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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA
PROGRAMA DE RESIDÊNCIA UNIPROFISSIONAL
EM MEDICINA VETERINÁRIA
GABRIELLE DOURADO FRANCO
CORREÇÃO CIRÚRGICA DE RECIDIVA DE PROLAPSO URETRAL EM CÃO - RELATO
DE CASO
Cuiabá-MT
2018
CORREÇÃO CIRÚRGICA DE RECIDIVA DE PROLAPSO URETRAL EM CÃO - RELATO
DE CASO
Monografia apresentada ao Programa de
Residência Uniprofissional em Medicina
Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária
da Universidade Federal de Mato Grosso, como
requisito para obtenção do título de Especialista
em clínica cirúrgica em animais de companhia.
Orientador: Prof. Dr. Roberto Lopes de Souza
Cuiabá-MT
2018
Agradecimentos
Primeiramente, gostaria de agradecer a Deus por me proteger dos males da vida, por
me encaminhar para esse passo que estou a concluir e por criar os animais, nos quais tenho
um imenso amor.
Aos meus pais, Marcos e Rosemar, por sempre me incentivarem a buscar os meus
sonhos e nunca desistir deles.
As minhas irmãs, Rafaela e Michelly, por sempre me apoiarem e ficarem felizes pelas
minhas conquistas.
Aos meus professores Roberto e Alexandre que me acompanharam nestes dois anos de
residência, transmitindo seus conhecimentos, experiências e incentivando na busca pelo
conhecimento.
Aos meus amigos, que sempre me encorajaram quando o dia não estava muito bom,
por me propiciarem gargalhadas e pela companhia.
CORREÇÃO CIRÚRGICA DE RECIDIVA DE PROLAPSO URETRAL EM CÃO - RELATO
DE CASO
RESUMO - O prolapso uretral é uma afecção incomum em cães, caracterizada pela
protrusão da mucosa uretral além da extremidade do pênis, sendo observado como um
aumento de volume de coloração vermelho à arroxeado de protuberância circular na
extremidade do pênis. A correção pode ser realizada de 3 formas: através da ressecção e
anastomose da uretra com o pênis, redução manual do prolapso e aplicação de sutura
de bolsa de tabaco na extremidade do pênis e uretropexia. O presente relato aborda um
cão da raça American Pit Bull Terrier, 1 ano de idade, com histórico recidiva de prolapso
uretral apresentando sangramento peniano, lambedura excessiva do órgão, excitação
sexual excessiva e aumento de volume na extremidade do pênis. Após o diagnóstico de
prolapso de uretra, procedeu-se com o tratamento cirúrgico de ressecção e anastomose
da mucosa uretral com o pênis, a qual se mostrou eficaz.
Palavras-chave: canino, uretra, pênis, protrusão de uretra.
INTRODUÇÃO
O prolapso uretral é uma afecção incomum em cães, caracterizada por uma protrusão da
mucosa uretral distal através do óstio uretral externo. Apresentando-se por um aumento
de volume na extremidade do pênis, semelhante a uma pequena cereja de coloração
arroxeada, de contorno regular, superfície lisa, apresentando em seu centro o orifício
uretral externo evidenciado pela passagem de sonda uretral, no qual o aumento de
volume é irredutível. Os sinais clínicos mais frequentes são lambedura excessiva,
disúria, sangramento e aumento de volume na extremidade peniana (FARIA et al., 2014;
SANTOS et al., 2018).
Acredita-se que a causa esteja relacionada à excitação sexual excessiva, agitação, disúria,
uretrite, cistite, cálculos urinários, disfunção prostática, anormalidades do
desenvolvimento e causas hereditárias, principalmente em raças braquiocefálicas que
apresentam uma incidência maior dessa afecção (CARR; TOBIAS; SMITH, 2014; FARIA et
al., 2014; SANTOS; MOTA; CARDOSO NETO, 2013).
O diagnóstico diferencial consiste principalmente de causas que resultam em
sangramento no trato urogenital e hematúria como: uretrites, fratura do osso peniano,
cálculos uretrais, estenoses uretrais, neoplasias prepuciais, penianas ou uretrais e lesões
prostáticas (FOSSUM, 2014).
Atualmente as técnicas descritas para o tratamento cirúrgico do prolapso uretral
envolvem a redução manual da mucosa prolapsada e a colocação de uma sutura
temporária (tipo bolsa de tabaco) na extremidade do pênis, ressecção do tecido
prolapsado e a anastomose da mucosa uretral ao pênis e uretropexia (ATALLAH et al.,
2013; FOSSUM, 2014)
Devido ser uma patologia rara e pouco documentada, o objetivo do presente trabalho é
relatar um caso de recidiva de prolapso uretral em um cão, abordando os sinais clínicos,
diagnóstico, tratamento e resultados obtidos, visto que é uma patologia de rara
ocorrência e pouco documentada, descrevendo uma técnica para tratamento cirúrgico
eficaz, não associado a complicações significativas ou recorrência.
RELATO DE CASO
Foi atendido no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Mato Grosso (HOVET-
UFMT), um cão macho da raça American Pit Bull Terrier, de 1 ano de idade, com 26,3kg,
castrado. De acordo com o histórico relatado pelo proprietário o animal havia
apresentado prolapso uretral e realizado cirurgia de ressecção do prolapso uretral e
orquiectomia há 5 meses, e após 2 meses do procedimento apresentou recidiva, porém
procurou veterinário 3 meses após da recidiva.
Durante a anamnese foi relatado pelo proprietário que o paciente apresentava
sangramento intermitente, aumento de volume na extremidade do pênis, excitação
sexual excessiva (mesmo após 5 meses de castração), lambedura excessiva da região
prepucial e bastante agitado.
Ao exame físico apresentava frequência cardíaca (FC) de 126 batimentos por minuto
(bpm), frequência respiratória (FR) de 38 movimentos por minuto (mpm), temperatura
retal de 38,4°C, mucosas normocoradas, pulso forte e regular. Constatou-se um aumento
de volume na extremidade do pênis no óstio uretral de aproximadamente 0,6 cm de
diâmetro, de coloração vermelho-arroxeada, contorno regular, superfície lisa,
apresentando em seu centro o orifício uretral externo, abaixo do aumento de volume
apresentava regiões de fibrose da cirurgia anterior (Figura 1).
Figura 1 – Paciente canino com aumento de volume na extremidade do pênis
Prolapso uretral (seta branca) e fibrose da cirurgia anterior (seta amarela). Fonte: acervo do autor.
Realizaram-se exames de hemograma e bioquímica séricas (ureia, creatinina, alanina
aminotransferase e albumina), cujos resultados revelaram valores considerados dentro
dos parâmetros normais para a espécie.
Devido ao histórico e exame físico diagnosticou-se recidiva de prolapso uretral,
optando-se pelo procedimento cirúrgico de ressecção e anastomose da porção uretral
prolapsada. Como medicação pré-anestésica (MPA) utilizou-se cetamina (10mg/kg) e
midazolan (0,5mg/kg) ambas por via intramuscular. A indução anestésica foi realizada
com propofol (5mg/kg) por via intravenosa e a manutenção com isofluorano,
vaporizado em oxigênio 100%, foi realizada lidocaína sem vasoconstritor (4,1mg/kg) e
morfina (0,1mg/kg) por via epidural, no trans-operatório foi realizado metadona
(0,3mg/kg) por via intramuscular e cefalotina (25mg/kg) por via intravenosa.
O paciente foi posicionado em decúbito dorsal, e então foi realizada a antissepsia com
degermante, álcool e iodo povidine da região próxima ao prepúcio, utilizando o iodo
povidine diluído em solução fisiológica em uma proporção de 1:20, respectivamente, em
uma seringa e ejetada no prepúcio para a antissepsia do local. Realizou-se garrote
peniano com um dedo de luva estéril. Dois pontos de arrimos com fio polidioxanona
(PDS) 3-0 foram inseridos na uretra prolapsada, como auxilar para expor a uretra, e com
a pinça de Adson sem dente foi exteriorizada uma porção mais cranial da uretra e
colocada uma segunda camada de arrimos, assim a primeira camada de arrimos foi
retirada (Figura 2).
Figura 2 – Exemplificação da colocação dos arrimos
Fonte: acervo do autor.
Posteriormente foi excisada toda a fibrose peniana da cirurgia anterior e a uretra
excedente com auxílio da pinça de Adson sem dente, tesoura de íris e lâmina de bisturi
nº 15. Iniciou-se a anastomose peniana/uretral com fio PDS 5-0 com sutura em padrão
simples interrompido (Figura 3). Após o término da sutura foi retirado o garrote e
lavado o local cirúrgico com solução de iodo povidine diluído. No pós-operatório
imediato foi administrado meloxicam (0,2mg/kg) por via intravenosa.
Figura 3 – Procedimento de ressecção e anastomose de prolapso uretral
Prolapso uretral (seta branca) no início da cirurgia (A); após realização da ressecção da uretra prolapsada e inicio
da anastomose da uretra com o pênis (seta azul), com 2 arrimos (seta amarela) para a sustentação da uretra (B);
anastomose da uretra com o pênis com sutura padrão simples interrrompido (C); pinça de Adson apontando o
novo óstio uretral externo (D). Fonte: acervo do autor.
O paciente permaneceu internado para observação de sangramento pós-operatório,
comum nesse procedimento. Durante a internação foi administrado cloridrato de
tramadol (2,2mg/kg, TID, SC), cefalotina (25mg/kg, TID, IV) e curativo com iodo
povidine diluído em solução fisiológica (1:20) ejetada no prepúcio a cada 8 horas.
Portanto, sem ocorrência de sangramento pós-operatório, o paciente recebeu alta após
24 horas do procedimento cirúrgico, com prescrição de meloxicam (0,1mg/kg, SID, VO, 2
dias), ampicilina (20mg/kg, TID, VO, 6 dias), curativo com iodo povidine diluído em
solução fisiológica (1:20) ejetada no prepúcio a cada 8 horas durante 5 dias e utilização
de colar elizabetano.
Após 6 dias de pós-operatório o paciente retornou para avaliação, apresentando total
cicatrização do óstio uretral e sem sinais de recidiva (Figura 4).
Figura 4 – Após 6 dias de pós-operátório
Cicatrização completa do óstio uretral. Fonte: acervo do autor.
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
Apesar de o prolapso uretral ser uma afecção incomum, esta se apresenta de fácil
diagnóstico, consistindo de histórico, sinais clínicos e exame físico, nos quais os
principais são aumento de volume e sangramento intermitente na extremidade do pênis,
no presente relato o paciente apresentou estes principais sinais clínicos (SANTOS;
MOTA; CARDOSO NETO, 2013).
O paciente deste relato apresentou recidiva mesmo após a orquiectomia, pois o animal
ainda apresentava excitação sexual e por ser jovem era bastante agitado. Em algumas
literaturas há relatos que a orquiectomia é benéfica para a diminuição da excitação e
assim diminuição de recidivas do prolapso uretral (FOSSUM, 2014; SANTOS; MOTA;
CARDOSO NETO, 2013), entretanto Atallah et al. (2013) relatam que a orquiectomia não
diminui a incidência de uma recidiva.
Os tratamentos cirúrgicos descritos são a redução manual da mucosa prolapsada e a
colocação de uma sutura temporária na extremidade do pênis; ressecção do tecido
prolapsado e a anastomose da mucosa uretral ao pênis; e uretropexia (ATALLAH et al.,
2013; FOSSUM, 2014). Tratando-se de um paciente com um quadro recidivante optou-se
por realização de cirurgia de ressecção e anastomose, porém com uma leve modificação,
consistindo em ressecção de uma parte da mucosa uretral em que não se apresentava
prolapsada, portanto utilizando a mucosa uretral mais cranial possível para a realização
da anastomose do pênis com a uretra. Pela leve modificação do tratamento cirúrgico
escolhido acredita-se que este seja o fator de não ocorrência de uma recidiva.
Devido à possibilidade de a urina diminuir a força tênsil do fio, a sua escolha para a
sutura do reparo do prolapso uretral deve ser minucioso. Fios como o ácido poliglicólico
e a poligalactina 910 podem ser rapidamente degradados na urina infectada, perdendo
sua força de tensão, entretanto fios como a polidioxanona e o poligliconato mantêm a
força de tensão quando em contato com a urina e manifestam pouca reação tecidual,
portanto optou-se pela utilização do fio polidioxanona devido as suas características
(FOSSUM, 2014).
Frequentemente no pós-operatório alguns animais apresentam hemorragia do local da
cirurgia relacionado à micção (ATALLAH et al., 2013). Acredita-se que a ausência da
hemorragia do paciente relatado sucedeu-se pela realização de pontos em um padrão de
sutura simples interrompido com um mínimo espaçamento possível. Entretando Carr;
Tobias; Smith (2014) relataram que a taxa de sangramento no pós-operatório foi menor
quando um padrão simples contínuo foi utilizado para anastomose uretral.
Um tratamento pós-operatório apresenta-se de extrema importância para o bem-estar
do paciente. Analgésicos devem ser administrados quando o paciente apresentar sinais
de dor, o paciente desde relato foi medicado com cloridrato de tramadol e meloxicam,
este último que apesar de ser um anti-inflamátorio não esteriodal conjuntamente tem
efeito analgésico. Deve ser considerada a utilização de antibióticos, pois a infecção
retarda a cicatrização podendo consequentemente promover a formação de estenose, as
penicilinas e as cefalosporinas são efetivas contra a maioria dos organismos gram-
positivos, e as cefalosporinas apresentam também um acentuado espectro em gram-
negativos, portanto os antibióticos de eleição foram a cefalotina e a ampicilina. O
paciente utilizou colar elizabetano para impedir a lambedura do ferimento causando
automutilação (FOSSUM, 2014; SANTOS, 2018).
Pode-se concluir que o prolapso uretral apresenta-se de fácil diagnóstico que pode ser
realizado apenas por inspeção direta da mucosa peniana. O tratamento cirúrgico, de
ressecção e anastomose da uretra com o pênis, mostrou-se simples e eficaz. O paciente
apresentou ótima recuperação após o procedimento, evidenciada pela completa
cicatrização uretral, sem recidivas até o presente momento.
REFERÊNCIAS
ATALLAH, F. A. et al. Prolapso uretral em um cão - relato de caso. JBCV - Jornal
Brasileiro de Cirurgia Veterinária, V. 2, N. 4, p. 291-295, 2013.
CARR, J. G.; TOBIAS, K. M.; SMITH, L. Urethral Prolapse in Dogs: A Retrospective
Study, Veterinary Surgery, V. 43, p. 574–580, 2014.
FARIA, L. M. et al. Enciclopédia Biosfera, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v. 10,
n. 18, p. 2492-2498, 2014.
FOSSUM, T. W. Cirurgia da Bexiga e da Uretra. Cirurgia de pequenos animais. 4.ed. São
Paulo: Elsevier, 2014, p. 2163 – 2169.
SANTOS, J. G. et al. Prolapso uretral em um cão da raça American Pit Bull, Acta
Scientiae Veterinariae, 46(Suppl 1): 248, 2018.
SANTOS, M. C. D.; MOTA, F. C. D.; CARDOSO NETO, A. B. Prolapso da mucosa uretral em
um cão: relato de caso, In: 34º Congresso Brasileiro da Anclivepa, 2013, Natal-RN,
maio, 2013.
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