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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO DE JANEIRO
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA
MONOGRAFIA DE FINAL DE CURSO
SITES DE COMPRA COLETIVA: ANÁLISE MICROFUNDAMENTADA
Luiz Gustavo Campos Moza
Matrícula 0810709
Vinícius Carrasco
Orientador
Rio de Janeiro
Julho de 2011
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO DE JANEIRO
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA
MONOGRAFIA DE FINAL DE CURSO
SITES DE COMPRA COLETIVA: ANÁLISE MICROFUNDAMENTADA
Luiz Gustavo Campos Moza
Matrícula 0810709
Orientador:Vinicius Carrasco
Rio de Janeiro,Julho de 2011
"Declaro que o presente trabalho é de minha autoria e que não recorri para realizá-lo, a nenhuma forma de ajuda externa, exceto quando autorizado pelo
professor tutor".
Assinatura:
2
"As opiniões expressas neste trabalho são de responsabilidade única e exclusiva do autor"
3
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Índice:
1 – Introdução...........................................................................................................5
2 - O Monopolista.....................................................................................................7
3 - Site de compras coletivas como instrumento de competição.........................12
4 - Cupons de bens não estocáveis..........................................................................18
5 - O site de compras coletivas como intermediário.............................................19
6 - Comportamento do consumidor diante de uma oferta de ocasião................23
7 - Projeções e tendências das compras coletivas no Brasil..................................25
8 – Conclusão...........................................................................................................27
9 - Referências Bibliográficas.................................................................................29
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1. Introdução
Esquemas de compra coletiva começaram a surgir nos Estados Unidos através
da televisão em meados da década de 80. Apesar do aparente sucesso no início,
acabaram perdendo fôlego por não conseguir competir com outras programações mais
apelativas. Estes jogos de interação entre firmas e consumidores só voltaram a aparecer
com o advento da massificação da internet entre 2000 e 2010 se estabelecendo no
mercado americano e europeu rapidamente. Tardiamente se estabeleceram em mercados
asiáticos mais desenvolvidos e finalmente, em meados de 2010 chegaram ao Brasil de
forma expressiva.
A necessidade de se estudar os motivos para o surgimento e o sucesso, para
muitos, impressionante, do mercado de compras coletivas no Brasil e no mundo é o que
motiva este trabalho que terá seu foco em uma visão analítica do mercado brasileiro e
suas especificidades.
A falta de referências bibliográficas sobre o tema se dá em função da rapidez
com que este tipo de intermediação se desenvolveu. O crescimento meteórico desta
modalidade provoca fascinação. Não é a toa que gigantes como Google e Facebook
estão de olho e estruturando produtos que possibilitem que estes arrematem uma fração
deste mercado promissor.
No Brasil, em menos de três anos, o mercado atingiu sua maturidade o que fica
claro nos números impressionantes do setor:
(i)1800 sites em funcionamento
(ii)35 cupons vendidos por minuto
(iii)1,5 milhões de cupons vendidos por mês
(iv) mais de um Bi de faturamento em 2011
Fonte: Exame
A interação entre a firma (que na maioria das vezes não opera em condições de
competição forte), o site (o intermediário) e os consumidores se dá através de um
problema bastante complexo de maximização de lucros sujeitos a restrições de mercado
e do próprio jogo de trocas proposto pelo sistema.
Como nos propusemos a explicar o mercado brasileiro de compras coletivas,
nos ativemos, neste trabalho, a aspectos que se limitam ao modelo de jogo consagrado
no Brasil, que se resume em (i) uma firma postar uma tabela de preços e quantidades
que reflete suas intenções de venda. Somado a isto (ii) temos uma restrição de que as
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transações não se realizam enquanto os agentes não postam seus compromissos de
compra que somados devem atingir uma das bandas de quantidades postadas
anteriormente pela firma. Temos também alguns aspectos que geram um “apelo” a mais
neste contexto como o (iii) uso de ofertas de ocasião (com timer observável) e a (iv)
possibilidade do consumidor observar online quantos agentes já compraram e quantos
ainda devem comprar para que a quantidade mínima seja atingida. Outro aspecto
importante neste jogo é que, geralmente, (vi) as ofertas não são anunciadas previamente
e não são passíveis de previsão racional (não seguem uma regra específica como, por
exemplo, promoções sazonais), e (vii) os sites, geralmente, tentam manter uma
diversidade de produtos bastante grande para reiterar este efeito surpresa das
promoções, já que se não o fizesse, os agentes poderiam inferir que a qualquer momento
poderiam acessar o site e provavelmente teriam a sua disposição aquele mesmo produto
em promoção que geralmente é exposto.
É importante reiterar que os sites são, nada mais nada menos, que vitrines
bastante cobiçadas que possuem regras bastante rígidas que limitam a exposição de
produtos. Os executivos do site, nada mais fazem do que vender a possibilidade de uma
transação coletiva ótima e são pagos por isso como uma espécie de intermediário. Nossa
pretensão é estudar estas tais regras que tornam esta vitrine cobiçada.
A intenção é também tratar individualmente cada um dos três agentes e tentar
explicar sua escolha, cada vez mais freqüente, por esta modalidade de transação.
Tentaremos justificar através de modelos simples e evidências empíricas que esta será
cada vez mais usada e seu uso será, cada vez mais, alavancado pela massificação de
produtos eletrônicos que possibilitem o acesso a internet.
Existem poucos trabalhos que falem sobre o tema, já que o advento desta
modalidade de transação é recente. Sendo assim dividiremos nossa análise em aspectos
isolados que se referem a dimensões específicas das compras coletivas brasileiras além
de usar o arcabouço teórico para tentar justificar a existência deste mercado e suas
especificidades. Aspectos como:
(i) Vendas Online (Lojas Online) – Taxas de conversão de visitas em compras
(ii) Ofertas de Ocasião – Promoções como variável endógena do consumo
(iii) “Post Promotion Dip” – O efeito negativo de promoções anunciadas
(iv) Competição em duopólios com heterogeneidade de consumidores
São dimensões bastante importantes neste tema que foram abordadas pela
literatura acadêmica recente e serão tratadas no decorrer deste trabalho.
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Sites de compra coletiva se tornaram uma vitrine cobiçada exatamente por
gerar o sentimento ,mais do que justificado ,de que todas as ofertas postadas ali são
irresistíveis. Mas a máxima da economia criada por Milton Friedman ainda vigora.
“There is no free lunch!”
Por fim, este trabalho tem como pretensão, tentar justificar o comportamento
de um consumidor racional diante de uma oferta de ocasião através de um arcabouço
simples baseado em opções reais.
Por ora, devemos nos ater a uma questão que é latente e bastante forte neste
contexto de ofertas de ocasião. Por que os preços são tão baixos? Preços com até 80%
de desconto podem parecer, a priori, irracionais. Mas não são. As firmas não operam em
prejuízo na maioria das vezes e tem motivos muito claros para postar preços tão baixos.
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2. O Monopolista
Primeiramente tentaremos justificar, brevemente, porque usaremos o
arcabouço teórico consagrado pela literatura acadêmica de modelagem do problema de
um monopolista para ilustrar o comportamento de firmas que se utilizam da modalidade
de compras coletivas em seu dia a dia.
Seguimos este caminho por acreditarmos que os executivos destas firmas são
agentes racionais que maximizam seus lucros restritos a algumas especificidades de
seus respectivos mercados. Se realmente o fazem e operassem em um mercado
competitivo, seus preços seriam iguais aos seus custos marginais, como a literatura da
teoria da firma em concorrência perfeita nos ensina. Sendo assim seria irracional postar
mais de um preço para o mesmo bem, pois a estrutura competitiva acabaria por gerar
uma realização de prejuízo econômico por perda de competitividade.
A teoria do monopólio é bastante eficaz para modelar uma estrutura de
mercado em que falta competição. Sendo assim nos ativemos, basicamente, ao
questionamento do por que da realização desta economia dado que as firmas em questão
são monopolistas. Procedemos assim, inicialmente, por acreditar que o fazendo
estaríamos nos aproximando ao máximo da realidade. Mas, certamente, alguns efeitos
que podemos analisar usando o arcabouço teórico de monopólio se aplicam a
oligopólios ou a qualquer tipo de estrutura de competição fraca.
A teoria do monopólio nos mostra que, mesmo sendo um monopolista, o
melhor que a firma pode fazer é postar um único preço que será, racionalmente, igual ao
preço que igualaria sua receita marginal ao seu custo marginal. Então qual é a
motivação de um monopolista ao postar mais de um preço para diferentes níveis de
compromissos de compra postados pelos consumidores?
O monopolista tem em suas mãos, além do controle total da demanda por um
bem, a vantagem de poder exercer seu poder de mercado (markup) no intuito de
diferenciar seus preços através de barganha por não competir com ninguém. Só é
vantajoso para um monopolista postar mais de um preço se ele conseguir gerar uma
diferenciação de preços entre seus consumidores de tal forma que os que valorizem
mais aquele bem paguem mais e os que valorizem menos paguem menos, ou seja, fazer
cada consumidor pagar um preço mais próximo possível do seu valor de reserva daquele
bem.
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Temos um tipo de diferenciação de preços bastante freqüente em estruturas de
negociação coletiva online. A diferenciação de preços de segunda ordem. Esta se dá
quando a firma oferece dois bens ou serviços distintos em qualidades e em preços e
lança ao mercado de tal forma que os próprios consumidores se diferenciem acabando
por oferecer uma boa parcela de excedente do consumidor à firma.
Temos o caso claro dos bares, hotéis, academias e restaurantes que oferecem
promoções em horários que não são de pico. Quando o fazem desta forma, estão
cobrindo os custos de estarem abertos nestes horários de baixa freqüência, pois, apesar
de cobrar um preço bastante abaixo do normal, geralmente, o preço será maior do que o
custo marginal. Além do ganho na diferenciação de preços, estas firmas geram também
externalidades positivas aos seus consumidores já que diminuem a freqüência em
horários de pico, podendo, até mesmo, cobrar a mais por este serviço. Neste caso temos
uma clara diferenciação de preços de segunda ordem em que a firma consegue oferecer
o mesmo produto com uma qualidade menor (horários pouco flexíveis e que geram
utilidade menor) a um preço mais barato aos que tem valor de reserva mais baixo
capturando sua parte do excedente do consumidor sem deixar de vender o restante a
preço bastante próximo do de monopólio. Neste contexto, como a literatura nos mostra,
a firma tem incentivos a diminuir a qualidade do serviço ou do bem de tal forma a
pressionar o consumidor a escolher o mais caro e melhor (Será explicado melhor no
capítulo 5). Na prática é o que acontece. Produtos e serviços comprados seguindo estes
moldes geralmente são mais baratos e de pior qualidade do que o esperado.
Anand e Aron (2003) usando o modelo de monopólio, defendem que a firma
racionalmente escolheria uma modalidade de compras coletivas para escoar sua
produção caso se enquadrasse em um dos dois casos abaixo:
(i)Economias de escala somadas com a possibilidade de se produzir após a
realização dos compromissos de compra.
Quanto a economias de escala em uma troca em que se produz após a
realização da transação, Imagine um monopolista que pode produzir x unidades de um
bem em sua escala eficiente. Ele sendo monopolista e tendo poder de mercado
suficiente, poderá postar preços e quantidades de monopolista para as x-α unidades
iniciais e para as α unidades restantes, ele posta um preço mais baixo, se e somente se,
houver demanda antecipada for suficiente para que as x unidades do bem sejam
vendidas de forma a capturar o máximo de excedente dos α consumidores restantes e
operar em escala eficiente. Ele só conseguiria fazê-lo, pois é um monopolista e
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consegue gerar uma diferenciação de preços de primeira ordem pelo fato de ter poder de
mercado.
Mas existem outras circunstancias que justificam a adoção da estratégia de
compras coletivas que vão além da pura diferenciação de preços de primeira ordem ou a
simples e eficaz diferenciação de segunda ordem. Arrand Aron no mesmo trabalho
apontam uma outra motivação, bastante importante, para que o monopolista deixe de
postar um único preço e passe a postar uma tabela de preços e quantidades distintos.
(ii) Incerteza sobre a demanda quando as curvas de demanda possíveis se cortam
A indução e as evidências parecem estar a favor deles. Utilizemos, por
conseguinte, um exemplo que ilustre tal fenômeno. Temos o caso, por exemplo, de
empresas novas no mercado que não tem certeza sobre a adesão inicial de seu produto
ou da força de sua marca e se lançam ao mercado tentando se preservar quanto aos
riscos que estão incorrendo. Um exemplo claro da realização deste fenômeno é o das
redes de frozen yogurt que se instalaram nos centros urbanos brasileiros. As grandes
redes se utilizaram da modalidade de compras coletivas massivamente já que não
tinham como estimar sua demanda inicial por oferecer um produto novo no mercado.
Esta incerteza quanto à demanda gera incentivos a essas firmas para que postem suas
tabelas de preço e quantidades e esperem que os consumidores precifiquem seu produto
online.
Como podemos ver, estes tipos de oferta são bastante comuns e se justificam
puramente por um argumento simples de diferenciação de preços ou incerteza, não
significando que o monopolista é um agente “bonzinho” ou quer promover a sua marca
de forma irracional.
Mas e se a empresa opera em mercados onde há competição forte? Ela não tem
incentivos a ingressar neste tipo de transação? Nosso argumento é que se a empresa tem
um mínimo poder de mercado que seja, ela tem incentivos fortes a entrar neste mundo
de negociações coletivas, pois ela pode explorar de forma inteligente, além das
circunstâncias descritas a cima, instrumentos de competição fortes e o poder de uma
plataforma de vendas online que dará visibilidade e força a sua marca. Em suma,
Monopolistas, Oligopolistas e firmas em concorrência monopolística podem desfrutar
de um leque de oportunidades dada pelo seu “markup” usando os instrumentos que
negociações coletivas oferecem no mercado.
Em oligopólios e concorrências monopolísticas temos que colocar na balança,
além da economia pura, aspectos muito mais subjetivos e que acabam se realizando na
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força das marcas e na competição na dimensão do marketing. Estes outros motivos
podem ser medidos e observados através de testes econométricos realizados e
difundidos na literatura acadêmica sobre o tema além de analisados através de modelos
de competição em duopólios ou concorrência monopolística.
Nas linhas seguintes pretendo argumentar a razão do poder deste mercado e da
rapidez com que este tipo de transação se espalhou no país e tentar demonstrar as outras
dimensões de parâmetros que possam justificar a escolha dessa modalidade de negócios
na estrutura de vendas de uma firma em competição fraca que não sejam reduzir
incertezas e o uso do poder de mercado para diferenciar preços.
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3. Compras coletivas como instrumento de competição
No capítulo anterior nos ativemos a aspectos do monopolista que motivariam
esta firma a postar mais de um preço e utilizar sites de compra coletiva de maneira a
maximizar seu lucro. Mas esta especificidade não se limita ao monopolista. Empresas
que operem em duopólios, por exemplo, tem incentivos a postar mais de um preço para
um determinado bem como argumenta Sinitsyn (2008). Sua tese é a de que em um
duopólio onde há uma empresa forte e uma empresa fraca e onde há heterogeneidade
entre consumidores, existem equilíbrios de Nash onde estas empresas postam múltiplos
preços com probabilidades distintas.
Para tanto, Sinitsyn estruturou um modelo em que as curvas de demanda das
duas empresas seriam uma função de uma parâmetro α que simbolizaria a parcela da
população que sempre compraria da empresa forte independente do preço e de uma
parâmetro x ~ N(0,θ) que simbolizaria o prêmio que cada consumidor está disposto a
pagar pela marca mais forte. Os resultados obtidos são os seguintes:
(i) Se α e θ são suficientemente altos, ou seja, o “pull” de consumidores é
bastante heterogêneo e fiel, As demandas são inelásticas e as duas firmas passam a
postar o preço de reserva na maioria dos equilíbrios.
(ii) Se α e θ são suficientemente baixos, ou seja, o “pull” de consumidores é
pouco heterogêneo e pouco fiel, As demandas são bastante elásticas e as empresa
passam a competir por preços. Neste caso, existem Equilíbrios de Nash em que
empresas postam mais de um preço com probabilidades diferentes.
(iii) No caso supracitado (ii), na maioria das combinações de α e θ possíveis, se
tem equilíbrios em que a firma mais forte posta dois preços e a firma mais fraca posta
um único preço.
Com tais resultados podemos analisar uma competição em duopólio onde o
“pull” de consumidores é pouco heterogêneo no modelo de Sinitsyn. Neste sistema de
competição é bastante possível que uma empresa poste preços diferentes com
probabilidades diferentes. É indutivo, por conseguinte, afirmar que seria ótimo para uma
empresa em tal sistema, utilizar esquemas de negociação coletiva para realizar tais
transações e vender de forma diferenciada e eficiente seus produtos através de
promoções.
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Existem outros aspectos, que vão além de eficiência na alocação e na
postulação de preços em um ambiente competitivo que motivariam a empresa a utilizar
os instrumentos de compras coletivas.
Dallaert (1998) argumentou que consumidores racionais consideram o custo de
transporte em suas contas quando saem de casa para comprar alguma coisa. Quando um
consumidor sai de casa para visitar uma loja e comprar um produto qualquer, ele coloca
na balança de custos e benefícios da compra os custos de transporte já que não gosta de
desperdiçar viagens. Em uma abordagem moderna dos conceitos criados por Dallaert,
Moe e Fader (2004) fizeram uma análise empírica sobre compras online baseada em
um modelo bastante bem estruturado. Neste trabalho, chegaram aos seguintes
resultados:
(i) Derivada parcial de compras e visitas ao site é maior do que zero e a derivada
segunda menor do que zero
(ii) Quanto mais compras online houver em t-1, mais haverá em t0
Os resultados parecem bastante indutivos já que as pessoas ainda têm medo de
comprar pela internet e quanto mais elas compram, mais elas se sentem a vontade para
comprar em um segundo momento. Este efeito tende a diminuir ao longo do tempo na
medida em que todos se acostumam a fazer este tipo de operação e incorporam em sua
rotina.
Quanto à relação entre visitas a sites e compras ter derivada positiva e derivada
segunda negativa parece ser natural, já que certamente, quando um agente visita uma
loja ele pode ser induzido a comprar por um “apelo“ que ela possa ter que pode ser
mensurado a partir de taxas de conversão de visitas em compras. Mas quanto mais
visitas se realizam na mesma loja, menos este apelo se apresentará dado que as pessoas
se acostumam com esta situação e se “blindam” contra tais induções. Em suma, o efeito
que vistas aos sites têm sobre compras online (taxas de conversão) é positivo, mas se
reduz a cada visita realizada.
A partir de tais resultados, podemos analisar o mercado de compras online e
observar suas especificidades. Do ponto de vista do gestor de um site de compras, ter
um site com o máximo possível de visitas e com uma taxa de conversão máxima é, sem
dúvida, o mais desejável dos cenários. Alavancar as visitas significa alavancar as
compras e alavancar as compras significa alavancar as compras em t+1.
A grande sacada, que fez com que os sites de compras coletivas viessem a ser
um sucesso inigualável foi a de que visitas são muito importantes, pois estes sites nada
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mais são do que lojas virtuais. A partir disto, é bastante claro que gestores destes sites
começaram a se preocupar com sua imagem e com seu sistema de vendas. Montar um
site que ofereça “ofertas relâmpago” que não podem ser previstas de forma racional é
uma fórmula perfeita para maximizar as visitas. Este modelo gera incentivos aos
consumidores visitarem sempre que possível o site para não perderem ofertas
“imperdíveis”. No início deste mercado, quando existiam poucos sites e quando a oferta
era bastante incipiente, ouviam-se relatos de pessoas que passavam a madrugada inteira
acessando estes sites para não perder promoções como frozem yogurts por 50 centavos
por exemplo. Dito isto, devemos ressaltar a inteligência dos gestores de sites brasileiros
que, sabendo deste cenário, diversificaram bastante os produtos expostos e
administraram de forma bastante inteligente as promoções de tal sorte que a visita
acabou por se tornar rotina, ou até mesmo vício em alguns casos.
É importante ressaltar também que uma parte da receita (ou da porcentagem
que estes sites cobram para expor os produtos) se refere à simples exposição da marca
em um veículo que oferece tal serviço como nenhum outro. Sendo assim, além de todos
os motivos descritos até então, a firma pode optar por este veículo pelo simples fato de
necessitar expor sua marca em um veículo de massa e que atinge nichos estratégicos de
clientes que são importantes para a marca como a classe média, os mais abastados que
utilizam a internet e certamente os mais inclinados a comprar algo.
Cooptar firmas que tenham poder de mercado para utilizar instrumentos de
diferenciação de preço e de proteção contra a incerteza parece ser bastante fácil, dadas
as conjunturas de mercado no Brasil. Geralmente tais firmas têm marcas fortes e
precisam optar entre diversos veículos que ofereçam o serviço de exposição de suas
marcas. Certamente não foi muito difícil para tais gestores fazê-lo.
Para entendermos melhor a arte de administrar estes sites, podemos nos basear
na literatura acadêmica que fala sobre promoções. Sun (2005) no seu trabalho analisou
promoções de iogurte e testou algumas hipóteses que podem ser úteis para observarmos
os parâmetros que os gestores de sites de compra coletiva têm em suas mãos. Aqui nos
limitaremos a postar seus principais resultados empíricos.
Para produtos passíveis de serem substituíveis (de consumo flexível):
(i) O Consumo é uma função crescente do inventário de uma pessoa e da
incerteza sobre promoções
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(ii) Consumidores são “foward-looking” e fazem suas compras de forma
estratégica se podem estocar.
(iii) Promoções causam “brand swtching” para marcas mais fortes
(iv) “Post promotion dip” é real, mas o efeito das promoções sobre o consumo
é maior do que ele.
Primeiramente, temos que entender por que a incerteza sobre promoções é uma
variável endógena tão importante do consumo. Isso se deve a dois fenômenos distintos:
O post promotion dip e o foward looking buying.
A melhor forma de entendermos estes conceitos é nos dando o privilégio de
nos apoiarmos em um exemplo. Uma consumidora brasileira, no final do verão, quer
comprar um biquíni para o próximo verão. Cada biquíni para ela dura apenas um verão.
Ela tem três opções. Ou compra no outono o seu biquíni ou compra na liquidação de
inverno ou compra na primavera. Racionalmente ela optaria pela segunda opção. Se
todas as consumidoras têm hábitos parecidos com os dela, as vendas de biquíni no
outono devem cair bastante já que há uma promoção anunciada de biquínis no inverno.
Esse efeito negativo de promoções anunciadas sobre o consumo é o que a literatura
acadêmica chama de “post promotion dip”. Quando nossa consumidora projeta sua
demanda à frente e se programa para comprar seu biquíni no inverno, ela está
praticando o foward looking buying e agindo racionalmente mesmo aumentando seu
consumo de biquínis no inverno.
Obviamente o consumo de biquínis de nossa consumidora em um ano não
mudou em nada. Ela apenas realocou seu orçamento de forma a aproveitar uma ”posted
promotion”. Mas se ela morasse em um lugar onde faz sol o ano inteiro, onde não há
baixa temporada e onde a última promoção de biquínis foi há dez anos? Se houver uma
promoção de biquínis no inverno, com certeza, ela não só comprará o seu biquíni do
próximo verão, como, provavelmente, ela ficará tentada a comprar os biquínis dos
verões seguintes também. Neste caso o comportamento racional de antever o consumo
futuro somado à incerteza quanto à realização de promoções no presente e a
possibilidade de estocagem gera um aumento potencial do consumo em um ano. No
primeiro caso, o efeito da promoção sobre o consumo anulou o efeito da promoção
anunciada. No segundo ele não só anulou como dominou tal efeito.
Podemos concluir, por conseguinte, que “Posted promotion dip” é o fenômeno
econômico se realiza quando os consumidores conseguem inferir quando será realizada
uma promoção e mudam seus hábitos de consumo de forma a aproveitá-la no intuito de
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maximizar sua utilidade. Como resultado óbvio deste fenômeno temos uma redução
esperada do nível de consumo do bem antes da data da promoção. “Foward looking
buying”, por sua vez se realiza quando o consumidor racional pode estocar produtos e
serviços em seu inventário de modo estratégico antecipando seu consumo futuro e
acomodando demandas esporádicas com seu inventário de modo a maximizar sua
utilidade intertemporal.
Quanto à troca de marcas promovida pela promoção parece indutivo pensar
que se há uma promoção de uma marca mais forte, mesmo que o preço nesta promoção
não seja mais baixo do que o da marca que o consumidor costuma comprar, ele se vê
diante de uma oportunidade de comprar um bem ou serviço de uma marca mais forte
por um preço reduzido e pondera se mesmo pagando mais, não vale à pena. Os testes
realizados pelo autor mostram que pelo menos 30% das pessoas passaram a comprar
mais do iogurte mais “forte” em promoções por ser uma boa oportunidade de poder
consumir tal produto da marca mais forte mesmo estando acostumado a consumir da
marca mais fraca por causa do preço.
Por fim, parece indutivo pensar que pessoas que praticam com maior
freqüência o “foward looking buying”, diante de uma promoção, tendem a comprar
mais. Uma Proxy para verificarmos se uma pessoa pratica mais ou menos o “foward
looking” , é o seu inventário. Quanto mais ela estocar produtos, mais provável que
diante de uma oferta ela se sinta mais tentada a comprar.
Nosso gestor de sites de compra coletiva conhece muito bem estes efeitos que
promoções têm sobre consumo e sabe também que flutuações de preços bruscas
incentivam os consumidores a comprar mais. Então ele monta sua estratégia de vendas
de maneira a:
(i) Cooptar o maior número de firmas possível que tenham poder de mercado
(ii) Cooptar o maior número possível de marcas fortes para alavancar o “brand
switching” incentivando que consumidores de outras marcas experimentem as marcas
fortes e troquem seus hábitos.
(iii) Alocar promoções de maneira eficiente no tempo sabendo que se forem
previsíveis, o consumo será menor por conta do efeito do “post promotion dip”. O
fazendo também passam a alavancar visitas que tem por motivação a minimização de
perdas de oportunidades de boas compras por parte do consumidor. Outro efeito
esperado de tal medida é o aumento do consumo intertemporal devido o consumidor
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que pode estocar se vir diante de uma oportunidade de maximizar sua utilidade
intertemporal por conta de uma promoção que não tem data para ser repetida
(iv) Deixar o timer e status da promoção disponível para que os consumidores
usem “foward looking” e se sintam com uma oportunidade única e FINITA nas mãos de
gerar inventários que maximizem sua utilidade no futuro. Isto é importante pois assim
os consumidores podem precificar as opções reais de esperar por novas promoções
online.(Mais detalhes no capítulo 6)
(v) Selecionar promoções verdadeiramente interessantes de marcas fortes de
maneira a manter a imagem do site de uma instituição que oferece SEMPRE boas
oportunidades e alavancar visitas.
Finalmente, podemos concluir que firmas com muito poder de mercado e marcas
fortes têm alguns motivos para a escolha das negociações coletivas como veículo para
efetivar suas promoções. Tais como:
(a)Incerteza sobre a demanda em “Intersecting Regimes”
(b)Economias de escala + possibilidade de produção ex-post transação
(c)Explorar veículos com taxas de conversão altíssimas
(d)Explorar instrumentos de diferenciação de preços em competição se o “pull”
de consumidores de seu mercado for homogêneo e pouco fiel
(e)Promoções de suas marcas
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4. Cupons de bens não estocáveis
Este aspecto pode parecer irrelevante, no entanto, virtualmente as pessoas
precificam cupons para, no ato da compra, de forma racional, ponderar os custos e
benefícios de efetuar a compra dos mesmos. Na realização desta troca, por conseguinte,
o consumidor não compra apenas o bem. Ele compra o bem e a possibilidade de vendê-
lo antes do vencimento a um preço menor do que o valor de mercado e embolsar a
diferença.
Imagine um consumidor que tenha comprado um cupom de um pote de frozen
yogurt pela metade do preço de mercado. Se por um acaso ele não quiser mais usá-lo,
ele pode vede-lo a seu colega por um preço maior do que ele comprou e menor do que o
preço de mercado. Ou, até mesmo, Ir à loja mais próxima e tentar vendê-lo a um
consumidor que esteja disposto a comprar o bem ao preço de mercado.
Agora imagine o mesmo consumidor comprando o mesmo pote pela metade do
preço na física e desistindo de consumi-lo. A possibilidade de vender seu pote e
embolsar a diferença não se aplica mais.
Repare que esta diferença entre o valor do cupom e o valor do bem não se
aplica no caso de serviços, pois, no caso de serviços compramos a possibilidade de
usufruir de um serviço em uma determinada data e esta possibilidade pode ser delegada
a outra pessoa sem perda de valor ou postergada discricionariamente. Ou seja, comprar
um cupom de uma reserva de hotel barato ou comprar uma reserva de hotel barata não
faz diferença pois caso queiramos vendê-la , ela não perderá seu valor por ser usada pois
não o foi.
Repare finalmente que esta diferença entre o valor do cupom e o valor do bem
só se aplica quando temos bens que são consumíveis e depreciáveis quanto ao uso.
O efeito desta diferença se realiza quando as firmas postam preços baixos e
geralmente o valor do cupom, após a promoção, para o consumidor será maior do que o
preço de mercado do bem, se este bem for suficientemente líquido. Esta precificação,
finalmente, faz com que o consumidor compre mais cupons do que compraria de bens
em média.
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5. O site de compras coletivas como intermediário
Imaginemos o seguinte modelo de seleção adversa onde o monopolista é o
principal que possui informação incompleta sobre seus consumidores de potes de frozen
yogurt. O modelo se passa em dois períodos, no entanto o monopolista só consegue se
mover no primeiro momento em que decide o preço e a quantidade de iogurte que será
transacionada por porte. A utilidade do consumidor para cada pote de iogurte é dada por
U= θq - p onde q é a quantidade de iogurte presente em cada pote e p é o preço unitário
do pote. θ>0 o significa que para todo θ’>θ, u (q, θ’)-u (q, θ) é crescente em q. Se o
consumidor decidir não comprar nenhum pote, ele passa ter utilidade zero. θ pertence a
(θ , θ ) onde θ seria o coeficiente de um consumidor moderado, e θ seria o coeficiente
de um consumidor mais compulsivo de iogurtes. Sendo assim, podemos inferir que
θ θ . O monopolista tem uma curva de custos por pote que pode ser representada
como C(q) crescente, convexo e duas vezes diferenciável. Sendo assim a equação que
ilustra os ganhos que o monopolista teria por pote é p-C(q).
Apesar de não observar se o consumidor é compulsivo ou moderado, o
monopolista sabe que uma fração π da população tem perfil moderado e a outra fração
1-π tem perfil compulsivo.
Se o monopolista observasse o perfil do consumidor, o melhor que ele faria
seria uma diferenciação de preços de primeira ordem da seguinte forma:
max,
p C q s.a. θ q p 0
No Gráfico 1, as duas linhas correspondem a curvas de indiferença dos dois
tipos de consumidores referentes à utilidade zero. As curvas são isolucros do
monopolista que nada mais são do que um encadeamento de pontos que dariam o
mesmo lucro ao monopolista. É importante ressaltar que o ponto mais preferido do
monopolista está no canto superior esquerdo e o ponto mais preferido pelo
consumidor está no canto inferior direito.
Como não consegue diferenciar preços de forma eficiente, acaba por optar
por uma diferenciação de preços de segunda ordem seguindo o seguinte raciocínio
de maximização de seus lucros por pote de iogurte sujeito a restrições de
racionalidade do consumidor e restrições de incentivo respectivamente:
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max,
p C q π +[((1-π)(p C q ))]
s.a.(i) θ q p 0
(ii)θ q p 0
(iii)θ q p θ q p
(iv)θ q p θ q p
Podemos assumir que (i) e (iii) são ativas onde p p θ q q , q
q e podemos ignorar (iv) e (ii) , chegando a constatar que q q∗ .Temos, por fim,
que o problema se resume na seguinte maximização.
max,
θ q C q π +[((1-π)(θ θ ))]
Que tem como resultado final que C’(q ) = θ 1 π /π](θ θ )<θ
Em suma, nesta diferenciação de preços de segunda ordem, os consumidores
mais compulsivos continuam com a mesma quantidade de iogurte por pote, mas pagam
menos por ele obtendo uma alocação ótima de recursos. Isto se dá pois eles conseguem
extrair o “information rent” do monopolista que tem que reduzir o preço do pote maior
para poder diferenciá-lo do menor.
Da mesma forma, Estes consumidores ficam indiferentes entre comprar o pote
com q e o pote com q pois apesar de ter baixado o preço do pote maior, o
monopolista diminui a quantidade do pote menor. O pote que é direcionado para os
consumidores moderados terá pouco iogurte, por conseguinte, se comparado com a
situação primeiro-ótima. O Gráfico 2 ilustra de forma clara como o monopolista realiza
esta diferenciação de preços, reduzindo o tamanho do pote do consumidor moderado e
diminuindo o preço do pote do consumidor compulsivo.
Gráfico 1: First Best do monopolista
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Gráfico 2: Second best do monopolista : Diferenciação de segunda ordem
Em suma, esta estratégia é o melhor que o monopolista pode fazer sozinho.
O monopolista posta os preços e as quantidades casadas de iogurte em t = 0 e
espera que os consumidores se diferenciem. Mas imaginemos que ele tenha a
possibilidade de ir a um mercado competitivo de compras coletivas e que se depare com
um site que realize a seguinte proposta:
O monopolista oferece apenas o pote grande em t = 0 para os consumidores
compulsivos como se estivesse em seu first-best. E em t < 1, o site oferece aos
moderados o pote menor, de maneira que os compulsivos não se sintam tentados a
comprar o pote menor pois já haviam comprado o pote maior antes. Em suma o site
oferece, por conseguinte, o ótimo social na forma de uma diferenciação de primeira
ordem. Além disto, o site também oferece um ganho extraordinário ao monopolista β
que reflete a exposição da marca no site. É importante reiterar que só é possível
diferenciar preços desta maneira se o jogo for jogado em dois períodos e se a firma for
monopolista, pois se operasse em competição, seus competidores postariam um preço
menor, impedindo que nossa firma diferenciasse preços.
Então o monopolista se vê diante do seguinte dilema. Tentar diferenciar preços
sozinho ou se utilizar do instrumento oferecido para diferenciar preços de uma maneira
mais eficiente e ainda obtendo um pay-off que reflete a exposição de sua marca. Ele
então optará pela proposta do site se e somente se:
(Lucro em diferenciação de1 ordem + β) - Lucro em diferenciação de 2
ordem > 0
22
O que sempre acontece. Sendo assim, se o mercado de compras coletivas for
pouco competitivo, o site poderá exercer seu poder de mercado para barganhar uma
fatia da diferença supracitada. Chegamos então à origem dos pay-offs dos agentes em
uma ambiente de compras coletivas. O monopolista se apodera da diferença entre a
diferenciação de preços ineficiente que ele pode fazer sozinho e a diferenciação de
primeira ordem que pode promover se juntando ao site, somada ao ganho com a
exposição da marca e decrescida da comissão exigida pelo site por sua intermediação.
Os consumidores por sua vez se beneficiam da eficiência alocativa promovida pelas
promoções dos sites apesar de terem o excedente do consumidor extraído pela estratégia
de diferenciação de preços.
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6. Comportamento do consumidor diante de uma oferta de ocasião
Pode parecer contra intuitivo ou bastante irracional o comportamento do
consumidor diante de uma oferta de ocasião. A literatura tradicional nos levaria a pensar
que diante de uma oferta que maximize a utilidade do agente, ele não teria incentivos a
esperar até o último segundo para realizar sua compra. A teoria da maximização da
utilidade e da busca pela eficiência alocativa não consegue responder por que os
consumidores postergam ao máximo a realização de suas compras. Isso só pode ser
explicado quando colocamos alguns instrumentos na modelagem que simulem efeitos
de opções reais. Este tipo de comportamento, por conseguinte se explica quando
consideramos a possibilidade dos agentes usarem de forma estratégica a opção real de
esperar por outras ofertas que possam ocorrer. Obviamente, o valor desta opção real
deve variar endogenamente conforme a impaciência do consumidor se altera. Parece
intuitivo pensar que o valor da opção real de se esperar por outra oferta é alta quando a
impaciência do agente é baixa. Sendo assim, podemos imaginar um modelo nos
seguintes moldes:
Em n períodos, agentes que podem se encontrar de forma aleatória com a
probabilidade θ pertencente (0,1) e que podem transacionar se ambos quiserem fazer a
mesma operação. Agentes escolhem estratégias de maneira a maximizar sua utilidade ao
longo do tempo. O agente um tem uma utilidade U(x,y) onde x é dinheiro e y é a
quantidade do produto Y qualquer. O preço do produto qualquer varia com relação aos
preços relativos da economia com relação a este produto. U(x,y) é monotônica e
convexa. Além disto, o agente um tem uma restrição orçamentária seguindo os
seguintes moldes p y x m.
Seu problema de maximização de bem estar e utilidade é dado pelo seguinte:
max,U x, y
s.a. p y x m
Temos que C = ((m p y∗), y∗) é a cesta de bens que maximiza a utilidade
do agente e y∗é o argumento maximizador do problema de maximização descrito a
cima. Temos que se o agente um valora suficientemente o bem Y com relação aos
outros bens da economia, U(m,0)<U(C ). Assumamos pois que isto se aplica.
Diante de uma oferta de ocasião do bem Y por metade do preço oferecida por
um super-agente sem preferências fixas inferíveis em qualquer momento antes de n
quando a economia se encerra, o agente um passa a estar melhor pois:
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U(C ) = U((m p y∗/2), y∗) > U(C ) > U(m,0)
Assumamos que existe a possibilidade de um agente qualquer que não o um
querer se desfazer do bem Y por um terço do preço com a probabilidade δ pertencente
a (0,1). E por fim, assumamos que o agente um tem uma taxa de desconto que reflete a
sua paciência σ pertencente a (0,1).
A utilidade do agente um quando este conjunto de eventos se realiza seria:
U(C ) = U((m p y∗/3), y∗) > U(C ) > U(C )> U(m,0)
Para decidir se comprará pela metade do preço o bem Y antes de n ou exercerá a
sua opção real de esperar por uma nova oferta até o último segundo, o agente precisa
mensurar o valor desta opção real. O valor da opção real de esperar por uma oferta
melhor pode ser escrito da seguinte forma.
O θδU C σO
Que pode ser escrito da seguinte maneira:
O θδU C ∑ θδU C σ
Sabemos que a derivada de qualquer opção com relação ao tempo é negativa de
acordo com Hull. Neste caso não é diferente, com o passar do tempo o valor da opção se
reduz, pois o agente perde mais uma oportunidade se encontrar com um outro agente
que queira transacionar.
O agente só comprará o bem Y antes de t pela metade do preço se e somente se:
O U C
Se, em um momento inicial, o valor da opção real de esperar é maior do que a
utilidade da oferta de ocasião, o agente espera até que o valor da opção real decaia o
suficiente para que a condição acima seja satisfeita.
Sendo assim, o agente pode esperar até o último segundo quando a sua opção
real “vira pó” para comprar pela metade do preço o bem Y.
Assim chegamos a principal relevância do timer aparente da promoção. Expor
quanto tempo resta ao consumidor é uma maneira de dar a possibilidade a ele de
precificar online sua opção real de esperar por outra oferta o que, certamente o fará
ponderar de forma mais objetiva se deve efetuar sua compra ou não.
25
7. Projeções e tendências das compras coletivas no Brasil
Diante de tais constatações fica bastante clara a importância que a modalidade
de compras coletivas tem para a competição em duopólios e para monopolistas em
geral. Utilizando o ferramental disponível no mercado de sites de compras coletivas, a
firma que opera em ambiente de pouca competição tem instrumentos fortes que
possibilitam a diferenciação de preços e a alavancagem das vendas além de
oferecerem proteção quanto ao risco de demandas pouco claras.
Com tais resultados nas mãos podemos projetar movimentos de mercado
interessantes, que será decisivo para a estruturação do mercado brasileiro.
Existe um movimento claro do mercado de sites de compras coletivas
brasileiro que se delineia no intuito da especialização de sites. Isto se realiza com a
existência, cada vez mais freqüente, de sites de compra coletiva que se especializam
em um único bem ou serviço, como, por exemplo, hotéis ou passagens de avião.
Diante de todos os resultados obtidos e analisados aqui podemos inferir que tal
movimento não será tão difundido e massificado já que o aspecto mais relevante para a
massificação e sucesso deste mercado é a não antecipação e o apelo às visitas que se
realiza a partir da diversificação de produtos nos sites. Obviamente este movimento
terá força já que continua contemplando aspectos relevantes do modelo brasileiro de
compras coletivas que são as ferramentas de competição em duopólios, a exposição
das marcas e a possibilidade de diferenciação de preços. No entanto, a antecipação por
parte do consumidor e a possibilidade de , quando oportuno, o consumidor visitar um
site onde tenha certeza de que haverá ofertas de viagens, por exemplo, acabará por
limitar o número de visitas de consumidores em geral a sites de compra coletiva
motivadas por buscas por ofertas de tal natureza pois estes consumidores sabem que
estas ofertas estão disponíveis em larga escala em um determinado site. Por
conseguinte o mercado perde como um todo com a perda de visitas motivadas por este
tipo de comportamento estratégico, pois, como analisamos, visitas são muito
importantes. Podemos inferir, pois, que este movimento de especialização se dará
rapidamente já que o mercado existe, é muito recente, e está sub-dimensionado. No
entanto podemos concluir que esta especialização será parcial e ocorrerá apenas no
sentido de promover produtos que façam parte de mercados bastante monopolizados,
de alto valor agregado e que apresentem qualidades múltiplas de um mesmo produto
como, por exemplo, o de passagens aéreas. Apesar de exporem apenas passagens,
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estas passagens podem ser para qualquer lugar do mundo e isso, de certa forma,
diversifica os produtos expostos.
Outro movimento interessante é o de unificação das plataformas de
exposição. Existem sites que se especializaram em condensar em um mesmo ambiente
todos os outros sites, ou pelo menos os mais importantes em um único, onde se pode
observar quais promoções estão ocorrendo em cada um deles. Este movimento é
importante, no primeiro momento, pois ele promove a divulgação da própria
existência dos novos sites diminuindo os custos iniciais dos gestores com publicidade.
No entanto, este tipo de plataforma acaba por eliminar as visitas motivadas pelo fato
do consumidor não querer perder boas oportunidades e não saber exatamente o que
está sendo exposto. Sendo assim, este movimento se dará de forma expressiva já que
existe demanda por este tipo de serviço de condensação de informações. Apesar do
ônus advindo do fato de que diminui o número de visitas aos sites, Não é vantajoso
para o gestor do site deixar de se divulgar em ferramentas como estas já que isto
implicaria em ter uma divulgação menor do que seus concorrentes e isto , no longo
prazo seria desastroso já que as barreiras de entrada neste mercado são poucas e o
crescimento e desenvolvimento de novos sites está se dando bastante rápido. Então ,
por conta da concorrência, o gestor acaba se posicionando estrategicamente neste sites
“condensadores” pagando até mais pelo espaço de destaque. A tendência é que, na
medida que o site ganhe visibilidade, ele acabe optando menos por este tipo de
exposição já que ele perde visitas importantes e força o fazendo.
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8. Conclusão
O estudo realizado teve como pretensão observar todos os aspectos
microeconômicos que permeiam este ambiente de compras coletivas e, através deste,
podemos antecipar tendências de mercado e analisarmos as diferentes situações que
motivam as firmas, consumidores e sites a se lançarem neste tipo de transação. A
incerteza quanto à demanda que se realizará, a existência da possibilidade de
diferenciação de preços em um ambiente de ganhos de escala, exposição das marcas,
motivação do brand switching, o consumo extraordinário em um ambiente de foward
looking buying com a possibilidade de estocagem, precificação de cupons e o apelo
comercial foram alguns dos aspectos citados neste trabalho que tentou condensar, de
forma resumida e simples os fenômenos microeconômicos que se realizam em um
ambiente de compras coletivas online. Obviamente que os aspectos relevantes no
mercado brasileiros não se aplicam por completo a mercados em outros países, mas o
estudo teve como pretensão também servir de base para abordagens futuras que
venham a se realizar no intuito de explicar os diferentes resultados possíveis desta
dinâmica de interações e de desenvolvimento de mercado. A força com que este
mercado se instalou no Brasil foi tão forte quanto em outros países e certamente este
fenômeno econômico se realizará a margem de um fenômeno ainda mais forte que é o
da globalização. Não demorará o dia em que este tipo de transação se dê entre agentes
oriundos de países diferentes já que está sendo desenvolvida em uma plataforma que
possibilita tal tipo de transação. Obviamente, este tipo de estrutura de negociação
globalizada será o ápice deste mercado e se realizará no sentido de vender produtos e
serviços que possibilitem tal sistemática. Um exemplo claro de produtos que suportem
tal tipo de transação é de serviços de hotelaria ou passagens aéreas.
Finalmente, esperamos concluir e responder questionamentos que ficaram
latentes entre os consumidores como a origem dos pay-offs dos agentes e a
racionalidade do jogo de interações que se realiza a partir desta dinâmica de compras
coletivas. Perguntas referentes à razão pela qual os preços são tão baixos ou se as
firmas estão apenas apostando na divulgação das marcas em detrimento do lucro
econômico foram respondidas, certamente.
Fica aqui um apelo para que se observe este mercado de forma mais empírica,
tentando-se observar estes aspectos e medir os fenômenos apontados pelo trabalho.
Existe uma carência clara de trabalhos brasileiros que discorram sobre promoções e
28
sobre a dimensão dos efeitos dos fenômenos supracitados nos mercados brasileiros. È
latente a necessidade dos economistas de pensarem fora da caixa e se lançarem a
desafios como medir as taxas de conversão de sites brasileiros por exemplo. Ou até
mesmo um estudo mais apurado sobre expansão endógena de mercados através de
promoções.
Não esperamos ter solucionado toda e qualquer questão que venha a se
apresentar sobre o tema, no entanto, temos a pretensão de servimos de base para
qualquer tipo de análise que venha a seguir. E temos certeza que serão muitas já que
existem poucas barreiras para a expansão de mercados, sendo estas geográficas ou
institucionais. O mundo será interligado pela internet e certamente o sites de compra
coletiva vão se tornar veículos globais de interação entre agentes assim como já o são
sites de e-commerce.
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9.Referências Bibliográficas
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Discovery Mechanisms. Management Science. Vol. 49, No. 11(Nov., 2003), pp. 1546-
1562,
SUN , Baohong. Promotion Effect on Endogenous Consumption. Marketing Science.
Vol. 24, No. 3 (Summer, 2005), pp. 430-443
MOE, Wendy and FADER, Peter. Dynamic Conversion Behavior at E-Commerce Sites.
Management Science. Vol. 50, No. 3 (Mar., 2004), pp. 326-335
LAL, Rajiv ;LITTLE, John and VILLAS-BOAS, Miguel. A Theory of Forward Buying,
Merchandising, and Trade Deals. Marketing Science. Vol. 15, No. 1 (1996), pp. 21-37
VARIAN, Hal. Microeconomia – Princípios Básicos: Uma Abordagem Moderna.
Editora Campus Sétima Edição
SINITSYN, Maxim. Price Promotion in Asymmetric Duopolies with Heterogeneous
Consumers. Management Science. vol.54, No12, December 2008, PP.2081-2087
HULL, John. Opções, Futuros e Outros Derivativos. BM&F Terceira Edição
LJUNGQVIST,Lars and SARGENT,Thomas. Recursive Macroeconomic Theory. MIT.
2nd Edition.
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