seminários de pesquisa de doutorado 2º/2021
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Seminários de Pesquisa
de Doutorado – 2º/2021
Linhas de Pesquisa FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO CONCEITO DE JUSTIÇA E SUA APLICAÇÃO NA
COMPREENSÃO DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
TEORIA DO DIREITO E DA JUSTIÇA
Alunos
Gisleule Maria Menezes Souto
Iara Alves Etti Froes
Josué Edson Leite
Marcos Vinícius da Silva
CORPO, EXISTÊNCIA E RESISTÊNCIA: uma leitura da corporeidade do
transgênero a partir do direito.
Gisleule Maria Menezes Souto
Orientador: Prof. Doutor Lucas de Alvarenga Gontijo
O tema comporta a necessidade de aprofundamento estrutural na pesquisa sobre corpo
principalmente num contexto em que discorra sobre a existência do transgênero em uma
sociedade que exclui o diferente e inclui o igual. Mais que vivenciar uma identidade de
gênero, ser transgênero corresponde a representar uma identidade decolonial pautada
pela desconstrução da crença em papéis de gênero considerados - naturais, construídos
biologicamente. Nesse contínuo flutuar de um não-saber sobre o mundo, que se renova
pela inclusão e exclusão, permanecem excluídos os indivíduos que são constrangidos a
sentir e a viver a própria individualidade através da experiência da própria diferença
(SOUTO; SOUTO, 2020). O corpo transgênero vivencia suas próprias inquietações, sua
invisibilidade e ao tentar buscar seu lugar, numa potencial inclusão percebe o seu não
incluir em uma sociedade que há muito tempo se digladia entre inclusão e exclusão para
assegurar a sua própria manutenção (BECK, 2010). A presente pesquisa intenta buscar
resposta às seguintes indagações, que consubstanciam o seu problema-tema: como o
transgênero “transita” em uma sociedade em que o futuro é provável e improvável e o presente
se apresenta como um risco? As indagações que impulsionam a pesquisa podem se
desdobrar em vários outros questionamentos, tais como: 1) Como transgênero convive
com um corpo que não se reconhece nele? 2) Mais que vivenciar uma identidade de
gênero, ser transgênero corresponde a representar uma identidade social, pautada pela
desconstrução da crença em papéis de gênero considerados - naturais, construídos
biologicamente; e pela visibilização de identidades particulares historicamente
estigmatizadas? 3) É possível por intermédio da decolonialidade ressignificar o corpo?
4) No tocante a inclusão dos transgêneros por que podemos observar que no Brasil a
mesma é permeada pelo preconceito e pela violência? O estudo é de natureza teórica, e
sua metodologia funda se na análise de percepção, linguagem e corporeidade em
Merleau Ponty e da noção de reconhecimento em uma sociedade excludente, tecendo
relações da forma como o transgênero transita nessa sociedade em que o futuro é
provável e improvável e o presente se apresenta como um risco. Será buscado, por meio
das noções teóricas, tecer relações com fenômenos atuais da sociedade brasileira ligados
as questões políticas, sociais, econômicas e jurídicas, de forma concatenada e sistêmica,
de modo a alcançar o entendimento das questões propostas. O estudo parte da
construção da categoria de corpo cujo marco teórico é fornecido pela filosofia de
Merleau-Ponty. Adotam-se também como marco teórico a concepção de Axel Honneth
sobre a teoria do reconhecimento, Rafaelli di Giorgi sobre a sociedade de risco, María
Lugones gênero e decolonialidade e Berenice Bento sobre o transgênero. Para o alcance
dos objetivos, será realizada pesquisa de obras de autores nacionais e estrangeiros,
legislação nacional, matérias jornalísticas, teses, dissertações e jurisprudência versando
sobre a temática em pauta. Existe na análise pretendida o propósito de tecer relações
entre a Filosofia e o Direito, o que se insere no âmbito da linha de pesquisa “Teoria do
Direito e da Justiça”, desenvolvida no Programa de Pós Graduação em Direito da PUC-
MINAS.
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A formação do Conceito de Justiça Restaurativa no Ordenamento Jurídico
Brasileiro
Iara Alves Etti Fróes 1
INTRODUÇÃO: A pesquisa visa formar um conceito de Justiça
Restaurativa com indicações do que ela é e de como ela se distingue da justiça
em outros sentidos, sobretudo em relação ao conceito jurisdicional.
O Conselho Nacional de Justiça - CNJ tem incentivado o seu uso e redigiu
uma resolução para que tal tipo de justiça seja utilizada e implementada pelos
juízes nos Tribunais, Resolução 225/2016. Além disso, na seara educacional, a
Justiça Restaurativa já aparece para sanar conflitos existentes em escolas
públicas. Embora ela já apareça na prática judiciária e da sociedade, não se tem
ainda um conceito jurídico que seja elucidativo o suficiente para se ter clareza
em sua aplicação na prática, e nem formulado através de uma metodologia
científica-jurídica que possa ser replicada e ensinada2.
A tese encontra-se em execução, seguindo o seguinte sumário:
1. Justiça Restaurativa
1. Dois significados clássicos: correção moral e justica jurisdicional 2. Justiça restaurativa: origem e evolução (descrever os autores) 3. Justiça restaurativa: tipo de justiça ou método de solução de conflito? 4. Justiça restaurativa antes da justiça restaurativa? 5. Proposto de um conceito de justiça restaurativa
2. Justiça Restaurativa em Prática no Brasil
1. Origem e evolução 2. As APACs 3. A Resolução do CNJ 4. Justiça Restautrativa no Brasil é Justiça Restaurativa? (comparar o
conceito obtido no capítulo 1 com a prática da justiça restaruativa no Brasil
1 Aluna orientada pelo Prof. Dr. Alexandre Travessoni Gomes Trivisonno, doutor em Direito pela UFMG e Fellow (humboldtianer) do Alexander von Humboldt Stiftung, Alemanha. Professor da graduação em Direito e pós-graduação Stricto Sensu em Direito da PUC/Minas, campus Coração Eucarístico. E-mail: a.travessoni@gmail.com 2 Resolução 225/ 2016 CNJ – Conselho Nacional de Justiça. Notícia Justiça Restaurativa nas escolas. https://www.tjmg.jus.br/portal-tjmg/noticias/praticas-de-justica-restaurativa-nas-escolas-sera-tema-de-webinario-8A80BCE576728CBF0177CBA06B7E07B1.htm#.YFnY1K9KhPY
3. Conclusão
Como marco teórico adotado, tem-se as ideias de Howard Zehr e de
Bellinda Hopkins, que indicam que a discussão subjacente da Justiça
Restaurativa é sobre os seres humanos terem o poder de resolver as suas
próprias demandas e os seus próprios conflitos focados nos princípios basilares
da restauração, da responsabilidade pessoal e da reintegração do vínculo, sendo
esse enfoque trazido tanto pelo autor Zehr quanto por Bellinda Hopkins, em seu
livro Just School: a whole school approach to restorative justice.
As questões teóricas apresentadas para serem abordadas no seminário
de pesquisa são os conceitos de Justiça Restaurativo formulados por Zehr,
Hopkins, Achutti, e o conceito trazido pelo CNJ na resolução n. 225/2016,
fazendo a apresentação do conceito de justiça restaurativa formulado a partir
destas ideias e fazendo a construção de que Justiça Restaurativa é um tipo de
justiça que visa a restauração do vínculo societário que foi perdido por aquele
que sofreu a violência e por aquele que fez a violência e gerou a situação
conflituosa.
Até o presente momento, como resultado parcial alcançado, a hipótese
parece estar em consonância com a ideia dos marcos teóricos e também com o
levantamento bibliográfico inicial.
Bibliografia
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Palas Athena, 2015.
PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
Programa de pós-graduação em Direito – Doutorado
Resumo de apresentação em Seminário II
Doutorando: Josué Edson Leite
Orientador: Prof. Dr. Alexandre Travessoni
Linha de pesquisa: Fundamentos filosóficos do conceito de justiça e sua aplicação na
compreensão do Estado democrático de Direito.
Tema: A VISÃO CONTEMPORÂNEA DE PODER POLÍTICO E SOCIAL NO BRASIL A
PARTIR DA RELIGIOSIDADE: A POSSÍVEL DICOTOMIA ENTRE A AGENDA
IDEOLÓGICA DOS MOVIMENTOS PENTECOSTAL E NEOPENTECOSTAL E A
EFETIVIDADE DE DIREITOS FUNDAMENTAIS.
Quando da realização do Seminário I o trabalho de elaboração de Tese estava em
andamento e já com a redação do terceiro capítulo de um total de 6. Na data atual já estão
redigidos os 6 capítulos, sendo que este último se encontra em fase de revisão. Os capítulos
apresentam os seguintes títulos: I – Uma compreensão panorâmica da religião; II – O
Cristianismo a partir da Reforma Protestante; III – Breve histórico da Religiosidade brasileira;
IV – Pentecostalismo e Neopentecostalismo; V – Direitos fundamentais e religião VI – Atuação
política dos movimentos Pentecostais e Neopentecostais.
A pesquisa apresenta como problematização significativo crescimento destes
movimentos religiosos no Brasil nas últimas décadas e de atualmente estarem eles participando
não mais como coadjuvantes, mas como definidores de questões relevantes no país a partir da
participação política de seus integrantes, inclusive suas lideranças assumem publicamente os
objetivos. Inúmeros projetos de Lei tramitam no Congresso Nacional e são relacionados a busca
de efetivação de ideologias defendidas por estes movimentos. A pesquisa busca apontar quais
destes pontos ideológicos poderão ser implementados, tanto no sentido de serem acelerados com
aprovação e transformados em lei ou mesmo aqueles que são contrários a estes interesses
ideológicos possam ser obstaculizados. Portanto a pesquisa busca analisar tanto o aspecto
dinâmico quanto estático para a efetivação destes propósitos.
O Marco teórico da pesquisa, resumidamente, parte das afirmações de Gilberto
Freyre de que a formação social e política do povo brasileiro parte de sua religiosidade e que
esta, em tempos primeiros, era proveniente das ideologias do catolicismo que detinha a
hegemonia religiosa da colônia e posteriormente do império. Na atualidade verifica se um
arrefecimento desta influência e surgem os Movimentos Pentecostal e Neopentecostal tentando
assumir esta hegemonia, contrastando com o que Charles Taylor chama de “Uma era secular”,
como consequência de um longo processo de laicização dos Estados.
A pesquisa busca identificar ainda os impactos desta atuação em relação a
terceiros que não são partidários dos movimentos e que não teriam nenhum motivo de adotar
uma postura moral restrita decorrente de possível imposição religiosa.
Para se chegar ao resultado pretendido estará sendo analisado o que existe de
projetos já encaminhados, o que ainda é conjecturado apresentar e também as atuações que tem
como objetivo obstaculizar outras propostas ou agendas contrárias aos movimentos e que a não
aprovação poderá ser tido como prejudicial ao interesse público.
O trabalho de pesquisa tem transcorrido dentro da normalidade, não tendo sido
encontrados maiores obstáculos até mesmo por que o tema tratado é de grande discussão nos
últimos anos, o que facilitou a organização do trabalho com os apontamentos e coletas de dados
necessários à sua elaboração. Muitos fatos estão ocorrendo durante o transcurso da realização da
pesquisa e isto obriga a uma revisão periódica de algumas informações colacionadas ao texto, o
que deve ocorrer ainda no transcurso do mês de outubro presente em razão do depósito cuja data
expira em 31/10/2021.
No Seminário serão abordadas as questões teóricas que explicam ainda que
resumidamente o Protestantismo de uma forma geral e os Movimentos Pentecostal e
Neopentecostal em particular a fim de que se torne compreensível as motivações das propostas
que os referidos movimentos articulam, bem como os achados mais importantes no transcurso
da pesquisa.
REFERENCIAS
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO
Discente: Marcos Vinicius da Silva
Orientador: Marcelo Campos Galuppo
Linha de pesquisa: Teoria do Direito
Título: Direito ao esquecimento e liberdade de expressão: as três escalas dos graus de
legitimação
Seminário II
RESUMO
O desenvolvimento inicial da minha tese, apresentado no Seminário I, se deu
acerca dos marcos teóricos utilizados na elaboração da pesquisa e quais os
principais conceitos que serviriam de base para a sustentação da minha
argumentação ao longo da escrita.
Sendo assim, para o Seminário II, trago como resumo do desenvolvimento da
minha pesquisa, os resultados obtidos na utilização dos conceitos apresentados
no primeiro capítulo e a aplicação dos conceitos de escalas cartográficas como
chave de leitura da liberdade de expressão e do direito ao esquecimento.
Em sentido genérico, pode-se definir a linguagem como um sistema de signos
convencionais que pretende representar a realidade e que é usado na
comunidade humana. Segundo Abbagnano (1990, p. 616), “linguagem é o
sistema através do qual o homem comunica suas ideias e sentimentos, seja
através da fala, da escrita ou de outros signos convencionais.”
Visto que a linguagem expressa um pensamento e desejo de se
comunicar com outras pessoas por meio do uso de sistemas de símbolos, a
cartografia pode ser legitimamente considerada uma linguagem. Linguagem
universal, no sentido em que utiliza uma gama de símbolos compreensíveis por
todos, com um mínimo de iniciação.
A cartografia é a arte de conceber, de levantar, de redigir e de divulgar os
mapas. Um mapa é uma representação geométrica plana, simplificada e
convencional, do todo ou de parte da superfície terrestre, numa relação de
similitude conveniente denominada escala.
Um mapa dá uma imagem incompleta do terreno. Ele nunca é uma
reprodução tão fiel quanto pode sê-lo, por exemplo, uma fotografia aérea.
Mesmo o mais detalhado dos mapas é uma simplificação da realidade. Ele é
uma construção seletiva e representativa que implica o uso de símbolos e de
sinais apropriados.
Para nós que não somos da área geográfica, a utilização de escalas pode
parecer algo trivial ou mesmo secundário num plano de estudos maior, mas, por
não saber bem de suas aplicações e de sua linguagem, acabamos
negligenciando todo o seu caráter científico e colaborativo que ela pode ter para
a área do Direito. Mas vamos voltar a esse ponto um pouco mais a frente.
A principal importância da escala cartográfica vai muito além da simples
relação matemática com o espaço. A escala é um fato próximo ao solo, cheio de
significados científicos e tecnológicos. Por um lado, em termos de pesquisas e
levantamentos de campo, a escala determina um certo grau de análise em
função do espaço a ser percorrido e dos detalhes a serem implementados. Por
outro lado, na fase de escrita, a escala é condição de precisão, legitimidade, boa
apresentação e eficiência do mapa. O número e o acúmulo de símbolos usados
dependem, na verdade, do espaço disponível: quanto maior a redução na
imagem do solo, menor a escala, mais restrita a seleção e mais abstrato o
sistema de símbolos. Resolver esse problema é o objetivo da generalização, o
que aprimora ainda mais as características esquemáticas e convencionais da
representação cartográfica.
Segundo a definição adotada pela Associação Cartográfica Internacional,
a cartografia compreende:
O conjunto dos estudos e das operações científicas, artísticas e técnicas que intervêm a partir dos resultados de observações diretas ou da exploração de uma documentação em vista da elaboração e do estabelecimento de mapas, planos e outros modos de expressão, assim como de sua utilização. (UNESCO, 1966)
Sendo assim, a cartografia é ao mesmo tempo uma ciência, uma arte e
uma técnica. A escala formula a relação existente entre o mapa e o terreno,
enquanto por sua vez, a mensagem cartográfica é antes de tudo uma mensagem
de localização e de avaliação das distâncias e das orientações a serem tomadas.
Agora será necessário fazer um salto conceitual para compreendermos a
utilização da linguagem cartográfica e das escalas em nosso trabalho e como
ele será importante para compreendermos a abordagem da liberdade de
expressão e do direito ao esquecimento na prática do Direito.
A ideia chave ligada à ideia de variação das escalas é que não são os
mesmos encadeamentos que são visíveis quando mudamos de escala, mas
conexões que passaram despercebidas na escala aplicada anteriormente. O
pensador Pascal descreve bem essa compreensão em seu aforismo na obra
Pensamentos, que diz:
Diversidade. (...) Uma cidade, um campo, de longe, é uma cidade e um campo; mas, à medida que alguém se aproxima, são casas, árvores, telhas, folhas, ervas, formigas, pernas de formigas, ao infinito. Tudo isso se envolve (s’enveloppe) sob o nome de campo (PASCAL. Pensamentos, 65)
O papel da ideia de escala em cartografia não é indiferente ao nosso
assunto, coloca-se relações de proporções comparáveis, bem como o balanço
entre ganho e perda de informações de acordo com a escala escolhida. Ao
mudar de escala, não vemos as mesmas coisas maiores ou menores, em
caracteres grandes ou pequenos. Vemos coisas diferentes. Não se pode mais
falar de redução de escala, são encadeamentos diferentes em configurações e
causalidade. O balanço entre vantagens e perdas de informação aplica-se a
operações de modelização que envolvem formas diferentes do imaginário.
Segundo o professor Jacyntho Lins Brandão, em seu texto A tradição da
Diversidade Cultural, quando se adota uma visão utilizando da linguagem de
escala assim como feito no aforismo por Pascal, parte-se de um pressuposto
positivo de que a parte pode conter o todo e o todo pode conter a parte. Não há
uma contradição lógica inerente neles. Pois se sob o nome de campo se oculta,
se engloba, se envolve, s’enveloppe tudo que há nele, então, cabe a pergunta:
ver pernas de formigas não é já ver o campo?
A resposta poderia ser positiva desde que admitíssemos que as pernas de formigas e tudo quanto um campo contém se encontram nele numa relação naturalmente harmônica, o que levaria a que pudéssemos definir a parte pelo todo e o todo pelas partes. Como se vê, um problema hermenêutico (e não da ordem da natureza) dos mais espinhosos, pois a relação das partes com o todo nem sempre é harmônica (ou quase sempre não o é), na medida em que o todo é uma elaboração mental, um recorte, uma experiência do pensamento que busca envelopper sous le nom de – para usar a expressão de Pascal – dados que são, por natureza, diversos. (BRANDÃO, pg.2)
A afirmativa feita por Brandão na citação acima, lida com um problema de
difícil solução, envolvendo as relações das partes com o todo, um todo
compreendido como unidade que oculta a diversidade de seus constituintes. O
que não está distante também de nossa problemática central, pois, ao pensar a
liberdade de expressão e o direito ao esquecimento estamos trabalhando
relações das partes com um todo que aqui se caracteriza pelos direitos
individuais e os direitos pertencentes a toda sociedade.
A liberdade de expressão e o direito ao esquecimento pode ser tanto
pensado no plano individual (parte), como no plano coletivo (todo), dependendo
apenas da escala a ser utilizada e no que se quer ver ao aplicar um ou outro
plano de interpretação.
Para ilustrar melhor a nossa compreensão, vamos retomar as Escrituras
Sagradas da tradição judaico-cristã, que traz em seu arranjo uma junção de livros
que em sua origem não tinham uma conexão necessária entre eles, mas que, a
partir de uma leitura teológica e alguns estreitamentos, eles se tornaram um
único corpo com vários conjuntos de livros. Um dos exemplos mais clássicos
dessa composição é a do livro Cântico dos Cânticos, que sua origem sem dúvida
é um epitalâmio leigo, que ganhou sentido religioso ao ser envelopado pela Bíblia
adquiriu novos significados e foi sobrecarregado de novos sentidos. É o que
pode acontecer com a liberdade de expressão e o direito ao esquecimento,
dependo do envelope que se dá eles podem ser carregados de novos
significados e sentidos.
Desta forma, saber usar as escalas corretas no caso concreto para se
observar o que de fato é importante para aquela análise, pode fazer toda a
diferença na percepção dos fatos. Utilizar a escala errada quando se busca
orientar o seu entendimento para uma direção, pode lhe conduzir por caminhos
complemente obscuros ou mesmo conclusões equivocadas.
Posto isto, levo em consideração os seguintes pontos e considerações:
Para a leitura do direito ao esquecimento como sendo um limitador à
liberdade de expressão, utiliza-se a escala pequena de observação. Pois,
segundo a cartografia, quando se usa tal escala nós nos afastamos do objeto
real e começamos a olhar de forma mais ampla e geral, o que é muito útil quando
se quer ter uma noção do todo e não da parte. Desta forma, quando se trabalha
a ideia de comunidade, nação e de memória, pensar o direito ao esquecimento
e a liberdade de expressão na escala pequena pode nos trazer muito mais
benefícios do que em outra escala.
Pensando o direito ao esquecimento como um inibidor à liberdade de
expressão, a escala escolhida para a leitura de campo seria a escala grande. Na
escala grande a gente se aproxima mais do real e do objeto a ser investigado,
sendo assim, conseguimos atribuir mais detalhes e especificações na análise de
campo. Aqui, a subjetividade é apresentada. Pensando na aplicação prática do
Direito, dizer que o direito ao esquecimento é utilizado como inibidor à liberdade
de expressão, busca-se aqui sanar algo na vida de uma pessoa que a acomete
de sofrimento contínuo e a impede de prosseguir na vida com dignidade e
liberdade de construção do ser. Desta forma, o direito ao esquecimento seria
utilizado como um phármakon, um remédio a inibir uma dor que está sendo
causada pela liberdade de expressão e pela contínua memória de um fato. Não
se deve romantizar a memória ou a liberdade de expressão em detrimento da
vida e da dor de uma pessoa. Por isso, a utilização da escala grande nesses
estudos de caso seria a melhor forma de se observar a realidade e de se chegar
a um resultado mais efetivo e eficaz.
Por sua vez, a própria liberdade de expressão pode ser utilizada como
uma forma de esquecimento. A essa forma de leitura vou atribuir a escala
detalhada da cartografia. A escala detalhada é utilizada para dar maiores
informações de uma área em um curto espaço. Quanto mais detalhado e
específico, mais referências se encontram no mapa. É como ver o mapa abaixo:
Vê-se claramente que é o mapa de Belo Horizonte, mas pelo excesso de
informação contido nele, a nossa mente não é capaz de se lembrar de cada
detalhe apresentado nele. A informação é livre e está dada a todos que queiram
ver. Nesse caso, os detalhes apresentados no mapa contribuíram para que se
esquecesse de ver alguma coisa ou mesmo esquecer que viu por ter tanta coisa
para se ver. A liberdade de expressão aqui é utilizada para o esquecimento.
Por seu turno, há ainda o perdão e a memória não ressentida como
esquecimento. Aqui, ainda não consegui pensar uma escala que se adequasse
a proposta apresentada. Acredito que de fato não há uma escala para se
compreender o perdão e a memória não ressentida, pois, para se utilizar de tais
meios para o esquecimento, faz-se necessário uma transcendência e uma
compreensão do fato que beira o divino. Não é atoa que tal conceito é
Mapa detalhado da cidade de Belo Horizonte
apresentado primeiramente pela tradição judaico-cristã, onde Deus perdoa o
pecado da humanidade e os esquece. Onde Jesus Cristo pede para que
perdoássemos 70x70 o nosso próximo. Ele não está pedindo para que sejamos
condescendente com o pecado mas que, diante do mal praticado a gente não se
fixe nele ou fique parado no tempo por conta dele. Que a gente consiga seguir
em frente livre do pecado cometido contra nós, livre do sentimento que foi gerado
em nós e livre de uma memória ferida que nos prende ao passado. O perdão e
a memória não ressentida pode nos fazer esquecer e por assim sermos livres
para nos expressar.
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