portuguÊs prof luis ladeira senado...
Post on 11-Nov-2018
221 Views
Preview:
TRANSCRIPT
PORTUGUÊS — PROF. LUIS LADEIRA SENADO FEDERAL
1
AULA 1
NOÇÕES DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTO
Interpretar bem um texto depende de vários fatores: fluência de leitura, conhecimento do assunto, domínio de vocabulário; mas, também, depende de estratégias de interpretação. O estudo a seguir servirá de base para ampliação do domínio dessas técnicas. Conceitos fundamentais: - Signo: um elemento codificado que representa um elemento da realidade: palavras, símbolos musicais, imagens. - Código: um conjunto de signos estabelecidos e conhecidos por uma comunidade de fala. Exemplos: a língua portuguesa; a linguagem matemática, o HTML etc. - Texto: é um conjunto de signos que compõem uma mensagem ou transmitem informações. O texto é construído a partir de um código (uma linguagem), que deve ser conhecido dos interlocutores para haver comunicação. Esse código pode ser verbal ou não verbal. Exemplos de texto verbal:
- esta apostila; - uma carta; - um romance; - um discurso de político.
Exemplos de texto não verbal:
- uma partitura musical; - uma placa de trânsito que não contenha
palavras; - uma foto; - uma operação matemática.
Há textos que misturam mensagens verbais e não verbais, como um gráfico, algumas placas de trânsito, um mapa, diversas propagandas etc. Sentidos da linguagem: A linguagem pode ser direta, objetiva, referencial; ou pode ser figurada, metafórica, subjetiva. Os signos são essencialmente plurissignificativos. Quando predomina o significado universal, concreto, objetivo do signo, temos a denotação, ou linguagem denotativa. Quando predomina um sentido possível, indireto, subjetivo, figurado do signo, temos a conotação, ou linguagem conotativa. Situação de comunicação, variedades linguísticas e níveis de linguagem: As linguagens verbais ou, mais precisamente, os idiomas normalmente apresentam possibilidades diversas de vocabulário e estruturação linguística. Há, no interior de uma língua, diferentes normas de funcionamento. De acordo com a comunidade de fala ou do contexto de comunicação, o falante pode lançar mão de modalidades diferentes da sua
língua, ou diferentes variedades linguísticas. A existência dessas variedades está associada ao fenômeno da variação linguística. Esse fenômeno é devido principalmente aos seguintes fatores:
- região geográfica (dialetos); - nível de escolaridade dos interlocutores
(norma culta e norma popular); - classe social; - situação de fala ou grau de formalidade
(nível formal e nível informal); - faixa etária e grupo social (gírias); - sexo; - profissão (jargão); - escolhas individuais (estilo).
Por isso, cabe esclarecer alguns conceitos importantes: - Norma-padrão: é a modalidade oficializada de língua; é a seleção de estruturas linguísticas feita pela classe dominante da sociedade, descrita em manuais e gramáticas e utilizada como modelo, referência. É normalmente chamada de norma culta. - Norma coloquial ou não padrão: aqui se abrangem todas as demais possibilidades de uso da língua, como dialetos, gírias, variedades indicadoras de baixo nível de escolarização, uso informal da língua etc. Além dessa classificação, podemos definir três principais níveis de linguagem, de acordo com o grau de formalidade da situação de fala:
1) nível formal / culto; 2) nível coloquial;
3) nível informal.
É comum apontar erro de português quando o falante não utiliza a norma-padrão, sobretudo em situações de formalidade. Cabe ressaltar, no entanto, que isso não constitui erro nem é indicador de uma menor inteligência ou capacidade cognitiva. Usar a linguagem coloquial em situações que exigem o uso da norma-padrão corresponde, muitas vezes, a um erro pragmático. Vale lembrar, ainda, que o acesso à norma-padrão no Brasil é bastante restrito para a maioria da população, e dizer a essa imensa parcela de excluídos que eles não sabem falar direito, ou que falam tudo errado constitui evidência de preconceito linguístico, normalmente associado à discriminação social. Em condições ideais de escolarização, o desejável é que o falante domine razoavelmente bem a norma-padrão e outras variedades, a fim de empregar a que for mais adequada ao contexto de comunicação. Vale lembrar que o conhecimento das diferentes modalidades da língua amplia a capacidade interpretativa e expressiva do falante, além de ser forte fator de inclusão social.
IGEPP PORTUGUÊS — LUIS LADEIRA
2
Elementos da comunicação: A comunicação se estabelece a partir de 6 elementos. Você certamente já estudou sobre isso, então mãos à obra: desenhe a seguir um gráfico que represente adequadamente esses 6 elementos: Os diferentes textos, de acordo com a finalidade com que são produzidos, enfatizam um ou outro (ou vários) desses elementos. A partir disso, se estabelecem as chamadas funções da linguagem:
1) Função referencial: - linguagem denotativa; - objetiva informar; - exemplos: notícias de jornal; textos
dissertativos; aula expositiva. 2) Função emotiva ou expressiva:
- linguagem em 1.ª pessoa do singular; - objetiva expor sentimentos pessoais; - exemplos: declarações de amor, muitos
poemas; diários. 3) Função apelativa ou conativa:
- linguagem normalmente incisiva, com verbos no imperativo e referências ao interlocutor;
- objetiva persuadir, convencer, modificar o comportamento do receptor, induzi-lo a agir de determinada forma;
- exemplos: textos publicitários, receitas, manual de instruções.
4) Função poética: - linguagem trabalhada, elaborada
cuidadosamente, normalmente com uso de conotação;
- objetiva impressionar, causar estranhamento, não pelo que se diz, mas pelo modo como se diz;
- exemplos: textos literários em geral, principalmente na poesia, letras de música.
5) Função metalinguística: - linguagem metarreferencial, ou seja,
explica-se a si mesma; - objetiva esclarecer ou interpretar o
sentido do próprio código, ou do texto de que faz parte;
- exemplos: dicionários, glossários, legendas.
6) Função fática: - linguagem normalmente coloquial; - objetiva testar o canal, verificar se a
comunicação está se estabelecendo corretamente, ou encerrar a comunicação;
- exemplos: saudações, despedidas, formalidades de início e fim de cartas.
Vale lembrar que os textos, normalmente, contêm, ou até mesmo enfatizam simultaneamente mais de uma função. Um slogan de um produto, por exemplo, pode destacar as funções apelativa e poética ao mesmo tempo. Interpretação de texto: A interpretação de um texto passa por diferentes níveis de cognição ou entendimento.
- Nível superficial: reconhecimento do significado objetivo das palavras que compõem o texto.
- Nível profundo: compreensão mais densa das diversas relações de sentido que se estabelecem entre as partes de um texto. Apreensão das ideias principais e secundárias, da progressão temática, das estruturas linguísticas que constroem o texto.
A análise de um texto deve pressupor o entendimento profundo das ideias e da linguagem. A habilidade necessária para isso decorre, normalmente, de treinamento, ou seja, de exercício da leitura. Mas há, além disso, algumas estratégias de leitura importantes.
1) Leia o texto mais de uma vez. 2) Sublinhe palavras desconhecidas ou de
sentido obscuro. 3) Caso seja possível, consulte um dicionário.
Se não, verifique as partes que compõem a palavra desconhecida: ela pode derivar ou ser flexão de outra que você conhece. O estudo da origem das palavras se chama etimologia.
4) Se não adiantou, procure apreender o sentido daquela palavra pelo contexto. Cuidado: essa é uma alternativa arriscada.
5) Leia o texto todo antes de se desesperar. Pode ser que um início difícil seja explicado mais à frente. Releia quantas vezes julgar necessário para entender todo o texto.
6) Numa prova, muitas vezes as questões sobre um texto trazem dicas ou apontam possíveis interpretações para ele. É proveitoso dar uma olhada nelas antes de relê-lo.
IGEPP PORTUGUÊS — LUIS LADEIRA
3
Raciocínios interpretativos: O correto entendimento de um texto pressupõe que se dominem raciocínios diferentes. As questões de provas normalmente usam termos que especificam qual raciocínio deve ser usado. É importante conhecê-los.
1) Dedução: a partir de uma regra geral ou afirmação inicial, formulam-se regras específicas ou analisam-se casos particulares. Um tipo especial de raciocínio dedutivo é o silogismo, em que, a partir de duas premissas verdadeiras, chega-se a uma terceira informação, dedutivamente verdadeira.
2) Indução: a partir de exemplos ou casos particulares (exemplos, dados estatísticos, comparações), formula-se uma tese ou uma regra geral.
Figuras de linguagem
A linguagem conotativa se constrói a partir
das chamadas figuras de linguagem. Elas consistem
em recursos para causar determinados efeitos de
sentido ou de construção textual. Não vale a pena
enumerar todas as figuras de linguagem existentes,
nem mesmo as mais comuns. Para efeitos de um
bom entendimento textual em nível de concursos,
cabe compreender algumas principais figuras de
pensamento e de construção.
1) Metáfora: a figura de linguagem por excelência,
seu sentido se confunde com a própria ideia de
conotação. Numa definição simples, a metáfora é a
substituição de um termo por outro, na medida em
que se identificam semelhanças entre eles.
Exemplos:
a) Lula foi acusado de usar a máquina para fazer
campanha eleitoral.
b) Após a reeleição de Lula, provavelmente
recomeçará a dança das cadeiras nos ministérios.
c) O governador prometeu atacar a corrupção em
seu estado.
2) Metonímia: próxima da metáfora, ocorre quando
se troca um termo por outro que mantém relação
de contiguidade com o primeiro.
a) Respeite meus cabelos brancos.
b) Não se lê Machado de Assis sem achar graça de
suas ironias.
c) ―Gastei uma hora pensando um verso / que a
pena não quer escrever.‖
3) Hipérbole: consiste em exagerar a intensidade de
algo.
a) Já se descobriram milhares de falcatruas no
governo desse estado.
b) Escrevi milhões de vezes, mas ela não me
respondeu.
4) Hipérbato: consiste na inversão da ordem direta
das frases.
a) Ouviram do Ipiranga as margens plácidas de um
povo heroico o brado retumbante. (anástrofe)
b) O livro que eu te dei você não me devolveu.
5) Antítese: consiste na aproximação de ideias
contrárias:
a) Viviam entre tapas e beijos.
b) Quanto mais ele explicava, menos eu entendia.
c) Enquanto uns vivem na miséria, outros
desperdiçam seus bens.
Há outras figuras de pensamento e de construção
que merecem ser citadas. São elas a ironia, o
eufemismo, o pleonasmo e a prosopopeia.
TIPOLOGIA TEXTUAL
Há simplificadamente quatro tipos de texto:
1) Descritivo: texto que se caracteriza pela
atemporalidade, ou seja, por não marcar
passagem de tempo. É uma caracterização,
uma enumeração de qualidades de um
objeto, pessoa, cena etc.
2) Narrativo: é um texto que se constrói pela
progressão temporal, pela passagem de
tempo. Trata-se de um relato de fatos, reais
ou fictícios.
3) Dissertativo: é um texto que discute ideias,
que trata de conceitos, que abrange a
discussão de um assunto. Pode ser
expositivo ou argumentativo.
4) Injuntivo: é um texto que, pautado na função
conativa da linguagem, visa orientar o leitor,
estabelecendo normas ou comportamentos
esperados do receptor. Compõe-se
normalmente com verbos no imperativo.
IGEPP PORTUGUÊS — LUIS LADEIRA
4
ARGUMENTAÇÃO
Dissertar é discorrer sobre um determinado
assunto; é apresentar ideias ou argumentos, seja no
intuito de defender um ponto de vista, seja para
informar o leitor sobre o tema. O texto dissertativo
pode ser de dois tipos:
a) Expositivo:
É um texto que não defende um ponto de vista.
Tem a intenção de informar, esclarecer, resumir
etc. O texto expositivo aparece em trechos de quase
todos os textos dissertativos (e de outros tipos).
Toda explanação de ideias, conceitos, explicações,
definições que não manifeste um ponto de vista
pode ser considerada expositiva. Quanto aos
gêneros, poderíamos citar a reportagem como um
texto expositivo, uma vez que numa reportagem o
autor não manifesta opinião pessoal sobre o
assunto.
b) Argumentativo:
É um texto que defende um ponto de vista do
autor. Objetiva convencer, persuadir o leitor.
É o tipo mais comum de texto dissertativo. Nele,
é fundamental saber justificar as opiniões
manifestadas. Para isso, estudam-se diversas
técnicas e recursos de argumentação e construção
textual.
Uma leitura atenta de um texto argumentativo
precisa identificar a ideia central que está sendo
defendida, e os argumentos que a sustentam. É
importante perceber a linha de raciocínio e a
fundamentação das ideias.
Tese
A tese é ideia principal a ser defendida no texto. É
o ponto de vista do autor a respeito do tema. Toda
a argumentação do texto servirá para comprovar a
validade da tese.
Argumentação
A argumentação, num texto dissertativo,
corresponde a todos os recursos linguísticos
utilizados pelo autor para convencer o leitor da
validade de seu ponto de vista. Ela se organiza por
parágrafos e tópicos frasais.
Tópico frasal
O tópico frasal é a ideia principal de cada
parágrafo. Ela será desenvolvida e complementada
por outras, diretamente relacionadas a ela. O tópico
frasal pode estar explícito numa frase do
parágrafo, ou diluído nele.
O parágrafo dissertativo é, portanto, um conjunto
de ideias que se relacionam a um mesmo aspecto
do tema. Nele, aparecem um tópico frasal e as
ideias de apoio, que podem ser exemplos, citações,
dados etc.
Linguagem
É importante ressaltar que a linguagem de um texto
dissertativo é, normalmente, muito formal. É claro
que isso depende do gênero textual de que se trata.
O importante é que a mensagem seja transmitida
com extrema clareza para a maior parte do público
que lerá o texto. Por isso evitam-se palavras de
sentido desconhecido e frases muito rebuscadas,
sem no entanto usar-se uma linguagem simplória,
vulgar ou imprecisa. A exatidão vocabular é uma
competência difícil de alcançar e exige muita
prática e consulta atenta a dicionários.
Estrutura padrão do texto dissertativo-argumentativo
Introdução: apresenta o tema, a tese e,
possivelmente, os argumentos.
Desenvolvimento: aprofunda os argumentos,
distribuídos em parágrafos diferentes; apresenta
exemplos, contra-argumentos, dados, deduções,
inferências etc.
Conclusão: encerra a discussão; não deve, grosso
modo, apresentar ideias novas; pode apresentar
uma proposta, um resumo, uma previsão ou uma
repetição da tese.
IGEPP PORTUGUÊS — LUIS LADEIRA
5
Leitura de aprofundamento
Já que estamos falando de línguas e interpretação,
vale ler este ótimo texto a respeito do modo como
as línguas captam a realidade, e os riscos de se
extinguir uma delas.
Língua, cultura e sobrevivência
―Saudade‖, uma das palavras mais bonitas da língua
portuguesa, é também a sétima mais difícil do mundo
para se traduzir. O que todo mundo já desconfiava foi
comprovado por uma pesquisa feita pela empresa de
tradução britânica Today Translations junto a mil
tradutores de todo o mundo. Aquela considerada a mais
difícil de traduzir é ―ilunga‖, falada no sudoeste do
Congo e que significa "uma pessoa que está disposta a
perdoar qualquer maltrato pela primeira vez, a tolerar o
mesmo pela segunda vez, mas nunca pela terceira vez".
(…)
A pesquisa também revelou as 10 palavras mais
difíceis de traduzir do idioma inglês. Por exemplo,
a palavra ―serendipity‖ (terceira da lista) realmente
não é fácil. Significa algo como a faculdade de fazer
boas descobertas por acaso, sem estar procurando
por elas. A palavra vem do conto persa ―As três
princesas de Serendip‖, que tinham justamente a
característica de encontrar coisas maravilhosas
sem se dar conta.
Todas estas palavras pertencem a grupos
linguísticos ainda ativos, falados por populações
identificáveis nos mapas. Transmitem conceitos
facilmente compreensíveis por aqueles que as
utilizam em seu cotidiano. Têm, portanto, uma vida
e uma história.
Quando uma língua desaparece, ainda que
sobreviva o povo que a falava originalmente, é todo
um universo simbólico que vai junto, engolfado em
uma espécie de cataclismo silencioso. A Unesco
desenvolve um interessantíssimo ―Programa de
Línguas Ameaçadas‖, que, à semelhança de seus
congêneres sobre espécies animais, procura
mapear os riscos que correm as diferentes línguas
faladas no mundo.
Algumas das conclusões levantadas pela
investigação mais recente do Programa indicam
que:
- mais de 50% das cerca de seis mil línguas
faladas no mundo estão ameaçadas;
- 96% das seis mil línguas são faladas por
apenas 4% da população mundial;
- 90% das línguas do mundo não estão
representadas na internet;
- uma língua desaparece a cada duas semanas
em média.
No atual ritmo, estima-se que 40% das línguas
faladas hoje vão desaparecer nos próximos 50 a
100 anos. Além dos impactos sociais e econômicos,
seu desaparecimento significa a perda da memória
coletiva de todo um povo. A maneira como se
descrevem os sentimentos comuns, os nomes das
coisas, o modo como se designam as ações
prosaicas do cotidiano, enfim, tudo o que
determina a identidade coletiva desaparece com a
língua quando ela deixa de existir.
Para os especialistas em linguística, uma língua
está sob ameaça quando não é aprendida por mais
de 30% das crianças de uma comunidade. Está
seriamente em perigo à medida que estes poucos
falantes da língua original vão crescendo e
envelhecendo. Fica definitivamente moribunda
quando apenas alguns poucos da comunidade
ainda a lembram. E quando estes morrem, lhes
acompanha até o túmulo. Uma morte absoluta, que
leva além do corpo físico o repositório cultural de
um povo ou comunidade.
Mas, por que se preocupar tanto com a morte
de uma língua, principalmente se ela for falada por
um grupo humano restrito, como por exemplo,
uma tribo amazônica ou africana?
A própria Unesco, em um paper muito
interessante chamado Language Vitality and
Endangerment, procura responder:
“A extinção de uma língua resulta em uma
perda irrecuperável de conhecimento cultural,
histórico e ecológico. Cada língua é uma expressão
única da experiência humana do mundo. Assim, o
conhecimento singular de cada língua pode ser a
chave para responder questões fundamentais sobre
o futuro. Cada vez que uma língua morre, temos
menos evidências para entender as tendências na
estrutura e função da linguagem humana, da pré-
história humana e da manutenção dos diversos
ecossistemas mundiais”.
(…)
Renato Guimarães Leia o texto completo em: (www.verbeat.org/blogs/bombordo/
arquivos/2006/05/lingua_cultura_e_sobrevivencia.html).
IGEPP PORTUGUÊS — LUIS LADEIRA
6
EXERCÍCIOS
1
4
7
10
13
16
19
22
25
28
31
34
Frente à tradição hindu que há 2.500 anos
divide a sociedade indiana em mais de 2.000 castas,
os 60 anos dos ideais liberais de Gandhi e os 10 anos
da legalização do casamento entre castas revelam-se
impotentes para transformar a organização
hierárquica da sociedade. Em confronto direto com o
costume milenar, o governo da Índia oferece uma
recompensa de R$ 2.400 para homens e mulheres de
diferentes grupos sociais que formalizem sua união.
O dinheiro equivale ao dobro da renda per
capita anual do país. O governo justifica que a
medida é um passo para a reacomodação das
desigualdades. Para grande parte da sociedade, é um
passo no escuro.
O governo — que já enfrenta protesto contra
cotas em universidades — vê-se, agora, diante de um
desafio maior. O esquema está sob ataque de todos
os lados. Os conservadores alegam que a medida é
gatilho para o caos social. Os liberais sustentam que
poucos vão receber a oferta porque o dinheiro vai
desaparecer no bolso de autoridades corruptas.
Indianos de castas mais baixas dizem que
rejeitariam a recompensa, pois perderiam o acesso
preferencial às universidades, garantido pelas já
controversas cotas. Hoje, o governo oferece 22,5%
das vagas aos intocáveis, os últimos na hierarquia
hindu, mas pretende aumentá-las para 50%.
―Sei que esta não é a única maneira de pôr um
fim à discriminação, mas é preciso começar de algum
lugar‖, defende a ministra da Justiça Social. Para a
socióloga Radhika Chopra, a oferta é uma forma de
sinalizar que esses casamentos não devem ser
condenados. ―Com a medida, o governo apoia os
indivíduos que transgrediram barreiras sociais e
mostra que podem funcionar como exemplos‖,
acrescenta a socióloga.
Jornal do Brasil, 17/12/2006 (com adaptações).
QUESTÃO 1
No que se refere a funções da linguagem, predomina,
no texto, a função
A. fática, visto que o autor do texto busca, de forma
sutil, convencer os leitores dos benefícios do
projeto que visa incentivar o casamento entre
pessoas pertencentes a castas diferentes.
B. referencial, dado que a ênfase recai nas
informações a respeito de determinado assunto.
C. emotiva, dado que são as falas das autoridades
entrevistadas que direcionam a forma como as
informações são apresentadas.
D. conativa, visto que as opiniões expressas estão
devidamente referenciadas, não havendo,
portanto, perda de objetividade na transmissão
das informações.
E. metalinguística, haja vista o foco em aspectos
intertextuais, como demonstram as diversas
vozes que acompanham a informação divulgada.
QUESTÃO 2
Com base no texto, assinale a opção correta.
A. Na Índia, a recompensa estabelecida para
casamentos entre pessoas pertencentes a castas
diferentes é abonada pelos intelectuais hindus,
especialmente pelos sociólogos.
B. Algumas pessoas indianas de castas mais baixas
não se casam com as de castas mais altas para
não perderem direito de acesso automático à
universidade.
C. O tema principal que se depreende da notícia
veiculada é a dificuldade de superação de valores
sociais em sociedade marcadamente
tradicionalista e rigorosamente hierarquizada.
D. Apesar de, na Índia, a organização social em
castas ter ruído há mais de uma década, os
comportamentos sociais pouco se alteraram.
E. É correto concluir do texto que a recompensa
estabelecida na Índia para casamentos entre
indivíduos pertencentes a castas diferentes é um
benefício que não contempla casamentos
realizados anteriormente à vigência da lei.
Jeitinho
1
5
10
O jeitinho não se relaciona com um
sentimento revolucionário, pois aqui não há o
ânimo de se mudar o status quo. O que se busca é
obter um rápido favor para si, às escondidas e sem
chamar a atenção; por isso, o jeitinho pode ser
também definido como ―molejo‖, ―jogo de cintura‖,
habilidade de se ―dar bem‖ em uma situação
―apertada‖.
Em sua obra O Que Faz o Brasil, Brasil?, o
antropólogo Roberto DaMatta compara a postura
dos norte-americanos e a dos brasileiros em relação
às leis. Explica que a atitude formalista,
IGEPP PORTUGUÊS — LUIS LADEIRA
7
15
20
25
30
35
40
45
50
55
60
65
respeitadora e zelosa dos norte-americanos causa
admiração e espanto aos brasileiros, acostumados a
violar e a ver violadas as próprias instituições; no
entanto, afirma que é ingênuo creditar a postura
brasileira apenas à ausência de educação adequada.
O antropólogo prossegue explicando que,
diferente das norte-americanas, as instituições
brasileiras foram desenhadas para coagir e
desarticular o indivíduo. A natureza do Estado é
naturalmente coercitiva; porém, no caso brasileiro,
é inadequada à realidade individual. Um curioso
termo — Belíndia — define precisamente esta
situação: leis e impostos da Bélgica, realidade social
da Índia.
Ora, incapacitado pelas leis,
descaracterizado por uma realidade opressora, o
brasileiro buscará utilizar recursos que vençam a
dureza da formalidade se quiser obter o que muitas
vezes será necessário à sua sobrevivência. Diante de
uma autoridade, utilizará termos emocionais,
tentará descobrir alguma coisa que possuam em
comum — um conhecido, uma cidade da qual
gostam, a ―terrinha‖ natal onde passaram a infância
— e apelará para um discurso emocional, com a
certeza de que a autoridade, sendo exercida por um
brasileiro, poderá muito bem se sentir tocada por
esse discurso. E muitas vezes conseguirá o que
precisa.
Nos Estados Unidos da América, as leis não
admitem permissividade alguma e possuem franca
influência na esfera dos costumes e da vida
privada. Em termos mais populares, diz-se que, lá,
ou ―pode‖ ou ―não pode‖. No Brasil, descobre-se
que é possível um ―pode e não pode‖. É uma
contradição simples: acredita-se que a exceção a ser
aberta em nome da cordialidade não constituiria
pretexto para outras exceções. Portanto, o jeitinho
jamais gera formalidade, e essa jamais sairá ferida
após o uso desse atalho.
Ainda de acordo com DaMatta, a
informalidade é também exercida por esferas de
influência superiores. Quando uma autoridade
―maior‖ vê-se coagida por uma ―menor‖,
imediatamente ameaça fazer uso de sua influência;
dessa forma, buscará dissuadir a autoridade
―menor‖ de aplicar-lhe uma sanção.
A fórmula típica de tal atitude está contida
no golpe conhecido por ―carteirada‖, que se vale da
célebre frase ―você sabe com quem está falando?‖.
Num exemplo clássico, um promotor público que vê
seu carro sendo multado por uma autoridade de
trânsito imediatamente fará uso (no caso, abusivo)
de sua autoridade: ―Você sabe com quem está
falando? Eu sou o promotor público!‖. No
entendimento de Roberto DaMatta, de qualquer
forma, um ―jeitinho‖ foi dado.
(In: www.wikipedia.org - com adaptações.) QUESTÃO 3
De acordo com o texto, é correto afirmar que:
(A) o jeitinho brasileiro é um comportamento
motivado pelo descompasso entre a natureza do
Estado e a realidade observada no plano do
indivíduo.
(B) as instituições norte-americanas, bem como as
brasileiras, funcionam sem permissividade
porque estão em sintonia com os anseios e
atitudes do cidadão.
(C) a falta de educação do brasileiro deve ser
atribuída à incapacidade de o indivíduo adequar-
se à lei, uma vez que ele se sente desprotegido
pelo Estado.
(D) a famosa ―carteirada‖ constitui uma das
manifestações do jeitinho brasileiro e define-se
pelo fato de dois poderes simetricamente
representados entrarem em tensão.
(E) nos Estados Unidos da América, as leis influem
decisivamente apenas na vida pública do cidadão,
ao contrário do que ocorre no Brasil, onde as leis
logram mudar comportamentos no plano dos
costumes e da vida privada.
QUESTÃO 4
Com relação à estruturação do texto e dos parágrafos,
analise as afirmativas a seguir.
I. O primeiro parágrafo introduz o tema,
discorrendo sobre a origem histórica do jeitinho.
II. A tese, apresentada no segundo parágrafo,
encontra-se na frase iniciada por no entanto.
III. O quarto parágrafo apresenta o argumento
central para a sustentação da tese.
Assinale:
(A) se somente a afirmativa I estiver correta.
(B) se somente a afirmativa II estiver correta.
(C) se somente a afirmativa III estiver correta.
(D) se somente as afirmativas II e III estiverem
corretas.
(E) se todas as afirmativas estiverem corretas.
IGEPP PORTUGUÊS — LUIS LADEIRA
8
QUESTÃO 5
Assinale a alternativa que identifique a composição
tipológica do texto ―Jeitinho‖.
(A) Descritivo, com sequências narrativas.
(B) Expositivo, com sequências argumentativas.
(C) Injuntivo, com sequências argumentativas.
(D) Narrativo, com sequências descritivas.
(E) Argumentativo, com sequências injuntivas.
QUESTÃO 6
Observando a frase ―buscará dissuadir a autoridade
„menor‟ de aplicar-lhe uma sanção‖ (L.57-58), assinale
a alternativa em que a substituição da palavra
sublinhada mantenha o sentido que se deseja
comunicar no texto.
(A) obrigar.
(B) desaconselhar.
(C) persuadir.
(D) convencer.
(E) coagir.
Corrupção, ética e transformação social
1
5
10
15
20
Em toda História do Brasil, talvez nunca
tenhamos visto um momento em que notícias de
corrupção tenham sido tão banais nos meios de
comunicação, e tão discutidas por grande parte da
população. Em qualquer lugar (mesmo que seja um
ônibus, por exemplo), sempre há alguém falando
sobre a crise na saúde, a crise na educação e,
inclusive, a crise ética na política brasileira.
Contudo, é preciso notar também que, muitas
vezes, enquanto cidadãos, nós mesmos raramente
decidimos fazer alguma coisa pela transformação
da realidade — isso, quando fazemos algo. Certo
comodismo nos toma de assalto e reveste toda a
nossa fala de uma moral vazia, estéril, que se reduz
à crítica que não busca alterar a realidade. Afinal de
contas, em época de eleições, como a que estamos
prestes a vivenciar, nós notamos nas propagandas
políticas dos partidos a presença dos mesmos
políticos e das mesmas propostas políticas, as
mesmas já prometidas nas eleições anteriores, e
que jamais foram executadas. Logicamente há as
exceções de certos governantes que fazem por onde
efetivar suas promessas, mas esses, infelizmente,
25
30
35
40
45
50
55
60
65
70
continuam sendo uma minoria em todo o Brasil.
Numa outra perspectiva, é interessante
perceber também quão contraditória consiste ser a
distância entre o que nós criticamos em nossos
políticos e as ações que nós reproduzimos em
nosso cotidiano. De uma forma ou de outra,
reproduzimos a corrupção que nós percebemos na
administração pública nacional quando
empregamos o chamado jeitinho brasileiro, em que
o peso de um sobrenome ou o peso da influência
do status social passa a ser um dos elementos
determinantes para a obtenção de certos fins. É
nesse sentido que podemos apontar aqui um grave
problema social brasileiro, uma das principais
bases para se buscar o fim da corrupção política no
Brasil: a existência de uma ética baseada em uma
falta de ética. Como poderemos superar essa
incongruência?
Com certeza, a Educação pode ser a saída ideal.
Mas tem de ser uma Educação voltada para
desenvolver nas crianças, nos jovens e até mesmo
nos universitários – independentemente de
frequentarem instituições públicas ou privadas –
uma preocupação para com o bem público, isto é,
para com a sociedade. Uma Educação que os leve a
superar uma concepção de mundo utilitarista,
segundo a qual toda sociedade humana não passa
de um somatório de indivíduos e seus interesses
pessoais, que tão bem se acomoda ao jeitinho
brasileiro, será o primeiro passo para se
desenvolver uma sociedade mais justa, uma
sociedade em que a preocupação com o público,
com o coletivo, será a forma ideal para buscar a
felicidade individual, que tanto preocupa certos
conservadores.
Para tanto, sabemos que é preciso não uma
―educação política‖, mas sim uma educação
politizada. Uma educação que reconheça que a
solução para a corrupção centra-se em conceber a
política não apenas como um instrumento para se
alcançar um determinado fim, consolidando-se,
portanto, numa mera razão instrumental. Uma
educação na qual a própria política, a partir do
momento em que buscar ser de fato um meio para
se alcançar o bem de todos — como ao que se
propõe o nosso modelo democrático —, vai
estruturar uma ética que localizará no comodismo e
no jeitinho brasileiro as raízes de nosso
analfabetismo político, substituindo-os por outras
formas de ação social ao longo da construção de
uma cultura cívica diferente.
(adaptado de MOREIRA, Moisés S. In www.mundojovem.com.br:)
IGEPP PORTUGUÊS — LUIS LADEIRA
9
QUESTÃO 7
De acordo com o texto, é incorreto afirmar que:
(A) A concepção de democracia no Brasil inclui,
contraditoriamente, a razão instrumental como
filosofia.
(B) O fato de fazermos uso do jeitinho como
instrumento é uma das evidências de nosso
analfabetismo político.
(C) O conceito de Educação politizada implica a
negação do modelo de civismo em voga na
sociedade atual.
(D) A ideia de justiça social deve ter como corolário a
noção de que a felicidade de um é a felicidade de
todos.
(E) A equivalência entre bem público e sociedade é
um dos pontos de partida para o sucesso da
educação pública.
QUESTÃO 8
Com relação à estruturação do texto e dos parágrafos,
analise as afirmativas a seguir:
I. O primeiro parágrafo introduz o tema,
situando historicamente a origem da corrupção
no Brasil.
II. O terceiro parágrafo opõe a capacidade de
criticar o outro à incapacidade de observar a
própria forma de agir.
III. Do quinto parágrafo deduz-se que uma
educação politizada ensina que os fins não
justificam os meios.
Assinale:
(A) se somente a afirmativa I estiver correta.
(B) se somente a afirmativa II estiver correta.
(C) se somente a afirmativa III estiver correta.
(D) se somente as afirmativas II e III estiverem
corretas.
(E) se todas as afirmativas estiverem corretas.
QUESTÃO 9
“Como poderemos superar essa incongruência?”
Assinale a alternativa que não tem significação
semelhante à do termo sublinhado:
(A) Inconveniência.
(B) Incompatibilidade.
(C) Indolência.
(D) Impropriedade.
(E) Inadequação.
QUESTÃO 10
A conjunção Contudo (L.9) conecta:
(A) a oração subordinada aditiva à oração principal:
sempre há alguém falando.
(B) os parágrafos um e dois, introduzindo valor de
consequência entre os fatos.
(C) os parágrafos um e dois, apresentando uma
conclusão acerca do que se disse.
(D) a oração subordinada subjetiva à principal: é
preciso notar.
(E) os parágrafos um e dois, informando contraste
entre as ideias expostas.
O jeitinho brasileiro e o homem cordial
1
5
10
15
20
25
30
35
O jeitinho caracteriza-se como ferramenta
típica de indivíduos de pouca influência social. Em
nada se relaciona com um sentimento
revolucionário, pois aqui não há o ânimo de se
mudar o status quo. O que se busca é obter um
rápido favor para si, às escondidas e sem chamar a
atenção; por isso, o jeitinho pode ser também
definido como ―molejo‖, ―jogo de cintura‖,
habilidade de se ―dar bem‖ em uma situação
―apertada‖.
Sérgio Buarque de Holanda, em O Homem
Cordial, fala sobre o brasileiro e uma característica
presente no seu modo de ser: a cordialidade.
Porém, cordial, ao contrário do que muitas pessoas
pensam, vem da palavra latina cor, cordis, que
significa coração. Portanto, o homem cordial não é
uma pessoa gentil, mas aquele que age movido pela
emoção no lugar da razão, não vê distinção entre o
privado e o público, detesta formalidades, põe de
lado a ética e a civilidade.
Em termos antropológicos, o jeitinho pode ser
atribuído a um suposto caráter emocional do
brasileiro, descrito como ―o homem cordial‖ pelo
antropólogo. No livro Raízes do Brasil, esse autor
afirma que o indivíduo brasileiro teria desenvolvido
uma histórica propensão à informalidade. Deve-se
isso ao fato de as instituições brasileiras terem sido
concebidas de forma coercitiva e unilateral, não
havendo diálogo entre governantes e governados,
mas apenas a imposição de uma lei e de uma ordem
consideradas artificiais, quando não inconvenientes
aos interesses das elites políticas e econômicas de
então. Daí a grande tendência fratricida observada
na época do Brasil Império, que é bem ilustrada
pelos episódios conhecidos como Guerra dos
IGEPP PORTUGUÊS — LUIS LADEIRA
10
40
45
50
55
Farrapos e Confederação do Equador.
Na vida cotidiana, tornava-se comum ignorar as
leis em favor das amizades. Desmoralizadas,
incapazes de se impor, as leis não tinham tanto
valor quanto, por exemplo, a palavra de um ―bom‖
amigo. Além disso, o fato de afastar as leis e seus
castigos típicos era uma prova de boa vontade e um
gesto de confiança, o que favorecia boas relações de
comércio e tráfico de influência. De acordo com
testemunhos de comerciantes holandeses, era
impossível fazer negócio com um brasileiro antes
de fazer amizade com ele. Um adágio da época
dizia que ―aos inimigos, as leis; aos amigos, tudo‖.
A informalidade era — e ainda é — uma forma de
se preservar o indivíduo.
Sérgio Buarque avisa, no entanto, que esta
―cordialidade‖ não deve ser entendida como caráter
pacífico. O brasileiro é capaz de guerrear e até
mesmo destruir; no entanto, suas razões animosas
serão sempre cordiais, ou seja, emocionais.
(In: www.wikipedia.org — com adaptações.) QUESTÃO 11
De acordo com o texto, é incorreto afirmar que:
(A) o jeitinho brasileiro é um comportamento típico
de indivíduos de pouca influência social e
avessos a formalidades.
(B) a instituição do jeitinho tem origem, segundo os
antropólogos, no comprovado caráter emocional
do brasileiro.
(C) a imposição de leis e de ordens tidas como
artificiais pode explicar a propensão do brasileiro
para driblar normas.
(D) na sociedade colonial, era comum observar que o
brasileiro tendia a valorizar a amizade em
detrimento da própria lei.
(E) o indivíduo que utiliza a ferramenta do jeitinho
age por emoção, ignorando os limites entre as
esferas pública e privada.
QUESTÃO 12
Com relação à estruturação do texto e dos parágrafos,
analise as afirmativas a seguir:
I. O segundo parágrafo introduz o tema,
discorrendo sobre a origem etimológica de
jeitinho.
II. O quarto parágrafo apresenta um fato que
busca explicar a disposição para a
informalidade nas relações comerciais.
III. O quinto parágrafo esclarece as diferenças
entre as noções de cordialidade e passividade,
que não são sinônimas.
Assinale:
(A) se somente a afirmativa I está correta.
(B) se somente a afirmativa II está correta.
(C) se somente a afirmativa III está correta.
(D) se somente as afirmativas II e III estão corretas.
(E) se todas as afirmativas estão corretas.
QUESTÃO 13
Deve-se isso ao fato de as instituições brasileiras terem
sido concebidas de forma coercitiva e unilateral.
Tem significação oposta à do termo sublinhado o
vocábulo:
(A) licenciosa.
(B) tirana.
(C) normativa.
(D) proibitiva.
(E) repressora.
Lei de Responsabilidade Fiscal, correlação entre
metas e riscos fiscais e o impacto dos déficits
públicos para as gerações futuras
1
5
10
15
20
É certo que o advento da Lei Complementar nº
101, de 4 de maio de 2000, representou um avanço
significativo nas relações entre o Estado fiscal e o
cidadão. Mais que isso, ao enfatizar a necessidade da
accountability, atribuiu caráter de essencialidade à
gestão das finanças públicas na conduta racional do
Estado moderno, reforçando a ideia de uma ética do
interesse público, voltada para o regramento fiscal
como meio para o melhor desempenho das funções
constitucionais do Estado. (…)
Percebe-se que os dois temas [a correlação
entre metas e riscos fiscais e o impacto dos déficits
públicos sobre as futuras gerações] se vinculam à
função prospectiva da noção de responsabilidade
fiscal. Enquanto o primeiro, normalmente, se
adstringe a situações futuras próximas, o segundo
vincula-se a situações futuras a longo prazo.
Portanto, além de a responsabilidade fiscal
cumprir o papel de proporcionar recursos de
imediato a fim de que o Estado realize as funções a
que constitucionalmente está vinculado, busca
controlar a situação orçamentária a fim de não
comprometer nem o futuro imediato, muito menos o
IGEPP PORTUGUÊS — LUIS LADEIRA
11
25
30
35
40
45
50
55
60
65
70
75
futuro mais distante.
O estudo das relações entre déficits fiscais e
seus efeitos nas gerações futuras, ao menos na
economia, não é novo. Economistas clássicos e
contemporâneos — dentre eles David Ricardo, Martin
Feldstein, James Buchanan e Keynes — trataram do
assunto sob perspectivas diferentes.
A reflexão jurídica sobre o assunto, contudo,
não se tem mostrado tão farta quanto aquela
encontrada na economia. Isso se deve, talvez, à
associação feita ao tema dos efeitos na utilização de
recursos entre gerações especificamente no campo
ambiental — fortalecida, principalmente, após a
década de 70, quando o movimento ambientalista
passou a formular um discurso jurídico mais sólido,
angariando adeptos das mais variadas formações, em
diversas partes do planeta.
Não pode, no entanto, a noção jurídica de
efeitos entre gerações se restringir à temática
ambientalista. Obviamente, ela possui contornos bem
definidos naquela área, uma vez que a própria ética
ambientalista se funda na distribuição de recursos
entre gerações, alicerce para a sobrevivência da
própria humanidade.
Mas a alocação de recursos públicos através
do equilíbrio orçamentário também se mostra
indispensável para que as gerações futuras não sejam
privadas de políticas públicas propostas para serem
minimamente efetivas, por falta de disponibilização
orçamentária suficiente. Isso leva a crer que um dos
objetivos da ideia de responsabilidade fiscal é
preservar a capacidade de financiamento de políticas
públicas para as futuras gerações.
Do mesmo modo que a ética ambientalista tem
enfatizado que os recursos ambientais não são
inesgotáveis, colocando-se a possibilidade de as
gerações presentes virem a exauri-los, privando as
futuras gerações da própria existência, não é menos
razoável pensar que os recursos públicos, também
exauríveis, podem vir a comprometer o
desenvolvimento humano e a existência de grupos
menos favorecidos, carentes da ação estatal que vise a
minorar as desigualdades.
Percebe-se que os gastos públicos
normalmente beneficiam muito mais as gerações
atuais que as gerações futuras. Entre outros fatores,
isso se deve ao fato de que as decisões políticas
tendem a visualizar um período estreito de tempo a
fim de se concretizarem. Natural — mas não ideal —
que assim seja. Tomadores de decisões políticas
frequentemente ficam adstritos ao período de seus
mandatos, uma vez que percebem que os efeitos de
suas decisões são sentidos mais a curto que a longo
80
85
90
95
100
105
110
115
120
125
prazo. Acrescente-se a isso o fato de que muitos
eleitores ignoram completamente a complexidade das
decisões, não percebendo ou relevando o limitado
escopo de tais decisões, não se prolongando no tempo
e beneficiando, primordialmente, as gerações atuais.
Pode-se argumentar, a contrário, com três
situações. A primeira delas é de que não se pode
estabelecer uma relação tão rígida no sentido de que
déficits públicos terão o efeito prolongado a ser
sentido pelas gerações futuras. Um exemplo disso
seria o famoso “erro de Malthus”. Ao afirmar que a
produção de alimentos cresce em progressão
aritmética, enquanto o aumento da população se dá
em progressão geométrica, Malthus não levou em
consideração a evolução tecnológica como
transformadora da capacidade de produção de
alimentos, pressupondo mesmo uma sociedade
estanque.
Nesse sentido, seria possível afirmar que
poderiam surgir novas formas de alocação de
recursos que eliminariam os déficits, não
necessariamente impondo ônus adicionais às
gerações futuras.
Esse raciocínio baseia-se, contudo, numa falsa
comparação. Primeiramente, porque a alocação de
novos recursos nada tem a ver, em princípio, com o
impacto tecnológico. O avanço deste não acarreta
necessariamente impacto positivo daquela.
Um segundo fator diz respeito ao argumento
de que a existência de déficits públicos pode
promover o desenvolvimento nacional, o que a
experiência brasileira não parece confirmar.
O terceiro argumento contra a ideia de que
déficits imporiam ônus às gerações futuras é o de que
não se sabe qual será a postura das futuras gerações
quanto aos bens materiais. Uma vez que uma postura
antimaterialista, já existente na contemporaneidade,
pode se disseminar para uma grande parte da
população dentro de um Estado, pode-se facilmente
defender que futuras gerações se preocuparão pouco
com a alocação de recursos públicos e sua utilização
através de políticas públicas, importando-se mais
com, v.g., valores espirituais, em detrimento dos
valores materiais.
A fraqueza dessa tese está no fato de ser ela,
meramente, uma suposição. Destarte, não há nenhum
dado seguro para afirmar que determinadas gerações
futuras serão antimaterialistas ou que se importarão
pouco com alocação de recursos destinados à
promoção de políticas públicas. Esquecer-se das
gerações futuras, tendo em vista a possibilidade de
estas se tornarem antimaterialistas, é um exercício de
mera futurologia, exercício irresponsável, instituidor
IGEPP PORTUGUÊS — LUIS LADEIRA
12
130
135
140
145
150
155
160
165
de compromissos que poderão ou não ser honrados
pelas gerações futuras.
Portanto, a necessidade de as gerações atuais
preservarem recursos para as gerações futuras
também se dá no que tange aos recursos públicos. A
Lei de Responsabilidade Fiscal, ao impor o
regramento das contas públicas, racionalizando-as,
compromete-se com esse objetivo, ao propugnar que
o controle orçamentário repercutirá a curto prazo —
incidindo sobre as gerações atuais — e a longo prazo
— resguardando a viabilidade fiscal do Estado para
as gerações futuras. (...)
A função da responsabilidade fiscal, como já
dito, é de mero meio. É o conceito instrumento
essencial para a atuação do Estado moderno. Não
mais se concebe uma atuação estatal efetiva sem uma
apurada reflexão sobre os gastos públicos, seus
limites e sua aplicação.
As alternativas atuais para a construção de
uma economia sólida e menos suscetível passam
necessariamente pelo controle de gastos públicos.
Alguns países desenvolvidos, tendo em vista essa
perspectiva, buscaram limitar gastos e muitas vezes
editaram leis para esse fim. É impossível, na
atualidade, visualizar qualquer Estado que se
proponha ao desenvolvimento sem um minucioso
projeto de controle de gastos públicos.
Imprescindível é, pois, que toda a reflexão
sobre a necessidade de um conceito de
responsabilidade fiscal não seja perdida da vista dos
administradores públicos, assim como dos cidadãos.
Somente assim, com a atuação de todos os atores
sociais, poder-se-á buscar o controle de gastos
públicos, visando a fomentar um crescimento
econômico sustentado e garantidor, principalmente,
dos direitos e garantias fundamentais dispostos na
Constituição Federal de 1988.
(Gilmar Ferreira Mendes, com adaptações. Disponível em: <http://www.mt.trf1.gov.br/judice/jud7/impacto.htm>)
QUESTÃO 14
Em relação à estrutura do texto, é correto afirmar que:
(A) a introdução vai do primeiro parágrafo até “muito
menos o futuro mais distante” (L.24).
(B) o parágrafo iniciado por “A reflexão jurídica
sobre o assunto” (L.31) pode prescindir da leitura
do parágrafo anterior.
(C) a conclusão do texto começa no parágrafo
iniciado por “Portanto, a necessidade de as
gerações atuais preservarem recursos” (L.132).
(D) o parágrafo iniciado por “Pode-se argumentar, a
contrário, com três situações” (L.82) se
desenvolve pela técnica de divisão.
(E) o parágrafo iniciado por “Do mesmo modo que a
ética ambientalista” (L.57) se desenvolve pela
técnica conjugada de definição e apoio em
argumento de autoridade.
QUESTÃO 15
Com base na leitura do texto, analise os itens a seguir:
I. Em “Portanto, a necessidade de as gerações atuais preservarem recursos para as gerações futuras também se dá no que tange aos recursos públicos” (L.132), o termo grifado colabora com a identificação de um pressuposto.
II. Em “Não mais se concebe uma atuação estatal efetiva sem uma apurada reflexão sobre os gastos públicos, seus limites e sua aplicação” (L.144), na identificação dos implícitos, observa-se um pressuposto.
III. Em “Enquanto o primeiro, normalmente, se adstringe a situações futuras próximas, o segundo vincula-se a situações futuras a longo prazo” (L.15), a leitura só se efetiva se o leitor identificar os subentendidos.
Assinale:
(A) se somente os itens II e III estiverem corretos.
(B) se somente os itens I e II estiverem corretos.
(C) se todos os itens estiverem corretos.
(D) se nenhum item estiver correto.
(E) se somente os itens I e III estiverem corretos.
QUESTÃO 16
As alternativas atuais para a construção de uma economia sólida e menos suscetível passam necessariamente pelo controle de gastos públicos. Alguns países desenvolvidos, tendo em vista essa perspectiva, buscaram limitar gastos e muitas vezes editaram leis para esse fim. É impossível, na atualidade, visualizar qualquer Estado que se proponha ao desenvolvimento sem um minucioso projeto de controle de gastos públicos. (L.148)
O segundo período do trecho acima, em relação ao primeiro, constitui uma:
(A) explicação.
(B) explicitação.
(C) exemplificação.
(D) contraposição.
(E) retificação.
top related