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ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO
ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO
Maj Inf FRANCISCO BERNARDO OLIVEIRA DE MORAES
Rio de Janeiro
2019
O preparo e emprego da Tropa para ações de Segurança Pública no contexto de Intervenção
Federal.
Maj Inf FRANCISCO BERNARDO OLIVEIRA DE MORAES
O preparo e emprego da Tropa para ações de Segurança Pública no contexto de Intervenção Federal.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Ciências Militares, com ênfase em Defesa Nacional.
Orientador: TC Inf Marcelo Lopes de Rezende
Rio de Janeiro 2019
M827p Moraes, Francisco Bernardo Oliveira de
O preparo e emprego da Tropa para ações de Segurança Pública no contexto de
Intervenção Federal. . / Francisco Bernardo Oliveira de Moraes. 一2019. 74 fl. : il ; 30 cm.
Orientação: Marcelo Lopes de Rezende
Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Ciências Militares)一Escola de Comando e
Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2019. Bibliografia: fl 73-75.
1. EXÉRCITO - TROPA . 2. SEGURANÇA PÚBLICA. 3. INTERVENÇÃO FEDERAL. I. Título.
CDD 355.4
Maj Inf FRANCISCO BERNARDO OLIVEIRA DE MORAES
O preparo e emprego da Tropa para ações de Segurança Pública no contexto de Intervenção Federal.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Ciências Militares, com ênfase em Defesa Nacional.
Aprovado em 20 de novembro de 2019.
COMISSÃO AVALIADORA
Marcelo Lopes de Rezende - TC Inf - Presidente
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
Sidney Marinho Lima - TC Mat Bel - Membro
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
Hélio Ferreira Lima – Maj Inf - Membro Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
À minha família, meu alicerce na
vida.
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Carlos Terson de Moraes e Matilde Batista de Oliveira pela
educação e amor incondicional que me proporcionaram durante toda a minha vida.
À minha esposa Caroline Moraes pela compreensão e apoio nessa missão.
Ao Tenente-Coronel de Infantaria Marcelo Lopes de Rezende, pela orientação
firme, além do incentivo e pela confiança evidenciada, propiciando a realização deste
trabalho.
Aos meus companheiros do CCEM 1, pela honradez e camaradagem ao
longo deste ano.
“Um soberano jamais deve colocar
em ação um exército motivado pela raiva;
um líder jamais deve iniciar
uma guerra motivado pela ira.
A estratégia sem tática é o caminho mais
lento para a vitória” (Sun Tzu)
RESUMO
O preparo e emprego de Tropa para ações de Segurança Pública dentro de um
contexto de Intervenção Federal é um caso para ser estudado. Após o advento do
Decreto Presidencial Nr 9.288 de 2018, que estabeleceu a Intervenção Federal no
Estado do Rio de Janeiro, as Forças Armadas assumiram a pasta de Segurança
Pública. A situação da Segurança Pública no Estado do Rio de Janeiro chegou a
uma situação caótica. Com isso, foi decretada a Intervenção Federal na área de
Segurança Pública do Estado fluminense. De acordo com § 2º do Decreto
Presidencial, o objetivo da intervenção foi pôr termo a grave comprometimento da
ordem pública no Estado do Rio de Janeiro. Para compreendermos a produção
desse trabalho é importante conceituar a Intervenção Federal. Afinal, o que é uma
Intervenção Federal? Em casos excepcionais, como é dito no texto do Artigo 34 da
Constituição Federal, é previsto a intervenção federal feita pela União ao momento
em que um dos entes da federação demonstra incapacidade na execução de suas
competências, ou seja, é um instrumento que restringe a autonomia política de
determinado estado. Cabe ressaltar que as ações de Garantia da Lei e da Ordem
assemelham-se às ações de Segurança Pública. Por outro lado, não se pode afirmar
que são a mesma atividade, tornando complexo o preparo e emprego de tropa do
Exército, objeto desse trabalho. Dessa forma, o tema foi introduzido partindo da
legalidade da Constituição Federal para emprego das Forças Armadas, após o
implemento do Decreto e finalizando com o preparo e emprego específico da tropa
do 2º Batalhão de Infantaria Leve que participou das operações no contexto da
Intervenção Federal. E, como conclusão, foram analisadas se as formas de preparo
e emprego foram adequadas para o cumprimento da missão na Intervenção Federal
propriamente dita.
Palavras-chave: Intervenção Federal, Segurança Pública, Preparo, Emprego.
ABSTRACT
Troop preparation and employment for Public Security actions within a Federal
Intervention context is a case study. Following the advent of Presidential Decree Nr.
9,288 of 2018 establishing the Federal Intervention in the State of Rio de Janeiro, the
Armed Forces took over the Public Security portfolio. The situation of Public Security
in the State of Rio de Janeiro has come to a chaotic situation. Thus, the Federal
Intervention in the area of Public Security of the state of Rio de Janeiro was decreed.
According to § 2 of the Presidential Decree, the purpose of the intervention was to
put an end to the serious impairment of public order in the State of Rio de Janeiro. To
understand the production of this work it is important to conceptualize the Federal
Intervention. After all, what is a Federal Intervention? In exceptional cases, as stated
in the text of Article 34 of the Federal Constitution, federal intervention by the Union
is foreseen at the moment when one of the federation's entities demonstrates inability
to perform its competences, it is an instrument that restricts political autonomy of a
given state. It is noteworthy that Law and Order Guarantee actions are similar to
Public Safety actions. On the other hand, it cannot be said that they are the same
activity, making the preparation and employment of Army troops complex, object of
this work.
Thus the theme was introduced starting from the legality of the Federal Constitution
for Armed Forces employment, after the implementation of the Decree and ending
with the preparation and specific use of the troop of the 2nd Light Infantry Battalion
that participated in the operations in the context of the Federal Intervention. And as a
conclusion were analyzed if the forms of preparation and employment were adequate
to fulfill the mission in the Federal Intervention itself.
Keywords: Federal Intervention, Public Security, preparation and employment.
LISTA DE ABREVIATURAS
ACISO Ação Cívico-Social
A Op Área de Operações
Ap Cmb Apoio ao Combate
Ap Log Apoio Logístico
APOP Agente Perturbador da Ordem Pública
B Es Eng Batalhão Escola de Engenharia
BIL Batalhão de Infantaria Leve
BIMtz Batalhão de Infantaria Motorizado
CA - L Centro de Adestramento Leste
CF Constituição Federal
Cia C Ap Companhia de Comando e Apoio
CIAOU Centro de Instrução e Adestramento em Operações
Urbanas
CIGLO Centro de Instrução de Garantia da Lei e da Ordem
Cmt Comandante
COTER Comando de Operações Terrestres
Ct Op Controle Operacional
DE Divisão de Exército
DPOM Diretriz de Planejamento Operacional Militar
EB Exército Brasileiro
Elm Cmb Elemento de Combate
E Mi D Estratégia Militar de Defesa
FA Forças Armadas
F Cmb Função de Combate
F Emp Estrt Força de Emprego Estratégico
F Emp Ge Força de Emprego Geral
Ficar ECD Ficar em condições de
FHD Força Henrique Dias
FGS Força General Silvino
FMA Força Martim Afonso
F Ter Força Terrestre
FT Força Tarefa
G Cmdo Grande Comando
GE Grupo de Engenharia
GIF Gabinete de Intervenção Federal
GLO Garantia da Lei e da Ordem
GU Grande Unidade
GVA Garantia da Votação e Apuração
IM Instrução Militar
MD Ministério da Defesa
Mdt O Mediante Ordem
Nr Número
OBA Operação de Busca e Apreensão
OCCA Operação de Cooperação e Coordenação com Agências
OCD Operação de Controle de Distúrbio
ODOP Órgão Direto Operacional
Op Operacional
ORCRIM Organização Criminosa
OSOP Órgão de Segurança e Ordem Pública
PAB GLO Período de Adestramento Básico em Garantia da Lei e da
Ordem
PBCE/PBCVU Posto de Bloqueio e Controle de Estrada/Posto de Bloqueio
e Controle de Vias Urbanas
Pel Pelotão
PIM Programa de Instrução Militar
PND Política Nacional de Defesa
PNSP Política Nacional de Segurança Pública
SIDOMT Sistema de Doutrina Militar Terrestre
STF Supremo Tribunal Federal
SU Subunidade
TFM Treinamento Físico Militar
TN Território Nacional
TSE Tribunal Superior Eleitoral
Z Aç Zona de Ação
ZI Zona Interior
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 Ação decisiva no emprego.................................................. 27
Figura 2 Organograma atual da 11ª Bda Inf
L...................................
34
Figura 3 Área de atuação da 1ª Cia.................................................. 42
Figura 4 Área da Operação CINTURÃO........................................... 47
Figura 5 Visão dos municípios da Baixada
Fluminense....................
50
Figura 6 Itinerário de deslocamento para Baixada Fluminense........ 51
Figura 7 Locais das facções criminosas na Baixada
Fluminense.....
52
Figura 8 Área da Vila
Kennedy..........................................................
54
Figura 9 Proposta de localização de
PBCVU....................................
59
Figura 10 Principais regiões de ocorrência de roubo de cargas......... 59
Figura 11 Patrulhamento Nr 1............................................................. 61
Figura 12 Patrulhamento Nr 2............................................................. 62
Figura 13 Patrulhamento Nr 3............................................................. 62
Figura 14 Zona de Ação no Complexo do Salgueiro.......................... 63
LISTA DE FOTOGRAFIAS/GRÁFICO
Fotografia 1 Tiro de Adestramento na CBC................................................... 38
Fotografia 2 Treinamento do segmento feminino........................................... 44
Fotografia 3 Visão do Sistema Pacificador .................................................... 55
Fotografia 4 Matriz de Coordenação.............................................................. 56
Fotografia 5 Atuação da tropa de Engenharia na remoção de obstáculos..... 57
Fotografia 6 Tela do aplicativo e veículo recuperado..................................... 58
Gráfico 1 1ª Questão do Questionário....................................................... 65
Gráfico 2 2ª Questão do Questionário....................................................... 65
Gráfico 3 3ª Questão do Questionário....................................................... 66
Gráfico 4 4ª Questão do Questionário....................................................... 66
Gráfico 5 5ª Questão do Questionário....................................................... 67
Gráfico 6 6ª Questão do Questionário....................................................... 67
Gráfico 7 7ª Questão do Questionário....................................................... 68
Gráfico 8 8ª Questão do Questionário....................................................... 68
Gráfico 9 9ª Questão do Questionário....................................................... 69
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Ciclo de Adestramento da 11ª Bda Inf L em situação de guerra....... 35
Quadro 2 Ciclo de Adestramento da 11ª Bda Inf L em situação de não –
guerra.................................................................................................
36
Quadro 3 Planejamento da assunção da Zona de
Ação....................................
45
Quadro 4 Dados comparativos de roubo de carga............................................ 60
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO............................................................................................... 17
1.1 PROBLEMA................................................................................................... 22
1.2 OBJETIVOS................................................................................................... 23
1.2.1 Objetivo Geral............................................................................................... 23
1.2.2 Objetivos Específicos.................................................................................. 23
1.3 HIPÓTESE....................................................................................................... 23
1.4 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO......................................................................... 24
1.5 RELEVÂNCIA DO ESTUDO.......................................................................... 24
2 REFERENCIAL TEÓRICO............................................................................ 25
2.1 O PREPARO E EMPREGO DA TROPA........................................................ 25
2.2 A LOGÍSTICA................................................................................................. 28
3 METODOLOGIA............................................................................................ 29
3.1 TIPO DE PESQUISA...................................................................................... 29
3.2 UNIVERSO E AMOSTRA.............................................................................. 30
3.3 COLETA DE DADOS...................................................................................... 30
3.4 TRATAMENTO DOS DADOS........................................................................ 31
3.5 LIMITAÇÕES DO MÉTODO........................................................................... 31
4 O PREPARO E EMPREGO DA TROPA....................................................... 31
4.1 O PREPARO GERAL..................................................................................... 28
4.2 O CICLO DE ADESTRAMENTO DA 11ª Bda Inf L ....................................... 33
4.2.1 A ORIGEM DA 11ª Bda Inf L.......................................................................... 33
4.2.2 O ADESTRAMENTO DA 11ª Bda Inf L.......................................................... 34
4.3 O PREPARO ESPECÍFICO PARA A INTERVENÇÃO.................................. 36
4.4 O EMPREGO GERAL.................................................................................... 38
4.5 O EMPREGO DA 1ª Cia Fuz L EM APOIO À FORÇA GENERAL SILVINO 39
4.6 EMPREGO DA FORÇA MARTIM AFONSO 1ª PASSAGEM........................ 44
4.6.1 Operação CINTURÃO.................................................................................... 47
4.6.2 Operação BAIXADA....................................................................................... 50
4.6.3 Operação KENNEDY..................................................................................... 53
4.7 EMPREGO DA FORÇA MARTIM AFONSO 2ª PASSAGEM......................... 58
4.7.1 Operação DÍNAMO.......................................................................................... 58
4.7.2 Operação NITERÓI........................................................................................ 61
4.7.3 Operação ANDRÉ........................................................................................... 63
4.8 RESULTADO DA PESQUISA........................................................................ 64
5 CONCLUSÃO................................................................................................ 69
6 REFERÊNCIAS............................................................................................. 73
17
1 INTRODUÇÃO
O mundo volátil, incerto, complexo, ambíguo nos obriga a uma
maior flexibilidade e adaptabilidade em todos os aspectos da vida.
(MORAES, 2019).
O presente trabalho abordou o preparo e emprego de Tropa para ações de
Segurança Pública dentro de um contexto de Intervenção Federal. Após o advento
do Decreto Presidencial Nr 9.288 de 2018, que estabeleceu a Intervenção Federal
no Estado do Rio de Janeiro, as Forças Armadas assumiram a pasta de Segurança
Pública.
Para compreender a lógica do emprego das Forças Armadas é preciso
consultar a Carta Magna da Nação, a Constituição Federal de 1988. Em seu artigo
142 que diz:
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
As ações de garantia da Lei e da Ordem se intensificaram após a
promulgação da Constituição Federal de 1988. Diante disso, desde 1988 até os
dias atuais, foram diversas operações executadas com base na Carta Magna
brasileira dentro de um amplo espectro de conflito em uma situação de não guerra.
De acordo com Duarte (2016), a base legal da atuação das Forças Armadas
está amparada em vários estatutos legais sendo a principal base jurídica o art igo
142 da Constituição Federal (CF), a qual se somam a Lei Complementar nº 97, de
09/06/1999 e a Lei Complementar nº 136, de 25/08/2010. Ainda nessa senda,
incluído o Decreto nº 3.897, de 24/08/2001.
Segundo a Lei Complementar nº 97 de 9 de junho de 1999, que dispõe sobre
as normas gerais para a organização, o preparo e emprego das Forças Armadas
em seu primeiro artigo que diz:
Art. 1º As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade
18
suprema do Presidente da República e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
O emprego das Forças Armadas na defesa da Pátria e na garantia dos
poderes constitucionais, da lei e da ordem, e na participação em operações de paz,
é de responsabilidade do Presidente da República, que determinará ao Ministro de
Estado da Defesa a ativação de órgãos operacionais, observadas as diversas
formas de subordinação, conforme Artigo 15 da Lei Complementar nº 97 de 9 de
junho de 1999.
Ainda, no contexto da Lei Complementar nº 97, no parágrafo 1º do Artigo 15,
o Presidente da República tem a competência para a decisão do emprego das
Forças Armadas, por iniciativa própria ou em atendimento a pedido manifestado
por quaisquer dos poderes constitucionais, por intermédio dos Presidentes do
Supremo Tribunal Federal, do Senado Federal ou da Câmara dos Deputados.
Em 2014, o Ministério da Defesa regulamentou o emprego das Forças
Armadas em Operações de Garantia de Lei e da Ordem (Op GLO) através da
Publicação MD33-M-10 – Garantia da Lei e da Ordem – de 31/01/2014. De acordo
com o referido manual, as Operações de Garantia da Lei e da Ordem caracterizam-
se como operações de “não guerra”, pois, embora empregando o Poder Militar, no
âmbito interno, não envolve o combate propriamente dito, mas podem, em
circunstâncias especiais, envolver o uso de força de forma limitada, podendo
ocorrer tanto em ambiente urbano quanto rural.
Em um breve histórico, pode se perceber que das 46 Op GLO realizadas
entre 1988 e 2015, elas se destinaram, quanto aos seus objetivos da seguinte
forma: 26,09% foram missões para confrontar grupos delituosos, organizações
criminosas, o que, em tese, está em conformidade com a legislação vigente; igual
percentual, 26,09% das Op GLO foram para reprimir movimentos grevistas
(insubordinações) de policiais militares em vários estados da federação entre os
anos de 1997 (a maior parte) e 2012 (ALMEIDA, 2007, 2007, 2011). Claro que tais
intervenções dos militares também foram juridicamente amparadas, mas não se
lhes pode ocultar o caráter político, de repressão a um movimento de reivindicação
por reajuste salarial e condições de trabalho; 19,56% foram missões de garantia da
ordem em pleitos eleitorais por solicitação do Tribunal Superior Eleitoral/8 (TSE/8);
15,33% para dar segurança em eventos, geralmente de abrangência internacional;
6,52% foram missões que confrontaram movimentos sociais civis; 4,35% para
19
dirimir conflitos entre indígenas e garimpeiros e 2,17% para confrontar policiais
civis grevistas, constituindo-se, como nos casos das Op GLO contrárias às greves
dos policiais militares e contraias às manifestações da sociedade civil organizada,
ações de repressão a lutas políticas, a manifestações políticas e/ou reivindicatórias
e não ameaças criminosa (DUARTE, 2016).
A situação de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro agravou-se em
2017. Diante dessa situação, o Presidente da República assinou o Decreto de 28
de julho de 2017, decretando a Intervenção Federal e autorizou o emprego das
Forças Armadas para a Garantia da Lei e da Ordem, em apoio às ações do Plano
Nacional de Segurança Pública, no Estado do Rio de Janeiro, no período de 28 de
julho de 2017 a 31 de dezembro de 2018.
Conforme o § 1º do supracitado decreto, o emprego das Forças Armadas, foi
precedido de aprovação do planejamento de cada operação pelos Ministros de
Estado da Justiça e Segurança Pública, da Defesa e Chefe do Gabinete de
Segurança Institucional.
Cabe destacar, neste ínterim, a criação do Ministério Extraordinário da
Segurança Pública. Estabelecido em 11 de julho de 2018, por meio da Lei Nr
13690/18, que teve por competência a articulação com os órgãos dos entes
federativos (Distrito Federal, estados e municípios) e as entidades de coordenação e
supervisão das atividades de segurança pública. À pasta, também coube planejar e
administrar a política penitenciária nacional.
Para compreendermos a produção desse trabalho é importante conceituar a
Intervenção Federal. Afinal, o que é uma Intervenção Federal? Em casos
excepcionais, como é dito no texto do Artigo 34 da Constituição Federal, é previsto
a intervenção federal feita pela União ao momento em que um dos entes da
federação demonstra incapacidade na execução de suas competências, ou seja, é
um instrumento que restringe a autonomia política de determinado estado. É
consensual de que a nossa Constituição em sua totalidade está fundamentada na
doutrina do federalismo, porém, em decorrência desse artigo específico da
Constituição (que trata da intervenção federal), instaura-se uma dubiedade se esta
doutrina federativa de nosso país não está em xeque. (OLIVEIRA, 2018).
Para melhor compreensão em relação a este embate “Intervenção versus
Federalismo”, segue-se a definição que consiste:
20
Em nosso sistema federativo, o regime de intervenção representa
excepcional e temporária relativização dos princípios básicos da autonomia dos
Estados. A regra, entre nós, é a não intervenção, tal como se extrai com facilidade
do disposto caput do Artigo 34 da Constituição, quando diz que "a União não
intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, (...) (MENDES, Gilmar, 2003)
(OLIVEIRA,2018).
O Decreto Presidencial para a Intervenção Federal na Segurança Pública no
Rio de Janeiro foi aprovado pelos Conselhos da República1 e de Defesa Nacional2
e posteriormente obteve 340 votos a favor e 72 contra na Câmara Federal, e no
Senado obteve 55 votos a favor 13 contra e uma abstenção. Sendo assim, foi
aprovada a Intervenção federal que teve duração estabelecida até 31 de dezembro
de 2018, sob a tutela do Interventor Federal General de Exército Walter Souza
Braga Netto, Comandante Militar do Leste.
Dentro desse contexto, o Exército Brasileiro como integrante das Forças
Armadas, e por ser o possuidor do Poder Militar Terrestre, liderou as tarefas
relativas no emprego na Garantia da Lei e da Ordem. Além disso, participaram das
missões tropas da Marinha e Aeronáutica.
Cabe ressaltar que as ações de Garantia da Lei e da Ordem assemelham-se
às ações de Segurança Pública. Por outro lado, não se pode afirmar que são a
mesma atividade, tornando complexo o preparo e emprego de tropa do Exército,
objeto desse trabalho.
Faz-se necessário entender os conceitos e fundamentos de Segurança
Pública e adequá-los a Doutrina Militar 3. Dessa forma, após a assinatura do
Decreto do Presidente Michel Temer, o Exército Brasileiro iniciou os planejamentos
para assumir as ações de Segurança Pública no Estado do Rio de Janeiro.
1 Conselho da República participam o Vice-Presidente da República, presidentes da Câmara e do
Senado, líderes da maioria e da minoria na Câmara e no Senado, ministro da Justiça, seis cidadãos brasileiros
natos, com mais de trinta e cinco anos de idade, sendo dois nomeados pelo Presidente da República, dois eleitos
pelo Senado e dois eleitos pela Câmara).
2 Conselho de Defesa Nacional participam o Vice-Presidente da República, presidentes da Câmara e do
Senado, Ministro da Justiça, Ministro da Marinha, Ministro do Exército, Ministro da Aeronáutica, Ministro das
Relações Exteriores, Ministro da Fazenda, Ministro do Planejamento).
3 VII - DOUTRINA MILITAR: conjunto harmônico de ideias e de entendimentos que define, ordena,
distingue e qualifica as atividades de organização, preparo e emprego das Forças Armadas. Engloba, ainda, a
administração, a organização e o funcionamento das instituições militares (Glossário das Forças Armadas, MD35 -
G-01 2007).
21
É importante salientar que esses planejamentos ocorreram nos diversos
níveis. Conforme preconiza as Instruções Gerais para o Sistema de Doutrina Militar
Terrestre, SIDOMT (EB10-IG01.005), 3ª Edição, 2012, em seu Art. 4º que diz:
“Apesar de estar focada no nível Tático, a Doutrina para o Emprego da Força
Terrestre permeia todos os níveis de planejamento, sendo influenciada, direta ou
indiretamente, pelos níveis Político, Estratégico e Operacional.
Conforme a Constituição Federal em seu Artigo 144, que diz: ‘’A segurança
pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a
preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio,
através dos seguintes órgãos:
I - polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;
IV - polícias civis;
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.
Diante dessa situação, a Força Terrestre precisou atuar, também, no nível
tático e pôr termo ao grave comprometimento da ordem pública. Executou ações
de Segurança Pública num contexto de Intervenção Federal.
Dentro de um contexto geográfico, o local determinado para a Intervenção
Federal foi o Estado do Rio de Janeiro. Localizado na região Sudeste do país,
fazendo divisas com os estados do Espírito Santo, a norte; Minas Gerais, a
noroeste; e São Paulo, a sudoeste. Toda a sua costa leste é banhada pelo Oceano
Atlântico, o que contribui para o grande número de praias e pontos turísticos, tendo
a capital estadual a alcunha de Cidade Maravilhosa.
O estado possui uma população de aproximadamente 16.370.000 pessoas, a
terceira maior do país, habitando em uma área de 43.780 km², uma das menores
do Brasil. Isso significa dizer que o Rio possui elevadas densidades demográficas,
cerca de 366 habitantes por quilômetro quadrado. Há um total de 92 municípios,
dos quais podemos destacar as cidades de Niterói, São Gonçalo, Duque de
Caxias, Volta Redonda e Nova Iguaçu. 95% da população fluminense habita o
meio urbano. (BRASIL ESCOLA, 2018).
De acordo com o Manual Operações em Área Edificada, o emprego do
princípio da massa, praticado nas operações de Garantia da Lei e da Ordem
(GLO), gera o efeito da visibilidade da tropa, contribuindo para a dissuasão. Ao
22
inibir-se a ação dos Agentes Perturbadores da Ordem Pública (APOP)
consequentemente se reduzem os índices de ocorrência de ilícitos. Esse aspecto é
vital para resgatas a sensação de segurança junto à opinião pública.
Em síntese, o trabalho abordará o preparo e emprego de tropas do Exército
que foram utilizados para o cumprimento de uma missão de Intervenção Federal,
dentro de um estado caótico e complexo, envolvendo distintas características
dentro dos campos político, psicossocial, militar e econômico.
1.1 PROBLEMA
Atualmente, as diversas modalidades de guerra influenciam no preparo e
emprego das forças em combate. Na História recente, as formas de se contrapor
às ameaças têm-se diversificado consideravelmente. Como praxe, as forças
militares orientavam sua articulação e preparo para combater ameaças
identificadas por um possível Estado agressor, baseadas em hipóteses de guerra,
conflito e emprego (BASES PARA TRANSFORMAÇÃO DA DOUTRINA MILTAR
TERRESTRE, 2013).
As mudanças experimentadas pelas sociedades, com reflexos na forma de
fazer política, e o surgimento de nova configuração geopolítica conduzem a
horizontes mais incertos e complexos para planejar a Defesa da Pátria, razão de
ser das Forças Armadas. Essas mudanças vêm alterando gradativamente as
relações de poder, provocando instabilidades e incertezas e suscitando o
aparecimento de conflitos locais e regionais com a inserção de novos atores –
estatais e não estatais – no contexto dos conflitos (BASES PARA
TRANSFORMAÇÃO DA DOUTRINA MILTAR TERRESTRE, 2013).
De acordo com (BRASIL, 2013), na era do Conhecimento, o Exército
necessita se organizar em estruturas com as características de flexibilidade,
adaptabilidade, modularidade, elasticidade e sustentabilidade (FAMES) que
permitam alcançar resultados decisivos nas Operações no Amplo Espectro, com
prontidão operativa, e com capacidade de emprego do poder militar de forma
gradual e proporcional à ameaça.
As dificuldades impostas ao combater um nacional no Estado do Rio de
Janeiro, o crime organizado, a atuação de atores não-governamentais, a falência
estatal, a crise de valores instalada no nível político, tudo isso entra numa
23
complexa situação-problema, que dificultariam o cumprimento da missão da tropa
no nível tático.
Como preparar e empregar uma tropa para ações de Segurança Pública
dentro de um contexto de Intervenção Federal e alcançar um emprego efetivo
nessa modalidade de missão?
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Objetivo geral
Analisar se o preparo e emprego das Tropas para ações de Segurança
Pública em um cenário de Intervenção Federal foram apropriados e se
resultaram em efeitos positivos.
1.2.2 Objetivos específicos
a) Identificar os melhores exercícios de preparação para a tropa realizar
ações de Segurança Pública em um cenário de Intervenção Federal.
b) Relatar o emprego de tropa realizando ações de Segurança Pública em
um cenário de Intervenção Federal.
c) Estudar a logística e finanças para o emprego de tropa em um cenário
de Intervenção Federal e ações de Segurança Pública.
d) Apresentar os aspectos legais de ações de Segurança Pública em um
cenário de Intervenção Federal.
1.3 HIPÓTESE
O Exército tem no preparo e emprego seus produtos finalísticos operacionais
dentro de seu Planejamento Estratégico. Nesse sentido, a experiência de outras
missões, como a missão de Paz no Haiti e as Forças de Pacificação no próprio
estado do Rio de Janeiro auxiliaram a tropa a alcançar o êxito nas ações da de
Segurança Pública em um contexto de Intervenção Federal, conforme decretado
pelo Presidente da República.
24
1.4 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO
A pesquisa abrangerá o período compreendido pelo preparo e emprego do 2º
Batalhão de Infantaria Leve (2º BIL) na Intervenção Federal no estado do Rio de
Janeiro. Será limitado pela fase de preparação, concentração de meios, emprego
propriamente dito, além da reversão ao final da missão de Intervenção Federal.
1.5 RELEVÂNCIA DO ESTUDO
O estudo sobre Preparo e Emprego de tropa de Infantaria Leve para ações de
Segurança Pública em um cenário de Intervenção Federal apresenta um relevante
interesse, pois foi um problema inédito a ser resolvido pela Força Terrestre. Como
usar a doutrina militar e como adaptá-la para as ações de Segurança Pública são de
interesse para o Exército Brasileiro.
Segundo o Programa de Instrução Militar 2018 (PIM/2018), o Adestramento é a
prioridade da Instrução Militar, sendo a atividade mais importante no Ano de
Instrução. Relata ainda que, o adestramento ocorre por funções de combate (F
Cmb), no qual o foco do adestramento está voltado para a interação, integração e
capacitação eficiente e eficaz das F Cmb. Para tal, procura-se adestrar,
concomitantemente, os integrantes das F Cmb articuladas nos diferentes escalões
O planejamento do ano deve levar em conta a quebra do ciclo de instrução em
virtude do emprego da tropa em operações de GLO, Garantia de Votação e
Apuração (GVA), ações subsidiárias, dentre outras, devendo os comandantes
planejar o Ano de Instrução com flexibilidade, tendo em vista a recuperação do
conteúdo perdido (PIM/2018).
Dentro desse contexto, a 11ª Brigada de Infantaria Leve (11ª Bda Inf L),
localizada na cidade de Campinas – SP, possui vocação para emprego de Garantia
da Lei e da Ordem. Dessa maneira, a tentativa de executar o Período de
Adestramento Básico de GLO (PAB GLO) ganha elevada importância.
Diante disso, é notório verificar a validação desta característica especial, o
preparo e emprego em GLO, nas ações de Segurança Pública em um contexto de
Intervenção Federal, conforme foi decretado pelo Presidente da República.
Toda literatura sobre o tema é oriunda de relatórios elaborados nas diversas
25
fases de concentração/preparação, emprego real, reversão e logística/finanças da
Força Martim Afonso (FMA), liderada pelo 2º BIL. Assim como, dados do Gabinete
de Intervenção Federal (GIF) e literaturas produzidas sobre o tema.
A relevância do assunto para a Força Terrestre foi demonstrada pelo emprego
de tropas na execução das ações de Segurança Pública no contexto da Intervenção
Federal no Rio de Janeiro. No caso, o emprego de uma tropa sediada fora da
guarnição do Rio de Janeiro, traz à tona uma visão diferente das tropas que estavam
sediadas na guarnição carioca.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Esta seção apresenta dois conceitos que servem de embasamento teórico para
melhor compreender a presente pesquisa: primeiro, o preparo e emprego do
Exército Brasileiro para ações em Operações de Cooperação e Coordenação com
Agências (OCCA). Em segundo, a logística empregada nas ações durante a
Intervenção Federal.
2.1 O PREPARO E EMPREGO DA TROPA PARA AÇÕES DE SEGURANÇA
PÚBLICA NO CONTEXTO DE INTERVENÇÃO FEDERAL.
A defesa da Pátria é a atribuição primordial do Exército Brasileiro, que, para
bem cumprir o que está prescrito na Constituição Federal de 1988, garantindo,
também, a manutenção dos poderes constitucionais, da lei e da ordem, necessita
estar constantemente preparado e permanentemente pronto para o combate. Dessa
forma, o militar, mais que adquirir competências, relacionadas à aquisição de
conhecimentos e habilidades e ao desenvolvimento de atitudes e valores, deve,
ainda, buscar obter capacidades militares e operativas (BRASIL, 2016).
O texto constitucional define que as Forças Armadas (FA) estão “sob a
autoridade suprema do Presidente da República” e que se destinam “à defesa da
Pátria” e “à garantia dos poderes constitucionais”, e mais, “por iniciativa de
qualquer destes” (poderes constitucionais), à garantia “da lei e da ordem”. Ou
seja, a rigor, não somente o Presidente da República, mas também as
presidências do Supremo Tribunal Federal (STF), da Câmara dos Deputados e do
Senado Federal (que representam o topo hierárquico dos três poderes
constitucionais: executivo, judiciário e legislativo), poderiam acionar as FA em Op
26
GLO. Entretanto, o comando supremo das FA não é compartilhado, ele é
exclusivo do chefe do Executivo Federal (DUARTE, 2016).
Na Política Nacional de Defesa (PND) é prevista a missão do Exército
Brasileiro - Contribuir para a garantia da soberania nacional, dos poderes
constitucionais, da lei e da ordem, salvaguardando os interesses nacionais, e
cooperando com o desenvolvimento nacional e o bem-estar social. Para isto,
preparar a Força Terrestre, mantendo-a em permanente estado de prontidão. Diante
dessa assertiva contida na PND, o preparo da Força Terrestre é e precisa ser
constante.
Constante da Lei Complementar nº 97, de 09 de junho de 1999, em seu
Capítulo IV, que diz:
DO PREPARO
Art. 13. Para o cumprimento da destinação constitucional das Forças Armadas, cabe aos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica o preparo de seus órgãos operativos e de apoio, obedecidas as políticas estabelecidas pelo Ministro da Defesa.
§ 1o O preparo compreende, entre outras, as atividades permanentes
de planejamento, organização e articulação, instrução e adestramento, desenvolvimento de doutrina e pesquisas específicas, inteligência e estruturação das Forças Armadas, de sua logística e mobilização.
§ 2o No preparo das Forças Armadas para o cumprimento de sua
destinação constitucional, poderão ser planejados e executados exercícios operacionais em áreas públicas, adequadas à natureza das operações, ou em áreas privadas cedidas para esse fim.
§ 3o O planejamento e a execução dos exercícios operacionais poderão
ser realizados com a cooperação dos órgãos de segurança pública e de
órgãos públicos com interesses afins.
Diz ainda, o Art. 14, o preparo das Forças Armadas é orientado pelos
seguintes parâmetros básicos:
I - permanente eficiência operacional singular e nas diferentes modalidades de emprego interdependentes;
II - procura da autonomia nacional crescente, mediante contínua nacionalização de seus meios, nela incluídas pesquisa e desenvolvimento e o fortalecimento da indústria nacional;
III - correta utilização do potencial nacional, mediante mobilização criteriosamente planejada.
27
Em síntese, dentro desse escopo, o fato de estar preparado para qualquer tipo
de ação, e em condições de ser empregado, é no mínimo aceitável, pois as ações
estratégicas do Exército Brasileiro (EB) irão direcionar para a resolução do
problema, que pode surgir repentinamente e o estado de prontidão precisa ser
elevado.
O preparo da Força Terrestre é condicionado pelo seu emprego. O emprego é
condicionado pelo Estado, na forma da lei, que determina quais são as missões das
Forças Armadas e, em particular, do Exército Brasileiro.
A Constituição Federal e o arcabouço legal subsequente preconizam o
emprego de forças militares em situações que não se restringem à defesa da pátria,
indicando o emprego das Forças Armadas também em situações de não guerra,
abrangendo uma ampla gama de atribuições, tudo isso de acordo com a Portaria Nº
122-COTER, de 6 de novembro de 2018.
Em uma situação de não guerra, o poder militar é empregado de forma
limitada, no âmbito interno e externo, sem que envolva o combate propriamente dito,
exceto em circunstâncias especiais. Normalmente, o poder militar será empregado
em ambiente interagências, podendo não exercer o papel principal, o que não
ocorreu no caso da Intervenção no Rio de Janeiro. Diante desse cenário, ocorreram
as atividades de emprego de tropa durante todo período no qual ocorreu a
intervenção.
Em situação de não guerra, são empregados os mesmos conceitos de resposta
imediata, de atuação ampliada e de esforço total, dependendo da necessidade dos
meios a serem empregados.
28
Figura 1 – Representação da ação decisiva empregada
Deste modo, as Forças Armadas passaram a atuar cada vez mais como
agentes de Segurança Pública por meio de Operações de Garantia da Lei e da
Ordem (Op GLO). O Estado do Rio de Janeiro tem sido o palco central em que
essas operações têm ocorrência mais frequente, com destaque para a Operação de
Pacificação dos Complexos da Penha e do Alemão (Operação Arcanjo) realizada
entre os anos 2010 e 2012, e a Operação de Pacificação do Complexo da Maré
(Operação São Francisco) ocorrida no período compreendido entre os anos 2014 e
2015 (MELO, 2018). Dentro desse contexto de Op GLO e tendo em vista o quadro
de Intervenção Federal ocorreu no Rio de Janeiro e teve como principal ator as
Forças Armadas, em particular o Exército Brasileiro.
. 2.2 A LOGÍSTICA DAS AÇÕES DE SEGURANÇA PÚBLICA NO CONTEXTO
DE INTERVENÇÃO FEDERAL
Tendo como referencial teórico o Manual EB-20-MC 10.204 Logística
temos o seguinte:
A Função de Combate Logística desempenha papel fundamental no sucesso
das operações militares. Para tanto, deve ser coerentemente planejada e executada
desde o tempo de paz, bem como estar sincronizada com todas as ações
planejadas, estando inerentemente ligada às logísticas conjunta e nacional, ou, em
determinadas situações, à logística das operações multinacionais das quais o Brasil
29
esteja participando. Em todas essas situações, deve ser meticulosamente
coordenada para assegurar que os recursos sejam disponibilizados aos usuários em
todos os níveis.
A Logística deverá ser delineada para o apoio às Operações no Amplo
Espectro, em situações de guerra e não guerra, dispondo de uma estrutura
compatível capaz de evoluir, rapidamente e com um mínimo de adaptações, de uma
situação de paz para a de guerra/conflito armado. Para tanto, sua organização será
pautada pela flexibilidade, adaptabilidade, modularidade, elasticidade e
sustentabilidade. Dessa forma o planejamento logístico da Força Martim Afonso
(FMA) tornou-se fundamental para o êxito das operações. Entretanto, de acordo com
os relatórios referentes a pauta são suscetíveis a melhoras de algumas ações que
serão abordadas durante os capítulos de preparo e emprego.
De acordo com o manual acima referenciado, o caráter difuso das ameaças, a
não linearidade do Espaço de Batalha e a execução de ações sucessivas e/ou
simultâneas nas Operações no Amplo Espectro conduzem ao desafio logístico de
prover o apoio necessário para sustentar as forças na continuidade das operações,
adequando a Logística aos cenários operativos atuais e futuros em que a F Ter irá
atuar.
Esse novo contexto das operações torna mais complexa a organização e a
condução da Função de Combate Logística. A dispersão de meios em zonas de
ação muitas vezes não contíguas, aliada à permanência do apoio ao Território
Nacional (TN) e na Zona do Interior (ZI), impõe a necessidade de prévia
centralização do apoio e da descentralização seletiva de recursos consoante as
necessidades específicas da força apoiada, que materializa a máxima da “logística
na medida certa”.
A previsão e a provisão do apoio necessário para a geração, o desdobramento,
a sustentação e a reversão de forças terrestres em operações constituem um
processo integrado (pessoas, sistemas, materiais, finanças e serviços),
intrinsecamente sincronizado com os planejamentos de emprego da F Ter. Essa
sistemática tem por objetivo manter a prontidão operativa da força apoiada e
aumentar seu poder de combate em todo o espaço de batalha.
Dessa forma, as diretrizes iniciais para o planejamento do apoio logístico e
financeiro foram:
30
a) Planejar e informar, desde já, as necessidades, por ND, para a concentração
e reversão dos meios.
b) Planejar o atendimento às necessidades extraordinárias, em especial
associadas à concentração e reversão.
c) Observar os aspectos associados à regularidade administrativa dos recursos
recebidos, em especial no que concerne ao modelo de prestação de contas de
eventuais recursos recebidos por destaque orçamentário.
d) Caso empregado suprimento de fundos (cartão corporativo), observar as
especificidades da legislação.
Em síntese, todas as funções logísticas foram evidenciadas de forma a se
obter uma capacidade prática de executar essa atividade tão importante nas ações
de Segurança Pública no contexto da Intervenção Federal.
3 METODOLOGIA
3.1 TIPO DE PESQUISA
A presente pesquisa teve uma abordagem qualitativa, com emprego do método
de estudo de caso simples. Foi abordado questões relativas ao Preparo e Emprego
de um Batalhão de Infantaria Leve, durante a Intervenção Federal, assim como a
Logística para executar a referida intervenção. As técnicas de pesquisa adotadas
foram revisão documental e bibliográfica, relatórios periódicos durante a execução
da missão. Além de consultas a sítios eletrônicos oficiais do Ministério da Defesa e
Gabinete de Intervenção Federal e legislação vigente. Também foram utilizadas
pesquisa de opinião com militares que participaram do evento.
3.2 UNIVERSO E AMOSTRA
Universo se refere ao conjunto de elementos (empresas, produtos, pessoas)
possuidores de características que serão objeto de estudo (VERGARA, 2009).
O universo do presente estudo são as atividades, as missões e
observações de análises pós - ação dos militares que participaram da
Intervenção Federal.
Com isso, as amostras que foram utilizadas fazem valer dados factíveis e de
fácil manuseio pois o assunto é recente com menos de um ano em que foi
abordado.
31
3.3 COLETA DE DADOS
Conforme Departamento de Pesquisa e Pós-graduação (BRASIL, 2012), a
coleta de dados do trabalho de conclusão de curso pode ser realizado por meio da
coleta na literatura, realizando-se uma pesquisa bibliográfica na literatura
disponível, tais como livros, manuais, revistas especializadas, jornais, artigos,
internet, monografias, teses e dissertações, sempre buscando os dados pertinentes
ao assunto. Nesse contexto, para a coleta de dados do presente trabalho, a direção
seguida foi coincidente com a a orientação do departamento acima citado.
Foram realizadas também, pesquisas com militares que planejaram e
executaram as ações durante a Intervenção Federal. Foram coletadas observações
das três forças tarefas que integraram as tropas da 11ª Bda Inf L. Tudo isto com a
finalidade de se obter dados de longo alcance para que a análise dos problemas
apresentados se obteve um resultado factível.
3.4 TRATAMENTO DOS DADOS
Conforme determina o Departamento de Pesquisa e Pós-graduação (BRASIL,
2012), o método de tratamento de dados utilizado no presente estudo foi a
análise de conteúdo, no qual foram realizados estudos de textos para se obter a
fundamentação teórico para se confirmar ou não a hipótese apresentada.
Observados e analisados os dados pode se confirmar ou não a hipótese
apresentada no trabalho.
3.5 LIMITAÇÕES DO MÉTODO
A metodologia em questão possui limitações, particularmente, quanto à
profundida do estudo a ser realizado. Apesar de possuir boa quantidade de fonte de
consulta, a maioria dos trabalhos referido ao tema está sendo produzido no corrente
ano. Com isso, algumas observações pertinentes podem situar-se fora da pesquisa.
As entrevistas realizadas resultaram em observações diversas. Porém, todas foram
analisadas e inseridas na concepção do trabalho. Apesar de algumas citações com
viés negativo, buscou-se adequar a pesquisa de forma a colaborar com a produção
acadêmica.
32
4 O PREPARO E EMPREGO DA TROPA
4.1 O PREPARO GERAL
O preparo compreende, entre outras, as atividades permanentes de
planejamento, organização e articulação, instrução e adestramento,
desenvolvimento de doutrina e pesquisas específicas, inteligência e estruturação
das Forças Armadas, de sua logística e mobilização.
Nesse capítulo a abordagem está diretamente relacionada ao preparo da
tropa. Segundo o dicionário, o significado de preparo é ação, efeito ou arte de
preparar. Dessa forma, essa arte é de primordial importância para a Força Terrestre
para mantê-la em estado de prontidão. No caso da Intervenção Federal no Rio de
Janeiro foi demonstrada pela tropa um alto nível de prontidão que proporcionou um
bom cumprimento de missão. Pois, após o Batalhão receber a ordem de alerta que
seria empregado no estado do Rio de Janeiro, de maneira rápida realinhou o
planejamento das ações durante o ano de instrução com a missão próxima a ser
recebida e em cerca de 2 meses se deslocava para o cumprimento da missão fora
de sua sede em São Vicente-SP.
De acordo com o manual EB70-D-10.002, o preparo do Exército Brasileiro é
regulado pelo Comando de Operações Terrestres (COTER), Órgão de Direção
Operacional (ODOp) que confecciona planos e difunde programas-padrão que
norteiam o planejamento da Instrução Militar (IM) da Força Terrestre. Ademais, os
Comandos Militares de Área emitem diretrizes e realizam estágios que detalham as
especificidades da preparação de suas tropas.
O Sistema de Instrução Militar do Exército (SIMEB) é o documento de mais alto
nível da atividade de Preparo da Força Terrestre (F Ter), de caráter normativo e
doutrinário, que estabelece os fundamentos e a sistemática da Instrução Individual e
do Adestramento (BRASIL, 2012).
O SIMEB tem por finalidade regular toda a atividade de instrução. Que vai
desde a Instrução Básica até o seu mais alto grau que é o Adestramento. Com isso,
permitindo a situação de prontidão esperada pelo Comando da Força.
Na concepção de preparo e emprego da Força Terrestre consta como
finalidade orientar a execução do preparo e os planejamentos do emprego. O
preparo da Força Terrestre é condicionado pelo seu emprego. O emprego é
condicionado pelo Estado, na forma da lei, que determina quais são as missões das
33
Forças Armadas e, em particular, do Exército Brasileiro (EB). Nesse contexto, a
doutrina estabelece o arcabouço conceitual que aproxima as atividades do preparo
das necessidades do emprego da F Ter (BRASIL, 2018).
A Força Terrestre deverá orientar o seu emprego e, consequentemente,
condicionar o seu preparo, em conformidade com a Estratégia Militar de Defesa
(EMiD) (MD51-M-03, 2ª edição, 2006, confidencial), que define as hipóteses de
emprego (HE) em situação de guerra e em situação de não guerra, com os
planejamentos do Ministério da Defesa e com as demandas da sociedade, naquilo
que lhe couber (BRASIL, 2018).
Nesse arcabouço, verifica-se duas situações de emprego das forças militares:
situação de guerra e não-guerra. Com isso, o preparo condiciona-se a atender essas
situações anteriormente citadas. Nesse caso específico, Intervenção Federal, o
preparo volta-se para o emprego de não – guerra.
Nessa situação, ocorre o emprego mais frequente da F Ter. As operações
executadas nesse contexto são denominadas de operações de cooperação e
coordenação com agências, indicando a necessidade de preparação peculiar para
cada demanda (BRASIL, 2018).
As operações de cooperação e coordenação com agências são executadas,
normalmente, em situações de não guerra, mas podem ser desencadeadas em
situações de guerra, simultaneamente com as operações ofensivas e defensivas.
São elas:
a) garantia dos poderes constitucionais; b) garantia da lei e da ordem (GLO); c) atribuições subsidiárias; d) prevenção e combate ao terrorismo; e) sob a égide de organismos internacionais; f) em apoio à política externa em tempo de paz ou crise; e g) outras (os) operações/empregos em situação de não guerra: - controle de armas e produtos controlados; - assistência a outros Estados; - operações de evacuação de não combatentes; - operações de resgate; - operações de salvaguarda das pessoas, dos bens, dos recursos brasileiros ou sob jurisdição brasileira, fora do território nacional; - garantia da votação e da apuração em processo eleitoral; - segurança de chefes de Estado; e - outros. (BRASIL, 2018, grifo nosso)
4.2 O CICLO DE ADESTRAMENTO DA 11ª BRIGADA DE INFANTARIA
LEVE
4.2.1 ORIGEM DA 11ª BRIGADA DE INFANTARIA LEVE
34
A 11ª Brigada de Infantaria Leve (11ª Bda Inf L) é originária do 1º Grupamento
de Artilharia de Costa da 2ª Região Militar, criado em 1943, na cidade de Santos
(SP), em plena 2ª Guerra Mundial, com o objetivo de defender o litoral paulista das
agressões nazistas que se faziam presentes em águas marítimas brasileiras. Em 22
de dezembro de 1971, por reorganização do II Exército e da 2ª Divisão de Exército
(2ª DE), foi criada a 11ª Brigada de Infantaria Blindada (Bda Inf Bld), pela Portaria nº
38 - GB.
A criação da Brigada teve por finalidade grupar, taticamente em uma Grande
Unidade, as Organizações Militares (OM) sediadas no eixo São Paulo–Brasília, eixo
conhecido como “Via Anhanguera”, caminho percorrido pelo insigne bandeirante
paulista Bartolomeu Bueno da Silva. Sendo assim, em 7 de dezembro de 1994, o
Exército Brasileiro concedeu à 11ª Bda Inf Bld a denominação histórica de “Brigada
Anhanguera”.
Visando a uma melhor preparação para cumprir sua missão constitucional de
Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e buscando ser um novo vetor de modernidade
dentro da Força Terrestre, a 11ª Bda Inf Bld foi transformada, em 1º de março de
2005, em 11ª Brigada de Infantaria Leve (GLO), permanecendo subordinada à 2ª
DE. Apenas em 2013, recebe a denominação atual de 11ª Brigada de Infantaria
Leve. Visualiza-se a seguir o atual organograma da Brigada Anhanguera:
Figura 2 – Organograma atual da 11ª Bda Inf L
35
4.2.2 O ADESTRAMENTO DA 11ª BRIGADA DE INFANTARIA LEVE
De acordo com a Portaria Nr 122-COTER, DE 6 de novembro de 2018, a Força
Terrestre é organizada por grupos de emprego. São eles: Força de Emprego
Estratégico (F Emp Estrt) e Força de Emprego Geral (F Emp Ge). Na situação da
Brigada Anhanguera, é categorizada como F Emp Ge. Dessa forma, a prioridade
para o emprego é orientada pela base doutrinária, devendo possuir capacidade de:
a) ser empregada em outras áreas estratégicas, mesmo que parcialmente;
b) participar da resposta imediata, da atuação ampliada e/ou do esforço total; e
c) ser reforçada ou reforçar outras tropas por elasticidade e/ou modularidade.
De acordo com a Diretriz do Comandante, a 11ª Bda Inf L tem como visão de
futuro em seu Planejamento Estratégico ser uma Grande Unidade reconhecida, no
âmbito da Força Terrestre, por sua elevada operacionalidade, com capacidade de
ser empregada a qualquer momento e dispor de efetiva capacidade de pronta
resposta sendo considerada como referência em missões de Combate Urbano.
(grifo nosso)
Dessa maneira, possui um Centro de Instrução e Adestramento em Operações
Urbanas (CIAOU), antigo Centro de Operações de Garantia da Lei e da Ordem
(CIGLO). Aliado a esse fato, todas as tropas da Brigada participaram do
adestramento e validação no referido centro. Foi de sobremaneira importante para o
preparo da Intervenção Federal.
O ciclo de adestramento da Brigada foi determinante para o cumprimento da
missão de suas OM subordinadas. Para tal, o 2º Batalhão de Infantaria Leve realizou
um ciclo de adestramento no centro de instrução para aumentar sua expertise e
após isso, atuar no Estado do Rio de Janeiro.
O ciclo foi planejado e determinado pela 2ª Divisão de Exército (2ª DE), Grande
Comando Operacional, comando enquadrante da 11ª Bda Inf L. O ano de instrução
ocorreu com a Instrução Individual (Básica e Qualificação), de importante pode-se
citar a Instrução Individual de Qualificação em GLO que foi coroada com o Período
de Adestramento Básico em GLO (PAB GLO). E após essa fase, iniciou-se o
adestramento básico e avançado, que possuiu segundo o PIM 2018, a maior
importância do ano de Instrução.
Cabe ressaltar duas atividades importantes durante o período de
adestramento: o Exercício de Avaliação de Subunidade (SU) composta por Efetivo
Profissional no antigo CIGLO e o exercício de validação das Subunidades (SU) que
36
comporiam as Forças Tarefas que cumpririam a missão de Intervenção no Rio de
Janeiro. Conforme, o quadro seguinte, durante as Operações Complementares foi
dada a merecida importância para Operações em Área Edificada, o que veio a
contribuir com o sucesso das atividades.
Quadro 1 – Ciclo de Adestramento 11ª Bda Inf L em situação de guerra
Quadro 2 – Ciclo de Adestramento 11ª Bda Inf L em situação de não guerra
Após analisar as figuras acima, verifica-se que a preparação anual (Qaudro 2)
é destinada a situação de não - guerra enquanto a preparação orgânica para
37
situação de guerra é bienal (Quadro 1). Dessa forma, infere-se que a preparação
para situações de não-guerra tem maior intensidade durante o ciclo de adestramento
da 11ª Bda Inf L.
4.3 O PREPARO ESPECÍFICO PARA A INTERVENÇÃO FEDERAL
Após a decretação de Intervenção Federal em 16 de fevereiro de 2018, o 2º
Batalhão de Infantaria Leve foi acionado em 23 de março de 2018 para ficar em
condições de ser empregado com tropa nas ações no Estado do Rio de Janeiro.
Para tal, realizou uma mudança de planejamento que havia sido iniciada desde o
começo do ano de 2018. A 1ª Companhia de Fuzileiros Leve, tropa composta
somente por militares do Efetivo Profissional, começou a realizar módulos de
treinamentos voltados para ações de Garantia da Lei e da Ordem para um futuro
emprego no Rio de Janeiro.
Uma outra atividade importante foi o início de treinamento de algumas tarefas
que foram visualizadas e poderiam ser executadas durante a Intervenção Federal,
face a um problema inédito a ser resolvido pela Força Terrestre, e em particular pela
Organização Militar (OM).
Essa incerteza do que poderia ser executado na Intervenção, tornou-se um
óbice para o adestramento da Tropa. O planejamento ocorreu visando realizar
Operações tipo polícia, de apoio à informação, de Inteligência e atividade de
Comunicação Social, conforme eram realizados nos exercícios de adestramento da
11ª Bda Inf L.
Dessa forma, foi executado um Plano de Operações Nr 1/2º BIL que atendeu
todas essas tarefas: Ficar em condições de (ECD) realizar patrulhamento Ostensivo,
motorizado e à pé; empregar os Órgãos de Segurança e Ordem Pública (OSOP) sob
controle operacional (Ct Op); mediante ordem (Mdt O), realizar Operação de Busca e
Apreensão (OBA) de pessoas, drogas, armamento e munição, isoladamente (em
coordenação com a Polícia Federal e equipe de Polícia Civil, em sua Zona de Ação
(Z Aç); planejamento e execução de demonstração de força em sua Z Aç; Mdt O,
realizar Operação de Controle de Distúrbio (OCD); estabelecer ligações com
autoridades e lideranças em sua Área de Operações (A Op); Ficar ECD ocupar
pontos sensíveis dentro de sua A Op; Ficar ECD realizar vasculhamento em áreas
edificadas e presídios; acompanhar a situação de possibilidade de confronto entre
os movimentos sindicais, organizações criminosas e manifestantes de oposição e/ou
38
agentes de segurança pública/privada e, ficando ECD intervir com operações
militares para evitar danos colaterais, garantindo assim a preservação da integridade
da população e do patrimônio do Estado do RIO DE JANEIRO; coibir o contrabando
de drogas, armas e munições mediante a instalação de Postos de Bloqueio e
Controle de Estrada/Posto de Bloqueio e Controle de Vias Urbanas (PBCE/PBCVU);
coibir incêndios provocados pelas Organizações Criminosas (ORCRIM), em sua A
Op; realizar o controle de trânsito e a identificação de pessoas nos acessos ao
Estado do Rio de Janeiro; Ficar ECD desocupar patrimônio público ou privado;
garantir o livre trânsito de pessoas e bens nas estradas e cidades dentro de sua
área de responsabilidade, e ficar ECD desobstruir vias; Mdt O, executar o mandato
de reintegração de posse; controlar e debelar rebelião em presídios na A Op,
garantindo seu normal funcionamento; realizar Ação Cívico Social (ACISO) em sua A
Op; ficar ECD prestar entrevista coletiva; e estabelecer e empregar o Cartório Militar
em sua A Op, em coordenação com Assessoria Jurídica da 1ª DE.
Com isso, o repertório de missões foi abrangente e tentando mitigar alguma
dificuldade da operação que estava por vir, todas as atividades foram treinadas e
ensaiadas exaustivamente.
Uma atividade da tropa voltada para a preparação específica do 2º BIL foi a
execução de módulos de tiro no estande localizado no complexo da fábrica da CBC
(Companhia Brasileira de Cartuchos) em Ribeirão Pires. Essa atividade foi um
ganho pois foram utilizadas munições de calibre 7,62mm e 9 mm, doadas pela CBC,
para execução dos módulos de tiro para 1ª Companhia de Fuzileiros, Estado-Maior
da Força Martim Afonso e para os militares da Companhia de Comando e Apoio.
Foto 1 – Tiro de Adestramento na CBC
39
Outro fator de sucesso da tropa na Intervenção Federal foi o adestramento
ocorrido com as peças de manobra no Centro de Adestramento Leste (CA-Leste). A
passagem por três oficinas permitiu a tropa receber instruções voltadas para
atividades que foram executadas no Rio de Janeiro. E o principal ganho, foi que a
instrução foi ministrada com militares que serviam na Guarnição do Rio de Janeiro,
possuidores de elevada expertise das áreas de operação, colaborando com a
melhoria de capacidade da tropa que vinha de outra guarnição.
4.4 O EMPREGO GERAL
Todas as OM operativas da Força Terrestre (F Ter) contribuem para as
estratégias de emprego, com prioridade para a da dissuasão e a da presença. A
Concepção Estratégica do Exército apresenta as vocações prioritárias de emprego
dos grandes comandos (G Cmdo) ou grandes unidades (GU) (BRASIL, 2018).
Nesse sentido, a partir das tabelas de vocações prioritárias de emprego, os
Comandos Militares de Área puderam organizar suas OM subordinadas em “grupos
por vocações prioritárias de emprego”, abrangendo organizações valor unidade e
subunidade. Isto foi o que aconteceu com a 11ª Bda Inf L. Para se organizar em
relação ao emprego, utilizou-se de duas hipóteses. Primeiro formando uma Força
Tarefa nível brigada, com o Estado-Maior da própria brigada, além de utilizar suas
OM de manobra. E a outra modularidade mais flexível, com uma Força Tarefa
Unidade, com um Batalhão assumindo o comando e composto por duas
subunidades de Fuzileiros e uma Companhia de Comando e Apoio, o que na prática
foi utilizada na Intervenção.
Dessa maneira, a formação desses grupos de instrução teve por objetivo
facilitar os planejamentos de emprego em situações diversas e possibilitou o preparo
diferenciado das tropas (BRASIL,2018). No contexto da 11ª Bda Inf L, foram
constituídas três Forças Tarefas: Força Martin Afonso (FMA), Força Henrique Dias
(FHD) e Força General Silvino (FGS).
Para as operações de cooperação e coordenação com agências, em situação
de não guerra, após decreto do Presidente da República e da expedição da Diretriz
Ministerial do Ministro da Defesa, com as instruções para o emprego das Forças
Armadas, o COTER expedirá a Diretriz de Planejamento Operacional Militar (DPOM)
para coordenar o emprego dos meios da Força Terrestre (BRASIL,2018). Dessa
40
forma, o 2º BIL atuou em prol da Intervenção Federal e sua subordinação teve uma
grande flexibilidade. Em primeira oportunidade, esteve subordinado diretamente ao
Comando Conjunto, em outras oportunidades, atuou sob as ordens da 9ª Brigada de
Infantaria Motorizada Escola, da Brigada de Infantaria Paraquedista ou Comando da
Artilharia Divisionária/1.
4.5 O EMPREGO DA 1ª Cia Fuz L EM APOIO À FORÇA GENERAL
SILVINO - 3 a 28 DE JULHO DE 2018.
A primeira participação de tropa do 2º BIL foi com uma subunidade de
fuzileiros leve integrando a Força General Silvino, que foi comandada pelo 37º
Batalhão de Infantaria Leve, com sede em Lins-SP.
A missão foi designada como contribuir com a FT GUANABARA no apoio às
ações do PNSP (Plano Nacional de Segurança Pública) no Estado do RIO DE
JANEIRO, em ações de cooperação com os órgãos do Governo Federal, Estadual e
Municipal, na preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
patrimônio, em um quadro de Intervenção Federal. Para isso, realizou a
concentração da FORÇA GENERAL SILVINO na Gu da VILA MILITAR-RJ, com o
Destacamento Precursor, e Mdt O, com elementos de combate (Elm Cmb), apoio ao
combate (Ap Cmb) e apoio logístico (Ap Log), de acordo com a Ordem de ORDEM
DE OPERAÇÕES DA 11ª Bda Inf L – OPERAÇÃO FURACÃO.
Uma observação a ser feita: a não realização de concentração estratégica. A
Força Tarefa General Silvino foi formada pelo Comando e Estado-Maior do 37º BIL,
uma Companhia de Fuzileiros do próprio Batalhão, e a outra companhia orgânica do
2º BIL, além da Companhia de Comando e Apoio (Cia C Ap) e apoios. Dessa
maneira, considerando o fator distância e custos optou-se por não realizar a
supracitada concentração.
Por outro lado, um ponto positivo foi a certificação da 1ª Cia Fuz L em
Operações de GLO, mais uma vez em Campinas, no Centro de Operações de
Garantia da Lei e da Ordem, facilitando e tornando a tropa cada vez mais apta a
operar na Gu do Rio de Janeiro.
Além disso, após a certificação ocorreu uma formatura de conclusão desse
referido exercício, permitindo que os Cabos e Soldados fossem brevetados com o
símbolo do Combatente de GLO e assim, conquistaram a oportunidade de usar o
distintivo do CI Op GLO. Essa formatura presidida pelo Comandante da 11ª Bda Inf
41
Leve motivou ainda mais os militares permitindo que o espírito de corpo e de
cumprimento de missão fosse aumentado.
O conceito da operação trouxe as seguintes premissas: A partir de 4 de julho
de 2018, a Força General Silvino (FGS) passou ao Ct Op da 9ª Brigada de Infantaria
Motorizada Escola (9ª Bda Inf Mtz/ Gu Es) para emprego em Operações de Garantia
da Lei e da Ordem, a fim de manter a ordem pública e a incolumidade das pessoas e
do patrimônio em áreas a serem determinadas por aquela GU, no estado do RIO DE
JANEIRO. Para isso:
a) deslocou o Destacamento Precursor para a Gu VILA MILITAR-RJ, a partir de
26 de junho de 2018;
b) realizou a concentração da FGS na Gu CAMPINAS-SP até 27 de junho de
2018;
c) entrou em Situação de Apronto Operacional (SAO) em 28 de junho de 2018;
d) entrou em Situação de Ordem de Marcha (SOM), a partir de 02 de julho de
2018;
e) concluiu a concentração da FGS no Rio de Janeiro até 03 de julho de
2018, às 1800 horas. (grifo nosso).
As datas de término de concentração e passagem de controle operacional a 9ª
Bda Inf Mtz (Es) foram muito próximas. Dessa maneira, assim que a tropa chegou no
Rio de Janeiro, na manhã seguinte, realizou missões dentro do contexto da
Intervenção Federal. Com isso, uma oportunidade de melhoria poderia ser antecipar
a chegada da tropa para um eventual reconhecimento das Áreas de Operação.
A subunidade do 2º BIL ficou aquartelada no 15º RCMec Es (15º Regimento de
Cavalaria Mecanizado Escola). Uma dificuldade logística, pois o grosso da FGS
estava aquartelada no 1º BIMtz Es (1º Batalhão de Infantaria Motorizado Escola) na
Vila Militar, sendo assistida pela Cia C Ap. Por outro lado, a subunidade do 2º BIL foi
apoiada pela pequena equipe da Seção de Comando. Entretanto, após o
desencadear das operações foi mais uma dificuldade suplantada e que serviu como
oportunidade de melhoria no decorres das atividades da Intervenção Federal.
Uma outra oportunidade de melhoria foi adestrar as duas subunidades de
Organizações militares diferentes além do Pelotão de Cavalaria Mecanizado
orgânico do 13º RCMec de Pirassununga-SP antes de iniciarem as operações. Essa
oportunidade ocorreu durante uma ação de Patrulhamento Ostensivo na Cidade de
Deus, quando foi empregada uma manobra nível Unidade.
42
Conforme o Manual EB70-D-10.002, o orçamento destinado ao preparo é
limitado, devendo o COTER direcionar os recursos financeiros disponíveis ao
preparo de modo a atender às vocações das GU e de suas OM subordinadas. Por
isso, o adestramento da tropa da FGS como um todo não ocorreu.
Assim que a 1ª Cia Fuz L chegou ao Rio de Janeiro, logo entrou em operações.
Cabe ressaltar, uma oportunidade de melhoria nesse tipo de missão é a fase de
reconhecimentos. Conhecer o terreno é de vital importância para os oficiais e
sargentos que lideraram as frações durante as operações. Outro dado importante é
o reconhecimento executado pelos motoristas das viaturas (Vtr) da tropa, pois em
uma situação de risco iminente e na necessidade de sair de uma favela, o motorista
pode se confundir, errar a orientação espacial e se deslocar para o interior da
comunidade.
Uma das atividades realizadas pela SU foi o patrulhamento ostensivo da região
conhecida como Praça Seca. Rodeada de comunidades que estavam de posse de
traficantes e que disputavam territórios com milicianos. Essa Zona de Ação foi
atribuída à 1ª Companhia e Fuzileiros Leve/2ºBIL logo após a chegada da tropa ao
Rio de Janeiro. Um fator limitador é que toda a munição da operação era cautelada
na Gu da Vila Militar e não houve tempo hábil para executar tal atividade.
Fig 3 – Área de atuação da 1ª CIA FUZ L em reforço à FGS
De acordo com o Manual de Campanha Operações em Área Edificada EB 70-
MC10, os conflitos assimétricos exigem o emprego de forças especializadas para o
combate em áreas edificadas, devendo, ainda, ser:
a) dotadas de alta mobilidade e flexibilidade;
43
b) conectadas em rede;
c) capazes de operar diuturnamente; e
d) dotadas de armas, munições, veículos, robôs e outros artefatos
especificamente projetados para o emprego nesse ambiente. Essas características
foram buscadas tendo em vista alcançar eficácia nas operações. Nessa ótica, um
ganho foi o emprego de drone acompanhando o deslocamento das tropas de forma
a obterem uma observação aérea dos agentes perturbadores da ordem pública
(APOP).
Além disso, todos os Cmt Pel Fuz, além do material, equipamento e
armamento normalmente utilizados conduziram Smartphones com aplicativo e
acesso à rede mundial de computadores (Internet) para emprego do Sistema
Pacificador4.
Edificações, largura da rua, escombros, detritos e a presença de não
combatentes são fatores que contribuem para a redução do espaço de
manobra. Com isso, a tropa foi obrigada a operar, em diversos momentos,
desembarcada e isolada de qualquer apoio de viaturas motorizadas, blindadas
ou mecanizadas. Este fato ocorreu, durante um patrulhamento na Praça Seca.
Durante uma patrulha, após a Linha de Controle (L Ct ) CANDIDO BENÍCIO, o
Pelotão não desembarcou das Vtr e sofreram disparos contra a tropa, vindo um
soldado a ser ferido por estilhaço de um projetil. A partir desse acontecimento e
após tomar mais conhecimento da área em que operavam, os Cmt Pel atentaram
com mais detalhe para essa tática, técnica e procedimento.
Outro aspecto importante do emprego da 1ª Cia Fuz L foi portar “mementos” de
Regras de Engajamento/POP sobre abordagem de pessoas e veículos. Tudo isso
para mitigar ações indevidas realizadas pela tropa. Nesse documento foram
incluídos diretrizes, orientações sobre a utilização de dispositivos de foto-filmagem e
a proibição de telefones celulares pela tropa, quando em operação.
Uma observação feita pelo Cmt da SU do 2º BIL: durante as operações, os
motoristas precisam estar enquadrados no pelotão. Dessa maneira, desde o
4 Sistema Pacificador - Software desenvolvido pelo Centro de Desenvolvimento de Sistemas
(CDS) que permite a obtenção da consciência situacional abastecendo o Sistema de Comando e
Controle e aumentando a velocidade com que as informações chegam ao decisor, permitindo o
acompanhamento de todas as ações. Facilitando a rápida confecção da matriz de sincronização e a
consequente troca de informações.
44
adestramento até o emprego efetivo, o militar que conduz a Vtr precisa ter os laços
táticos definidos. Uma outra observação foi a de que até outros dois militares sejam
habilitados a conduzir Vtr Op cooperando com o cumprimento da missão.
Uma outra consideração foi que o motorista além de portar seu armamento de
dotação, Pistola 9 mm, o fizesse também com fuzil. Tudo isto, com a finalidade de
aumentar seu poder de fogo face a um investimento da fração em uma localidade e
o motorista permanecer na entrada de uma viela com outros motoristas. Nessa
operação, um pelotão possuía quatro Vtr ¾ Toneladas Tipo Marruá, nesse caso
então aumentaria para mais uma esquadra armada com fuzis.
Evidenciou-se a necessidade de todos pelotões possuírem um militar do
seguimento feminino incluída em cada pelotão. Com isso, com os militares bem
instruídos para as operações aumentam o poder de combate das frações. Ademais,
podem realizar abordagens e revistas em pessoas do sexo feminino, fator crítico de
sucesso nesse tipo de operação.
Foto 2 – Treinamento do Segmento Feminino no 2º BIL
Outra atividade realizada foi o cerco e isolamento em apoio a grandes
operações. A companhia recebeu uma Z Aç para evitar que os APOP que saíssem
ou entrassem nas comunidades, assim como fossem identificados por meio de
carômetros. O uso de fura pneus em todos os Pontos de Bloqueios de um
Cerco/Isolamento foi um fator positivo das atividades, pois a comunidade possui
várias entradas e saídas e evitou que os veículos se evadissem das revistas.
Conclui-se parcialmente que, o emprego da 1ª Companhia de Fuzileiros Leve
em apoio à FGS trouxe grande experiência para os militares no tocante a parte de
operações. Dessa maneira, o preparo e emprego da FMA que partiria para a
próxima passagem no Rio de Janeiro foram adequados e mais eficazes.
45
4.6 EMPREGO DA FORÇA MARTIN AFONSO NA 1ª PASSAGEM (3 de
setembro à 10 de outubro de 2018)
A Força Martin Afonso (FMA) era composta pelo Comando Btl, Estado-Maior, 1
SU a 2 Pel, orgânica do Batalhão, 1 SU a 2 Pel do 37º BIL, 2 Pel do 2º GAC L, além
de 1 Pel C Mec/13º RC Mec, 1 Grupo de Engenharia (GE)/11ª Cia Engenharia de
Combate Leve, 1 Seção Leve de manutenção do 2º Batalhão Logístico Leve.
Totalizando um efetivo de 512 militares.
Semelhante a Força General Silvino não foi realizada a concentração
estratégica, devidos a escassos recursos financeiros. Entretanto, o planejamento
realizado para assunção da Zona de Ação no Rio de Janeiro facilitou a execução
das missões durante o emprego.
O reconhecimento da área de operações, base de combate e instalações foi
realizado em 15 de agosto de 2018 pelo Estado-Maior da FMA. Dessa maneira,
foram reconhecidos os locais de alojamento da tropa, levantada a necessidade
logística e de pequenas obras hidráulicas e elétricas que precisariam ser realizadas.
Outra atividade executada foi a ligação com o Comando Conjunto para contato
inicial e retirada de dúvidas de quais atividades iriam ser cumpridas pela tropa.
Ademais foram realizadas as ligações com a OM hospedeira e oficial de finanças do
Comando Conjunto.
Um planejamento realizado, de forma geral, foi o seguinte, considerando o início
das operações como dia D:
Início das Operações (D)
Adaptação, Mdd Adm e Brieffing Inicial (D-1)
Deslocamento da Tropa para o RJ (D-3/ D-2)
Deslocamento do Esc Log (D-5)
Deslocamento do Esc Prec (D-7)
Deslocamento do Cmdo (D-10)
Quadro 3 – Planejamento da assunção da Z Aç. Fonte: Plano de Op da FMA
Esse deslocamento inicial do Comando da FMA permitiu que todas as medidas
iniciais tanto logísticas quanto operativas fossem facilitadas para a tropa. No
momento da chegada da tropa, ela simplesmente ocupou alojamento, recebeu
46
munição e armamento especial ajustando os pelotões das subunidades para
emprego na missão.
O deslocamento do comboio logístico também foi antecipado em cinco dias.
Dessa forma, a assunção do Serviço de Aprovisionamento e a confecção de
gêneros para a operação contribuiu para que todas as subunidades tivessem
voltadas apenas para a atividade fim na operação e não para atividades como
montagem de base.
A rotina de base foi outro fator de sucesso para o cumprimento da missão. A
realização separada de briefing operacionais e logísticos contribuíram para a
execução da manobra. Dessa forma, o tempo de planejamento e reconhecimento
para o escalão subordinado ficou adequado e o entendimento da missão mais
facilitado.
O rodízio de função no Estado-Maior ocorreu de forma eficiente. Foi dividido
em três grupos de trabalho, de forma que era um dia como reserva, porém já
acompanhando as operações futuras. Na outra jornada, como titular na seção,
acompanhando as operações correntes e no próximo rodízio na base realizando
atividades administrativas ou de cunho particular como Treinamento Físico Militar
(TFM).
Operacionalmente, a primeira atividade de cada missão imposta pelo Comando
Conjunto foi o reconhecimento. Dessa maneira, os comandantes de fração além dos
motoristas e membros do Estado-Maior conheceram os locais, rotas, itinerários de
fuga dos APOP entre outros aspectos importantes para o cumprimento da missão.
Uma modularidade de tropa foi utilizada durante a missão. Seu principal
objetivo era de que caso a tropa sofresse algum tipo de ataque conseguisse se
desengajar de fogos de APOP utilizando a própria proteção blindada e seu próprio
apoio de fogo. Para tal foi formado um pelotão de fuzileiros com um ótimo poder de
combate, com uma Vtr Marruá Blindada adaptada, três Vtr Marruá, uma Viatura
Blindada sobre Rodas (VBR) Cascavel com uma metralhadora (Mtr) 7,62 mm MAG e
uma Vtr Leve com uma Mtr 7,62 mm MAG. Dessa forma, o pelotão ao sair para um
patrulhamento ostensivo ou operar um PBCVU cumpria muito bem a estratégia da
dissuasão.
Sempre que possível, a tropa deve contar com o apoio dessas viaturas
integrando a base das frações, estabelecendo a proteção blindada à tropa, provendo
apoio de fogo de maior calibre e proporcionando condições de reforço imediato.
47
Entretanto, devido às peculiaridades das áreas edificadas, torna-se imprescindível o
apoio da infantaria a pé aos veículos blindados/mecanizados (BRASIL, 2017).
A FMA recebeu em sua composição de meios elementos da 11ª Cia Com L,
orgânica da Brigada Anhanguera, que contribuíram para o cumprimento da missão.
Estabeleceram redes e sistemas de informações de modo a permitir integração
necessárias às operações.
A utilização do sistema pacificador foi um ganho operativo. O sistema permitiu
a consciência situacional do Cmt da FMA e todo seu Estado-Maior. Dessa forma, o
software trouxe um grande ganho para o comando e controle permitindo a
intervenção do Cmt da Força Martim Afonso empregar os seus meios de maneira
correta e intempestiva.
Um meio empregado foi a Vtr Comando e Controle. Essa Vtr foi empregada
para estabelecimento do Posto de Comando da FMA. Com isso, permitiu
acompanhar com mais precisão a manobra da tropa que foi empregada durante as
ações da intervenção.
Outro ganho no emprego foi a utilização do Sistema C² em Combate. Esse
software proporcionou que as informações das operações fossem passadas em
tempo real para o Escalão Superior que coordenava as operações. Foram passadas
informações tanto para o Comando Conjunto quanto para a 11ª Bda Inf L e 2ª
Divisão de Exército, escalões enquadrantes aos quais o 2º BIL é subordinado no
Estado de São Paulo.
No tocante, as atividades logísticas, a Seção de Manutenção Leve atuou de
forma efetiva. A manutenção realizada principalmente no armamento e Vtr foi de
capital importância para atender as tropas. A partir da descentralização dos recursos
foi possível melhorar o nível de manutenção das Vtr.
4.6.1 OPERAÇÃO CINTURÃO
Segundo o Comando Conjunto, a realização da Operação CINTURÃO
contribuiu com o patrulhamento no entorno da VILA MILITAR. Realizou
patrulhamento ostensivo a pé e motorizado das principais vias urbanas das
comunidades do MUQUIÇO, PALMEIRINHA, BATAN, PROMORAR 1 e 2,
TRIÂNGULO, CURRAL DAS ÉGUAS, FUMACÊ, MINHA DEUSA, PARQUE DAS
NOGUEIRAS, VILA VINTÉM e adjacências.
48
Figura 4 – Área de operações da Op CINTURÃO
A principal finalidade foi retirar a ostensividade dos APOP, contribuir com os
OSP/RJ nas ações de diminuição dos índices de criminalidade e melhora da
percepção da sensação de segurança nessas áreas.
Essas patrulhas ocorreram no nível pelotão. O que permitiu o emprego do
princípio da massa adensando tropa na região. Segundo o Manual de Campanha
10.303, as operações em área edificada são imprescindíveis o emprego de
pequenas frações, em números significativos, tendo em vista as características e
diversidades do ambiente operacional. Dessa forma, a FMA pode comprovar essa
característica específica para esse tipo de operação durante a intervenção.
Uma das ações táticas realizadas e de extrema importância foi a ligação com
os Órgãos de Segurança Pública. Esse contato estreitado com o Batalhão de Polícia
Militar e com o Distrito Policial responsáveis pela área onde estavam ocorrendo as
operações facilitou o desencadear das missões. Ademais, a solução das ocorrências
verificadas nas patrulhas ou PBCVU foram facilitadas por este contato realizado.
Um fator de capital importância foi o recebimento de dados da Inteligência.
Antes de iniciarem as operações, o Chefe da 2ª Seção da FMA realizou contato com
os integrantes o Sistema de Inteligência existente na área de operações de forma a
obter o máximo de dados referente a Zona de Ação da FMA. Apesar do tamanho e
da complexidade do Estado do Rio de Janeiro, os dados disponibilizados
contribuíram de forma ímpar para a conquista dos objetivos impostos pelo Escalão
Superior. Com isso, o tratamento correto dos dados obtidos, a aquisição de cartas e
49
imagens aéreas, o trabalho foi facilitado colaborando com o cumprimento da missão
recebida.
Durante um patrulhamento ocorreu um evento onde moradores da Vila Vintém
encontravam-se agredindo um cidadão. A patrulha interveio e evitou a linchação do
mesmo. A partir daí iniciou o esclarecimento da situação. O homem que foi
abordado pelos moradores da comunidade era suspeito de assassinar uma
moradora que sempre o ajudava doando água e comida. O suspeito foi
encaminhado à delegacia para a lavratura da ocorrência e outros procedimentos.
Por outro lado, ocorreu uma situação inusitada. Ao entrar em contato com o BPM do
local para tender a ocorrência, o Cmt da SU solicitou uma guarnição da PM para a
assunção da ocorrência, porém foi informado que a polícia não entrava naquela
comunidade. Diante dessa situação, foi acionada a cadeia de comando de forma a
solucionar a situação acima mencionada, o que veio a ocorrer algumas horas
depois.
Ainda, durante a operação foi encontrada uma motocicleta roubada. Apesar da
orientação de encaminhar veículos roubados para o Pátio Legal contida na Ordem
de Operações, a moto não foi recebida pela equipe do Pátio Legal. A moto estava
com o chassi raspado e precisou ser encaminhada por três vezes à delegacia de
Polícia para ser aceita. Com isso, foi atualizada a situação sobre como proceder
com um veículo com numeração de chassi raspada ou com numeração adulterada.
Dessa forma, as atividades da FMA foram melhoradas e facilitaram o cumprimento
da missão.
Uma área importante nas cercanias da Vila Militar é a favela do Muquiço.
Primeiro pela localização do conjunto de Próprios Nacionais Residenciais
pertencentes ao Exército e ocupados pela família militar. Em segundo por ser uma
saída da área militar em direção à Avenida Brasil. A Força Henrique Dias (28º BIL)
relatou a ocorrência de disparos contra a tropa durante o patrulhamento naquela
comunidade. Após realizado reconhecimento e estudo do terreno foi verificada que o
emprego da Tu de caçadores num edifício conhecido como “MINHOCÃO” facilitava o
emprego da tropa naquela comunidade. Depois de tomar o ponto de maior
comandamento, assegurava-se a segurança e evitava-se a possibilidade dos APOP
executarem tiro contra a tropa.
Dessa forma, e conforme dito no manual, o emprego dos caçadores deve ser
priorizado, pois eles possuem grande potencial em áreas edificadas. A capacidade
50
desses especialistas em prover apoio de fogo de curto ou longo alcance é
fundamental, tanto para unidades como para pequenas frações, durante seus
deslocamentos. Além disso, podem atuar como vetores de busca de dados, como
plataforma de apoio ao comando e controle e na condução e execução de fogos de
assalto (BRASIL, 2017).
De acordo com o relatório da FMA, outro emprego realizado e que permitiu
aumento no poder de combate foi a designação de um militar do grupo de combate
utilizando luneta no armamento. Dessa forma, poderia ser empregado como
eventual caçador em proveito da pequena fração durante as operações. De acordo
com o Caderno de Instrução EB70-CI-11.408 que diz: é ideal que haja um soldado
‘‘caçador’’ por Grupo de Combate (GC) dentro da constituição do pelotão, sendo
este, selecionado por seu desempenho no tiro acima da média, recebendo
treinamento diferenciado, com o objetivo de prover maior segurança para a fração, o
que corroborou esse emprego utilizado pela tropa da FMA.
A patrulha realizada na comunidade de Minha Deusa foi facilitada pelo
emprego de drone. Ao final da comunidade foi verificada uma escadaria e um
possível local de homizio de meliantes. Dessa maneira, ao executar o investimento
na comunidade Minha Deusa, o pelotão responsável pela missão chegou ao final da
comunidade e atingiu o ponto de armazenamento de drogas e munições da facção
que dominava a área.
A tropa de Engenharia também foi empregada durante a Operação Cinturão.
Foram realizadas a retirada de barricadas, fechamento de seteiras e acesso a
bueiros para verificação de depósitos clandestinos. Dessa maneira, a função de
combate movimento e manobra foi usada para o cumprimento da missão
determinada.
Nesse contexto ainda, foi levantado pela rede de informações um possível local
de depósito de armamento e munição na comunidade de Palmeirinha. Para tal foi
planejada uma patrulha para checar a informação. Além do pelotão, o Grupo de
Engenharia foi deslocado para o local. Após o investimento na comunidade chegou-
se ao local indicado e nada foi encontrado. Como lição aprendida, consta do
relatório, a atuação em conjunto de um pelotão de fuzileiros reforçado com um grupo
de Engenharia. Dessa forma, o pelotão de fuzileiros realizou a segurança do local
para que a tropa de Engenharia atuasse na verificação do suposto depósito
clandestino.
51
Por outro lado, a checagem da informação necessita ser precisa, para não
expor a tropa expondo a uma missão de elevado risco dentro da área vermelha da
comunidade, pois não foi encontrado nenhum material ilícito que fora informado
anteriormente.
Enfim, em todos os patrulhamentos ostensivos a pé e motorizado foram
verificadas diversas situações que pós-missão deve ser utilizados como preparação
para a tropa. Na realização dos PBCVU foi utilizado o sarqueamento de veículos que
proporcionava uma checagem rápida da situação irregular ou não. Com isso,
facilitando a apreensão de veículos roubados e a prisão de pessoas de posse
desses automotores.
4.6.2 OPERAÇÃO BAIXADA
Figura 5 – Visão geral dos municípios da Baixada Fluminense
Segundo o relatório da FMA, a realização da Operação BAIXADA permitiu a
realização e ocupação, alternadamente, de pontos de bloqueio e controle de vias
urbanas (PBCVU) nas principais vias da região nos municípios de NOVA IGUAÇU,
NILÓPOLIS, SÃO JOÃO DE MERITI e BELFORD ROXO, localizados na Baixada
Fluminense, região metropolitana do Rio de Janeiro com o emprego de fração nível
pelotão. Dessa forma, contribuiu com o patrulhamento na região da BAIXADA
FLUMINENSE, local que apresentava elevado índices de criminalidade.
A principal finalidade da execução dessa operação foi cooperar com o
Comando Conjunto no aumento da percepção da sensação de segurança na região
citada acima.
52
O reconhecimento de itinerário e locais de PBCVU foi realizado pelo Comando
da FMA, Cmt das subunidades, Cmt Pelotão e Cmt de grupos de combate. Dessa
forma, facilitando a execução da missão nível pelotão conforme premissa do escalão
superior.
Figura 6 – Itinerário de Deslocamento para Baixada Fluminense
Conforme o planejamento, os locais do PBCVU foram levantados pela Célula
de Inteligência e direcionados as principais vias de acesso. Foram levantados
também os locais onde estavam ocorrendo maior incidência de ocorrências
criminosas, como furto de transeuntes, roubos de carro e carga. Diante disso, e dos
locais inopinados planejados pela FMA foi obtido o efeito surpresa garantindo a
diminuição de incidentes criminosos na área.
Algumas condicionantes foram impositivas para o cumprimento dessa missão.
A economia de combustível foi a mais importante, pois o grande consumo de
suprimento Classe III (combustíveis, óleos e lubrificantes) se tornou elevado devido
a distância dos locais do PBCVU. Em determinado momento da execução da
operação, o elevado consumo de diesel foi um óbice para o cumprimento da missão
e algumas patrulhas foram suprimidas. Entretanto, logo que o fornecimento de
combustível foi normalizado, os pelotões retornaram a rotina normal de
patrulhamento.
53
Outro óbice que necessitou ser superado foi o emprego da VBR Cascavel do
Pel C Mec. Tendo em vista, a distância, o carro foi empregado de maneira mais
judiciosa com vistas a economia de combustível.
Fig 7 – Locais das facções criminosas na Baixada Fluminense
O levantamento de Inteligência foi mais uma vez um ponto forte para o
cumprimento da missão. Dessa maneira, e com os dados repassados levando em
conta o princípio de oportunidade, todas as atividades e tarefas foram cumpridas
levando em consideração o Estado Final Desejado do Comandante Tático da
Intervenção.
Uma melhoria para essa fase da Operação FURACÃO foi com relação aos
veículos abandonados, consequência de furto ou roubo, depois de constatados por
meio do sarqueamento. Os veículos foram entregues à Delegacia da Área de
Operações. E os que constaram com documentação irregular foram comunicados à
assistência do Pátio Legal, sendo informadas as características do veículo, bem
como o registro de ocorrência. Dessa maneira, a tropa receberia a assistência de
54
uma viatura prancha civil que conduziu o bem motomecanizado ao Pátio Legal em
Deodoro na Vila Militar.
4.6.3 OPERAÇÃO KENNEDY
De acordo com o Comando Conjunto, a missão na Vila Kennedy foi realizar
patrulhamento na comunidade de mesmo nome e prover a segurança da tropa de
Engenharia para as ações de remoção de barricadas e obstáculos. Essa foi uma
missão de nível batalhão, onde toda FMA foi empregada.
A finalidade foi contribuir com os OSP/RJ no melhoramento da mobilidade e
aumento da percepção da sensação de segurança naquela comunidade. Essa
operação teve uma peculiaridade que no campo das Considerações Civis ganhou
muita importância, pois foi executada na sexta-feira anterior a realização do 1º Turno
das eleições presidenciais. Dessa forma, qualquer ação equivocada teria um reflexo
extremamente negativo para a Força Terrestre.
Figura 8 – Área da Vila Kennedy
Para essa operação foi realizado o briefing com o Comandante do BPM da
área e seus oficiais das seções de Operações e Inteligência. Dessa forma, a
intenção foi de coletar o maior números de dados possíveis da Vila Kenedy e
coordenar o emprego da tropa da FMA junto com a ação da Polícia Militar. Além de
55
serem identificadas os locais das barricadas no interior da comunidade para que
fossem retiradas, atingindo o objetivo da operação.
Após o estudo de situação e diretriz de planejamento do Cmt, ficou definido
que a missão seria cumprida com duas subunidades de fuzileiros realizando um
investimento na VILA KENEDY com apoio de um pelotão de cavalaria mecanizado.
Foram recebidas duas Vtr GUARANI para aumentar a proteção blindada da tropa.
Com isso, cada companhia de fuzileiros recebeu uma Vtr GUARANI favorecendo o
deslocamento da tropa em direção ao objetivo final que era a região do CONGO, no
final da comunidade.
As características das viaturas blindadas (VB) como poder de fogo, ação
de choque, mobilidade e proteção blindada auxiliam a ofensiva em uma área
edificada. A precisão do sistema de controle de tiro e a ampliada capacidade
de observação dos blindados oferecem vantagens em relação aos outros tipos
de tropas. Entretanto, os campos de tiro restritos, os escombros e entulhos e a
impossibilidade de se impor grandes velocidades dentro das áreas construídas
fazem com que um estudo judicioso dos fatores da decisão seja determinante
para o correto emprego de blindados em um ataque (BRASIL, 2018).
Dessa forma, as Vtr blindadas com as guarnições se deslocavam a frente,
realizavam a ocupação das posições de bloqueio, em seguida os pelotões de
fuzileiros investiram na comunidade. Com a área em segurança estabelecida, a
tropa de engenharia realizou a retirada das barricadas.
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Foto 3 – Visão do sistema Pacificador.
Na foto 3 acima, os pontos vermelhos significam a quantidade de obstáculos
retirados pela equipe da Engenharia. Os círculos brancos revelam as tropas de
fuzileiros que realizavam a segurança da tropa de engenharia. Esse tipo de
ferramenta facilitava a consciência situacional do Comando da FMA e favorecendo
assim rapidez na tomada de decisão na manobra a ser executada.
Cabe destacar nessa operação, o emprego de elementos de operações
especiais dentro da Operação Kenedy. O contexto estratégico contemporâneo
impõe a preparação de forças que estejam aptas para serem empregadas em meio
à combinação de vetores militares e civis na prevenção de ameaças, no
gerenciamento de crises e/ou na solução de conflitos (LIMA, 2018).
Dessa maneira, elementos de Forças Especiais foram recebidas em controle
operacional para eventual apoio de fogo por meio de plataforma aérea. Esse auxílio
foi fundamental para segurança e observação aérea da comunidade da Vila Kenedy.
Com a aproximação da FMA na L Ct CONGO, considerada como zona vermelha, o
helicóptero decolou da Base Aérea dos Afonsos e participou com as equipes de
caçadores realizando o apoio de fogo necessário e proporcional.
O emprego das F Op Esp ocorre dentro do contexto das operações
combinadas, conjuntas e/ou singulares terrestres, em ambiente interagências, em
cooperação ou coordenação com os demais instrumentos do Poder Nacional,
prevenindo ameaças, gerenciando crises e/ou solucionando conflitos (BRASIL,
2017c), (LIMA, 2018).
De acordo com o Manual EB70-MC-10.212, a ação direta consiste na ação
ofensiva de pequena envergadura e de curta duração, realizada por tropa
capacitada, de valor e constituição variáveis, por meio da infiltração terrestre, aérea
e/ou aquática. Essas ações devem ser contra alvos de valor significativo, localizados
em ambientes hostis, negados ou politicamente sensíveis. Nesse contexto, a
atuação da tropa de Op Esp (Matriz 7A a 7J) contra os traficantes da Vila Kennedy
na região conhecida como Serra da Misericórdia foi de capital importância para o
57
cumprimento da missão.
Foto 4 – Matriz de coordenação
Na foto 4 acima, consta um exemplo de matriz de coordenação no qual os
elementos de operações especiais puderam realizar o apoio de fogo para neutralizar
APOP que impediam o deslocamento da tropa nda direção Avenida Brasil para a
região do CONGO, próximo a Serra da Misericórdia.
Outra tropa recebida em reforço foram elementos do Batalhão Escola de
Engenharia (B Es Eng). Com a expertise de retirada de obstáculos os militares do B
Es Eng executaram sua missão dentro da operação com bastante eficácia.
Segundo o Manual EB70-MC-10.237 - A Engenharia nas Operações que diz:
as operações de cooperação e coordenação com agências são
normalmente executadas em situação de não guerra; todavia, podem ser
desencadeadas em situação de guerra, simultaneamente com as operações
ofensivas e defensivas.
De forma geral, a Engenharia deve estar preparada para participar de
operações em situação de não-guerra, no contexto das operações de cooperação e
coordenação com agências, em que pese não ser essa sua missão precípua
(BRASIL, 2018).
58
Foto 5 – Atuação da tropa de Engenharia na remoção de obstáculos
Dentro de outra área, a equipe do Batalhão da Polícia Militar atuou na porção
norte da Vila Kenedy. Patrulhamentos foram realizados e ocupados posições de
bloqueio a fim de controlar a entrada e saída daquela comunidade. A estratégia de
ocupar toda a comunidade surtiu efeito pois empurrou os APOP em direção à Serra
da Misericórdia. Aqueles que permaneceram na porção norte ficaram divididos e
sem liberdade de ação.
Dessa forma, após a retirada dos obstáculos na porção sul foi executada a da
parte norte da Vila Kenedy. Cabe ressaltar que nessa região estava localizada uma
zona eleitoral e as barricadas impediam o movimento de pessoas e dos fiscais que
trabalhariam nas eleições.
Na porção sul foram encontradas diversas ocorrências. Foram encontrados
veículos roubados/furtados. Foi utilizado o aplicativo da SINESP/CIDADÃO que
rapidamente proporcionava a tropa a situação atual dos veículos checados,
conforme foto 6 abaixo.
59
Foto 6 – Tela do aplicativo e veículo recuperado.
Infere-se parcialmente que, o emprego da Força Martim Afonso completa
trouxe maior poder de combate para o Comando Conjunto. As operações militares
executadas facilitaram a execução de três operações no contexto da intervenção.
Dessa forma, pode-se validar as experiências obtidas nas mais diversas situações
possibilitaram o cumprimento da missão.
4.7 EMPREGO DA FORÇA MARTIM AFONSO NA 2ª PASSAGEM – 6 de
novembro a 2 de dezembro de 2018.
4.7.1 OPERAÇÃO DÍNAMO
Segundo o Comando Conjunto, essa operação tinha como missão contribuir na
diminuição dos índices de roubo de cargas e melhora da percepção da sensação de
segurança na região de Niterói.
Para isso, a FMA realizou patrulhamento da RJ-104 e de vias próximas, a partir
do trevo de MANILHA (trecho do JARDIM CATARINA). Estabeleceu PBCVU nos
principais acessos de forma alternada primando pelo princípio da surpresa.
Dessa forma a ocupação simultânea dos PBCVU pelas frações da companhia,
além da realização de patrulhamentos na RJ – 104 favoreceram a diminuição do
índice de roubo de carga, atingindo o estado final desejado.
Dentro do escopo de operações de coordenação e cooperação com agências,
foi recebido em apoio para a execução da operação, elementos do Batalhão de
Polícia Rodoviária. Localizado em Tribobó na RJ-104, a guarnição foi empregada a
fim de reforçar a tropa da FMA em sua Zona de Ação. Na figura 9 abaixo, verifica-se
a proposta de localização dos PBCVU de acordo com o levantamento de
inteligência.
60
Figura 9 – Proposta de localização de PBCVU
Em uma segunda fase a Operação DÍNAMO também teve como objetivo ações
para diminuição dos índices de roubo de veículos e melhora da percepção da
sensação de segurança. Dessa maneira, essa operação buscou em momentos
alternados e inéditos atacar uma das principais fontes de renda do crime organizado.
Cabe destacar mais uma vez, o emprego da função de combate Inteligência
que fez o levantamento dos horários de maior índice dos roubos, tanto de carga
quanto de veículos. Com esse dado preciso, a FMA determinou os horários
essenciais para o cumprimento da missão.
Figura 10 – principais regiões de ocorrência de roubos de carga
Fonte: Instituto de Segurança Pública-RJ
Com um grande resultado a Operação Dínamo alcançou dados
importantíssimos. Ademais, produziu uma sensação de segurança a qual a
população fluminense já havia se desacostumado.
61
Quadro 4 – Dados comparativos de roubos de carga
Fonte: Instituto de Segurança Pública – RJ
Com base no relatório da FMA, uma lição aprendida foi o relevante emprego da
inteligência num ambiente interagências. A atuação da tropa da FMA com a
colaboração dos órgãos de segurança pública tornou a execução da missão com
maior facilidade e acertos, pois com o dado de inteligência trabalhado e avaliado
puderam realizar ações específicas em cima de alvos compensadores.
Outro aprendizado citado no referido relatório, foi a capacidade de atender o
princípio da oportunidade durante as abordagens aos veículos de transporte de
cargas e passageiros. Quanto mais rápida, a informação era obtida, mais eficaz se
tornava o trabalho de patrulhamento dos pelotões das subunidades da FMA.
4.7.2 Op NITERÓI
62
Para as ações de diminuição dos índices de criminalidade e melhora da
percepção da sensação de segurança, a FMA realizou patrulhamento ostensivo no
município de NITERÓI.
Nesse contexto, ocupou alternadamente PBCVU nos principais acesso da
cidade e realizou patrulhamentos a pé e motorizados nas regiões nas regiões de
Jurujuba, Charitas, Centro e Zona Norte com tropa valor pelotão.
Durante os patrulhamentos, os PBCVU foram determinados de forma aleatória
tendo em vista o efeito surpresa a ser alcançado. Nessa contextualização e para
ganhar maior efetividade o pelotão foi divido nos seus três grupos de combate. Com
isso, o efeito de inundar tropa na região foi alcançado.
Em determinados momentos da operação quando as duas subunidades se
encontravam operando, atingia-se o número de quinze a dezoito grupos de combate
realizando o patrulhamento ostensivo.
Figura 11 – Percurso de Patrulhamento Nr 1
Analisando a foto acima, pode-se verificar a quantidade de patrulhas
ostensivas que se revezavam na região da orla de Jurujuba, Charitas até a primeira
rotatória de São Francisco. Com isso, foram estabelecidos sete PBCVU de forma
aleatória colaborando com o aumento de sensação de segurança naquela região.
63
Figura 12 – Percurso de Patrulhamento Nr 2
A área de patrulhamento Nr 2 foi abrangida na região do Centro da cidade de
Niterói. Dessa maneira, contemplou a região com a instalação de sete PBCVU.
Facilitando a intensa ações de patrulhamento de forma a inibir a ação do crime
organizado e aumentando a percepção de segurança dos moradores daquela
região.
Figura 13 – Percurso de Patrulhamento Nr 3
A foto acima demonstra o patrulhamento que contemplou a Zona Norte de
Niterói com sete PBCVU. Dessa maneira, toda a região de Niterói foi adensada por
tropa realizando intensos patrulhamentos para marcar a presença de tropas federais
na área determinada.
64
Esse tipo de ação visou de maneira esporádica e inédita, surpreender as
facções criminosas quanto ao local que a tropa atuaria, implicando em um
sufocamento das ações por parte dos APOP.
Uma observação contida no relatório de operação da FMA foi a utilização da
Vtr Módulo Telemática Operacional (MTO) para realizar o apoio de comunicações
em locais de difícil acesso e que o sinal de rádio se tornava fraco ou inexistente.
Segundo o sítio do Centro Integrado de Telemática do Exército (CITEX), o
Módulo de Telemática Operacional (MTO) permite a comunicação de dados, voz e
imagens no campo de batalha. Foi construído de modo a ser operado remotamente
ou embarcado na Viatura de Comando e Controle (VCC) especialmente
desenvolvida para proporcionar flexibilidade e robustez às operações militares.
4.7.3 Operação ANDRÉ.
Para a execução da Op ANDRÉ, a FMA contribuiu com os OSP/RJ no
cumprimento de mandados judiciais, na diminuição dos índices de criminalidade e
melhora da percepção da sensação de segurança. Nesse contexto, realizou o cerco
e isolamento da Comunidade do SALGUEIRO. A partir daí realizou o investimento
na comunidade, além de executar o patrulhamento ostensivo a pé e motorizado.
As ações foram executadas no Complexo do SALGUEIRO, especificamente
nos conjuntos da PM e da MARINHA. A ação ocorreu a partir de 29 de novembro de
2018. Após o cerco e isolamento, ocorreu também a ocupação de PBCVU para
controle de entrada e saída de pessoas.
Figura 14 - Zona de Ação da FMA – Complexo do Salgueiro
65
A foto acima contempla as medidas de coordenação e controle para a
execução da missão. Segundo relatório da operação, foi verificado a extrema
importância da utilização de linhas de controle para a progressão da tropa
empregada. Tudo isso, para que a progressão fosse contínua e não ocorresse
flanqueamento por parte dos APOP.
Segundo SOUZA, 2018, o crime organizado normalmente se homizia em
favelas, que são áreas com elevado grau de desordenamento urbano. Em
decorrência, as facções se aproveitam da irregularidade do terreno e de seu pleno
conhecimento das áreas onde atuam para esconderem em locais diferentes de suas
residências, invadindo e ocupando residências moradores locais e alternando o local
de homizio diante da possibilidade de localização e captura.
Em favelas, são comuns ruas, vielas sem nome ou com mais de um nome,
assim como numa mesma rua, residências com mais de uma numeração. Dentro
desse contexto, a Op ANDRÉ foi executada, além de apoiar o cumprimento de
mandados judiciais determinados pela justiça.
Dessa maneira, torna-se, pois, fundamental a expedição de mandados de
prisão e/ou mandados de busca e apreensão, nos quais, além de haver referência a
um elemento específico a ser preso/apreendido, deve-se explicitar que as buscas
possam ser empreendidas em uma área previamente definida (SOUZA, 2018).
Conclui-se parcialmente que, as operações realizadas na terceira passagem de
tropa do 2º BIL foram diferentes e em locais diferentes. Dessa forma, a flexibilidade
e a adaptabilidade foram extremamente necessárias para o cumprimento da missão.
Destaca-se a Operação ANDRÉ onde um investimento, o cerco e isolamento de
uma comunidade facilitaram os OSOP a realizarem os mandados de busca expedido
pela justiça e que não eram cumpridos tendo em vista as forças policiais terem um
efetivo reduzido para cumprirem aquela missão.
4.8 RESULTADO DA PESQUISA
Após a escrituração sobre as três passagens de tropa do 2º BIL durante as
ações de Intervenção Federal no Rio de Janeiro, e de posse de alguns dados
obtidos durante a execução da Intervenção Federal, as questões foram formuladas
de forma a alcançar uma visão geral sobre o preparo e emprego dos militares.
Ademais sobre o apoio logístico também foi inserido no corpo do questionário.
66
A primeira questão classificou o posto e graduação dos militares. Tomou-se o
cuidado para incluir a graduação de cabo, pois em determinados momentos da
execução da Intervenção, esse militar atuava isoladamente comandando sua
esquadra.
Gráfico 1 – 1ª Questão da Pesquisa
Fonte: o Autor
De acordo com o gráfico acima constata-se que 62,1% dos militares que se
propuseram a responder a pesquisa são do posto capitão e tenente. Com isso,
pode-se inferir que os comandantes de pelotão e subunidades que estavam a frente
das frações evidenciaram com muita clareza os aspectos de preparo e emprego,
assim como os logísticos da tropa nas ações de segurança pública no contexto da
Intervenção Federal.
Gráfico 2 – 2ª Questão da Pesquisa
Fonte:o Autor
67
Com relação ao Gráfico Nr 2, pode-se entender que o cronograma de instrução
da 11ª Bda Inf L, Gu enquadrante do 2º BIL, foi adequado e flexível colaborando
com o cumprimento da missão pela tropa da FMA. Haja vista que 73% dos
entrevistados considerou que o planejamento colaborou com o cumprimento da
missão.
Gráfico 3 – 3ª Questão da Pesquisa
Fonte:o Autor
Em relação a 3ª questão, 54,1% dos entrevistados consideram que as
operações de não guerra devem ser priorizadas para o emprego das tropas da 11ª
Bda Inf L. Esse fato deve-se a maior quantidade de emprego nas operações de GLO
realizadas nos últimos anos no Exército Brasileiro.
Gráfico 4 – 4ª Questão da Pesquisa
Fonte: o Autor
68
Ao analisar o gráfico 4, pode-se observar que 45,9% dos entrevistados se
considerou estar com o preparo bem adequado. Enquanto outros, 29,7%
consideraram estar com o preparo muito bem adequado. Com isso, verificou-se que
75,6% dos entrevistados estavam em condições de executar a missão após
cumprirem um adequado preparo.
Gráfico 5 – 5ª Questão da Pesquisa
Fonte:o Autor
Por outro lado, no tocante ao emprego 29,7% dos entrevistados consideraram
estar muito bem preparados, enquanto 51,4% estavam bem preparados. Dessa
forma, pode-se inferir que ao serem empregados a maioria dos entrevistados
apresentou-se prontos para cumprir as atividades impostas na Intervenção Federal.
Ao passo que nenhum entrevistado se considerou despreparado.
Gráfico 6 – 6ª Questão da Pesquisa
Fonte: o Autor
69
De acordo com a 6ª questão, 62,2% dos entrevistados consideraram que o
emprego da tropa nas ações durante a Intervenção Federal resultou num efeito
positivo para a imagem do Exército Brasileiro. Enquanto 32,4% permaneceram na
dúvida em relação ao efeito positivo. Na terceira opção 5,4% avaliou que não teve
efeito positivo. Dessa forma, conclui-se que o efeito positivo foi mais valorizado.
Gráfico 7 – 7ª Questão da Pesquisa
Fonte: o Autor
Em relação ao gráfico 7, pode-se verificar que o apoio da logística e finanças
em relação ao preparo foi de 35,1%, insuficiente apoio 24,3%, enquanto o muito
bom e bom apoio somaram 40,5%. Dessa forma, obteve-se um dado importante que
é uma oportunidade de melhoria para as próximas missões, a função de combate
logística precisa ser mais destacada no preparo de missões que a tropa possa vir a
cumprir.
Gráfico 8 – 8ª Questão da Pesquisa
Fonte: o autor
70
Em relação ao apoio logístico no emprego, 37,8% dos entrevistados avaliaram
como regular e 21,6% como insuficiente. A soma dos percentuais de muito bom
apoio e bom apoio foi de 40,5%. Com isso deduz-se que, mais uma vez a logística
precisa ser mais incrementada, principalmente nas tropas táticas que executam as
tarefas e missões.
Gráfico 9 – 9ª Questão da Pesquisa
Fonte: o Autor
Por fim, como resultado da pesquisa, 64,9% considerou que a imagem do
Exército Brasileiro permaneceu positiva, enquanto 35,1% avalia que a imagem
positiva aumentou. Dessa maneira 100% dos entrevistados observaram que após as
ações da tropa na Intervenção Federal elevaram ainda mais o índice de satisfação
do Exército no estado do Rio de Janeiro.
5. CONCLUSÃO
Essa fase conclusiva é aberta com a citação do General Villas Bôas: “O crime
organizado é, no momento, a maior ameaça à soberania nacional”. A frase do
Comandante do Exército, explica por que o tema da segurança pública ocupa lugar
central na agenda da sociedade brasileira. A cifra de mais de 62 mil homicídios por
ano (IPEA, 2018) coloca o Brasil como um dos países mais violentos do mundo. Os
índices de violência nas principais cidades brasileiras são elevadíssimos, maiores,
inclusive, do que os de países que se encontram em guerra (SOUZA, 2018).
Partindo da assertiva acima, verificamos que o preparo e emprego da tropa
para ações de Segurança Pública no contexto da Intervenção Federal no Rio de
Janeiro foi um verdadeiro desafio para o Exército Brasileiro. No nível político coube
71
ao interventor realizar suas ações políticas. E no nível tático coube ao Comando
Conjunto realizar as ações táticas. Dentro desse contexto e descendo o escalão,
surgiram as tropas que foram designadas para o cumprimento das missões impostas
pelo C Cj.
Na fase acima citada, aconteceu o emprego das tropas da 11ª Bda Inf L.
Dessa maneira, o 2º BIL foi acionado para se preparar e ser empregado nas ações
no Rio de Janeiro.
A partir daí, surgiu a necessidade de se relatar o presente trabalho.
Adaptações de calendário, cronograma de instruções, atividades logísticas, entre
outros foram atividades realizadas para deixar a tropa da FMA/2º BIL em condições
de atuar na Intervenção Federal. Em que pese ser uma operação inédita, trouxe a
tona o questionamento se as ações de GLO eram iguais as ações de Segurança
Pública.
Na atualidade, as mudanças rápidas das sociedades, os conflitos
assimétricos e não-lineares trouxeram um campo de batalha diferente do habitual.
Nesse contexto, a tropa precisou se adaptar, ser flexível, atuar com modularidade e
grande elasticidade para conquistar os objetivos impostos pelo escalão superior.
Dentro desse contexto, a tropa da Força Martim Afonso se preparou e foi
empregada realizando ações de Segurança Pública na Intervenção Federal e o
resultado foi extremamente positivo, conforme foi visualizado na percepção dos
militares que integraram a FMA, além de dados obtidos com pesquisas de opinião
da sociedade carioca.
De acordo com NEGRÃO, 2018, os programas-padrão do Exército
estabelecem os objetivos específicos de adestramento das tropas do EB serem
empregadas em operações de GLO. Entretanto, devido às características irregulares
do terreno, à presença constante da população (nem sempre favorável ao emprego
da tropa) e ao modus operandi das facções criminosas, há a necessidade de serem
implementados treinamentos específicos para a tropa convencional do EB,
particularmente visando o emprego em favelas.
Isto posto, o preparo foi direcionado para atuação nas favelas cariocas, assim
como todas as missões foram incluídas no treinamento buscando a similaridade com
a área de operações colaborando como fator de sucesso na Intervenção Federal.
Segundo LIMA, 2018, as forças de operações especiais do Exército e dos
órgãos de segurança pública, como o Batalhão de Operações Especiais (BOPE) da
72
Polícia Militar e a Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE) da Polícia Civil, no
Rio de Janeiro, são elementos com grande expertise nesse tipo de operação e
podem ser muito úteis para elevar a capacitação operacional de tropas
convencionais, possibilitando o seu emprego com o máximo de eficácia, o mínimo de
baixas e danos colaterais. Isto seria uma melhoria a ser implementada para o
preparo, principalmente com tropas de fora da guarnição do Rio de Janeiro, no caso
por exemplo, tropas do 2º BIL.
No tocante ao emprego, observa-se que durante as três oportunidades de
atuação no Rio de Janeiro, o fator de sucesso foi o aprimoramento das táticas,
técnica e procedimentos que ocorreram de maneiras variadas e por vezes inéditas.
A característica flexibilidade foi importante para o comando da FMA, assim como
para os comandantes em todos os níveis. Inclui-se aí, a figura do comandante de
esquadra, pois em operações em ambiente urbano precisam liderar suas frações em
missões descentralizadas.
Outro fator a ser observado na conclusão deste trabalho, foi o emprego da
tropa da FMA no nível batalhão. A utilização do emprego da viatura C2 possibilitou a
utilização da Sistema Pacificador e toda consciência situacional para o comandante
durante a Operação KENNEDY, favorecendo a tomada de decisão e o trabalho de
estado-maior da FMA.
A oportunidade de empregar a tropa é um fato que trouxe experiência. A
geração do emprego, como assim pode-se chamar ganhou uma expertise praticando
e testando doutrinas. Validando e, ou revalidando caso necessário. Dentro desse
contexto, a Força Terrestre seguirá evoluindo, isto é, o maior aproveitamento com
emprego de tropas em diversas situações.
Coube destacar ainda a Logística e Finanças, primordiais para o preparo e
emprego da tropa. A melhora das ações logísticas foi evidenciada nas duas fases. A
percepção por parte de componentes da FMA após a atuação na Intervenção
Federal foi destacada na pesquisa realizada. A evolução na Logística é notória,
entretanto aspectos ligados a finanças podem ser oportunidades de melhoria.
Um outro aspecto que aumentou o poder de combate da FMA foi a execução
da manutenção das viaturas. Com o emprego da Seção Leve de Manutenção do 2º
B Log L, a frota empregada recebeu a atenção necessária proporcionando alta
mobilidade para toda a fração empregada.
73
Conclui-se ainda que, a integração dos sistemas de inteligência das Forças
Armadas e dos órgãos de Segurança Pública também é um fator unanimemente
aceito como essencial para o êxito das ações de combate ao crime organizado.
Nesse sentido, é fundamental que haja um compartilhamento oportuno dos dados e
informações que permitam o monitoramento e a atuação sobre os integrantes das
organizações criminosas.
Por fim, respondendo ao problema do trabalho, pode-se afirmar que a
flexibilidade de planejamento para o preparo e emprego da tropa é muito importante,
tendo em vista o cenário complexo do mundo. A inserção de novos atores e a
velocidade das informações multidimensiona o campo de batalha e nos obriga a
operar em diversas situações. Ademais, alcançar resultados positivos como na
Intervenção Federal foi uma atividade que se trabalhou em todos os momentos da
operação, desde preparar a tropa até o momento de empregar no Estado do Rio de
Janeiro.
74
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