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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
INSTITUTO DE PESQUISAS PEDAGÓGICAS
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
A ARTETERAPIA E A ESCRITA
POR: SONIA MARIA DE QUEIROZ DI GIORGIO
ORIENTADOR: Prof. ANTONIO FERNANDO VIEIRA NEY
RIO DE JANEIRO
MARÇO/2003
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
INSTITUTO DE PESQUISAS PEDAGÓGICAS
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
A ARTETERAPIA E A ESCRITA
SONIA MARIA DE QUEIROZ DI GIORGIO
Trabalho monográfico apresentado como
requisito parcial para obtenção do Grau de
Especialista em Arteterapia em Educação e
Saúde.
RIO DE JANEIRO
MARÇO/2003
Este trabalho não seria possível sem a contribuição
de amigos, professores e alunos com os quais
convivi por este ano, enriquecendo a arte que é
ensinar.
Dedico este trabalho a aluna B.B. e a todos que colaboraram de
uma forma direta e indireta na construção de mais um
aprendizado em minha vida.
Acreditava na vida
Na alegria de ser
Nas coisas do coração
Nas mãos o muito fazer.
Gonzaguinha -“Com a Perna no mundo”
RESUMO
No início da vida, a criança age e fala ao mesmo tempo. A primeira educação é
manual, antes da verbal; é técnica, antes de ser simbólica.
Já na idade escolar, ela necessita grupar coisas, classificá-las, manuseá-las e
fabricá-las. É justamente aí que através das atividades de ARTETERAPIA
pode-se dar a oportunidade de aproveitar essa disposição natural e conjugá-la
com o trabalho mental.
A ARTETERAPIA se constituiu como aprendizado no aprimoramento da
expressão criadora, através de um número maior possível de atividades,
utilizando-se materiais diversos e conquistando liberdade de expressão
artística.
Todos os trabalhos foram voltados para preparação e aquisição da escrita, que
estava sendo proposto era exercitar através da arte as suas possibilidades e
capacidades para construir, apesar das suas limitações e deficiências.
As atividades foram realizadas individualmente e em grupo, no Instituto
Benjamin Constant, tentando-se obter da aluna maior integração escolar e
principalmente uma melhor coordenação motora fina e preensão, para que
pudesse obter a aquisição da escrita.
Os trabalhos criativos realizados não visavam qualquer qualidade artística
específica e sim a transformação do pensar e agir, resultando no objetivo
proposto inicial que era a obtenção da sua escrita.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ..........................................................................................8
2. A ARTETERAPIA COMO UM NOVO RECURSO PARA A AQUISIÇÃO
DA ESCRITA ................................................................................................. 10
3. APRENDIZAGEM DA ESCRITA COM ALUNOS DE BAIXA VISÃO ...... 13
3.1 Nistagmo ..................................................................................................14
4. GRAFISMO COMO DESENHO: CORPO VIVIDO ....................................16
5. O DESENVOLVIMENTO GRAFO-MOTOR DA CRIANÇA ...................... 19
5.1 Aos 10/12 Meses ..................................................................................... 19
5.2 Aos 15 Meses .......................................................................................... 19
5.3 Aos 20/21 Meses ..................................................................................... 19
5.4 Dos 20 aos 21 Meses .............................................................................. 20
5.5 De 1 a 2 Anos ...........................................................................................20
5.6 De 29 a 36 Meses .................................................................................... 21
5.7 Aos 3 Anos .............................................................................................. 21
5.8 A Partir do 3 Anos .................................................................................. 22
6. CONDIÇÕES ADEQUADAS PARA A ESCRITA: COORDENAÇÃO
MOTORA FINA E COORDENAÇÃO VISO-MOTORA ................................. 23
6.1 O Equilíbrio ..............................................................................................23
6.2 O Tônus ....................................................................................................24
6.3 Preensão ................................................................................................. 24
6.4 Movimento Lateralizado ......................................................................... 24
6.5 DISTÚRBIOS E DEFICIÊNCIAS NA COORDENAÇÃO MOTORA-
FINA ............................................................................................................... 25
6.5.1 Causas ............................................................................................... 25
6.5.2 Sinais .................................................................................................. 25
7. A EXPERIÊNCIA EMOCIONAL DA ESCRITA .........................................27
8. A ARTETERAPIA NA ESCOLA ............................................................. 29
9. O VALOR REAL DOS MATERIAIS ......................................................... 32
9.1 Desenho .................................................................................................. 32
9.2 Pintura .................................................................................................... 33
9.3 Sucata .................................................................................................... 33
9.4 Colagem ................................................................................................. 34
10. ARTETERAPIA PARA CONSTRUÇÃO DA ESCRITA COM ALUNOS
DE BAIXA VISÃO ......................................................................................... 35
10.1 Argila .................................................................................................... 35
10.2 Sucata .................................................................................................. 36
10.3 Desenhos ............................................................................................. 36
10.4 Pintura à Dedo .................................................................................... 37
10.5 Pintura com Cola Colorida ................................................................. 37
10.6 Pintura com Anelina ........................................................................... 37
10.7 Colagem ............................................................................................... 38
10.8 Livro com Textura .................................................................................38
10.9 Materiais Utilizados ............................................................................ 38
11. CONCLUSÃO ......................................................................................... 39
12. BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 41
13. ANEXOS ................................................................................................. 43
Anexo 1: Sucata ................................................................................. 44
Anexo 2: Desenhos ............................................................................ 46
Anexo 3: Pintura à Dedo .................................................................... 51
Anexo 4: Pintura com Cola Colorida ................................................. 53
Anexo 5: Pintura com Anelina e Colagem ......................................... 57
Anexo 6: Livro com Textura ................................................................ 59
Anexo 7: Materiais Utilizados ............................................................. 63
Anexo 8: Atividades extra-classe ....................................................... 65
Anexo 9: Controle de Estágio ............................................................. 69
Anexo 10: Para solo e orquestra ........................................................ 74
Anexo 11: Folha de avaliação ............................................................. 76
1. INTRODUÇÃO
Durante toda a infância o desenvolvimento da criança vai criando
novas formas de conduta e, estas formas constituem a maturidade do Sistema
Nervoso Central. Dentre os recursos que a criança utiliza para projetar-se
sobre o mundo exterior, manifestando idéias, sentimentos e impressões, os
recursos gráficos são de grande importância. A criança mal alcança a
capacidade motora fundamental de coordenação de movimentos, e já adquiri
gosto por criar linhas, riscar e rabiscar, ocorrendo inicialmente de maneira
espontânea.
O estudo da parte gráfica permite acompanhar a evolução do
indivíduo, possibilitando uma melhor compreensão de suas aquisições e a
elaboração destas, uma vez que a capacidade motriz constitui o ponto de
partida para verificar sua maturidade.
O trabalho a ser realizado, propõe-se a estudar os aspectos
fisiológico e psicomotor no que diz respeito a dificuldades na coordenação
motora e sua escrita (cinética da letra), abordando os aspectos evolutivos da
criança desde o reflexo de preensão até a prática da letra.
Outro aspecto que será abordado é a parte psicomotora, isto é, uma
ciência que tem como objetivo estudar o homem, através do seu corpo em
movimento nas relações com o mundo interno e externo.
Assim, é importante buscar uma nova ótica para a escrita, não
somente na visão da Educação, mas no enfoque psicomotor, tendo a
9
Arteterapia uma função muito importante para marcar a sua diferença,
propondo uma maior abrangência do estudo.
O estudo propõe então, um novo olhar para os alunos com
dificuldades na escrita, que até já conseguem ler alguma coisa, mas não
conseguem escrever, em razão da não integração e compreensão da escrita.
10
2. A ARTETERAPIA COMO UM NOVO RECURSO
PARA A AQUISIÇAO DA ESCRITA
O trabalho de Arteterapia foi realizado com B. B., uma aluna de 9
anos de idade, com uma baixa visão associada ao Nistagmo (olho trêmulo),
estava matriculada na Rede Estadual e com atendimentos de 3 vezes por
semana no Instituto Benjamin Constant, para aula de reforço na leitura e
escrita, pois a mesma não conseguia acompanhar sua turma anterior, já que
lia, porém não escrevia.
Tendo a criança comportamento social sem muita expressão, pois
se relacionava muito pouco com os seus colegas de sala, não estabelecendo
quase nenhum vínculo, embora o seu cognitivo fosse muito bem preservado,
sua parte motora fina apresentava-se comprometida, pois a sua preensão se
fazia de forma muito pouco desenvolvida para a sua faixa etária.
Visto como resultado final, a criança lia muito bem, mas não
estabelecia conecção do que lia e conhecia com a escrita.
O que a Arteterapia pôde contribuir no trabalho desenvolvido, foi de
beneficiar especialmente o desenvolvimento da organização, o qual possibilita
o autoconhecimento no sentido de edificação, integração e construção.
A descrição das experimentações práticas, revelará a possibilidade
de criação da modalidade expressiva, sem o compromisso de expressar algo
pedido, através das sensações gráficas motoras, que ao deixar fluir os seus
sentimentos e emoções, permitem que ela explore e ordene as instruções
recebidas.
11
A Arteterapia pode atuar junto à criança com dificuldades na
aprendizagem, no intuito de auxilia-las em seu processo natural de
desenvolvimento.
O objetivo da Arteterapia, na visão junguiana, é de apoiar e o de
gerar instrumentos apropriados, para que a energia psíquica forme símbolos
em variadas produções, o que ativa a comunicação entre o inconsciente e o
consciente. (PHILIPPINI, 2000 apud BOSCAINI, 1998).
Os materiais utilizados pela Arteterapia, permitem que o indivíduo
possa entrar em contato consigo mesmo e despertar e ativar a sua criatividade
desbloqueando seus sentimentos, facilitando assim um melhor entendimento
com as suas emoções.
Os trabalhos construídos pelo indivíduo vão permitindo que aos
poucos sejam revelados seus sentimentos, pensamentos e o modo de como
vivenciar e entender o mundo, fazendo com que o crescimento e
desenvolvimento emocional, mental e social se tornem próprio, e possam sofrer
intervenções precisas, se forem necessárias.
A aluna tinha duas aulas por semana, com duração de 50 minutos
cada, na companhia de quatro colegas com comprometimentos diversos. Elas
eram realizadas na sala do PREA (Programa Educacional Alternativo) e eram
administradas individual e coletivamente.
A aula sempre era direcionada a um programa que oferecesse a
oportunidade do contato com o mundo das artes nas suas várias linguagens,
contribuindo com uma maior experimentação e vivência e consequentemente
para um melhor desenvolvimento integral do aluno. Facilitando assim o
conhecimento e a expressão da subjetividade, articulando os principais
elementos da formação humana: a sensação, a percepção, o movimento, o
pensamento e a linguagem, a intuição e a afetividade.
12
Pôde-se também promover a conscientização da organização
individual das imagens táteis, visuais e cinestésicas, dando a oportunidade
assim de desenvolver a sua capacidade criativa.
A introdução das aulas sempre recorria a uma proposta que visa-se
a música, a expressão corporal e as artes plásticas como um todo. O objetivo
era, com a música, procurar sempre desenvolver as técnicas necessárias para
a prática do canto e da espontaneidade da brincadeira.
Na Expressão Corporal, a proposta era de utilizar gestos,
movimentos e passos de dança, para que chegasse a um maior conhecimento
e domínio do corpo, espaço e tempo, tendo sempre a emoção e sensação bem
presentes e atuantes.
Com as Artes Plásticas e a experimentação de materiais diversos,
buscou-se a possibilidade de expressão artística que se revela em traços,
rabiscos, texturas, formas e cores, construindo imagens visuais e táteis, que
davam a possibilidade do encontro e uma melhora da sua auto-estima, de
acordo com a sua produção.
Toda movimentação proporcionada pelos trabalhos artísticos, tinha
sempre como objetivo final a condição de coordenação viso-motora para que a
escrita de B. B. se fizesse presente e notória através dos exercícios, deixando
sempre fluir a sua vontade e criatividade, tornando-os eficazes e atuantes no
seu desenvolvimento grafo-motor.
13
3. APRENDIZAGEM DA ESCRITA COM ALUNOS DE BAIXA VISÃO
A pessoa com baixa-visão é aquela que possui um
comprometimento de seu funcionamento visual, onde sua aprendizagem torna-
se dificultosa, pois não consegue ver aquilo que consegue expressar
graficamente, deixando assim a criança sem grande motivação para continuar
seu processo de desenvolvimento.
A motivação pode ser um grande aliado da aprendizagem, estando
assim a criança recebendo informações para poder produzir cada vez mais.
Para o aluno de baixa-visão, as atividades para a aprendizagem da
escrita sofrem uma adaptação, para que através dos recursos de materiais
gráficos e de ampliação, ela possa dominar os exercícios e as informações,
tendo assim condições de aprender mais, melhorando e atingindo o nível de
expectativa de se auto-superar.
A aprendizagem fica voltada nas experiências vivenciadas, no
brincar, no prazer dos trabalhos expostos adaptados à baixa visão, onde sua
cumplicidade nas tarefas realizadas com o professor, deixa notória sua
motivação, estabelecendo confiança, auto-estima e força de vontade do aluno.
Com estes sentimentos aprendidos, vem também o reconhecimento
da potencialidade de cada um, a individualização e a socialização, na qual,
para aprender alguma coisa, precisa-se relacionar algo a alguém.
14
As duas partes envolvidas têm que estar traçando caminhos em que
é fundamental a percepção, a aceitação e o reconhecimento da sua deficiência.
Com isto, fazer por meio de estratégicas e métodos adequados, o percorrer
mais objetivo e adaptado.
O professor oferece vários exercícios educativos adaptados para a
baixa visão, fazendo com que a criança experimente e vivencie, para poder
criar, apesar de suas limitações, estabelecendo assim um entendimento com
relação ao seu trabalho, individualizando-o.
Na fase relativa a crescente informação e experimentação, sua
qualidade e o seu padrão de movimento e cognição, estarão se aprimorando
dentro de um padrão mais satisfatório e eficiente possível, para aquisição da
escrita.
A Arteterapia auxiliou com bastante êxito o processo de
aprendizagem da escrita da aluna B. B., possibilitando o seu acesso a escrita
sem precisar aguardar resultados mais expressivos do tratamento do seu
nistagmo.
3.1 Nistagmo
O termo Nistágmo é utilizado para descrever movimentos oculares
oscilatórios, rítmicos e repetitivos. Os movimentos oscilatórios, mas não
rítmicos, são denominados movimentos nistagmóides.
Não é incomum a associação componente rotacional e, embora
possa ser irregular, o Nistágmo quase sempre é conjugado e horizontal e
raramente vertical. Os movimentos oscilatórios podem, ainda, estar confinados
em um só olho, ou ser marcadamente assimétricos.
15
O Nistágmo pediátrico difere clinica e fisiopatologicamente do
Nistágmo iniciado na fase adulta. A apresentação inicial é simplificada pelo fato
de a maioria das crianças manifestá-lo como resultado de um distúrbio visual
primário na retina ou no nervo óptico
Mesmo na ausência de história de início neonatal e desde que
certas características estejam presentes, o diagnóstico do Nistágmo congênito
é relativamente simples. Há oscilações bilaterais, grosseiramente simétrica em
amplitude e freqüência. A intensidade aumenta no olhar lateral, batendo para a
direita na dextroversão e para a esquerda na levoversão. O Nistágmo
permanece horizontal em todas as posições do olhar (inclusive na direção
vertical).
A terapêutica para o Nistágmo tem-se mostrado limitada. No
passado, a busca pela melhor acuidade visual, passou pela ortoptica (oclusão
alternada) e por métodos pleópticos (pós imagens seguidas de apresentação
de objetos reais).
Atualmente o tratamento medicamentoso emprega substâncias
estimuladoras do sistema neurotransmissor inibitório ou depressoras do
sistema neurotransmissor excitatório.
A substituição dos óculos por lente de contato é outra alternativa
terapêutica, onde constataram melhora da acuidade visual nos pacientes assim
tratados. O tratamento cirúrgico do Nistágmo objetiva a melhoria da acuidade
visual.
16
4. O GRAFISMO COMO DESENHO: CORPO VIVIDO
A expressão gráfica nada mais é do que uma condição de
relacionar-se consigo e com o outro. Assim a criança vai dando maior
importância nos primeiros anos de vida, através da comunicação corporal e
gestual, sendo seus movimentos considerados de grande importância e
consequentemente, conseguindo desenhar espontaneamente e deixar registro
com o seu dedo em um vidro embaçado, tinta molhada, arranhando a parede
com um prego, ou seja, rabiscando sobre o papel.
Quando rabisca, a criança na realidade satisfaz a própria marca, ao
deixar um traço, sinal da sua presença, uma expressão de si. Com isso
reforçando a sua própria identidade e auto-estima pelo que foi capaz de criar.
Com a formação da garatuja, vindo a ser o resultado de um ou mais
movimentos, se tornando um gesto gráfico que possui valor expressivo,
preexistente à linguagem verbal (BOSCAINI, 1998).
A garatuja – desenho é uma linguagem não falada (WILDLOCHER
apud BOSCAINI, 1998).
Para Wallon H. (1963), a garatuja e o desenho são uma simples
conseqüência do gesto. É o traço deixado na trajetória do gesto sobre uma
superfície capaz de registrá-lo.
A criança se diverte muito em ver o movimento da sua mão, do seu
corpo dando rabiscos, traços coloridos em que ela pode ter total domínio.
17
O material gráfico também tem grande importância no prazer do seu
desenho.
O interesse e o deslumbramento que a criança obtém através dos
seus rabiscos já vem a partir de 9/10 meses, o Signo Gráfico permanece por
um tempo indefinido diante de seus olhos, afirmando-se como um produto
permanente, um resultado estável, um verdadeiro traçado (NAVILLE, 1950
apud BOSCAINI, 1998).
A garatuja não é apenas um ato motor, e sim algo que registra
ligações entre o movimento e o traço, entre o movimento e o espaço, dando
uma perspectiva de um envolvimento emocional com aquilo que se produz e
que fica registrado através não só do seu corpo, mas também pela sua vontade
de fazer e marcar.
O traço, o desenho ou qualquer que seja a forma de se expressar,
resulta em uma construção concreta e de uma vontade para exprimir-se.
Por isso cada resultado do seu desenho é único e sempre diferente,
dando um significado que nunca é generalizado, mas sim individual.
A interpretação então é sempre a mais difícil das avaliações.
Quaknin (1986 apud BOSCAINI, 1998), um autor chinês, a tal propósito é
brilhante.
“Um sentido não está jamais onde se faz ver
Um sentido dado é, a primeira vista, sem sentido
Um sentido tematizado é morto” (QUAKNIN, 1986).
A criança que através dos seus desenhos deixa suas marcas poderá
revelar muitas coisas de si: O seu estado emocional, o seu sentimento naquele
18
momento (através da sua fala também), estabelecendo relações, necessidades
e criatividades.
O desenho infantil com todas as suas configurações é uma alta
contribuição para a compreensão da personalidade global da criança, mas
sendo sempre que necessário, obter o verdadeiro significado através do que
ele representa para a mesma.
A compreensão dos desenhos infantis se torna muito difícil, por isso
é preciso que o arteterapeuta tenha ciência de que é necessária uma bagagem
maior para a sua formação.
O movimento que parece banal é o resultado de emoções e
sensações tanto estero quanto enteroceptivas do portador.
O gesto gráfico é o registro no “papel” da personalidade de cada um,
é o traço próprio da identidade, isto é, suas emoções, sentimentos e
representações, sejam primárias ou secundárias.
A atividade gráfica favorece a maneira de traduzir o pensamento em
símbolos, mostrando assim a sensação e emoção em traços, desenvolvendo
consequentemente o pensamento, a evolução do mesmo e a organização da
parte motora-gráfica.
19
5. O DESENVOLVIMENTO GRAFO-MOTOR DA CRIANÇA
Quando a criança está estimulada com um bom desenvolvimento da
sua motricidade geral, a organização do seu movimento gráfico ocorre de
acordo com as suas vivências corporais. Todas as suas aquisições de
representações gráficas estão em estreita relação com o seu movimento.
5.1 Aos 10/12 Meses
Quando a criança tem um lápis nas mãos, ela executa os primeiros
atos gráficos, agitando ou batendo bruscamente, faz pontos, vírgulas, buracos
nas folhas até chegar a realizar garatujas.
5.2 Aos 15 Meses
• Rotação braço/ombro;
• Garatujas verticais;
• Varreduras.
5.3 Aos 20/21 Meses
• Garatujas horizontais e oblíquas;
• Cruzamento dos gestos/rotação do punho.
Todos esses traçados ou segmentos são a conseqüência da
projeção sobre a folha dos movimentos realizados que, por sua tipologia, são
também chamados de movimentos de varredura, limpeza.
20
Esses traçados registram sobre a folha graças a dois tipos de
movimentos:
1. Braço que se distância do corpo;
2. Braço que retorna em direção ao corpo, criando um traçado com
um ponto de retorno em cada extremidade.
5.4 Dos 20 aos 21 Meses
• garatujas circulares;
• linhas e linhas engrossadas;
• curvas e duplas curvas (na forma de pêra e feijão), pelos quais
os pontos de retorno anulam-se;
• elipses e traçados circulares.
Fig. 1
5.5 De 1 a 2 Anos
Já há um início entre o tônus e o movimento, entre a postura e o
movimento.
A função tônica está sempre presente no movimento gráfico,
fazendo com que a qualidade do gesto interfira no grafismo.
21
As sincenecias (são exemplo da má distribuição tônica, na
globalidade do gesto corporal).
Acontece a rotação da mão/punho e translação braço/ombro
denominando cicloíde.
Fig. 2
5.6 De 29 a 36 Meses
Rotação mão punho mais a rotação braço/ombro têm a evolução
gráfica denominada de traçados circulares, Epiciclóides, Hipociclóides.
Fig.3
5.7 Aos 3 Anos
Já se observa a evolução do traçado quando se realizou com a
epiciclóide, que é um conjunto de círculos agrupados sob a forma de coroa ou
rosário.
Este traçado registra a combinação de dois movimentos circulares
ou de rotação:
22
• Rotação da mão em torno do pulso;
• Rotação do braço em torno do ombro.
Fig. 4
5.8 A Partir dos 3 Anos
Híbridos e arabescos já surgem como figuras mais complexas,
conseguindo assim que qualquer criança tenha um desenvolvimento maior na
capacidade motora fina, formatando em movimento contínuo a curvatura
produzida nos dois sentidos opostos.
Fig. 5
Com esta evolução motora, é bom lembrar, todos estes variados
traços gráficos surgem mediante a Maturação da capacidade neuromotora da
criança obedecendo o critério das leis céfalo-caudal e próximo-distal do
sistema nervoso.
23
6. CONDIÇÕES ADEQUADAS PARA A ESCRITA: COORDENAÇÃO
MOTORA FINA E COORDENAÇÃO VISO-MOTORA
É o poder de controlar os pequenos músculos para a execução de
tarefas como: recorte, colagem e encaixe.
A coordenação viso-motora é definida como a capacidade de
coordenar os movimentos em relação ao alvo visual, e a coordenação entre a
visão e o tato.
Como exemplo bem refinado da coordenação viso-manual citamos a
escrita, todos os exercícios que envolvem atividades para o desenvolvimento
da coordenação dos pequenos músculos, a qual virá preparando a criança para
a escrita.
6.1 O Equilíbrio
Ao escrever, estar-se-á tendo formações corporais em que o
equilíbrio tem uma base fundamental para que a atividade em si vá se
evoluindo.
O controle tônico-postural e o controle-tônico motor do braço,
precisa estar com uma relação de completa sintonia, podendo só assim
estabelecer o ponto de apoio para aquisição da escrita.
24
O braço constitui um componente importante, pois escreve com um
apoio móvel e dinâmico, fazendo com que se organize continuamente em um
deslocamento linear da esquerda para a direita e do alto para baixo.
6.2 O Tônus
É um momento de tensão ativa e involuntária do músculo, no qual
permite manter a postura ereta em conjunto com o equilíbrio e com isso a
postura ideal para o controle do corpo-braço-mão.
O tônus é modificado através da nossa idade e está relacionado com
a aquisição da capacidade, facilitando assim encontrar o real apoio do braço
para um futuro aprendizado com relação a escrita.
Considera-se também a parte emocional do indivíduo como sendo
parte integrante do tônus corporal.
6.3 Preensão
É quando a regulação tônica se faz satisfatória, implicando em uma
correta preensão adaptada as necessidades da escrita.
A criança aprende a pegar o lápis, na qual continua a fazer um
movimento de pinça (polegar e indicador), mais a face lateral interna do dedo
médio, enquanto os outros dois dedos servem somente de apoio.
6.4 Movimento Lateralizado
A escrita é um movimento voluntário, que se faz necessário
aprender diversos esquemas motores. Quando os mesmos são vivenciados e
interiorizados, a escrita irá surgir, sem que a criança pense na seqüência dos
mesmos.
25
Qualquer dificuldade no seu desenvolvimento físico, emocional e
social acarretará num comprometimento na sua escrita.
O exercício da escrita deve permitir a realização de traços que vão
da esquerda para a direita e também uma seqüência de linhas paralelas à
margem superior da folha. Isto só ocorrerá se houver uma boa dominância
lateral, conhecimento de organização espaço-temporal e uma auto integração
do esquema corporal.
6.5 Distúrbios e Deficiências na Coordenação Motora-Fina
6.5.1 Causas
Distúrbios devido a atrasos neuromotores, como por exemplo,
sensibilidade do cerebelo e funcionais (atenção/memória), debilidade
intelectual e dificuldades psicológicas (insegurança, ansiedade, relacionais e
etc.
6.5.2 Sinais
Ü Sincenesias: movimentos involuntários e muitas vezes
inconscientes que produzem outros movimentos geral/voluntários
e conscientes;
Ü Paratonias: perturbação do tônus muscular (dificuldade de
relaxamento voluntário);
Ü Coordenação viso-motoras debilitadas;
Ü Rigidez e tensão nos dedos;
Ü Dificuldade no manejo de objetos escolares (lápis/apontador);
26
Ü Dificuldade de afinamento da atividade gráfica, escrita;
Ü Dificuldade no freio-motor: colorir, recortar e picar;
Ü Problemas no controle motor ocular.
27
7. A EXPERIÊNCIA EMOCIONAL DA ESCRITA
Em todo processo de aprendizagem da leitura, a escrita fica como
uma figura de fundo. Sempre registrada com as condições necessárias de
decifrar os símbolos e signos, a escrita surgirá à medida do conhecimento da
leitura.
Em caso do aluno apresentar comprometimentos neurológicos e
fisiológicos, esta aquisição se tornará um pouco limitada.
A partir daí, o comportamento fica comprometido e a professora terá
que observar para atuar na precisão dos exercícios, desenvolvendo primeiro, a
adaptabilidade de enfrentar a dificuldade apresentada.
A auto-estima do aluno se modifica quando percebe que aprendeu
ou não alguma coisa. Todo ser humano sabe quando está aprendendo algo ou
não. Ter a consciência de que a aquisição da aprendizagem muda sua auto-
estima, onde tem uma maior evidência na sua postura corporal e interesse pelo
trabalho em si.
É algo que se realiza no plano concreto, na evidenciação, como da
escrita e da leitura.
Como então realizar transformações na maneira do aluno vivenciar
tais situações, de maneira a se auto conhecer?
Como mudar a experiência da angústia em ler e não escrever?
28
Como mudar a experiência emocional negativa da escrita e
conseguir dar novo sentido?
A questão principal foi criar condições para que a aluna emergisse
com outro significado à sua conquista gráfico motora, ou seja, há de se quebrar
a condição de produção e resultado final, o que lhe dava sempre, mesmo que
inconsciente, um desconforto total.
A Arteterapia, pode propiciar experiências diferenciadas para o
aprendizado da escrita., onde a parte emocional possibilita a diminuição do
sentimento de incapacidade de escrever e gerando com isso frustrações.
A escrita passa a ser o registro por escrito do seu aprendizado,
interagindo consigo mesmo, com o outro e com o mundo. O trabalho envolve
tanto o plano emocional da aprendizagem, relacional e também a parte motora.
29
8. A ARTETERAPIA NA ESCOLA
As artes plásticas devem colaborar no aprendizado da criança. A
escola deverá manter uma condição agradável nas atividades artísticas,
fazendo com que a imaginação e o poder de criação estimulem sua
continuidade, estabelecendo assim mecanismos motrizes e de pensamento,
estabelecendo assim a sensação de “construção e prazer” nas crianças que
conseguem se expressar e produzir, sensação essa que o professor terá que
manter através de uma orientação capaz.
As atividades plásticas e artísticas na escola visam oferecer a
disciplina da atenção, por trabalhar com várias formas e materiais, a
comparação de grandezas no sentido das proporções – relações espaciais,
conhecimento do efeito dos materiais e também das cores empregadas.
Quando a escola oferece a capacidade de criar, está constituindo
um mecanismo de expressão, porque exterioriza um pensamento, assinalando-
lhes valores e ideais, onde a arte como meio de expressão comum aos
indivíduos, demonstrou ser o grande veículo para adquirir a capacidade de
síntese e aptidão em expressar graficamente a vida e o movimento.
Criar vai desde “expressar o que se tem dentro” (MATISSE apud
SOUZA, 1973), fazendo com que um indivíduo produza um trabalho individual
com registros importantes para o seu meio.
A criança já tem o dom natural de ser criativa de acordo com o meio
que a cerca. A escola pode vir a tolher ou destruir sua criatividade em vez de
desenvolve-la. A escola que impõem padrões rígidos, exige técnicas
30
ultrapassadas, adota uma conduta extremamente rígida ou modelos para
serem comparados ou copiados, poderá estar eliminando por completo a
capacidade criativa do seu aluno.
Pois aquela que oferece condições para que alunos possam
conhecer o novo e moderno, desenvolvendo principalmente a percepção
sensorial, sensibilidade, habilidade manual, curiosidade, pesquisa e também a
coragem de expressar para que o outro lhe conheça um pouco mais.
Com relação as dificuldades encontradas nos alunos especiais, é
preciso observar e avaliar a criança de acordo com seus padrões motores,
visuais, cognitivos e comportamentais.
Diante de suas limitações, procura-se ajudar no seu
desenvolvimento e evolução, adaptando e estabelecendo padrões de
conhecimentos para que seja gerado um sentimento de criação e de auto-
valorização.
Nas atividades pedagógicas desenvolvidas, tudo se destina para a
aquisição de conhecimentos, no entanto, sabe-se que só um simples
conhecimento, não é suficiente para tornar os indivíduos felizes e satisfeitos.
Na educação vem se dando prioridade ao acúmulo de
conhecimentos e não ao desenvolvimento expressivo e artístico da criança,
onde as mesmas sentem necessidades para se adaptarem adequadamente e
principalmente se mostrarem ao mundo em que vivem.
As atividades artísticas iniciadas nos primeiros anos de vida, podem
revelar uma grande diferença entre as crianças adaptadas e as que não
conseguem expressar suas necessidades e sentimentos, gerando assim
dificuldades que encontram com relação a seu próprio ambiente e consigo
mesma.
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A arte para as crianças, pode-se constituir num equilíbrio necessário
entre o intelecto e emocional, tornando-se como um grande apoio, ainda que
inconsciente, lhe permitindo externar seus sentimentos, quer sejam de
felicidade ou tristeza.
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9. O VALOR REAL DOS MATERIAIS
O estudo detalhado dos materiais é muito importante na Arteterapia.
Cada um com a sua particularidade, pois revela propriedades que afloram
emoções e sentimentos de maneiras diversificadas a cada aluno.
É necessário que o profissional analise o valor terapêutico do
material para cada aluno, pois podem ser assimilados de maneira mais rápida
e em particular nos conflitos internos e inconscientes do aluno.
9.1 Desenho
Podem ser utilizados o giz de cera, pastel à óleo, pastel seco, lápis
de cor, hidrocor, carvão e lápis grafite (3B e 6B para baixa-visão), conseguindo
atingir o mesmo objetivo.
No desenho, a coordenação motora fina é bastante utilizada,
portanto o controle é essencial, não só o motor, mas principalmente o
intelectual. A atenção, a concentração e o contato com a realidade são
explorados.
No desenho livre, os alunos entram em contato com a sua realidade
interna, deixando externar os conteúdos que foram assimilados.
Nos desenhos dirigidos, aqueles feitos à partir de um tema,
adequando a sua necessidade, os alunos conseguem entrar em contato com
seus sentimentos, mobilizando emoções bloqueadas que precisam vir à tona.
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Indicado para alunos com muita timidez e depressão, com tônus vital baixo
(hipotônia).
Quando preferimos mais os desenhos monocromáticos (de uma só
cor) trabalhamos com emoções superficiais, e quando utilizamos o colorido
lidamos com os sentimentos mais profundos.
Diante da realização do desenho, devemos analisar tão somente a
interpretação do aluno quanto ao trabalho apresentado.
9.2 Pintura
Quando a pintura flui, fluem aí, emoções e sentimentos. O plano
afetivo emocional está mais abrangente, pois as pinceladas lembram o fluxo
respiratório, a vida. As tintas geralmente utilizadas são: guache, aquarela,
anilina, óleo, acrílica e nanquim. A tinta guache exige maior controle de
movimentos, libera emoções e incentiva a imaginação.
A aquarela, devido a sua leveza, e uso obrigatório da água, mobiliza
ainda mais o lado afetivo, dissolvendo sentimentos. Indicada para alunos muito
racionais e com dificuldade afetiva. Contra indicada para deprimidos.
Através da pintura, trabalha-se a estruturação e a área afetiva
emocional, chegando-se ao equilíbrio das emoções. E quanto mais for diluída a
tinta mais emocional é o resultado.
9.3 Sucata
O trabalho com a sucata estimula a reconstrução, a criatividade, as
percepções, a atenção, a construção, a transformação, o concreto e a
mudança.
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É um material transformador, pois dá-se uma nova utilidade ao que
antes era lixo. É a mudança através do concreto, é a busca de possibilidade de
transformação e da reciclagem. Podendo-se dar continuidade ao material de
uma outra forma de utilização.
Para poder aliá-lo a pintura, a colagem e a modelagem é uma
atividade rica e complexa, que mobiliza o conteúdo interno, e transformando e
reaproveitando-o de forma benéfica. O profissional deve ficar atento, para que
nenhum detalhe escape, pois é um trabalho de muita sutileza.
Materiais diversos devem ser utilizados de forma livre ou dirigida
(plásticos, vidros, papéis, madeira, tecidos).
9.4 Colagem
É uma atividade estruturante que pode ser realizada com materiais
diversos: recortes de revistas, jornais, pedaços de papéis coloridos, barbante,
serragem, cortiça, purpurina e tecidos.
Nesta atividade o aluno busca nos materiais, pensamentos que
possam expressar e comunicar seus sentimentos e idéias em relação ao tema
dado. O planejamento, direcionamento e a atenção do aluno, ajuda na
construção de seus ideais de vida.
Conclui-se então que tal atividade permite que o aluno planeje, fique
atento, concentrado e organizado.
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10. ARTETERAPIA PARA CONSTRUÇÃO DA ESCRITA COM ALUNOS DE
BAIXA VISÃO
O início do trabalho constituiu no processo de desibinição,
expressão corporal, relaxamento e consciência de se fazer um processo de
individualização, trazendo imagens e expressões simbólicas para uma atuação
de vida mais consciente.
A música e o brincar constituíram em presenças marcantes nos
trabalhos que seriam apresentados, para que depois pudesse-se manusear os
materiais plásticos necessários com a devida energia e fluidez.
Todos os trabalhos abaixo relacionados, enfocavam a adequação
para alunos de baixa visão, pois continham sons, relevos, odores, contraste de
cores e texturas.
Os procedimentos pedagógicos utilizados na realização dos
trabalhos, continham objetivo de obtenção de desenvolvimento motor fino mais
adequado à escrita.
10.1 Argila
Material: Argila e Fitas cassete com diversos sons: sino, carro, trem,
passarinho, salto alto, buzina, campainha, etc.
Objetivo: Ao ouvir, tentar decifrar o som percebido.
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O trabalho da Argila faz exercer uma função de estruturadora e foi
usada para dar formas concretas ao trabalho musical anterior, onde cada aluno
escolhia o som/objeto e tentava reproduzi-lo no barro.
Música: Alusivas a festividade do dia de Páscoa.
Argila: Construção de ovos de páscoa com a argila e também com
jornal amassado e forrado depois com papel celofane e fitas.
10.2 Sucata
Material: Papelão, Fios de arame (pão de forma), Caneta hidrocor,
Prato de isopor, Tampinhas de refrigerantes, Papel Camurça, Bombril e Lixa-
tecido (Veja Anexo 1)
Objetivo: Construção de material que propiciasse o trabalho de
coordenação motora fina para melhor desempenho na escrita, sensibilização
do tato na percepção dos diferentes materiais na forração das tampinhas.
10.3 Desenhos
Material: Barbante, Folha A4, Cola, Lápis 6 B, Lápis 3 B, Lápis Peel-
off china marker, Folha A4 (Veja Anexo 2).
Objetivo: Através da criatividade do aluno, o desenho se faz
presente como a melhor forma de representação da imagem, com o desejo de
apresentar algo conclusivo do trabalho podendo valorizar não só a sua forma,
mas sim o seu significado.
Desenhos feitos a partir do barbante, em vários tamanhos, texturas e
também colocados na folha A4. Realizando vários desenhos que logo após
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serão colados no papel, para depois serem rabiscados com lápis cera,
ressaltando a figura elaborada.
No trabalho de baixa visão, o tato é um exercício sensorial e de
grande notoriedade e precisão.
Desenvolver a construção do grafismo com vários tipos de grafites
bem fortes (adaptados à baixa visão) – Percepção de vários materiais
utilizados – Exercícios de coordenação viso-motora e preensão.
10.4 Pintura à Dedo
Material: Tinta guache, Cartolina, Papelão, Folha A4 (Veja Anexo 3)
Objetivo: Oferecer o contato com a criação, fazer a montagem para
uma expressão libertadora, criativa, deixando fluir seus sentimentos e
emoções.
10.5 Pintura com Cola Colorida
Material: Cola colorida e papel A4 (Veja Anexo 4)
Objetivo: Conscientização do seu esquema corporal; Lateralidade;
Percepção e sensação cinestésica; Exercício sensorial (tato).
10.6 Pintura com Anelina
Material: Folha A4 em formato de sino; Esponja; Anelina vermelha;
Forminha de doces (colagem) (Veja Anexo 5)
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Objetivo: Trabalho com movimento de preensão (pinça); Exercício
de grafismo: Preparatório para a escrita na folha; Espaço real do desenho;
Coordenação motora fina
10.7 Colagem
Material: Cartolina verde e amarela; Papel laminado colorido (sino e bolas);
Barbante borracha EVA e cola (Veja Anexo 5).
Objetivo: Desenvolver com maior destreza a parte motora das mãos e dedos:
Coordenação viso-motora; Concentração e atenção
10.8 Livros com Textura
Material: Tecido de algodão cru; Materiais reciclados: borracha
EVA, folha de alumínio, feltro, velcro, camurça e papelão (Veja Anexo 6)
Objetivo: Sensibilizar e experimentar através do toque das mãos;
Atividade da vida diária (AVD).
10.9 Materiais Utilizados
São materiais utilizados no trabalho de arteterapia com aluna de
baixa visão no Instituto Benjamin Constant (Veja Anexo 7), tendo como
objetivo: exercícios da pré escrita e do grafismo, fazendo com que a criança
atinja o domínio do gesto e dos materiais. Também a percepção e a
compreensão da imagem reproduzida.
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11. CONCLUSÃO
Com o trabalho da ARTETERAPIA com crianças de baixa visão e
dificuldades de aprendizagem, especialmente a aluna B.B. na qual foi a fonte
maior do estudo, conclui-se que através das observações e atuações nas
atividades relatadas, a Arte pode intervir e contribuir como um grande
componente no desenvolvimento grafo-motor.
A cada atividade tornou-se notório o seu interesse e curiosidade no
que iríamos fazer, obtendo assim aquisições das habilidades corporais em
prioridade viso motora, a preensão, aquisição da consciência corporal,
cognitiva e principalmente a construção concreta da realização dos seus
trabalhos.
O que foi desenvolvido objetivou sempre agir em torno das
solicitações e necessidades da aluna, na qual pudéssemos adaptá-las e
complementá-las, sempre tendo um objetivo a ser alcançado.
Com a construção do conhecimento, onde a Arteterapia foi a
responsável deste depoimento, pudemos perceber mais profundamente as
nossas necessidades e solicitações comportamentais (timidez/raiva) – sociais,
cognitivas e afetivas.
Concebendo assim, uma maior compreensão de certas atitudes e
limites da aluna, sendo ela um ser humano integral e sempre especial,
deficiente ou não.
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A consideração maior desta avaliação, é que pode-se verificar que a
Arteterapia se fez valer de um sentido real de transformações e mudanças de
atitudes e comportamentos.
Sempre no decorrer das atividades, a aluna se referia aos seus
trabalhos com grande prazer e curiosidade, querendo saber como ficariam: “Vai
ficar lindo, tia Sonia? Está muito lindo...”
Pois estando tudo sempre no plano real e concreto, que apesar da
sua baixa visão ela podia perceber, sentir e até fazer uma avaliação,
conquistando assim uma melhora na auto-estima.
O prazer e a curiosidade em executar os movimentos sempre
trouxeram novos aprendizados corporais (grafo–motora / postural / equilíbrio /
preensão), sem perceber qual seria o objetivo final.
O percurso realizado através da Arte para poder alcançar a escrita,
foi de grande significado, onde a aluna pode percorrer um novo caminho,
desbloqueando as emoções, fortalecendo sua movimentação manual e
estabelecendo consigo e também com os colegas a sua interação.
Conclui-se diante das condições de melhoria nos conhecimentos do
novo e criativo na Arteterapia, que esta fornece ferramentas aos alunos, que
poderão utiliza-las como meio de transformação de vida.
A aluna B.B. já começa a participar integralmente na relação com
seus colegas de colégio e das redondezas, criando um círculo maior de
amizades. Já consegue alimentar-se segurando com suas próprias mãos o
talher e consequentemente a escrita já estará no processo de conquista em
sua vida, para uma comunicação maior consigo e com os outros.
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12. BIBLIOGRAFIA
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Vozes, 1999.
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1998.
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Lovise, 1998.
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nistágmo. In: NeuroPsicoNews, mai. 2002.
DROUET, Ruth Caribé da Rocha. Distúrbios da aprendizagem. São Paulo:
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LOWENFELD, Viktor. A criança e sua arte. São Paulo: Mestre Jou, 1954.
SOUZA, Alcídio M. de. Artes plásticas na escola. 4 ed. Rio de Janeiro: Bloch,
1973.
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VAYER, Pierre. O diálogo corporal. [s.l.]: Manole, 1989.
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13. ANEXOS
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