sou do ceara

Post on 02-Aug-2015

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Category:

Entertainment & Humor

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Sou do Ceará

Ricardo Gondim.

'Ser do Ceará é mais do que nascer no Ceará, é conseguir reconhecer, à distância, uma cabecinha redonda, um sotaque cantado, uma orelha de abano, um jeito maroto de encarar a vida.

Ser do Ceará é saber a estação certa de colher um sapoti, conhecer os vários tipos de manga e nunca comprar ata verde demais; é dar sabor a um baião de dois com queijo coalho.

Ser do Ceará é gostar de cocada, de suco de tamarindo, de sirigüela vermelha, de água de coco docinha.

Ser do Ceará é engolir o final dos diminutivos - cafezinho vira cafezim; Antônio vira Toim; bonzinho vira bonzim. Lá se fala aperreio na hora do sufoco; o apressado é avexado; o triste fica de lundu; quem cria problemas, bota boneco.

Ser do Ceará é morar onde os muros são baixos; quer dizer, lá todo mundo sabe dos outros. A melhor conversa entre cearense é fofocar sobre a vida alheia. Aparecer em coluna social é o máximo; os que pertencem a uma família com pedigree, fazem parte dos eleitos.

No Ceará não se compra casa do lado do sol; isto é, ninguém valoriza uma propriedade com a frente voltada para o poente. O sol não perdoa; é inclemente, ardido, feroz, cansativo. Lá quem não souber lidar com o astro rei, não dura muito tempo. Entre dez da manhã e cinco da tarde, o sol deixa todo mundo melado; não existem peles secas no Ceará, todas são oleosas.

Ser do Ceará é aprender a dormir de rede, a gostar do cheiro de lençol limpo, a tomar banho frio, a valorizar a brisa do mar. Lá o perfume de sabonete tem outro valor. No Ceará as mulheres não usam meias finas, os homens não toleram gravatas e as crianças não sabem o que é uma blusa de lã.

Ser do Ceará é ter orgulho de afirmar que pertence à terra de José de Alencar, Patativa

do Assaré, Fagner, Eleazar de Carvalho, Clóvis Bevilácqua.

Lá amam-se as artes; cria-se repente com facilidade, conversa-se com rima.

Ser do Ceará é lidar com umidade, com camisas molhadas de suor,

com mofo, com muriçocas impertinentes, com baratas

avantajadas, com viroses, com desidratações súbitas. Lá os fracos

morrem rapidamente; o darwinismo com sua teoria da

sobrevivência dos mais fortes se prova com facilidade. No Ceará nuvens negras são prenúncio de bom tempo e relâmpago, uma

bênção. Em dia chuvoso ninguém gosta de sair de casa

Ser do Ceará é rir por tudo. E tudo vira piada; lá sobra humor até para vaiar o sol quando interrompe a chuva.

Os cearenses são antes de tudo uns fortes; ao mesmo tempo deliciosamente bons e perversamente maus.

Lá é terra de pistoleiro e de santo; de revolucionário e de coronel caudilho; de guerreiro e de preguiçoso.

Sou cearense. E por mais que tenha tentado, não consegui

apagar o meu amor por esse chão que me acolheu no mundo, lá nascí.

No Ceará despertei para o mundo e infelizmente, sepultei o restim de esperança que nutria pela humanidade.

O Ceará foi o meu ninho e é o meu túmulo; maior alegria e pior desgraça.

Contudo, apesar de tudo, continuo enamorado do meu berço. Não consigo desvencilhar-me de ti,

loira desposada do sol'

OH NEGRADA, PASSEM PROS CEARENSES QUE VOCES CONHECEM ...

Texto: Ricardo Gondim – Sou do CearáMúsica: Raymundo Fagner – No Ceará é assim...

Colaboração: Simone FurtadoFormatação: J.C. Suman

Criação: Thy Exclusiv

Som: Isto aqui o que é ! - Caetano Veloso

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