re s i d ê n c i a mé d i c a e m ne fr o l o g i a ho s p
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HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL
Residência Médica em Nefrologia
Oscar Amachuy Guzman
RELATO DE CASO: PROGRESSÃO DA DOENÇA RENAL CRÔNICAEM PACIENTE DIABETICO
São Paulo
2021
Oscar Amachuy Guzman
RELATO DE CASO: PROGRESSÃO DA DOENÇA RENAL CRÔNICAEM PACIENTE DIABETICO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado àComissão de Residência Médica do Hospital doServidor Público Municipal, para obter o título deResidência Médica.
Área: Nefrologia
Orientadora: Dra. Renata de Cassia Zen
São Paulo
2021
AUTORIZO A DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR
QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE
ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
São Paulo, 5 de novembro de 2021
Assinatura do Autor:_______________________________________
Oscar Amachuy Guzman
RELATO DE CASO: PROGRESSÃO DA DOENÇA RENAL CRÔNICA EMPACIENTE DIABETICO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Comissão de Residência Médica do
Hospital do Servidor Público Municipal, como requisito parcial para obtenção do
título de Residência Médica.
Área: Nefrologia
Orientadora: Dra. Renata de Cassia Zen
São Paulo, 5 de novembro de 2021
Banca Examinadora………………………………………….
Dra. Renata Freitas Nogueira Salles
………………………………………….
Dra. Renata Moutinho
…………………………………………. Conceito Final
Dra. Maria Carolina de C. Vieira 8,31
………………………………………….
Dedico este trabalho aos meus familiares por serem osustentáculo de todos os meus sonhos.
Aos funcionários do setor de hemodiálise do HospitalServidor Público Municipal que contribuíram para ampliartodo conhecimento durante o curso.
Ao orientador pelo empenho dedicado a este projeto e por todo aprendizadonecessário no decorrer do curso.
Aos colegas e amigos, que sempre estiveram dispostos a ajudar nosmomentos difíceis. Pelas palavras de conforto recebidas no durante o curso.
RESUMO
Diversas doenças têm grande impacto na vida das pessoas, assim como nos
sistemas de saúde mundial como é a Doença Renal Crônica (DRC) e a Diabetes
Mellitus (DM). Com o presente relato de caso, se expões as causas da progressão
da doença renal crônica em um paciente diabético, hipertenso e obeso de longa
data, que foi submetido a cirurgia bariátrica há 1 ano e meio com perda expressiva
de peso nos últimos meses, que fez uso recente de multivitamínicos (por conta
própria), antiinflamatórios associado a quadro de desidratação e consumo de
carambola há 1 mês. A problemática principal foi a dificuldade diagnóstica para
determinar a progressão da doença renal crônica, tendo diversas hipóteses. As
Intervenções médicas para o diagnóstico, contaram entre outras o manejo de
paciente DRC e a realização de biópsia renal devido à complexidade do caso e as
múltiplas intercorrências no período, fazendo uso deste método para o diagnóstico
definitivo.
O modelo de estudo é observacional do tipo descritivo, sendo feito abordagem
durante internação hospitalar e em consulta ambulatorial. Se coletaram dados do
prontuário eletrônico e físico, exames de laboratório, exames de imagem e registros
fotográficos, assim como laudo de biópsia de rim. A Conclusão principal a partir do
relato de caso foi a evidência da progressão da DRC num paciente diabetico.
Palavras-chave: Doença Renal Crônica. Diabetes Mellitus. Progressão
ABSTRACT
Several diseases have a great impact on people's lives, as well as on global
health systems such as Chronic Kidney Disease and Diabetes. With this case report,
the causes of the progression of chronic kidney disease in a long-term diabetic,
hypertensive and obese patient are exposed, who underwent bariatric surgery 1 year
and a half ago with significant weight loss in the last few months, who made recent
use of multivitamins (on their own), anti-inflammatory drugs associated with
dehydration and consumption of carambola for 1 month. The main problem was the
diagnostic difficulty to determine the progression of chronic kidney disease, with
several hypotheses. Medical interventions for diagnosis included, among others, the
management of a CKD patient and the performance of a renal biopsy due to the
complexity of the case and the multiple complications in the period, making use of
this method for the definitive diagnosis.
The study model is observational of the descriptive type, being approached during
hospitalization and in an outpatient consultation. Data were collected from electronic
and physical medical records, laboratory tests, image tests and photographic
records, as well as a kidney biopsy report. The main conclusion from the case report
was the evidence of CKD progression in a diabetic patient.
Keywords: Chronic Kidney Disease. Diabetes Mellitus. Progression
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Quadro 1- Prognóstico de DRC por TFG e categoria dealbuminúria……………………………………………………………………....….13
Tabela 1 - Exames laboratoriais realizados antes da internação
hospitalar…………………………………………………………………………....17
Tabela 2 - Exames laboratoriais realizados durante a internaçãohospitalar………………………………………….………………………………...18
Quadro 2 - Exames de laboratório realizados durante a internaçãohospitalar…………………………………....……………………………………....19
Quadro 3 - Exames de imagem realizados durante a internaçãohospitalar………………………………...…………………………………..……...19
Figura 1 - Biópsia Renal do paciente …………………………….………..…….20
Lista de Abreviaturas e Siglas
BGYR Bypass Gástrico em Y de RouxBRA Bloqueador dos Receptores de AngiotensinaDAOP Doença Arterial Oclusiva PeriféricaDLP DislipidemiaDRC Doença Renal CrônicaDM Diabetes MellitusDM2 Diabetes Mellitus tipo 2ESLA Estudo Longitudinal de Saúde do AdultoeTFG Estimativa da Taxa de Filtração glomerularGESF Glomeruloesclerose Segmentar e FocalHAS Hipertensão Arterial SistêmicaHbA1c Hemoglobina GlicadaIECA Inibidor da Enzima Convertidora de AngiotensinaIL-1 Interleucina 1IL-6 Interleucina 2IMs Interações MedicamentosasKDIGO Kidney Disease Improving Global OutcomesKDOQI Kidney Disease Outcomes Quality InitiativeNEFA Ácido Graxos não Esterificados circulantesPCR Proteína C reativaPNS Pesquisa Nacional de SaúdeSGLT2 Inibidores do Co-transportador sódio-glicoseTNFa Fator de Necrose Tumoral AlfaTRS Terapia Renal Substitutiva
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO………………………………………………………………..…….12
2. OBJETIVOS………………………………………………………………………...15
3. RELATO DO CASO………………………………………….……………………..16
4. DISCUSSÃO…………………………………....…………………………………..22
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS………………………………...…………………….27
1 INTRODUÇÃO
A doença renal crônica (DRC) é caracterizada por perda progressiva da
função dos néfrons que, consequentemente, leva à perda de sua capacidade de
filtrar o sangue e manter a homeostase. Está associada a altas taxas de morbidade
e mortalidade com grande impacto socioeconômico, tornando-se um desafio de
saúde pública em âmbito mundial.1
A frequência gira em torno de 10 a 20% da população adulta em todos os
países do mundo. No Brasil segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS-
estudo transversal utilizando informações e dados laboratoriais coletados entre os
anos de 2014 e 2015), estimaram prevalência de DRC em 1,4% da população, ou
seja, aproximadamente dois milhões de pessoas 1, além de ser a 2a doença
responsável pela terapia de substituição renal.2
Nas capitais brasileiras a prevalência de DRC foi de 8,9% conforme o estudo
Longitudinal de Saúde do Adulto (ESLA)3. O impacto sobre a morbimortalidade
mundial e custos socioeconômicos do doente com DRC e DRC em estágio terminal,
atribuível ao diabetes no período de 2010-2016 foi de US$1,2 bilhão (US $180
milhões por ano) e com tendência de aumento. Os procedimentos clínicos
responsáveis pela maior parcela dos custos atribuíveis à doença são a hemodiálise
e a diálise peritoneal. O diabetes foi responsável por 22% dos custos da DRC e da
DRC em estágio terminal.3
No Mundo, a Doença Renal do Diabetes é a principal causa de necessidade
de terapia de substituição renal (TRS)4-5 e no Brasil a segunda.5 As complicações
crônicas microvasculares frequentemente acometem entre 30 a 50% dos pacientes
com DM e aumento da excreção urinária de albumina. O paciente diabético com
necessidade de terapia de substituição renal tem três opções: hemodiálise, diálise
peritoneal e transplante renal.2
A DRC pode ser classificada em seis estágios dependendo das alterações
anatômicas ou estruturais e funcionais, esta última baseada na estimativa da taxa de
12
filtração glomerular (eTFG). A eTFG e a presença de um marcador de dano renal,
como a proteinúria, caracterizam a evolução da DRC, mais facilmente compreendida
pelos profissionais de saúde, que possibilita a orientação das medidas preventivas e
o encaminhamento para especialistas.
Quadro 1 - Prognóstico de DRC por TFG e categoria de albuminúria
Fonte: (KDIGO 2020 Clinical Practice Guideline for Diabetes Management in Chronic
Kidney Disease)
A diminuição progressiva da eTFG manifesta-se por elevação de produtos
excretados pelos rins, como a ureia e a creatinina. Segundo Kidney Disease
Improving Global Outcomes (KDIGO), a lesão renal é reconhecida na presença de
sedimento urinário (albuminúria) e/ou na diminuição da eTFG (< 60 mL/min/1,73
m2). A deterioração progressiva ao longo do tempo produz um acúmulo de
substâncias tóxicas com uma variedade de distúrbios bioquímicos e uma
13
sintomatologia múltipla dependente do estágio da DRC até a indicação de diálise ou
transplante.6
14
2 OBJETIVOS
A realização da investigação da causa da piora da função renal num paciente
com múltiplas comorbidade ao igual que várias intercorrências que levaram ao
estágio final da doença renal crônica, sendo feito diagnósticos diferenciais no
percurso do estudo e a necessidade de aprimoramento diagnóstico.
O estudo pretende alcançar com o relato em questão é enfatizar o
conhecimento e domínio das patologias mais prevalentes devido a ser uma das
principais causas de DRC no mundo, ao se tratar de um tema muito comum e de
encontro rotineiro no exercício médico.
15
3 RELATO DO CASO
Paciente de sexo masculino, P.P.D, 61 anos de idade, natural e procedente de
São Paulo, divorciado, aposentado.
Esteve internado no período de 25/08/2020 a 01/09/2020 com quadro de DRC
com lesão renal aguda sobreposta (Creatinina basal 1,7 fevereiro de 2020) de
etiologia não definida.
Antecedentes Patológicos: HAS, DM desde 2006 com retinopatia diabética
leve, dislipidemia (DLP) e obesidade revertida após cirurgia bariátrica há 1 ano e 6
meses (perda aproximada de 40-50 kg ao longo de 6 meses, de 130 kg para 90 kg),
assim como a reversão da DM2, DLP e HAS. Previamente DRC com Creatinina
basal de 1,7mg/dl e urina tipo 1 prévia com proteína muito aumentada em
junho/2018, manteve acompanhamento nefrológico no ambulatório de
glomerulopatias do hospital desde abril/2019, porém abandonou por conta própria há
1 ano.
Paciente também apresentava antecedente de Doença arterial oclusiva
periférica (DAOP), amputação hálux direito em abril/2014 e amputação transtibial
direita em abril/2018 (pé DM infectado). Prótese peniana em 2006. Litíase biliar
(achado). Nódulo em adrenal direita de 4cm (adenoma). Hipertrofia prostática não
obstrutiva.
O quadro clínico que levou o paciente a procurar atendimento hospitalar foi
epigastralgia, náusea iniciada há 15 dias, evoluindo com inapetência e diminuição da
ingesta hídrica. No início do quadro apresentou diarreia (3 vezes ao dia, de
consistência aquosa, de odor fétido), e no dia da internação relatou 4 dias de
constipação. Também queixava de tosse seca e odinofagia iniciada há 1 semana,
fazendo uso de analgesico comum (DorflexR) durante 3 dias, negava outras queixas.
Há 2 dias percebeu diminuição na quantidade de urina, no entanto, nega disúria,
polaciúria, e outras queixas urinárias. Relata também que há 2 meses
16
aproximadamente vinha consumindo polivitamínicos (automedicação) e ingerindo
diariamente carambola há 1 mês.
Ao exame físico encontrava-se em regular estado geral, lúcido, orientado,,
descorado 1+/4+, hidratado, eupnéico. Tórax: batimentos cardíacos rítmicos e
regulares sem sopro. Pressão arterial 169/72 mmHg, frequência cardíaca 74
batimentos por minuto; Ausculta pulmonar sem alterações. Abdômen: plano, ruídos
hidroaéreos presentes, sem visceromegalia, flácido e indolor. Extremidades: Com
amputação transtibial em membro inferior direito.
Na internação foi verificado alteração da função renal com Cr:7,49 mg/dl com
melhora até 5,06 mg/dl após hidratação e resolução de queixas que levaram à
internação. Apresentava urina tipo 1 sem hematúria, com proteinúria, proteinúria de
2,18g/24h, anemia normocítica, normocrômica, vitamina D:22,5 ng/ml. Sorologias:
negativas.
Foram realizados outros exames laboratoriais para investigação da piora da
função renal assim como investigação secundária devido proteinúria não nefrótica
que, mostraram anemia moderada ferropriva, aumento do Paratormônio 229,4;
fósforo 5,4; glicemia 96; Proteinúria de 24h 2,18G, Sorologias negativas para Hep B,
Hep C, HIV e Sífilis; sódio 140 mEq/L; potássio 4,9 mEq/L; pH 7,23; bicarbonato
sérico 5 mEq/L; excesso de bases -10,9 e outros melhor detalhados nas tabelas e
quadros a seguir.
Tabela 1 - Exames laboratoriais realizados antes da internação
hospitalar
Fevereiro/2020 Junho/2020
Creatinina (Basal) 1,7 mg/dl
Urina tipo 1 - Proteína +++
Hematúria Ausente
Proteinúria 24h 2,18G
Estimativa da Taxa de Filtraçãoglomerular (CKD-EPI)
8,59 ml/min/1,73m2
Fonte: (Sistema do Laboratório Hospital do servidor Público Municipal)
17
Tabela 2 - Exames laboratoriais realizados durante a internação
hospitalar
RENAL Setembro/2020
Creatinina 7,49 mg/dl com melhora até 5,06mg/dl (na altahospitalar) out/2020
Estimativa da Taxa de Filtração glomerular(CKD-EPI)
11 ml/min/1,73m2
ANEMIA Setembro/2020
Hemoglobina 7,7g/dl
Hematócrito 24,6%
Ferro Sérico 49 mcg/dl
Reticulócitos 2,2%
Ferritina Sérica 499 ng/ml
Ácido Fólico 17,2 ng/ml
Vitamina B12 329 pg/ml
Reticulócitos 2,2%
Potássio Sérico 4,9 mEq/L
Bicarbonato de sódio 5 mEq/L
DOENÇA MINERAL E ÓSSEA Setembro/2020
Paratormônio 229,4 pg/ml
Cálcio Total 6,7 mg/dl
Albumina Sérica 3 g/dl
Fósforo Sérico 5,4 mg/dl
METABÓLICO
Vitamina D 22,5 ng/ml
18
Hemoglobina Glicada 4,5%
Fonte: (Sistema do Laboratório Hospital do servidor Público Municipal)
Quadro 2 - Exames de laboratório realizados durante a internação
hospitalar
SOROLOGIAS Agosto/2020
Hepatite B Negativo
Hepatite C Negativo
Sífilis Negativo
HIV Negativo
Hepatite B Negativo
Hepatite B Negativo
Fonte: (Sistema do Laboratório Hospital do servidor Público Municipal)
Foram realizados também exames de imagem devido à queixa gástrica e diarreia, asquais vieram sem alterações relevantes, conforme mostrado no quadro 3.
Quadro 3 - Exames de imagem realizados durante a internaçãohospitalar
EXAMES DE IMAGEM Agosto/2020
Endoscopia Digestiva Alta Gastroplastia
Colonoscopia S/A
Ultrassonografia de Rins e vias urinárias NC, Cistos renais bilaterais
Tomografia Abdome e Pelve Manipulação cirúrgica gástrica
Ecodopplercardiograma transtorácico FE 68%, disfunção diastólica do VE grau I
Fonte: (Sistema de imagem Hospital do servidor Público Municipal)
19
O Tratamento proposto e realizado no paciente foram a hidratação
endovenosa, retirada de medicações nefrotóxicas, uso de diurético, assim como o
manejo da DRC. Posteriormente paciente a despeito de medidas, não apresentou
melhora da função renal (creatinina sérica 5,06 mg/dl) com diurese diurese
preservada. Evolui com estabilização da DRC sem urgência dialítica e realizado
biópsia renal para esclarecimento do quadro clínico e de prováveis hipóteses
diagnósticas (Proteinúria não nefrótica; Nefropatia DM; Nefrite intersticial aguda,
nefrite tubular aguda por uso de AINES/ polivitamínicos; GESF por obesidade) a
qual num primeiro momento veio como inconclusiva por material insuficiente.
Posteriormente se realiza uma segunda biópsia guiada por tomografia
computadorizada com laudo conclusivo de Nefropatia Diabética, forma avançada
(classe IV). Fibrose intersticial aguda. Ateroesclerose, arterioloesclerose hialina e
endoarteriolite obliterante.
Figura 1 - Biópsia Renal do paciente
Fonte: (Anatomia patológica - Hermes Pardini 09/2020)
20
Após diagnóstico definitivo paciente manteve acompanhamento ambulatorial
com programação de início de terapia renal substitutiva na modalidade de
hemodiálise.
21
4 DISCUSSÃO
O relato do caso evidencia múltiplas causas possíveis para a disfunção renal, mas
nenhuma delas evidente para determinar a progressão para estado final da doença
renal.
Uso de medicações: Indivíduos com DRC comumente utilizam diversas
classes de medicamentos (o paciente do relato apresentado utilizou polivitamínicos
a base de vitaminas do complexo b e analgésico comum -DorflexR- por conta
própria, porém não se demonstrou que ditos medicamentos tenham causado piora
da função renal, entre os diversos motivos por não serem medicações comuns
associadas à piora da função renal e por demora na realização da biópsia renal)
constituindo um importante grupo de risco para interações medicamentosas (IMs).
Obesidade, diabetes, hipertensão e estágio avançado da DRC foram fatores de risco
fortemente associados para ocorrência de IMs.7
Ingestão de carambola: Um dos causantes de lesão renal aguda ou
agudização da DRC é a associada à ingestão da fruta carambola, que
prevalentemente acomete paciente com DRC causando alterações neurológicas
desde quadros leves (como soluços e confusão mental), até quadros mais sérios
(convulsões e morte). A neurotoxina (ácido oxálico) parece causar inibição sobre o
sistema de condução GABAérgico. O tratamento ainda não está bem estabelecido,
sendo uma melhor opção a hemodiálise.8
O paciente do relato de caso, tinha ingerido carambola diariamente nos
últimos 30 dias, porém não apresentava sintomas neurológicos no momento da
internação e não foi confirmado se tinha tido sintomas em casa. Provavelmente a
ingesta excessiva de carambola tenha ajudado a estabelecer a piora aguda da
função renal.
Obesidade e lipotoxicidade: O excesso de peso e a obesidade tem sido
apontado como uma importante causa de doenças renais, incluindo a DRC9,
provavelmente por efeitos da lipotoxicidade, Nefroesclerose hipertensiva e
22
glomeruloesclerose segmentar e focal (GESF). O paciente apresentado no relato de
caso, que tinha obesidade mórbida durante muitos anos, tendo precisado inclusive
realização de cirurgia bariátrica o qual teve fator importante na progressão da DRC.
Na última década, a pesquisa em patologia mostra que a DRC pode constituir um
estado adquirido de lipodistrofia, que leva à deposição ectópica de lipídios. Por
décadas, a DRC foi descrita como um causa da dislipidemia com aumento de
triglicérides plasmático. Estudos recentes mostram que a distribuição do tecido
adiposo, pode ser alterada na DRC, resultando em um perda de tecido adiposo
branco (armazenamento do excedente e acúmulo de lipídios em sítios ectópicos). A
função principal do tecido adiposo branco é armazenar o excedente de energia na
forma de lipídios, convertendo Ácidos graxos não esterificados circulantes (NEFA)
citotóxico em triglicerídeos adiponectina. A deposição ectópica de lipídios em tecidos
não adiposos, tais como o rim, pode levar à acumulação de metabolitos tóxicos que
levam à disfunção mitocondrial, ao stress do retículo endoplasmático, apoptose e à
disfunção renal. Os mediadores pró-inflamatórios liberados pelo tecido adiposo
visceral em resposta à lesão são: adipocitocinas, interleucinas 1 e 6 (IL-1, IL-6) e
Fator de Necrose tumoral Alfa (TNFa). Esses achados indicam que o aumento do
acúmulo de triglicerídeos no mesângio intracelular pode desempenhar um papel
central no desenvolvimento da nefropatia diabética.10
Há ainda evidência de que a obesidade por si só leva ao aumento da
excreção de albumina, que progressivamente aumenta com a gravidade da
obesidade e, em casos raros, leva à síndrome nefrótica. O sobrepeso e a obesidade
estão associados a alterações renais hemodinâmicas, estruturais e histológicas,
bem como desordens metabólicas e bioquímicas que predispõem à doença renal,
mesmo com a função renal estando normal nos exames convencionais. A obesidade
está ainda associada à inflamação, uma vez que o aumento na produção de
citocinas inflamatórias, como o TNFa, IL-6 e proteína C reativa (PCR), pode ser
observado, sendo chamadas de “adipocinas” por alguns autores devido à sua
produção pelos adipócitos. A inflamação por si só é um fator de risco para perda de
função renal.9
23
Bypass gástrico: Algumas terapêuticas estão sendo investigadas como o
efeito do Bypass Gástrico em Y de Roux (BGYR) a despeito do tratamento médico
na Doença Renal Crônica em estágio Inicial em pacientes com DM2 e obesidade,
tendo mostrado redução da albuminúria, assim como após 24 meses, o BGYR foi
mais eficaz do que o melhor tratamento médico para obter remissão da DRC nos
estágios G1 a G3 e da albuminúria nos estágios A2 a A3 em pacientes com diabetes
tipo 2 e obesidade. O nível de hemoglobina glicada (HbA1c) após 24 meses foi
reduzido em 2,2% e em 2,6% após BGYR.11
O paciente apresentando no caso clínico, tinha obesidade mórbida (peso
aproximado 130 Kg) sendo submetido a cirurgia bariátrica há 1 ano e 6 meses,
posteriormente apresentou redução do peso expressivamente (40-50 kg) nos 6
meses subsequentes à cirurgia. Provavelmente a reversão das doenças crônicas
prévias como a DM, HAS e DLP fizeram com que o paciente em questão
abandonasse o acompanhamento médico de nefrologia há 1 ano, visto o controle
das patologias prévias.
Diabetes Mellitus e Rim: A prevalência do DM2 tem aumentado
principalmente em países em desenvolvimento, sendo a principal causa de
necessidade de terapia de substituição renal (TRS) nesses países e a segunda
causa no Brasil.5
A histopatologia característica da doença renal do diabetes, inclui
espessamento da membrana basal glomerular, expansão mesangial, esclerose
glomerular nodular e fibrose túbulo intersticial, bem como distúrbios metabólicos,
superprodução de espécies reativas de oxigênio, estado de hipóxia, disfunção
mitocondrial e inflamação. Pesquisas anteriores e estudos sobre diabetes e DRC
inferem que o conhecimento sobre a DM avançou consideravelmente, embora muito
precisa ser aprendido.4
Essas alterações levam a apoptose e eliminação do processo do pé de
podócitos células endoteliais.4 Os podócitos são células epiteliais viscerais altamente
diferenciadas dentro do glomérulo e fornecem um componente importante da
barreira de filtração glomerular junto com o endotélio glomerular e a membrana
24
basal glomerular. Essa lesão podocitária leva à perda da integridade da membrana
basal glomerular (pode ser irreversível devido a menor capacidade de regeneração),
resultando finalmente em albuminúria. A própria albuminúria pode danificar as
células tubulares e, portanto, a albuminúria não controlada de lesões de podócitos
facilita a lesão das células epiteliais tubulares levando à fibrose intersticial que, por
sua vez, prejudica o fornecimento vascular ao glomérulo. Muitos ensaios clínicos
buscaram chegar a uma estratégia de tratamento para interromper essa progressão.
As abordagens terapêuticas incluem inibidores da enzima de conversão da
angiotensina (IECA) e bloqueadores do receptor da angiotensina (BRA). Atualmente,
a Kidney Disease Outcomes Quality Initiative (KDOQI) recomenda medir a
albuminúria anualmente em pacientes com diabetes após 5 anos do diagnóstico.4
Estudos recentes têm demonstrado evidências de nefroproteção em todo espectro
da função renal em pacientes diabéticos tratados com fármacos da classe dos
inibidores do co-transportador sódio-glicose (SGLT2), como a dapagliflozina,
sugerindo que devem ser oferecidos de rotina para os pacientes com DM2 em risco
de doença renal progressiva.12
A perda do acompanhamento médico por parte do paciente apresentado no
relato de caso, mostra que existiu uma progressão da doença renal por
acometimento da diabetes, sendo assim acrescentado as diversas intercorrências
que ajudaram na perda total da função renal.
A sobrevida durante o tratamento a longo prazo da DRC no diabetes tem sido
ligada à qualidade obtida do controle glicêmico. Embora a sobrevida dos pacientes
diabéticos sob diálise tenha melhorado durante esta última década, tanto a
morbidade quanto a mortalidade permanecem significativamente mais altas do que
as dos pacientes sem diabetes. Tal realidade é atribuída principalmente à
progressão das condições comórbidas. O caso apresentado difere do habitual pela
multiplicidade de causas da piora e progressão da perda da função renal em que se
viu envolvido.
O paciente, acompanhado neste relato de caso, apresentava Insuficiência
Renal Crônica. Durante o período de internação, não foi possível a constatação da
25
causalidade principal da piora da função renal tendo sido correlacionado
posteriormente por avaliação histopatológica (biópsia renal).
O que pode ser aprendido deste relato de caso clínico é a diversidade de
patologias que podem estar envolvidas na piora da função renal, mesmo num
paciente com diagnóstico prévio de DM e HAS com alteração de órgãos alvos, ao
ver que a progressão apresentou uma evolução um pouco atípica.
A avaliação minuciosa de pacientes possuidores de doenças crônicas e suas
eventuais intercorrências levam a tomar mão de métodos de diagnóstico
necessários para elucidação do quadro e da patologia envolvida.
26
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A DRC é um problema de saúde pública no mundo, negligenciado sobretudo
em seus estágios iniciais. O rastreamento da DRC por meio de exames laboratoriais
é considerado de baixo custo e eficaz, podendo ocorrer pela avaliação do ritmo de
filtração glomerular.6
Infere-se então a importância do diagnóstico precoce da complicação renal, o
controle da DM e a escolha do melhor tratamento para prevenção ou impedir a
progressão da doença. Portanto, neste trabalho foram abordados diversos aspectos
da doença renal do diabetes, assim como outros causantes de doença renal. Apesar
das recentes e crescentes descobertas de fármacos com efeito nefroprotetor, o
tratamento não se limita à medicação. A recomendação da mudança no hábito de
vida, da mudança na alimentação, controle da glicemia, HAS e dislipidemia, a prática
de exercício físico e abandono do tabagismo são importantes no tratamento do
paciente.2
As intervenções terapêuticas recomendadas para a gestão da DRC incluem o
controle de hipertensão arterial, diabetes e dislipidemia, alterações alimentares,
redução de peso e abstinência do fumo então uma abordagem individualizada
centrada no paciente pode ter mais a oferecer do que a abordagem tradicional
orientada na doença. há necessidade da realização de estudos randomizados
controlados de longo prazo incluindo indivíduos idosos com DRC, a fim de se
conhecer procedimentos terapêuticos mais eficazes para o controle dessa doença.
O foco terapêutico está no tratamento das doenças de base e nas complicações da
doença renal. Se o diabetes e a hipertensão arterial fossem tratados
adequadamente, não só reduziria os riscos de doença renal crônica e doença renal
terminal, como também a mortalidade associada a essas doenças. essas medidas
evitam agudizações e retardam sua evolução.13
O uso de fármacos da classe dos inibidores da SGLT2 mostraram como
desfecho primário o declínio sustentado na TFG estimada de pelo menos 50% na
doença renal em estágio terminal ou morte por causas renais ou cardiovasculares,
conforme o estudo realizado em 4304 participantes com uma TFG de 25 a 75 ml por
27
minuto por 1,73 m2 de área de superfície corporal e uma relação de albumina
urinária para creatinina (com albumina medida em miligramas e creatinina medida
em gramas) de 200 a 5000 a receber dapagliflozina (10 mg uma vez ao dia) ou
placebo.14
28
BIBLIOGRAFIA1. JR, Hohi A. Prevenção, Diagnóstico e Conduta terapêutica na doença renal
do diabetes. Sociedade Brasileira de Diabetes. Sociedade Brasileira deNefrologia. Posicionamento Oficial Tripartite n. 01/2016 [Internet] (Acesso em2020, outubro).
2. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas do Diabete Melito Tipo 2. 1raedição MINISTÉRIO DA SAÚDE 2020.
3. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas do Diabete Melito Tipo 2. 1raedição MINISTÉRIO DA SAÚDE 2020.
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