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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA À DISTÂNCIA PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM TURMAS MULTISSERIADA NA EDUCAÇÃO DO CAMPO: EXPERIÊNCIAS E PERSPECTIVAS ANTONIA POLIANA CHAVES DE OLIVEIRA NATAL-RN 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE EDUCAÇÃO

CURSO DE PEDAGOGIA À DISTÂNCIA

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM TURMAS MULTISSERIADA NA EDUCAÇÃO DO

CAMPO: EXPERIÊNCIAS E PERSPECTIVAS

ANTONIA POLIANA CHAVES DE OLIVEIRA

NATAL-RN

2016

2

ANTONIA POLIANA CHAVES DE OLIVEIRA

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM TURMAS MULTISSERIADAS NA EDUCAÇÃO DO

CAMPO: EXPERIÊNCIAS E PERSPECTIVAS

Artigo Científico apresentado ao Curso de

Pedagogia à Distância do Centro de Educação

da Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, como requisito parcial para obtenção do

título de Licenciada em Pedagogia, sob a

orientação do Prof. Dr. Wiama de Jesus Freitas

Lopes.

NATAL-RN

2016

3

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM TURMAS MULTISSERIADAS NA EDUCAÇÃO DO

CAMPO: EXPERIÊNCIAS E PERSPECTIVAS

Por

ANTONIA POLIANA CHAVES DE OLIVEIRA

Artigo Científico apresentado ao Curso de

Pedagogia a Distância do Centro de Educação

da Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, como requisito parcial para obtenção do

título de Licenciada em Pedagogia.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________

Prof. Dr. Wiama de Jesus Freitas Lopes (Orientador)

____________________________________________________

Profª. Dra. Maria da Conceição Costa - UERN (Examinadora Externa)

____________________________________________________

Prof. (Drnd.) Raimundo Paulino da Silva (Examinador Externo)

NATAL-RN

2016

4

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE EDUCAÇÃO

CURSO DE PEDAGOGIA À DISTÂNCIA

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM TURMAS MULTISSERIADAS NA EDUCAÇÃO DO

CAMPO: EXPERIÊNCIAS E PERSPECTIVAS

Antonia Poliana Chaves de Oliveira1

Wiama de Jesus Freitas Lopes2

RESUMO:

Este artigo tem o objetivo de refletir acerca das práticas pedagógicas desenvolvidas em classes

multisseriadas na educação do campo. A pesquisa foi realizada em uma das quinze Escolas do

Campo que funcionam no município de Marcelino Vieira-RN, a Escola locus da pesquisa fica

localizada em uma comunidade que conta com cerca de trinta (30) famílias, distante 18 km do

Município de Marcelino Vieira-RN. Para tanto, propõe-se nesta produção analisar o que norteia a

prática pedagógica, sua organização, fundamentação e em que se ancora a prática pedagógica

desenvolvida na turma multisseriada quanto às dinâmicas e perspectivas de uma escola do campo

deste Municipio, à luz do que se preconiza a Educação do Campo. A abordagem metodológica

desta produção trata-se de uma pesquisa com abordagem qualitativa que, por sua vez, orientou o

levantamento de dados com a realização de entrevistas e observações de campo, no intuito de

analisar a efetividade do ensino e às estratégias didáticas concernentes aos significados e às

aprendizagens estabelecidas em classes multisseriadas. O presente trabalho teve como questão

norteadora da pesquisa a seguinte inquietação: “Quais as relações estabelecidas entre as práticas

pedagógicas em turma multisseriada e as perspectivas do processo de ensino-aprendizagem

fomentadas pela Educação do e no Campo?” Para a construção deste trabalho adotou-se

fundamentalmente como referencial teórico Caldart (2012), Hage (2009; 2011), Santos e Mouros

(2010), Ferreira (2008) e Freire (2011). Como aproximações conclusivas este estudo pauta a

urgente necessidade de melhoria no processo de aprendizagem na Educação do Campo por meio da

tríade ação-reflexão-ação, da sistematização e da construção de estruturas pedagógicas específicas

para o trabalho docente na Educação do Campo, o fortalecimento da formação continuada de

educadores — docentes e não-docentes — ligados à escolarização no Campo esforços devidos de

(re)orientação curricular de práticas pedagógicas nas escolas campesinas, nesse caso, em especial,

na Rede Pública de Ensino do Município de Marcelino Vieira-RN.

PALAVRAS-CHAVE: Educação do Campo. Classes Multisseriadas. Prática Pedagógica.

ABSTRACT: This article aims to reflect about the pedagogical practices developed in

multisseriateclasses in rural education, the research was conducted in one of the fifteen rural

schools in the municipality of Marcelino Vieira-RN, the locus School of research is located in a

1Graduanda do Curso de Pedagogia EaD da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail:

[email protected] 2 Orientador. Pedagogo. Mestre em Educação pela UFPA e Doutor em Educaçãopela UFSCar. Docente da

UFCG e Professor Visitante da UFRN. E-mail: [email protected]

5

community that has about thirty (30) families, distant 18 km from the municipality of Marcelino

Vieira-RN.With the objective of analyze what guides the pedagogical practice developed in

multisseriate class of a rural school of this municipality. This paper it is about a research with

qualitative approach, that for data collection were conducted interviews and observations in order

to analyze the effectiveness of teaching and pedagogic strategies with respect to the meanings and

learning established in multisseriate classes. This paper had as a guiding question of research: What

are the established relations between the pedagogical practices in multisseriate class as to what is

recommended in the rural education? For the construction of this paper was adopted as a referential

the theoretical studies in Caldart (2012), Hage (2009 and 2011), Santos and Moors (2010), Ferreira

(2008) and Freire (2011), among other authors that reference studies on Rural Education,

multisseriate classes, and pedagogical practices. Such research is the result of observations that

aims to improve the learning process, through reflection, systematization and construction of the

information, as it is through a survey that we know the reality in which the teacher of a

multisseriate class faces within their working environment. Through this research, according to the

theoretical and the investigations that allow us to affirm that the rural education, has stabilized as a

new model that will guide the curriculum and their own pedagogical practice in rural schools.

However, there are fragments that can be strengthened, such as the preparation of the Political

Pedagogical Project of the Rural Schools of the Municipality of Marcelino Vieira-RN.

Keywords: Rural Education. Multisseriate classes. Pedagogical practices.

Educação do campo, classes multisseriadas e prática pedagógica: imperativos e

possibilidades.

“[...] Então o (camponês) descobre que tendo sido capaz de transformar a terra, ele é capaz

também de transformar a cultura: renasce não mais como objeto dela,

mas também como sujeito da história.”

Paulo Freire (1987, p.116).

Existe uma grande diversidade nas escolas brasileiras principalmente quando se

circunscreve o olhar para os conjuntos de escolas urbanas e escolas do campo. Nesta

dimensão, muito já se tem discutido o fato da vital necessidade que práticas pedagógicas

devem estar de acordo com as particularidades apresentadas no contexto em que se situa

determinada escola em questão. Assim, de modo potencializado, a educação do campo

surge em meio às singularidades, tensões, dilemas, lutas e conquistas que marcam a vida

de trabalhadoras e trabalhadores que vivem no Campo. Pensar em Educação do Campo é

pensar, inicialmente, em processos de escolarização fundados na garantia de uma educação

autônoma e libertadora.

Dessa forma, essa pesquisa busca refletir sobre a educação do campo percebendo

as experiências desenvolvidas pedagogicamente no campo, diante das especificidades

preconizadas pelo acumulado na Educação do Campo, a partir das três últimas décadas no

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plano dos acúmulos das reflexões teóricas. Isso, considerando a pertinência entre o que se

fala e o que realmente se faz na escola de educação básica campesina.

A proposta de pesquisa acerca das práticas pedagógicas desenvolvidas na

educação do campo em classes multisseriadas aqui existente, trata-se do trabalho de

conclusão de curso (TCC) Pedagogia à distância (EaD), da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte (UFRN), que ocorreu no período de primeiro (01) de fervereiro de 2016 a

dezoito (18) de junho desse mesmo ano, período que corresponde ao semestre letivo. No

entanto, a pesquisa bibliográfica aqui exposta já vem sendo delineada por meio de leituras

desde muito antes, bem como, de acordo com as experiências e vivências da referida autora

dessa pesquisa, que cresceu, estudou e traz a identidade cultural do campo, uma vez que, as

experiências do sujeito em suas distintas concepções são pontos de partida para o interesse

que leva a escolha de determinada investigação.

Com isso, trazemos como tema, “práticas pedagógicas em turmas multisseriadas

na educação do campo: experiências e perspectivas.” Dessa forma, tem-se o propósito de

analisar as relações existentes entre a prática pedagógia perante o atual contexto da

Educação do Campo. A escolha dessa temática deve-se à necessidade de se discutir a

educação campesina, que de forma direta envolve a geração de trabalho e renda como

fonte de sustentação das familias do campo, bem como, a organização social e econômica.

Assim, a escola fica situada em meio a esta mediação escola-natureza-trabalho.

O nosso objetivo é analisar o que norteia a prática pedagógica desenvolvida por

intermédio das experiências e de suas possibilidades em uma turma multisseriada, à luz de

educação do campo, conhecendo a organização e a metodologia desempenhada por uma

professora do campo que traz como pseudônimo, nesta produção, a nominação escolhida

por ela própria de Flor do Campo. A observação da organização metodológica estará

apresentada nas análises realizadas nesse estudo, identificando e reflextindo acerca das

dificuldades e conquistas do ensino e da aprendizagem em turma multisseriada, tendo em

vista às possibilidades de superação teórico-metodológica dos impositivos existentes nos

processos de escolarização co Campo.

Desse modo, com o pensamento voltado para a Educação do Campo e as turmas

multisseriadas e práticas pedagógicas, a dimensão acadêmica desta pesquisa apresenta-se

necessária e importante para sanar as inquietações que giram em torno da seguinte

problemática: Quais as relações estabelecidas entre as práticas pedagógicas em turma

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multisseriada e as perspectivas do processo de ensino-aprendizagem fomentadas pela

Educação do e no Campo?

Nessa linha, buscamos a compreensão que para tanto exigem reflexão quanto à

postura e a prática pedagógica a ser desempenhada pelo professor de escolas do campo,

levando em consideração as dificuldades encontradas em seu dia a dia, desde a locomoção

de casa a escola, até problemas como de infraestrutura que muitas vezes limitam seu

desempenho passando especialmente pelas práticas docentes em sala de aula, fatos que

também podem atrelar, por vezes, um baixo índice de qualidade de ensino e aprendizagem

das escolas campesinas de modo geral.

Nesse sentido a ação docente é um fator de grande valor apontado por Hage

(2009) como um dos relacionados ao desempenho baixo das escolas do campo, onde a

particularidade básica das classes multisseriadas é o acolhimento de várias séries/anos3 a

qual exige do profissional comprometimento e competência para enfrentar os entraves

encontrados. Desse modo, vale destacar que se faz pertinente a efetivação de práticas

pedagógicas que tenham como base a qualidade e a construção de conhecimentos e o

domínio pedagógico de conteúdo. Assim, demanda do professor um processo contínuo de

formação e aperfeiçoamento da prática, haja vista, que a necessidade de desenvolvimento

da sensibilidade é essencial para um bom mediador.

Buscando entender o posicionamento dos que formam as relações e as práticas

educativas dos que trabalham e convivem em comunidades campesinas, o estudo aqui

apresentado está focado em três elementos didáticos estruturantes para o objeto desse

estudo, sendo eles: a) Educação do Campo; b) Turmas multisseriadas, e; c) Práticas

pedagógicas4. Estando esses no atual contexto que está sendo desenhado não podem ser

tomados como distintos, pois os mesmos devem estar entrelaçados na busca de melhorias

significativas para os alunos e professores de escolas do campo, destacando a ascensão aos

direitos de aprendizagem das crianças do campo, a partir de propostas educativas que

considerem suas realidades e que venham comtemplar uma educação emancipatória.

3 Ouve uma mudança em relação à terminologia de série para ano, mas a lógica funcional do processo de

escolarização continua a mesma, outro ponto é que os professore(as) do campo continuam a identificar turmas Multisseriadas e não Multianual. 4Conforme especificado nas palavras-chave desse artigo que expressam as categorias de análises que

referencializam teórico-metodologicamente a discussão desse trabalho.

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Conjectura metodológica que ancorou a pesquisa

A referida pesquisa caracteriza‐se por uma abordagem qualitativa, a qual se

debruça em métodos que facilitam a organização da pesquisa, como: observações,

entrevista e os referenciais teóricos que fundamentam tais procedimentos.

a pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se

ocupa, nas Ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ou

não deveria ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo dos

significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das

atitudes (MINAYO, 2010, p. 21).

Desse modo, para o decorrer da pesquisa fez-se uma análise a respeito do ensino

oferecido em turmas multisseriadas. Na coleta de dados foi feito observações e entrevista

semiestruturada com uma educadora que atua em uma Escola do Campo do Município de

Marcelino Vieira- RN. Com ações intencionadas a pesquisa participativa favorece a

construção de conhecimentos, onde sujeitos e pesquisadores interagem e trocam

aprendizados, trazendo acima de tudo clareza ao que é estudado. Desse modo, dando

subsídios que possibilitem a resolução de nossa situação problema. Assim, será

apresentados os principais indicadores paltados na entrevista que trará a visão e

compreensão da professora em relação ao seu desenvolvimento e outros elementos que

influenciam em suas práticas pedagógicas.

Caracterização do ambiente e dos envolvidos na pesquisa

O campo empírico desta pesquisa foi uma Escola Municiapal, que fica localizada

em uma comunidade distante 18 km do Muinicípio de Marcelino Vieira-RN, a escola foi

instituída em 1968, criada devido a real necessidade de um imóvel onde funcionasse a

mesma, pois as aulas eram lecionadas nas casas das professoras. Hoje, a comunidade é

formada por cerca de trinta familias, tem em média, cento e dez (110) habitantes, sendo

que a maioria ainda se acha no analfabetismo, apresentam baixas condições

econômicas,tendo como principal fonte de subsistência a pesca e a agricultura familiar,

“enxergando” na única escola da comunidade o caminho que pode levar seus filhos e netos

a um futuro promissor.

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A escola traz com orgulho os nomes dos filhos da terra que por ela passaram e

mesmo com todas as dificuldades que os estudantes da zona rural enfrentam como o

preconceito e o baixo rendimento escolar, conseguiram concluir o Ensino Médio e fazer

uma faculdade, em áreas distintas como Geógrafos, Pedagogos e Assistente Social, algo

muito significativo para professores e principalmente para pais e mães que não sabem ler

nem escrever.

Em relação às instalações, a escola apresenta praticamente a mesma estrutura

física de quando foi construída, com características marcantes da arquitetura da época a

qual foi edificada, contando com 01 (uma) sala de aula bastante espaçosa, 01 (uma)

cozinha, 01(um) banheiro e um pequeno espaço de recreação, no entanto não tem espaço

para uma biblioteca, que é substituída por estantes e armários com livros que estão

arrumados na sala de aula. Além disso, a escola não oferece um espaço onde possa ser

realizadas aulas de Educação física, assim as aulas da disciplina de Educação física

encontra-se atrelada a essa problemática, pois é evidente que o espaço físico escolar tem

grande valor para professores/alunos, haja vista que esse é o ambiente diário de estudo, em

que acontece debates, reflexões, convívio troca de experiências e lazer. Com isso, a

professora da referida escola tenta “driblar” essa situação com o planejamento e

desenvolvimento de metodologias que possam vir a se adequar ao espaço da sala de aula,

priorizando o movimento corporal e jogos. A escola tem energia elétrica, não conta com

saneamento básico, e nem água encanada.

A escola, conta hoje com dois funcionários uma Auxiliar de Serviços Gerais

(ASG) responsável pela limpeza e a merenda escolar das crianças, e uma professora que

atende os alunos da educação infantil (do maternal ao III nível) e as crianças dos anos

iniciais do ensino fundamental (1º, 2°, 3°, 4°; anos). As idades dos discentes variam assim

como os níveis escolares, sendo que a criança mais nova matriculada na escola tem dois

anos e meio e a mais velha dez anos de idade, assim fica evidente a complexidade de

lecionar em turmas multisseriadas, levando em consideração o ritmo de aprendizagem de

cada aluno, e a fase a qual ele pertence, atualmente a escola recebe onze (11) alunos, sendo

cinco (05) alunos da educação infantil e seis (06) do fundamental5 funcionando em um

único turno (matutino), todos os alunos(as) são moradores da comunidade.

5 A escola tem onze (11) alunos matriculados nesse ano letivo, sendo que distribuídos nas seguintes

séries/anos: cinco (05) alunos/as da educação infantil um/uma (01) aluno/a do I nível, dois (02) do II nível e dois (02) do III nível. E seis (06) dos anos iniciais do ensino fundamental: dois (02) alunos/as do 1° ano, um/uma (01) do 2° ano, dois (02) alunos/as do 3° ano e um/uma (01) do 4° ano do ensino fundamental.

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A referida instituição trabalha de forma multisseriada, sendo que uma professora

atende alunos de diferentes idades e níveis escolares em uma mesma turma, as salas

multisseriadas são características e marca registrada da educação do campo, que há

décadas anseiam pelo respeito, bem como a igualdade diante de uma educação de

qualidade que não renegue sua cultura. Porém, sabemos que ainda prevalece no contexto

brasileiro, o conceito de uma cultura “unânime”, de uma unificação de condutas e valores e

nesse cenário a população que vive no campo é vista como inferior ou atrasada da

sociedade moderna, desvalorizando o campo e a educação pelo qual é assistida.

Assim, o ensino e a educação do campo devem planejar o seu desenvolvimento

levantando e percebendo os aspectos da diversidade, das particularidades de cada

comunidade, de acordo com as expectativas, os anseios dos que formam as comunidades

campesinas, privilegiando o ser humano na sua integridade, permitindo a construção da sua

cidadania e inclusão social.

Diante do exposto a educação do campo deve ter seus objetivos voltados para

uma escola do campo vinculada ao desenvolvimento sustentável da comunidade local e

integral, essa relação deve levar em consideração as necessidades reais da comunidade,

sempre frizando o respeito à natureza, uma vez que a escola do campo tem o privilégio de

estar perto do meio ambiente. Desse modo, caracterizado como escola do trabalho e do

trabalhador que deve ter o respeito pela natureza, e em meio a sua complexibilidade a

escola campesina possibilita essa nova modalidade que traz um olhar carinhoso para o

campo a “terra” fonte de sustento dentro da sustentabilidade, mostrando ao educando que o

campo tem muito a oferecer, pricipalmente nos últimos tempos onde ouve grandes avanços

tecnológicos nos setores agrícolas e da pecuária, bem como, melhorias para os pescadores,

gerando mais empregos e autonomia com empreendedores do e no campo, cientes dos

direitos e deveres que tem perante a natureza e o que ela oferece.

A realidade das práticas pedagógicas desenvolvidas no contexto da educação do

campo e as turmas multisseriadas

Por anos, a educação do campo ou “escolinhas da roça” como era vista e

chamada, nutriu sua estrutura didático-pedagógica inabaladas de ajuste com os moldes

impostos pela sociedade, que tinha como prioridade ensinar as letras do alfabeto, e que os

alunos aprendessem a escrever o seu nome próprio. Nesse contexto, as famílias campesinas

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há décadas anseiam por uma escola que não limite o ensino ao ler e escrever, mais que leve

a seus filhos uma educação com formação humana, que formem sujeitos participativos,

críticos e reflexivos, capazes de construir e desconstruir paradigmas estabelecidos para o

seu meio.

Antes de aprofundarmos nossa discussão sobre as práticas pedagógicas

desenvolvidas em uma Escola Municipal da cidade de Marcelino Vieira-RN, é necessário

discorrermos um pouco sobre a origem da educação do campo, que traz em sua história

uma grande luta de trabalhadores e trabalhadoras do campo juntos a movimentos sociais

que lutavam por direito a “terra,” ao trabalho e respeito. Foram mais de 30 anos de luta

para que a educação do campo fizesse parte das políticas públicas, políticas essas que

fossem legitimamente do campo, haja vista que, a educação era vista e pensada apenas pelo

âmbito urbano, onde a cidade seria o único lugar “importante”.

No entanto, sabemos que não se muda um paradigma educacional de forma

imediata, haja vista que não basta uma lei que garanta a educação do campo. É preciso

compreender que os trabalhadores e trabalhadoras rurais possuem história, compartilham

de lutas sociais, de inúmeras dificuldades, tem ideais e expectativas, tem gêneros, raças,

etnias e cultura e gostos diferenciados, assim como qualquer outro grupo social. De tal

modo o currículo deve incorporar essa diversidade, um ensino legitimamente do campo.

Segundo Caldart (2012, p. 257) a educação do campo,

(...) nomeia um fenômeno da realidade brasileira atual, protagonizado

pelos trabalhadores do campo e suas organizações, que visa incidir sobre

a política de educação desde os interesses sociais das comunidades

camponesas. Objetivo e sujeitos remetem às questões do trabalho, da

cultura, do conhecimento e das lutas sociais dos camponeses e ao embate

(de classe) entre projetos de campo e entre lógicas de agricultura que têm

implicações no projeto de país e de sociedade e nas concepções de

política pública, de educação e de formação humana.

Dessa forma, entendemos que a Educação do Campo, apresentou sua origem nos

movimentos sociais, que careciam da implantação de políticas educacionais voltadas para

os habitantes de comunidades rurais, vindos da Reforma Agrária. No entanto, a educação

na zona rural, no Brasil, ainda tem muito a desenvolver. Sabemos que há várias e

satisfatórias políticas educacionais, no entanto o que não existe é observância e

concretização de tais políticas na prática docente no que tange ao contexto das salas de

aula.

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Os vestígios da história nos torcem um modelo das escolas brasileiras

contemporâneas, mostrando os entraves encontrados como a exclusão social, política e

cultural, refletido diretamente num pensamento “preconceituoso” em relação à educação

do campo, que infelizmente ainda é cultivado até os dias de hoje. Esse pensamento sobre o

povo campesino é relatado por Pereira (2009, P. 178),

a ideologia dominante sempre considerou o camponês brasileiro como

matuto analfabeto, fraco, atrasado, preguiçoso, ingênuo, incapaz; um Jeca

Tatu, que precisa ser redimido pela modernidade [...] As escolas

implantadas no campo só contribuíram para reforçar essa imagem.

Escolas com pedagogias bancárias, importadas da cidade como um

pacote pronto: currículo, calendário, cartilha e professor. Todos oriundos

da cidade.

Ainda que essa visão em relação à educação do campo venha se reinventando, é

preciso lembrar que a condição pedagógica é de infraestrutura nas escolas públicas urbanas

ainda é bastante precária, o que dirá das nossas escolas rurais, onde os/as professore (as)

enfrentam diversos obstáculos como o trabalho complexo em turmas multisseriadas.

Em um contexto geral as práticas pedagógicas em escolas do campo, nem sempre

apresentam educadores com formação escolar que os habilitem atuarem no magistério,

bem como são poucas as novas tecnologias fundamentais para o ensino no mundo atual

que demanda mudanças rápidas. Alguns têm acesso a bibliotecas ou materiais didáticos

para desenvolver um trabalho pedagógico diferenciado, que possibilite o educador e o

educando “crescer”.

Atualmente as comunidades campesinas buscam se incluir cada vez mais na

agenda das políticas públicas, tem como desafio proporcionar uma qualidade de vida

melhor para aqueles que vivem nesse espaço, bem como oferecer saúde, transportes,

segurança e uma educação de qualidade com escola devidamente equipada para que as

crianças tenham a aprendizagem que lhes são de direitos. Pois,

quando os povos do campo em sua rica diversidade se mostram vivos,

dinâmicos, até incômodos, fecundam e dinamizam mesmo a escola.

Obrigam-nos a redefinir olhares e superar visões inferiorizadas,

negativas, com que em nosso viciado e preconceituoso olhar

classificamos os povos do campo e seus modos de produção, a agricultura

familiar e suas instituições, a família, a escola. (ARROYO, 2010, p. 09)

13

Com esse pressuposto, é importante que os professores e estudantes do campo,

tenham esse espírito e conhecimento incômodo mencionado pelo autor, onde sua voz é

ouvida, e a realidade pode ser transformada por eles, pessoas que vivem no e do campo.

Existe na comunidade local aqui já citada uma associação de moradores que por

meio de muito esforço conseguiu alguns benefícios como, energia elétrica, água encanada,

cisternas, a comunidade e seus habitantes também dispõem do sinal de celular e de internet

que tem mudado a cultura dos campesinos e facilitado à comunicação.

Assim, a referida Escola dentro de suas possibilidades vem se redesenhando com o

passar dos tempos, a partir das observações e entrevista realizadas, foram formados

pensamentos sobre as práticas pedagógicas desenvolvidas nessa instituição, que serão

descritas com relevância as experiências e perspectivas atribuídas a esse contexto à luz da

educação do campo, compreendendo a dinâmica da organização da professora para o

desenvolvimento de suas aulas.

A professora organiza o espaço da sala de aula de forma atrativa e aconchegante

pedagogicamente, com produções dos alunos expostas em um grande mural, cartazes de

atividades realizados em sala de aula, estão organizados em diferentes partes da sala, os

cantinhos de aprendizagem como o cantinho da leitura, de matemática e de artes, a mobília

consiste em mesas e cadeiras, um armário onde são colocados livros, e uma pequena mesa

que serve para depositar os jogos e materiais manipuláveis. As crianças sentam em fileira,

uma organização tradicional, sabemos que a organização do espaço físico influencia a

dinâmica do trabalho docente e da interação entre professor-aluno, aluno-professor e

aluno-aluno. A disposição das carteiras dessa forma, não favorece o diálogo na construção

do conhecimento, a troca existente no diálogo é fundamental, uma prática indispensável

para a interação e desenvolvimento no cotidiano didático educacional, levando em conta

que, a forma como é organizado o ambiente de sala de aula, conjectura em como se dá a

interação e a realização das atividades pedagógico docente. Assim, o planejamento e a

organização do trabalho pedagógico em cada ação devem levar em consideração os

elementos intrínsecos ao ensino/aprendizagem.

Planejamento como base para a prática pedagógica

As observações e a entrevista deixaram claro que um dos principais elementos

para a concretização da prática pedagógica desempenhada em sala de aula pela educadora

14

da Escola Municipal Maximino Lopes de Oliveira, é o planejamento, dando subsídio para

que mesmo na diversidade da turma multisseriada não deixe que o aluno perca “tempo” ou

aprendizagem. O que pode ser constatado na fala de um dos sujeitos desse estudo em que

há o posicionamento relativo ao que norteia a prática cotidiana em turmas multisseriadas

dever ser o

[...] planejamento que acontece semanalmente na secretaria de

educação, o maior desafio é a diferença de tempo de aprendizagem de

cada aluno. Pois você trabalhar com educação infantil e fundamental

todos juntos é um é um grande desafio ter que desenvolver conteúdos e

atividades diferentes. (Professora Flor do Campo, em entrevista gravada

no interior da escola locus da pesquisa no dia 09/04/2016).

Nesse contexto pode-se afirmar que as práticas, estratégias e procedimentos

metodológicos didáticos devem está sempre previstos no plano do docente, para tanto é

necessário passar por uma reflexão do que realmente é importante naquela ação, com essa

consciência, originada na realidade contextual a qual a escola pertence, fazendo relação ao

depoimento da Profª. Flor do Campo, Hage (2006) ratifica que

os professores enfrentam dificuldades em realizar o planejamento nas

escolas multisseriadas, porque trabalham com muitas séries ao mesmo

tempo, envolvendo estudantes de diversas faixas etárias, interesses e

níveis de aprendizagem. A alternativa mais utilizada para solucionar o

problema e viabilizar o planejamento numa situação dessa natureza tem

sido seguir as indicações do livro didático, sem, contudo, atentar com

clareza para as implicações curriculares resultantes dessa atitude, uma

vez que esses materiais didáticos impõem a definição de um currículo

deslocado da realidade e da cultura das populações do campo da região.

Identificamos ainda as angústias sentidas pelos professores ao organizar o

trabalho pedagógico justamente porque assumem a visão da multissérie

enquanto "junção de várias séries ao mesmo tempo e num mesmo

espaço", passando a elaborar tantos planos de ensino e estratégias de

avaliação da aprendizagem diferenciados quantas forem as séries

presentes em sua turma. Como resultado, os professores se sentem

ansiosos ao pretender realizar o trabalho da melhor forma possível e, ao

mesmo tempo, perdidos, carecendo de apoio para organizar o tempo

escolar, numa situação em que atua em várias séries concomitantemente.

Eles também se sentem pressionados pelo fato de as secretarias de

educação definirem encaminhamentos padronizados de horário do

funcionamento das turmas, de planejamento e listagem de conteúdo,

reagindo de forma a utilizar sua experiência docente acumulada e

criatividade para organizar o trabalho pedagógico adotando medidas

diferenciadas em face das especificidades das turmas. (HAGE, 2006,

p.309)

15

Portanto, o autor nos mostra a angústia sentida pelos professores em classes com

várias séries ao mesmo tempo, em um mesmo espaço, no entanto a educadora observada

nos revela que o ato de planejar serve como um pressuposto e concepção norteadora,

continuando nesse mesmo pensamento das falas Hage (2006) citadas acima encaixa

perfeitamente com a declaração da Profª. Flor do Campo, quando a mesma diz que

[...] trabalho muito em cima da realidade do aluno, trabalho com o livro

didático, mas percebo que traz uma realidade diferente da nossa,

portanto busco trazer exemplos de acontecimentos em nosso dia a dia,

fazendo os alunos observarem diferentes realidades [...]” (Professora

Flor do Campo, 09/04/2016 em entrevista realizada no interior da escola

locus da pesquisa.

Portanto compreendemos que o docente, ciente do processo de aprendizagem do

seu aluno, elabora e aplica ações que favoreçam o desenvolvimento do seu educando, a

partir do planejamento, impedindo a perda de tempo com atividades que agem fora das

necessidades e anseios do aluno, levando em conta os aspectos multidimensionais da

criança e os conhecimentos prévios, pois as crianças trazem para o espaço escolar saberes e

vivências que precisam ser aplicadas as tarefas propostas que, logo irão colaborar para as

contextualizações e a definição do conceito sugerido. De tal modo o planejamento escolar

deve está em harmonia com o universo infantil levando em conta o tempo de

desenvolvimento de cada sujeito, as particularidades da comunidade da qual a criança

participa, para assim construir identidades individuais e coletivas.

Novas práticas, sem novos instrumentos

Portanto, quando percebemos que o próprio significado da escola é propagado de

acordo com o seu desempenho, do que de fato ela representa e acrescenta para o sujeito ou

para um segmento social que a forma. Assim entendemos que a escola e a educação do

campo devem considerar em seu ensino à realidade de seus educandos, considerando que o

conteúdo curricular e as metodologias de ensino do docente devem ser adequados às

necessidades do ensino para trabalhadora e trabalhador do e no campo. Porém, mostrando

e desbravando os acontecimentos da história de outros locais como também mudanças

atuais como o avanço tecnológico.

16

Sem dúvidas as novas tecnologias facilitam o aprendizado do aluno e permitem

que o professor desenvolva um trabalho mais dinâmico. Infelizmente a Escola Municipal

Maximino Lopes de Oliveira, não oferece nenhum recurso tecnológico essencial para o

trabalho do professor, como (computadores, impressoras, TV, aparelhos de DVD e até

mesmo um rádio) de certa forma limitando muito o trabalho da educadora e a

aprendizagem das crianças, pois no mundo globalizado em que vivemos é extremamente

importante o acesso às tecnologias desde cedo, o uso das mesmas favorece o processo de

ensino-aprendizagem estabelecendo um fator de inovação pedagógica, permitindo

transformações nos trabalhos realizados na escola, tendo em vista a necessidade de

acompanhar as mudanças sociais, tornando as aulas mais atraentes,

A educação em suas relações com a tecnologia pressupõe uma

rediscussão de seus fundamentos em termos de desenvolvimento

curricular e formação de professores, assim como a exploração de novas

formas de incrementar o processo ensino-aprendizagem. (CARVALHO,

KRUGER, BASTOS, 2000, p. 15).

Mesmo com as dificuldades em relação a poucos recursos a professora procura

desenvolver um trabalho pedagógico dinâmico, que atraia o aluno para a aula, onde eles

participam de forma espontânea dando suas opiniões e construindo conhecimentos. Para a

professora Flor do Campo,

As dificuldades existem em todas as escolas, mas na minha a principal é a

falta de recursos da tecnologia, tento superar essas dificuldades usando

outros materiais como materiais manipuláveis, e concretos como:

(semente, materiais recicláveis) e mesmo com recursos próprios, peço

ajuda para fazer pesquisas em computadores emprestados, uso o aparelho

de som que levo para deixar para as aulas, mais ativa. Só lamento pelos

alunos porque sei que eles sentem essa falta que às vezes cobram até de

mim, mas não estar ao meu alcance. (Professora Flor do Campo,

09/04/2016 - entrevista realizada no interior da escola locus de

pesquisa.)

Assim percebemos a necessidade sentida pela professora e por seus alunos, sobre

a carência das novas tecnologias no espaço escolar, algo realmente que pode fazer uma

grande diferença na qualidade das aulas oferecidas.

É valido ressaltar a dedicação e carinho dessa professora para com os alunos e a

escola, pois a mesma desenvolveu toda sua trajetória profissional nessa unidade de ensino,

contando com cinquenta e dois (52) anos de idade e com trinta e seis (36) anos de serviço

prestados a uma única escola. Desse modo, desempenha relações e laços com a

17

comunidade escolar que vão além do profissional. Esse fato traz benefícios para a escola

do campo como também para o professor, pois é notável a cumplicidade e integração entre

a comunidade a escola e a professora, pois a mesma conhece o seu alunado e a estrutura

familiar a qual ele pertence, tendo confiança para resolver as diversas situações impostas

ao convívio da escola.

Hage (2004, p. 53) “nos mostra que a realidade da escola multisseriada

demonstra fracos vínculos com os educadores junto a essas escolas, pois geralmente esses

professores estão de passagem e grande parte deles busca-se liberar para sair do campo”.

Cabendo frisar também à experiência da docente que mesmo sem contar com um diploma

de nível superior que habilite como pedagoga, consegue desempenhar um papel

fundamental no espaço ao qual ocupa. Pois o exercício pedagógico exigido no cotidiano

do professor demanda determinadas ações e reações que geralmente não são estudadas

pelos professores em sua formação acadêmica, e sim no “chão da escola”, na troca de

conhecimentos e experiências onde o fazer docente encontra-se recheados de sabedorias,

saberes adquiridos que envolvem o currículo, a avaliação e autoavaliação, as habilidades

sobre a prática do dia a dia, ou seja, saberes adquiridos com a experiência. Haja vista que,

segundo Freire (1979, p. 51),

A ação docente é a base de uma boa formação escolar e contribui para a

construção de uma sociedade pensante. Entretanto, para que isso seja

possível, o docente precisa assumir seu verdadeiro compromisso e

encarar o caminho do aprender a ensinar. Evidentemente, ensinar é uma

responsabilidade que precisa ser trabalhada e desenvolvida. Um educador

precisa sempre, a cada dia, renovar sua forma pedagógica para, da melhor

maneira, atender a seus alunos, pois é por meio do comprometimento e da

“paixão” pela profissão e pela educação que o educador pode

verdadeiramente, assumir o seu papel e se interessar em realmente

aprender a ensinar.

Certamente para que haja organização e avanços no cenário educacional de

trabalhadora e trabalhador do e no campo, é necessário um esforço coletivo para superar os

entraves que impedem a construção do ensino de qualidade que há muito tempo se discute

e se deseja, e para tornar realidade é preciso profissionais empenhados que não deixem

toda a carga e responsabilidade no professor, ou seja, é exercida a participação ativa da

coordenação pedagógica, dos pais, bem como de toda a comunidade através das

associações, das cooperativas todos engajados em um mesmo objetivo, tornar a educação

do campo respeitosa e igualitária.

18

A Secretaria Municipal de Educação frente ao suporte pedagógico necessário e

oferecido

A escola recebe o apoio da Secretaria de Educação do Município de Marcelino

Vieira-RN, onde são resolvidas todas as questões burocráticas das escolas da zona rural

como matriculas, transferência escolar entre outros. É na secretaria Municipal de Educação

(SME) também onde as professoras do campo se reúnem semanalmente com as

coordenadoras e a diretora de núcleo para a realização dos planejamentos, nesse momento

são sugeridas atividades e estratégias para realizações das aulas.

No entanto, é valido ressaltar a carência física de profissionais que ofereçam um

suporte pedagógico no “chão da escola”, ou seja, conhecendo a comunidade, as famílias,

os alunos a realidade do campo, com propostas de intervenção válidas, originadas de

pesquisas e observações do que realmente necessita de intervenção, para aquela escola e os

sujeitos que a formam, quebrando o isolamento que os professores têm nas escolas do

campo.

Assim como os sujeitos dessa pesquisa, em seus cotidianos da docência, outros

educadores do campo seguem uma proposta curricular pautadas em metodologias que

reclamam, por meio de projetos e planos de aula, a interdisciplinaridade. Isso,

fundamentalmente, a partir de planos de trabalho que favoreçam a interação entre as

crianças, delas para com seus meios interacionais e para consigo mesmas, provocadas por

temas geradores que envolvam toda a turma independente do nível de ensino a qual está

inserido. Contudo, dos princípios pedagógicos às ações conscientes no plano do trabalho

docente há certo fosso a ser enfrentado.

No estudo empírico dessa produção foi constatado que em nenhuma escola da

zona rural de Marcelino Vieira tem um Projeto Político Pedagógico (PPP). O que amplia as

dificuldades de práticas curriculares referencializadas por princípios elementares da

educação do campo. Haja vista que o PPP é um elemento fundamental no planejamento

das instituições de ensino e de suas importâncias na base de formação humana dos sujeitos

com os quais lida pedagogicamente. É o PPP que irá evidenciar o que a escola idealiza

quais suas metas e expectativas e quais os possíveis caminhos para atingi-los. Uma vez

que, segundo Veiga (1995, p. 43),

19

[...] o Projeto Político-Pedagógico busca um rumo, uma direção. É uma

ação intencional, com um sentido explícito, com um compromisso

definido coletivamente. Por isso todo projeto pedagógico da escola é,

também, um projeto político por estar intimamente articulado ao

compromisso sociopolítico e com os interesses reais e coletivos da

população majoritária.

Diante do exposto, podemos compreender que o Projeto Político-Pedagógico

(PPP) supera a prática pedagógica, haja vista que o mesmo é uma junção de elementos que

ultrapassam os muros da escola, envolvendo a questão administrativa, financeira, cultural.

Um instrumento de apoio à escola que deve trazer características e marcas registradas de

todos os envolvidos em sua elaboração. Elaboração essa que deve ser coletiva. Pois uma

instituição educacional deve estar aberta para buscar melhorias, com propostas e ações que

favoreçam o processo educativo. Para tanto, é necessário o compromisso de construir o

PPP, uma vez que, a realização do mesmo só pode acontecer com a participação de todos

para que possam alcançar um ensino de qualidade, dessa forma, notamos que a SME têm

conhecimento da importância do Projeto Político Pedagógico para o desenvolvimento do

espaço escolar. Nesse contexto, a Secretaria Municipal de educação por meio dos suportes

pedagógicos e diretores de núcleo junto aos educadores das escolas do campo

necessitavam ter analisado refletido e construído o seu PPP, tendo em vista que o mesmo

conduz o caminhar quanto aos eixos administrativo, pedagógico e pessoal, dando à

instituição escolar as direções necessárias para disseminar propostas que sejam coerentes

com a realidade da mesma.

A escola locus da pesquisa não conta com o “apoio” oferecido pelo Programa

Dinheiro Direto na Escola (PDDE), que consiste no subsídio financeiro para as escolas

públicas da educação básica, tendo como objetivo melhoria na infraestrutura física e

pedagógica da escola, além de trazer autonomia e qualidade para as tomadas de decisão da

comunidade escolar, é fundamental as escolas campesinas disponibilizarem desse

programa, pois ajuda na manutenção e melhoramento dos recursos e ensino oferecido.

As docentes das escolas do campo do município de Marcelino Vieira-RN

participam dos programas de preparação e qualificação oferecidos pelo Ministério da

Educação (MEC) como Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, que tem como

meta assumir entre o governo federal, estadual e municipal alfabetizar todas as crianças até

os oito anos de idade, ao final do 3º ano do ensino fundamental, constituído pela portaria nº

867 de 4 de julho de 2012 lembrando que o PACTO é destinado à formação continuada de

professores alfabetizadores, que são os educadores que atuam nas turmas de 1º, 2º e 3º anos

20

do ensino fundamental e professores de classes multisseriadas. E o programa Escola Ativa,

embora com as fragilizações que necessitavam ser superadas, tinha seu direcionamento

voltado justamente para educação no campo. Para a professora:

A Escola Ativa e o PACTO foram uma ótima descoberta para nós

professores de escolas rurais valorizando o trabalho e a cultura local, eu

gostei muito de participar dessas formações porque sinto que melhorou a

minha forma de ensinar. (Professora Flor do Campo, 09/04/2016 –

entrevista realizada no interior da escola locus de pesquisa.)

Assim percebemos que as políticas públicas direcionadas a esse público, além de

atuar como formações continuadas servem também como instrumentos de valorização

profissional elevando a autoestima desses professores (as) que consequentemente irão

desempenhar suas funções com mais estímulo e dedicação. Os cursos de formação para

professores precisam está estruturados para estabelecer competências pedagógicas,

fortalecendo a prática de ensino no dia a dia.

Nesse sentido, destacamos a carência e a importância de formações para

professores em áreas específicas, com o direcionamento voltado ao contexto e saberes do e

no campo, para que professores/alunos sejam sujeitos capazes de transformar a sua

realidade. Ainda nesse contexto o currículo das escolas do campo deve garantir a

integração entre os conhecimentos, ou seja, os ensinos que priorizam a escola (conteúdos)

e os saberes populares, adquiridos a partir das manifestações culturais do convívio com o

meio pertencente, moldados para que a escola seja um instrumento de intervenção local, no

entanto, para concretização desse currículo é necessário refletir pedagogicamente sobre as

falhas, conquistas e vitórias almejadas. Assim, pode-se afirmar que o currículo é

estabelecido na prática cotidiana dos professores, sendo que os apontamentos curriculares e

suas orientações regem o trabalho pedagógico da escola. Sobre essa ótica durante as

observações foi diagnosticado que lamentavelmente a maioria dos educadores das escolas

do campo, no Município de Marcelino Vieira/RN, acabam não dando a devida importância

a cultura e a comunidade na hora de organizar os conteúdos e procedimentos

metodológicos a serem aplicados nas escolas. O que resulta em replicações de atividades

fundadas nas características próprias do meio urbano, deixando assim lacunas que muito

interferem na formação do sujeito e na valorização da própria identidade dos sujeitos

campesinos, como por exemplo, a supervalorização da cidade como espaço que oferece

melhores alternativas. Sejam elas na educação, no “refinamento” de formação humana ou

21

na economia e, o campo, o avesso de tudo isso. Controvertidamente — e equivocadamente

— como um lugar sem oportunidades e do atrasado... se comparado às possibilidades dos

espaços urbanos. Uma análise para além das condições meramente postas, de

situacionamento crítico, deve aqui marcar profundamente a apreciação dessas questões em

trajetórias de formação continuada, inicialmente, dos educadores que atuam no campo.

Práticas pedagógicas no contexto da heterogeneidade da classe multisseriada:

Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental juntos ao mesmo tempo no

mesmo ambiente de ensino

A escola pesquisada é organizada no modelo de turma multisseriada, uma forma

de agrupamento dos estudantes que tem sido agregada, sobretudo nas escolas do campo,

essas turmas são encontradas em comunidades onde há poucos alunos de cada ano/série,

desse modo em uma mesma turma são encontrados crianças com diferentes etapas de

escolaridades, no entanto esse agrupamento possibilita que os alunos não precisem se

deslocar da sua comunidade para regiões mais distantes, em busca de escolas, em outros

casos famílias inteiras saem do campo e vão pra as cidades em busca de escolas para seus

filhos, nesse contexto é preciso destacar o quanto é relevante à estabilidade e convivência

em sua comunidade fatores que favorecem uma maior articulação com o seu meio.

Porém, essa configuração de agrupamento traz maiores dificuldades para o

educador, desde o planejar ao executar suas aulas, partindo desse contexto diverso,

percebamos que na educação infantil, a aprendizagem se dá através da curiosidade da

espontaneidade, pois o conhecimento acontece de forma natural, sem que se precise

ensinar, ou seja, eles comparam, brincam com as formas com que elas se parecem,

aprendem a dobrar, pintar e jogar, desenhar, pensando nisso é importante o professor

oferecer materiais, que possibilitem as descobertas dos pequenos, que estimulem e os

façam inventar, e nessa perspectiva é muito interessante trabalhar de forma lúdica, com

jogos e brincadeiras, onde as crianças interagem e constroem novos conhecimentos de

forma prazerosa e criativa.

Nas últimas décadas o Brasil, ganhou um grande impulso no que diz respeito à

qualidade do ensino na educação infantil, um dos primeiros e grandes avanços em relação

a esse tema foi quando a Constituição Federal reconheceu como dever do Estado e o

direito da criança a ser atendida em creches e pré-escolas e vinculou esse atendimento à

22

área educacional, garantindo condições para o acesso e a permanência na escola,

progressos fundamentais na perspectiva da qualidade e da ampliação dos direitos legais das

crianças independentemente de sua origem, raça, sexo, ou necessidades educacionais

especiais. No entanto, existem diversas comunidades rurais que não contam com

instituições direcionadas a educação infantil (creches e pré-escolas). Esse é o caso da

escola locus da pesquisa, onde todas as crianças da comunidade estudam na única escola

da região. Portanto, ser professor da educação infantil do campo demanda planejamento,

investigação dos estilos de vida das crianças e da comunidade, enfatizando as brincadeiras

e os brinquedos. É importante que a educação das crianças do campo, garanta práticas, que

potencialize a infância diferenciada que a vida do campo oferece. Sendo que é importante

considerar o entorno da escola, esse como espaço de aprendizagem, nesse sentido as

escolas do campo têm as especificidades de propiciar o contato direto com a natureza,

assim o professor deve planejar atividades que possibilitem essa vivência na área externa

da escola, onde as crianças teriam a oportunidade de aprender brincando. .

Nesse sentido, durante as observações na instituição, foi possível perceber a grande

dificuldade enfrentada pela professora em conciliar o tempo e as atividades entre as

crianças da educação infantil (maternal ao III nível) e as crianças do ensino fundamental

(do 1° ao 4° ano). Sem dúvidas, um grande desafio para qualquer educador é encontrar elos

para conciliar as carências e necessidades de crianças pequenas que ainda se encontram em

processo de adaptação no ambiente escolar, e do outro lado o empenho e a atenção que o

professor deve ter para a aplicação de conteúdos e sistematização dos alunos em fase de

alfabetização.

Mesmo assim, as crianças da educação infantil tem o direito de frequentarem a

escola em sua comunidade, perto de sua casa, o ideal é que as escolas estejam prontas para

receber essas crianças com profissionais suficientes e capacitados, de modo que as famílias

não precisem deslocar seus filhos para escolas na cidade. Uma vez que,

[...] o povo tem o direito de ser educado no lugar onde vive; [...] o povo

tem direito a uma educação pensada desde o seu lugar e com a sua

participação, vinculada à sua cultura e às suas necessidades humanas e

sociais. (CALDART, 2002, p. 26)

Diante disso, é a escola e os seus responsáveis que devem buscar meios que

garantam que o direito a educação das crianças campesinas não sejam negados. A

educação infantil exige do professor, educar, cuidar e brincar, o que demanda tempo,

23

carinho e atenção. Na entrevista, a professora expressa a sua insatisfação em relação ao seu

desempenho pedagógico com as crianças menores, que por muitas vezes ficam sem ter o

que fazer na escola, pois não dar tempo de explicar os conteúdos e atividades dos alunos

dos anos fundamentais e dar atenção às crianças da educação infantil. Assim, a criança

desenvolve na maioria das vezes atividade de pintar, ou atividades impressas. Já no ensino

fundamental é trabalhado a partir do livro didático, como também de acordo com o

calendário escolar e suas datas comemorativas. Algo muito relevante diagnosticado na

escola é a questão da leitura presente em vários momentos da sala de aula, a partir de ações

de leitura de vários gêneros literários, colocando os alunos a terem contato com o texto, já

que no processo de alfabetização, é fundamental que os educandos tenham acesso aos

livros, incentivando o gosto pela leitura, e isso deve ser instigado desde os anos iniciais

para que gradativamente possa ir adquirindo o hábito de ler, bem como ir tendo contato

com as diferentes linguagens.

Nesse sentido, trabalhar com crianças em processo de alfabetização requer do

professor estratégias que propiciem o desenvolvimento cognitivo, sua capacidade de

(re)criar, sua participação na construção do conhecimento e isso se dá na perspectiva de

alfabetizar letrando, já que é preciso que o aluno possa refletir sobre a finalidade da

leitura, bem como a importância de atribuir sentido ao que lê relacionado com seu

cotidiano, visto que é por meio dos textos que a linguagem deve ter seu caráter

interacionista, de forma que o educando possa travar um diálogo entre autor/ leitor tendo

um “olhar” crítico perante o texto para que possa transitar com independência numa

sociedade letrada. Haja vista que o processo de alfabetização dos alunos contribua para o

fortalecimento de sua identidade, valorizando e resgatado os saberes dos povos do campo.

Para tanto, as propostas pedagógicas devem contemplar as práticas de alfabetização,

contextualizadas e ancoradas no fazer lúdico e nos múltiplos aspectos da sua realidade,

inclusive nos saberes que envolvem a cultura popular, a política e as fontes de

subsistências.

A leitura está tão presente na escola que as atividades encaminhadas como tarefas

de casa, estão sempre relacionadas com leitura e escrita, isso é um reflexo do empenho da

professora para amenizar a situação dos alunos do 3° e 4° anos que ainda não sabem ler.

Dessa forma, utilizar a leitura seja ela individual ou a contação de histórias em sala de aula

traz inúmeras vantagens, ao aluno, que será movido a imaginar, estranhar, refletir,

descobrir, provocar o riso, encantando-se e criando, e o professor, que realizará aulas mais

24

agradáveis e consequentemente bem-sucedidas, assim alcançando o objetivo pretendido

que é a aprendizagem significativa de seus alunos.

Perante isso, os PCNs (1996, p.31) colocam que a leitura colaborativa é aquela em

que o professor questiona os alunos durante a leitura sobre algumas pistas linguísticas do

texto para que eles possam ir discutindo com os colegas e informando o porquê de tais

conclusões a respeito da compreensão pessoal de cada um.

Ainda são abordados temas e conteúdos que contemplam problemas atuais, além

dos convencionais, descobrindo como usar símbolos, conceitos, imagens, lembrando que a

construção do conhecimento sobre os conteúdos escolares são influenciados pelo espaço

onde o aluno estar inserido, meio ambiente, pelos meios de comunicação, e a relação

professor aluno, assim foi observado com destaque os conteúdos ligados ao trabalho, e

desenvolvimento do campo, como a questão da preservação do solo, e das nascentes dos

rios, estimulando o amor pela terra e comunidade, o respeito aos trabalhos desenvolvidos

pelos agricultores, ribeirinhos, pescadores, entre outras situações. Assim,

A identidade da escola do campo é definida pela sua vinculação às

questões inerentes a sua realidade, ancorando-se na sua temporalidade e

saberes próprios dos estudantes, na memória coletiva que sinaliza futuros,

na rede de Ciência e Tecnologia disponível na Sociedade e nos

Movimentos Sociais em defesa de projetos que associem as soluções por

essas questões à qualidade social da vida coletiva no país (BRASIL,

2002, p.37).

Nesse sentido, a professora Flor do Campo nos mostra um perfil de uma

educadora do campo “legítima”, ou seja, conhecedora na prática da vida e do trabalho no

campo, sabedora das peculiaridades culturais, sociais, econômicas e políticas. Esse fato

pode ser atribuído a questão da mesma ser filha de agricultores e não menosprezar suas

origens. É indispensável que os professores do campo se envolvam na vida cotidiana da

comunidade, fortalecendo e apoiando ações voltadas à sustentabilidade das famílias, e ao

bem comum da coletividade. Segundo a Prof.ª Flor do Campo

O perfil ideal para professor do campo é aquele que conhece a realidade

da zona rural, sabe o que vai enfrentar e não tem preconceito, pois as

escolas do campo ainda enfrentam muito preconceito, o professor deve

ter o interesse de ajudar a comunidade e família a valorizar e respeitar o

trabalho do homem do campo. (Professora Flor do Campo, Entrevista

gravada no interior da escola locus da pesquisa, no dia 09/04/2016).

25

Porém, isso não quer dizer, que o educador do campo e o seu ensino deve ser

limitado a realidade local, e sim desenvolver uma metodologia abrangente em suas

possibilidades, com prática pedagógica inovadora, usando diversas metodologias e

recursos e espaços, com isso vale destacar a hora da refeição (o lanche), durante esse

momento as crianças ficam acomodadas em suas carteiras, às refeições são feitas na sala de

aula, pois a escola não tem um espaço adequado para esse fim, no entanto sobre o olhar

atento da professora, que busca promover um momento de interação social, cordialidade,

afetividade e construção de conhecimentos. Ao observar a hora do intervalo o “famoso

recreio”, as crianças brincam de correr em volta da escola. Em conversa com a professora

ela me relatou que às vezes teme que as crianças se machuquem, pois as crianças menores

brincam juntas as maiores em um pequeno espaço.

Outro ponto observado é a falta de ludicidade, pois a escola não disponibiliza de

brinquedos, e justamente por causa da sobrecarga da professora são raros os momentos de

brincadeiras, na infância o lúdico deve envolver todos os aspectos educacionais. Pois,

o sentido real, verdadeira, funcional da Educação lúdica estará garantido

se o educador estiver preparado para realizá-lo. Nada será feito se ele não

tiver um profundo conhecimento sobre os fundamentos essenciais da

educação lúdica, condições suficientes para socializar o conhecimento e

predisposição para levar isso adiante. (ALMEIDA, 1998, p. 63)

Diante do exposto vale destacar as dificuldades de um professor receber e acolher

sozinho, alunos com características e necessidades tão distintas, exigindo do educador

comprometimento para que o tempo (horas) seja respeitado.

Por outro lado, o ensino e a aprendizagem em classes multisseriadas mostram-se

interessantes quando são compreendidos como uma organização que permite o

desenvolvimento do processo educativo de forma diferenciada, uma vez que os educandos

de faixas etárias e conhecimentos distintos podem partilhar e participar coletivamente de

forma interdisciplinar em diferentes momentos que as aulas em salas multisseriadas

proporcionar. Nesse sentido, cabe ao professor organizar-se de modo a não centralizar a

aprendizagem em si envolvendo a turma na perspectiva que o contato com o novo e a troca

entre os alunos também favoreçam a aprendizagem, o fato das crianças ficarem vendo e

muitas vezes antecipando conteúdos, ao observar as atividades do colega, esse se mostra

como um ponto positivo da educação do campo e das turmas multisseriadas.

26

A avaliação e a autoavaliação assinala-se como uma admirável aliada do

profissional, permitindo aprimorar suas práticas e rever possíveis falhas, potencializando o

professor a atingir os seus objetivos de ensino/aprendizagem. Sendo que o

autoconhecimento, crítico, reflexivo e coerente prepara o educador para o processo de

avaliação dos educandos, uma vez que a auto avaliação do professor e a avaliação do aluno

devem estar entrelaçadas, na busca do aperfeiçoamento e do crescimento coletivo.

A avaliação é parte complementar no processo de ensino e aprendizagem, para

tanto, demanda do professor preparo e competência para as devidas observações dos

sujeitos envolvidos. Nesse sentido, se a prática pedagógica em escolas do campo é um

trabalho árduo, o processo avaliativo não se caracteriza como uma tarefa fácil. Pois avaliar

é uma das mais importantes ferramentas à disposição dos professores para conseguir que

os estudantes avancem, ou seja, encontrem meios para avaliar a qualidade do aprendizado

dos alunos/as e a proporcionar alternativas para um progresso mais seguro e eficaz.

A avaliação na Escola locus da pesquisa acontece de forma contínua, ou seja,

fazendo parte da rotina da sala de aula, de acordo com a participação, o desenvolvimento e

engajamento nas atividades realizadas, o aluno é avaliado constantemente, para tanto a

professora busca está sempre atenta aos avanços e dificuldades dos alunos, outra estratégia

por ela adotada é a anotação em fichas de avaliação dos alunos individuais (fichas

individuais dos alunos), são escritas informações do desenvolvimento dos alunos em

determinadas tarefas. Essa prática seguida da professora de registros diários do

desenvolvimento dos alunos traz inúmeros benefícios já que ela tem condições de

acompanhar as competências alcançadas por cada aluno. Umas das vantagens da avaliação

contínua é o fato de permitir que o professor observe e intervenha se necessário nos

distintos momentos da aprendizagem do educando de acordo com suas facilidades ou

dificuldades, colaborando para o desempenho do aluno.

27

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O propósito deste trabalho foi o analisar as relações estabelecidas entre as práticas

pedagógicas em turma multisseriada em quanto ao que é preconizado na educação do

campo, uma vez que gerar discussões sobre a educação levanta opiniões e reflexões,

fortalecendo a luta por uma educação de qualidade, assim se fez a Educação do Campo em

meio a “batalhas”, na busca incessante do direito e respeito para com os trabalhadores e

trabalhadoras do Campo.

Partindo da questão que moveu essa pesquisa que foi “Quais as relações

estabelecidas entre as práticas pedagógicas em turma multisseriada e as perspectivas do

processo de ensino-aprendizagem fomentadas pela Educação do e no Campo?”, chegou-se

a uma das respostas estruturais a esta pergunta com o fato de que a Escola do Campo,

apresentada quase sempre em uma sala multisseriada, mostrou-se como um elemento

desafiador do necessário (re)ordenamento curricular praticado nos processos de

escolarização em espaços não citadinos. As experiências pedagógicas empreendidas na

educação do campo revelam falhas pela dicotomização entre o que buscam ensinar em

relação ao que necessita os sujeitos do campo dominar para seus processos de socialização

e de garantias de qualidade de vida no Campo.

Nas escolas no Campo falta estrutura física e faltam mobiliários, recursos

pedagógicos, materiais didáticos e equipamentos tecnológicos. Dificuldades que

atrapalham o desenvolvimento de uma prática pedagógica que necessita estar em

consonância com os reais anseios dos que vivem, trabalham, estudam e se formam no

campo e a partir dele. Desse modo, a construção de práticas educativas em escolas do

campo deve fundar-se na perspectiva de possibilitar aos povos do campo condições de

participação na luta por estruturas objetivas que assegurem uma melhor qualidade de vida

em espaços campesinos. A escola lá existente é polo imprescindível para a incubação desse

Projeto.

No intuito de analisar o que norteia a prática pedagógica desenvolvida na turma

multisseriada de uma Escola do campo do município de Marcelino Vieira-RN, à luz da

educação do campo, chegou-se também ao fato de que as prática pedagógicas em uma

escola multisseriada reclamam por coragem, vontade de fazer um bom trabalho, de ter uma

boa base de formação continuada, atuar em redes de interação profissional, ter sólida base

de formação inicial e identificação política com as lutas ligadas aos processo de

28

organização no Campo. Fundamentalmente na mobilização desses condicionantes para

sistematicamente ir se superando as limitações que são impostas ao cotidiano da ação

pedagógica no campo, a partir das estruturas precarizadas e de invisibilização que

identificam hoje, no geral, as escolas fora das zonas urbanas.

As práticas pedagógicas em suas experiências comuns, hoje, são desenvolvidas

geralmente com fortes nuances de afetividade docente aos educandos no processo de

escolarização desenvolvido no Campo. A parte da pesquisa empírica desse estudo pôde

constatar que, marcadamente, a afetividade é um componente acentuado nas relações

estabelecidas em sala de aula e a partir dela. Além disso, a aprendizagem cooperativa,

muito resultante dessa afetividade, é uma estratégia experimentada em sala de aula

multisseriada, ainda que sem cunho eminentemente teórico-metodológico. Essa

experiência da aprendizagem cooperativa se realiza em aulas em que são estimuladas os

auxílios coletivos, possibilitando às crianças de uma turma multisseriada — com idades e

níveis diferentes — interagirem e construírem conhecimentos juntas.

Ainda quanto à parte empírica desse estudo, dela, foi possível perceber que a

organização e o desenvolvimento das aulas ancoram-se no planejamento, que acontece

semanalmente com todos os professores das Escolas do Campo na Secretaria de Educação

do Município de Marcelino Vieira-RN. Onde, também são avaliados, em parte, os planos

que eles puseram prática no período semanal imediatamente anterior. Contudo, esse

momento de reflexão não incorpora medidas continuadas de acúmulo no que se preconiza

no campo epistemológico da educação do campo.

Diante do exposto, fica clara a necessidade de aprofundamento e de aproximação

do suporte pedagógico oferecido às escolas campesinas por parte da Secretaria de

Educação do Município. O que implica na participação ativa em processos de

autoformação e de convívio escolar, nos contextos do Campo, para que de fato o

planejamento e o suporte oferecido sejam considerados como elementos-chave na cultura

de desenvolvimento profissional dos educadores do Campo.

É preciso salientar, neste contexto, a necessidade de repensar a educação do

campo. Urgentemente. Isso, partindo das Diretrizes de Operacionalização da Educação do

campo com políticas locais que tenham a proposta de qualificar os educadores,

inicialmente. Outro ponto que merece destaque é o currículo da escola do campo. Formar

sujeitos do campo requer clareza perante o lugar em que se está em relação ao projeto de

sociedade, trabalho, desenvolvimento e de hominização que se está empreendendo.

29

Por fim, segundo os teóricos e investigações realizadas neste estudo, é possível

afirmar que a educação do campo vem se referencializando um novo modelo que orientará

o currículo e a própria prática pedagógica nos processos de escolarização em espaços não

citadinos. Isso deve ser observado sob pena de não se está minimamente garantindo um

direito à educação. Que é inalienável, inclusive. Ao passo que se estará olhando para as

dicotomizações que estão sendo envidadas no processo de escolarização dos sujeitos em

face a seus direitos e necessidades de cidadania. Dicotomizações essas constituídas entre o

que se ensina e o que se necessita aprender para se ensinar. Começar pela concepção,

elaboração e implementação do Projeto Político Pedagógico das Escolas do Campo, neste

momento, no Município de Marcelino Vieira-RN, é referencial. Com isso espera-se maior

seriedade e empenho para que as políticas públicas voltadas para a Educação do Campo

contribuam positivamente para a concretização do que é preconizado nas perspectivas de

práticas pedagógicas eficazes, a partir das turmas multisseriadas, no cotidiano de nosso

fazer pedagógico, à luz da Educação do e no Campo.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Paulo Nunes. Educação Lúdica. 9. ed. São Paulo : Loyola, 1998.

ARROYO, Miguel G. A escola do campo e a pesquisa do campo: metas. In. MOLINA, M.

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