhar com crianças em processo de alfabetização requer do
professor estratégias que propiciem o desenvolvimento cognitivo, sua capacidade de
(re)criar, sua participação na construção do conhecimento e isso se dá na perspectiva de
alfabetizar letrando, já que é preciso que o aluno possa refletir sobre a finalidade da
leitura, bem como a importância de atribuir sentido ao que lê relacionado com seu
cotidiano, visto que é por meio dos textos que a linguagem deve ter seu caráter
interacionista, de forma que o educando possa travar um diálogo entre autor/ leitor tendo
um “olhar” crítico perante o texto para que possa transitar com independência numa
sociedade letrada. Haja vista que o processo de alfabetização dos alunos contribua para o
fortalecimento de sua identidade, valorizando e resgatado os saberes dos povos do campo.
Para tanto, as propostas pedagógicas devem contemplar as práticas de alfabetização,
contextualizadas e ancoradas no fazer lúdico e nos múltiplos aspectos da sua realidade,
inclusive nos saberes que envolvem a cultura popular, a política e as fontes de
subsistências.
A leitura está tão presente na escola que as atividades encaminhadas como tarefas
de casa, estão sempre relacionadas com leitura e escrita, isso é um reflexo do empenho da
professora para amenizar a situação dos alunos do 3° e 4° anos que ainda não sabem ler.
Dessa forma, utilizar a leitura seja ela individual ou a contação de histórias em sala de aula
traz inúmeras vantagens, ao aluno, que será movido a imaginar, estranhar, refletir,
descobrir, provocar o riso, encantando-se e criando, e o professor, que realizará aulas mais
24
agradáveis e consequentemente bem-sucedidas, assim alcançando o objetivo pretendido
que é a aprendizagem significativa de seus alunos.
Perante isso, os PCNs (1996, p.31) colocam que a leitura colaborativa é aquela em
que o professor questiona os alunos durante a leitura sobre algumas pistas linguísticas do
texto para que eles possam ir discutindo com os colegas e informando o porquê de tais
conclusões a respeito da compreensão pessoal de cada um.
Ainda são abordados temas e conteúdos que contemplam problemas atuais, além
dos convencionais, descobrindo como usar símbolos, conceitos, imagens, lembrando que a
construção do conhecimento sobre os conteúdos escolares são influenciados pelo espaço
onde o aluno estar inserido, meio ambiente, pelos meios de comunicação, e a relação
professor aluno, assim foi observado com destaque os conteúdos ligados ao trabalho, e
desenvolvimento do campo, como a questão da preservação do solo, e das nascentes dos
rios, estimulando o amor pela terra e comunidade, o respeito aos trabalhos desenvolvidos
pelos agricultores, ribeirinhos, pescadores, entre outras situações. Assim,
A identidade da escola do campo é definida pela sua vinculação às
questões inerentes a sua realidade, ancorando-se na sua temporalidade e
saberes próprios dos estudantes, na memória coletiva que sinaliza futuros,
na rede de Ciência e Tecnologia disponível na Sociedade e nos
Movimentos Sociais em defesa de projetos que associem as soluções por
essas questões à qualidade social da vida coletiva no país (BRASIL,
2002, p.37).
Nesse sentido, a professora Flor do Campo nos mostra um perfil de uma
educadora do campo “legítima”, ou seja, conhecedora na prática da vida e do trabalho no
campo, sabedora das peculiaridades culturais, sociais, econômicas e políticas. Esse fato
pode ser atribuído a questão da mesma ser filha de agricultores e não menosprezar suas
origens. É indispensável que os professores do campo se envolvam na vida cotidiana da
comunidade, fortalecendo e apoiando ações voltadas à sustentabilidade das famílias, e ao
bem comum da coletividade. Segundo a Prof.ª Flor do Campo
O perfil ideal para professor do campo é aquele que conhece a realidade
da zona rural, sabe o que vai enfrentar e não tem preconceito, pois as
escolas do campo ainda enfrentam muito preconceito, o professor deve
ter o interesse de ajudar a comunidade e família a valorizar e respeitar o
trabalho do homem do campo. (Professora Flor do Campo, Entrevista
gravada no interior da escola locus da pesquisa, no dia 09/04/2016).
25
Porém, isso não quer dizer, que o educador do campo e o seu ensino deve ser
limitado a realidade local, e sim desenvolver uma metodologia abrangente em suas
possibilidades, com prática pedagógica inovadora, usando diversas metodologias e
recursos e espaços, com isso vale destacar a hora da refeição (o lanche), durante esse
momento as crianças ficam acomodadas em suas carteiras, às refeições são feitas na sala de
aula, pois a escola não tem um espaço adequado para esse fim, no entanto sobre o olhar
atento da professora, que busca promover um momento de interação social, cordialidade,
afetividade e construção de conhecimentos. Ao observar a hora do intervalo o “famoso
recreio”, as crianças brincam de correr em volta da escola. Em conversa com a professora
ela me relatou que às vezes teme que as crianças se machuquem, pois as crianças menores
brincam juntas as maiores em um pequeno espaço.
Outro ponto observado é a falta de ludicidade, pois a escola não disponibiliza de
brinquedos, e justamente por causa da sobrecarga da professora são raros os momentos de
brincadeiras, na infância o lúdico deve envolver todos os aspectos educacionais. Pois,
o sentido real, verdadeira, funcional da Educação lúdica estará garantido
se o educador estiver preparado para realizá-lo. Nada será feito se ele não
tiver um profundo conhecimento sobre os fundamentos essenciais da
educação lúdica, condições suficientes para socializar o conhecimento e
predisposição para levar isso adiante. (ALMEIDA, 1998, p. 63)
Diante do exposto vale destacar as dificuldades de um professor receber e acolher
sozinho, alunos com características e necessidades tão distintas, exigindo do educador
comprometimento para que o tempo (horas) seja respeitado.
Por outro lado, o ensino e a aprendizagem em classes multisseriadas mostram-se
interessantes quando são compreendidos como uma organização que permite o
desenvolvimento do processo educativo de forma diferenciada, uma vez que os educandos
de faixas etárias e conhecimentos distintos podem partilhar e participar coletivamente de
forma interdisciplinar em diferentes momentos que as aulas em salas multisseriadas
proporcionar. Nesse sentido, cabe ao professor organizar-se de modo a não centralizar a
aprendizagem em si envolvendo a turma na perspectiva que o contato com o novo e a troca
entre os alunos também favoreçam a aprendizagem, o fato das crianças ficarem vendo e
muitas vezes antecipando conteúdos, ao observar as atividades do colega, esse se mostra
como um ponto positivo da educação do campo e das turmas multisseriadas.
26
A avaliação e a autoavaliação assinala-se como uma admirável aliada do
profissional, permitindo aprimorar suas práticas e rever possíveis falhas, potencializando o
professor a atingir os seus objetivos de ensino/aprendizagem. Sendo que o
autoconhecimento, crítico, reflexivo e coerente prepara o educador para o processo de
avaliação dos educandos, uma vez que a auto avaliação do professor e a avaliação do aluno
devem estar entrelaçadas, na busca do aperfeiçoamento e do crescimento coletivo.
A avaliação é parte complementar no processo de ensino e aprendizagem, para
tanto, demanda do professor preparo e competência para as devidas observações dos
sujeitos envolvidos. Nesse sentido, se a prática pedagógica em escolas do campo é um
trabalho árduo, o processo avaliativo não se caracteriza como uma tarefa fácil. Pois avaliar
é uma das mais importantes ferramentas à disposição dos professores para conseguir que
os estudantes avancem, ou seja, encontrem meios para avaliar a qualidade do aprendizado
dos alunos/as e a proporcionar alternativas para um progresso mais seguro e eficaz.
A avaliação na Escola locus da pesquisa acontece de forma contínua, ou seja,
fazendo parte da rotina da sala de aula, de acordo com a participação, o desenvolvimento e
engajamento nas atividades realizadas, o aluno é avaliado constantemente, para tanto a
professora busca está sempre atenta aos avanços e dificuldades dos alunos, outra estratégia
por ela adotada é a anotação em fichas de avaliação dos alunos individuais (fichas
individuais dos alunos), são escritas informações do desenvolvimento dos alunos em
determinadas tarefas. Essa prática seguida da professora de registros diários do
desenvolvimento dos alunos traz inúmeros benefícios já que ela tem condições de
acompanhar as competências alcançadas por cada aluno. Umas das vantagens da avaliação
contínua é o fato de permitir que o professor observe e intervenha se necessário nos
distintos momentos da aprendizagem do educando de acordo com suas facilidades ou
dificuldades, colaborando para o desempenho do aluno.
27
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O propósito deste trabalho foi o analisar as relações estabelecidas entre as práticas
pedagógicas em turma multisseriada em quanto ao que é preconizado na educação do
campo, uma vez que gerar discussões sobre a educação levanta opiniões e reflexões,
fortalecendo a luta por uma educação de qualidade, assim se fez a Educação do Campo em
meio a “batalhas”, na busca incessante do direito e respeito para com os trabalhadores e
trabalhadoras do Campo.
Partindo da questão que moveu essa pesquisa que foi “Quais as relações
estabelecidas entre as práticas pedagógicas em turma multisseriada e as perspectivas do
processo de ensino-aprendizagem fomentadas pela Educação do e no Campo?”, chegou-se
a uma das respostas estruturais a esta pergunta com o fato de que a Escola do Campo,
apresentada quase sempre em uma sala multisseriada, mostrou-se como um elemento
desafiador do necessário (re)ordenamento curricular praticado nos processos de
escolarização em espaços não citadinos. As experiências pedagógicas empreendidas na
educação do campo revelam falhas pela dicotomização entre o que buscam ensinar em
relação ao que necessita os sujeitos do campo dominar para seus processos de socialização
e de garantias de qualidade de vida no Campo.
Nas escolas no Campo falta estrutura física e faltam mobiliários, recursos
pedagógicos, materiais didáticos e equipamentos tecnológicos. Dificuldades que
atrapalham o desenvolvimento de uma prática pedagógica que necessita estar em
consonância com os reais anseios dos que vivem, trabalham, estudam e se formam no
campo e a partir dele. Desse modo, a construção de práticas educativas em escolas do
campo deve fundar-se na perspectiva de possibilitar aos povos do campo condições de
participação na luta por estruturas objetivas que assegurem uma melhor qualidade de vida
em espaços campesinos. A escola lá existente é polo imprescindível para a incubação desse
Projeto.
No intuito de analisar o que norteia a prática pedagógica desenvolvida na turma
multisseriada de uma Escola do campo do município de Marcelino Vieira-RN, à luz da
educação do campo, chegou-se também ao fato de que as prática pedagógicas em uma
escola multisseriada reclamam por coragem, vontade de fazer um bom trabalho, de ter uma
boa base de formação continuada, atuar em redes de interação profissional, ter sólida base
de formação inicial e identificação política com as lutas ligadas aos processo de
28
organização no Campo. Fundamentalmente na mobilização desses condicionantes para
sistematicamente ir se superando as limitações que são impostas ao cotidiano da ação
pedagógica no campo, a partir das estruturas precarizadas e de invisibilização que
identificam hoje, no geral, as escolas fora das zonas urbanas.
As práticas pedagógicas em suas experiências comuns, hoje, são desenvolvidas
geralmente com fortes nuances de afetividade docente aos educandos no processo de
escolarização desenvolvido no Campo. A parte da pesquisa empírica desse estudo pôde
constatar que, marcadamente, a afetividade é um componente acentuado nas relações
estabelecidas em sala de aula e a partir dela. Além disso, a aprendizagem cooperativa,
muito resultante dessa afetividade, é uma estratégia experimentada em sala de aula
multisseriada, ainda que sem cunho eminentemente teórico-metodológico. Essa
experiência da aprendizagem cooperativa se realiza em aulas em que são estimuladas os
auxílios coletivos, possibilitando às crianças de uma turma multisseriada — com idades e
níveis diferentes — interagirem e construírem conhecimentos juntas.
Ainda quanto à parte empírica desse estudo, dela, foi possível perceber que a
organização e o desenvolvimento das aulas ancoram-se no planejamento, que acontece
semanalmente com todos os professores das Escolas do Campo na Secretaria de Educação
do Município de Marcelino Vieira-RN. Onde, também são avaliados, em parte, os planos
que eles puseram prática no período semanal imediatamente anterior. Contudo, esse
momento de reflexão não incorpora medidas continuadas de acúmulo no que se preconiza
no campo epistemológico da educação do campo.
Diante do exposto, fica clara a necessidade de aprofundamento e de aproximação
do suporte pedagógico oferecido às escolas campesinas por parte da Secretaria de
Educação do Município. O que implica na participação ativa em processos de
autoformação e de convívio escolar, nos contextos do Campo, para que de fato o
planejamento e o suporte oferecido sejam considerados como elementos-chave na cultura
de desenvolvimento profissional dos educadores do Campo.
É preciso salientar, neste contexto, a necessidade de repensar a educação do
campo. Urgentemente. Isso, partindo das Diretrizes de Operacionalização da Educação do
campo com políticas locais que tenham a proposta de qualificar os educadores,
inicialmente. Outro ponto que merece destaque é o currículo da escola do campo. Formar
sujeitos do campo requer clareza perante o lugar em que se está em relação ao projeto de
sociedade, trabalho, desenvolvimento e de hominização que se está empreendendo.
29
Por fim, segundo os teóricos e investigações realizadas neste estudo, é possível
afirmar que a educação do campo vem se referencializando um novo modelo que orientará
o currículo e a própria prática pedagógica nos processos de escolarização em espaços não
citadinos. Isso deve ser observado sob pena de não se está minimamente garantindo um
direito à educação. Que é inalienável, inclusive. Ao passo que se estará olhando para as
dicotomizações que estão sendo envidadas no processo de escolarização dos sujeitos em
face a seus direitos e necessidades de cidadania. Dicotomizações essas constituídas entre o
que se ensina e o que se necessita aprender para se ensinar. Começar pela concepção,
elaboração e implementação do Projeto Político Pedagógico das Escolas do Campo, neste
momento, no Município de Marcelino Vieira-RN, é referencial. Com isso espera-se maior
seriedade e empenho para que as políticas públicas voltadas para a Educação do Campo
contribuam positivamente para a concretização do que é preconizado nas perspectivas de
práticas pedagógicas eficazes, a partir das turmas multisseriadas, no cotidiano de nosso
fazer pedagógico, à luz da Educação do e no Campo.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Paulo Nunes. Educação Lúdica. 9. ed. São Paulo : Loyola, 1998.
ARROYO, Miguel G. A escola do campo e a pesquisa do campo: metas. In. MOLINA, M.
C. (org.). Educação do Campo e Pesquisa: Questões para reflexão. Brasília: Ministério
do Desenvolvimento Agrário; 2006.
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